campus nilópolis sheila freitas gomes - ifrj.edu.br · 0 programa de pós-graduação stricto...

145
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências Mestrado Acadêmico em Ensino de Ciências Campus Nilópolis Sheila Freitas Gomes ASTROBIOLOGIA: um tema integrador para o Ensino de Ciências Nilópolis - RJ 2018

Upload: lamminh

Post on 08-Jan-2019

233 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

0

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências

Mestrado Acadêmico em Ensino de Ciências

Campus Nilópolis

Sheila Freitas Gomes

ASTROBIOLOGIA: um tema integrador para o Ensino de Ciências

Nilópolis - RJ

2018

1

Sheila Freitas Gomes

ASTROBIOLOGIA: um tema integrador para o Ensino de Ciências

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação Stricto Sensu em Ensino de

Ciências do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro,

modalidade acadêmica, como parte dos

requisitos necessários para obtenção do título

de Mestre em Ensino de Ciências.

Orientador: Profª. Drª. Valéria da Silva Vieira

Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Seperuelo Duarte

Nilópolis - RJ

2018

2

G633a Gomes, Sheila Freitas

Astrobiologia: um tema integrador para o Ensino de Ciências / Sheila Freitas Gomes. -- Nilópolis, 2018.

144 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado Acadêmico em Ensino de Ciências) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, PROPEC, 2018.

Orientação: Valéria da Silva Vieira

1. Aprendizagem Significativa. 2. UEPS. 3. Astrobiologia. 4. Ensino

Médio. 5. Interdisciplinaridade. I. Título.

Catalogação na Publicação

Serviço de Biblioteca e Documentação

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - IFRJ

Ficha Catalográfica elaborada pela USP e adaptada por Cássia R.N. dos Santos CRB-7/4903, Heloisa S. de Lima CRB-7/6089,

Josiane B. Pacheco CRB-7/4615 para o IFRJ-Campus Nilópolis. A Ficha é um Sistema de Geração Automática com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

3

A todos os alunos e alunas que participaram

dessa jornada, me ensinando coisas das quais

jamais esquecerei.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Sirlem e Gomes, por todo amor e incentivo nessa trajetória.

À minha orientadora, Professora Valéria Vieira, e coorientador, Professor Eduardo

Seperuelo, por toda a atenção e zelo que transbordou à pesquisa.

À madrinha Sônia, ao padrinho Manoel, ao primo Bruno e à prima-irmã Flávia, que se

tornaram minha segunda família, acolhendo-me em um momento de tantas inseguranças e

incertezas. Gratidão a cada um de vocês, de alma!

À tia Marlene, que me apoiou em vários momentos, dando o ombro amigo para

dividir meus medos e ansiedades.

Ao Professor Alexandre Maia, pelas aulas e conversas enriquecedoras que, em alguma

medida, estão impressas nesse trabalho.

À Professora Denise Figueira, por ter sido calmaria em meio ao caos. Aprendi com

você que podemos optar por humanizar as relações mesmo em meio a ambientes hostis.

À Professora Desiely Gusmão, por ser a minha inspiração diária.

Às minhas amigas Manoela, Simone, Letícia, Natália e Kíssila, por terem sido cruciais

nesses passos. Amo vocês!

Ao Samir, pela compreensão, troca de ideias e por se envolver de forma tão bonita

com a construção deste trabalho.

A todos os que participaram da campanha Juntos somos mais fortes, gratidão de todo o

coração.

À CAPES e ao IFRJ, por todo apoio recebido para a realização desse trabalho.

5

É um ato criminoso continuar a financiar escolas de

aula, de séries, de turmas, hoje já nem hesito a palavra,

é um crime! Será que não veem a ignorância e a

infelicidade das pessoas? Será que não veem que essa

escola reproduz um modelo social injusto? Será que

não veem que são cegos? Vamos lembrar a cegueira

branca do José Saramago, é um pouco isso. É tão

evidente que até dói.

José Pacheco

6

GOMES, S. F. Astrobiologia: um tema integrador para o ensino de ciências. 144 p.

Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus Nilópolis, RJ, 2018.

RESUMO

Um dos desafios da educação é superar o ensino de conteúdos que conduzem somente à

memorização e repetição dos assuntos, servindo para a realização de provas, mas que logo

após é esquecido quase que completamente. Esse tipo de aprendizagem contribui para

formação de sujeitos limitados, no que concerne à elaboração do pensamento próprio, para se

tornarem sujeitos autônomos e que atuem em sua própria realidade, e não somente

reprodutores de ideias preconcebidas. Nesse contexto, a presente dissertação investigou a

possibilidade de, por meio da introdução de um tema integrador, Astrobiologia, haver um

estímulo à aprendizagem significativa dos conteúdos propostos em diferentes disciplinas de

ciências da natureza. Para averiguar tal objetivo foram planejadas, construídas e aplicadas as

Unidades de Ensino Potencialmente Significativas – UEPS –, constituídas de um questionário

prévio e um questionário pós, mapas conceituais, organizador prévio, situações-problema,

entre outros. O público-alvo da pesquisa foi o segundo ano do Ensino Médio. Os resultados

obtidos demonstraram que o tema integrador proposto tem potencialidades em despertar e

manter o interesse dos alunos, bem como dar contexto a alguns assuntos atribuídos à

disciplina de Física, Química e Biologia. Ao final são apresentadas evidências de

aprendizagem significativa que corroboram com o êxito do tema integrador Astrobiologia

apresentado por meio das UEPS.

Palavras-chave: Aprendizagem Significativa. UEPS. Astrobiologia. Ensino Médio.

7

GOMES, S. F. Astrobiologia: um tema integrador para o ensino de ciências. 144 p.

Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), campus Nilópolis, RJ, 2018.

ABSTRACT

One of the challenges of education is to overcome the teaching of content that leads only to

memorization and repetition of subjects, serving as evidence, but soon after is almost

completely forgotten. This type of learning contributes to the formation of limited subjects, in

which the elaboration of the own thought to become autonomous subjects and that act in its

own reality, and not only reproducers of preconceived ideas. In this context the present

dissertation investigated whether through the introduction of an integrating theme,

astrobiology, there is a stimulus to the meaningful learning of the contents proposed in

different disciplines of the natural sciences. In order to ascertain this objective, the Potentially

Meaningful Teaching Units - PMTUS were planned, constructed and applied, consisting of a

previous questionnaire and a post-questionnaire, conceptual maps, previous organizer,

problem situations and others. The target audience for the survey was the second year of high

school. The results showed that the proposed integrating theme has the potential to awaken

and maintain students' interest, as well as give context to some subjects attributed to the

discipline of Physics, Chemistry and Biology. Finally, evidence of significant learning is

presented that corroborates the success of the astrobiology integrating theme presented

through the PMTUS.

Keywords: Meaningful Learning. PMTUS. Astrobiology. High school.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 Representação visual do fóssil que contribuiu para a caminhada 15

Figura 2.1 Representação esquemática da multi, pluri inter e transdisciplinaridade 27

Figura 2.2 Representação do continuum das relações disciplinares 27

Figura 3.1 Representação de algumas das áreas envolvidas no campo Astrobiologia 30

Figura 3.2 Evolução do universo 31

Figura 3.3 As reações nucleares da nucleossíntese primordial 32

Figura 3.4 As reações nucleares do ciclo próton-próton 33

Figura 3.5 As reações nucleares do ciclo triplo-α 33

Figura 3.6 Representação do interior de estrelas altamente massivas 34

Figura 3.7 Representação da evolução estelar 35

Figura 3.8 Experimento de Miller-Urey 36

Figura 3.9 Representação esquemática da Zona Habitável 38

Figura 4.1 Contínuo entre a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa 42

Quadro 4.1

Quadro 4.2

Esquema do processo de assimilação

Processo no período de retenção

43

43

Figura 4.2 Diagrama indicando a diferenciação progressiva e a reconciliação

integrativa.

46

Figura 4.3 Um modelo de mapa conceitual 49

Figura 4.4 Mapa conceitual para a construção de uma UEPS 50

Figura 5.1 (A) um grupo participante no jogo intitulado team; (B) pokébola; (C)

pokébola aberta com as sentenças

57

Quadro 5.1 Estrutura metodológica da ATD 58

Quadro 5.2 Critérios de análise quanto à da hierarquia, diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa

59

Quadro 5.3 Critérios de análise quanto qualidade do mapa 60

Figura 5.2 Mapa conceitual de referência para elaboração das UEPS e para

avaliação dos mapas conceituais construídos pelos alunos

62

Quadro 5.4 As etapas de planejamento, elaboração e aplicação das UEPS 65

Quadro 6.1 Eixos de análise dos conhecimentos prévios dos participantes 69

Gráfico 6.1 Afinidade disciplinar dos alunos 70

9

Gráfico 6.2 Recursos didáticos que os alunos gostam 71

Quadro 6.2 O que torna a aula mais atrativa? 72

Gráfico 6.3 Sobre as relações entre as disciplinas 74

Gráfico 6.4 Relação entre disciplinas e fatos científicos recentes 75

Gráfico 6.5 Disciplinas que versão sobre origem, evolução e manutenção da vida 76

Gráfico 6.6 É possível vida fora da Terra, por exemplo, em outro planeta? 77

Quadro 6.3 Justificativas a favor da existência de vida fora da Terra 78

Quadro 6.4 Se houvesse vida fora da Terra como ela seria? 80

Quadro 6.5 A Ufologia é definida como ciência ou não? 83

Gráfico 6.7 Sabe o que é Ufologia? 83

Quadro 6.6 Astrologia e astronomia querem dizer a mesma coisa? 85

Gráfico 6.8 MCI da TA 94

Gráfico 6.9 MCI da TB 95

Gráfico 6.10 MC II da TA 97

Gráfico 6.11 MC II da TB 97

Gráfico 6.12 TA MCI e MCII 99

Gráfico 6.13 TB MCI e MCII 100

Figura 6.1 MCI do aluno TA16 – Mapa Regular 102

Figura 6.2 MCII de TA16 – Mapa Bom 103

Figura 6.3 MCI do aluno TA21- Mapa Regular 105

Figura 6.4 MCII do aluno TA21 – Mapa Bom 106

Figura 6.5 MCI do aluno TB22 – Mapa Deficiente 107

Figura 6.6 MCII do aluno TB22 – Mapa Bom 108

Figura 6.7 MCI do aluno TB6 – Mapa Deficiente 109

Figura 6.8 MCII do aluno TB6- Mapa Bom 111

Quadro 6.7 Critérios adotados pelos alunos para procurar por um planeta habitável 113

Figura 6.9 Apresentação do projeto brilho das estrelas: a matemática que envolve a

propagação de sua luz

117

Figura 6.10 Momento da entrega da premiação da XXII SEMATEC e XX Encontro

Escola Comunidade 2017

117

Figura 6.11 A visita do projeto a uma escola pública do entorno 118

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 A quantidade de alunos participantes nas duas turmas 55

Tabela 6.1 Símbolos representativos 68

Tabela 6.2 Resultados questionário pré e pós 87

Tabela 6.3 Qualidade dos mapas MC I 92

Tabela 6.4 Qualidade dos mapas MC II 96

11

LISTA DE ABREVIAÇÃO E SIGLAS

IFRJ Instituto Federal de Ciência, Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro

ATD Análise Textual Discursiva

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

AS Aprendizagem Significativa

UEPS Unidades de Ensino Potencialmente Significativa

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

MCI Primeiro mapa conceitual individual

MCII Segundo mapa conceitual individual

MC-GI Primeiro mapa conceitual coletivo

MC-GII Segundo mapa conceitual coletivo

Q1 Questionário prévio

Q2 Questionário posterior

TA Turma A

TB Turma B

12

SUMÁRIO

1.1 CAPÍTULO I – DESCORTINANDO O CONTEXTO DA PESQUISA

1.2 INTRODUÇÃO

1.1.1 Objetivo

1.1.2 Organização da dissertação

CAPÍTULO II – UM CONVITE PARA REPENSAR OLHARES

2.1 DECIFRANDO O MUNDO

2.1.1 Paradigma mecanicista

2.1.2 Ponto de mutação

2.1.3 Paradigma emergente

2.1.4 Escola: construção para leituras de mundo

2.1.5 Reconectando os saberes e as pessoas: abordagem inter e transdiciplinar

CAPÍTULO III – DO UNIVERSO ESTELAR PARA O UNIVERSO ESCOLAR

3.1 ASTROBIOLOGIA: CIÊNCIA EMERGENTE

3.1.1 Como tudo começou?

3.1.2 Como surgiram os primeiros átomos e moléculas?

3.1.3 Como surgiu a vida?

3.1.4 Por onde começar a procurar vida?

3.1.5 Como seria trabalhar Astrobiologia na sala de aula?

CAPÍTULO IV – TEORIA DA APRENDIZAGEM

4.1 TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

4.1.1 Aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica

4.1.2 As formas e os tipos de aprendizagem significativa

4.1.3 Processo de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa

4.1.4 Condições para a ocorrência da aprendizagem significativa

4.1.5 Organizador prévio

4.1.6 Mapas conceituais

4.1.7 Unidades de Ensino Potencialmente Significativo - UEPS

15

16

18

19

20

20

21

22

23

25

26

29

29

30

31

35

37

39

41

41

42

44

46

47

48

48

50

13

CAPÍTULO V – O PERCURSO DA PESQUISA

5.1 PESQUISA QUALITATIVA

5.1.1 Sujeitos da pesquisa

5.1.2 Instrumentos de coleta de dados

5.1.3 Organizador Prévio para o conceito de evolução: Astrobio GO

5.1.4 Instrumentos de análise de dados

5.1.4.1 Critério de análise dos questionários e do desafio cientista em ação

5.1.4.2 Critério de análise dos mapas conceituais

5.1.5 Organização das UEPS

5.1.5.1 Unidade de Ensino Potencialmente Significativa sobre Astrobiologia

CAPÍTULO VI – RESULTADOS

6.1 LEVANTAMENTO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS ESTUDANTES

6.1.1 Perfil de afinidade disciplinar

6.1.2 O que os sujeitos da pesquisa desejam nas aulas?

6.1.2.1 Metatexto: o que precisa ter em uma aula para ser considerada atrativa?

6.1.3 Relacionabilidade entre as disciplinas e entre as disciplinas e o cotidiano

6.1.4 Conhecimento sobre Astrobiologia

6.1.4.1 Metatexto: sim, existe vida fora da Terra

6.1.4.2 Metatexto: como seria a vida fora da Terra?

6.1.5 Diferença entre ciência e pseudociência

6.1.5.1 Metatexto: Ufologia é ciência?

6.1.5.2 Metatexto: Astronomia x Astrologia

6.2 COMPARAÇÃO QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS

6.3 MAPAS CONCEITUAIS: UMA ANÁLISE COLETIVA

6.3.1 Resultados dos mapas MCI

6.3.2 Resultados dos mapas MCII

6.3.3 Comparação do MCI e MCII da TA

6.3.4 Comparação do MCI e MCII da TB

6.4 EVOLUÇÃO DOS MAPAS: UMA ANÁLISE INDIVIDUAL

6.4.1 Percurso avaliativo do aluno TA16

53

53

54

55

56

57

57

58

63

65

68

68

69

70

73

73

75

79

82

82

84

85

87

92

92

95

98

100

101

102

14

6.4.2 Percurso avaliativo do aluno TA21

6.4.3 Percurso avaliativo do aluno TB22

6.4.4 Percurso avaliativo do aluno TB6

6.5 ANÁLISE DO DESAFIO PROPOSTO: CIENTISTA EM AÇÃO

6.5.1 Metatexto: para onde toda humanidade iria?

6.6 DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA

6.6.1 O projeto na XXII SEMATEC & XX Encontro Escola Comunidade

6.6.2 Reapresentação do projeto: quem aprende ensina

CAPÍTULO VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

APÊNDICES A - Unidade de Ensino Potencialmente Significativa sobre Astrobiologia

APÊNDICE B – Questionário Prévio

APÊNDICE C – Questionário Pós-UEPS

APÊNDICE D – Quiz Astrobio GO

104

107

109

112

114

115

115

118

120

123

15

CAPÍTULO I – DESCORTINANDO O CONTEXTO DA PESQUISA

Era o meu primeiro ano no colegial, na antiga quinta série. Momento de grandes

transformações, tanto espaciais, como a mudança de um prédio antigo para outro prédio mais

novo, mudanças de número, quanto do número de professores, que passou a ser exatamente

igual ao número dos livros de disciplinas que constantemente carregava. E, por fim, a

mudança mais simbólica, muito esperada, diga-se de passagem, foi a introdução do uso

indiscriminado da caneta esferográfica.

Porém, houve uma mudança em especial que mexeu e ainda mexe comigo

profundamente: a lembrança de uma única aula. A disciplina era Biologia e a professora

chamava-se Taís. Eu particularmente não simpatizava nem com ela nem com a disciplina,

inicialmente. Taís era uma professora bem triste. Até que em uma das aulas do terceiro

bimestre, ela disse em um tom alegre: “Gente, não se esqueça: amanhã vou trazer o meu

fóssil”.

No dia seguinte, ela chegou três vezes mais alegre e explicou o que seria um fóssil

(Figura 1.1), quantos ela já tinha achado e tudo mais. Dava para ver paixão nos olhos daquela

professora, que deixou até que todos da sala, com sua supervisão, tocassem o fóssil. Enquanto

acontecia a aula, fiquei apreciando como ela mudou radicalmente seu estado de espírito,

influenciando, inclusive, os alunos que, instantaneamente, ficaram interessados. Pronto! Foi

exatamente naquele momento que eu decidi que também queria ter um “fóssil” para despertar

o olhar admirado que ela gerou nos alunos pelo simples fato de estar encantada com o que ela

estava ensinando.

Figura 1.1: Representação visual do fóssil que contribuiu para a caminhada.

Formei-me em licenciatura em Biologia e ainda continuo colecionando paixões. A

paixão mais recente é a Astrobiologia e, dessa forma, pensei em trazê-la, mostrando as

inquietações presentes no céu para as salas de aula, e lá pude notar o “efeito fóssil” que

somente quem tem paixão pelo que ensina pode criar.

16

1.3 INTRODUÇÃO

Nós somos uma maneira do Cosmos

conhecer a si mesmo.

Carl Sagan

A produção do conhecimento científico modelou a forma especializada com a qual os

sujeitos do mundo se relacionam, aprendem, e consomem a natureza. Essa forma de

compreender a realidade viabilizou variados benefícios em retroalimentação, como o

progresso científico-tecnológico-social. Entretanto, essa mesma lógica “provocou a

fragmentação do nosso pensamento, a unilateralidade de nossa visão” (MORAES, 2005, p.

43). Com as mudanças de concepção na estruturação do conhecimento, houve mudanças

dentro no contexto escolar:

Os sistemas de ensino, respondendo às mudanças sociais, à crescente diversificação

cultural da sociedade, ao impacto tecnológico e às transformações no mercado de

trabalho vêm propondo reformulações no ensino de Ciências e criando ramificações

das disciplinas tradicionais: Física, Química e Biologia (KRASILCHIK, 1988, p.

55).

Um dos reflexos da hiperespecilização disciplinar é a ausência do contexto do objeto

de estudo, o que consequentemente retoma uma pergunta famosa entre os estudantes: “por

que eu tenho que estudar isso?”. Essa pergunta denota que para o aluno não há sentido

aprender algo que não se relaciona de forma clara com o seu cotidiano, tornando a

aprendizagem sem relevância, sem significado.

Nesse sentido, dialogando com o ensino de ciências, busca-se um ensino mais

agregador com a intenção de se compreender o que se vivencia. E uma das abordagens que

tende a superar essa visão fragmentada e desconexa da realidade é a interdisciplinaridade, que

permite um olhar sob o processo ensino-aprendizagem baseado na interdependência das

disciplinas.

Tal relação entre disciplinas é tão significativo que o próprio Ministério da Educação

(MEC) recomenda, por intermédio dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio

(PCNEM), a realização de ações agregadoras que permitam aos alunos inter-relacionar os

conhecimentos dispostos em disciplinas escolares. De acordo com os PCNEM:

17

A tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar a realidade segmentada,

sem desenvolver a compreensão dos múltiplos conhecimentos que se interpenetram

e conformam determinados fenômenos. Para essa visão segmentada contribui o

enfoque meramente disciplinar que, na nova proposta de reforma curricular,

pretendemos superá-lo pela perspectiva interdisciplinar e pela contextualização dos

conhecimentos (BRASIL, 2000, p. 21).

Dentre as atuais propostas do ensino de ciências que tendem à interdisciplinaridade

como ferramenta contra a compartimentalização do ensino, encontra-se o estudo da

Astronomia. A Astronomia não cabe como um mero acréscimo de conteúdos a serem tratados

em aula, mas oferece alternativas às formas de abordar outros temas (GAMA e HENRIQUE,

2010).

Dentro do campo da Astronomia atual, podemos encontrar a vertente que talvez seja a

mais instigante na concepção biológica, a Astrobiologia, considerada hoje em dia por

pesquisadores como adequada para o ensino de Ciências devido à sua capacidade de dar

contexto a alguns conteúdos.

A Astrobiologia cria relações entre diversas disciplinas, derrubando fronteiras

tradicionais entre as áreas do conhecimento (STALEY, 2003). Segundo a Agência Espacial

Americana (NASA), esta área de pesquisa é o campo da ciência que estuda a origem, a

evolução e a distribuição da vida no universo (NASA, 2014), sendo assim pertinente na inter-

relação das disciplinas que compõem as ciências naturais.

Dessa forma, a Astrobiologia demonstra seu caráter de tema integrador no que tange à

possibilidade da articulação de conteúdos que são tratados de forma isolada. Nesse sentido, o

cientista social francês Edgar Morin alerta:

É preciso substituir um pensamento que separa por um pensamento que une, e essa

ligação exige a substituição da causalidade unilinear e unidimensional por uma

causalidade em círculo e multirreferencial, assim como a troca da rigidez da lógica

clássica por uma dialógica capaz de conceber noções ao mesmo tempo

complementares e antagônicas; que o conhecimento da integração das partes num

todo seja completada pelo reconhecimento da integração do todo no interior das

partes (MORIN, 2000, p. 41).

Partindo desta explanação, esta pesquisa levanta o seguinte problema: é possível, por

meio de um tema integrador, trabalhado à luz da Teoria da Aprendizagem Significativa,

estimular o aprendizado de conceitos científicos de forma interdisciplinar? Esta pergunta vai

ao encontro da crítica à forma de organização das disciplinas. A atual organização disciplinar

resguarda a inter-relação que é imprescindível na construção de um pensar abrangente,

18

dialógico, e complexo levando em consideração as várias nuances que a realidade complexa

demanda.

A justificativa da pesquisa se pauta no entendimento de que hoje os alunos, imersos no

mundo tecnológico, em rede, estão conectados à mídia que noticia, quase diariamente,

descobertas com relação à possibilidade da existência de água, sejam em planetas ou mesmo

satélites que compõem o sistema solar, pressupondo a possibilidade de achar vida similar à

encontrada na Terra. Contudo, esses novos conhecimentos não estão sendo articulados com

os conteúdos disciplinares da sala de aula.

Partindo dessa premissa, julga-se ser a Astrobiologia uma área que apresenta um

terreno fértil de oportunidades para trabalhar os conteúdos concernentes às ciências naturais

por dependerem de esclarecimentos a respeito da base que estrutura a vida. Esta integração

entre as disciplinas conduz tanto o professor quanto o aluno a um conhecimento mais

articulado e complexo sobre os fenômenos naturais. Espera-se que este estudo possa servir de

contribuição para a melhoria e qualidade do ensino de ciências que carece deste tipo de

literatura relacionada ao espaço escolar.

O pressuposto desta pesquisa é que é possível utilizar a Astrobiologia como um eixo

norteador para superação da visão fragmentada que as disciplinas isoladas, no ensino médio,

causam nos alunos, estimulando a aprendizagem significativa nesse processo.

1.1.1 Objetivo

O objetivo geral da pesquisa é verificar se por meio da introdução de um tema

integrador há um estímulo à aprendizagem significativa dos conteúdos propostos em

diferentes disciplinas de ciências da natureza.

Os objetivos específicos são:

Introduzir a temática Astrobiologia por meio de Unidades de Ensino Potencialmente

Significativas - UEPS;

Estimular a aprendizagem significativa incorporando uma abordagem pluri, inter e/ou

transdisciplinar;

Analisar a construção do conhecimento da temática mediante a elaboração e

comparação dos mapas conceituais dos discentes e de outros instrumentos avaliativos

ao longo da intervenção.

19

1.1.2 Organização da dissertação

A dissertação é composta por sete capítulos.

No Capítulo I: Descortinando o contexto da pesquisa, é feita uma breve exposição

sobre as motivações da pesquisadora, é introduzido o contexto, a pergunta que norteou a

pesquisa, a justificativa e os objetivos do estudo.

No Capítulo II: Um convite para repensar olhares, é apresentado os paradigmas

científicos e seus reflexos no contexto escolar.

No Capítulo III: Do universo estelar para o universo escolar, é descrito alguns dos

assuntos de domínio do campo da Astrobiologia a fim de familiarizar o leitor.

O Capítulo IV: Teoria da aprendizagem expõe a teoria que embasa a presente

pesquisa, a Teoria da Aprendizagem Significativa dando enfoque aos tipos, processos,

condições e recursos instrucionais que se distanciam da aprendizagem mecânica e se

aproximam da aprendizagem significativa.

No Capítulo V: O percurso da pesquisa apresenta a trajetória da pesquisa quanto a sua

natureza, os sujeitos que dela participaram, instrumento de coleta de dados, instrumentos de

análise de dados e a organização das Unidades de Ensino Potencialmente Significativa.

O Capítulo VI: Resultados, explora os resultados obtidos durante toda a intervenção

realizada por intermédio da análise do questionário pré e pós, dos mapas conceituais

construídos, da situação-problema final e dos desdobramentos da pesquisa.

E, por fim, o Capítulo VII: Considerações finais tenta apresentar ao leitor o

fechamento desta pesquisa sem necessariamente esgotar os assuntos por ela discutidos.

20

CAPÍTULO II – UM CONVITE PARA REPENSAR OLHARES

Desde o século XVII, a questão central era se o

paradigma newtoniano, mecanicista, podia incluir o

fenômeno da vida. Como já foi posto, é adequado

descrever o universo como um relógio, mas ponham

dois relógios juntos e nunca irão obter um terceiro.

Evelyn Fox Keller

Há um descompasso cada vez mais acentuado entre o mundo e a leitura de mundo. O

primeiro é multidimensional, polissêmico, transversal, global, universal. Enquanto o segundo

divide, isola, determina, limita, reduz. Ao longo da história da ciência a produção do

conhecimento foi sendo construído conforme paradigmas, e cada qual com sua inegável

relevância. O objetivo deste capítulo não é exaltar um paradigma em detrimento de outro,

visando apontar um mais adequado ou mesmo uma panaceia, mas, sim, mostrar que a

produção de conhecimento, no interior do seu contexto, têm reflexos na organização escolar.

E sob esse ponto de vista, é interessante buscar o equilíbrio entre leituras de mundo no sentido

de oportunizar os alunos a uma educação crítica e reflexiva que contemple a complexidade

que constitui a realidade.

