caderno de resumos e programaÇÃo -...
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Edição Comemorativa
CADERNO DE RESUMOS
E PROGRAMAÇÃO
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
25 e 26 de abril de 2018
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
REITOR: Prof. Dr. Vahan Agopyan
VICE-REITOR: Prof. Dr. Antonio Carlos Hernandes
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DIRETORA: Profa. Dra. Maria Arminda do Nascimento Arruda
VICE-DIRETOR: Prof. Dr. Paulo Martins
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
CHEFE: Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
SUPLENTE: Prof. Dr. Mário César Lugarinho
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORA: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo
VICE-COORDENADOR: Prof.ª Dr.ª Flaviane Romani Fernandes Svartman
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Edição Comemorativa
PROMOÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
PÓS-GRADUANDOS:
Adriana Moreira Pedro - Mestranda
Agildo dos Santos Silva de Oliveira - Doutorando
Alexandre Marques Silva - Doutorando
Leonardo Gonçalves de Lima - Mestrando
Sérgio Mikio Kobayashi - Mestrando
Winola Weiss - Mestranda
Site: http://eped.fflch.usp.br
E-mail: [email protected]
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CADERNO DE RESUMOS
Organização e Diagramação
Agildo Santos Silva de Oliveira
REVISÃO
Agildo Santos Silva de Oliveira
APOIO
FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
LAPEL – Laboratório de Apoio à Pesquisa e Ensino em Letras
Carolina Bernardi (Serviço Financeiro do DLCV)
OBSERVAÇÕES:
Os resumos das comunicações individuais deste Caderno estão organizados em ordem
alfabética por autor. Seu conteúdo e redação são de inteira responsabilidade de seus
autores.
As conferências de abertura e de encerramento, bem como as sessões de comunicação
serão realizadas no prédio do curso de Letras da FFLCH.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................ 06
PROGRAMAÇÃO................................................................................................. 07
RESUMO DAS CONFERÊNCIAS........................................................................ 09
RESUMO DAS MESAS REDONDAS.................................................................. 11
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS............................................. 17
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APRESENTAÇÃO
Bem-vindos ao X EPED!
O Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP – EPED-USP – é um
evento acadêmico anual, organizado pelos pós-graduandos da área de Filologia e Língua
Portuguesa, que visa promover o diálogo entre as distintas abordagens teóricas e
metodológicas sobre o discurso na Universidade de São Paulo.
Com edições desde 2009, o evento busca a integração entre os pós-graduandos dos
diversos programas da Universidade de São Paulo, incentivando o debate franco e aberto
acerca dos diferentes olhares epistemológicos, das distintas metodologias e dos variados
objetos de análise que caracterizam a instituição no que concerne ao estudo da produção
contextualizada de sentido.
Com um acolhimento especial dentre os docentes e alunos da USP, bem como de
pesquisadores consagrados de universidades do Brasil e do exterior convidados para a
realização de mesas e conferências, seu sucesso e sua aceitabilidade no meio acadêmico
têm servido de exemplo para uma série de eventos organizados por pós-graduandos
dentro e fora da Universidade de São Paulo, na área de Letras e Linguística.
Em 2018, o EPED chega à sua décima edição e, por isso, o evento deste ano será
comemorativo. Nas conferências e mesas, compostas por pesquisadores que
participaram de organizações anteriores do encontro, serão debatidos temas relativos às
suas atuais pesquisas. Ademais, com o propósito de firmar a conquista do princípio do
EPED – o diálogo –, a partir desta edição, o evento se propõe a fomentar, entre os
apresentadores e mediadores, debates mais profundos acerca de seus trabalhos.
De acordo com esse objetivo, as sessões de comunicação terão, no máximo, 5 trabalhos
com 15 minutos para apresentação, seguidos de 10-15 minutos de debate para cada
trabalho.
Em sua décima edição, a realizar-se nos dias 25 e 26 de abril de 2018, o EPED
convida pesquisadores vinculados à Universidade de São Paulo – docentes e discentes –
a debaterem as suas pesquisas cujo foco sejam questões discursivas, textuais,
semântico-pragmáticas e interacionais.
Comissão Organizadora
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PROGRAMAÇÃO
8h Início do credenciamento
9h15 - 10h30
Conferência de abertura: Discurso e Argumentação: ainda sobre o ethos e o pathos...
Prof. Dr. Eduardo Lopes Piris (UESC)
10h30 - 11h Coffee break
11h - 12h40 Sessões de comunicação individual 01, 02 e 03
12h30 - 14h Almoço
14h - 16h
Mesa-redonda 1: Teoria Bakhtiniana da Linguagem em prática: o social, o digital e o etnolinguístico
Coordenação:
Por um método bakhtiniano dos enunciados online – Prof. Dr. Artur Módolo
Cidadãos e Excelências: igualdade ou distinção na República brasileira – Profa. Dra. Giovanna Ike Coan
A produtividade da Teoria Bakhtiniana da Linguagem: questões epistemológicas e metodológicos-analítica para uma análise contrastiva de discursos – Prof. Dr. Urbano Cavalcante da Silva Filho (IFBA)
16h - 16h30 Coffee break
16h30 - 18h30
Sessões de comunicação individual 04, 05, 06, 07 e 08.
QUARTA-FEIRA – 25/04/2018
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08h30 - 10h10 Sessões de comunicação individual 09, 10 e 11.
10h10 - 10h40 Coffee break
10h40 - 12h40
Mesa-redonda 2— Discurso e Ensino: diálogos possíveis
Coordenador:
Investigações Discursivas sobre o Ensino de Inglês para Crianças — Profa. Dra. Bianca Rigamonti Valeiro Garcia (FAM/FASESP - Faculdade SESI de Educação)
Discurso: entrelaçamentos e caminhos a partir do conceito - Profa. Dra.
Janaína Michele de Oliveira Silva (UNIVESP)
Linguagem figurativa e ensino de produção de texto — Profa. Dra. Solange Ugo Luques
12h40 - 14h Almoço
14h – 16h10 Sessões de comunicação individual 12, 13, 14, 15 e 16.
16h - 16h30 Coffee break
16h30 - 18h
Conferência de encerramento — A dinâmica discursiva da empatia e do antagonismo em redes sociais: delimitando um campo de pesquisa
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (USP)
QUINTA-FEIRA – 26/04/2018
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RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS
Conferência de Abertura
DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO: AINDA SOBRE O ETHOS E O PATHOS...
Eduardo Lopes Piris
Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo Docente da Universidade Estadual de Santa Cruz
E-mail: [email protected]
Pêcheux (1997 [1975]), ao discutir o domínio da Linguística via filosofia materialista,
propôs abrir questões sobre os objetos linguísticos na relação com objetos da ciência das
formações sociais. Uma de suas principais contribuições foi questionar a dicotomia
saussureana “língua/fala” e deslocá-la para a oposição “língua/discurso”, postulando que
o discurso não é uma maneira individual de concretizar a abstração da língua.
Fundamenta-se, assim, a distinção entre a concepção idealista e a concepção materialista
do sujeito, o que impacta diretamente a maneira como propomos conceber as instâncias
subjetivas da argumentação orador e auditório, tais como postuladas por Perelman e
Olbrechts-Tyteca (1994 [1958]) e difundida no campo dos estudos sobre argumentação.
Assim, o objetivo deste encontro é apresentar as bases teóricas que fundamentam nossa
abordagem da argumentação numa perspectiva discursiva, focalizando as noções de
ethos e de pathos, a fim de ultrapassar as perspectivas que concebem a argumentação
apenas como parte de um jogo de estratégias arquitetadas por um orador plenamente
consciente dos usos que ele faz dos recursos da linguagem para persuadir seu ouvinte.
Nossa reflexão recorre também aos trabalhos de Ruth Amossy (2013), que defende a
necessidade de estudar a maneira como a argumentação se inscreve não apenas na
materialidade discursiva, mas também no interdiscurso, e aos de Eni Orlandi (1998), que
entende a argumentação como organização do dizer, destacando o interdiscurso e a
antecipação (as formações imaginárias) como bases do mecanismo de argumentação no
discurso.
Palavras-chave: Discurso. Argumentação. Enunciação. Ethos. Pathos.
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Conferência de Encerramento
A dinâmica discursiva da empatia e do antagonismo em redes sociais:
delimitando um campo de pesquisa
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo (USP)
Esta conferência tem dois grandes objetivos: o primeiro consiste em discutir as noções de
empatia e de antagonismo em perspectiva multidisciplinar, considerando aspectos
cognitivos, sociodiscursivos, linguísticos e interacionais, e delinear possibilidades de
análise desse binômio em situações reais de produção/interpretação de sentido; o
segundo consiste em analisar a construção da dinâmica entre empatia e antagonismo em
interações situadas em redes sociais. Para isso, partimos da combinação de um
arcabouço teórico que integra os Estudos Críticos do Discurso, a Análise da Conversação
e a Linguística Cognitiva.
A partir de um recorte diversificado que abrange movimentos empáticos e antagônicos
ligados a distintos gatilhos – o ataque à sede do jornal satírico Charlie Hebdo, o
rompimento da barragem em Mariana, o falecimento da ex-primeira-dama Marisa Letícia e
a demissão do jornalista William Waack pela Globo –, propomo-nos a refletir acerca do
caráter estratégico de gestos empáticos e antagônicos no que tange à mobilização
política e da influência da mídia na distribuição da empatia; a apresentar uma tipologia
inicial de base discursiva para tais gestos; a mostrar alguns padrões linguísticos que
parecem caracterizar esses movimentos em interações no Facebook, bem como alguns
de seus fundamentos argumentativos; a relacionar a construção linguístico-discursiva da
empatia à elaboração de outras/os emoções/afetos; e, por fim, a articular alguns passos
na direção de se pensar na relação entre empatia/antagonismo e ideologia.
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RESUMOS DAS MESAS REDONDAS
MESA I
Teoria Bakhtiniana da Linguagem em prática: o social, o digital e o etnolinguístico
A proposta da mesa é discutir a produtividade teórico-metodológica da abordagem de
Bakhtin e o Círculo para os estudos discursivos em diversas interações socioidológicas,
esferas e temporalidades. Também visa o diálogo dessa perspectiva teórica com outras
filiações teóricas de enfoque discursivo.
Por um método bakhtiniano dos enunciados online
Prof. Dr. Artur Módolo
Essa comunicação tem como objetivo indicar possibilidades de conciliar as contribuições
teórico-metodológicas do Círculo de Bakhtin, com exames de enunciados e de relações
dialógicas materializadas online. As obras bakhtinianas têm inspirado uma série de
estudos que investigam a interação verbal em sites jornalísticos, redes sociais (Facebook,
Twitter etc.). Diante das aplicações práticas dessas pesquisas e de seus resultados,
busca-se elaborar uma síntese capaz de dar indicativos e um norte metodológico possível
de inspiração bakhtiniana para os diversos estudos da Internet. Como resultado é
possível identificar que as obras advindas do Círculo de Bakhtin são eficazes em propiciar
a investigação de diversas questões relacionadas à Internet e o meio digital, a saber, a
materialidade dos enunciados, as relações dialógicas, os gêneros etc. Destaca-se, afinal,
a necessidade de adaptações, acréscimos e busca por novos conceitos que a teoria
bakhtiana não pode antecipar, entre eles a questão da hipertextualidade e as formas de
responsividade advindos da popularização das redes sociais online.
Palavras-chave: Círculo de Bakhtin, metodologia, online, digital, redes sociais
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Cidadãos e Excelências: igualdade ou distinção na República brasileira?
Profa. Dra. Giovanna Ike Coan (USP)
Segundo Volóchinov (2017), a palavra, determinada pelo horizonte social de uma época e
de um grupo social, acompanha toda a criação ideológica como seu ingrediente
indispensável. No contexto brasileiro, o período entre o final da Monarquia e os primeiros
anos da República foi de coexistência entre tradições antigas, arraigadas na sociedade, e
tradições inventadas (HOBSBAWM, 2012) no e para o novo regime. No âmbito da
palavra, os “súditos” do Imperador deram lugar aos “cidadãos” da República, de modo a
que o “governo do povo pelo povo” adotasse o tratamento por “cidadão”, em princípio,
indistintamente (CARVALHO, 2008). Neste trabalho, examinamos fórmulas republicanas
de tratamento ao interlocutor em ofícios paulistas enviados à Secretaria de Estado de
Negócios do Interior, entre 1890 e 1910, compreendendo tais fórmulas como signos
ideológicos. Os resultados revelam que, no trato de indivíduos de alta posição hierárquica,
formas que denotam igualdade entre os interlocutores, como “Cidadão”, foram
gradualmente perdendo espaço para formas que exprimem distinção e reverência, como
“Ilustre Cidadão”, “Excelentíssimo Senhor” e “Vossa Excelência” (COAN, 2017). Tal
mudança nos usos da língua correspondeu ao momento de consolidação da República,
na década de 1900, quando houve a ascensão de uma corrente conservadora na gestão
política e econômica e a rearticulação do establishment (ALONSO, 2002). Por outro lado,
enfocando outro horizonte social, propomos um diálogo entre esses resultados e um fato
recente na República brasileira: o Projeto de Lei do Senado n. 332/2017, de autoria de
Roberto Requião (MDB – PR), que visa a abolir o tratamento aristocrático dispensado a
agentes públicos (e.g. “Vossa Excelência”), pois, na visão do senador, seriam formas
“incompatíveis com a igualdade de todos perante a lei”. Logo, observando os dois
momentos republicanos, buscamos demonstrar como a palavra não apenas reflete, mas
também refrata aspectos da realidade em transformação (VOLÓCHINOV, 2017).
Palavras-chave: Cidadão; Excelência; formas de tratamento; signo ideológico; República.
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A produtividade da Teoria Bakhtiniana da linguagem: questões epistemológicas e
metodológico-analíticas para uma análise contrastiva de discursos
Prof. Dr. Urbano Cavalcante Filho
(IFBA / UESC / Diálogo-USP)
Meu objetivo neste trabalho é apresentar e discutir a fecundidade da confluência teórico-
metodológica entre a Análise Contrastiva de Discursos, vertente teórica nascida no âmbito
do Cediscor (Centre de recherche sur les discours ordinaires et spécialisés) da Université
Sorbonne Nouvelle, em Paris, na França, e a Análise Dialógica do Discurso, advinda das
reflexões do Círculo de Bakhtin, para a análise de discursos de diferentes comunidades
etnolinguísticas. Assim, minha apresentação é dividida em 3 momentos distintos mas
dependentes e correlacionados: teórico, metodológico e analítico. No primeiro momento,
dedico minha atenção à apresentação dos pressupostos teóricos que embasam o estudo,
a saber, a teoria bakhtiniana e a análise comparativa de discurso; no segundo momento,
exponho os pressupostos metodológicos que sustentam o que chamo de “análise
comparativo-dialógica do discurso”, cuja metalinguística constitui o cerne orientador do
estudo; por fim, no terceiro momento, empreendo um gesto analítico de comparação do
discurso de divulgação científica de duas comunidades etnolinguísticas (brasileira e
francesa), materializado nos enunciados de das revistas Ciência Hoje e La Recherche,
produções da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Société
d'éditions scientifiques, respectivamente.
Palavras-chave: Análise Contrastiva de Discursos; Análise Dialógica de Discursos;
Divulgação Científica.
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MESA II
Discurso e Ensino: diálogos possíveis
A proposta da mesa é discutir, a partir de diferentes abordagens tóricas, as possíveis relações
entre discurso e ensino, estabelecendo diálogos entre pesquisa e prática. Nesse diálogo,
propõe-se refletir: as representações discursivas e suas implicações em torno do inglês como
língua estrangeira e seu ensino para crianças de escola bilíngue; levantamento de pesquisas
que tratam do diálogo “discurso e ensino” e sua produtividade para o ensino de língua
materna; e a proposta do trabalho com a metáfora como “linguagem figurativa”, para a
produção textual em gêneros argumentativos integrantes de processos seletivos para
ingresso em universidades como ENEM e Fuvest.
Investigações Discursivas sobre o Ensino de Inglês para Crianças
Profa. Dra. Bianca Rigamonti Valeiro Garcia (FAM/FASESP - Faculdade SESI de
Educação)
Na última década, o oferecimento de aulas de inglês para crianças vem sofrendo um
significativo aumento (MOURA, 2009; ROCHA, 2007). Tal prática tem se desdobrado em
modalidades diversas, como: inclusão de aulas de inglês no currículo de escolas regulares de
educação infantil e ensino fundamental, aulas de inglês em contexto de escola bilíngue
privada, aulas de inglês em escolas internacionais e, ainda, aulas para crianças em institutos
de idiomas (GARCIA, 2011). A partir de experiências profissionais em diversos âmbitos de
atividade pedagógica desse segmento e sob o viés da Análise de Discurso derivada dos
trabalhos desenvolvidos na França por Michel Pêcheux e ampliados no Brasil por autoras
como Orlandi (2005), Carmagnani (1996), Grigoletto (2013) e Pinheiro-Passos (2006),
decidimos investigar representações de língua estrangeira, aprendiz e ensino de língua
estrangeira em discursos produzidos em torno de tal prática. Nossas pesquisas já apontaram
que este ensino se insere em uma formação discursiva cujos sujeitos são valorizados com
base na obtenção de destaque por meio da competitividade, naturalizada pela ideologia do
capitalismo de acumulação flexível (HARVEY, 1992). Os resultados obtidos evidenciam que a
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dinâmica discursiva desse cenário investe em uma projeção precoce das crianças pequenas
tanto na lógica do sistema econômico quanto em papéis de competição e seleção imaginários
a serem atingidos por elas em futuros hipotéticos; tal inserção foi, em parte significativa dos
casos estudados, justificada com base nas características neuropsicológicas, dos aprendizes
que, por sua vez, se configurariam como elemento de vantagem desses sobre aprendizes de
idades mais avançadas. O objetivo do presente recorte é partilhar nossa análise de como os
discursos produzidos por escolas particulares bilíngues e materializados em seus websites
institucionais se ancoram em elementos da neurociência para produzirem justificativas da
urgência do ensino de inglês para crianças e sua relação com a teoria do período crítico para
a aprendizagem de língua(s) estrangeira(s).
Palavras-chave: Ensino de inglês para crianças, Neurociências, Análise de discurso.
Discurso: entrelaçamentos e caminhos a partir do conceito
Profa. Dra. Janaina Silva (UNIVESP)
Ao considerarmos a proposta desta mesa redonda, trazemos à discussão um trabalho que se
orienta em apresentar possíveis intersecções a respeito das questões conceituais sobre
“discurso” e sua relação com o ensino. Nesse sentido, este trabalho mostra-se como uma
investigação parcial para a apresentação da análise de uma pequena amostra de produções
acadêmicas que têm a Análise do Discurso, nas suas mais variadas vertentes, como escolha
de filiação teórica em trabalhos inseridos no recorte temporal delimitado entre os anos de
1990 e 2010. A coleta de dados se deu com a busca de produções escritas por meio de
palavra-chave e efetuada a recolha dos dados, selecionou-se aquelas que tendiam a discutir
a relação entre ensino e discurso. A partir disso, empreendemos uma observação analítica a
fim de coletar informações em tais trabalhos que nos orientem a delinear como as pesquisas
discorrem sobre a definição de “discurso” seja de modo pontual, seja ao longo do escrito, de
forma que consigamos subtrair a essência com a qual o conceito é compreendido e
empregado em cada produção acadêmica analisada. Além disso, outro ponto que nos é caro
é discutir e averiguar como o conceito pode aparecer e ser incorporado ao ensino de Língua
Portuguesa, subsidiando o encaminhamento da formação escolar. Com isso, podemos refletir
sobre como as interpretações sobre o conceito elucidam parâmetros na sua abordagem no
ensino de língua materna. Nosso aparato teórico se sustenta a partir de reflexões advindas do
campo dos estudos linguísticos e dos estudos socioculturais.
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Linguagem figurativa e ensino de produção de texto
Profa. Dra. Solange Ugo Luques
O conjunto de pesquisas aqui apresentado compõe um percurso acadêmico iniciado no
mestrado, com estudos sobre os efeitos de sentido produzidos pelo emprego de metáforas
discursivas, como estratégia argumentativa construtora de significado no discurso político, por
serem escolhas linguísticas transmissoras de ideologia e contextualizadas culturalmente. No
doutorado, o objetivo foi promover integração e reflexão sobre a construção do conhecimento
acadêmico no ensino superior, por meio do ensino de produção de gêneros como o artigo
científico em Língua Portuguesa, mediante a combinação de atividades interativas realizadas
em ambientes presenciais e virtuais. Nesse sentido, argumentou-se que uma experiência bem
ajustada de aprendizagem da produção do artigo científico, em que a Língua Portuguesa
fosse tomada como instrumento de construção de conhecimento, poderia propiciar melhor
inserção social do estudante, por levá-lo a dominar um gênero que contribuiria para legitimar
seu discurso na área da ciência em geral, tanto na universidade como no âmbito profissional.
Da articulação entre essas pesquisas sobre linguagem figurativa, mais especificamente sobre
a metáfora discursiva como estratégia argumentativa, e o ensino de produção de texto em
ambientes presenciais e virtuais, surge um projeto de pesquisa que tem como propósito
investigar a utilização de linguagem figurativa como estratégia de mobilização e construção
de conhecimento no ensino de produção textual de gêneros argumentativos. A hipótese a ser
defendida é a de que elaborar e aplicar práticas educativas que apresentem ao estudante do
ensino médio a metáfora, enquanto linguagem figurativa, em suas funções cognitiva e
argumentativa pode contribuir para a aprendizagem de produção textual de gêneros como os
solicitados no ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, ou em vestibulares à universidade,
entre eles o que seleciona candidatos à USP, Universidade de São Paulo.
Palavras-chave: Metáfora; Linguagem figurativa; Ensino de produção de texto; Cognição;
Argumentação.
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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS
De youtuber a autora de best-sellers: o discurso de Isabela Freitas
Adriana Moreira Pedro ([email protected])
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
As redes sociais nos trouxeram muitas mudanças tanto em comportamentos sociais como na
linguagem, pois a interação virtual hoje faz parte de nossas vidas. Em 2005 surgiu o YouTube,
fazendo com que qualquer pessoa que tenha acesso à internet e uma câmera possa criar seu
canal, postar vídeos para qualquer pessoa visualizar e dizer o que quiser sobre qualquer assunto.
Neste trabalho, faremos uma análise do discurso da youtuber Isabela Freitas. Seu canal, que leva
seu nome e foi criado em 2011, tem quase 700 mil inscritos e seus vídeos têm quase 26 milhões
de visualizações. Depois do sucesso de seus vídeos, Isabela publicou três livros, sendo que um
deles foi adaptado para uma série do programa Fantástico da TV Globo. Em seu discurso, Isabela
fala para jovens sobre relacionamentos amorosos e opina sobre o que se deve ou não fazer,
exemplificando segundo suas próprias experiências. O objetivo neste trabalho é observar seu
discurso e analisar se sua fala remete a temas já de senso comum ou se suas falas podem trazer
algo de novo, como um “empoderamento” feminino, já que mostra para as meninas que elas
devem se valorizar e exigir respeito e que não devem, por exemplo, serem submissas em uma
relação. Este trabalho se justifica na medida em que entendemos ser importante analisar os
discursos proferidos na internet que hoje tem um alcance muitas vezes maior do que programas
televisivos. Para tanto, utilizaremos como teoria a Análise Crítica do Discurso (ACD),
principalmente os estudos de Fairclough, utilizando em nossa metodologia sua perspectiva
tridimensional do discurso; além de estudos sobre internet de Pierre Lévy, entre outros.
Palavras-chave: YouTube; ACD; Isabela Freitas; internet; feminismo.
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Repertório temático e significação ideológica em Antologias Escolares do Segundo
Reinado e da República Velha
Agildo Santos Silva de Oliveira ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Em Bakhtin e o Círculo muito se discute acerca do papel que os gêneros do discurso
desempenham em suas esferas ideológicas de produção e circulação, uma vez que enquanto
produtos das inúmeras atividades humanas, emergem das interações entre interlocutores
circunscritos em meios ideológicos. Na esfera da educação, por exemplo, encontramos o gênero
antologia escolar, constituído pela seleção de excertos de textos literários e não literários, cuja
maioria dos escritores pertence ao cânone português e brasileiro dos séculos XVI ao XIX. Tal
gênero integrou, sistematicamente, as aulas de Língua Portuguesa do ensino secundário por mais
de um século, entre 1850 (Império) e 1950 (República), longevidade indicativa da força ideológica
desse gênero intercalado na história do ensino de língua materna, bem como a importância de
pesquisas nessa área. Assim sendo, na pesquisa de doutorado em desenvolvimento no Programa
de Filologia e Língua Portuguesa, em específico, na linha de pesquisa da Linguística Aplicada do
Português, trabalhamos com gêneros de circulação integrantes de duas antologias escolares que
circularam entre o Segundo Reinado e a República Velha, respectivamente: Iris Classico (1868),
de José Castilho Barreto e Noronha, e Auctores Contemporaneos (1911), de João Ribeiro. Para
esta comunicação, trataremos acerca de uma das significações ideológicas (Volóchinov, 2017) ou
funções dessas antologias escolares revelada pelo levantamento do repertório temático
constitutivo da seleção de excertos dessas obras. Para investigação, temos como referencial
teórico-metodológico Bakhtin e o Círculo, principalmente as noções de gêneros do discurso e
esfera ideológica (Bakhtin, 2016 e Medviédev, 2012), discurso do outro (Bakhtin, 2010 e
Volóchinov, 2017), e significação ideológica (Volóchinov, 2017). Os resultados parciais da
pesquisa indicam que essas antologias escolares desempenharam funções políticas entre seus
interlocutores, estudantes da elite imperial e republicana, e seus âmbitos de circulação: de um
lado, Iris Classico em defesa da manutenção do Império; de outro, Auctores Contemporaneos
favorável ao fortalecimento da República.
Palavras-chave: Antologia escolar. Repertório temático. Significação ideológica. Segundo
Reinado. República Velha.
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Paixão e guerra: fundamentos de um projeto identitário de resistência
Alexandre Marques Silva ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Neste trabalho, objetivamos discutir a relação entre a ativação de um e o apelo ao pathos como
estratégias de construção de um projeto identitário em Timor-Leste. Como procedimentos
metodológicos, centraremos nossas análises na observação de como os objetos de discurso são
construídos no pronunciamento realizado por Xanana Gusmão em 13 de outubro de 1982, período
em que Timor-Leste estava sob ocupação indonésia; além do emprego de subjetivemas que
instauram uma perspectiva pessoal e patêmica relativamente aos atores/grupos sociais e às
ações desses. A fim de fundamentarmos nossas análises, respaldamo-nos nos trabalhos de
Charaudeau (2007) e Meyer (2003), para tratarmos da patemização do discurso; Kerbrat-
Orecchioni (1980), no que tange à subjetividade na linguagem; Marcuschi (2007, 2002), em sua
abordagem acerca da construção dos objetos de discurso; Duque (2016), Azevedo (2008) e
Aquino (2017, 1997), a fim de fundamentarmos a discussão sobre frames; por fim, Mendes
(2005), Moita-Lopes (2006); De Fina (2010 [1997]) e Hall (2006, 2000), para abordarmos os
aspectos teóricos atinentes à identidade. Nossas análises apontam para o fato de que a
categorização do povo leste-timorense realizada por Xanana Gusmão cumpre um propósito
importante na condução argumentativa do discurso. As estratégias utilizadas por ele para
estruturar seu discurso conferem-lhe um capital simbólico a partir do qual o poder de que ele se
reveste encontra legitimidade social, facultando-lhe tomar para si a tarefa de encontrar um
denominador identitário comum suficientemente forte e persuasivo capaz de promover a união
entre dissidentes. Neste discurso, isso se materializou por meio da ativação de três frames e dos
processos de construção dos objetos de discurso, os quais, associados às estratégias de
patemização, firmam significativa oposição entre uns “nós” versus um “eles”, permitindo que, com
base na formação de estereótipos, fosse criada uma identidade de resistência: todos os leste-
timorenses poderiam se reconhecer incluídos no epíteto “povo maubere”.
Palavras-chave: identidade, frames; objetos de discurso; patemização; Timor-Leste
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INVASÃO DA PUC-SP EM 1977: A REPRESENTAÇÃO DA POLÍCIA E DOS
ESTUDANTES NA MÍDIA IMPRESSA
Aline Magna de Aguiar Vieira ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Durante o período em que vigorou o Regime Militar no Brasil (1964-1985), o Movimento Estudantil
(ME) teve papel atuante e de amplo destaque no quadro sócio-político nacional. A entidade, desde
a implantação do Regime, se posicionou de maneira combativa ao governo, realizando diversos
protestos e manifestações nas ruas brasileiras. Os diversos episódios que envolveram o ME e
suas ações foram objeto de destaque em notícias divulgadas pela denominada grande mídia
impressa do período, sobretudo por jornais oriundos do Estado de São Paulo, localidade em que
ocorreu episódios de grandes proporções e notoriedade envolvendo a classe estudantil. Este
trabalho, inserido no contexto de uma pesquisa de Mestrado, visa investigar e refletir sobre as
construções das representações dos atores sociais estudantes e polícia em notícias e reportagens
veiculadas pelos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, acerca de um desses
acontecimentos protagonizados pelo ME, durante do governo militar: a invasão na PUC, em
setembro de 1977. Com a finalidade de alcançar os objetivos propostos, utilizaremos como
arcabouço teórico os estudos sobre transitividade propostos pela Linguística Sistêmico-Funcional
(LSF), teoria desenvolvida por Halliday 1985, 2004, 2009; e trabalhada por teóricos como
Matthiessen, 2009; Gouveia 2009; Arús, Lavid & Zamorano-Mansilla, 2010; Cunha e Souza, 2009;
Gonçalves-Segundo, 2014a, 2014b; Fuzer & Cabral, 2014. Utilizaremos também os estudos
acerca do discurso midiático desenvolvidos pela Semiolinguística, método formulado por
Charaudeau, 1983, 2005, 2014, 2015; e abordada por autores como Corrêa-Rosado, 2014; Corte,
2009; Alves, 2014; Machado, 2005; Pauliukonis & Gouvêa, 2012; Rezende e Mello, 2008; Ramos,
2008. A junção destas duas abordagens teóricas irá, por um lado, tratar de maneira quantitativa
dos aspectos linguísticos; e, por outro lado, trabalhar qualitativamente com as questões sócio-
discursivas e ideológicas que compõem as construções representativas nos gêneros
selecionados.
Palavras-chave: Movimento Estudantil, Invasão na PUC, Regime Militar, Linguística Sistêmico-
Funcional, Semiolinguística.
21
O SILÊNCIO DO NARRADOR DIANTE DO OLHAR DO CÃO:
CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA DE GENEBRA PARA UMA ANÁLISE SCAPOLINE DA
POLIFONIA PLENA EM ‘A CAVERNA’, DE SARAMAGO
Alvaro Magalhães Pereira da Silva ([email protected])
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victorio de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Inserida na linha de pesquisa insere-se na linha de pesquisa ‘Linguística Textual e Teorias do
Discurso no Português’, a presente comunicação integra um projeto que pretende analisar os
mecanismos que, dentro do aparelho formal da enunciação, tornam possível o que os autores da
Teoria Escandinava de Polifonia Linguística (ScaPoLine) definem como polifonia plena ou polifonia
autêntica, ou seja, a polifonia conforme concebida por Mikhail Bakhtin. Com o apoio do conceito
de dimensões interacionais do discurso proposto pela escola de Genebra, debruçamo-nos sobre
um pequeno trecho do romance A Caverna, de José Saramago, para descrever estruturas de
gênero e estratégias linguístico-discursivas que permitem ao locutor de um enunciado manter
relativa neutralidade em relação a pontos de vista de outros seres discursivos que ele próprio
coloca em cena. Do ponto de vista genérico, a análise indicou que contribui para a polifonia plena
o fato de o romance narrado em terceira pessoa colocar narrador e personagem em dimensões
interacionais distintas. Na perspectiva discursiva, foi identificada a digressão que tematiza o ponto
de vista da personagem como uma estratégia que amplia a autonomia da visão de mundo da
personagem. No aspecto linguístico, notou-se que a locução adverbial “apesar de” e o advérbio
“não” são utilizados pelo locutor para ao mesmo tempo colocar em cena e negar pontos de vista
que contradizem o ponto de vista da personagem.
PALAVRAS-CHAVE: polifonia; ScaPoLine; escola de Genebra; Bakhtin; Saramago.
22
Estudo discursivo sobre as variantes e o censor da edição de 1586 da Compilação
de todas as obras de Gil Vicente
Ana Carolina de Souza Ferreira ([email protected])
Orientador: Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A obra do dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536) foi transmitida por meio de folhas
volantes e de duas edições (1562 e 1586) do livro intitulado Compilação de todas as obras de
Gil Vicente. Assim, ao as cotejarmos, verificamos na segunda as emendas efetuadas por Frei
Bartolomeu Ferreira, responsável pela sua censura, de maneira que, por meio da descrição desse
processo, tentamos visualizar sua imagem discursiva, além de compreender por quais motivos
tais alterações foram efetuadas. Logo, nesta comunicação objetivamos demonstrar, tendo por
objeto exemplificativo de análise a peça A Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, como
realizamos, em nossa pesquisa de doutorado, um estudo interdisciplinar entre as áreas da Crítica
Textual e da Análise do Discurso no qual se busca retratar quantitativa e qualitativamente as
variantes levantadas pela colação entre edições da Compilação e, por meio desses dados,
delinear o ethos de Frei Bartolomeu Ferreira. Para tal fim, nos valemos como aporte teórico dos
trabalhos de Blécua (2001), Bakhtin (1981), Fairclough (1997 e 2007) e Maingueneau (2008). Esta
pesquisa se justifica na medida em que entendemos a edição de 1586 da Compilação como uma
fonte histórica e por apresentar uma análise não apenas descritiva a respeito do processo de
censura inquisitorial literária, mas também inédita por seu caráter interdisciplinar. Em suma, os
resultados parciais obtidos, evidenciam que o procedimento editorial mais efetuado pelo censor foi
a supressão, em detrimento da adição, substituição ou alteração de ordem de palavras e versos,
revelando, a princípio, um ethos de um funcionário competente da Inquisição que procura
resguardar a imagem da Igreja Católica e de seus funcionários de críticas, ao mesmo tempo em
que zela pelos valores pregados por essa mesma Instituição.
Palavras-chave: Crítica Textual ; Análise do Discurso; variantes, Compilação de 1586; Gil
Vicente.
23
UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS AVALIAÇÕES SOCIAIS SOBRE LÍNGUA NOS
JORNAIS FOLHA DE S. PAULO E THE NEW YORK TIMES
Ana Clara Neves Silveira ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Iniciação Científica
O trabalho a ser apresentado corresponde à elaboração de artigo sobre os resultados alcançados
em pesquisa de Iniciação Científica finalizada no primeiro semestre de 2017, que teve como
principal finalidade desenvolver uma análise comparativa de discursos sobre língua em dois
países diferentes: Brasil e Estados Unidos. O objetivo do artigo foi trabalhar com os resultados da
pesquisa e aprofundar, no mesmo corpus – dez enunciados do segundo semestre de 2015: cinco
do jornal brasileiro Folha de S. Paulo e cinco do jornal estadunidense The New York Times –, a
análise comparativa das avaliações sociais a respeito da língua nos dois países. Para realizar
essa investigação, foram articulados os conceitos de esfera da atividade humana, gêneros do
discurso, enunciado, conteúdo temático e avaliação social da teoria do Círculo de Bakhtin, aos da
análise comparativa de discursos. Indissociados da sua realidade concreta, linguística e
extralinguística, social e histórica, as análises dos enunciados apontaram para divergências no
modo em que o fenômeno língua foi pensado pelos autores, apresentando ideias mais ligadas à
tradicionalidade no caso brasileiro, como por exemplo, o domínio da língua a partir do ensino de
Gramática; e à dinamicidade no caso estadunidense, presente nas ideias da língua como
fenômeno dinâmico e em constante mudança e movimento.
PALAVRAS-CHAVE: Análise comparativa de discursos, avaliação social, língua, Brasil, Estados
Unidos.
24
ANÁLISE PRELIMINAR DA PROSÓDIA DE PACIENTES ACOMETIDOS PELA
ESQUIZOFRENIA A PARTIR DO EXPROSODIA
Ana Cristina Aparecida Jorge ([email protected])
Orientador: Waldemar Ferreira Netto
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Essa pesquisa tem como objetivo realizar uma análise da entoação de voz de pacientes
com esquizofrenia para a partir dessas variantes linguísticas examinar dados que
caracterizem a prosódia como um possível indicativo diagnóstico. Para o DSM V (APA,
2013) a esquizofrenia é um transtorno mental grave sem sintomas patognomônicos,
caracterizada por um misto de sinais e sintomas disformes. Castagna et al. (2012) afirma
que a prosódia afetiva é definida como o processamento e o reconhecimento de
elementos emocionais e afetivos provindos das informações da entoação vocal.
Pesquisas realizadas anteriormente apontam déficits singulares na verbalização das
emoções contidas na fala desses pacientes, o seu discurso é considerado vago (DSM V,
APA, 2013). Para a realização desta pesquisa, inicialmente, 16 clientes e frequentadores
do “Museu de Imagens do Inconsciente”, uma das alas do hospital psiquiátrico “Instituto
Nise da Silveira” (SEIs) e mais 16 pessoas sem transtorno mental que compuseram um
grupo de controle (SCs), tiveram sua voz gravada em quatro etapas: entrevista de
anamnese que segue um roteiro semiestruturado; relato empírico de experiências felizes
e tristes; descrição de seus trabalhos artísticos; por fim, a leitura de um trecho de uma
história infantil sem conotação afetiva. A análise dos dados coletados foi possibilitada pela
rotina ExProsodia, aplicativo elaborado para a examinar automaticamente os elementos
constituintes da prosódia.
Palavras Chaves: Entoação. Esquizofrenia. ExProsodia. Prosódia afetiva.
25
Novos percursos da ciência: análise de enunciados orais de divulgação científica
no Brasil e nos Estados Unidos
Beatriz Amorim de Azevedo e Silva ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Iniciação Científica
A presente pesquisa constitui um produto de um projeto de Iniciação Científica em andamento, e
se presta à investigação da forma com que enunciados orais de divulgação científica em meio
digital, especificamente no YouTube, incorporam sua situação discursiva de acordo com a
comunidade etnolinguística em que estão inseridos para realizar sua função principal: criar em seu
interlocutor uma cultura científica a partir do seu fundo aperceptível de compreensão responsiva e
do seu espectro cultural presumido. Para tanto, analisa-se a transmissão do discurso alheio em
um canal brasileiro, o Nerdologia, e um americano, o Scishow, baseando-se por um lado, nos
preceitos teóricos do Círculo de Bakhtin, bem como as diferentes teorizações sobre a divulgação
científica desenvolvidas em seu trabalho e em trabalhos inseridos em sua linha teórica, e, por
outro, nas propostas teórico-metodológicas da análise contrastiva de discursos, concentradas
principalmente em textos dos pesquisadores do Syled-Cediscor, axe sens et discours. A partir
disso, encontramos no corpus relações entre as ocorrências quantitativas e qualitativas do
discurso reportado, que, ao mesmo tempo, ressaltam semelhanças entre os dois canais, traçando
um espectro geral dessa modalidade discursiva na atualidade e sua evolução até o estágio atual,
e apontam suas diferenças, que se relacionam com os interlocutores variados dos canais, e suas
diferentes referências culturais de acordo com a comunidade etnolinguística em que se encontram
(principalmente na sua relação com o acesso à internet), com as quais os canais tentam dialogar
na tentativa de atrair seu público e com ele familiarizar-se, impactando a construção do
enunciado, como evidenciado pela análise.
PALAVRAS-CHAVE: Análise contrastiva de discursos; Teoria bakhtiniana; Divulgação científica;
Enunciado no meio digital; Transmissão do discurso alheio.
26
O ethos do Supremo Tribunal Federal
Breno Wilson Leite Medeiros ([email protected])
Orientadora: Maria Lucia C. V. O. Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Nesta apresentação vinculada à Análise Crítica do Discurso de linha sociocognitiva procurar-se-á
provar que as notícias publicadas pelo Supremo Tribunal Federal a respeito dos processos são
enviesadas à luz da opinião do ministro-relator do processo. A justificativa é o fato de que, desde a
redemocratização, o STF vem sendo convocado a cena do debate político, expondo a mais alta
corte brasileira a fricções com os demais poderes, de tal modo que a democracia brasileira vem
sendo testada de forma inédita levando-se em consideração a história do Supremo alongo de todo
o período republicano. No caso desta apresentação, discutir-se-á a cobertura do processo ADPF
54 que tinha como tópico o estabelecimento de uma única decisão válida para todos os membros
da administração direta e indireta referente ao caso do aborto de fetos anencefálicos. A motivação
da ADPF 54 foram um conjunto de decisões tomadas em sentidos contrário por juízes de
instâncias inferiores ao do Supremo, expondo o Judiciário brasileiro como um todo em uma
situação esdrúxula. O referencial teórico é a teoria do contexto produzidos por Van Dijk (2008,
2009 e 2014), em especial o dispositivo K, o qual é responsável pelo gerenciamento do
conhecimento no discurso ou texto. Como metodologia utilizar-se-á a descrição da superestrutura
do gênero notícia também produzido por Van Dijk (1988a, 1988b) a fim de demonstrar através da
observação do gerenciamento da informação como o Supremo manipula o conhecimento dos
leitores de suas notícias. O resultado final foi a confirmação da hipótese de que as notícias
publicadas pelo STF são de fato enviesadas segundo a visão do ministro relator do processo e,
além disso, que o Supremo não permite que outras vozes além dos membros da corte sejam
projetadas em episódios importantes das suas notícias, fazendo com que chegue-se a outra
conclusão: a de que o Supremo comporta-se como uma “bolha”.
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso; teoria do contexto; sociocognição; notícias; supremo
tribunal federal.
27
Ensino de argumentação e obra literária: Auto da Compadecida, de Ariano Suasssuna
Camila Alderete Capitani ([email protected])
Orientadora: Lineide do Lago Salvador Mosca
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Segundo Paulo Freire (2007) a educação é uma forma de intervenção no mundo, por meio dela
constrói-se o conhecimento crítico do discente, assim o educador deve reforçar a capacidade
crítica dos educandos, prepará-los para interrogar, torná-los autônomos. Uma das maneiras de
proporcionar isto é aliar as teorias da retórica e argumentação de base aristotélica e perelmaniana
ao processo de formação escolar do aluno, visto que a preparação do educando para o exercício
da cidadania está subjacente aos documentos que prescrevem legalmente o ensino nacional.
Segundo Crosswhite (2013), ensinar retórica e argumentação na escola, não é, entretanto,
transmitir um modelo, mas formar para a cidadania. Pode-se desenvolver essa competência
argumentativa no educando por meio de textos literários, pois segundo Todorov (2012) ao
construir um acontecimento, o escritor incita o leitor a formular suas próprias teses e a tornar-se
mais ativo. Assim, interpretar uma obra é revesti-la de novos sentidos a partir de valores, opiniões
e crenças. Partimos da hipótese de que seja possível trabalhar com algumas habilidades
previstas no Currículo do Estado de São Paulo no ensino fundamental II pela perspectiva da
argumentação presente no texto literário. O objetivo geral desta pesquisa constitui-se em analisar
como procedimentos retórico-argumentativos, observados em trechos da obra Auto da
Compadecida, de Ariano Suassuna, podem ser aplicados ao ensino de argumentação na
disciplina de língua portuguesa a alunos do ciclo fundamental II. A escolha desta obra e autor
justifica-se porque é um texto com grande alcance em termos de comunicação com o público.
Ademais, retrata o “Brasil real”, segundo Suassuna, pois a partir da perspectiva do povo
nordestino revela os problemas do homem, tratando-se também de um texto extremamente
argumentativo. Então, mostrar ao aluno uma perspectiva de análise retórico-argumentativa a partir
de uma obra de tamanha importância literária e social, é também desenvolver uma aprendizagem
reflexiva.
Palavras-chave: retórica, argumentação, ensino, Ariano Suassuna, Auto da Compadecida.
28
O DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA CRIATIVA QUADRINISTA NAS AULAS DE
INGLÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA
Carlos Eduardo de Araujo Placido ([email protected])
Orientadora: Marília Mendes Ferreira
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em inglês
Doutorado
A elaboração de histórias em quadrinhos em inglês como segunda língua pode ser uma
ferramenta muito útil para ajudar os alunos a desenvolver (VYGOTSKY, 2004; 2007) suas
habilidades linguísticas, cognitivas, textuais e artísticas. No entanto, as pesquisas acerca da
escrita criativa quadrinista em inglês não vem sendo amplamente pesquisada no Brasil. Na
verdade, há muito poucas publicações sobre este tema na academia brasileira e, muitas delas,
são traduções diretas da língua inglesa (McCLOUD, 1993; WRIGHT, 2001; LIU, 2004; BAKER,
2011; YILDIRIM, 2013). Por estas razões, os principais objetivos desta pesquisa foram o de
investigar se as aulas de escrita criativa quadrinista podem ajudar os alunos a desenvolver
(VYGOTSKY, 2004; 2007) suas respectivas escritas. Os dados foram coletados em um curso
extracurricular na Universidade de São Paulo (USP) intitulado Escrita Criativa Fanficcional em
inglês. Este curso contou com a participação de 5 alunos da graduação de Letras do
Departamento de Letras Modernas (DLM) da USP. A coleta de dados para a verificação do
desenvolvimento de cada um dos participantes se concretizou por meio de 3 ferramentas de
pesquisa: 1) o questionário inicial, veiculado no primeiro dia de aula, 2) duas sessões de
feedback, ocorridas no meio e no final do curso e 3) as tarefas juntamente com as produções
iniciais e finais dos participantes foram verificados em três momentos distintos. No primeiro
momento, o pesquisador percebeu que seus conceitos sobre quadrinhos foram ampliados. No
segundo momento, os alunos elaboraram textos de escrita criativa mais complexos. No último
momento, eles conseguiram usar a língua inglesa mais proficientemente.
PALAVRAS-CHAVE: Comic books; Escrita Criativa; Teoria sociocultural.
29
MARIANA: UMA LEITURA SÓCIO-DISCURSIVA DA TRAGÉDIA
Célia Regina Araes ([email protected])
Orientador: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Em estágio inicial de pesquisa de doutorado, o presente trabalho faz uma leitura de três
notícias/reportagens de jornais sobre o rompimento da barragem do distrito de Mariana, MG,
datadas de 2015 (ano do acidente), 2016 e 2017 para acompanhar diacronicamente o efetivo
empenho de recuperação do local após o derramamento de lama contaminada de minério de ferro
que destruiu ecossistemas inteiros e causou danos físicos e emocionais na população local, além
de contabilizar 19 mortes. Em um cenário de desenvolvimento (não necessariamente um aspecto
positivo), de grandeza e de preconceito, o objetivo específico deste estudo é analisar
discursivamente o efeito de sentido dos depoimentos de autoridades, como os das empresas
responsáveis pela mineração, do governo e da imprensa, investigando o lugar e vozes dos
atores/agentes e seus papeis sociais. Como referenciais teóricos, serão utilizados VAN DIJK
(2008) que analisa as elites que exercem poder sobre a sociedade e a controla através do
discurso, inclusive sua forma de pensar; a Linguística Sistêmico-Funcional de HALLIDAY (2004)
contribuirá para a análise de avaliatividade dos discursos e FAIRCLOUGH (1989 e 1992) para
compreender as relações de ação e interação social dos agentes em eventos sociais. Também, as
contribuições da recente ecolinguística, principalmente as pesquisas de RAMOS (2009) e COUTO
(2009) na compreensão dos discursos de denúncia em prol da vida contra qualquer tipo de
sofrimento e de dor. Após análise do corpus, podemos, no mínimo, concluir o uso de eufemismo
dos meios de comunicação para descrever o problema mostrando sua posição ideológica de
conformismo, pois pouco foi feito para recuperação do ecossistema e estabelecimento da vida
humana no local do acidente, além do discurso que estabelece uma relação de dominação para
justificar o não pagamento aos danos causados na região.
Palavras-chave: Discurso. Mídia. Ecolinguística. Denúncia.
30
O alcoólatra por ele mesmo: o papel da metáfora na construção da identidade
Claudia Castanheira Cardoso
O tema alcoolismo em instituições de ajuda mútua foi escolhido para esta pesquisa de Iniciação
Científica por conta da necessidade de um maior amparo social que se constatou acerca do
assunto, de modo que nos objetivamos a estudar uma possível estrutura cognitiva constituída
pelos alcoólatras da Associação Anti- Alcoólica Central de Rio Preto - A.A.CERP. Assim,
buscamos, neste trabalho, reconhecer padrões linguísticos nos testemunhos destes adictos,
abrangendo desde a autorrepresentação dos membros da instituição, a descrição do álcool antes
e após o tratamento, bem como a viabilidade de uma imagem compreendida a partir da
perspectiva social para o comportamento desse grupo. Para tal estudo, os dados foram
analisados por meio da Teoria da Metáfora Conceptual (MC), de Lakoff e Johnson (2002 [1980]), e
da Teoria da Integração Conceptual, de Fauconnier & