cadernos de arte fevereiro 2009 - galeria vieira portuense · 2008 num leilão, em paris, por um...

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1 "Caminante no hay camino, se hace camino al andar..." "Cantares" de António Machado Andam por aí os clamores da crise a afastarem o optimismo das mentes dos cidadãos. Vão fechando galerias, alguns artistas vão cancelando as suas exposições e os coleccionadores param as suas aquisições à espera que a crise deixe definidos os seus contornos. E o Governo? O Governo nada faz talvez por achar que as coisas da arte não têm que ver com a res publica. As mentes da esquerda não aceitarão que eu recorde os tempos em que Salazar lançava a “política do regime” timonada por António Ferro. Mas a verdade é que são raros os edifícios públicos daquele tempo que não ostentam obras de arte de artistas portugueses bem remunerados pelo governo. Há quem diga que tal política tinha a ver com a intenção de distrair o povo dos reais problemas do quotidiano e de colocar a arte ao serviço da propaganda do regime. Mas se essa foi a intenção, a verdade é que espíritos livres e independentes não deixaram de ter as suas obras por aí para vaidade dos amantes da arte. Muitos foram os artistas plásticos que ao longo dos tempos deixaram a sua marca nos edifícios públicos. A Justiça de Leopoldo de Almeida no Palácio da Justiça do Porto A Justiça de Lagoa Henriques no Tribunal de Rio Maior A Lei de Gustavo Bastos no Tribunal de Mirandela A Prudência e a Justiça de Euclides Vaz no Tribunal de Santarém

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"Caminante no hay camino, se hace camino al andar..."

"Cantares" de António Machado

Andam por aí os clamores da crise a afastarem o optimismo das mentes dos cidadãos. Vão fechando galerias, alguns artistas vão cancelando as suas exposições e os coleccionadores param as suas aquisições à espera que a crise deixe definidos os seus contornos. E o Governo? O Governo nada faz talvez por achar que as coisas da arte não têm que ver com a res publica. As mentes da esquerda não aceitarão que eu recorde os tempos em que Salazar lançava a

“política do regime” timonada por António Ferro.

Mas a verdade é que são raros os edifícios públicos daquele tempo que não ostentam obras de arte de

artistas portugueses bem remunerados pelo governo. Há quem diga que tal política tinha a ver com a intenção de distrair o povo dos reais problemas do quotidiano e de colocar a arte ao serviço da propaganda do

regime. Mas se essa foi a intenção, a verdade é que espíritos livres e independentes não deixaram de teras suas obras por aí para vaidade dos amantes da arte.

Muitos foram os artistas plásticos que ao longo dos tempos deixaram a sua marca nos edifícios públicos.

A Justiça de Leopoldo de Almeida no Palácio da Justiça do Porto

A Justiça de Lagoa Henriques no Tribunal de Rio Maior

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A Prudência e a Justiça de Euclides Vaz no Tribunal de Santarém

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A existência destas obras dá testemunho da actividade criativa das várias épocas deixando para as gerações vindouras a certeza de que havia gente interessada na criação e nas coisas da cultura.

Por sua vez os artistas iam vendo a sua arte reconhecida, servindo-lhes os honorários de suporte a uma vida com algum desafogo que lhes permitia continuar as tarefas da criação dotando o país de criadores de mérito. Hoje o cenário é bem diferente. Levam-se a cabo edifícios públicos que depois de concluídos são entregues aos

respectivos serviços que as decoram a seu bel-prazer com obras sem qualquer significado.

Já vi em alguns tribunais acabados de fazer, mormente nas salas de audiências, serigrafias penduradas num prego, mal enquadradas e sem nada ter que ver com o que ali se passa.

Tapeçaria de Guilherme Camarinha no Tribunal de Amarante

Tapeçaria de João Tavares no Tribunal de Portalegre

Vivemos tempos de coisas fúteis e atordoadoras dos sentidos, desprezando-se a criação de todo um povo.

Tapeçaria de Almada Negreiros no Palácio da Justiça de Aveiro

Os artistas têm de se virar para outras tarefas em demanda da sobrevivência já que viver da produção artística é privilégio de poucos.

