a indústria portuense em perspectiva histórica

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Actas do Colóquio realizado em 1997 no Porto

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  • FI CHA TCNICA TflUlu: ti l/Uh.-frl p{Jrw~llw'
  • APOIOS

    Associao Comercial do Porto

    Banco Portugus do Atlntico

    Cmara Municipal do Porto

    Cafs A Brasileira

    Faculdade de Letras da Univcrs id'lde do Porto

    Fundao Calous\c Gulbenkian

    FCT - Fundao Para n C incia c Tecnologia

    Governo Civil do Porto

    CEPFAM - CCnlro de Estudos da Populao e Famlia

    5

  • APRESENTAO

    RewU!lII-sc /lesta colcefllca (I.\" cel'CCI de trs de:.ella.~ de cOIllIlllicaes qlle foram apresentadas ao colquio A [nd!-. tria Portuense em Perspectiva Hi strica . que decorre/l 110 Palcio d" Bolsa, /lO PorlO, em 4 e 5 de De:.cmhro de /997. Nesta actividade qlle, para alm da apreMfI1fflo e de/)a/(! das cOllllfnicaes. il/clulll/l/la 1';.1';((/ ao Museu do Carro Elctrico e s illstalar(jes da lll1tiJ:CI Cell/ral Tt.'m/Odctr'o de Mas.wrdos, illscrel'cralll-.w! /20 IJlIrlidpol1tes (ill\'esriglld(J"e.~. profeuores. e.f ll/dall/e.I', profis'.I"iollws de emprc.\'(ls). revelaI/do o illlc res.w! que li abordagem d"s/as temTicos .\"IIsci/a 110 pblico.

    Com {/ apoio logstico da Associoriio Comcrcial do POr/o, () colquio il/serill-se 110 mhilO do projecto "I Estrllfllrtl,\' ,wkio-ec()/Imicas c indllSfriali-:ac7o /10 NOrlc de PO/"lllgal, .\'es. XIX e XX. elll desell vnlvimelllo 110 Faculdade de Le/ra.\' da Unil'crs idadl' tln POrlO, cnlll o patrocnio da Fundac70 para a Cil1cia e Tecl1ologia (ex-JNICT). Trofa-se de //111 projcc/o qlle I'isa (/ pmd/lf/o de conhecimclllo em 101'110 de al/lise.~ .\'ecltH"iai., do oClividade ecoll6mica regiol/al. eswdo.\' de "aso de empresas {' de empresrios. penpecliwls sobre o pllblicismo econmico (}II ,\"()hre ti.\' relaes ecollmicw)' ('om () ex/crior. Neste cml/ex/o tm I'indo a ser p/lblicadns pela equipa de illle.wigao que integra () projecto algllns esfl/d(),~ ,wbre a cermica. a txlil. fi /(I/Ioorio, o dU/pelaria. as morlalflas de milho, (I cortira. n calTiin. {/ pesca, as re/aiJes econmica,,' pel/ill-;Sl/Iare.\ e eom o Brasil, os problemas de emigraro e de illli;:rao, os seg llros, n 11.\'.wJrialiLlislI/o illllll.,/rilll, o pl/blicismo eco/lmico (COIII relel'O para o.~ /exlOs de Rodrigl/es de F,.f'ira,~), os empresrio.\ (Clemell/e Mel/cres. Narciso Ferrdra, ellfre o/uros de mel/Ol" IJroje{'rio), perseguil/{Io-.w! o objecfil'o de apreender o ello/uro hi.r/rica das e,I'/ rll/ll ro, e/l/pre.mriais do Norte de Portllga!, II/(frcadas pela peque/III e mdia empresa, e das suas dil'en'as em'oll'ellles.

    O colqllio CO/ISliI/ tilf mais III/UI e/(/pa 1/0 processo de reflex{in e debnle que lIelll .~endo trilhado, c/ando-.\"(!. dimenso pblica quer (I temas j all/es

    nJlor(/do~. quer aliavas lem/icas em ;111 'e.\"/igo('o, telldo-se c:O///ndo para o elei/O l.:om a colabora(."iio de di\lerso~ illl'estigadores qlle, em qundros jl/s/ifllei/mai.l prprios. /mllbm /t!m prodll::.ido il/l'csligaio ,\"Obre II IIc/il'idade econmiclI de 1/11/ pomo de I,is/a hi.woriogrrifico, e COIII li dispol1ibilidade de a/1:llIIs quadros ,wperiores de empresas qlle assumiram mesl/1o a,,' rdea,~ da (lco 1/0 campo empr{'.\'{/I'i(l! e elll re/ariio ii qual e,wiio j em cOl/diiic.\ de produ::.;r /11110 pers-pec/iI'{/ de tipo histrico.

    Procllrou,e, assim, sl/sciror lima disclI,l's,io so/Jre () cOl1hec:imefllo nClllal relcui\'llll/ellle ii illdstria por/uel/Se. sob dife,.ell/e~ l/gulos, 110 senlido de ir 1/111 prm,o mais alm do que ,l"imp/eslllell/e parafraseaI" 0,1' tradicionais relatrios do.\" inqllrito. indusfriais, /elllalldo-se ames anicu/ar esses dados com 11(}\'()S elell/ell/os de il1formao que I'm ,~'elldo eXlraido.~ das memrias dos prolllgo/liwas. til' (/rqlliwJs de empreso, da ill!ormaiio flo/aria!, da il/lprell.\'ll especiali::.oda. de rela/(jrio.\' e COIl!as, eU: .. E, des/a forma, e//lel/deu-se q/le O colquio era l/ma

    9

  • fo/"ma pril'i/egiat!a de propiciar o el1COlllro de jO\'(!I/S ;I/l'est;!:adores com Olllros mais cxpel"ie/lle,\' e 1111/(/ ocasilio /"aro de aI/vir alglfma~' personalidades que viveral/l por delllro os problemas (/0 il/du,l'trialiwtio em PO/"lIIgal, que militaram I/a,~ fileiras do indllstrialismo pelo desenvolvimelllo I/aciol/al e que aceiwram e,l"Iar presellfe,\' e dar (I SCII leSlelllll/lho,

    TrataI/-se. po/"ta/llO, de apresenta/" tanlO reSllltados como propostas 0 11 ,wgestes dc illl'esligaio. ~m,ci((/ndo /101'as problellllicos 0// melado/agias, 1/0 selllido de responder, a longo p/"a::.o. a qllestlies Celllr(s COI/lO. por cxemplo, a el'oluo global e ,\'ecl()ria/ da illdlhlrio porl/fel1.~e, a,l' sI/as re,postas o diferemes CO/ljlllllll/'as, o lI1o bifi::.ao dos meios de prodlldo, O~' comportamentos de empre,w.\', empresrios 0/1 (mbalhadores, o reflexo de pollicas econmicas, De saliellf{//, que o qllttlificmivo po rtllenSe lido pretendeu resl/'illgir o campo de alllise, emendeI/tio-se por /wrl/fem'(! o indt,\'f/'ia do distrito em geral e 0,\' prolo/lgamenlOs que a dinmica industrial da Cidade alargou a olllras ZOllas: mio eSlfuefwllos lfue o vale do Al'e assellfO, em gral/de medida. sobre o capital de lIegociante,,' do PorTO e que estes estenderam (J ,I'ua acdo bas(OlIte ao sul, ba,\'falldo lembraI' os inl'estimel1lOS txteis em Alcobaa, 0,\' cimel1los em Leiria. Ot/ ail/da mais a Norte, COI/lO foi o caso das gllll,l' minerais do Gers 011 da cortia da Norde,\'Ie, para j //llO falarmO!!; do (.'CaQ durien:Je, De reslO, a perda da importncia do plo IIrhallo do PorlO lia geo-economia nacional desde 0,\' filiais do sclllo passado //llO deixar rnmbm de estar relacionado com esta dispersiio de illvestimenlO,l' e de alefles que. /10 lado POSifivo, represel1la 11111

    (/Iar~ar de IlfJri::'Ol1fes e 1//11 aproveital1lelllo dll,l' p()fellcialidade,~ regiona por parle do!' ;'lI'esridores po rtllenSc,l',

    Com {/ pre~'ellte edili(~ das cOlllwcae, (lpresellU/das ao colquio, pretende-se cOllsliruir I/m rcpo,~itrio de estudo,v e de reflexes qlle COl/sriruiro 1IfIlllralmellle III/I /IIarco lia hhlOriografia da illdu.\'tl'ialh.aiio POrtu"l1se, dlula a dil'tH',l'idade remdrica aqui ofl/"eSC/1/ada e a abordaKem de diferell/es tempos hi,l,tricos, /-l textos sobre a produo de I'e/all/e !'{lra os I/lI vios lIO rempo das

    lIal'eglle~', sobre dil'cr,ws modalidades de pesca e de tcnicas de salga, sobre diferelltes modelos de jO/'lllaiio profissional, ,\'Obre patrimnio indll,l'frial, sobre eSll/dos ,vecwriais (IIIOl/gem, chajJe/arin. conia, /{IIIOl/ria, p{/S~'aIlWlwrills, refiliao de opiem', melalomecllico, elc,), sobre qlle,wcs ellerRticas (carwio, electricidade), sobre (} /Iensfllllento ecollmico, o imagiflrio indtl,I't";al, sobre 'I imprensa 0// as problemticas ligadas ti delldll~'lrali::'lI o e tcrcearizao e li lIovas lIc/ividades como o lIIrismo,

    Re.\'w fo rmlllar lilI/a palavra fil/aI de agradecimellfo l/OS pmrocinadore.l' que ajlldaram li cria/" as condies {{lIIlO para a reali::,alio do colquio como para (./ j)/lhlicao do preseI/te volume de acta.\',

    JORGE FERNANDES ALVES

    10

  • SUM RJO

    AI'RESI:NTA'li.O. IOltGE FE.!!l'ArmES ALVlOS

    A TECELAGEM DE PANOS DE TR~U EM Er-'TRE-DOUROE-MINHO NO SCULO XVI COt\'T1UBUTOS I'ARA A DEFINiO DE UM ~mOElO DE PRODUO AMCUA I"Ol.SI"

    DA rl!SCA SALGA DA SARDINHA .. RECURSOS. T1iCNOLOGIA 1M !'ESC,\ En:cI'Ol.OCaA DA CONSERVAO. NA COSfA 01: AVEI RO 12. MI';TAOE 00 S~..c. XVIII A INICIaS OE XIXI 11'CS AMORI~1

    A INDSTRIA CHAPELEIRA PORTUENSE Er>.'TRE 1750 E 1852 ......................... . OFIC INAS. I'IJRICAS E MAN UFACTURAS JosE! II:-'TSIO REA1. Pf:RJ:IRII R,\MIIDA

    A FORMAO PROFISSIONAl. NO ANTIGO REGIME. MIIRIA JOS LAGO E f'RAKCISCO RIBEIRO nA SIL .... A

    A FBRICA DE LANII-iClOS DE LORDELO ... 101101"1\1 MOIL\IS OUVEIM A

    JORNAIS. EDITORES E TIPOGRAFIAS DO PORTO (1866-1l\9B) .......................... . MARIA DA C01IASSARELOS o MUS F.U OOCARROEI.~.CrRIC()

    Hr~"RIOUE MilKUr:l..COST" I)IAS

    EMPRESA ELECTRO-CERMICA DO CANDAL ............... . ....................... . UM CASO DF. RF.CONV~:RSO FU NCIONAL JO"OUI~I MORIIISQI.IVHIRiI

    o PLO INDUSTRIAI, DA SERRA 1)0 PILAR ................ , ...... . Gor AI'TlGO R~XIMJ:: INUUST RIAJ.lZACIN HlAKCISCO CAtO LOUIIU)()

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  • Ufo,' SCULO DE MOAGEM 8'.-f PORruGAL. DE um A ,92() . . . :m nAS FABRICAS A.~ CO\lMI\HIAS E AOS GRl'I'OS 1>1: I'ORTt:GAL E COLNIAS E DA SOCII'J)A/)F. INDUSTRIAL ALlAN .... lAI\I" ALRFltm on ('Ql 'TO rUIU,IRA

    f\S INDSTR"\S:-':O PORTO NOS fiNAI S DO S~CULO XVIII . AIJRI.l-lO OLI\iliIl.A

    A CONSTRUO CIVIL B1 AVEIRO. 18001930 ;':OTAS I'A\(/\ A SUACOMI'I0 ro'IF.JtCIO."917) DE RAUL DIIIA .IOS(- A\'T('I\IO AI O"SO

    DESINDUSTRIALIZAO. TERC1ARIZAO E REESTRUT1JRA'O TERRITORIAL o CASO IlO POK10 J():o,I,A \ IIIOFT'R"M': IlI~~

    EXP05IEs. 1NnSTRIA E TURISMO.. ., ... KEF1.EX ()liS 501)111, UM "'''''A!lA AcrUALlDAllL LeiS PAll.lho\lOo\\IIo\ MARTINS

    UM,\ PRIMEIRA ABORDAGEM 005 PROCESSOS DE INOVAO.

    O ~.xF_\lPLO 1)0 TECI\)() PROUltrlVO IX> EJ'>.'TREDOUKO lO VOUOA 'ITRrs.o. SMAIIQllOS

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  • A TECELAGEM DE PANOS DE TREU EM ENTRE-DOURO-E-MINHO NO SCULO XVI

    CONTRIBUTOS PARA A DEFINiO DE UM MODELO DE PRODUO

    A\'EUA POLf'J IA

    A cOlllunicao que aqui apre~cnlamo:-. decorre de um trabalho de investi-g:';io em curso !'>obrc o envolvimento de Vila do Conde no proCC!'>SQ de expanso ultramarina no decurso do liculo XVI. o qual engloba. p.lra alm do estudo das c'pccfica, activid:ldcs de navegao c comrcio, o de OUlra:--. de naturez.a indus-trial. que a ... viabilizaram. fornecendo instrumentos de navegao. Referimo-nos, cm concreto. construo 11:1\1:11 c ao fabrico de velame)" cm particular os manu-factunldos com pano:-. dI.! In.:u . O Cacto de este lipo de vclamcl>. que const itui imagem de marca das embarcacs ponugucsas na poca cm estudo. ser idel1li-ficado como pano de Ircu ou de Vila do Conde liga. desde logo. de forma il1dissoci"el. eSta localidade ?I sua produo c/ou cOl1lcrci:!lizao.

