caderno de resumos iii da semana de história uneb campi ii alogoinhas - bahia

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HISTÓRIAS, SUJEITOS E TRAJETÓRIAS 20 A 22 DE MAIO DE 2014 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO II - CAMPUS II COLEGIADO DE HISTÓRIA ALAGOINHAS - BAHIA 2014 CADERNO DE RESUMOS

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O Departamento de Educação (DEDC)/UNEB/Campus II e o Colegiado do Curso de Licenciatura em História promovem a III Semana de História, que será realizada de 20 a 22 de maio de 2014, na cidade de Alagoinhas (BA). Em sua terceira edição, a partir do tema geral “Histórias, Sujeitos e Trajetórias”, o evento busca afirmar-se como um espaço de diálogos e debates com a comunidade acadêmica e o público em geral. A III Semana de História congregará profissionais (pesquisadores, professores) e estudantes de História, Educação, Letras, Antropologia e outras áreas afins, oriundos de instituições de ensino superior e pesquisa baianas e/ou nacionais, fortalecendo os laços acadêmico-científicos e a difusão do conhecimento. Nesta perspectiva, o evento promoverá conferências, mesas redondas, simpósios temáticos, lançamentos de livros e programação cultural. Assim, as discussões contemplarão os seguintes eixos temáticos: História, Memória e Política; História, Ensino e Pesquisa; Literatura, Gênero e Relações Raciais, dentre outros a serem abordas no âmbito dos Simpósios Temáticos. A temática escolhida para esta edição do evento, “Histórias, Sujeitos e Trajetórias”, é especialmente significativa no contexto das mudanças de paradigmas experimentadas pelas Ciências Humanas (e a História, em particular) nas últimas décadas do século passado e aprofundadas no tempo presente. Sobre o ponto em questão, o tema geral expressa a vastíssima gama de abordagens, métodos e perspectivas que singularizam o conhecimento histórico na contemporaneidade. Finalmente, a III Semana de História coincidirá com o momento no qual a sociedade brasileira rememora os 50 anos do golpe civil-militar de 1964. Para a comunidade de historiadores, é fundamental problematizar a história, a memória e a historiografia do golpe de Estado que depôs o Presidente João Goulart e abriu caminho para a ditadura militar, encerrada em 1985. A propósito, segundo Eric J. Hobsbawm (1917-2012), o ofício dos historiadores consiste em lembrar o que os outros esquecem. Assim, o trabalho dos amantes de Clio torna-se significativo no contexto das discussões sobre o passado recente e dos seus desdobramentos sobre a sociedade brasileira neste início de milênio. Portanto, esperamos que o evento hora apresentado, mediante as discussões acerca da pluralidade de histórias, sujeitos e trajetórias, intensifique a função social do conhecimento do conhecimento histórico e contribua para estreitar os vínculos entre a Sociedade e a Universidade.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO II - CAMPUS II

COLEGIADO DE HISTÓRIA

ALAGOINHAS - BAHIA

2014

CADERNO

DE

RESUMOS

Page 2: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

JOSÉ BITES DE CARVALHO Reitor

IRES MAIA MULLER Diretora do Departamento de Educação do Campus II – DEDC II

MARILECIA OLIVEIRA SANTOS Coordenadora do Colegiado de História

ARIVALDO DE LIMA ALVES

LEONICE DE LIMA MANÇUR LINS

RAIMUNDO NONATO PEREIRA MOREIRA Comissão Organizadora – Docente

ALISSON CRISTIAN SANTOS CHAGAS

ANDRÉIA FRANCO BELMONT

DIEGO GOUVEIA SANTOS

ELIANE GONÇALVES DE MIRANDA

HELLEN LAIANNE PIRES BARBOSA LEANDRO AUGUSTO NEVES LINS

TAIANE ELISABETH ALVES DA CRUZ Comissão Organizadora – Discente

Page 3: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia
Page 4: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

APRESENTAÇÃO

O Departamento de Educação (DEDC)/UNEB/Campus II e o Colegiado do Curso

de Licenciatura em História promovem a III Semana de História, que será realizada de 20

a 22 de maio de 2014, na cidade de Alagoinhas (BA). Em sua terceira edição, a partir do

tema geral “Histórias, Sujeitos e Trajetórias”, o evento busca afirmar-se como um

espaço de diálogos e debates com a comunidade acadêmica e o público em geral.

A III Semana de História congregará profissionais (pesquisadores, professores) e

estudantes de História, Educação, Letras, Antropologia e outras áreas afins, oriundos de

instituições de ensino superior e pesquisa baianas e/ou nacionais, fortalecendo os laços

acadêmico-científicos e a difusão do conhecimento. Nesta perspectiva, o evento promoverá

conferências, mesas redondas, simpósios temáticos, lançamentos de livros e programação

cultural. Assim, as discussões contemplarão os seguintes eixos temáticos: História,

Memória e Política; História, Ensino e Pesquisa; Literatura, Gênero e Relações Raciais,

dentre outros a serem abordas no âmbito dos Simpósios Temáticos.

A temática escolhida para esta edição do evento, “Histórias, Sujeitos e

Trajetórias”, é especialmente significativa no contexto das mudanças de paradigmas

experimentadas pelas Ciências Humanas (e a História, em particular) nas últimas décadas

do século passado e aprofundadas no tempo presente. Sobre o ponto em questão, o tema

geral expressa a vastíssima gama de abordagens, métodos e perspectivas que singularizam

o conhecimento histórico na contemporaneidade.

Finalmente, a III Semana de História coincidirá com o momento no qual a

sociedade brasileira rememora os 50 anos do golpe civil-militar de 1964. Para a

comunidade de historiadores, é fundamental problematizar a história, a memória e a

historiografia do golpe de Estado que depôs o Presidente João Goulart e abriu caminho

para a ditadura militar, encerrada em 1985. A propósito, segundo Eric J. Hobsbawm (1917-

2012), o ofício dos historiadores consiste em lembrar o que os outros esquecem. Assim, o

trabalho dos amantes de Clio torna-se significativo no contexto das discussões sobre o

passado recente e dos seus desdobramentos sobre a sociedade brasileira neste início de

milênio.

Portanto, esperamos que o evento hora apresentado, mediante as discussões acerca

da pluralidade de histórias, sujeitos e trajetórias, intensifique a função social do

conhecimento do conhecimento histórico e contribua para estreitar os vínculos entre a

Sociedade e a Universidade.

Page 5: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

PROGRAMAÇÃO GERAL

20/05 - TERÇA-FEIRA 14 às 17 horas – Credenciamento.

17 às 19 horas – Lançamento de Livros.

19 horas – Abertura Solene.

19 horas e 30 minutos – Conferência de abertura: Histórias, Sujeitos e

Trajetórias. Conferencista: Prof. Dr. João José Reis (UFBA).

21 horas e 30 minutos – Programação Cultural (Show Musical).

21/05 - QUARTA-FEIRA

Tarde 14 às 18 horas – Simpósios Temáticos.

Noite 19 às 21 horas – Mesa Redonda: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA –

Profa. Me. Eliana Evangelista Batista, Prof. Dr. Marcelo Souza Oliveira e Prof.

Thiago Machado de Lima.

22 horas – Programação Cultural (Show Musical).

22/05 - QUINTA-FEIRA

Manhã 9 às 12 horas – Simpósios Temáticos.

Tarde 14 às 16 horas – Mesa Redonda: LITERATURA, GÊNERO E RELAÇÕES

RACIAIS – Profa. Dra. Ana Claudia Lemos Pacheco (UNEB), Prof. Dr. Silvio

Roberto dos Santos Oliveira (UNEB) e Prof. Dr. Raphael Rodrigues Vieira

Filho (UNEB).

16 horas e 15 minutos às 18 horas e 15 minutos – Mesa Redonda: HISTÓRIA,

ENSINO E PESQUISA - Profa. Dra. Jaci Maria Ferraz de Menezes (UNEB),

Prof. Me. José Gledison Rocha Pinheiro e Prof. Dr. Cosme Batista Santos

(UNEB).

Noite 19 horas e 30 minutos – Conferência de Encerramento: 50 anos do golpe de

1964: História, Memória e Historiografia. Conferencista: Profa. Dra. Lucileide

Costa Cardoso (UFBA).

22 horas – Programação Cultural (Show Musical).

Page 6: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

CRONOGRAMA DAS COMUNICAÇÕES ORAIS

Dia 21/05 – das 14 às 18 horas

SIMPÓSIO TEMÁTICO 01: TRAJETÓRIA DE INTELECTUAIS:

CARTAS, DIÁRIOS, BIOGRAFIAS, POLÊMICAS E HISTÓRIA.

Coordenadores: Prof. Carlos Alberto Machado Noronha e Profa. Rosemary de Jesus Santos

Sala: Letramento, Identidade e Formação – Prédio do Mestrado

em Crítica Cultural.

Entre poemas, poesias e menores histórias: a produção intelectual de Osvaldo Sá

Ana Paula Lessa

Mestre em História - PPGHIS - UNEB - Campus V

[email protected]

A comunicação, resultado do trabalho de pesquisa que culminou na dissertação de

mestrado apresentada ao PPGHIS da UNEB em outubro de 2013, tem o intuito de fazer

uma breve exposição sobre a análise da produção intelectual do escritor maragojipano Osvaldo Sá (1908-2002).

No conjunto de sua produção, Osvaldo Sá ocupou-se primordialmente da história da cidade

onde nasceu (Maragojipe-Ba) destacando episódios de sua história familiar. O escritor era

neto de antigos senhores de engenho do Recôncavo e filho de um ex-intendente de Maragojipe. Problematizamos o que estava em jogo com a publicação de suas obras.

Por volta dos anos de 1930, suas linhagens familiares foram se enfraquecendo e perdendo

prestígio. O escritor encontrou como principal estratégia de sobrevivência a dedicação às

letras, atuando no jornalismo local, estadual e nacional. A escrita da memória de sua

cidade natal atendia ao seu desejo de tornar-se reconhecido em âmbito local e nacional em

um contexto em que Osvaldo Sá buscava reparar a perda de prestígio político e social de

suas linhagens familiares e assim tornar perene sua própria história.

Diário de Fernando: possíveis motivações de uma escrita produzida em cárcere

Cleidson do Nascimento Santos

Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe - UFS

[email protected]

Recompor trajetórias de vidas de sujeitos históricos se configura como uma tarefa

desafiadora e instigante, contudo apresenta limites metodológicos. Em face disso, o

trabalho proposto busca discutir questões acerca da trajetória do frei dominicano Fernando

de Brito no contexto da Ditadura Civil Militar brasileira e suas relações com a morte de

Page 7: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Carlos Marighella militante de esquerda, líder da ALN (Ação Libertadora Nacional), em 4

de novembro de 1969. Para essa comunicação é dado destaque ao diário construído pelo

religioso na ocasião em que esteve preso entre os anos de 1969 e 1973. Na tentativa de dar

ênfase às possíveis motivações para a sua escrita tangenciada por uma atmosfera

repressiva, compreendeu-se que esse mesmo espaço possibilitou uma produção de valor

histórico que lutou para se expressar e contar as experiências prisionais e pessoais de um

preso político. A fim de auxiliar esse estudo destacam-se autores (as) como Angela de

Castro Gomes e Maria Tereza Cunha, ambas lidam com esse tipo de fonte atentando para

as exigências interpretativas que demanda a pesquisa histórica. Deste modo, o diário é

aqui entendido como uma produção literária que pode apresentar “múltiplas significações”,

conforme afirma Celso Castro, e se origina possivelmente na perspectiva do frade de uma

motivação pessoal transformada ao longo da sua escrita em um contumaz exercício de

libertação.

O II Congresso Afro-brasileiros da Bahia, Edson Carneiro e os estudos sobre o negro

Marcos Araujo Melo

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Discutir a importância do II Congresso Afro-brasileiro da Bahia para a consolidação do

intelectual Edison Carneiro, que com seu empenho e atuação como Jornalista e etnólogo

contribuiu para a positivação das manifestações culturais afro-brasileira, na imprensa da

época. Destacar também esse espaço político como lugar de atuação desse pesquisador, na

defesa da liberdade religiosa, dos costumes e do direito de cidadania para população negra

no pós-abolição. Realizado em Salvador-Ba em 1937, por Edison Carneiro e seus ex-

companheiros da extinta Academia dos Rebeldes, o II Congresso Afro-brasileiro, foi palco

de inúmeras lutas e demandas voltadas para a população negra, lutas essas que já vinham

sendo travadas nos diversos espaços sociais do país. A exemplo do evento congênere I

Congresso Afro-brasileiro realizado em Recife em 1934, sob a liderança do antropólogo

pernambucano Gilberto Freire. Na década de 1930, após os desdobramentos da Revolução,

houve forte ênfase dada os estudos étnicos raciais no Brasil. Nesse contexto esse evento

atuou como espaço politico no movimento de valorização da herança africana como fonte

importante de identidade sociocultural no Brasil. A pesquisa procurou analisar a trajetória

biográfica de Edison Carneiro imersa no contexto social em que atuou, como observador

participante nas pesquisas de campo emerso no cotidiano das ruas, nos terreiros de

candomblés, nos samba roda, e nas rodas de capoeira, como todo etnólogo entrevistando,

fotografando, catalogando e publicando essas manifestações culturais negras.

Fundindo realidades e construindo o maravilhoso: a construção do pensamento

político e social de Monteiro Lobato (1914 –1945)

Fabio Pereira Costa

Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) é considerado um grande escritor da

literatura brasileira. Ao ler seus livros, se atentarmos para uma possível ligação entre as

obras e sua realidade histórica, veremos que o autor dialogou com as questões próprias de

seu tempo como o racismo científico e as teorias eugênicas trazendo propostas que,

segundo ele, visavam progressos sociais para o país. Desta forma, objetiva-se discutir

Page 8: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

como o pensamento lobatiano foi construído ao longo do tempo e como se deu sua

interlocução com diversos grupos sociais e teorias que o legitimaram a propor soluções

para o país, e os meios por onde esse pensamento se difundiu. O que pretendemos

problematizar é como o autor se utilizou de argumentos em prol de modelos sociais para a

nação brasileira em suas obras, destacando a relação entre sua literatura e seus

posicionamentos políticos e ideológicos. Igualmente, a análise das fontes agrupadas sob a

denominação escritas de si (cartas, diários, autobiografias) foram utilizadas, bem como

fontes periódicas de autoria do próprio escritor Monteiro Lobato. E através da perspectiva

da história social da cultura buscaremos entender a lógica de pensamento político-literário

nas obras de Lobato em sua interlocução social, evidenciando seu contexto de escrita, o

diálogo e intenções que o autor fixa em relação a diversos grupos sociais, sejam eles a

quem a obra é endereçada, ou sejam eles os grupos políticos com os quais se identifica. Em

linhas gerais, os resultados obtidos evidenciam duas posturas intelectuais por parte de

Lobato: uma pública e outra privada. Tais comportamentos estavam relacionados a

intenções de fomento de variados projetos políticos e sociais construídos durante a

trajetória do escritor e, que propunham diálogos com diversos grupos intelectuais e

múltiplas correntes ideológicas. Igualmente, Monteiro Lobato desenvolveu uma literatura a

serviço de projetos políticos instituídos próprios, articulados a uma intelectualidade e

meios de divulgação dominantes. Além de um explícito e relevante estreitamento com os

intelectuais reformadores da educação da primeira metade do século XX, os

escolanovistas.

O Baiano Precoce e Engajado

Priscila Godinho Martins dos Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Este trabalho tem o intuito de refletir sobre o dramaturgo, teatrólogo, telenovelista,

“intelectual” Dia Gomes, para isso utilizamos referências como o livro “Dias Gomes”. O

mesmo foi organizado por suas filhas Mayra e Luana Dias Gomes e publicado em 2012,

nele contêm entrevistas dadas a diversas revistas, jornais e programas renomados da TV,

além de artigos do próprio Dias, somada a uma apresentação escrita pelas mesmas,

intitulada: “Mais que um subversivo”. Já em sua autobiografia, publicada em 1998, um ano

antes de falecer, Dias intitula a sua obra como: “Apenas um subversivo”. Em uma

entrevista publicada na revista Cult n° 11, em junho de 1998, ele responde a questão: O

que é ser subversivo hoje? “Ser subversivo é uma atitude diante da vida, é não se

conformar com o que está errado. [...] Quem não é subversivo é acomodado, passa diante

da vida sem viver”. Ao analisar essa citação, percebemos que Gomes, passa a imagem, de

que sempre esteve incomodado com os problemas sociais e políticos do país, e que a

maneira encontrada para denuncia-las foi através de suas obras, sejam elas teatrais,

televisivas ou literárias. Igor Sarmento no artigo intitulado “A retórica autobiográfica em

Dias Gomes: apenas um subversivo?” faz uma analise de como foi construída esta

autobiografia que para ele “Não produz somente uma desvelação dos acontecimentos

vividos, mas é fundamentalmente uma encenação de sentidos construída a partir de

enquadramentos da memória de sua história como a de apenas um subversivo”, ou seja, o

que Sarmento (2011) quer dizer, ao nosso ver, é que a autobiografia também é uma

seleção. Mesmo Dias Gomes falando que: “Apenas quero ser honesto e preciso ao precisar

a imprecisão de minha memória”. É através dessas referências, que pretendemos construir

uma leitura do autor. Porém, ficam algumas questões, que “povo” é esse ao qual o autor se

refere? Ele faz parte desse povo? Pensando nas reflexões de Ridenti (2000) em seu livro

Page 9: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

“Em Busca do Povo Brasileiro”, os intelectuais e artistas considerados de esquerda, a

maioria deles membros do PCB (Partido Comunista Brasileiro), pincipalmente durante os

períodos de 1960 à 1968 desenvolveram a existência de uma estrutura de sentimento da

brasilidade revolucionária. Em demais países subdesenvolvidos surgiu a esperança de

alternativas libertadoras com o processo de urbanização e modernização da sociedade,

artistas e intelectuais imbuídos do romantismo revolucionário, buscavam a construção do

homem novo, segundo Ridenti (2001).

Altamirando Requião: um intelectual baiano em prol do governo de Getúlio Vargas

Letícia Santos Silva

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus V

[email protected]

A pesquisa hora apresentada objetiva analisar as práticas, as representações e os discursos

utilizados pelo jornalista Altamirando Requião com o intuito de legitimar as ações

realizadas pelo governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1930 a 1945. Para tal

finalidade, busca-se compreender suas posições no combate aos autonomistas e no apoio

ao governo de Juraci Magalhães. Além disso, pretende-se relacionar a sua campanha ao

nazismo, nas paginas do seu jornal o Diário de Notícias, e como sua prática interferiu na

abordagem ao integralismo e ao comunismo. Ressalta-se que o anticomunismo é percebido

como um dos artifícios mais recorrentes para demonstrar a população baiana a excelente

atuação do presidente contra as ameaças à nação.

Entre a Revolução de 1930 e o Golpe do Estado Novo, em 1937, as disputas ideológicas

foram intensas. Portanto, a partir das práticas de Altamirando Requião é possível perceber

uma parcela de políticos da conjuntura baiana que apoiaram Vargas, concomitantemente

em confronto com os autonomistas. Além disso, perceber como as ideias de Requião

corroboravam com os mesmos ideais do pensamento de um Estado centralizado e

autoritário correspondente ao Estado Novo.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 03: TRABALHO E TRABALHADORES,

HISTÓRIAS E SOCIABILIDADES.

Coordenadores: Prof. Iuri Roberto Sacramento Ramos e Prof. Luiz Paulo Jesus de Oliveira

Sala: Sala Lima Barreto – Prédio do Mestrado em Crítica

Cultural.

“Eles lá fora na caneta e nós cá dentro na treita” memórias e cotidiano de trabalho dos

mineiros de Boquira

Alcione Souza da Conceição

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

O tema e questões apresentadas no presente texto estão sendo desenvolvidas no trabalho de

conclusão de curso. Pretende-se aqui, abordar alguns aspectos do cotidiano de trabalho dos

mineiros de Boquira, Bahia, para esse fim a principal fonte utilizada são os relatos de

Page 10: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

experiência dos antigos trabalhadores mineiros. Durante o final da década de 1950

instalou-se em Boquira, localidade situada no centro sul baiano, uma indústria mineira para

explorar o minério de chumbo que existia em abundância na região, permanecendo até

1992, entretanto, este estudo se atém apenas até o início de 1980. Muitos sujeitos foram

empregados na Mineradora para desenvolver a atividade de extração do chumbo, a função

mais árdua dentro da empresa, homens de várias regiões, não somente de municípios

baianos, mas de outros estados, foram para o local e se tornaram mão de obra naquele

hostil trabalho. Então, o objetivo deste estudo é investigar as relações de trabalho

desenvolvidas pelo grupo de mineiros no âmbito das atividades de mineração, como

experimentaram aquela realidade, as dificuldades enfrentadas, os comportamentos de

solidariedade, amizade e conflitos realizados e forjados ao longo do processo de trabalho

pelo grupo, quais foram as estratégias de resistência que desempenharam contra as de

dominação e disciplina da indústria, é o que tentaremos tratar, em especial pela análise das

narrativas dos seus próprios protagonistas. Por discutirmos trabalho e cotidiano, foram

levadas em conta, as considerações do historiador inglês Edward Palmer Thompson, este

que foi responsável pelas mudanças na historiografia do trabalho, quando na Formação da

classe operária polemiza com sua concepção de classe dando relevância ao vários

elementos do cotidiano que no seu entender ao longo do processo contribui para o fazer-se

da classe. Assim sendo, muitos trabalhos inspirados neste destacado historiador vão

direcionar seu olhar para as relações cotidianas dos trabalhadores em suas diferentes

experiências, não ficando restritos como dantes apenas nas suas ações políticas

organizadas. Desse modo, este trabalho também é inspirado nessa concepção, de perceber

que na labuta do dia a dia, na própria prática de trabalho, são tecidas uma gama de

relações, costumes são criados, e desta maneira as estratégias de resistência e os

antagonismos de interesses contra aqueles que se opõe aos do grupo, também ocorre em

termos culturais.

Trabalho, gênero e sociabilidade: os modos de sobrevivência em uma comunidade

quilombola

Karla Dias de Lima

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus V

[email protected]

Este artigo busca refletir sobre as relações de trabalho e os modos de sobrevivência na

comunidade quilombola do Tucum, localizada no município de Tanhaçu/BA na entrada sul

da Chapada Diamantina. Esta reflexão se dará a partir de entrevistas realizadas com as

mulheres da comunidade entre os anos de 2009 e 2012. A partir dos relatos pode-se

perceber que estas sofrem as aflições cotidianas de todas as mulheres, na lida com a casa,

no trabalho com o barro e com o futuro dos filhos e dos jovens da comunidade. Ainda que

nos relatos sobre a origem do Tucum não se constate uma linhagem matrilinear, são essas

mulheres que hoje vão tecendo os fios da memória local tentando manter as tradições do

grupo e seus valores. Através das fontes orais visa-se discutir as relações de trabalho na

comunidade entremeadas às questões de gênero, observando as estratégias de

sobrevivência, demarcação de espaços e lideranças comunitárias. As mulheres assumem

parte do sustento do lar, fabricam panelas, vassouras, esteiras e trabalham na colheita do

café. A região é inóspita e não oferece muitas alternativas para o trabalhador rural, sendo a

colheita do café uma solução escolhida para os que precisam sustentar suas famílias.

Através da memória das principais lideranças femininas, busca-se a compreensão desses

anseios e os modos de sociabilidade que se estabelecem nas relações de trabalho da

comunidade.

Page 11: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Empregadas domésticas e seus patrões em Feira de Santana (1900-1930)

Keilane Souza de Santana

Graduada em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Este artigo tem como objetivo discutir, ainda que de forma inicial, a relação entre o

trabalho doméstico como alternativa de labor para as mulheres e meninas pobres em Feira

de Santana entre 1900 a 1930, tendo em vista as peculiaridades da oferta de trabalho nesta

cidade. Analisa a posição que as empregadas domésticas ocupavam nos lares das famílias

feirenses e as hierarquias que definiam o cotidiano de trabalho. Problematiza a visão que as

famílias de Feira de Santana possuíam sobre o comportamento das domésticas que

indicavam um padrão moral a ser seguido, bem como os preconceitos das elites em relação

a essas trabalhadoras. Através da pesquisa, constatou-se que a classe, a geração e o gênero

demarcaram o lugar das empregadas domésticas nos lares das famílias de elite. Também

contatou-se, que a especialidade e os bons costumes determinaram os interesses das

famílias na contratação das domésticas e que a origem popular e a não submissão destas

trabalhadoras a cultura da elite, marcaram receios e preconceitos das patroas (ou dos

patrões) em relação a elas. A base documental dessa pesquisa assentou-se na análise do

Censo de 1920, Relatórios da Santa Casa de Misericórdia de Feira de Santana, processos

crimes de defloramento e estupro, os jornais O Progresso e O Folha do Norte e entrevista

oral.

Classe e Identidade: uma discussão a partir da história do movimento dos garis de

Itaberaba (1980-1991)

Izac Santos Evangelista

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS - Bolsista Fapesb

[email protected]

O presente artigo procura problematizar de maneira breve duas questões que tem suscitado

importantes debates no campo das ciências humanas e sociais: classe e identidade. Para

tanto, tomamos como base empírica e analítica os estudos que temos desenvolvido sobre o

movimento dos garis de Itaberaba, no período que vai de 1980 a 1991. No ultimo ano da

década de oitenta, os garis itaberabenses protagonizaram um evento de caráter inédito, no

âmbito do funcionalismo público municipal. A realização de uma impactante greve, que

culminou na formação do sindicato da categoria, projetou estes sujeitos como importante

força de luta, empreendendo uma série de ações e enfrentamentos contra o poder publico

local, até a dissolução e transformação do mesmo - em 1998 - no SINDSERVI, entidade

que reunira todos os servidores públicos municipais. Assim, nos estudos que temos

desenvolvido sobre este movimento fomos levados a pensar e nos referenciar nas

formulações e observações colocadas pelo historiador inglês E. P. Thompson. Sobretudo,

no que se refere as suas ideias sobre classe, experiência e consciência de classe. E é,

portanto, mais sobre os desafios teóricos, metodológicos e conceituais, com os quais

temos nos deparado no curso da investigação e análise da história desse movimento, que

teceremos nossa reflexão.

Page 12: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Escolas noturnas no período abolicionista em Salvador

Jucimar Cerqueira dos Santos

Graduado pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Esse trabalho analisa como as escolas noturnas para trabalhadores foram estabelecidas em

Salvador, seus objetivos e qual a sua relação com as transformações sociais e econômicas

ocorridas no período abolicionista, bem como visa situar o contexto em que estavam

presentes, desde a criação, as formas variadas de manutenção e existência, até o

fechamento de algumas por motivos diversos. Parte-se da hipótese que foram criadas por

consequências das práticas liberais no país, com o desenvolvimento de ideias de cidadania

e na busca por nova estruturação do tipo de mão de obra que deveria prevalecer no país,

também pela via educacional.

Essas escolas noturnas existiram na Bahia em um contexto em que o abolicionismo dava os

primeiros passos, seguindo o movimento em âmbito nacional, principalmente, a partir da

década de 1870, quando se intensificaram os conflitos relacionados à mão de obra. É

possível verificar que parte do público dessas escolas era de trabalhadores, conforme o

exemplo da escola noturna conduzida pelo Vigário Tiburtino Alves Minard, que alegou ter

alunos lavradores e oficiais, sendo que a maior parte era casada, pobre e vivendo de

trabalho diurno.

Portanto, as escolas ou aulas noturnas em Salvador e no Estado imperial foram

estabelecidas justamente em um período em que a cidadania se apresentava possível

também as populações recém emancipadas. Porém, essas ofertas educacionais foram

limitadas às primeiras letras, o que se pode perceber, até então, uma não inserção em

grande escala dessas populações em níveis educacionais que permitissem condições sociais

para além dos conhecimentos elementares úteis aos trabalhos manuais, embora toda a base

argumentativa para implantação dessas escolas fosse referendada nas ideias liberais de

cidadania, liberdade e igualdade.

Os analfabetos e os desafios no mundo do trabalho

Maurina Lima Silva

Graduanda em Letras Vernáculas – UNEB- Campus VI/Caetité

[email protected]

No trabalho pretende-se tratar de trajetórias de idosos analfabetos, abordando suas

estratégias e táticas nas experiências cotidianas, bem como o silêncio diante do fato de não

saberem decodificar a escrita. Parte-se da hipótese de que o mencionado silêncio surge a

partir de experiências de processos insidiosos de estigmatização, discriminação e

marginalização. Ao falar das estratégias e táticas, foi usado o sentido conferido por Michel

de Certeau; elas surgiriam a partir de experiências cotidianas dos analfabetos, como no

trabalho, na família e durante viagens. Para perceber tais questões, foram utilizadas

entrevistas realizadas na região de Candiba, cidade localizada no alto sertão baiano,

focando em pessoas acima de 60 anos. Por se tratar de uma pesquisa com idosos, leva-se

em conta a memória e sua mobilidade, e que esse movimento configura uma espiral no

espaço e no tempo, que se inicia e se atualiza no presente (SEIXAS, 2002). Nesse sentido,

o trabalho está dividido em três partes: na primeira, aborda-se o aspecto histórico do

analfabetismo do nacional para o regional; na segunda analisa-se as estratégias e táticas

que pessoas idosas não escolarizadas utilizam em seu cotidiano; e na última tenta-se

perceber as formas de silêncio que implicitamente são colocadas em decorrência do

Page 13: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

preconceito com aqueles que não sabem ler. Durante o estudo foi possível perceber que os

entrevistados analfabetos desenvolveram as mais diversas funções, entre elas, comerciante,

cozinheira, criador de gado, agricultor, sanfoneiro.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 04: ENTRECRUZAMENTOS ENTRE A

HISTÓRIA ORAL E AS CULTURAS NEGRAS.

Coordenadores: Prof. Luís Vítor Castro Junior e Prof. Eduardo Oliveira Miranda.

Sala: Sala 01 – Prédio de Educação Física.

A cidade das mulheres: o poder feminino no candomblé

da cidade de Eunápolis (1970 – 2013)

André de Jesus Lima

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB [email protected]

A presente comunicação oral visa apresentar resultados parciais acerca do Trabalho de

Conclusão de Curso, intitulado A Cidade das Mulheres: O poder feminino no Candomblé

da cidade de Eunápolis (1970 – 2013). A pesquisa busca compreender um aspecto peculiar

do candomblé com a ótica voltada para a cidade de Eunápolis, a saber: o poder feminino,

suas peculiaridades e a influência dos terreiros na comunidade ao qual se inserem e fora

dela, analisando os conflitos e alianças dessas mulheres com a população da cidade, bem

como as relações de gênero no interior do terreiro e nas relações familiares, uma vez que

os espaços familiares e religiosos estão imbricados, sendo os terreiros e as casas de

moradas pertencentes a um mesmo espaço físico. Neste sentido será possível analisar como

essas mulheres exercem o poder e a autoridade não apenas dentro do espaço religioso, mas

como também se constituem líderes e chefes da família carnal. O referencial teórico que

perpassa a pesquisa gira em torno da obra de Ruth Landes, intitulada “A Cidade das

Mulheres” que discute as relações de gênero e poder das sacerdotisas do Candomblé da

cidade de Salvador no final da década de 1930 e início da década de 1940. Além da obra

de Landes, outros autores se farão presentes como Pierre Fatumbi Verger, Edilson Carneiro

e Luis Nicolau Parés. A metodologia que perpassa a pesquisa tem como base a História

Oral. A história oral nada mais é do que um método de investigação científica que permite

analisar o que não é possível encontrar em outras fontes. Esta modalidade de pesquisa

privilegia a análise histórica através da recuperação do vivido conforme concebido por

quem o viveu, tendo em vista que o depoimento oral é um dado individual que representa

todo um contexto em que o depoente estava inserido. Como referencial metodológico, será

utilizada a obra de Verena Alberti, intitulada “Manual de História Oral”. O trabalho acerca

da memória terá como referencial textos de Michel Pollak que trazem uma série de

ferramentas para a análise e interpretação da memória em fontes orais. Os resultados da

pesquisa ainda são parciais, porém já é possível perceber como o poder feminino se

consolidou tanto dentro do espaço religioso como no espaço familiar dessas mulheres,

constituindo assim uma fonte fecunda para a análise histórica do poderio feminino do

Candomblé eunapolitano.

Page 14: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

AS INSTÂNCIAS DO PODER MASCULINO DENTRO DO CANDOMBLÉ:

ESTUDO DE VIDA DO BABALORIXÁ KABILA DE OXOSSI

Danilo de Souza Serafim

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII

[email protected]

Essa proposta de comunicação oral é resultado parcial da pesquisa, que está sendo

realizada sobre a participação masculina no exercício do sacerdócio dentro do Candomblé,

aonde o homem vem ganhando destaque. O Candomblé gerido por homens chama atenção

pelo fato de romperem com as casas tradicionais, criando terreiros onde são recriados e

preservados ensinamentos oriundos de suas raízes culturais afro-brasileira. O terreiro se

torna um espaço de elaboração e transmissão cultural, através da oralidade, onde a

memória e a transmissão de conhecimentos se tornam as prioridades de todo egbé, onde o

sacerdote é o guardião e transmissor dos saberes relacionados à religião. A casa escolhida

para pesquisa fica na região sudeste do Brasil situada na região metropolitana de São Paulo

na cidade de Barueri, O Ilê Alaketu Asé Odé Akuerãn, distante das casas tradicionais da

Bahia que são alvos de pesquisa, o Candomblé liderado pelo Babalorixá Kabila tem um

calendário de festas anual onde são louvados os Orixás, seguindo as tradições dos

candomblés baianos. O Babalorixá ou a Yalorixá tornam-se detentores do conhecimento

acerca da religião, a ponto de serem tratados como pais e mães, que zelam pelo bem estar

de seus filhos e de todo egbé. Pesquisando a função sacerdotal do Babalorixá Kabila é

possível mostrar o Candomblé por uma ótica diferente das pesquisas que já foram

realizadas em torno das Yalorixás, principalmente dos Terreiros da Bahia, assim

poderemos ver por outro ângulo uma casa governada por um homem em uma região

distante das Casas Tradicionais.

Trajetória e Identidade Cultural na

Comunidade Negra Rural de Lagedo - Mirangaba-BA

Marcelo Nunes Rocha

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus IV

[email protected]

O trabalho busca apresentar um panorama da trajetória de uma das muitas comunidades

negras rurais do sertão baiano, Lagedo, situada na divisa territorial dos municípios de

Mirangaba e Saúde, nas serras da microrregião de Jacobina – BA. Essas localidades de

população rural majoritariamente negra também são conhecidas como “comunidades

quilombola” ou “remanescentes de quilombo”. O objetivo da pesquisa foi fazer um

levantamento histórico da trajetória dessa população desde seus primeiros habitantes,

procurando compreender um pouco de suas tradições, costumes, lutas e desafios, bem

como investigar se realmente a comunidade foi área de quilombo ou mesmo agrupamento

de libertos. A pesquisa também procura contribuir com o debate acadêmico, social e

político acerca dos direitos das populações negras rurais por meio da problematização de

conceitos cristalizados e hegemônicos que permeiam esse debate. Tal problemática nos

inquieta, pois uma vez que tais conceitos são pensados e forjados fora do ambiente das

comunidades negras rurais, e por agentes também externos a elas, estes acabam se

configurando como identidades exógenas, que lhes são praticamente impostas

verticalmente, uma vez que para ter direito e acesso aos benefícios do Estado essas

populações são “coagidas” a reconhecerem-se oficialmente como quilombolas, muitas

vezes sem nenhuma compreensão do significado histórico-cultural dessa terminologia.

Page 15: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Fotografia e cultura afro-brasileira em "Festas Populares do Brasil"

Hellen Mabel Santana Silva

Mestranda pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Coautor: Eduardo O. Miranda

Mestrando pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS [email protected]

A lei 10639/03 preconiza que as escolas devem obrigatoriamente trabalhar com a história e

culturas africanas e afro- brasileiras. Trata-se da possibilidade de dar voz a culturas

silenciadas, mantidas sob a égide do esquecimento ou preconceito. Nesse prisma,

elencamos o livro “Festas Populares no Brasil” de Lélia de Gonzalez como ferramenta

pedagógica que possibilita ao educando perceber por meio de fotografias a territorialização

da cultura africana e afro-brasileira nas festas que acontecem nos mais diversos estados do

Brasil. Em consonância ao intento do livro e, como parte importante no processo de

ensino- aprendizagem que desejamos alcançar, apresentamos a Metodologia Dialética que

concebe o sujeito como ser ativo e construtor do seu conhecimento em meio ao seu espaço

de vivência global e local. O educando poderá não conhecer sobre as festas, mas o mesmo

possui alguma pré-interpretação acerca do tema, o que deverá ser utilizado como

ferramenta mister para a construção do conhecimento. Nesse prisma, faz-se necessário que

o educador não somente ministre disciplinas que tratem da temática da história e culturas

africanas e afro-brasileiras, mas que este desenvolva uma metodologia que preze pela

participação ativa dos educandos e entenda que os mesmos não estão estanques ao

processo de interpretação e compreensão das formas simbólicas que constituem os

conteúdos ministrados. Assim, trazemos a Metodologia Dialética de Vasconcellos (1992)

que concebe o sujeito enquanto ser ativo e construtor do seu conhecimento em meio ao seu

espaço de vivência global e local.

Afoxé Filhos de Gandhy: o “tapete branco” da paz

Flávio Cardoso dos Santos Júnior

Graduado em História e Especialista em História da Cultura Afro-brasileira

[email protected]

Esse trabalho pauta-se em identificar as similaridades e diferenças na indumentária do

Afoxé Filhos de Gandhy subjacentes nas imagens fotográficas de Marcel Gautherot em sua

obra “Bahia, Rio São Francisco, Recôncavo e Salvador” e as fotografias produzidas na

pesquisa “O corpo no carnaval soteropolitano”. Para tal tarefa, nos apoiamos em Kossoy

(2002), a partir da análise fotográfica. Verifica-se que a cultura material em vestir-se de

Gandhy vem se modificando com o passar do tempo; no passado a vestimenta branca não

tinha nenhum desenho estampado e quase nenhum adereço era usado pelo folião.

Atualmente, além dos desenhos na roupa, outros acessórios aparecem como os colares, a

pedra azul e branca do turbante, o frasco de alfazema, a bolsa e as meias, dentre outros.

Assim, ao contemplar as fotografias de tempos históricos diferentes, percebe-se o

surgimento de múltiplos significados da cultura material que sofre transformações tanto na

forma de expressão como no uso de novos elementos alegóricos.

Page 16: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Aloísio Resende e as populações negras em

Feira de Santana: contribuições para a lei 10.639/03

Ewerton Monteiro

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB

[email protected]

A origem do município de Feira de Santana apresenta uma história oficial que enaltece os

valores eurocêntricos em detrimento dos grupos étnicos africanos e afro-brasileiros.

Destarte, enquanto educadores e de acordo com a lei 10.639, visualizamos a necessidade

em inserir nos planos de curso as bases de informações contempladoras dos grupos étnicos

africanos e afro-brasileiros, os quais contribuíram com a produção dos aspectos geo-

históricos de Feira de Santana. Amparada na supracitada Lei, o presente artigo elucida a

seguinte problemática: De que forma a cultura negra evidenciada na literatura de Aloísio

Resende pode contribuir com a Lei 10639/03? A escolha do autor se deu pelo fato de tecer

produções textuais responsáveis por desenhar a continuidade e resistência dos saberes

africanos e afro-brasileiros na historiografia feirense. Na primeira parte desta

comunicação, busca-se apresentar de forma sucinta a trajetória de Aloísio Resende, posto

que compreendemos que se faz necessário identificar a biografia deste sujeito. Em seguida,

perfazer entrecruzamentos com a ideia de cultura negra proposta por Muniz Sodré, e

consequentemente elencar os registros das populações negras na “Princesa do Sertão”.

Para finalizar, propor a inserção dessas leituras no currículo das escolas de educação

básica, posto que visualizamos que tal discussão deve ser encarada enquanto ferramenta na

efetivação da lei 10.639.

A festa do padroeiro do município de Santo Estevão de 1922 a 2003

Jéssica da Silva Nascimento

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Como era comemorada a festa religiosa do dia 26 de Dezembro. E sua influencia da

população durante as mudanças ocorridas no evento? A tradicional festa religiosa do

município de Santo Estevão como fator de identidade cultural. A pesquisa realizada

pretende mostrar que a tradição da Festa do padroeiro de Santo Estevão. Origina-se da

História de um homem que fazia o bem, e tornar-se santo. E Consequentemente o

homenageado com o nome do município de Santo Estevão é um município brasileiro do

Estado da Bahia. Aproximadamente 157 km distante da cidade de Salvador. A

comemoração do dia de Santo Estevão, o padroeiro da cidade, no dia 26 de dezembro

também é muito comemorado por fieis tanto da zona rural como da zona urbana. Marcada

também por mudanças festivas no decorrer de seu perfil. A pesquisa também aborda como

a festa de Santo Estevão era comemorada na época de sua emancipação e suas primeiras

comemorações do padroeiro do município como os primeiros blocos das “pastorinhas”, o

bumba meu boi, a festa de “chegança” tradição desta festa em 1922 aproximadamente.

Através das fontes orais de dos questionários. Por fim apresento o decreto na Lei de

n°01/89. E sancionada em 18 de Abril do mesmo ano Na gestão do Prefeito Edivaldo

Feitas da Silva e as mudanças corrida na cidade, após o decreto de lei que faz do 26 de

dezembro, feriado municipal. A partir do ano de 2003, quando o Mons. José Nery de

Almeida esteve a frente da Paróquia de Santo Estevão. E criou junto com a população uma

equipe responsável pela organização da festa além de uma programação especifica para

esta festa.