2.1 DECIFRANDO O MUNDO

Obviamente, que o paradigma mecanicista desempenhou ganhos científicos,

tecnológicos, sociais, econômicos e culturais para o pensamento ocidental ao longo dos anos.

De acordo com Morin (2005):

é evidente que o conhecimento científico determinou progressos técnicos inéditos,

tais como a domesticação da energia nuclear e os princípios da engenharia genética.

A ciência é, portanto, elucidativa (resolve enigmas, dissipa mistérios), enriquecedora

(permite satisfazer necessidades sociais e, assim, desabrochar a civilização); é, de

fato, e justamente, conquistadora, triunfante (p. 16).

Contudo, ao mesmo tempo, a alta especialização do saber não só afetou o modo de

produção científica, mas toda a produção de conhecimento, inclusive o modo de ensinar na

escola. Ou seja, A escola incorporou a disciplinaridade como a visão de mundo mais

21

adequada, produzindo segundo Moraes (2005, p. 18) “uma escola morta, dissociada da

realidade, do mundo e da vida”.

O problema da constante fragmentação disciplinar é a impossibilidade de pensar o

global, justamente em uma sociedade que requer soluções para problemas complexos como,

por exemplo, questões econômicas, políticas, sociológicas, psicológicas, afetivas, ambientais

(MORIN, 2003), exigindo aguçar a visualização da interdependência entre as pessoas, eventos

e objetos.

2.1.1 Paradigma mecanicista

Segundo Thomas Kuhn (1994), um paradigma é uma realização científica reconhecida

universalmente que, por algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma

comunidade científica. Nesse sentido, este capítulo tem por objetivo dar um panorama sobre

algumas das transformações paradigmáticas que acompanham a ciência.

A ciência, tal como é concebida nos dias atuais, nem sempre foi apresentada desta

forma, fragmentada, reduzida e específica (SANTOS, 1988; PRIGOGINE, 1996; MORIN,

2000; BOHM, 2001; BINDÉ, 2003; MORAES, 2005; CAPRA e LUISI 2014;

VASCONCELLOS, 2014). No início de sua história, na antiga Grécia, “no século VI a.C a

filosofia e a ciência gregas entendiam a ordem do cosmos como a de um organismo vivo, e

não como a de um sistema mecânico” (CAPRA e LUISI 2014, p. 27).

Para compreender as transformações científicas que remontam a história da ciência, é

importante ter em mente os aspectos econômicos, sociais e culturais que fizeram parte do

contexto histórico, principalmente na era moderna, entre 1600 e 1700, com eventos como o

Renascimento, a Revolução Científica, Revolução Industrial, entre outros. Como apontado

por Moraes:

A partir dos séculos XVI e XVII, a natureza da ciência medieval começou a sofrer

radicais mudanças. A visão de um mundo orgânico, vivo e espiritual, passou a ser

substituída pela noção do mundo-máquina, composta de objetos distintos,

decorrentes das mudanças revolucionárias na Física e na Astronomia que ocorreram

a partir de Copérnico. Essa época, chamada de Idade Moderna, teve como fatores

marcantes - o renascimento; os grandes descobrimentos marítimos e o racionalismo

(2005, p. 33).

22

A Revolução Científica trouxe a quebra de dogmas, como o geocentrismo de

Ptolomeu, com as ideias de Copérnico, Kepler, e por último, com a experimentação científica

e a linguagem matemática de Galileu. Posteriormente, o filósofo Francis Bacon e filósofo,

físico, e o matemático René Descartes aperfeiçoaram e formalizaram o pensamento

matemático iniciado por Galileu, dando forma ao novo método de raciocínio, o método

analítico, visando encontrar a verdade absoluta.

O método desenvolvido por Descartes exigia a decomposição do pensamento e dos

problemas em pedaços, para que então pudesse arranjar esses pedaços em sua ordem lógica

(CAPRA e LUISI, 2014). Esse pensamento foi importante para desvencilhar o seu trabalho da

tradição escolástica que havia na época.

Em consonância com o método de Descartes, Isaac Newton descreve o mundo como

uma máquina perfeita, na qual o universo passa a significar um grande sistema mecânico

regido segundo as leis físicas e matemáticas. Neste mesmo momento, dá-se o distanciamento

do mundo e de seu observador (MORAES, 2005). E com ele o nascimento de uma ciência

redutora, determinista, atrelada à ambição da Revolução Industrial de dominar a natureza

(BINDÉ, 2003).

2.1.2 Ponto de mutação

As ideias de Tomas Kuhn (1994) foram de extrema importância para o entendimento

do funcionamento da ciência. De acordo com o autor, a ciência não evolui linearmente com a

acumulação de descobertas individuais, mas por revoluções de paradigma. O ponto de

mutação que dá nome a essa seção faz referência à ruptura do paradigma da ciência normal

para a emergência da ciência extraordinária descrita por Kuhn em seu livro Estruturas das

Revoluções científicas (1994).

A ruptura de um paradigma ocorre pela existência de anomalias que refletem em uma

crise sobre a qual a comunidade científica repensa, rearticula, com a finalidade de construir

novos fundamentos para o campo científico.

No começo do século XX, a Física Mecanicista newtoniana sofre uma intensa crise

quanto aos vários fenômenos relacionados com a estrutura dos átomos, como os raios X e a

radiatividade, que não conseguiam ser explicados em termos da Física Clássica (CAPRA,

1982). Logo, inicia-se uma ruptura de paradigma entre a era moderna e era contemporânea.

23

A mudança de paradigma começa a partir de 1900, com o físico Max Planck, que

introduz o conceito de quantum, originando outra vertente da Física, a Mecânica Quântica.

Essa ação engendrou problemas filosóficos e epistemológicos que demandaram um repensar

científico. De forma que uma nova ciência foi surgindo em outro nível de realidade,

contrastando completamente com o mundo mecanicista (MORAES, 2005).

Posteriormente, em 1905, foi a vez do físico Albert Einstein, que com a teoria especial

da relatividade e a elucidação da radiação eletromagnética, contribuiu para desvelar as

certezas absolutas, dando espaço para aproximações, probabilidades de um microcosmo,

colocando em questão o mundo mecanicista conforme afirma Moraes:

As descobertas relacionadas à Teoria da Relatividade e à Teoria Quântica acabaram

de esfacelar os principais conceitos da visão de mundo cartesiana e da mecânica

newtoniana relacionados à noção de espaço e tempo absolutos, às partículas sólidas

elementares, à objetividade científica, à causalidade e à separatividade, fazendo com

que nenhum destes conceitos pudesse sobreviver às novas descobertas da física

(2005, p. 59).

Diante das novas descobertas realizadas, a visão mecanicista, determinista simplista se

mostrou limitada, e dessa forma deu lugar para o surgimento de um novo paradigma, com

uma visão comparativamente mais ampla, que Santos (1988) denomina paradigma emergente.

2.1.3 Paradigma emergente

Sob a luz de um novo paradigma, os cientistas incorporam novos instrumentos e

realocam os olhares para outras direções, abrindo um novo mundo completamente distinto de

coisas novas até mesmo para aquelas antes já compreendidas (KUHN, 1994).

Nesse contexto o paradigma emergente rompe com o paradigma mecanicista que tinha

a redução como método de conhecimento, cuja lógica, segundo Morin:

retira um objeto do seu contexto e da sua totalidade, rejeitando suas ligações e

intercomunicações com o seu ambiente, o insere no compartimento da disciplina,

cujas fronteiras destroem arbitrariamente a sistematicidade (a relação de uma parte

com o todo) e a multidimensionalidade dos fenômenos (2003, p.69).

Além do reducionismo, houve um distanciamento do determinismo como conceito

principal, colocando à prova “a física tradicional que unia conhecimento completo e certeza:

desde que fossem dadas as condições iniciais apropriadas” (PRIGOGINE, 1996, p. 12).

24

As investigações experimentais dos átomos, no início do século XX, levaram a

desestabilização desse conhecimento completo e certo com descobertas inesperadas sobre as

unidades subatômicas, como a dualidade onda-partícula.

Nessa linha de raciocínio, o físico Werner Heisenberg, que investigava os fenômenos

atômicos, enfatiza em sua equação que quanto mais se descreve um aspecto atômico, mais

incerto torna-se o outro aspecto (CAPRA e LUISI 2014). Quanto menor a incerteza da

velocidade de uma partícula, maior será a incerteza da posição desta.

Com o fim das certezas a nível subatômico, a matéria não existe com certeza em

lugares definidos, mas em vez disso, mostra “tendências para existir”, e da mesma forma os

eventos atômicos não ocorrem com certeza, mas com “tendências para ocorrer” (CAPRA e

LUISI 2014).

O novo paradigma se desprende do reducionismo, das certezas e também da aplicação

da lógica mecânica da máquina artificial para explicar problemas vivos, humanos e sociais

(MORIN, 2005).

Descortinando o paradigma emergente, que de acordo com Moraes (2005, p. 139),

“traz a percepção de um mundo complexo, a visão de contexto, uma visão mais ampla e

abrangente, destacando a compreensão ecossistêmica da vida que enfatiza as relações do todo

com as partes”. Segundo a autora:

É uma visão ecológica que reconhece a interdependência fundamental de todos os

fenômenos e o perfeito entrosamento dos indivíduos e das sociedades nos processos

cíclicos da natureza. Através desta percepção ecológica, podemos reconhecer a

existência de uma consciência de unidade da teia da vida, a interdependência de suas

múltiplas manifestações, seus ciclos de mudanças e de transformações (MORAES,

2005, p. 171).

O surgimento do paradigma emergente da ciência teve entre as principais

contribuições científicas a do químico Ilya Prigogine, com a formulação da teoria das

estruturas dissipativas, a dos biólogos Humberto Maturana e Francisco Varela, com a teoria

da auto-organização, e a do cientista social Edgar Morin, com a teoria da complexidade.

Todos colaboraram para a quebra da lógica mecanicista pela compreensão dos fenômenos

naturais como interdependentes, visualizando-os de forma sistêmica, corroborando com o

pensamento emergente, o pensamento sistêmico.

De acordo com Capra e Luisi:

25

A primeira característica do pensamento sistêmico, e a mais geral, é a mudança de

perspectiva das partes para o todo. Os sistemas vivos são totalidades integradas

cujas propriedades não podem ser reduzidas às de parte menores. Suas propriedades

essenciais, ou “sistêmicas”, são propriedades do todo, que nenhuma das partes tem

(2014, p. 113).

O pensamento que integra as partes e direciona a sua atenção às relações existentes

entre elas é um grande desafio. Para enfrentá-lo, Morin (2003) alerta sobre a necessidade da

reforma do pensamento, para que se possa adquirir a possibilidade de articular e organizar as

informações sobre o mundo. “Trata-se, enfim e, sobretudo, de transformar o conhecimento da

complexidade em pensamento da complexidade” (MORIN, 2005, p. 8).

Como reformar esse pensamento que separa buscando o pensamento que agrega? Essa

questão se torna indispensável para repensar o contexto escolar. No entanto, os aspectos

citados sobre os paradigmas não tem a intencionalidade de excluir um ao outro, a real

intenção é de que possam coexistir de forma equilibrada, quando necessário.

2.1.4 Escola: construção para leituras de mundo

No que concerne à educação, o pensamento sistêmico exige a missão de “substituir

compartimentação por integração, desarticulação por articulação, descontinuidade por

continuidade, tanto na parte teórica quanto na práxis da educação” (MORAES, 2005, p. 102),

uma vez que a maioria dos espaços escolares ainda é o local de repetição, cópia, memorização

em prol dos conteúdos que às vezes estão completamente desvinculados do contexto que o

aluno vivencia.

Outro aspecto muito presente são as relações hierárquicas. “O professor é o que detém

o saber, o responsável pela escolha dos conhecimentos que deverão ser aprendidos, e o aluno

é aquele que deverá receber esses conhecimentos, inclusive os que deverão sustentar o

convívio social” (AGUIAR e BOCK, 2016, p. 220). Ou seja, essa relação apoia a visão de que

o professor é a figura que detém todo o conhecimento, logo superior, e de que o aluno é

aquele que precisa do conhecimento escolar, logo inferior.

O problema de uma escola nesses moldes é o domesticar, enclausurar, e limitar ideias,

pensamentos e ações que servem a reprodução dos mesmos comportamentos que

desestimulam o pensamento próprio e original.

26

Em contrapartida, a escola influenciada pelo pensamento sistêmico percebe que o

sujeito é fruto do seu contexto, que apresenta saberes próprios decorrentes da sua vivência, e

não mais como um ser “tábula rasa”. Dilui as hierarquias mostrando que não há verdades

absolutas, mas verdades aproximadas. Uma escola que dá o contexto, que encoraja as

relações, a construção no coletivo, estimula o pensamento individual formando sujeitos

capazes de pensar por si, e construir os seus pensamentos para entender, relacionar e atuar

dentro e fora do seu contexto, como afirma Moraes (2005, p. 223):

Dessa forma, os novos ambientes de aprendizagem, ao utilizar o enfoque reflexivo

na prática pedagógica, podem colaborar para o desenvolvimento de pensadores

autônomos, de indivíduos que pensam por si mesmos, o que não significa qualquer

individualismo acentuado, mas relações de cooperação, parceria e compartilhamento

entre diferentes aprendizes, ou seja, interações individualistas, num contexto de

cooperação, de diálogo, mediante o desenvolvimento de operações de reciprocidade,

de complementaridade e correspondência.

Desse modo, questiona-se, por um viés mais metodológico, quais seriam as práticas

escolares esperadas para atingir esse modelo de pensamento? Não sendo o objetivo responder

prontamente essa questão, mas, sim, conduzir a uma reflexão mais próxima de uma prática

efetiva.

2.1.5 Reconectando os saberes e as pessoas: abordagem inter e transdiciplinar

Para inserir um tema integrador no contexto escolar, faz-se necessário tecer a relação

entre os conhecimentos que estão dispostos em disciplinas curriculares. As formas e

intensidades das relações entre as disciplinas são das mais variadas, podendo ser assumidas

como multi, pluri, inter ou transdiciplinar.

Concorda-se com Hilton Japiassu a respeito dos delineamentos (Figura 2.1) feitos

sobre multidisciplinaridade, como uma “gama de disciplinas que propomos simultaneamente,

mas sem fazer parecer as relações que podem existir entre elas” (1976, p. 73). Já a

pluridisciplinaridade apresenta-se como “justaposição de diversas disciplinas situadas

geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a aparecer às relações existentes

entre elas” (1976, p. 73). A interdisciplinaridade seria a “axiomática comum a um grupo de

disciplinas conexas e definidas no nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a

noção de finalidade” (1976, p. 74). E por fim a transdisciplinaridade é vista como a

27

“coordenação de todas as disciplinas e interdisciplinas do sistema de ensino inovado, sobre a

base de uma axiomática geral” (1976, p. 74).

Figura 2.1: Representação esquemática da multi, pluri inter e transdisciplinaridade1.

Sob o ponto de vista etimológico, a autora Olga Pombo (2008) afirma que não há

distinção entre pluridisciplinaridade e multidisciplinaridade. Dessa maneira, existiriam apenas

três horizontes relacionais e não quatro. Outro aspecto é estabelecê-los como um grande

continuum (Figura 2.2), em que as relações realizadas podem transitar por todo o espectro de

possibilidades.

Figura 2.2: Representação do continuum das relações disciplinares2.

Entretanto a interdisciplinaridade é um conceito polissêmico, ou seja, pode possuir

diversos significados, Thiesen esclarece:

1 Fonte: https://osmurosdaescola.wordpress.com

2 Fonte: (POMBO, 2008).

28

a interdisciplinaridade será articuladora do processo de ensino e de aprendizagem na

medida em que se produzir como atitude (Fazenda, 1979), como modo de pensar

(Morin, 2005), como pressuposto na organização curricular (Japiassu, 1976), como

fundamento para as opções metodológicas do ensinar (Gadotti, 2004), ou ainda

como elemento orientador na formação dos profissionais da educação (2008, p.

546).

Concorda-se com todos os significados supracitados, por entendê-los como visões

complementares de um mesmo objetivo: um saber mais articulado. Porém, nesta pesquisa em

específico, o enfoque dado será pela ótica de Gadotti (2004, p. 4), entendendo a

interdisciplinaridade “como forma (método) de buscar, nas ciências, um conhecimento

integral e totalizante do mundo frente à fragmentação do saber, e na educação, como forma

cooperativa de trabalho para substituir procedimentos individualistas”.

Nessa perspectiva, junto ao pensamento sistêmico, a presente pesquisa teve por

horizonte, no espectro das relações disciplinares, a interdisciplinaridade referida, a fim de

inter-relacionar as disciplinas que compõem as ciências naturais por intermédio de um tema

integrador: a Astrobiologia.

29

CAPÍTULO III – DO UNIVERSO ESTELAR PARA O UNIVERSO ESCOLAR

O planeta estava aqui muito antes de nós e

estará aqui depois de nós, o planeta está indo

bem, o que nos preocupa é salvar-nos e salvar

o estilo de vida da classe média.

Lynn Margulis

A finalidade deste capítulo é familiarizar o leitor sobre alguns dos assuntos que

compõem o tema integrador Astrobiologia, bem como suas contribuições para o contexto

escolar.

3.1 ASTROBIOLOGIA: CIÊNCIA EMERGENTE

De onde viemos? Há vida em outros planetas? Habitaremos outros mundos? Existem

outros lugares semelhantes à Terra? Essas e outras perguntas povoam o imaginário de muitas

pessoas, e recentemente começam a ser respondidas por um campo de pesquisa promissor: a

Astrobiologia.

Segundo a Agência Espacial Norte Americana (NASA), esta área de pesquisa é o

campo da ciência que estuda a origem, a evolução e a distribuição da vida no universo

(NASA, 2014), sendo fonte de grande expectativa para que as questões supracitadas sejam

respondidas em um futuro próximo (PAULINO-LIMA e LAGE, 2010).

Pelo objeto de estudo do campo ser muito amplo e complexo, exige-se o intercâmbio

de diferentes áreas do conhecimento para tentar compreender como se dá o fenômeno vida.

Sob esta ótica de interdependência, a Astrobiologia se consolida como uma ciência

emergente, uma ciência sistêmica. A Figura 3.1 mostra algumas áreas que contribuem na

construção da Astrobiologia.

30

Figura 3.1: Representação de algumas das áreas envolvidas

no campo Astrobiologia.

Fonte: (PAULINO-LIMA e LAGE, 2010).

Como anteriormente mencionado, a Astrobiologia se ocupa da origem da vida. Logo, para

compreendê-la é importante ter a sua dimensão em escala cósmica, uma vez que a

“astrobiologia é diferente da biologia, que é exclusivamente centrada no estudo de todos os

aspectos da vida na Terra. A Astrobiologia, ao contrário, considera questões que transcendem

nosso limite planetário” (STALEY, 2003, p. 348). E para isso, necessita-se um olhar

cuidadoso para como tudo começou.

3.1.1 Como tudo começou?

Hoje a teoria mais aceita pela comunidade científica para explicar a origem do

universo é a Teoria do Big Bang, segundo a qual o universo inicialmente era pequeno, denso e

quente (LEHTO, 2007) e se expandiu ao longo de aproximadamente 13,7 bilhões de anos.

Desde então, o “universo continua a se expandir e a esfriar, já de forma bastante análoga a um

balão com gás, onde as leis de conservação forçam a queda da temperatura conforme aumenta

o volume do recipiente” (GALANTE et al, 2016, p. 45). A Figura 3.2 representa a evolução

do universo após o fenômeno Big Bang.

31

Ida

de

do

Un

ive

rso

Figura 3.2: Evolução do universo.

Fonte: Imagem adaptada Wikimedia Commons.

Logo após o evento Big Bang, houve um período inflacionário que é caracterizado por

um tempo em que o jovem universo se expande de maneira muito acelerada. Posteriormente,

ainda com a temperatura muito elevada, há o surgimento de partículas elementares,

como quarks e glúons, que são os componentes básicos da matéria (LEHTO, 2007).

Após a formação das partículas elementares, o universo teve uma queda expressiva de

temperatura, que viabilizou a combinação de prótons e nêutrons, que podiam ficar juntos sem

ser despedaçados por fótons altamente energéticos. Dando contexto para o próximo passo,

“para a astrobiologia, outro momento relevante na evolução do universo foi a nucleossíntese”

(LEHTO, 2007, p. 25).

3.1.2 Como surgiram os primeiros átomos e moléculas?

Com o aumento do volume e com a temperatura do universo diminuindo é iniciada a

nucleossíntese primordial, ou seja, um processo de reações termonucleares no início do

32

universo que foram responsáveis pela criação dos elementos químicos leves. Segundo

Maciel:

Com a expansão, a temperatura baixou para valores abaixo de T ~ 10

10 K, iniciando-

se a nucleossíntese primordial propriamente dita em t ~ 102 s com T ~ 10

9 K, em que

as espécies sintetizadas foram o deutério D (ou ²H), o trítio ³H, e os isótopos ³He, 4He e

7Li, ou seja, os principais isótopos de elementos leves. (2004, p.69).

O Deutério (D) é formado pela colisão entre prótons (p) e nêutrons (n), o Hélio (3He) é

composto pela junção de um próton com deutério, ou em colisões envolvendo dois núcleos de

deutério, que podem originar o trítio. O núcleo de Hélio (4He) é formado pela junção de um

deutério (²H) com um trítio, ou pela colisão de dois núcleos de 3He. (MACIEL, 2004). A

seguir a Figura 3.3 para elucidar o exposto.

Figura 3.3: As reações nucleares da nucleossíntese primordial.

Fonte: (Maciel, 2004).

Na figura anterior, representa a partícula alfa (constituída de 4He), representa

fótons de raios gamma, representa os elétrons e representa os neutrinos. O processo

ocorre somente até a formação do elemento Lítio (7Li), uma vez que em expansão “a

densidade e a temperatura decrescem rapidamente, não sendo suficientes para novas reações

envolvendo núcleos mais pesados após t ~103 segundos” (MACIEL, 2004, p. 69).

Os elementos mais pesados “são produzidos pela atividade nucleossintética de estrelas

e são expulsos no meio interestelar através de vários episódios de sua evolução” (DE

BECKER, 2013, p.37).

33

Em estrelas do tamanho do Sol a nucleossíntese estelar ocorre pelo ciclo próton-

próton. O mecanismo do ciclo próton-próton converte Hidrogênio (H) em Hélio (4He). “São

necessários quatro prótons para cada núcleo de 4He produzido, gerando energia, pósitrons e

neutrinos no processo” (MACIEL, 2004, p. 70), conforme esquematizado na Figura 3.4:

Figura 3.4: As reações nucleares do ciclo próton-próton.

Fonte: Wikimedia Commons.

Entretanto, após o término do H no núcleo da estrela, “há um novo aquecimento a

temperaturas acima de 108 K, quando o próprio He se funde em

12C, no processo conhecido

como triplo-α” (MACIEL, 2004, p. 71). O nome desta reação diz respeito ao número de

partículas alfas (Figura 3.5), que são os núcleos de Hélio (4He).

Figura 3.5: As reações nucleares do ciclo triplo-α.

Fonte: Wikimedia Commons.

34

A reação triplo-α ocorre com estrelas isoladas que tenham até 0,4 massas solares (a

massa solar é de 2 x 1030

kg), estrelas acima de 2 massas solares podem sintetizar o oxigênio

ao fundir o carbono com o núcleo de hélio. Caso a estrela ultrapasse o valor de 8 massas

solares pode ocorrer a fusão a partir do carbono na formação de núcleos mais pesados, isto

ocorre quando:

as temperaturas centrais atingem valores acima de 109 K e, em seus estágios finais

de evolução, essas estrelas possibilitam a formação dos elementos mais pesados 16

O, 20

Ne, 24

Mg, 28

Si, 32

S, 36

Ar, 40

Ca e alguns de seus isótopos. De modo geral, as reações

nucleares são eficientes na fusão de elementos até o 56

Fe (MACIEL, 2004, p. 71).

A Figura 3.6 é uma representação esquemática de alguns dos elementos formados no

interior de estrelas altamente massivas.

Figura 3.6: Representação do interior de estrelas altamente massivas.

Fonte: Wikimedia Commons.

Dependendo da sua massa solar, a estrela terá o delineamento do seu ciclo (Figura

3.7). Por exemplo, uma estrela média como o Sol sofrerá mudanças ao longo dos anos, como

o estágio de gigante vermelha, passando pela nebulosa planetária até chegar ao estágio de

anã branca, sendo este seu último estágio. No entanto, as estrelas consideradas de massa

elevada evoluirão para supergigante vermelha, posteriormente, para uma supernova que pode

vir a se tornar uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.

35

Figura 3.7: Representação da evolução estelar (não está em escala de tamanho).

Fonte: Wikimedia Commons.

Como representado acima, as estrelas de massa elevada podem terminar a sua

trajetória evolutiva com a explosão em uma supernova, um evento que “mesmo sendo

catastrófico, proporciona o surgimento de todos os elementos massivos da tabela periódica,

com massas atômicas maiores que a do ferro” (GALANTE et al, 2016, p. 53).

Dessa forma, os elementos são dispersos no meio interestelar e combinam-se em

moléculas que são as bases essenciais para a formação de vida. Segundo Lehto:

A molécula mais comum no espaço interestelar é hidrogênio molecular (H2). As

próximas moléculas mais comuns são monóxido de carbono (CO) e água (H2O).

Estas são moléculas muito interessantes porque já possuem o mais pesado elemento

importante para a vida. Os elementos que compõem essas moléculas foram

formados em estrelas que já terminaram sua vida (2004, p. 35).

E, com essas explicações, os questionamentos continuam: a partir das moléculas

formadas que eventos sucederam até a formação da vida?

3.1.3 Como surgiu a vida?

Todos os seres vivos, independente de sua forma, possuem uma característica

importante em comum, a presença de água: “a água é a substância (molécula) mais abundante

da matéria viva: 70% do corpo humano, 95% da alface, 75% de uma bactéria. Todos os seres

têm uma alta porcentagem de água, o que favorece a hipótese de uma origem em meio

aquoso” (DAMINELI e DAMINELI, 2007, p. 268).

36

A composição atômica dos seres vivos também compartilha semelhanças, como a

majoritária presença de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (CHON).

Eles estão entre os cinco mais abundantes do Universo, só deixando de fora o hélio,

que não faz ligações químicas. A bioquímica da vida é composta por combinações

desses átomos, formando água (H2O), metano (CH4), amônia (NH3), dióxido de

carbono (CO2), açúcares, proteínas, ácidos graxos e outros (DAMINELI e

DAMINELI, 2007, p. 268).

De acordo com esses padrões de abundância química, existem hipóteses que

relacionam as moléculas mais simples com a origem da vida. Entre elas destaca-se a teoria do

bioquímico Aleksandr Oparin e do geneticista John Haldane, que ficou conhecida como

hipótese Oparin-Haldane. A hipótese sugere que as moléculas CO2, CO, CH4, NH3, N2, H2S

reagiam entre elas formando moléculas complexas, tais como aminoácidos, bases

nitrogenadas, lipídio, açucares entre outras (GALANTE et al, 2016).

