camille flammarion - as casas mal assombradas

Download Camille Flammarion - As Casas Mal Assombradas

If you can't read please download the document

Upload: azulimao

Post on 29-Oct-2015

149 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • WWW.AUTORESESPIRITASCLASSICOS.COM

    LIVROCAMILLE FLAMMARION

    AS CASA MAL ASSOMBRADAS

    Prlogo ESPIRITUALISMO E MATERIALISMO

    CAPITULO IAS PROVAS EXPERIMENTAIS DA

    SOBREVIVENCIAResposta, preliminar a algumas crticas. - A

    averiguao dos fatos. - Cegos e negadores porpreconceito. - Laplace e o clculo das probabilidades. -

    Escolha de observaes exatas

    CAPITULO IIAS CASAS MAL-ASSOMBRADAS. -

    PROSPECO NO ASSUNTOH o falso e h o verdadeiro. - Realidades

    verificadas. - Observaes antigas e modernas. -Reconhecimento jurdico de casas mal assombradas. -

  • Contratos rescindidos. - Certeza dos fenmenos deassombramento

    CAPITULO IIIFENMENOS ESTRANHOS OBSERVADOS

    NUM CASTELO DO CALVADOS

    CAPITULO IVA CASA DA CONSTANTINA

    (Corrze)

    CAPTULO VUma casa perturbada, no Auvergne. - Incidente

    psquico no Bispado de Mnaco. - Fenmenospsquicas correspondentes a bitos. - A Morte e os

    relgios

    CAPITULO VIOs rumores misteriosos do presbitrio. - A casa do

    professor de Labastide-Paums. - Um companheiroinvisvel

    CAPITULO VII

  • A CASA FANTSTICA DE COMEADA,COIMBRA, PORTUGAL

    CAPITULO VIIIOBSERVAES FEITAS EM CHERBOURG. -

    QUAL SER O AMBIENTE DESSAS CASAS?O Dr. Nichols e o quarto fatal. - O teto malfico de

    Oxford. - A obsesso de Cambridge. - A mesquita dePierre Loti, em Rochefort

    CAPITULO IXEXCURSAO GERAL PELAS CASAS MAL

    ASSOMBRADAS

    CAPITULO XClassificao dos fenmenos. - Fenmenos

    associados a pessoas falecidas

    CAPITULO XIFenmenos ,de assombramento sem indcio de ao

    dos defuntos. - Espritos turbulentos. Poltergeist

    CAPITUTO XII

  • OS CASOS CLANDESTINOS

    CAPITULO XIIIINVESTIGAO DAS CAUSAS

    Origem e modo de produo dos fenmenos. Oquinto elemento.

    EplogoO DESCONHCECIDO DE ONTE M E A

    VERDADE DE AMANHO progresso inado de obstculos . Relatrio de

    Lavoisier apresentado Academia das Cincias, sobreos aerlitos.

  • Prlogo ESPIRITUALISMO E MATERIALISMO

    Resposta a Camilo Saint-Saens. (Artigo publicadona 1 pgina de Nova Revista, em 15 de Dezembro de

    1900).

  • Subsistente o desacordo de psiquistas e nopsiquistas, nada obstante o progresso das observaesmais positivas, parece-me cabvel aqui intermitir deprembulo esta pgina j antiga, de vez que elaressalta, de paralelo, os argumentos das duas correntesopostas. Meu amigo Camilo Saint -Saens acabava depublicar um estudo a favor das faculdades cerebrais econtra a teoria da personalidade da alma . Secompararmos os termos deste artigo com as cartaspublicadas em A Morte e seu Mistrio (tomos II, pg.34 e II, 8), veremos que, no sculo XIX, ainda nocaturrvamos. Apesar das divergncias de prisma,continuamos amigos, at que ele faleceu em 16 deDezembro de 1921. Todos os que buscam a Verdadecom -esprito despido de preconceitos, podem divergirnas idias, sem quebra de amizade. Esses noconhecem a intolerncia. Seja, pois, este artigo,publicado no ltimo ano do ltimo sculo, o prlogodeste livro:

    Caro amigo:Acabo de ler um pouco tardiamente - por isso que,

    como sabe, moro mais no cu que na Terra - o seu beloe sbio artigo da Nova Revista . Li -o como seescutasse uma das fortes sinfonias de que possui voco segredo, e nas quais rivalizam cincia e arte, para

  • produzir nos espritas o mximo efeito. Tenho aimpresso de que conseguiu enflorar realmente oassunto, deixando-o entrever-se em toda a suaprofundeza. Dou-lhe absoluta razo, quando diz que aspalavras espiritualismo e materialismo no passamhoje de mero verbalismo, por isso que a essncia dascoisas nos fica desconhecida e as recentes descobertascientficas induzem a alicerar o metido visvel sobreum mundo invisvel, que lhe , por assim dizer, osubstrato . Agradeo-lhe o haver assinalado minhamodesta excurso nesses domnios do Desconhecido,mas venho pedir licena para responder suainterpretao. Receia o meu amigo que o timo dovocbulo psquico tenha exercido qualquer influnciano meu pensar. Os fatos expostos em meu livro, ao seuver, no levam s admitir a existncia da alma. Essesfatos que, de resto, aceita como autnticos, apenasdemonstrariam que as fora que produz o pensamento,poderia projetar-se sobre outros crebros, distncia,sem que da se infira que essa fora seja de naturezaespiritual, independente do crebro .

    Eis o argumento que eu desejaria examinar edissecar. Se lhe apraz, tomemos e analisemos um fato.Jovem rapariga vai ao meu gabinete, em Paris, e meentrega o seguinte relatrio, do qual omito os nomesprprios:

    Ao tempo em que nos entrevistamos pela primeiravez, tinha eu 22 e ele 32 anos. Nossas relaes

  • duraram 7 e ns nos amvamos com ternura. Um diaele me comunicou, pesaroso, que a sua situao, a suapobreza, etc., foravam-no a contrair matrimnio. Dassuas escusas embaraosas pareceu -me adivinhar o seudesejo de no interromper nossas relaes.

    Liquidei, para logo, o penoso assunto e, mal gradoo meu enorme desgosto, no mais revi o companheiro .No meu amor nico e absoluto, repugnava -mecompartir com outra as graas do homem a quem tantoamava.

    Mais tarde, por linhas travessas, soube que ele secasara e j tinha um filho.

    Passaram-se anos e, uma noite, em Abril de 1893,vi penetrar na alcova uma forma humana. Estaturaelevada, envolto num manto alvo q ue lhe encobriaquase todo o rosto, vi, aterrada, aproximar-se, inclinar-se para o meu leito e colar nos meus os seus lbios.Mas... que lbios! - jamais esquecerei a impresso queme produziam! No era presso, nem movimento, nemalgo mala que frio... O frio de uma boca morta!

    E, contudo, eu experimentei um desafogo, umgrande bem-estar enquanto durou esse beijo. Verdade, tambm, que, , nesse transe, nem o nome nem aimagem do falecido amigo me assomaram mente. Aoacordar, pouco me preocupei com o caso, at que tarde, percorrendo o jornal de (; . .), li o seguinte:Comunicam-nos de X. . . que ali se realizaram, ontem,os Funerais do Senhor Y... Enumeradas as qualidades

  • do morto, terminava o artigo dizendo que elesucumbira de uma infeco tfca, conseqente aexcesso de trabalho no cargo que exercia abne gada eesforadamente. Caro amigo - monologuei : - tantoque, liberto das convenes mundanas, vieste dizer-meque era a mim que amavas e contnuas amando paraalm da morte. 'Tambm por mim te agradeo e amo -te sempre.

    Senhorita Z...

    Eis o fato, tal como se passou. A velha e cmodahiptese de uma alucinao simples, j no nos podemsatisfazer. O que se procura explicar a coincidnciada morte com essa apario. To numerosas so asmanifestaes deste gnero, que no mais as podemosconsiderar fortuitas. Elas indicam uma relao decausa e efeito.

    O meu amigo e eu admitimos, livres de quaisquerprejuzos, que a senhorita Z . . . viu e sentiu a presenado visitante, no momento critico do seu trespasse.Centenas de episdios idnticos por ai s e verificam.Entretanto, divergimos na sua interpretao ; mas,enquanto o meu amigo apenas v um ato cerebral domoribundo, vejo eu um ato psquico.

    (A mim mesmo perguntei se a depoente no teria.lido o jornal na vspera do sonho, desprecavidamente,e se a associao das idias no se teria condensado nomesmo sonho. Reafirmou que a leitura s fora feita no

  • dia seguinte. Devemos, portanto, suprimir essahiptese. houve ento, a, comunicao entre os doisseres.)

    Certo, sempre difcil discernir o que pertence aoesprito, alma, e que toca ao crebro. Em nossasapreciaes e julgamentos, deixamo-nos guiarnaturalmente pelo sentimento ntimo que resulta dadiscusso dos fenmenos. Ora, no temosessencialmente aqui uma manifestao do esprito?Duas hipteses se apresentam. Ou bem, como indica adescrio, o manifestante estava morto, ou estavaainda vivo e, no momento da morte, pensou na,depoente, nessa amiga dos bons tempos, eexperimentando a seu respeito um arrependimento,talvez um remorso e quem sabe, uma e sperana,tambm no alm-tmulo? A comunicao telepticano se teria feito imediatamente, durante as agitaesdiurnas e se retardaria para as horas de sono tranqilidade. No se trata, bem entendido, de umqualquer fantasma, que se transponho de uma a outracidade; trata-se de uma transmisso mental, de que asondas da telegrafia sem fio nos oferecem uma imagemfsica. distncia de 100 quilmetros, entre as duascidades, sabemos ns que nada representa. Essacomunicao mental tomou a forma descrita pelanarradora. Tal a impresso que nos fica do exame detodos estes fatos e que de mais a mais se evidencia,

  • medida que avanamos no estudo destes fenmenos.Vejamos, por exemplo, um segundo caso:

    J casado, fazia meu curso na, Universidade deKiev, quando, certa feita, foi passar o vero no campo,na casa de uma irm, no longe de Pskow. De regressopor Moscou, minha querida mulher foi a li subitamenteassaltada por um ataque gripal e, n o obstante a suamocidade, no pode resistir. Uma paralisia do coraoabateu-a subitamente, como fulminada por um raio.

    No lhe direi da minha dor, do meu de sespero.Simplesmente quero submeter sua competncia oseguinte problema, cuja soluo assaz me preocupa:

    Meu pai residia em Pintava, ignorava aenfermidade da nora, sabendo apenas que nosachvamos em Moscou. Enorme foi, portanto, a suasurpresa ao v-la a seu lado, como que saindo de casae acompanhando-o por momentos e logodesaparecendo! Tomado de angstia e espanto,passou-nos imediatamente telegrama pedindo n oticiasda nora, e isso precisamente no d ia que ela faleceu...Gratissimo lhe ficaria se me explicasse este fatoextraordinrio.

    Venceslau (Estudante de Medicina, Nikolakaja,21, Kev)

    Aqui, igualmente, a observao se verificou depo isdo falecimento.

  • Ainda neste exemplo, no temos a impresso deuma origem imaterial, de uma causa moral, mental, aindicar no apenas a existncia de faculdadesdesconhecidas no ser humano, mas tambm aexistncia de um ser intelectual, operante? Sim, poisno posso ver, nos fatos desta ordem, um produto daanatomia, da fisiologia animal, ou da qumicaorgnica.

    Examinemos ainda outro exemplo, diferente dosprecedentes, posto que pertencendo, como eles, telepatia: Ouamos o prprio relator:

    De Perpignan, minha terra natal, parti nosprimeiros dias de Novembro de 1889, a fim decontinuar os estudos de farmacologia em Montpellier.Minha famlia. compunha-se de me e quatro irms.Deixei-as satisfeitas e de perfeita sade. A 22 dessems, minha irm Helena, bela criatura de 18 anos, caula e minha predileta, reuniam em nossa casaalgumas amiguinhas. Cerca de 3 ho ras, aps o almoo,dirigiram todas, minha me inclusive, para o passeiodoa Pltanos. Fazia um tempo magnfico. Ao fim demeia hora, Helena sentiu-se mal: Mame - disse -,sinto arrepios por todo o corpo, tenho frio, doe agarganta... Vamos para casa.