Tapeçaria de Amândio Silva no Palácio da Justiça de Lisboa

Quantos talentos não ficaram pelo caminho por não terem os autores o desafogo necessário para se dedicarem ao estudo e à criação com a serenidade necessária?! Gastaram-se milhões em estádios de futebol destinados à alienação do povo, que, narcotizado pelas paixões grosseiras dos desafios, acabam por ser objecto daquela

A Justiça de António Duarte no Tribunal de Elvas

A Lei de Barata Feio no Tribunal de Miranda do

Douro

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política que vem do tempo dos romanos, a do pão e do circo. Todavia, para a cultura qualquer cêntimo que se venha a gastar é tido como desperdício.

Óleo de Espiga Pinto No Tribunal do Redondo De resto parece ser propósito este de deixar sem resguardo a cultura.

Vitrais de António Lino no Tribunal da Guarda Todos nos lembramos de quando um ministro fez cessar um programa televisivo sobre artes plásticas com o pretexto de que os telespectadores não seriam mais do que cem mil.

Vitrais de Júlio Resende no Tribunal de Vagos Não se pensou em tentar ultrapassar a audiência, outrossim decidiu-se acabar com o único

programa que se debruçava sobre as artes plásticas.

Painel cerâmico de Jorge Barradas no Tribunal do Cartaxo Lá por fora, diariamente vemos anunciados prémios promovidos por entidades oficiais, que se sucedem ao ritmo dos meses.

Painel cerâmico de Querubim Lapa em Lisboa

Por cá, quando se pede um patrocínio para garantir uma exposição, uma feira, uma retrospectiva de um Mestre em fim de carreira, os promotores são olhados como pedintes impertinentes, a quem se deita mero olhar de desprezo como se se esmolasse pecúnia para um vício.

Esgrafito de Martins Correia no Tribunal de Figueira da Foz Também os media se têm alheado das artes plásticas mantendo-se, com poucas excepções, alheios às realizações públicas e privadas que vão acontecendo no mundo das artes.

Mosaico de António Lino no Tribunal de Elvas

Quisessem as entidades públicas e, com pouco dinheiro, a criação nacional desenvolver-se-ia com a mesma dinâmica com que desenvolve nos países mais desenvolvidos.

L.C.R.

Mosaico de António Lino no Tribunal da Figueira da Foz

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Pintura: Quadro "Súplica de D. Inês de Castro" é apresentado quinta-feira no Museu de Arte Antiga

2009-02-25 (Jornal de Notícias)

Lisboa, 25 Fev (Lusa) - O quadro "Súplica de D. Inês de Castro", do pintor Vieira Portuense, adquirido em 2008 num leilão, em Paris, por um empresário português em parceria com o Estado, vai ser apresentado quinta-feira, no Museu Nacional de Arte Antiga. De acordo com uma nota do Ministério da Cultura hoje divulgada, o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, estará presente na sessão pública de apresentação da obra, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa. Contactado pela Agência Lusa, o director do MNAA, Paulo Henriques, explicou que o quadro vai estar numa sala de exposições temporárias acompanhado por três estudos também da autoria de Francisco Vieira (1765-1805), pintor neoclássico conhecido por Vieira Portuense. "Para fazer o enquadramento da obra colocámos na mesma sala dois estudos pintados, provenientes de colecções particulares, e um estudo desenhado, pertença da colecção do museu", indicou o responsável. "Súplica de D. Inês de Castro" - pintura com 1,96 metros de altura por 1,50 metros de largura - foi executada para o Palácio da Ajuda, e o seu rasto perdeu-se a partir de 1807, altura em que foi levada para o Brasil pela família real portuguesa. Permaneceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, até à proclamação da república no país, regressando à Europa, como sucedeu muitas obras de arte da família real portuguesa.

Em Junho de 2008, o Grupo de Amigos do MNAA enviou uma carta ao ministro da Cultura, alertando para a venda iminente do quadro num leilão em Paris, e a obra viria a ser adquirida por um mecenas anónimo por 210 mil euros. "É a primeira vez que o quadro vai ser mostrado ao público desde que saiu de Portugal, no início do século XIX com a família real portuguesa", salientou o director do MNAA. Paulo Henriques adiantou que, quinta-feira, na apresentação pública da obra, que ficará exposta durante o mês de Março, será feito o seu enquadramento histórico e focada a importância de Vieira Portuense na transição para o pensamento moderno da pintura em Portugal. O MNAA já possui no seu acervo outras obras deste pintor, nomeadamente o óleo sobre tela "Leda e o Cisne" (1798), "Retrato de Desconhecido", sem data, e ainda pintura religiosa. "Esta obra é também importante porque o museu, apesar de já possuir outros quadros de Vieira Portuense, não possui um exemplar neste género, que é emblemático da estética da pintura da história nacional", observou, sobre o tema retratado. Quando o quadro foi adquirido no leilão, a 25 de Junho, o ministro da Cultura fez uma conferência de imprensa no mesmo dia, no museu, onde afirmou que o acordo de parceria da aquisição da obra estabelece que o Estado poderá exercer o direito de compra do quadro no prazo de um ano, ficando