Outro experimento (Figura 3.8) que corroborou com essa hipótese foi feita pelo

Stanley Miller e Harold Urey, conhecido como experimento Miller-Urey. Consistia em um

sistema fechado, sem o gás oxigênio, mas contendo H2, NH3, CH4 e H2O em estado de vapor,

adicionando ao sistema descargas elétricas com ciclos de condensação e aquecimento da água.

A escolha dos elementos e as condições postas tinham a finalidade de simular a atmosfera da

Terra primitiva, tendo como produto final da experimentação a formação de aminoácidos.

Figura 3.8: Experimento de Miller-Urey.

Fonte: Wikimedia Commons.

Os aminoácidos obtidos por meio do experimento de Miller-Urey são fundamentais

como possibilidade de compreensão de como a vida primitiva foi originada. No entanto, até o

37

momento não foi descoberto nenhum mecanismo ou ambiente que pudesse produzir a

variedade de compostos orgânicos necessários na formação de vida (DAMINELI e

DAMINELI, 2007).

Contudo, é interessante considerar que a Terra prebiótica pode ter produzido

biomoléculas a partir de moléculas endógenas, provenientes da Terra, ou a partir de moléculas

exógenas, que são de origem extraterrestre, como talvez as advindas de cometas, meteoros e

poeira estelar (GALANTE et al, 2016).

Até o presente momento, existem diversas hipóteses que tangenciam as possíveis

circunstâncias e moléculas que possam ter criado condições para a existência da vida

primitiva. Entretanto, ainda não há nenhuma hipótese que sugira como ocorreu o

aparecimento de moléculas complexas capazes de se replicar aqui na Terra. É uma questão em

aberto e de intensa pesquisa.

Porém, as moléculas essenciais à vida estão disponíveis no universo, e é possível que a

vida não seja uma peculiaridade terrestre. Logo, busca-se por vida em outros lugares.

3.1.4 Por onde começar a procurar vida?

Sendo a vida um fenômeno complexo e que deve atender a critérios, outras perguntas

tão ou mais valiosas do que a que iniciou a seção são: por qual tipo de vida os cientistas

procuram? Será que existe somente uma configuração de vida? E se existe, como detectá-la

daqui da Terra?

Segundo Rampelotto, “até o momento, nós apenas conhecemos vida na Terra.

Portanto, a procura por seres extraterrestres tem sido a procura por vida como nós

conhecemos, baseada em um único exemplo” (2012, p.1620). Dessa maneira a busca é

norteada por critério de semelhança com a Terra, como: ser rochoso, composição da

atmosfera, possuir uma distância da estrela de forma a possibilitar água líquida entre outros.

Um conceito que engloba alguns dos critérios citados é o conceito de zona habitável,

de acordo com Gonzalez; Brownlee e Ward (2001):

A Zona de Habitabilidade (HZ) geralmente é definida como essa região em torno de

uma estrela onde a água líquida pode existir na superfície de um planeta terrestre (ou

seja, terra) por um longo período de tempo (Huang 1959, Shklovsky e Sagan, 1966,

Hart, 1979).

38

Esse conceito leva em consideração o nível de radiação da estrela do sistema

planetário. Por exemplo, em estrelas mais quentes, a zona habitável estará posicionada mais

distante da estrela, em estrelas menos quentes, a zona habitável estará posicionada mais

próxima da estrela. Conforme a Figura 3.9.

Figura 3.9: Representação esquemática da Zona Habitável (não está em escala de tamanho).

Fonte: (GALANTE et al, 2016).

Além da zona habitável, o planeta deve possuir a capacidade de reter parte da energia

emanada pela estrela em sua superfície, ou seja, deve apresentar o fenômeno efeito estufa. O

efeito estufa na Terra é importante para diminuir a variação de temperatura entre muito quente

e muito fria, dando estabilidade para a proliferação da vida. No entanto, é importante ressaltar

que os seus efeitos estão sendo agravados pela ação humana.

Outro critério que está relacionado à temperatura superficial do planeta é o albedo. O

albedo é o coeficiente de reflexão da superfície. Em planetas que possuem a superfície coberta

de neve, por exemplo, o albedo será maior e, consequentemente a radiação recebida da estrela

voltará para o espaço, o que, dessa forma, resfria ainda mais a superfície deste planeta

(COCKELL, 2007).

A definição desses e outros critérios são desenvolvidos na recente área da Astronomia

denominada exoplaneta, que são planetas que orbitam outra estrela diferente do Sol.

Nas últimas duas décadas, o número de exoplanetas descobertos tem aumentado

rapidamente graças aos avanços tecnológicos; já podemos comparar os resultados de

nossos modelos teóricos e computacionais com casos reais para sabermos se

planetas parecidos com a Terra são comuns no Universo. Atualmente, os dados

parecem indicar que praticamente toda estrela é formada junto com um sistema

39

planetário, o que aumenta muito a chance de existirem corpos celestes com

condições de habitabilidade (GALANTE et al, 2016, p. 33).

Nesses exoplanetas os cientistas se voltam para detecção de água, dióxido de carbono,

ozônio, entre outras assinaturas relevantes, que possam indicar o desenvolvimento de

processos biológicos. Ou seja, bioassinaturas. Os gases citados são biomarcadores

convincentes, mas não são a prova absoluta.

2.1.5 Como seria trabalhar Astrobiologia na sala de aula?3

Como brevemente exposto nas seções anteriores, os assuntos concernentes ao campo

Astrobiologia podem ser trabalhados de forma a aproximar as disciplinas que compõem as

ciências naturais. “A natureza multidisciplinar e o apelo de seu objeto de estudo, torna a

Astrobiologia ideal para integrar o ensino da ciência em todos os níveis nos currículos

educacionais” (STALEY, 2003, p. 347).

Interessante ressaltar que, ao inserir um tema que traça tantas relações entre distintos

conhecimentos, não há conhecimento pronto e acabado. Abrindo espaço para que os docentes

se articulem de forma a dar vida à realização de tal proposta, pois é um conhecimento que

precisa ser tecido junto.

Quanto aos discentes, “a integração temática interdisciplinar permite o diálogo com a

realidade, possibilita a incorporação de temas de interesse dos alunos, melhora a formação

geral ao oferecer um conhecimento integrado, articulado, atualizado” (MORAES, 2005, p.

196).

No entanto, introduzir um tema dessa natureza não é uma tarefa fácil, principalmente

por ser algo que vai de encontro ao empreendimento científico/ educacional da atualidade.

Enquanto a aquisição de conhecimento for vista somente para realizar provas, “passar de

série”, passar no vestibular, a maioria das escolas atuais não precisa de nenhuma mudança. Ao

contrário, estão em completo êxito!

Todavia, se a escola for um espaço do pensar-agir, no sentido de sujeito que é

coparticipante da sua construção intelectual, de sujeito que se conhece e que reconhece a sua

3 Parte das reflexões realizadas foi publicada em: GOMES, Sheila Freitas; VIEIRA, Valéria da Silva ; DUARTE,

Eduardo Seperuelo. Astrobiologia no Ensino de Ciências: reflexões para o Ensino Médio. In: OLIVEIRA,

Alexandre Lopes; VIEIRA, Valeria da Silva (Org.). Nossos Talentos: 10 anos do PROPEC / IFRJ . Nilópolis:

Entorno, 2017. p. 293-303.

40

comunidade social, que constrói e reconstrói sua visão de mundo, que está conectado ao

mundo e aos indivíduos, essa escola demanda coragem.

41

CAPÍTULO IV – TEORIA DA APRENDIZAGEM

Você precisa ser um ser humano que

pensa e não só repete, no entanto a nossa

escola insiste em nos ensinar a repetir

conteúdos.

Viviane Mosé

Neste capítulo será apresentada a Teoria da Aprendizagem Significativa, elucidando

seus tipos, processos, condições, recursos instrucionais pertinentes e, por fim, as unidades de

ensino potencialmente significativas.

4.1 TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A corrente teórica que fundamenta esta pesquisa está alicerçada no cognitivismo, isto

é, no estudo baseado na construção das estruturas responsáveis pelo processamento de

informação, linguagem, percepção e emoções dos indivíduos (STERNBERG, 2008).

O pesquisador estadunidense David Paul Ausubel (1918-2008) é reconhecido por suas

contribuições dentro do campo da Psicologia Cognitivista e da Psicologia da Educação. Os

trabalhos de maior notoriedade foram os da década de 60 com The Psychology of Meaningful

Verbal Learning (1963) e Educational Psychology: A Cognitive View (1968). Ambos os

trabalhos foram importantes para elucidar a teoria ausubeliana, a teoria da aprendizagem

significativa.

A teoria da aprendizagem significativa (TAS) propõe um processo no qual a nova

informação adquirida se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do

indivíduo (MOREIRA, 2011b; MOREIRA e MASINI, 2016; MOREIRA, 2016). A relação da

nova informação com a estrutura de conhecimento do sujeito deve ocorrer de forma

substantiva e não- arbitrária, ou seja, não literal, e específica. Ausubel define essa estrutura

cognitiva relevante como subsunçor. Logo, só ocorrerá aprendizagem significativa caso o

novo conhecimento se relacione de maneira substantiva e não- arbitrária com o subsunçor

relevante do indivíduo.

Em outras palavras os subsunçores são os conhecimentos prévios relevantes que cada

sujeito possui em sua estrutura cognitiva. No entanto, não são conhecimentos estáticos, eles

interagem com o novo conhecimento e se modificam constantemente (MOREIRA, 2011a).

42

Quanto maior for a interação com os subsunçores existentes, mais estabilidade cognitiva o

subsunçor terá na estrutura cognitiva do indivíduo.

Ausubel entende o armazenamento de informações na mente humana como altamente

organizado, formando uma hierarquia conceitual na qual os elementos mais específicos estão

elencados a conceitos mais inclusivos, formando uma grande estrutura cognitiva de abstratas

experiências subjetivas (MOREIRA e MASINI, 2016).

4.1.1 Aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica

Nesse contexto, como se dão as diferenças e semelhanças entre aprendizagem

significativa e aprendizagem mecânica?

A aprendizagem mecânica se distancia da aprendizagem significativa por ser uma

aprendizagem em “que o novo conhecimento é armazenado na memória do aprendiz de

maneira literal e arbitrária” (MOREIRA, 2016, p.31), fazendo com que essa informação seja

incorporada à estrutura cognitiva sem relacionar-se com os subsunçores, e por sua vez ser

meramente memorizada com praticamente nenhum significado. Infelizmente a realidade de

algumas escolas ainda privilegia esse tipo de aprendizagem memorística que serve para

provas, testes e é prontamente esquecida.

Entretanto, a aprendizagem mecânica e a AS não formam uma dicotomia, e sim um

contínuo, em que assumem extremidades do mesmo espectro como ilustra a Figura 4.1.

Figura 4.1: Contínuo entre a aprendizagem mecânica e a aprendizagem significativa.

Fonte: (MOREIRA, 2011a).

43

Desse modo, a aprendizagem pode situar-se na aprendizagem mecânica, na

aprendizagem significativa, mas também entre uma e outra, na denominada área cinza de

aprendizagem potencialmente significativa. É importante salientar que a AS não é imediata,

mas progressiva e exigindo rupturas, captação e internalização de significados (MOREIRA,

2011a).

No que se refere ao esquecimento, tanto a aprendizagem mecânica quanto a

aprendizagem significativa podem vir a resultar no esquecimento. Na AS a aquisição e

organização de significados na estrutura cognitiva do aprendiz passa pelo processo de

assimilação ou ancoragem, segundo Moreira:

Ausubel chamou de assimilação e que não é a mesma assimilação de Piaget. A

assimilação ausubeliana é o processo no qual um novo conhecimento interage, de

forma não-arbitrária e não-literal, com algum conhecimento prévio especificamente

relevante. É a “ancoragem”, também já referida, na qual o novo conhecimento

adquire significados e o conhecimento prévio adquire novos significados. Nessa

interação, os dois se modificam, porém diz-se que houve uma assimilação do novo

conhecimento (2012, p. 39).

Esse processo de assimilação ou ancoragem, representado no Quadro 4.1, irá ocorrer

da seguinte forma: a nova informação potencialmente significativa, “a”, se relaciona com o

conceito subsunçor existente na estrutura cognitiva do aprendiz, “A”, e é assimilado por este,

tendo como produto interacional resultante o subsunçor modificado “A’a’”.

Quadro 4.1 – Esquema do processo de assimilação.

Fonte: (MOREIRA e MASINI, 2016).

Após um período de tempo, o subsunçor modificado “A’a’” permanecerá dissociável

conforme o Quadro 4.2, podendo ser reproduzidos como entidades individuais.

Quadro 4.2 – Processo no período de retenção.

Fonte: (MOREIRA e MASINI, 2016).

A’a’ A’ + a’

44

No entanto, no estágio seguinte é iniciada a assimilação obliteradora, que é um estágio

de continuidade natural da aprendizagem significativa, contudo não pode ser confundido com

um esquecimento total. Voltando ao esquema do processo de assimilação, o subsunçor

modificado “A’a’” irá perder a dissociabilidade até que não seja mais reproduzida de forma

individual e “A’a’” se reduz a “A’”. Ocorre então o esquecimento de “a’”, mas que na

realidade está obliterado em “A’” (MOREIRA, 2011a).

Já o esquecimento do conhecimento aprendido de forma mecânica é mais fácil de

acontecer, a menos que seja deveras repetido. A estrutura cognitiva do aprendiz não se

aprimora ou modifica em contato com um novo conhecimento, e tem pouco ou nenhum

potencial para que esse conhecimento seja utilizado em resolução de problemas (NOVAK,

2002). Enquanto o esquecimento na aprendizagem mecânica é rápido e quase total, na AS o

esquecimento é residual por deixar resíduos no subsunçor mais elaborado.

Assim sendo, a seção seguinte se ocupará das formas e dos tipos de aprendizagem

significativa.

4.1.2 As formas e os tipos de aprendizagem significativa

A AS possui três tipos de aprendizagem, e são eles: representacional, conceitual e

proposicional.

A aprendizagem representacional “é aquela em que símbolos arbitrários passam a

representar seus referentes (objetos, eventos, conceitos)” (MOREIRA, 2016, p. 16). Um

exemplo para melhor elucidar esse tipo de aprendizagem pode ser entendido quando um

sujeito entra em contato pela primeira vez com uma caneta. Naquele momento a caneta será a

única representação que ele possui sobre o objeto, assumindo como única no mundo.

Não obstante, o sujeito vai conhecendo outras canetas que compartilham

características em comum e ocorre então a aprendizagem do tipo conceitual, que é aquela em

que “o sujeito percebe regularidades em eventos ou objetos, passa a representá-los por

determinado símbolo e não mais depende de um referencial concreto para dar significado a

esse símbolo” (MOREIRA, 2011a, p. 39), como ocorre na aprendizagem representacional.

Por fim, o terceiro tipo mais elaborado de aprendizagem é a proposicional, que é

aquela que “implica dar significado a novas ideias expressas na forma de uma proposição. As

aprendizagens representacional e conceitual são pré-requisito para a proposicional, mas o

45

significado de uma proposição não é a soma dos significados dos conceitos e palavras nela

envolvidos” (MOREIRA, 2012, p. 16).

No que se refere à nova informação, seja esta simbólica, conceitual, ou proposicional,

poderá passar por três formas de assimilação pelo indivíduo, podendo ser por subordinação,

superordenação ou combinatória.

A aprendizagem subordinada é aquela em que o novo conhecimento potencialmente

significativo se relacionará com o subsunçor relevante já existente da estrutura cognitiva, e é

assimilado de forma subordinada. O Quadro 4.1, citado anteriormente, explicita esta forma de

aprendizagem por subordinação. Um exemplo prático desta forma de aprendizagem é já

possuir na sua estrutura cognitiva o subsunçor relevante do objeto cesta. A aprendizagem

significativa de outras cestas como cesta de compras, cesta básica, cesta de café da manhã,

cesta de basquete vão ser assimiladas de forma subordinada ao subsunçor mais inclusivo,

cesta.

A aprendizagem superordenada é aquela em que o novo conhecimento potencialmente

significativo se relacionará de forma a subordinar o subsunçor. Logo, o novo conhecimento

tem caráter mais amplo e inclusivo do que o subsunçor existente. Um exemplo prático é o

indivíduo já possuir subsunçores relevantes sobre raio x, radiação infravermelha, ondas de

rádio, micro-ondas, e o novo conhecimento potencialmente significativo for radiação

eletromagnética, ocorrendo a assimilação por superordenação. Importante ressaltar que esta

forma de assimilação não é muito comum, a forma mais comum é por subordinação

(MOREIRA, 2011a).

A aprendizagem combinatória é aquela em que a nova informação não se

relaciona/assimila de forma subordinada ou superordenada com o subsunçor. O novo

conhecimento se relacionará com os vários subsunçores existentes na estrutura cognitiva do

indivíduo. O exemplo prático é o próprio tema da presente pesquisa, a Astrobiologia, que é

um conceito muito inclusivo e se relaciona com vários outros conceitos como átomos,

moléculas, estrelas, evolução, vida, entre outros.

Na seção seguinte haverá uma exposição sobre os processos da aprendizagem por

diferenciação progressiva e reconciliação integrativa.

46

4.1.3 Processo de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa

Nas seções anteriores foi apresentado que a AS possui tipos e formas de

aprendizagem. Outra questão é sobre os processos de ocorrência da AS, como demonstrados

na Figura 4.2, são esses: diferenciação progressiva e reconciliação integrativa.

A diferenciação progressiva é um processo que ocorre quando um novo conceito,

proposição ou ideia, é aprendido por subordinação (MOREIRA, 2011b) e vai se relacionando

e modificando o subsunçor ao longo do tempo, tornando-o mais diferenciado e

consequentemente mais enriquecido. Por exemplo, o subsunçor animais ao longo do tempo

vai sendo modificado por diferenciação progressiva quando em contato com novos

conhecimentos potencialmente significativos mais específicos como vertebrados e

invertebrados, aves, répteis, mamíferos, entre outros, conferindo-lhe maior estabilidade

cognitiva para servir de subsunçor âncora para novas aprendizagens.

A reconciliação integrativa ocorre quando um novo conceito, proposição ou ideia é

aprendido de forma superordenada ou combinatória (MOREIRA, 2011b) se relacionando com

subsunçor de forma mais ampla e reorganizando-o ao longo do tempo. Por exemplo, o sujeito

já possui conhecimento prévio sobre a célula, quando em contato com os novos

conhecimentos como tecido, órgão e sistema os assimilará reconciliando integrativamente.

Figura 4.2: Diagrama indicando a diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa.

Fonte: (MOREIRA, 2011a).

Os processos de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa são processos

interdependentes, de maneira que a “reconciliação integrativa é uma forma de diferenciação

47

progressiva da estrutura cognitiva que ocorre na aprendizagem significativa” (Moreira, 2011b,

p. 160).

A seguir, apresentar-se-ão as condições para que a AS possa vir a ocorrer.

4.1.4 Condições para a ocorrência da aprendizagem significativa

Ausubel prevê que para ocorrer à aprendizagem significativa necessita-se de

condicionantes: o material potencialmente significativo e a predisposição do sujeito para

aprender:

(1) que o próprio material de aprendizagem possa estar relacionado de forma não

arbitrária (plausível, sensível e não aleatória) e não literal com qualquer estrutura

cognitiva apropriada e relevante (i.e., que possui significado ‘lógico’) e (2) que a

estrutura cognitiva particular do aprendiz contenha ideias ancoradas relevantes, com

as quais se possa relacionar o novo material. A interação entre novos significados

potenciais e ideias relevantes na estrutura cognitiva do aprendiz dá origem a

significados verdadeiros ou psicológicos. Devido à estrutura cognitiva de cada

aprendiz ser única, todos os novos significados adquiridos são, também eles,

obrigatoriamente únicos. (AUSUBEL, 2000, p. 1)

A primeira condição para a aprendizagem se baseia na construção de materiais

potencialmente significativos. Isso quer dizer materiais que se relacionem com os

conhecimentos relevantes na estrutura cognitiva do sujeito. Nesse caso, é importante

averiguar quais são esses conhecimentos, ponderando as dificuldades e as facilidades para

planejar e organizar o material potencialmente significativo.

A segunda condição “é talvez mais difícil de ser satisfeita do que a primeira: o

aprendiz deve querer relacionar os novos conhecimentos, de forma não-arbitrária e não literal,

a seus conhecimentos prévios” (MOREIRA, 2016, p. 34).

Concorda-se com tais condições, porém acredita-se que se pode atingir uma a partir da

outra. Por exemplo, caso o aluno não se encontre disposto a aprender, um material

potencialmente significativo pode vir a causar nesse indivíduo um desejo e um interesse em

aprender ou vice-versa.

No que corresponde a materiais potencialmente significativos, existe entre eles os

organizadores prévios, que são elucidados a seguir.

48

4.1.5 Organizador prévio

O organizador prévio é um material instrucional de nível introdutório apresentado

antes do material da aprendizagem que se deseja instruir. O organizador é apresentado em

maior grau de abstração, inclusividade e generalidade (MOREIRA, 2008).

De acordo com Ausubel, o organizador prévio:

resolve esta dificuldade desempenhando um papel de mediador, i.e., sendo mais

relacional e relevante para o conteúdo particular da tarefa de aprendizagem

específica, por um lado, e para com o conteúdo mais geral das ideias potencialmente

ancoradas, por outro (2000, p. 11).

Isto é, o material faz a “ponte” entre o que o sujeito já conhece de forma significativa e

o que ele não conhece. O organizador proporciona relacionar os novos conteúdos com aqueles

que o sujeito já possui, mas talvez não tenha claramente o entendimento que se relaciona com

os novos conhecimentos. Por exemplo, para trabalhar o tema da pesquisa, o aluno pode não

saber do que se trata a Astrobiologia, mas provavelmente já possui subsunçores como vida,

átomos, moléculas água, entre outros que vão se relacionar e talvez sejam assimilados para o

entendimento da temática.

Caso o tema a ser trabalhado seja totalmente não familiar, necessita-se trabalhar com

um organizador “expositivo”, que considere aquilo que o sujeito “já sabe em outras áreas de

conhecimento para suprir a falta de conceitos, ideias ou proposições relevantes à

aprendizagem desse material e servir de ponto de ancoragem inicial” (MOREIRA, 2008).

Outro material associado à AS são os mapas conceituais.

4.1.6 Mapas conceituais

Conforme os princípios de Ausubel aqui mencionados, o novo conhecimento

potencialmente significativo deve se relacionar e ser assimilado junto ao subsunçor relevante

da estrutura cognitiva do aprendiz, respeitando os processos de diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa. Esses processos vão desenvolvendo o subsunçor de forma a

explorar as relações e as diferenças entre o que o sujeito já conhece e o não conhece

agregando e reorganizando novos significados.

49

Nesse contexto, existem os mapas conceituais que são ferramentas que ajudam a

externalizar as relações que os sujeitos constroem sobre determinado assunto. Novak e Cañas

definem os mapas conceituais como:

ferramentas gráficas para a organização e representação do conhecimento. Eles

incluem conceitos, geralmente dentro de círculos ou quadros de alguma espécie, e

relações entre conceitos, que são indicadas por linhas que os interligam. As palavras

sobre essas linhas, que são palavras ou frases de ligação, especificam os

relacionamentos entre dois conceitos (2010, p.10).

A Figura 4.3 apresenta um modelo de mapeamento conceitual, indicando os conceitos

superordenados, os subordinados intermediários e os subordinados específicos.

Figura 4.3: Um modelo de mapa conceitual. Adaptado do trabalho de Moreira e Masini (2016).

O mapa conceitual pode servir como um “mapa rodoviário” mostrando os trajetos que

o aprendiz faz, expressando assim os significados que ele atribui a respeito de algum assunto

de maneira a resultar em proposições (NOVAK e GOWIN, 1996).

Dessa forma, os mapas conceituais podem revelar as relações significativas de como

os sujeitos organizam seus pensamentos, podendo vir a exibir como ele hierarquiza o

pensamento de modo a apresentar a diferenciação progressiva e reconciliação integrativa do

assunto em questão.

Podendo, portanto servir como um recurso avaliativo de grande valia. Como afirmam

os autores Novak e Gowin (1996), uma das formas de se empregar os mapas conceituais é

utilizando-os não só como ferramentas de aprendizagem, mas como ferramentas de avaliação.

Palavra de ligação Palavra de ligação

Palavra de ligação Palavra de ligação Palavra de ligação

Conceitos

superordenados; muito

gerais e inclusivos.

Conceitos subordinados; Intermediários.

Conceitos específicos; Pouco inclusivos;

exemplos.

50

Dentro desse âmbito de estratégias que visam à aprendizagem significativa existem,

também, as Unidades de Ensino Potencialmente Significativas.

4.1.7 Unidades de Ensino Potencialmente Significativo - UEPS

Na perspectiva de materiais potencialmente significativos foram criadas as Unidades

de Ensino Potencialmente Significativas (UEPS). Proposta por Moreira (2011c), as UEPS são

sequências didáticas fundamentadas em teorias de aprendizagem, particularmente na TAS.

“Chamamos Sequência Didática o conjunto de atividades, estratégias e intervenções

planejadas que objetivam o entendimento sobre certo conteúdo ou tema” (KOBASHIGAWA

et al., 2008). Contudo, as UEPS se diferenciam de simples sequências didáticas porque são

implementadas tendo como ponto de partida os conhecimentos prévios dos alunos, e a partir

disto, realizam atividades que vislumbrem a aprendizagem significativa. As UEPS são

planejadas, construídas e aplicadas por intermédio dos conceitos ilustrados na Figura 4.4 em

forma de mapa conceitual.

Figura 4.4: Um mapa conceitual para a construção de uma UEPS.

Fonte: (MOREIRA, 2011b).

51

As Unidades de Ensino Potencialmente Significativas são norteadas pelos princípios

de autores como Johnson-Laird, Gowin, Vergnaud entre outros, narrados por Moreira (2011c,

p. 2), são eles:

a) o conhecimento prévio é a variável que mais influencia a aprendizagem significativa

(Ausubel);

b) Pensamentos, sentimentos e ações estão integrados no ser que aprende; essa integração

é positiva, construtiva, quando a aprendizagem é significativa (Novak);

c) É o aluno quem decide se quer aprender significativamente determinado conhecimento

(Ausubel; Gowin);

d) organizadores prévios mostram a relacionabilidade entre novos conhecimentos e

conhecimentos prévios;

e) são as situações-problema que dão sentido a novos conhecimentos (Vergnaud); elas

devem ser criadas para despertar a intencionalidade do aluno para a aprendizagem

significativa;

f) situações-problema podem funcionar como organizadores prévios;

g) as situações-problema devem ser propostas em níveis crescentes de complexidade

(Vergnaud);

h) frente a uma nova situação, o primeiro passo para resolvê-la é construir, na memória

de trabalho, um modelo mental funcional, que é um análogo estrutural dessa situação

(Johnson-Laird);

i) a diferenciação progressiva, a reconciliação integradora e a consolidação devem ser

levadas em conta na organização do ensino (Ausubel);

j) a avaliação da aprendizagem significativa deve ser feita em termos de buscas de

evidências; a aprendizagem significativa é progressiva;

k) o papel do professor é o de provedor de situações-problema, cuidadosamente

selecionadas, de organizador do ensino e mediador da captação de significados de

parte do aluno (Vergnaud; Gowin);

l) a interação social e a linguagem são fundamentais para a captação de significados

(Vygotsky; Gowin);

52

m) um episódio de ensino envolve uma relação triádica entre aluno, docente e materiais

educativos, cujo objetivo é levar o aluno a captar e compartilhar significados que são

aceitos no contexto da matéria de ensino (Gowin);

n) essa relação poderá ser quadrática na medida em que o computador não for usado

apenas como material educativo;

o) a aprendizagem deve ser significativa e crítica, não mecânica (Moreira);

p) a aprendizagem significativa crítica é estimulada pela busca de respostas

(questionamento) ao invés da memorização de respostas conhecidas, pelo uso da

diversidade de materiais e estratégias instrucionais, pelo abandono da narrativa em

favor de um ensino centrado no aluno (Moreira).