Page 17: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Os Caminhos da Memória do Reisado de São Sebastião em Eunápolis

Márcio Ramalho Ribeiro

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII

[email protected]

Coautor: Priscilla Luíza Saturnino

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII [email protected]

O presente projeto de pesquisa foi elaborado com o propósito de desenvolver uma oficina,

para cumprimento das exigências do Componente Curricular de Estágio IV do curso de

Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB e que contempla o

uso dos espaços não formais nos processos educativos. O objeto aqui pesquisado são os

caminhos da memória do Reisado de São Sebastião, localizado no Bairro Rosa Neto, bairro

situado na zona norte da cidade de Eunápolis, a partir dos depoimentos de seus principais

componentes, dos aspectos religiosos presentes nesta manifestação, bem como os culturais

e as suas significações para a comunidade ao qual está inserido. O Reisado de São

Sebastião constitui-se em uma manifestação religiosa realizada durante várias épocas do

ano, mas que possui sua culminância no mês de janeiro em louvor ao mesmo santo que dá

o nome do grupo, e é constituído por homens e mulheres de várias idades. Em suas

atividades festivas, saem pelas ruas e de casa em casa entoando animados cânticos

relacionados ao patrono da festa e portando bandeiras e estandartes com a imagem do

santo. O Reisado de São Sebastião na cidade de Eunápolis encontra-se atualmente sob a

liderança de D. Zilda e de seus dois filhos, sendo que apenas o mais jovem, por nome

Carlos (mais conhecido como Carlinhos) quem toma a frente do evento. O reisado possui

sua sede na de Comunidade adepta da Igreja Espírita Nossa Senhora das Graças, situado no

bairro Rosa Neto. O nome da sede ainda é alvo de investigação, pois o que se sabe até

então é que D. Zilda é devota de Nossa Senhora das Graças, assim como seu falecido

esposo, que foi quem batizou o templo. Dessa forma, temos três divindades centrais às

quais são direcionados os elementos de devoção: São Sebastião, o patrono do reisado;

Nossa Senhora das Graças, santa de devoção da matriarca do reisado e que dá o nome à

igreja da comunidade religiosa; e São Cosme e São Damião, santos homenageados todos

os anos por conta da afinidade de D. Zilda com as crianças e de sua devoção aos santos. A

memória cultural e religiosa do Reisado de São Sebastião se mostra como elemento

primordial para a análise científica da manifestação, pois a tradição do reisado se mantém

viva através dos ensinamentos orais, portanto, fruto de uma memória que sobrevive e se

adapta às modificações ocorridas ao longo do tempo. Nesse sentido, a memória é

construída socialmente de forma tanto individual quanto coletiva. Assim, a História oral

faz-se importante para compreender os discursos memorialísticos do grupo em estudo

através da coleta de informações, suas tradições e memórias são transmitidas

hereditariamente, mediante brincadeiras e devoções.

A mulher negra baiana e sua condição social no pós-abolição

Janiete Teles Araújo Machado

[email protected]

Minha pesquisa procura entender a vida da mulher negra na Bahia, após a abolição dos

escravos ressaltando as agressões que sofriam, e caracterizando a sua sensualidade e seu

modo de vestir. De forma aprofundada questiono a condição social das negras libertas em

Salvador no século XIX. E o processo politico, social e econômico da Bahia nesse mesmo

Page 18: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

século e entender a condição social do negro neste contexto histórico. A pesquisa foi

realizada a partir de leituras, analise de livros e artigos onde analisa o contexto histórico da

Bahia, em especial Salvador e da mulher negra no século XIX, após a abolição dos

escravos.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 05: HISTÓRIA, MEMÓRIA E

(AUTO)BIOGRAFIA.

Coordenador: Prof. José Jorge Andrade Damasceno.

Sala: Sala 11 – Prédio principal – Iº Andar.

Os encourados de Pedrão e o seu lugar através

das memórias dos vaqueiros pedronenses

Wellington de Souza Madureira

Mestrando em Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II [email protected]

A história da humanidade e as práticas sociais de um povo sempre estiveram

intrinsecamente marcadas e vinculadas à memória. Assim, a memória coletiva auxilia na

construção da identidade local e também na cidadania. Ela permite compreender como o

grupo se constitui e como funciona sua identidade. Desse modo, essa comunicação

pretende, a partir da representação popular dos vaqueiros pedronenses sobre um

determinado fato histórico dentro da historiografia baiana, a participação dos Encourados

de Pedrão no processo de Independência da Bahia em 1823, conhecer e problematizar o

sentido que esse movimento adquiri tendo como viés as narrativas orais desses sujeitos.

Trabalhar as memórias dos vaqueiros do município de Pedrão é uma importante

empreitada para o pesquisador, pois a memória permite uma leitura particular e própria

sobre o assunto, e esta é a visão que, ao ser transmitida, carrega uma leitura própria e

pessoal do fato. Para ir ao encontro das narrativas orais, principais objetos dessa pesquisa,

e dos seus narradores, pretende-se adotar, procedimentos metodológicos específicos e

qualificados para a coleta das narrativas orais (histórias de vida, causos e cantigas de

aboio), observação e registros. Utilizando como fundamentação para norteamento da

pesquisa, dentre outros, utilizaremos os pressupostos teóricos trazidos por Alberti (2004),

Andrade (1987), Benjamin (1994), Bosi (2009), Burke (2000), LeGoff (2003), Cascudo

(1939), Portelli (2000), Seixas (2001), Zumthor (1997), Albuquerque (1996), Kraay

(2000), Guerra (2004) e Martinez (2000). Nesse sentido o desenvolvimento da pesquisa

contribui para dar espaço a um trabalho de fundamental importância para a comunidade

pedronense, bem como para a construção da identidade e memória da cidade de Pedrão,

além de uma importante referência no campo da historiografia baiana.

Memória e Autobiografia: Everardo Dias e o Movimento Operário Brasileiro

Luan Eloy Oliveira

Mestrando em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB

[email protected]

Page 19: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Desde muito cedo, a classe e movimento operário no Brasil se estabeleceu como objeto de

densas reflexões. Realizadas inicialmente distantes do rigor cientifico, essas incursões ao

tema gradualmente o inscreveu no interior da academia, onde hoje se encontra como objeto

privilegiado para análise. Entrementes, estas primeiras reflexões elaboradas por militantes

políticos não especializados, em geral advogados e jornalistas, e publicitadas por meio de

autobiografias e livros de memória, constitui um corpus documental fragilmente analisado

pela historiografia e que ganha visibilidade no momento em que as discussões no âmbito

da memória, experiência e trajetórias, são retomadas, sobretudo, a partir da década de

1980. Assim sendo, autobiografias e textos memorialísticos se constituem hoje como

fontes privilegiadas para a discussão de aspectos ainda não trabalhados ou para

preenchimento de lacunas existentes na historiografia. Esta comunicação pretende

apresentar as perspectivas com as quais a pesquisa de mestrado “Política e Memória:

Everardo Dias e o Movimento Operário no Brasil” vêm sendo desenvolvida. A pretensão

aqui é abordar, especificamente, a instrumentalização do campo teórico da Memória como

possibilidade para aproximação do objeto em estudo; apontar para a utilização da

autobiografia como fonte histórica e expor acerca da escrita biográfica como estratégia

metodológica para a consecução dos objetivos estabelecidos. A pesquisa a qual esta

comunicação pretende apresentar elege o texto autobiográfico História das Lutas Sociais

no Brasil (1961) de autoria do militante de esquerda Everardo Dias (1883-1966) como

fonte, e é realizada com o intuito de efetuar progressos no âmbito da historiografia do

movimento operário no Brasil à medida que elege fontes ainda não investigadas e se vale

de um aporte teórico relativamente recente para o campo de conhecimento em questão.

O Hip hop como lugar de memória e historicidade

Caio Cesar Santos Machado

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Coautor: Jonathan Oliveira Mercez Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

A educação no espaço não-formal está atribuída a diversos espaços de diferentes origens:

pública, particular, e afins, sendo assim o trabalho não pode ser realizado de maneira

unilateral, ele precisa entrar em diálogo com outras instâncias, e através da disciplina de

Estágio no curso de Licenciatura em História – UNEB Campus XIII foi possível realizar o

trabalho com o grupo de Hip Hop, Skyna Black, da cidade de Itaberaba-BA. O trabalho

consistiu primeiramente em sondagem e observação dos ensaios do grupo, e

posteriormente a aplicação das atividades que foram sendo desempenhadas durante o

período de 20 horas. Através da memória e oralidade, buscamos compreender a

historicidade do grupo “Skyna Black”, tal como se deu a sua formação, pensando quais os

fatores que o influenciaram. O grupo veio a disseminar a cultura do Hip Hop na cidade de

Itaberaba de forma pioneira? São questões como essa que pretendemos abordar e discutir

com nesse projeto. Este artigo mostra como o grupo Skyna Black surgiu, traz também à

tona o papel social do grupo, a relação do grupo com a sociedade itaberabense, além das

diversas atividades desempenhadas pelo mesmo, o espaço físico onde são realizados os

ensaios, a grafitagem no espaço do Mercado de Artes da cidade, e também a discussão

sobre drogas, discriminação e preconceito, ainda em discursos equivocados que se

encontram em muitas pessoas da sociedade.

Page 20: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Reflexões da resistência: memórias de uma baiana

na ditadura militar e seu apoio à esquerda

Ary Albuquerque Cavalcanti Junior

Graduado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

[email protected]

O presente trabalho pretende discutir a partir do par memória-oralidade a memória de uma

mulher baiana na ditadura militar. A ditadura militar ocorreu entre os anos de 1964 a 1985

e este ano completa-se 50 anos, no qual o Estado Brasileiro agia de forma coercitiva a seus

oposicionistas, independentemente de militar ou civil, criando uma série de órgãos

instalados em Estados com o intuito de garantir a segurança do país, seja através do campo

político, social, cultural ou ideológico. Neste ponto, segundo Albuquerque Junior (2009), a

historiografia muitas vezes destaca Estados do Sul-Sudeste, porém é importante pontuar

que o Nordeste e especificamente a Bahia também sofrera com os mandos militares e suas

promulgações. Dessa forma, assim como surgiram inúmeros debates em torno do golpe e

suas implicações, o trato da relação da ditadura com a ação feminina também ganha

destaque. Neste ponto, a partir da década de 90 do século passado que os primeiros debates

em torno da participação da mulher na resistência à Ditadura passa a ganhar um olhar

diferente. Destacam-se os trabalhos de Ridenti (1993), Ferreira (1996) e Colling (1997)

que se propõe a discutir tal problemática. A resistência feminina se torna peculiar ao passo

em que o trato com as mulheres envolvidas com a resistência apresenta uma série de

implicações, sejam elas da tortura física, mental, e muitas vezes abrindo mão de sua

vivência em torno da crença na oposição ao regime. Porém, a historiografia aborda

principalmente os casos de mulheres que resistiram em partidos políticos, na

clandestinidade e na luta armada. Para tanto, este trabalho pretende fazer um reflexão

quanto à ação de uma resistência fora dos “modelos” apresentados, trazendo uma outra

forma de resistência. Onde uma resistência propriamente dita ativa não dê descrédito à

aquela não tão direta. Sendo assim, a mulher estudada tivera irmã e cunhado presos e

desaparecidos na guerrilha do Araguaia, ao passo que esta rememora como apoiava sua

irmã e seus companheiros, sem envolvimento “direto” por conta das limitações das

relações de gênero da época e como lutou pela lei de anistia.

Memória e narrativa em O Fundador de Eunápolis: a escrita da história como leitura

da experiência do tempo

João Rafael Santos Rebouças

Graduando pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII

[email protected]

O presente trabalho tem por objeto de pesquisa a produção escrituraria de Alcides Góbiras

Lacerda (1929-2006), especificamente o livro intitulado O Fundador de Eunápolis,

Sessenta e Quatro, as Treze Marias e os Anjos da Traição (lançado em 2003). Neste livro

o autor relata a história da “fundação” da cidade de Eunápolis, Bahia, que teria se iniciado

a partir do ano de 1942, com a chegada de Joaquim Quatro. Essa produção será

problematizada enquanto uma prática de escrita da história, compreendida como a

configuração narrativa de uma experiência do tempo que tem no trabalho sobre a memória

um de seus aspectos fundamentais. Dessa prática emerge a narrativa memorialística onde é

possível depreendermos questões relativas aos modos de vida de seus “primeiros”

habitantes, o processo de ocupação da região e as formas de sociabilidade desse novo

espaço de experiência que surge com a “fundação” do que viria a ser a cidade de

Page 21: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Eunápolis. Nesse sentido nos perguntamos o que marcaria a singularidade da narrativa

memorialística e onde ela se localizaria com relação ao debate teórico que trata da

narrativa histórica e da narrativa de ficção.

Carreiras femininas e masculinas no magistério superior: docência, memória e

gênero

Eliane Brito Silva

Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Professora pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

A história do magistério envolve também estudos acerca dos saberes e práticas docentes, a

construção da escola e do campo intelectual da educação. Portanto, indissociável da

história da profissão docente e da formação dos professores. Esse debate se faz presente no

chão da escola, mas também no espaço acadêmico, e evidencia um campo de tensões,

contradições e disputas. Neste cenário, vemos perpetuada a desvalorização da licenciatura,

do magistério, do trabalho docente, do professor. O presente trabalho apresenta algumas

questões da trajetória de professores na educação superior, considerando as relações de

gênero. Busco, então, perceber a representação da docência no ensino universitário, e

investigar como o gênero atua na carreira acadêmico-profissional. A pesquisa, ainda

preliminar, é parte de um estudo mais amplo sobre a formação de professores de História,

que tem como campo empírico a Universidade do Estado da Bahia. Adotamos como

referências os estudos sobre a formação de professores de Bernadete Gatti (2000), Delcele

Queiroz (2000), Denice Catani (1997), Iria Brzezinski (1997), dentre outros. A formação

de docentes para a educação básica, apesar das recentes reformulações curriculares, tem

como ênfase os conteúdos curriculares de natureza científico-culturais, a “formação

específica”, em detrimento das experiências da vida escolar, do cotidiano em sala de aula,

do trabalho que se realiza na escola. O que se encontra em relação à preparação do docente

para o magistério universitário é a transposição dessa formação, a do especialista por

disciplina. Pode-se observar a hierarquização pesquisa e ensino, bacharel e licenciado, a

polarização entre teoria e prática, a distinção entre professor e pesquisador. Ademais, a

perpetuação da visão feminizante do trabalho docente. O processo de feminização do

magistério se relaciona ao fenômeno da escolarização em massa (CATANI, 1997),

induzindo a desvalorização social e econômica do trabalho docente. Com a inserção da

mulher no magistério, o homem chegou a ser impedido de ingressar certos cursos, como é

o caso do Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, por tratar-se de um

curso restrito ao sexo feminino (RABELO, 2014; SANTOS e RAMOS, 2014). Embora,

notemos homens e mulheres do magistério superior, cruzando as fronteiras dos “espaços

femininos” e “territórios masculinos”, respectivamente, é importante destacar uma maior

atuação das mulheres nas disciplinas da “formação docente”, as disciplinas pedagógicas,

relacionadas ao ensino, atividade de menor prestígio na docência universitária.

“Quem sabe faz a hora”: memória social e movimento estudantil fortalezense durante

a ditadura civil-militar

Athaysi Colaço Gomes

Graduada em História pela Universidade Estadual do Ceará - UECE

[email protected]

Page 22: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

O presente trabalho se propõe a analisar a construção da(s) memória(s) social(is) dos

estudantes fortalezenses participantes do movimento estudantil durante o período da

ditadura civil-militar no Brasil a partir da análise de fontes orais. O objeto em estudo são as

memórias construídas a respeito das ações do movimento estudantil universitário e

secundário de Fortaleza durante os anos de chumbo. A pesquisa pretende relacionar a

construção mnemônica à formação das identidades coletivas e individuais a partir da

elaboração das representações sociais. Utilizando-se da metodologia da História oral para a

análise das entrevistas realizadas e embasando-se no conceito de Memória social elaborado

por James Fentress e Chris Wickham e de Representação proposto por Chartier, buscamos

apreender através dos discursos dos entrevistados de que maneira os eventos ocorridos

naquela conjuntura sociopolítica foram introjetados pelos mesmos e como tal percepção

contribuiu para a construção de suas memórias sociais a respeito da sua atuação enquanto

militante político. A análise das memórias dos entrevistados relaciona também o lugar

social do sujeito histórico durante a atuação militante e durante o tempo da lembrança, pois

a construção de tal memória social é influenciada pelo tempo histórico. As memórias dos

entrevistados foram analisadas segundo a representação social que compunham articuladas

pelo discurso. O objetivo deste trabalho é interpretar as memórias sociais construídas pelos

participantes do movimento estudantil em Fortaleza em meio ao contexto da implantação

da ditadura civil-militar no Brasil. As memórias permitiram compreender que a disposição

da luta advinha da defesa de um ideal de luta e de vida. Os entrevistados representam a si

próprios a partir das ações realizadas no enfrentamento às ações repressivas dos militares.

É neste ponto que podemos perceber a construção da memória como fenômeno social

ainda que estruturada sobre recordações, aparentemente, individuais.

Os ferroviários grevistas de Alagoinhas e o golpe civil-miliar de 31 de março de 1964

Ede Ricardo de Assis Soares

Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Trabalhadores de longa experiência política, os ferroviários da Viação Férrea Federal Leste

Brasileiro (VFFLB) foram duramente atingidos pelo golpe de 31 de março de 1964. O

putsch acabou desmobilizando a categoria, visto que as forças públicas de segurança

envidaram esforços em investigar e punir ferroviários que possuíssem alguma ligação com

o a mobilização operária ou com o comunismo. Considerando que aqueles trabalhadores

tinham um histórico de reivindicação e de greve, foi fácil para a repressão se aproveitar do

contexto autoritário para enquadrar suas principais lideranças nos ditames do Ato

Institucional. Vários ferroviários perseguidos dentro da VFFLB, alguns foram demitidos,

outros acabaram sendo aposentados compulsoriamente, além daqueles que foram

transferidos para regiões distantes. Em paralelo, esses trabalhadores foram alvos das

investigações das forças da repressão, que se valeram do contexto prévio ao golpe, onde o

debate sobre os direitos dos trabalhadores e das camadas populares junto ao Estado se

aprofundava, para identificar suas principais lideranças, enquadrando-os como agitadores e

promotores da desordem pública. Nesse texto estabelecemos, especificamente, uma relação

entre a greve ferroviária de 1960 e o golpe de 1964. Em outras palavras, pretende-se

analisar o modo que os adversários de classe dos ferroviários se aproveitaram do contexto

autoritário para um acerto de contas. As fontes revelam que a referida greve foi comandada

pelos ferroviários das estações ferroviárias de São Francisco e Aramari, ambas localizadas

no município de Alagoinhas. Considerando que aquela localidade se constituía num

entroncamento ferroviário que ligava Salvador à região do Rio São Francisco e ao estado

de Sergipe, aquele movimento teve grande repercussão na imprensa estadual, como é

Page 23: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

possível observar nos jornais da época, como é o caso do Jornal da Bahia, Diário de

Notícias e Estado da Bahia. Não foi por obra do acaso que as lideranças daquele

movimento figuraram entre as primeiras pessoas que foram detidas em Alagoinhas após o

golpe de 1964. Tudo indica que a visibilidade por eles obtida na greve influenciou

diretamente nas ações das forças da repressão após a instalação do Ato Institucional.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 06: ECONOMIA, SOCIEDADE E

POLÍTICA NA BAHIA COLONIAL.

Coordenadores: Profa. Poliana Cordeiro de Farias e Prof. Cândido Eugênio Domingues de

Souza.

Sala: Sala de Oficina de Crítica Cultural – Prédio do Mestrado

em Crítica Cultural.

O Negócio do Pau-brasil: entre o Regimento, Contratos e Contratadores

(1605 – 1644)

Uiá Freire Dias dos Santos

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

O presente trabalho tem por objetivo analisar a atividade extrativista de pau-brasil na

Capitania de Porto Seguro entre a criação do Regimento do Pau-Brasil de 1605 até 1644.

Tema negligenciado pela historiografia clássica sobre a América Portuguesa, a atividade

extrativista de pau-brasil foi de fundamental importância no processo de colonização. Feito

a partir de contrato de estanco o negócio do pau-brasil provocava, na maioria das vezes,

relações de negociação e conflito entre a Coroa portuguesa, contratadores e agentes locais

envolvidos diretamente na atividade de extração. A partir da análise do regimento, das

condições estabelecidas pelo contrato, das experiências dos contratadores e dos limites e

possibilidades no trato com o pau-brasil, busca-se estabelecer uma abordagem que

privilegie não só a importância econômica da atividade extrativista para a Capitania de

Porto Seguro como a sua importância social. O século XVII é marcado por tensões e crises

tendo como elementos principais as guerras holandesas e a restauração bragantina. Nesse

contexto, os rendimentos do pau-brasil assumem grande importância para a manutenção do

controle da colônia. Com a ocupação do Nordeste pelos holandeses, as matas da Capitania

de Porto Seguro transformam-se em grandes fornecedoras da madeira tintorial.

Criminalidade e justiça na vila de Santo Antonio da Jacobina (1720-1750)

Geraldo Antonio da Silva

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O Presente trabalho busca analisar e compreender como juízes ordinários,

desembargadores e Vice-Reis lidaram com a criminalidade na vila de Santo Antonio da

Jacobina, na primeira metade do século XVIII. Já em 1725, Vasco Fernandes César de

Meneses, Vice-Rei, informava a D. João V que na vila de Jacobina, num período de

Page 24: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

aproximadamente onze anos havia ocorrido 532 assassinatos. Desvios comportamentais

como roubos, assassinatos, descaminhos, etc. eram praticados por toda sorte de indivíduos.

Desde aqueles a serviço d´El-rei – como juízes, militares, vereadores e padres –, a

faiscadores e escravos. Em tal região, o afluxo abrupto de homens e mulheres de distintas

categorias socioeconômicas amalgamar-se-á numa sociedade problemática e violenta,

dando margem para a Coroa agir, aumentando o número de militares na vila e instalando

localmente aparatos burocráticos responsáveis por tentar assegurar o pleno convívio social

por meio da aplicação da lei.

“Como se poderá restringir o trabalho universal de tantos engenhos a huã só Casa da

Inspecção?” Conflitos entre a Mesa de Inspeção da Bahia e a Câmara de Salvador

Poliana Cordeiro de Farias

Doutoranda em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Em 1751 foram criadas as Mesas de Inspeção nas capitanias da Bahia, Pernambuco,

Maranhão e Rio de Janeiro, parte do projeto empreendido pelo ministro de D. José I,

Sebastião José de Carvalho e Melo, que visava a reorganização política, administrativa e

econômica dos domínios ultramarinos. De acordo com o Regimento, sua principal função

consistia no estímulo à produção, controle da qualidade dos principais gêneros exportados

– açúcar e tabaco -, organização do comércio externo, fiscalização dos preços e combate

aos descaminhos. O novo controle simbolizado pela instituição, fez irromper hostilidades

por parte de senhores de engenho, lavradores de cana e tabaco e negociantes da praça da

Bahia, que através de cartas enviadas a autoridades diversas, mostraram-se contrários a

regulamentação econômica imposta e empenhados em revertê-la, como já foi enfatizado

por Stuart Schwartz. A Câmara da cidade de Salvador mostrou-se favorável aos interesses

locais, questionando a criação da Mesa de Inspeção da Bahia e censurando todos os

parágrafos de seu Regimento, em grande parte da documentação consultada. Por outro

lado, em correspondências encaminhadas à Coroa, o juiz de fora mostrou-se sintonizado

com as políticas metropolitanas, denunciando os “interesses mesquinhos” daqueles que

relutavam em aceitá-las. Esta comunicação objetiva discutir o posicionamento do Senado

da Câmara de Salvador - órgão reconhecido como “cabeça do povo e Estado” - nos

conflitos citados, destacando a complexidade do exercício do poder político no Império

português.

A última viagem do Capitão Manoel da Fonseca: investimentos e prejuízos no tráfico

negreiro. Bahia, século XVIII

Cândido Eugênio Domingues de Souza

Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Professor da Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Nesta apresentação abordarei a atuação dos capitães negreiros que também investiam no

tráfico atlântico de escravos na Cidade da Bahia em meados do século XVIII. Para tanto

busco analisar os investimentos do capitão Manoel da Fonseca em sua última viagem à

Costa da Mina em 1757. Os capitães-armadores desempenhavam outro papel além de

apenas serem marinheiros. Atuando como negociantes para si, buscavam aumentar seus

lucros e riqueza. Falecendo logo após retornar a Salvador, Manuel não teve tempo de

alcançar o esperado lucro de seus investimentos. Seu testamenteiro, Lourenço da Silva

Page 25: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Niza, ficou responsável pelos trinta africanos recém-desembarcados e por concluir seus

negócios neste mundo. A falta de parentes do capitão, no entanto, provocou uma demora

na venda de seus escravos e sua contabilidade mostra-nos o quanto o tempo poderia ser

fatal para a ruina de uma sociedade negreira ou de um pequeno investidor. O exemplo

desse investimento do capitão Manoel da Fonseca é um espelho para entendermos a

complexidade desse negócio e os altos riscos inerentes a ele.

As “minicapitanias” do Recôncavo: política e economia no século XVI

Alexandre Gonçalves do Bonfim

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

No século XVI duas capitanias donatárias foram instaladas no Recôncavo: Itaparica e

Tamarandiva doada a Dom António de Ataíde (Conde de Castanheira) em 1556 e

Paraguaçu doada a Dom Álvaro da Costa entre os anos de 1565 e 1566. As duas

“minicapitanias” - maneira como Rodrigo Ricupero as chamaram em seu livro “A

formação da elite colonial” - foram doadas em um período que Portugal demonstrava uma

maior preocupação com a administração de sua parte na América como atesta a decisão de

criar o Governo Geral em 1549. Assim sendo o intuito desse trabalho é discutir como as

donatarias de Itaparica e Tamarandiva e do Paraguaçu se inseriam nesse contexto. Para isso

a investigação analisou as cartas de doações de sesmarias feitas na capitania do Paraguaçu

e indícios sobre moradores e atividades econômicas na capitania de Itaparica e

Tamarandiva encontrados em diferentes tipos de documento (processos do Tribunal do

Santo Ofício, documentos da administração régia e informação de cronistas). Todos os

dados pesquisados estão inseridos em um recorte cronológico que vai da década de 1550

até a década de 1590. A análise da documentação acima elencada apontam indícios de

desenvolvimento de atividades econômicas no território como a criação de gado, da cana

de açúcar e de culturas de subsistências durante o período acima citado. Assim, vemos que

a administração das donatarias - pertencentes a duas famílias relativamente próximas ao

monarca - incentivava as atividades produtivas de indivíduos ligados à colonização

portuguesa, atendendo dessa maneira a duas demandas fundamentais do regimento do

Governo Geral: a ocupação e o aproveitamento das terras da América Portuguesa.

Ascensão e inserção social de africanos na Cidade da Bahia na segunda metade do

século XVIII

Raiza Cristina Canuta da Hora

Mestranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

A presente comunicação integra meu trabalho de mestrado na área de História Social que

se dedica ao estudo de casamentos de africanos na Cidade da Bahia no século XVIII

(1750-1808). Recorro à análise de inventários, testamentos, livros de casamentos, batismo

e óbito para análise da utilização de estratégias de inserção e ascensão social, que se faziam

através do estabelecimento de laços de afetividade (através do matrimônio católico),

sociabilidade e de clientelismo, elementos que favoreceram à distinção, respeitabilidade

social, e até mesmo, a formação de riqueza na vida de africanos moradores da Cidade da

Bahia. Tais aspectos têm sido tema de estudos de historiadores, a exemplo de Maria Nizza

da Silva (1988), Maria Inês Cortes de Oliveira (1988), Hebe de Castro (1995), Robert

Slenes (1999), Mariza de Carvalho Soares (2000), Silvia Hunold Lara (2007), Juliana

Page 26: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Barreto Farias (2012). A professora Katia Mattoso (1988) afirmou que se casar legalmente

representava uma espécie de ascensão social para o casal mestiço ou negro. Estes sujeitos,

tão estigmatizados pela sociedade, pelas leis de distinção social (como o estatuto de pureza

de sangue) e pelo regime escravista - que os atrelava inexoravelmente ao cativeiro direta

ou indiretamente, ao celebrarem como cônjuges ou participarem como padrinhos de tais

uniões compartilhavam minimamente da lógica e dos valores da sociedade da América

Portuguesa e dos colonizadores, inserindo-se, assim, socialmente.

Casamentos, cor e mobilidade social em Santiago de Iguape - 1806-1830

Jamile Serra Coutinho

Graduada em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

A sociedade colonial foi extremamente marcada pelas relações de Antigo Regime, a

mobilidade social era garantida através das relações pessoais. O presente trabalho

desenvolve-se com o intuito de analisar os “padrões” de casamentos dos escravos, libertos

e livres de cor para perceber de que forma a união matrimonial formalizada pela Igreja

Católica representaria o intento de mobilidade social, haja vista que o casamento

representava situação privilegiada para a constituição de alianças políticas e sociais, trocas

e solidariedades. A escolha do parceiro utiliza como parâmetros de decisão a

cor/qualidade, origem/etnia, bem como o estatuto jurídico. Para tanto, analisou-se os

assentos de casamentos da freguesia de Santiago de Iguape, recôncavo baiano, no período

de 1806-1830. Assim, pôde-se perceber a incidência dessa instituição nessa sociedade, a

proporção de escravos, libertos e livres de cor que contraíram o matrimônio e escolha do

seu parceiro, além da sua cor/qualidade. Para analisar a questão da cor/qualidade utiliza-se

o conceito presente no trabalho de Eduardo França Paiva (2012) de que a cor estava

relacionada à “qualidade”, ou seja, o branco era de qualidade superior, pois “limpo de

nascimento” enquanto o mulato (pardo) e negro possuíam um “defeito de sangue” e

qualidade inferior. Cor/qualidade, portanto implicavam em categorias e hierarquizações

sociais próprias do Antigo Regime. O conceito de mobilidade social é utilizado a partir da

definição de Roberto Guedes (2008), que defende que ela não significa apenas a elevação

das condições materiais de sobrevivência, mas, sobretudo, a redefinição da posição de um

indivíduo na sociedade e, no caso dos ex-escravos, a permanência destes em liberdade,

provocando também mudanças de cor. Os resultados preliminares foram obtidos através da

análise quantitativa das fontes a partir de um banco de dados nominativo. Foram analisadas

309 celebrações, dentre estas, 280 ocorrem entre indivíduos de mesmo estatuto jurídico –

sendo 102 entre escravos, 46 entre forros e 132 entre livres. Com relação à cor/qualidade

dos nubentes observa-se que, entre os nascidos no Brasil há predominância dos pardos, que

somam 153 indivíduos entre homens (71) e mulheres (82), destes, 134 casam-se entre si. A

cor do parceiro e a endogamia por origem revelam a escolha matrimonial pensada de modo

a garantir e/ou facilitar meios de sobrevivência na sociedade, sobretudo entre os escravos

nascidos no Brasil e os libertos africanos.

Page 27: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

SIMPÓSIO TEMÁTICO 07: CIDADES, SUJEITOS,

TRAJETÓRIAS INTELECTUAIS E SOCIABILIDADES NA BAHIA

REPPUBLICANA.

Coordenadores: Profa. Aline Aguiar Cerqueira dos Santos e Prof. Juliano Mota Campos.

Sala: Sala 02 – Prédio de Educação Física.

O “progresso” na cidade: médicos, imprensa e poder público

Alcides Lima

Mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus V

[email protected]

O presente artigo apresenta algumas considerações acerca do projeto de modernização da

cidade de Itaberaba. Focaliza-se o conjunto de elementos pensados em meados do século

XX para consolidar o progresso na urbe. Nesse sentido, propõem-se identificar e analisar

quais foram os mecanismos adotados pelo poder público para construir a imagem de uma

cidade moderna. Este pensamento modernizador está relacionado a um fenômeno que se

originou na sociedade ocidental nos últimos séculos: a modernidade. Jacques Legoff

definiu a “modernidade como uma cultura de massa” (LEGOFF, 1997:23). As

considerações sobre a modernidade brasileira são bastante relevantes para as análises aqui

desenvolvidas, já que alguns autores assinalaram algumas especificidades deste fenômeno.

José Martins observou que essa apresenta “um caráter incompleto, uma vez que exclui

parte da sociedade brasileira” (MARTINS, 2008: 18). “A ciência se destaca como o

principal instrumento que balizou a construção do Brasil moderno” (ALBERTO e

HERSCHMANN, 1994:22). Nessa perspectiva, o discurso científico fez parte das

experiências modernizadoras na cidade de Itaberaba. O progresso se construía através da

introdução de melhoramentos urbanos. Esses por sua vez transformavam a paisagem

urbana. No entanto, sujeitos distintos vivenciaram experiências diversas ou até mesmo

opostas neste espaço. O poder público e imprensa local se notabilizaram pela difusão da

imagem cidade progressista. Além desses agentes históricos, destacaram-se também os

médicos. Esses desempenharam um papel crucial no processo de modernização da urbe.

Eles foram utilizados pelo poder público e pelo jornal O Itaberaba como fundamentos dos

seus discursos. Por fim, o projeto de modernização da urbe se estruturou em torno de três

elementos: energia elétrica, extinção de práticas antimodernas e urbanismo.

O passado como projeto de futuro: Análise do discurso identitário dos projetos de

recuperação econômica da cidade de Lençóis (1950 – 1973)

Julio César Moreira dos Santos

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O presente projeto de pesquisa pretende analisar a utilização de um discurso identitário

para a superação da crise econômica que afetou a cidade de Lençóis no estado da Bahia na

metade do século XX. Lençóis teve sua economia baseada por muito tempo na

garimpagem de diamantes, sofrendo com diversas crises na sua história. Na metade do

Page 28: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

século XX, além de sofrer com a crise que afetou a atividade econômica que mantinha a

cidade, esta também vê parte de sua população migrar para outras regiões do país. Vendo

os efeitos da crise do garimpo afetar toda a cidade, a municipalidade, tenta encontrar

maneiras de superação da crise, elaborando projetos de reestruturação, propondo novos

caminhos para economia da cidade, mas as elaborações foram feitas com base no discurso

identitário da cidade. A pesquisa situa-se no campo da história cultural, um campo

eminentemente multidisciplinar, que dialogo com outras disciplinas para a construção dos

referenciais. O principal debate é sobre os estudos que versam sobre as representações.

Este trabalho adota a definição levantada pelo Antropólogo Francês Joël Gandau, que

pensa que a identidade se constitui como uma representação social. Este autor, também

ressalta que as representações são usadas por grupos de pessoas para ações políticas e

sociais. Na perspectiva levantada por Gandau a identidade é uma representação social, e

esta só se torna efetiva quando gera ação no social, quando as pessoas se utilizam das

imagens representacionais, para suas atuações.

A imprensa chega à Itaberaba: os novos hábitos e comportamentos inseridos no

“torrão baiano” (1926 a 1936)

Franciny da Silva Boaventura

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Este trabalho tem por objetivo dialogar com as notícias circuladas no jornal O Itaberaba,

primeiro periódico da cidade de Itaberaba, que funcionou durante os anos de 1926 a 1954.

A circulação de jornais demonstra a existência de uma classe alfabetizada e o interesse de

divulgação e expansão da mesma. Foram analisados dez anos do Jornal O Itaberaba (1926

– 1936), no qual, se exaltava o surgimento da imprensa local, como um símbolo respeitável

da modernização. Com o auxílio do referencial bibliográfico, constatamos que a circulação

de Jornais, no período da Primeira República, foi essencial para a divulgação dos ideais de

modernização, e da padronização de um modelo europeu, que estava sendo almejado para

o país. O jornal O Itaberaba buscava com seus discursos ditar normas e padrões de

“sociedades civilizadas”, preocupando-se com informações sobre a instrução escolar, o

saber letrado, mudanças urbanísticas. Eram circuladas notícias de insatisfação da

população e do poder público, solicitando melhorias para a estrutura da cidade e para o

comportamento humano. A cidade de Itaberaba, entre as décadas de 20 e 30, sofreu

significativas mudanças no seu meio urbano. A população começara a ser pressionada a se

adequar a algumas medidas, que eram tomadas pelo poder público e divulgadas no jornal.

A República tem como uma importante característica as mudanças urbanísticas, sociais e

comportamentais, que eclodiram em uma série de posturas para serem “acatadas” pela

sociedade. A leitura do jornal O Itaberaba nos possibilitou visualizar que além da

importância da imprensa e da divulgação do saber letrado, outro elemento muito enfatizado

em suas notícias, era a preocupação com o padrão social, que passou a ser exigido pelo

regime republicano e que contribuía com a modernização que estava sendo implantada no

país.

“A cultura popular é transgressora e rebelde por natureza”: movimentos culturais

em São Gabriel - Ba (1979 à 1988)

Larissa Godinho Martins dos Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Page 29: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

O presente trabalho tem como principal objetivo analisar dois grupos culturais, o MAC

(Movimento de Arte e Cultura) e JUPP (Jovens Unidos a Procura da Paz), que atuaram na

cidade de São Gabriel - Ba, de 1979 à 1988. O MAC teve pouco tempo de atuação, pois

surgiu em um momento ainda conturbado do Regime Militar no final dos anos 70. Já o

JUPP, começa a atuar no fim da Ditadura Militar, e ainda tendo o apoio da igreja católica

conseguindo assim desenvolver oito anos de trabalho. Esses grupos se aproximam, quando

os dois se tratavam de grupos de jovens que realizaram movimentos cultuais na cidade de

São Gabriel. Buscando uma alternativa em trazer a arte para o povo, valorizando a cultura

popular, e pensando a arte como forma de protestos e reivindicações por melhorias. Poucas

pesquisas tratam de movimentos culturais no período militar no interior da Bahia, mas é a

partir desses dois exemplos que podemos perceber que mobilização jovem em busca de um

Brasil melhor, não existiu apenas nos grandes centros, mas também sertão adentro. Para

desenvolver essa pesquisa utilizamos como fonte as entrevistas dos participantes desses

movimentos e de pessoas que presenciaram a atuação dos mesmos. Portanto nossa

metodologia é a História Oral, onde nos embasamos em Janaina Amado, e para pensarmos

a memória Michael Pollak. Usaremos também como fonte para cruzar com as entrevistas,

dois livros de memórias da cidade. O primeiro “São Gabriel, Memórias e Lembranças” de

Cecília Machado de Oliveira e o outro, “Terra dos arcanjos: Historiografia da cidade de

São Gabriel - Ba”, de João Purcino Pereira e Leonellia Pereira. Como principais

referenciais teóricos utilizaremos Macello Ridenti, Millandre Garcia, Peter Burke, Edward

P. Thompson, Mainelia Silva e Jair Pençanha Rostoldo. Portanto pensamos que faz-se

necessário refletir e dar a devida importância para a discussão desses movimentos culturais

no interior da Bahia.

Diversões e Civilidade na Princesa do Sertão (1919 – 1946) Feira de Santana

Aline Aguiar Cerqueira dos Santos

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

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Analisar algumas das diversões e formas de sociabilidades em Feira de Santana, no período

de 1919 a 1946, em suas relações com os discursos de progresso e da civilidade proposta

para cidade, destacando-se, especialmente, o papel desempenhado pelo Cine-Teatro

Santana. Assim, destacamos essa casa de espetáculos, por ser este um espaço

multifacetado, no qual diversas experiências e práticas sociais, culturais e políticas eram

desenvolvidas, nos possibilitando compreender uma faceta do cotidiano feirense. Entre as

diversões analisadas temos as filarmônicas, os grêmios lítero-dramáticos, futebol, circos,

teatro e cinema. Muitos grupos ligados às diversões citadas anteriormente gravitavam de

alguma forma em torno do Cine-Teatro Santana, promovendo espetáculos beneficentes em

prol de diversas instituições da cidade, estabelecendo uma rede de solidariedade entre as

agremiações culturais e instituições assistencialistas.

Faustino Ribeiro júnior: os caminhos da cura em Salvador no limiar do século XX

Rafael Rosa da Rocha

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

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Investiga a trajetória do curandeiro espírita Faustino Ribeiro Junior e busca através dela

trabalhar o tema das práticas de cura no limiar do século XX, colocando em perspectiva os

Page 30: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

embates entre os saberes oficiais e as práticas de cura leigas na Bahia. Ele nasceu no

Estado de São Paulo, no ano de 1870. Na década de 1890, atuava como funcionário

público - inspetor escolar - e professor formado pela Escola Normal Superior de São Paulo.

Na última década do século XIX, entretanto, o então inspetor passou a executar curas

“miraculosas” apenas com o uso das mãos. Esse momento foi fundamental, pois foi

quando Faustino começou a ser perseguido pelo Juizado Municipal de Campinas, em 1901.

A partir de então começou a peregrinar por outros estados do país, executando seus

processos de cura. Quando aportado na Bahia, Faustino Ribeiro Junior integrou em

contraponto, sobretudo para higiene pública, ao escopo no qual a ciência médica buscava

fincar seus pilares saneando os espaços, controlando as habitações e os costumes e as

concepções de civilização e progresso davam legitimidade às ações da inspeção de higiene.

