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5 JORNAL DA UNICAMP Campinas, 11 a 17 de agosto de 2008 MANUEL ALVES FILHO [email protected] s mudanças climáticas em curso no planeta deverão impactar profundamente o setor agrícola brasi- leiro, a ponto de alte- rar a geografia da pro- dução nacional. A projeção é de uma pesquisa inédita desenvolvida por pes- quisadores da Unicamp em parceria com a Embrapa Informática Agro- pecuária, encomendada e financiada pela Embaixada Britânica no Brasil. O estudo, que dividiu o território do país em porções de 50 quilômetros quadra- dos, estabeleceu dois cenários diferen- tes para o comportamento de nove cul- turas (algodão, arroz, café arábica, cana-de-açúcar, feijão, girassol, man- dioca, milho e soja), tendo em vista o avanço do aquecimento global nos anos de 2020, 2050 e 2070. No mais pessimista deles, a soja sofreria perda de área da ordem de 40% em 2070. Já o café registraria redução de 33% no mesmo período, e deixaria os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, para migrar em direção a Santa Cata- rina e Rio Grande do Sul, onde as con- dições se tornariam mais favoráveis. As perdas financeiras, no panorama mais dramático, chegariam a R$ 14 bilhões ao ano em relação à safra de grãos. Conforme o trabalho, apenas a cana- de-açúcar e a mandioca seriam benefi- ciadas com o gradual aumento de tem- peratura. Batizado de Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Bra- sileira, o trabalho elaborado pelos pes- quisadores da Unicamp e Embrapa constitui uma espécie de versão local do Relatório Stern, documento também encomendado pelo governo britânico e tornado público em outubro de 2006. Na época, uma equipe comandada por Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, concluiu que o Pro- duto Interno Bruto (BIP) mundial so- freria uma redução de 3% (algo como US$ 1,3 trilhão) ao ano caso a tempe- ratura do planeta se eleve em 3 graus Celsius. No caso brasileiro, conforme o recente estudo, as perdas não seriam obviamente tão gigantescas, mas já seriam suficientes para produzir impor- tantes impactos econômicos e sociais. De acordo com um dos coordena- dores do relatório brasileiro, professor Hilton Silveira Pinto, diretor-associa- do do Centro de Pesquisas Meteo- rológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), órgão da Uni- camp, se nada for feito para mitigar os efeitos do aquecimento global e adap- tar as culturas às futuras condições cli- máticas do país, o Brasil pode amar- gar perdas de R$ 7,4 bilhões na safra de grãos em 2020. Em 2070, esse va- lor tenderia a alcançar R$ 14 bilhões. “Não se trata de fazer terrorismo, mas sim de estabelecer cenários factíveis baseados em metodologias compro- vadamente eficazes. A intenção do tra- balho é proporcionar aos tomadores de decisão, tanto na esfera pública quan- to privada, um instrumento que possa orientar ações e políticas públicas que pretendam enfrentar seriamente o pro- blema”, explica. O foco do estudo, que consumiu dez meses de trabalho e R$ 530 mil em in- vestimentos, foi definir a atual e a fu- tura situação da agropecuária brasilei- ra, no que se refere à geografia de pro- dução. Para isso, os pesquisadores se valeram de uma tecnologia denomina- da Zoneamento de Riscos Climáticos, desenvolvido em 1995 pelos ministé- rios da Agricultura e do Desenvolvi- mento Agrário, em cooperação com o Cepagri, a Embrapa Informática Agropecuária e outras instituições de pesquisa. Atualmente, o zoneamento norteia as políticas de financiamento e de seguro agrícola no país. Dito de maneira simplificada, os especialistas criaram um mapa que indica qual a probabilidade de sucesso do plantio de uma determinada cultura num dado local, tendo em vista o comportamen- to do clima. “Com base nessa experi- ência, nós simulamos o que pode acon- tecer com a agricultura brasileira em face do processo de aquecimento glo- bal”, esclarece o professor Hilton. A tarefa, porém, não foi tão trivial quanto pode parecer à primeira vista. Na prática, os pesquisadores tiveram que refinar os dados já existentes, de maneira a obter mais detalhes sobre o possível comportamento das nove cul- turas tomadas para análise, em face do projetado aumento de temperatura. As informações anteriores, destaca o di- retor-associado do Cepagri, foram for- muladas com base nas projeções reali- zadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Ocorre, porém, que o IPCC considera o aquecimento global como um fenômeno que afetaria o mundo de forma homogênea, o que é pouco provável. Ademais, o organis- mo considera uma grade mundial uni- forme de 110 quilômetros quadrados para formular suas previsões. No modelo proposto pelo novo es- tudo, o Brasil foi dividido em áreas menores, de apenas 50 quilômetros quadrados. Além disso, foi considera- como 33% de sua área em 2070, prin- cipalmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, o que repre- sentaria um prejuízo financeiro de cer- ca de R$ 