As UEPS devem atender a esses princípios. No entanto, os recursos didáticos, as

metodologias entre outras questões ficam a critério de escolha do professor.

Além dos princípios que norteiam as UEPS existem os aspectos sequenciais apontados por

Moreira (2011c), que fornecem um direcionamento metodológico das unidades de ensino em

oito passos que serão explorados no Capítulo V: percurso metodológico.

Neste contexto, a pesquisa tem a intencionalidade de, por meio das UEPS, promover um

ensino que vá ao encontro da aprendizagem significativa.

53

CAPÍTULO V – PERCURSO METODOLÓGICO

Neste capítulo será apresentada a natureza da pesquisa, os sujeitos participantes, os

instrumentos de coleta de dados, os instrumentos de análise de dados e, por fim, a organização

das UEPS.

5.1 PESQUISA QUALITATIVA

A presente pesquisa apresenta caráter qualitativo descritivo, segundo um viés de

investigação participante (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

A pesquisa é caracterizada como qualitativa pelo entendimento de que a realidade é

constituída de vieses que são interpretados dentro de um contexto social. Se distanciando da

testagem de hipóteses que visam uma realidade estritamente objetiva, independente e

consequentemente mensurável, de acordo com uma perspectiva positivista.

Segundo Lüdke e André (1986), no contexto educacional não há como isolar as

variáveis envolvidas e determinar quais delas são responsáveis por um evento em específico.

Ou seja, não há como “recortar” a realidade para controlar o que se deseja inferir. Sendo

assim, as autoras reconhecem o caráter complexo que foge aos determinismos da ótica

simplificadora.

Nesse sentido, Bogdan e Biklen (1982) descrevem a pesquisa qualitativa dotada de

cinco características:

I- O ambiente natural se torna a principal fonte de dados e o pesquisador como seu

principal instrumento. Os autores partem da premissa de que toda pesquisa tem o seu

contexto, e que, dessa forma, as circunstâncias particulares são importantes na compreensão

do fenômeno estudado. Para a captação das particularidades é necessária a presença de modo

intensivo do pesquisador.

II- A coleta de dados é predominantemente descritiva. Os autores ressaltam a

importância dos dados de caráter descritivo por viabilizar a apuração de forma mais detalhada

e realística possível. A narrativa atenta pode identificar alguns aspectos que podem ajudar na

compreensão do problema da pesquisa.

III- O processo é mais valorizado do que o produto. Os autores consideram que a

pesquisa qualitativa se ocupa do entendimento do problema da pesquisa junto às ações de

54

cunho cotidiano, se expressando de forma complexa e dependente do olhar no processo e não

somente no produto.

IV- A significação do pesquisador frente à pesquisa. Os autores esclarecem que pela

pesquisa ter a intencionalidade de capturar o olhar dos participantes, se fazem necessários,

além da percepção aguçada do pesquisador, o estabelecimento de meios para confirmação de

tais percepções.

V- O processo indutivo na análise dos dados. Os autores revelam que este tipo de

pesquisa não se preocupa em validar os pressupostos iniciais do estudo. Entretanto, tal ação é

realizada de maneira indutiva, em que os dados vão se consolidando no transcorrer da

pesquisa.

Desse modo a pesquisa foi desenvolvida baseada nas características supracitadas.

5.1.1 Sujeitos da pesquisa

Participaram dessa pesquisa duas turmas que cursavam o terceiro período do Ensino

Médio Técnico em Controle Ambiental de um Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Rio de Janeiro. O curso de Controle Ambiental tem a duração de quatro anos

ao total.

O terceiro período foi escolhido pelas turmas já terem cursado disciplinas e conteúdos

selecionados como pré-requisitos necessários na articulação do tema como, a título de

exemplo, átomos, moléculas, atmosfera, entre outros conteúdos. A pesquisa foi desenvolvida

nas aulas das disciplinas de Física III e Biologia III, cujos componentes curriculares, de

Biologia, versavam sobre a origem da vida e evolução, sendo estes assuntos pertinentes para a

inserção do tema integrador proposto.

Na Tabela 5.1, é apresentado o número de alunos participantes da pesquisa referente

às duas turmas. O quantitativo de alunos é diferenciado em cada instrumento avaliativo

devido à participação na intervenção. Por exemplo, alguns participaram do questionário pré,

mas não participaram do questionário pós, da mesma forma os alunos contabilizados na

análise dos mapas foram aqueles que participaram de toda a intervenção, isto é, Q1, Q2, MCI

e MCII.

55

Tabela 5.1– A quantidade de alunos participantes nas duas turmas. Participantes da pesquisa TA TB

Q1 e Q2 22 alunos 24 alunos

MCI e MCII 17 alunos 16 alunos

N° total 24 alunos 34 alunos

N° total de alunos 58 alunos

Nota: TA = Turma A; TB = Turma B; Q1 = Questionário prévio; Questionário posterior; MCI = Mapa

Conceitual I; Mapa Conceitual II.

5.1.2 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos de diagnóstico e desenvolvimento da aprendizagem foram:

a) Questionário prévio (Apêndice B) contendo perguntas abertas e semiabertas, a

fim de verificar as concepções prévias dos alunos a respeito do campo da

Astrobiologia. O tempo transcorrido entre Q1 e Q2 foram três meses.

b) Notas de campo ferramenta de coleta utilizada, relato escrito pelo pesquisador

investigador de acordo com sua experiência e observação no percurso do

desenvolvimento da pesquisa, denominada por Bogdan e Biklen (1982) como

notas de campo.

c) Mapas conceituais ferramentas gráficas que expressam a hierarquia de ideias,

proposições, procurando refletir a organização conceitual de determinado assunto

(MOREIRA e MASINI, 2016). É uma ferramenta que auxilia na visualização de

evidências de aprendizagem significativa.

d) Desafio cientista em ação uma atividade em forma de situação problema para que

os alunos externalizassem a captação de significados de modo a demonstrar a

aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos em outra situação não explorada

anteriormente.

e) Questionário posterior (Apêndice C) contendo perguntas abertas e semiabertas

para mensurar se houve a mudança ou construção de conhecimentos que possam

oferecer vestígios de aprendizagem significativa.

f) Registros fotográficos do projeto desenvolvido pelos alunos para a

comunidade externa

56

5.1.3 Organizador Prévio para o conceito de evolução: Astrobio GO

Como mencionado no capítulo anterior, os organizadores prévios são materiais que

visam realizar uma “ponte” entre o que o aprendiz já sabe, e o que se pretende ensinar. Nesse

sentido:

Destaque-se, no entanto, que organizadores prévios não são simples comparações

introdutórias, pois, diferentemente destas, organizadores, devem: 1 - identificar o

conteúdo relevante na estrutura cognitiva e explicar a relevância desse conteúdo para

a aprendizagem do novo material; 2 - dar uma visão geral do material em um nível

mais alto de abstração, salientando as relações importantes; 3 - prover elementos

organizacionais inclusivos que levem em consideração, mais eficientemente, e

ponham em melhor destaque o conteúdo específico do novo material, ou seja, prover

um contexto ideacional que possa ser usado para assimilar significativamente novos

conhecimentos (MOREIRA, 2008, p. 24).

Em conformidade com essa lógica, foi construído um organizador prévio para o

conceito evolução, que é um dos conceitos estruturantes do tema Astrobiologia. A palavra

evolução é muito utilizada no vocabulário popular, no entanto, para a elaboração do

organizador prévio buscou-se trazer essa mesma palavra para outro contexto, a fim de

elucidar o conceito evolução pela perspectiva biológica. O contexto explorado foi um jogo de

alta popularidade entre o público jovem no ano de 2016, o aplicativo Pokémon GO®.

Tanto no desenho Pokémon®, quanto no aplicativo Pokémon GO®, a palavra

evolução é usada quando um Pokémon transita de uma forma menos poderosa para uma

forma mais poderosa. No entanto, o conceito evolução na biologia é definido pelo autor Mayr

como “um processo gradual e lento, por meio do qual o mundo orgânico vai se desenvolvendo

desde a origem da vida” (2009, p. 326). E por essa razão, foi realizada uma desconstrução a

respeito do uso indevido da palavra do ponto de vista biológico, uma vez que a ideia de

evolução, que esse desenho transmite, está de acordo com uma transformação individual,

rápida e direcionada (CARLETTI; MASSARANI, 2011). No Apêndice A é exposto em

detalhes a atividade desenvolvida.

Além da proposta de distinção do conceito evolução, foi realizado um quiz

denominado Astrobio GO, fazendo alusão ao jogo com o uso de pokébolas e teams. O jogo

era constituído de afirmações do campo da Astrobiologia (Apêndice D), de forma abrangente,

em que cada grupo (team) deveria responder se a sentença era verdadeira ou falsa. A Figura

5.1 ilustra o momento do jogo.

57

Figura 5.1: (A) um grupo participante no jogo intitulado team; (B) pokébola; (C) pokébola aberta com as

sentenças.

5.1.4 Instrumentos de análise de dados

Serão expostos os instrumentos que conduziram a análise dos dados obtidos no

decorrer da pesquisa. Tendo o entendimento que “para saber se houve aprendizagem é preciso

avaliá-la. A avaliação da aprendizagem pode, em princípio, prover evidências não só sobre o

que foi aprendido, mas também sobre até que ponto o ensino foi responsável por isso”

(MOREIRA, 2003, p. 5).

5.1.4.1 Critério de análise dos questionários e do desafio cientista em ação

Os dados descritivos foram analisados de acordo com a metodologia da Análise

Textual Discursiva - ATD (MORAES e GALIAZZI, 2007). A ATD propõe-se a "descrever e

interpretar alguns dos sentidos que a leitura de um conjunto de textos pode suscitar"

(MORAES e GALIAZZI, 2007, p. 14). Portanto, ressalta-se o caráter qualitativo da pesquisa

a fim de apurar os dados de forma mais acurada. A ATD pode ser feita a partir de textos já

existentes ou de textos produzidos especificamente para a pesquisa que está sendo realizada,

esses textos são chamados de corpus. O corpus deste trabalho foram as respostas dos

discentes relativas às questões abertas dos questionários pré e pós, e as respostas referentes ao

desafio cientista em ação. A ATD é dividida três etapas metodológicas (Quadro 5.1) que são:

a unitarização, categorização e a produção de metatexto.

A B C

58

Quadro 5.1– Estrutura metodológica da ATD.

1° ETAPA

Desmontagem dos

textos

ou

unitarização

Esta primeira etapa implica examinar os textos em seus detalhes,

fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes, enunciados

referentes aos fenômenos estudados. É o próprio pesquisador quem decide em

que medida fragmentará seus textos. Dessa desconstrução dos textos surgem as

unidades de análise, também chamadas de unidades de significado ou sentido.

Essas unidades podem ser empíricas, coletadas para a pesquisa, e teóricas,

provenientes dos autores utilizados para embasar o tema pesquisado. Cada

unidade de análise deve receber título, que represente a ideia principal da

unidade e código, a fim de identificar seu texto de origem, bem como sua

localização dentro desse texto.

2° ETAPA

Estabelecimento de

relações

ou

categorização

Consiste na construção de relações entre as unidades de análise, tanto as

empíricas, quanto as teóricas. Faz-se isso num processo recursivo de leitura e

comparação entre as mesmas, resultando em conjuntos que apresentam

elementos semelhantes, daí surgem às categorias. Pode-se afirmar que a

categorização é um processo de criação, ordenamento, organização e síntese.

Constitui, ao mesmo tempo, processo de construção de compreensão de

fenômenos investigados, aliada à comunicação dessa compreensão por meio de

uma estrutura de categorias.

3° ETAPA

Comunicação

ou

produção de

metatextos

Nessa etapa, percebe-se uma nova compreensão do todo, possibilitada pelo

intenso envolvimento nas etapas anteriores. O objetivo é elaborar um texto

descritivo e interpretativo, o qual denomina-se metatexto, a partir das

categorias. Saber empregar as categorias construídas na análise para organizar

a produção escrita é uma forma de atingir descrições e interpretações válidas

dos fenômenos investigados. Ainda que a qualidade dos textos resultantes das

análises não depende apenas de sua validade e confiabilidade, mas é, também,

consequência do fato de o pesquisador assumir-se autor de seus argumentos.

Fonte: (MORAES e GALIAZZI 2007).

5.1.4.2 Critério de análise dos mapas conceituais

Os mapas conceituais apresentam componentes idiossincráticos, isto é, não existe um

único mapa correto sobre um assunto, mas sim as peculiares relações conceituais a que cada

sujeito atribui significado em determinado momento.

Entretanto, os mapas conceituais possuem algumas diretrizes, que são a organização

hierárquica de conceitos, e as palavras de ligação entre um conceito e outro para elucidar uma

proposição. Outras questões relevantes em um mapa são a utilização de setas para orientar a

direção da leitura e a possibilidade de relações cruzadas entre conceitos provenientes de

diferentes linhas de raciocínio.

59

A análise e avaliação dos mapas conceituais, à luz da aprendizagem significativa,

foram realizadas por meio dos critérios estabelecidos por Mendonça (2012). Esses critérios

visam qualificar os mapas quanto a sua estrutura hierárquica, diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa (Quadro 5.2). Desse modo, contribui para visualização da

apropriação do recurso mapa conceitual, bem como do percurso de aprendizagem dos sujeitos

da pesquisa.

Quadro 5.2 - Critérios de análise quanto à da hierarquia, diferenciação progressiva e reconciliação integrativa.

Categorias Características Informações relevantes

Alta (A)

Possui conceitos

relevantes para

compreensão do tema.

Contém informações conceituais

relevantes; está bem hierarquizado,

com o conceito inclusor no topo, em

seguida os intermediários e

posteriormente os mais específicos e

os exemplos.

Palavras de ligação adequadas; com

ligações cruzadas; ausência de

repetição de conceitos e

informações supérfluas; proposições

corretas, presença ou não de

exemplos.

Média (M)

Indica pouca

compreensão do tema.

Apresenta alguns conceitos centrais

do tema, mas com uma hierarquia

apreciável.

As palavras de ligação e os

conceitos não estão claros. Pode

realizar ligações cruzadas ou não.

Muitas informações detalhistas e a

repetição de conceitos.

Baixa (B)

Indica ausência de

compreensão do tema.

Apresenta um ou dois conceitos

centrais do tema; muito pobre em

conceitos sobre o conteúdo

trabalhado.

Possui hierarquia básica,

demonstrando ou não sequências

lineares e conhecimentos muito

simples. Faltam relações cruzadas,

com palavras de ligação; são muito

simples.

Nula (N)

Indica completa

ausência de

compreensão do tema.

Não apresenta os conceitos centrais

do tema; muito pobre em conceitos

sobre o conteúdo trabalhado.

Não há uma hierarquia básica,

demonstra sequências lineares e

conhecimentos simples.

Fonte:(MENDONÇA, 2012, p. 100)

Quanto aos critérios relacionados à estrutura do mapa, a autora criou categorias que

analisam a qualidade do mapa, identificando se houve ou não a compreensão do tema

proposto. Para essa análise há requisitos que os mapas devem atender para serem

caracterizados como um mapa bom, regular ou deficiente. Em detalhes no Quadro 5.3.

60

Quadro 5.3 - Critérios de análise quanto qualidade do mapa.

Categorias Características Informações relevantes

MC Bom (MB)

Indica maior

compreensão do tema.

Contém informações conceituais

relevantes, está bem hierarquizado,

com o conceito inclusor no topo, em

seguida os intermediários e

posteriormente os mais específicos.

Palavras de ligação adequadas; com

ligações cruzadas; ausência de

repetição de conceitos e

informações supérfluas; proposições

corretas.

MC Regular (MR) Indica pouca

compreensão do tema.

Apresenta alguns conceitos centrais

do tema, mas com uma hierarquia

apreciável.

As palavras de ligação e os

conceitos não estão claros. Pode

realizar ligações cruzadas ou não.

Muitas informações detalhistas e a

repetição de conceitos.

MC Deficiente (MD)

Indica ausência de

compreensão do tema.

Não apresenta os conceitos centrais

do tema, muito pobre em conceitos

sobre o conteúdo trabalhado.

Hierarquia básica, demonstrando

sequências lineares e

conhecimentos muito simples.

Faltam relações cruzadas, com

palavras de ligação; são muito

simples.

Nota: MC = Mapa Conceitual. Fonte: (MENDONÇA, 2012, p. 100)

Além das categorias de análise qualitativa, também foi efetuada uma análise

quantitativa, proposta por Mendonça (2012), a fim de fazer uma comparação entre o

desempenho ocorrido no primeiro e no segundo momento de construção do mapa. Tal análise

considera: número total de conceitos; número de conceitos válidos; número total de

proposições; número de proposições válidas; número de relações cruzadas; e número de

exemplos.

Os mapas conceituais foram introduzidos, nas turmas participantes, por intermédio do

artigo mapas conceituais e aprendizagem significativa (MOREIRA, 1998). Além da leitura

do artigo, foram realizadas exemplificações de mapas, construídos de forma coletiva, com um

assunto do cotidiano: futebol (Apêndice A).

Os alunos elaboraram ao todo quatro mapas conceituais: dois de forma individual e

dois de forma coletiva. Contudo, foram analisados somente os mapas conceituais individuais,

uma vez que os mapas coletivos não ofereciam evidências que pudessem caracterizar a troca

de significado entre os participantes. Para a elaboração e avaliação das UEPS foi utilizado

61

um mapa conceitual de referência (Figura 5.2). A própria pesquisadora construiu o mapa para

estabelecer um parâmetro do que seria trabalhado e consequentemente avaliado dos alunos.

62

Fig

ura

5.2

: M

apa

con

ceit

ual

de

refe

rên

cia

par

a el

abo

raçã

o d

as U

EP

S e

par

a av

alia

ção

do

s m

apas

co

nce

itu

ais

con

stru

ído

s p

elo

s al

un

os.

63

5.1.5 Organização das UEPS

Além dos princípios que norteiam as UEPS existem os aspectos sequenciais apontados

por Moreira (2011c, p. 3-5) que fornecem um direcionamento metodológico das unidades de

ensino em oito passos:

1. definir o tópico específico a ser abordado, identificando seus aspectos declarativos e

procedimentais tais como aceitos no contexto da matéria de ensino na qual se insere esse

tópico;

2. criar/propor situação(ções) – discussão, questionário, mapa conceitual, mapa mental,

situação-problema, etc. – que leve(m) o aluno a externalizar seu conhecimento prévio, aceito

ou não-aceito no contexto da matéria de ensino, supostamente relevante para a aprendizagem

significativa do tópico (objetivo) em pauta;

3. propor situações-problema, em nível bem introdutório, levando em conta o conhecimento

prévio do aluno, que preparem o terreno para a introdução do conhecimento (declarativo ou

procedimental) que se pretende ensinar; estas situações-problema podem envolver, desde já, o

tópico em pauta, mas não para começar a ensiná- lo; tais situações-problema podem funcionar

como organizador prévio; são as situações que dão sentido aos novos conhecimentos, mas,

para isso, o aluno deve percebê-las como problemas e deve ser capaz de modelá-las

mentalmente; modelos mentais são funcionais para o aprendiz e resultam da percepção e de

conhecimentos prévios (invariantes operatórios); estas situações-problema iniciais podem ser

propostas através de simulações computacionais, demonstrações, vídeos, problemas do

cotidiano, representações veiculadas pela mídia, problemas clássicos da matéria de ensino,

etc., mas sempre de modo acessível e problemático, não como exercício de aplicação rotineira

de algum algoritmo;

4. uma vez trabalhadas as situações iniciais, apresentar o conhecimento a ser

ensinado/aprendido, levando em conta a diferenciação progressiva, começando com aspectos

mais gerais, inclusivos, dando uma visão inicial do todo, do que é mais importante na unidade

de ensino, mas logo exemplificando, abordando aspectos específicos; a estratégia de ensino

pode ser, por exemplo, uma breve exposição oral seguida de atividade colaborativa em

pequenos grupos que, por sua vez, deve ser seguida de atividade de apresentação ou discussão

em grande grupo;

64

5. em continuidade, retomar os aspectos mais gerais, estruturantes (aquilo que efetivamente se

pretende ensinar), do conteúdo da unidade de ensino, em nova apresentação (que pode ser

através de outra breve exposição oral, de um recurso computacional, de um texto, etc.), porém

em nível mais alto de complexidade em relação à primeira apresentação; as situações-

problema devem ser propostas em níveis crescentes de complexidade; dar novos exemplos,

destacar semelhanças e diferenças relativamente às situações e exemplos já trabalhados, ou

seja, promover a reconciliação integradora; após esta segunda apresentação, propor alguma

outra atividade colaborativa que leve os alunos a interagir socialmente, negociando

significados, tendo o professor como mediador; esta atividade pode ser a resolução de

problemas, a construção de uma mapa conceitual ou um diagrama V, um experimento de

laboratório, um pequeno projeto, etc., mas deve, necessariamente, envolver negociação de

significados e mediação docente;

6. concluindo a unidade, dar seguimento ao processo de diferenciação progressiva retomando

as características mais relevantes do conteúdo em questão, porém de uma perspectiva

integradora, ou seja, buscando a reconciliação integrativa; isso deve ser feito através de nova

apresentação dos significados que pode ser, outra vez, uma breve exposição oral, a leitura de

um texto, o uso de um recurso computacional, um áudiovisual, etc.; o importante não é a

estratégia, em si, mas o modo de trabalhar o conteúdo da unidade; após esta terceira

apresentação, novas situações-problema devem ser propostas e trabalhadas em níveis mais

altos de complexidade em relação às situações anteriores; essas situações devem ser

resolvidas em atividades colaborativas e depois apresentadas e/ou discutidas em grande

grupo, sempre com a mediação do docente;

7. a avaliação da aprendizagem através da UEPS deve ser feita ao longo de sua

implementação, registrando tudo que possa ser considerado evidência de aprendizagem

significativa do conteúdo trabalhado; além disso, deve haver uma avaliação somativa

individual após o sexto passo, na qual deverão ser propostas questões/situações que

impliquem compreensão, que evidenciem captação de significados e, idealmente, alguma

capacidade de transferência; tais questões/situações deverão ser previamente validadas por

professores experientes na matéria de ensino; a avaliação do desempenho do aluno na UEPS

deverá estar baseada, em pé de igualdade, tanto na avaliação formativa (situações, tarefas

resolvidas colaborativamente, registros do professor) como na avaliação somativa;

65

8. a UEPS somente será considerada exitosa se a avaliação do desempenho dos alunos

fornecer evidências de aprendizagem significativa (captação de significados, compreensão,

capacidade de explicar, de aplicar o conhecimento para resolver situações-problema). A

aprendizagem significativa é progressiva, o domínio de um campo conceitual é progressivo;

por isso, a ênfase em evidências, não em comportamentos finais.

5.1.5.1 Unidades de Ensino Potencialmente Significativa sobre Astrobiologia

Em conformidade com os requisitos metodológicos mencionados foram realizadas as

etapas das UEPS da pesquisa como descreve o Quadro 5.4:

Quadro 5.4 – As etapas de planejamento, elaboração e aplicação das UEPS.

Etapas

UEPS

Tempo

Estimado

Descrição

2 horas

Tópico específico: Astrobiologia

Aspectos declarativos: teoria do Big Bang, nucleossíntese

primordial, fusão nuclear, formação dos elementos químicos mais

pesados, evolução estelar, teoria nebular, zonação mineralógica,

hipótese do grande impacto, biogênese, biogênese, origem química da

vida, panspermia, extremófilos, albedo, efeito estufa, zona habitável,

satélites naturais de Saturno e Júpiter, exoplanetas, bioassinatura,

missão garatéa-L, pseudociência, ciência.

Aspectos Procedimentais: relacionar diferentes disciplinas, construir

mapas conceituais.

30 min.

Questionário prévio para levantamento dos conhecimentos prévios

dos alunos a respeito do tema.

6 horas

Análise do questionário prévio e elaboração das aulas.

20 min.

Exposição sobre como elaborar um mapa conceitual.

66

30 min.

Construção do primeiro mapa conceitual individual- MCI

40 min.

Organizador prévio- Astrobio GO.

15 min.

Apresentação do vídeo “o pálido ponto azul” do Carl Sagan.

4 min.

Vídeo de contextualização - Rockstar e a origem do metal: uma

história sobre os átomos e as estrelas.

55 min.

Aula dialogada sobre o que é o campo Astrobiologia, teoria do Big

Bang, nucleossíntese primordial, fusão nuclear, formação dos

elementos químicos mais pesados, evolução estelar.

30 min.

Construção do primeiro mapa conceitual em grupo- MC-GI

55 min.

Aula dialogada sobre teoria nebular, zonação mineralógica, hipótese

do grande impacto, biogênese, abiogênese, origem química da vida,

panspermia, extremófilos, albedo, efeito estufa, zona habitável.

30 min.

Segundo mapa conceitual em grupo – MC-GII.

55 min.

Aula dialogada sobre satélites naturais de Saturno e Júpiter,

exoplanetas, bioassinatura, missão garatéa-L, pseudociência, ciência.

50 min.

Debate em grupo sobre ciência x pseudociência.

40 min

Aula dialogada articulando os conceitos vistos sob uma perspectiva

integradora do tema.

30 min.

Construção do segundo mapa conceitual individual – MCII.

30 min.

Realização do desafio cientista em ação (situação-problema).

67

30 min.

Aplicação do questionário pós.

Fonte: (GOMES, 2018).

A descrição completa das etapas das UEPS pode ser consultada no Apêndice A.

68

CAPÍTULO VI- RESULTADOS

Neste capítulo serão descritos os resultados obtidos por meio do questionário prévio,

comparação entre questionário pré e pós (Q1 e Q2), análise dos mapas conceituais de forma

geral, comparação entre o primeiro e segundo mapa conceitual (MCI e MCII), análise de

quatro mapas conceituais com enfoque na trajetória avaliativa específica de alguns alunos,

análise do desafio proposto e, por fim, os desdobramentos da pesquisa. Todas essas análises

têm por finalidade verificar o potencial das UEPS e de uma possível condução ou não à uma

aprendizagem significativa.

Para melhor compreensão das análises foi criada a Tabela 6.1 relacionando as turmas,

mapas conceituais e questionários pelos seus respectivos códigos utilizados ao longo do texto.

Tabela 6.1: Símbolos representativos.