Lançamos mão de um referencial que perpassa os debates sobre saúde e doença em “A

morte vigiada: a cidade do Salvador e a prática da medicina urbana” de Jorge Uzeda e “A

gripe espanhola na Bahia” de Cristiane Souza; e religião, quando lançamos mão de

“Cuidado com os Mortos: uma história da condenação e legitimação do Espiritismo” de

Emerson Giumbelli. Tomamos como fonte, para este trabalho, periódicos como o Diário

de Notícias, A Baia e o livro Espiritismo e Protestantismo, que contém artigos escritos pelo

próprio Faustino. Nosso objetivo é discutir as visões que a Inspeção de Higiene tinha sobre

as práticas de cura empregadas por Faustino e confronta-las com as ideias do curador e

igualmente perceber a antinomia das práticas executadas por Faustino.

O papel da mulher no carnaval de Serrinha na década de 1970-1980

Katiane dos Santos

Graduanda pela Universidade do Estado da Bahia - Campus XIV

[email protected]

Nesse artigo, pretendo discutir destacar o papel da mulher no carnaval de Serrinha na

década de 1970 a1980, mostrando como ela se revelou uma figura preponderante, mesmo

quando os homens se intitulavam “os senhores da alegria”. Tendo como base os trabalhos

de CUNHA (2002); SCHETTINI (2002); PEREIRA (2002); FRANCO (1996), adicionado

às pesquisas em jornais e revistas da época e entrevistas com mulheres que participaram

das festividades no espaço-tempo em análise, procuro perceber o que há de expressões

singulares da mulher-serrinhense no carnaval da sua cidade. Percebemos que mesmo com a

preocupação dos senhores locais em delimitar o espaço de atuação onde as mulheres de

família ou as prostitutas deveriam se ater, na pratica isso não acontecia de fato, pois nos

dias de carnaval as “mulheres de família” se misturavam aos entrudeiros, fantasiadas, elas

também tinham seus meios para “burlar os padrões” e mesmo as que assistiam o carnaval

das sacadas de suas casas não se eximia de jogar limões de cheiros e molhar os foliões com

bisnaga. Essa quebra de padrões implementada nas folias momescas acaba por influenciar

outros comportamentos das mulheres serrinhenses e noutras áreas de atuação.

História, literatura e cidade: as visões literárias de Humberto Soares e Silva (1969)

Edson Silva

Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG

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O objetivo do trabalho foi analisar uma construção poética do escritor jacobinense

Humberto Soares e Silva. Em 1969, em um poema épico, Humberto Soares e Silva, narrou

Page 31: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

em versos a história das origens de Jacobina. Será sobre este escrito acerca da gênese

histórica de Jacobina que nos debruçaremos. Dessa maneira, questionamos. Como foi

representada as origens da cidade no poema de Humberto Soares e Silva? Quais elementos

representativos e estratégias discursivas foram invocados na construção poética? Quais os

personagens e eventos foram considerados dignos de registro? Qual a imagem do passado

da cidade sobressai no texto? Neste sentido, esclarecemos inicialmente, que daremos maior

ênfase à análise interna do texto, examinaremos o poema buscando as noções e ideias mais

recorrentes na sua construção poética, atentando para os adjetivos, personagens e ações,

invenções históricas e descrições geográficas. A historiadora Sandra Jatahy Pesavento teve

como fonte primordial a literatura para analisar as transformações urbanas da cidade de

Porto Alegre no final do século XIX e início do XX. Sua reflexão baseou-se no

entendimento de que sobre a dimensão física das cidades, tantas vezes construídas e

reconstruídas em seus traçados e formas, se constrói um olhar literário, que passa a ser

conhecido na forma de texto. Sobre este material, que o historiador, com a sua bagagem

cultural e fundamentação teórica e metodológica, entrará em cena para examinar as visões

dos literatos sobre a cidade. Nesse sentido, o mito fundador em torno do nome do lugar e

origem da cidade, condensada e cristalizada no imaginário, parece-nos significativo para

analisar, ainda mais quando literatos e memorialistas reverberam em seus textos, a

construção de um “efeito de realidade”. A questão não é a veracidade das versões, mas o

potencial representativo e ideológico que em tais narrativas podem ser reveladoras. Na

leitura do passado da cidade, Humberto Soares e Silva, destacou a paisagem natural do

lugar. A cultura apareceu centrada na religião cristã e na obra dos colonos. No poema,

depois de destacar a beleza natural, emerge no cenário o colonizador, bandeirantes

bárbaros e missionários civilizadores. E os indígenas, apelando para seus impotentes

deuses. Porém, logo passam a colaborar com o processo colonizador (civilizador). Diante

das ações dos colonizadores, os indígenas são representados na narrativa como vitimas, são

passivos, não esboçarem reação, desenvolvem resistência ou negociação. Sua contribuição

para a cidade foi legar apenas o nome, simbolizado pela imagem criada, de passividade e

harmonia das relações estabelecidas entre colonos e indígenas.

Entre tinteiros e palanques: a trajetória intelectual e politica de Arnold Ferreira da

Silva (1912-1952)

Juliano Mota Campos

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

No presente estudo buscaremos compreender a partir da trajetória intelectual e política de

Arnold Ferreira Silva (1912-1952), o cenário sociocultural de Feira de Santana. Enquanto

problemática, buscamos analisar em que medida as produções intelectuais de Arnold Silva

possuíam relação com a política credenciando-o ao hall das figuras de prestígio tanto no

executivo (prefeito e intendente municipal) quanto no legislativo (vereador e presidente do

conselho municipal), mesmo em um período longo e de significativas transformações

sociais, econômicas e culturais para a população não apenas feirense, mas baiana e

brasileira. Utilizamos como fontes para o nosso estudo o Jornal Folha do Norte, periódico

de propriedade da sua família, folhetim em que predominaram suas produções (crônicas,

editoriais, colunas e notas judiciais), mas também o jornal Folha da Feira que destacava a

participação deste “autodidata” nos grêmios lítero-dramáticos enquanto escritor,

palestrante e ator, além de atas da sociedade “Montepio dos artistas Feirenses”, “Santa

Casa de Misericórdia” (na qual foi provedor), nos processos crimes, no qual atuou como

Page 32: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

rábula e nas poesias de seus conterrâneos. Acreditamos que esse conjunto de documentos

nos auxilie a traçar seus campos de atuação

SIMPÓSIO TEMÁTICO 08: ESTADO, INTELECTUAIS E LUTAS

SOCIAIS NO BRASIL DO SÉCULO XX E XXI.

Coordenadores: Prof. Diego Carvalho Corrêa e Profa. Tamires Assad Nery de Brito.

Sala: Sala Margens da Literatura – Prédio do Mestrado em

Crítica Cultural.

“Não há fronteiras para os que exploram, não deve haver para os que lutam”: o

Movimento Comerciários em Luta em Feira de Santana

André Luiz Bastos de Freitas

Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS

[email protected]

Identificado como oposição sindical da base dos trabalhadores do comércio de Feira de

Santana, o Movimento Comerciários em Luta ascendera em fins de 1986 na cidade,

apresentando-se como alternativa reivindicatória frente à perspectiva oficial da ação

sindical dos empregados do comércio, seus membros emergidos de segmentos de esquerda

como: partidos políticos, organismos pastorais da Igreja Católica e associações de

moradores trabalhavam na base da categoria dos comerciários, militantes passavam para o

movimento a perspectiva de construir um sindicalismo autônomo, democrático e livre do

controle do Estado e seus representantes.

Constituir uma análise em torno da perspectiva sindical disseminada pelo movimento e

seus referenciais que convergiam com o ideário de um sindicalismo reivindicatório e a

natureza histórica social que possibilitou esse desdobramento é em princípio objetivo dessa

pesquisa.

O Mercado é vai continuar sendo mesmo um mercado

Camila Ferreira de Souza

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS

[email protected]

Esta comunicação faz parte de uma pesquisa em desenvolvimento vinculado ao projeto de

iniciação cientifica PIBIC/FAPESB sobre o processo de institucionalização do trabalho

camelô e as alterações nas relações de trabalho através da criação Mercado de Arte Popular

de Feira de Santana. Nesse trabalho, em andamento, debruçamos no processo de

revitalização do Mercado de Arte Popular – MAP que foi é um espaços que teve sua

construção iniciada no governo de Colbert Martins 1978 no prédio que sediou desde 1915

até 1976 o Mercado Municipal, local que até então representava uma extensão da Feira

Livre. Nesse momento deu-se o espaço para um novo mercado, que se preocupava em

atender a população local com: atrações teatrais, restaurantes e também atrair turistas a

cidade até o momento em que este teve a fachada tombada pelo Instituto do Patrimônio

Artístico e Cultural da Bahia – IPAC em 1994. As discussões sobre a implantação do MAP

Page 33: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

permitem não somente pensar as discussões sobre patrimônio, mas também possibilita

pensar sobre os conflitos gerados, as alterações que as relações de trabalho sofreram, sobre

como os trabalhadores receberam e experimentaram esse espaço. Preocupa-se aqui

perceber dentro desse processo de institucionalização das relações de trabalho: os

interesses, as relações e os conflitos presentes no âmbito da construção deste espaço.

Analisamos que a construção de espaço como o Mercado de Arte Popular estando

associado a uma lógica de criação de dispositivos que impulsiona a assimilação pelo

Estado o trabalho considerado informal; iniciado pelo Projeto Cabana, com a transferência

do Mercado Municipal e a Feira Livre para o Centro de Abastecimento. Compreendemos o

Mercado de Arte Popular como aparelho urbano, ressalta-se que este altera o espaço e

delimita, normatiza também os sujeitos, contudo, a construção desses espaços a partir da

disciplina também tem a funcionalidade de tornar o espaço útil e tornar os sujeitos úteis.

Para pensar sobre o a construção do MAP e os conflitos por trás desta lançamos mão do

conceito de disciplina do filósofo francês Michael Foucault e o conceito de Estado do

pensador político Antonio Gramsci, junto também à historiografia Inglesa e os trabalhos já

produzidos sobre Feira de Santana.

Atuação e dimensão política da Associação Comunitária de Canta Galo (1988-2000)

Ludmilla Ramos Silva

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O presente trabalho justifica-se pela necessidade de trabalhar com as formas de

organizações comunitárias existentes no meio rural. A forma de organização coletiva é de

suma importância para a construção de uma cidadania ativa, na qual todos os sujeitos

tenham direitos e deveres respeitados perante a sociedade e aos órgãos públicos.

Por meio, do estudo das associações comunitárias é possível conhecer em partes a

pluralidade da história dos movimentos sociais, este, gestado pela participação popular

comunitária, uma vez que as estratégias capitalistas direta ou indiretamente, incentivaram

essa busca pelas reivindicações sociais, fomentando assim, as lutas de todos os cidadãos

que possuem interesses e valores comuns.

A ação da participação transforma os seres humanos em representantes de grupos, que

visam à conquista de direitos e deveres sociais entre os sujeitos e as instituições públicas.

Portanto, a participação se constrói na prática diária, na qual os indivíduos expressam suas

demandas, a respeito das questões sociais e praticam a cidadania uma vez que, esta, está

atrelada a participação dos cidadãos nas estruturas políticas e na busca por reconhecimento

dos seus direitos. Sobre essa questão, Posser nos diz que: “Os espaços públicos de reflexão

(associações) tornaram- se imprescindíveis para manter o comprimento dos direitos

conquistados”. (...). (POSSER, 2008, p.34).

Desse modo, meu objeto de estudo está embasado na construção da cidadania dentro da

ACC, bem como buscarei dentro dessa análise compreender o real entendimento que os

dirigentes e associados têm da organização, enquanto uma prática política e social sem

preferências partidárias. Ainda na procura por respostas convincentes para minha pesquisa

e meus leitores, analisarei as reivindicações escritas nas atas de reuniões, bem como sua

eficácia na concretização, diante da realidade, e além, dessas problemáticas investigarei a

relação entre a associação comunitária e a prática clientelista com a política local do

município. Diante dos argumentos supracitados, considero que no processo histórico das

lutas sociais brasileiras, as associações comunitárias vêm colaborando com um debate

político e social, tanto no que se refere às questões nacionais, como também em ocasiões

vividas cotidianamente pelos sujeitos envolvidos nas participações populares.

Page 34: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

“É um Deus nós Acuda”. Análise dos conflitos envolvendo o serviço de transporte

coletivo urbano de Feira de Santana (1977-1990)

Valter Zaqueu Santos da Silva

Graduado pela Universidade Federal de Alagoas - UFAL

[email protected]

Esta comunicação pretende expor alguns aspectos de uma pesquisa em desenvolvimento

no programa de pós-graduação em História da Universidade Federal de Alagoas (PPGH-

UFAL). Nesta analisamos as lutas ocorridas no processo organização do serviço de

transporte coletivo urbano de Feira de Santana entre os anos de 1977 e 1990. Este serviço

data da segunda metade do século XX, e entre as décadas de 1970 e 1980, chegou a possuir

7 empresas atuando nesse setor. Apesar da quantidade de empresas, o serviço estava sendo

organizado, e os grupos envolvidos nesse processo disputavam seus interesses e

concepções na definição do modelo de transporte coletivo para a cidade. Os empresários

do setor, organizados em uma associação patronal, buscavam dialogar com a população, e

não raras vezes eximiam-se das responsabilidades sobre as falhas apresentadas pelos

ônibus e funcionários. Os trabalhadores por sua vez, também se organizavam em

associações, e disputavam mudanças no serviço, suas ações eram marcadas por denuncias

nos meios de comunicação de massa e atos nas ruas da cidade. As disputas entre as classes

distintas eram mediadas, em alguns turnos, pela prefeitura local que apresentava-se como

elemento neutro e responsável por equilibrar os interesses destoantes, na prática,

funcionava como um instrumento a serviço da classe dominante local. Para tratar das

questões expostas acima, como os conflitos entre grupos sociais organizados e distintos,

como também da organização da classe trabalhadora feirense, afiliamo-nos ao legado

teórico do pensador italiano Antonio Gramsci e aos aportes teóricos da História Social

Inglesa, acreditamos que analisando o Estado em uma concepção ampliada tendo em vista

a totalidade das relações sociais poderemos compreender a lógica histórica por trás dos

fatos envolvendo as lutas por mobilidade e a exploração do transporte coletivo em Feira de

Santana.

Práticas curativas populares em Feira de Santana (1920-1940)

Sérgia Alexandre da Silva

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Esta proposta de comunicação tem por objetivo apresentar alguns aspectos referentes à

pesquisa que vem sendo desenvolvida durante a graduação em Licenciatura em História

pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Nesta pesquisa analisamos como

foram tratadas as alternativas terapêuticas não acadêmicas e seus agentes percebendo os

conflitos, disputas e aproximações existentes no ofício de cura e tratamento das pessoas

entre os anos de 1920 e 1940 em Feira de Santana. A escolha desse recorte temporal se

deu em virtude da concentração de fontes tanto jornalísticas como processos crimes, que

abordam questões relacionadas às práticas não oficiais de cura. A partir das publicações de

cartas e artigos de médicos nos jornais locais é possível perceber como a classe dominante

local disputava a opinião pública e buscava disseminar seu ideal de cura. Essas

publicações feitas em jornais locais por médicos nos apontam no sentido da existência de

uma disputa entre a medicina acadêmica e as práticas curativas que se faziam presentes, há

muito tempo, no seio da sociedade feirense especialmente entre os mais subalternizados.

Page 35: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Com intuito ainda de compreender de forma mais ampla nosso objeto de pesquisa

lançaremos mão de processos crimes que abordam questões referentes à nossa pesquisa

onde poderemos de certa forma, resgatar as vozes desses agentes não oficiais de cura.

Temos o intuito de resgatar as lutas travadas no cotidiano desses terapeutas populares,

compreendendo como se deu a atuação da classe dominante local na construção do ideal de

cura e tratamento das pessoas. Para tanto utilizaremos as contribuições teóricas de Antonio

Gramsci no sentido de entender o Estado enquanto um instrumento de poder em disputa

por vários sujeitos ou grupos.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 09: PRÁTICAS CULTURAIS NEGRAS E

SOCIABILIDADES NA TRANSIÇÃO ENTRE O IMÉRIO E A

REPÚBLICA: TRAJETÓRIAS E RESISTÊNCIAS NOS PÓS-

ABOLIÇÃO.

Coordenadores: Profa. Cristiane Batista da Silva Santos e Prof. Josivaldo Pires de Oliveira.

Sala: Sala 07 – Prédio Principal – Iº Andar.

Acontecimentos que envolveram o Brasil na criação

da Lei Eusébio de Queiroz em 1850

Antonio Marcos de Almeida Ribeiro

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

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O presente trabalho esboça uma análise dos acontecimentos que envolveram o Brasil na

criação da Lei Eusébio de Queiroz em 1850. A pretensão é dá uma visão panorâmica a

partir desse recorte histórico e sua abrangência na conjuntura socioeconômica dentro da

temática da escravidão. As pressões do lado da Inglaterra sobre o Brasil na primeira

metade do século XIX em relação ao tráfico negreiro, vão ser cruciais no desencadeamento

de ações e reações sobre áreas escravistas. A tradição do trabalho servil era forte e

conservadora indispensável para prosperidade do país, assim raciocinava as elites

escravagistas. Mas a nova ordem industrial afetaria decisivamente as suas relações a partir

de pressões externas. A Assembleia Geral em 1831 aprovou uma lei pela qual estabelecia

que os africanos que entrasse no Brasil a partir daquele ano seriam considerados livres. Os

proprietários rurais fingiram não ter conhecimento dela e o tráfico persistiu. As pessoas

comissionadas para fiscalizar e cumprir a lei fazia „vistas grossas‟ e compactuavam com a

Page 36: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

opinião dos latifundiários. Até mesmo navios apreendidos passavam por uma morosidade e

indiferença na aplicação da lei, no que diz respeito ás punições. A maior parte da sociedade

favorecia o tráfico e autoridades estavam criminalmente envolvidos impedidos de fazer

cumprir seu dever por cumplicidade, temor, ou pela vergonha da opinião pública. A

Inglaterra percebendo a resistência latifundiária começou a agir por conta própria adotando

a Lei Bill Aberdeen que autorizava a esquadra britânica a prender navios negreiros e julgar

tripulantes como piratas. Vemos assim, como o Império Inglês, impondo no cenário

socioeconômico mundial suas reivindicações. Toda essa complexidade é que estava no

entorno da criação da Lei Eusébio de Queiroz (1850).

Nas águas de Nanã: o Candomblé em Feira de Santana de 1890 a 1933

Gabriela do Nascimento Silva

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

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O presente trabalho pretende analisar o processo repressivo aos Candomblés na cidade de

Feira de Santana durante o período de 1889 a 1933. Estudos demonstram que no Brasil foi

recorrente a perseguição as religiosidades de matrizes africanas, e no município de Feira de

Santana e região encontramos trabalhos que apresentam em algum momento a ocorrência

de perseguições aos Terreiros de Candomblé.

Para compreender o Candomblé em Feira de Santana analisamos os conflitos entre a elite

feirense e os candomblecistas, percebendo como a cidade recebeu os ideais de urbanização

e modernidade e de que forma eles tiveram reflexo no Candomblé e nos indivíduos que o

representavam. Para tanto buscamos verificar quais foram os meios utilizados para reprimir

o Candomblé em Feira de Santana e quais eram os indivíduos que frequentavam os

Terreiros e promoveram resistências dessa religião no território brasileiro.

Através dos trabalhos produzidos sobre a cidade de Feira de Santana referentes ao período

delimitado, verificamos como era construído o novo ideal de sociedade, no qual existiam

os exemplos de cidadãos que apresentavam uma conduta que deveria servir de orientação

para o restante da população, para tal, utilizaremos trabalhos sobre a cidade produzidos por

diversos autores, como Clóvis Frederico Ramaiana Oliveira (2000) em „De empório a

princesa do sertão: utopias civilizadoras em Feira de Santana (1893-1937), Aldo Jose

Morais Silva com os trabalhos Terra de Sã natureza (1997) e Natureza Sã, Civilidade e Comércio em Feira de Santana (2000), entre outros.

Para trabalhar com a temática Candomblé utilizaremos trabalhos clássicos sobre o tema, a

exemplo de Roger Bastide, Edison Carneiro, e diversas obras produzidas na atualidade

como Julio Braga, Luis Nicolau Parés, Edmar Santos entre outros.

Na composição desta pesquisa utilizamos jornais, processos crimes, revistas e toda obra

que possa de forma direta ou indireta nos auxiliar a compor um panorama da situação do

Candomblé em Feira de Santana.

Os processos e notícias encontrados até então apresentam o Candomblé no mesmo patamar

de bruxarias e feitiçarias no qual as pessoas eram acusadas de curandeirismo e

charlatanismo. De um modo legal acusar de curandeirismo era um meio encontrado para

incriminar os candomblecistas, tendo em vista que a prática religiosa do Candomblé não

era mais considerada crime no período em questão.

A “enfermeira dos pobres”: saberes de cura, relação de poder e conflito na

experiência de uma líder carismática (Ruy Barbosa-Ba, 1938-1974)

Page 37: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Jéssica Silva de Castro

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

A presente pesquisa preocupa-se em perceber a partir da prática de cura exercida por Mãe

Jovina no município de Ruy Barbosa localizado na região da Chapada Diamantina no

período de1938 a 1974, ano de seu falecimento, como se deu a construção de sua figura

como uma líder carismática, e principalmente como que em torno da mesma se reverbera

relações conflitantes devido a não aceitação de tais práticas por uma camada da sociedade

rui-barbosense subsidiada no código penal de 1940 que condenava o curandeirismo,

perpassando pela política do coronelismo, e evidenciando a religiosidade como forma

propulsora das camadas populares.

Todavia, compreender tais práticas nos leva a pensar sobre o poder exercido pelo

simbolismo, segundo Lévi-Strauss a indução psicológica feita atinge a perturbação

fisiológica da(o) enferma(o), estando posto ali, nas palavras do mesmo um “combate

simulado”, do qual, se espera (acredita-se vir) a cura. Outros meios de cura podem ser

citados, usualmente receitar chás a base de ervas poderia ser motivo para levar alguém à

cadeia.

(...)“era a enfermeira do povo pobre, indo de casa nos bairros, fazendo partos, ia também

para as fazendas, e foi muito perseguida pelos coronéis da época, e também pelos

médicos, que achavam que ela fazia uso ilegal da medicina, pois segundo acusavam ela de

receitar as pessoas”(...). Esse pequeno trecho de um dos depoimentos recolhidos, nos

mostra a importante atuação de Mãe Jovina diante das camadas populares de Ruy Barbosa

e os entraves enfrentados por ela, não se trata apenas de escrever sobre uma “boa” mulher,

mas da tentativa de trazer para a historiografia a luta pela sobrevivência daqueles que não

eram resguardados pelo Estado Brasileiro.

A pesquisa que ainda se encontra no início já indica possíveis caminhos a serem trilhados,

caminhos esses que nos permitirá conhecer outras faces da narrativa sobre coronelismo,

práticas de curandeirismo e resistência no interior da Bahia.

Sociedade Protetora dos Desvalidos: mutualismo entre homens negros na capital

baiana (1874-1894)

Lucas Ribeiro Campos

Graduado em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

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A Sociedade Protetora dos Desvalidos é uma associação de socorros mútuos, constituída

por homens negros, com o objetivo de auxiliar seus associados em momentos de doença,

desemprego e ajudando as famílias destes em casos de morte. Congregava trabalhadores

livres como artífices, artistas, artesãos e operários, que enxergavam ali, além de um espaço

de promoção individual, uma oportunidade de proteção e garantia de um futuro melhor.

Sua atuação enquanto uma sociedade de auxílios mútuos estava inserida em um contexto

amplo de surgimento desse gênero de associações por todo o país, na segunda metade do

século XIX, consequência da falta de uma legislação trabalhista e previdenciária que

amparasse aqueles indivíduos. Este aumento de associações de socorros mútuos culminou,

em 22 de agosto de 1860, na aprovação por parte do poder central da lei nº 1.083, seguida

dos decretos nº 2.686 e 2.711, publicados respectivamente em 10 de novembro e 19 de

dezembro do mesmo ano. Estas leis estabeleceram regras que visavam controlar a prática

associativa no país, muitas vezes de forma arbitrária, sob o olhar atento do Conselho de

Estado. A presente comunicação pretende tratar dos sujeitos presentes naquela entidade,

Page 38: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

durante os anos tensos que precederam a abolição da escravidão, o fim do Império e os

primeiros anos da República. Iremos analisar como os membros dessa entidade, apesar de

marcados pelo estigma da cor, fizeram desse espaço um ambiente de defesa dos

trabalhadores inválidos e desempregados, assim como um lugar privilegiado de

sociabilidade e de promoção individual. Estes sujeitos tornaram aquele ambiente da

associação propício para estabelecer fortes redes clientelistas, entre grandes nomes da

política, lideranças de movimentos sociais e outras sociedades congêneres. Eram homens

que enxergavam naquele espaço uma oportunidade de ter voz e participação nas decisões

das sessões, dentro do que Sidney Chalhoub chama de “democracia interna”. Por fim, a

comunicação almeja demonstrar também como o estudo da Sociedade Protetora dos

Desvalidos é uma possibilidade de contribuição para consolidação das pesquisas no campo

da História Social e Política, fornecendo alternativas para a compreensão das

configurações no mundo do trabalho e das relações político-partidárias.

Cantando, recantando, analisando letras da musicas de Edson Gomes: na Bahia anos

80-90 Rosilene Ribeiro dos Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

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O historiador pode e deve ter a musica como uma fonte histórica importante para chega ao

conhecimento de fatos históricos. E para além a musica deve ser reconhecida como um

instrumento para o ensino da história. Dentro dessa perspectiva o presente trabalho tenta

fazer uma analise das letras do cantor e compositor Edson Gomes. Como fonte para a

construção desta pesquisa acadêmica.

A musica popular apresenta-se como fonte importante para pesquisa de fatos históricos

relevantes como conhecimento histórico das classes subalternas. Nessa pesquisa serão

avaliadas letras de Edson Gomes no período dos anos 80/90, que possam contribuir para o

reconhecimento de problemas enfrentados pela população marginalizada. Levando em

conta que nesse mesmo período a população de classe baixa brasileira enfrentava diversos

problemas de desigualdade social, preconceito racial e descriminação. Dentro dessa

probabilidade as letras musicais de Edson Gomes podem contribuir para descrever o

processo de dificuldades e lutas enfrentadas pela a população brasileira de classe baixa em

suma negra.

Toda gente sabe: verso e música são

as expressões de arte mais próximas do analfabeto.

Conjugados assumem um poder de comunicação

que fura a sensibilidade mais dura

(Antonio Alcântara Machado)

As canções têm facilidade de alcança os excluídos perante a sociedade e as mesmas

relatam a sua realidade social que os mesmo passam. As letras das musicais são uma fonte

que tem o poder de expor fatos pouco estudados pela história. Por esses motivos a musica

deve ser encarada como uma fonte importante para revela épocas desconhecida da historia

do Brasil.

“[...] a canção e a música popular poderiam ser encaradas como uma rica

fonte para compreender certas realidades da cultura popular e desvendar

a história de setores da sociedade pouco lembrados pela historiografia.”

(Moraes p. 204)

As escolhas dos ritmos e musica que é escolhida pra ser escutada em certa comunidade tem

muito haver com sua realidade cultural e social. Em forma de um desabafo e critica da

Page 39: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

situação que os rodeias. Além de a música ser uma composição de linguagens que expressa

o universo cultural e social que rodeia seu compósito.

Uma analise da musica popular é para além de se avalia somente a letras associadas a

descrições de problemas sociais se deve também fazer uma abordagem verbal. O que um

bom compósito faz muito bem proferir as normas verbais e as musicas compostas.

(NAPOLITANO, p.56)

As lavadeiras e a Fonte do Doutor: Trabalho e Renda. Cruz das Almas – 1920-1970

Vanucy Santos Garcia

Especialista, graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O presente trabalho é uma discussão sobre o espaço de socialização que se formou em

torno da Fonte do Doutor na cidade de Cruz das Almas-BA, que em decorrência da

ausência de água encanada, atraiu não somente aguadeiros, como lavadeiras, e demais

frequentadores que iam tomar banho. Nossa intenção é perceber através dos depoimentos –

aguadeiros, lavadeiras e demais frequentadores- os diversos significados que eram

atribuídos a este espaço.

Os depoimentos das lavadeiras nos permitem perceber o espaço de socialização que se

formou neste lugar e a inserção da mesma no espaço público, realizando trabalhos

desenvolvidos no âmbito doméstico, contribuindo com o orçamento familiar, quando não a

única fonte de renda. Como afirma Ecléa Bosi “O vínculo com a outra época, a

consciência de ter suportado, compreendido muita coisa, traz para o ancião alegria e uma

ocasião de mostrar sua competência”. A resistência em relação a água encanada, instalada

na cidade em 1970, nos mostra que a fonte não representava uma falta de opção, pelo

contrário era uma alternativa para interagir com os demais, o „lavar roupa‟ representava um

momento descontração.

Depois de ter batido as roupas, enxaguadas e torcidas eram estendidas ao sol sobre o mato

e só depois de secas e que era a hora de voltar para casa. “A notação de tempo que surge

neste contexto tem sido descrita como orientação das tarefas, no caso das lavadeiras a volta

para casa se dava quando as roupas estavam secas, e se a fome apertasse a “farofa” estava

pronta. A disciplina que algumas mulheres tinham durante a semana, era ignorada no

domingo, na fonte as barreiras entre trabalho e diversão eram quebradas.

Tais relações, que não deixam de ser conflituosas, nos fazem perceber os hábitos e

costumes de uma dada sociedade, o que contribui para compreensão da dinâmica social,

com suas rupturas e permanências. A pesquisa em questão, além de enriquecer o

conhecimento histórico sobre a cidade de Cruz das Almas, contribui significativamente

para ampliar a discussão sobre gênero, elegendo a mulher como objeto de estudo,

enriquecendo desta forma nossa historiografia de onde, como afirma Michele Perrot,

“muitas vezes foi excluída”. Possibilitando, segundo Raquel Soihet, uma analise como

seres ativos e vivos a fim de atingir seus propósitos.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 10: ESCRAVIDÃO E PÓS-ABOLIÇÃO NA

BAHIA.

Coordenadores: Profa. Iacy Mata Maia e Profa. Kátia Lorena Novais Almeida.

Sala: Sala 03 – Prédio de Educação Física.

Page 40: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Breve histórico sobre família escrava e sociabilidades na freguesia de

São José das Itapororocas, Feira de Santana (1785-1826)

Yves Samara Santana de Jesus

Graduada em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

No presente trabalho, realizo uma breve discussão sobre a família escrava na primeira

freguesia de Feira de Santana, São José das Itapororocas, no período de 1785-1826.

Enfatizo a importância dos laços familiares, no contexto escravista, a partir das análises

interpretativas feitas, inicialmente, nos livros de batismo e casamento de escravos. O

estudo sobre apadrinhamento de cativos busca redimensionar o foco da historicidade da

escravidão que tem privilegiado a capital e o Recôncavo Baiano. Nesta perspectiva, afirmo

a possibilidade de superação dos limites geográficos e conceituais da Historiografia da

Escravidão Baiana, no tocante às redes de sociabilidades criadas pelos escravizados/as e

assim contextualizo as formações familiares no território feirense. As problemáticas

levantadas na pesquisa abordam as escolhas afetivas dos escravizados/as: tendências

étnicas, a condição jurídica dos casais e como eram regidas essas relações, a intervenção

ou não dos senhores de escravos. Logo, as discussões sobre família escrava

contemporâneas visam desconstruir os olhares eurocêntricos que a caracterizam como

promíscua, inexistente e desestruturada. Os novos estudos sobre a formação dos lares

familiares reconfiguram os relatos dos viajantes que escreviam a partir de suas visões e

interesses em fazer uma imagem sobre determinado povo, etnia, país, porém, mantendo sua

posição de poder. Assim, os lares escravos eram representados por um olhar branco sobre

um lar negro, criando interpretações sobre a constituição familiar dos negro/as cativos/as.

A família escrava é caracterizada pelos múltiplos significados afetivos, emocionais e de

solidariedades para os escravizados/as. A solidariedade familiar estendia-se além dos laços

de sangue ou da chamada família nuclear, ou seja, a família, para o negro escravizado,

significava sobrevivência e resistência dentro e fora do cativeiro. Argumento que, conhecer

melhor a trajetória dos laços familiares feirenses, é preciso estender as linhas

interpretativas, na utilização de cruzamentos de fontes (batismo de escravos, casamentos

de escravos e livros de óbitos, inventários dos senhores de escravos e processos crimes)

para a possível (re) construção historiográfica da vida familiar cativa na primeira freguesia

Feira de Santana, São José das Itapororocas.

A formação da família escrava na vila de Alagoinhas: uma análise longitudinal

Aline Soraia Saraiva Nascimento

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB [email protected]

O lugar ocupado pela família escrava na historiografia da escravidão é fruto de uma nova

perspectiva e de uma quebra de paradigmas que questionou a ausência da família entre os

escravos e a promiscuidade sexual, visão predominante até a década de 1970. Dessa

forma, a formação da família escrava já não é novidade entre os estudiosos da escravidão

do Brasil. Contudo, ainda são poucos os estudos que analisam a família escrava de uma

perspectiva longitudinal, a exemplo de Robert Slenes, Cristiany Miranda e Jonis Freire. A

presente comunicação analisa a formação da família entre os escravos da família senhorial

Leal, proprietária do Engenho Ladeira Grande, localizado no povoado de Igreja Nova,

Page 41: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

município de Alagoinhas, na segunda metade do século XIX. Para a análise geracional da

família escrava formada na escravaria dos Leal, cruzamos informações obtidas em

inventário most mortem, assentos de casamentos e de batismos. Tentamos perceber até que

ponto a morte do senhor trazia impactos para a família escrava quando da partilha dos

bens. Os resultados parciais da pesquisa indicam a estabilidade da família escrava na

escravaria da família Leal. Dessa forma, o trabalho busca preencher parte da lacuna sobre a

história da escravidão em Alagoinhas, município que prosperou na segunda metade do

século XIX tanto com a construção da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco quanto

em relação ao número de engenhos.

Relações de compadrio entre escravos africanos

no povoado de Alagoinhas (1827-1850)

Janaína Laís Lima Silva Amorim

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB / Bolsista IC/ Fapesb

[email protected]

A historiografia tem destacado a importância do parentesco ritual para se compreender a

sociedade escravista no Brasil. Imposto pelos senhores, o batismo foi apropriado pelos

escravos como forma de tecer relações sociais na busca pela (re)construção de suas vidas

comunitárias e redes de solidariedade na diáspora. As pesquisas sobre as relações de

compadrio na sociedade escravista enfatizam, sobretudo, o batismo de crianças e as

relações estabelecidas por suas famílias. Poucos são os estudos que analisam o batismo de

escravos adultos, a exemplo de Stuart Schwartz sobre o compadrio em Santiago de Iguape

em 1835, zona açucareira do Recôncavo, onde a maioria dos padrinhos – tanto de filhos de

escravos quanto de africanos recém-desembarcados – tinham o mesmo estatuto social dos

escravizados. Nesta comunicação, reflito sobre as relações de compadrio de escravos

africanos adultos na freguesia de Santo Antônio das Alagoinhas na primeira metade do

século XIX. Procuro identificar as relações de apadrinhamento que emergem dos registros

de batismo dos escravos africanos ali batizados, isto é, havia correspondência entre o

estatuto social do batizando e do batizado? Compartilhavam a mesma origem étnica? O

padrão de compadrio de Alagoinhas assemelhava-se ao de Iguape? A pesquisa encontra-se

em andamento, contudo os resultados parciais sugerem que na freguesia de Alagoinhas a

maioria dos escravos adultos era batizada por seus companheiros de cativeiro. A execução

do trabalho é norteada pelos pressupostos da demografia histórica, com a formação de um

banco de dados a partir da identificação e análise quantitativa e qualitativa dos registros de

batismos.

Escravidão e identidade étnica na freguesia de

Santo Antônio das Alagoinhas (1827-1850)

Monalisa Pereira Matos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB /Bolsista IC/Fapesb

[email protected]

É inegável a importância do tráfico transatlântico para o crescimento da população cativa

no Brasil e a historiografia tem demonstrado que, a despeito da promulgação da Lei de 7

de novembro de 1831, esse comércio não cessou, tendo inclusive aumentando

significativamente nos anos que se seguiram à publicação da lei. Dessa forma, um grande

número de escravos africanos desembarcou no Brasil entre as décadas de 1820 e 1850. No

Brasil, esses africanos escravizados reorganizaram-se e reconstruíram laços familiares e de

amizade sendo o ritual do batismo parte importante da rede de sociabilidades que aqui

Page 42: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

teceram. Esta comunicação busca, por meio dos registros de batismo, compreender a

dinâmica da escravidão que se formou na povoação de Alagoinhas, área periférica situada

ao norte do Recôncavo. O período coberto pela pesquisa estende-se de 1827, ano em que

localizamos os primeiros registros de batismo – embora a freguesia de Santo Antônio das

Alagoinhas tenha sido criada em 1816 –, até o encerramento do tráfico atlântico em 1850.

Dessa forma, coincidindo com o período de ilegalidade do tráfico, a pesquisa destaca a

utilização da mão de obra escrava em uma área de economia periférica do Recôncavo,

onde a maioria dos senhores vivia do trabalho na agricultura, cultivando roças de milho e

mandioca, sendo que pouco se dedicaram à lavoura de cana-de-açúcar. Ademais, a

pesquisa, ainda em andamento, objetiva traçar o perfil demográfico dos escravos ali

residentes, isto é, origem, nação, cor e idade, a partir da análise dos registros de batismos

da referida freguesia. A análise preliminar dos livros de batismos, entre 1827 e 1830,

sugere que muitos senhores adquiriam escravos no porto de Salvador, sendo estes, em sua

maioria, nagôs, jejes e minas. Em linhas gerais, esse panorama étnico reflete a direção do

tráfico transatlântico para a Bahia.

Histórias de liberdade: manumissão e relações envoltas na prática de alforriar -

Freguesia de São José da Carinhanha (1800 – 1830)

Simony Oliveira Lima

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Evidenciar histórias de liberdade protagonizadas por escravos e forros que habitavam o

território pertencente à freguesia de São José da Carinhanha (1804-1834) é o principal

objetivo desse trabalho. Através de registros paroquiais e livros de notas de tabelionato,

emergem histórias de escravizados que conseguiram alcançar a alforria, bem como é

possível perceber nas entrelinhas das fontes históricas as relações envoltas na prática de

alforriar. Os estudos de pesquisadores que se debruçam na análise das manumissões

apontam para a importância dos laços familiares na negociação da alforria e nos processos

enfrentados por escravizados tendo como objetivo ganhar ou provar suas liberdades.

Assim, os livros de registro de batismo permitem reconstituir redes de parentesco e

sociabilidades importantes para a compreensão a respeito da concessão e conquista da

alforria pelos escravos. Perscrutar o funcionamento das atividades econômicas também é

essencial, pois através da análise da economia e da participação dos escravizados nesta,

podemos investigar as formas de acumulação do pecúlio, bem como outras possibilidades

de autonomia e de espaços de liberdade dentro do regime de escravidão. Dessa forma, faz-

se necessário tecer considerações a respeito das atividades econômicas desenvolvidas na

região no período que a pesquisa contempla.

Alforriados da Primeira Companhia das Lavras Diamantinas

Tarsiano Dantas Ribeiro

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Esta comunicação discute a alforria na vila de Santa Isabel do Paraguassú, atual Mucugê,

área diamantífera da província da Bahia, entre os anos de 1847 a 1870. A história das

Lavras Diamantinas e seu entorno remonta às primeiras pedras de diamante encontradas,

Page 43: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

em 1844, pelo coronel Cazuza do Prado, sendo a vila edificada em 1848. O boom

diamantífero atraiu um grande fluxo de pessoas oriundas tanto da província da Bahia,

quanto de Minas Gerais. Homens livres, libertos e escravos se lançaram na aventura do

diamante. Assim, a despeito do contexto de encerramento do tráfico de escravos em 1850,

a mão de obra predominante nas Lavras Diamantinas foi a escrava. A historiografia

demonstra que a região caracterizou-se pela pequena posse em escravos, sendo que os

estudos mais recentes sobre a alforria argumentam que este foi um fenômeno largamente

praticado por este tipo de proprietário. O objetivo desta pesquisa é analisar as cartas de

alforria registradas em Livros de notas do Tabelionato, depositados no Arquivo Municipal

de Mucugê. Quero compreender os caminhos percorridos pelos escravos daquela região

diamantífera a fim de perceber suas peculiaridades em relação a outras regiões da

província da Bahia. Destaco, em especial, as alforrias outorgadas pela Primeira

Companhia de Mineração Diamantino, instalada na região em 1º de fevereiro de 1848.

Quem eram os escravos alforriados pela companhia de mineração? Que tipo de alforria a

companhia outorgou? Qual a particularidade dessa alforria em relação às demais? Aqui,

objetiva-se refletir sobre como o trabalho em uma companhia de diamante teria ampliado

ou não as possibilidades de alforria para os escravos das Lavras Diamantinas.