3 bilhões. O dado atenuante é que haveria uma tendência de incre- mento da produção em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “Entretanto, essa migração não é tão fácil de ser feita. Um fator complicador deve ser a mão- de-obra. Num lugar onde tradicional- mente nunca se plantou café, é bem provável que não haja pessoal prepa- rado para lidar com esse tipo de cultu- ra”, assinala Eduardo Assad. Cana Mas nem todas as nove culturas tomadas para estudo pelos pesquisado- res da Unicamp e Embrapa, que no conjunto representam 86% do BIP agrí- cola brasileiro, seriam afetadas nega- tivamente pelo processo de aquecimen- to global. A cana-de-açúcar seria be- neficiada, segundo a pesquisa. No caso dessa planta haveria até mesmo um sig- nificativo incremento tanto da área plantada quanto dos recursos advindos da sua exploração. Localidades do Sul do país, que hoje apresentam restrições ao cultivo da cana, podem se transfor- mar em regiões com razoável potenci- al produtivo. A expectativa apontada pelo trabalho é que a cultura, que atu- almente ocupa 6 milhões de hectares, passe a tomar 17 milhões de hectares em 2020, considerando-se o cenário B2. Com essa expansão, os recursos gerados pelo setor subiriam de R$ 17 bilhões para R$ 29 bilhões no período. Todavia, caso a temperatura conti- nue subindo, a tendência é que esse desempenho seja prejudicado, visto que a cultura se tornaria mais depen- dente de irrigação. Nesse caso, ainda levando em consideração o cenário B2, a área cultivada cairia em 2070 para 15 milhões de hectares e o faturamento, para R$ 24 bilhões. No caso do cená- rio A2, o mais dramático em termos de variação climática, a cana atingiria, em 2020, 16 milhões de hectares de área cultivada, regredindo para 13 milhões cinco décadas depois. Em termos fi- nanceiros, o valor de produção bateria em R$ 27 bilhões no primeiro momen- to e 20 bilhões, no segundo. “Embora a cana-de-açúcar possa vir a apresen- tar ganhos financeiros nos cenários descritos, essa possibilidade também representa um risco. É sabido que a pior coisa que pode acontecer a um país é ele basear a sua agricultura em cima de um único produto”, alerta o profes- sor Hilton. da a variação térmica regional, tendo como base trabalhos desenvolvidos pelo Hadley Centre, na Grã Bretanha, e pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cpetec), órgão vinculado ao Instituto Nacional de Pes- quisas Espaciais (Inpe). “Com isso, nós conseguimos pormenorizar os dados e refinar ainda mais as simulações”, afir- ma o professor Hilton. As projeções que emergem do trabalho, registre-se, são no mínimo preocupantes. “Elas revelam que a nossa agricultura estará vulnerável nos cenários que delinea- mos”, adverte o outro coordenador da pesquisa, Eduardo Delgado Assad, che- fe-geral da Embrapa Informática Agropecuária. Como dito anteriormente, o estudo estabeleceu dois cenários possíveis. O primeiro deles, denominado A2, é o mais pessimista. Nesse caso, o aumen- to de temperatura seria da ordem de 2 a 5,4 graus Celsius. O segundo, menos dramático, batizado de B2, trabalha com uma variação de 1,4 a 3,8 graus Celsius no mesmo período. A partir desses parâmetros, o relatório estima que o algodão, por exemplo, sofreria um impacto negativo de R$ 312 mi- lhões em 2020, R$ 401 milhões em 2050 e 444,8 milhões em 2070, tendo como referência a situação B2. No ce- nário A2, as perdas seriam, respecti- vamente, de R$ 313 milhões, R$ 407 milhões e R$ 456 milhões. A redução da área apta para plantio da cultura se- ria de 11% em 2020 e de 16% em 2070 em ambos os cenários. A soja, cultura mais vulnerável à possível variação térmica, é a que mais deve sofrer impactos negativos com a elevação da temperatura, conforme o estudo promovido pelos pesquisadores da Unicamp e Embrapa. As simulações demonstram que as regiões ao Sul do país e as localizadas nos cerrados nor- destinos serão fortemente prejudicadas. No cenário A2, a perda de área culti- vável pode chegar a 40% em 2070. “Isso em decorrência da redução da disponibilidade hídrica e do possível impacto dos veranicos mais intensos”, esclarece o professor Hilton. Em ter- mos financeiros, o prejuízo alcançaria a cifra de R$ 7,6 bilhões, praticamente metade das perdas que a agricultura brasileira registraria naquele ano. Quanto ao café arábica, as simula- ções presentes na pesquisa confirmam estudos anteriores promovidos pelos próprios pesquisadores da Unicamp e Embrapa Informática. No cenário mais pessimista, a cultura perderia algo Tempo ruim para A a agricultura Estudos desenvolvidos por pesquisadores da Unicamp e da Embrapa projetam que mudanças climáticas causarão grandes prejuízos ao setor agrícola brasileiro Continua nas páginas 6 e 7 a agricultura O rio Tapajós, um dos principais afluentes do Amazonas, sofre as conseqüências da seca que atingiu a região amazônica no final de 2005: mudanças climáticas podem gerar perdas de até R$ 14 bilhões (Foto: Renato Stockler/ Folha Imagem)