    Indica- nos bibliografia especializada sobre eSll matria que c:.:.as lonas so particularmente indicadas par.:l os navios latinos. ou para as velas de menor dimen:.o dc embarcaes de maior envergadura. como sejam as do traquete das g:'l"cas. ou da Illc',cna 1. E:.ta informao remete- nos. assim. para a largura li mitada da pea. em comparao. por exemplo. eom as chamadas lonas ,'i!res Oll prmr/(/I'idl e. cm consequncia. para o tipo de teares utilizados. Com efei to. UI11 diploma de D. Fcmando. de 1377 rcgula1llcllla. na sequncia de uma prevista encomenda de grande quantidade dest:'ls lonas para a armau de J,!316 r~gias. que a sua dimenso se fixe em UI11 palmo c dois dedos de largura. segundo a bitola. cm ferro. que deveriam fornecer nos respecti vos locai:. de produo2. Ora. esta indicao d:-II(}~ a ideia d,t reduz.ida largura do pano em quc ... to, a tingindo. nesta poca. um valor prximo do ... 24-25 cm. Os panos de treu so. todavia. reconhecidos. cm panicular. pela sua qualid:lde e rc:.islncia.

    So v:'lrio .... por outro lado. os le ... temunhos que desde a poca medieva l apOntam para a sua produo. exportao e prnjcciio internacional. cm ani-cul:liio dirccI:l com Vila do Conde. O seu cotejo permite-nos apurar que j no reinado de D. Fem:mdo c.

  • AMtUA PULNftI

    consequncias do pon to de vist:l produtivo. j que n::o enCOlllr:mlOS qualquer outra nome:lo ou qualquer titular desse cargo em exerccio em Vila do Conde cm momelllOs subsequen tcs.

    O v:llor deste artigo para o cquipamento das armadas . de res to. atestado por outras formas de interveno rgia na sua produo e, em particular. no cOlllrole da su;.! qualid:ldc. nomeadamente por via legislativa. Assim acontece com o al\'ar:i de 1556. no qual se fixam exigncias tcnicas de fabrico q ue importa perceber. Detenhamo-nos. poi!.. no seu aniculado. A se di?:

    ,

  • A n;Ct.:lAGt.:M nl!' /'ANOS D1~' TNEU f;,H ENTRE/JOURQE/I1INHO NO S/~CULO XVI

    Guimares c Barce los. Maia e Azurara: concelhos e lugares confinantes com o de Vila do Conde e que com ele estabeleciam COnLactos no s espaciais. mas fundamentalmetl1e econmicos. Lembremos que aS freglle!>ia~ de Barcelos funcio navam. do ponto de vista agrcola. como o termo que o concelho da foz do Ave no tinha. e que GuimarJe~. ;lssim como Braga linham neste porto o meio privilegiado de ligao com o comrcio martimo. seja de imponao. seja de exportao. Deste modo cremos ter estabelecido uma primeira ligao ent.re uma vasta :irea marcada l>ela produflo das lonas de trcu e o burgo que com o seu topnimo as identifica no reino. no ultramar. ou ntl I..!slrangeiro.

    Na verdade. outros registos apontam para essa ligao enlR! () porto de Vila do Conde. enquanto ncleo distribuidor deste art igo. c a sua produo nas frc-guesi'ls do termo de outros concelhos: um deles prende-se com uma declarao de dvida a um lavrador de A-Ver-Mar. da freguesia de Santi.lgo de Amorim. referente a 270 varas de p:H10 de treu. produto que surge a par da comerciali-zao de trigo c alhos w : a segunda consubstancia-se na proibio da entrada n:l vila de pano de trcu provindo '. consideram algun

  • AMt:LlA rOl.NIA

    apostilha de 1561 ordena~~c brevidade na sun notificao ~'l> autoridades cornpctentcl>. que o devero apregoar com celericl;J(fc ... porquoallfO ora /1(' () (('mpo ell/ qlle se {(!:;'e () diw paI/o de l/'el/"l3. Essa aposti lha datada de 24 de OUlubro situand()~se. pona lll \J. no Outono. perodo que antecede o tempo morto do e~dendrio agrcola.

    Em !.uma. crcmo~ estar perante um modelo produlivo muito prximo. seno idntico nq udc ensaiado e enraizado na econornia dos Pases Baixos. Alemanha e Frana e j sobejamente caracterizado por Jacques Heers l4 . Andre Miskimin 1\ Herman Kellenbenz l(, ou Franklin Mendels l? e alobalmente conhe-cido C0ll10 Verlaf!.ssy.\lem .. As caractersticas que individual izam este :-.istema de produ:io so. afinal. as Illesmas que cremos ter encont rado no espao de Enlre-~Douro-e-M inho no que se refere produilo de pallo de (reu.

    Tr;J.talldo~se de um modelo equ:teionado com base numa dispers:io geogd1iea :1 que j: nos rercrimos. importa que se perceba de que modo se articula esse sistema de produo. E cremos que fundamentalmente neste domnio q ue Vila do Conde c os seus agentes econmicos exercem pape l predominante. A tese que aqui apresentamos a de que merc:'ldores e negociantes d;J. vi la assumiriam fun c1> de importadores de matria prima. seus distribuidorc!. pela~ mltiplas clul:ls de produo. peJo menos nas quantidades em que o mercado Jocal no respondesse. e seus exportadores sob a ronna de 'artigo em pea. Assim se justifica a gr:lIlde quantidade de fio de linho em ram:l importado. Assim se compreende a entrada das rcferid:,b lonas em pe" em Vila do Conde atravs de lavradores do termo de outros concelhos, a que jj nos referimos. E assim se compreende. por fim. que encontremOl> um mercador como Gabriel Lopcs a adquirir 1>ignificmivas quantidades de linho"; e ii negociar os famosos panos de treu l'). ao mesmo tcmpo que so reconhccida:-. as SU:1S mlliplas relaes com numerosos lavradores do termo de B arcelo~::'o. Em su ma . disperso da produo corresponde Lima conee nl rao da comercializao, viabilizada por alguns investidores que pa recem corresponder ao pcrlil do i11lcnnedi

  • A Tt:CI:.I.ACf;'\I OE PANO~ OI~ THt:U J::M EArrRE. /JOUR()/:"MINIIU NO sixuw XVI

    Ora. ao abastccime1llO do:-. estaleiros da Riheira da~ Naus24 c daqueles instalados no Oriente. deverfamo:-. acrescentar a grande quantidade de velame

    r1ece:-.~rio intensa activid:ldc dos ~talciro:-. da Ribeira do Ouro. no Pono . por cena tambm abastecida pelos mesmos fornecedo l"c~. e aqucla requerida pelos prprios estaleiros de Vila do Conde e Azurara e por portos de menor enverga-dur'l. mas ainda assim so licililnles de significativas quantidade:. para provimento e reparao dos vela mes das sua), ernba rcacs2~. No pressuposto de que a), zonas de produo referidas respondessem a e:.tas Cllmul;lli va~ solicitacs de abastecimento dos cstalciro~ do rdno e Ultramar. e ainda que no pOSS:1I1l0~ apontar para tOlais de produo anual. este), ultraplss:lriam por certo. para Entre-Douro-c-Minho. o vOllor das 100.000 varas arlUai~ apomadas por Mestre Antnio em 1512. Notemos que s6 para Lisboa. nos ano~ referidos, exponar-sc-i a uma mdia anual de 30.000 varas. Se atendermos. ainda. s infomlae~ que apontam para a sua comercializ:lo no cl>lrangeiro. nomeadamento nas feiras de Medina dei Carnpo26. lica claro que;1 quantidade de pano de Vila do Conde pro-duzido nfio s6 satisfaria.

  • "MEUA POLNItI - -

    M.: Cllcomr:\relll Jimitad;IS pelo t'aclO de a fOlHe mencionar e,>:.c produto dc importao recorrendo a diver5as un idade'> de rc t'ero.!ncia. cUJa conver:.o se tornou de difcil. quando 11:10 de impossvel execuo):!.

    Em paralelo. nada 110S garante que os montantes importados se de:.linaSSCIll. cm exclusivo. para o 11m quI.! estudamos: o fabrico de lonas para "clames. no nos ,crido tambm po.,sfvcl apontar po..:l'Ccntagcns provvei, de utilizaiio. Todavia. se p:mirmo,> dos dado!'> di'ponfvcis. de que j: fa hrno:.. accl'c:\ do volu lllc de fahrico e comercializao de pano, de treu. cremos 'il.!r pos'if"el ligar a tecelagem praticada nestes burgo", martimos e. portantO. a aquj.,io de matria.,-primas a ela ligada:.. a cs,e produ to de fabrico preferencial.

    Amda que sujeita, , limitac~ expressas. o, dados sislemaliz;ldos nos qU:J.dro:. e gr:'ficos que de ,egu ida apresentamos apon t:J.1l1 para tendncias sobre

    QL"DRO 1- 1i\ II>O In'J\J)Q IU':S OE LI ....- H O E.\ I t527 F. 15.U (l)blribuiiio :: .. 'O~r.J fj C;I )

    "NO 1527

    ' \I"OIlT A])ORI'~' IMI'ORTAOES LOCAl!I)Aln . ., 1\1 "I:II.{)

    "

    VAUJRTOHL " tEm_,, '

    Vll. \ DOCO",or; UiQ ".1 26W ".7 AZUR,\RJ\

    " 5.3

  • II 1IXEVIGI::1\I DE PANOS VE TlU.:U EM f:NTRE-I)OUfWhMINHO NO SCULO XVI

    GRFICO I - RESlI)i~NCJ.\ UOS Il\.IPOnTA DOn ES UI~ U NHO

    (;\1 1527 (Ll' iltl'"" pe"ccIlIUal)

    Q(\/"""iiiii! .~

    .-0 '0'''0

    .-

    .. -

    ........

    GR/\FICO 2 _ RES II1 j\"CI,\ DOS II\H'ORTAuonES UE L INHO

    EI\ I 15J2 (lJislrihuii"it) I)C r ccntual)

    "-~I .~ .-.-, sMi(lo.o.~

    as quai, im porta reneclir. Uma primeir;} organizao dos mesmo!> pelo local de rcs id':ncia dos imponadores mostra-no!>, de!>de lOBo que. ape!>ar de a alfndega de Vila do Conde !oer local de actividade privileg iado para mercadorc .. de Braga. Porto e Guimares. como se compro\'a para a globa lidade da,> mercadorias a tribl1wdas33. j no que se rcrerc iJ impol1lao deste produto em panicular. essas c ou Ira:. localidades parecem eSlar globalmente ausentes. Islo . a sua irnporlao d irigc-:.e prcfer~1Hernente para age1Hes econmico:. residentes cm Vila do Conde.

    Na globalidade. o nmero de importadores da PvQn catalizam 4.8% do total em 1527 e :'U % em 1532. Do rne:.mo modo. A'l.urara abrange. 5.3% e 5. I % do (Ota!. respecti vamente. As restantes localidade:. mencionada .. : Touguinha. Bmga. Esposende e Porto em 1527 e S. Simo da Junquei ra e Pono em 1532 apresen-tam- .. e como excepc ionai:.. 11;10 ullfapa" ... ando CIll conjulllo. os 3.5%. na primeira data. e os 2% na st:gunda. No prcssupoSlO de que no sc assist3 a um sub-registo da s proveninci;\-. geogrMi cas de quem im porta . es tes resultados prerigumm Vila do Condt: corno o e!>pao consumidor. ou distribuidor por excelncia. agiu-timmdu. re!>pccti\ameme. 86. I % e 88% dos imponadores nos 2 anos conside-rado .... A~ llle:-.Ill:l,> ponderaes pan:cem ser vlidas. com algumas correces. no que se refere ao volume total de imponaes.

    Numa perspectiva comparativa se r curioso notar que no que se refere ~ aquisio d:l Il1nlria prima considerada. ~ bacia da foz do Ave se apresenta como UIll espao original. j que. segundo se pode depreender do trnbalho de Antnio FCJ'l1andes Moreira sobre as im portaes pela:-. alffltldegas de Caminha e Viana. no se identifica nada de compad\'cl ne ssas duas loca lidades1.!. Panuldo destas premissas. que sig nificado poderemos atribuir ao ... val ore'i totais c parciais apurados. assim como distribuio do \'olume de imporla:10 por comprador?

    Se quisermos rornecer um quantitativo global. cm arrtei s . depoi s de estabclccid:ls as correspondncias cabve is e ntre as unidades mencionadas. obteramos um vo lume total de cerca de 30.000 arrteis de linho. acre $cidos de 1075 lcgalho .. para os quais nfio encontramos correspondncia. no ano de 1527 , 17

  • AMEUA POLNIA

    Q UADRO 1I - 1i\'iI'OHTAOO RES UE U N I'IO EM 1527 F. 1532 ( I)i ~ trihui" fI"r ;ntcn':lios rie ilnllUrtuo)

    ANOlm ANO I

    QUAKTl IMIJI:S % ) DI< I. I, . I

    = I .1 I , I I I I

    =I I ,I I

    ii , 1., 3 ,I I > 1 ~:

    I I I FO~'TI A.t'I T.T.- ,.,', " '''51: ,51,'

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    GR FICO 3 - IJ\ II'OIlTA OOH ES IDlstrih\l ;';:,i" ri"" .,:.Im'e:; d,' impo .. t:u;o)

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  • II TLChLtIGt.'M /lI: I'ANOS nrTNtU Df E .. VTNE.-OOUNO-L-MINUO AO SCUW XVI

    1;. do me~mo produto. 10.780 arn"itci .. em 1532. Qualquer do~ \alore~ apurado~ s ituam-nos perante um quauro de intensa produo manufactureira. por certo

    tran~cclldente dos nclco~ 1llartimo~ d;l foz do Ave e aponl;lm. de~de logo. para mccanismos de cxponailo do produlO em pC~1.

