caderno diário a primeira guerra mundial e as transformações do pós-guerra n.º15 1415

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1 A Primeira Guerra Mundial o confronto e o pós-guerra Por Raul Silva Na segunda metade do século XIX as grandes potências coloniais europeias desenvolveram uma política de alargamento das áreas de influência, organizando-se, para isso, a Conferência de Berlim, que resultou na partilha de África. As rivalidades económicas acabaram por acentuar as tensões internacionais, facto que criou condições favoráveis à eclosão da Primeira Guerra Mundial. Tratou-se, pela primeira vez, de um conflito à escala mundial. A I.ª Guerra Mundial marcou o fim da supremacia europeia. Por sua vez, os EUA conheceram uma era de prosperidade, tornando-se na primeira potência mundial. Em 1918, quando termina a Primeira Guerra Mundial, o mundo não será mais o mesmo. Uma nova ordem internacional nasce, assente no direito dos povos a disporem de si próprios. É a ordem política dos estados-nação. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 15 https:// www.facebook.com/ historia.externato http:// externatohistoria.blog spot.pt externatohistoria@gm ail.com 14 de Abril de 2015

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Page 1: Caderno Diário A Primeira Guerra Mundial e as transformações do pós-guerra n.º15 1415

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A Primeira Guerra Mundialo confronto e o pós-guerraPor Raul Silva

Na segunda metade do século XIX as grandes potências coloniais europeias desenvolveram

uma política de alargamento das áreas de influência, organizando-se, para isso, a Conferência de Berlim, que resultou na partilha de África. As rivalidades económicas acabaram por

acentuar as tensões internacionais, facto que criou condições favoráveis à eclosão da Primeira

Guerra Mundial. Tratou-se, pela primeira vez, de um conflito à escala mundial.A I.ª Guerra Mundial marcou o fim da supremacia europeia. Por sua vez, os EUA

conheceram uma era de prosperidade, tornando-se na primeira potência mundial. Em 1918, quando termina a Primeira Guerra Mundial, o mundo não será mais o mesmo.

Uma nova ordem internacional nasce, assente no direito dos povos a disporem de si próprios.

É a ordem política dos estados-nação.

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EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES

N.º 15

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15 A Europaimperialismo e colonialismo

Há várias causas prováveis para a primeira guerra mundial. O evento principal que marcou o início da guerra, foi o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono Austro-Húngaro. Na década de 20, a explicação mais usada para a guerra foi a de que a Alemanha começou atacando e invadindo a Bélgica no dia 3 de agosto de 1914, e os Austro-Húngaros invadiram a Sérvia dia 29 de Julho do mesmo ano. Por terem sido os primeiros a atacar, os alemães e austro húngaros foram considerados os culpados pela guerra, tendo de pagar uma quantia enorme de dinheiro para reparar danos da Tríplice Entente. O valor era o correspondente á aproximadamente 20 bilhões de dólares hoje. Em 1931 essa dívida foi extinta.A rivalidade entre Alemanha e Inglaterra também é uma das causas. Iniciou-se uma corrida armamentista, desenvolvimento de navios de guerra, etc. A tensão aumentou quando a Inglaterra construiu o revolucionário encouraçado HMS Dreadnought.Já os americanos, culpam a aristocracia da Alemanha, Rússia e do Império Austro-Húngaro, que mandava nesses países. Eram militaristas, deixando de lado a democracia. O nacionalismo, que se expandia rapidamente pela Europa na época, alimentado pelas guerras perdidas, rivalidades, e a mídia, contribuiu bastante para a Guerra. Os cidadãos da Sérvia e do Império Austro-Hungaro

clamavam por uma guerra, para defender a sua honra.Os alemães dominavam uma região chamada Alsácia e Lorena, que, inicialmente era mesmo do povo alemão, mas foi tomado por Luís XIV da França, em 1648. Os franceses devolveram o território aos alemães, devido ao Tratado de Frankfurt (guerra franco-prussiana). Com isso, surgiu um sentimento de revanchismo nos franceses.

Responder:

a) Refira os fatores que estiveram na origem da disputa pela supremacia europeia nas vésperas da Primeira Guerra Mundial.

A partilha do mundoe os nacionalismosin Revista Dois dos Mundos, 1896

“Grandes ou pequenos, antigos ou recentes, são cinco ou seis países que detêm a maior parte da riqueza do mundo. (...) O seu grande negócio consiste em investir vultuosos capitais noutros países, retirando daí enormes benefícios. Eles são os senhores de terras longínquas, donde lhes vêm lucros sem precisarem de lá pôr os pés; (...) fazem cultivar em seu proveito territórios imensos, por legiões de negros, de chineses e até mesmo de

brancos (...), possuem minas e fábricas de que recebem os dividendos sem jamais as terem visto com os seus próprios olhos; numa palavra: enriquecem com o trabalho dos outros.”

“Há na Europa duas forças opostas e irreconciliáveis, duas grandes nações que procuram estender o seu campo de ação ao Mundo inteiro e querem impor-lhe o seu domínio comercial. (...) Se há uma mina para explorar, um caminho de ferro para construir (...) o Alemão e o Inglês esforçam-se por chegar em primeiro lugar. Um milhão de minúsculas disputas estão à beira de transformar-se na maior causa de guerra.”

Jornal Saturday Review, 1897

As colónias portuguesas e a GuerraNo final de 1914, Portugal estava em guerra não declarada com a Alemanha no Sul de Angola e no Norte de Moçambique.

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O Tratado de Versalhesuma paz precáriaPor J. M. Keynes

“Os vencedores quiseram descarregar o peso dos seus insuportáveis encargos financeiros sobre os ombros dos vencidos. (...) O tratado não compreende qualquer disposição que vise a restauração económica da Europa, nada decide para colocar os impérios centrais vencidos no meio de bons vizinhos, nada para organizar os novos estados europeus ou para salvar a Rússia. Não cria um contrato de solidariedade económica entre os próprios aliados. Nenhuma disposição é tomada para restabelecer as finanças

desreguladas da França e da Itália (...). O Conselho dos Quatro não prestou atenção a estas questões. (...) É fantástico como o problema de uma Europa que morre de fome e se desagrega aos nossos olhos não tenha interessado aos Quatro. As reparações foram a sua principal preocupação no domínio económico e eles regulamentaram esta questão como um problema de teologia, de política e de táctica eleitoral."

Responder:

a) Indique as transformações verificadas na Europa, após a Primeira Guerra Mundial.

A Primeira Guerra Mundialas transformações do pós-guerra

Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assina o acordo de paz na presença dos aliados. Em janeiro de 1919, em Paris, realiza-se a Conferência de Paz, liderada pelos primeiros ministros da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos, reunidos com mais 23 países vencedores. Os 14 pontos do presidente Wilson que servirão de base às negociações, defendiam a necessidade de uma diplomacia transparente na resolução das questões internacionais, a liberalização das trocas e da navegação, a redução dos armamentos, o respeito pelos direitos soberanos dos povos e a criação de uma liga das nações.Da assinatura dos vários tratados de paz (1919 e 1920) com os estados vencidos na guerra resultou uma nova fisionomia política para a Europa. Após a transformação do império russo num estado soviético (revolução de 1917) é a vez dos restantes impérios (Alemão, Austro-Hungria e Otomano) se desmoronarem e darem origem a novos estados-nação. Na Europa surgiram a Estónia, Letónica, Lituânia, Polónia, Checoslováquia, Hungria e Jugoslávia. Na Ásia formou-se a Arábia, Curdistão, Iraque, Síria, Líbano e Palestina. Por outro lado, as fronteiras sofrem alterações. Os países vencedores alcançam muitas vantagens, assimilando vários territórios. Pelo contrário, os países vencidos, para alem das perdas

humanas sofrem sanções geográficas. A Alemanha foi quem mais perdeu, mas sobretudo sentiu-se alvo de uma enorme humilhação, materializada nas cláusulas do Tratado de Versalhes. A Alemanha foi cortada ao meio; perdeu território e população; ficou sem as suas colónias, parte da frota mercante e da frota de guerra; foi obrigada a pagar grandes indemnizações aos povos atacados e vencedores e foi desmilitarizada. Com o desaparecimento dos impérios, os novos estados optam pela democracia liberal sob a forma de regimes republicanos, mesmo no caso dos países vencidos (na Alemanha a República de Weimar). A esperança de que não voltasse a haver um outro conflito mundial fez surgir, em abril de 1919, uma organização mundial e não só europeia, sob projeto do

presidente Wilson, dos Estados Unidos da América, a Sociedade das Nações. Esta tinha como membros todos os 34 estados aliados e 13 neutrais e como objetivos: a promoção do desarmamento; a resolução dos conflitos pela via pacífica e fomento da cooperação financeira e económica entre os estados-membros.No entanto, esta organização estava condenada ao fracasso, desde do início, devido às condições humilhantes que foram impostas aos vencidos, sobretudo à Alemanha, por exigir a unanimidade nas decisões e não ter permitido a entrada dos estados vencidos no seu seio, e a ausência dos Estados Unidos da América e da União Soviética dava um cariz europeu à organização.

“Permaneço encostado à parede da trincheira. As balas caem à nossa volta. Perdemos a noção do tempo. (...) Subitamente, assobios estridentes precipitam-nos contra a terra. A rajada de vento rebenta por cima de nós. Os homens, de joelhos retorcidos e o saco sobre a cabeça, colam-se uns aos outros. Ofegantes, nervosos, todos batem os dentes. Esta espera da morte é terrível.”

G. Boissière, A Flor na Espingarda

Tratado de VersalhesA Alemanha foi cortada ao meio; perdeu território e população; ficou sem as suas colónias, parte da frota mercante e da frota de guerra; foi obrigada a pagar grandes indemnizações aos povos vencedores.

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No final da guerra de 1914-18, a Europa estava arruinada, tanto material como humanamente e os estados beligerantes enfrentam inúmeras dificuldades, nomeadamente a falta de mão-de-obra masculina; a reconversão das suas indústrias que durante a guerra foram vocacionadas para produzir só material bélico; as colheitas e fábricas destruídas pelos bombardeamento e a desorganização dos circuitos comerciais e financeiros.Os governos recorrem, então, a várias estratégias. Internamente, emitem notas massivamente de modo a multiplicar os meios de pagamento, mas essas moedas não tinham as correspondentes reservas de ouro no banco emissor, nem a produção crescera o suficiente para responder às solicitações do mercado. Surge, assim, a inflação, devido à desvalorização da moeda. Esta situação ainda era mais grave nos países vencidos, sobrecarregados com o pagamento das indemnizações. Em 1922, a Áustria declara falência e fica sob a tutela da Sociedade das Nações. Externamente, recorrem ao mercado de bens e serviços e empréstimos americanos, colocando toda a economia europeia na sua dependência, pois tornam-se os seus principais credores.Os Estados Unidos iniciaram, então, um período de franca prosperidade, sobretudo entre 1924 e 1929, os designados “Loucos Anos 20” devido ao clima de euforia, optimismo e confiança no futuro. Surge o mito do “American Way of Life” e, em cada 5 americanos 1 tem automóvel. Os Estados Unidos realizaram diversos empréstimos à Europa, nomeadamente para a Alemanha, permitindo-lhe pagar as reparações devidas à França e à Inglaterra. Ficaram estes países, em

consequência, em condições de reembolsar os Estados Unidos das dívidas de guerra e dos empréstimos entretanto efetuados. Em consequência, os países europeus ficam mergulhados em dívidas ao estado americano que afirmou a sua supremacia no mundo ocidental, posição que até aqui era ocupada pela Europa - a “fábrica” e o “banco” do mundo. Os Estados Unidos assumem-se como 1.ª potência mundial, possuindo metade do stock de ouro existente no globo, em 1919, e Nova Iorque substituiu Londres como a banqueira do mundo.

“”

Eça de Queirós, 1888

Responder:

a) Explique como a dependência da Europa contribuiu para a prosperidade dos Estados Unidos da América.

A necessidade de capitais e a dependência europeia

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A dependência da Europa e a prosperidade dos Estados UnidosOs Estados Unidos realizaram diversos empréstimos à Europa, nomeadamente para a Alemanha, permitindo-lhe pagar as reparações devidas à França e à Inglaterra. Ficaram estes países, em consequência, em condições de reembolsar os Estados Unidos das dívidas de guerra e dos empréstimos entretanto efetuados.