caderno diário 1ª guerra mundial

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Page 1: Caderno Diário 1ª guerra mundial

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As transformações das primeiras décadas do século XXPor Raul Silva

Na segunda metade do século XIX as grandes potências coloniais europeias desenvolveram uma política de alargamento das áreas de influência, organizando-se, para isso, a Conferência de Berlim, que resultou na partilha de África. As rivalidades económicas acabaram por acentuar as tensões internacionais, facto que criou condições favoráveis à eclosão da I.ª Guerra Mundial. Tratou-se, pela primeira vez, de um conflito à escala mundial.A I.ª Guerra Mundial marcou o fim da supremacia europeia. Por sua vez, os EUA conheceram uma era de prosperidade, tornando-se na primeira potência mundial. Em 1918, quando termina a Primeira Guerra Mundial, o mundo não será mais o mesmo. Uma nova ordem internacional nasce, assente no direito dos povos a disporem de si próprios. É a ordem política dos estados-nação. Nas grandes urbes do mundo ocidental, questionam-se os valores tradicionais e manifestam-se o feminismo. Novas teorias, como a da relatividade, obrigam a ciência a rever os seus fundamentos. Nas artes plásticas e na literatura, as vanguardas rompem com as regras seculares que perseguiam o Belo. Mas pesadas nuvens pairam sobre esse mundo novo do primeiro pós-guerra. Crises inflacionistas, turbulência social, radicalismos de esquerda e de direita minam governos e a confiança política no parlamentarismo, abrindo caminho ao autoritarismo.Em Portugal, as dificuldades económicas e a agitação social e política ditam o fim da Primeira República democrática.

CADERNODIÁRIO

EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES

N.º 8

http://externatohistoria.blogspot.pt/

[email protected]

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A I.ª Guerra MundialImperialismo e colonialismo

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Exploração agrícola portuguesa em São Tomé e Príncipe em 1890

1. Tendo em conta os documentos 1 e 2, refere três motivos que explicam o movimento colonialista europeu nos finais do século XIX.

A partilha do Mundo

“Grandes ou pequenos, antigos ou recentes, são cinco ou seis países que detêm a maior parte da riqueza do mundo. (...) O seu grande negócio consiste em investir vultuosos capitais noutros países, retirando daí enormes benefícios. Eles são os senhores de terras longínquas, donde lhes vêm lucros sem precisarem de lá pôr os pés; (...) fazem cultivar em seu proveito territórios imensos, por legiões de negros, de chineses e até mesmo de brancos (...), possuem minas e fábricas de que recebem os dividendos sem jamais as terem visto com os seus próprios olhos; numa palavra: enriquecem com o trabalho dos outros.”

Revista Dois dos Mundos, 1896

Rivalidades e Nacionalismos

“Há na Europa duas forças opostas e irreconciliáveis, duas grandes nações que procuram estender os seu campo de acção ao Mundo inteiro e querem impor-lhe o seu domínio comercial. (...) Se há uma mina para explorar, um caminho-de-ferro para construir (...) o Alemão e o Inglês esforçam-se por chegar em primeiro lugar. Um milhão de minúsculas disputas estão à beira de transformar-se na maior causa de guerra a que o mundo alguma vez assistiu.”

Jornal Saturday Review, 11/11/1897 Propaganda inglesa do inicio do século XX

2. Refere de que forma os documentos 3 e 4 refletem dois fatores que estiveram na origem da disputa pela supremacia europeia nas vésperas da I.ª Guerra Mundial.

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A I.ª Guerra MundialAs forças em confronto

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A eclosão do conflito

“Permaneço encostado à parede da trincheira. As balas caem à nossa volta. Perdemos a noção do tempo. O céu, visto entre dois muros de argila, parece sereno, enquanto a chuva miúda e gelada põe em todas as coisas um brilho triste e quebrado. (...) Subitamente, assobios estridentes precipitam-nos contra a terra. A rajada de vento rebenta por cima de nós. Os homens, de joelhos retorcidos e o saco sobre a cabeça, colam-se uns aos outros. Ofegantes, nervosos, todos batem os dentes. Esta espera da morte é terrível.”

G. Boissière, A Flor na EspingardaTrincheiras das forças aliadas,

Somme, 1916

3. Refere, tendo em conta os documentos 5 e 6, três aspetos que distingam a I.ª Guerra Mundial de outros conflitos militares anteriores.