    A noite seguinte, pelas 5 da manh, Helenaexpirava nos braos de minha me, vitimada pelaangina diftrica, que dois mdicos no puderamdebelar.

  • nicos vares da famlia, competindo-merepresent-la nos funerais, foram-me passadosrepetidos telegramas para Montpellier. Entretanto, poruma terrvel fatalidade que ainda hoje deploro,nenhum de tais despachos me foi entregue a tempo .

    Ora, na noite de 23 para 24, que Pui presa deespantosa alucinao. Recolhera -me a casa pelas 2 damadrugada, calmo e satisfeito das emoes recolhidasnos dias 22 e 23; em parte destinadas ao prazer. Deitei -me alegre e logo adormeci,. Havia de ser 4 horas,quando a vi surgir diante de mim pl ida, sangrenta,inanimada e um grito insistente, pe netrante, punitivo,feria-me os tmpanos: Que fazes, meu Luis Mas vem,vem!

    No meu sonho, nervoso e agitado, tomei um carro,mas, a despeito de esforos nobre -humanos, noconseguia faz-lo avanar. Via sempre minha irm,plida, sangrenta, inanimada, a gritar: Que fazes meuLuiz!!!!

    Despertei sbito, face congesta, cabea em fogo,garganta seca, respirao curta e suando por todos osporos. saltei da cama e procurei acalmar -me. Umahora depois, tornei a deitar-me, mas no pudereconciliar o sono ai da manh fui penso, assomadode indefinvel tristeza.

    Argido pelos colegas, contei-lhes tm-tim por tim-tim o que a passara, no - seja dito - sem ouvir

  • algumas pilhrias. As 2 dirigi -me para a Faculdade, nointuito de encontrar no estudo algum repouso.

    Deixando a aula s 4 horas, vi caminhar ao meuencontro uma mulher alta, trajando rigoroso luto, elogo reconheci minha irm mais velha a perguntar -meaflito o que fizera de mim. Lacrimosa, comunicou-mea fatal ocorrncia, que nada me faria prever, de vezque, ainda na manh de 22, recebera de casa asmelhores notcias.

    Entregando-lhe este depoimento, abstenho-me deemitir qualquer opinio a respeito e s me obrigo agarantir, sob palavra de honra, a sua absolu taautenticidade.

    Vinte anos so passados e a impresso que o fatome deixou sempre a mesma, emocional, profunda(sobretudo neste momento), e se os traosfisionmicos de Helena no me aparecem to ntidos,o seu apelo sempre o mesmo: plangente, repeti do,desesperado: Que Jazes, meu Lus! vem, vem. . .

    Lus Noeil Farmacutico, em Cette.

    Tal a narrao do fenmeno psquico. Se voc, meucaro amigo, no admite que o corpo da defunta, 23horas aps o falecimento, seja o agente dessaimpresso e que haja, no feito, algo que no oorganismo material - seja o transporte do esprito deNoell para a morta, durante o sono, ou seja que aoteleptica tivesse nela, a morta, o seu pon to de

  • emanao -, encontramo-nos diante de um fatopertinente aos domnios da alma, nunca ao corpo,induzindo-nos a crer que a alma existe pes soalmente eno um efeito, uma funo ou secreo do crebro.Se vote, o artista e pensador que eu conheo, assimno entende, ser s por no haver dispensado tempona ponderao do problema.

    Que supor houvesse feito o crebro dessa moadepois da morte? Toda hiptese material inverossmil.

    Poder-se- supor tenha ela chamado pelo irmoantes de morrer e que a recepo do seu apelo ficasselatente no esprito do irmo, at que um momento detranqilidade cerebral lhe permitisse perceb -lo.Poder-se- supor, igualmente, que o apelo fosseposterior morte. Tudo est por estudar.

    O mais simples seria negar, quero dizer, declararque o jovem estudante apenas teve um pesadelo, acoincidir com a morte da irm. Sim, esta a soluomais simples, mas, pergunto: satisfaz? Satisfar aomeu amigo, mxime quando tenha centenas deatestados da mesma natureza? Satisfar, igualmente,nos casos em que o narrador visse, o que se chamouver a distncia, todos os pormenores de umfalecimento, de um suicdio, de um desastre, de umincndio? No. Voc tem critrio assaz cientifico, eracionalmente severo, para satisfazer -se com a cedia

  • hiptese do acaso e sabe que o clculo dasprobabilidades nos prova a sua impr ocedncia.

    Que dizer, que julgar ento? Nem mais, nemmenos, que o problema psquico est posto .Confessemo-lo sem reticncias. No me encarrego deo explicar, claro. A cincia ainda vem longe. Admitir uma coisa, e outra coisa explicar. Os fa tos se nosimpem, mesmo que no expliquemos. Passa umhomem por uma rua e cai-lhe na cabea. um vaso deflores: ele forado a registrar o fato antes deadivinhar-lhe a origem, e como a vertical e ahorizontal se cruzaram justo sobre a sua. cabea.

    No, absolutamente a que chamamos - matria,com as suas propriedades, no basta para explicar estesfatos e eis porque eles so de uma outra ordem, deuma ordem que reivindicam todos os direitos qualificao de psquicas e que induz a admitir aexistncia de almas, espritos, seres intelectuais,espirituais, que no so meras funes do crebro. Atransmisso do pensamento, a viso distncia semauxlio dos olhos e a previso de acontecimentosfuturos, no nos do os mesmos testemunhos ?

    A transmisso do pensamento no oferece dvidas,notadamente entre um magnetizador e o seu su jet.Disso poderia citar aqui mil exemplos . Eis um, poucosentimental, certamente, mas bem caracterstico,citado pelo Dr. Bertrand, que um experimentador dosmais competentes.

  • Um magnetizador assaz imbudo de idias msticastinha um sonmbulo que, durante o transe, no viaseno anjos e Espritos de toda a espcie, vises queserviam para robustecer cada vez mais a sua crenareligiosa. Como citasse de continuo os sonhos do seusonmbulo em apoio do seu credo, outromagnetizador, seu conhecido, se encarregou de odesiludir, demonstrando-lhe que o sonmbulo notinha as vises que alegava, seno porque as guardavana prpria mente. Props, ento, para comprovar o seuasserto, que faria, com que o sonmbulo visse reunidode anjos a mesa e comendo um peru. Assim queadormeceu o sonmbulo e, depois de algum tempo,perguntou-Ihe o que via de extraordinrio. Umagrande reunio de anjos - foi resposta. E que fazemeles ? Esto sentados mesa, comendo. . . No pde,porm, nomeai as iguarias.

    A temos um exemplo de sugesto mental, comovoc bem sabe. vontade do magnetizador atuasilenciosamente sobre o magnetizado . Certo, podemosaqui dizer que se trata da ao de um crebro sobreoutro, mas, no Ihe parece que o crebro no passa deinstrumento da vontade? Por mim, jamais felicitaria ocrebro por pensar, assim como no felicitaria umalente astronmica pelo fato de bem focar Saturno. Nolhe parece seja o crebro rgo do pensamento, ta lcomo os olhos o so da vista? E a viso distncia, emsonho? No nos coloca em face de um ser espiritual

  • dotado de faculdades especiais ? Eis, por exemplo, oque me escreve um marinheiro de Breat:

    Entre 1870 e 74, tinha eu um irmo trabalhando noarsenal de Fou-Tcheou, na China. Certa manh, orecebeu a visita de um colega, conterrneo e amigo,tambm operrio mecnico, que lhe relatou o seguinte:Estou deveras acabrunhado, pois sonhei esta noite quemeu filhinho morrera de crupe, no meio de grandesangstias, deitado num colcho vermelho. Meu irmochasqueou da sua credulidade, talou -lhe de pesadelose, a fim de o distrair, convidou -o para o almoo. Nadaconseguiu; porm. O pobre rapaz persistia emconsiderar o filho morto e bem morto .

    Pois bem: na primeira carta, chegada de Frana, aesposa confirmava o sonho, dizendo que o meninomorrera de crupe, aps grandes pad ecimentos e -curiosa circunstancia. -, deitado num colchovermelho. Essa carta, tanto que a recebeu, foi elemostr-la a meu irmo, que, por sua vez, me relatou ofato.

    No esto os fatos desta natureza, alis numerosos,a indicarem a existncia no homem de algo mais que ocorpo ?

    Que pensarmos, igualmente, desta visoO general Charpentier de Cossigny , amigo de

    infncia de meu pai, sempre me dispensou muitaafeio. Acometido de uma enfermidade nervosa,tinha as suas esquisitices e no nos surpreend ia

  • quando, aps treis ou quatro visitas seguidas, retraiapor muito tempo . Em Novembro de 1892 (havia 3meses que o no vamos) tive uma forte e nxaqueca efui deitar-me, por isso, muito cedo. Quando comeavaa adormecer, ouvi chamarem-me pelo nome, emsurdina, e logo depois, mais alto. Pres tei atenojulgando fosse meu pai quem chamava, mas logopercebi que ele dormia e ressonava regularmente noquarto vizinho. Procurei adormecer novamente esonhei que via a escadaria da residncia do general, navila Vaneau n. 7 ele prprio me apareceu, encostadono gradil do patamar do 1 andar, descendo logodepois para beijar-me na testa. A impresso daqueleslbios frios despertou-me e vi, ento, distintamente, nomeio do quarto, alis aclarado pelo combustor da rua,o vulto esguio do general, que se afastava. No pudemais conciliar o sono, tanto que ouvi dar 11 horas noLiceu Henrique IV e assim vigi ei o resto da noite,sentindo na testa a algidez daquele beijo. Pela manh,disse logo minha me: Vamos ter noticias do generalCossigny, pois o vi em sonho esta noite... Minutos aseguir, meu pai lia no jornal o falecimento do seuvelho Camarada, conseqente a uma queda da escada.Nenhum de ns tinha visto aquele jornal.

    Joo DreuiheRua Boulangers, 36, Paris.

  • Como no caso precedente e em todos os anlogos,custa no admitir que o esprito veja, distncia. No o olho, nem a retina, nem o nervo ptico, nem ocrebro.

    Voc deveria ter notado, igualmente, o caso domarechal Serrano, contado pela prpria mulher dele.

    Havia j um ano que meu marido sofria e viaagravar-se a enfermidade que o devia levar.Pressentindo o prximo desenlace, meu sobrinho,general Lopez Dominguez, dirigiu-se ao presidente doministrio, Senhor Canovas, para obter o enterramentonuma igreja, como se fazia com os militares dessapatente. O rei encontrava-se na sua Quinta do Prado erecusou o pedido do general, ajuntando, contudo, queprolongaria o seu estgio ali, a fim de que a suapresena em Madrid no impedisse as honras militaresa que tinha direito o meu marido. Os sofrimentos desteaumentavam dia a dia, a ponto de j no poder deitar-se, passando as noites numa poltrona. Um dia, p elamadrugada, em estado de completo aniquilamentodevido ao uso da morfina, ele, que no podia fazerqualquer movimento sem auxilio de terceiros,levantou-se de sbito, ereto e firme, e, num timbre devoz forte, que nunca lhe surpreendi na vida, gritou:Vamos, depressa, faam montar um oficial! Ao Prado!O rei acaba de morrer! E retumbou, exausto, napoltrona. Todos nos convencemos que aquilo nopassava de um delrio e recorremos aos calmantes. Ele

  • pareceu sossegar, mas, dai a minutos, tornou a erguer -se e, agora, com voz dbil, quase sepulcral, disse Meuuniforme, a espada.. . o rei esta morto! Esta a sualtima manifestao de inteligncia. Depois derecebidos os sacramentos e a bno do papa, expirou.Afonso XII morreu sem estas consolaes.

    Essa tremenda viso de um moribundo era verdica.No dia seguinte toda Madrid, atnita, comentava amorte do soberano, quase isolado no Prado. O realcadver veio para Madrid e por isso no pode Serranoreceber as homenagens que lhe estavam prometidas. E'sabido que, estando o rei no seu palcio de Madrid,todas as honras lhe pertencem, ainda mesmo quemorto, enquanto ali estiver o corpo. Foi o rei queapareceu a meu marido? Como lhe chegou notcia dofato distante? E' assunto para meditao.