    Tomando. as:-. im. como v;ilida a prcmiss::I re lativa franca projeco da activ idade cm estudo procuremos aproxim::lr-no~ sua organiza:1o interna. partindo. de~de j. da idenlifica:1o do perfil do importador de matria prima)s. A dbtribuio. por intervalos. d~lS quantidade:. de mercadoria imponad3 bem reve ladora da:. caractersticas dominantes no univl;r:.o do~ importadores. as qU~lh configuram a prevalncia de nUl1lcro ... os pequenos e mdios compradores. A par deste~ modesto~ imponadore .... os quais presumimos se abasteam para a sua prpria actividade. poder-.. e-o apontar os que C011lpmm para revenda. identificados na fOlHe como mercadores ou C0l110 tal ~lpontados por documentos parale los. como ocorre com G~lbriel Lopes. cristo novo. c mdico para alm de mc rcmlor. A SU;] prescna al"irm:lo-se. porm. como e .. t:lli~licamente Illenos

    repre~cntilti\'a. O tcor do grtifico que

  • IIMf.VA I'OL6NItI

    desde 1596. com a men50 ~ j uzas do mesmo l11e s l er~~. c ainda com a refe-rncia. desde 1577. existncia dc taxas dessa act ividade.1'.l apontam para a estrutu rao intcrna do ofcio e paf:.l a sua organiza:1o inst itucional e hierrquica. Pela:. informae:. com pulsadas afigura-se-nos se r not ri a a represcllIal iv idade deste grupo no conjuIlto dos ofcios mecnicos d;1 vila no decur. __ o de IOdo o sl.!cu lo XV I. Uma cc ntri:l volvida. a realidade parece ser. porm. bem diverSa. se nos ati vermos deliberao de 10 de Junho de 1682. a qual e~tipu l:1 que a obrigao de apresentar. na proc isso de Corpo de Deus . a pel a. que sempre fora da responsabilidade das tecedeiras . se transferisse para as pe ixeiras. em vi rtude do ser o nmero daquelas diminuto e o mester qU:lse extinto~o.

    Cremos. pois. estar em posse de dados que corrobor.lm. par.:! o sculo XVI. a im portnc ia assumida por esta actividade no conjunto do corpo de ofc ios da v il :l. que :l.1e:. t:1Il1 a prevalncia do element o feminino no seetor~t e que pressupem uma concentr:lo espacial. cspeeializno funcional c est ruturao ilHema cm ludo diversa do modelo disperso. de desempenho complementar e e m tcmpo parci .. 1 que :lpOlllamos corno car:J.clerizantc do espao rural envolve nte.

    Cumulativa ii eSIa questo. e cingindo-no!;. de novo. ao fabrico de pano~ de treu e de \clames. poderemos ainda colocar uma outra. relati\'a ao tipo de t:lrcfas de:-.envolvidas cm espaos rurais e espaos urhanos . Ser que. imagem do modelo descrito IXU'll Olllros e~paos europcus. cm purticular os Pases Baixos . no primeiro desscs universos produtivos se cu mpririam tarefas exclusivanlen te de nao e tecel'lgenl. acontecendo as tarefas de re males finais e de produo do velame cm espaos mais urbanizados. cm particular. na vila que marcou com o seu nome o prodmo em estudo? Nenhum dos elementos coli gidos nos permitem consolidar essa hiptese. mas cremos ser verosmil que a fase final dc produ:1o:

    ~l coslUrao dos panos c a 1ll0dela:1o final do ve lam e. na quan tidade e nas dimensc:. pretendidas. acontecesse l)Crto do:-. estaleiros de construo e. no caso concreto. em Vila do Conde. Neste pressuposto. ao significat ivo e o rganizado grupo da .. Iccedeiras se: deveria juntar um nmero cons idervel de cosllLrciras~2 de CUj'l acti vi dade rcsultllfialll as velas que propulsionar:nll as embarcaes sadas dos c:.taleiros de Vila do Conde e Azmara.

    Os valores de exportao apontlldos para o universo do reino c im prio ultra marino. 'lssim como o reeonhecimelllo da sua qualidade no estrangeiro. dc que falmos. comprovam, por fim. no s ii intensidnde da produo desse artigo. mas tambm :l s ua importncia econ6mic:l e estratgica. Importan te.

    arH e~ de mais . pafa a economia local. enquanto fonte de reccjta~ e instrumento de mobilizao de recursos hu manos da regio. evcntlln!mente excedent:rios. quer pela conhecida den s idade demogrfica de Entrc-Douro-c-Minho. quer pc los nd ices de fertilidade do solo. eles prprios responslvc is pela libertao de brao:. da lavoura. qucr ainda pc];) tendencial concentrao populacional c m nc leos martimo:. . mobilizadores de agentes econmicos. em particular jovens. i'vlas importante tambm p:lra a globalidade do reino. enquanto instrumento de dcsenvolvimenlO de uma ou tra actividade paralela impresc in dvel do pOnto de vista cstr:ugico c operacional s navegaes martimas: a eonslruo naval. S nesta !'iegunda perspec tiva se compreendem as sucessivas intervenes do poder rgio na regularizao da acti vidade de fabrico de trells c na manuteno dos tradicionais partUlletros de qualidade que aqui documentmos pam um perodo que remonta ao reinado de D . Fernando. passa pelo de D . Manuel c se reafi rma no de D. Jo;1o III e posterior regncia de D. Catarina ...

    20

  • ti TlXEI.AGE\f f)/;; I',\ NOS /Jf~ TREU EM E/tlTflEOOUNO"AUNIfO NO SfXULO XVI

    NOTA S I. C): Memorial de V"ri,,~ COU7-"~ Lmportame!>. B.N.L.-Cd. 6]7. n . 1211\", 01. COST A. Leonor

    Freire _ Nmu I' Gf//t',k'\",," R"wim de Li.,htH.l. ,\ etllulrllf"f> IIm,,1 ti" M!clll" XVI/X.N, (, RnlfI (lo C,,"". Ca-.cai,. I'atrimoni:l. 1997.1", ]60. Notc ~c. porm. quol1"-' cid:ldc. de I I!. SClclllbru. 156 I (Documento puhhl:ado por CRUZ. Anttnio - O 1'/lrI') mu NlIt,t"};t,p'''' .. "" E.'I"wt';o. 2.' cd .. t "oo:J . In.d .. p[ll .\ [_ [-I-I . IS. MISK1MIN. Andrc - A !Icrmo/lri" ,,(/ H""II\c"''''IIW EUI"OJII'II /.lO(Ilnoo. Li,oo". bl;rrnp". 1

  • AMU\ POLNIA

    'c ,uemific:lrI:m o~ u~e!1lc., .1c'IC comrcio como .. mac:uJorc.\ de Ircu" ~USCrt: UI11" cer t:l e~peci!lli",,,,,,, n~'! c tr:ifego. ,6 compr'een,r-c! medi!ll11e:1 e~ I.'l nci!l de um "olume '1gnil"ie:llivo do, neJ;',lclO' c do, mom:mle~ ell\'olvido,.

    25. Com cieito. tlcl'ar'II11~:Jo. 1;0111 regl'IO~ que !lllOnlalll para a I;omercrali/;'!lo deq"., pano~. por agenLe, econmico, de Vila do Cunde. n,-,o w em Li,ho:!. ma' Lambm cm 10;;0 c cm AlooJ:!u;a rcl A.D.P. - Notnriai ... V Cundc _ L' Serre. Lv. 5. n, 15);,-160 IAM 156')); Lv. 7. n~ 1-12,-14], (Ano 1575); Lv. 9. n~. 229231). NOIc-'oC que ue,Le lumo C:I,,) quem comerei:!llI:! o aMigo lO um;! mulln:r. Ju,ta Fe:m:>ndc,. VIU";) dc um pilam. No el"el11O' que o) fil.e,-c comu Ic ... 'Cdclr ... ma, como mcrcm.lOI":l .

    ::16. Vcjn-,c o que 'c d",,: ,obre o reconhecimento d:l 'lualu.l:uJc do j1:1Il0 por Esc:d:ll1le dc /I1ell

  • A T{XEl~GEM DE PANOS mo. TRt:U EM ENTRt:-/)OURO-I:;-,HlNIIO NO Si.CU/.O XVI

  • DA PESCA SALGA DA SARDINHA RECURSOS, TECNOLOGIA DA PESCA E TEC 'OLOGIA

    DA CONSERVAO, NA COSTA DE AVEmO (2." METADE DO SC. XVIII A INCIOS DE XLX) *

    1:-'1'5 AMORI),I

    Na erlS/a l/r AI'eim, ('Jfl

  • fNtSAMOIOM

    Os seus recursos limilam o scu alcance. Alarga-se extr".tordinariameme quando se trata da pesca do alto. identificando-se ora com o II/a/" da pedral. que se prolongava. segu ndo uns. desde a Galiza ~lI muito adiante da barra de Li sboa. segundo outros. apenas al ii Figueira1. ora com o mllr da (."(Irfohl. a rea freme a Aveiro at barra da cidade do P0I10 3. Restringe-se perante as caractersticas da costa e da espc ie piscfcola mais abundante - a s:udinha.

    Neste ltimo caso. aquele que verdadei ramente nos imerc:.sa. o meio natu ral condiciona o desenrolar das restantes actividades. Com efeito. o perfil do litoral n:10 cOlltcmplu elemc ntos favorveis ao estabelec imento de armaes fixas. impedindo que os pescadores estende~sem [\ sua pescaria :I grande dis-tncia da COSI;I. por vrias razes:

    - o litoral ser uma linha rcclilnea e arenosa. sem grandes palHas de orien-taflO:

    - junto ao litoral no se abri garem espcies sede lllrias: - o fundo do mar seI" de areia limpa (no atractiva para uma fauna rica e

    variada) e cm ligciro declivt.!. at 15 Km de disl5ncia da costa. onde as sondagt.!ns apen as atingem 50 metros de profundidade:

    - t.!lltre as lat itudes do Rio Doul"O e do Caho Mondego. o m:mancial de pescarias se afastar mais da costa :

    - a inex ist ncia de panos de abrigo essenciais para o:. pescadores se aven-lurarem no alto m~lI",l .

    Decorre. dcsIC I.:onjullto de premissas. que a pesca se torna";1 uma aven-tura rdua e de alto risco humano e material. Assim. s restava /11lla explora-eio cO.'feira de espdes nmadas. e restrin;:ir-.w: a proces.\"().~ de capmra milito especiais. I'isw que nem 0 .1' barcos podem ter 11111 la/';:o campo de aco, nelll a:. { ll"lI llIi)e.\ fixas seio aqui .1II;tapa em anexo.

    Acrescente-se. finalmente. que unta das caraCtersticas marcantes dos ca r-dUlUe:. de sa rdinhas :1 das bruscas nUluaes de longo e curto prazo rclaciona-d:ls com a vida brcw da espcie. po is que a sard inha entra na rea de pesca com menos de r ano e permanece nela. em md ia. cerca de 4 anos. conclui ndo-se que as :l llcraes ambtcntais podem :lfectar o sucesso da sa t"ra8

    26

  • IJA "I::So.. SALGA DA SA/WINHA - - - - - -

    QUADRO 1- CA LENI},\IUO 1>.\ PESCA l\IARTU\.IA NA COSTA OE AVEIRO

    LUGAItES 1\11' ... ., . :." ESI' f.::CIl':S E.1ll0 OV:lr Ago'loIOutullro predonuna a ,:,rtlinh~: varied:,dc de outros pci~e.' Torn:ml Ago,tulNll\"c,nllru o mesmo

    Muno'a Ma,Q/Ouluhm o mesmo S Jacinto Junh"/N,),clnhm o me;.mo CO-'l3 JulholNovembm omcsmo ilha'., ... Va;;'" Fe"ere,ro!Oulubro o mesmo r,.I, r:, JunhofNn"cmhro o me51l1O

    """" ... - "'~ u.I069

    2. EVH hu,:o d:l tecnologia lia pesca

    Sal)C-,c que o desenvolvimento tecnollgico da pesea envolve lreS aspectos: !.!rn primeiro lugar o pescador. !.!1l1 maior ou menor nmero e o seu jeito para a actividade: cm ~cgundo lugar os instrumentos que lhe permi tem avanar para urna determinada rea de aco (o barco e scus :.Jparelhamcntos). finalmente os meios ou instrumentos que permitam localizar cardumes e seus movimentos (hoje a' sondas).

    A . 0.1' IlIcleo.\" do.l pe.,("(u/o/"e.l e ." //a." ca /"(U"wr(slif'(Js

    Abordar o primeiro aspecto. o do nmero de hOl11!.!ns !'!llVolvidos na acti-vidade torna-se difcil: no s porque as estatsticas da poca so precrias ou inexistentes. mas tambm porque a identificao do estatuto scio-profissional de pe~cador se torna dbio. Ora porque as ligacs ao mundo rural so fre-quentes. ora porque existia urna emigrao sazonal. impl icando a insero da pesca num "iSlelll:l econmico mai:; amplo que. conjunturalmente. encontrava estratgias especficas p:lra maximi7.:lr beneficias.

