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CAMONIANA ISSN 0103-3239 R E V I S T A

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CAMONIANAISSN 0103-3239 R E V I S T A

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Reitor Luiz Cláudio Costa

Vice-Reitora

Nilda de Fátima Ferreira Soares

Diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Walmer Faroni

Chefe do Departamento de Letras

Odemir Vieira Baeta

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras Gerson Luiz Roani

R E V I S T A C A M O N I A NA (ISSN 0103-3239) Diretora e Editora Científica Maria Helena Ribeiro da Cunha Editora Científica Adjunta Sheila Moura Hue Coordenador Editorial Gerson Luiz Roani Conselho Científico Segismundo Spina (Presidente de honra) Cleonice Berardinelli Evanildo Bechara Leodegário de Azevedo Filho Maria Helena Rocha Pereira Vítor Manuel de Aguiar e Silva

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CAMONIANAISSN 0103-3239 R E V I S T A

Conselho Consultivo Maria Helena Ureña Prieto (Universidade de Lisboa) Massaud Moisés (Universidade de São Paulo) Helder Macedo (King’s College) Anne Marie Quint (Université Sorbonne Nouvelle) Carlos d´Alge (Universidade Federal do Ceará) Luís Adão da Fonseca (Universidade do Porto) Gilda Santos (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Rita Marnoto (Universidade de Coimbra) Maria Isabel Morán Cabanas (Universidade de Santiago de Compostela) Maria do Céu Fraga (Universidade dos Açores) Comissão Executiva Maria Helena Ribeiro da Cunha Sheila Moura Hue Gerson Luiz Roani Programação visual e editoração José Roberto da Silva Lana Impressão Divisão de Gráfica da Editora UFV

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Ficha catalográfica

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S U M Á R I O

Apresentação, 7 Por que ler Camões e a Revista Camoniana, 13 (Está faltando)

Maria Helena Ribeiro da Cunha In memoriam Breve In memoriam do Professor Luís de Sousa Rebelo (1922-2010), humanista raro para o nosso tempo, 17 Artigos I. Camões, obra, intertextualidade, 25 O enigma do Adamastor, 27

Carlos Tamm Lessa de Sá Os elementos indicadores de intertextualidade no canto IV de Os Lusíadas e em Mensagem, 41

Elisa Guimarães Latinismos sintáticos nas Rimas de Camões. Syntactic Latinisms of Camões’ Rimas, 59

Maria Isabel Rebelo Gonçalves

“Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida.” Amor, “serviço” e lírica camoniana, 85

Micaela Ramon

II. Século XVI “From The Point Of View Of The Average Man”: John dos Passos on Gaspar Correa and the Lendas da Índia, 101

George Monteiro

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Arte de memória e escrita dos primeiros jesuítas no Brasil. The Art of Memory and the Writing of the First Jesuits in Brazil, 109

Luciana Villas Bôas Mofina Mendes e o pote de azeite Mofina Mendes and the oil pitcher before and after, 129

Ronaldo Menegaz A Lenda dourada de Frei Bartolomeu Ferreira Frei Bartolomeu Ferreira: the golden legend, 139

Vanda Anastácio III. História Os jesuítas em questão. Apreciações contrastantes: Camões e Luís de Granada, 159

José Eduardo Franco Resenhas, 195-228

Colaboradores, xx

Instruções aos autores, xx

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A P R E S E N T A Ç Ã O

oje, depois de examinar algumas provas do volume 1, da 4ª. série, ora editado pela Universidade de Viçosa, não

pude deixar de pensar no difícil caminho que se percorre a fim de conquistar a atenção para a importância de manter, na atualidade, um elo imprescindível com a cultura clássica e humanística como um meio de conhecimento da nossa forma de ser moderna. E a poesia é um lugar privilegiado para a realização desse conhecimento em meio a uma realidade atual conturbada, muitas vezes brutal, globalizada, aparentemente incompatível com a poesia e, por isso mesmo, muito complexa, embora, não necessariamente a arte deva ter relação estrita com a realidade cotidiana. A literatura bem como “a arte – alguém já disse –, é uma maneira de o homem distanciar-se para retornar ao mundo”, e eu acrescentaria, a modo de explicação, que não é uma fuga, mas uma forma de depurá-lo, de compreendê-lo.