Turma Símbolo

Controle Ambiental 131 (2016.2) TA

Controle Ambiental 131 (2017.1) TB

Mapas conceituais Símbolo

Mapa conceitual inicial MCI

Mapa conceitual final MCII

Questionários Símbolo

Questionário prévio Q1

Questionário posterior Q2

6.1 LEVANTAMENTO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS ESTUDANTES4

O questionário prévio teve por objetivo a coleta das concepções prévias que os alunos

possuíam a respeito do tema. O questionário também foi utilizado para averiguar outras

questões como: qual disciplina o aluno possui mais afinidade? O que o aluno acha mais

atrativo em sala de aula? Existe relacionabilidade entre as disciplinas que ele estuda? Todas

essas questões foram pensadas para uma melhor elaboração das UEPS, uma vez que Ausubel

(1980) considera que o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo

que o aluno já sabe, descubra e ensine-o de acordo. A partir disso, todos os resultados

nortearam ou colaboraram para a escolha das intervenções nas etapas seguintes da unidade de

ensino.

4 Um fragmento deste trabalho foi publicado na Revista Enseñanza de las ciencias, n.º extraordinário (2017):

4973-4979.

69

A análise prévia para elaboração das UEPS de forma geral foi construída tendo por

base cinco eixos de análise: 1) perfil de afinidade disciplinar; 2) o que os sujeitos da pesquisa

desejam nas aulas?; 3) relacionabilidade entre as disciplinas e entre as disciplinas e o

cotidiano; 4) conhecimento sobre Astrobiologia; 5) diferença entre ciência e pseudociência.

Os eixos e as respectivas perguntas são apresentados no Quadro 6.1.

Quadro 6.1- Eixos de análise dos conhecimentos prévios dos participantes.

Eixos Perguntas

1° Perfil de afinidade disciplinar P1

2° O que os sujeitos da pesquisa desejam nas aulas? P13 e P14

3° Relacionabilidade entre as disciplinas e entre as

disciplinas e o cotidiano

P4, P5

4° Conhecimento sobre Astrobiologia P2, P3, P6, P7 e P8

5° Diferença entre ciência e pseudociência P9 e P12

Nota: P1, P2, P3 e etc. são os números das perguntas contidas no questionário prévio (Apêndice B).

6.1.1 O perfil de afinidade disciplinar

Esta seção se encarregará de expor os resultados que tangem ao perfil disciplinar que

os sujeitos da pesquisa apresentam. A este respeito, os alunos foram questionados sobre qual

disciplina, ou disciplinas, possuem maior afinidade. A resposta que teve maior porcentagem,

tanto na TA quanto na TB, foi a disciplina de Biologia com 40% e 30%, seguida da disciplina

de Filosofia 15% e Química 12% na TA, e na TB seguida de Matemática 22%, Química 11%

e História 11%. Como demonstrado no Gráfico 6.1.

70

Gráfico 6.1: Afinidade disciplinar dos alunos.

Pode-se sugerir que esses dados contribuem fornecendo condições para que ocorra

uma aprendizagem significativa, em que é considerado: o material de aprendizagem e a

predisposição para aprender (MOREIRA, 2011a). Este último se relaciona com a afinidade

que o sujeito apresenta. Logo, as disciplinas mais escolhidas acabam por favorecer o tema

integrador da proposta, a Astrobiologia, por ser um tema que perpassa mais nitidamente as

disciplinas de Biologia e Química.

No momento em que foi perguntado o porquê da afinidade dos estudantes em relação

às disciplinas, as justificativas se dividiram em: facilidade com a disciplina; ser mais

interessante em comparação com outras; fazem questionar e raciocinar; e o conteúdo

abordado.

6.1.2 O que os sujeitos da pesquisa desejam nas aulas?

Nessa perspectiva, foi perguntado aos alunos sobre quais os recursos didáticos que

eles mais gostam em sala de aula. Tanto na TA, com 32%, quanto TB, com 28%, os

experimentos laboratoriais obtiveram uma frequência expressiva, seguidos por vídeos e

quadro e caneta com 20% na TA, e na TB, vídeos com 25% e quadro e caneta com 20%.

Conforme ilustra o Gráfico 6.2.

TB TA

71

Gráfico 6.2: Recursos didáticos que os alunos gostam.

Os três recursos mais votados nas duas turmas foram os experimentos, vídeos e quadro

e caneta, e os de menor interesse foram livro didático, roda de conversa e textos. As respostas

se refletiram na escolha ponderada de alguns dos recursos didáticos para o desenvolvimento

das UEPS.

Quando perguntado sobre o que torna uma aula atrativa, os alunos responderam que:

“algumas aulas são tão bem ministradas que, mesmo o assunto sendo tedioso, a aula é muito

proveitosa e passa rápido TA12”; “quando o professor interage com os alunos de forma

divertida TB9; “a matéria ser abordada de maneira interessante, relacionando com a vida.”

TB 24”. Para melhor visualização das respostas foram criadas categorias mostrando a

frequência de falas e seus exemplos. Conforme explicitadas no Quadro 6.2.

TB TA

72

Quadro 6.2 – O que torna a aula mais atrativa?5

CATEGORIA

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

A

bo

rda

gem

/

Did

áti

ca

Uma aula didática, que

apresente o conteúdo de

forma mais fácil para a sua

compreensão.

TA: 12

“Algumas aulas são tão bem ministradas

mesmo o assunto sendo tedioso, a aula é

muito proveitosa e passa rápido.” TA 126

“Uma aula que eu consigo aprender com

facilidade (e que não cause sono), e que

seja divertida ao mesmo tempo.” TB 4

TB: 9

Total: 21

Pro

fess

ore

s

Evidenciam a importância

da relação professor aluno

descrevendo a figura de

professores bem motivados

e menos formais que

possuam afinidade com a

turma deixando-os mais a

vontade.

TA: 9

“Professores menos sérios e formais para

explicar.” TA 18

“Quando o professor interage com os

alunos de forma divertida.” TB 9

TB: 10

Total: 19

Est

raté

gia

s/

Rec

urs

os

did

áti

ca

(o)s

Recurso e/ou estratégias

didáticas que facilitem o

entendimento do conteúdo.

TA: 4

“A apresentação de vídeos, curiosidade,

artigos científicos atuais e etc.” TA 19

”Uma aula com a utilização de meios

tecnológicos, bastante interação entre os

alunos.” TB 2

TB: 11

Total: 15

Rel

açã

o

com

o

coti

dia

no

Relacionabilidade entre os

conteúdos escolares e o dia-

a-dia.

TA: 5

“Mostrar na prática o que aprendemos na

teoria.” TA 22

“A matéria ser abordada de maneira

interessante, relacionando com a vida.” TB

24

TB: 4

Total: 9

C

on

teú

do

Um conteúdo que desperte

interesse

TA: 1

“Um conteúdo interessante e divertido para

debate sobre.” TA 3

“O assunto abordado.” TB 13

TB: 3

Total: 4

5 Uma mesma fala pode enquadrar-se em mais de uma categoria.

6 Após o código TA e TB é utilizado a numeração corresponde a um aluno participante em específico.

73

6.1.2.1 Metatexto: o que precisa ter em uma aula para ser considerada atrativa?

Os resultados demonstram que o que torna uma aula mais atrativa para os alunos é

aquela aula dotada de uma abordagem didática diferenciada, que introduza o assunto a ser

estudado de forma fácil, como relatado pelo aluno TB 4: “uma aula que eu consigo aprender

com facilidade (e que não cause sono), e que seja divertida ao mesmo tempo”. Os alunos se

interessam por aulas com professores menos “sérios”, que possam conduzir a aula de forma

dinâmica e dialogada, como afirma TA 18: “professores menos sérios e formais para

explicar”. Mas, claro, que esse professor também não abra mão de estratégias que auxiliem

no entendimento do conteúdo exposto e relacionando-o com o cotidiano como retratado pelo

aluno TA 19: “a apresentação de vídeos, curiosidade, artigos científicos atuais e etc”.

Interessante notar que a categoria conteúdo foi a de menor frequência, ou seja, os alunos dão

maior relevância às relações estabelecidas entre professor-aluno que o conteúdo em

específico. Corroborando com a releitura de Moreira (2003, p. 4) sobre Novak, “a integração

construtiva de pensamentos, sentimentos e ações leva à aprendizagem significativa”,

pontuando dessa maneira a importância dos sentimentos no contexto escolar.

6.1.3 Relacionabilidade entre as disciplinas e entre as disciplinas e o cotidiano

Outro questionamento posto foi se os alunos acham que as disciplinas que eles cursam

podem se relacionar entre si, e que pudesse dar exemplos a esse respeito. Conforme ilustra o

Gráfico 6.3.

74

Gráfico 6.3: Sobre as relações entre as disciplinas.

As disciplinas que os alunos mais relacionaram foram: Física e Química (25% TA e

21% TB), Biologia e Química (11% TA e 28% TB) e Biologia e Física (14% TB). Ou seja, de

modo geral os alunos visualizam relacionabilidade entre as disciplinas que constituem as

ciências naturais. No entanto, tais relações também podem ter sofrido influência pelo nome de

disciplinas do próprio curso como, por exemplo, bioquímica, Físico-química e Biofísica.

Na pergunta que se referiu sobre que relação determinadas disciplinas fazem com

assuntos demonstrados na mídia a respeito de fatos científicos recentes, os alunos afirmam

que ocorre com pouca frequência (TA 68%; TB 77%), somente quando solicitado (TA 16%;

TB 9%), muita frequência (TA 12%; TB 5%), nenhuma ocasião (TB 9%) e não responderam

(TA 4%). Conforme o Gráfico 6.4.

TB TA

75

Gráfico 6.4: Relação entre disciplinas e fatos científicos recentes.

A pouca frequência na interseção entre disciplina e fatos científicos recentes é

evidente nas duas turmas, porém a existência dessa relação é essencial para valorizar os

subsunçores que os alunos trazem do seu cotidiano extraescolar para agregar significado ao

que se aprende. Ressalta-se aqui que o subsunçor é mais que um conhecimento prévio, é um

conhecimento com significado na estrutura cognitiva do aprendiz, e por isso é essencial para

que ocorra a AS. Assim, o papel da escola é mais que fundamental nessa aprendizagem, uma

vez que a escola é, para nossos alunos, a principal fonte de conhecimento científico, ou seja,

essa interseção será responsável para que os aprendizes consigam realizar sua particular

leitura de mundo.

6.1.4 Conhecimento sobre Astrobiologia

Para começar a entrar no tema da pesquisa, introduziu-se a pergunta (P3): você já

ouviu falar sobre Astrobiologia? Tanto TA (76%) como TB (87%) obtiveram uma

porcentagem expressiva afirmando que não, contra TA (24%) e TB (13%) que afirmaram que,

sim, já haviam escutado algo a respeito da temática.

TB TA

76

Na questão que discorria sobre quais as disciplinas que falam sobre a origem, a

evolução e manutenção da vida (definição da Astrobiologia), no Gráfico 6.5, os discentes

consideraram a disciplina Biologia TA (34%), TB (37%); Química TA (17%), TB (20%) e

Física TA (16%), TB (13%).

Gráfico 6.5: Disciplinas que versão sobre origem,

evolução e manutenção da vida.

As maiores porcentagens atribuídas às disciplinas de Biologia, Química e Física,

denotam que em alguma medida os alunos possuem um olhar mais abrangente sobre o tema.

Ainda sobre o tema Astrobiologia, foi perguntado sobre a possibilidade da existência

de vida fora da Terra (Gráfico 6.6), TA 77%, TB 83% dos participantes da pesquisa se

manifestaram em concordância com essa possibilidade, enquanto, TA 23%, TB 17%

discordam sobre a possibilidade de vida em outros planetas.

TB TA

77

Gráfico 6.6: É possível vida fora da Terra, por exemplo, em outro planeta?

Nesta mesma questão (P6), os alunos que discordaram sobre a possibilidade de vida

em outros planetas, totalizando 23% correspondente a 5 alunos (TA), justificaram essa

impossibilidade: devido às condições (duas pessoas) e por não estar descrito na bíblia (uma

pessoa). Dois participantes não justificaram sua resposta. Dos 17% correspondente a 4 alunos

(TB) que discordaram sobre a possibilidade da vida dois alegaram não existir condições para

sustentar a vida e dois afirmam que ainda não foi comprovado, logo é inexistente.

Aqueles que afirmaram existir vida fora Terra, TA (77%) e TB (83%), justificaram

suas respostas: pela diversidade de planetas, existência dos requisitos necessários para o

surgimento da vida em outros lugares, pesquisa científica em andamento que tentam

comprovar vestígios de vida, a possibilidade de formação de nova espécie/adaptação em

outros lugares, possibilidade de já existir vida fora da Terra e, por fim, a vida fora da Terra já

ter existido e sido extinta. Todas as respostas foram organizadas em categorias no Quadro 6.3.

TB TA

78

Quadro 6.3 - Justificativas a favor da existência de vida fora da Terra.

CATEGORIA

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

Div

ersi

da

de

de

Pla

net

as

Pode existir vida pela

diversidade de galáxias, e

planetas diferentes.

TA: 7

“Nós seres humanos nos achamos

‘únicos’, mas com tantas galáxias e

sistemas planetários diferentes.” TA3

“Pois dada a amplitude do universo, a

chance de não haver outro planeta com

vida é ínfimo.” TB 3

TB: 11

Total: 18

Req

uis

itos

para

exis

tên

cia d

a

vid

a

Assim como existe a Terra

podem existir condições

favoráveis para outros

planetas.

TA: 2

“Onde tiver água é possível ter vida.”

TA 6

“É possível haver as mesmas

circunstâncias que geraram vida na

Terra em outros lugares.” TB 19

TB: 5

Total: 7

Pes

qu

isa e

m a

nd

am

ento

Existem pesquisas em

andamento que trazem

vestígios e fatos novos que

podem ser considerados

como possibilidade de vida

fora da Terra.

TA: 0

“Porque o universo foi pouco

explorado.” TB 15

“Há um estudo dirigido a esse caso que

foram encontrados novos vestígios

recentemente em que há algumas

condições favoráveis para que haja vida

em outros planetas.”TB 23

TB: 6

Total: 6

Fo

rmaçã

o d

e n

ov

a

esp

écie

/ a

da

pta

ção

Pode existir vida com seres

adaptados a outras

condições e por formação

de novas espécies.

TA: 3

“Pois da mesma forma que conseguimos

nos adaptar as condições naturais deste

planeta, outros seres podem se adaptar a

outras condições.” TA 16

Seres que se adaptam as condições de

determinado planeta, novas espécies”.

TB 14

TB: 1

Total: 4

79

ex

iste

vid

a

Afirma já existir vida

primitiva fora da Terra.

TA: 1

“Pois existem bactérias, protozoários em

outros planetas, devido a sua grande

capacidade de se adaptar a um

ambiente.” TA 2

Fic

ção

Cie

ntí

fica

Esta categoria se distancia

do conhecimento do campo

científico e se aproxima da

ficção científica.

TA: 1

“Para mim houve vida fora da Terra,

mas os seres de lá, conseguiram acabar

com o planeta.” TA15

6.1.4.1 Metatexto: sim, existe vida fora da Terra

A categoria que mais se destacou foi à diversidade de planetas, na qual os

participantes sugerem que pode, sim, existir vida em outros lugares além da Terra em virtude

do grande número de galáxias e planetas no universo. Como expõe o aluno TA3: “nós seres

humanos nos achamos ‘únicos’, mas com tantas galáxias e sistemas planetários diferentes”.

Sendo assim, a Terra não seria o único lugar a abrigar vida. Essa categoria está próxima das

declarações ditas otimistas como a apresentada por Carl Sagan, que chegou “a calcular 1

milhão o número de civilizações na galáxia” (GALANTE et al, 2016, p. 304).

A categoria requisitos para existir vida também tem por base o mesmo raciocínio da

categoria anteriormente citada, de que não seria a Terra o único lugar a possuir condições

favoráveis para abrigar a vida. Como relatado por TB 19: “é possível haver as mesmas

circunstâncias que geraram vida na Terra em outros lugares”. Essa visão corresponde ao

princípio básico do “evolucionismo, que assume que a vida é um fato natural, surgindo como

parte dos processos de transformação da matéria e dissipação de energia. Qualquer outro

planeta em condições físicas iguais à da Terra teria tido a mesma chance de gerar vida”

(DAMINELI e DAMINELI, 2007, p. 279).

A categoria formação de nova espécie/adaptação partiu do pressuposto de que já

existe vida extraterrestre, e que esta é adaptada às condições do planeta que habita, como

afirma TB 14: seres que se adaptam as condições de determinado planeta, novas espécies”,

externalizando critérios evolutivos para justificar a presença de vida fora da Terra.

Outros alunos acreditam que sim existe vida, porém há pouco tempo de estudo, logo a

confirmação da existência de vida está em progresso junto com a pesquisa na área, como

80

afirmou TB 15: “porque o universo foi pouco explorado.” Esse pensamento dialoga com os

autores Damineli e Damineli que destacam que: “uma teoria geral da vida não é esperada

para tão cedo, mas se há uma coisa clara é que o avanço tecnológico e científico sempre

superou as expectativas e chegou antes do que se esperava” (2007, p. 283).

Houve o aparecimento da categoria já existe vida por meio da fala de TA 2: “pois

existem bactérias, protozoários em outros planetas, devido a sua grande capacidade de se

adaptar a um ambiente”. Assumindo que já há vida em outros planetas de outros micro-

organismos, o que na verdade não foi comprovado pela comunidade científica até o presente

momento.

Há também o aparecimento na frequência de uma fala do aluno TA15 que: “para mim

houve vida fora da Terra, mas os seres de lá, conseguiram acabar com o planeta”. Essa

afirmação não condiz com o ponto de vista científico, seria uma extrapolação da realidade, e

por isso categorizado como ficção científica.

Outra questão levantada foi sobre se caso existisse vida fora da Terra, como ela seria?

As respostas conduziram a especulações das mais variadas formas, desde aqueles que não

faziam ideia do que poderia ser, até aqueles que afirmaram que poderia ser uma vida verde e

estranha, como a retratada nos filmes, conforme demonstrado no Quadro 6.4:

Quadro 6.4 - Se houvesse vida fora da Terra como ela seria?7

CATEGORIA

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

Ad

ap

tad

a a

ou

tras

con

diç

ões

A vida seria

adaptada às

condições que o

planeta possui.

TA: 9

“Seria diferente, porque aqui somos de um jeito por

causa da atmosfera.” TA 5

“Seria diferente do que é aqui. Porque os planetas

têm condições climáticas, físicas e geográficas

diferentes.” TB 1

TB: 8

Total: 17

7 Nota: Uma fala pode enquadrar-se em mais de uma categoria. Não responderam: 1 (TA).

81

Vid

a p

rim

itiv

a

Vida semelhante a

micro-organismos

pouco

desenvolvida.

TA: 6

“Provavelmente seriam bactérias” TA 20

“Bactérias.” TB 15

TB: 7

Total: 13

Sem

elh

an

te a

da

Ter

ra

Vida semelhante

a que se

desenvolveu na

Terra baseada em

carbono, podendo

ser humanoide.

TA: 3

“Poderia ser normal como a nossa vida.” TA 14

“Semelhante ao ser humano, quanto ao

funcionamento do organismo.” TB 23

TB: 4

Total: 7

Inim

agin

áv

el

Não imaginam

que forma essa

vida assumiria.

TA: 4

“Não imagino como seria” TA 21

“Não sei” TA 7

TB: 2

Total: 6

Vid

a i

nte

ligen

te

Vida racional.

TA: 1

“Poderia ser inteligente” TA 9

“Podem ser seres racionais”TB 2

TB: 2

Total: 3

Vid

a m

ais

avan

çad

a

Vida mais

avançada

tecnologicamen

te que a da

Terra.

TB: 3

“Creio que uma vida mais avançada e tecnológica.”

TB 13

“Com mais tecnologia.” TB 17

Fic

ção c

ien

tífi

ca

Vida semelhante

aquelas retratadas

em filmes de ficção

científica.

TA: 2

“Eu imagino como nos filmes, verdes e estranhos.”

TA 6 “Seria um pouco mais difícil pois não teria toda a

tecnologia que estamos acostumados viver e não

seria tão desenvolvido, as pessoas viveriam com o

básico.” TB 7

TB: 1

Total: 3

82

6.1.4.2 Metatexto: como seria a vida fora da Terra?

Das categorias que emergiram das falas dos estudantes, a mais expressiva foi a

categoria adaptada a outras condições, que novamente revela alguns conceitos ligados ao

conteúdo evolução como exposto por TB 1: “seria diferente do que é aqui. Porque os

planetas têm condições climáticas, físicas e geográficas diferentes”.

Outra categoria de grande escolha foi a vida primitiva, essa categoria corrobora com a

“ótica da moderna Astrobiologia que aceita a possibilidade de vida microscópica, unicelular,

mas considera improvável a existência de organismos multicelulares como animais”

(QUILLFELDT, 2010 p. 696).

A categoria seguinte já discorda, e afirma ser uma vida semelhante à da Terra.

Importante ressaltar que os alunos que compõem a categoria vida semelhante à da Terra estão

considerando-a na perspectiva antropocêntrica, ou seja, aquela que coloca como principal

espécie a espécie humana. Entretanto, vida semelhante à humana é pouco provável por

depender de várias condicionantes complexas (LEHTO, 2007).

As três categorias menos votadas – vida inteligente, vida mais avançada e ficção

científica – correspondem, até o momento, a uma perspectiva surrealista que pode estar

relacionado a ideias desenvolvidas pela mídia como em filmes do gênero da ficção científica.

Entretanto, em todas as categorias apresentadas pelos alunos percebe-se um corpo de

conhecimento comum a diversas disciplinas, colaborando dessa forma para a utilização do

tema Astrobiologia sob uma perspectiva interdisciplinar. As características inerentes da

temática podem subsidiar um posicionamento metodológico na perspectiva do docente

Gadotti (2004), e dessa forma podendo viabilizar como reflexo, parafraseando Fazenda (1979)

e Morin (2005), uma atitude ou modo de pensar dos discentes. Objetivando assim, a

aproximação de um ponto de vista mais sistêmico que explora as diversas alternativas e visões

que a construção do conhecimento exige (MORAES, 2005).

.

6.1.5 Diferença entre ciência e pseudociência

A Astrobiologia é um campo recente da ciência e por isso pouco conhecida. No

entanto, por estudar a origem da vida e considerar que esta possa ter vindo de outros lugares é,

muitas vezes, confundida por alguns como Ufologia. Nesse sentido, foram formuladas

83

questões que pudessem expor as concepções prévias dos alunos a respeito de áreas científicas

e pseudocientíficas.

Uma das questões presentes, perguntava se o aluno sabia o que é a Ufologia (P9). Dos

respondentes, em TA 76% e em TB 71% desconheciam, contra TA 24%, TB 29% que

afirmaram conhecer. Consultar Gráfico 6.7.

Gráfico 6.7: Sabe o que é Ufologia?

Em caso afirmativo, foi pedido para que o aluno justificasse se a Ufologia era definida

como ciência. No Quadro 6.5 pode ser visualizada a fala dos estudantes.

Quadro 6.5 - A Ufologia é definida como ciência ou não?

CATEGORIAS

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

Vid

a

extr

ate

rres

tre

É o estudo de vida

extraterrestre na Terra.

TA: 3

“Sim, pois é o estudo da vida de

E.T’s na Terra.” TA 17

“Sim, pois é o estudo de vida

extraterrestre.” TA 16

Est

ud

o d

e O

VN

I

É o estudo de Objetos

Voadores Não Identificados

(OVNIS).

TB: 2

“Sim, pois é somente o estudo dos

óvnis”. TB 10

“Sim, a ciência que estuda óvni”.

TB 13

TB TA

84

Pse

ud

oci

ênci

a

É uma pseudociência por

que não poder ser testada de

forma empírica.

TA: 2

“Não, onde eu sei a ufologia é uma

pseudociência, e não costuma ser

muito levada a sério na área

científica.” TA 3

“Não, pois não pode ser testada de

forma empírica.” TB 3

TB: 1

Total: 3

o s

ou

be

just

ific

ar

Não souberam justificar a

questão.

TB:4

“Não sei ao certo se é ou não uma

ciência, pois eles estudam objetos

voadores não identificados só que

sem tocar e analisar de perto. “

TB 2

6.1.5.1 Metatexto: ufologia é ciência?

Percebe-se, que a pequena parcela que afirmou saber o que é Ufologia não consegue

justificar, ou quando justifica não distingue claramente se a mesma é ou não pertencente ao

campo científico. Por exemplo, o aluno TA 17 afirmou que: “Sim, pois é o estudo da vida de

E.T’s na Terra”. Ou seja, este aluno acredita ser uma ciência que estuda extraterrestres na

Terra, essa afirmação descreve a Ufologia, no entanto, ela não é considerada uma ciência. Já

na fala do aluno TA 16 o argumento é diferente, ele justifica que: “Sim, pois é o estudo de

vida extraterrestre”. Nessa afirmação identifica-se uma confusão comum entre a

Astrobiologia e a Ufologia. A Astrobiologia estuda a possibilidade de vida extraterrestre

buscando dados que possam comprovar sua existência, na Ufologia há a investigação de

objetos voadores não identificados, mas essa investigação não se baseia em dados para

comprovar a existência dos fenômenos. Dessa forma, a Ufologia é considerada uma

pseudociência, a esse respeito Sagan (2006) pondera que o requisito que confere validade a

um corpo de conhecimento são as evidências, se assim a população soubesse a pseudociência

não teria espaço.

Entre as justificativas, emergiu a frequência de fala da categoria pseudociência, que

afirma corretamente que a Ufologia não pertence ao campo científico.

Outra confusão ocorre sobre o campo da Astronomia e Astrologia. A esse respeito foi

feita a seguinte pergunta: Astrologia e Astronomia querem dizer a mesma coisa (P12)? Os

quarenta e cinco alunos responderam que não, contra um (TA) que respondeu que sim, são a

85

mesma coisa. As justificativas foram organizadas em categorias que pode ser consultadas no

Quadro 6.6.

Quadro 6.6 - Astrologia e astronomia querem dizer a mesma coisa?

CATEGORIAS

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

o d

ifer

ente

s

São estudos

diferentes, porém

não apresentam

claras distinções.

TA: 7

“Astrologia estuda os astros em si e

astronomia a vida em relação aos

astros.” TB 7

“Não. Astronomia estuda os astros,

planetas, universo e astrologia as

estrelas.” TB 8

TB: 9

Total: 16

Um

a é

ciê

nci

a e

a o

utr

a

não

Astronomia é uma

ciência e a

Astrologia não é

científica.

TA: 5

“Astrologia é arte, astronomia é

ciência.” TA 21

“Astronomia é o estudo científico

dos astros do universo. Astrologia

também estuda os astros, porém de

uma perspectiva espiritual, e não

científica.” TA 13

Am

bas

são c

iên

cia

A Astronomia e a

Astrologia são

campos científicos.

TA: 2

“Uma estuda no espaço e outro os

planetas.” TA 22

”Astronomia estuda os astros.