    Condessa de Serrano ( Duquesa de La Torrc. )

    Temos aqui, pois, um moribundo, duplamenteaniquilado pelo uso da morfina, a assinalar umacontecimento imprevisto e de toda a gente ignorada.Como, tambm neste caso, repelir a concluso de queo seu esprito houvesse percebido, d e qualquer forma,a ocorrncia?

    A viso distncia, notadamente em estadosonamblico e em sonho, est demonstrada porobservaes to copiosas, que se torna incontestvel.No sei como lobrigar nela um argumento favorvel s

  • hipteses ditas materialistas , mas ao contrrio,argumentos em prol de uma entidade psquica, dotadade faculdades especiais.

    Mas, que dizer dos sonhos premonitrios e da visoexata de acontecimentos posteriores ? Com isso queme parece oportuno coroar esta resposta.

    Leia, por exemplo, este sonha banal, ao demais, eque nada tem de preparado pelas teorias filosficotranscendentes.

    Encaminhava-me, no sonho, para o externato e iaatravessando a praa da Repblica, em Paria, com umguardanapo debaixo do brao, quando, justo em frentes lojas do Pobre-Jaques, passou um co acossado porum bando de garotos. Contei -os exatamente, eramoito. Caixeiros preparavam os mostrurios, umavendedora ambulante passava com o seu carro pejadode frutas e flores. No dia seguinte pela manh,buscando o colgio, vi o mesmo quadro, no mesmolocal e com todos os pormenores sonhados: o co acorrer pela sarjeta, os oito malandrotes a perseguirem -no, a vendora com a sua carreta em direo alamedaVoltaire, e os caixeiros do Pobre-Jacques arrumandoas fazendas nas portas.

    D . Hanrws Avenida Lagache, 10 (Sena).

    Se admitirmos que o crebro, rgo fsico, sejacapaz, com todas as suas secrees, de assim entreverem todas as suas minudncias um evento a realizar -se,

  • importa, creio bem, substituirmos, no Inst ituto, aAcademia de Cincias Morais pela de Medicina, ou,mais simplesmente falando, por uma clnica qualquer.

    Ver o futuro! No estamos em pleno psiquismo?Note-se que estes sonhos premonitrios no so raros,ao demais. Tenho citado muitos e conheo mui tosmais.

    Lembra-se do que me contou o pai daquelaencantadora pensionria do segundo Teatro Francs ?

    Em 1869, por ocasio do plebiscito, tive um sonhoou melhor - um pesadelo horrvel. Via-me fardado,militar, estvamos em guerra. Simples soldado,amargurava todas as exigncias do cargo: marchas,fome, sede; ouvia as vozes de comando, a fuzilaria, ocanho; gritos de moribundos e muitos mortostombados a meu lado . De repente, eis num pais enuma aldeia onde deveramos enfrentar terrvel ataquedo inimigo: Prussianos, Bvaros e cavaleiros (dragesbadenaes), dos quais nunca vira os uniformes, poisningum pensava em guerra. Em dado momento, vium oficial dos nossos trepar a um forno, munido deumas barras, a fim de observar os movimentos doinimigo; depois, vi-o descer, ordenar o toque deavanar e levar-nos cleres, baionetas caladas, sobreuma bateria prussiana . A essa altura do sonho, travadaa luta corpo a corpo com os artilheiros, vi um delesdar-me um golpe de espada na cabea, to forte queme abriu o crnio de meio a meio. Foi assim que

  • despertei. Tinha cuido da cama e machucado a cabeano fogareiro.

    Este sonho teve confirmao real no dia 6 deOutubro de 1870. Local, escola, a igreja, nossocomandante trepado no forno, o toque de clarim e ainvestida s baterias prussianas. Ai, pelo sonho,deveria ter fendido a cabea por um golpe de sabre, e averdade que o esperava realmente. No deixei,contudo, de receber um golpe de lanada (certo atirado, cabea), mas, aparado a tempo e derivado para acoxa direita.

    RgnierAntigo sargento-mor da Companhia de franco-

    atiradores de Neuilly-sur-Seine, rua Joana Hachette,23, Havre.

    Poderamos supor, com Alfredo Maury, que apancada foi o que originou o sonho, mas essa hiptesenada tem que ver com a premonio.

    Objeta-se, s vezes, que os sonhos desta espcie -so a desoras arranjados, mui sinceramente embora, naimaginao dos narradores . Certo no ser impossvelque se produzam modificaes da memria; mas aobjeo se anula por si mesma se considerarmos aimpresso do observador, pois precisamente essaimpresso do j visto, que o tocou. E, depois, h casosem que se torna impossvel qualquer modificao,como por exemplo este:

  • Sonhei que estava passeando de bicicleta, quandoum co se atravessou no caminho e eu ca, quebrando-se o pedal da mquina. De manh, contei o sonho minha mulher, que, conhecedora da exatitude dosmeus sonhos, concitou-me a no sair de casa. Resolvisatisfaz-la, mas, s 11 horas, justamente quando nossentvamos mesa do almoo, chegou o estafeta comuma carta com a noticia de haver adoecido minhairm, que morava distante de ns 8 quilmetros.Esquecendo o sonho, apressei o almoo e monteiabicicleta. Fiz o percurso normalmente at ao ponto emque me vira em sonho, na noite an tecedente. Mal seme desenhava na mente o quadro onrico e eis quesurgiu, de uma granja, um canzarro tentandoabocanhar-me a perna. Sem refletir, quis dar -lhe umaponta-p; desequilibrei-me e ca com a mquina,quebrando-se-lhe o pedal.

    Realizava-se, assim, o sonho com todos ospormenores. Notai, peo-vos, que era a centsima vez,no mnimo, que eu fazia aquele trajeto, sem quehouvesse ocorrido qualquer acidente.

    Amadeu Basset Tabelio em Vitrac ( Charente )E mais esteEm 1868, contava eu 17 anos e est ava como

    empregado de um tio, estabelecido com mercearia narua de S. Roque, 32. Certa manh, impressionado como sonho que tivera, contou-me ele que se vira soleirada porta e, dirigindo o olhar para a rua dos Campinhos,

  • viu aproximar-se um nibus da E. de Ferro do Norte,que parou em frente do seu armazm. Desse nibusdesceu sua genitora e o veiculo seguiu o itinerrio,levando sua av e uma outra senhora vestida de preto,com uma cesta ao colo. Ambos nos rimos daquelesonho to fora de termo, visto que minha av jamais aiatrevera a vir sozinha da Estao do Norte rua de SoRoque. Residindo perto de Beauvais, sempre quedesejava passar algum tempo com os filhos, em Paris,ela escrevia de preferncia a meu tio, a fim de esper -la na Estao e conduzi-la invariavelmente decarruagem ..

    Ora, naquele mesmo dia, tarde, estando meu tio porta, aconteceu que, olhando casualmente para aesquina da rua dos Campinhos, viu desembocar umnibus da E . de Ferro do Norte, vindo parar porta,da loja, Havia no dito nibus duas mulheres e umadelas era justamente minha av. Esta desceu e onibus seguiu levando a outra dama, tal qual aentrevisada no sonho, isto , vestida de preto e comuma cesta ao colo. Calcule-se a estupefao geral!Minha av acreditando fazer-nos uma surpresa, e meutio contando-lhe o sonho!

    Paulo Leroux Neuborg

    Restrinjo-me a estes testemunhos, por isso que, nofim de contas, s querer e recolher a mancheiasquantos desejemos. As cincias mais exatas, mais

  • positivas, no se estabeleceram seno merc doraciocnio humano e a prpria astronomia - rainha dascincias - baseia-se na teoria da gravitao, da qualdizia Newton, seu fundador, que: As coisas se passamcomo se os corpos celestes se atrassem na razo diretadas massas, e inversa do quadrado das distncias. Poisbem: diante dos exemplos de viso espiritual, distncia, sem auxlio dos rgos corporais; diante dofato, ainda mais misterioso e incompreensvel, dofuturo entrevisto com preciso, digo por minha vez: ascoisas se passam como se no organismo humanohouvesse uns seres psquicos, espirituais, dotados defaculdades de percepo ainda desconhecidas . Esseser, essa alma, esse esprito, opera e percebe pelocrebro, mas no funo material de um rgomaterial. Eis a, parecem-me, concluses lgicas,estabelecidas sobre um mtodo escrupuloso,inatacvel. Elas afiguram-se-me superiores snegaes, tanto quanto s afirmaesdesacompanhadas de provas e baseadas numa f cega.A F, os pretensos milagres, o prprio martrio, na daprovaram jamais, pois tm servido a todas as causaspolticas ou religiosas mais dspares, antagnicas e atabsurdas, s vezes . S a cincia pode,verdadeiramente, esclarecer a Humanidade.

    FLAMMARION

  • Este o estudo que publiquei no ltimo ano dopassado sculo. Como j o disse, meu amigo Saint -Saens no guardou ressentimento desta minhaoposio ao seu sistema e, muito pelo contrrio, nossasrelaes se tornaram mais ntimas . Contudo, ele noignorava a existncia dos fenmenos psquicos, comose evidencia nesta carta de Julho de 1921:

    Relendo pela nona vez teu ltimo livro ocorreu-meuma reminiscncia que te quero contar hoje mesmo.

    Foi em Janeiro de 1871, no ltimo dia da guerra.Estava eu num posto da vanguarda, em Arcueil -Cachan, e acabvamos de jantar um excelente cavalo,ensopado com tarxaco por ns mesmos colhido.Aquele repasto reconfortara-nos a todos e estvamosat alegres, mais do que o permitiam as circunstancias. Sbito, sinto timbrar-me no crebro o musicalqueixume de acordes dolorosos, dos quais fiz, maistarde, o preldio do meu Rquiem, ao mesmo tempoem que me assaltava o pressentimento de umadesgraa. Fiquei profundamente acabrunhado. Depois,soube, naquele momento exato morria HenriqueRegnault, a quem me ligava a mais profunda amizade.A noticia de sua morte causou-me tal impresso queme levou ao leito por trs dias. Tive, assim, como v,uma prova real da telepatia, antes que o vocbulo seinventasse. Razo tem tu em pensar que a cinciaclssica ignora o ser humano e que todo s temos o queaprender.

  • Camila Saint-Saens.

    Aqui, cabe apenas repetir o que j havamosreplicado ao ilustre amigo:

    Es o mais inspirado dos compositores, glria doInstituto, pensador contemporneo dos maisprofundos, mas, no s lgico.

    E achava-o ilgico tanto mais quanto, por outrolado, me havia ele assinalado observaes pessoaisbastante caractersticos, que publiquei no tomo II de AMorte e o seu Mistrio.

    No o esprito o que estar em jogo nestasmanifestaes? Como considerar as propriedades d amatria? Ora, os meus leitores sabem que estes casospsquicos so assaz freqentes para que possamosatribu-los a coincidncias fortuitas. O clculo dasprobabilidades comprova-lhe matematicamente arealidade.

    A mim me pareceu que esta revocao ao pas sado,com a permuta de idias entre dois investigadoresindependentes, tinha cabimento como prlogo desteatual estudo.

    Direi, ainda, que o prprio Saint -Saens deu, de amesmo, um exemplo pessoal da independncia daalma em relao ao corpo. Ele faleceu n a idade de 86anos, aos 16 de Dezembro de 1921. Ainda no dia 16 deOutubro, jantara em Juvisy e todos ficaram encantadoscom a sua conversao. Esprito gil, como se tivesse

  • 20 anos, queixava-se, todavia, da sua fraquezaorgnica e mal pode escalar a copula para observarVnus e Arcturo, na companhia doa nossos colegas daSociedade Astronmica, quais o prncipe Bonaparte,os condes de Gramont e de Baume Pluvinel e outros.Ele queixava-se das pernas. Nessa mesma ocasio, a21 de Outubro, O Menestrel publico u-lhe um artigofulgurante a respeito de Berlioz, Via -se, assim, que,enquanto o corpo deperecia, o esprito mantinha -se naplenitude do seu vigor. Esse contraste, entre oorganismo fsico e o elemento espiritual, no raro.

