calendÁrio maia matemÁtica e identidade na … · adoção de uma alternativa laica em detrimento...

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Revista Chrônidas Revista Eletrônica de História e Ciências Humanas ____________________________________________________________________________________________ CALENDÁRIO MAIA, MATEMÁTICA E IDENTIDADE NA MESOAMÉRICA Graduando Thiago José Bezerra Cavalcanti Universidade Federal Fluminense [email protected] Resumo Generalizado como “calendário maia”, o ciclo ritual de 260 dias é, na verdade, uma forma elementar da vida religiosa, que constitui a base da história social e cultural mesoamericana e tem origem anterior aos próprios maias. Fenômeno não noticiado em nenhum outro lugar ou época, a base calendárica ritual é retrato da Mesoamérica. Tal calendário, cuja concepção remete à expressão das dinâmicas sociais, culturais, religiosas e astronômicas, ocupa posteriormente a função de regularização ou normatização das mesmas, determinando a periodicidade dos ritos e as datas ideais para eventos sócio-políticos. Nosso objetivo é analisar a amplitude do ciclo ritual no cotidiano social mesoamericano e na constituição da identidade, além de introduzir a base matemática e calendárica. Palavras chave: Mesoamérica; Tzolk’in; Ja’ab’; Ciclo Ritual; Etnomatemática MAYA CALENDAR, MATHEMATICS AND IDENTITY IN MESOAMERICA Abstract Generalized as “Maya calendar”, the ritual cycle of 260 days is, in fact, a elementary form of the religious life that constitutes the basis of the mesoamerican social and cultural history, whose roots are older then the maya. This phenomenon was never seen in any other place or time, and the common ritual calendric system is a portrait of Mesoamerica. These calendar, whose design refers to the expression of social, cultural, religious and astronomical dynamics, then takes the role of regularization or normalization of the same dynamics, determining the frequency of the rites and the ideal dates for social and political events. Our purpose is to analyze the ritual cycle amplitude in Mesoamerican daily life and identity constitution, and introduce the mathematical and calendrical system. Keywords: Mesoamerica; Tzolk’in; Ja’ab’; Ritual Cycle; Ethnomathematics

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Revista Chrônidas Revista Eletrônica de História e Ciências Humanas

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CALENDÁRIO MAIA, MATEMÁTICA E IDENTIDADE NA MESOAMÉRICA  

Graduando Thiago José Bezerra Cavalcanti Universidade Federal Fluminense

[email protected] Resumo Generalizado como “calendário maia”, o ciclo ritual de 260 dias é, na verdade, uma forma elementar da vida religiosa, que constitui a base da história social e cultural mesoamericana e tem origem anterior aos próprios maias. Fenômeno não noticiado em nenhum outro lugar ou época, a base calendárica ritual é retrato da Mesoamérica. Tal calendário, cuja concepção remete à expressão das dinâmicas sociais, culturais, religiosas e astronômicas, ocupa posteriormente a função de regularização ou normatização das mesmas, determinando a periodicidade dos ritos e as datas ideais para eventos sócio-políticos. Nosso objetivo é analisar a amplitude do ciclo ritual no cotidiano social mesoamericano e na constituição da identidade, além de introduzir a base matemática e calendárica. Palavras chave: Mesoamérica; Tzolk’in; Ja’ab’; Ciclo Ritual; Etnomatemática

MAYA CALENDAR, MATHEMATICS AND IDENTITY IN MESOAMERICA Abstract Generalized as “Maya calendar”, the ritual cycle of 260 days is, in fact, a elementary form of the religious life that constitutes the basis of the mesoamerican social and cultural history, whose roots are older then the maya. This phenomenon was never seen in any other place or time, and the common ritual calendric system is a portrait of Mesoamerica. These calendar, whose design refers to the expression of social, cultural, religious and astronomical dynamics, then takes the role of regularization or normalization of the same dynamics, determining the frequency of the rites and the ideal dates for social and political events. Our purpose is  to analyze the ritual cycle amplitude in Mesoamerican daily life and identity constitution, and introduce the mathematical and calendrical system. Keywords: Mesoamerica; Tzolk’in; Ja’ab’; Ritual Cycle; Ethnomathematics

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Introdução A região da Mesoamérica, que compreende a totalidade das atuais Guatemala e

Belize, além de grande parte de México, Honduras e El Salvador, revelou ao mundo

uma série de culturas. O que elas tinham em comum, a despeito de tantas divergências e

conflitos observados ao longo da história? A utilização do mesmo calendário ritual de

260 dias. Isto, junto a outras características culturais compartilhadas, tais como a ênfase

na agricultura do milho, o sacrifício como um dos fundamentos da tradição religiosa e a

construção de pirâmides de pedra, fez com que Paul Kirchkoff, propositor do termo

