cambuca

3
luz do entardecer e o chei- ro de café coado anunciam uma boa conversa prestes a começar. Entre um beliscar de queijo e um gole da bebida passada na hora, ouço muitas histórias, como a de um tal cambucá (Plinia edulis ). Quem conta é Maria Eneida Pupo Pimentel, minha avó. “Lembro que sua cor era entre o amarelo e o laranja quando estava boa para chupar. Seu sabor era delicioso, muito docinho. Cortávamos uma bei- rada e espremíamos à espera do caldo cremoso”, diz, buscando detalhes em suas memórias de infância passada na fazenda de seu pai. Na fazenda Santo Aleixo, localizada no bairro do Pantaleão, na cidade de Am- paro, interior de São Paulo, meu bisavô recebia muitas pessoas e dentre eles ha- via um homem – de nome Henrique De La Roque – que, sob a sombra de um cambucazeiro, falava de negócios e de seu gosto pelo fruto. “Este dou- tor voltou uma porção de vezes”, conta minha avó, após mais um gole de café, “para provar mais uma daquela saborosa fruta e falar sobre outras coisas”. Os cambucás já foram coad- juvantes não somente da história de minha avó, Maria Eneida, mas de pessoas próximas do imperador Dom Pedro I, além de constar nas páginas do livro Sonhos d’Ouro, de José de Alencar e da canção Olhos Verdes, do compositor e Fruta boa de chupar, memória saborosa de infância no interior e nos jardins imperiais. Assim o cambucá é saudado em canções e mencionado em livros. Mas é preciso muito mais do que isso para não relegar a espécie apenas a doces lembranças... CAMBUCá FLORA BRASILEIRA x x texto AMANDA PIMENTEL A 38 TERRA DA GENTE 39 TERRA DA GENTE SILVESTRE SILVA

Upload: matheus-fortunato

Post on 30-Jul-2015

583 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cambuca

luz do entardecer e o chei-

ro de café coado anunciam

uma boa conversa prestes

a começar. Entre um beliscar de queijo

e um gole da bebida passada na hora,

ouço muitas histórias, como a de um

tal cambucá (Plinia edulis). Quem conta

é Maria Eneida Pupo Pimentel, minha

avó. “Lembro que sua cor era entre o

amarelo e o laranja quando estava boa

para chupar. Seu sabor era delicioso,

muito docinho. Cortávamos uma bei-

rada e espremíamos à espera do caldo

cremoso”, diz, buscando detalhes em

suas memórias de infância passada na

fazenda de seu pai.

Na fazenda Santo Aleixo, localizada

no bairro do Pantaleão, na cidade de Am-

paro, interior de São Paulo, meu bisavô

recebia muitas pessoas e dentre eles ha-

via um homem – de nome Henrique De

La Roque – que, sob a sombra de um

cambucazeiro, falava de negócios e

de seu gosto pelo fruto. “Este dou-

tor voltou uma porção de vezes”,

conta minha avó, após mais um

gole de café, “para provar mais

uma daquela saborosa fruta e

falar sobre outras coisas”.

Os cambucás já foram coad-

juvantes não somente da história

de minha avó, Maria Eneida, mas de

pessoas próximas do imperador Dom

Pedro I, além de constar nas páginas do

livro Sonhos d’Ouro, de José de Alencar e

da canção Olhos Verdes, do compositor e

Fruta boa de chupar, memória saborosa de infância no interior e nos jardins imperiais. Assim o cambucá é saudado em canções e mencionado em livros. Mas é preciso muito mais do que isso

para não relegar a espécie apenas a doces lembranças...

cambucá

flora brasileirax x

texto AmAndA Pimentel

A38

TE

RR

A D

A G

EN

TE

39

TE

RR

A D

A G

EN

TE

silv

estr

e si

lva

Page 2: Cambuca

40

arranjador Vicente Paiva, interpretada

nos anos 1950 por Dalva de Oliveira, e,

nos anos 1970, por Gal Costa.

O nome da fruta se eternizou, mas

a planta não teve a mesma sorte. “Em-

bora ainda sejam predominantes em

diversas regiões da Mata Atlântica, di-

versas mirtáceas estão ameaçadas de

extinção”, diz Tati Ishikawa, mestre

e doutora pela Faculdade de Ciências

Farmacêuticas da Universidade de São

Paulo (USP) e pesquisadora dos cambu-

cazeiros. “Nós estamos, literalmente,

destruindo uma biblioteca enorme de

possibilidades, de conhecimento. São

espécies endêmicas, de ocorrência ex-

clusiva no território nacional, que nun-

ca chegaremos a conhecer”.