    CAPITULO IAS PROVAS EXPERIMENTAIS DA

    SOBREVIVENCIA

    Resposta, preliminar a algumas crticas. - Aaveriguao dos fatos. - Cegos e negadores por

    preconceito. - Laplace e o clculo das probabilidades. -Escolha de observaes exatas

  • Os leitores srios e competentes, que co nhecemexatamente a situao em que se encontra o nossoproblema e do o devido valor aos resultados colhidosna sua pesquisa, acharo talvez suprfluo que mehouvesse proposto responder, neste captulo, aobjees destitudas de valor intrnseco, formulad aspor negadores intransigentes, que recusam admitir aqualquer preo a existncia dos fenmenosmetapsquico . Eu, porm, por minha vez, penso noser suprflua uma resposta formal a essas denegaes,por isso que a maioria das criaturas ignora,inevitavelmente, esses fenmenos, disposta porconseqncia, a recus-los. Ainda que eu no pudesseconvencer mais que um leitor, da erronia dessesnegadores cegos, prestaria um servio causa dainstruo geral.

    Se quisermos, para convico pessoal, possuir umaopinio firme e inatacvel sobre a realidade, a naturezae o interesse dos fenmenos psquicos, importa saber,antes de tudo, que as iluses da vista como do ouvido ;do tato como de todos os sentidos, so fceis e podemderivar de mil causas inesperadas, p elo que, devemos

  • primacialmente precatar-nos de todos os errospossveis .

    Em regra, observa-se mal, no se vai ao mago dascoisas, contentamo-nos com as aproximaes. Omtodo cientfico, contudo, impe -se aqui, mais quealhures, se que visamos uma ins truofundamentada. Tomadas estas precaues preventivas,apreciando com inteira liberdade os fatos observados,todas as opinies de milhes de criaturas deixam deter, para ns, qualquer valor.

    Que isso fique entendido de uma vez para sempre.Quanto s supersties, conscientes ou inconscientes,eu lhes consagrei um copioso comentrio de 50pginas em meu livro - As Foras Naturais-Desconhecidas, tornando-se intil repisar no assunto.

    Com Emlio Boirac, podemos pensar que a razoprincipal das prevenes e desconfianas que ascincias psquicas ainda suscitam a alguns confradescontemporneos, provm da feio que primitivamenteas revestiu, e da qual no me parecem bastantementeemancipadas. De fato, elas comearam por demonstraras Cincias ocultas, ou, pelo menos, fazendo partedesse confuso conjunto de observaes empricas, detradies, hipteses e sonhos, abrangidos naqu ela.designao e assim vizinha da astrologia, da magia ede cincias outras embrionrias, da antiguidade, daIdade Mdia e da Renascena.. H somente doissculos que elas se emanciparam, e pode ser que ainda

  • subsistam para um que outro praticante de ndolemstica, em sua feio antiga; mas, por isso mesmo,devemos esforar-nos em dar-lhe o verdadeiro espritocientfico moderno, ainda mais sabendo que daastrologia saiu definitivamente astronomia, daalquimia, a qumica, sem que uma e outra guardassemeiva de ancestralidade, guisa de pecado original.Assim, pois, as cincias psquicas que tiveram mais oumenos por bero a magia e o sortilgio, ho demerecer progressivamente o qualificativo de cinciasefetivas e positivas, graas ao emprego perseverantedo mtodo experimental. Aqui estudamos, de fato, omaior dos problemas. O conhecimento da alma ainvestigao do seu destino, um estudo que apaixonaUm bigrafo acaba de escrever que a minha vida, apsa investigao do mundo astronmico e ademonstrao da vida universal, no fez seno provara existncia da alma, e pelo que no teria sido intil aoprogresso da Humanidade. Por mim, espero que assimseja.

    Uma discusso criteriosa se impe atualmente. Apublicao do 3. volume da minha trilogiametapsquica - A Morte e o seu Mistrio, consagradas manifestaes post mortem, provocou tempestadese recriminaes de alguns publici stas ignorantes, unsparecendo ponderados, de boa f, a raciocinarem,como toda a gente, leviana, inconscientemente; outros

  • dando provas de m f, de acrimnia mesmo, o que to extravagante quanto intil.

    Aqui, cabe fazer uma curiosa advertncia: nossodesejo to legtimo, to natural, de conhecer a naturezada alma; saber se ela tem, de fato, existncia pessoal,sobrevivncia destruio inevitvel do corpo; essedesejo, digo, nos cria inimigos, adversrios que sepem a engendrar mil obstculos contra essainvestigao imparcial e independente, no intuito de adeterem, seja como for! Oposio sistemtica, incrvel,mas real.

    Oportuno, portanto, examinar agora o assunto comateno toda especial e aplicar -lhe os princpios domtodo cientfico-positivo . Tomemos essa discussona origem mesma dos incidentes que a provocaram.

    A 16 de Junho de 1922 O Jornal honrou -me com apublicao do seguinte artigo a ele endereado

    OS MORTOS SE MANIFESTAM

    As investigaes atinentes natureza esobrevivncia da alma devem ser feitas com o mtodoidntico ao das demais pesquisas cientificas, livres deprejuzos e preconceitos e fora de toda e qualquerinfluncia sentimental, ou religiosa. H, ou no hmanifestao de mortos? Essa a questo. Ora, eu digoque h. O Jornal, no qual me orgulho de haver

  • colaborado, ao tempo do seu fundador, meu espiritualamigo Xau, chamou a ateno para este problemasecular, e assim venho oferecer aos seus leitores umfato dos que melhor me provaram a sobrevivncia daalma. Ao mais cptico dos contraditores, desafio a suaexplicao sem que admita a ao do defunto.

    Trata-se de um engenheiro e proprietrio de duasfbricas, uma em Glasgow, outra em Londres. Nafbrica escocesa, tinha ele um empregado de nomeRoberto Mackenzie, que lhe era profundamentereconhecido e devotado. O patro residia em Londres.Uma sexta-feira, noite, os operrios de Glasgowdavam o seu baile anual. Roberto Mackenzie, que nogostava de danar, pediu licena para ficar no serviodo buffet. Tudo correu bem e a festa continuou nosbado. Na tera-feira seguinte, pouco antes de 8horas, o engenheiro teve na sua casa d e Campden-Hilla seguinte manifestao, que ele mesmo resumiu assim

    Sonhei que estava assentado junto de umaescrivaninha e conversava com um rapazdesconhecido. Roberto Mackenzie aproximou e eu,contrariado, perguntei-lhe um tanto spero se me novia ocupado. Afastou-se contrariado, mas logo seaproximou novamente, como se precisasse de atenoimediata. Repreendi-o, ento, com maior aspereza,exprobrando-Ihe a impertinncia. Nesse nterim, apessoa com quem antes conversava despediu -se eMackenzie aproximando-se mais . . .

  • - Que isso Roberto? - disse-Ihe irritado. - No vsque estou ocupado?

    - Sim - respondeu -, mas que eu preciso falar -Iheimediatamente. . .

    - Mas a que propsito? Que urgncia essa?- Quero dizer-lhe que estou sendo acusado por um

    Peito que no pratiquei e necessito que o senhor osaiba e me exculpe do que me atribuem, porque estouinocente. - Depois, acrescentou: - no fiz o que elesdizem...

    - Mas, que foi? - repliquei ainda.Repetiu a mesma coisa e ento lhe perguntei

    naturalmente- Mas, como te perdoar se no sei de que te

    acusam? Jamais esquecerei o tom enftico da suaresposta em dialeto escocs: Saibamos em breve.Minha pergunta foi Peita, no mnimo, duas vezes ecerto estou de que a resposta foi dada trs vezes, damaneira mais expressiva. Nessa altura acordei,guardando certa inquietao do sonho to singular,No cogitava de qualquer significao, e eis queirrompe no quarto, minha mulher muito comovida, aagitar uma carta aberta e a exclamar:

    - Ah! James, que coisa horrvel no baile dosoperrios... O Roberto suicidou!

    Compreendendo o sentido da minha viso,repliquei-lhe tranqilizado e convicto:

    - No, ele no se suicidou.

  • - Como podes saber? - Porque ele me disse.Quando ele apareceu - para no interromper a

    narrativa omiti este pormenor -, fiquei impressionadocom o seu aspecto. O rosto azulado, d e um azuldesmaiado e a testa manchada como que de gotas desuor.

    Eis o que ocorrera: Ao recolher, na noite de sbado,Mackenzie se enganara, tomando como de usque umagarrafa de gua-forte, e tendo de um trago ingerido umclice, faleceu no domingo, em atrozes sofrimentos.Todos pensavam num suicdio e dai a su amanifestao, no intuito de desculpar . O mais curiosovem a ser que, procurando inteirar -me dos sintomasque produz o envenenamento pela gua -forte,verifiquei serem mais ou menos idnticos aos queapresentava a fisionomia de Roberto. A verso dosuicdio no tardou a desfazer, conforme carta do meupreposto na Esccia, recebida no dia imediato.

    Ao meu ver, esta apario ai pode ser atribuda aoprofundo reconhecimento do rapaz, p elo fato de ohaver tirado da misria, Ele quereria conservar dignoaos meus olhos.

    Eis a narrativa do industrial de Glasgow.Procurando revelar a verdade, a propsito de umpretenso suicdio, no prova esse operrio asobrevivncia da alma? Convm assi nalar, depassagem, que o suicdio considerado crime, naInglaterra.

  • Ns possumos centenas de observaes anlogas,feitas por homens ponderados, que contamsimplesmente o que ai passou com eles. O nico meiode fugir a explicaes negar os fatos, dizendo queso criaes imaginrias, que as pretensas testemunhasmentiram. Ora, esse industrial de Glasgow era amigode Gurney, um doa fundadores da Sociedade Inglesade Investigaes Psquicas, que o conceituava eestimava como homem de bem a toda prova. Poisbem: a menos que acusemos de impostura todos osobservadores, que os averbemos de visi onrios oumais ou menos sandeus, havemos de admitir estesfatos, tal como admitimos a queda de um raio,caprichoso e inexplicados. No se pode negar.Importa, antes, confessar francamente que h por aitoda uma ordem de coisas ainda desconhecidas sinvestigaes cientifica. No caso particular que acabode expor, este rapaz, envenenado por equivoco, nanoite de sbado para domingo, em Glasgow, apareceuna tera-feira seguinte, em Londres, ao seu patro (queignorava o fato) para lhe declarar que no se sui cidara.Estava morto havia 48 horas. Ningum poderimaginar, neste caso, a coincidncia de um sonho toexato e to-pouco obra do acaso, ou o que quer queseja.

    Os que negam estes fatos, so ignorantes, ilgicos,ou capciosos, de vez que, conhecendo-os, no atinocomo possam eliminar o ato do defunto.

  • Camilo Flammarion.

    Este o artigo publicado pelo Jornal . Confesso que,contra os meus hbitos, empreguei nele um tom algoagressivo, no intuito de provocar discusso e ver o quepoderia da resultar. No dia seguinte, o confrade-Senhor Clemente Vautel, reconhecidamente cpticonestes assuntos, respondeu com esta negativa radical:

    MEU FILME

    Por uma bela tarde de vero do ano de 1861, oSenhor Henrique Cower encontrava-se na sala dejantar de sua residncia em Sydney, Austrlia.Indisposto, inapetente, no conseguia

    afugentar os pensamentos tristes que o as saltavam .De repente, ouviu um estalo brusco e seco . Rachara-seo espelho que estava em cima do aparador. E' esquisito- disse o Senhor Cower. Semanas depois, veio a saberque, no momento exato em que o espelho se fendera,falecia repentinamente em Minepolis, nos EstadosUnidos, sua velha tia Dona Doroteia Mac Clure. Estefato autntico no prova, de maneira, irrefutvel, arealidade das manifestaes de al m-tmulo

    Doutra feita, um tal Arquibaldo B. Blackburn, deChicago, que, em 1874, v aparecer -lhe em Woodston(Ohio) o seu amigo Joo Guilherme, de NewTipperary (Massasuchets) . Joo Guilherme apresenta-

  • ai de rosto congesto, como que sufocado, a fazergestos extravagantes.