“Mesoamérica”, chegasse à conclusão de que tais sociedades eram essencialmente

variações de um tema cultural afim, todas relacionadas ou até mesmo derivadas de uma

cultura ancestral comum que remonta a um passado bastante antigo (STUART, 2011:

32-33). Assim sendo, podemos considerar o uso desses dois calendários como algo que

constitui a história social e a identidade1

Ainda que os primeiros registros calendáricos mesoamericanos conhecidos

sejam provenientes do Vale do Oaxaca, do Istmo de Tehuantepec e da parte central do

estado de Chiapas (regiões Olmecas e Zapotecas, no México) e remontem

aproximadamente ao meio do primeiro milênio AEC

mesoamericanas, não se tratando de um uso

restrito ou controlado por uma determinada cultura, mas, ao contrário, disseminando-se

entre as mais diferentes sociedades da Mesoamérica.

2

                                                                                                                       

1 A partir da emergência do processo de globalização marcante após a década de 1980, o debate em torno do conceito de identidade tornou-se latente. Os trabalhos do inglês Stuart Hall são referência e trouxeram grandes contribuições para enriquecimento deste debate. Hall afirma que as identidades não são imutáveis e nem estáveis e que um mesmo indivíduo pode possuir diversas identidades, precisando sempre do outro para se estabelecer, pois as identidades são sempre relacionais (HALL, 2000: 109).

(MARCUS, 1992: 33, 95;

STUART, 2011: 173), a origem dessa base calendárica permanece como uma questão

não solucionada, uma vez que é provável que haja um hiato considerável entre a

idealização dos calendários e seus primeiros registros em pedra e outros materiais. A

situação se agrava quando ressaltamos que muitos registros foram perdidos e tantos

outros ainda precisam ser descobertos e/ou restaurados.

2 No presente artigo, preferimos usar as siglas AEC (Antes da Era Comum) e EC (Era Comum), visando a adoção de uma alternativa laica em detrimento às tradicionais siglas a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo), cujo uso remete à parcialidade religiosa cristã.

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Matemática, escrita e história: a instituição da etnociência A concepção dos calendários advém do estabelecimento da cultura matemática.

“A actividade matemática é uma actividade humana, (...) uma actividade cultural. Ideias

e métodos matemáticos variam de cultura pra cultura, e a nossa compreensão do que é a

matemática cresce na medida em que essas ideias e métodos se fertilizam mutuamente.”

(GERDES, 2007: 154). Por conseguinte, as culturas mesoamericanas são também

herdeiras dessa matemática, seja antes da instauração dos calendários ou concomitante a

eles. Essa cultura é de base vigesimal, composta por vinte dígitos. O número vinte é

fortemente associado ao corpo humano (STUART, 2011: 153). Tendo em vista que as

escritas são técnicas de concretização do pensamento ou da palavra (CAUTY, 2009:

29), não é exagero dizer que a tradição matemática e calendárica pode ter raízes bem

mais antigas do que os primeiros registros escritos conhecidos. Não por acaso, no

contexto mesoamericano a base vigesimal remete aos vinte dedos do corpo humano,

sugerindo uma cultura que, num primeiro momento, independe da escrita. Por outro

lado, é inegável que o trabalho matemático, especialmente se considerarmos o caso de

que tanto falamos – a instituição dos calendários na Mesoamérica – depende mais do

que outros de uma comunidade de especialistas, de tempo e de suporte da escrita

(CAUTY, 2009: 29) para sua manutenção e desenvolvimento.

André Cauty (2009: 30) situa a importância mesoamericana na história da

América:

Na América antiga, somente os mesoamericanos desenvolveram tradições

matemáticas escritas. Os primeiros rastros foram deixados pelos olmecas; e o

desenvolvimento mais bem-sucedido da escritura e do cômputo é

indubitavelmente o Clássico maia (séculos III-X). Os escribas maias foram os

grandes mestres do cômputo e da escrita logossilábica. Melhor do que a

escrita hoje extinta, a tradição do cômputo sobreviveu à implosão da

civilização maia além do ano mil, especialmente nos astecas. Mais tarde,

depois da Conquista, essa tradição foi combatida pelas autoridades coloniais

espanholas que impuseram uma nova religião, uma nova justiça, uma nova

administração, uma cultura de comércio e uma civilização escravagista. Para

nosso propósito, ela extinguiu as numerações vigesimais e impôs a

numeração decimal em algarismos arábicos assim como a escritura

alfabética. As respostas indígenas foram múltiplas e dependem

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interativamente das épocas e situações. No início da colonização, alguns

mesoamericanos adotaram o alfabeto. O que permitiu, por exemplo, aos

astecas (ou à rainha Mathilde) inserir comentários (em nahuatl, espanhol,

latim, etc) em obras pintadas/escritas retiradas da pictografia.