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Page 1: Campinas, 11 a 17 de agosto de 2008 Tempo ruim para a … · 2008. 8. 8. · vável pode chegar a 40% em 2070. “Isso em decorrência da redução da disponibilidade hídrica e do

5JORNAL DA UNICAMPCampinas, 11 a 17 de agosto de 2008

MANUEL ALVES FILHO

[email protected]

s mudanças climáticas emcurso no planeta deverão

impactar profundamenteo setor agrícola brasi-

leiro, a ponto de alte-rar a geografia da pro-

dução nacional. A projeção é de umapesquisa inédita desenvolvida por pes-quisadores da Unicamp em parceriacom a Embrapa Informática Agro-pecuária, encomendada e financiadapela Embaixada Britânica no Brasil. Oestudo, que dividiu o território do paísem porções de 50 quilômetros quadra-dos, estabeleceu dois cenários diferen-tes para o comportamento de nove cul-turas (algodão, arroz, café arábica,cana-de-açúcar, feijão, girassol, man-dioca, milho e soja), tendo em vista oavanço do aquecimento global nosanos de 2020, 2050 e 2070. No maispessimista deles, a soja sofreria perdade área da ordem de 40% em 2070. Jáo café registraria redução de 33% nomesmo período, e deixaria os estadosde São Paulo, Minas Gerais e Paraná,para migrar em direção a Santa Cata-rina e Rio Grande do Sul, onde as con-dições se tornariam mais favoráveis. Asperdas financeiras, no panorama maisdramático, chegariam a R$ 14 bilhõesao ano em relação à safra de grãos.Conforme o trabalho, apenas a cana-de-açúcar e a mandioca seriam benefi-ciadas com o gradual aumento de tem-peratura.

Batizado de Aquecimento Global eCenários Futuros da Agricultura Bra-sileira, o trabalho elaborado pelos pes-quisadores da Unicamp e Embrapaconstitui uma espécie de versão localdo Relatório Stern, documento tambémencomendado pelo governo britânicoe tornado público em outubro de 2006.Na época, uma equipe comandada porNicholas Stern, ex-economista-chefedo Banco Mundial, concluiu que o Pro-duto Interno Bruto (BIP) mundial so-freria uma redução de 3% (algo comoUS$ 1,3 trilhão) ao ano caso a tempe-ratura do planeta se eleve em 3 grausCelsius. No caso brasileiro, conformeo recente estudo, as perdas não seriamobviamente tão gigantescas, mas jáseriam suficientes para produzir impor-tantes impactos econômicos e sociais.