a obra durante o mesmo período no MNAA. Pinto Ribeiro também disse que, depois de firmada esta parceria com o mecenas, a Caixa Geral de Depósitos, através do seu presidente, fez saber ao Governo que estaria disponível para comprar o quadro e mantê-lo na Fundação CGD, permitindo que ficasse exposto no MNAA. Questionado sobre a actual situação do quadro, o director do museu disse que o ministro da Cultura irá comunicar essa matéria na sessão de quinta-feira. Nascido no Porto, em 1765, Francisco

Vieira de Matos escolheu como nome artístico Vieira Portuense, estudou em Lisboa e em Roma, e foi um dos introdutores do neoclassicismo na pintura portuguesa. Adoeceu com tuberculose e mudou-se para a Madeira, onde morreu com apenas 39 anos.

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Lagoa Henriques António Augusto Lagoa Henriques (Lisboa, 27 de Dezembro de 1923 - 21 de Fevereiro de 2009), foi um escultor português. Iniciou os seus estudos artísticos no Curso Especial de Escultura da Escola de Belas-Artes de Lisboa[1], em 1945. Em Julho de 1948 transferiu-se para a Escola de Belas-Artes do Porto[2], onde tem como professor e referência principal na sua formação Barata Feyo. Concluiu o Curso Superior de

Escultura em 1954, na Escola de Belas-Artes do Porto, com a apresentação de um trabalho de pleno relevo classificado com a nota máxima (20 valores). É-lhe concedida uma bolsa pelo Instituto de Alta Cultura, partindo para a Itália,onde ficará três anos, grande parte dos quais em Milão a trabalhar sob a orientação do escultor Marino Marini.É convidado pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1958, para o lugar de professor assistente de Escultura, lugar que vem a ocupar em 1959.

Entre 1963 e 1966 é professor efectivo de Desenho da Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Em 1966 muda, a seu pedido, para a Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, onde desenvolve uma acção pedagógica de grande relevo no ensino do Desenho. Em 1974, quando da reestruturação dos cursos da escola onde lecciona, é o promotor da criação da disciplina de Comunicação Visual. Partiu a 21 de Fevereiro de 2009, mas a sua obra permanece e será usada e recordada por muitos.

(Wikipédia)

JAIME ISIDORO

O pintor, galerista e fundador da Bienal de Cerveira faleceu esta quarta-feira de madrugada. Tinha 84 anos. O funeral realiza-se esta quinta-feira, pelas 14h30, no cemitério de Agramonte. Conhecido pelas suas aguarelas, o artista versava muitas vezes a cidade do Porto. Nasceu no Porto em 1924 e estudou pintura na Escola Soares dos Reis. A sua primeira exposição foi em 1945. Fundou a Galeria Alvarez (1954), a mais antiga galeria de arte portuguesa em actividade sem interrupções, editou a "Revista de Artes Plásticas" e lançou os Encontros Internacionais de Arte e a Bienal Internacional de

arte em Cerveira. Um dos quadros de Jaime Isidoro sobre o Porto

Imagem: DR

"Jaime Isidoro foi, para a minha geração, o exemplo do intelectual independente mas actuante, que alia a sua condição de artista à de catalisador cultural infatigável, pleno de imaginação e iniciativa", escreveu José Augusto Seabra no catálogo da Bienal de Cerveira de 1999. Foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural da Câmara de Cerveira (1982) e com as medalhas de ouro das câmaras do Porto, em 1988, e de Gaia, em 2002. Num catálogo da exposição individual na Galeria Por Amor à Arte, do Porto, Jaime Isidoro afirmou: "a arte é uma das manifestações mais transcendentes do espírito, não se limita a convenções ilustrativas. É através da arte que se poderá desbravar o desconhecido, na medida em que a sua definição ainda é um mistério".