Torna-se clara, portanto, a importância da tradição mesoamericana de escrita e

sua função fundamental no que se refere à manutenção do conhecimento matemático na

Mesoamérica. Graças às formas de escrita desenvolvidas nessa região, temos milhares

de documentos históricos mesoamericanos, das primeiras estelas aos códices, que

abarcam além de aspectos sociais e culturais e relacionam-se ainda à cultura matemática

e calendárica, cujo registro não raramente remeterá à origem supostamente mitológica

daqueles que são primeiros idealizadores dessa cultura, situando ciclos em que seus

primeiros ancestrais deixaram suas pegadas, ancestrais que não por acaso serão

reinvindicados como criadores da tradição calendárica. Dessa maneira, as sociedades

mesoamericanas não apenas estabeleceram sua etnociência histórica, mas também

instituíram o registro e a manutenção de sua matemática e de seus calendários, bem

como sua religião, seu conhecimento na astronomia e em outras áreas do saber.

Base etnomatemática Conforme dito anteriormente, todas as culturas mesoamericanas utilizaram um

sistema matemático de base vigesimal, aplicado também à contagem de tempo

(STUART, 2011: 107). Para melhor compreensão de seu funcionamento, faremos uso

do sistema maia, composto por vinte dígitos, zero a dezenove. Os maias representavam

a unidade com um ponto e cinco unidades com uma barra. O número quatro, por

exemplo, era representado como quatro pontos, enquanto o número sete era

representado como dois pontos e uma barra (aritmeticamente, dois mais cinco). O zero é

um caso especial: geralmente representado como uma concha, simboliza a ausência de

valor numérico, mas sua função de “ocupação dos lugares” é o que possibilita a notação

de números de “ordem superior” na contagem maia (MONTGOMERY, 2003: 9), ou

seja, numerais acima do dezenove.

Havendo apenas a possibilidade dos vinte dígitos, de zero a dezenove,

concluímos que o valor máximo em cada ordem ou nível é dezenove. A representação

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do número vinte inaugura o sistema de ordens ou níveis, nos quais as unidades, que na

base tem seu valor original, passam a ter seus valores padrão modificados de acordo

com o seu posicionamento. Na passagem do dezenove para o vinte, por exemplo, cria-se

um nível superior ou uma ordem de conversão em que um ponto, em vez de equivaler

ao número, deve ser multiplicado por vinte. Dessa maneira, vinte na aritmética é (1×20)

+ (0×0). No novo nível, dois pontos equivalem a quarenta e três barras equivalem a

trezentos. Da mesma maneira, quanto maior for um número, mais ordens ou níveis ele

terá de preencher, na medida em que cada ordem possui valor de partida vinte vezes

superior ao anterior: se na base cada dígito representará seu valor unitário, acima dela

representará seu valor multiplicado por vinte, na próxima representará seu valor

multiplicado por quatrocentos (vinte vezes vinte) e assim por diante.

Figura 1

Vinte dígitos maias com seus nomes em língua Yukateka (MONTGOMERY, 2000).

Figura 2

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Exemplos de representação e construção aritmética de numerais maiores que dezenove.

Nos exemplos da figura 2, ilustramos a representação maia dos números 260,

2011 e 72.079, com comentários sobre sua construção aritmética: o número 260 é

representado com apenas duas posições, com o 13 numa posição acima do zero, ou seja,

o número 260 é aritmeticamente considerado como (13×20) + (0×1). Considerando que

cada ordem ou nível superior traz um valor vinte vezes maior que o anterior, acima da

ordem de valor 8.000 surgirá a ordem de valor 160.000, e depois dela as ordens de

3.200.000, 64.000.000 e assim por diante, numa progressão infinita, onde o topo é

ocupado pela maior ordem e a base é sempre representada pelo dígito que estiver mais

abaixo num registro. É importante ressaltar que os dezenove dígitos possuem também

representações antropomorfas, associadas a divindades (MONTGOMERY, 2003: 11-

16).