    Seja como for tentemos urna quantificao. Acreditamos que na COSia de Aveiro se encontrava perlO de um quarto da populao pisc.n6ria portuguesa no ;Ino (II.! 1821 como conlabili zou Adrien Balbi ao npresentnr. pela primeira vez. urna Ta/ma das pe.,car;a,n>. certo que as deficincias desta fonte so ml-tipla:-.. a come:.Jr pela forma C0l110 organizou os dados. segu ndo as diferell1es dl 'i.wJe.\ finallceiras. a que ch,unou comarcas. mas que o no so efecti va-mente. alm da incorreco dos topnimos. Em se!;uida. no distingue pesca flu vi,J! e martima. tipo de barcos c as categorias profissionai:-. envolvidas na pesca. assim como exclu iu os dados relativos ii coma rca de Lisboa. Assim sendo. a Sua estimativa teill o valor que tem - serve apenas para avaliar a relao enlre a costa de Avciro e os restantes ncleos piscatrios'/.

    Ikcuando no tempo, os dados so dispersos, e os informantes tm. muitas vezes. rnotiv:.Jcs diferentes para o fazerem.

    27

  • INf:S AMORIM

    QUADRO II - T B UA J)A S PESCA RI AS. SEGUN J)Q A J)RlEN Ih\ L 1I1 _ 182 1

    (),\1.\ no.~ N.- IIA1~COS N.- l'E."SOAS % Alg::lT\'c 355 3622 20.5 Se!ljh~1 140 I g4 1.0 Torre, Vcdr:." ,. 671 3.~ Santar6n 217 703 3.9 T OIll"r 159 518 2.9 L";ri.' 25-1 1385 7.8 Coimhra

    " 1195 6.7

    Avc' .... 311 4411 25.0 Dn\l1'o e c inl" Douro 387 2'J-W 16.7 Prol inci" MlOho (Viana para oone) 1

  • {)A l'/~'SCI1 SM.CA IJA. SA!WINHA ---

    originando novas cOllcentm" .. c. ... piscat6ri:I!. noutra oc;lsioJS . que cntre 1750 e 1751 !C as vrias redclo, com 11111 m(!!)/I"I.!. das redes (;I/lIlI/lIdas (lrte.\' . para 0.1' emsigllar deI/Iro do.\' Irr:s (/11110.\' (do contrato) de /lido (} qlle I/r:.~,~es(jrio for perl(m .... ellle a diw I"{'d."ega. c.,ractcriz;J-sc por aprc'>CllIar grandes d1ll1etl.,c .. e v;riolo conjuntos de rcdCl> ligad-". de malha bem rlpenada (ver desenho anexo).

    O saco iniase na bocada e dcsel1\'ol"csc para cada l:ldo cm dob panolo de redc, chamado .. mang.a .... Estas decrescem cm largura. desde a bocada at :10 c:ll5.o. No cal5.o prendem.sc a~ c:tlas. ou ~eja. cabos de cordallle~9, Alo dirnensc!

  • INf.S AMORfM

    A l;J.r~ura d .. malha da rede vai \!streiteccnclo. cada \ez mai~. desde o ;,;I 'lro at cuada: 7.5 cm a 25 cm do claro alcalle la. I c m a 6.5 cm da cuadal' ti bocada>,1o. De~w forma. a rede. ao ser pu xad:l. a malha :Ipertada e:1 vis. torna-se muro impenetrvel para qualquer peixe, por mais peqUl!no que seja o seu tamanh031 .

    O nmero de homens. envolvidos numa operno des ta e nvergadu ra. varivel. ESlima-se entre 43 a 46 ho mens. conforme se trat:l dum barco de 2 ou 4 remos (8 pessoas em cada re illo). mas, ainda ll1ab gente. cm terra . para puxar. colher e transportar redes, despejar o saco, etC,n. Contudo. dependendo do talllanho da barca e da rede. podia comportar 15. 18. 20 ou 22 homens, enquanto cm terra necessitava de outros tantos)).

    Note-se que CSt:l rede no era totalmente diferente de out ras j existentes na COSta ponuguesa. co rno sej a o chinchoITo, um dos tipos de redc~ de arrasto)4 - a dif\!rena residi a no tam:lJlho da reele e n:ls dimen ses e desenho da malha qlle a lornavam muito mais ene.li'. A prova concludente de e'-te entrecruzado de referncia), e de urna adopiio da x de pequena dimenso. Este del>cquilibrio ecolgico foi largalllente equacionado na Gali7"'1. onde a intro-duo da xvega, muito mais depradador..t do quc as anes tra(!iciOIl:...,. mantida.~ pelas velhas confrari as, que suscitou paixcs c diversos arbtrio:-.'6. '-e tomou numa d~IS bandeira'- de cOllleslailo de a lguns. caso notrio de D. Jos Corni de. academi sta galego ( 1734-1803p7. Em POrLuga1. nada de compar"el ao que, 110 ~c. XV III. se pa""a v:L na Galiz:l . COIl ~ t:LllI iIlO Lacerda Lobo, aC:ldembta ( 1754- 1822 L'!]). refere-s\!. brevemente. s redes de arrastar c:lwmadas em 1//1.1 IlIg{/re.~ xl'ega.\ em all/ro.' arre.~. IW.~ qllai:i ti demasiada pequeI/e:. da SUtl malha (I cal/.\'{) de com elas se pescar a sare/iI/lia : e acrescenta um doeumelllo de 1542. dado :'J. Cmara de Setbal. por D. Joo II I. impedindo a utilizao de xvegil~JM .

    Tais connitos, sempre volta da gesl~o de um recurso fu ndamental. a todo o momento. poderiam estalar, quando se verificasse desloe:lo ou diminuio

    do~ hancos de pel>ea, sobretudo . quando ilS capac idades tcni cas no conse-gllisselllultrapassar o), limites que a ecologia da sardinha impunha.

    C. 0.1" meios ou il/Sfn/IIU:I/f().~ que permitem lo(."(/Ii;.a/' ("arc/lIlI/e.l l ' S('I I .~ lIIovimentos (as .\()I/{ku)

    FinalmCnie, olhando para a poc:'1 e m causa. sabemos que. no que diz res-peito :lO ltimo dos aspectos. foi o conhec imento oral :Iculllulado. o seu percurso de aprend il.agem. a ex pcril11enta~o, a percepo dos ventos e correntes. o voo da), a"e,-, o som. a cor e o chei ro do mar. a interpretao d:1S c:-.trcla~, da lua. ou mesmo a lran~misso geracional de ~cgredos que constituiu o corpo de conhe-ci mentos, o saber do ofc io, a percepo da caa. do cardume "'.

    Mas mesmo neste aspec to parece tcr-~e opcrado lima transformao e instltuciol1i1lizildo uma espcie de c6d igo de

  • n\ I'I:;SCA A SAl.CA DA SARf)INIM -----'-'-'-'-==

    cornp.mha que ti"e!>sc conseguido fa/.cr entrar o ba rco :1 frente dos rivais no lanament() do barco :10 ruar e r..:spcctivas redes. escolhendo o espao que bem que l'ia (escolher o largadouro)40. Caso no fosse cumprido este principio ocorriam as maiorc,- convu lses na praia e fora delas, Sabemos que, cm 1762, na Torreira. 100 homens envolveram-se cm rixas. entre os quais havia gente da Murtosa41 , Em finais do sc. XVI II multiplicam-se os processos na Cmara de Ovar :1 voha dos cnldos das redes, das agressc!> provocada!> pelo incumpri-mento da tradio. As razes par:! este acumular dos casos no significam um agr:tvamelllo c;1prichoso do comportamento socin l dns campanhas. Dcvcr3 residir noutras razes que se adivinham -:1 diviso dos recursos. as presses contr:Huais - ma!> que nao v.un01>. por agora, descrever, exige aprofundamento,

    3. T ecnologia da salga

    Associada :1 introduo da x:'i,Vega !las :guas da G:l liza. 01> catales de!>cn-volveram. igualmente, uma nova tecnologia d;1 salg;1 da sardinha . prensada. donde ... e extraa gordura r~s idual. com variadas aplicaes, conservando-se o peixe durante m:lis tem po. em mclhor(!~ condic~ c com um ganho Ifquido muito ~upcrior ao mtodo tr.1dicional~ 2.

    Relativamente cosIa de Aveiro as informae!> 1->o "agas. sabido q ue aqui. no sc. XVI. se procedia ~alga do bac'llhau. Ainda cm 1572. a propsito das is..:nc1> de ~il>a sobre sardinha. pescado c bacal hall. se refere a seca do bacalhau. vendendo-o. depois. para outros lugares4'.

    Contudo. O~ sinai ... de uma nov;\ tcnica de conservao -nos dada aU'avs de um estudo de Aurlio de Oliveira que as ... inala :l presena de Joo Pedro Mijoullc, francs. natural de Languedoc, Scrvido por tcnicos catales. teria desenvolvido um processo de salga e obtcno de azeite da sard inha. que logo sofreu irradiao para I.onu ... da FoI. do Porto, apoiado por uma conjuntura especfica de proteco legislativa norteada pelo Marqus de Pombal. com punio da imp()I'!ao de peixe g;llego, fortemente consumido cm Portugal, associada n novas tcnicas de pcsca (a x6.vcga) c consolidado pelas suns ligaes aos mcios comercia is nacionais c cstrangeiros, no Pono e cm Li1>boa-u, Acres-centemos alguns dados ao percurso deste francl!s.

    A.I\ impltmrnro da 1/01'n recllologin

    Antes mesmo da legislao proteccionista pesca portuguesa. Mijoulle estava envolvido no negcio da pesca. Efecti\-amente. em 1771. contratou-se com um gnapo de pescadores, presumimos que arrais de campanhas, que deveriam operar :10 longo da cOsia de Avei ro. Esta ",ua instalao deveu~se, pensamos. ao conhe cimento das potencialidades da costa. da inlensid~ldc da actividade. da dinmica crc ... ccnte d()~ pe:.eadores. desenvolvida deste 1751. Ele veio, parece-nos.

    :tproveit~lr c dar UJlla feio nQva ao negcio do pe ... cado. ~1l1icttlando-o eom os seus prprios interesses. rnuJ(ifacet~ldos.

    Ignora- ... e (} pormenor do local e as condies materiais da sua inslalao (nmero de ca~a!t de salga, mo-de-obra, capitais. produo, etc.), embora a rere-rGncia it entrega do pc.. .. cado em Ovar confimle o lugar de implantaao. A sequncia

    31

  • INS ,UfORI/II

    factua l que se aprcsenw demonstra. gmdativamemc. o seu cnraiZ3mento na indstria d:l pesca e con:;erva:

    - em Novembro de 1771 contraia-se com a campanha A Tamanca para pescar na costa. especialmente em S. Jacinto. onde declara querer o peixe colocado "os seus arll/(/:IlS~> ou em alguns dos sells barcos~5:

    - em Abril de 1777. como rendeiro dos OUlavos sobre o peixe pago f! casa da Feira. juntamente com mais de 200 contratadores da sardinha de Ovar, queixa-se d;l.~ s isas que o rendeiro de Aveiro queria cobrar sobre a cir culao. na Ria. da sardinha pescada na costa de S. Jacinto e Torreira. e que se dirigia a Ovar'6;

    - em Outubro de 1777 contralase com o mes tre de um hiate que se encarregara. cm 12 dia:-.. de levar alguns barris de s'lrdinha para Bilbau e S. Scbaslicn c trazer carga de fcrroH:

    - cm 1778. surge registado numa planta da baJT:l de A vdro. um SiTjo do cal1al projecwdv pelo Frallce: de Ol'(lr">, "Porfil dI/III C(//lol como se execuw e/ll l...lllg/ledoc~":

    - cm 1780 e I 783 era vicecnsul de na[lo francesa cm Ovar'} : - em 1781 recebeu o aplauso da coroa pelo punho do Intendente Gcral da

    Polcia. Pina Manique que. em 1781. recomendou Cmara de Aveiro a meritria aco do francs pela prollfll extrt..ll.:o das pesca rio.\' que IIII/(l.V I'e:es .,e perdia pelas praias por [a lTa de compradores e ainda por se empregarem os lIIe.~I1IOS lIloradore.," 110 trabalho das me.\/I/{I.' fbrjcfls~;u :

    - cm 1785 enviou 1547 milheiros de sard inha tedmen to nacional. referindo activ idades articuladas co m aquela: o :-.al e a ... marinhas. mtodus de salga de vrios peixes. mas no invocando a concorrncia do pescado galego. Chega mesmo aprcsentar o mtodo da sa lgo. catal:t como exemplo a seguir.

    A razo que. repelid::unentc. invoca. parajuslillcar a decadncia das pe.~c:\s cm Portu gal. a do pcso d :'lS imposies senhoriais e reais sobre o pescado, em finais do sc. XVlIls.':

    32

    '~.I"e lIo/ll'eml0S de dm' c rdito O()S clall/ores dos pescadores, que Oll l'i em qllose wda a COSUl. COIII/"O (/.\. vexaes feita.\" pelos ofidlli.\ de justia. rendeiros e sells collledores. del'o qfirmar, qlle tal1l0 eSles C0ll10 aqueles .riio os meios mais ejica:e::; de alliqui/ar li.\" I'e.vcflrills da I/O.ua costa. e com elas /1111(1 parre dos I'assolos de Sua Alte:a Rcol. qlle lIIais prOl'eifo podem caI /mr ao Esrado.