Astrologia é esotérico, e estuda a

relação entre os astros e a vida

humana.” TB 3

TB: 2

Total: 4

o s

ou

be

just

ific

ar

Não soube

justificar de acordo

com a questão

TA: 1

“Não, são coisas diferentes.” TA16

6.1.5.2 Metatexto: Astronomia x Astrologia

O curioso nessa questão foi verificar que foi quase unânime a afirmação que

Astrologia e Astronomia não eram a mesma coisa. Todavia, 15 alunos (TA) e 11 alunos (TB)

86

não justificaram ou não souberam justificar. Esse dado sugere que os alunos não sabiam

realizar a distinção entre os dois campos.

Embora a astronomia e a astrologia fossem quase sempre praticadas pelas mesmas

pessoas, incluindo Ptolomeu, Kleper e Tycho Brahe, nunca existiu um equivalente

astrológico da tradição astronômica de solução de charadas. E sem charadas, que

pudessem primeiro desafiar e depois atestar o engenho do profissional, a astrologia

não poderia ter-se tornado ciência, ainda que as estrelas controlassem, de fato, o

destino humano (KUHN, 1979, p. 16).

Na fala do aluno TB 7: “astrologia estuda os astros em si e astronomia a vida em

relação aos astros”, deixa claro a confusão feita entre a Astronomia e a Astrologia. A fala

que melhor justificou a distinção foi a do aluno TA 13 que afirmou: “Astronomia é o estudo

científico dos astros do universo. Astrologia também estuda os astros, porém de uma

perspectiva espiritual, e não científica”. Nessa afirmação o aluno pondera cada uma,

identificando a Astronomia como sendo científica e a Astrologia como pseudocientífica.

Esses foram os resultados premilinares que apresentaram os conhecimentos ou a falta

dos conhecimentos prévios dos alunos que compõe a pesquisa. Os resultados foram essenciais

para estabelecer o ponto de partida, uma vez que segundo Ausubel (1963) é necessário partir-

se dos conhecimentos prévios que os alunos apresentam, para que então, possa ensina-los em

conformidade.

Os cinco eixos conduziram a uma investigação que foi além do assunto que seria

inserido na sala de aula, a fim de buscar não somente os conhecimentos prévios

correspondentes, mas também as condições que pudessem nortear a aprendizagem da forma

mais adequada possível.

Nesse contexto, visando à predisposição do aluno em aprender bem como a construção

de um material potencialmente foram planejadas, elaboradas e desenvolvidas as UEPS. A

seguir a comparação de alguns eixos do questionário pré com o questionário pós-intervenção.

87

6.2 COMPARAÇÃO QUESTIONÁRIO PRÉ E PÓS8

Neste momento ocorrerá a apresentação de alguns eixos a fim de comparar os

questionários pré e pós (Tabela 6.2) para averiguar se houve mudança de algum aspecto no

sentido de evolução no entendimento da temática.

Tabela 6.2: Resultados questionário pré e pós.

Eixo

Turma

Questionário pré Freq. Freq.

(n) (%)

Questionário pós

Freq. Freq.

(n) (%)

O que os

sujeitos da

pesquisa

desejam nas

aulas?

Rec

urs

os

did

átic

os

TA

Experimentos 21 32% Experimentos 16 30%

Vídeos 13 20% Vídeos 13 24%

Quadro e caneta 13 20% Jogos Didáticos 10 19%

Respondentes: 22 Respondentes: 22

TB

Experimentos 17 28% Experimentos 21 33%

Vídeos 15 25% Jogos Didáticos 14 22%

Quadro e caneta 12 20% Vídeos 11 18%

Respondentes: 24 Respondentes: 24

Conhecimento

sobre

Astrobiologia

P

oss

ibil

idad

e d

a ex

istê

nci

a d

e v

ida

fora

da

Ter

ra

Ju

stif

icat

ivas

TA

Div. de Planetas 7 50% Div. de Planetas 15 75%

Req. para exist.

Vida

2 14% Req. para exist.

vida

1 5%

Pesq. em

andamento

0 0% Pesq. em

andamento

3 15%

For. nova esp./

adapt

3 22% For. nova esp./

adapt

1 5%

Já existe vida 1 7% Já existe vida 0 0%

Ficção

Científica

1 7% Ficção

Científica

0 0%

Respondentes: 12

N° total de freq.

de categoria: 14

Respondentes: 18

N° total de

freq. de

categoria: 20

TB

Div. de Planetas 11 48% Div. de Planetas 13 62%

Req. para exist.

Vida

5 22% Req. para exist.

Vida

4 19%

Pesq. em

andamento

6 26% Pesq. em

andamento

3 14%

For. nova esp./

adapt

1 4% For. nova esp./

adapt

1 5%

Já existe vida 0 0% Já existe vida 0 0%

Ficção

Científica

0 0% Ficção

Científica

0 0%

Respondentes: 20

N° total de freq.

de categoria: 23

Respondentes: 18

N° total de

freq. de

categoria: 21

8 A tabela 6.2 apresenta os resultados divididos em eixos, e em alguns casos são apresentados somente os três

dados mais relevantes.

88

Conhecimento

sobre

Astrobiologia

Se

hou

ves

se v

ida

fora

da

Ter

ra c

om

o e

la s

eria

?

TA

Adap. a outras

cond.

9 36% Adap. a outras

cond.

10 42%

Vida

primitiva

6 24% Vida

primitiva

9 38%

Sem. a da

Terra

3 12% Sem. a da

Terra

2 8%

Inimaginável 4 16% Inimaginável 1 4%

Vida inteligente 1 4% Vida inteligente 2 8%

Vida mais

avançada

0 0% Vida mais

avançada

0 0%

Ficção científica 2 8% Ficção científica 0 0%

Respondentes: 21

N° total de freq.

de categoria: 25

Respondentes: 22

N° total de

freq. de

categoria: 24

TB

Adap. a outras

cond.

8 30% Adap. a outras

cond.

6 26%

Vida

primitiva

7 26% Vida

primitiva

7 30%

Sem. a da

Terra

4 15% Sem. a da

Terra

2 9%

Inimaginável 2 7% Inimaginável 5 22%

Vida inteligente 2 7% Vida inteligente 0 0%

Vida mais

avançada

3 11% Vida mais

avançada

2 9%

Ficção científica 1 4% Ficção científica 1 4%

Respondentes: 20 N° total de freq.

de categoria: 27

Respondentes: 21

N° total de

freq. de

categoria: 23

Sab

e o

qu

e é

a u

folo

gia

? Ju

stif

icat

iva

TA

Não soube

justificar

0 0% Não soube

justificar

1 4%

Pseudociência 2 40% Pseudociência 20 91%

Vida

extraterrestre

3 50% Vida

extraterrestre

0 0%

Estudo de OVNI 0 0% Estudo de OVNI 1 5% Respondentes: 5 Respondentes: 22

TB

Não soube

justificar

4 57% Não soube

justificar

4 17%

Pseudociência 1 14% Pseudociência 14 58%

Vida

extraterrestre

0 0% Vida

extraterrestre

2 8%

Estudo de OVNI 2 29% Estudo de OVNI 4 17% Respondentes: 7 Respondentes: 24

Ast

rolo

gia

e a

stro

no

mia

qu

erem

diz

er a

mes

ma

cois

a?

TA

Não soube

justificar

1 7% Não soube

justificar

3 14%

Uma é ciência e a

outra não

5 33% Uma é ciência

e a outra não

12 55%

Ambas são ciência 2 13% Ambas são

ciência

1 4%

São diferentes 7 47% São diferentes 6 27% Respondentes: 15| Não responderam: 6 Respondentes: 22

Ast

rolo

gia

e a

stro

no

mia

qu

erem

diz

er a

mes

ma

cois

a?

89

Conhecimento

sobre

Astrobiologia

TB

Não soube justificar 0 0% Não soube

justificar

5 21%

Uma é ciência e a

outra não

0 0% Uma é ciência e

a outra não

8 33%

Ambas são ciência 2 18% Ambas são

ciência

0 0%

São diferentes 9 82% São diferentes 11 46%

Respondentes: 11| Não responderam:13 Respondentes: 24

Nº total de participantes

46

No eixo o que os sujeitos da pesquisa desejam nas aulas?, nota-se uma mudança na

escolha de recursos didáticos tanto na TA quanto na TB. No primeiro questionário (Q1) da

TA, os experimentos laboratoriais obtiveram 21 escolhas (32%). No Q2 da TA, essa

porcentagem se mantém alta, porém é diminuída totalizando 16 escolhas 30%. Na TB, em Q1,

os experimentos tinham 17 escolhas (28%). Já em Q2 essa porcentagem aumenta para 21

escolhas (33%). É importante ponderar que a TB teve no mesmo período de ocorrência da

presente pesquisa uma oficina denominada “Genetikar”, que tinha entre suas atividades os

experimentos laboratoriais. Portanto, sugere-se que o aumento dessa porcentagem possa estar

ligado às atividades desenvolvidas por essa oficina.

Quanto ao recurso jogos didáticos houve um aumento significativo em ambas às

turmas. Os jogos na TA em Q1 foram escolhido apenas 4 vezes (6%), já em Q2 o número de

escolhas aumenta para 10 vezes (19%). Na TB o número de vezes foi de 9 (15%) em Q1,

aumentando para 14 vezes (22%) em Q2. Sugere-se que esse resultado pode estar relacionado

com o jogo didático utilizado como organizador prévio em uma das atividades contidas nas

UEPS, em específico o Astrobio GO. O jogo foi bem recepcionado pelos estudantes nas duas

turmas, denotando muito interesse, engajamento e competitividade durante toda a sua

aplicação.

O recurso didático quadro e caneta diminuiu a porcentagem de escolha nas duas

turmas. A TA apresentou 13 escolhas em Q1 (20 %), contra 5 escolhas (9%) em Q2. A TB em

Q1 apresentou 12 escolhas (20%), já em Q2 apresentou apenas 7 escolhas (11%). Dos

recursos votados, o quadro e caneta foi o de menor utilização entre eles.

No eixo conhecimento sobre Astrobiologia a possibilidade de vida fora da Terra

aumentou: TA Q1-77% para Q2- 95%, e TB Q1-83% para Q2- 87%. Quanto às justificativas,

houve aumento na frequência de fala da categoria diversidade de planetas em ambas as

Ast

rolo

gia

e a

stro

no

mia

qu

erem

diz

er a

mes

ma

cois

a?

90

turmas: TA apresentava 50% em Q1 e em Q2 apresentou 75%. Já a TB de 56% em Q1,

passou a em Q2 62%. Interessante notar que a frequência de fala das categorias: já existe vida

e ficção científica da TA desaparece em Q2.

Ainda sobre o eixo conhecimento sobre Astrobiologia, o número de frequência de

falas das categorias foi modificado. Na TA, por exemplo, os alunos acreditam que a vida fora

da Terra será adaptada a outras condições (42%) e que provavelmente será em forma de vida

primitiva (38%), no entanto, uma pequena parcela afirmou que a forma de vida poder ser

inteligente (8%) e semelhante à vida da Terra (8%). A TA não possui em suas falas as

categorias vida mais avançada e ficção científica em Q2. A TB acredita que a forma de vida

seria primitiva (30%), adaptada a outras condições (26%), ou sendo completamente

inimaginável (22%) por estar adaptada a outras condições. A porcentagem de vida mais

avançada diminui para 9% e a ficção científica ainda permanece com 4%.

No eixo diferença entre ciência e pseudociência todos os alunos das duas turmas

afirmam em Q2 conhecer o que é Ufologia. Entre as justificativas, a TA no Q2 apresentou 20

justificativas para a categoria pseudociência (91%), em contraste com o Q1 da mesma turma,

que apresentava apenas duas justificativas (40%) para essa mesma categoria. Apenas uma

pessoa justificou afirmando ser em estudo de OVNI. Já a TB obteve a maior porcentagem na

categoria pseudociência com 14 justificativas (58%). No entanto, ainda aparece estudo de

OVNI (17%), não souberam justificar (17%) e vida extraterrestre (8%). Na TB, portanto, a

atividade desenvolvida sobre esse assunto não foi tão exitosa quanto à realizada na TA.

Outra questão respondida de forma unânime nas duas turmas foi se Astrologia e

Astronomia possuíam o mesmo significado, e todos os 46 alunos responderam que não. Na

TA, em Q2, a maior porcentagem de frequência de fala foi da categoria uma é ciência e outra

não, sendo 12 vezes citada (55%). Vale ressaltar que em Q1 essa mesma categoria só havia

recebido 5 citações (33%). A categoria ambas são ciência foi reduzida de 2 vezes (13%/Q1)

para apenas uma (4%/Q2), e a categoria são diferentes apresentou a frequência de 6 vezes

(27%/Q2). Contudo, na TB, os resultados demonstram a falta de discernimento entre a

Astrologia e a Astronomia, uma vez que a categoria mais citada, são diferentes, possui alta

expressão em ambos os questionários (Q1-82%/Q2-46%). A segunda maior porcentagem é

para uma é ciência e outra não (33%), que é a resposta esperada.

A comparação entre Q1 e Q2 das duas turmas apresentou alguns indicativos

interessantes como o aumento da porcentagem de jogos didáticos e a diminuição do recurso

91

quadro e caneta como recursos didáticos. E a distinção entre o conhecimento científico e o

pseudocientífico. No entanto, os resultados obtidos por intermédio do instrumento de coleta,

questionário pós, não exibiu o êxito comparativo (entre Q1 e Q2) esperado, no que diz

respeito à externalização significativa de conhecimentos do decorrer da intervenção. Nesse

sentido, ressalta-se a necessidade de outros instrumentos avaliativos ao longo das

intervenções dessa natureza, para que não sejam perdidas algumas das evidências mais

palpáveis de aprendizagem significativa.

Além da análise dos questionários pré e pós foram realizadas análises dos mapas

conceituais construídos.

92

6.3 MAPAS CONCEITUAIS: UMA ANÁLISE COLETIVA

Nessa seção serão apresentados os resultados relativos aos mapas conceituais (MCI e

MCII) das duas turmas participantes.

6.3.1 Resultados dos mapas MCI

Foram analisados os mapas conceituais dos alunos que participaram de toda a

intervenção Q1, Q2, MCI e MCII, totalizando 33 mapas: 17 da TA e 16 da TB. Os resultados

do primeiro mapa (Tabela 6.3) foram analisados segundo os critérios estabelecidos por

Mendonça (2012).

Tabela 6.3: Qualidade9 dos mapas MC I, Estudo TA = 17 alunos e TB 16 alunos.

Critérios

TA

Alunos HC TC CV TP PV RCZ EX DP RI QM

TA1 B 8 8 7 7 1 0 N N MD

TA2 B 11 11 3 2 0 0 N N MD

TA3 N 8 8 0 0 0 0 N N MD

TA4 N 11 11 0 0 0 0 N N MD

TA5 B 11 11 1 1 0 0 N N MD

TA6 N 13 13 7 5 0 0 N N MD

TA7 B 8 8 5 4 0 0 N N MD

TA12 M 10 10 2 2 0 0 M M MR

TA13 M 24 24 0 0 4 1 M M MR

TA14 M 16 15 13 12 0 0 M M MR

TA15 N 15 15 0 0 0 0 N N MD

TA16 B 15 15 20 20 1 0 M M MR

TA17 N 9 9 0 0 2 0 N N MD

TA18 M 21 21 21 21 1 0 M M MR

TA19 M 19 19 14 14 2 0 M M MR

TA21 M 18 18 15 15 1 0 M M MR

TA22 N 14 8 7 3 0 0 N N MD

TB

TB1 B 7 7 6 6 0 0 N N MD

TB2 B 8 8 7 7 0 0 N N MD

TB4 B 6 6 5 5 0 0 N N MD

TB6 B 6 6 4 4 0 0 N N MD

TB7 B 4 4 3 3 0 0 N N MD

TB8 B 4 4 3 3 0 0 N N MD

9 Nota: HC = Hierarquia Conceitual; TC = Total de Conceitos; CV = Conceitos Válidos; TP = Total de Proposições; PV =

Proposições Válidas; RCZ = Relações Cruzadas; EX = Exemplo; DP = Diferenciação Progressiva; RI = Reconciliação

Integrativa; A = Alta; M = Média; B = Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR = Mapa Regular;

MD = Mapa Deficiente. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

93

Alunos HC TC CV TP PV RCZ EX DP RI QM

TB10 B 5 2 4 2 0 0 N N MD

TB11 B 9 9 2 2 0 0 N N MD

TB12 B 10 9 10 9 0 0 N N MD

TB14 B 9 9 3 3 0 0 N N MD

TB16 N 2 2 2 2 0 0 N N MD

TB17 N 3 3 2 2 0 0 N N MD

TB19 B 10 5 9 4 0 0 N N MD

TB21 N 5 5 2 2 0 0 N N MD

TB22 N 4 4 2 2 0 0 N N MD

TB23 N 5 5 4 4 0 0 N N MD

Os primeiros mapas construídos pelos alunos da TA revelam que estes possuíam

conhecimentos prévios mais elaborados do que os apresentados no questionário (Q1). Talvez

isso possa estar relacionado a uma pesquisa individual após o questionário, sugerindo

interesse por parte dos participantes.

Os conceitos apresentados em sua maioria foram: universo, planeta, vida, ciência e

NASA. No entanto, quanto à estrutura do mapa, possuíam algumas deficiências como ligações

entre conceitos sem conectivos, ou seja, não havia, em sua maioria, a formação de

proposições. Outra questão foi a falta de setas para direcionar a leitura do raciocínio. Já com

relação à hierarquia do mapa, os alunos se destacaram por colocarem o conceito mais

inclusivo ou no topo da construção ou em destaque (com letra de cor diferente, tamanho de

letra ou sublinhado).

A respeito da qualidade de mapas sete alunos (TA12, TA13, TA14, TA16, TA18, TA19,

TA21) apresentaram mapas avaliados como regulares, com a maioria da diferenciação

progressiva e reconciliação integrativa classificada como média. Esses alunos trouxeram

conceitos relevantes do tema, porém ainda careciam de clareza nas proposições realizadas. Os

dez alunos restantes, em contrapartida, ainda não apresentaram os conceitos relevantes sobre

o tema, além de uma hierarquia pouco apreciável.

Na TB os resultados desse primeiro mapa já são mais intuitivos do que os

apresentados na TA. Por exemplo, Astrobiologia- estuda- Astronomia- e -Biologia,

Astrobiologia- é um- estudo- feito por- cientistas, Astrobiologia- é uma- ciência- que estuda-

astros. Os alunos encontraram dificuldade em distinguir conceitos e conectivos, as relações

foram simplistas demonstrando pouco conhecimento prévio da temática. O conceito mais

inclusivo foi colocado em evidência na parte superior em todos os mapas da TB.

TB

94

Todos os mapas da TB foram avaliados nesse primeiro momento com relação à

diferenciação progressiva e reconciliação integrativa como nulos e classificados como mapas

deficientes por não trazerem conceitos centrais sobre o tema, além de sequências lineares que

demonstram a ausência de compreensão sobre o tema.

A seguir o Gráfico 6.8 com os resultados do MCI da TA, e no Gráfico 6.9 os

resultados de MCI correspondentes TB.

Gráfico 6.8: MCI da TA.

Nota: HC = Hierarquia Conceitual; CV = Conceitos Válidos; PV = Proposições Válidas; DP = Diferenciação Progressiva; RI

= Reconciliação Integrativa; A = Alta; M = Média; B = Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR

= Mapa Regular; MD = Mapa Deficiente. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

CV

a

(a

qu

i

PV

HC DP/RI QM

n° de

Conceitos

Quantidade (N)

n° de

Conceitos

Quantidade (N)

95

Gráfico 6.9: MCI da TB.

6.3.2 Resultados dos mapas MCII

No segundo mapa da TA, os alunos utilizaram de forma adequada os conectivos entre

os conceitos, formando boas proposições com informações centrais sobre o tema. Todos os

mapas apresentaram uma hierarquia apreciável e utilizaram de forma apropriada as setas entre

os conectivos e os conceitos, denotando adaptação ao recurso mapa conceitual bem como

tornando claras as relações existentes entre os seus subsunçores.

Os alunos da TA elencaram variados conceitos no segundo mapa individual: em média

aproximadamente 16 conceitos por aluno. Apresentaram diversificadas relações das mais

complexas às mais simples como, por exemplo: um conjunto de – átomos - formam -

moléculas simples- que com o passar do tempo- formaram moléculas complexas – dessas

surgem os – primeiros seres (TA15). Nesse encadeamento lógico nota-se a que o aluno possui

compreensão dos eventos químicos que possibilitaram a formação da vida.

Na TB houve um aumento significativo de conceitos utilizados para descrever a

temática e, consequentemente, do aumento de proposições para elucidar a relação entre os

HC DP/RI QM

CV PV

n° de

Conceitos

Quantidade (N) Quantidade (N)

n° de

Conceitos

96

conceitos. Há uma melhora acentuada a respeito da sistematização, que no segundo mapa é

mais clara, bem como a hierarquia conceitual.

A qualidade das proposições é evidente em: Astrobiologia- procura entender a/o-

evolução- origem- distribuição- futuro (todos os 4 últimos conceitos ligados a) – a – vida-

fora e/ou dentro do planeta (TB12). Abaixo a Tabela 6.4 com os resultados do segundo mapa

da TA e TB.

Tabela 6.4: Qualidade dos mapas MC II, Estudo TA e TB 33 alunos.

Critérios

TA

Alunos HC TC CV TP PV RCZ EX DP RI QM

TA1 M 14 13 10 9 0 0 M M MR

TA2 M 14 14 13 13 0 1 M M MR

TA3 M 17 15 13 13 2 4 M M MR

TA4 M 26 26 5 5 0 1 M M MR

TA5 B 18 18 15 15 0 0 B B MR

TA6 A 19 19 17 15 1 0 M M MR

TA7 A 14 13 13 12 3 0 M M MB

TA12 A 15 13 17 15 5 0 A A MB

TA13 A 26 26 6 6 7 1 M M MB

TA14 A 23 22 22 21 1 1 M M MB

TA15 A 13 13 10 10 1 0 M M MB

TA16 A 30 30 31 31 2 2 A A MB

TA17 M 13 13 4 3 1 1 M M MR

TA18 A 20 20 20 20 3 0 A A MB

TA19 A 21 21 8 8 1 1 M M MB

TA21 A 26 26 24 24 0 1 A A MB

TA22 N 10 10 4 3 0 0 N N MD

TB

TB1 A 17 16 15 14 1 3 A A MB

TB2 A 20 20 23 23 2 1 A A MB

TB4 B 11 11 10 10 0 0 B B MR

TB6 A 38 38 0 0 1 2 A A MB

TB7 A 20 20 13 12 1 0 M M MB

TB8 M 19 18 8 8 1 1 A A MB

TB10 B 11 11 8 8 0 0 B B MR

TB11 A 22 20 12 9 1 1 A A MB

TB12 M 17 16 13 11 0 0 M M MR

TB14 A 28 28 14 13 0 2 M M MB

TB16 B 11 11 1 1 0 0 B B MD

TB17 A 11 11 11 11 1 0 M M MB

TB19 A 18 18 11 10 1 1 A A MB

TB21 M 14 14 13 12 0 0 M M MR

TB22 A 33 33 28 28 2 2 A A MB

TB23 A 21 19 22 20 1 0 M M MB Nota: HC = Hierarquia Conceitual; TC = Total de Conceitos; CV = Conceitos Válidos; TP = Total de Proposições; PV =

Proposições Válidas; RCZ = Relações Cruzadas; EX = Exemplo; DP = Diferenciação Progressiva; RI = Reconciliação

Integrativa; A = Alta; M = Média; B = Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR = Mapa Regular;

MD = Mapa Deficiente. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

97

A seguir os resultados do MCII de TA (Gráficos 6.10) e resultados do MCII de TB

(Gráficos 6.11).

Gráfico 6.10: MC II da TA.

Nota: HC = Hierarquia Conceitual; CV = Conceitos Válidos; PV = Proposições Válidas; DP = Diferenciação Progressiva; RI

= Reconciliação Integrativa; A = Alta; M = Média; B = Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR

= Mapa Regular; MD = Mapa Deficiente. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

Gráfico 6.11: MC II da TB.

HC DP/RI QM

n° de

Conceitos n° de

Conceitos

Quantidade (N) Quantidade (N)

CV PV

n° de

Conceitos

n° de

Conceitos

Quantidade (N) Quantidade (N)

CV PV

98

Nota: HC = Hierarquia Conceitual; DP = Diferenciação Progressiva; RI = Reconciliação Integrativa; A = Alta; M = Média; B

= Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR = Mapa Regular; MD = Mapa Deficiente. Baseado no

trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

6.3.3 Comparação do MCI e MCII da TA

Nessa seção os resultados explicitados correspondem somente a dois dos mapas, o pré

e pós UEPS, mas os outros dois mapas construídos de forma coletiva foram de extrema

importância para que os alunos se apropriassem do recurso mapa conceitual e também para

que negociassem significados com seus colegas de sala.

Comparando o MCI e o MCII da TA, Gráfico 6.12, percebe-se que foi apresentada

uma melhora considerável com relação a todos os critérios de análise. Os conceitos válidos

em MCI 59%, entre 5-15 conceitos, em MCII a porcentagem também foi de 59% de conceitos

válidos, que foi deslocada para 10-20 conceitos, além da presença de 23% entre 25-30

conceitos. As proposições válidas que tinham maior índice entre 0-5 em MCI modificaram

seu maior índice para 5-15 proposições em MCII, além do aparecimento da construção entre

30-35 proposições válidas.

Em MCI a hierarquia dos mapas foi classificada como nula 35%, baixa 30%, média

35%, alta 0%. Enquanto em MCII foi classificado como nula 6%, baixa 6%, média 29% e

alta 59%.

Com relação à diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa, a classificação

foi nula 59%, baixa 0%, média 41% e alta 0%. Em MCII foram classificados como nula 6%,

baixa 6%, média 65% e alta 59%.

A qualidade dos mapas foi avaliada em MCI como MD 59%, MR 41 %, MB 0%. Em

MC II foi avaliado como MD 6%, MR 41 %, MB 53%.

HC DP/RI QM

99

Gráfico 6.12: TA MCI e MCII.

Nota: CV = Conceitos Válidos; PV = Proposições Válidas. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

Nota: Azul= MCI/ Vermelho= MCII; HC = Hierarquia Conceitual; DP = Diferenciação Progressiva; RI = Reconciliação

Integrativa; A = Alta; M = Média; B = Baixa; N = Nula; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR = Mapa Regular;

MD = Mapa Deficiente. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

HC DP/RI QM

100

6.3.4 Comparação do MCI e MCII da TB

Comparando MCI e MCII a TB, Gráfico 6.13, também expressou uma melhora

considerável com relação a todos os critérios de análise. Os conceitos válidos que tinha em

MCI 56% entre 0-5 e 44% entre 5-15 conceitos válidos, possui em MCII a porcentagem de

81% de conceitos válidos entre 10-20 conceitos, além da presença de 9% entre 25-40

conceitos. As proposições válidas que tinham maior índice entre 0-5 em MCI, modificam seu

maior índice para 0-15 proposições em MCII, além do aparecimento da construção entre 15-

30 proposições válidas.

Em MCI a hierarquia dos foi classificada como nula 31%, baixa 69%, média 0%, alta

0%. Enquanto em MCII foi classificado como nula 0%, baixa 19%, média 19% e alta 62%.