Choltun: a matemática adaptada à contagem de tempo O Choltun, cujo nome significa “ordenamento das pedras” ou “ordem dos

ciclos Tun” (AJQUIJAY, 2011: 100), geralmente chamado de “conta longa”, é um

sistema calendárico derivado da divisão em níveis ou ordens de progressão aritmética

presente na matemática. Adotado pelos maias, seu primeiro registro conhecido é de

origem epiolmeca3

                                                                                                                       

3 O prefixo “epi” tem o significado de “pós”.

e data do ano 31 AEC (PHARO, 2010a: 14). Para o propósito da

contagem linear de tempo, ocorreu uma adaptação: a ordem matemática de valor 400 é

substituída pela ordem calendárica de valor 360. O motivo de tal adaptação é lógico,

tendo em vista que 360 dias é o valor mais próximo à duração do ano solar dentro da

base vigesimal. O ciclo de 360 dias é conhecido como Tun, e apenas ele foge à

progressão em que o ciclo equivale a vinte vezes seu anterior. Por outro lado, o fato de

haver essa modificação faz com que todos os ciclos acima dele também sejam

modificados. O ciclo K’atun, por exemplo, terá valor equivalente a vinte ciclos Tun, isto

é, 7.200 dias (MONTGOMERY, 2003: 39-42).

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Os cinco primeiros ciclos, também os mais conhecidos, são:

K’in: 1 dia

Winal: 20 dias

Tun: 360 dias

K’atun: 7.200 dias

Pik (B’aktun): 144.000 dias

Num registro do Choltun, cada ciclo é designado por um hieróglifo (vide figura

3), que por sua vez é acompanhado por um coeficiente numérico de zero a dezenove,

salvo no caso do Winal, que é acompanhado por um coeficiente numérico de zero a

dezessete. É no Winal que reside a modificação que confere o valor de 360 dias ao ciclo

Tun.

Figura 3

Exemplos de hieróglifos que designam os ciclos do Choltun (MONTGOMERY, 2002).

Assim como ocorre no sistema matemático tradicional, o Choltun comporta

ordens ou ciclos infinitos. Ou seja, existem infinitos ciclos acima do ciclo Pik, que

respeitam a progressão vigesimal.

Tzolk’in: o ciclo ritual de 260 dias

O Tzolk’in (“conta dos dias”), por vezes chamado de “almanaque sagrado”,

representa um tipo de “calendário folclórico” que ainda é usado na área maia e em

outras partes da Mesoamérica atualmente (MONTGOMERY, 2003: 20). Consiste na

combinação entre dois ciclos: o de 13 e o de 20 dias.

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O ciclo de 13 dias ou 13 números (já que tal ciclo é representado pelos

coeficientes numéricos de 1 a 13) possui um significado cósmico, podendo ser

relacionado às 13 constelações zodiacais maias (HOCHLEITNER, 1994: 56) ou aos 13

planos superiores ou divisões do “céu” que encontramos entre os astecas (MILLER &

TAUBE, 1997: 31). Os números têm relação com divindades específicas, e no caso

maia, como vimos, os próprios números possuem formas antropomorfas que

representam as divindades de cada um deles.

O ciclo de 20 dias ou 20 glifos é composto por hieróglifos que representam 20

forças presentes na natureza, na fauna, na flora e na vida cotidiana mesoamericana. No

caso maia, os nomes dos 20 glifos (na língua Yukateka) e seus respectivos significados

(STUART, 2011: 139-143) são os seguintes:

0 – Ajaw (Senhor)

1 – Imix (Serpente aquática)

2 – Ik’ (Vento)

3 – Akb’al (Escuridão)

4 – K’an (Milho maduro?)

5 – Chikchan (Serpente)

6 – Kimi (Morte)

7 – Manik’ (Veado)

8 – Lamat (Estrela?)

9 – Muluk (Jarro de água?)

10 – Ok’ (Cachorro)

11 – Chuwen (Macaco)

12 – Eb’ (“Dente”)

13 – B’en (Junco?)

14 – Ix (Jaguar)

15 – Men (Pássaro/Águia)

16 – Kib’ (?/Abutre)

17 – Kab’an (Terremoto?)

18 – Etz’nab’ (Faca)

19 – Kawak (Raio/Trovão)

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O ciclo de 20 dias corre em perfeição junto aos 20 dias que se contam no ciclo

K’in do Choltun. Isto significa que, quando houver coeficiente zero nele, será um dia

Ajaw no Tzolk’in, quando houver coeficiente um será um dia Imix no Tzolk’in e assim

por diante. Consequentemente, toda abertura de ciclo no Choltun será um dia Ajaw no

Tzolk’in, ilustrando a importância que tal dia tinha dentro do Choltun para os antigos

maias.

Os ciclos de 13 e 20 dias correm paralelamente, combinando-se. Os vinte dias

correm até que todos eles tenham sido numerados de 1 a 13, o que só ocorre após 260

dias. Esta é, portanto, a razão da duração do ciclo ritual mesoamericano.

Figura 4

Os vinte dias do Tzolk’in maia (MONTGOMERY, 2000).