  • nA PESCA SALGA DA SMmlNIIA

    celta que as disput:ls sobre cobrana de impostos se repelem ao longo da 2.' metade do sc. XVITI. e tambm sabemos que o interesse crescente da Coroa 110 desen volvimento das pescas oscilav:! entre a necessidade de abastecimento interno e provemos fiscais c o arrecadar de bons impostos ou arrendamentos54 . Contudo. a actividade estava em progresso como demonstra a administmo da Casa das Rainhas. em 1808. ao referir que a verba respeitante ii dzima nova do pes-cado. paga por Aveiro e Mira. era de 10200.000 ris. 25,8% das receilas relativas a rendas e jugadas (39496.000) e 10.5% da renda total da Casa (97 13 1.000)55.

    Estas dificuldades de abastecimento. que no da pesca (produo). apre-sentam contornos que nos permitem outras interpretaes. Sabe-se do ascen-deme ingls re[;Hivamente Q.

    No por acaso. parece-nos. que. em simult,lnco. se desenvolve um COIl -jUnLO de memrias acerca da pesca e conservao de v!lrios tipos de peixe, que Lacerdil Lobo bem desenvolveu fJ1 Da em diante. interessa regulamentar c aproveitar todo o pescado que o mar d.

    33

  • fNtS AMORIIII

    B. o Melhodo de salga da sardillha

    I~ neste contexto que nos su rge. em 1802 lima Memria sobre ;1 salga da sardinha. c:.criw pelo punho de C lemente Ferreira Frana. juiz de rora da cidade de Aveiro entre finili1> de 1799 e finais de 1805(,2 e inserida nos livros de Registo da Cmara. Advene que se trata de um J\11odo parti ( I .mlga da sardi/lha eXlraido dos melhores originais eSI/"(/lIge;ro.~. em particlllar do dil Caliza. c que j tcria sido publicado pela Imprensa Rgia. em 13 dc Maio de 1802. A memria. Silll-tica c extremamente pedaggica. dividida em I 7 p~lnes. um manual prtico. com objecti\'os bem precisos: aproveitar a !'>ardinha. arma/.en-I:I sem se corrom-per. obter azeite par:l vria ... 'Iplicacs. (usado na iluminao e con1>ervao da madeira dos palheiros)6~. explicar. pa:-:.o 3 passo. toda a metodologia. desde o materi;11 at aos produtos finai1> (ver Anexo).

    Ob:.ervando os diversos pa!'o:'o .. c tendo como orientao a comparao que o galego D. JO.~ Comide fez entre o Mtodo ga lego e o c3talo6-l. verificil-mos que o juiz de fora eSI: li seguir o mtodo da sardi nha emprensada cat:tl. mtodo h muito introd uzido na Galiza. como j :'Ifirmmos. mas que cle idemi-li cou. porque vulgarizado. como sendo local.

    O Mtodo apresclllado puramcnte tcnico e arlicula-!'oe com um OU lro leXHI da sua autoria de que ti vemos conhecimento atravs da publicao na revista A Pesca A/artimo('s. Trata-se de uma outr..l Mem(Jl"il/ sobre as dil'ersas salgfu do sardi/lha. de I I dc Agoslo de 1803. mas em que aborda ainda mtodos de apro\cital11ento de cnxovas. atun .... corvi nas. pescada:.. ele. O objectivo era. igualmente. a vulgari zafio do sistema e inscri:'l-se num plano de difuso do mtodo de fiscalizao da corrupo da sardin ha. :lIrav das Cm;1ras de l'e e.\'PC!r"r.\e, que {IS A"llIIiciplllid(/{le.~ ferrilori{/('s tellll(;O eXilelO cuidado em !a:el' examil/(I!". Com ereito. (h,:sde 1809 que se nomeia um ,< ll1.\fJCClOr c Fiscol da praia dI! Espinho at ii cmua e areias de S. }acimol> . ev itando o mau fabrico e a corl'llpo,. da sardinha{}6.

    Em ISI4. no bala llo pds Invases. como que a confirmar a nossa pers-pectiva. de um reroro da salga por carncia do pescado tradicional. o juiz de rOl'a de Ovar dedar;1 a neccssidade que havia de l'U'al' em forma de bacalhalll> vrios peixes para remediar a ralta daquele. :Il porque os povos tinham muito peixe fresco de que se destacava a :.ardinha. Lisboa concorda. prometendo estudaI' forma de tl/I'ai,. olgl/ns cop;ftllrcu li esta empresllI>(,1.

    O modelo cataHlo desenvoh'eu-se de tal forma que. em 1821. estimasc para () Furadouro. pcrto d..: 400 fbricas. saindo cerca de 1000 pipas de azeilcf'~.

    C~)f1dlls ii(j

    Sabcse que o nUXQ e renuxo d:l actividade pi scat6ri a. por nutuao d01> rccurso~ di .. ponivels. explicam petics no sentido de limitar ou proibir certas Mies e mlodos de pesca. a demanda de outras guas. :I necessidade de :llguns cen tro" populacioll:'lis se abastccerem na vizi nha Galiza. Ma!> tambm sabemos que os recur:.o!'o no !'>:1o ilimitados perante unw popul:lfio crescente.

    A peSC:l ponuguesa no era :.uficieme para o consumo regional porque as caractersticas atrs apont:'ld:l1>. da cOst:.! de Aveiro. impunham um aproveita-mento limitado. incomparavelmente 111enor do qu..: as ria.' bajas>, espanholas u nde ;t sard inha viv i:'l :lbundantclllenlc. Este processo con hecido. Contudo. se

    34

  • IJII I'f-;SCA A SALGA DA S,\HDlNH,t ----- ----'

    pela Alfndega de Aveiro entrava pescado. sardinha. polvo da Galiza69. igua l. mente saa sardinha empren~ada. Os imeresses cOll1e rc i ai~ crescentes ditavam o mercado - os rumos da d islfibuiijo. s directrizes [ornadas pela Vereao de Aveiro. em 1783 . no senti do de limitar a sada de pescado7!1 . jutltouse igual exigi!ncia da Cmara do Pono. em 1784. quando Mijou ll c quis instalar outm sa lga na Foz. indcios de que ao capi talista e a outro~ que se tivessem envolvido no negcio. e que de momento ignoramos. interessava a tingir mercados vaslOS. ignorando a tradio da prioridade de abastecimen to local. contribuindo par:.! a carestia de pescado de que se fala.

    Assim. tentaremos estabelecer. relativarnenle ao conjunto de aspectos enunciados. uma cronolog ia que servid. essencialmente. de ponto de partida. a rever em trabalho~ futuros :

    1. - 175 1 a 1770 - instalao de novas tecno logias de pesca. as a rtes novas com rede.~ de maior alcance:

    2." - 177 J a meados da d~cada de 80 - o illleresse pelo !llnnancial colhido e deixado. vriaS vezes, na praia. organizado por capitais cstran gciros num processo que alarga as redes comerciais. (ao ponto de se falar de um projecto dc comunicao. ao longo da costa. desde o Pono at~ Mira. c com o inte rior da comarca de Aveiro - o canal do francs), embora pan.-a ler envolvido outros interesses. de origem social divcrsa. animando mes mo as receitas de vrias casa:. senhorias (vejase a Casa da:. Rainha:.):

    3." - 1789 cm diante - uma conj u ntura internac ional. de interrupo da ligao priv il eg iada da Inglaterra aos bancos da pesca. de dificulda+ des conjunturais da economia portuguesa. com li ma subida de pn.:os que se acelera nas InvasC:.. agudiza a pert inncia de uma divulgao do mtodo atravs do propagandear de no rmas a adoptar pelas Cmara:. - vigi lncia .. penada no aprovcit amcnlo da sardinha para a "secar emJor/lltl de !Jacolha,,.

    35

  • ANEXO

    Registo do Methodo para a ~alga da s.trdinha do ti or seguinte

    M ethodo para a sal ga da sardinha extrnhido dos milhares origina is estrangeiros. e em particul ar do da Gall iza:

    I - Da lancha. ou embarcao se condus a sardinha em cestos ou canastras para o annazem. que per eommodidade ficar junto tulha do sal aonde dcver:'i ha ver hum espao emped rado. c seco. a que chamao salgadeira, ou lagar. Neste ... e lana a ~ardinha. e sobre cada dou"> ou tres sestos de lla huma medida sufe Clenle de sal (em he~panhol cspucrta de sal), por exemplo sobre cada camada de ... ardinha altu ra dc hum dedo de sal: feito i:-.to se revolver a mesma sardin ha deitando-selhe o sal aos punh ados, e assim salgada se ir pondo cm barri cas, ou pipa .... aonde se ir resalgando:

    :2 - em o di:\ seguiutc. depois de salg:\da clla se indireitar bcm nas vazilha.., aonde estiver. e se cubrir de sal de modo que fique bem respald:lda c arrumada:

    J - a estaao, qualidade e gr:mde7..a d:1 sard inha concorrero par:t o seu trah.dho:

    4 - cm o tempo de Vcro ,endo a sardinha grlnde p:lssados quinze dias de salgado. ,>e de\'cr: lr:lbalhar: e sendo pequena ou mcdiana depois de des ou onze di:ts: advertindo, que ou sej a gr;,tn de ou mediocre, no sc deve esperar mais q ue us dito;., quinze d ia ... podendo ser:

    5 - no Inverno perem. ou tempo temperado, :t sardinha no corre risco a inde que se trabalhe mais tarde que o tempo explicado: advenindo que hum ou dou .. dias de trabalho antes do dito tempo lhe no far:i prej uizo:

    6 modo de lrabalh:lr a !'ardinha. Para se trabalhar a ... ardinha ela se tirar d:l' pipa!' (lU vazi lhas, aonde c!o.ti\er e se pa.'>!o.ad para huma tina. aonde ser bem lavada com sua prpri a salmoura. e logo se tirar e escorrer lavando se nova mente bem em agoa. ou ... algada ou mesmo natura l que dcver haver cm tinas para esse 11m:

    7 - depois de bem lavada se por as camadas Ila~ vazilbas ou pipas:

    R - para este fim. as pipa!> ou barricas sero postas em hum wnquc. ou lagar feito de prepozi to para fa7.er escorrer a agoa das pipa .. ; depois de assi m bem e~corrida c lavada a ,anJinha. se ir cstiv:mdo e arrumando nas pipas ale que fiquem estas cheias de sone que a sardinha ,obrepujc das barricas cm huma su lec iellle :lIlUra:

    I) - modo de impn.:n.,ar a sardinha. Por-se-ha em s ima da barrica assim cheia. hutTI espichador. ou fu ndo fa lo da mesma largura que a boca interna d:l barrica na sua circutTlfc rcnc i:\ com hum papel por bll XO, em sima deste hum tnco. ou dous sendo necessario. c logo em sima huma barra de pao passando

    ,6

  • /)A /'/:.'iCA A -SALG,\ 0 ,\ SA/WJNIIA --------''''-

    hum3 extremidade da mesIna no fulcro. e a outro.! ficando :.uspena tendo cm baixo huma concha. com suas cordas para carregar c comprimir a sardinha. Dcixar-scha por hum pouco assim carregada a barra mas logo depois selhe aplicara ti extremidade huma pedra: havendo porm cuidado que a superficie da sardinha. por baixo da dita barra se concerve sempre bem plana digo c compri-mir a sardinha. ISlo quer exp licar as imprenas para a slIn.linha citas lem de alto tres c meio para quatro ps. e tem huma barra que forma huma espccie de ala-van;. na cxtrimidade da qual se su:.pende huma mOOa com cordinhas maneira de huma concha de halana para comprimir a :.ardinha: a qual concha se va i carregando com pesos sufecicnles. :1 medida que a sardinha se comprime:

    10 - deixar-se-ha por hum pouco assim carregada a barra. mas logo depois se lhe aplicara a ex tremidade huma pedra havendo porem cuidado que a superficie da sardinha por baixo da dita barra se concerve :.cmpre bem plana e igual em toda a circumfcrencia:

    I I - deixar-seha a.~sill1 carregada com hum:l s6 pedra por tempo de sinco ou seis horas. depois se lhe ajunta mais outm: c passado bastante tempo se lhe ajuntar terceira sendo neccs~ario. e parecendo conveniente. c segundo :l quali-dade d" sa rdinha for grande. piquena ou mediocre:

    12 - o conhecimen to de tempo em que pode ficar as:.im imprenad'l a sardinha ~e regula a dia ou dia e meio segundo a :.ua qualidade e grandeza: ento :.e descarrega a barra tira-:.e o cspichador. ou fundo falo e continuaee a estivarC!)em aquela bilrrica at que fique sufeciente cheia. digo. sufccientementc cheia de maneira que a sardinha exceda como da primeira vez asima da barrica:

    13 - cheia asim sel;ulld'l ves a barrica novamente se lhe a:.enla o espicha-uor. e o taco. e se carrega a barr:l tudo da mesma forma que da primeira ves. carregando a depois eom a pedra, e cm tempo compctellle com O pezo grande sendo Ilecessario. ludo na forma referida:

    14 - em o outro di:l ou depoi~ de dia e meio segundo se conhece que el la pode e~tar comprimida se torna a repetir a mesma operao tirando a barra enchendo a barrica novamente de :-.ardinha at que exceda asima da sua altura mas nJo tanto como da primeira nem segunda ves, pois ento custaria muito ficar a barrica em termOS de sofrer e fundo e se poder tapar:

    15 - depois de carregada a barra conforme a primeira c segunda ves com a cautcl'l de ficar a barrica em termos de se tapar. ento se descarrega a barra na forma dita. e se tapar: a barrica. cobrindo primeiramellte a sardinha com hum papel (em hespanhol eSlra:.o(?). antes que se lhe aplique o fundo:

    16 - feilas lodas estas operacns na forma que vo explicadas. a sardinha ficar: comprimida e unid;l em hum todo: e para que as barricas acabem de Cl>corrcr bem o oleo (cm hespanhol sain). seria bom que depois de lapada se concervacem hum ou dois dias no laear com a caulella dc ",e lhes fa7..crem no fundo alguns orifisios para o c,>correr ~ se aproveilar o me~rno:

