câncer renal- diagnóstico e estadiamento

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1 Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia Elaboração Final: 30 de novembro de 2006 Participantes: Pompeo ACL, Martins ACP, Souza Jr AEP, Abrantes AS, Buzaid AC, Dubeux AC, Wroclawski ER, Carvalhal EF, Carrerette FB, Hering FLO, Maluf F, Carvalhal GF, Sabaneeff J, Milfont JCA, Colombo JR, Sadi MV, El Hayek O, Clark O, Scaletscky R, Reis RB, Baroni RH, Marins RL, Ferreira U, Matheus WE Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento

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Projeto DiretrizesAssociação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federalde Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar

condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidasneste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta

a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia

Elaboração Final: 30 de novembro de 2006

Participantes: Pompeo ACL, Martins ACP, Souza Jr AEP, AbrantesAS, Buzaid AC, Dubeux AC, Wroclawski ER,Carvalhal EF, Carrerette FB, Hering FLO, Maluf F,Carvalhal GF, Sabaneeff J, Milfont JCA, Colombo JR,Sadi MV, El Hayek O, Clark O, Scaletscky R, ReisRB, Baroni RH, Marins RL, Ferreira U, Matheus WE

Câncer Renal: Diagnósticoe Estadiamento

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2 Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento

DESCRIÇÃO DO MÉTODO DE COLETA DE EVIDÊNCIA:Levantamento bibliográfico de artigos que apresentam graus de recomenda-ção de A a D, segundo “Oxford Centre for Evidence-based Medicine”, deacordo com o Projeto Diretrizes da AMB/CFM.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.C: Relatos de casos (estudos não controlados).D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos

fisiológicos ou modelos animais.

OBJETIVO:Oferecer um guia prático, adequado à realidade brasileira, destacando asmelhores evidências disponíveis relacionadas ao diagnóstico e ao estadiamentodos pacientes com tumores renais.

CONFLITO DE INTERESSE:Os conflitos de interesse declarados pelos participantes da elaboração destadiretriz estão detalhados na página 11.

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EPIDEMIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO

O câncer renal parenquimatoso em adultos corresponde de 2% a3% de todas as neoplasias malignas, acometendo anualmente 30.000Norte-Americanos e matando 12.000 ao ano1,2(D). No Brasil, a inci-dência desta neoplasia varia de 7 a 10 casos por 100.000 habitantes/ano nas áreas mais industrializadas, com taxas menores em regiõesmenos desenvolvidas2(D). Devido à baixa prevalência do câncer renal3(C),o rastreamento populacional para detecção precoce não é justificável.

O câncer renal é duas vezes mais freqüente em homens, sendomais prevalente dos 50 aos 70 anos1(D). Pode ter incidência esporá-dica, ou estar associado a fatores genético/hereditários (como adoença de Von-Hippel-Lindau e o carcinoma renal hereditário),insuficiência renal crônica em hemodiálise e esclerose tuberosa,situações onde apresenta incidência aumentada4(C)5(D).

O termo carcinoma de células renais (CCR) designa as neoplasiasrenais de origem epitelial com potencial maligno. A tabela 1 apre-senta os tipos histológicos de CCR, com suas respectivas prevalências.

Tabela 1

Tipos Histológicos de CCR6(D)

Convencional (células claras) 70% a 80%Papilar 10% a 15%Cromófobo 4% a 5%Ducto coletor < 1%Medular < 1%

Obs: Oncocitomas, cistos não neoplásicos, angiomiolipomase adenomas não estão incluídos na tabela acima por serem tumo-res benignos, porém são importantes no diagnóstico diferencial.Diferenciação sarcomatóide pode ocorrer em todos os tiposhistológicos de CCR e tem valor prognóstico adverso.

DIAGNÓSTICO CLÍNICO-LABORATORIAL

A maior disponibilidade e aperfeiçoamento dos métodos deimagem, aliados à tardia e inespecífica instalação de sintomas,

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levaram a um grande aumento na porcentagemde tumores renais incidentais. Atualmente, até50% dos CCR são achados incidentais3(C).