Uma paz precária

“Art.º 231: Os governos aliados e associados declaram, e a Alemanha reconhece, que a Alemanha e os seus aliados são responsáveis por ter causado todas as perdas e todos os danos sofridos pelos governos aliados e associados e pelos seus nacionais em consequência da guerra que lhes foi imposta.

Art.º 232: A Alemanha compromete-se a pagar uma indemnização por todos os danos causados aos países aliados.”

Tratado de Versalhes, 1919 Mapa político da Europa em 1919

4. Indica, tendo em conta o documento 7, duas determinações do Tratado de Versalhes.

5. Com base no documento 8, identifica duas alterações no mapa político da Europa, depois da I.ª Guerra Mundial.

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A I.ª Guerra MundialAs transformações do pós-guerra

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Número de mortos e feridos durante a 1.ª Guerra Mundial

Tratado de Versalhes

“Art. A Alemanha renuncia, a favor das principais potências aliadas e associadas, a todos os seus direitos e títulos sobre as suas possessões de além-mar. (...) Art. 231 - Os governos aliados e associados declaram e a Alemanha reconhece que a Alemanha e os seus aliados são responsáveis, por tê-los causado, por todas as perdas e danos, sofridos pelos governos aliados e associados e seus naturais, em consequência da guerra. (...) Art. 233 - O montante dos ditos prejuízos (...) será fixado pela Comissão de Reparações. (...) Art. 433 - A Alemanha obriga-se a reconhecer o pleno valor dos Tratados de Paz e Convenções (...)."

6. Relaciona os documentos 9 e 10 com as transformações verificadas na Europa, após a Primeira Guerra Mundial.

Sociedade das Nações

“Os vencedores quiseram descarregar o peso dos seus insuportáveis encargos financeiros sobre os ombros dos vencidos. (...) O tratado não compreende qualquer disposição que vise a restauração económica da Europa, nada decide para colocar os impérios centrais vencidos no meio de bons vizinhos, nada para organizar os novos estados europeus ou para salvar a Rússia. Não cria um contrato de solidariedade económica entre os próprios aliados. Nenhuma disposição é tomada para restabelecer as finanças desreguladas da França e da Itália (...). O Conselho dos Quatro não prestou atenção a estas questões. (...) É fantástico como o problema de uma Europa que morre de fome e se desagrega aos nossos olhos não tenha interessado aos Quatro. As reparações foram a sua principal preocupação no domínio económico e eles regulamentaram esta questão como um problema de teologia, de política e de táctica eleitoral."

J. M. Keynes, 1919 - Economic Consequences of the Peace

Crianças alemãs brincam com notas

7. Explicita as razões que contribuíram para o fracasso da Sociedade de Nações.

8. Explicar como a dependência da Europa contribuiu para a prosperidade dos Estados Unidos.

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A I.ª Guerra MundialGuia de estudo

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Objetivo 1. Indicar as alterações na estrutura política da Europa, após o conflito mundial

Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assina o acordo de paz na presença dos aliados. Em janeiro de 1919, em Paris, realiza-se a Conferência de Paz, liderada pelos primeiros ministros da França, da Inglaterra

e dos Estados Unidos, reunidos com mais 23 países vencedores. Ficaram célebres os 14 pontos do presidente Wilson que servirão de base às negociações e serão muito importantes para a emergência da nova ordem

internacional que irá surgir e desenhará uma nova geografia política. Nesses pontos é defendida a

necessidade de uma diplomacia transparente na resolução das questões internacionais, a liberalização das trocas e da navegação, a redução dos armamentos, o respeito pelos direitos soberanos dos povos e a criação

de uma liga das nações.Da assinatura dos vários tratados de paz (1919 e 1920) com os estados vencidos na guerra resultou uma

nova fisionomia política para a Europa. Após a transformação do império russo num estado soviético

(revolução de 1917) é a vez dos restantes impérios (Alemão, Austro-Hungria e Otomano) se desmoronarem e darem origem a novos estados-nação. Na Europa surgiram a Estónia, Letónica, Lituânia, Polónia,

Checoslováquia, Hungria e Jugoslávia. Na Ásia formou-se a Arábia, Curdistão, Iraque, Síria, Líbano e Palestina. Por outro lado, as fronteiras sofrem alterações.