    17 - o leo que por c,..,tus opt.:raoens escorrer para o tanque, ou lagar ):ler recebido cm hum3 pipa scm o fllndo de sima. a qU,l) scr: enterrada deba ixo da

    37

  • INts AMORIM

    bica do d ilO tanque tendo hu m espicho 110 fundo para dar sahi da a agoa . e fi car o olco. o qual se passar: para outras pipa!\ limpas a fim de se clarear. Este o lca ou azeite tem os mes mos uzos que o de pe ixe ou de ba lea: serve para os

    corrieiro~. surradores. e para ii gente se ? para a geme pobre se al umiar. T rastes necessrios para a fa bri cao o u trabal ho d a sardinh~l : pipas ou barricas. a proporo de arrn

  • IJA /'f.;SCA SAl.GA fJA SA/?VINIIA

    lO. Em 1762. um pc:. O pliroco da Iregue.,ia de Mim exige dlimos ~obrt' o pescado: cf GASPAR. JO'IO Gon'Oul"es _ A D;oc('."e de A "";/"(1 110 .,''. XVIII. Um 1I1f1"drtlo til' 22 II,' S"/I'mhm d,: d,' 1775. ",ciro. 1974. p. 4], MARQUES. Maria Alegria rem:mdes - A, 7"I"I"lI.\' d,' M im. ,,

  • INf.;S AMORIM

    33. Vd. $ANEZ REGUART. 0 011 A,uonio - Dlcci,murio "w/11\ whr('" IIc.~l'(/ tI" .l'dlI:~(.I cm Mm" :":1'. "ACHl~ Jo Congl'CS.'iO Imernacional de ElIlo.rnti",. . \. 5. LIshQ ... Jum" de In\'C>otil;a:'io do Ullr .. mnr. 1965. p. 2. ~fere i

  • DA I'ESCA li SALGA DA SARDJNIJA -------".:..:.=

    nc.rmcu. lH I 703. Usbo ... O.Quixote. 1986. p. 223. :I\;ro:,ccnHl alllda OUlro~ factores II del,/eI1o

  • ,

    42

    ,,..,r:;s AMO/UM

    COBrEGA6

    ---'~ RiooV

  • /JA I'I:.Sc,\ .-' SALGA 1M .'i;\RDINHA

    REDE UI': !'ESCA

    70 111 de ein:unrerneia '

  • A INDSTRIA CHAPELEIRA PORTUENSE ENTRE 1750 E 1852

    OFICINAS, FBRI CAS E MANUFACTURAS ' Jos~ ANTNIO RI;AL PEREIRA RAMAI)A

    (E ....... la S""u",J~n~ de Valongo)

    Introduo

    A produo de chapus constilUiu uma das indstrias'! mais :Hltigas c tra-dicionai!> da cidade do Porto. estendendo-se desde pelo menos os meados do sculo XIV :lI:i dcada de 1940. O seu perodo de apogeu c maior importii ncia decorreu entre a dcada de 1790 c a de ! 920. tendo esta indstria ocupado, cm dois momentos distintos desse perodo. um dos primeiros lugares no ranking dns indstrias portuenses. Atendendo vastido temporal cm que decorreu a sua aco decidimos limitar o nosso estudo ao perodo en tre 1750 c 1852. procurando anali sar c caracteri zar a evoluo desta indstria oficinal e manufaclUrcira desde o incio da produo de chapus de fe ltro de plo (que passaremos a designar por chapus finos). verificada no perodo pombalino. at ti sua mecanizao que teve lugar apenas na segu nda metade do sculo X IX. a partir de 1866. Procuramos conhecer mais de peno a real idade empresarial chape lei ra atravs d;\ diversidade das empresas e empresrios de elllo. desvendar as origcns geogrficas e profis-sionais desses empresrios. os capitais envolv idos nessas empresas, os condicio-nalismos que presidiram sua criao. exiMncia e ex tino, bem como alguns elcmentos sobre os chapus produ.ddos. as instal aes e tecnologia utilizadas.

    Ao longo do perodo entre 1750 e 1852 regista-se. nas fomes consultadas. uma notria impreciso de vocabulrio. De incio. os tcrmos som breireiro e chapeleiro designavam quase indistimamcme os fabricantes de chapus. embora como chapeleiros fossem tambm conhecidos os vendedores de chapus. Mas outros comercian tes como os sirgueiros e at mercadore ... de capela podia m vender esta mercadoria. o que dcu azo a vrias manifes taes de conflituosidade entre todos estes intervenientes. Mais tarde. a panir de finai s do sculo XVIII. o termo sornbrcireiro passou a designar apenas os prod utores de chapus grossos. ao passo que eram conhecidos por mest.rcs fabricantes de clllpus finos os cba-I>cleiros que produziam esses novos chapus. A panir do infeio d;1 dcada de 1820, o termo chapeleiro paSSOu a designar os assa lariados na produo de chapus fino ... e a partir de 1832-33 esses assalariados. os mestres - proprietrios das fbrica:. de chapus fi nos e tambm os que at en to e ra m conhecidos por fabricantes de chapus de plo de ... eda.

    Tambm oficina e fi~b rica eram lermos vagos e imprecisos que se confu n-diam no vocabulrio quoti diano. utiliza.ndo-se ainda por vezes como sinnimo do local de produo o termo laborall"io. Enquanto a oficina era considerada como a ca ... a onde se trabalhava qualquer ane mec5n ica. a fbrica era vista como ;:1 C;:lsa onde se trabalhavam e fabricavam. por exe mplo . chapus. Apesar desta semelhana. o conceito de oficina inclua uma dualidade: podia dizer apenas respeilo a um quano ou ao piso trreo ocupado pela actividade protissional de um mestre e seus assalariados ou podia referir-se a uma das vrias div iscs de

    45

  • JOS ANTNIO REAL PEREINA UAMA{),\

    uma fbrica, O prprio termo manufactura, alm de outros significados , tin ha tambm o de f;brica ou oficina de artefactos. por exemplo. chapus, IS$o levava a que alguns autores utilizassem o termo fbric.:\ p.:\ra designar um estabcleci-me11lo industrial de maior dimenso do que a ofici na. enquanto para outros no era da essncia da:- f; bricas o c~tabelecercm-se em grande. reservando para as fbricas em pomo grande .:\ dassifica50 de 1lli.U1ufaclUras. A prpria Junta do Comrcio, ao conceder alvi.m de fbrica a pequenas oficinas COITl o objectivo de as libertar das sujeies aos Juizes dos Ofcios. aj udava confuso estabelecida, pois o critrio da dimenso do estabelecimento tornava-se inaplicvel e criava desigualdades entre os prod utores de chapus grossos e os dos finos. sendo estes ltimos claramente beneficiados com a situao. o que provocava protestos dos ,~ornbreireiros. como aconteceu cm 1791 com os rep resentantes da Corporao de Braga c deu origem seguinte informao incl uda na Consulta d;) Junta de Comrcio d~tad:l de 20 de Jun ho de 1793:

    ... "tos ('01110 (/ IIII/(ma dc nomc /I(io l/1udo o c,\'sel1cia da cou:a: e por Fabrica lio pode el1lc!lder-se ,e /Io a Officilla oude a, marr ia,\' bmras, 01/ j preparadas se dispem a huma /l ova forma adaptada (10,1' /lO,\'SOS 1/:0.1': 011 ,~e del'f! chamar Fabrico a Officino aonde o L,fia se COIII'cr/e em CIU/pos: 011 li Fabrica onde ellc,l' se fa:elll de pelo,~ de Lebre, Castor, & se del'c chamar Officilla por que /lido II(' (I mesmo.

    Apesar desta informao. a posio proteccion ista da Junta do Comrcio manteve-se. pelo que a tnica da difercnciaiio passou ;\ ser colocada na exist2ncia ou no da diviso tcn ica do trilbalho e na concen trao das vrias fases d a produo no mesmo ed ifcio. A partir dess::! realidade, no caso da ch::!pclaria. podemos estabelecer a seguinte distino:

    46

    Oficil/a era o esrabelecimel1/o elll que o mestre . .1'0:""110 01/ com alguns assalariados (por cxell11,lo J, 2. 3 011 4 oficiais 011 llprelldize,I'), fllbrical'l/lImo de/(!rmillada mercadoria (110 ca.l'O ch(lpl/~' grOsSO,I' e mais wrde de ,I'u/a), regtllnt!o-se nesse eswbelecimel1lo pOllca 0/1 !Ienhuma (/iviscio do trabalho, \cndcndoa depois ao Plblico; por isso passa!//os (I de,~ig/1(-ll/ por ojicil/a-Ioja. cllqllalllo fbrica era, em reMro, II /II eswhelecimen/o maior (cm l1Imero de ass(/Ia}'iodo~' e prod/lcio) elll qlle se I'erifical'a lili/a dil'i,\'cio de /arejas: se fosse /III/a fbrica de pequeI/a dime/lso cada oficial cxeCllfal'a //1110 das llI/'efa~' ,I'e/n/o, por exemplo, c(lrdador, jit/'f(/, apropriador. e/c" ell

  • A INOUSTRIA CHAPELEIRA I>ORTUElVSE ENTRE 1750 f: 11152

    As fbrica:-.. at 1834. podiam dividir~se em p:.lrIiculares e reais ou privi le~ giad:l

  • Jost ANT6NIO REAL PENEtRA RAMADA

    alvar apenas em 25 de Junho de 1773. tem sido ignorada cm favor de outras como a dc Alcxis em El vas3 ou a de Milliel em Lisboa. Ora. embora a fbrica de Alexi s ten ha recebido alvar datado de 22 de Agosto de 1769 e no de 22 de Outubro de 1771-1. li fbrica de AIllnio Jos Guimares mais antiga. pois j 6 referenciada em 15 de Outubro de 1767 no contrato celebrado entre O mestre francs Guilherme Foumol (que nela trabalhara ameri onnente antes de ir traba~ Ihar para Pombal) e os Directores da Real Fbrica das Sedas ento adminis trando a Real Fbriea de Chapus de Pombal. A prpria Juma do Comrcio, em infonTI:lO includ:l no processo de licenciamento da fbrica de Antnio Jos Guimares. dat:lda de 9 de Maro de 1773. atribui- lhe esse ttulo :la cl ass ific-Ia como ii mais antiga estabelecida neste Reyno. A data da sua fundao uma incgnita que ainda permanece. bem como a respecti va localizao.

    Graas aco proteccionista da Junta do Comrcio que promulgou d iversos d iplomas proibi ndo a importao de chapus femininos (Resoluo de 3 de Maio de 1757) c mascul inos (Alvar de 10 de Dezembro de 1770). ao mesmo tempo que proibia a sada das peles nacionais de Icbre e coelho (Alvar de 7 de AgoslO de 1767) e isentava de direi tos de sada os chapus produzidos pelas fbricas do reino (Alv:lr dc la de Dezembro de 1770) e depois tambm de di reitos de emrada nas alftmdegas nacionais (A lvan'i de 22 de Outubro de [77 1) os mesmos chapus. os fabric:mtes de chapus finos puderam ultrapassar as dificuldades sentidas at ento devido importao de chapus estrangeiros e. graas ao j referido Alvar de 25 de Junho de 1773, passaram a importar com iseno de direitos as ma tri as-primas c outros materiais necessrios para a sua laborao.

    Por isso. a parti r de 1773 e ul ao incio do sculo XIX. registou-se uma fase de expanso. :

  • A INOSTUIII CIIAf'f:I.t:IRA I'ORTUF.NSI:; '~NI'RI:.: (750 h 1851

    comercial da indstria chapeleira do Parla vcrificou- se elllre 1811 e 18 13. tomando-a a nka indlsu-ta a continuar a "ua antiga extraco para o Bra"il, nas pal,lvras do Superintendente da Alfnde;ga do Porto. datada ... dc 26 de Fe"ereiro de 18 13. A partir de 1810 comearam a surgir nova, fbrica' o que nos permite considerar que e" ... c novo alTanque industrial ... e Icnha verificado entre 1811 c 18 13. regist ando-:-c portanto uma antccipao de cerca de dois a tr ... anos em relao a outros cemros chapeleiros.

    De 1813 cm diante c at ao incio da dcada de 1820 veri ticou-se uma nova fase de expanso desta indstria na cidade com a criao de vrias f:'ibricas que acabaram por :lUmerllar a concorrncia no mercado interno e brasileiro onde enfrentavam os restantes produtores nac ionai s e os chapu s in glcscs. Em 1820, al guns empresrios diziam-se a trabalh ar conforme as encomendas recebidas. por terem aumentado :IS dificuldades de recebimento dos ... eus crditos pelas exportacs efeclUadas nos anos anteriore .... () que o ... coloca"a Cul decadncia. segundo as respectivas declaraes 110 mapa de fbricas relativo a esse ano. A independncia brasilein\ no rompeu os 1:1OS come rcia i ... dos produtores porluenses e nacionais com () novo pMs mas, pouco depois. algo de decisivo aconteceu.

    A mudann da mod:I. que passou :.l prefcl'ir os chapu), de plo ou pelcia de seda, verilicada a partir do incio dessa dcada eh.! 1820. veio agravar a su:.! situao. At agora importados da Gr-Bretanha e Frana estes chapus passa-ram a ),er produ7idos em Li sboa a partir de finais de 1824 pela Olodi"w francesa Elisa Augusta a que se seguiram Jos Estc"o Lcfrane & Companhia e em 1827 Lindenberg & C". No Porto, dob chapeleiros reivindicaram a primazia dcssa produo: referimos-nos a Antnio Frederico Sternbcrg e a Cfmdido Jo), Sim-pleio. Porm. o ... priTlleirt).~ elementos quantitativos oficiais acerca da produfio des!>C!> no\'os chapus dizem respeito ao ano de 1829 e produo de trs d:.!s fbri cas reais ou pri\filegi~\da .... Possivelmente um ou os dois chapeleiros acima referidos. inieiaram a su a produo em data an te rior. entre 1825 e 1829, mas corno no pertenciam a essa c:ltegoria de fb rica ... no 1'0r:lI11 includos nos mapas da Junta do Cumn:.: io de 1826. 1828 e 1829 nem no l fimo rel:Hivo a 1830. A matria-prima era fornecida por ci nco fbrica, portuenses que produzimn essa espcie de veludo muito felpudo de um dos lados.

    Alm da mudana da moda. registou-se cm 1825, graas ao Alvar de 4 de Junho de'!'Ie ano. a revogao da proibio da importao de chapus eSlr:lIl-geiros. o que provocou o aumento dC!>'i:b irnportac ... at emo redu Lidas aos chapus finos e de seda de origem inglesa. Consequentemente. a p:mir de ento, a produo nacional e pOl'tucnse de ch:lpu!'I lino ... so freu urna grave c ri se que. no caso do Porto. pode ser documentada a partir do ano de I 82l:!. j: que no existem dados esl:lIstico ... rc l a l ivo~ ii produo do ano de 1827. Ma, a situao dos fabricantc'i de Lisboa a partir de 1827- 1828 pode esclarecer-no!> acerca da profunda alterao regiswda na chapel:u'ia de fcltro de plo: algumas. fbric:ls foram obrigada.;; ;1 encerrar a ...... uas porta 'i. outr:l~ laboravam apena ... um dia por semana. algumas pagavam os sal:rios em chapus e os operrios despedidos passaram a produ7ir no seu domiclio chapu, qUI.: depois telllavam \ender pela~ ruas. tal eomo os seus camaradas de profisso que. por terem l'Ccebido o respectivo sal:rio nesta mercadoria. pretendiam transformar em dinhciro os chapus que Lhes tinham cabido. sujeitando-se a perder parte do seu valor para realiza r o resto. A!-i fbricas que pretenderam sobreviver foram obrigadas a reconverter a sua produo. abandon:lI1do o fabrico dos chapus linos e dedicando-se agora

    49

  • JOS!E:ANTNtO REAl. PENEtRA RAk/I1DA

    produo dos novos chapus de seda que necess itavam de muito menos mo -deobra . por serem muit o menos as operaes de rabrico. o que deu origem a numerosos despedimelllos que tornaram o desemprego uma realidade para grande p.u1e dos chapdeil'Os. Atravs dos mapas de filbricas de ! 828. 1829 e 1830 podemos constatar essa alterao estrutural na produo pOltuense que se estendeu tambm aos chapus grossos. pois tambm esse sector sofreu em 1828- I 829 graves diliculdades provocada:. pela prefcrncia das camadas populares pelos chapu:. de palha . de fabrico caseiro e artesanal. que a preos cerca de 10 vezes inferiore:. pa:.saram ;! ser vendidos pelos lugares. feiras e rua:. das vrias regies e localidades do Pas.

    A nvel naciona l. eSla conjuntu ra depressiva eslendelHie de 1827-1828 at 1837. levando ao dcsaparecimelllo das empresas de maior dimenso surgindo, cm contrapartida. algumas novas empresas quase todas voltadas para a produo de chapus de ~cd'l.

    No Pono, a situao foi ainda mab grave devido ao prolongado cerco da c idade pelas tropas migue lisl:Is em 1832-1833 que privou os fabricantes das matria:;-primas importadas e impossibilitou as vendas para o exterior da mesma. Por isso as f:bricas encerraram e os seus lrabalhadores c parle dos empresrios foram obrigados a empenh ar-se na defesa da cau sa liberal e da cidade.

    Apena:. a partir de 1835 se \'erificar: o reatamento da produo por parte de algumas das antigas f.1bricas privilegiadas. COlllO acollleceu com Franeiseo Antnio do Outeiro e Rodrigo de Sou:.a Pinto. mas no mais os fabr icantes portuenses conseguiram recuperar a sua antiga importncia e vigor de que tinh:'HI1 des frutado at 1827-1828. Enquanto alguns fab ricantes de Lisboa e de outros

  • A INDSTRIA CIIAPt:LEIRA PORTUENSE t:NTRE 1750 E 11i52

    2. A evolu o q uan t ita t iva das emp resas cha pcleir:ls portuenses

    A sua evoluo, devido importante aco proteccionista exercida pela Junta do Comrcio at 11 sua extino em 1834. divide-se em dois perodos, antes e depois dessa data.

    2.1. O perodo at /834

    Nflo possvel quantificar, de fonlli.! segura, o nmero de oficinas e fbricas particulares existentes na cidade por no constarem dos mapas de fbr icas elaborados por ordem da Junta de Comrcio.

    Mas uma demonstrao da existncia de numerosas oficinas de sombrei-reiros no incio do scu lo XIX, mais concretame nte e m 1804. -nos revelada num lanamento notarial solicitado pelo Comissrio Real de Chapus, Manuel Brando de Melo. que nesse documento enumera 45 mestres produtores de chapus (grossos) destinados ao Arsenal Real. Alm dcles. outros mestres som-brei reiros produziam e vendiam na cidade esta classe de chapus. exportando parte da .~ua produo para o Brasil.

    No que diz respeito s fbricas particulares. essa ausncia de estatsticas oficiais revelou- se mais f;kil de ultrapassar j que a maioria das fbricas reais ou privilegiadas. antes de terem acesso a essa categoria, tinham comeado a sua existl:ncia como si mples fbricas sem qualquer tipo dc privilgio o que fazia delas meras fbricas particulares. Essa realidade permitiu-nos conhecer milis oe perto as suas caractersticas que constam dos respectivos aUlas de vistoria, reali-zados antes da coneessao do alvar pretendido. sendo tambm ocasionalmente re!"eridos em algumas destas fontes os anos de fundao dessas empresas. Em algulls sumrios de testemunhas, ouvidas tambm antes da emisso do alvar . surgem nessa qualidade diversos empresrios ou trabalhadores assalariados de f,bricas parti culares que 110S permitem conhecer a existncia dessas empresas de que. em regra. no existem processos nos Arquivos da Junta do Comrcio. O mesmo acontece em documentos notariais em que proprietrios, artfices ou caixei ros part iciparam directamen te co mo parte interessada ou como simples testemunhas.

    Do conjunto de fontes anali sadas resultou a identifi cao de 10 fbricas particulares que no gozaram. por naO os terem sol icitado ou lhes terem sido recusados. dos privilgios das suas congneres class ifi cadas de reilis, f:.bricas estas includas no quadro I dos anexos deste trabalho onde enumeramos todas as b1bricas de chapus j conhec idas at 1834. mas OU Lras devem ainda ter existido j que temos notcia de o utros mestres fabricantes de chapus. Seriam proprie-trios de oficinas e fbricas ou lpenas assalariados ilO servio das empresas conhecidas. uma qucst;io d e mamemo insolvel por falta de c!emelllos suficientes.

    No caso do Porto. n existncia de relaes. mapas c inquritos estatstiCOS, elaborados directamen\c ou por ordem d3 Junta do Comrcio entre 1777 e 1830, permitiu-nos identificar um Ilumeroso gmpo de r,brieas reai s ou privilegiadas, j que compelia a esse tribunal o licenciamento dessas unidades. Tambm A Relao das Fhricas de /786'6, da competncia da Junta da Administrao das

    Fbr i c~L" do Reino c Obras d,lS guas Livres. apresenta urna rclaao, mai$ exaustiva do que a de 1777, das fbricas do Reino e desse mesmo ano o Mappa de Todas as Fabricas que lu em tis/JOG. e 110 Reino ... feito por ordem de Pina Manique que inclui igualmente uma relao de fbricas favorecidas por privilgio reaP.

    51

  • JOS": ANTNIO RI::AL PEREIRA RAMA!)A - - -

    Como existem ainel :1 os processos de licenciamento da maior parle destas f;'\bricas portuense~ tornou-se possvel. atravs do cruzamento de tOdas as informaes recolhidas. ultrilpassar o~ erros e omissucs detectado!'> em algu ns destes inquritos e. com :l ajuda de ou tras fontes C0l110 escri turas notariais e livros de im postos. proceder elaborao do referido quadro I.

    A atribuio de um ;tlvar ou licena ao proprietrio de uma f brica no pode ser obscrvad;t. obrigatoriamente. como sinnimo de cri;ti:io da empresa pelo que no deve ser entendida como lal. dado reg istarem -se du;ts situacs diferenciadas: na maior pane das fbricas a sua fu nd:lo tinha sido efectuada j hft mais ou menos anos c agora o proprietrio resolvia requerer a ,nribui o dos privilgios concedidos pel a Junta do Comrcio: noutros casos os interessados \olic ita varn logo. na altura da cri ao da empresa. esses privilgios que conside-ravam imprescindveis fI sua laborao. Por isso. :-oe em alguns casos o ano de conee:-,:oo do alvar ou liceu .. corresponde efectivamente ao illtO da fu ndao da

    lllC~I1l:I . na maior parte das empresa.:;; tal no acontece al1 rma ndo os requerenles a maior ou menor :mtiguidade das mesma~ e o seu e fecti vo funciona mento. como f:brica particul :lr obviamente. afirmaes est as que a vistoria e o sumrio de testemunhas vinham pm.tcriormente confirmar.

    No so comparveb. por diferena nos cri trios adoptados. dado os fins ii que \C destinavam. a rc la50 de fbricas de 1777 e as duas de 1788 com os Illapas de f:bric ..... exaentes. no caso do Porto. para o perrodo en tre 1812 e 1830 . Enquanto as trs primeiras apresentam uma listagem dc fbricas privilegiadas at ~ respecti vas datas. incluindo fbricas que nunca chegaram a funcionar por razcs divcrsa!'>. os segundos procuram infonnar a Junta do Comrcio acerca dos e:otabdecirm:nlOs industriais em laborao efeeti va no momento desse inqurito. Porm. por descuido. ralt:l de empenho ou divergnei;l de critrios aeerca dos estabclecimelllo:o que deveri am ser considerados fbricas por parte dos funcio-nrio .. encarregados dessa tarera. o eeno que. e m muitos desses mapas. foram omitidas \rias f:bric:ls. chegando-se ao extremo de no serem includas 50% ou a maioria das fbr ias em determinados anos. E"t:t realidade leva-nos :t incluir. no fim da anlise quantitativa das fbricas at [830. um grfico em que procedemo!'> ;1 ,epara:io elllrc as fjbricas referenciadas nos vrios mapas exis-tentes c a\ re~l:uue~ neles om it idas que foi possvel identiticar a partir de outras

    fontc~. A evoluo do mmero de f;'\b ricas reais ou privileg iad'b no Pon o entre

    1750 e I S34 decorreu da :-,cgui1l1e formal!; At 1777. foram co ncedidas trs aut orizai1cs. duas delas ao mestre

    fr:mcs Lu" ~ournol c ;t restallle a Antnio Jos Guimares. tendo delas rcsu[tado .. lahora;lo da~ duas primeira .. fbric:\s de ch"pll~ fino .. da cidade. E1l1re 1777 e [788 foram concedidas mais quatro. mas a nica fbrica cm efectivo funciona~ IllcnlO foi a de Domingos do Ro~rio que no incio da d~cad;t de 1790 era a nica cm actividade. Pouco depois. Joo Pedro Sal :t bert e Manuel Antnio de Madureira (este pela segunda vez) fo ram autorizados a estabelecer as suas f(lbricas. pa .. sandn o Porto a contar com 3 f;bric:ts privileg iada!'>. A partir de finais do :oculo XV III su rgiram 111:lis 6 fb ricas pelo que, nos in cio:-. do sculo XIX. estavam cm funciona menlO. no Pano. 9 fbricas. m"i ~ I em Gaia\}. Algu mas dest a..; fbricas pouco tempo se mantiveram cm lalx)rao. uma por falncia e outras por motivos divcr:oo ... o que. apesar do licenci amento de 2 novas unidades

    52

  • A INDSTRIA CffAf'Ll;.'R,\ POHTU/{NSE ENTUE 1750 E HI52

    em 1806. provocou uma diminuio das fbricas em e fectiva laborao cm 1807 pois. confirmadameme. nesse ano apenas 6 funcionavam: Domingos do Rosrio. Joo Pedro $:ll:lbert. Joo Pedro de Oliveira Lopes. An selmo Ferreira . Jos Coelho do Nascimento e Jos Pedro Cardoso e Silv:l (que substitura Manuel Pinto do CoutO Leito pOI' falecimento destc).Estaria m:lis :lll:luma das restantes em actividade? provvel. mas no encontramos qualquer informao que nos habilite a sustentar semelhante hiptese e. pelo contrrio. parece que a sua ex t in50 ou no cn trad:1 em funcionamento foi uma realidade. Apesar das invases fl'ancesas e de todas as consequ~ncias que delas advieram. as 6 fbricas cm funcionamento em 1807 mantiveram a SU:l actividade. apesar de nfcetadas pelo recrutamento para o exrcito anglo-Iuso que lhes !cvou parte dn m:1o-dc-obra e dois dos empresrios. A parlir de 181 0 novas unidades surgiram. 1 nesse ano. 2 em 181 I e outra cm Maro de 18 13. elevando para 9 e 10 o nmero de fbricas em actividade respectivamente em 18 [2 c M

  • JOSe ANTNIO RIf.AL '>EREIIM RAMAf)A

    A diferena entre as fbricas incl udas e om itidas nestes mapas pode ser documentada atrav::; do seguinte grfico que nos d:'\ uma viso imediata da realidade ponuense ao longo deste perodo:

    EVOLU,\O !lAS F,\BIU CAS IlE CI-fAP I~US PIUVII ,EGIAI>AS DO PORTO ENTRE 18 12 E 1100

    14 12

    "

    10 o ~ 8 " 6 ~ 4 %

    2 O

    i 11 10 I 7 L 6 3 3 ti I

    2 h 1 h "

    S~rk [ - SCfundu '" "'"[l~S d~ t:'ibrica.' ,,,,[>r":~' "",ili

  • A INOUSTRIA CIIAPEU://{A PORTUENS/~ ENTN.E /75n E /852

    pequena~ rbri cas portue nse s que outra estatstica do mesmo ano. relativa instruo dos operrios. identifica.