Julião SarmentoO artista plástico Julião Sarmento, foi premiado pela importância e dimensão internacional da sua obra. Esta é a sexta edição do Prémio Universidade de Coimbra. O nome foi anunciado pelo Reitor Fernando Seabra Santos, em conferência de imprensa realizada, na passada semana, na Reitoria da

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Universidade. Seabra Santos revelou que a decisão «teve em conta a intenção de premiar uma personalidade cujo percurso académico não está directamente relacionado com a Universidade de Coimbra, e passou pela reflexão do júri sobre a importância da abertura da Universidade à sociedade». Com a atribuição deste Prémio, a Universidade de Coimbra destaca a obra de Julião Sarmento, enquanto expressão máxima da contemporaneidade no panorama das artes plásticas em Portugal. Na opinião do júri, o artista representa actualmente um dos mais significativos embaixadores da cultura portuguesa no mundo, expondo, publicando e leccionando nos mais importantes locais das artes plásticas internacionais. "A atribuição do Prémio Universidade de Coimbra a um artista plástico é particularmente grata. Através da obra fantástica de Julião Sarmento, estamos também a premiar esta área", afirmou José António Bandeirinha, Pró-Reitor para a Cultura. Seabra Santos sublinhou esta ideia, acrescentando que é, para a Universidade de Coimbra, particularmente relevante que esta escolha aconteça no ano em que será inaugurada a Casa das Caldeiras, futuro centro do ensino e da promoção da arte na instituição e na cidade, e em que será particularmente relevante a dinâmica do Colégio das Artes, uma unidade orgânica que configura uma Escola de Estudos Avançados nos domínios artísticos. Julião Manuel Tavares Sena Sarmento nasceu em Lisboa, a 4 de Novembro de 1948. Estudou pintura e arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, entre 1967 e

1974. Artista plástico, tem apresentado trabalhos nas áreas da pintura, escultura, instalações, filme, vídeo, som e multimédia. Com uma extensa lista de exposições individuais e colectivas, destaca-se o facto de ter representado Portugal na Bienal de Veneza em 1997. As suas obras encontram-se espalhadas por museus e colecções públicas da máxima relevância, de que constituem exemplo, entre muitos outros, MOMA, Guggenheim (Nova Iorque), Tate Collection (Londres), Hara Museum of Contemporary Art (Tóquio), Museo Nacional Reina Sofia (Madrid), Moderna Museet

(Estocolmo), Tel Aviv Museum of Art (Tel Aviv), Museum of Contemporary Art (Los Angeles), San Francisco Museum of Modern Art (San Francisco), Museu do Chiado, Centro Cultural de Belém (Lisboa) ou Fundação de Serralves (Porto). De destacar ainda a sua actividade lectiva, tendo sido professor no Center for Contemporary Art, em Kitakyushu, no Japão (1997), na Akademie der Bildenden Künste München, em Munique, na Alemanha (1998/1999) e na Faculdade de Belas Artes da

Universidade Complutense de Madrid (2007). O Prémio Universidade de Coimbra, patrocinado pelo Banco Santander-Totta e apoiado pelo Jornal de Notícias, vai já na sua sexta edição, tendo em anos anteriores distinguido áreas tão distintas como as neurociências, a história das instituições, as artes do palco, os estudos clássicos, a matemática e a engenharia de sistemas. Na primeira edição, relativa a 2004, foi premiado o neurocientista Fernando Lopes da Silva, considerado um dos 100 cientistas mais influentes

do mundo. Em 2005, o Prémio foi atribuído, ex-aequo, ao historiador António M. Hespanha e ao actor e encenador Luís Miguel Cintra. A reconhecida classicista Maria Helena da Rocha Pereira foi premiada em 2006 e o matemático luso-brasileiro Marcelo Viana em 2007. No ano passado, foi distinguido o investigador e empreendedor José Epifânio da Franca. Julião Sarmento receberá o Prémio Universidade de Coimbra 2009, no valor de 25 000 Euros, em data a anunciar.

Julião Sarmento é o vencedor da edição de 2009 do Prémio Universidade de Coimbra, um dos mais importantes a nível nacional nos campos da ciência e da cultura.