Os países vencedores alcançam muitas vantagens, assimilando vários territórios. Pelo contrário, os países

vencidos, para alem das perdas humanas sofrem sanções geográficas. A Alemanha foi quem mais perdeu, mas sobretudo sentiu-se alvo de uma enorme humilhação, materializada nas cláusulas do Tratado de

Versalhes. A Alemanha foi cortada ao meio; perdeu território e população; ficou sem as suas colónias, parte da frota mercante e da frota de guerra; foi obrigada a pagar grandes indemnizações aos povos atacados e

vencedores e foi desmilitarizada.

Com o desaparecimento dos impérios, os novos estados optam pela democracia liberal sob a forma de regimes republicanos, mesmo no caso dos países vencidos (na Alemanha a República de Weimar).

Objetivo 2. Relacionar os objetivos da Sociedade das Nações e a sua atuação

A esperança de que não voltasse a haver um outro conflito mundial fez surgir, em abril de 1919, uma

organização mundial e não só europeia, sob projeto do presidente Wilson, dos Estados Unidos da América, a Sociedade das Nações. Esta tinha como membros todos os 34 estados aliados e 13 neutrais e como

objetivos: a promoção do desarmamento; a resolução dos conflitos pela via pacífica e fomento da cooperação financeira e económica entre os estados-membros.

No entanto, esta organização estava condenada ao fracasso, desde do início, devido às condições

humilhantes que foram impostas aos vencidos, sobretudo à Alemanha, por exigir a unanimidade nas decisões e não ter permitido a entrada dos estados vencidos no seu seio, o que no mínimo é estranho, dado

os seus objetivos. Além disso, a ausência dos Estados Unidos da América e da União Soviética dava um cariz europeu à organização e, por outro lado, nem todos os estados vencedores ficaram satisfeitos com os

resultados dos tratados de paz, como a Itália e Portugal.

A Sociedade das Nações é ignorada e, a partir de 1939, extingue-se lentamente, dissolvendo-se em 19 de abril. Enfrentando todas estas e outras questões às quais foi incapaz de reagir, nomeadamente violações

territoriais que se sucediam.

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A I.ª Guerra MundialGuia de estudo

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Objetivo 3. Explicar como a dependência da Europa contribuiu para a prosperidade dos Estados Unidos da América

No final da guerra de 1914-18, a Europa estava arruinada, tanto material como humanamente e os estados beligerantes enfrentam inúmeras dificuldades, nomeadamente a falta de mão-de-obra masculina; a

reconversão das suas indústrias que durante a guerra foram vocacionadas para produzir só material bélico;

as colheitas e fábricas destruídas pelos bombardeamento e a desorganização dos circuitos comerciais e financeiros.

Os governos recorrem, então, a várias estratégias. Internamente, emitem notas massivamente de modo a multiplicar os meios de pagamento, mas essas moedas não tinham as correspondentes reservas de ouro no

banco emissor, nem a produção crescera o suficiente para responder às solicitações do mercado. Surge,

assim, a inflação, devido à desvalorização da moeda. Esta situação ainda era mais grave nos países vencidos, sobrecarregados com o pagamento das indemnizações. Em 1922, a Áustria declara falência e fica sob a

tutela da Sociedade das Nações. Externamente, recorrem ao mercado de bens e serviços e empréstimos americanos, colocando toda a economia europeia na sua dependência, pois tornam-se os seus principais

credores.

Os Estados Unidos iniciaram, então, um período de franca prosperidade, sobretudo entre 1924 e 1929, os designados “Loucos Anos 20” devido ao clima de euforia, optimismo e confiança no futuro. Surge o mito do

“American Way of Life” e, em cada 5 americanos 1 tem automóvel. Os Estados Unidos realizaram diversos empréstimos à Europa, nomeadamente para a Alemanha, permitindo-lhe pagar as reparações devidas à

França e à Inglaterra. Ficaram estes países, em consequência, em condições de reembolsar os Estados

Unidos das dívidas de guerra e dos empréstimos entretanto efetuados. Em consequência, os países europeus ficam mergulhados em dívidas ao estado americano que afirmou a sua supremacia no mundo ocidental,

posição que até aqui era ocupada pela Europa - a “fábrica” e o “banco” do mundo. Os Estados Unidos assumem-se como 1.ª potência mundial, possuindo metade do stock de ouro existente no globo, em 1919, e

Nova Yorque substituiu Londres como a banqueira do mundo.