    Que tens? - pergunta-lhe o amigo.- Vale-me, afogo-me - responde-lhe Joo

    Guilherme, logo desaparecendo,Blackburn recolheu-se ao leito, muito

    impressionado, e oito dias depois teve a noticia de queo amigo perecera afogado no rio Mis souri, na data e nomomento preciso em que o fantasma lhe pedirasocorro.

    Os que negam estes fatos eloqentes - diz-nos oSenhor Flammarion - so ignorantes, ilgicos, ou dem f.

    Pois bem: eu os nego a todos, em bloco e damaneira mais categrica. Tenho lido livros do SenhorFlammarion e de outros exploradores do mistrio,inumerveis episdios estranhamente semelhantes aestes aqui relatados. Considero-os, porm, destitudosde qualquer valor documentrio. Tudo se tem passadomuito longe, alhures, numa poca fabulosa, e asgarantias faltam absolutamente... Quando penso emnossa inpcia para contar fielmente um acidente hpouco presencia,do ali na rua de Panoyaux, concluoque estulto estribar toda uma filosofia, uma forma dereligio, em anedotas antigas, contadas ao sabor decriaturas que no conhecemos e de quem nadasabemos.

  • E demais, fala-se muito ingls nessas histrias dooutro mundo. Os espritos, fantasmas, espectros, etc.,no so nativos de Pontarlier ou de Romorentin. E'sempre na. Inglaterra ou na Amrica do Norte que elesaventuram as suas manifestao. Dar-se-, que o Almseja tambm uma colnia inglesa? Porque, porexemplo, o louco Bessarabo no aparece ao Presidentedo Tribunal, ou - melhor ainda - Senhora MoroGiafferri, em pleno Jri, a fim de explicar porqueelegeu o domicilio no fundo de uma canastra?

    Eis o que melhor venceria o nosso cepticismo,antes que toda coletnea de fatos pseudopsquicos,recolhidos pelo amvel pensador Camilo Flammarion.

    Clemente Vautel.

    E' assim com chocarrices, simples jogo de palavras,avelrios enfim, que o nosso confrade da grandeimprensa imagina ter explicado a manifestaopstuma de Roberto Mackenzie! Permito -me advertir,ento, que a sua soluo nada tem que .ver com oproblema em causa. De fato, ela pode traduzir-senestas simples palavras: nada disso existe.

    Nada? mas, pouco, realmente, diante de todos osfatos irrecusvelmente verificados .

    Afirmando o Senhor Vautel que tudo se tempassado alhures, muito longe, em poca fabulosa ecom absoluta falta de garantias, expus-lhe um episdioacorrido aqui na Frana e, portanto, indene de

  • antipodismo e nada remoto, nem anedtico. Trata -sede uma observao do Senhor Frederico Wingfield, deBelle-Isle-en-Terre. Eis o fato:

    noite de 25 de Maro de 1880 - escreve ele -,sonhei que via meu irmo Ricardo assentado num. acadeira diante de mim. Falava-lhe e ele apenas sacudiaa cabea em sinal de assentimento, at que se levantoue saiu do quarto. Despertei e vi -me aprumado, com ump assente no cho e outro na cama, ao mesmo tempoem que me esforava para pronunciar o nome de meuirmo. A impresso da sua presena era to forte, tovivo o quadro, que deixei logo o quarto e caminheipara a sala em busca de meu irmo . Escusado dizerque l no estava ningum. Tive, ento, opressentimento de uma desgraa iminente e registreiessa apario no meu anotrio, assim que Deus tal noPermita! Trs dias depois recebi a noticia da morte demeu irmo, s 8 1/2 daquele dia, em conseqncia deuma queda quando caava. O falecimento precedera,portanto, de algumas horas, essa viso to ntida .

    O muito parisiense e muito sutil negativista doJornal houve por bem acusar o recebimento destetestemunho, fazendo-o, alis, em carta amabilssima,da qual destacaria aqui apenas estas linhas

    E verdade que o fato se deu ali nas Costas doNorte, mas, ainda assim, os personagens so anglo-saxnicos. Ricardo Wingfield Baker no n ada breto

  • . Ora, essa historia como todas as outras, no memerecem f iluses, gabolices, lrias.

    V-se, ento, que uma observao to carac tersticanada vale parque o narrador no francs! Fosse elefrancs e a sentena. no deixaria de ser idntica.Lrias, no mais que lrias em todas essas histrias .Mortes, luto, dores, desesperos, tudo isso vale nada e oque nos cumpre rir. Essa maneira de interpretarfenmenos inexplicveis , evidentemente, de umaextrema simplicidade! Notemos, contudo, que essa apauta comum, pois todas as c incias foram assimjulgadas nos seus primrdios.

    A objeo no tem, de resto, nenhum valor, vistoque uma observao em Roma ou em Londres torespeitvel como em Paris, e ainda porque se trata defatos verificados no mundo inteiro e a Frana no temdeles monoplio.

    Alguns dias depois, isto , a 18 de Junho, recebiesta carta de Boulogne-sur-Mer, sumariando umaobservao bem francesa, portanto:

    Li vosso artigo do dia 16, intitulado Os mortos semanifestam. Li, tambm o Meu filme do nossohumorstico Vautel, que nega os fatos de que falais,pretextando que eles ocorrem sempre em pasesdistantes. Vou ento contar vos um, ocorrido em Paris,em 1911, que podeis transmitir ao Senhor Vautel.

    Em Fevereiro de 1906 perdi meu pai no hospitalCochin, em conseqncias de uma operao. Como

  • minha me no tivesse, no momento, recur sos paracustear o enterro, o hospital o fez por sua conta e ainumao se verificou em vala comum, no cemitriode Bagneux.

    Cinco anos mais tarde, achava-me em casa, na ruaEtex, por sinal, e passeava em meu quarto de um ladopara outro, isto de manh. Em dado instante, aoencaminhar-me para a cozinha, a fim de fazer aprimeira refeio (precisamente s 7 horas), vi, derepente, ali surgir meu pai, tendo a mo direitapousada no cano da pia. Era exatamente ele, com afisionomia calma que tinha em vida.

    Passaram-se meses e eu a ningum relatei o caso,temeroso de que me ridiculizassem. Uma noite,entretanto, ao visitar uma irm, resolvi cont -lo e elalogo me interrompeu: Olha, foi justamente nesse diaque desenterraram papai...

    - Mas - objetei - como que me no avisaram? -Porque pensvamos que l no estarias to cedo. -Ento a que horas ?

    - As 7 da manh.Pois fora precisamente h essa hora que ele me

    apareceu. Agora, pergunto: porque o teria feito? Seriauma censura pela minha ausncia na reabertura da suacova? Contudo, no era minha culpa, de vez que nofora prevenido.

    Nessa poca eu em nada cria, pois fora educadofora de qualquer religio, Asseguro-vos, porm, agora,

  • que, depois de ter visto meu pai, acredito em Deus e naimortalidade da alma.

    Aceitai os protestos de minha escrupulosasinceridade.

    Senhorita H. H. (meu nome reservado) .Pode-se ainda aventar, aqui, a sedia hiptese de

    uma alucinao sem causa, mas, como lhe no opor acoincidncia da viso com o desenterramento do paida narradora ?

    E' nesse ponto que o problema, se nos impe .Qualificar de gabolice a narrativa? No ser prefervelconfessar que nada sabemos, mas, que h nisso algemacoisa e que o nosso dever reconhecer os fatos?

    (O Senhor Vautel um homem muito espirituoso.Voltaire tambm o era... Coprnico, Kpler, Galileu,Newton, Colombo, Gutenberg, Denis, Papin, Flton,Volta, Ampre, espritos cientficos, eram menoshumorsticos e, contudo, o progresso lhes deve algumacoisa de sua ascenso.)

    Eis, agora, um caso no qual a hiptese alucinatria inadmissvel, pois apresenta dois testemunhosindependentes. Ele me foi comunicado de Estrasburgoem 17 de Junho deste ano de 1922:

    Meu irmo, Hubert Blanc, era capelo dos fradesMaristas em Saint-Paul-Trois-Chteaux (Drme) . Ummonge que, enfermo, h muito no se levantava dacama, achava-se s portas da morte. Meu irmo

  • visitava-o sistematicamente. Certo dia, em conversa,disse-lhe o enfermo:

    - Saiba que no irei sem dar-lhe o meu adeus.- Perfeitamente - respondeu meu Irmo em tom de

    gracejo.Dois ou trs dias depois, mal se haviam deitado, as

    10 da noite, minha me e meu irmo perceberam aomesmo tempo, posto que em quartos afastados, umrudo bem acentuado de chave abrindo a porta da rua,logo seguido de passos no corredor. Mi nha me,assustada, gritou com todas as foras por meu irmo,dizendo:

    - Hubert, tem gente no corredor .Meu irmo, que tambm ouvira o mesmo rudo,

    levantou-se de um salto, percorreu toda a casa,verificou que a porta estava intacta e nada havia deanormal. E contudo, mal terminava essa inspeo, otelefone tilintou : Al! al! venha imediatamente,Senhor Capelo, pois algum est morrendo. Meuirmo apressou-se e l encontrou o frade a exalar oltimo suspiro. Este fato, contado por testemunhasfidedignas, causou grande sensao em toda acomunidade. Minha me e meu irmo moconfirmaram muitas vezes, e eu vos autorizo a public-lo, se assim lhe aprouver. Meu irmo faleceu emGrignan (Drome), onde exercia o paroquiano.

    Mrio Blanc

  • Diretor tcnico da confeitaria A Cegonha,Estrasburgo .

    Essas manifestaes, rudo de passos, de chaves,chamados telefnicos, etc . , so efetivamenteinexplicveis, mas so fatos observados cora certeza,incontestvel. E conta-se por milhares. No se podedizer que tenham sido inventados. O nmero denarrativas em meu poder passa de 5.600, sem contar asde outras fontes, em todos os pases. No ver nissomais que farsa, inadmissvel. Das muitas cartasrecebidas a propsito do artigo em questo, destacareiesta, literalmente transcrita

    Dampierre (Seroe-et-Oise), 16 de Junho de 1922.Caro Senhor e ilustre Mestre.Peo-lhe desculpar a indiscrio e importunidade

    destas linhas. Depois de ler, hoje, o seu artigo no OJornal, ocorreu-me lembrar o seguinte fato, cujaautenticidade posso garantir. Meu falecido av, queera fiscal municipal aposentado, ao sair um dia do seuquarto, contou que tivera naquela noite um sonhoesquisito: sonhara com o seu primo J. P. a dizer -lheque acabava de morrer e lhe pedia que.oacompanhasse ao tabelio, onde faria o seu testamento.Bem no acabava de relatar o sonho, chegava oestafeta com o telegrama avisando a morte do primo,cuja enfermidade ignorvamos .

    Essa coincidncia muito impressionou a todos.Mais tarde, aberto o testamento, grande foi o espan to

  • da famlia ao verificar que no legara coisa alguma aosparentes que tanto estimava . O herdeiro contempladochegou a ser acusado de falsificao. Dar -se- que J.P, quisesse, com aquele sonho, despertar ateno paiaa anomalia do referido testamento ? E' o que podermelhor ajuizar o Mestre, se dignar de ler estas linhas.Finalmente, peo-lhe que aceite os protestos de minharespeitosa e profunda admirao.

    Paulo BrustierColetor de Dampierre (Seroe-et-Oise).A estas observaes inexplicadas e inexplic veis

    poderamos juntar outras muitas, anlogas. Poder -se-tentar interpret-las como transmisses telepticas esubconscientes, mas, neg-las absurdo. Como seexplicam? Antes de afirmar a ao de uma intelignciaestranha nossa, importa engatar todas as hiptesesnaturais, tanto as de um trabalho inconsciente doesprito, quanto s de uma memria a que nada tenhaescapado. Este rigorismo necessrio.

    *

    Regressemos, contudo, ao precedente caso deRobert Mackenzie e sua interpretao, analisando-a,dissecando-a. O que procuramos so provas dasobrevivncia da alma. E demonstrao de talimportncia, que exige exame rigoroso e mximaponderao de todas as abjees formuladas. A

  • apario de Mackenzie, em sonho, no intuito de seexculpar de uma falta imaginria, suscita mais de umaobjeo.

    Notarei, desde logo, que esta narrativa foi extrada,um tanto resumido pelo O Jornal, do meu livro -Depois da Morte - e que, entre as objees possveisassinalei, nesse mesmo livro, a de sugesto retardada.E como, de regra, o pblico alheio a estes estudos,no falei disso em meu artigo.

    Examinemos ento, aqui, essa hiptese de umatransmisso de pensamento do moribundo, antes deexpirar e permanecendo latente no crebro do receptor,para s aflorar depois do sono repousado. A estepropsito, recebi, de um leitor, os comentriosseguintes, que expem nitidamente no s essahiptese, como a de uma transmisso de pensamentopela leitura da carta recebida pela mulher doengenheiro:

    Pode ser - escreve-me o amvel correspondente -que Mackenzie, durante a sua demorada agonia tivesseapreendido, sem poder desmenti -los, os comentriosdas pessoas que o cercavam. Falar-se-ia de suicdio,num meio em que o suicdio tem foros de crime. Ohonesto rapaz ficaria, ento, no seu delrio, possudoda idia fixa de esclarecer o seu benfeitor, de lhe dizera verdade. E, como o pensamento no podia vocalizar -se, o instinto poderia, talvez, encontrar os meios decomunicao admitidos em telepatia, que o senhor no

  • recusa. Lanada no espao, a mensagem chegaria logoao destinatrio desprevenido? De incio, o industrialmuito absorvido pelos negcios - mesmo em sonho, anarrativa o prova - mostra-se refratrio entrevista,ter possivelmente repelido o importuno murmrio;mas, em vindo noite, apaziguados pouco a poucooutros rudos dissonantes, o inconsciente se lhe tornoumais sensvel ao sutil apelo e, constrangido pelainsistncia do fantasma, d-lhe, enfim, audincia. Oreato o senhor o sabe. Mas, esse fantasma, a que ttulopoder-se- afirmar seja uma entidade que regressa doalm, antes que um ser ainda vivente no momento daemisso? Exemplos de comunicaes retardadas sopelo senhor mesmo citado e como tais admitidas, emcasos anlogos, notadamente em Antes da Morte,pgs. 137 e 162.

    Ao demais, outra hiptese se aprese nta, inspiradapela sua prpria narrao, Consideremos que j existauma carta em viagem, ainda ignorada do engenheiro.Essa carta levava-lhe os pormenores do infaustoacontecimento, o que vale dizer que o contexto dessacarta era de natureza a dar ao sonho os primeiroselementos de afloramento e a imaginao, sempremais imaginativa no estado de sonho, saberiaaproveitar a dramaticidade da apario. Aquele saberem breve, repetido trs vezes pelo fantasma, no lheparece uma aluso direta e precisa chegada iminentedessa carta, sugestiva, distncia?

  • E assim sendo, eis reconduzidos aos fenmenos umpouco menos discutidos de segunda vista, de telepatia,etc. .. Estes, porm, para os que os admitem, noprovam inelutavelmente a sobrevivncia, objeto nicoda controvrsia.. A sua interpretao, caro Mestre, demodo algum se anula pelas minhas pois que podemsubsistir paralelamente. Mas, desde que ela, ensejahipteses concorrentes, deixa de ser decisiva de simesma.

    Jorge Izambard (Neuilly)

    Uma carta muito sria, esta, que contrasta com aamiga de Clemente Vautel. Ela emite duas hiptesespara explicar o fato. Comecemos pelo exame daprimeira.

    Tendo-a estudado de h muito tempo, no me serdifcil responder.

    Recebi, ao iniciar meu inqurito, em 1899, mais de5.600 observaes psquicas, diferentes, que aditei a500 outras j em meu poder. Alm dessas, outrastantas me chegaram de sociedades e ncleos de estudoda Frana, da Inglaterra, da Alemanha, etc . ; de sorteque estimo em mais de 10.000 o nmero de fatosdocumentados. Nesse nmero no h dois episdiosiguais, como manifestao total, ao de Mackenzie .

    O que mais se lhe aproxima, no concernente impresso cerebral retardada, o que se encontra emA Morte e seu Mistrio, tomo II, pg. 7, e que acima

  • referi: - a irm de Lus Noell, bela jovem de 18 anos,subitamente atacada de angina durante um passeio efalecendo aps dolorosa agonia, ao mesmo tempo quese manifestava ao irmo em Montpellier.

    Inscrevi este fato, absolutamente autntico e contrao qual no pode haver negao admissvel, em onmero das comunicaes telepticas entre vivos, eno como pstuma, deixando aberta a porta para asegunda hiptese, por isso que devemos buscarexplicao, primeiramente, na mentalidade dos vivos.Frederico Myers, o autor da impresso latenteretardada e que a estudou com tanto zelo, admite que oretardamento no pode exceder de a lgumas horas,doze no mximo e que esse retardamento se explicapela preocupao do crebro dur ante o dia, de modo ano facultar a manifestao antes que o espritorepousado possa ressenti-la. No dia da morte oestudante divertia-se. A irm, acometida no dia 22, tarde, morreu na manh seguinte. Ele no se recolheuseno antes da noite de 23 para 24, s 2 da madrugada.Deitou-se satisfeito, adormeceu logo e, l pelas 4horas, sonha com a irm, plida, sangrante, angustiada,lanando-lhe aquele grito desesperado eindefinidamente repetido . A hiptese do retardamentoperceptivo a se apresenta logicamente. O rapaz noestava em estado de receber, antes, o apelo fraterno.Concebemos, portanto, essa demora de 24 horas apso falecimento, admitindo que a moribunda tenha

  • desejado a presena do irmo, at que exalasse oderradeiro alento . Assiste-nos o direito, parece-me,dada a situao especial do percipiente, de prolongar aesse ponto o retardamento, posto que, regra geral, elese limite a poucas horas . Poderemos basear -nos nessaexperincia para explicar o caso Mackenzie? Aqui,vemos, essa interpretao no se adapta realidade.

    Ao meu ver, repito, entre milhares de casosobservados, o de Lus Noell o nico que se podecomparar ao de Mackenzie. Mas, ainda assim, quantadiferena! Vejamos, analisemos.

    Lus Noell ressente a impresso logo que ent ra emestado propiciatrio, na primeira noite seqente aoapelo, duas horas depois de comear o sono a libertar -lhe o crebro .

    O sonho do patro de Mackenzie s chegou na,segunda noite, 48 horas depois da morte. Paraaplicarmos a este sonho a hiptese do re tardamento,importaria supor que o patro no houvesse dormido anoite precedente. Nada que se relacione, portanto, como que publicou o prprio Myers e a idia de umaimpresso latente a no colhe, sendo ele, embora, oautor desta hiptese. Deveramos, a mais, supor que ocrebro no estivesse em estado de receptividadeseno aps toda uma noite de sono, at hora deacordar. Parece-me, portanto, devermos eliminar estaexplicao e que, em matr ia de retardamento, o deLus Noell constitui um mximo nico, desde que h

  • um limite ao intervalo possvel entre a emisso e arecepo. A ao do morto subsiste, ento, como aexplicao mais provvel e mais admissvel .

    Quanto de uma transmisso de pensamento,devida chegada da carta mulher do engenheiro,tenho-a por menos concebvel ainda, visto que essacarta anunciava o suicdio e no a falsid ade dainterpretao . Seria preciso admitir que a leitora dacarta no acreditasse no que lia e imaginasse umengano fatalstico . Leitura teleptica da carta, e nto,feita pelo engenheiro adormec ido e combinaes doseu esprito? Hipteses sobre hipteses! Aqui, no setrata de relao direta original. Notemos que FredericoMyers, autor da clebre obra Fantasma dos Vivos, nochegou a escrever Fantasmas dos mortos, seno emdefesa prpria e aps 10 anos de discussescontraditrias. Quanto a mim, estou no mesmo caso,s tendo admitido a manifestao dos mortos, naimpossibilidade de as explicar como de vivos. Asoutras hipteses no resistem a uma anlise rigorosa ecompleta .

    Entre as muitas cartas recebidas como fruto deinvestigaes tendentes a explicai o caso, por atos domoribundo, em vida, noto as de Grandmougin,Geoffriault,

    Clemente de Saint-Marcq, Kontz, de Schildkvecht,Flobert. A maior parte invoca uma tr ansmisso depensamento, proveniente da carta recebida pela mulher

  • do engenheiro. Como temos visto, essas duas hiptesesno colhem. Lembro-as aqui para provar, ainda umavez, que ns buscamos, antes de tudo, a elucidaocompleta . Houve nisto um belo exe mplo decontrovrsia na imprensa francesa; que merece aquiregistrado, no obstante a sua extenso.

    Ajuntarei, ainda, que o aspecto cadavrico dosuicida - lividez da ctis e manchas sintomticas deenvenenamento letal - atestam superiormente, maisque todas os argumentos, a realidade dessamanifestao pstuma. Pode-se divergir nasexplicaes, como nas teorias suscetveis deracionalizar os fatos, mas, negar simplesmente os fatos um erro indesculpvel.

    Nossas primeiras impresses levam-nos a atribuir telepatia entre vivos estas manifestaes post -mortem,mas h, casos em que essa interpretao no cabe. Osautores de Fantasmas dos vivos assinalaram, a esterespeito o exemplo da Senhora Menncer, a sonhar duasvezes na mesma noite, que via de p, junta d o leito, oirmo decapitado, com a cabea num esquife ao lado.A senhora ignorava o paradeiro desse irmo, SenhorWellington, em viagem no estrangeiro . De fato, estavaele ento em Sarawok com o Senhor James Brooke efora morto numa insurreio chinesa. Haviam-notomados por filho do raj, cortaram-lhe as cabeas equeimaram o corpo com a casa do prprio raj. A datado sonho coincidiu mais com o feito. E' quase certo

  • que a degolao fosse praticada, visto no se tratar desoldados chineses, mas de operri os de -uma minaaurfera que, ao assalt-la, utilizavam como armas tudoque lhes caa em mo. Destarte no poderiam matarum europeu em defensiva, seno degolando -o de umgolpe. H que concluir, portanto, que a impressosobre a irm se produziu depois de consumado oseccionamento do crebro.

    O mesmo volume de Fantasmas registra outro casono menos probante, contra a hiptese teleptica antesda morte. E este:

    A Senhora Storie, de Edimburgo, morava ento emHobart Town, na Tasmnia. Uma noite, teve um sonh oestranho, confuso, numa Srie de vises destacadas.Via o irmo gmeo assentado numa elevao deterreno obliquamente aclarado pela lua. Ele erguia osbraos para ela, gritava - o combio! o combio!Depois, algo que o esbarra; ele cai inanimado e logopassa um objeto volumoso e negro, apitando. Depois,entrev um compartimento de vago ferrovirio, oirmo comprimindo a cabea com as mos e,finalmente, uma voz desconhecida a dizer -lhe que oirmo acabava de morrer. Ora, o que se verificou foique, nessa mesma noite, o irmo fora colhido e mortopor um combio, no local em que se assentara paradescansar.

    Os pormenores deste sonho correspondem realidade. O Rev. Johnston era passageiro do combio

  • sinistro. No podendo o acidente ser conhecido davtima, ainda em vida, preciso admitir a visosonamblica produzida pela vtima, atuando sobre airm, no momento de passar o combio, para que elaentrevisse o acidente mortal. No foi, pois, antes, masdurante e depois do golpe fatal, que ele agiu.

    Lgica e normalmente devemos atribuir essesfenmenos a faculdades do ser vivente, porventuraainda desconhecidas da Cincia e, pelo que me toca,sinto-me tanto mais inclinado a isso, quanto aAstronomia nos mostra estrelas j inexistentes, dasquais ainda estamos recebendo os raios que elasemitiram h milhares de anos . Assim, mortas, comose ainda nos falassem. Mas, nem por isso devemoscontentar-nos com raciocnios insuficientes.

    *

    E' muito natural - at dever nosso - duvidar damanifestao dos defuntos, desde que a prova se nofaa. A nossa tendncia para considerar suspeitastodas as narrativas inerentes a manifestaes demortos. A isso nos autorizam a improbabilidadeaparente e a raridade das provas positivas ocorrentes .Antes de tudo, a sinceridade dos narradores pode serposta em dvida. H mentirosos, h farsantes.

  • Depois, no caso de haver sinceridade absoluta, nemsempre a memria so fiis e, assim, possibilitam-searranjos e exageros.

    Enfim, o problema, em si mesmo, to grave queno podemos nem devemos admitir observaes queno sejam absolutamente indiscutveis . E de resto,importa ainda saber interpretar essas observaes,convencidos de no poderem elas explicar -se pelasfaculdades humanas, s admitindo ao dostrespassados quando no h aja hiptese outraadmissvel. Estes elementos de estudo s prevalecem evingam sob a condio de ser o observador, de simesmo, instrudo e adestrado nessa ordem de fatos,para falar com conhecimento de causa.

    Notarei mesmo, a propsito, que, em geral, seimpingem ao pblico as mais estranhas confuses, arespeito de assuntos metapsquicos. Assim que,tomando um exemplo recente, parece que umas taisexperincias de trs professares da Sorbona, em 1922,sobre formao de protoplasmas, deram resultadonegativo ou - para ser mais verdico - incompleto, daresultando a afirmativa da inexistncia demanifestaes post-mortem. Singular raciocnio!Efetivamente, que pode haver de co mum entre aimortalidade da alma e os produtos orgnicos,quaisquer, sados da boca ou do nariz da senhorita Aou da senhora B ? Certo, milhares de leitores dessesperidicos tero acreditado em tais dedues,

  • estpidas quo ridculas. Sim, conviria saber do que setrata... Se algum me dissesse que acabava depresenciar um descarrilamento de trem com mortos eferidos, assegurando-me, concomitantemente, que aLua no gira em torno da Terra, eu me perguntariadesde logo por qual srie de falsos raciocnios odepoente chegara a passar da locomotiva Lua.

    Pois a verdade que todos os dias vem aberraesdeste jaez. Estas observaes, a mim dirigida porpessoas desconhecidas, no diferem das apresentadaspor velhos conhecidos, nas quais confio tanto comoem mim mesmo. Se as primeiras so verdicas, no hrazo para supor que estas no o s ejam. A classe dosfarsantes rara transparece em narrativas deste gnero,mxime em se tratando de um parente. Elas traduzemluto e mgoas, que no comportam pilhrias. No sebrinca com uns tantos assuntos . E depois, asinceridade tem as suas caracterst icas, o estilo ohomem, como disse Buffon .

    Encontro-me perante estes correspondentes, namesma atitude que mantenho com quantos me enviam,de todos os pontos do globo, as suas observaes sobreAstronomia e Meteorologia.

    Quando algum me escreve que obs ervou umeclipse, um blido, estrelas cadentes, uma variao emJpiter ou Marte, uma aurora boreal, um tremor deterra, um furaco, um arco-ris lunar, etc., eu o creio desincera e boa f, sem no entanto deixar de examinar e

  • julgar a comunicao. Podero dizer-me que o casono identicamente o mesmo, visto que umaobservao astronmica, ou meteorolgica, pode tersido feita por diversas pessoas ao mesmo tempo, o quevale por uma espcie de contraprova. E' fato. Mas,quanto ao meu juzo sobre a sincerid ade doobservador, o caso absolutamente idntico: eu oadmito a ttulo de inventrio e com todos os direitos delivre exame. Nos casos de telepatia, e outros, so oshumanos mesmos que esto em jogo, que gozam detodas as suas faculdades intelectuais, qu e esto noestado de esprito mais normal, provando -o por seusprprios raciocnios . No tenho, a priori, mais razopara desconfiar de um sbio, de um professor, de ummagistrado, de um padre, de um lavrador, quando meexpem um fato psquico, do que qua ndo se trata deuma observao fsica. Entretanto, como essesfenmenos so mais raros e menos crveis, comeceipor controlar grande nmero, tomando informaes epromovendo inquritos, que chegaram, quase sempre,a confirmar pura e simplesmente os relatr iosrecebidos .

    Foi o que o seu turno fez a Sociedade Psquica deLondres. Apesar da algumas variaes na formanarrativa, de certas obnubilaes de memria, semprese chega concluso da realidade do fato original.Contudo, se os impostores so raros, muitos so os quese iludem. Nesta ordem de fenmenos, poderamos

  • dizer que eles formam legio. Ningum pode avaliar alatitude da credulidade humana! O estilo tambmmuito caracterstico. Todavia, a falsa moeda noimpede exista a legtima. O mais difcil para o homem, talvez, manter-se independente, dizer o que sabe e oque pensa, liberto de preconceitos . Vitam impenderavero!

    Consagrar sua vida Verdade. Nobre divisa deJuvenal e de Rousseau, que s produz inimigos , poisque esta humanidade antes de tudo grosseira,brbara, ignorante, covarde e hipcrita.

    O que ainda existe de curioso, talvez, e a pesquisafranca da verdade desagrada a toda a gente, porquecada crebro alimenta os seus pequeninos pre juzos,dos quais no quer desapegar-se.

    Se eu disser, por exemplo, que a sobrevivncia daalma, j comprovvel pela Filosofia, s er dentro embreve experimentalmente provada pelas cincias;psquicas, mais de um cptico sorrir da minhaafirmao

    Se eu disser, ao contrrio, que o espiritista queinvoca Scrates ou Newton, Arquimedes ou SantoAgostinho, supondo tutear com eles, vtima de umailuso pela frente todo um partido disposto a lapidar-me.

    Pois bem! Enquanto chove o granizo com que mehonram, insisto em afirmar que o ser humano no

  • conhecido dos naturalistas, nem dos fisiologistas, nemdos filsofos.

    Uma pessoa falecida em Paris pode aparecersimultaneamente na Arglia, na Amrica ou na China.E aparece sem deslocar-se.

    Uma jovem a danar uma valsa com o noivoadorado, pode ver, de repente, sur gir no salo agenitora e gritar que ela est morrendo, naqueleinstante, a 1.000 quilmetros de distncia.

    Um indivduo passando na rua, sob as janelas depessoa amiga, pode aparecer -lhe no quarto sem sair darua. Vosso pensamento pode atuar em outrem,independente dos sentidos.

    Poderemos, em sonho, ver um pas desconhecido,l nos sentindo tal como deva suceder 10 anos maistarde.

    Passado e futuro so perceptveis, s o presenteinexiste, atento a que ele se reduz, cientificamenteanalisado, a menos de um centsimo de segundo .Espao e tempo no existem, tais como osconcebemos, mensuradamente. O que h o Infinito, a Eternidade.

    distncia de Srius no tem maiores longos, emrelao ao infinito, do que a existente entre a vossamo esquerda e a direita. A eletricidade j nosfamiliarizou com as transmisses rpidas, distncia.Eletricidade o luz no necessitam de dois segundospara ir da Terra Lua. A matria, to -pouco, o que

  • parece ser. Em resumo: a cincia de todas asacademias da Terra no representa mais que enormeignorncia.

    Nada sabemos de exato, preciso, absoluto, sejasobre o que for, e a verdade que estamos rodeados deforas ainda desconhecidas.

    Que, pais, ningum tenha a arrogncia de afirmarque isto ou aquilo possvel, ou impo ssvel. Um sdireito nos compete - o da modstia, sobretudo noconcernente aos problemas da vida e da morte.Vivemos no desconhecido. Mas, ainda assim, belo, bom, til investigar .

    Laplace raciocinava acertadamente ao escrever, nasua Teoria Analtica das Probabilidades, o seguinte:

    To longe estamos de conhecer todos os agentes daNatureza e seus modos de ao, que seria poucofilosfico negar quaisquer fenmenos s pelo fato deserem inexplicveis no estado atual dos nossosconhecimentos. Precisamos, somente, examin-loscom ateno tanto mais escrupulosa, quanto maisdifceis de admitir. E o clculo das probabilidades sefaz indispensvel, para determinar at que ponto preciso multiplicar as observaes, a fim de obter, afavor dos agentes que el as indiquem, umaprobabilidade superior s razes existentes para noadmitir o fenmeno.

    Este argumento do imortal astrnomo francsconfirma toda a ndole do nosso labor atual sobre os

  • problemas metapsquicos. Note -se que ele o publicou apropsito do magnetismo animal e da varinhadivinatria. Peo a meus leitores ponderarem a ltimafrase, aplicando-a ao nmero das observaes que eutive que discutir. Com Laplace, estou em boacompanhia. Continuemos pois. H observaes queacabam por tornarem-se irritantes. Assim, a quepretende s admissvel o fenmeno cientfico quandosuscetvel de renovao. Tanto vale concluir pelainexistncia do raio, por no podermos recome -lo .

    Negar a queda de um aerlito, por no podermosreproduzi-la vontade. Haver por fabuloso um eclipse,por ser preciso esperar condies lni -solares idnticaspara rev-lo, ou que um abalo ssmico no ocorreuporque no nos possvel repeti-lo.

    Tanto vale confundir duas ordens de coisasinteiramente distintas, isto : a observao e aexperimentao. Um fenmeno espontneo observa -se; um composto qumico fabrica. -seexperimentalmente. Ora, no raro constatarmos esseerro de raciocnio, mesmo entre homens habituadosaos mtodos cientficos. A Astronomia, aMeteorologia, so cincias de observao, mas aMecnica e uma cincia experimental. Devero asmanifestaes dos mortos ser admitida entre os fatoscientificamente demonstrados por observaessuficientes? Esta a questo, que se torna intilcomplicar com dissertaes marginais. A campanha

  • insensata contra a manifestao dos mortos ensejadospela publicao do 3. volume da minha obra induz -me a insistir na realidade incont estvel dessasmanifestaes. So inumerveis os testemunhos. Paratestemunhos, preciso acusar os depoentes d ehaverem observado mal, de se terem iludido, e atmentido. Acusaes que se justificariam talvezparciais, mas no totalmente. Examinemos a frio,atentamente, algumas dessas manifestaes,comeando por uma das mais remotas.

    Este velho depoimento que os meus leitores jconhecem, por hav-lo transcrito em Urnia, de umescritor. justamente reputado, pela integridade dojulgamento e cuidado que dispensava a tudo quantoredigia. Trata-se da histria de dois viajantes, contadapor Ccero:

    Dois amigos chegaram a Megara e alojaram-se emcmodos separados. Um deles, mal adormeceu, viu ooutro diante de si, anunciando -lhe que o seuhospedeiro tinha o intuito de o assassinar e pelo quelhe pedia fosse imediatamente socorr -lo.Impressionado, chegou a levantar -se, mas, logopersuadido de que era tudo sonho, no tardou areadormecer. De novo lhe apareceu o amigo e oconcitou a apressarem-se, porque os assassinosestavam na iminncia de lhe invadir o quarto . Maisimpressionado com a persistncia do sonho, resolveuprocurar o amigo, mas o raciocnio e a fadiga

  • acabaram triunfando e ele tornou a deitar -se. Eis queainda uma vez lhe aparece o outro, a dizer:Desgraado, no foste quando te implorava! agora, sresta vingar-me: ao clarear o dia, veras uma carreta deesterco parada a porta da cidade; mandas descarregar eachars o meu corpo. Providencia para o meusepultamento e pune os assassinos.

    Tamanha insistncia e tantos pormenores noadmitiam hesitao. O homem levantou-se, foi ao localindicado, l encontrou a carreta, deteve o carreteiroque logo se perturbou, e assim descobriu o cadver doamigo.

    Ai tem a narrao do clebre autor latino. Quepensar? Podero objetar que a coisa no se passou talcomo no-la conta Ccero; que foi amplificada,exagerada; que dois amigos em chegando a umacidade estranha podem temer um acidente; que,temendo pela sorte de um amigo, fatigado da viagem eno silncio da noite, chega-se a sonhar com umhomicdio. Quanto a.o episdio da carreta, os viajantespodiam ter avistado alguma no ptio da hospedria eela se insinuaria no sonho, por associao de idias.Sim, podem imaginar-se todas as hiptesesexplicativas, mas, sero sempre hipteses.Satisfatrias? Para. mim, no, absolutamente. No meparece que Ccero houvesse contado essa h istriacomo exemplificante de sonhos divinatrios, se notivesse tido boas razes para isso, tanto que, sem maior

  • estranheza, acrescenta: Quid hoc somnio dici diviniuspoteat.

    E' difcil suprimir com uma penada esta pgina deCcero . Os mais recalcitran tes, em matria desobrevivncia, no ousam faz-lo e at costumam cit-la a ttulo de curiosidade: Brire d e Boismont, comoalucinao; Ch. Richet, como fenmeno metapsquico,etc . Mas, que o que nos ensinam essas palavras?No ocultam, simplesmente, uma verdade a descobrir?Se admitirmos a narrativa tal como , devemos aceitarque a vtima anunciasse a sua morte, tanto quanto ascircunstncias que a acarretaram . Dir-me-o : no hcerteza. . . De acordo. No h certeza, tambm, de quepossais receber um soco na cara ou uma bala nocorao, e por isso tenho dito que h gradaes entre aprobabilidade e a certeza. O estrito dever do homemsincero , porm, exercer livremente o seu julgamento.Aos meus leitores peo apenas ateno e lealdade.

    Ora, supor que Ccero tenha inventado essahistria, no admissvel. As observaes desta ordemso numerosas e atribu-las a alucinao, coincidnciasfortuitas, etc., no explicao que satisfaa, ou ser,a rigor, uma explicao que nada explica. Uma turbade ignorantes de todas as classes, idades e profisses -lavradores, negociantes, cpticos por ndole ou pordesconhecimento de causa - declara simplesmente noacreditar nessas coisas. Este no tambm umargumento satisfatrio, e muita menos uma soluo.

  • Os estudiosos no podem contentar -se comdenegaes to ocas. Um fato sempre um fato e noh como recus-lo, s porque os conhecimentos daatualidade no nos permitem explic -lo. Certo, osanais da Medicina atestam a realidade da alucinao, ede mais de um gnero, a que esto sujeitas certasorganizaes nervosas . Mas, da a concluir que todosos fenmenos psico-biolgicos no explicados sejamalucinaes, vai um abismo.

    *

    O esprito cientfico do nosso sculo procura, comrazo, destacar todos estes fatos das nvoas enganosasdo supranaturalismo, atento a que nada existesobrenatural e a Natureza, cujo reino infinito,abrange tudo. Neste momento, estamos a verjornalistas ignorantes ou de m f, pretenderem quetodos esses relatos de aparies e comu nicaes demanos procedem de pessoas destitudas de valorintelectual. Poder-se- tal coisa dizer de um Ccero,um Montaigne, um La Rochefoucault, um Goethe,todos, enfim, que versaram este nosso assunto?

    Eis outra observao bem conhecida de meusleitores, isto , a de Lord Brougham, contada por eleprprio, que era, como sabemos, membro eminente doInstituto de Frana e da Sociedade Real de Londres .Os homens da minha gerao viram esse belo ancio

  • em Paris, ou em Cornes, onde faleceu, em 1858. Essepensador escreveu a sua biografia e publicou, emOutubro de 1862, o extrato a seguir. Ningumduvidou, jamais, da exatido dessa lembranaremontante ao ms de Dezembro de 1799, quando ofuturo poltico e clebre historiador ingls no contavamais de 20 anos e viajava pela Sucia.

    A temperatura estava fria. Chegando a um alberguede boa aparncia, em Gotemburgo, pedi um banhoquente e nele sucedeu-me uma coisa to curiosa queno resisto ao desejo de cont -la desde o principio.Tive um condiscpulo amigo, na High School,Chamava-se G. e eu tinha por ele uma afeioparticular. Muitas vezes discutamos o grande tema daimortalidade da alma. Um dia tivemos a fantasia deredigir um pacto, escrito com o prprio sangue, peloqual o que primeiro morresse haveria de manifestar-seao sobrevivente, a fim de desfazer toda e qualquerdvida a respeito. O amigo morrera nas ndias e eutinha-o mais ou menos esquecido.

    Estava assim, como dizia, deliciosamentemergulhado no meu banho e, qual no foi meu espantoquando, disposto a erguer-me, a.o fitar a cadeira ondedeixara a roupa, deparou-se-me nela assentado ofalecido G... a encarar-me com serenidade! At hojeno sei como sai da banheira, seno que, quando deiacordo de mim, estava estendido no cho.

  • A apario, ou o que melhor nome tenha, haviadesaparecido, mas, a impresso que ela me causou foito forte que me levou a escrev-la imediatamente ecom todos os pormenores, nesse mesmo dia que era,por sinal, o 19 de Dezembro .

    Lord Brougham acrescenta que, ao regressar aEdimburgo, ali encontrou uma carta na qual lhecomunicavam a morte de G... no dia. 19 de Dezembro.Parece-me que Lord Brougham, tanto como Ccero,no um valor desprezvel e que esta observaomerece considerada. Ela no representa, concordo,mais que uma probabilidade, mas, pergunto: essaprobabilidade no se avizinha da certeza.? Euconjeturei, antes de tudo, uma iluso causada pelodispositivo das roupas na cadeira, mas tambmconsiderei logo que: 1 - a semelhana foi tosurpreendente como inesperada ; 2 - que acoincidncia da morte e a existncia do pacto depema prol da viso.

    Um dos membros mais ilustrados do nossoInstituto Metapsquico, o professor Richet, no admitea prova de sobrevivncia que, para ns, ressalta destasobservaes. Entretanto, ele prprio cita, no seumonumental Tratado de Metapsquico, vrios fatos quenos levam, tal como os dois precedentes, mesmaconcluso . Um deles, o seguinte:

    Certa feita, quando comeava a adormecer, viudeslizar uma sombra branca e transparente, q ue ai

  • destacou lentamente da chamin, avanou para o seuleito e fez ouvir interiormente estas palavras: sejasempre amigo de meu filho. Depois, a sombra elevou -se lenta e ele reconheceu a um de um dos seusmelhores amigos, a qual deixara de perfeita sade .Levantou-se, ento, procurou certificar -se de que nofora vtima de uma iluso. Mas, a noite estava escura,no havia luar. O fato que a pessoa, cuja formareconhecera, havia falecido duas horas antes.

    Ora pois! se essa me morreu duas horas antes,porque atribuir essa observao a uma criptestesiamisteriosa, vocbulo que, antes de tudo, faz-se precisodefinir claramente? No digo que, muitas vezes, secontentam com palavras? Dizer que vemos o que estoculto no explicar melhor a significao da pa lavralucidez. Outro exemplo colhido no mesmo autor:

    A Srta. Beale contava 14 anos e uma noite viuentrar-lhe pelo quarto um vulto de homem envoltonum roupo flutuante e como a procurar abrir caminhocom as mos. Sbito, desapareceu . A senhorita,apavorada, chamou pela companheira de quarto, quelhe disse: - h de ser meu irmo C... No dia seguinte,ao almoo, o C... negou ter vindo, mas, declarou quetambm ele tinha visto, no seu quarto, o dito vulto,parecendo-lhe um amigo enfermo, porm no grave eque um dia lhe dissera : o que morrer primeiro, darum sinal Verificaram mais tarde que o bito se deraprecisamente naquela noite.

  • O defunto desobrigava-se de uma promessa.Porque duvidar ?

    A criptestesia, a lucidez, explicam o fato? No vemo morto ao caso? Isso o que desejamos saber.

    Outro exemplo, citado na mesma obra e que, deresto, tambm publiquei no A Morte e o seu Mistrio,t. III, pg. 144:

    O Senhor Belbder, do 6. Colonial, tinha ido comalguns amigos gozar uns dias de frias em Ribrac(Dordogne) .

    A Srta. Estela, 17 anos de idade, viu na sua alcovaum jovem camarada que lhe votava fraternal afeio.A porta abriu-se, diz ela - eu vi-o entrar. Levantei-mepara colocar a poltrona junto do fogo, pois fazia frio,e notei que ele no trazia agasa lho. Censurei-lhetamanha imprevidncia e ele, ao invs de responder -me, levou a mo ao peito e cabea. Estava assim afalar-lhe, quando entrou o Dr. G... e me perguntoucom quem me entretinha... Veja, disse -lhe: - estenaaluquinho sem capote e to rouco que nem podefalar; empreste-lhe o sobretudo e mande-o para casa,meu caro doutor. . . Nunca poderei esquecer a cara deespanto que fez o doutor, por isso mesmo que, sabia -oele, Bertie havia falecido 20 minutos antes. E,contudo, eu o vira dar volta ma aneta e abrir a porta,entrar e assentar-se, enquanto eu acendia as lmpadas.

  • Esse rapaz tinha morrido e a Srta. Esteia no sabia.Ele se mostrou em casa dela, eis o que importaexplicar.

    Alegam que as nossas provas so insuficientes, masno consideram que as provas que podemos e devemosexigir nestas pesquisas no so as me smas a queestamos afeitos nos laboratrios experimentais deQumica ou de Fsica. Sim, porque os mortos no estoao nosso dispor e somos forado s a nos louvar na boaf, na honestidade, na conscincia enfim, dosnarradores . Se uma honrada mulher me escreve, empapel ainda molhado de lgrimas, que acaba de obteruma prova do marido enterrado na vspera, eu possoconjeturar uma iluso visual, mas, no uma h istriainventada para me enganar, e, menos ainda, que osconselhos solicitados no passem de simples comdia.Se algum adoece em conseqncia de uma apario,no posso coligir da uma cilada minha credulidade,etc. Quando as informaes confirmam que estamoslidando com gente honesta, o simples bom sensomanda que aceitemos os depoimentos, examinando -os,analisando-os e interpretando-os com o mximocuidado, eliminando todos os casos possveis de ilusoe alucinao. Muito tenho publicado e redito sobre asprecaues tomadas contra os farsantes e impostores, oque dispensa de repisai no assunto . E' o que ignoram,em geral, os superficiais e incompetentescontraditores. No resta, portanto, de seriamente

  • admissvel, seno a hiptese da iluso, raro vivel e,muitas vezes, refratria a todos os pontos de vista,como no seguinte caso:

    Sexta-feira 22 de Agosto de 1890, s 10 horas damanh, um tal Senhor Russel, cantor da Igreja de S.Lucas, em S. Francisco tombou em plena rua,acometido de apoplexia. Transportado a su aresidncia, ali expirou s 11 horas. No sbado, deveria,ele repetir um trecho musical. O fato que, nessasexta-feira, tarde, o mestre de canto Senhor Reevesestava a procurar o trecho de msica a ser cantado noseguinte domingo, quando, ao sair do aposento,deparou com o cantor plido, na. escada e tendo umrolo de msica em uma mo, enquanto na. outraapoiava a testa.

    Ele se apresentava to real, to vivo - diz o SenhorReeves -, que fui resoluto ao seu encontro paracumpriment-lo e dar-lhe as boas vindas. Mas, eis queele se desfez qual nuvem no ar. O observador,estupefato, ps-se a gritar - Meu Deus! A irm e asobrinha acudiram prestes, ele queria falar e nopodia.. A pesar de robusto, sadio e cptico, ado eceu eassim esteve alguns dias.

    Escusado dizer que ignorava a morte do cantor, trshoras antes. Seu grilo foi ouvido por trs pessoas. Aviso se verificou em condies todas normais deviglia, em pleno dia, no permi te sequer imaginaruma alucinao hipntica.

  • Esta narrativa to minudente, confirmada peloreitor da Igreja de So Lucas em carta dirigida aoprofessor Adams, de Cambridge, poder ser averbadade suspeita? No nos autoriza o simples bom senso adar as costas aos narradores? porque negarobservaes desta espcie tudo negar. Tambm nosadvertem que no somos obrigados a a ceitar tudo oque nos contam e precisamos ter em con ta que hfarsantes e impostores. Mas, isso mesmo me temrepetido dez vezes, sem que da se colija a inexistnciade casos como este, que no comportam a tocha deinvencionice. A palavra coincidncia tambm temgrande consumo na boca dos nossos contraditores.Pergunto, ento, que virtudes lhe assinariam nestecaso? No vemos nele evidente relao de causa eefeito? No e o defunto