Segundo Silvestre Silva, jornalista

e fotógrafo viajante, autor de 5 livros

sobre frutas brasileiras, “é uma rarida-

de encontrar uma árvore de cambucá.

Quer seja no seu hábitat natural da

Mata Atlântica ou cultivada. Os mo-

tivos? Por ser de difícil germinação e

regeneração natural nas matas e pelo

descaso do brasileiro com as espécies

nativas importantes do seu País”.

Já Tati acredita na possibilidade de

as pesquisas despertarem o interesse da

comunidade científica e da população

acerca do cambucá, culminando no in-

centivo ao reflorestamento: “A geração

de conhecimento, especialmente no

que se refere à flora e fauna brasileiras

e sua divulgação, é sempre importante

para alertar sobre o desaparecimento

de espécies – sobretudo as nativas e as

endêmicas em ecossistemas ameaça-

dos, como é o caso da Mata Atlântica.

Acredito que fomentando o interesse e

valorizando espécies nativas, estamos

contribuindo para o uso sustentável e,

por consequência, para a necessidade

do reflorestamento”.

Os poucos privilegiados que ainda

podem contemplar as floradas dos cam-

bucazeiros – entre outubro e novembro

– mal podem esperar a nova carga de

cambucás por elas anunciadas, que só

amadurecem em meados de dezembro.

Algumas árvores do interior mais som-

breado e úmido das matas frutificam

em pleno outono, apresentando frutos

maduros em maio.

Como as jabuticabas, os frutos do

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

41

cambucá nascem

direto do caule da ár-

vore e, em geral, têm

apenas uma semente

arredondada e grande. “A

casca é grossa e de coloração inicial

esverdeada até chegar ao tom amarelo

alaranjado, no momento ideal para a co-

lheita, quando os frutos medem entre 3 e

5 centímetros de diâmetro”, descreve a pes-

quisadora Tati. A polpa carnosa e suculenta,

de sabor agridoce, atrai muitas aves e peque-

nos mamíferos.

E devia ser muito apreciada pelos índios de

língua tupi-guarani para receber um nome cujo

significado é ‘fruta de chupar’ (camb = mamar ou

chupar e iká = fruta). Também do nome científico

consta o sabor, de acordo com Helton Josué Teodo-

ro Muniz, idealizador do site Frutas Raras: “o nome

Plinia homenageia o naturalista Caio Plínio Cecílio e

edulis quer dizer édulo, ou seja, saboroso e comestível”.

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

OlhOs verdes (Vicente Paiva, 1908-1964)

vem, de uma remota batucada uma cadência bem marcada

que uma baiana tem no andar e nos seus requebros e maneiras

na graça toda das palmeiras esguias, altaneiras a balançar são da cor do mar, da cor da mata os olhos verdes da mulata

são cismadores e fatais, fatais e no beijo ardente perfumado

conserva o cravo do pecado de sabores cambucás

direto do cauleO cambucá maduro mede de 3 a 5 centímetros e tem casca grossa no tom amarelo alaranjado (acima). A floração ocorre entre outubro e novembro e os frutos nascem no caule, como a jabuticaba (à dir.)

silv

estr

e si

lva

anes

tor

Mez

zoM

o

anes

tor

Mez

zoM

o

42

A espécie ocorria na Mata Atlântica,

do Rio de Janeiro até o Rio Grande do

Sul. A árvore é considerada de pequeno

porte, por atingir até 10 metros de al-

tura. Seu tronco possui casca lisa, mas

descama uma vez por ano, como o das

goiabeiras e das jabuticabeiras. As fo-

lhas são escuras e brilhantes, formando

uma copa densa, de boa sombra. Uma

característica promissora para uso em

paisagismo e reflorestamento, segundo

a especialista da USP. “Embora seu cres-

cimento seja lento, a espécie pode ser

empregada em reflorestamentos mis-

tos destinados à recomposição de áreas

degradadas”, defende.