Com relação à diferenciação progressiva e à reconciliação integrativa, a classificação

foi nula 100%, baixa 0%, média 0% e alta 0%. Em MCII foi classificado como nula 0%,

baixa 19%, média 37% e alta 44%.

A qualidade dos mapas foi avaliada em MCI como MD 100%, MR 0 %, MB 0%. Em

MC II foi avaliado como MD 6%, MR 25 %, MB 69%.

Gráfico 6.13: TB MCI e MCII.

Nota: CV = Conceitos Válidos; PV = Proposições Válidas. Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

101

Nota: Azul= MCI/ Vermelho= MCII. HC = Hierarquia Conceitual; DP = Diferenciação Progressiva; RI = Reconciliação

Integrativa; QM = Qualidade do Mapa; MB = Mapa Bom; MR = Mapa Regular; MD = Mapa Deficiente. A = Alta; M =

Média; B = Baixa; N = Nula; Baseado no trabalho desenvolvido por Mendonça (2012).

Os resultados demonstram que houve uma melhora significativa tanto na TA quanto

na TB no que concerne ao entendimento do tema. Essa relação pode ser feita por indicativos

de aprendizagem de novos conceitos a partir dos já existentes, o aumento da quantidade e

qualidade das proposições formadas, bem como sobre a hierarquia conceitual, diferenciação

progressiva, reconciliação integrativa e a qualidade dos mapas. Os mapas denotam, portanto,

algumas evidências de ocorrência da aprendizagem significativa de boa parte dos alunos das

duas turmas.

6.4 EVOLUÇÃO DOS MAPAS: UMA ANÁLISE INDIVIDUAL

Os mapas foram feitos pelos alunos em quatro momentos, dois de forma individual e

dois de forma coletiva. Neste trabalho selecionaram-se apenas os dois momentos individuais,

um após a aplicação do questionário pré-teste sobre a Astrobiologia, sem dar a devida

profundidade ao tema, e o outro momento após a finalização das aulas. Entendendo que a

avaliação da aprendizagem significativa “não pode ser apenas somativa (final); deve ser

também formativa (durante o processo) e recursiva (aproveitando o erro), permitindo que o

aluno refaça as tarefas de aprendizagem” (MOREIRA, 2013). Nessa perspectiva, serão

apresentados quatro das trajetórias individuais dos alunos: TA16, TA22, TB21 e TB6. As

trajetórias foram escolhidas para mostrar a evolução de mapas classificados como deficientes

ou regulares para mapas classificados como bons.

HC DP/RI QM

102

6.4.1 Percurso avaliativo do aluno TA16

O mapa inicial do aluno TA16, na Figura 6.1, demonstra que ele possui alguns

conhecimentos prévios concernentes ao tema que ainda seria trabalhado. Interessante notar a

presença de questões específicas, como ano de surgimento do campo Astrobiologia e

definições como o que é universo, corpos celestes e NASA, sugerindo que TA16 tenha

realizado uma pesquisa prévia sobre o tema. O mapa apresenta no total quinze conceitos

válidos, e dentre eles o conceito principal. No entanto, o aluno não o aloca na parte superior

do mapa. Todos os conceitos elencados são pertinentes à temática, contudo apresenta um

caráter incipiente esperado para este primeiro momento.

Ele exibe vinte proposições válidas de forma coerente em seu mapa, oito dessas

proposições estão ligadas ao conceito Astrobiologia. O aluno faz uma relação cruzada de

forma adequada, além de utilizar as setas para indicar a direção do ordenamento do seu

pensamento. Entretanto, carece do uso de palavras de enlace em alguns casos.

Figura 6.1: MCI do aluno TA16 – Mapa Regular. (A) O MCI original. (B) O MCI em CmapTools.

A B

103

O segundo mapa, na Figura 6.2, possui trinta conceitos válidos com uma boa

hierarquia, com o conceito inclusor posicionado na parte superior do mapa. O aluno não

realiza repetição de conceito e apresenta-os de forma pertinentes ao assunto.

Expõe trinta e uma proposições válidas de forma clara, com encadeamento lógico

correto e bem sistematizado. Realizou ligações cruzadas bem como exemplos pertinentes,

sinalizando que os conceitos/ideias estão mais organizados, segundo os princípios da

diferenciação progressiva e da reconciliação integradora (MOREIRA, 2006), dessa maneira

sendo classificado com uma alta diferenciação progressiva e reconciliação integrativa, como

por exemplo: grandes estrelas- que explodem em supernovas- gerando- nuvem de poeira

cósmica [conceito bifurcado]- responsáveis pelo surgimento dos- planetas/ poeira cósmica-

que também originou os- seres vivos. Este raciocínio do aluno TA16 denota alta

complexidade por fazer a relação direta entre a constituição planetária e a constituição dos

seres vivos a partir da dispersão dos elementos químicos ocorrido pelo evento supernova.

Figura 6.2: MCII de TA16 – Mapa Bom. (A) O MCI original. (B) O MCI em CmapTools.

Os mapas apresentam variadas diferenças no que tange ao aspecto número de

conceitos. O primeiro mapa (MCI) relaciona o total de quinze conceitos válidos, enquanto o

A B

104

segundo mapa (MCII) exibe trinta conceitos válidos. Ou seja, em MCII o número de

conceitos dobra, o que ilustra um enriquecimento conceitual. As proposições válidas formadas

em MCI eram de vinte, e em MCII aumenta para trinta e uma proposições.

A estrutura e organização hierárquica também foram diferenciadas, enquanto em MCI

o aluno posiciona o conceito principal na parte inferior do mapa, em MCII o aluno já o aloca

na parte superior, respeitando a organização do conceito mais abrangente na parte superior e

migrando para o mais específico na ponta inferior revelando uma alta diferenciação

progressiva e reconciliação integrativa. Há também uma maior ramificação dos conceitos em

MCII do que a construída em MCI. Todos esses critérios revelam indícios de aprendizagem

sobre a temática proposta.

6.4.2 Percurso avaliativo do aluno TA21

O mapa MCI, na Figura 6.3, apresenta dezoito conceitos, com um conceito principal

em destaque. No entanto, este conceito não ocupa a parte superior do mapa. Não faz uma

clara distinção entre conceitos e palavras de enlace, mas atende a organização dos conceitos

mais inclusivos para os mais específicos. Este aluno possui conhecimentos prévios, porém de

forma técnica no que diz respeito à descrição do campo Astrobiologia.

Exibe quinze proposições válidas, contudo em alguns momentos não utiliza os

conectivos entre os conceitos. Expressa em alguns pontos do mapa definições que podem

estar associada a uma pesquisa prévia sobre o assunto. As sequências lógicas são adequadas e

superam as expectativas para essa primeira construção de mapa. Utiliza setas que direcionam

a leitura das proposições de forma correta. A diferenciação progressiva e a reconciliação

integrativa são classificadas como média, e ocorre uma ligação cruzada.

105

Figura 6.3: MCI do aluno TA21- Mapa Regular. (A) O MCI original. (B) O MCI em CmapTools.

Em MCII, na Figura 6.4, há o total de vinte e seis conceitos válidos, com um conceito

principal posicionado no canto superior. Evidencia-se uma alta diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa como nesse encadeamento lógico: diversas galáxias e sistemas-

entre elas a nossa- via láctea- que possui o –sistema solar- formado por- sol/ planetas/

estrelas. Constrói do conceito mais amplo que nesse caso são as galáxias, cita uma das

galáxias que é a via láctea, localiza o sistema solar e dá mais especificidade quando diz do

que ele é composto. Na sequência o aluno relaciona: planetas- entre eles o nosso- Terra- que

está na- zona habitável/ que possui- satélite natural- chamado- lua. Nessa ordem, o aluno

consegue dar ainda mais especificidade ao assunto, todavia na primeira sequência narrada

existe uma falta de relação entre o conceito “estrelas” e “sol”, como se os dois conceitos não

estivessem relacionados, e o aparecimento do conceito “satélite natural” posicionado como

um conceito mais específico, porém poderia ser alocado de forma mais inclusiva quando

explicitada a constituição do sistema solar por exemplo.

A

B

106

Desenvolve-se no mapa o total de vinte e quatro linhas de sequência lógica dando a

devida profundidade ao tema. Possuem setas que indicam as relações de forma clara e

objetiva.

Figura 6.4: MCII do aluno TA21 – Mapa Bom. (A) O MCI original. (B) O MCI em CmapTools.

O aluno TA21 obteve uma melhora quantitativa e qualitativa do seu mapa expressando

um enriquecimento conceitual que parte de dezoito conceitos em MCI para vinte e seis

conceitos em MCII. A respeito das proposições válidas, também se verifica uma melhora

notória de quinze (MCI) para vinte e quatro (MCII) proposições válidas. Há uma evolução

quanto à hierarquia conceitual e na qualidade da construção de proposições adequadas. Em

MCII o aluno consegue utilizar mais palavras de enlace explicitando de melhor maneira a

relação entre os conceitos compreendidos. Evidenciando dessa forma, uma aprendizagem

mais próxima da aprendizagem significativa do que de uma aprendizagem mecânica.

A

B

107

6.4.3 Percurso avaliativo do aluno TB22

O mapa MCI, na Figura 6.5, apresenta quatro conceitos com o conceito principal

posicionado na parte superior. Não há conceitos centrais sobre o assunto trabalhado e o

número pequeno de conceitos revela que o aluno possuía pouco conhecimento prévio sobre o

tema. Possui duas proposições válidas de forma simplistas com a indicação de setas. É

classificado como mapa deficiente.

Figura 6.5: MCI do aluno TB22 – Mapa Deficiente. (A) O MCI original. (B) O MCI em CmapTools.

Há em MCII (Figura 6.6) o total de trinta e três conceitos, com o conceito inclusor

posicionado no canto superior. O aluno TB22 surpreende por utilizar o espaço de duas folhas

A4 coladas para melhor expressar as relações de seu mapa conceitual.

O mapa possui vinte e oito proposições válidas com alta diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa como visualizada em: ciência- que estuda a- origem das estrelas-

fusão nuclear-que produziram- elementos químicos. Nessa sequência citada há uma relação

entre conceitos mais inclusivos e conceitos mais específicos, contudo em alguns poucos

momentos o aluno não utiliza palavras de enlace entre os conceitos, não deixando clara a

relação existente. Há algumas relações pouco estruturadas como: origem- do- universo- lua-

acredita-se ter- vida em- Júpiter/ Saturno. Nesse encadeamento lógico, o mais adequado seria

além de possuir palavras de ligações mais claras, realizar também a reorganização dos

conceitos “lua”, “Júpiter” e “Saturno”, para dar o entendimento do que foi trabalhado em sala

sobre a possibilidade de vida nas luas de Júpiter e Saturno por recentes pesquisas apontarem

fortes indícios de um dos critérios para a base da vida, que é a existência de água líquida. Mas

ainda assim constata-se que o aluno obteve boa compreensão do tema utilizando relações

cruzadas e exemplos relevantes.

A B

108

Figura 6.6: MCII do aluno TB22 – Mapa Bom. (A) O MCI original. (B) O MCI original em CmapTools.

A diferença entre o primeiro e o segundo mapa é expressiva no aluno TB22 em todos

os aspectos, seja com relação ao enriquecimento conceitual de quatro conceitos em MCI para

trinta e três conceitos em MCII, seja pela hierarquia conceitual que em MCI era simplista

classificada como nula e em MCII concatena variados conceitos classificado como hierarquia

alta, a qualidade das proposições que revelam a captação de significados em MCII. A

diferenciação progressiva e reconciliação integrativa classificada como nula em MCI e em

MCII como alta, a presença de relações cruzadas, entre outros que corroboram com

evidências de aprendizagem significativa.

A

B

109

6.4.4 Percurso avaliativo do aluno TB6

O primeiro mapa, na Figura 6.7, possui somente seis conceitos válidos sobre a

temática de forma muito simples. Com o conceito principal posicionado na parte superior e

com a formação de quatro proposições que tentam descrever o campo Astrobiologia de forma

técnica. Há a presença de setas para direcionar a leitura do encadeamento lógico e possui uma

hierarquia conceitual baixa. A qualidade do primeiro mapa é classificada como deficiente.

Figura 6.7: MCI do aluno TB6 – Mapa Deficiente. (A) O MCI original. (B) O MCI original em CmapTools.

O segundo mapa, na Figura 6.8, ilustra trinta e oito conceitos com o conceito principal

posicionado na parte superior. O curioso é notar que não há formação de proposições, ou seja,

os conceitos estão ligados sem as palavras de enlace, o que dificulta o entendimento das

correlações entre conceitos. A estrutura do mapa sugere a falta de proficiência do aluno com

o recurso mapa conceitual. Talvez o aluno TB06 precisasse investir mais tempo para a

apropriação adequada do recurso. Mas é relevante ressaltar que “não há regras gerais fixas

para o traçado de mapas de conceitos. O mapa deve ser um instrumento capaz de evidenciar

significados atribuídos a conceitos e relações entre conceitos no contexto de um corpo de

conhecimentos, de uma disciplina, de uma matéria de ensino” (MOREIRA, 1998, p. 144).

O mapa explicita diversos conceitos essenciais para a compreensão do tema como:

big bang- espaço- nebulosas- galáxias- Andrômeda/via láctea- sistema solar- sol- Terra.

Nessa sequência, por mais que não explicite as relações conceituais, há uma linha de

raciocínio válida no que concerne à ordem hierárquica, temporal e evolutiva dos eventos.

A

B

110

Ademais o aluno consegue relacionar a temática a outras questões mais específicas

que ocorreram no transcorrer da disciplina Biologia III, como o já mencionado projeto

Genetikar. O encadeamento lógico está presente em: organismos simples- evolução-

organismos complexos- girafa de pescoço curto- seleção natural- girafas pescoço longo-

estudo sobre genética- projeto genetikar. É possível verificar nessa sequência que o aluno

realiza conexões apreciáveis no que se refere ao conceito de evolução, trazendo exemplos

clássicos como o da “girafa” para explicitar o conceito de “seleção natural” dentro do campo

evolução.

Outra sequência é: ser humano- desenvolvimento- inteligência- tecnologia-

desenvolvimento de ferramenta primitiva- caça- alimento- fogo- sobrevivência-

desenvolvimento tecnológico- descobrimento da eletricidade- programas espaciais-

exploração espacial- colonização espacial- planetas habitáveis. É interessante notar na

sequência apresentada uma interseção valiosa que o aluno realiza entre o desenvolvimento

humano, tecnológico e científico, finalizando-o como se fosse um ciclo interdependente,

através do qual exprime um pensamento amplo e complexo sobre o assunto, de forma que “tal

complexidade é, ao mesmo tempo, a possibilidade de ampliar seu pensamento sobre o mundo

e a vida e, junto a isso, seu maior desafio, à fragmentação do saberes humanos, científicos e

da tecnologia” (SALES e MATOS, 2017, p. 117).

111

Figura 6.8: MCII do aluno TB6- Mapa Bom. (A) O MCI original. (B) O MCI original em CmapTools.

A evolução dos mapas do aluno TB6 é notória com relação ao enriquecimento

conceitual: em MCI havia seis conceitos válidos, e já em MCII, trinta e oito; hierarquia

conceitual considerada baixa em MCI e alta em MCII; diferenciação progressiva e

reconciliação integrativa são nulas em MCI e alta em MCII. Contudo, em MCII, com relação

à estrutura do mapa, ainda apresenta deficiências como pontuadas anteriormente. De maneira

geral há um progresso relevante entre o primeiro e o segundo mapa, principalmente no que

tange à relacionabilidade que o aluno estabeleceu entre a temática e os outros assuntos

internos e externos à disciplina. Para identificar indícios de aprendizagem significativa deve-

se avaliar a “compreensão, captação de significados, capacidade de transferência do

conhecimento a situações não conhecidas, não rotineiras” (MOREIRA, 2011, p. 51). Logo, o

A B

112

aluno TB6 demonstrou essa capacidade por sobrepujar o assunto e integrá-lo por uma

perspectiva mais ampla do que a inicialmente proposta.

6.5 ANÁLISE DO DESAFIO PROPOSTO: CIENTISTA EM AÇÃO

Distanciando-se de avaliações de cunho behaviorista, e propondo avaliações por um

viés construtivista, foi apresentado o desafio denominado cientista em ação. Neste desafio os

alunos foram convidados a resolver uma situação-problema em que exigia os conhecimentos

adquiridos ao longo do desenvolvimento das UEPS. De acordo com Moreira e Masini, “a

solução de problemas é, um método válido e prático de se procurar por evidência de

aprendizagem significativa” (2016, p. 24). Nesse sentido, foi proposto o seguinte situação-

problema:

O nosso sistema solar está com os dias contados, no entanto, já possuímos tecnologia

suficiente para alcançar outros sistemas planetários. De última hora ligaram para você

- o melhor cientista de todos os tempos - para que pudesse dizer para qual outro PLANETA

toda a HUMANIDADE iria. E você RESPONDE que... JUSTIFICANDO que...

Pode-se notar que essa situação-problema encoraja o aluno a tomar uma atitude

frente a uma eventualidade. Neste caso é necessário o seu envolvimento para responder e

justificar qual seria o planeta elegido como possibilidade para abrigar toda a humanidade. As

justificativas dos alunos das duas turmas foram organizadas em categorias que pode ser

consultadas no Quadro 6.7.

113

Quadro 6.7 – Critérios adotados pelos alunos para procurar por um planeta habitável.

CATEGORIA

SIGNIFICADO

FREQ.

(N)

EXEMPLOS

Zo

na

Ha

bit

ável

O planeta deve estar em

uma região do sistema

planetário em que a

radiação emitida pela

estrela permita a

existência de água líquida

na superfície.

Total: 28

“Se ligassem pra mim indicaria o

planeta OILA, já que o mesmo está

próximo à zona habitável, sistema solar

vizinho”. TA1

“Esse planeta tem todos os requisitos

para ser habitável, pois está na zona

habitável, temperatura suficiente para

que tenha água no estado liquido, solido

e gasoso [...]”. TB1

TA: 14

TB: 14

Oxig

ênio

O planeta deve possuir o

gás oxigênio ou ser

construído um sistema

para gerá-lo de forma a

possibilitar a

sobrevivência dos seres

vivos.

Total: 12

“Infelizmente teríamos que desenvolver

um sistema para o nosso oxigênio.” TB3

“[...] possui água líquida e oxigênio

com diversidade de plantas.” TB12 TA: 01

TB: 11

Efe

ito E

stu

fa

É necessário que o planeta

retenha parte do calor em

sua atmosfera.

Total: 11

“[...] além de uma atmosfera que nos

protegerá e nos manterá aquecidos pelo

efeito estufa.” TA19

“Este planeta realiza o efeito estufa que

é essencial para manter temperaturas

que nós suportamos na superfície.” TB8

TA: 01

TB: 10

Atm

osf

era

O planeta deve possuir

atmosfera semelhante a da

Terra.

Total: 09

“A atmosfera se encontra em 1 atm e o

planeta possui um solo arenoso.” TA16

“O planeta tem maior abundância de

nitrogênio e oxigênio na atmosfera, pode

ser possível à habitação humana no

futuro os seres humanos.”TB6

TA: 07

TB: 02

114

Tem

per

atu

ra

A temperatura do planeta

tem que ser compatível

com o desenvolvimento

da vida.

Total: 8

“[...] condições de temperatura e

pressão ideais para que haja vida.”

TA18

“[...] para a manutenção de vida com

temperatura que os seres humanos

aguentam na superfície.” TB8 TA: 04

TB: 04

Alb

edo

O planeta deve possuir

uma taxa de energia

refletida adequada para

uma temperatura global

de superfície semelhante a

da Terra.

Total: 7

“Além disso, ele possui oxigênio em sua

atmosfera e capacidade de efeito estufa e

albedo.” TB4

“Possuindo condições ideais como água

nos três estados físicos, albedo e efeito

estufa.” TB14 TA: 0

TB: 07

Total 33 alunos

6.5.1 Metatexto: para onde toda humanidade iria?

As respostas justificadas por meio do desafio colocado forneceram algumas evidências

no que tange à captação de significados. Por exemplo, para escolher um novo planeta apto a

abrigar a humanidade os alunos tiveram que justificar, com base no que foi estudado, os

critérios necessários para a sua seleção em específico.

O critério de maior frequência foi à zona habitável, com 14 alunos tanto da TA quanto

da TB. Nessa categoria era descrito que o planeta tinha que estar a uma distância relativa da

sua estrela a ponto de possuir água no estado líquido. Alguns alunos deram mais

especificidade ao falar de zona habitável como nesta fala: “está a uma distância do seu sol

relativamente parecida com a Terra, porém este planeta está mais próximo ao sol, em

contrapartida o sol desse sistema libera menos calor” TA13. Pode-se identificar que o aluno

compreende o conceito zona habitável por conseguir construir uma relação não genérica entre

a posição do planeta e a quantidade de energia emitida pela estrela do sistema planetário em

questão.

O segundo critério de maior frequência foi oxigênio, porém não foi um critério com

unanimidade nas duas turmas. A TB teve 11 citações enquanto na TA só houve uma. O gás

oxigênio foi mencionado para falar sobre a composição atmosférica desejada para o planeta,

115

de forma a buscar semelhança nas condições encontradas na Terra. O oxigênio também estava

atrelado ao desenvolvimento de plantas, como exposto: “Há vegetação que produz oxigênio.”

TB2.

O terceiro critério mais votado na busca por um planeta para albergar a humanidade

foi o efeito estufa, com a frequência de 11 alunos na TB, e na TA somente de um aluno. O

efeito estufa é extremamente necessário no que diz respeito à manutenção da temperatura

superficial do planeta como defendido pelo aluno: “este planeta realiza o efeito estufa que é

essencial para manter temperaturas que nós suportamos na superfície” TB8. O critério efeito

estufa se relaciona com o sexto e o quinto critério que são albedo e temperatura, os três estão

intrinsecamente unidos. A temperatura superficial de um planeta está relacionada com a

quantidade de radiação que é refletida e a quantidade de radiação que é mantida na atmosfera,

resultando em uma temperatura média global.

O quarto critério mais aludido foi atmosfera, sete vezes na TA e duas vezes na TB. Os

alunos que mencionaram esse critério descreviam a composição atmosférica do planeta

hipotético como essencial para estabelecer vida.

As respostas do desafio também constituem evidências de aprendizagem significativa

em razão da externalização dos conhecimentos, adquiridos ao longo da implementação das

UEPS, de forma autônoma, criativa e pertinente aos tópicos mais relevantes do assunto

abordado.

6.6 DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA: EXTRAPOLANDO O CONTEXTO

Nesta seção, serão relatados eventos que sucederam a pesquisa e que possuem forte

ligação entre a temática proposta e a apropriação desta pelos alunos, como o projeto na XXII

SEMATEC & XX Encontro Escola Comunidade, e a reapresentação do projeto em uma

escola pública do Estado do Rio de Janeiro.

6.6.1 O projeto na XXII SEMATEC & XX Encontro Escola Comunidade

Após a finalização da pesquisa nas duas turmas participantes, ocorreu um fato curioso:

quatro alunas – duas da TB, uma da TA e outra aluna de uma turma não participante da

116

pesquisa –, convidaram a pesquisadora para coorientar um projeto que desejavam apresentar

na XXII SEMATEC & Encontro Escola Comunidade.

O projeto que as alunas construíram em grupo era intitulado Brilho das estrelas: a

matemática que envolve a propagação de sua luz. Como o próprio nome sugere, a intenção do

projeto era relacionar a Astrobiologia com a Matemática. A relação que as alunas buscaram

fazer entre esses dois campos foi pela delimitação do tema do evento, que era "a Matemática

está em tudo", respeitando a proposta 14ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia/2017.

É importante destacar que o envolvimento das alunas no projeto não teve nenhum

estímulo por parte da pesquisadora e nem por parte da professora da disciplina. Todas as

alunas participantes protagonizaram a construção do projeto do início ao fim, apenas com a

supervisão dos orientadores e colaboração e consultoria do professor de Física III.

A XXII SEMATEC & Encontro Escola Comunidade é um evento desenvolvido para

favorecer o contato da comunidade com as atividades científicas, tecnológicas, educacionais e

culturais, o que configura a prática do trabalho de extensão do campus. Nesse evento, que

ocorre anualmente, são oferecidas oficinas e minicursos, entre diversas atividades, sem

nenhum custo para os participantes, que ensejam habilidades profissionais, estratégias de

ensino, desenvolvimento artístico, e outras. Proporcionando, desta forma, um intercâmbio de

saberes e fazeres culturais e acadêmicos indispensáveis ao desenvolvimento dos alunos e

também da comunidade participante.

Para a apresentação do projeto (Figura 6.9) as alunas dispuseram de um conjunto de

maquetes para demonstrar e explicar conceitos como exoplanetas, distâncias astronômicas,

zona habitável, brilho das estrelas, magnitude aparente e magnitude absoluta entre outros.

Construíram uma pequena luneta de observação e realizaram a explicação dos fenômenos

óticos que a luneta apresentava, além de um mapa conceitual em formato de banner para

melhor visualização do objetivo do projeto. É preciso salientar que alguns conceitos trazidos

pelas alunas no projeto foram muito além daqueles trabalhados em sala de aula. Ressalta-se

também o grande teor de criatividade na montagem de todos os recursos didáticos.

117

Figura 6.9: Apresentação do projeto brilho das estrelas: a matemática que envolve a propagação de sua luz.

Após o término da apresentação do projeto, as alunas foram convidadas para a

cerimônia de encerramento do evento, e então foram notificadas sobre a premiação do projeto

Brilho das estrelas: a matemática que envolve a propagação de sua luz, premiado em

segundo lugar no ano de 2017, conforme a Figura 6.10.

Figura 6.10: Momento da entrega da premiação da XXII SEMATEC e XX Encontro Escola Comunidade 2017.

Na mesma semana em que o projeto foi apresentado para a comunidade, as autoras

receberam um convite de uma professora externa (de uma escola municipal do entorno) para

reapresentá-lo.

118

6.5.2 Reapresentação do projeto: quem aprende ensina

A reapresentação do projeto, na Figura 6.11, foi realizada em uma escola pública

municipal do Estado do Rio de Janeiro, tendo por público alvo alunos do segundo segmento

do ensino fundamental.

Figura 6.11: A visita do projeto a uma escola pública do entorno.

As alunas relataram que a experiência adquirida foi diferenciada, e uma delas afirma

que o mais interessante nessa experiência vivida foi a preocupação em: trazer coisas que o

aluno já conhece, para atraí-lo, e a partir daí, como um convite, apresentar o que ele não

conhece TA13.

A respeito da relação com todo o processo de construção e execução do projeto, uma

das alunas participantes considera que: esse projeto nos ajudou a entender que tudo está

relacionado, porque num primeiro momento era só magnitude aparente, mas depois isso nos

ajudou até em outras disciplinas.

As observações realizadas durante as apresentações denotaram uma apropriação do

tema de forma a relacioná-lo com outros campos de conhecimento como, por exemplo, a

Matemática. E a capacidade de ensinar o que aprenderam a outras pessoas se tornando

multiplicadoras desse conhecimento. Claramente as alunas captaram os significados do tema

e relacionaram a outros subsunçores bem elaborados concernentes a Matemática, e

materializaram esses conhecimentos com a criatividade na forma de materiais instrucionais.