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Gustave Coubert apreendido pela polícia

Juristas consideram atitude da PSP um "erro grave" A polícia deveria ter limitado a sua intervenção a uma advertência,

referiu o ex-bastonário da Ordem dos Advogados Rogério Alves A atitude da PSP de Braga ao apreender no domingo vários exemplares do livro Pornocracia, de Catherine Breillat (editado em Portugal pela Teorema), em resposta a queixas de cidadãos chocados com a imagem de um célebre nu artístico nas capas, foi um "erro grave", um "atentado à liberdade de expressão" e

"uma falha monumental no campo da cultura", consideram quatro juristas em declarações ao PÚBLICO. A imagem reproduzida respeita a uma obra do pintor oitocentista francês Gustave Coubert (1819-1877), considerado o fundador do realismo na pintura. O quadro (na foto), pintado em 1866 e denominado A Origem do Mundo, está exposto no Museu D'Orsay em Paris. No caso da

apreensão dos livros, entretanto devolvidos com esta imagem, "não está em causa a ilegalidade mas a sensibilidade de alguns que a polícia não tutela", resume o advogado Rogério Alves, ex-bastonário da Ordem dos Advogados. Confrontada com queixas de cidadãos, a PSP "deveria limitar-se a advertir os mais sensíveis que, na ausência de uma norma expressa a proibir a exibição

deste tipo de imagens, teriam de se conformar e não se aproximar", diz Rogério Alves. E, se estivesse em causa a tranquilidade pública, mais teriam de advertir as pessoas de que seriam obrigados a actuar sobre quem perturbasse a ordem, já que "a exposição do nu artístico não é ilegal e não pode ser reprimida", acrescenta. O advogado nota ainda que o artístico e o estético não pode ser confundidos com o pornográfico. Esta é, aliás, uma diferença consagradano decreto-lei de 1976 promulgado pelo então Presidente da República, Costa Gomes, que nem sequer foi invocado pela Polícia de Segurança Pública de Braga, mas ao abrigo do qual o Ministério Público determinou a retirada, na semana passada, de uma das construções do Carnaval de Torres Vedras que satirizava o computador Magalhães. Este decreto que estabelece medidas "relativas à publicação e comercialização de objectos e meios de comunicação social de conteúdo pornográfico" refere, na sua introdução, que foi elaborado para fazer face "à exploração mercantil" do pornográfico e obsceno" e não "do erótico ou do nu artístico"."Atentado à liberdade"A confusão entre imagens pornográficas e de conteúdo erótico pode "configurar um erro grave da PSP" também no entender do juiz desembargador António Martins, notando que "o facto ilícito tem de ser algo fácil de enquadrar". O que se passou em Braga numa feira de livros em saldo é "absolutamente inadmissível" na opinião do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto. "É um atentado à liberdade de expressão que lembra os piores tempos de antigamente",diz. (In Publico 25.02.2009)

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Viana: Cidade classificada como "Meca da Arquitectura" por revista britânica da especialidade Viana do Castelo, 02 Mar (Lusa) - A revista londrina Wallpaper classificou a cidade de Viana do Castelo como uma "Meca da Arquitectura", pela sua "colecção de edifícios", de que se destaca a nova Biblioteca Municipal, assinada por Siza Vieira, informou hoje fonte camarária.

Segundo a fonte, daquela "colecção" faz ainda parte a Praça da Liberdade, desenhada por Fernando Távora, o "inovador" Hotel Axis e o futuro Coliseu de Souto Moura. "Uma cidade marítima portuguesa está a ser transformada numa Meca da Arquitectura, com uma colecção de edifícios ao gosto de Fernando Távora, e agora a chegada de um

hotel inovador em pilha", escreve a Wallpaper. Acrescenta que os edifícios são "fonte de orgulho municipal", com destaque para a nova Biblioteca Municipal, desenhada em betão branco por Álvaro Siza.

"A Biblioteca domina uma praça planeada por Fernando Távora - mentor de Siza Vieira e fundador da Escola do Porto", refere ainda a revista, fazendo também referência aos "dois edifícios ambiciosos" situados na Praça da Liberdade.