Fidalgos, escravos e o Fundo de Emancipação na Feira de Santana (1871-1888)

José Luiz Brito dos Santos

Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

O presente estudo visa discutir algumas características do regime escravagista no Agreste

baiano entre os anos de 1871 e 1888, dando ênfase à presença da Lei N° 2.040 de setembro

de 1871, denominada de Lei Rio Branco ou “Ventre Livre”. Observa-se a presença desta

Lei, em especial do seu artigo 3° - denominado de Fundo de Emancipação de Escravos do

Império - com intuito de compreender alguns de seus desdobramentos na Cidade de Feira

de Santana. O “Fundo de Emancipação” representou um instrumento libertador, criado

pelo Governo Imperial, que teve a incumbência de promover a compra de alforrias de

cativos com recursos arrecadados pelo Estado. Tais medidas teriam por objetivo fomentar

a supressão gradual e “segura” do trabalho compulsório no país colocando a tarefa da

emancipação nas mãos da classe dirigente. Para além dessa avaliação, buscaremos discutir

algumas interpretações e ausências tecidas pela historiografia da cidade de Feira de

Santana que discorreu acerca das relações escravagistas na região, bem como, dos dados

apresentados pela documentação que apontam a presença de destaque da cidade dentro do

quadro de distribuição de recursos destinados ao instrumento libertador na Província da

Bahia. Esses dados demonstram que no quadro geral das distribuições de recursos

direcionados à emancipação de escravos na Província, entre os anos de 1876 e1887, a

posição da cidade figurou com expressividade – estando entre as a quatro cidades mais

beneficiadas - no que toca à quantidade de cativos e famílias escravas libertadas. Esses

elementos nos levam a dialogar com alguns trabalhos recentes da História Social da

Escravidão no Brasil, que passaram a problematizar o cenário jurídico e o Direito como um

campo fecundo de recepção das demandas e expectativas de alguns cativos. Buscaremos,

assim, compreender que o fundo de Emancipação pode ter representado um campo de

possibilidade efetiva de libertação para alguns escravos e famílias cativas no agreste baiano

nos últimos anos de vigência da escravidão.

Perspectivas de liberdade em Riachão do Jacuípe

Page 44: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Eliete Ferreira Mota

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

[email protected]

O presente trabalho tem como objetivo investigar as percepções de liberdade vislumbradas

pelos escravizados ressaltando as ações dos sujeitos como agentes ativos neste processo em

Riachão do Jacuípe, situada no sertão do tócos na Bahia, entre 1851-1888. Este estudo faz

parte da pesquisa histórica que vem sendo desenvolvida há quatro semestres,

especificamente do segundo capítulo da monografia ainda não apresentada. Para o estudo

proposto, analiso documentos cartoriais encontrados no Fórum Desembargador Aberlard

Rodrigues de Riachão, como: inventários post-mortem, cartas de alforria, um contrato de

serviço e um processo de arbitramento. Através da leitura e catalogação dessas fontes,

encontrei 23 cativos alforriados dentre os 80 inventários analisados e 33 cartas de alforrias.

Com esta metodologia, percebi as perspectivas de liberdade apontadas pelas trajetórias dos

sujeitos rumo à liberdade, por exemplo, como podia acumular o pecúlio ou negociar a

própria alforria, pois foi identificado um caso em que a escrava chamada Maria parcelou o

valor da alforria e outro caso, no qual o seu filho, Manoel, após cumprir sua tarefa diária,

obteve quantia significante prestando serviços de ferreiro a sua proprietária, assim pôde

comprar sua liberdade e quem sabe começar uma nova vida junto com sua mãe. No

documento nomeado como contrato de serviço e processo de arbitramento, emergem

outros projetos de liberdade que evidenciam o protagonismo da população cativa na

emancipação do cativeiro. As discussões pertinentes propostas neste trabalho têm como

principais referências: Sidney Chalhoub (1990 e 2003), Maria Helena Machado (1988),

Elciene Azevedo (2010), Eduardo Silva (1989), Kátia Mattoso (1988), Stuart B. Schwartz

(2001) João José Reis (1989), Walter fraga Filho (2006), Elizangela Ferreira (2008), Maria

de Fátima Novaes Pires (2009), Kátia Lorena de Almeida (2006), Wellington Castellucci

Junior (2008), Ana Paula Trabuco Lacerda (2008), Edimária Lima Oliveira Souza (2012),

Joana Medrado (2012), Marinélia Silva (2009), Franco Santos Alves da Silva (2010).

Portanto, ao estudar as perspectivas de liberdade observadas nas fontes em Riachão, busco

descortinar os sujeitos e suas ações em virtude de um bem comum, a liberdade.

Vestígios de vidas: escravidão e liberdade em Conceição do Coité (1870-1930)

Edimária Lima Oliveira Souza

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia

[email protected]

O estudo da escravidão no Brasil, durante muito tempo, foi embasado em análises que

enxergavam os escravos como passivos, que ora eram vistos como vítimas de um sistema

opressor e ora, como rebeldes, que ameaçavam a ordem de uma sociedade patriarcal. Os

novos olhares sobre o tema escravidão têm possibilitado nos últimos anos uma variedade

de estudos, enfoques e uma bibliografia rica tratando desta temática nas diferentes regiões

do Brasil. Dessa forma, sujeitos que antes eram analisados como passivos ganharam voz e

passaram a ser vistos como ativos que usavam as ações do cotidiano como meio de luta,

resistência às imposições senhoriais e ao próprio sistema (REIS; SILVA, 1989). Esse

aumento nos estudos sobre a escravidão e a nova perspectiva de olhares aos cativos forçou

uma revisão historiográfica que se alargou ao problema do pós-abolição. Assim, as

experiências dos cativos e libertos, suas aspirações, suas atitudes no que tange aos seus

projetos pessoais e ao processo emancipacionista suscitou um novo contexto social

(MATTOS, RIOS, 2005). Os escravos que saíam da escravidão foram analisados neste

Page 45: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

processo como sujeitos autônomos, que agiam sobre sua história tomando decisões e

pondo seus projetos pessoais e familiares em prática. Assim, é necessário conhecer e

problematizar as escolhas e estratégias dos cativos no período escravagista, suas ações para

a conquista da liberdade e da formação de famílias e o desdobramento de tais decisões no

pós-abolição. Suas estratégias para ter acesso a terra e suas redes de sociabilidade também

serão analisadas como o fez também o autor Walter Fraga (2006). A análise será feita a

partir de documentos escritos e entrevistas orais. Dessa forma, se faz necessário afirmar

que os cativos da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité agiam como sujeitos

atuantes para a conquista da alforria, na maioria dos casos, comprando-as provavelmente

com o pecúlio que conseguiam acumular ao longo da vida e suas aspirações de liberdade

alcançavam toda a família constituída por cônjuges e filhos. Um exemplo é o da escrava

Martinha, que por cerca de oito anos empenhou-se na compra de seus irmãos, que eram

cativos, a partir da renda obtida com as vendas de cereais produzidos nas terras que

recebeu de seu marido, Manoel Cedraz, homem branco, proprietário de terras e dono de

escravos.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 11: HISTÓRIA, POLÍTICA E MEMÓRIA

NA BAHIA DO SÉCULO XX.

Coordenadores: Prof. Raimundo Nonato Pereira Moreira e Prof. Thiago Machado de Lima.

Sala: Setor de Multimídia – Prédio do Mestrado em Crítica

Cultural.

A diversidade cultural nas salas de aulas

Marta Maria Guimarães Alves de Lima

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Diego Freitas Leite de Almeida

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

O artigo em questão busca levantar a questão da diversidade cultural existente nas salas de

aulas, enfatizando a necessidade de que os professores, quando em exercício da profissão,

utilizem tais ferramentas para que as aulas e os conteúdos sejam ministrados de forma a

contemplar a maior parte do alunado. O currículo escolar proposto não leva em

consideração o multiculturalismo, na verdade, ele tende a homogeneizar os

comportamentos e reações dos estudantes. É necessário que os conceitos, conhecimentos e

elementos da vida dos alunos, sejam utilizados para que as aulas e metodologias sejam

pensadas e mudadas para melhor, para que, assim, os assuntos e conteúdos propostos

tenham maior abrangência entre o público em questão. Em suma, a importância do

multiculturalismo é destacada, ressaltando a importância dos aspectos culturais que

existem desde a formação da nação brasileira e que são expressados, pelos alunos, por

meio dos escritos nas paredes, das musicalidades, das falas e hábitos nos espaços escolares.

Essas expressões são observadas e analisadas, levando a resultados positivos sobre a

temática apresentada.

Civilismo e política na Primeira República: a Bahia na Batalha eleitoral de 1910

Page 46: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

(1909-1910)

Willian de Souza Januário

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

RESUMO: A comunicação tem como objetivo principal debater a Campanha Civilista de

1910 tendo como lugar de análise a Bahia da Primeira República. Nesse sentido, temos

dois objetivos sendo o primeiro o de analisar como estava a Bahia nas primeiras décadas

do período republicano, apresentando questões políticas importantes para o estado que

foram capazes de mexer com antigas alianças entre políticos e também entender questões

sociais que tiveram relevância para o período, como revoltas populares e representação

popular em meio as eleições de 1910. O segundo objetivo é o de apresentar a as eleições

civilistas na Bahia, destacando como essa campanha foi capaz de fazer rearranjos entre as

autoridades e mover o “tabuleiro do poder” baiano criando um quadro politico bastante

alterado. Essas eleições que se iniciaram em agosto de 1909 e findaram-se em 1910,

produziu fontes interessantes e que serão problematizadas na comunicação para o

entendimento dos objetivos indicados, são elas as charges, os jornais e as correspondências

entre autoridades que mostram o clima bastante acirrado na politica baiana. Nesse sentido,

a pesquisa é relevante por contribuir com o debate em torno da História Regional e Local

apresentando um tema pouco estudado entre os pesquisadores baianos. Pesquisa que tem

como objetivo maior a análise da representação da figura do “povo” dentro da batalha

eleitoral de 1910, que para parte da historiografia da República (José Maria Bello, Edgar

Carone, Consuelo Novais Sampaio, dentre outros) é um marco por mobilizar significativo

número de pessoas às ruas e a mexer com ânimos da população.

De “vila” a cidade: a emancipação política do distrito de Anguera (1950-1963)

Bruno Mendes Góes

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Esta proposta de comunicação é parte integrante da pesquisa ora realizada por mim no

Programa de Pós-Graduação em História da UEFS. Especificamente tal comunicação

resume os resultados do capítulo 2º da dissertação de mestrado. O objeto de estudo deste

capítulo é a análise do processo emancipatório do atual município de Anguera, na época

distrito do município de Feira de Santana. Dada as facilidades legais propugnadas pela

Constituição Federal de 1946 e por legislação estadual, entre os anos de 1958 e 1964

ocorreu um verdadeiro boom na criação de municípios no estado da Bahia, fenômeno

também visível a nível nacional. O distrito de Anguera emancipou-se no ano de 1961, e

utilizamos como fio condutor de análise as seguintes problemáticas: quais foram os agentes

históricos que participaram do processo? Quais suas estratégias e o que realmente estava

em jogo quando se pensou em emancipar o distrito de Anguera? Visando responder tais

questões, o esforço teórico-metodológico da pesquisa lançou mão de uma ampla análise

documental, especialmente os relatos orais de sujeitos que vivenciaram o evento. A partir

da contribuição do pensador social Maurice Halbwachs, notadamente seu conceito de

“sociedade de consciência”, pudemos atestar que, mesmo os depoentes falando de um

mesmo acontecimento, as clivagens na narrativa demostram que a memória política dos

entrevistados acabam experimentando o mesmo ocorrido de forma diferente. Contudo, o

grupo político pertencente a família Vieira, cujo chefe era o vereador Artur Vieira de

Oliveira (UDN), que aparece na história oficial do município de Anguera como o “

Page 47: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

baluarte da emancipação”, goza de uma verdadeira memória hegemônica no tocante a

emancipação. Tal constatação foi confirmada pela pesquisa, e demonstra como os grupos

políticos locais conseguiram se articular com forças políticas estaduais, havendo assim

uma verdadeira simbiose no tocante aos ganhos políticos-eleitorais e simbólicos.

Garimpos, conflitos e poder em Brejinho das Ametistas

(Alto Sertão da Bahia, 1900-1950)

Carla Graciela Chaves de Castro Cotrim

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus VI

[email protected]

Esta pesquisa aborda os conflitos e relações de poder nos garimpos de Brejinho das

Ametistas, durante a primeira metade do século XX. O estudo direciona-se principalmente

para atuação de imigrantes alemães no comércio de ametistas no referido local. Nesse

sentido, analisa a relação de tais alemães com o coronel Deocleciano Pires Teixeira (pai de

Anísio Teixeira), durante a formação do garimpo, estendendo-se aos conflitos ocorridos na

década de 1940, quando Nelson Spínola Teixeira (filho deste coronel) se torna portador de

um decreto de pesquisa e de lavra de uma extensa faixa de garimpos de Brejinho das

Ametistas, gerando intensas agitações em toda região. Tais conflitos envolvem,

principalmente, o alemão Kurt Walter Dreher que esteve à frente da firma mineradora

alemã no período. As fontes pesquisadas, sobretudo processos cíveis e inventários,

evidenciam construção de um discurso nacionalista e estereotipado contrário à presença

dos alemães no Brasil, objetivando a monopolização da atividade mineradora, no contexto

da II Guerra Mundial. Para isso, tivemos como principais referências os trabalhos de Silva

(2007), Jesus (2005), Sanches (2008) e Guimarães Neto (1996).

De repente a igreja invadida: perseguição politica e prisão nas Comunidades Eclesiais

de Base de Serra Preta (1975-1985)

Rodrigo Santana Oliveira

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

INTRODUÇÃO:

Este resumo tem por objetivo apresentar o nosso projeto de pesquisa do curso de graduação

em história que versa sobre analisar a memória das experiências e trajetória das

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) de Serra Preta buscando relacionar as restrições

políticas que aconteceram nestas comunidades com as que foram impostas com a Ditadura

Militar no Brasil. Para tanto, estas restrições políticas são a invasão da igreja Santo

Antônio da comunidade do Bravo e a prisão arbitraria de Dr. Milton Penna Oliveira na

comunidade da sede, por conta de um conflito político local envolvendo o prefeito da

cidade, frei Theo Engels e o medico Dr. Milton Penna Oliveira.

PROBLEMÁTICA:

Buscar analisar qual a memória que se tem das experiências e trajetória das Comunidades

Eclesiais de Base (CEBs) de Serra Preta buscando relacionar as restrições polít icas que

aconteceram nestas comunidades com as que foram impostas com a Ditadura Militar.

REFERENCIAL TEORICO:

Consideramos importante para relacionar as restrições políticas que aconteceram nas CEBs

em Serra Preta o uso da nova história política por entendermos que as CEBs também

fazem parte dessas novas abordagens historiográficas proposta pela Nova História Política.

Page 48: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Onde de acordo com a obrar de René Rémond: Por Uma Historia Política (2003), fica

nítido que dentro das novas possibilidades de investigação do campo político, a atuação de

grupos religiosos e movimentos como o das CEBs, ganharem destaques, se tornando

indispensável para novos estudos. Para, além da noção de poder da Nova História Política

ela também passou abrir um espaço correspondente para uma “História vista de Baixo”,

sendo esta uma abordagem alternativa que utilizaremos por meio da história oral como

forma de descrever a memória das experiências e trajetória do movimento das CEBs. Para

além das fontes orais utilizaremos também fontes periódicas da época, uma carta que a

comunidade do Bravo encaminhou ao Papa no período e os documentos oficiais da Igreja.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 12: GÊNERO, HISTÓRIA E

IDENTIDADE.

Coordenadores: Prof. Luiz Alberto da Silva Lima e Profa. Maria Aparecida Prazeres

Sanches.

Sala: Sala 04 – Prédio de Educação Física

Memórias sobre uma nação: a escrita feminina e a construção de uma identidade

nacional nos primórdios do século XX

Márcia Maria da Silva Barreiros

Doutora em História PUC/SP e professora da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

O estudo analisa a construção da memória histórica na autoria feminina baiana da primeira

década do século XX. A partir de um romance de fundação nacional intitulado Helena a

escritora Anna Ribeiro Góes de Bittencourt (1843-1930) elabora um discurso relacionado à

história da Bahia e à memória da sua terra. Numa clara evidência de uma escrita

subjetivada, a referida autora, considerada como a primeira ficcionista do Estado, constrói

enredos onde se entrelaçam história de vida, memória familiar/biográfica e episódios/fatos

históricos. Com uso de estratégias narrativas inerentes aos romances nacionais e históricos

latinos-americanos, a escritora rememora, reelabora e ressignifica aspectos sociais e

culturais de um passado-presente. Em Helena (1901), publicado em forma de folhetim no

periódico A Bahia, que circulava no contexto em estudo, encontra-se uma produção

literária que persegue o filão documentário da terra derivada do modelo romântico. No

entanto, no romance, há uma evidente preocupação da autora em problematizar as

discussões acerca da fundação da nação brasileira, recuperando emblematicamente o mito

da Independência Baiana e a data cívica do 2 de Julho, em um referendo explícito à

memória histórica do estado. A escritora de larga experiência intelectual registrou uma

memória coletiva acerca das relações entre os sexos no contexto em que vivia e, mais do

que isto, produziu um discurso político sobre o seu país, a sua nação, nos tempos pretéritos

de constituição e consolidação de uma “identidade nacional”. A narrativa Helena se

enquadra no tipo de romance épico caracterizado por tramas patrióticas comuns às ficções

Page 49: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

que emergiram a partir do século dezenove na América Latina. Na pesquisa, utilizamos

como fontes históricas o romance Helena e os impressos do período e, como referência

metodológica, os princípios da história cultural, dos estudos sobre as relações de gênero e

da crítica literária feminina.

Nem Normalistas, nem freiras! Professoras paroquiais na região de Jacobina entre os

anos 1940 e 1970

Gilmara Ferreira Oliveira Pinheiro

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

Professora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XIII

[email protected]

A vinda dos Cistercienses para o Brasil durante o século XX atendeu a necessidade de

reestruturação interna da Congregação e aos interesses da Sé Romana de expansão do

cristianismo em países fora da Europa. Para isso, a comum observância que, até o Capítulo

Geral de 1925, mantivera a solidão do claustro como princípio de elevação da alma e

obediência à regra de São Bento tivera que se abrir à possibilidade de convivência com a

comunidade externa, desde que seus monges não perdessem o espírito da observância. Essa

abertura possibilitou a vinda e transferência da abadia de Schlierbach para Jequitibá,

Estado da Bahia, a partir do ano de 1938 e a fixação do monge cisterciense Alfredo

Haasler como vigário da paróquia de Santo Antônio da Jacobina. Em 1939, fundou a

Associação das Escolas Paroquiais de Jacobina e entre as décadas de 1940 e 1970, criou 48

escolas que, espalhadas pela extensão da paróquia, se destinaram a educação elementar

para crianças e jovens dos sertões jacobinenses. As professoras paroquiais eram jovens

adolescentes, entre 15 e 17 anos, que haviam recém concluído o quarto ano primário e por

se destacarem em seus estudos, eram convidadas pelo padre Alfredo a fazer parte do grupo

de professoras da Associação das Escolas. Estas deveriam servir de modelo moral para seu

alunado e, ao exercerem seu papel de professora, aproximavam-se muitas vezes da

representação religiosa de freiras ainda que sem Hábito. Ao irem trabalhar fora da cidade

em que residiam, estas jovens estariam expostas ao julgamento público. Ao aceitar fazer

parte do quadro docente da Escola Paroquial, a professora estava submetida à regra

cisterciense da retidão moral, que para muitas, custou-lhes o casamento. Ao serem

“enviadas” para localidades distantes de seus lares, sem direito de escolhas, essas

professoras passavam a ter nas Escolas Paroquiais a sua família, e em padre Alfredo, o seu

pai, assim como os monges de Cister que pela observância dos conselhos evangélicos da

Ordem, deveriam “renunciar as alegrias do lar, o direito de possuir bem e ao gozo de sua

liberdade”. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo discutir os princípios da

regra Cisterciense aplicados às professoras paroquiais de Jacobina pelo Padre Haasler.

Aprendendo a “ser mulher”: a prática educativa do Colégio Santíssimo Sacramento,

em Alagoinhas (BA) entre as décadas de 1940-1960

Leonice Lima Mançur Lins

Doutora em Educação pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Professora da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Essa comunicação busca discutir a proposta educacional do Colégio Santíssimo

Sacramento (C.SS.S.), colégio de orientação católica, sediado na cidade de Alagoinhas

(BA), que tinha a educação da juventude feminina da elite local e regional como principal

alvo, no período de 1940 a 1960. Procura-se resgatar, além da história da instituição

Page 50: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

escolar em si, aspectos históricos da formação recebida por suas alunas, mostrando de que

forma os princípios pedagógicos, os valores e as normas morais e religiosas contribuíram

na constituição do “ser feminino”, isto é, como através da educação recebida as alunas

construíam sua identidade de gênero e se colocavam no mundo tendo como parâmetro o

seu sexo. O estudo está fundamentado em uma abordagem essencialmente qualitativa,

assentado nos princípios teórico-metodológicos da pesquisa histórica, conforme proposta

da Nova História. Para a realização do estudo utilizamos fontes escritas, como o

Regimento Interno do colégio da época por nós estudada; livros de atas e de registro de

atividades, dentro outras; fizemos também uso da de entrevistas semiestruturadas com ex-

alunas do colégio, que mostram-se bastante significativa para o desenvolvimento do nosso

trabalho. A pesquisa nos leva a inferir que o processo de modelagem das alunas a uma

identidade de gênero baseada em padrões morais e cristãos não ocorreu de forma isolada, o

mesmo se coadunava com uma efetiva ação pedagógica da instituição para com a

comunidade na qual estava inserida. Os mecanismos utilizados pelo C.SS.S. para que isto

acontecesse ia desde o controle das normas de conduta para as alunas fora do espaço

escolar, se estendendo às atividades e festividades que envolviam toda a comunidade. Daí

podermos afirmar que a atuação pedagógica do C.SS.S. era bem mais ampla do que a

prática educativa escolar; essa modelagem se estendia para além da formação das suas

alunas, que deviam agir dentro do que socialmente tinham aprendido e do que delas era

esperado; em certa medida poderíamos falar numa “pedagogia para toda a comunidade”. A

instituição cumpliciava com parte da comunidade alagoinhense, cultivando, fortalecendo e

modelando as identidades de gênero e social estabelecidas; colocando como parâmetro e

modelo a ser seguido a família cristã/católica.

A participação da mulher na política no município de Amélia Rodrigues

(décadas de 1970 e 1980)

Brena Oliveira Pinto

Graduanda da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

O presente trabalho visa contribuir para a construção da História das Mulheres, uma vez

que tem como objeto de pesquisa as mulheres que participaram da política em Amélia

Rodrigues, município localizado no Recôncavo Baiano, no período entre as décadas de

1970 a 1980. Perceber as motivações que levaram essas mulheres a participarem da

política nesse período é a problemática contida nesta pesquisa, e, a partir daí analisar qual

o caráter dessa representação e quais as pautas defendidas por elas. O trabalho lança mão

do debate travado por Michelle Perrot, em que aborda o espaço público como

historicamente negado para as mulheres. No Brasil, algumas autoras, como Rachel Soihet e

Céli Regina Pinto contribuem para ampliar a visão da gradativa ocupação da mulher nos

espaços públicos, sobretudo as mulheres de elite, que através da reivindicação do direito ao

voto conquistaram importantes espaços, antes negado às mulheres, como os mandatos

eletivos e os cargos institucionais. A partir daí, podemos analisar como se dá a participação

das mulheres no universo da política. Este trabalho se dedica à pesquisa da mulher no

município de Amélia Rodrigues, a partir da década de 70, quando são eleitas as duas

primeiras mulheres para o Legislativo, e vai até a década de 80, período de

redemocratização política no Brasil. O objetivo é verificar as características dessas

representações, uma vez que se observa a partir das entrevistas e discursos que essas

vereadoras não defendiam as pautas históricas dos movimentos feministas a nível nacional.

Contudo, não se pode negar que a própria participação dessas mulheres já representa em si

Page 51: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

um importante avanço, já que se garantia a inserção desse grupo ao historicamente negado

espaço público.

Militâncias políticas de esquerda e identidades de gênero: sobre o equívoco da

homogeneização

Iracélli da Cruz Alves

Mestranda pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Coautor: Débora Ataíde Reis

Mestranda em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Os estudos baseados na categoria gênero permitem descortinar o caráter social e cultural

das distinções baseadas no sexo, enfatizando que as assimetrias e hierarquias nas relações

entre mulheres e homens são baseadas em relações de poder. Partindo desta perspectiva,

pretendemos analisar experiências de duas diferentes “frações geracionais” de mulheres

militantes de esquerda, entre as décadas de 40 e 70, com o objetivo de compreender o jogo

de conformações e subversões das suas identidades em relação aos modelos de gênero

socialmente instituídos, considerando os diferentes contextos de práticas políticas que

exigiam das/dos militantes uma adequação a determinadas lógicas de comportamento. Em

consonância com Joan Scott (1995), entendemos gênero como uma construção social

referente à relação entre os sexos que é perpassado pelas mudanças e permanências

características da história, o que o caracteriza como uma categoria “vazia” e

“transbordante” que, de acordo com os diferentes contextos, atende e/o ou subverte as

expectativas sociais baseadas em conceitos normativos que buscam moldar as identidades

dos indivíduos. A partir disto, buscaremos, através da historicização destas experiências,

entender como as militantes se apropriaram das identidades de gênero, o que nos permite

desconstruir estereótipos que frequentemente masculinizam as militantes de esquerda, em

sua totalidade. Portanto, a utilização do gênero (e de suas implicações) como categoria de

análise é de importância fundamental para demonstrar que, para além de modelos

universalizados, as mulheres são sujeitos políticos legítimos, com especificidades

existenciais e conteúdos políticos. Sendo assim, este trabalho, de história das mulheres

remete à importância de um olhar que aponte uma multiplicidade de experiências

femininas, atendendo à necessidade de um fazer historiográfico feminista que não incorra

no erro de homogeneização.

O advento da televisão e a mudança nos hábitos e comportamentos das pessoas em

Itaberaba (1950-1970)

Joel Bastos Alves

Graduando em História Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O presente trabalho tem como objetivo analisar as mudanças de hábitos e comportamentos

no cotidiano das pessoas com a chegada da televisão no município de Itaberaba, durante o

período de 1950 e 1970, pois se entende que a televisão trouxe uma nova forma de lazer e

entretenimento áudio visual que permitiu modificações nas relações sociais. Para isso, a

pesquisa busca compreender dentro desse período estudado, a história da televisão no

mundo, tendo sua origem nos Estados Unidos, em seguida irá relatar sua chegada no Brasil

e enfim sua implementação no Município de Itaberaba. A problemática principal da

pesquisa questiona como a chegada da televisão modificou os hábitos da vida cotidiana das

Page 52: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

pessoas no município de Itaberaba durante o período compreendido. É sabido que, o rádio

o cinema eram os grandes meios de informação e entretenimento no período precedente a

televisão. A chegada da televisão no Brasil trouxe significativas mudanças no que tange as

mudanças de comportamentos, hábitos e costumes.

Nesse processo de transformações citadinas observadas na cidade de Itaberaba, os

melhoramentos se deram em função da expansão desta, ocasionada pela recepção de novos

moradores. Sendo assim, experimentou-se uma expansão urbana e, por isso, o poder

público municipal pensou na introdução de vários melhoramentos para possibilitar o

progresso da urbe e a TV está escrita nessa ordem.

No período de 1950 a 1970, os números de domicílios que possuíam aparelhos de televisão

eram ainda bastante reduzidos, pois, as primeiras pessoas a possuírem um aparelho

televisivo eram oriundas de classes com maior poder aquisitivo, restringindo assim o seu

acesso. No entanto, os crescimentos das emissoras comerciais nas décadas de 50 e 60 irão

crescer, concedendo empréstimos por meio dos bancos públicos considerando que os

investimentos para o aparelho foram aumentados a partir de 1964-1985, durante o regime

da Ditadura Militar, sob a forma de instalação de infra-estrutura para aumentar o alcance

da televisão no país, e divulgação de propaganda e ideologia do governo vigente.

Investigar por meio de entrevistas foi um dos métodos escolhidos, pois será de

fundamental importância para alcançar bons resultados na pesquisa. A relevância desta

pesquisa reside no estudo de um tema cujo registro servirá de base para questões no âmbito

da História Social ou do período e espaço aqui estudado, para tanto a pesquisa visa também

contribuir como fonte para a história do município e futuros pesquisadores.

Acredito que com o advento da televisão no Brasil, demarcou espaços, tempo, estilos de

vida e relações sociais, desconfigurando, portanto o cotidiano e, por conseguinte na

sociedade.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 13: NAS TEIAS DA INQUISIÇÃO:

EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA HISTÓRICA.

Coordenadores: Profa. Elisangela Oliveira Ferreira e Prof. Felipe Augusto Barreto Rangel.

Sala: Sala Clarice Lispector – Prédio do Mestrado em Crítica

Cultural.

Sodomitas “de cor” e Inquisição na Bahia no século XVII: a trajetória “nefanda” do

escravo Jerônimo Soares

Daniana Oliveira Bispo

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

O estudo sobre sexualidade e sodomia, abre espaços para grandes possibilidades, logo a

comunicação tem como principal proposta fazer uma investigação de crimes que estavam

sob a alçada da Inquisição Portuguesa na Bahia no século XVII, sobretudo, atos sodomitas

de escravos, que foram perseguidos por praticarem “o mais sujo pecado sexual”: a

sodomia, que era considerado um “pecado nefando” ou sujidade. Nessa perspectiva,

cruzaremos o sumário de culpa encontrado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo

(ANTT), que fora aberto pela Inquisição em Lisboa contra Jerônimo Soares escravo,

Page 53: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

mulato, cozinheiro, natural de Lisboa, morador em Salvador e em Itapicuru aos processos

também localizados no ANTT de Antônio Guedes de Brito, proprietário por mais de

quarenta anos de Jerônimo e de Inácio Antunes que fora denunciado por manter uma

“amizade suspeita” com o escravo Jerônimo, através destes documentos inquisitoriais

evidenciaremos a atuação da Santa Inquisição Portuguesa no contexto baiano. Buscamos

resgatar a vida sexual dos negros Africanos e seus descendentes no Brasil durante o tempo

da escravidão, assim, a relação sodomita entre escravos e senhores. Pleiteamos também

compreender parte do imaginário sócio-cultural e o cotidiano desses sodomitas da

sociedade baiana colonial no século XVII. E este nosso trabalho também contribui nesse

sentido. No contexto histórico do Brasil Colônia, nos debruçamos com a obra do escritor

Gilberto Freyre, Laura de Mello e Souza. Inspiramo-nos ainda, em escritores que

dialogaram e narraram a temática a partir das fontes inquisitoriais, a exemplo de Luiz Mott,

Ligia Bellini, Ronaldo Vainfas e Daniela Bueno Calainho. Em suma, pensamos ser

imprescindível admitir que a história do Brasil não se fez apenas de personagens

heterossexuais, é necessário que se dê a devida importância aqueles que estiveram

envolvidos no perpassar da construção histórica do Brasil. para assim entender quais as

implicações que este passado traz ao negro na atualidade.

Maria Barbosa: uma “flecha de Satã” na Bahia de Todos os Santos

Eliane Gonçalves de Miranda

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Esta comunicação é resultado parcial de uma pesquisa em andamento que tem como fonte

o processo inquisitorial nº 3382, disponível no site do Arquivo Nacional da Torre do

Tombo (ANTT), localizado em Lisboa, com denúncias de feitiçaria, desobediência à

Igreja, concubinato, adultério e outros escândalos, cometidos por Maria Barbosa, na Bahia

de Todos os Santos, no início do século XVII (1609-1614). A disponibilização on-line dos

documentos inquisitoriais no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo tem conduzido

a novas abordagens teóricas e conceituais sobre pessoas perseguidas pelo Santo Ofício.

Permite um novo olhar sobre essa temática, como um campo de pesquisa que possibilita

em alguma medida revelar através de denúncias e testemunhos diversos aspectos do

cotidiano, da dinâmica social da vida colonial. Neste trabalho irei salientar a demonização

feminina através da conflituosa relação que Maria Barbosa mantinha com seus vizinhos na

Bahia, que a acusavam de ser feiticeira e apontaram ao longo do processo algumas práticas

mágicas que a ré utilizava. Problematizo como uma mulher pobre, acusada de feitiçaria e

de outros crimes de ordem moral, enfrentava os oficiais da Igreja, afirmando que não tinha

dever para com eles, chegando a ameaçar matá-los com um facão. Vale lembrar que aquele

era um período em que as mulheres eram criadas para serem submissas aos homens e

supostamente deviam viver sob as regras morais ditadas pela sociedade.

Trajetórias e a sua sedução narrativa: sujeitos e contextos

Felipe Augusto Barreto Rangel

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Não é de hoje que os historiadores produzem acalorados debates acerca do trato com as

fontes – elemento base da pesquisa histórica. E também não são inteiramente novos os

estudos que enfocam trajetórias de indivíduos ou comunidades, mudando, sim, os

Page 54: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

fundamentos teóricos e metodológicos de exploração destes campos. Os tribunais do Santo

Ofício, ao rastrearem uma imensa gama de desvios morais e religiosos, permitiram o

registro de facetas riquíssimas do cotidiano das sociedades passadas. Os processos das

inquisições, em especial, são fontes privilegiadas por possuírem por si só uma narrativa

dos casos, composta por discursos proferidos por testemunhas, réus, ou mesmo conduzidos

e registrados por religiosos. Variados são os vetores das narrações grafadas. Neste sentido,

nossa comunicação vem a endossar estas perspectivas, levantando algumas reflexões sobre

a natureza dessas fontes – em contextos de repressão - alertando para alguns cuidados ao

debruçarmos sobre as intrincadas narrativas presentes nos ditos processos. Para tanto,

utilizaremos alguns autores – Le Roy Ladurie, Levi e Ginzburg – que teorizaram alguns

aspectos deste trato documental, baseados em suas próprias experiências de pesquisa.

Utilizaremos ainda alguns fragmentos de processos inquisitoriais explorados em nossas

pesquisas.

Inquisição e Infância: o menor visto pelo Tribunal do Santo Ofício durante a

Primeira Visitação à Bahia

Marivania de Lima Santana

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

O presente trabalho tem como objetivo analisar os processos de três menores, durante o

período da Primeira Visitação do Santo Ofício à Bahia no século XVI, cuja prática herética

cometida por eles, foi o ato sodomítico. Procuramos identificar nestes processos, a relação

entre Inquisição e Infância, e como o menor era tratado por esta instituição. A Inquisição

teve início no período medieval (século XIII), e surgiu com o intuito de combater heresias

que abalassem o poder da Igreja Católica. A morte na fogueira e prisões perpétuas ou

temporárias eram algumas das penas impostas aos condenados. Na metrópole portuguesa

o tribunal foi criado durante o período moderno em 1536 no reinado de D. João III. No

Brasil não foi estabelecido nenhum tribunal da Inquisição. Aqui na colônia houve apenas

visitações, que tinha os mesmos objetivos da metrópole: combater as heresias, julgadas

pertinentes pela Igreja Católica. As mais comuns eram crimes de judaísmo, bigamia, e

sodomia. A partir da análise dessas fontes e de outras envolvendo menores neste mesmo

período (século XVI) e com a leitura de algumas documentações inquisitoriais, permitiu

identificar na pesquisa os seguintes elementos: o tratamento da Inquisição dado aos

menores no Brasil, em um período que começava a ser atribuído um sentimento particular

a infância, que teve início graças ao surgimento das instituições escolares na Europa; bem

como as relações sociais estabelecidas entre os indivíduos nas primeiras fases do período

colonial, revelando a importância dessa documentação para compreender os anos iniciais

de nossa formação cultural; e a atuação da instituição em terras brasílicas, que teve um

desenvolvimento bastante peculiar em relação à Metrópole, mas que ainda assim,

introduziu valores europeus ao julgar alguns casos. Ao analisar essas fontes inquisitoriais

envolvendo menores foi necessário o conhecimento do Regimento inquisitorial datado de

1552 concernente aos menores e as leituras de bibliografias referentes à História da

Infância, cujas obras foram publicadas no século XX a partir da difusão de uma nova

história, que coloca em cena atores antes esquecidos pela historiografia. A partir dessas

leituras pudemos ter conhecimento da história desses seres, que apesar da pouca idade, não

escaparam do olhar inquisitorial.

Páscoa Vieira: uma escrava bígama na Bahia seiscentista

Page 55: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Rita de Cassia Santos Silva

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

O presente trabalho em andamento pretende analisar o processo inquisitorial da escrava

Páscoa Vieira que foi acusada de bigamia no final século XVII. Páscoa Vieira, como

tantas outras mulheres, encontrou caminhos para burlar os padrões impostos pela sociedade

seiscentista, controlada pelo sistema escravocrata, patriarcal e marcada pelos dogmas da fé

católica. De acordo com o relato de Páscoa, quando vivia em Angola ela teria sido

obrigada a casar com o seu primeiro marido e após a morte de seus filhos ainda pequenos

fugia constantemente da vida marital e da vivência escrava. Em função disso o senhor

Pascoal da Motta Teles do reino de Angola a embarcou no navio negreiro com destino a

Baía de Todos os Santos, aonde foi vendia ao alferes Francisco Álvares Távora que a

denunciou por ter se casado pela segunda vez com Pedro, também escravo seu, sendo o seu

primeiro marido ainda vivo em Angola. Dessa forma ela teria cometido um crime grave

contra o sagrado sacramento do matrimônio, o que deu início a um longo processo

inquisitorial. O processo contém detalhes riquíssimos que revelam aspectos sobre o

casamento e a família escravizada no período colonial e de que forma a Inquisição arrolou

provas que culminaram na prisão de Páscoa nos cárceres do Santo Ofício e sua condenação

por fim ao degredo.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 14: TRABALHADORES E

MOVIMENTOS SOCIAIS NA BAHIA REPUBLICANA.

Coordenadores: Prof. Carlos Alberto de Oliveira e Prof. Philipe Murillo Santana de

Carvalho.

Sala: Sala 12 – Prédio Principal – Iº Andar.

Ações conselheiristas na Guerra de Canudos (1896-1897)

Rivaldo Cardoso Dantas

UNIJORGE

[email protected]

No final do século XIX no sertão baiano ocorreu o movimento social conhecido como

Guerra de Canudos (1896-1897), que durou cerca de 11 meses. Nesse contexto, em 1893 o

cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, popularmente conhecido como Antônio

Conselheiro fundou o Belo Monte na região de Canudos, em prol de melhores condições

de subsistência para a população sertaneja. Com a justificativa de fanatismo religioso e de

tentativa de restauração da Monarquia, o sistema republicano enviou 4 expedições

militares com o objetivo de debelar o movimento, tendo êxito na última. Nessa linha,

existem discussões entre os autores que escreveram sobre o movimento, acerca das ações

conselheiristas na Guerra de Canudos (1896-1897), autores que denominam que foram

táticas convencionais e outros que denominam como táticas de guerrilha. Assim, o projeto

de pesquisa tem a intenção de analisar se as ações conselheiristas foram baseadas em

táticas convencionais, guerrilheiras ou nenhuma destas. Para tanto, a citar, foram utilizados

os seguintes referenciais teóricos, sobre o contexto social, político e econômico que levou

Page 56: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

ao conflito: O Brasil Republicano, organizado por Jorge Ferreira e Lucília de Almeida

Neves Delgado; e Sertão, Nação e República de Dawid Danilo Bartelt. Sobre a Guerra de

Canudos: A Quarta Expedição contra Canudos do Major A. Constantino Nery; Última

Expedição a Canudos, Destruição de Canudos e Acidentes da Guerra do Tenente Emídio

Dantas Barreto; Os Sertões de Euclides da Cunha; Expedições Militares contra Canudos de

Tristão de Alencar Araripe; O Estado-Maior de Antônio Conselheiro de José Calasans; Sob

a Luz do Meteoro: Canudos x República de Davis Ribeiro Sena; e José Venâncio e

Canudos de Erickson de Almeida Maió. No campo das teorias de guerras e táticas: Da

Guerra de Carl von Clausewitz; Sobre a Guerra de Hew Strachan; A política armada:

fundamentos da guerra revolucionária de Héctor Luis Saint-Pierre; além dos seguintes

dicionários específicos: Dicionário de Política, organizado por Norberto Bobbio e o

Dicionário de Arquitetura Militar de Antônio Pires Nunes. Contudo, a pesquisa encontra-se

em fase de coleta de fontes no Centro de Estudos Euclides da Cunha (CEEC) da

Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde até o momento foram coletados os

arquivos do Ministério do Exército, do Exército do Rio de Janeiro, da Polícia Militar da

Bahia, e depoimentos de descendentes de conselheiristas.

Ser policial na Bahia: princípio de greve e condições de vida dos policiais baianos na

Primeira República

Alisson Gonçalves Barbosa

Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe - UFS

[email protected]

A presente comunicação tem por objetivo analisar as condições de vida dos policiais

baianos no contexto da Primeira República, tendo por base o principio de greve realizado

per uma parte de integrantes da corporação, no ano de 1915, durante o primeiro governo de

José Seabra. Os constantes atrasos nos soldos teriam sido o combustível para tal rebelião.

Esta pesquisa se baseia na história social e mais especificamente nos estudos da polícia, do

crime e da justiça criminal. Pretendendo abordar também a respeito do significava ser

policial na Bahia durante aquele período, evidenciando seus aspectos positivos e negativos

que levavam a determinados, sujeitos históricos, a ingressarem numa carreira que não

possuía ares promissores, mas que, porém nunca deixaram de preencher as fileiras da

polícia da Bahia, mesmo em meio a crises, como a ocorrida em 13 de junho de 1915.