Segundo Moraes (2005):

aquele ser que aprende, que atua na sua realidade, que constrói o conhecimento não

apenas usando o seu lado racional, mas também utilizando toda a

119

multidimensionalidade humana, todo o seu potencial criativo, o seu talento, a sua

intuição, o seus sentimentos, as suas sensações e emoções (p.84).

Nesse sentido da multidimensionalidade humana como colocada por Moraes, as alunas

puderam dar outro tom aos seus conhecimentos, transbordando os significados que a

aprendizagem estimulou. Possibilitando nessa ação a articulação de saberes que raramente são

conectados, dando outro contorno a realidade além do puramente compartimentalizado.

120

CAPÍTULO VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa teve por objetivo verificar se por meio da introdução de um tema

integrador haveria um estímulo à aprendizagem significativa dos conteúdos propostos em

diferentes disciplinas de ciências da natureza. Nessa perspectiva, a Astrobiologia é avaliada

como um excelente tema para ser trabalhado em sala de aula por despertar a curiosidade dos

alunos quanto a questões antigas e complexas da humanidade, como “de onde viemos e para

onde vamos?”, além de ser um assunto que recorrentemente é abordado nos filmes de ficção

científica, e claro, por ser uma área recente de grande repercussão nas mídias. Todos esses

elementos colaboram e justificam o acolhimento do conteúdo pelos alunos.

O tema, além de instigar a curiosidade, proporcionou a visualização das conexões

entre os assuntos ensinados em fragmentos disciplinares, oportunizando os alunos a olharem a

evolução por uma perspectiva cósmica, compreendendo-a como interdependente de variados

eventos anteriores, como a evolução do universo, evolução das estrelas, evolução do sistema

solar, evolução da Terra, evolução química, evolução das espécies até a evolução humana,

contribuindo para contextualização e para a interdisciplinaridade do assunto, favorecendo a

diferenciação progressiva e reconciliação integrativa no processo de enriquecimento dos

subsunçores da estrutura cognitiva do aprendiz.

Os resultados apresentados por meio de instrumentos avaliativos diferenciados

ilustram a evolução dos alunos, que inicialmente possuíam poucos conhecimentos prévios a

respeito do tema, e que ao longo da intervenção foram agregando significados. Um dos

instrumentos importantes nesse acompanhamento foram os mapas conceituais, que deram

suporte para o entendimento das facilidades e dificuldades ao longo do processo. Os alunos

nunca tiveram contato com os mapas conceituais anteriormente, e, no entanto, não ofereceram

nenhum tipo de resistência.

O jogo que foi utilizado como organizador prévio, o Astrobio GO, foi um valioso

instrumento de motivação, pois ajudou a envolver os alunos ainda mais com a temática, de

forma que ao final do jogo as duas turmas quiseram levar as pokébolas para casa. Outro

momento de grande envolvimento foi no desafio cientistas em ação: ambas as turmas se

empenharam ao máximo para desenvolver a argumentação necessária para justificar a escolha

do planeta que toda a humanidade iria habitar.

121

Nesse sentido, entende-se que as UEPS elaboradas foram exitosas por possibilitar a

aprendizagem significativa dos alunos por meio de evidências que residem na compreensão

dos conceitos e proposições forma clara, diferenciada e transferível. Uma evidência palpável

dessa intervenção foram os desdobramentos da pesquisa, que não foram planejados, o projeto

Brilho das estrelas demonstra que as alunas que participaram da pesquisa, conseguiram ir

além do desenvolvido em sala de aula, a ponto de construir outras inter-relações a partir do

tema.

A inserção do tema está intrinsecamente relacionada com uma mudança de paradigma

que ainda está enraizado nas escolas de maneira geral. Realizar a ruptura dessa ótica demanda

repensar o papel social da escola, não como um lugar para formar reprodutores, e sim, sujeitos

dotados de autonomia. Demanda uma formação de docentes que não priorize somente

conteúdo, mas o diálogo entre este e o mundo. Demanda uma remuneração adequada para que

os professores possam ter tempo no interior das escolas para fazer planejamentos de aula de

forma coletiva. Demanda um número reduzido de alunos para que as avaliações do percurso

da aprendizagem sejam mais elaboradas, e não condene o erro do aluno como ponto final, mas

como ponto de partida. Demanda uma redefinição de prioridades que compõem o cerne

educacional.

O paradigma tradicional deixou suas marcas que vão muito além da educação, estão

claramente na natureza, são fruto de um consumo desenfreado, que não possui interesse no

esgotamento dos recursos naturais, que apartou o homem da natureza. Introduzir o

pensamento sistêmico é trazer a consciência das consequências do uso abusivo dos recursos, é

saber que tudo se relaciona na natureza e, por conseguinte, tem o seu impacto.

Nos moldes tradicionais, que boa parte das escolas ainda apresenta, a aprendizagem

mecânica faz todo o sentido. O tempo nesse espaço escolar é recortado em disciplinas e

bimestres, as provas tentam mensurar somente o aqui e agora, não seria nada mais natural que

os professores recorressem à repetição e à memorização como uma maneira de preparar os

alunos. No entanto, o desafio é buscar a aproximação da outra ponta do espectro, a

aprendizagem significativa.

Nesse contexto a presente pesquisa buscou colaborar com alternativas que visem mais

agregar do que segregar, no sentido não só do conteúdo, mas de pessoas, sejam elas

professores, comunidade do entorno da escola, alunos, entre outros, dispostos a pensar juntos

122

os problemas que ainda impedem vislumbrar um pensamento sistêmico dentro do contexto

escolar.

123

REFERÊNCIAS

AGUIAR, W. M. J; BOCK, A. M. B. A dimensão subjetiva do processo educacional. São

Paulo: Cortez, 2016.

AUSUBEL, D. Aquisição e retenção de conhecimentos: Uma perspectiva cognitiva. Lisboa:

Editora Plátano, 2000.

______. The psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune and Stratton, 1963.

______; NOVAK, J.D; HANESIAN, H. Psicologia educacional. (trad. de Eva Nick et al.)

Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

BINDÉ, J. Complexidade e Crise da Representação. In: MENDES, C. Representação e

Complexidade Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 7-23.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução a teoria e

aos métodos. Porto Editora, 1982.

BOHM, D. A totalidade e a ordem implicada: uma nova percepção da realidade. 12. ed.

Trad.: Mauro de Campos Silva. São Paulo: Cultrix, 2001.

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Bases legais. Brasília: MEC,

2000.

CAPRA, F.; LUISI, P. L. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e suas

implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. São Paulo: Cultrix, 2014.

CAPRA, F.O ponto de mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo:

Cultrix 1982.

CARLETTI, C.; MASSARANI, L. O que pensam crianças brasileiras sobre a teoria da

evolução? Alexandria: Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, Florianópolis, v. 4, n.

2, p. 205-223, nov. 2011.

VASCONCELLOS, M. J. E. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 10. ed.

Campinas: Papirus, 2014.

COCKELL, C. S. From the Big Bang to the molecules of life. In: HORNECK, G;

RETTBERG, P. Complete Course in Astrobiology. Wiley, 2007.23-54.

DAMINELI, A.; DAMINELI, D. S. C. Origens da vida. Estud. av., São Paulo , v. 21, n.

59, p. 263-284, 2007 .

124

DE BECKER, M. Astrochemistry: the issue of molecular complexity in astrophysical

environments. Bulletin de la Société Royale des Sciences de Liège, Vol. 82, p. 33-94. 2013.

FERRI, A. A. V. Leitura e Ensino Interdisciplinar no Ensino Médio: um caminho

significativo e motivador para a aprendizagem de Língua Inglesa, 2007.

GADOTTI, M. Interdisciplinaridade: atitude e método. São Paulo: Instituto Paulo Freire,

2004.

GALANTE, D.; SILVA, E. P.; RODRIGUES, F.; HORVATH J. E.; AVELLAR, M. G. B.

Astrobiologia: uma ciência emergente. São Paulo: Tikinet Edição : IAG/USP, 2016.

GAMA. L. D.; HENRIQUE, A. B. Astronomia na sala de aula: por quê? Revista Latino

Americana de Educação em Astronomia, n.9, p. 6-15. 2010.

GONZALEZ, G.; BROWNLEE, D.; WARD, P. The galactic habitable zone: galactic

chemical evolution. Icarus, n. 152, p. 185–200. 2001

JAPIASSU, H. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro, Imago, 1976.

KRASILCHIK, M. Ensino de ciências e a formação do cidadão. Em aberto, v. 7, 1988.

KOBASHIGAWA, A. H; ATHAYDE, B. A. C; MATOS, K. F. O; CAMELO, M. H;

FALCONI, S. Estação ciência: formação de educadores para o ensino de ciências nas séries

iniciais do ensino fundamental. In: IV Seminário Nacional ABC na Educação Científica. São

Paulo, 2008. p. 212-217.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva. 1994.

______. Lógica da descoberta ou psicologia da pesquisa? In: LAKATOS, I.; MUSGRAVE,

A. (Orgs.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Edusp,

1979. p. 5-32.

LEHTO, H. J. From the Big Bang to the molecules of life. In: HORNECK, G; RETTBERG,

P. Complete Course in Astrobiology. Wiley, 2007.23-54. 2007.

LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São

Paulo, E.P.U., 1986.

MACIEL, W. J. Formação dos elementos químicos. Revista USP, Brasil, n. 62, p. 66-73,

2004.

MAYR, E. O que é a evolução. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2009. p. 342.

MENDONÇA, C. A. S. O uso do mapa conceitual progressivo como recurso facilitador da

aprendizagem significativa em Ciências Naturais e Biologia. 2012. 348 f. Tese de doutorado

(Programa Internacional de Doctorado Enseñanza de las Ciencias) – Departamento de

Didácticas Específicas, Universidade de Burgos.

125

MORAES, M. C. O Paradigma Educacional Emergente. Campinas, Papirus, 2005.

MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise textual discursiva. Ijuí: Unijuí, 2007.

MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa: A teoria de David Ausubel.

São Paulo: Centauro, 2016.

MOREIRA, M. A. Subsídios teóricos para o professor pesquisador em ensino de ciências: A

Teoria da aprendizagem significativa. Porto Alegre: 2ªed. 2016.

______. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Cadernos de Aplicação. v. 11 (2), p.

143-156, 1998.

______. Aprendizagem Significativa: a teoria e textos complementares. São Paulo: Editora

Livraria da Física, 2011a.

______. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária. 2ª

ed.,2011b.

______. Unidades de Enseñanza Potencialmente Significativas - UEPS. Aprendizagem

Significativa em Revista. Porto Alegre,v.1,n.2,p.43-63, 2011c.

______. Organizadores previos y aprendizaje significativo. Revista chilena de educación

científica, ISSN 0717-9618, Vol. 7, Nº. 2, 2008.

______. Pesquisa em Ensino: aspectos metodológicos. Actas del PIDEC: Programa

internacional de Doctorado en Enseñanza de las Ciencias, 5, 101-136. 2003.

MORIN, E. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS, Francisco M.;

SILVA, Juremir M. (Org.) Para navegar no século XXI: tecnologias do imaginário e

cibercultura. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2000, pp. 19-42.

______. Ciência com Consciência. Ed. Publicações Europa-América, Lda, Portugal: 2005.

______. A Necessidade de um Pensamento Complexo. In: MENDES, C. Representação e

Complexidade Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 69-79.

NASA. Nasa Astrobiology Institute – NAI. About Astrobiology. Set. 2014. Disponível em:

<https://astrobiology.nasa.gov/about-astrobiology/>. Acesso em: jan. 2018.

NOVAK, J. D.; CAÑAS, A. J. A teoria subjacente aos mapas conceituais e como elaborá- los

e usá-los. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.5, n.1, p 9-29, jan.-jun. 2010.

NOVAK, J. D.;GOWIN, D. B. Aprender a aprender. Lisboa. Plátano Edições Técnicas.

Tradução ao português, de Carla Valadares, do original Learning how to learn, 1996.

126

PAULINO-LIMA, I. G.; LAGE, C. A. S. Astrobiologia: definição, aplicações, perspectivas e

panorama brasileiro. Boletim da Sociedade Astronômica Brasileira. v. 29, n. 1, p. 14-21,

2010.

POMBO, O. Epistemologia da interdisciplinaridade. Ideação, 10, 9-40. 2008.

PRIGOGINE, I. O fim das certezas: tempo, caos e leis da natureza. Tradução Roberto Leal

Ferreira. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996.

QUILLFELDT, J. A. Astrobiologia: água e vida no sistema solar e além. Cad. Bras. Ens. Fís.,

v. 27, n. Especial, p. 685-697, 2010.

RAMPELOTTO, P. H. A química da vida como nós não conhecemos. Quím. Nova, São

Paulo, v. 35, n. 8, p. 1619-1627, 2012.

SAGAN, C. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.

São Paulo: Companhia das Letras. 2006

STALEY, J. T. Astrobiology, the transcendent science: the promise of astrobiology as an

integrative approach for science and engineering education and research. Curr. Opin.

Biotechnol. 14, 347–354, 2003.

127

APÊNDICE A – Unidade de Ensino Potencialmente Significativa sobre Astrobiologia

128

1.

2.

3.

Questionário prévio (ver Apêndice B) para levantamento dos conhecimentos

prévios dos alunos a respeito do tema.

[Tempo estimado: 30 minutos]

Análise do questionário prévio e elaboração das aulas.

[Tempo estimado: 6h]

Exposição sobre como elaborar um mapa conceitual. [Tempo estimado: 20min]

Foi apresentado aos alunos a ferramenta mapa conceitual dando um exemplo de aplicação para que eles

pudessem ter ideia de como poderia ser feito o seu próprio mapa. O exemplo em questão foi o futebol.

Tópico específico: Astrobiologia

Aspectos declarativos: Teoria do Big Bang, nucleossíntese primordial, fusão nuclear,

formação dos elementos químicos mais pesados, evolução estelar, teoria nebular, zonação

mineralógica, hipótese do grande impacto, biogênese, biogênese, origem química da vida,

panspermia, extremófilos, albedo, efeito estufa, zona habitável, satélites naturais de Saturno

e Júpiter, exoplanetas, bioassinatura, missão garatéa-L, pseudociência, ciência.

Aspectos Procedimentais: relacionar diferentes disciplinas, construir mapas conceituais.

[Tempo estimado: 1h-2h]

129

Organizador prévio- Astrobio GO [Tempo estimado: 50 min.]

A proposta introdutória do tema elucidado foi executada por meio de uma dinâmica que fez

referência ao aplicativo que tem ganhado muitos adeptos desde a sua estreia no Brasil. O aplicativo além

de explorar a realidade virtual, traz de volta a história de um desenho chamado Pokémon, muito famoso

na década de 90. No desenho existiam pokémons que se assemelhavam a animais como anfíbios, répteis,

artrópodes entre outros que viviam livremente na natureza. No entanto, os treinadores Pokémon deveriam

capturá-los na natureza e treiná-los para que, em luta, pudessem ganhar mais criaturas, ou seja, pokémons.

Estes seres passavam também por evoluções ao longo do desenho da mesma forma que ocorre no

aplicativo. E para capturá-los necessitava-se de pokébolas. A Figura 1 mostra parte do layout do

aplicativo.

Figura 1: Interface do jogo Pokémon Go®.

Fonte: http://www.farmdog.tv/pokemon/

Pensando nisso, foi realizada uma apresentação de slides, sem adentrar no tema profundamente

como prevê o terceiro passo da UEPS. Houve espaço para trabalhar a desconstrução de um conceito

empregado de uma forma no jogo, mas, que no contexto biológico pode induzir ao erro, que é o conceito

evolução. No jogo quanto mais um pokémon adquiri habilidades mais ele “evolui”, no entanto, o conceito

de evolução na Biologia é entendido por um processo no qual ocorrem mudanças nas características

hereditárias de uma população de seres vivos de uma geração para outra. Entretanto o que os pokémons

realizam não é uma evolução, e sim, uma metamorfose que é entendida como uma mudança na forma e na

estrutura do corpo bem como um crescimento e uma diferenciação, dos estados juvenis ou larvares de

muitos animais, como os insetos e anfíbios até chegarem ao estado adulto. Para ilustrar essa diferença

apresenta-se (Figura 2) dois exemplos de pokémons com as suas respectivas evoluções.

3. Construção do primeiro mapa conceitual individual- MCI

[Tempo estimado: 30 min]

A construção do primeiro mapa tem por objetivo averiguar os conhecimentos prévios dos alunos a

respeito do tema que ainda seria trabalhado.

130

3.

Em seguida foi exposta a dinâmica “Astrobio GO” que consistia em um quiz de perguntas e

respostas relativas a curiosidades sobre o campo da astrobiologia. A turma foi dividida em quatro

grupos (teams), em que cada grupo detinha uma pokébola com perguntas relacionadas ao tema

astrobiologia, de forma a desmistificar os conhecimentos prévios e/ou alternativos dos alunos

expressos por meio do questionário pré-teste. As perguntas desse terceiro passo da UEPS

funcionaram como organizadores prévios para introduzir o assunto, mas não com a intenção de

começar a ensiná-lo.

Figura 3: Imagem dos Teams em (A, B e C). Imagem da pokébola fechada (D) e aberta (E).

Fonte: Elaboração própria.

A B

C D E

A primeira evolução começa com a caterpie inspirada em uma lagarta chamada Papilio

troilus, a evolução desta lagarta dará origem ao metapod que seria o estágio de casulo da lagarta

e por último a butterfree que é estágio final da metamorfose da borboleta. Da mesma forma a

outra espécie em evolução, abaixo, corresponde a beedril que foi inspirada em uma vespa, e

passa pelos mesmos processos de metamorfose que a caterpie, esses insetos biologicamente

seriam classificados como holometábolo por realizarem sua metamorfose completa.

Figura 2: Evolução dos pokémons.

Fonte: Elaboração própria.

131

3.

4.

Ao final da dinâmica foi exposto um vídeo chamado “o pálido ponto azul” do

astrônomo e divulgador científico Carl Sagan. O vídeo (Figura 4) traz uma reflexão sobre a

posição da Terra e dos seres humanos em relação à imensidão cósmica, e como ela nos remete

a uma posição de humildade sobre nossas relações aqui na Terra. Terminando assim o terceiro

passo da UEPS.

Figura 4: Imagem feita pela da Voyager 1 e o ponto circulado em azul é a Terra.

Fonte: (Youtube/Reprodução).

Vídeo de contextualização - Rockstar e a origem do metal: uma história sobre os

átomos e as estrelas.

[Tempo estimado: 15 min.]

O vídeo é sobre uma animação de um jovem rockstar (Figura 5) que se questiona

sobre a origem da existência do elemento químico ferro (Fe). A pergunta é

construída a partir da percepção do jovem sobre a presença deste elemento químico

no aço da sua guitarra, e também em seu sangue dentro das suas hemácias. Com

essa curiosidade inicial estabelecida vai sendo trabalhado o conceito de evolução

das estrelas até o surgimento e dispersão do ferro, e o jovem chega à conclusão que

todos nós carregamos parte de uma estrela. O objetivo deste vídeo era

contextualizar o assunto que seria posteriormente elucidado.

Apresentação do vídeo “o pálido ponto azul” do Carl Sagan.

[Tempo estimado: 15 min.]

132

Figura 5: Rockstar e a origem do metal.

Fonte: (Youtube/Reprodução).

4.

Aula dialogada sobre o que é o campo astrobiologia, teoria do Big Bang,

nucleossíntese primordial, fusão nuclear, formação dos elementos químicos

mais pesados, evolução estelar.

[Tempo estimado: 55 min.]

Primeiro mapa conceitual em grupo – MCII.

[Tempo estimado: 30 min.]

O mapa conceitual em grupo foi proposto a fim de viabilizar um trabalho

colaborativo com negociação de significados entre os alunos. Após a

construção do mapa foi feita a exposição para toda a classe, conforme a

Figura 6.

Figura 6: Apresentação do mapa conceitual em grupo.

133

5. Aula dialogada sobre teoria nebular, zonação mineralógica, hipótese do

grande impacto, biogênese, abiogênese, origem química da vida,

panspermia, extremófilos, albedo, efeito estufa, zona habitável.

[Tempo estimado: 55 min.]

Segundo mapa conceitual em grupo – MC- GII.

[Tempo estimado: 30 min.]

Aula dialogada sobre satélites naturais de Saturno e Júpiter, exoplanetas,

bioassinatura, missão garatéa-L, pseudociência, ciência.

[Tempo estimado: 55 min.]

6.

Debate em grupo sobre ciência x pseudociência.

[Tempo estimado: 55 min.]

Foi realizado um sorteio de temas ligados à ciência como astronomia, astrobiologia

e a pseudociência como astrologia e ufologia. Os quatro grupos deveriam defender o

seu tema para a turma como se o seu tema fosse científico, e no final, o grupo que

convencesse a maioria da turma seria o grupo ganhador. A Figura 7 mostra o

momento de um dos debates.

Figura 7: Apresentação do tema do debate para a turma.

134

Aula dialogada articulando os conceitos vistos sob uma perspectiva integradora

do tema.

[Tempo estimado: 40 min.]

Foram retomados os conceitos apresentados ao longo das UEPS para

reapresentar o tema por um ângulo mais amplo, deixando evidente a

reconciliação integrativa e a diferenciação progressiva.

6.

7. Construção do segundo mapa conceitual individual – MCII.

[Tempo estimado: 40 min.]

8. Realização do desafio cientista em ação (situação-problema).

[Tempo estimado: 30 min.]

Foi proposto um desafio para os alunos da seguinte forma:

O nosso sistema solar está com os dias contados, no entanto, já

possuímos tecnologia suficiente para alcançar outros sistemas

planetários. De última hora ligaram para você - o melhor cientista de

todos os tempos - para que pudesse dizer para qual outro PLANETA

toda a HUMANIDADE iria. E você RESPONDE que...

JUSTIFICANDO que...

Os alunos deveriam responder, em forma de texto, de acordo com os

assuntos que foram trabalhados em sala de aula.

Aplicação do questionário pós.

[Tempo estimado: 30 min.]

O questionário foi aplicado para verificar se houve uma mudança em

relação aos conhecimentos prévios dos alunos.

135

APÊNDICE B – Questionário Prévio

Questionário

Sexo: Masc. Fem. Idade __________

1. Qual disciplina você tem mais afinidade___________________________________________ Por quê?____________________________________________________________________

2. Com relação à origem, evolução e manutenção da vida, para vocês, quais disciplinas falam sobre

essas questões? Justifique:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3. Você já ouviu falar de Astrobiologia?

Sim Não

Em caso afirmativo, fale um pouco sobre o que você sabe:___________________________

__________________________________________________________________________

4. Você acha que as disciplinas que você estuda podem se relacionar entre si?

Sim Não

Em caso afirmativo cite exemplo(s):______________________________________________

5. Nas suas aulas os professores conseguem fazer relações entre a matéria e recentes fatos

científicos?

Sim, mas com pouca frequência. Sim, com muita frequência.

Não, só quando solicitado. Não, em nenhuma ocasião.

Em caso afirmativo cite exemplo(s): _____________________________________________

136

6. Você acredita ser possível vida fora da terra, por exemplo, em outro planeta?

Sim Não

Por quê? _________________________________________________________________

7. Se houvesse vida fora da terra como ela seria?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

8. Você já ouviu falar da descoberta de planetas fora do Sistema Solar, ou seja, planetas que orbitam

outras estrelas ao invés de orbitar o Sol?

Sim Não

Onde escutou?

Facebook Jornal Televisão Em sala de aula

Planetário Museu Filme Outro: _____________

9. Você sabe o que é Ufologia? Sim Não

Em caso afirmativo poderia ser definida como uma ciência? Justifique.

_____________________________________________________________________________

10. Descobertas recentes mostram a existência de água em algumas luas de planetas do

nosso sistema solar. Qual disciplina que discute sobre essas questões?

Química Física História Geografia Matemática Português

Biologia Filosofia Sociologia Literatura Artes Nenhuma delas

Outro: ________

11. Você se interessa por Astronomia?

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________

137

12. Astrologia e Astronomia querem dizer a mesma coisa?

Sim Não

Por quê? ___________________________________________________________

13. Quais dos itens abaixo você mais gosta em sala de aula?

Livro didático Quadro e caneta Textos Vídeos

Slides Jogos didáticos Experimentos laboratoriais Outros: ________

14. O que torna uma aula mais atrativa para você?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

15. Por que aprender ciências (Química, Física e Biologia)?

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

Obrigada por participar!

138

APÊNDICE C – Questionário Pós-UEPS

Questionário

Sexo: Masc. Fem. Idade __________

1. Qual disciplina você tem mais afinidade___________________________________________ Por quê?_______________________________________________________________________

2. Com relação à origem, evolução e manutenção da vida, para vocês, quais disciplinas falam sobre

essas questões? Justifique:

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

3. Você já ouviu falar de Astrobiologia?

Sim Não

Em caso afirmativo, fale um pouco sobre o que você sabe:_________________________________

________________________________________________________________________________

4. Você acha que as disciplinas que você estuda podem se relacionar entre si?

Sim Não

Em caso afirmativo cite exemplo(s):______________________________________________

5. Nas suas aulas os professores conseguem fazer relações entre a matéria e recentes fatos

científicos?

Sim, mas com pouca frequência. Sim, com muita frequência.

Não, só quando solicitado. Não, em nenhuma ocasião.

139

Em caso afirmativo cite exemplo(s): _____________________________________________

6. Você acredita ser possível vida fora da terra, por exemplo, em outro planeta?

Sim Não

Por quê? _________________________________________________________________

7. Se houvesse vida fora da terra como ela seria?

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

_______________________________________________________________________________

8. Você já ouviu falar da descoberta de planetas fora do Sistema Solar, ou seja, planetas que orbitam

outras estrelas ao invés de orbitar o Sol?

Sim Não

Onde escutou?

Facebook Jornal Televisão Em sala de aula

Planetário Museu Filme Outro: _____________

9. Você sabe o que é Ufologia?

Sim Não

Em caso afirmativo poderia ser definida como uma ciência? Justifique.

_____________________________________________________________________________

10. Descobertas recentes mostram a existência de água em algumas luas de planetas do

nosso sistema solar. Qual disciplina que discute sobre essas questões?

Química Física História Geografia Matemática Português

Biologia Filosofia Sociologia Literatura Artes Nenhuma delas

Outro: ________

11. Astrologia e Astronomia querem dizer a mesma coisa?

Sim Não

Por quê? ___________________________________________________________

140

12. Quais dos itens abaixo você mais gosta em sala de aula?

Livro didático Quadro e caneta Textos Vídeos

Slides Jogos didáticos Experimentos laboratoriais Outros: ________

13. O que torna uma aula mais atrativa para você?

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

14. Ressalte os pontos positivos e negativos de ter estudado Astrobiologia:

Positivos Negativos

15. O que você teria a dizer sobre as atividades que foram executadas?

16. O que você sugere de mudança nas aulas executadas?

141

17. Como você avalia as aulas ministradas?

Ótimo Muito Bom Bom Regular Ruim Péssimo

Obrigada por participar!

142

APÊNDICE D – Quiz Astrobio GO

143

144