Para além de tudo isto, há ainda a fruição intelectual de ouvir, de ver, de ler, de sentir uma obra de arte. Ninguém pode negar o prazer que se sente em relação à música, à contemplação de um quadro e de uma escultura, ou ao ler um livro, sejam os temas contemporâneos ou clássicos, ainda que estes não valorizados pelos clichês do progresso tecnológico, que lhes pretende negar o perfil da modernidade.

Camões é um poeta clássico: está na origem da nossa língua.

Lê-lo é continuamente renovar a nossa experiência de vida e da arte, porque também continuamente necessitamos da criação de um poeta ou de um pintor ou de um compositor, em suma, de um artista. Ítalo Calvino, um ensaísta italiano contemporâneo que, aliás, deu motivo ao título deste artigo, com a obra intitulada Por que ler os clássicos, publicada, entre nós em 1993, emite, entre uma dezena de conceitos acerca de uma obra clássica, um que considero lapidar, embora não abrangente. Ele diz: “chama-se clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs; isto quer dizer, segundo o próprio autor, que a obra clássica se aproxima do livro total, que nos revela, em conseqüência, de maneira mágica – sou eu, agora, que acrescento –, a totalidade do

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universo. Não se pense que são palavras vazias, que jogam entre si; elas, pelo contrário, estão a pedir uma reflexão mais atenta.

Pois bem: a Revista Camoniana surgiu com o espírito de continuamente renovar a leitura de um grande poeta – eu diria melhor, de um poeta genial, que se entrega a nós mediante o universo mágico de sua poesia. Ela, a Revista, foi criada, em 1963, pelo Prof. Segismundo Spina, na ocasião professor de Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo. Conheceu, entretanto, por falta de verbas, só 3 números, entre 1964 e 1971, e só foi reabilitada em 1978, já no Centro de Estudos Portugueses da mesma Universidade. Nesse Centro da USP, ela permaneceu por vinte anos, publicando 10 volumes, sob nossa direção, de forma, porém, irregular quanto à seqüência. O nosso desligamento do Centro, em 1995, precipitou o que já era difícil: a continuidade de publicação, embora, nesta época não por falta de verba, mas como resultado da política editorial da nova orientação do Centro, à qual interessava editar uma “revista do contemporâneo”. Na verdade o nosso empenho não estava em dirigir uma Revista para conquistar-lhe o prestigio, da qual ela não necessitava, nem o Centro; o que nos interessava era assegurar a continuidade de uma publicação que já fizera a sua carreira, que instaurara uma tradição. Destruí-la por esse motivo ou por abandono seria desacreditar da própria razão da existência dela, isto é, a de alicerçar a formação do conhecimento humanístico mediante a divulgação de conceituados trabalhos, de um lado, e da produção de jovens estudiosos, de outro. É por esta causa que as revistas são tão importantes para a existência de uma Universidade.

Bem, o jeito era sair à luta; procurar quem se interessasse em publicar a Revista Camoniana! Cerca de três anos depois, mostrando que devemos sempre manter a esperança, não de um milagre, mas do aparecimento de alguém que tenha a consciência de quais devam ser os objetivos de uma verdadeira Universidade, o Prof. Luís Eugênio Vescio, Coordenador geral da EDUSC (editora da Universidade do Sagrado Coração, de Bauru, propôs-se a recuperar mais uma vez a existência da Revista Camoniana. O apoio da Reitora, a Irmã Jacinta Garcia, foi; o que bastou para que o projeto se tornasse definitivamente realidade.