Os sinais e sintomas mais comuns sãohematúria, dor lombar ou no flanco e massapalpável, associados ou não a outros menosespecíficos, como emagrecimento, febre,sudorese noturna, hipertensão e varicocele7(D).

As síndromes paraneoplásicas e alteraçõessistêmicas ocorrem em 20% dos pacientes comCCR, sendo as principais manifestações hiper-tensão, disfunção hepática, anemia, caquexia eperda de peso7,8(D). As alterações laboratoriaismais comuns são: elevação da VHS,hipercalcemia, hemoglobina < 10 em mulhe-res e < 12 em homens, eritrocitose, trombo-citose e fosfatase alcalina elevada8,9(D).

Marcadores moleculares urinários e sanguíneospoderão auxiliar no diagnóstico do CCR, porémainda não estão em uso clínico10(B)11,12(C).

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

RADIOGRAFIA SIMPLES EUROGRAFIA EXCRETORA (UE)

Devido à incapacidade de visualização diretae caracterização de lesões expansivas renais, aradiografia simples de abdome e a UE passarama ser cada vez menos utilizadas no diagnósticodestes tumores. Entretanto, eventuais massasparenquimatosas renais podem ser identificadasem estudos radiográficos realizados por outrosmotivos. A presença de uma massa renalparenquimatosa calcificada, visível à radiografiasimples, deve levantar a suspeita de neoplasia13(C).Já, os achados de UE dependerão do tamanho elocalização do tumor, podendo incluir abaula-

mento do contorno ou deslocamento da imagemrenal, compressão ou amputação calicinal, etc.Porém, é importante salientar que a UE não temeficácia adequada para detecção de tumoresrenais, e toda e qualquer alteração parenqui-matosa deve ser estudada por outros métodos deimagem mais específicos14(B)15(D).

ULTRA-SONOGRAFIA (US)

A US é o método de imagem mais comu-mente empregado para rastreamento de doençasrenais. O principal papel da US consiste em de-tectar lesões parenquimatosas focais e classificá-las em três categorias: definitivamente um cistosimples, definitivamente um nódulo sólido ouindeterminada (cística, porém não um cisto sim-ples). Cistos simples, com paredes finas e con-teúdo anecóico, são considerados benignos, nãosendo necessário nenhum seguimento ou examecomplementar para afastar neoplasia16(B). OsCCR são lesões primariamente sólidas, comecogenicidade variada na US, embora aproxima-damente 40% apresentem áreas císticas decor-rentes de necrose ou hemorragia, e menos de 5%sejam predominantemente císticos. Lesõescísticas com septações, contornos irregulares,nódulos murais, paredes espessas ou calcificaçõessão suspeitos para CCR17(C). Alguns CCR sãodifíceis de ser identificados ao estudo ultra-sonográfico, especialmente aqueles pequenos,isoecogênicos e que não abaulam o contornorenal18(B). Além disso, alguns CCR podem apre-sentar-se como nódulos hiperecogênicos, simu-lando um angiomiolipoma, podendo a tomografiacomputadorizada (TC) ser realizada em caso dedúvida19(C).

Em resumo, qualquer nódulo ou lesão císticaque não preencha os critérios ultra-sonográficosde cisto simples ou pequeno angiomiolipoma

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típico deve ser estudado por outros métodos deimagem mais específicos, preferencialmente aTC20(C).

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

A TC, em virtude de sua capacidade deacessar a densidade tecidual e vascularização demassas renais, possibilita a diferenciação entrecistos e nódulos sólidos, além de estadiar e auxi-liar na programação cirúrgica de tumores21(D).Visto que muitas lesões císticas renais nãopreenchem os critérios de um cisto simples, etambém não são francamente sólidas, foiproposta uma classificação tomográfica dos cis-tos renais (Tabela 2 e Figura 1)15,22,23(D).