O cambucá cresce em vários tipos

de solo, “desde que sejam profundos, de

textura média e conservem a umida-

de”, observa Helton. “Mas é preciso ter

paciência, pois a planta demora em mé-

dia 10 anos para frutificar. Mesmo as

mudas enxertadas levam no mínimo 4

anos para começar a frutificar”.

Os benefícios à saúde promovidos

pelos cambucazeiros são popularmente

conhecidos por caiçaras dos estados de

São Paulo e Rio de Janeiro. E algumas

pesquisas já investigam o potencial me-

dicinal da espécie na Universidade Es-

tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

(Unesp), na Universidade de São Paulo

(USP) e na Universidade Estadual de

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

43

Campinas (Unicamp).

Os primeiros resultados apontam

baixa toxicidade e eficiência na pro-

teção do estômago contra úlceras não

crônicas, quando se usa o extrato ob-

tido das folhas do cambucá. Também

estão sendo avaliadas a ação contra

tumores (câncer) e a atividade antio-

xidante (combate a radicais livres e ao

envelhecimento). “Esses resultados são

preliminares”, alerta Tati Ishikawa.

“Como educadora e profissional de saú-

de, é importante recomendar cuidado

com o uso indiscriminado de extratos

vegetais, tendo em vista que muitas ve-

zes os efeitos tóxicos são percebidos ape-

nas após muitos anos de exposição”.

Ao me oferecer mais uma xícara de

café, minha avó se diz muito feliz em

saber que existem pessoas plantan-

do cambucá. “Enquanto conto

essa história para você, me

vem à boca o sabor

que jamais esqueci, daquele pé de cam-

bucá. Será que ainda vou provar nova-

mente o fruto da minha infância?”

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

A babá imperial e o cambucá Maria Graham, autora do livro Diário de uma

viagem ao Brasil (1824), nasceu em 19 de julho de

1785, na Inglaterra. Filha do almirante George Dun-

das, cedo despertou interesse por escrever diários so-

bre os lugares que visitava ao lado de seu pai. E em

suas descrições demonstrava carinho especial pela

fauna e pela flora.

Em março de 1823, já viúva, Maria Graham vem ao Rio

de Janeiro oferecer seus serviços como governanta e pro-

fessora da filha de Dom Pedro I, a princesa D. Maria da

Glória, que anos mais tarde assumiu o trono

real português. Entre as páginas

de seu diário, ela menciona um

passeio pelo Rio de Janeiro,

onde descobre o cambucá:

“Juntei-me a um alegre

grupo num passeio a

cavalo a Copacabana,

pequena fortaleza que defende uma das pequenas

baías atrás da praia Vermelha e de onde se podem

ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas

da vizinhança são belíssimas e produzem grande

quantidade de excelente fruta chamada cambucá.”

(8 de agosto de 1823, pág. 321)

Em outro trecho compara diversos frutos brasileiros

com os europeus: “Fiquei contente por ver (no Jardim

Botânico do Rio de Janeiro) muitas das plantas in-

dígenas que haviam sido plantadas aqui: tais como

a andraguoa, a noz de que se tira o mais forte pur-

gativo que existe; o cambucá, cujo fruto é tão gran-

de como uma maçã russet e tem o gosto subácido

de groselha, com a qual sua polpa tem forte seme-

lhança; a japetee-caba, cujo fruto é pouco inferior

ao damasco, e a grumachama donde se extrai um

licor, tão bom como o de cerejas” (9 de setembro de

1823, pág. 353).

“o povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar uma língua

com igual pronúncia e espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?”

(sonhos d’ouro, José de alencar, 1872)

árVore ÚtilO cambucazeiro é árvore de pequeno porte - até 10 metros -, a copa é densa e garante boa sombra, características próprias para paisagismo e reflorestamento. Os galhos têm casca lisa e descamam (dir.)

Visite o site frutas raras (http://frutasraras.sites.uol.com.br/)

PArA sAber mAis

anes

tor

Mez

zoM

o

foto

s: s

ilves

tre

silv

a

anes

tor

Mez

zoM

o

Page 3: Cambuca

40

arranjador Vicente Paiva, interpretada

nos anos 1950 por Dalva de Oliveira, e,

nos anos 1970, por Gal Costa.