Quando ainda pela manhã, algumas praças do corpo de polícia alegando estarem famintas,

pois já haviam se passado 24 horas nas quais tinham ingerido apenas uma “xícara de café”;

as praças alegaram “não ter dinheiro” para comprar. Havia cerca de “sete meses” que os

vencimentos estavam em atraso, tanto do corpo de polícia, quanto da Guarda Civil, sem

contar o estado a quem os soldados se encontravam, trajando uniformes e botas regadas,

além de surgirem rumores a respeito de supostas “tentativas de suicídio” de muitos

soldados devido à fome. O desfecho de tal rebelião teria sido a prisão de vários revoltosos

e uma ampla cobertura da imprensa baiana. Que juntamente com a negociação por parte do

major Cosme de Faria, possibilitou a liberação dos presos no dia seguinte, bem como o

pagamento de dois meses dos sete em atraso.

As concepções do sindicalismo de ação direta: disseminadas através do jornal

operário A Voz do Trabalhador (Salvador, 1919-1922)

Lucila Andrade Vasconcelos Cerqueira

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Page 57: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Os trabalhadores do ramo da construção civil de Salvador foram os principais responsáveis

pela realização da greve geral de 1919. Além disso, ofereceram apoio fundamental a outras

greves, como a dos trabalhadores têxteis. Incentivaram a fundação de algumas

organizações sindicais e colaboraram decisivamente na criação da Federação dos

Trabalhadores Baianos (FTB) em fevereiro de 1920. Na conjuntura grevista de 1919, esses

trabalhadores da construção civil tiveram, também, papel imprescindível no processo de

articulação e de organização do Sindicato dos Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes

(SPCDC), surgido em 19 de março de 1919, dia de São José, padroeiro dos operários. O

objetivo central é entender o papel do SPCDC durante a greve de 1919 em Salvador. Para

isso, utilizamos fontes da grande imprensa e da imprensa operária do período e da

bibliografia pertinente sobre o tema em questão. Este trabalho analisa a experiência de

organização do SPCDC, o desenvolvimento de certas forças no movimento operário baiano

durante a Primeira República, como o socialismo, o anarquismo e o sindicalismo

revolucionário. Forças que dificultam o entendimento da filiação ideológica que orientou o

SPCDC. Portanto, pretendemos entender, principalmente, o modo que as ideias do

sindicalismo de ação direta foram difundidas através das publicações do periódico operário

A Voz do Trabalhador. Dialogando com a historiografia acerca do tema esta pesquisa se

debruça, também, sobre o periódico A Voz do Trabalhador, órgão do Sindicato dos

Pedreiros, Carpinteiros e Demais Classes, com importante atuação no período subsequente

à sua fundação. A Voz do Trabalhador tratava-se de um influente jornal operário

responsável pela disseminação do sindicalismo de ação direta na Bahia entre 1920 e 1922,

não por acaso homônimo ao publicado pela Confederação Operária Brasileira (COB),

organização que difundia o mesmo sindicalismo de ação direta. Chegamos à conclusão que

esse periódico exerceu um importante papel social para o operariado baiano, sobretudo, por

ter sido propagador de ideias favoráveis ao processo de mudança, fato percebido no caráter

de suas matérias, em sua maioria, doutrinárias. O jornal deixou para o operariado baiano

(ou para parte dele) como legado um novo padrão de comportamento político frente às suas

necessidades imediatas. Por fim, consideramos que a circulação de ideias e de militantes

foram determinantes para o processo de estreitamento do SPCDC com o sindicalismo de

ação direta.

Associativismo, solidariedade e mobilizações grevistas dos operários de padarias na

cidade de Salvador (1919-1920)

Raul Fernando Nunes Dantas

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

O período equivalente a 1917-1921 ficou marcado como um dos mais agitados nos mundos

do trabalho no Brasil. Em 1917, houve uma explosão de greves gerais, começando por São

Paulo, e espalhando-se pelo Rio de Janeiro e depois pelo Rio Grande do Sul. No ano

seguinte, mais movimentos paredistas surgiram na capital federal e no Rio Grande do Sul,

até que em 1919 essa onda grevista se manifestou no Nordeste, em cidades como Recife,

Salvador, atingindo também municípios do Recôncavo Baiano. Foi neste contexto de

organização, associação e fortalecimento cada vez maior dos trabalhadores em que teve

seu nascedouro no dia 6 de abril de 1919 na capital baiana, a Sociedade União dos

Operários de Padaria. Os trabalhadores de padarias de Salvador se constituíram numa das

categorias que mais se mobilizaram na última década do período conhecido como Primeira

República. Em maio daquele ano, pelos forneiros, foi realizada a primeira greve sob a

orientação do sindicato. Um mês depois, juntam-se aos trabalhadores da construção civil e

Page 58: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

demais categorias fazendo parte da greve geral de junho de 1919. Esses operários também

apoiaram o movimento paredista dos tecelões em setembro do mesmo ano, e durante os

anos de 1920 promoveram mais duas greves, paralisando boa parte da produção nas

panificações como forma de reivindicar melhores condições de trabalho. Ademais, ao

passo que estabeleceram laços de solidariedade entre eles e demais frações da classe

operária, envolveram-se também em conflitos no interior do próprio sindicato. O presente

estudo busca compreender a experiência desses trabalhadores, sobretudo as motivações por

trás das greves durante os anos 1919 – 1920, a partir da análise de periódicos da grande

imprensa e da imprensa operária, entre outros, e em diálogo com uma bibliografia mais

recente sobre a história do trabalho apoiando-se na metodologia utilizada por autores como

Aldrin Castellucci e Robério Santos Souza, historiadores que tem sido referência para a

compreensão das redes de solidariedades, do caráter multifacetado da classe operária

baiana, e de suas variadas formas de organização.

Os trabalhadores em tempos de coronelismo: cultura associativa e política no Sul da

Bahia, década de 1920

Philipe Murillo Santana de Carvalho

Doutorando em História Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

O objetivo desta comunicação é analisar a cultura associativa dos trabalhadores e sua

relação com o sistema político oligárquico no sul da Bahia durante a última década da I

República. Em Ilhéus e Itabuna, o associativismo operário obteve maior vigor com a

chegada da década de 1920, quando inspirados pelo mutualismo, apareceram sociedades

que pretendiam aglutinar categorias profissionais específicas (caixeiros, estivadores,

carroceiros, etc.) ou ofícios vários (artistas e operários). Este contingente proletário

conseguiu erguer organizações que, mesmo diante das fragilidades, garantiram formas de

sobrevivência em face da insegurança estrutural do capitalismo agroexportador do cacau,

criando escolas para crianças pobres e filarmônicas. No entanto, as agremiações

mutualistas laborais extrapolaram os limites da beneficência, envolvendo-se na dinâmica

da arena política oligárquica e relacionando-se com coronéis, intendentes, parlamentares e

governadores. Nesse sentido, a experiência associativa operária em tempos de coronelismo

nos possibilita problematizar a capacidade dos de baixo de interpretar o cenário político

regional e estadual, de estabelecer alianças com os grupos políticos e participar (direta e

indiretamente) das eleições e das disputas republicanas. Em paralelo, permite repensar os

limites do conceito de coronelismo e ampliar nosso olhar para agência dos trabalhadores,

apesar das práticas excludentes e opressoras da República brasileira. Para esta

apresentação, utilizaremos jornais, atas de grêmios operários, cartas e relatórios

institucionais.

Salvador em tempo de carestia (1935-1938)

Luana Moura Quadros

Mestranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Em Salvador, a carestia entre os anos 1930 e 1940, mais que um problema econômico foi

um dado pertinente no cotidiano dos sujeitos, permeado pelas incertezas de reprodução da

vida material. Esta comunicação centra seu recorte temporal entre os anos 1935 a 1938

Page 59: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

para compreender: o contexto social em que a carestia se inseriu nesta cidade e as

primeiras intervenções do Estado Novo, a partir de 1937, para conter este problema. Ao

analisar o decreto que estabeleceu o pão misto nacional em 1937 e o decreto que definiu os

crimes contra a economia popular em 1938, propõe-se questionar em que medida eles

impactaram a população de Salvador no que tange à subsistência. Ou, como a população se

utilizava dessas leis para garantir seus direitos mais fundamentais? Neste caso, as

contribuições de E. P. Thompson são importantes. Criticando as visões espasmódicas que

tratam as ações da multidão em momentos de crise de abastecimento simplesmente como

“rebeliões do estômago”, ele percebeu que estas ações não são apolíticas. A atuação dos

sujeitos era baseada em noções legitimadoras sustentadas nos costumes, como também na

própria lei, que lhes permitiam agir em defesa de seus direitos, julgando legítima ou não as

práticas no comércio. Esta pesquisa se encontra em fase inicial: explorando e dialogando

com as fontes para perscrutar caminhos a serem desenvolvidos. Contudo, é possível dizer

que a carestia em Salvador não foi um produto da Guerra, mas que se fazia incisiva no

cotidiano da população nos 1930 fazendo-os criar estratégias de sobrevivência diárias.

O Partido Comunista e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ilhéus e Itabuna,

nas décadas de 1940 e 1950

Rafael Santos Marinho

Especialista em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

[email protected]

O trabalho teve como proposta tratar da trajetória e influencia do Partido comunista

Brasileiro (PCB) na formação do sindicato rural de Ilhéus e Itabuna, e que desenvolveram

atividades no sentido de construir e consolidar o Sindicalismo nesse eixo nas décadas de

1940 e 1950. O Partido comunista brasileiro teve sua grande influencia na formação e

criação do Sindicato, principalmente dos Trabalhadores Agrícolas dos Municípios de

Ilhéus e Itabuna. Toda sua estrutura foi formada a partir da iniciativa de seus militantes que

percorreram fazendas e distritos com todas as dificuldades não pouparam esforços nesse

sentido. O PCB, era um dos poucos ou talvez, era a única agremiação político-partidária

que se empenhava em organizar os trabalhadores do campo, ainda que muitas vezes com

métodos e táticas de meio urbano. Ao longo do trabalho foi possível perceber algumas

alterações na linha de ação do Partido, porém podemos entender que essas alterações

táticas foram provocadas pelas necessidades oriundas da condução da política. A partir das

leituras, procurou-se fazer uma caracterização da região do sul da Bahia, suas estruturas

sociais, seus conflitos de classes, as relações de trabalho no campo e a relação destes com

as ações do partido comunista, também a identificação e analise das estratégias utilizadas

para a organização do sindicato e as bandeiras de lutas, as principais reivindicações e

manifestações.

Lavadeiras vão á luta: a formação da ALARMES (Associação das Lavadeiras da

Região Metropolitana de Salvador) em busca da conquista de direitos

Johanna Brígida Rocha Ribeiro Meyer

Mestranda em História pela Universidade Federal de Sergipe - UFS

[email protected]

Trata-se das primeiras visualizações do projeto de pesquisa em que busca analisar o

processo de formação da ALARMES (Associação das Lavadeiras da Região Metropolitana

de Salvador). Esta, iniciou na década de 1980 na cidade de Salvador, mas que ganhou

Page 60: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

representatividade com grupos de lavadeiras em diversas cidades do interior. A pesquisa

busca perceber as demandas da categoria, bem como as estratégias de luta e mobilização

para a conquista de prerrogativas trabalhistas. Para tal empreita, estão sendo utilizadas

fontes que foram construídas pelo próprio movimento das lavadeiras, a exemplo das

tabelas, convocatórias, além de periódicos da época e entrevistas realizadas. Dentre os

suportes teóricos utilizados, destacam-se autores como Maria da Glória Gohn, para nos

ajudar a pensar sobre o conceito e operacionalidade dos Movimentos Sociais e E. P.

Thompson com conceito de experiência e consciência de classe. Alguns trabalhos em que

se debruçam em estudar as lavadeiras tendo-as como focos centrais, ou de maneira

secundarizada, também estão sendo utilizadas Cecília Soares, Alberto Heráclito Ferreira

Filho, Antônio Francisco Neto e Reginilde Santa Bárbara, para se entender o trabalhos das

lavadeiras ao longo do tempo. Apesar de um relativo fôlego e força que a ALARMES

alcançou, percebemos um declínio do movimento (2002), associado ao ofício das

lavadeiras, em que podemos apontar, dentre outros fatores para a crescente utilização de

novas tecnologias para a lavagem de roupas, a exemplo das máquinas de lavar.

Memórias do trabalho: experiência operária a partir dos arquivos da Sociedade

Montepio dos Artistas de Itabuna

Cristina Jesus dos Santos

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

[email protected]

A Sociedade Montepio dos Artistas de Itabuna é uma instituição associativa de caráter

mutualista fundada em 1º de novembro de 1919 e que sobrevive até os dias atuais. Desde

sua formação é composta por trabalhadores de diversas categorias como sapateiros,

marceneiros, alfaiates, ourives, e carpinas, cujos ofícios tinham caráter de artesanato em

função dos métodos e da estética utilizada por aqueles que dominavam as práticas laborais.

A agremiação estava organizada de forma que lhes permitiam criar mecanismo de

sobrevivência e melhores condições de trabalho, lazer e educação, já que nesse contexto as

alternativas eram escassas. Graças a isso, os trabalhadores ali agremiados conseguiram, por

exemplo, abrir uma escola para alfabetizar os filhos e filhas dos associados, montar uma

filarmônica que servia de espaço de recreação aos trabalhadores associados, e montar uma

caixa de previdência para socorrer seus pares. Ao longo destas décadas de sobrevivência a

sociedade conseguiu reunir um rico e variado acervo, contendo atas de assembleia,

balancetes financeiros, listas de presença, fotografias, dentre outros documentos que dão

conta, não só da história da instituição e de seus atores, mas também que nos permite

conhecer parte da história política, cultural e econômica dos trabalhadores no sul da Bahia,

possibilitando perceber alguns aspectos da vida dos trabalhadores nas varias fases da

República. O objetivo principal desta comunicação é apresentar as possibilidades de

pesquisa sobre história do trabalho no sul da Bahia a partir da investigação dos documentos

contidos nos arquivos da Sociedade Montepio dos Artistas de Itabuna.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 15: HISTÓRIAS/DIÁLOGOS.

Coordenadores: Prof. Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira.

Sala: Auditório do Prédio Principal.

Page 61: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

A experiência da construção do Grande Hotel no processo de implantação do plano

urbanístico e arquitetônico da Estância Hidromineral de Cipó (1930 – 1960)

Adenilton de Santana

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

No ano de 1935 foi construída, na localidade de Cipó/Ba, uma Estância Hidromineral. Esse

empreendimento buscou impulsionar o turismo local com a criação da Empresa Balneária

do Cipó pelo médico Genésio Seixas Salles, que obteve uma concessão do então

governador da Bahia, Luiz Viana Filho, para explorar as águas de Cipó durante 40 anos, a

partir de 19 de março de 1928 até 1968. A construção de cidades balneárias está associada

à existência de fontes de águas minerais com propriedades medicinais e no Brasil algumas

foram criadas na segunda metade do século XIX, alcançando grande impulso entre as

décadas de 20 e 60 do século XX. Esses espaços tornaram-se palcos de experimentação de

práticas urbanísticas modernas no território nacional. No plano urbanístico projetado pelo

engenheiro civil, Oscar Caetano da Silva, para desenvolver o turismo em Cipó, destacou-se

a construção do Grande Hotel de Cipó, empreendimento de grande proporção e que foi

inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas, em 1952. Esse estudo busca conhecer aspectos

da experiência de criação desse hotel. Tanto o impacto que causou sua construção, ainda

presente nas memórias dos moradores, quanto as representações que o empreendimento

assumiu ao longo do tempo são questões que se busca conhecer. Para tanto, trabalhamos

com uma documentação diversa, mas que se destaca o acervo iconográfico do Museu

Tempostal; as fotografias pertencentes ao arquivo Theodoro Sampaio, do Instituto

Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), e do maior acervo iconográfico reunido sobre a

cidade de Cipó, pertencente a Evandro de Araújo Góes, nascido em Cipó no ano de 1927.

“Bandeirante baiano”: o sertão de Eurico Alves (1952-1963)

Alex de Araújo Cruz

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A ampliação da noção de documento a partir da Escola dos Annales foi importante para

abrir novas áreas nos estudos históricos, com isso houve a incorporação de outros objetos.

Entre as mudanças é apontado o estatuto da obra literária, que deixou de ser uma fonte

secundaria pouco segura, e passou a compor a categoria de documento histórico. É diante

desse novo cenário, que procuro discutir o seguinte trabalho, precisamente no âmbito da

História Cultural, através da Historia e Literatura. Para tanto, analiso as representações de

sertão na obra “Fidalgos e vaqueiros”, do poeta feirense Eurico Alves Boaventura entre os

anos de 1952 e 1963. Do ponto de vista teórico-metodológico, busco dialogar com a

concepção de narrativa histórica de Hayden White, segundo a qual esta não reproduz os

eventos que descreve, somente indica a direção que devemos pensar os acontecimentos,

isso se dá através das imagens que suscita. Ao mesmo tempo, relaciono a ideia de White à

noção de memória e narrativa de Walter Benjamin, que valoriza no ato de rememorar, a

forma como o faz e os sentidos que atribui. Também sobre memória tenho como guia

Jaques Le Goff, para ele, a memória além ser um fenômeno “individual e psicológico”, se

apresenta como social e político, e dar-se como um modo de “apreender” o passado, de

“apropriar-se do tempo” (LE GOFF, 2001, p.421). A obra, Fidalgos e vaqueiros se

apresenta, como uma escrita de caráter poético, com descrições da geografia do sertão

Page 62: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

baiano. Além disso, o poeta feirense percebe a paisagem sertaneja como fator psico-

sociológico, determinante na formação da mentalidade e de um modo de vida próprio.

Percebe-se na sua obra a tentativa de reinterpretação da Historia do Brasil - como fizeram

muitos autores da geração de 1930 - tendo como pano de fundo o sertão baiano e o

vaqueiro como o principal personagem. Para Eurico Alves, foram os primeiros criadores de

gado, chamados por ele “bandeirantes baianos”, os responsáveis pelo desbravamento do

sertão, contrariando a tese de Cassiano Ricardo. A ocupação do sertão pelo “bandeirante

baiano” concomitante a um processo de miscigenação entre “nativos” e “invasores”,

produziu A civilização pastoril, tão importante para formação da nação brasileira, quanto à

chamada civilização do açúcar descrita por Gilberto Freyre.

Quando é que vão olhar para o inferno? O Rap e as representações da exclusão social

brasileira na década de 1990

Alisson Cruz Soledade

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Na segunda metade do século XX, mais precisamente no final da década de 1960, os

bairros periféricos da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, presenciaram o

nascimento de um movimento cultural de grande importância para os grupos oprimidos da

sociedade estadunidense, o Hip hop. A cultura hip hop é formada pela composição de

elementos como o rap, expressão musical e verbal, o grafiti que é a expressão artística

visual através da pintura do cenário urbano, e o break que é a dança. A palavra rap é

formada da junção da inicias de Rhytm and poetry - ritmo e poesia - foi difundida

juntamente com os elementos break e grafite. No entanto, o que marcou fortemente a

cultura do Hip Hop foi o alto grau de contestação política e social presente nas letras das

músicas. O movimento chegou ao Brasil preservando a sua característica mais marcante, a

contestação como fundamento básico para as produções musicais. Durante a última década

do século XX notabilizou-se por denunciar chagas sociais profundas como o racismo, a

falta de redistribuição de renda e a violência policial. O discurso dos rappers se tornou uma

importante fonte para os pesquisadores das ciências sociais e humanas, pois, através deles

é possível “reconhecer a maneira como os atores sociais investiam de sentido suas práticas

e seus discursos” (CHARTIER, 1994) bem como “em contextos diversos e mediantes

práticas diferentes[...] estabelece-se o paradoxal entrecruzamento de restrições

transgredidas e de liberdades restringidas” (2001). Refletindo – se assim sobre as

desigualdades sociais, políticas de segurança do Estado brasileiro e as violências sofridas

pelas comunidades excluídas socialmente o grupo de Rap Facção Central produziu uma

grande contribuição para pensar esse cenário de exclusão. Criado no centro de São Paulo

em 1988 o grupo é conhecido pelas letras contundentes sobre as experiências dos jovens

moradores de rua, cortiços e favela. A partir das produções desses discursos, busca-se

analisar as representações da exclusão social nas músicas do grupo Facção Central através

dos conceitos de invisibilidade social (SOARES, 2005) e ser humano refugado

(BAUMAN, 2005) procurando compreender a construção do imaginário social urbano a

respeito das políticas sociais do Estado brasileiro ao longo da década de 1990.

As representações do Nordeste na banda Trio Nordestino (1963-1983)

Arielson de Oliveira Batista

Page 63: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A banda de Forró Trio Nordestino (TN) surge no ano de 1958 em Salvador-Bahia e

sobrevive até hoje, sendo integrada pelos descendentes daqueles da sua formação original

(Lindú, Coroné e Cobrinha). Sucessos consagrados pela banda como Procurando Tú,

Petrolina Juazeiro, Chinelo de Rosinha e Chililique são exemplos de canções que

animaram e animam o São João Nordestino, mas que romperam também as barreiras

daquela região e serviram, sobretudo no sudeste, para representá-la. Assim, este trabalho

seguindo a trilha da História Cultural e inspirado principalmente na obra de Durval Muniz

de Albuquerque Jr. (A invenção do Nordeste e outras artes) procura refletir sobre as

representações presentes, através dos discos, nas canções, performances e imagens

difundidas pela banda TN entre os anos de 1963 e 1983. Há, neste sentido, uma lacuna em

relação a este trio que contribui de maneira tão significativa quanto Luiz Gonzaga para a

difusão de representações do Nordeste. Neste sentido, diferentemente do que se passa em

Luiz Gonzaga, em TN podemos notar a presença de um sentimento de adaptação dos

nordestinos em relação ao sudeste e a aceitação daquela “nova terra” como o seu novo

lugar para viver: a volta ao Nordeste não é mais necessariamente o sonho dos nordestinos e

a modernidade nem sempre é encarada com pessimismo. Por fim, pretendemos mostrar a

relevância de se debruçar sobre a obra da banda supracitada devido a sua contribuição

valiosa para a (re) invenção de um Nordeste tal como se faz presente nos diferentes meios

midiáticos e no imaginário dos brasileiros.

Entre formação acadêmica e práticas docentes: uma análise

sobre saberes aprendidos e executados

Cleria Moreira da Silva

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII

[email protected]

Este projeto visa em princípio analisar a atuação docente de professores egressos do curso

de Licenciatura em História da UNEB - Campus XVIII, com primeiras conclusões em

2007. Propondo promover uma reflexão sobre Ensino de História, relacionando a formação

acadêmica oferecida pelo curso de licenciatura do mesmo e as práticas de ensino docente.

O ensino de história tem sido objeto de pesquisa por vários pesquisadores brasileiros. Os

debates se intensificam nessa área após a década de 80 com a reforma curricular esses

diálogos sobre ensino de historia tem ocupado lugar relevante na perspectiva da pesquisa

esta ligada a prática e ao ensino. Dando ênfase aos estudos do historiador alemão, Jorn

Rusen entre Teoria da História e Ensino de História, na sua perspectiva ele estabelece uma

relação entre teoria e prática. Aponta a necessidade de uma disciplina científica que se

ocupe do ensino e aprendizagem da história. A pesquisa se fundamenta, partindo do

pressuposto que, “O professor é quem transforma o saber a ser ensinado em saber

aprendido, ação fundamental no processo de produção do conhecimento”

(BITTENCOURT, 2011, p.50). Assim, concluindo que o professor é o mediador para a

realização do saber, nos remetemos, a esse campo de pesquisa sobre Ensino de história,

que visa analisar a formação acadêmica dos docentes egressos da UNEB-Campus XVIII, e

seus métodos e práticas na cidade de Eunápolis-Ba. Ao analisarmos a trajetória da

educação no Brasil, nos instigamos a discutir as mudanças causadas supostamente por uma

instituição Pública de Ensino Superior. Nos, remetendo a questionamentos, sobre

mudanças no ensino de história. Percebendo rupturas e permanências, pensando que “os

professores contribuem com seus saberes, seus valores, suas experiências nessa complexa

Page 64: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização”. (BITTENCOURT 2011, p.14).

Refletindo na influência que o professor exerce sobre os discentes, faz se necessário

analisar os métodos e atuação do trabalho docente, partindo do pressuposto que tais

práticas se relacionam com a formação inicial e continuada dos docentes. Assim se faz

necessário dialogar com saberes acadêmicos e os saberes ensinados efetivados por esses

professores na sala de aula.

A Cidade Princesa em “Setembro na Feira”: Um olhar sobre o campo religioso

feirense na obra de Juarez Bahia

Chablik de Oliveira Morgado

Graduado em História pela Universidade Estadual Feira de Santana - UEFS

[email protected]

O presente texto tem como objetivo discutir as representações dos grupos religiosos

estabelecidas sobre a cidade de Feira de Santana (BA) no romance “Setembro na Feira”, de

Juarez Bahia, destacando o grupo espírita, uma vez que por meio dessa obra literária

possibilita que questionamentos sejam levantados sobre as disputas existentes no campo

religioso feirense em torno das imagens da chamada “Cidade Princesa”. Os conceitos de

campo religioso, de Pierre Bourdieu (2007), e representações, de Roger Chartier (1990),

serão de importantes como ferramentas de análise com a finalidade de se perceber como as

disputas sobre a representação da cidade, no tocante a questão da religião, foram

estabelecidas no romance de Juarez Bahia. A cidade de Feira de Santana, como a maior

parte do território brasileiro, não escapou da influência e hegemonia do Catolicismo

(SILVA: 2009), tal fato acaba reverberando em algumas obras literárias, sejam texto de

ficção ou nos chamados romances históricos, bem como os textos memorialísticos, onde se

observa o protagonismo dado a Igreja Católica na construção das cidades e da própria

História Local. De fato, não se pode negar hegemonia católica, todavia é cada vez mais

necessária a pesquisa sobre outros grupos religiosos. No caso específico de Feira de

Santana, pode-se observa por meio do romance “Setembro na Feira” de Juarez Bahia, que a

narrativa é construída tomando como base marcos que veem a cidade sob outro ângulo,

que não é o centro urbano da localidade nem a religião majoritária (OLIVEIRA: 2011). A

obra de Bahia trata das representações religiosas do Espiritismo, destacando aspectos

religiosos como a obsessão e a prática curativa do passe – em vez do Espiritismo elitizado

onde prepondera o debate a respeito da cientificidade dessa doutrina. Pode-se observa, a

partir da narrativa do romance de Bahia, que à medida que as representações religiosas são

múltiplas, verifica-se também a caracterização da cidade como plural. Se na literatura

memorialista sobre Feira de Santana, os católicos escrevem do seu lugar social e

transferem conflitos do campo religioso para o campo da memória; na obra de Juarez

Bahia, publicada num momento de abertura política do Brasil, pode-se perceber o destaque

dado não somente ao Espiritismo, mas também a outros grupos religiosos, como o

Candomblé – Feira de Santana, na obra de Bahia, é uma cidade plural e conflituosa.

Jornal Folha do Norte: uma fonte para a História da Educação em Feira de Santana e

região (1920 – 1960)

Daiane Silva Oliveira

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Page 65: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Este trabalho propõe discussões sobre os processos de sistematização das práticas de

Instrução, em Feira de Santana a partir do Jornal Folha do Norte de 1920 a 1960, tomando

como delineio o processo de catalogação do referido Jornal enquanto fonte para uma

História da Educação em Feira de Santana. A proposta consiste na discussão dos processos

de levantamento, catalogação sistemática e análise dos registros/evidências encontrados,

enfocando de que forma evidenciou-se que o Jornal Folha do Norte serviu como

dispositivo para a difusão de um modelo de instrução, na construção de uma nacionalidade

pautada na ordem, na disciplina e no progresso, parte do projeto de civilidade republicana.

Teórico-metodologicamente esta pesquisa tem bases nas proposições da História da

Educação, enquanto um dos campos do trabalho do historiador, conforme defendido por

Fonseca (2003). Para tanto, propõe-se o uso do conceito de Escolarização de Hamilton

(2001), como uma sistematização dos processos educativos anteriores à escola pública, que

ocorriam em diversos espaços sociais que não a escola formalizada. Para análise do Jornal

enquanto fonte, a metodologia de Lucca (2005) quando propõe que historicizar a fonte

requer ter em conta, portanto, as condições técnicas de produção vigentes e a averiguação,

dentre que se dispunha, do que foi escolhido e por quê. E Kossoy (1989) e Vieira (1989),

sobre as premissas que devem ser consideradas ao investigar o discurso da Imprensa: como

pensar as diferentes linguagens, inclusive a jornalística como forjadas no acontecer social.

Também Chartier (2002) quando trata do conceito de representação cultural, apropriado

neste estudo. Conforme o autor, as representações do mundo social quando construídas,

embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre

determinados pelos interesses do grupo que as forjam. No Jornal Folha do Norte, os

discursos adquiriram formas e significados, a História e a cultura consideradas como

oficiais, geralmente ocupavam as páginas principais, como a primeira página, ou a coluna

Folha Social. Os poucos registros de protestos dos inconformados, especificamente

referente à instrução pública, geralmente ocupavam o periódico a partir da segunda,

terceira, quarta página, sem serem retomados nos próximos exemplares. Essas evidências

estão reunidas no referido Catálogo de fontes e seu processo de feitura norteará a discussão

aqui proposta.

Os subúrbios em Feira de Santana

Érica de Souza Rocha

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

O presente artigo traz uma perspectiva acerca das questões que permeiam o universo dos

subúrbios na cidade de Feira de Santana assim como as suas representações a partir do

Jornal Folha do Norte. Como embasamento teórico para a realização desse trabalho foi

utilizada a obra do escritor Juarez Bahia, denominada “Setembro na Feira” e o livro

“Literatura como missão” de Nicolau Sevcenko, que permitiu um maior norteamento para

a pesquisa e teve na cidade do Rio de Janeiro, no período da primeira república, o cenário

para as transformações bruscas as quais o Brasil era submetido. Dentro do contexto das

mudanças trazidas pelo processo de urbanização, Nicolau Sevcenko aborda questões

sociais tendo como pano de fundo a análise crítica centrada em duas figuras emblemáticas

para o período em que ocorria uma eloquência de conflitos entre os ideais republicanos e o

tradicionalismo do império, essas personalidades eram os escritores Euclides da Cunha e

Lima Barreto, ambos possuíam como características o fato de almejarem fazer algo em

benefício do povo independentemente da forma de governo que estivesse vigorando no

país.

Page 66: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

A varíola na imprensa: epidemia em Salvador, Bahia, 1919

Esdras Santos Oliveira

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

O campo de pesquisa em história da saúde e das doenças ganhou dimensão importante

entre os historiadores nas últimas décadas do século XX. Com base nos pressupostos

teóricos e metodológicos de uma historiografia renovada, as doenças, tanto endêmicas

quanto epidêmicas, vêm sendo estudadas a partir de diversas abordagens. Dissertações,

teses, artigos, livros e capítulos de coletâneas daí resultantes, além de palestras, mesas-

redondas e simpósios direcionados ao debate do tema, são apenas alguns dos indícios

através dos quais podemos perceber a importância que a saúde e as doenças vêm ganhando

na agenda do historiador, como substrato para compreensão de problemáticas sociais.

Dessa forma, embebida nesse influxo, esta comunicação busca demonstrar como o Diário

da Bahia e O Democrata, jornais da grande imprensa baiana, divulgaram a epidemia de

varíola que irrompeu em Salvador na segunda metade de 1919, em pleno curso da

campanha sucessória para governador do estado, quando as oligarquias baianas se

encontravam divididas entre J. J. Seabra e Rui Barbosa. Assim, através de matérias

divulgadas a respeito do evento, buscamos compreender o uso político da doença,

entendida aqui como um fenômeno social, cujos sentidos são construídos e reconstruídos

pelos diversos sujeitos sociais, possibilitando conhecer a multiplicidade da experiência

histórica. A Grande Imprensa, por sua vez, é compreendida como uma empresa

jornalística, uma indústria que mercantiliza a informação, que vende a notícia. Tendo como

base de sustentação a publicidade, veicula a ideologia da classe dominante.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 16: MARX E MARXIMOS: MÉTODO,

HISTÓRIA E REVOLUÇÃO.

Coordenadores: Prof. Bruno José Rodrigues Durães e Prof. Luiz Henrique Sá da Nova.

Sala: Auditório Carolina de Jesus – Prédio do Mestrado em

Crítica Cultural.

Condições de vida e labor dos trabalhadores

da Rótula de Cajazeiras X de Salvador - BA

Saionara Bonfim Santos

Mestranda em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador - UCSAL

[email protected]

A presente proposta de pesquisa tem como objetivo geral analisar as condições de vida e

de labor dos trabalhadores da Rótula de Cajazeiras X de Salvador - Ba, com vistas a

discutir políticas de inclusão produtiva voltadas à essa população. Observando o

crescimento populacional dos últimos anos na região, evidencia-se um fenômeno urbano

de trabalhadores precarizados comercializando produtos e serviços nas ruas, sem proteção

social, nem trabalhista, em condições inapropriadas para atividades laborais. Pesquisas

apontam que este fenômeno estrutural com dimensões globais (Antunes, 2011) está

Page 67: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

relacionado ao processo de reestruturação produtiva que vem se ampliando desde a década

de 1990, visando super lucros e um processo contínuo de exploração da classe trabalhadora

e acumulação flexível do capital. Diante desse cenário, importa à pesquisa investigar

condições históricas que submeteram os trabalhadores em situação de desemprego,

obrigando-os a trabalhar em arranjos informais precarizados, ocupando as vias públicas;

conhecer o perfil socioeconômico e os processos organizativos em que se inserem os

trabalhadores, e conhecer planos, programas e projetos desenvolvidos na esfera municipal

destinados ao referido segmento de trabalhadores. Quanto ao método de pesquisa, partirá

de uma análise da teoria crítica, investindo no materialismo histórico e dialético, por

entender que as relações sociais e de trabalho são construídas num processo histórico entre

classes distintas de interesses antagônicos, sobretudo quando se propõe analisar grupos que

historicamente ficaram excluídos da acumulação da riqueza do país. A metodologia

abrange aspectos de análise mista, qualitativa e quantitativa. O processo exploratório da

pesquisa perpassará diversos caminhos, dentre eles: pesquisa bibliográfica pesquisa

documental e pesquisa de campo. O delineamento de investigação da realidade social em

tela será o estudo de caso, visando compreender o referido fenômeno com mais

profundidade. Na coleta de dados, serão utilizados instrumentos e técnicas como:

entrevistas semi-estruturadas e observação nas três modalidades: espontânea, sistemática e

participante. As entrevistas serão realizadas com os seguintes sujeitos: vinte trabalhadores

(ambulantes, camelôs e feirantes), cinco lideranças comunitárias, gestor da Sub-Prefeitura

de Cajazeiras e o Secretário Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza.

Cultura, hegemonia e meios de comunicação: produtos midiáticos como instrumentos

de dominação

Sarah Ryanne Sukerman Sanches

Graduanda em Comunicação Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

Raymond Williams propõe um conceito de cultura que destaca a vivência social como

local de conflito, onde se converte e se consolida o projeto hegemônico enquanto âmbito

de dominação. Tal dominação se legitima através da naturalização e universalização dos

significados, valores e práticas de uma determinada classe sobre o conjunto da sociedade.

A hegemonia se impõe, entre outros meios, através das produções culturais e simbólicas

que enfatizam determinadas práticas e signos, excluindo e invisibilizando outros, em um

processo seletivo fundamentado na organização e manutenção do status quo, atuando,

portanto, como meios de dominação. O presente artigo discute um quadro do programa

Zorra Total, da Rede Globo, enquanto produto de reafirmação dos valores hegemônicos,

contribuindo com a permanência do atraso cultural e da afirmação das relações de poder e

opressão na contemporaneidade. Com esta finalidade, o artigo se apoia na aplicação dos

conceitos de cultura e hegemonia, como elaborado e utilizado por Raymond Williams, para

a compreensão dos meios de comunicação e suas produções como instrumentos de controle

ideológico da classe dominante.

Marx, o Marxismo e a Educação

Murilo Santos

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB

[email protected]

Page 68: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

A presente pesquisa parte da revisão de literatura para abordar à educação em Marx, que

conduziu seu enfoque a uma abordagem crítica, em relação à educação burguesa. Essa

concepção trouxe consigo uma reflexão necessária na luta por uma educação crítico-

reflexivo que propiciasse o fortalecimento das bases produtivas da sociedade. Essa

abordagem permitiu para além de uma formação crítica, política e reivindicatório por parte

da classe trabalhadora, como também influenciaram posteriormente novos autores

intitulados “marxistas” aos exemplos de Gramsci e Lenin, dentre outros, aos quais

possibilitaram reflexões pertinentes à dinâmica social suscitada pela educação. Entre os

temas propostos pela corrente marxista em relação à educação, podemos destacar: O papel

do Estado na educação, aonde a escola surge em um contexto de privilégios da elite e a

função da educação na emancipação do indivíduo. Para os marxistas a educação é vista

como uma ação inerente ao processo de desenvolvimento humano, que reflete as relações

entre as classes, além da luta dos trabalhadores contra as relações de exploração e

opressão. Nesse sentido, ao refletimos a educação, temos a certeza que os conteúdos nela

propostos deverão estar articulados na sua totalidade, superando possíveis fragmentações e

dissociações da ideia de unicidade entre teoria e prática. Aos nos reportarmos ao trato

pedagógico, observamos total liberdade na intervenção às questões referentes à educação

evidenciadas por Marx através de diretrizes das quais possibilitaram a elaboração de

concepções educacionais, transformação da escola e projetos pedagógicos, no qual os

autores marxistas irão se debruçar na perspectiva da construção de uma escola igualitária,

como na visão de Gramsci. Em uma perspectiva materialista-histórica relacionada ao

âmbito escolar, a pedagogia marxista não admite posicionamentos espontaneístas do

desenvolvimento da consciência, ou seja, do aprendizado. Aqui a escola é entendida como

um ambiente de compartilhamento e apropriação do conhecimento acumulado ao longo do

tempo pela humanidade e disseminado entre as gerações. No qual seu objetivo não se

refere à construção de homens e mulheres que exerçam múltiplas atividades, atendendo as

necessidades do mercado, e sim, a formação de indivíduos que compreendam a lógica da

produção e reprodução social na sua totalidade.

O lugar da categoria da totalidade na teoria marxista

Haiana Ferreira de Andrade

Graduanda em Comunicação Social pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

O fim a que se destina o presente artigo é analisar qual o lugar da totalidade enquanto

categoria fundamental da teoria social crítica marxista. O interesse por essa temática surge

ao se perceber os recortes disciplinares e conjunturais que se tem feito para análise e

compreensão da realidade, tanto no interior da academia, quanto dos movimentos sociais e

diversos segmentos que possuem como fundamento teórico e prático os pressupostos

marxistas. Parte-se da hipótese que a categoria da totalidade vem perdendo ao longo do

desenvolvimento da tradição marxista sua centralidade enquanto núcleo de estudo da

sociedade burguesa, que produza como resultado as condições objetivas de transformação

social. Para apreensão do real em sua totalidade concreta, bem como a reconstrução da

realidade no pensamento é imprescindível a observação das categorias ontológicas da

dialética marxista – singularidade, particularidade e universalidade -, sem as quais a

apreensão do concreto não é possível. Todas essas categorias existem de forma

insuprimível na realidade, e para desvelamento desta, torna-se fundamental a compreensão

desses níveis constitutivos da totalidade concreta. Nessa perspectiva, faremos uma

incursão acerca das produções teóricas que abordam a totalidade enquanto núcleo central

Page 69: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

do materialismo histórico dialético e suas categorias, bem como pretende-se analisar as

deturpações do método decorrentes da perda da centralidade desse núcleo.

Intersecções militantes: o pensamento socialista e o agrupamento de tendência - uma

experiência da Organização Popular de Ação Revolucionária

Daniel Pereira Rocha

Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Carlos Augusto Santos Neri Braga

Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

Busca-se através deste trabalho discutir como o pensamento socialista nas suas diferentes

perspectivas podem ser articulados para entendimento da realidade social e embasar uma

prática política e militante que visa a transformação. Depreende-se, então, através do

método materialista histórico dialético de Marx, o movimento necessário e real que de

forma dialógica, com perspectiva advinda do anarquismo social, busca discutir poder

popular e confrontar a realidade na sua diversidade. Daí, então, o agrupamento de

tendência, como o é a Organização Popular de Ação Revolucionária (OPAR) situada no

estado Bahia, ser o lócus de análise deste trabalho, já que possui como um de seus

objetivos articular diferentes setores de esquerda, nesse caso os movimentos sociais, em

prol da construção do poder popular. De forma a se contrapor as organizações políticas e

sociais “tradicionais” na sua forma de atuação, já que se essas tendem a ser centralistas e

rígidas a diversidade de atuação visando a disputa do poder burguês institucionalizado, as

organizações populares (ou as OP's) trazem como princípios: a horizontalidade, autonomia

e auto-gestão, ou seja, construções de base.

A política é o meio, a cultura é que é o fim

Luiz Henrique Sá da Nova

Mestre em Comunicação pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

Este artigo discute o lugar da cultura na sociedade contemporânea, a partir da compreensão

de György Lukács (1978), que serve de título para o texto. A discussão proposta,

analisando a importância da cultura no processo histórico transformador, parte da

constatação de que o século XX foi um período de intensa reconfiguração do campo

político, da relação deste com a cultura e da relação dos dois campos, com a sociedade.