Os CCRs sólidos apresentam aspectotomográfico variado, dependendo de sua vascula-rização, tipo histológico, padrão de crescimento easpecto macroscópico. Todos apresentam algumgrau de realce pelo meio de contraste, o que osdiferencia de cistos simples. No entanto, sabe-seque pequenos cistos simples (menores que 1 cm)podem apresentar pseudo-realce pelo contrastedevido a artefatos técnicos inerentes ao método,e, portanto, apenas realces pós-contraste superioresa 15UH devem ser considerados como positivospara lesão sólida24(B)25(C). Em caso de dúvida,complementação com US ou RessonânciaMagnética (RM) é indicada26(D).

A fase pré-contraste do exame deve seravaliada, para afastar a presença de focos degordura macroscópica (< -20UH), que sãoconsiderados praticamente diagnósticos deangiomiolipomas27(C). Focos de calcificação,necrose e hemorragia também podem ser obser-vados em alguns CCR, especialmente naquelesde maiores dimensões28(D).

O advento das técnicas de TC helicoidal emultislice possibilitaram um significativo incre-mento no diagnóstico e estadiamento de tumoresrenais, permitindo estudos em múltiplas fases decontrastação parenquimatosa e da via excretora,com cortes mais finos e menor tempo de apnéia, epossibilidade de reconstruções multiplanares etridimensionais(3D) 21(D)29(A) (Figura 2).

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

Embora a TC seja considerada o principalmétodo de imagem na avaliação renal, a RMprogrediu substancialmente nos últimos anosem relação ao diagnóstico e estadiamento detumores sólidos, além de ser o método de esco-lha em pacientes nefropatas crônicos ou comalergia ao contraste iodado30(D).

Os CCR podem apresentar características desinal e de contrastação variadas à RM, sendoimprescindível a identificação de realce pós-contrastepara caracterização definitiva de uma lesão sólida.A utilização de seqüências 3D dinâmicas pós-con-traste, além de possibilitar uma adequada identi-ficação de áreas sólidas, permite a avaliação vascularpara fins de estadiamento e planejamento cirúrgicoem um mesmo estudo30(D) (Figura 3).

Os mesmos critérios da classificação deBosniak utilizados na avaliação por TC (comexceção de calcificações, que não são visíveis àRM) podem ser empregados de maneira análogaem exames de RM, com a ressalva de que a RMpode identificar alguns espessamentos parietaisou septais não visíveis na TC, com isso classifi-cando certas lesões com maior grau31(C). Umautilização cada vez mais freqüente da RM consis-te na avaliação de pequenos cistos hiperdensosmenores que 2 cm ou lesões císticas complexasde difícil caracterização pela TC26,30(D).

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Tabela 2

Classificação Tomográfica de Bosniak para Cistos Renais [adaptado32(B)33(C)15,22,23,34(D)]

Classificação Características % de Conduta propostade Bosniak

Cistos simplesConteúdo hipoatenuantehomogêneo de 0 a 20 unidades Sem necessidade

I Hounsfield35(B), contornos 0 de prosseguir aregulares. investigaçãoAusência de calcificações,espessamentos parietais,septações ou realce pelo contraste

Cistos minimamente complicadosFinas septações (< 1 mm),pequenas calcificações lineares Sem necessidade de

II parietais ou septais, cistos Próximo a 0 prosseguir ahiperdensos (> 20 UH) menores investigaçãoque 3 cm, sem realce pelocontraste.

Cistos minimamente complicadosque requerem seguimento

II F Maior nº de septações finas, Reavaliação em 6(de “follow-up”) septos ou paredes minimamente 5% meses, e

espessados, porém regulares, seguimento anualcalcificações espessas ounodulares, cistos hiperdensosintra-renais > 3 cm

Cistos indeterminadosEspessamento parietal ou

III septações espessas e irregulares, 45% a 60% Exploraçãocom realce pelo contraste, cirúrgicacom ou sem calcificações

Neoplasias císticas IV Espessamento parietal ou septal 90% a 100% Exploração

grosseiro e nodular, tecido sólido cirúrgicajunto às paredes ou septos

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Figura1

Figura 1 - Exemplos de lesõescísticas renais na TC conformea classificação de Bosniak.I: cistos simples;II: cisto hiperdenso < 3cm;IIF: cisto com fina septação ecalcificação parietal nodular;III: cisto com septaçõesgrosseiras;IV: cisto comnodulações sólidas parietais.