De acordo com um dos coordena-dores do relatório brasileiro, professorHilton Silveira Pinto, diretor-associa-do do Centro de Pesquisas Meteo-rológicas e Climáticas Aplicadas àAgricultura (Cepagri), órgão da Uni-camp, se nada for feito para mitigar osefeitos do aquecimento global e adap-tar as culturas às futuras condições cli-máticas do país, o Brasil pode amar-gar perdas de R$ 7,4 bilhões na safrade grãos em 2020. Em 2070, esse va-lor tenderia a alcançar R$ 14 bilhões.“Não se trata de fazer terrorismo, massim de estabelecer cenários factíveisbaseados em metodologias compro-vadamente eficazes. A intenção do tra-balho é proporcionar aos tomadores dedecisão, tanto na esfera pública quan-to privada, um instrumento que possaorientar ações e políticas públicas quepretendam enfrentar seriamente o pro-blema”, explica.

O foco do estudo, que consumiu dezmeses de trabalho e R$ 530 mil em in-vestimentos, foi definir a atual e a fu-tura situação da agropecuária brasilei-ra, no que se refere à geografia de pro-dução. Para isso, os pesquisadores sevaleram de uma tecnologia denomina-da Zoneamento de Riscos Climáticos,desenvolvido em 1995 pelos ministé-rios da Agricultura e do Desenvolvi-mento Agrário, em cooperação com oCepagri, a Embrapa InformáticaAgropecuária e outras instituições depesquisa. Atualmente, o zoneamentonorteia as políticas de financiamento ede seguro agrícola no país. Dito demaneira simplificada, os especialistascriaram um mapa que indica qual aprobabilidade de sucesso do plantio de

uma determinada cultura num dadolocal, tendo em vista o comportamen-to do clima. “Com base nessa experi-ência, nós simulamos o que pode acon-tecer com a agricultura brasileira emface do processo de aquecimento glo-bal”, esclarece o professor Hilton.

A tarefa, porém, não foi tão trivialquanto pode parecer à primeira vista.Na prática, os pesquisadores tiveramque refinar os dados já existentes, demaneira a obter mais detalhes sobre opossível comportamento das nove cul-turas tomadas para análise, em face doprojetado aumento de temperatura. Asinformações anteriores, destaca o di-retor-associado do Cepagri, foram for-muladas com base nas projeções reali-zadas pelo Painel Intergovernamentalsobre Mudanças Climáticas (IPCC, nasigla em inglês). Ocorre, porém, que oIPCC considera o aquecimento globalcomo um fenômeno que afetaria omundo de forma homogênea, o que épouco provável. Ademais, o organis-mo considera uma grade mundial uni-forme de 110 quilômetros quadradospara formular suas previsões.

No modelo proposto pelo novo es-tudo, o Brasil foi dividido em áreasmenores, de apenas 50 quilômetrosquadrados. Além disso, foi considera-

como 33% de sua área em 2070, prin-cipalmente nos estados de São Paulo,Minas Gerais e Paraná, o que repre-sentaria um prejuízo financeiro de cer-ca de R$ 3 bilhões. O dado atenuante éque haveria uma tendência de incre-mento da produção em Santa Catarinae Rio Grande do Sul. “Entretanto, essamigração não é tão fácil de ser feita.Um fator complicador deve ser a mão-de-obra. Num lugar onde tradicional-mente nunca se plantou café, é bemprovável que não haja pessoal prepa-rado para lidar com esse tipo de cultu-ra”, assinala Eduardo Assad.

CanaMas nem todas as nove culturas

tomadas para estudo pelos pesquisado-res da Unicamp e Embrapa, que noconjunto representam 86% do BIP agrí-cola brasileiro, seriam afetadas nega-tivamente pelo processo de aquecimen-to global. A cana-de-açúcar seria be-neficiada, segundo a pesquisa. No casodessa planta haveria até mesmo um sig-nificativo incremento tanto da áreaplantada quanto dos recursos advindosda sua exploração. Localidades do Suldo país, que hoje apresentam restriçõesao cultivo da cana, podem se transfor-mar em regiões com razoável potenci-al produtivo. A expectativa apontadapelo trabalho é que a cultura, que atu-almente ocupa 6 milhões de hectares,passe a tomar 17 milhões de hectaresem 2020, considerando-se o cenárioB2. Com essa expansão, os recursosgerados pelo setor subiriam de R$ 17bilhões para R$ 29 bilhões no período.