Consolidou-se o processo de secularização. O urbano afirmou-se como espaço social

definitivo da reprodução da vida em sociedade e da cultura hegemônica e contra-

hegemônica. Outro aspecto que orienta a discussão proposta é a definição do processo

histórico como gênese da modernidade e do modo de vida, naturalizando e instituindo a

sociedade, em sua dimensão cultural onipresente, na lógica do modo de produção

capitalista. É a cultura do vivido, como proposto por Raymond Williams (1979), em

diálogo com o conceito gramsciniano de hegemonia, que é analisado a partir da

materialidade da cultura e das determinações do processo social. O texto afirma e

defende, em consonância com Williams (1979; 2011), que a materialidade do processo

cultural é a ampliação do materialismo histórico, na perspectiva marxista e necessária ao

contemporâneo. É, portanto, uma abordagem marxista, que não se explica pela tese do

culturalismo. Neste debate, o artigo discute as limitações da denominação de culturalismo,

Page 70: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

assim como do chamado marxismo cultural, para a abordagem de Luckacs e Williams, que

desatacam o campo da cultura. Reduzir as abordagens destes autores à chave do

culturalismo empobrece o debate político transformador contemporâneo, dificultando

aprimorar a discussão, em busca da precisão necessária à intervenção no processo social.

A centralidade do trabalho informal no capitalismo global: uma abordagem crítica

Bruno José Rodrigues Durães

Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Professor de Sociologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

Este texto é fruto do doutorado em Ciências Sociais na Unicamp, finalizado em 2011, em

que pesquisei os camelôs de tecnologia do Rio de Janeiro, e é também resultado de

pesquisas em andamento sobre o tema que realizo na Bahia. O objetivo é apresentar

elementos gerais desse novo camelô reconfigurado, por em evidência suas características

singulares, como seu estilo empresarial de trabalho, distinto dos camelôs tradicionais, bem

como objetiva-se estabelecer uma ligação entre essa informalidade reconfigurada e sua

centralidade na reprodução ampliada do capital global. Ou seja, almeja-se analisar como o

capitalismo recoloca determinadas formas de trabalho em detrimento de outras e como a

informalidade, metamorfoseada, volta a ser colocada no centro da acumulação, em diversas

conexões com os trabalhos ditos formais (via terceirização, precarização etc.). Na verdade,

a informalidade, em suas diversas facetas, não apenas ligadas ao trabalho de rua, passa a

ser coloca na linha de frente da acumulação como nunca antes. O capitalismo, mais uma

vez, apresenta suas faces truncadas e, em certos aspectos, anacrônicas de trabalho

modernizado e precário, de novas e velhas formas de acumulação e exploração da força

humana que trabalha. Assim, nesse contexto, pretende-se refletir sobre a centralidade do

trabalho informal (e/ou ilegal) na expansão capitalista. Se a informalidade não fosse

rentável porque ela perduraria por décadas? Seria apenas resultado do desemprego e de

desajustes na economia, ou é oriunda da cultura/tradição ou da reação política e social dos

trabalhadores?

Dia 22/05 – das 9 às 12 horas

SIMPÓSIO TEMÁTICO 02: O CINEMA BAIANO NAS ONDAS DA

HISTORIOGRAFIA.

Coordenadores: Profa. Caroline de Araújo Lima e Prof. Edevard Pinto França Junior.

Sala: Sala 07 – Prédio Principal.

O cinema baiano na onda ditadura militar (1964-1980): Desconstrução e

representação social na Bahia a partir do cinema

Beatriz Café Sacramento

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

Page 71: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

[email protected]

O projeto “O cinema baiano na onda ditadura militar (1964-1980): Desconstrução e

representação social na Bahia a partir do cinema” tem como objetivo compreender o

cinema baiano como grande veículo de desconstrução de um ideal de cidadania no Brasil e

de produções cinematográficas que, em geral, se limitavam a exibir o cotidiano das elites,

exceptuando a representação o popular e os problemas sociais. O recorte foi definido de

acordo com o período ditatorial brasileiro, para que se compreenda como se deu essa

desconstrução com a presença da censura. A partir desse projeto, pensa-se em outro, com a

temática “cinema e ensino de história”, para a atuação no PIBID-UEFS em turmas de 9º

ano.

O Cinema e a Memória: o papel dos cineastas baianos e o cangaço documentado

Caroline de Araújo Lima

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Professora Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII [email protected]

Considerando o trabalho de pesquisa iniciado no Mestrado sobre O Cangaço no Cinema, e

a continuação desta no Projeto de Iniciação Científica “O cineasta em busca da brasilidade

perdida: o cinema, os literatos e as representações do cangaço”, identificou-se que este

movimento foi apresentado nas películas, a partir da concepção de banditismo social,

noção discutida teoricamente por autores como Eric J. Hobsbawm Carlos Alberto Dória.

Segundo os autores, o banditismo social oscila entre um fenômeno – o universal – e uma

forma de reação popular a um determinado sistema político e econômico. Compreendendo

que a arte não faz a história, mas participa dela, propõe-se estudar as representações do

sertão baiano no ciclo de filmes relacionados ao cangaceirismo. Busca-se entender como

foi construído e produzido as representações e estereótipos desse espaço e de seus

personagens, analisando a obra cinematográfica enquanto um produto artístico e qual

contexto ele foi produzido. Destaca-se os debates em torno da memória sobre esse

fenômeno social tendo como objeto de análise os documentários “A Musa do cangaço” de

José Umberto e “Feminino Cangaço” de Manoel Neto e Lucas Viana, obras que registram

lembranças e memórias que constituem uma história do cinema baiano.

Cinema: um dos símbolos da modernidade

Cristiane da Silva Souza

Graduanda em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

O cinema surge como um dos símbolos da modernidade no cenário mundial em fins do

século XIX e as primeiras salas de exibição são inauguradas em 1896 no Brasil, iniciando a

produção de “vistas” brasileiras a partir de 1898 com as filmagens da Baia da Guanabara

por Afonso Segreto. No entanto, o cinema, e em especial, o cinema brasileiro ainda é

muito pouco estudado e discutido pelos historiadores, mesmo assim temos bastante

referencial de estudiosos do cinema inseridos em outras áreas, tal como do próprio cinema

e das comunicações. Em Itaberaba, o cinema surge depois da chamada Belle Époque, mas

Page 72: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

as suas influências e ideais de modernidade, urbanização, processo civilizatório e

higienização chegam à cidade transformando o cotidiano da população, com o alargamento

das ruas, instalação da iluminação pública, e a retirada dos animais das ruas, sobretudo do

centro. E nesse sentido, o cinema será um instrumento importante na propagação desses

novos padrões, por meio dos filmes estrangeiros. Dessa forma, este estudo busca situar o

leitor em que contexto o cinema em Itaberaba estava inserido, destacando a trajetória do

cinema deste o seu surgimento na Europa até a sua chegada em Itaberaba na Bahia. Assim,

objetivando compreender como isso se deu, trabalho com análise, interpretação e

cruzamento de fontes documentais e orais – periódicos e entrevistas, uma vez que tanto os

jornais quanto a oralidade são uma forma de reconstituição do passado por meio da visão e

da memória de alguém, nesse sentido, autores como Tania Regina de Luca, Danièle

Voldmam e Ecléa Bosi são fundamentais para trabalhar com tipo de fontes. Além disso,

ao longo do artigo aparecem alguns conceitos e termos como sociabilidade, modernidade e

processo civilizatório, de modo que os teóricos que embasam a discussão são Nicolau

Sevcenko, Rinaldo Leite, Norbert Elias e José de Alcântara Junior.

Um sertão novo no Cinema Novo? Rupturas e permanências em Deus e o diabo na

Terra do Sol

Dandara dos Santos Silva

Graduanda em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Mirian dos Santos Marques Graduanda em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIII

[email protected]

Esta comunicação é resultado de atividade de pesquisa desenvolvida no Projeto de

Iniciação Científica O cineasta em busca da brasilidade perdida: o cinema, os literatos e

as representações do cangaço, no qual dedicou-se analisar a participação do Cineasta

baiano Glauber Rocha no Movimento do Cinema Novo, com o objetivo de identificar um

discurso militante e político na obra, ou até onde o filme apresenta elementos do ciclo de

filmes Nordestern. Tendo em vista a frase „„mudar o sertão‟‟ remete-se a ideia de

transformação política, discurso desenvolvido em Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964),

o qual evidenciou o cangaceirismo e o messianismo como um estilo de vida, uma

alternativa as mazelas sertanejas. A partir de uma discussão teórica através da relação

história e cinema, no campo da História Cultural, considerando a produção de

representações do mundo sertanejo propõe-se problematizar como uma obra com

características políticas e de denuncia permitiu a presença de estereótipos para caracterizar

o sertão baiano, e a importância da obra fílmica na constituição de uma História do Cinema

Baiano.

A Bahia e a morte do cinema: a baianidade no documentário O Capeta C

Edevard Pinto França Junior

Especialista em Estudos Culturais em História e Linguagens pelo Centro Universitário Jorge Amado -

UNIJORGE

Professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes

[email protected]

Este texto tem como objeto de estudo da baianidade no filme O capeta Carybé.

Primeiramente, vamos realizar um panorama da produção documentária na Bahia, segundo

os estudos de Osmundo Pinho e Agnes Mariano. Posteriormente, analisaremos as formas

Page 73: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

de disseminação da baianidade, como a música e a literatura, através de Jorge Amado e

Dorival Caymmi. Nesta parte será analisado o livro homônimo de Amado e do próprio

Carybé. Por fim, vamos examinar as representações da baianidade no documentário O

capeta Carybé, produzido na década de 1990 pelo diretor Agnaldo Siri Azevedo. Este texto

é parte dos estudos preliminares do projeto de mestrado, fruto das inquietações produzidas

durante curso de especialização em Estudos Culturais, História e Linguagens.

Entre a História e o Cinema: representações da África

no filme hollywoodiano o Congo

Edite Nascimento Lopes

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Uma narrativa fílmica deve ser considerada como excelente possibilidade para o

entendimento da história. É um documento histórico por excelência, uma vez que possui as

marcas da sociedade que o fez. É também, antes de tudo, uma linguagem diferente do texto

escrito, dotada de lógica e sentidos que lhe conferem identidade e coerência. Este trabalho

compartilha da ideia de que a História e o Cinema se constituem em um campo já

consolidado, com importantes reflexões para o conhecimento histórico, como também para

o Cinema propriamente dito. O presente trabalho tem como objetivo discutir o continente

africano a partir das representações fílmicas da indústria cinematográfica hollywoodiana.

Através da análise do filme “O Congo”, lançado no Brasil em 1995, procura-se mostrar

como as imagens e cenas contribuem para consolidar visões e sentidos baseados em clichês

e estereotipias clássicas, bastante presentes nos filmes análogos, que tematizam o

continente africano. Para este trabalho foram utilizados os trabalhos dos historiadores

africanos Elikia M ´Bokolo e Joseph Ki Zerbo como forma de mostrar outra África,

diferente da que foi apresentada no filme em questão. Percebe-se então, que a indústria

cinematográfica reitera valores eurocêntricos para representar o continente africano sob a

marca do homogêneo. Nesse sentido, este trabalho analisa estas representações, cotejando-

as com bibliografia existente sobre a História do continente africano. Este trabalho também

procura discutir as concepções existentes nas representações que marcam a África e seus

habitantes como sendo um “lugar” diferente dos demais, qual seja, um “lugar” de seres

desprovidos de racionalidade, sentido histórico e cultural.

Cinema Baiano e seus espaços formativos (1950-1978)

Izabel de Fátima Cruz Melo

Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP

Professora da Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Trago aqui reflexões que são desdobramentos de algumas questões surgidas durante a

escritura da dissertação de mestrado, mas que extrapolavam, naquele momento o objetivo

da pesquisa. Ao pesquisar as Jornadas de Cinema da Bahia encontrei diversas menções ao

Grupo Experimental de Cinema da Bahia (GEC) e ao Curso Livre de Cinema (CLC),

atividade a ele vinculado, além da continuidade do Clube de Cinema da Bahia (CCB),

iniciado por Walter da Silveira em 1950 e que após o seu falecimento, fica sob a

organização de Guido Araújo. Em linhas gerais, intento investigar a triangulação existente

entre o CCB, GEC/CLC e as Jornadas como espaço formativo de uma sensibilidade

Page 74: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

cinematográfica em Salvador entre os anos 50 e 70, que possibilitou a emergência de

realizadores, críticos, cineclubistas, cursos, criando, enfim, uma sociabilidade em torno do

cinema.

Mulheres sertanejas em cena: o sertão nordestino

e as cangaceiras no cinema western

Michele Soares Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus - XVIII [email protected]

A comunicação ora apresentada é resultado do trabalho de iniciação científica História,

Cinema e Ensino de Historia: O sertão, o cangaceiro e o beato no cinema brasileiro

(1950-1970) referente aos anos 2012-2013, orientado pela Msc. Caroline Araújo. As

análises fílmicas durante o projeto culminaram numa nova problemática: como as

cangaceiras foram representadas no cinema brasileiro, tendo como fonte os filmes

seguindo a linha de Western O Cangaceiro (1953) Victor Lima Barreto e o Remake do

Cangaceiro (1997) de Anibal Massaini Neto, propondo-se construir a partir destes um

quadro comparativo e buscando compreender como foi construída a imagem dos

cangaceiros, principalmente cangaceiras, procurando identificar se houve a permanência

das características associadas às mulheres no cangaço do filme de Victor Lima Barreto no

cinema da retomada, tendo consciência que essas produções são posteriores a esse

fenômeno e que tais não são a realidade em si. A análise desses filmes pauta-se nas

contribuições de pesquisadores no estudo sobre mulheres, como Michelle Perrot, Simone

Beauvoir dentre outras no que se refere à história das mulheres e pesquisadores em

temática sobre o cangaceirismo: Frederico Pernambucano Melo, Rui Facó, Maria Isaura

Queiroz, Caroline de Araújo Lima, Eric Hobsbawm e Ana Freitas, sendo imprescindível

esse embasamento teórico para se compreender os motivos culminantes do surgimento do

cangaceirismo e a inserção de homens e de mulheres nesse fenômeno, também se utiliza

nesse trabalho como referenciais bibliográficos sobre os estudos acerca do cinema como

fonte, as pesquisas dos historiadores José de Assunção Barros, Marc Ferro e Marcos

Napolitano. O presente estudo busca desvendar os interesses por traz da produção dessas

longas metragens, levando em consideração que estas obras foram construídas em grande

parte por uma equipe masculina, ou seja, é o olhar destes sobre a participação destas

mulheres, o que possivelmente reforça um discurso permeado de ideologias de uma

sociedade patriarcalista.

Manhã Cinzenta: Olney São Paulo e as imagens dos Anos de Chumbo

Roberto Luis Bonfim dos Santos Filho

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A instauração da Ditadura militar entre os anos de (1964-85), deixou uma profunda

mancha na História da sociedade brasileira. Apagou diversos registros culturais, políticos e

históricos desse tempo, dificultando representações, opiniões e, sobretudo, críticas, dos que

não se adequaram às normas impostas pelos militares. Entretanto, houve um movimento

inverso à tentativa de enquadramento e retração da cultura brasileira, bem como das

produções artísticas e culturais. No cinema, música, teatro, tentou-se produzir olhares e

leituras desse tempo, esforços de testemunhar ao futuro a dura barra que experimentavam

Page 75: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

autores, atores, agentes históricos. Escrivães contracorrente deixaram marcas das lutas

contra a ditadura, registraram os embates de oposicionistas variados. O objetivo desse

trabalho é analisar esse período da História através das lentes de Olney São Paulo, cineasta

sertanejo de Riachão do Jaquípe, que, assim como outros artistas, teve sua trajetória

marcada pela ditadura e pelo cárcere, nos deixando porém sua leitura daqueles momentos

dramáticos perpetuada em seu filme “Manhã Cinzenta”, misto de filme-documentário que

retrata as repressões políticas promovida pela ditadura e a reação de jovens a este triste e

cinzento episódio da História do Brasil. O procedimento metodológico terá como base a

análise interna/externa do filme, de modo a reconstruir os passos da elaboração fílmica,

que vão desde a montagem, roteiro, personagens, cenas, enquadramento, fotografias, até o

momento da distribuição, exibição e recepção dos expectadores, especialmente os cineastas

do período e as críticas feitas ao filme e, sobretudo, aos militares, a repercussão que causou

ao governo ditatorial, frente a contundente crítica política existente no filme e o regime de

confisco da democracia e do livre direito de expressão do pensamento.

Sertão glauberiano: um devir revolucionário

Suzana Santana de Souza

Graduada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

O presente trabalho é um dos resultados parciais do subprojeto Literatos e Cineastas: a

visão dos intelectuais sobre o sertão, iniciado em 2013 financiado pela FAPESB, o qual

possui o referencial teórico debruçado sobre os estudos da chamada História Cultural e

Social. Neste segmento, a presente comunicação propõe analisar as películas Deus e o

Diabo na Terra do Sol (1964) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1968),

ambas produzidas pelo cineasta baiano Glauber Rocha. Os filmes apresentam temáticas

semelhantes, porém abordagens diferenciadas, sendo a película de 1968 para Rocha

(2004), uma tentativa de problematizar questões complexas e profundas através de uma

linguagem que fosse compreendida pelas massas através de uma estética Western com

personagens épicos, sem apresentar o intelectualismo presente na obra de 1964. Este

intelectual tornou-se uma personalidade marcante no cenário cultural e político na década

de 1960 e grande influenciador do novo projeto de nação no período do Cinema Novo.

Suas obras utilizam da imagem como instrumento de produção de significados, abordando

um mundo que não é constatado em primeira instância. Observa-se de acordo com a

perspectiva deleuziana que as diversas manifestações populares são vistas como

possibilidade de transformação e criação de um mundo que ainda não existia, mas algo que

estaria por vir. Assim, o cineasta observava o cinema como a possibilidade de criação de

novos mundos singulares que fossem mais visíveis e propagados, além da possibilidade de

fabulação comum entre povo e arte. De acordo com Deleuze (1992, p. 214), o povo será

sempre uma minoria criadora, uma vez que as maiorias e minorias não são distinguidas

pela quantidade de pessoas que as constituem. O que corresponde ser a maioria é estar

compatível ao padrão que foi convencionado, ao contrário das minorias que não têm um

padrão definido, vive de um devir em processo. Na perspectiva de Rocha seria através da

violência e da revolução que este povo estaria a vias de tornar-se, acreditava-se dessa

forma na possibilidade de criação de um novo modelo político nacionalista através das

raízes da nossa própria cultura. Diante destes pressupostos, utilizando a perspectiva

deleuziana de devir, o presente trabalho objetiva compreender como o sertão nordestino, os

movimentos messiânicos e do cangaço são representados nessas películas, uma vez que

Page 76: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

para este cineasta, a violência marcante do cangaço favoreceria para o surgimento de um

devir revolucionário e este buscava um cinema engajado com a possibilidade de revolução

e de criação de um mundo que ainda não existia.

Mais margem do que o marginal: o cinema de bordas como novo capítulo da História

do cinema no Brasil

Vagner Oliveira dos Santos

Mestre em Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

[email protected]

Distante das características do Cinema Marginal, muito popular na década de 1970, o

cinema de bordas surge junto às camadas populares de parca formação escolar e condição

financeira, nas periferias dos grandes centros e em cidades do interior. Sua estética

pauperizada e ausência de proposições ideológicas nos revelam novas nuances da

popularização dos multimeios. Na cidade de Rio Real, interior da Bahia conhecido pela

citricultura, Nerivaldo Ferreira, filho de agricultores, autodidata, estudou e ensinou Kung

Fu e produziu uma dezena de filmes, sendo os seis primeiros de artes marciais (2002-

2008). Partindo da pesquisa O Bruce Lee do Sertão (PÓS-CRÍTICA/UNEB, 2010-2012), o

objetivo desta comunicação é apresentar e discutir os aspectos sociais que envolvem

produção, narrativa, circulação e consumo dos filmes de Nerivaldo Ferreira, apontando

para as relações entre cinema, trajetória individual e obra cinematográfica. Que

circunstâncias levaram Nerivaldo Ferreira ao cinema de artes marciais e a se tornar o

“Bruce Lee do Sertão” e como sua trajetória de vida interfere em sua forma de produção e

em sua obra? Que alternativas oferece esta obra para a gestão dos meios de comunicação,

do cinema em particular, nas periferias dos países em desenvolvimento? Descrevendo os

elementos estruturais da obra de Nerivaldo Ferreira (contato com cinema, gênero,

concepção e modo de produção, circulação e consumo das obras) e analisando os mesmos

através de entrevistas e diário de campo, pode-se constatar um novo capítulo da história do

cinema no Brasil, com novas conformações sociais e econômicas. Como conceitos

norteadores, se destacam os de “cinema periférico de bordas” de Bernadette Lyra [et al],

“uso” de Michel de Certeau, “culturas híbridas” de Nestor Canclini, “mediador” de Jesús

Martín-Barbero e “cuidado de si” de Michel Foucault.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 03: TRABALHO E TRABALHADORES,

HISTÓRIAS E SOCIABILIDADES.

Coordenadores: Prof. Iuri Roberto Sacramento Ramos e Prof. Luiz Paulo Jesus de Oliveira.

Sala: Sala 01 – Prédio Principal.

Carvão, fumaça e sindicalismo: a formação da força de trabalho férrea de Alagoinhas

(1858-1888)

Luan Lima Batista

Graduando em História da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Page 77: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

A presente pesquisa tem por objetivo estudar a formação da classe operária baiana, com

ênfase aos trabalhadores empregos pela São Francisco Railway Company na construção da

Estrada de Ferro Bahia ao São Francisco. A análise se dedica aos trintas anos que

antecedem a abolição da escravatura no Brasil, período onde não existiam ações sindicais

ou uma organização burocrática por parte dos trabalhadores. Nossa proposta é perceber o

“fazer-se” classe desses trabalhadores a partir do cotidiano de luta e opressões, bem como,

identificar os laços de solidariedade e resistência que esses homens forjaram em suas

trajetórias. Busca-se também, investigar ao jogo político em torno do processo de

implantação do terminal ferroviário na cidade de Alagoinhas, no recôncavo. Para tal,

utilizamos enquanto aporte teórico e metodológico os pressupostos História Social Inglesa,

sobretudo as contribuições do historiador inglês E. P. Thompson, em especial os conceitos

de cultura e experiência. A documentação analisada é vasta e advêm tanto de arquivos

públicos, como fundações e acervos digitais. Dentre esses destacamos, as Falas e

Relatórios proferidos por Presidentes da Província e apresentados na assembleia

Legislativa da Bahia (APEB), as Atas do Conselho Municipal de Alagoinhas e o periódico

Noticiador Alagoinhense (FIGAM), mais os jornais O Monitor, Correio da Bahia, Diário

de Noticias, Gazeta da Bahia, Anaes da Assembleia Legislativa e Relatório dos Trabalhos

Interino do Governo da Bahia Correio da Bahia, todos disponíveis na base digital da

Biblioteca Nacional. Este esforço de pesquisa é vinculado ao projeto Auge e Declínio dos

Ferroviários na Bahia (1858-1964): o caso Alagoinhas, sobre a orientação da Professora

Dra. Elizete da Silva.

A indústria do petróleo e os reflexos do desenvolvimento na cidade de Alagoinhas

(1959-1970)

Lidiane Mendes Sacramento

Graduanda em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Esta proposta de comunicação está vinculada ao projeto de Pesquisa “A indústria do

petróleo e os reflexos do desenvolvimento na cidade de Alagoinhas (1959-1970)”. Essa

pesquisa ainda está por ser desenvolvida e seu objetivo, é analisar o impacto que o

município de Alagoinhas sofreu em seus aspectos econômicos e sociais com a chegada dos

trabalhadores em função da instalação da indústria do petróleo no período de 1959 a 1970.

Interessa aqui discutir o processo de crescimento econômico dos trabalhadores da categoria

petroleira em meio a evolução econômica da cidade de Alagoinhas tendo em vista que

formou-se uma classe de trabalhadores qualificada, no qual boa parte oriunda de outros

Estados, mas que apresentavam baixa qualificação técnica. Para a discussão dessa pesquisa

foi feito o levantamento das fontes como: a Enciclopédia dos municípios brasileiros;

Análise global da economia baiana; Revistas nº 26 da Petrobrás, jornais da época como o

Nordeste, Atas da Câmara Municipal de Vereadores. Além disso, podem ser utilizadas,

entrevistas que deverão ser realizadas junto a ex-funcionários da referida empresa assim

como pensionistas. Dados do IBGE e SEI, fotografias, incursões na FIGAM, Arquivo

público do município, Sindipetro-Ba, Astape-Ba e acessos aos sites da Petrobrás também

serão de fundamental importância. A partir da pesquisa bibliográfica sobre o município de

Alagoinhas, percebe-se que no período de 1950/1960 houve um crescimento do êxodo

rural e um crescimento das cidades em todo o país, mas, a cidade de Alagoinhas em

destaque, possivelmente teve como fator contribuinte para o rápido processo de

crescimento urbano, a presença da Petrobrás. Nesse contexto procuro investigar o

crescimento e desenvolvimento de Alagoinhas com a chegada da indústria do petróleo -

Page 78: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Petrobrás, refletindo sobre o impacto econômico e social na cidade e analisar o processo de

crescimento econômico dessa classe de trabalhadores em meio a evolução econômica da

cidade de Alagoinhas.

Trabalho e moradia: a dupla atuação das mulheres donas de pensões

na cidade de Alagoinhas-Ba (1960-1970)

Jucilene de Oliveira Barbosa

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Nas décadas de 1960 e 1970 a cidade de Alagoinhas contava com poucos hotéis. A

demanda por hospedagem no período foi intensificada pelo aumento do comércio, da feira

livre e implantação da Petrobrás na região. Nesse contexto, algumas mulheres, mães de

família, e em alguns casos, chefes de família procuraram conciliar o ato de ficar em casa

cuidando dos filhos e ter uma atividade que lhes proporcionasse renda. Construindo e

reconstruindo seus papéis e suas identidades a partir de lutas próprias, essas mulheres

souberam utilizar as brechas existentes e procuraram formas de sobrevivência para si e

para suas famílias, afinal, naquele contexto, ser dona de pensão possibilitou a manutenção

dos papéis atribuídos socialmente as mulheres de mães e permitiu sua atuação no mercado

de trabalho, formal ou informal. O objetivo deste trabalho é conhecer a atuação de algumas

dessas mulheres. Seus recursos e estratégias de atuação numa atividade que para algumas

era totalmente nova. A seleção que faziam dos hospedes, em alguns casos mensalistas,

permanecendo longos períodos; A proteção dos filhos numa convivência forçada com os

hospedes mensalistas e/ou diaristas são questões que este estudo busca compreender.

Autores que lidam com as questões da identidade feminina e atuação profissional das

mulheres, ainda que os estudos sejam sobre a atuação das mulheres em outros períodos e

lugares são importantes para ajudar a compreender nosso objeto. Assim, autoras como

Michelle Perrot, Rachel Soihet, Maria Odila da Silva Dias, Maria Izilda Santos Matos,

Margareth Rago, Mary Del Priore e Carla Pinsky dão aporte teórico e metodológico a esse

estudo.

Organização do Trabalho Coletivo: a experiência da Cooperativa Agropecuária

Mista da Região de Alagoinhas – Coopera (1980-2000)

Nélio Conceição Costa

Graduando em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Procurando resoluções para problemas desde a produção até a comercialização dos seus

produtos, membros de comunidades rurais organizaram-se em movimentos de

Associativismo e Cooperativismo. Essa comunicação apresenta alguns aspectos do

desenvolvimento gerado pelo Movimento Social na Diocese de Alagoinhas, tendo como

base o Associativismo e o Cooperativismo, visando identificar quais influências esses

movimentos tiveram na formação desse grupo social. Busca-se compreender como estas

pessoas viviam antes e como elas passaram a viver a partir dessa experiência observando

as modificações sócio-espaciais e os novos arranjos paisagísticos e relacionais provocados

por toda essa dinâmica. Procura-se perceber o papel da Igreja nesta dinâmica e em que

medida ela contribuiu para as novas convivências desses sujeitos, fomentando uma nova

feição para o espaço em estudo. Embora já se tenha muitos estudos sobre práticas

Page 79: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

associativas e cooperativas, abordando sua importância para o desenvolvimento econômico

e social dos grupos sociais envolvidos, ainda é preciso estudar casos específicos para

compreensão da diversidade dessas experiências e esse estudo procura conhecer as

particularidades e especificidades do Movimento Social da Diocese da cidade de

Alagoinhas. Para tanto procura dialogar com os autores que discutem a temática dos

movimentos sociais e as religiosidades.

“A água virou cerveja?”: relações de trabalho na Schincariol

Álisson Cristian Santos Chagas

Graduando em História da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

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Este trabalho se ocupa de apresentar os primeiros passos de uma pesquisa ainda em curso

cujo objetivo é compreender de que maneira foram estabelecidas as relações de trabalho na

unidade fabril da Schincariol, situada no município de Alagoinhas-BA a partir do modelo

de gestão e organização do trabalho implementada pela indústria de bebidas. Busca-se

perceber as circunstâncias da instalação da planta industrial no município e de que maneira

os trabalhadores se “adequam” as demandas da empresa. Através dos depoimentos de

alguns funcionários (trabalhadores diretos, terceirizados, quarteirizados e das informações

disponibilizadas nos relatórios públicos da Empresa e em periódicos como a Gazeta dos

Municípios, O Folhão, Jornal de Alagoinhas) é possível identificar possíveis mobilizações,

as estratégias de resistência, as adesões “naturais” às táticas de cooptação da Empresa e o

perfil de seus trabalhadores. É necessário, ainda, analisar a construção de um discurso, por

parte dos poderes públicos locais, que coloca Alagoinhas como a terra da “água

cervejeira”. E mais, como a lógica de implantação da indústria, seu modelo de gestão e a

construção de afirmativas que justifiquem a formação do pólo de bebidas na cidade são

características próprias de um modelo específico de acumulação capitalista. Segundo

Ricardo Antunes (2002), a crise estrutural que marcou o sistema capitalista dos anos de

1970 provocou a implementação de um processo amplo de reestruturação produtiva do

capital a fim de repor os patamares de acumulação existentes no período anterior aos anos

70. Assim, faz-se necessário analisar qual a situação dos trabalhadores da cervejaria

Schincariol face às mudanças ocorridas no “mundo do trabalho”.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 06: ECONOMIA, SOCIEDADE E

POLÍTICA NA BAHIA COLONIAL.

Coordenadores: Prof. Poliana Cordeiro de Farias e Prof. Cândido Eugênio Domingues de

Souza.

Sala: Sala 06 – Prédio Principal.

As Missões Jesuítas pelo Interior da América Portuguesa: Redefinições e Limites da

Prática Missionária (1699-1702)

Antonildo Santos de Magalhães

Graduado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

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Este trabalho tem por objetivo discutir como a atuação missionária jesuíta pelo interior foi

redefinida, bem como apresentar os limites enfrentados para sua execução na colônia

Page 80: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

brasileira entre os anos de 1699-1702. Procuramos compreender como a atuação jesuíta

que inicialmente era destinada apenas aos gentios incorporou os colonos, e os africanos

escravizados, livres ou libertos. Quais foram os motivos deste fato e quais as

consequências para a Companhia de Jesus e os moradores das terras brasílicas, além da

Igreja secular, representada pela diocese? Destacamos os principais motivos para a

ocorrência deste fato. Primeiro, o espírito de caridade e piedade que movia Santo Inácio de

Loyola e seus companheiros, os soldados mais avançados no campo da atuação pastoral no

Período Moderno; segundo, a debilidade na estrutura da Igreja secular que exigiu que os

inacianos tentassem suprir a deficiência na assistência espiritual da população colonial.

Depois tratamos como essa atitude dos jesuítas exigiu um processo intenso de negociação

como os sujeitos e instituições das terras brasílicas. Pois afinal, nem a situação

desfavorável do escravizado, ou liberto de origem africana ou nativa conferia um estado de

passividade a esses sujeitos, nem o clero diocesano deixou de perceber, em alguns

momentos, a expansão do foco missionário jesuíta como uma usurpação dos seus direitos

jurisdicionais. Desta forma, contribuímos para a ampliação do conhecimento da religião e

da religiosidade cristã católica do período colonial brasileiro.

A Educação Jesuítica nas terras do Recôncavo: o Regulamento do Seminário de

Belém da Cachoeira

Alfredo Pinto da Silva Júnior

Mestrando em História Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

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O presente trabalho pretende analisar como se processou a educação jesuíta no Recôncavo

da Bahia, mais especificamente, no Seminário de Belém da Cachoeira, fundado pelo Padre

Alexandre de Gusmão no ano de 1686. Deste modo, o nosso objetivo consiste em analisar

a proposta educacional do referido Seminário e a que público se direcionava. Assim, a

partir do Regulamento – redigido pelo próprio fundador –, buscaremos observar como o

caráter religioso da Companhia de Jesus influenciou a pedagogia adotada no Colégio de

Belém, facilmente observada no seu cotidiano, e enfatizada veementemente pelo padre

fundador e Reitor do Seminário, que afirmava que o objetivo central desta instituição seria

“educar nas letras e guardar nos bons costumes”. Em sua atuação missionária no ultramar

lusitano, os padres jesuítas dedicaram-se à catequização e à conversão do gentio à fé

católica, que era inclusive a justificativa formal para a vinda destes religiosos. Mas com o

passar dos anos e no cotidiano da missão, os padres da Companhia “começaram a se

dedicar, também, ao ensino formal dos filhos dos colonos e demais membros da Colônia,

atingindo num último estágio até a formação da burguesia, constituída, principalmente,

pelos filhos dos donos de engenho”. Ora, a missão dos jesuítas, no sentido estrito, motivo

principal pelo qual o rei os enviou e financiou, é claramente a conversão dos índios. A

partir desta perspectiva, pode-se indagar os reais objetivos pedagógicos do Seminário de

Belém da Cachoeira, que “incluía entre os excluídos” os índios, que outrora foram

apresentados como motivação primeira e principal para a vinda dos missionários da

Companhia de Jesus. No que se refere à educação formal nas terras do Recôncavo, os

jesuítas institucionalizaram suas atividades no Seminário de Belém, e neste espaço

desconsideraram a dita “missão principal” de civilizar os índios, uma vez que não

permitiam o acesso destes a educação ministrada no Seminário. O Colégio de Belém da

Cachoeira assumira, portanto, um caráter propedêutico e aristocrático, no sentido de

preparar os filhos dos colonos para prosseguirem seus estudos em universidades europeias.

Pautando-se, mormente, na perspectiva teórico-metodológica da História Cultural,

Page 81: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

pretendemos analisar os discursos e representações dos jesuítas acerca das suas próprias

práticas pedagógicas e sobre os filhos dos colonos, índios, negros e mestiços.

De aldeia a vila: a trajetória de uma povoação indígena

no sertão da Bahia (séculos XVII-XVIII)

Fabricio Lyrio Santos

Doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

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As populações nativas do atual território brasileiro foram agrupadas, no período colonial,

em povoações denominadas “aldeias”, fruto do empenho colonizador e catequético que

buscava conciliar os fins temporais e espirituais da expansão ultramarina lusitana. O

regimento do primeiro governador geral da colônia, Tomé de Souza, indicava a

necessidade de reunir os denominados “índios” em povoações, e os missionários da

Companhia de Jesus, tão logo perceberam que a catequese itinerante rendia poucos

resultados efetivos, trataram de pôr em prática uma forte política de “aldeamento” das

populações nativas. As aldeias propiciaram aos índios experiências diversas de adaptação e

resistência ao modo de vida cristão e europeu, tornando-se espaços plurais, tanto coloniais

quanto indígenas. A aldeia de Natuba, fundada por volta de 1666 no sertão da Bahia, teve

uma trajetória de quase um século, vindo a se tornar vila em 1758, com a promulgação da

legislação pombalina e a expulsão dos missionários que ali residiam. Ela aparece várias

vezes na documentação, em episódios que revelam diversos tipos de relação entre os índios

e os colonos e entre estes e os missionários, razão pela qual propomos, nesta comunicação,

uma síntese sobre sua trajetória. A partir da análise da documentação, torna-se evidente

que a aldeia de Natuba pode ser caracterizada como uma das principais povoações

indígenas coloniais, ressaltando-se o papel dos índios na formação da sociedade brasileira.

Da Letra da Lei às Práticas Coloniais: Índios Administrados e Colonos

na Capitania de Ilhéus

Rafael dos Santos Barros

Mestrando pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

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Esta comunicação descreverá a expansão colonizadora do território da Capitania dos Ilhéus

na primeira metade do século XVIII, tendo em vista “proteger” a sobredita capitania dos

ataques dos índios Gueren que viviam resistentes ao projeto implantado por Portugal

naquele território. Por estarem resistentes, os Gueren, subgrupo dos Botocudo, foram

descritos pelos jesuítas, cronistas e alguns ilustrados da sociedade dominante como

verdadeiros “demônios antropofágicos”, sendo responsáveis pela desagregação do sistema

produtivo, motivando o deslocamento dos colonos da Capitania dos Ilhéus para outras

áreas, decretando a falência das atividades agrário exportadora. No entanto, nossa pesquisa

discorda dessa assertiva, pois percebemos que caracterizações dessa natureza serviam para

legitimar o cativeiro desses grupos. O foco dessa exposição é atuação dos capitães-mores

Antônio Veloso e José Figueira, bem com a política indigenista confeccionada para

legitimar o ataque e escravização dos “Bárbaros Povos”. Por fim se analisará a aliança dos

Gueren com o segundo capitão-mor e suas estratégias para requererem das autoridades

competentes o tratamento destinado aos aliados do rei de Portugal, a saber, uma légua de

terra demarcada, o direito de ser bem tratados e a autorização para andarem armados,

Page 82: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

reivindicações simples do ponto de vista atual, mas que tinha grande peso no contexto

colonial setecentista.

A Colonização da Antiga Capitânia de Porto Seguro (1808-1817): Economia e

Povoamento na ação colonizadora

Callebe Bastos Santos

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII / Bolsista IC/Fapesb

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Neste presente trabalho apresentaremos o resultado referente à pesquisa do subprojeto de

Iniciação Cientifica intitulado Projeto e ação colonizadora em Porto Seguro no tempo de

José Marcelino da Cunha (1810-1819), que faz parte do projeto A colonização da antiga

Capitania de Porto Seguro na crise do Antigo Regime na América portuguesa: autoridades

políticas, colonos e índios entre os anos de 1810 e 1819. Entende-se este projeto de suma

importância para se entender o período colonial na Comarca de Porto Seguro devido à

escassez de trabalhos sobre esta região e neste período. Neste trabalho apresentaremos o

contexto no qual a América se inseriu no período de José Marcelino, ouvidor da comarca

no período estudado, sendo a vinda da Família Real, com primeiro destes eventos externos,

a política colonial adotada a partir de então, facilidade no relacionamento entre colonos e a

Coroa, já que a mesma se encontrava na Colônia, e por fim também procurar caracterizar

como se dava a política econômica adotada pela Coroa quando esta se encontrava nos

trópicos, e perceber o impacto deste contexto na Comarca de Porto Seguro, como a ação

colonizadora de José Marcelino que se voltava pela busca do “desenvolvimento”

econômico da mesma. Além de entender é claro a questão indígena que é bastante presente

neste período da colonização, principalmente na Comarca de Porto Seguro, que como se

pode ser observado nesta pesquisa era bastante evidente nesta região. Sendo assim no

possibilitando entender e caracterizar a própria dinâmica e demandas da própria Comarca

entendendo que a mesma possui singularidades históricas que outrora ignoradas pela

historiografia ou generalizadas dentro de um contexto completamente diferente do que se

pode perceber por meio do desenvolvimento desta pesquisa e dos pouquíssimos trabalhos

recentes sobre esta região da América Portuguesa. E com isso poder contribuir para uma

melhor e mais ampla do período colonial, principalmente no que tange a região de Porto

Seguro.

A Colonização da Antiga Capitânia de Porto Seguro (1808-1817): a Crise luso

portuguesa e a relação de Convívio entre Índios, Colonos e Autoridades Políticas no

período Oitocentista

Cláudio Andrade das Virgens

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII / Bolsista IC/PICIN

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Este resumo tem como finalidade analisar e discutir as experiências de vida entre Índios,

Colonos e autoridades políticas existentes na capitânia de Porto Seguro, compreendendo

também a importância da reforma Joanina durante o período da crise econômica

metropolitana portuguesa com a migração da Família Real para o Brasil e como essa

reforma contribuiu significativamente para o redirecionamento de uma conduta opressiva

de política de colonização aos povos indígenas da região do extremo sul baiano. A

pesquisa propõe também analisar e investigar o governo do Ouvidor José Marcelino da

Cunha que administrou os territórios da região de Porto Seguro entre (1808-1817). Esse

Page 83: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

período foi caracterizado por uma violenta política de dominação territorial ás terras dos

povos indígenas fazendo com que os mesmos se refugiassem para a zona de fronteiras em

solos dos sertões da Bahia, ocasionando grandes conflitos entre os sesmeiros, meeiros e

nativos da terra no interior do extremo sul baiano. Assim, como uma forma de intensificar

e fortalecer os domínios territoriais o então ouvidor José Marcelino da Cunha buscou

acima de tudo organizar e criar alianças com as demais autoridades políticas por meio de

trocas de favores buscando o incentivo da migração de estrangeiros para Capitania de

Porto Seguro e iniciou um processo de aldeamento de milícias de índios com o desígnio de

proteger as estradas que acoplaria o litoral com a região de Minas Gerais. Com a crise da

produção econômica da metrópole e a vinda de D. João VI para a Corte do Rio de Janeiro

foi preciso buscar novos recursos para a incorporação do fortalecimento da economia como

uma forma de reestruturar as bases parcimoniosas da corte portuguesa e também garantir o

sustento da delegação da Coroa Real no Brasil. Segundo (Maria Hilda Paraíso 1998), foi

necessária a criação e a intensificação de diversos gêneros e subsídios alimentícios, deste

modo, houve o processo de ampliação nas pautas de exportações e em concomitância a

isso se teve também a expansão da exploração de terras interiorizadas fazendo com que os

povos nativos se refugiassem para áreas de risco de conflitos entrando desta forma em

constantes discórdias com os posseiros existentes no interior do sertão baiano neste caso

(Cunha 1992), afirmaria que “a questão indígena deixou de ser uma questão de mão-de-

obra para se tornar uma questão de terras”, gerando deste modo intrínsecos conflitos entre

nativos e colonizadores.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 08: ESTADO, INTELECTUAIS E LUTAS

SOCIAIS NO BRASIL DO SÉCULO XX E XXI.