Figura 2 Figura 3

Figura 2 - Reconstruções multiplanar e 3D de TCmultislice em um paciente com CCR, demonstrandoa relação do tumor (T) com duas artérias renais(setas) e com a veia renal (V) à esquerda.

Figura 3 - CCRavaliado atravésde RM 3D pós-contraste,mostrando arelação donódulo sólido(cabeça de seta)com duasartérias renais (setas pretas) e com a veia renalretroaórtica à esquerda (seta branca). Achadoincidental: aneurisma da aorta infra-renal (*).

I II II F

III IV

*

V

T

V

T

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8 Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento

Em resumo, a RM consiste em um métododiagnóstico alternativo à TC, sendo especialmenteindicada nos casos de lesões duvidosas à TC, empacientes nefropatas ou com alergia ao contrasteiodado, naqueles com rim único ou com necessi-dade de repetidos exames de seguimento28(D).

MEDICINA NUCLEAR

A tomografia de emissão de pósitrons16(B)com utilização da 18-fluoro-2-desoxiglicose(FDG) tem pouca aplicabilidade em tumores dotrato urinário em geral, devido à excreção urináriado radiofármaco e, possivelmente, também àreduzida atividade metabólica destes tumores, nãotendo indicação na detecção de CCR36(B).

ARTERIOGRAFIA

Com a melhora dos métodos diagnósticospor imagem menos invasivos, a arteriografiapassou a ser cada vez menos utilizada no diag-nóstico de tumores renais. Da mesma forma, apossibilidade de obtenção de estudos vascularespor TC e RM acabou também por eliminar anecessidade de estudos arteriográficos pré-ope-ratórios para guiar a ressecção cirúrgica, ou paracaracterizar lesões vasculares que pudessemsimular tumores37(D).

ESTADIAMENTO CLÍNICO

Dois sistemas são utilizados no estadiamentode CCR, Robson e TNM (Tabela 3). O sistemaTNM é o mais utilizado.

O estadiamento clínico do câncer renalse faz basicamente por TC ou RM. A reali-zação da US-Doppler e da arteriografia ficalimitada apenas à avaliação vascular emsituações de exceção38,39(B). O FDG-PET

também não é utilizado, devido à sua baixasensibilidade36(B).

INVASÃO DA GORDURA PERIRRENAL

A acurácia na identificação de invasãogordurosa perirrenal por TC e RM é moderada,com melhores resultados em aparelhos de últi-ma geração40(B).

INVASÃO VASCULAR

Embora alguns estudos tenham demons-trado que a RM é discretamente superior àTC na avaliação de invasão vascular em CCR(especialmente quanto à avaliação da veia cavainferior), trabalhos mais recentes com utilizaçãode tomógrafos helicoidais e multislice obtiveramresultados similares à RM (valores preditivospositivo e negativo superiores a 92% paraambos os métodos)40,41(B).

ACOMETIMENTO LINFONODAL

O diagnóstico por imagem de acometimentolinfonodal em pacientes com CCR baseia-se naidentificação de linfonodos maiores que 1 cmno seu menor diâmetro. A utilização destecritério na TC associa-se a apenas 4% de resul-tados falso-negativos para acometimentolinfonodal regional, porém mais de 50% desteslinfonodos aumentados são inflamatórios21(D).Assim, a existência de linfonodomegalias regio-nais associadas a um CCR em um exame deTC ou RM só deve ser valorizada após confir-mação histológica do acometimento linfonodal.

A radiografia simples de tórax é usada derotina no estadiamento do CCR. A TC de tóraxé indicada nos casos de alterações radiográficasou extensa doença regional42(C)43(D).