O nome da fruta se eternizou, mas

a planta não teve a mesma sorte. “Em-

bora ainda sejam predominantes em

diversas regiões da Mata Atlântica, di-

versas mirtáceas estão ameaçadas de

extinção”, diz Tati Ishikawa, mestre

e doutora pela Faculdade de Ciências

Farmacêuticas da Universidade de São

Paulo (USP) e pesquisadora dos cambu-

cazeiros. “Nós estamos, literalmente,

destruindo uma biblioteca enorme de

possibilidades, de conhecimento. São

espécies endêmicas, de ocorrência ex-

clusiva no território nacional, que nun-

ca chegaremos a conhecer”.

Segundo Silvestre Silva, jornalista

e fotógrafo viajante, autor de 5 livros

sobre frutas brasileiras, “é uma rarida-

de encontrar uma árvore de cambucá.

Quer seja no seu hábitat natural da

Mata Atlântica ou cultivada. Os mo-

tivos? Por ser de difícil germinação e

regeneração natural nas matas e pelo

descaso do brasileiro com as espécies

nativas importantes do seu País”.

Já Tati acredita na possibilidade de

as pesquisas despertarem o interesse da

comunidade científica e da população

acerca do cambucá, culminando no in-

centivo ao reflorestamento: “A geração

de conhecimento, especialmente no

que se refere à flora e fauna brasileiras

e sua divulgação, é sempre importante

para alertar sobre o desaparecimento

de espécies – sobretudo as nativas e as

endêmicas em ecossistemas ameaça-

dos, como é o caso da Mata Atlântica.

Acredito que fomentando o interesse e

valorizando espécies nativas, estamos

contribuindo para o uso sustentável e,

por consequência, para a necessidade

do reflorestamento”.

Os poucos privilegiados que ainda

podem contemplar as floradas dos cam-

bucazeiros – entre outubro e novembro

– mal podem esperar a nova carga de

cambucás por elas anunciadas, que só

amadurecem em meados de dezembro.

Algumas árvores do interior mais som-

breado e úmido das matas frutificam

em pleno outono, apresentando frutos

maduros em maio.

Como as jabuticabas, os frutos do

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

41

cambucá nascem

direto do caule da ár-

vore e, em geral, têm

apenas uma semente

arredondada e grande. “A

casca é grossa e de coloração inicial

esverdeada até chegar ao tom amarelo

alaranjado, no momento ideal para a co-

lheita, quando os frutos medem entre 3 e

5 centímetros de diâmetro”, descreve a pes-

quisadora Tati. A polpa carnosa e suculenta,

de sabor agridoce, atrai muitas aves e peque-

nos mamíferos.

E devia ser muito apreciada pelos índios de

língua tupi-guarani para receber um nome cujo

significado é ‘fruta de chupar’ (camb = mamar ou

chupar e iká = fruta). Também do nome científico

consta o sabor, de acordo com Helton Josué Teodo-

ro Muniz, idealizador do site Frutas Raras: “o nome

Plinia homenageia o naturalista Caio Plínio Cecílio e

edulis quer dizer édulo, ou seja, saboroso e comestível”.

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

OlhOs verdes (Vicente Paiva, 1908-1964)

vem, de uma remota batucada uma cadência bem marcada

que uma baiana tem no andar e nos seus requebros e maneiras

na graça toda das palmeiras esguias, altaneiras a balançar são da cor do mar, da cor da mata os olhos verdes da mulata

são cismadores e fatais, fatais e no beijo ardente perfumado

conserva o cravo do pecado de sabores cambucás

direto do cauleO cambucá maduro mede de 3 a 5 centímetros e tem casca grossa no tom amarelo alaranjado (acima). A floração ocorre entre outubro e novembro e os frutos nascem no caule, como a jabuticaba (à dir.)

silv

estr

e si

lva

anes

tor

Mez

zoM

o

anes

tor

Mez

zoM

o

42

A espécie ocorria na Mata Atlântica,

do Rio de Janeiro até o Rio Grande do

Sul. A árvore é considerada de pequeno

porte, por atingir até 10 metros de al-

tura. Seu tronco possui casca lisa, mas

descama uma vez por ano, como o das

goiabeiras e das jabuticabeiras. As fo-

lhas são escuras e brilhantes, formando

uma copa densa, de boa sombra. Uma

característica promissora para uso em

paisagismo e reflorestamento, segundo

a especialista da USP. “Embora seu cres-

cimento seja lento, a espécie pode ser

empregada em reflorestamentos mis-

tos destinados à recomposição de áreas

degradadas”, defende.