Nesses 40 anos de existência, de 1963 a 2003, embora com tantos percalços, a Revista adquiriu prestígio internacional, muito mais amplo até do que esperávamos, – diga-se com justiça –, pela qualidade de seus artigos, por ser única no mundo em sua

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especificidade, pelo seu perfil dentro de uma correta conduta científica. E mais do que isto, ela mostrou que amadureceu e muito: não só aumentou o qualificado número de nossos colaboradores – e alguns deles, não poucos, são mais jovens do que a própria Revista-, faço questão de salientar –, vindos de vários países, da Europa e das Américas, bem como ampliou a diversidade das seções, abrangendo o Renascimento português, e o de outros nacionalidades, quanto à sua literatura, à sua arte, à sua história, à sua sociedade, e para cuja compreensão a obra camoniana constituiu um veículo e um fim inquestionáveis. Além disso, criou-se uma ponte com a literatura do século XX e a contemporânea, que deu origem a um suplemento – intitulado Travessias –, nos dois últimos volumes dos oito publicados pela Universidade bauruense. Entretanto, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades....” e, em 2005, o afastamento da Irmã Jacinta para a Itália afastou-nos definitivamente das verbas concedidas. O último volume da 3ª série, o de número 18, veio à luz neste ano.

Que fazer se não voltar a lutar pela sobrevivência? Foi o que se deu e a Revista Camoniana, com a maior fé, retoma agora, em 2010, a sua carreira, ao abrigo da Universidade Federal de Viçosa, renovando-se na 4ª série, em edição on line. Direciona-se para os cursos de Pós-Graduação de Estudos Literários, por iniciativa do seu Coordenador, Prof. Gerson Roani, e com o apoio dos demais Departamentos e da Reitoria.

Os leitores poderão interrogar-me sobre a possível dificuldade de ler a Revista Camoniana tanto quanto a de ler Camões. Para os que não os conhecem ainda, garanto-lhes que não há nenhuma. Todos nós sabemos como a partir da metade do século passado, o estudo das humanidades veio perdendo terreno para os avanços tecnológicos da mídia, para os conceitos de custo-benefício predominantemente financeiros, para uma forma de ser veloz, cada vez menos reflexiva sobre a vida, para a competição, para a violência, para o consumismo, etc., etc... e pairando sobre tudo, soberanos, o interesse, a oportunidade e o poder do mercado.

A questão é polêmica e nem vale trazê-la aqui nesta ocasião. Vários são os críticos e professores que têm tratado fartamente do assunto ou da prioridade que se dá, nas universidades ao desenvolvimento das ciências exatas, e da parceria destas com as empresas, no sentido de agregar conhecimento de várias áreas com vista à excelência da produtividade.

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O Professor Carlos Vogt, Professor de Linguística na UNICAMP, e ex-Presidente da FAPESP, em entrevista publicada em 2002, no jornal O Estado de São Paulo, afirma o seguinte: “Todo o esforço agora, dada a questão da sociedade do conhecimento como valor agregado, obriga o País a tentar encontrar, de fato, nichos que permitam estruturar a produção em função da inovação tecnológica”. Realmente, os artistas, os escritores, os poetas, os estudantes e os professores das humanidades, isto é, este ramo de conhecimento que tem o homem por objetivo, não tem nada contra a prioridade das ciências enquanto produção de riqueza material. Entretanto, desejava acrescentar um pormenor, mas não pequeno, uma sincera advertência para quem tenha este pensamento nu e cru, e que é o seguinte: nas humanidades, o valor agregado é de base, isto é, pretende agregar várias áreas de conhecimento para abranger e deduzir uma visão, tanto quanto possível, universal da existência.