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Tabela 3

Sistemas Robson e TNM (2002) de Estadiamento de CCR [adaptado44(C)21,45,46(D)]

Robson TNMTumor primário não avaliado TxSem evidência de tumor primário T0

I Tumor < 7cm confinado à cápsula renal T1 Tumor < 4 cm T1a Tumor entre 4 e 7 cm T1bTumor > 7 cm confinado à cápsula renal T2

II Tumor com extensão aos tecidos perirrenais ou T3aà adrenal ipsilateral, porém limitado à fáscia de Gerota

IIIa Invasão da veia renal ou invasão da veia cavainferior (infradiafragmática) T3bInvasão da veia cava inferior (supradiafragmática) T3c

IIIb Envolvimento linfonodal NLinfonodos não podem ser avaliados NxSem metástase em linfonodo regional N0Linfonodo isolado regional N1Linfonodo em mais de um linfonodo regional N2

IIIc Envolvimento venoso e linfonodalIVa Extensão além da fáscia de Gerota (exceto adrenal

ipsilateral) T4IVb Metástase à distância M

Metástase à distância não pode ser avaliada MxSem metástase à distância M0

IVb Metástase à distância M1

Cintilografia óssea é indicada nos casos detumores localmente avançados (estadio clínico/tomográfico > T3b), ECOG > 1, presença dedor óssea, hipercalcemia ou elevação de fosfatasealcalina47-49(B).

SUMÁRIO DAS RECOMENDAÇÕES EM

DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO

1. O rastreamento populacional para detecçãoprecoce do CCR não é justificável, pelabaixa prevalência destes tumores.

2. O rastreamento periódico com ultra-sompode estar indicado em populações com altorisco para CCR: pacientes em hemodiálisehá mais de 3 anos, diagnóstico de Von-Hippel-Lindau ou esclerose tuberosa, ouhistória familiar de CCR hereditário.

3. Pacientes com suspeita clínica de CCR de-vem ser investigados por meio de US ou TC.

4. O estadiamento do CCR se faz por TC deabdome e radiografia de tórax.

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10 Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento

5. Nos casos onde não é possível realizar a TCou em lesões duvidosas vistas à TC, a RMpode estar indicada.

6. Cintilografia óssea é indicada nos casosde tumores loca lmente avançados(estadio clínico/tomográfico > T3b),

ECOG > 1, presença de dor óssea,hipercalcemia ou elevação de fosfatasealcalina.

7. Quando se detecta uma lesão parenqui-matosa renal na US, recomenda-se seguir ofluxograma abaixo:

FLUXOGRAMA DE CONDUTA EM NÓDULOS RENAIS DIAGNOSTICADOS POR MÉTODOS DE IMAGEM

(*): exceto nódulo hiperecogênico homogêneo < 1,5 cm com características ultra-sonográficas típicas deangiomiolipoma, onde pode-se realizar seguimento ou complementação com TC50(D).

ULTRA-SONOGRAFIA

LESÃO PARENQUIMATOSA

CISTO SIMPLES CISTO COMPLEXO SÓLIDA(*)

TC

CISTO SÓLIDA

BOSNIAK I/II BOSNIAK IIF BOSNIAK III/IV COM GORDURA SEM GORDURA

AVALIAÇÃO EXPLORAÇÃO EXPLORAÇÃOEM 6 MESES CIRÚRGICA

INDEFINIDO

RM

CISTO INDEFINIDO SÓLIDO

SEGUIMENTO EXPLORAÇÃO CIRÚRGICA EXPLORAÇÃO CIRÚRGICA

CIRÚRGICAINDIVIDUALIZADACONDUTA

(ANGIOMIOLIPOMA)

/SEGUIMENTO

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CONFLITO DE INTERESSE

Clark O: Recebeu reembolso por compa-recimento a simpósio; honorários por apre-sentação, conferência; palestras, organizaçãode atividade de ensino, consultoria e também

recebeu financiamento para realização depesquisas das empresas Schering-Plough,Astra-Zeneca, Novartis, Bayer, Bristol-Mayers, Eurofarma, Janssen-Cylag, Unimede Sociedade Brasileira de Urologia nos últi-mos 5 anos.

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12 Câncer Renal: Diagnóstico e Estadiamento

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