Todavia, caso a temperatura conti-nue subindo, a tendência é que essedesempenho seja prejudicado, vistoque a cultura se tornaria mais depen-dente de irrigação. Nesse caso, aindalevando em consideração o cenário B2,a área cultivada cairia em 2070 para15 milhões de hectares e o faturamento,para R$ 24 bilhões. No caso do cená-rio A2, o mais dramático em termos devariação climática, a cana atingiria, em2020, 16 milhões de hectares de áreacultivada, regredindo para 13 milhõescinco décadas depois. Em termos fi-nanceiros, o valor de produção bateriaem R$ 27 bilhões no primeiro momen-to e 20 bilhões, no segundo. “Emboraa cana-de-açúcar possa vir a apresen-tar ganhos financeiros nos cenáriosdescritos, essa possibilidade tambémrepresenta um risco. É sabido que apior coisa que pode acontecer a um paísé ele basear a sua agricultura em cimade um único produto”, alerta o profes-sor Hilton.

da a variação térmica regional, tendocomo base trabalhos desenvolvidospelo Hadley Centre, na Grã Bretanha,e pelo Centro de Previsão de Tempo eEstudos Climáticos (Cpetec), órgãovinculado ao Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe). “Com isso, nósconseguimos pormenorizar os dados erefinar ainda mais as simulações”, afir-ma o professor Hilton. As projeçõesque emergem do trabalho, registre-se,são no mínimo preocupantes. “Elasrevelam que a nossa agricultura estarávulnerável nos cenários que delinea-mos”, adverte o outro coordenador dapesquisa, Eduardo Delgado Assad, che-fe-geral da Embrapa InformáticaAgropecuária.

Como dito anteriormente, o estudoestabeleceu dois cenários possíveis. Oprimeiro deles, denominado A2, é omais pessimista. Nesse caso, o aumen-to de temperatura seria da ordem de 2a 5,4 graus Celsius. O segundo, menosdramático, batizado de B2, trabalhacom uma variação de 1,4 a 3,8 grausCelsius no mesmo período. A partirdesses parâmetros, o relatório estimaque o algodão, por exemplo, sofreriaum impacto negativo de R$ 312 mi-lhões em 2020, R$ 401 milhões em2050 e 444,8 milhões em 2070, tendo

como referência a situação B2. No ce-nário A2, as perdas seriam, respecti-vamente, de R$ 313 milhões, R$ 407milhões e R$ 456 milhões. A reduçãoda área apta para plantio da cultura se-ria de 11% em 2020 e de 16% em 2070em ambos os cenários.

A soja, cultura mais vulnerável àpossível variação térmica, é a que maisdeve sofrer impactos negativos com aelevação da temperatura, conforme oestudo promovido pelos pesquisadoresda Unicamp e Embrapa. As simulaçõesdemonstram que as regiões ao Sul dopaís e as localizadas nos cerrados nor-destinos serão fortemente prejudicadas.No cenário A2, a perda de área culti-vável pode chegar a 40% em 2070.“Isso em decorrência da redução dadisponibilidade hídrica e do possívelimpacto dos veranicos mais intensos”,esclarece o professor Hilton. Em ter-mos financeiros, o prejuízo alcançariaa cifra de R$ 7,6 bilhões, praticamentemetade das perdas que a agriculturabrasileira registraria naquele ano.

Quanto ao café arábica, as simula-ções presentes na pesquisa confirmamestudos anteriores promovidos pelospróprios pesquisadores da Unicamp eEmbrapa Informática. No cenário maispessimista, a cultura perderia algo

Tempo ruim para

A

a agriculturaEstudos

desenvolvidos

por pesquisadores

da Unicamp

e da Embrapa

projetam que

mudanças

climáticas

causarão

grandes

prejuízos ao

setor agrícola

brasileiro

Continua nas páginas 6 e 7

a agricultura

O rio Tapajós, um dos principais afluentes do Amazonas, sofre as conseqüências da seca que atingiua região amazônica no final de 2005: mudanças climáticas podem gerar perdas de até R$ 14 bilhões

(Foto: Renato Stockler/ Folha Imagem)