Fazemos, aqui, um parêntese para contar um caso pitoresco. Quando nos preparávamos para lançar a 2ª série da Revista, em 1978, um amigo, químico de profissão, que nos ajudava na idealização da capa, mostrou interesse em levar um dos livros de Camões que estava comigo, para ler um pouco mais, como ele disse, uma vez que mal o tinha lido no curso secundário. O livro era Os Lusíadas e era um fim de semana propício a ler Camões. Na 2a feira, depois de nos cumprimentar, a primeira coisa que disse foi assim mesmo: “Mas esse Camões é fantástico; esse cara... ele sabe dizer as coisas”! Inusitada descoberta! É ele sabe dizer as coisas... Talvez meu amigo não tenha percebido, mas, ao dizer-me isto, ele empregou o verbo no presente, saltando cinco séculos no tempo. E por que sabe dizer as coisas, Camões? Porque tem espírito crítico, sensibilidade e conhecimento, coisas que raramente andam juntas e por isso, ajuda-nos a tê-las também, cinco séculos depois.

Em resumo, portanto, o custo é mínimo e o benefício é duplo: além do prazer do empenho intelectual de compreendê-lo, o prazer do espírito de ouvi-lo, lendo a sua poesia. Apenas para encerrar o caso pitoresco: o livro de Camões, o meu amigo não mais o devolveu, e soube depois que ele, químico, fazia um curso de filosofia para melhor entender o universo, onde entrava a poesia. No meu Curso de Camões, na Universidade de São Paulo, não foram poucas as vezes em que recebi alunos como ouvintes, que trabalhavam na Bolsa de Valores.

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Indagados, por mim, sobre a razão de freqüentarem o Curso com ânimo desinteressado dos certificados, um deles me respondeu, muito simples, “faz bem para a cabeça”; mas você trabalha com números, eu repliquei, “ mas estes fazem mal” concluiu!

Por que ler, então, a Revista Camoniana? Ajuda-nos a ver coisas em Camões que não tínhamos percebido. E não são coisas filosofantes, elevadas ao cubo da dificuldade, incompreensíveis. Quem poderá acusar de impenetráveis ou aborrecidas, as explicações sobre as personagens de Os Lusíadas? Ou também as incursões na composição gramatical das Rimas? Ou ainda a demonstração da intertextualidade da lírica camoniana e a poesia moderna? Não é preciso ser expert em Camões para ler a Revista Camoniana; basta saber ler.

Não desejava terminar estes comentários, que espero tenham sido breves, sem apresentar um soneto de Camões.É um soneto que surge na 2ª edição de sua Lírica, em 1598, as Rimas, e que reflete sobre a natureza do Amor, a essência do Amor. Provavelmente todos já o conhecem, ele anda em muitos dos manuais de literatura portuguesa:

Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é um não contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder é querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade Se tão contrário a si é o mesmo Amor? (*)

* Camões, Luís de, Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro Júlio da Costa Pimpão, Coimbra, por ordem da Universidade, 1953.

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Na aparência lúdica do elenco de contradições, Camões renova a própria forma de contrapor o que não se contradiz. Ao final, o impacto de uma pergunta desconcertante, cuja conclusão deixa em aberto. Certamente cada um de nós terá a sua resposta. Esquemático na submissão métrica e rímica, o poema é magistral na caracterização da sintomática amorosa e na universalização das contradições do homem.

Por tudo isto, portanto, é oportuno felicitar a Universidade Federal de Viçosa por compreender a necessidade absoluta de uma Revista humanística voltada para o estudo da poesia camoniana e da História, que também é a nossa, porque revela que se exerce aqui o espírito crítico e o pensamento crítico, juntos com a sensibilidade. Os estudos da filosofia, da literatura e da arte e as lições da História não são gratuitos: só eles nos podem levar à compreensão e à orientação do nosso comportamento no mundo, pois sem isso ficaremos perdidos nos nossos mais primários objetivos e não haverá tecnologia nem ciência capazes de nos fornecer a bússola. Portanto, compreender este papel e agir, como se faz, aqui, no sentido de assumi-los, garante à Universidade Federal de Viçosa, o perfil de uma verdadeira Universidade.

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Porque ler camões.... (Faltando texto)

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I N M E M O R I A M

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