    Desaparecida, com li extino das corporaes e da Junta do Comrcio, em 1834. a diviso entre oficinas. fbricas particulares e pri vilegiadas . as dife-rentes empresas produtora~ passaram a confundir-se indistintamente sob o ttulo genrico de oficinas ou fbricas. atendendo sua reduzida dimenso em termos de mo-de-obra. mantendo o carelCr oficinal que se tornara predominante aps a crise de 1827-28 e os processos totalmente artesanlis ao longo de todas as fases da produo.

    Essa falta de elementos oficiais levou-nos a encetar uma demorada pesquisa cm outras fOlHes que pudessem colmatar essa carncia para o que recorremos i:1 imprcnsa peridica. a almanaques . a escrituras notariais e a diversa bibliografia.

    A partir destas fontes. regi stamos o recomeo de actividade de alguns anligos fabricantes privileg iado~ como Francisco Antnio do Outeiro e Rodrigo de Sousa Pinto . sendo provvel que outros antigo~ chapeleiros corno Migue l Antni o Garc1

  • JOS,;- ANTNIO REAL PER'~/R,\ IUIMA/JA

    em 1852). tendo-se estabeleeido em 1851 Joo Arsnio Freire e Joo Jos de Alrneid;, o que. junt:J!ncnte com as 2 Lbricas includas nessa cstatsticn de 1852 e ;; incluso dc chapeleiros conhccido~ como Franc isco Antnio do Outeiro, C:;ndido Jos Sil11plcio e Joo Garcia. bem como a viva de Antnio Frederico (recentemente f:llecido). na lista de chapeleiros includos no Alm{lIIak COlllmercial Judicial e Adminisrrarivo do Por/o e seu Oisrricro pom o alll/O de /854-/855 12 (que Ol11ilC as duas fbricas includas nessa estatfslica de 1852). eleva para 10 empresas o 10lal de f;bricas e oficinas reconhecidamente em actividade nesse ano. Mas deviam ser mai~. j, que o referido almanaque !.!numera mais 6 empresas

    ch;:\peleira~ de que se desconhece de momenlO a respectiva dnta de fundao , clev:llldo para 16 o 10lal de chapeleiros em actividade em 1854. Assim. a panir dc:-.tes elementos. pOssvel corrigir a falIa de rigor das estarstica:-. oficiais e assi stir aos primciros passos na recuperao deste sector tr:J.dieional que voltur nu segunda metade de Oitocentos a ocupa r um lugar de destaque ell1rc as indstrias da cidade.

    Conclus;; o

    A imponncia da indstria chapeleira pOl1uense ao longo do perodo entre 1750 e 1852 renect iu. naturalmente. n:-. fases de expanso e depresso que descrevemos. Entre 1750 e 1834 as empresas produtoras d istribuam-se por trs categorias de estabelecimentos. olicinas de sombrei reiros. fJbricas pnrticul:lres c rbrieas privilegiadas. das quais s as ltimas. graas ti ex istncia de documen-tao oficial. podcm ser qU:l11lificndas. registando-se a ex istncia. no longo desse perodo. de 37 f:bricas licenciadas na cidade do Porto. entre elas a mais anliga ]";brica de chapus finos. propriedade de um particular. que se conhece em ponugal pcrtencente;1 Antnio Jos Guimares.

    Os perodos de maior expan,>o desta indstria registaram-se enlre o incio da d~cada de 1790 c 1806 e entre 181 I e o incio da dcada de 1820. tornando-se a chapelaria. segundo o Mapa. de Fbricas de 181 ... 1.. a terceira ind:.lria da cidade com 11 fbricas pri vilegiadas. atrs das fbrica~ de tecidos ue seda do largo com 68 f:bricas c d;1'> de tecidos de seda do estreito com 20.

    A partir de l11e:ldos da dcada de 1820. principalmcnte a partir de 1827-28. devido ~ importaes e ii preferncia do pblico pelo chapu de sedn. a su a impon[mci'l no l!.!cido empresnrial e industrial da c idade diminuiu. entrando a produo de chapus finos nUll1n longa fase dl.!pressiva . que se prolongou at mcndos do sculo. caracterizada pela extino gradual das princip'lis empresas, optando aS reSl:lI11CS por uma imprescindvel rccOllVerS;JO, pelo que muitas dclas passaram a produzir tambm essa nova classe de chapus.

    De 1830 em di~U1te aeellluou-.se o carcter oficinal dessas empres:Js. com uma mdia de 5 operrios por empresa. pelo que apenas uma fbrica portuense foi includa no inqurito andai de 1845-46. nJo sendo qunlquer uma das ex is-

    LCI\W~ includa !ln estatstica industrial das fbricas de 1852. Apesar dessa omisso. a indstria ch:Jpcleira desta cidade contava. cm meados do sculo. com nume-rosos produtores do~ quais podemo~ identificar pelo menos 10 em 1852 e 16 em 1854. rcgi:-tando-sc a partir de meados do sculo XIX um Illo\, jmento gradu~d de recuperao que far novamente desta indstria uma das principais da c id:l

  • A INIJUSTU IA CIlAPELEIUA PORTUENSE ENTlU~' /750 1;: /852

    QUADRO 1- FB IUCAS l'A RTl CULA RES E REA IS OU I'RJ VILEG IADAS DE C HA PUS NO PO RTO Ei'TRE 1750- 11134

    A I.\'~R.lICE:."~ ou PROI'ISO DAS FBRICAS Num: IKlS PNOPKlf;T,{ NIUS I.OC.\L1L\U

    QUAr>"I)O PRI \ILf.GIAIJAS A. 22 de Outubro d~ 1771 Lu iz Fourll(J1 & c.0 -L. 21 d~ Julho de 1 ii5 LUIZ FUll,.",,1 c I\bnocl FrJtlci...:o GlIiln~r:,cn,

    A. 25 de Junhndc 1773 A,uou in Jn~c Guimar.lcn, -((undada ante, de 1767 por SC:u pat ])clm;ngo.< Fmneis.:u GUlln~r.lcn_)

    L 12 de Agn\lo de 1778 ~hnocl J07.o: F~m:lra Grelho

    I . 17 de MaI" dc 1780 Lui7, Foumol -L. H d~ Ahnl de 17bO Dolllingo, do ROl.ano do N"a>eimcntu c Almeida Vicia o (R d

  • JOS ANT6NIO REAL PEREIRA RAMA/J/\

    " IX"R.llCL~A ou PHO\'ISO DAS FBM1CAS NO.\IE nos PIWPRIETAR1 0S I.OCA Ll7.A O

    QUAI'I)() PR1\'ll.r.r.1AlIAS P. 21 de F~"crmu de 18Q..l M~tJQe ll''"tu

  • A INDSTRIA CIlAI'ELEIRA PORTUENSE ENTlO'; 1750 E 1852

    AI.VAR.UCEXA. ou PItOl'ISO [lAS fBRICAS ~mlE DOS rROrRlrTRIOS I.ocAW.AO

    QUANOO PRI\'llXGIAIlAS P. ,Ode Maio de 1818 Domingos Cardow Viclor & Comp. Ru" da C~l:Jda do, Clrigo,

    de Domin gO); (:mlolO Victor n,'" 27-29 c Joo Antonio d~ Sous.:! Guimaraen~

    p 16Jelunhode 1818 iknlO Jm.c Vieira (de SoUl.:l) Rua da COrUooria Velha depois Rua de Sunto Antmo n.'" 161-162 c depoi, Rua do BISpo

    Recusada liC\tna cm FrJncisco Joze Rib.5d~JanCll'"de 1830 Jaze Antonio da Si"'3 C:lmJlO!o RUJ de Santo Antnio

    P. 27 de OUlubro de 1830 Joze Moreira de Lima Rua de Santo Antnio

    p Junh

  • JosE: ANTNIO REAL PEREIRA RAMADA

    QUADRO 11 - FnR ICAS E O FI CINAS OE CHA I'I~US OE FELT HO E I)ESlmA Ei\'1 L AHORAO NO PORTO ENTRE 1!l34 E 1854

    ANO ln : FUI'oIJAO I'IOMt: UOS I'IUMEIROS PROPRIETIl IOS I.OCIro l.l7.1r.O 1&20 Rodri~'O de Sou~ PmlO R. de S3nl0 Anlnio n' 139-140

    I!m '~ Lmo Eku~rio R. de SanlO Anlnlo n .... 70 A_70 B depois n .... 86-89

    1825 FrJoci!\OO An, de Suu/.a SlinJor R. do Bonj~rdim n." 270 IliJS Ma i~ t S i ! v~ R. de Santu Antnio n" 32

    de Antltio Manuel di N;J Mm e S,I .... 1851 Jo;,o A=n'" FreIre R.. de Sanlo AntnIO n... 39

    1851 Joilo JO>Ante. de l!is.; Jos de l'in h

  • ti INDSTRIA CIIAI't:LEIRtI PORTUENSE ,.;NTRI;" 1750 F: 1852

    NOTAS I. E..~tc texto n:cupcr:, :lIguns uos Ilri ne i pli~ a~pcelos :lhordldos ll" di$~ertaQ de Illc;,tr:,do :lpr.:scn-

    tada cm 1997 ii T'leuldnde de Lctms dl Uni\'ersidnde do Pono. tOfn:llldose porm Ilccess"rias algurna~ aher ... cs forrn;lis c de eOllteudo, "tendendo extenso ua ,eferida di~~ertn::io que teve ror lflUlo ti Iwili.\/r;" CIt0I",I,,;1'(l f'om,('n.w .. ('IIIn' 1750 t! 1852 c onde pOl.h::rdo ser cncontr:ld:.s

    a~ rcfernci:ls c cil:lc~ rc1aliv:ls a fontes c bibliogr ... li:! aprc.

  • A FORMAO PROFISSIONAL NO ANTIGO REGIME

    1.lnlroduiio

    MARIA J OS LAGO FRANCISCO RIBEIRO DA SILVA

    o Porto dos Mcslcrcs. segundo o mapa elaborado pelo Senado da c[lmara p;lra a regulamentao das pro!1sscs na procisso do Corpo de Deus. em 1773, reprcscntavu-sc por 37 onc ios.

    Para preparar este tecido social formado pelos ofcios mccnicos. desen-volvia-se um lipa de ensino profissional vocacionado para o saber dominar. de uma forma muito pragm

  • MARtA JOS';: LAGOA I FRANCISCO RfUEIIW LM SILVA

    tempo ajustar-se-ia de acordo com a capacidade e inteligncia":! demonstrada, mas que nunca seria inferior a dois anos.

    No entanto, nem todos podiam ser aceites por aprendizes.

    2.2. Pcrfil do aprclldiz

    Cr. religio e famlia er:lm determinantes na aceitao do aprendiz para estgio.

    Negro e mulato no podiam ser aceite:-.. sob pena de multa no valor de doze mil reis a aplicar ao mestre infraclOr. alm deste ser obrigado a expulsar o moo. O ttulo do captulo vinte e quatro do regimemo dos botoeiros era cxplcito Tempo que dar quem aprender este Omcio. no sendo negro ou mulmo'.

    Seguia-se o faetor reJigio.'>o. A judeu e mouro a aprendizagem continuava vedada. bem como a qu alquer aluno vindo de

  • A I,'ORMAO PR(WISSfONAL NO ANTIGO REGIME

    Chegava a altura da matrcula. E l estava o livro como meio de evitar as fraudes .

    A matrcula podia ser feita de dois modos: ilpenas lunada cm livro do compromisso. ou estabelecida em contrato notarial c. posteriormente. lanada em livro do ofcio, Dependia do que o compromisso estabelecesse. Vejamos cada situao.

    2.3.1. A matrcula em liI'I'o

    Tomando aprendiz. o mestre obrigava~se:1 participar ao juiz do ofcio o dia. o ms e :100 em que o admitira. para quc o escrivo registasse. sob a forma de lermo. no livro de exames. ou cm livro prprio que o ofcio tivesse para esse fim. Posteriormente assinava ou o respecti vo mestre l \ ou o juiz. ou o escrivo c o mestre l4 .

    Mas vejamos um tipo de regislO mais complelo. Dele constaria o nome do Aprendiz e de :>eu Pay e Freguezia de habitao. este. e o dia mez e anno em que entrou para o officio com o nome do Mestre com qucm aprende15.

    3.3.2. A malTcula em COlllralO notarial

    Vti/idade do COII/mlO

    Contrato. obrigao ou assinado eram sinnimos nos registos notariais. Se o compromisso previsse esta situao. o mestre tinha de levar a casa

    LIa cscrivo o assinado feito com a famlia. com o ]):11. lUlOr. ou parentetl que tivesse a tutela do aprendiz. E sendo enjeitado com Licena do Dr. Juiz dos Ol'faons), 17. No entanto. o contrato tinha de ser lanado em livro do ofcio. com 11 data do incio e do termo da aprcndizugcm 1H . Este duplo regi.sto tornava-se necessrio. porque o assinado apenas por ser feito entre o mestre c a outra parte interessada. muitas vezes no era cumprido. ( ... )