Num texto ilustrado com imagens de Dan Holdsworth, a revista fala da praça de arquitectura "cinco estrelas", que ficará completa com o Coliseu, um pavilhão multiusos com risco de

Eduardo Souto Moura. "Este terá como característica uma caixa de alumínio em cima de uma estrutura leve, o que enfatiza a natureza etérea da visão de Távora sobre esta parte da cidade", lê-se na revista. A fonte camarária sublinha que a Wallpaper é "uma referência incontornável" do design, arquitectura, moda e estilos de vida. Além das obras destacadas na revista, a fonte lembra que a cidade de Viana do Castelo possui vários outros edifícios de grandes arquitectos, como a Pousada da Juventude de Carrilho da Graça (recentemente galardoado com o Prémio Pessoa), e a Biblioteca da Escola Superior de Tecnologia e Gestão e o auditório Lima de Carvalho, ambos de Fernando Távora.

Há também o edifício de entrada da Citânia de Santa Luzia e o conjunto habitacional da Rua João Alves Cerqueira, da arquitecta Paula Santos. Da "Meca da Arquitectura", acrescenta a fonte municipal, constam ainda o conjunto habitacional do antigo mercado (Alves Costa e Sérgio Fernandez) a Praça da República (Viana de Lima), o Hospital (Chorão Ramalho), a Casa Grande da Rua Mateus Barbosa (Nazoni) e o templo de Santa Luzia (Ventura Terra).

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O retrato de Torrente Ballester perdido durante 40 anos Collado ficará com o quadro, que ofereceu sem êxito ao Ayuntamiento de Ferrol

Ramón Loureiro, 10/2/2009 (Voz da Galiza)

Quase a completar 83 anos de idade, o pintor o pintor José González Collado disse que conservará «para sempre» um retrato que pintou no pós-guerra a Gonzalo Torrente Ballester. Muito provavelmente, como o próprio artista comenta, a primeira tela em que apareceu o rosto do autor de “La saga/fuga de J.B.”. «Não, está completamente decidido: já não dou o retrato a ninguém -disse, com um mais que evidente ar de indignação. Quis oferecê-lo ao Ajuntamento de Ferrol como mostra de gratidão por terem posto o meu nome a uns jardins, mas nem sequer se dignaram vir buscá-lo. E já está bem. Até aqui chegamos». A própria história do quadro é um tanto novelesca, e tem a sua origem no Ferrol do pós-guerra, quando a cidade gozava de uma projecção

cultural que poucos recordam agora, imersa numa efervescência literária da qual nasceram publicações como Aturuxo, a revista impulsionada, entre outros, por Miguel Carlos Vidal e o desaparecido Mario Couceiro, na qual colaboraram com os seus versos boa parte dos melhores poetas espanhóis. Naquele Ferrol, Torrente era professor do instituto Concepción Arenal, além de assíduo participante das tertúlias nas quais se falava de arte e de livros, em

especial na do Casino. E entre seus amigos mais próximos de então estava o pintor José González Collado. «O que se passou na verdade, e isso, por favor, quero deixá-lo muito claro, foi que eu pintei o retrato a Gonzalo no ano 47 para oferecê-lo e quando o mandei encaixilhar perderam-no. Passaram quase quarenta anos até que apareceu de novo, num antiquário, e ali me fui eu, para recuperá-lo. Então liguei a Torrente, disse-lhe que havia encontrado o quadro e ele respondeu-me: "Ah, mas então era

verdade...". O seja, que duvidava da minha palavra. Coisa que me pareceu mal, claro. Mas ainda assim ia dar-lho.O que passa é que depois o tempo foi passando, não chegamos a ver-nos, e o retrato ficou em minhas mãos...». «O Torrente dos anos quarenta -recorda Collado - era já muito míope, como se mostra na pintura. E muito simpático. Eu recordo-o sempre com muito afecto, como à sua primeira mulher, Josefina, e aos seus filhos. Agora, parece que ele, dali do quadro e desde aquele tempo, nos persegue olhando…».

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Diz Stephen Hawking num dos seus livros: “Se descobrirmos uma teoria completa, ela será inteligível nos seus princípios, para todos, com o passar do tempo; e não apenas para poucos cientistas. Assim, todos nós, filósofos, cientistas e pessoas comuns, devemos ser capazes de tomar parte na discussão da questão pela qual o Universo e nós mesmos existimos. Se encontrarmos a resposta para isso, ela será o triunfo definitivo da razão humana – pois aí poderemos conhecer a mente de Deus.”

Alberto D’Assumpção entregou-se a essa descoberta para trazer à nossa percepção o propósito do Universo. Tarefa difícil essa de ser colocada na tela. Alberto D’Assumpção, importa dizê-lo, é filho do enigmático pintor Manuel D’Assumpção, percursor da corrente surrealista em Portugal e referência incontornável da mesma. Partindo do Expressionismo Arquitíptico que pressupõe um auto-conhecimento, uma construção interior baseada no mito, na alegoria e no simbolismo que Alberto D’Assumpção sempre utiliza aí estão a circunferência, a esfera, o esquadro e o compasso, entre outras formas. Na

visão do artista é patente, porém a sua raiz alentejana.

Para ele a Luz e o Espaço realizam-se em Harmonia. Da harmonia celeste à harmonia terrena, porém a passagem é sempre estreita. Por detrás das formas e dos símbolos na abertura subtil de uma porta ilumina-se um caminho. Uma advertência! Não se vêem labirintos tudo é claro para quem Vê. A Ética em que se funda a sua construção interior não lho permite.

O movimento é constante, de planos que se projectam e de formas em rotação ou translação, nessa massa imensa de um Universo em expansão, síncrono, numa conjunção musical e mística.

Geómetra da pintura revela-se no lado lúdico da sua cor uma característica singular da sua expressão plástica, nela implicando o que sente com a intensidade do que nos pretende transmitir. Pintor Esotérico para ele a arte é, sobretudo uma maneira de comunicar com o Invisível, de analisar as suas correspondências secretas de uma forma mágica, diria mesmo iniciática de, “criar entre o Indivíduo e o Cosmos um canal de comunicação, ou uma ponte e por ele(a) um movimento incessante de enriquecimento comum”.

Claro está finda a comunicação fica um quadro, um pedaço de tela coberto de cores, uma obra plástica única. Se quisermos, apreender o seu sentido profundo, teremos de abrir bem os olhos para Vêr para além dela a Luz que a ilumina e as formas que a modulam ou as personagens ocultas que a povoam. Ao analisarmos, porém, o aspecto propriamente plástico da sua obra o que se observa de imediato é o rigor, a medida e a minúcia que lhe é inerente. Porque motivo dir-se-á um Universo tão ordenado, num espaço tão bem repartido. Pura Arte Real

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que se exercita na arquitectura secreta, para além das aparências enganadoras do Visível, numa rigorosa geometria só visível para os que detêm a chave do enigma. Na passagem à mestria, o Mestre perfeito passa do esquadro ao compasso, sendo que este se vai ampliando, na medida justa e perfeita, para não mais condicionar a razão e o pensamento liberto. Do que venho dizendo fácil será inferir que para Alberto D’Assumpção o acto de pintar é fundamental, de um valor sagrado, litúrgico mesmo. Celebrar o rito na sua cadência simbólica é mister de muito poucos. De iniciados dir-se-á. Dos autênticos acrescento eu. É que quem procura nem sempre encontra. Tem de investigar, lêr, recortar, recolher, estar atento e afinal pintar depois de Vêr. Ilumina-se-lhe, então, a Esperança de descobrir o ritmo secreto do Universo e da Vida. Quando assim é pinta! No final, uma interrogação: “Se este Universo com todas as suas dimensões foi feito para nós, ou dele apenas fazemos parte, perseguindo um sonho que o torna real” Vamos Ver a resposta do pintor. Alberto continua a surpreender-nos! Cascais, 23 de Janeiro de 2009 Amadeu Basto de Lima

Carmen Rial dedica-se à pintura e à cerâmica criativa, expondo desde 1983 em Vigo, Corunha, Cambados, Verin, Chaves, Ponte de Lima, etc. Em 1996 expôs em Lanvalle, Bretanha, França. Em 1989 alcançou o 3.º prémio do Círculo Castelhano-Leonês.

António F. Fontán, no catálogo da sua última exposição (Centro Comarcal do Sanlés), refere: «Nas suas pinturas aprecia-se a sua sensibilidade e nas suas cerâmicas a agilidade das suas mãos perfeitamente sincronizadas com a sua mente criadora»

E no “Diário de Pontevedra” pôde ler-se que «Carmen Rial alcança a sua fama através do mundo da cerâmica decorativa. Trabalha com argila vermelha e negra refractária, sendo os esmaltes aplicados nas peças feitos por ela própria. As suas obras decorativas constituem exemplos de desenho de vanguarda, sempre peças únicas…»

LARGO DOS LÓIOS, 50 4050-338PORTO

[email protected]

www.galeriavieiraportuense.com