O cambucá cresce em vários tipos

de solo, “desde que sejam profundos, de

textura média e conservem a umida-

de”, observa Helton. “Mas é preciso ter

paciência, pois a planta demora em mé-

dia 10 anos para frutificar. Mesmo as

mudas enxertadas levam no mínimo 4

anos para começar a frutificar”.

Os benefícios à saúde promovidos

pelos cambucazeiros são popularmente

conhecidos por caiçaras dos estados de

São Paulo e Rio de Janeiro. E algumas

pesquisas já investigam o potencial me-

dicinal da espécie na Universidade Es-

tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

(Unesp), na Universidade de São Paulo

(USP) e na Universidade Estadual de

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

43

Campinas (Unicamp).

Os primeiros resultados apontam

baixa toxicidade e eficiência na pro-

teção do estômago contra úlceras não

crônicas, quando se usa o extrato ob-

tido das folhas do cambucá. Também

estão sendo avaliadas a ação contra

tumores (câncer) e a atividade antio-

xidante (combate a radicais livres e ao

envelhecimento). “Esses resultados são

preliminares”, alerta Tati Ishikawa.

“Como educadora e profissional de saú-

de, é importante recomendar cuidado

com o uso indiscriminado de extratos

vegetais, tendo em vista que muitas ve-

zes os efeitos tóxicos são percebidos ape-

nas após muitos anos de exposição”.

Ao me oferecer mais uma xícara de

café, minha avó se diz muito feliz em

saber que existem pessoas plantan-

do cambucá. “Enquanto conto

essa história para você, me

vem à boca o sabor

que jamais esqueci, daquele pé de cam-

bucá. Será que ainda vou provar nova-

mente o fruto da minha infância?”

TE

RR

A D

A G

EN

TE

| f

lora

bra

sile

ira

A babá imperial e o cambucá Maria Graham, autora do livro Diário de uma

viagem ao Brasil (1824), nasceu em 19 de julho de

1785, na Inglaterra. Filha do almirante George Dun-

das, cedo despertou interesse por escrever diários so-

bre os lugares que visitava ao lado de seu pai. E em

suas descrições demonstrava carinho especial pela

fauna e pela flora.

Em março de 1823, já viúva, Maria Graham vem ao Rio

de Janeiro oferecer seus serviços como governanta e pro-

fessora da filha de Dom Pedro I, a princesa D. Maria da

Glória, que anos mais tarde assumiu o trono

real português. Entre as páginas

de seu diário, ela menciona um

passeio pelo Rio de Janeiro,

onde descobre o cambucá:

“Juntei-me a um alegre

grupo num passeio a

cavalo a Copacabana,

pequena fortaleza que defende uma das pequenas

baías atrás da praia Vermelha e de onde se podem

ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas

da vizinhança são belíssimas e produzem grande

quantidade de excelente fruta chamada cambucá.”

(8 de agosto de 1823, pág. 321)

Em outro trecho compara diversos frutos brasileiros

com os europeus: “Fiquei contente por ver (no Jardim

Botânico do Rio de Janeiro) muitas das plantas in-

dígenas que haviam sido plantadas aqui: tais como

a andraguoa, a noz de que se tira o mais forte pur-

gativo que existe; o cambucá, cujo fruto é tão gran-

de como uma maçã russet e tem o gosto subácido

de groselha, com a qual sua polpa tem forte seme-

lhança; a japetee-caba, cujo fruto é pouco inferior

ao damasco, e a grumachama donde se extrai um

licor, tão bom como o de cerejas” (9 de setembro de

1823, pág. 353).

“o povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar uma língua

com igual pronúncia e espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?”

(sonhos d’ouro, José de alencar, 1872)

árVore ÚtilO cambucazeiro é árvore de pequeno porte - até 10 metros -, a copa é densa e garante boa sombra, características próprias para paisagismo e reflorestamento. Os galhos têm casca lisa e descamam (dir.)

Visite o site frutas raras (http://frutasraras.sites.uol.com.br/)

PArA sAber mAis

anes

tor

Mez

zoM

o

foto

s: s

ilves

tre

silv

a

anes

tor

Mez

zoM

o