Coordenadores: Prof. Diego Carvalho Corrêa e Profa. Tamires Assad Nery de Brito.

Sala: Sala 08 – Prédio Principal.

A militância feirense de esquerda no caminho da radicalização: contexto político,

embates e o processo de formação

Cláudia Ellen Guimarães de Oliveira

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

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No contexto da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), tiveram alguns grupos esquerda que

aderiram à resistência armada, a exemplo do Movimento Revolucionário 8 de Outubro

(MR-8), VAR-Palmares e Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR),

organizações dissidentes do Partido Comunista Brasileiro, que mantiveram ramificações na

Bahia. Este trabalho propõe uma abordagem sobre lutas de esquerda armada no interior

baiano (1960-1970) e problematiza a militância feirense atuante no processo de resistência

ao regime militar iniciado em 1964. O objetivo, portanto, é apresentar os elementos

formadores dessa militância de Feira de Santana, no cenário das movimentações estudantis

e populares até o total fechamento do regime quando então alguns estudantes ingressaram

na luta revolucionária. E desse modo investigar alguns aspectos da resistência armada no

interior da Bahia frente a Ditadura Civil-Militar. Este estudo pretende contribuir com os

Page 84: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

movimentos sociais que reivindicam revisões desse passado, principalmente a “Comissão

Nacional da Verdade”, e ampliar o campo de debate historiográfico sobre lutas de esquerda

no Brasil, para além dos debates centrados no eixo sudeste, e dentro das especificidades

locais e “interioranas” da Bahia. Como principal suporte teórico, a pesquisa faz uso dos

conceitos de história política de René Rémond, de História Local de José D‟Assunção

Barros, e o conceito de disputas de memórias (oficial/subalterna) de Michael Pollack, além

de empregar pesquisadores brasileiros da Ditadura Civil-Militar como Jacob Gorender e

Sandra Regina B. da Silva. Do ponto de vista metodológico esse trabalho se enquadra no

campo da história oral, pois se baseia em memórias de sujeitos, e também na análise de

fontes escritas. As principais fontes são depoimentos orais, jornais e processos judiciais.

Política Operária: as cisões de uma organização revolucionária (1961-1971)

Lineker Oliveira Noberto da Silva

Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF

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Nesta pesquisa investiga-se a história das cisões pela qual passou a Organização

Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-POLOP) entre 1961, ano de seu

surgimento, há 1971, ano em que se reorganiza com o nome de OCML-PO (Organização

de Combate Marxista-Leninista Política Operária). A fundação da POLOP (sigla pela qual

a organização tornou-se conhecida) foi o resultado de uma série de debates, e articulações

entre quadros políticos e intelectuais (estudantes, professores, militares de baixa patente,

etc.) que então militavam em pequenas organizações políticas, iniciadas no final dos anos

1950 e consolidadas no seu I Congresso em 1961 em Jundiaí/SP. Após o golpe civil-militar

de 1964, a POLOP passa pela sua primeira grande cisão consolidada em 1967 em seu IV

congresso, provocado pela discordância insuperável dos grupos majoritários de Minas

Gerais e São Paulo que divergiram da posição da direção a respeito da questão da luta

armada. Esta cisão de 1967, que dividiu a POLOP, deu origem a novas organizações que

atuariam na luta armada explicita. Como o Comando de Libertação nacional (COLINA), e

a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). O grupo que permaneceu na POLOP

procurou articular-se com dissidências do PCB em algumas regiões do país. Nascendo

deste esforço o Partido Operário Comunista (POC). Foi através do POC que militantes da

“velha” POLOP chegaram a ter certa participação nas famosas greves de 1968, em

Contagem e, principalmente, Osasco. No entanto, no interior do POC reapareceram

divergências programáticas intensas, resultando em 1971, em um novo fracionamento que

deu origem a Organização de Combate Marxista-Leninista – Política Operária (OCML-

PO). O objetivo principal da atual pesquisa é analisar o porquê destes “rachas”, e como

foram estes momentos de inúmeras tentativas de reestruturação de uma organização

trabalhadora independente. Focando principalmente, sobre a função e os limites da luta

armada, e como foi debatido está questão entre a esquerda brasileira naqueles momentos de

agitações políticas que vivia o país, entendendo a conjuntura pela qual passava a POLOP

durante o período estudado. Para tanto, teremos em Gramsci nosso principal referencial

teórico-metodológico, visto a concepção deste autor sobre partido político e intelectuais.

Page 85: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Cultura política de resistência e de vanguarda dirigente no pensamento

contra-hegemônico de Carlos Marighella

Yang Borges Chung

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

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Este trabalho tem como objeto a relação entre a Cultura Política de Resistência e de

Vanguarda Dirigente no Pensamento contra-hegemônico de Carlos Marighella, utilizando

os conceitos de cultura, hegemonia e contra-hegemonia.

Utilizamos alguns dos principais textos produzidos por Carlos Marighella e de autores que

escreveram a respeito da sua obra, procurando à luz da literatura e dos conceitos de cultura,

hegemonia e contra-hegemonia e do período histórico que os mesmo atuou na vida política

brasileira compreender a evolução das suas ações, do seu pensamento político e teórico,

bem como da sua concepção programática para construção da revolução brasileira e do

Socialismo no Brasil. Entretanto, outros trabalhos ainda se fazem necessários para

ampliarmos nossa compreensão de qual concepção de vanguarda o mesmo defendia e

trabalhou para construir, bem como melhor caracterização história a respeito da natureza

da hegemonia burguesa no Brasil nas décadas de 1930, 1940, 1950 e 1960.

Carlos Marighella é um dos principais nomes do que seja o trabalho para a construção de

uma Nova Cultura Política que traga direitos para toda a sociedade brasileira no plano

material, econômico, político, sociocultural, simbólico e afetivo. Nova Cultura, na sua

dimensão estrutural e superestrutural. Suas ações, teorizações, lutas, valores,

comportamentos, práxis militante e de uma identidade de classe pautada em defesa da

mudança das difíceis condições de vida da imensa maioria da sociedade brasileira é um dos

grandes legados das lutas do povo brasileiro, do não abandono da defesa dos interesses do

seu povo (suas origens) e de uma síntese mais apurada da construção do Socialismo no

Brasil e utilização do marxismo com instrumento de análise e transformação da realidade.

Nos seus escritos encontram-se argumentos e formulações que tratam da superação da

pobreza, do autoritarismo, do atraso, da dependência e subdesenvolvimento, da

necessidade de investimento massivo na educação, saúde, ciência e tecnologia. Crít icas a

métodos da política burocratizantes, caracterizações de períodos importantes que viveu na

história política brasileira e questões que ajudam a compreender a estrutura econômica e de

classes e os meios de superação dos grandes dilemas da sociedade brasileira.

O golpe e o regime civil-militar no Brasil sob lentes soviéticas (1964-1978)

Aruã Silva Lima

Doutorando em História em História Social pela Universidade de São Paulo - USP

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A presente comunicação tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa “A União

Soviética e os países de capitalismo tardio durante a Guerra Fria: África e América Latina”

e alguns resultados inicias. Iniciado em 2011, a partir de uma comunicação “The

Communist Party does not attempt to impose: antinomias e (in)adequações entre

comunistas e afro-americanos nos anos 20 e 30” no Seminário de Estudos sobre Guerra

Fria, realizado na Universidade de São Paulo, o projeto prevê um estudo sistemático a

partir das grandes divisões geográficas realizadas pelos analistas soviéticos em relação às

suas áreas de influência. A proposta desta comunicação é apresentar um sumário das

políticas e interpretações soviéticas a respeito do Brasil durante o período do Golpe de

1964 até a lei da Anistia em 1979. As fontes pesquisas foram relatórios feitos pelo Instituto

Page 86: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Latino-Americano vinculado à Academia de Ciências Soviética e relatórios da Central

Intelligence Agency (CIA) dos Estados Unidos da América acerca da participação

soviética no cotidiano do poder no Brasil no período supracitado.

Disputas políticas na terra de Sant‟Anna: relações de poder em Feira de Santana

(1907-1927)

Nayara Fernandes de Almeida Cunha

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

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Esta comunicação visa discutir as relações de poder em Feira de Santana nas primeiras

décadas do século XX, mais especificamente entre 1907 a 1927. Procuramos entender os

grupos partidários e as práticas dos sujeitos que os compunham, as estratégias visando criar

legitimidade para as posições defendidas, tendo sempre em conta os conflitos políticos e

econômicos envolvendo esses grupos. Procuramos entender o cenário eleitoral, os atores

que dela participavam e estavam excluídos, tentando compreender a relação entre os

eleitores e os políticos na cidade. A finalidade do estudo é uma maior compreensão do

processo político em Feira de Santana no início do século XX, fazendo suas interlocuções

com a política na Bahia e no Brasil. Para tal ampliamos o estudo relacionando as relações

políticas com as configurações eleitorais nacionais e estaduais. Os jornais que circularam

em Feira de Santana nesse período (Folha do Norte, O Progresso, O Município, O

Propulsor e O Republicano), os memorialistas, as fontes do executivo e do legislativo (atas

de reuniões, relatórios e balancetes), os processos-crimes e cíveis e os invntários são as

fontes utilizadas para a análise.

Cidade e Memória: Urbanização e Reforma no povoado de Eunápolis

entre os anos de 1970 e 1988

Levi Sena Cunha

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XVIII

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Esta pesquisa sobre memória e cidade visa analisar como se deu o processo de urbanização

e de reforma urbana no povoado de Eunápolis da Bahia entre os anos de 1970 e 1988, no

intuito de perceber as estratégias traçadas pelo poder público dominante através da

regulação dos usos dos espaços e a construção de uma memória social que solidificasse os

anseios de progresso. Dentro do processo de uma institucionalização da memória local,

pressupunha um “enquadramento das memórias” dos variados segmentos da população por

uma elite local. Situada no extremo-sul da Bahia, Eunápolis, que até 1988 pertencia a Porto

Seguro e Santa Cruz Cabrália tem uma intensificação no crescimento econômico e

populacional em meados dos anos setenta chegando a sediar a administração santa-

cruzense em 1970. Dentro dessa periodicidade o povoado recebe a alcunha de “Maior

povoado do mundo” por conta do seu desenvolvimento. O povoado de Eunápolis que aqui

é analisado, como um espaço constituído e reelaborado por ações de sujeitos sociais de

acordo com suas demandas cotidianas. Neste sentido são criados e recriados lugares por

subjetividades individuais e coletivas em que valores e significados deixaram marcas nas

memórias dos seus moradores. Utilizando-se de fontes como documentos administrativos

da prefeitura de Santa Cruz Cabrália quando administradora do povoado,

correspondências, jornais e revistas de circulação local e regional, tenta-se perceber os

Page 87: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

mecanismos dessa elite dominante em consolidar uma memória que represente seus ideais

de modernidade e as reações da população local a essas ações.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 10: ESCRAVIDÃO E PÓS-ABOLIÇÃO NA

BAHIA.

Coordenadores: Profa. Iacy Mata Maia e Profa. Kátia Lorena Novais Almeida.

Sala: Sala 11 – Prédio Principal.

Negócios entre senhores: o comércio de escravizados em

Feira de Sant'Anna (1850-1888)

Ana Paula Cruz Carvalho da Hora

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

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A partir de 1850, com o fim do tráfico de escravizados africanos para o Brasil, a principal

fonte de cativos para as regiões mais prósperas, principalmente Rio de Janeiro, São Paulo e

Minas Gerais, foi o Nordeste. Nesse contexto, a Bahia foi uma das grandes fornecedoras de

mão de obra escravizada e Feira de Santana teve uma acentuada participação nessa nova

realidade, onde compradores de escravizados se associavam a comerciantes e

agropecuaristas locais com a finalidade de comprar e vender escravizados para fora da

província. O objetivo desse trabalho é investigar o comércio de pessoas estabelecido em

Feira de Santana entre 1850 a 1888, bem como a participação de grandes e pequenos

agropecuaristas e comerciantes da cidade neste negócio e as formas que encontravam para

obter lucros com esse tipo de comércio. Com isso, além de discutir a experiência escrava

nesta região, buscamos demonstrar a importância da mão de obra escrava para a economia

da Feira de Santana Oitocentista, contraponto à tese de Rollie E. Poppino (1968), de que a

mão de obra escrava representou um papel pouco importante na economia do município.

Para tanto, utilizaremos fontes notarias, a saber: escritura de compra e vendas e

procurações, além de Relatório da Assembleia Legislativa da Província da Bahia de 1850-

1888. Com a finalidade de perceber como os escravizados eram intercambiados do interior

da Bahia para o Oeste Paulista, temos como referencial teórico metodológico Erivaldo

Neves (2000). Além disso, utilizaremos E. P. Thompson, que nos ajuda a refletir sobre o

cotidiano de homens e mulheres, formado por experiências históricas e ações individuais e

coletivas (THOMPSON, 1998). Com isso, analisamos o espaço urbano e rural de Feira de

Santana a partir das relações que os escravizados estabeleciam com o contexto

socioeconômico que os circundava, de forma que seja possível perceber como eles se

aproveitavam das brechas sociais existentes para agenciar suas vidas.

Práticas de sociabilidades: a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios na

Cachoeira oitocentista

Gabriella Oliveira Bonomo

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB

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Page 88: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Nos oitocentos, como diria Gilberto Freyre, “havia um respeito sincero pelas coisas

sagradas”, e esse respeito foi caracterizado por costumes e tradições em comum da

sociedade cachoeirana, sempre intensa e efervescente. Uma dessas características fora a

participação de grande parte da população, principalmente a escravizada e liberta, como

membros de instituições religiosas, estas regulamentadas pelo Estado e pela Igreja. Essas

irmandades eram, em suma, associações baseadas em uma forte hierarquia e que tinham o

intuito de cooperação e ajuda dos irmãos associados à ela. Compreender como se davam as

relações de sociabilidade entre esses associados, mais conhecidos como irmãos, é o que

objetiva este trabalho. Temos como foco a Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Martírios,

que foi fundada pelos africanos Geges, em 1765, em Cachoeira-Bahia, como dita o seu

compromisso, que era o documento que regia, que dava as regras para o funcionamento da

Irmandade em questão. Para tanto, adotaremos como fonte básica testamentos e

inventários, além do compromisso da Irmandade. Utilizaremos o método indiciário

referendado por Ginzburg (1989). Destacaremos a priori a festa e procissão ao Santo Jesus

Cristo dos Martírios e a realização e participação da Irmandade em funerais.

A Irmandade do Bom Jesus da Paciência na cidade de

Cachoeira (1840-1853)

Rodrigo do Nascimento Amorim

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

O trabalho a seguir tem como proposta a análise da Irmandade do Bom Jesus da Paciência

(1840-1853), fundada e formada majoritariamente por crioulos, da cidade de Cachoeira

Bahia, a partir de uma documentação primária que nos possibilita compreender o cotidiano

e as práticas sociais que envolvem a instituição. Trata-se de um trabalho preliminar que faz

parte da pesquisa que venho desenvolvendo no programa de pós-graduação da UFBA, no

qual venho analisando, além das práticas, a posição da Igreja em relação às irmandades na

Bahia no século XIX e o perfil dos irmãos da Paciência. O presente trabalho parte da

análise de dois conceitos chaves e que fundamentam nosso trabalho, o de “interpenetração

das culturas” e “afro-catolização”, propostos por Roger Bastide e Vainfas e Marina de

Mello e Souza, respectivamente. Em sequência, buscamos trabalhar sobre alguns

elementos fundamentais que caracterizam as irmandades. Em específico, daremos ênfase a

dois aspectos: (1) a identidade e afirmação étnico-cultural e seus (2) diversos rituais

festivos e devocionais, que a partir de indícios presentes na documentação utilizada

fomentem a ideia de que a instituição se caracterizava como um espaço social e religioso

de um grupo específico, os crioulos. Desse modo, percebemos como os rituais que na

Irmandade estavam inseridos em um contexto mais amplo de afirmação social e étnica de

um grupo, bem como de sua devoção.

Emancipação escrava em Sant‟Anna do Catu (1870-1889)

Jéssica da Silva Lima

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB /Bolsista IC/Picin-UNEB

[email protected]

Esta comunicação está vinculada ao subprojeto de pesquisa “Emancipação escrava na

região de Catu, Alagoinhas e Inhambupe (1871-1890)”, financiado pelo Programa de

Bolsas de Iniciação Científica da UNEB (PICIN/UNEB). A partir de análises ainda

preliminares, esse trabalho pretende compreender a experiência da escravidão e o pós-

Page 89: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

abolição em Sant‟Anna do Catu no período de 1870 a 1889. A pesquisa bibliográfica tem

indicado que a cidade de Catu, durante mais de trezentos anos, dependeu da economia rural

sendo que, até o final do século XIX, dois produtos dominavam a sua produção: a cana-de-

açúcar e o fumo. Essa atividade era praticada com base na mão de obra escrava e acabou

após a abolição da escravatura. Nesse contexto, procuramos investigar os aspectos

socioeconômicos, os impactos das leis emancipacionistas, e os projetos sociais de inclusão

dos ex-escravos na sociedade catuense no pós-Abolição. Dentre as fontes empíricas,

estamos nos debruçando sobre o livro de matrícula de engenhos da Bahia, o recenseamento

de 1872 e alguns processos crimes e inventários.

Raça e Pós-Abolição em Inhambupe (1880-1890)

Gemima de Sousa Lima

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB /Bolsista IC/Fapesb

[email protected]

Essa comunicação apresenta os resultados parciais obtidos em minha pesquisa de iniciação

científica, em torno do tema “Abolição e Pós-emancipação nas cidades de Catu,

Alagoinhas e Inhambupe, de 1880-1890,” que conta com financiamento da FAPESB. Esta

pesquisa desenvolveu-se por meio da análise e cruzamento de registros de batismos,

matrimônios e nascimentos, estudo do mapa de engenhos da Bahia e do censo de 1872 e o

exame de processos civis e criminais. Buscamos compreender como se desdobrou o

processo de emancipação de negros e mestiços na Bahia, durante o século XIX,

procurando entender de que maneira as transformações mais amplas interviram no

cotidiano de cidades interioranas, no que diz respeito ao cenário social e político local.

Indagamos ainda acerca da possibilidade de ter existido um processo de racialização das

relações sociais, no pós-emancipação. Para tanto, em diálogo com a extensa produção

historiográfica empenhada em apontar a agência e “autonomia” negra e mestiça, em

diversos âmbitos – pessoais, profissionais, familiares, religiosos etc.- e a partir de diversas

perspectivas, identificamos o perfil socioeconômico e a natureza da escravidão na região,

sinalizando se de alguma forma a categoria “raça” esteve condicionando práticas sociais e

políticas vigentes. Ressaltamos que, embora ainda apresente resultados parciais, a pesquisa

aponta para um processo ambíguo de “silenciamento” das questões relacionadas à cor em

algumas fontes. À primeira vista, este aspecto nos sugere que as questões raciais geravam

desconforto e reações desagradáveis, a ponto de serem silenciadas naquela sociedade.

Calúnia e injúria: processos crimes para uma leitura de práticas sociais em Salvador

no Pós-Abolição

Eneida Virginia de Oliveira Santos

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

“[...] Sem outro motivo, passou a dirigir ao queixoso diversos ephitetos, entre outros:

cabrão, sendo o queixoso casado tolo, ladrão, safado, sendo assim o queixoso insultado. E

por que, por esse facto praticado pelo querellado tendo este commettido o crime previsto

no art. 236 §º4 do Cod[igo] Crimi[nal], com referencia ao art. 237 §3º [...].” Era uma hora

da tarde na cidade da Bahia, do dia 13 de fevereiro de 1888, quando Virgilio Paulo de

Souza Brito, cabra, pretendia atravessar de canoa de Plataforma a Itapagipe, desistindo de

embarcar na canoa de Matheus de tal. Devido à demora na saída, passou para outra

embarcação, o que levou o canoeiro a lhe insultar. Este resumo de queixa consta em um

Page 90: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

dos processos crimes de calúnia e injúria disponíveis na APEB produzidos em Salvador no

ano final do sistema escravista. As circunstâncias históricas que forjaram os xingamentos

que classificaram essa vítima correspondem ao complexo jogo de disputas sociais em torno

das construções das noções de liberdade civil, de diferenciação racial e edificações de

limites à movimentação social da população de cor, constituintes dos processos de

reordenamento sociopolítico de desmantelamento do sistema escravista e montagem da

ordem republicana brasileira. Em Salvador, no contexto dos primeiros vinte anos do Pós-

Abolição, marcado por uma constituição social majoritariamente negro-mestiça, foram

construídos e naturalizados cotidianamente elementos de diferenciação social (atributos,

adjetivações, representações aos negros e mestiços na relação contrastiva com os brancos)

de maneira a garantir hierarquizações e fronteiras sociais. Proponho-me a analisar

processos criminais de calúnia e injúrias verbais como objetos históricos, partindo da

problematização da História Social da Linguagem que compreende a linguagem com

função de estabelecer lugares de poder, reivindicar interesses, promover distinções sociais

via classificação diferenciada dos sujeitos. Esta função social de classificar chama a

atenção para o cerne deste trabalho que pretende investigar se os insultos verbais foram

utilizados como prática social de linguagem contra e pela população de cor, demarcando

experiências e representações sociais peculiares nas reconfigurações sócio-históricas do

Pós-Abolição.

A Matinha na historiografia: escravidão, memórias e trajetórias

(Feira de Santana, 1854-1950)

Railma dos Santos Souza

Mestranda em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas nas Américas pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB

[email protected]

O presente trabalho é fruto, revisado, de um capítulo do TCC da Licenciatura em História

pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Nele busquei, a partir do tripé história,

memória e trajetória, contribuir para a investigação das memórias da escravidão e da

experiência de escravos/as e egressos/as do cativeiro na região, nas comunidades Matinha

e Candeal, pertencentes ao distrito de Matinha em Feira de Santana. Utilizei-me, para isso,

de documentação proveniente de acervos do Judiciário, cartoriais e entrevistas realizadas

com moradores/as das localidades pertencentes ao atual distrito de Matinha, em Feira de

Santana. A pesquisa guiou-se pela memória dos moradores mais antigos da região, que

relatam que escravos da fazenda Candeal fugiram e formaram um quilombo nas

proximidades desta, numa mata densa e fechada, porém pequena, daí o nome de Matinha.

Assim, desenhou-se o caminho investigativo que gerou este trabalho. Esta foi desenvolvida

em diálogo com a historiografia recente da escravidão brasileira, que busca analisar a

experiência da escravidão pensando o escravizado enquanto sujeito, aquele que buscava

diversas formas de resistência ou utilizava-se das "brechas" do sistema escravista.

Buscamos reconstituir aspectos do cotidiano escravista da Fazenda Candeal durante o

século XIX, por meio de análise de documentação judicial, bem como sobre as trajetórias

dos egressos do cativeiro. A partir da ligação nominativa, conseguimos identificar o

possível caminho de três ex-escravas da fazenda, arroladas em um inventário do ano de

1882, cujos nomes, agora com sobrenomes, aparecem em um testamento do ano de 1920

como mães de filhos naturais do seu ex-senhor, o tenente-coronel Antônio Alves.

Identificamos ainda uma ação de usucapião, que demonstra a existência de conflitos em

torno da posse de terras entre os filhos naturais e legítimos do coronel. Assim, o presente

trabalho buscou percorrer, através das fontes, os diferentes caminhos que levaram à

Page 91: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

formação da atual Matinha. Explorando aspectos do cotidiano e das trajetórias de vida

dos/as moradores/as da localidade, a fim de contribuir para a historiografia da escravidão e

das populações descendentes dos/as escravizados/as em Feira de Santana. Não foi foco do

trabalho, neste momento, investigar a existência ou não de um quilombo histórico

denominado Matinha dos Pretos.

Viajantes e cientistas norte-americanos e suas impressões sobre escravidão, liberdade

e as populações negras no Brasil

Luciana da Cruz Brito

Doutoranda em História Social pela Universidade de São Paulo - USP

[email protected]

Quando o zoólogo alemão Hermann Burmeister chegou ao Brasil em 1850, estava em

busca de exemplos de corpos africanos e mestiços para analisá-los à luz das teses

científicas do século XIX. Estas teses produzidas na Europa e nos Estados Unidos e que

afirmavam a inferioridade destas populações foram registradas na sua obra “The Black

Man: comparative Anatomy and Psycology of the American Negro, publicada nos Estados

Unidos em 1853. Burmeinster não poderia encontrar ambiente mais propício para divulgar

suas pesquisas, já que naquele momento a sociedade norte-americana discutia a diferença

das espécies e ditava leis que explicavam a inferioridade do comportamento dos negros em

relação aos brancos. Tais teses eram fundamentais para sustentar os argumentos pró-

escravidão. Com o mesmo intuito de defender a escravidão a partir de afirmações que

conduziam à inferioridade das populações africanas, o capitão norte-americano Charles

Wilkes também veio ao Brasil anteriormente, numa expedição que aconteceu no ano de

1838, quando fez uma longa passagem pelo país e registrou traços e características das

diversas nações africanas que encontrou. Além desses viajantes, imigrantes do sul dos

Estados Unidos que vieram para o Brasil após a Guerra Civil, também registraram suas

impressões sobre a escravidão local e sobre a autonomia dos libertos, que eles achavam

“excessiva”. Todos estes viajantes registraram suas opiniões a respeito de aspectos que lhe

interessavam sobre a sociedade brasileira como a mistura racial, cidadania e condição

social dos libertos, além da dinâmica da escravidão e das relações raciais. Seus registros

formam uma rica documentação composta por narrativas de viagem, livros, cartas e artigos

de jornais que serão utilizados para promover o debate pretendido por esta apresentação.

Nosso objetivo é discutir as impressões dos viajantes norte-americanos sobre escravidão,

abolição e relação raciais no Brasil tendo em vista que estas observações foram feitas a

partir dos seus valores sobre escravidão e liberdade na sociedade norte-americana.

Page 92: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

SIMPÓSIO TEMÁTICO 11: HISTÓRIA, POLÍTICA E MEMÓRIA

NA BAHIA DO SÉCULO XX.

Coordenadores: Prof. Raimundo Nonato Pereira Moreira e Prof. Thiago Machado de Lima.

Sala: Sala 10 – Prédio Principal.

A Trajetória da revista Seiva (1938-1943)

Daniela de Jesus Ferreira

Mestre em História pela Universidade Estadual da Bahia - UNEB

[email protected]

A sobrevivência do Comitê Regional da Bahia após a forte repressão do Estado em 1935

contribuiu para que alguns comunistas baianos enveredassem pelo caminho das letras

através da articulação e produção de uma revista ainda pouco estudada, e que foi relevante

para a afirmação dos comunistas baianos. A revista Seiva circulou entre 1938 e 1943.

Tornou-se a primeira Revista antifascista a circular no cenário do Estado Novo, por isso,

teve a princípio característica literária. Porém, ao analisarmos o mensário, identificamos o

sentido dinâmico que a Revista possuía, por ser um mecanismo de denúncia política e

social, acreditando no papel fundamental do intelectual como agente transformador, e nas

letras e artes como indispensável para formação de sujeitos críticos e atuantes. Ao longo

das 18 edições, a Revista reverberou mesmo que não abertamente, o sentido de luta, a

defesa do nacionalismo, o combate ao imperialismo e a importância dos intelectuais na

libertação dos povos da América. Acreditando em outra perspectiva de sociedade. Através

da diversidade dos textos, a Seiva discutiu o negro na Bahia e Brasil, o materialismo

dialético, a situação operária, a cultura e os conflitos de seu tempo. Ao estudarmos a

revista Seiva foi fundamental o conhecimento da trajetória de vida de seus articuladores,

através de escritos, memórias, biografias, para que fosse possível a interlocução e

compreensão, dos anseios, interesses e práticas dos baianos que permitiram a utilização de

um mecanismo impresso, para combater, alertar e instigar os homens e mulheres contras os

problemas sociais, políticos e econômicos que assolavam o Brasil e outras partes do

mundo.

Mulheres comunistas na luta pela democracia! Representações femininas em

O Momento (1945-1947)

Thais Gouveia Calazans

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A pesquisa intitulada Mulheres comunistas na luta pela democracia! Representações

femininas em O Momento (1945-1947) tem como objetivo analisar as representações

femininas no periódico O Momento, durante os anos de (1945 a 1947). O arcabouço

teórico que embasou a investigação dos documentos consiste em: BURKE, 2005;

CHARTIER, 1991, p. 173-191; LAPLATINE, 2003; MOREIRA, in: SILVA, 2010, p. 31-

46; SCOTT, in: BURKE, 1992, p. 63-95; ALVES, 2013; TAVARES, 2008; VASQUEZ,

2009. Analisamos as obras relacionadas à história do PCB e à imprensa comunista no

contexto da década de 1940, atentando para a situação feminina, no partido. Finalmente,

Page 93: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

localizamos e investigamos fontes jornalísticas e documentais, na perspectiva de

evidenciar novos vestígios históricos sobre a participação política das mulheres durante o

período estudado, depositados no setor de periódicos raros da Biblioteca Pública do Estado

da Bahia. Mediante a análise das 44 matérias de O Momento, ficou claro que o Partido

Comunista do Brasil convocava constantemente as mulheres para a luta pela democracia e,

também, dava espaço às reivindicações femininas (políticas, econômicas e sociais) em seus

discursos. Não obstante, apesar de existir espaço para a atuação das mulheres na política

durante o período de 1945 a 1947, os comunistas deixaram de lado diversas questões

demandadas pelas feministas, pois a União Nacional e a luta pela democracia foram

colocadas como prioridades pelo PCB. Entretanto, concluímos que o Partido Comunista do

Brasil assumia uma postura muito avançada para a época, pois questionou padrões de

gênero tradicionais e estava atento às questões de independência feminina, não esquecendo

a representação feminina da época: Por outro lado, no decorrer da pesquisa, identificamos

matérias que mencionavam a atuação do PCB em Alagoinhas, Catu e Aramari, além de

veicularem reivindicações e lutas das mulheres que moravam nas cidades em questão. Em

síntese, concluímos que o PCB, mesmo com limites, estimulou a atuação feminina na

política durante o período investigado. As lutas das mulheres pela democracia foram

traduzidas pelo jornal O Momento a partir de representações comuns à época, pois, como

assinalou Chartier (1990, p. 16-18), as representações sociais são construídas a partir de

interesses dos grupos que as elaboram, objetivando definir uma realidade baseada em

identidades contraditórias.

O PCB no combate aos integralistas na disputa eleitoral de 1945 na Bahia

Ricardo José Sizilio

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

O passo inicial para a redemocratização do Brasil em 1945 tendo como base o aspecto

eleitoral se deu a partir do Ato Adicional número 9, promulgado por Getúlio Vargas em 28

de fevereiro de 1945. Com isso, Vargas tentava comandar a redemocratização em meio aos

inúmeros protestos desde o final de 1944. O processo eleitoral se deu em pouco mais de

seis meses, tendo como marco inicial a criação do Tribunal Superior Eleitoral e dos

Tribunais Regionais Eleitorais em maio e a finalização com o pleito em 02 de dezembro de

1945.

Paralelamente a disputa eleitoral como um todo, na Bahia, os integralistas eram

combatidos constantemente pelos comunistas através de inúmeras matérias no jornal de

orientação comunista O Momento. O anti-integralismo se justificava pela linha política de

União Nacional adotada pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) no final da década de 30.

Em O Momento, matérias de capa como a de 28 de maio de 1945, intitulada “O povo

baiano repele o integralismo – reagirá organizadamente contra as manobras dos fascistas

brasileiros” ou a do dia 17 de setembro com o título “Permitir a rearticulação integralista é

um ultraje à democracia”, demonstram que os integralistas eram inimigos “a serem

batidos” pelos comunistas diante do novo jogo eleitoral em curso.

O combate dos comunistas aos integralistas durante a disputa eleitoral que estava em curso

provavelmente fosse motivada pelo temor de que, assim como foram na década de 30, os

integralistas pudessem se tornar uma grande força política no pleito de 02 de dezembro. O

resultado da eleição revela que a preocupação dos comunistas quanto à capacidade eleitoral

dos integralistas era legítima, afinal enquanto o PCB obteve 18.628 votos, elegendo um

deputado – Carlos Marighella -, o Partido de Representação Popular (PRP), de orientação

fascista, obteve 12.913 votos, e por pouco não conseguiu eleger um deputado pela Bahia,

Page 94: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

afinal se o partido atingisse 14.437 votos também teria direito a uma vaga na Câmara dos

Deputados. Embora as animosidades e tensões entre comunistas e integralistas estivessem

evidenciadas durante o jogo eleitoral na Bahia, estas não podem ser pensadas isoladamente

como algo exclusivo da disputa por eleitores, deverá, na verdade, ser vista de forma mais

ampla, como fragmento de um processo mais complexo. A partir destes conflitos podemos

visualizar outras tensões entre estes grupos, sejam elas de décadas anteriores em escala

internacional ou a partir dos anos 30 no Brasil.

As marcas da Ditadura em Alagoinhas: prisões, torturas e vida na clandestinidade

Valnete da Cruz

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Ainda que os inúmeros estudos acadêmicos venham contribuindo para a compreensão do

que foi a Ditadura Militar no Brasil, percebe-se que existem lacunas na historiografia que

precisam ser preenchidas. Nos últimos anos, com o processo de abertura dos Arquivos da

Ditadura, a implantação das Comissões da Verdade e a rememoração dos cinquenta anos

do Golpe vêm - se abrindo novos horizontes para a historiografia brasileira, com

possibilidades de acesso a importantes fontes de pesquisa para aqueles que se debruçam

sobre o estudo da ditadura civil - Militar no Brasil. A cidade de Alagoinhas não passou

isenta a estes acontecimentos se constituindo em um importante palco de luta de resistência

contando com a presença de Movimentos de esquerda que lutaram contra a ditadura. Este

trabalho tem por objetivo reconstruir a história de militância política de esquerda de

Antonio Fernando Xavier dos Santos, e Celeste Maria Azevedo Dantas, integrantes do

Partido Comunista do Brasil (PC do B) de forma a discutir o papel da juventude

alagoinhense na década de 70 no sentido da resistência ao regime ditatorial e compreender

como os anos de chumbo marcaram a cidade de Alagoinhas. Para isso, utilizaremos os

depoimentos desses militantes levando em consideração os argumentos de Todorov (2002)

de que cada pessoa constrói sua memória a partir da sua própria existência. Cada pessoa é

testemunha de sua própria existência cuja imagem ela constrói omitindo certos

acontecimentos, retendo outros, deformando ou acomodando outros ainda. Para melhor

compreensão do nosso objeto recorreremos ainda outras fontes, entre elas, documentos do

Arquivo Público da Prefeitura Municipal de Alagoinhas, Atas de Sessão da Câmara

Municipal de Alagoinhas, documentação do Arquivo da Fundação Iraci Gama (FIGAM),

do Projeto Brasil Nunca Mais (BNM) e jornal A Tarde, além da pesquisa bibliográfica.

Representações do Movimento Feminino pela Anistia nos jornais

A Tarde e Tribuna da Bahia (Salvador, BA 1978-1980)

Erine Estevam de Santana

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A pesquisa foi apresentada ao final da graduação como trabalho de conclusão de curso

(TCC), e teve como propostas analisar os jornais baianos A Tarde e Tribuna da Bahia, de

que forma a imprensa escrita representou esse movimento e as ações do mesmo? Além

disso, como objetivos específicos foi proposto o mapeamento das ações do Movimento

Feminino pela Anistia (MFA), as adesões que o movimento obteve da sociedade, e

comparar as notícias nos jornais entre 1978-1980. Ainda, é relevante frisar que essa

pesquisa dá visibilidade as mulheres que estiveram à frente do MAF soteropolitano, uma

Page 95: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

vez que, frequentemente é mencionado o movimento de São Paulo que teve como

idealizadora Terezinha Zerbini. Nesse sentido, para comparar e analisar os discursos

proferidos pelos veículos de comunicação escrito, foi fundamental ter como arcabouço

teórico Roger Chartier (1988), visto que, o autor afirma a importância em analisar as

construções políticas, discursivas e sociais, pois estas variam conforme classes e meios

intelectuais. Também, foi de grande relevância ter como aporte teórico Michael de Certeau

(2002) devido sua ênfase aos questionamentos que são fundamentais ao historiador, como

por exemplo, de onde se fala e os lugares sociais. Nesse interim, utilizá-los como

referências bibliográficas contribuiu para discorrer sobre as representações elaboradas

pelos grupos A Tarde e Tribuna da Bahia, onde o primeiro foi fundado por Ernesto Simões

Filho e o segundo periódico teve como editor-chefe João Ubaldo Ribeiro. No A Tarde foi

percebido que as atividades relacionados ao MAF não foram explanadas em primeira

página, além disso, foi referenciado o projeto da anistia proposta pelo governo. É notado

que no Tribuna da Bahia foi mais frequente as denúncias sobre as repressões policiais

ocorridas durante manifestações realizadas pelo MFA, inclusive atentados que sofreram

representantes de outros estados, como por exemplo de Belo Horizonte. Informações sobre

estratégias utilizadas pelas representantes do movimento de Salvador que teve como

objetivo adesão da sociedade, foram encontradas e mapeadas. A partir das fontes

encontradas é perceptível que apesar das repressões o MAF foi resistente e atuou com

afinco, características imprescindíveis para que a luta por uma anistia ampla, geral e

irrestrita permanecesse nos dias atuais.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 12: GÊNERO, HISTÓRIA E

IDENTIDADE.

Coordenadores: Prof. Luiz Alberto da Silva Lima e Profa. Maria Aparecida Prazeres

Sanches.

Sala: Sala 04 – Prédio Principal.

„Adeus, flor de Laranjeira‟: sociabilidades e crimes sexuais em Feira de Santana

(1940-1960)

Hernandes Silva de Souza

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS / Bolsista CAPES

[email protected]

A pesquisa intitulada “„Adeus, flor de Laranjeira’: sociabilidades e crimes sexuais em

Feira de Santana (1940-1960)” analisa o crime de sedução e as imagens da virgindade

feminina pela ótica dos profissionais do judiciário, dos acusados e das ofendidas em Feira

de Santana-BA. Partindo da perspectiva teórica da categoria gênero, ela objetiva

demonstrar que as imagens tradicionais sobre a virgindade e as sociabilidades femininas

persistiram entre as camadas populares enquanto sofreram modificações entre os

profissionais do judiciário. Busca refletir como o processo de transformação de valores e

modelos culturais no contexto modernização da cidade de Feira de Santana em meados do

século XX trouxe mudanças no conceito da moralidade sexual. Preocupados com novas

formas de sociabilidades femininas, os segmentos jurídicos e a população de um modo em

Page 96: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

geral discutiram as noções de honra e moralidade permitindo que uma diversidade de

discursos e posições ganhasse destaque no interior desta sociedade em transformação.

As pesquisas historiográficas desenvolvidas por Oliveira (2000) e (2011) Simões (2007) e

Ramos (2007) revelam que Feira de Santana viveu intensamente o conflito em busca da

modernização. Esses autores evidenciam a ambição das elites em normatizar e disciplinar a

urbe e a população através de reformas urbanas e do estabelecimento de padrões de

comportamento e de sociabilidades. No entanto ao contrário do que se propagava

(crescimento tranquilo e apaziguado), o processo de internalização das ideias modernas foi

marcado por conflitos. Seja nas relações sociais, seja nas relações familiares, a

modernidade se impunha e com a tradição conflitava, configurando o convívio marcado

por tensões. Neste ínterim, os ideais civilizatórios, de modernização e de combate aos

maus costumes se faziam presentes nos discursos políticos e nas falas da imprensa.

O recorte temporal desta pesquisa inicia em 1940 em virtude de esse ser o ano da

promulgação do novo código penal brasileiro, que demarca a mudança do entendimento

jurídico do antigo crime de defloramento, passando a denominar-se sedução. As mudanças

aqui se inseriam especialmente em torno das concepções tradicionais em torno da

virgindade física e moral e da redução da idade da vítima dos 21 para os 18 anos. Os anos

finais, 1960, por ser uma década onde o crime de sedução passa novamente a ser

problematizado, especialmente no tocante a redução do limite etário dos 18 para 16 anos.