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Os 20 dias estão, assim como os 13 números, associados a divindades e

simbolismos específicos. Sendo assim, cada um dos 260 dias é uma combinação única

entre a influência do número e a influência do glifo.

Ja’ab’: o ciclo civil de 365 dias O Ja’ab’ (“conta dos anos”) é um ciclo de 365 dias, que são divididos em 18

ciclos de 20 dias com mais um ciclo de 5 dias (Wayeb’). É o calendário civil e agrário.

Figura 5

Os 19 ciclos do Ja’ab’ e seus respectivos hieróglifos (MONTGOMERY, 2000).

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Os vinte dias de cada ciclo são também contados de zero a dezenove (ou de

zero a quatro, no caso do Wayeb’). O Ja’ab’, diferente do calendário gregoriano, não

possuía qualquer sistema semelhante ao “ano bissexto” (MONTGOMERY, 2003: 26),

mas cada um de seus ciclos era também relacionado a rituais e festivais.

Ja’ab’ e Tzolk’in, quando combinados, resultam na Roda Calendárica, um ciclo

de 52 anos (18.980 dias) que engloba todas as combinações possíveis entre o ciclo de

260 e o ciclo de 365 dias. Isto significa que uma data composta pela combinação entre

um determinado dia do ciclo de 260 dias e um determinado dia do ciclo de 365 dias só

volta a ocorrer a cada 18.980 dias. Tal ciclo tem o simbolismo similar a uma era ou

geração, e seu reinício demanda um grande ritual, como a Cerimônia Ritual do Fogo

Novo dos mexicas.4

O ciclo ritual determinando rotina e identidade O ciclo ritual de 260 dias é parte constitutiva da identidade mesoamericana.

Um dos mais interessantes comentários nesse sentido é este, do bispo Diego Díaz de

Quintanilla y de Hevia y Valdés:

Aqueles por eles chamados de sábios e professores há muito ensinam os

mesmos erros e caminhos falsos de sua religião através de livros e

manuscritos. Eles instruem os outros sobre treze deuses que carregam nomes

de homens e mulheres, a quem eles atribuem vários poderes, como no

sistema de seu ano, composto por 260 dias divididos em treze meses, cada

um governado por um dos deuses citados. O ano também é dividido em

quatro ciclos ou raios de sessenta e cinco dias. A partir de tal feitiçaria, os

sacerdotes do calendário derivam uma variedade de encantamentos mágicos e

superstições, relacionados a todos os tipos de caça e pescaria; à colheita do

milho, pimenta e cereais; relacionados a toda doença e medicinas

supersticiosas usadas na cura. (...) Eles instruem também sobre quando parar

de trabalhar; como evitar visitas de mortos às suas casas; para gravidez bem

                                                                                                                       

4 Para mais sobre o ciclo de 52 anos, ver PHARO, Lars Kirkhusmo. The Spatio-Temporal Ritual Practice of the Fifty-Two-Year Calendar in Mesoamerica. Journal of Religious History. Sydney, V.34(4), p. 446–458, 2010. Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9809.2010.00906.x/full. Acessado em: 04/07/2011.

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sucedida no parto e na aquisição de crianças; sobre os presságios dos cantos

das aves e dos animais; sobre a interpretação dos sonhos e conserto dos danos

prognosticados por eles; e finalmente sobre qualquer coisa que ocorra a

qualquer um desses sábios e professores.5

Apesar da parcialidade cristã de Valdés, temos aqui uma clara indicação a

respeito da amplitude do ciclo ritual na Mesoamérica. Como bem observou David Stuart

(2011: 125) a respeito da citação de Valdés, “o cético bispo nos oferece uma boa

percepção de quão poucos, se existirem, aspectos da vida cotidiana encontravam-se fora

do domínio da adivinhação e interpretação ancorado ao calendário de 260 dias”.6

Corroboramos com a observação de Stuart e acrescentamos às palavras do

bispo o mesmo que defende Lars Kirkhusmo Pharo (2010a): nome, alma, destino e

identidade são determinados pelo ciclo ritual de 260 dias. No Popol Wuj,

7

um dos

irmãos gêmeos, considerados avós dos maias, carrega o nome de Junajpu. Este nome é,

na verdade, herdado de seus pais, e sua origem remete à junção de duas palavras: Jun e

Ajpu. Jun é a palavra que designa o número um, enquanto que Ajpu significa “caçador”,

equivalente K’iche’ do dia Ajaw do ciclo ritual.

(...) vamos relatar a concepção de Junajpu e Xbalamke,

mas só vamos contar uma parte da história de seus pais.

Este é seu relato, eis aqui seus nomes: Jun Junajpu e Wuqub Junajpu.

E os nomes de seus pais eram Xpiyakok e Ixmukane.

Na escuridão, ao amanhecer nasceram Jun Junajpu e Wuqub Junajpu.

Jun Junajpu engendrou dois filhos, dois varões:

Jun Batz’ se chamava o primogênito e Jun Chuwen se chamava o segundo.

Este era o nome de sua mãe: Ixbaqiyalo, esposa de Jun Junajpu.

Wuqub Junajpu não tinha esposa (...)8

                                                                                                                       

5 Tradução nossa, elaborada a partir da tradução para o inglês feita por David Stuart (2011: 125).

6 Tradução nossa, a partir do original. 7 O Popol Wuj, cujo nome significa literalmente “o livro do comum; o livro do povo; o livro do conselho”, é considerado o livro sagrado e histórico da etnia maia K’iche’ e sua versão original em língua homônima foi produzida entre os anos 1.554 e 1.558 EC, estando hoje desaparecida. A primeira tradução para o espanhol foi feita pelo frei Francisco Ximénez entre 1.701 e 1.703 EC. (COLOP, 2008: 13-20). No presente artigo faremos uso da versão em espanhol de Luis Enrique Sam Colop, k’iche’, advogado e linguista, defensor da educação bilíngue e do direito consuetudinário maia na Guatemala. 8 Tradução nossa a partir da tradução para o espanhol de Colop (2008: 61).

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Neste trecho do Popol Wuj, Sam Colop (2008: 61) destaca em notas que

“Junajpu ou ajpu é um dia no calendário maia” e que “Batz’ é também um dia do

calendário e Chuwen é seu equivalente em maia Yukateko”, mais especificamente dias

do ciclo ritual. Trata-se, claramente, de um caso que ilustra o quanto o ciclo ritual está

impregnado na própria identidade maia e mesoamericana, a ponto de vários indivíduos

terem seus nomes determinados pelo ciclo ritual. Nesse caso, divindades, precursores do

povo maia K’iche’.

Assim como Jun Junajpu (Popol Wuj, p. 68-71), Junajpu segue o caminho

negro a Xibalba (o inframundo maia) em companhia de seu irmão (Popol Wuj, p. 99),

desafiados pelos senhores daquele lugar, tendo em vista que seu jogo de bola os

incomodava. Lá, diferente de seu irmão, Junajpu é decapitado (Popol Wuj, p. 110),

como Jun Junajpu também havia sido. Assim, Junajpu comunga também do destino do

pai, entretanto saindo-se melhor que ele no fim das contas. Um nome, sendo equivalente

a um dos dias do ciclo ritual, atrela a identidade a um destino e alma específicos.

Mais do que uma mera figura passiva cuja identidade é influenciada pelo

calendário, Junajpu é uma divindade cuja importância transcende o ciclo ritual. Isto

quer dizer que o dia Jun Ajpu é enriquecido em significado graças à figura da divindade

Junajpu, e por sua vez esse significado passa a constituir a bagagem identitária daquele

dia, inseparável do mesmo.

Junajpu torna-se o Sol (e Xbalamke, a Lua) após vencer Xibalba, vingando Jun

Junajpu e Wuqub Junajpu (Popol Wuj, p. 126), ao passo que o glifo calendárico Ajaw

ou Ajpu é descrito também como o Avô-Sol (TORRES, 2009). Isto revela a impressão

da identidade de Junajpu no ciclo ritual, exemplo de divindade que determina o signo

de um dia.

Sendo assim, o ciclo ritual pode ser observado não apenas como algo que

confere identidade aos mesoamericanos, mas também o contrário: os mesoamericanos

imprimem sua identidade no ciclo ritual. Isto explica a razão pela qual um mesmo dia é

chamado por nomes diferentes, possuindo significados diferentes e sendo influenciado

por divindades diferentes. Cada etnia reconstrói de tal forma a significação de cada dia

do ciclo ritual que alcançar o que este teria sido em sua primeira forma parece

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impossível, apesar de se poder observar muitos simbolismos congruentes na

comparação entre diferentes etnias.

A identidade étnica é, então, influenciada e influenciadora. Num primeiro

momento, há apenas a herança do ciclo ritual e talvez até mesmo a ausência de uma

identidade étnica própria ou separada daqueles que introduziram o ciclo ritual. Num

segundo momento, o ciclo ritual é adaptado à realidade de um pequeno grupo, e a

interação entre esse grupo e o ciclo ritual molda a ambos: ao mesmo tempo em que o

ciclo ritual passa a guiá-los e com isso ajuda na construção de sua identidade e visão de

mundo, esse grupo também passa a embutir no calendário todos os outros elementos

relevantes na construção de sua identidade, usando o ciclo ritual não apenas para

imprimir, mas para consolidar sua identidade.

Assim como Junajpu, tantas outras divindades fazem parte do passado

cosmogônico e mítico mesoamericano estabelecido e revivido no ciclo ritual, e não por

acaso são associadas ao tempo em que não existia Tempo ou calendário. São também

criadores do calendário, pois emprestam suas identidades aos dias do ciclo ritual; afinal,

o poder associado a essa linhagem reside na contagem de tempo, e essa elite

mesoamericana cultua em rituais o seu passado, o seu presente e o seu futuro,

confundindo-se com seus deuses no espelho e no sangue. Cultuam afinal a seus pais

que, como Junajpu, emprestaram suas identidades aos calendários, as mesmas que serão

posteriormente revividas por seus descendentes, que por sua vez também marcarão suas

identidades graças ao domínio da escrita e da matemática dos ciclos rituais. Dessa

maneira, todos eles se perpetuaram na etnohistória mesoamericana.

Com base no ciclo ritual ou na sua relação com outros ciclos (como o Choltun

e o Ja’ab’), determinadas datas servem para uma reconexão simbólica, o “zero” em que

o tempo dos criadores é revivido e representado nos rituais. Quanto mais tempo

remontar no passado, mais importância simbólica terá para aqueles que dominam o

Tempo. Um desses ciclos é, sem dúvida, 4 Ajaw; mais especificamente, a data 4 Ajaw 8

Kumk’u (composta pela combinação do dia 4 Ajaw do ciclo ritual com o dia 8 Kumk’u

do ciclo civil). Trata-se do “início do ciclo” que se popularizou e teoricamente se

encerra em 2012, como se convencionou dizer. Entretanto, é preciso destacar que que o

fim do 13º Pik será num dia 4 Ajaw 3 K’ank’in, o que significa que esse é um ciclo que

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simboliza o encontro apenas entre o ciclo ritual e o ciclo Pik do Choltun, excluindo o

Ja’ab’ e muitos outros ciclos.9

Em As formas elementares da vida religiosa, Émile Durkheim aborda a

questão da aplicação religiosa do tempo:

(...) a vida religiosa e a vida profana não podem coexistir nas mesmas

unidades de tempo. É, pois, necessário destinar à primeira dias ou períodos

determinados dos quais todas as ocupações profanas sejam eliminadas. Foi

assim que surgiram as festas. Não existe religião nem, por conseguinte,

sociedade que não tenha conhecido e praticado essa divisão do tempo em

duas partes estanques, alternando uma com a outra conforme uma lei variável

de acordo com os povos e civilizações; é até muito provável, como dissemos,

que tenha sido a necessidade dessa alternância que levou os homens a

introduzirem, na continuidade e na homogeneidade da duração, distinções e

diferenciações que ela não comporta naturalmente. (...) Há sempre coisas

sagradas fora dos santuários; há ritos que podem ser celebrados nos dias

úteis. Trata-se de coisas sagradas de ordem secundária e de ritos de menor

importância. A concentração continua sendo a característica dominante dessa

organização. Ela é geralmente completa para tudo que diz respeito ao culto

público, que só pode ser celebrado em comum. O culto privado, individual, é

o único que se relaciona bastante de perto com a vida temporal.

Não por acaso consideramos o ciclo ritual de 260 dias como “forma elementar

da vida religiosa” mesoamericana, categoria inaugurada por Durkheim. O ciclo ritual

institui o culto realizado na vida cotidiana e de caráter privado que ao mesmo tempo

ampara-se no culto público. Pharo (2010b: 446-447) concorda e vai além, introduzindo

uma categoria teórica no estudo da religião, “prática ritual do tempo”, inspirada nos

ciclos mesoamericanos:

Em que o conceito “prática ritual do tempo” implica? O (A) “(prática) ritual

do tempo” representa a plenitude cerimonial, o fim de um período e a

                                                                                                                       

9 Apesar do importante simbolismo desse longo ciclo, de 1.872.000 dias, não há qualquer base para as especulações a respeito de fim do mundo e outros tipos de coisa. Não se trata sequer do “fim do calendário maia”, tendo em vista que o Choltun possibilita uma contagem linear e infinita de tempo.

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introdução de um determinado período de tempo nos calendários. Esses

intervalos de tempo, finais do tempo e inauguração de novos períodos de

tempo são observados na prática ritual. Vários rituais dentro de um período

calendárico, contudo, não necessariamente ocorrem no fim de um período de

tempo. Eles podem ocorrer na mesma data crucial dentro do calendário, não

como celebração ritual de um começo ou fim de tempo, mas como uma

recordação de eventos importantes. Além disso, uma diferenciação precisa

ser feita entre a celebração ou performance de rituais do tempo do mundo,

sociedade ou comunidade em uma mão e, na outra, ritos de passagem do

tempo da vida dos rituais individuais, que marca o desenvolvimento social

individual, como o nascimento, iniciação à vida adulta ou ritos de puberdade,

casamento e morte de acordo com o calendário biológico que cria ordem e

define o ciclo da vida bio-cultural do ser humano. Os rituais do tempo

relacionados à comunidade são públicos, enquanto que as cerimônias que

concernem ao indivíduo são geralmente privadas.10

A prática ritual do tempo determinada pelo ciclo ritual de 260 dias é, portanto,

constituinte da ethno mesoamericana. O principal símbolo para a plenitude cerimonial

do fim de um ciclo é o zero, que nesse caso representa não ausência, mas sim o ciclo

que está completo. Consideramos a “prática ritual do tempo”, nova categoria de Pharo,

um desdobramento da categoria de Durkheim com foco no estudo da Mesoamérica.

No ciclo ritual também está impresso o meio, a fauna e a flora com a qual o

mesoamericano interagiu. Como exemplos podemos citar o jaguar e o milho, que

aparecem como signos entre os vinte glifos do ciclo ritual. Ambos são associados aos

quatro primeiros homens no Popol Wuj, que são moldados a partir do milho moído e da

água; os dois primeiros – Balam Ki’tze’ e Balam Aq’ab – e o último – Ik’i Balam,

carregam o nome Balam (jaguar), enquanto que o terceiro é chamado de Majuk’utaj

(Popol Wuj, p. 130), cujo nome deriva, segundo Colop, da expressão “quem não

                                                                                                                       

10 Pharo tem o cuidado de lembrar que rituais individuais de figuras públicas são um caso específico e não necessariamente privados.

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esconde nada”, e aparece no glossário da tradução para o português do Popol Wuj11

Cada dia do ciclo ritual tem uma grande bagagem, não apenas identitária, com

grandes figuras mitológicas vinculadas a todos os dias do ciclo ritual ou figuras

humanas os encarnando, como também uma bagagem social, cultural, histórica,

astronômica... O ciclo ritual também permeia todos esses contextos, de maneira que é

justo dizer que a etnohistória ajuda a conferir muitos e diferentes significados a todos os

dias. O acúmulo de cada dia do ciclo ritual é digno de qualquer tese em ciências

humanas. Para o foco de pesquisa religiosa, podemos observar 260 divindades,

arquétipos ou identidades únicos e ao mesmo tempo multifacetados em cada um 260

dias do ciclo ritual. Como disse Barbara Tedlock (1982: 2), “a palavra para ‘dia’ é a que

mais se aproxima, em língua maia, de um termo para ‘tempo’, mas não é apenas isso.

Cada dia tem sua ‘face’, sua identidade, seu caráter, que influenciam em seus eventos”.

como significando “zero”.

Considerações finais Como bem observamos ao longo de nossa análise, o ciclo de 260 dias confere

identidade aos mesoamericanos, determina sua vida cotidiana e seu ritual diário, a nível

social e individual. O significado passado e presente de cada dia e seus respectivos

rituais está impresso na história de cada etnia, abrangendo todos os contextos relevantes

a qualquer sociedade mesoamericana. No encontro dos ciclos é que se revive o passado

nos rituais mais importantes, que são marcações no tempo cujas funções são as de

relembrar, manter e acrescentar à identidade de seus ancestrais, cujo poder reside no

Tempo e cuja manutenção se projeta no futuro.

Para além da clássica definição geográfica, o conceito de Mesoamérica deve

ser pautado por aquilo que constitui a ethno mesoamericana, e sem dúvida o ciclo ritual

de 260 dias é parte basilar dela. Considerando as dúvidas acerca da origem do ciclo

ritual e sua amplitude geográfica, podemos nos amparar apenas na etnologia e na

arqueologia, que por sua vez têm na Mesoamérica grandes e constantes desafios:                                                                                                                        

11 Versão organizada por Gordon Brotherston e Sérgio Medeiros. No presente artigo, preferimos a versão de Colop, por tratar-se de um autor acadêmico de origem K’iche’, entretanto o glossário da versão em português nos foi útil ao longo da pesquisa.

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milhares de sítios arqueológicos que demandam constante investigação, descobrimento,

restauração e manutenção. A compreensão das escritas pictoglíficas mesoamericanas

está florescendo e ainda tem muitos frutos a dar, mas deve ser constantemente desafiada

pelos novos documentos arqueológicos e pelo nosso envolvimento.

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