“Cafténs” em Salvador (1907-1928): tráfico e imigração judaica

Bruno Mercês de Carvalho Calhau

Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira De Santana - UEFS

[email protected]

O trabalho aqui proposto está inserido na linha de pesquisa da História, chamada História

Social da Cultura, uma vez que esta pesquisa visou tratar sobre os cafténs na cidade de

Salvador e seus engendramentos. Segundo Scliar romancista e médico que tratou sobre o

assunto do tráfico de “polacas” no seu romance, o termo caftén é utilizado para designar o

explorador da “escravidão branca”. A palavra “caftan” em hebraico significa, sobretudo

comprido utilizado pelos judeus. Dessa palavra, originou-se o termo – hoje genérico –

conhecido como “cafetão”, configurando-se como uma forma de evidenciar a presença dos

judeus na exploração sexual. Os estudos realizados pela historiografia brasileira limitam-se

a região sudeste. Segundo Rago, a maioria das mulheres oriundas do leste europeu que

foram enviadas para o Brasil, conheciam sua real situação, enquanto prostituta e

experiente. Todavia pesquisas realizadas na cidade do Rio de Janeiro por, Menezes e

Soares afirmam que o tráfico não era por opção e por isso prendiam as mulheres nos laços

de aprisionamento da sociedade Zwi Migdal. Levando em conta os debates criados pela

historiografia e a falta de consenso sobre a ação dos cafténs no processo da vinda de

mulheres trazidas para os prostibulos brasileiros, propus analisar as táticas utilizadas por

eles com a finalidade de burlar as ações das polícias dos Portos e Costumes, nos seus

objetivos financeiros de desembarcar as mulheres trazidas. Com a perspectiva de Certeau

trago os conceitos de táticas e homem ordinário que influenciaram na análise dos sujeitos

na cidade enquanto espaço do cotidiano, reinventado pelos moradores que burlam as leis

impostas pelos organizadores do espaço. Os cafténs reinventam e burlam as leis impostas

em vários momentos, desde a entrada no Brasil e sua permanência. Nos documentos

encontrados no Arquivo Publico do Estado da Bahia pude comprovar que as táticas dos

cafténs iniciavam antes do desembarque, aja vista o alto número de casamentos e a

falsificação de documentos para a entrada no Brasil. Para sua permanência alguns jornais

da época evidenciavam os maus tratos realizados por estes sujeitos.

Page 97: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Delegacia da Mulher em Alagoinhas Bahia: implantação e atuação na prevenção e

enfrentamento da violência de gênero

Claudia Meneses da Silva

Graduada em História pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB

[email protected]

Refere – se a um Trabalho de Conclusão de curso pela Universidade Estadual da Bahia –

UNEB, onde a pesquisa esta pautada na problemática que objetiva esclarecer os motivos

que levaram a implantação da Delegacia da Mulher, os agentes ativos no desencadear do

processo de inauguração, bem como a articulação política para a concretização do projeto

envolvendo a Delegacia da Mulher em Alagoinhas Bahia. Busca ainda refletir acerca da

trajetória das mulheres em busca da tomada de decisão dos agentes políticos para a

efetivação da Delegacia da Mulher, bem como analisar a forma que a delegacia e seus

agentes vêm atuando na forma preventiva, no combate, enfrentamento e prevenção da

violência de gênero. Utilizou-se como principais referencias teóricos Heleieth Saffioti e

suas abordagens sobre gênero, patriarcado e violência contra a mulher na sociedade de

classes e movimentos sociais, Marilena Chaui, educação sexual, democratização e

repressão, Michel Foucault e suas explicações sobre a origem do poder, Margareth Rago,

entre história e liberdade, Joan Scot e suas facetas sobre gênero, Eva Alterman Blay com

políticas públicas, surgimento de movimentos feministas pelo Brasil no combate e

enfrentamento da violência de gênero e Simone de Beauvoir. Os métodos de investigação

foram estruturados em entrevistas, investigação social na Delegacia da Mulher, periódicos,

atas, abaixo assinado. Da análise destes, conclui-se que apesar do interesse político, a

Delegacia da Mulher surgiu para atender uma demanda de luta existente há algum tempo

nesta cidade, onde mulheres lutam pela igualdade de direitos, participação social e

econômica, sobretudo pelo fim da violência de gênero.

As prostitutas e os comerciantes: disputas pela Rua Sales Barbosa

em Feira de Santana – BA (1930 – 1970)

Azivonete Francisca Cardoso dos Santos

Graduada em História pela UNEB - Campus II

[email protected]

A pesquisa tem como objetivo uma análise referente as Prostitutas e os comerciante, na

disputa do espaço durante o processo de modernização e urbanização de Feira de Santana,

entre os anos de 1930 a 1970. Assim voltamos nossos olhares para Rua Sales Barbosa,

espaço considerado como disseminador da imoralidade e do perigo, na urbe que estava em

pleno desenvolvimento, e que pela existência desse sujeito (prostituta) poderia implicar na

consolidação da modernização através do desenvolvimento do comércio. Dessa forma,

nossa problemática está baseada na relação do sujeito e espaço e na posse do logradouro

enquanto espaço de convivência e desenvolvimento comercial, apoiando-se nos discursos

da elite, da justiça e da impressa local.

A pesquisa As Prostitutas e os Comerciantes: disputas pela Rua Sales Barbosa em Feira

de Santana – BA (1930 – 1970), surgiu na forma de curiosidade, já que não há explicações

conjuntas sobre a relação dos comerciantes e as prostitutas, uma vez que nos relatos

existentes e usados neste trabalho, estes temas são abordados de maneiras separadas; de um

lado a questão comercial e de outro a questão dos prostíbulos. As poucas correlações só

eram noticiadas superficialmente no Jornal “Folha do Norte”, e os processos crimes.

Page 98: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

No levantamento de fontes usadas durante a pesquisa, primeiramente se deu a busca de

processos crimes sobre sedução, defloramento, casas de prostituição, prevaricação, posse

sexual mediante fraude e atentado violento ao pudor. Juntamente com os processos crimes,

foram analisados os periódicos do Jornal “Folha do Norte”, que se encontram disponível

no Museu Casa do Sertão – Centro de Estudos Feirense, além da leitura e pesquisa das

Atas das sessões da Câmara Municipal de Feira de Santana; assim como a bibliografia

disponível como: Setembro da Feira de Juarez Bahia, Mulheres Públicas de Michelle

Perrot, História da Sexualidade I, II e III de Michel Foucault e Prazeres da Noite de

Margaret Rago, assim como livros sobre, Gênero e História Regional e Local.

Concluímos que o processo de disputa da Rua Sales Barbosa em Feira de Santa, foi

marcado pela imposição da submissão da mulher e marginalização da profissional do sexo,

sempre baseado no Código de Postura de 1937, juntamente com a modernização da cidade.

Perderam assim seus lugares fixos, relegadas às margens, tornaram-se meras expectadoras

do progresso e desenvolvimento de Feira de Santana e de certa forma, excluídas da história

da cidade.

Os compassos e descompassos do ser feminino, Feira de Santana 1900-1930

Fernanda Assunção Dias Cerqueira

Graduando pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

Esta pesquisa trata sobre a construção do ser feminino a partir do discurso jurídico na

cidade de Feira de Santana, buscando analisar de que forma esses discursos judiciais

utilizavam-se do Código Penal da época para a construção e constituição dessas

representações, utilizando como fontes os processos crimes de defloramento que envolve o

período de 1900 a 1930, os quais estão sob a guarda do Centro de Documentação e

Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana (CEDOC – UEFS); e o Código

Penal de 1890. Para isto, insere-se no campo historiográfico da História das mulheres, o

qual surge com o propósito de dar vozes às mulheres que por muito tempo foram

negligenciadas pela História. É a partir de 1960 que as mulheres alcançam a condição de

objeto de pesquisa e sujeitos da história, nessa perspectiva, tal teoria estabelece novos

caminhos teóricos que passam a analisar as relações de poder existente. Tal analise tem

como consequência a importância que a academia passa a dar ao gênero, que, como

conceito, representou tanto uma reorientação da história das mulheres quanto novos

questionamentos no seu interior, já que busca observar a construção dos papéis sexuais.

(SCOTT, 1988), ou seja, estudar gênero é estudar homens e mulheres em sua relação.

Assim, foram utilizados os processos crimes de defloramento como fonte, visto que estes

documentos nos permitem entender a sociedade, assim como os seus arranjos, através da

caracterização dos indivíduos e através da relação de gênero existente, que permeiam os

papéis desempenhados por homens e mulheres. Ao analisar tais documentações percebeu-

se a existência de comportamentos tidos para mulheres e homens, assim como os papéis

que esses sujeitos deveriam desempenhar dentro da composição familiar. Ainda nestas

documentações, notou-se um discurso disciplinador em torno da moral e da honra,

principalmente a honra feminina, o qual se fazia presente nas falas das testemunhas,

Page 99: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

advogados, delegados, vítimas, réus, e juízes que, através das quais, conseguiam, de certa

forma, dar conta da dinâmica social dos envolvidos.

As faces da violência sexual: analise dos processos crimes de estupro e sedução de

Conceição do Coité de (1960-1986)

Débora Lorene de Souza Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus XIV

[email protected]

O presente artigo visa expor os resultados parciais obtidos na pesquisa intitulada As faces

da violência sexual: Analise dos processos crimes de estupro e sedução de Conceição do

Coité de (1960-1986) que se trata de investigação para composição do trabalho de

conclusão de curso (TCC) onde sua importância repousa num esforço por compreender as

subjetividades que norteiam todo aparato das relações humanas no que concerne vítima,

acusado e justiça no Tribunal de Conceição do Coité, pensando os processos de

constituição identitária de homens e mulheres presente durante a tramitação dos processos

nesta Comarca. Assim, apresentamos os resultados dos primeiros passos da pesquisa que se

dedicou inicialmente a uma análise quantitativa, coletando alguns dados sócio biográficos

das vítimas e acusados tais como: (faixa etária, profissão, raça/cor, escolaridade,

naturalidade, local de residência estado civil) o acesso dos responsáveis pelas vítimas a

justiça, as sentenças proferidas e a aplicação da pena. Dessa forma, os processos analisados

foram 7 de estupro e 7 de sedução, que consiste em abordar a condição social e a

vulnerabilidade das mulheres e crianças vítimas de agressores muitas vezes em um

condição superior tanto no tocante ao acesso a educação e profissões que permitiam

condições favoráveis até mesmo para cometer crimes e escapar da culpa. Nessa

perspectiva é desenvolver uma análise qualitativa dos processos crimes problematizando os

discursos envolvendo o estudo do gênero no direito penal como uma categoria de analise

histórica, permitindo a relação entre as diferenças ente masculino e feminino Partindo da

problemática, que foi apresentada, mediante as analises dos discursos que serão feitas

durante a pesquisa tomando como referencial teórico Michael Foucault, procurando

compreender as relações de poder existentes nos processos.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 13: NAS TEIAS DA INQUISIÇÃO:

EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA HISTÓRICA.

Coordenadores: Profa. Elisangela Oliveira Ferreira e Prof. Felipe Augusto Barreto Rangel.

Sala: Sala 12 – Prédio Principal.

O poder das senzalas: magia e resistência escrava na Bahia colonial

Andréia Franco Belmont

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Esta comunicação é resultado parcial da pesquisa de Iniciação Científica desenvolvida com

bolsa PICIN/UNEB e tem como fonte o processo do Tribunal do Santo Ofício da

Page 100: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Inquisição de Lisboa nº 8464, com denúncias de feitiçaria e pacto com o demônio contra o

africano Simão. Através da análise de fontes inquisitoriais, um dos objetivos do estudo é

refletir sobre a resistência escrava na Bahia, principalmente no século XVII, observando as

vivências dos escravos, de onde vinham e como se adaptavam ao novo espaço. Entre

negociações e conflitos, a resistência é vista em vários aspectos do cotidiano negro na

colônia, incluindo suas práticas e crenças religiosas, que se tornaram alvo do Santo oficio.

É possível que as artes mágicas fossem usadas também como uma forma de revolta e de

resistência ao escravismo. Há elementos que nos instigam a pensar nessa presença da

magia dentro das senzalas. O processo de Simão, negro forro acusado de matar escravos de

uma propriedade por meio de feitiçaria, sugere que conflitos eram comuns nas fazendas

nesse período, mas leva a supor também a existência de uma resistência em forma de poder

mágico. Nos diversos processos da Inquisição se encontra casos que envolvem práticas

mágicas com o uso de elementos diversos. E no caso da população negra, em especial, é

possível que a convivência entre etnias diferentes tenha levado ao aprendizado de vários

outros “jeitos de fazer determinadas magias”. Nessa perspectiva, no caso de Simão,

percebo um processo de integração de povos de origem conga e angolana, e mesmo alguns

escravos envolvidos desconhecendo a língua dos outros, sabiam e respeitavam a

importância dos rituais. Como se trata de uma pesquisa em andamento, alguns elementos

carecem de mais atenção e análise. De todo modo, possibilidades de descobertas surgem

quando se cruzam os caminhos da Inquisição e o poder das senzalas.

Bolsas de Mandinga: uma ressignificação cultural e social na Bahia Colonial

Diego Gouveia Santos

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

A sociedade lusitana foi uma das pioneiras a se lançar no “desconhecido”. E, por conta

disso, foi sendo gradativamente palco de diversas manifestações culturais, sociais e

religiosas. Desse modo, podemos afirmar que essa sociedade foi sendo tecida

historicamente por diversos elementos que formaram a cosmovisão deste Império

multicultural, incluindo o Brasil. A historiografia mais recente tem mostrado que o contato

entre diversos povos com sistemas sociais diversificados e cotidianos plurais, postos em

convivência pelo sistema colonial e escravista produziu uma complexa estrutura social,

com diversas práticas religiosas, que por sua vez foram transformadas pelo processo

diaspórico sofrido pelos muitos povos africanos trazidos ao Brasil. Sendo assim, esta

comunicação, que está ligada à um projeto de pesquisa de Iniciação científica, com bolsa

da FAPESB, tenta analisar/compreender o alcance de crenças e rituais de origem africana

na Bahia colonial, principalmente, o uso de amuletos protetores, mais especificamente, a

bolsa de mandinga. A bolsa de mandinga consistia num “amuleto” em formato de

saquinho/bolsinha, cujos ingredientes protegiam contra doenças, armas, além de servir de

proteção espiritual. A confecção e circulação deste amuleto, além de outros, mobilizou e

ressignificou a fé desses agentes sociais. Para compreender o cotidiano e as práticas

mágico-religiosas dessa sociedade utilizamos a diligência inquisitorial sobre o desacato e

sacrilégio ocorrido em Moritiba, na freguesia da vila da Cachoeira, e a bibliografia

pertinente à temática.

Page 101: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

João de Deus Penitente: um pregador negro no Sertão de Baixo

Elisangela Oliveira Ferreira

Doutora em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

Professora da Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Seu nome de batismo era João José de Deus, mas ele se autointitulava João de Deus

Penitente e assim ganhou fama por ampla região do chamado Sertão de Baixo, em

territórios da capitania da Bahia e da comarca de Sergipe del-Rei. Sem ofício e sem

habitação certa, andou pela região no correr do ano de 1767, fazendo doutrinas ou

pregações em cada povoação e vila por onde passou. Foi preso no final deste mesmo ano

ou no início do ano seguinte, por ordem do então arcebispo Dom Frei Manoel de Santa

Inês. Ficou mais de três anos recolhido à cadeia da cidade da Bahia até seguir para Lisboa

no início de 1771, para os cárceres secretos do famigerado Tribunal do Santo Ofício,

acusado dos crimes de blasfémia, proposições heréticas, fingimento de revelações e

profecias. Era um homem negro, mas tudo indica que sempre viveu em liberdade.

Conforme algumas testemunhas, ele andava vestido em um hábito ou túnica de algodão

tinto pardo, calçado com uns sapatos velhos sem meias, às vezes com uns chinelos gastos.

Em outros lugares o viram com o mesmo hábito tinto, mas com uma capinha de algodão

branca posta pelos ombros. Também apareceu em uma paragem envergando uma coroa de

cipó na cabeça. Mas invariavelmente, por todos os lugares, levava nas costas uma cruz de

madeira com aproximadamente seis ou sete palmos de altura. João de Deus Penitente

percorreu em companhia de sua cruz uma vasta região do Sertão de Baixo. A diligência

que se realizou para apuração de suas culpas mobilizou o grande contingente de 60

testemunhas. Esta comunicação analisa aspectos de sua trajetória singular. Por um lado,

observa a perseguição sofrida por ele através da justiça eclesiástica, inicialmente, e

posteriormente através da ação inquisitorial. Por outro lado, analisa também a fama

alcançada por João de Deus e a paulatina mitificação que foi sendo construída em torno de

sua figura carismática em uma vasta região do Sertão setecentista.

Ao modo e uso gentílico: os soldados mamelucos e a apropriação

dos hábitos indígenas

Jamille Oliveira Santos Bastos Cardoso

Mestranda em História pela Universidade Federal da Bahia - UFBA

[email protected]

Ao nos debruçarmos sobre a documentação inquisitorial (processos, denunciações e

confissões) da Primeira Visitação as partes do Brasil, podemos notar a constante

recorrência às práticas “gentílicas” por parte dos mamelucos, muitos dos quais haviam

participado de expedições e descimentos ao sertão e viveram por algum tempo em aldeias

indígenas. Além de praticarem as cerimônias e rituais da Santidade indígena, os

mamelucos apropriaram-se de muitos hábitos e práticas cotidianas que faziam parte do

modo de vida “gentílico”. A (re) apropriação destes elementos por parte desses sujeitos

históricos multifacetados faz emergir a problemática da dinâmica das relações interétnicas

e das construções e reconstruções identitárias. Assim, mostram o quanto as identidades,

Page 102: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

sejam elas étnicas e/ou religiosas, são fluídas e dinâmicas. Para compreendermos as suas

ações não podemos ficar presos a uma faceta das suas identidades múltiplas nem a

categorias estanques. Precisamos analisar os jogos de interesses, sejam eles políticos,

religiosos ou econômicos, nas situações especificas e nos contextos históricos que são pano

de fundo para compreendermos a configuração e reconfiguração da pluralidade identitária.

É preciso levar em conta a dualidade étnica e cultural desses homens de fronteira, que ao

incorporarem os hábitos indígenas trazem a tona à multiplicidade dos sujeitos e processos

históricos.

Nas rodas dos calundus: “calunduzeiras” da Bahia setecentista

Marina Pinto dos Santos

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Esta comunicação está vinculada ao subprojeto de Iniciação Científica Do quilundo ao

calundu: traduções da religiosidade negra entre a África e a Bahia (séculos XVII e XVIII)

que faz parte de um projeto mais amplo intitulado Calundus, mandingas e outras artes:

religiosidade negra na Bahia colonial (séculos XVII e XVIII) coordenado pela Prof.ª Dra.

Elisangela Oliveira Ferreira, do qual participo como bolsista (FAPESB). O objetivo desse

trabalho, em andamento, é analisar as práticas mágicas, utilizadas em sua maioria pela

comunidade negra na Bahia colonial, em especial as cerimônias de calundus e rituais de

cura semelhantes. Essas práticas, consideradas como de origem africana, ganharam espaço

na América Portuguesa em meio ao catolicismo e eram utilizadas, dentre outros motivos,

para enfrentar as adversidades impostas pela sociedade escravista. O estudo se desenvolve

com o processo inquisitorial Nº 12658 na qual a escrava Gracia é acusada de ser feiticeira e

praticante de calundu (calunduzeira), além deste processo utilizo também denúncias sobre

desvios da fé católica que estão arquivadas numa série documental intitulada Cadernos do

Promotor. Toda essa documentação está disponibilizada online no site do Arquivo

Nacional da Torre do Tombo (ANTT). Graças à digitalização e democratização das fontes

inquisitoriais trabalhos como este podem ser realizados e se entende que o estudo é de

fundamental importância não só para entender e conhecer as minorias sociais envolvidas

com as práticas mágico-religiosas analisadas, como para conhecer a própria sociedade

colonial em questão.

Inquisição e religiosidade na Colônia: fontes e possibilidades para pesquisa

Priscila Natividade de Jesus

Mestranda em História pela Universidade do Estado da Bahia - Campus V [email protected]

O estudo sobre a atuação da Inquisição Portuguesa relacionado aos de religiosidade

envolvendo bolsas de mandinga vem ganhando ênfase no âmbito historiográfico. Alguns

autores, tais como Laura de Mello e Souza, Vanicléia Santos, Daniela Calainho, Sonia

Siqueira e Carlo Ginzburg, dentre outros, vem contribuindo significativamente para a

ampliação de tais estudos. Todavia, ainda existem várias possibilidades de pesquisas e

muitos temas para serem explorados, a exemplo do papel e importância das fontes para a

construção e desenvolvimento de um trabalho historiográfico. É acerca da contribuição

destas para a realização e desenvolvimento da presente pesquisa que tal comunicação

pretende tratar. Nesse sentido, entendemos que os documentos não devem ser tratados

como verdades, devendo ser interpretados e analisados pelo historiador. Contudo, são eles

Page 103: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

elementos primordiais para a escrita deste trabalho que consiste em analisar a atuação do

tribunal do Santo Ofício português frente aos crimes de feitiçaria, supostamente praticados

por negros, envolvendo bolsas de mandinga na Bahia em meados do Século XVIII.

Embora se discuta acerca da atuação da Inquisição Portuguesa na Bahia, o objetivo maior é

entender o poder e o significado das bolsas de mandinga para seus portadores, em sua

grande maioria: negros, bem como, compreender o motivo pelo qual o referido amuleto foi

capaz de ocasionar processos inquisitoriais. As principais fontes utilizadas nesta

investigação são os processos inquisitoriais de José Martins, João da Silva, Matheus

Pereira Machado, Luis Pereira de Almeida e Manuel da Piedade. Réus Julgados e

condenados pela Inquisição de Lisboa, acusados de cometer os crimes de feitiçaria,

sacrilégio, bruxaria e pacto com o demônio. O processo Inquisitorial como fonte nos

permitiu compreender o cotidiano social e cultural, no qual os réus se encontravam

inseridos, cabendo ainda uma reflexão sobre o papel das testemunhas e seus depoimentos

para o desdobramento dos processos, nos permitiu ainda estudar acerca das práticas

mágico-religiosas utilizadas por negros no sertão da Bahia em meados do século XVIII.

SIMPÓSIO TEMÁTICO 15: HISTÓRIA/DIÁLOGOS.

Coordenador: Prof. Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira.

Sala: Auditório do Prédio Principal.

Lima Barreto na seara da História: escrita da História do Brasil

no início do século XX

Carlos Alberto Machado Noronha

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS

[email protected]

A escrita da História do Brasil nas primeiras décadas do século XX estava inserida num

contexto de mudanças significativas na sociedade brasileira. A busca por referenciais,

temas que se ajustassem aos interesses políticos de uma nação há pouco saída de um

regime monárquico e de um sistema escravocrata era presente nas discussões de sujeitos

envolvidos na produção historiográfica nacional. No plano internacional, a preocupação

era o lugar do Brasil num cenário de disputas entre potências industrializadas, símbolos do

progresso naquele momento. Nesse contexto, a História deveria seguir os padrões da

moderna ciência e, ao mesmo tempo, produzir uma tradição que legitimasse as premissas

do recente regime republicano. Com isso, esperava-se do conhecimento histórico um papel

de ratificador do regime republicano brasileiro no concerto das nações civilizadas. Vários

intelectuais se envolveram nessa escrita, inclusive os literatos. Ao nos debruçarmos sobre

os escritos do literato carioca Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), notamos

aspectos que sinalizam importantes observações acerca daquela discussão sobre a escrita

de nossa história. A partir do diálogo com as propostas teóricas de Raymond Williams

sobre a relação entre literatura e sociedade, procuramos historicizar, portanto, o trabalho

desse literato, desenvolvendo o seguinte questionamento: os escritos barretianos podem ser

considerados um reflexo e uma reflexão em torno das tensões que emergiram na sociedade

brasileira no início do século XX referentes à escrita da História do Brasil? Quais seriam as

contribuições de seu trabalho para a renovação da historiografia naquele momento? Desse

Page 104: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

modo, selecionamos, para essa comunicação, o capítulo “Os heróis” da obra Os

Bruzundangas e às crônicas “Edificantes notas ao Southey” e “Livros de viagens”. Esses

escritos barretianos foram confrontados com os pensamentos de certos intelectuais coevos

que, de alguma maneira, também se envolveram no debate acerca da escrita de nossa

História. Isso nos levou a considerar Lima Barreto como um intelectual envolvido num

tenso e intenso diálogo com os seguidores de uma determinada tradição historiográfica,

objetivando representar a sociedade brasileira a partir da análise das suas condições

econômicas e sociais.

Tramas hereditárias: práticas sucessórias e estratégias de manutenção da

propriedade da terra em feira de Santana (1890-1930)

Francemberg Teixeira Reis

Mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus V

[email protected]

Pesquisando inventários abertos no município de Feira de Santana durante o período da

Primeira República nota-se, entre os diversos grupos sociais, a presença majoritária da

propriedade rural. Ainda naquela conjuntura, a terra estava entre os bens de maior

representatividade nos inventários do município. Sendo um documento que garante

legalmente a transmissão da propriedade, os inventários refletem a configuração

econômica de um determinado local ou região, bem como, apontam escolhas, estratégias e

conflitos. Diante disso, além da possibilidade de discutir sobre o perfil fundiário é possível

investigar através dos inventários os significados e os sentidos da herança e quais medidas

eram adotadas no momento de sucessão da propriedade da terra. Estabelecendo uma

interface da História com a Antropologia e o Direito, buscamos estudar os costumes e

comportamentos dos indivíduos perante as heranças e suas associações com a prática

jurídica. Tomamos como principal referência teórica a assertiva thompsiana que aponta o

legado hereditário como um acontecimento que não se resume somente à transferência da

coisa em si, porém, como algo embutido por costumes praticados e consolidados na

comunidade; para Thompson, determinados grupos encontram na associação entre leis e

costumes embasamento para legitimar suas ações. Como metodologia, analisamos

qualitativamente as declarações finais presentes nos autos para perceber como os bens do

espólio eram distribuídos entre os herdeiros. Neste aspecto, estamos identificando que na

distribuição dos bens os indivíduos obedeciam à lógicas pertinentes à idade, sexo, condição

financeira e relação de consanguinidade. Apreendemos na pesquisa que estas posturas

uniam noções culturais com a perspectiva jurídica, respaldadas pelas Ordenações Filipinas

e posteriormente pelo Código Civil Brasileiro de 1916; ora eram plenamente aceitas, ora

eram geradoras de conflitos entre os sujeitos. Em nossa investigação destacamos como a

propriedade da terra - um dos bens mais cobiçados entre os herdeiros pela questão

econômica e pelo valor a ela agregado – movimentava o jogo das heranças no município

de Feira de Santana entre finais do século XIX e décadas iniciais do século XX. Diante dos

resultados obtidos percebemos que o momento de transferência dos bens, especialmente a

terra, era marcado por escolhas e estratégias, visando assegurar a preservação ou a

manutenção posse da terra num contexto de transformações da estrutura fundiária.

Page 105: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

A ATUAÇÃO DA FOTÓGRAFA TOTINHA NO GRUPO PRÓ-MEMÓRIA E A

EDUCAÇÃO DO OLHAR: CONSTRUINDO IMAGENS, HISTÓRIA E MEMÓRIA

DA CIDADE DE ALAGOINHAS (1980-1998)

Isis Favilla Coelho Cunha

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

[email protected]

Na fronteira entre História e Fotografia, este trabalho pretende conhecer e problematizar a

trajetória da fotógrafa Antônia Miranda Conceição, mais conhecida como Totinha (1944c-

2008). Esta, ao que parece, figurou como única mulher a assumir profissionalmente o

ofício no período compreendido entre 1957 e 1992 na cidade de Alagoinhas/Ba. Sua

atuação deixou registros significativos das alterações urbanas que a cidade vivenciou e

ajudou a conformar um olhar sobre os espaços citadinos uma vez que suas fotografias

foram reproduzidas posteriormente em cartões-postais e ajudam a compor a decoração de

diversos lugares a exemplo de bares. Pretende-se também compreender o papel que teve o

grupo Pró-Memória, da extinta Faculdade de Formação de Professores (FFPA), que passou

a requisitar seus serviços para registrar o patrimônio histórico e cultural da cidade e

possivelmente influenciou sua atuação profissional. Ainda em fase embrionária, fruto da

pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), esse estudo tem como recorte

temporal o período de 1980 (ano de criação do Pró-memória) a 1998, quando Totinha

completou 40 anos de profissão, e realizou uma homenagem à cidade, com divulgação de

um acervo fotográfico do patrimônio histórico de Alagoinhas, impressos em camisetas.

Cabe destacar que, neste período, a fotógrafa ainda enfrentava dificuldades para manter seu

trabalho. Para tanto, tem-se como aporte teórico os autores Ana Maria Mauad, Peter Burke,

Maria Eliza Linhares Borges, entre outros.

MOBRAL: o discurso ideológico do regime militar incutido

nas entrelinhas da alfabetização de adultos

Leide Rodrigues dos Santos

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

[email protected]

O presente texto tem por objetivo analisar a educação de adultos no período da ditadura

militar no Brasil (1964-1985). Para tanto, buscará no Movimento Brasileiro de

Alfabetização (MOBRAL), as ideologias militares presente em um dos projetos mais

representativos do governo ditatorial. Criado no governo do presidente Arthur da Costa e

Silva, com a promulgação da Lei 5.379 de 15 de dezembro de 1967, tornar-se executor de

uma das maiores campanhas de alfabetização brasileira, com números até então nunca

atingidos em nossa história.

O esforço do poder público deveria se concentrar no atendimento de jovens e adultos entre

15 e 35 anos. Visto que a população nesse faixa etária oferecia maiores possibilidades de

integração na sua comunidade e no desenvolvimento do país, assegurando a rentabilidade

do investimento em educação. A prioridade não estava em proporcionar educação de

qualidade, mas suprir as necessidades da industrialização, pois nota-se que esse período o

país estava sob as perspectivas otimistas do “milagre econômico”.

Portanto, a intenção é analisar materiais didáticos, jornais, revistas, publicações e

propagandas, fim de perceber de que modo estava sendo direcionado o discurso intencional

do Estado na política de educação de adultos. Encontrar nas entrelinhas do Mobral os

mecanismos usados como instrumento eficaz na divulgação da ideologia do governo

Page 106: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

militar. Utilizando de teóricos como Foucault (1999), notaremos no Mobral que a produção

do discurso é nitidamente controlada, selecionada, organizada e redistribuída como bem à

nação. Bem como afirma Chartier (1991) no uso do conceito de representação, onde

percepções sociais são construídas ou impostas, e que, portanto, lideram os “modos de ver

e os modos de fazer” da sociedade.

Trata-se, portanto, de enfatizar os fatores que levaram o sistema político vigente no país a

encontrar na educação um forte instrumento de difusão e manutenção do regime. Dessa

forma, perceberemos o quanto a proposta de erradicação do analfabetismo está

“contaminada” de ideologia e de interesses, fim de manter o controle e direcionar a

população analfabeta ao desenvolvimento econômico. Através das ideias difundidas pelo

movimento são preservados e disseminados os interesses políticos, diminuindo a formação

de concepções diferentes da pregada pelo regime, uma espécie de coibição do senso

crítico.

“Uma professora muito maluquinha”: o estereótipo de professor a partir do discurso

cinematográfico

Micheli de Jesus Silva

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

[email protected]

As mídias em geral têm um grande poder influenciador na sociedade e principalmente no

que tange a cultura. A sociedade de massa, cada vez mais dependente dos aparatos

tecnológicos, graças à produção capitalista que domina a Indústria cultural, fica a mercê do

que Adorno chamou de pseudocultura, ou seja, a cultura produzida artificialmente para

gerar necessidade de consumo o que é apropriada pela massa. A pseudocultura é

disseminada pela indústria cultural, que transfigura os bens culturais em mercadoria a

serem consumidos, e assim, transforma a população em grupos homogêneos e em massa de

consumo. O cinema, por tanto, tem um poder de massa que é difundido em todas as

classes, sendo assim capaz de formar opiniões, pensamentos e criar estereótipos.

Consequentemente, o conceito de professor que existe no imaginário das massas é aquele

transmitido pela mídia, sendo o cinema um dos maiores responsáveis por esta figura

simbólica de professor existente no pensamento da maioria.

Percebe-se por tanto em torno da história retratada no filme Uma professora muito

maluquinha a figura de uma professora apresentada como uma princesa e/ou heroína de

conto de fadas. A história que é voltada para crianças, mostra a professora como uma

figura repleta de encantos e que consegue mudar o cotidiano de uma cidade inteira,

enfrentando seus problemas com originalidade e desprendimento.

Segundo Foucault (1999, p.08-09), “Em toda sociedade a produção do discurso é ao

mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de

procedimentos que têm por função conjurar poderes e perigos”. Valendo-se da afirmação

do autor, pode-se considerar a figura do professor nas produções cinematográficas,

principalmente as brasileiras, tende a manipular as reais condições e aspectos envolvendo o

profissional docente na sociedade. A intenção por traz da figura do professor construída

através das mídias é de formar um ser bom e perfeito que deve realizar seu trabalho de

forma brilhante e instintiva, capaz de resolver os problemas dos seus alunos e assim

transformar o mundo sem se preocupar com retorno financeiro ou sua vida particular.

Em um país em que a educação fica como plano de fundo é bem difícil chegar ao patamar

demonstrado pela mídia e suprir as expectativas transmitidas pela mesma. Assim é bem

comum encontrar professores frustrados e alunos desmotivados em um mundo bem

diferente do discurso e dos contos de fadas.

Page 107: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

“Catu teve, Catu tinha” aspectos da história da cidade de Catu pelo cordel de

Reinaldo Nonato

Nívea Maria Lima dos Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

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A importância da literatura de cordel no cenário das formas literárias Ibéricas mostra a

força da difusão oral pelo mundo. As características do imaginário, extraordinário e anti-

herói que estão presentes até hoje na literatura brasileira tem como base as chamadas

novelas de cavalarias Ibéricas. Dentre várias linhas de permanência e renovação do

fabuloso há uma permanência licenciosa da realidade. Com a origem dos folhetos na Idade

Media, a literatura de cordel vem assumindo, ao longo do tempo, características regionais

principalmente da região Nordeste do Brasil, na medida em que o elenco da exposição

literária reúne interpretação do fenômeno social e análise da criação poética. Na cidade de

Catu os trabalhos do cordelista Reinaldo Nonato também apresentam características

semelhantes e aqui tomamos para estudo o cordel: “Catu teve, Catu tinha” no qual a

intertextualidade do real e fantasioso ocorre pelos aspectos sócio-culturais, coincidindo

com a vivencia real do cordelista que procura conservar “rigorosas” fidelidade aos

antepassados e denunciar as adaptações dos citadinos às mudanças vivenciadas na cidade.

A proposta dessa comunicação é divulgar parte do resultado da pesquisa do Trabalho de

Conclusão de Curso que pretendo defender no semestre 2014.2 no curso de História do

Campus II da Universidade do Estado da Bahia.

Mudanças e permanências na festa do Padroeiro da cidade de Pedrão/Ba

Taiane Elisabeth Alves da Cruz

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

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A festa do Padroeiro da cidade de Pedrão, Santíssimo Sagrado Coração de Jesus, é a maior

manifestação religiosa do município e apresenta grande importância sob o aspecto social,

cultural e econômico para a cidade. Mobiliza as comunidades urbanas e rurais locais e

demais cidades circunvizinhas. Por muitos anos ela aconteceu no mês de junho e, antes da

emancipação da cidade que ocorreu em 1962, ela foi transferida para o mês de janeiro em

virtude das intensas chuvas que ocorriam na data anterior comprometendo sua realização.

Ao longo do tempo, outras alterações ocorreram nas celebrações da festa a exemplo da

incorporação da lavagem da Igreja com apresentações do cortejo de baianas, grupos

musicais em trios e blocos da cidade no período do novenário da festa além da manutenção

de outras que já existiam a exemplo da manifestação cultural do bumba boi, leilão de

diversas iguarias e comercialização de doces, alimentos e bebidas por moradores locais e

de fora. Essa comunicação é o resultado de um pré-projeto do trabalho de conclusão de

curso que busca compreender as alterações e permanências ocorridas nessa festa e seus

significados para membros das comunidades religiosas locais e demais moradores. Os

autores que lidam com festas e manifestações religiosas são importantes para esse estudo.

Terra às avessas: reinvenções do e narrativas historiográficas em Raízes do Brasil de

Sergio Buarque de Holanda

Veron Alan Luz Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB - Campus II

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Page 108: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

Nas primeiras décadas do século XX, ocorreram grandes transformações no Brasil, não apenas políticas, bem como culturais, sociais e especialmente nas mentalidades. No bojo desse processo de reconstrução das bases mentais da nação, surgiu das mãos do Sergio Buarque de Holanda, a obra Raízes do Brasil, esta que, numa leitura cuidadosa, pode ser observada como um estudo, em alguma medida, até mesmo psicológico do povo brasileiro, com criticas fortíssimas a estruturas políticas e sociais, transpassando os limites de uma simples síntese da história do país. A obra esta inserida num contexto de construção de uma ideia nacionalista que imperava nos anos 30, ou seja, da tentativa de construção de uma unidade nacional. Participa também, ao lado de Casa grande & senzala de Gilberto Freire e de Formação do Brasil contemporâneo de Caio Prado Júnior, da intermitente batalha entre integralistas e comunistas, sendo, de Acordo com Antônio Candido, para os primeiros, “rejeitadas, vistas com desconfiança”. Já para os segundos, as obras forneceram elementos que pareciam adequar-se ao seu ponto de vista, a exemplo da “denuncia do preconceito racial” e a “critica dos fundamentos patriarcais e agrários”. Segundo Francisco de Assis Barbosa, citado por Julia Matos no artigo intitulado Tradição e modernidade na obra de Sergio Buarque de Holanda “o jovem Sergio Buarque desde cedo enclausurava-se nas bibliotecas e assim teve acesso aos clássicos da historia do Brasil. Desta forma, compreendemos que Raízes do Brasil é fruto de toda esta discussão sobre raça, nacionalismo e cultura, entre os anos de 1900-1930, herdeira do romantismo e do cientificismo do século XIX. E a essas teorias cientificistas que a obra de Sergio Buarque se opôs”. Partindo do pressuposto estabelecido por Durval Muniz de Albuquerque no primeiro capitulo do livro A invenção do nordeste, denominado Geografia em ruínas, de que houve uma “crise do paradigma naturalista e dos padrões nacionais de sociabilidade”, graças a isso, surgiu então à necessidade de perscrutar as origens da nação, na tentativa de reescrever a historia, atendendo as novas demandas do período. Procuro, por meio do método de contextualização, compreender a escrita de Sergio Buarque de Holanda, como uma tentativa de moldar uma face para o povo brasileiro, bem como, para a estrutura democrática do país, “como o próprio título metafórico sugere”, um esforço em escavar, desvendar, as “Raízes do Brasil”. O retrato proposto pelo Buarque de Holanda das origens do “déficit do sistema burocrático” possibilitou aos homens de sua época, um grande passo em direção a uma compreensão de aspectos próprios do país, estabelecendo ligação entre acontecimentos do presente, com uma herança advinda dos colonizadores portugueses, a exemplo do “personalismo exacerbado” e de uma sociedade de “homens cordiais” que não permite que estes desvinculem o público do privado, “deixando que as relações pessoais de afetividade, parentesco, amor ou ódio estejam visivelmente apresentadas nas ações do individuo que ocupa um cargo na administração pública”. Percebi claramente, devo concordar com o autor, uma critica poderosa em direção aos tradicionalistas que tentaram buscar no passado, soluções para problemas contemporâneos a obra. Comungo também com a ideia de que não existem, no transplante de invenções e pensamentos estrangeiros para o Brasil, respostas satisfatórias para a nação brasileira. Para ele, a única maneira possível de uma “evolução” seria por meio da originalidade, do “fazimento” de teorias próprias, tendo em vista as peculiaridades do país. Nas palavras de Antônio Candido, Raízes do Brasil, “se tornou um clássico da nascença”, sendo assim, leitura obrigatória aos que aceitam o desafio de tentar compreender as estruturas burocráticas e sociais do país.

Algumas representações da imagem do professor no cinema

Sóstenes Wendson S. Silva

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

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Com o advento dos modernos veículos de comunicação, tornou-se cada vez mais frequente

na sociedade contemporânea, a disseminação de informações de diversas fontes midiáticas.

As formas de representações provenientes da mídia invadiram o cotidiano e tem-se tornado

gradativamente uma forma dominante de cultura popular. A influência das informações

disseminadas pela indústria cultural modela os costumes, o lazer, as opiniões. Assim

Page 109: Caderno de resumos III da Semana de História UNEB Campi II  Alogoinhas - Bahia

práticas que outrora eram desconhecidas tornam-se comuns na sociedade. Nesse contexto

vários atores sociais são representados ora semelhantes, outrora bem diferentes da

realidade, desta forma vão sendo construídas imagens de personagens comuns do

cotidiano.

Este trabalho tem a intenção de identificar e discutir de forma sucinta, a maneira como a

imagem do professor vem sendo construída por meio de representações nos veículos de

comunicação de massa. Busca-se analisar de que modo alguns conceitos, padrões e valores

são disseminados através da mídia cinematográfica. Será utilizado para tal estudo,

especificamente o filme Escola da Vida que aborda o cotidiano de dois professores que

representam dois estereótipos típicos atribuídos pela mídia aos profissionais da educação.

O primeiro personagem representa o estereótipo do professor ideal, que motiva os alunos,

trás novidades cria fantasias e desperta os sonhos das crianças. Simultaneamente é

representado o tipo oposto, ou seja, professor tradicional que reproduz conteúdos em sala

de aula e trata os alunos de maneira uniforme deixando os desmotivados a acompanhar a

suas aulas. Tentaremos analisar como essas representações são difundidas por meio da

mídia cinematográfica visando criar impressões dissonantes da realidade cotidiana.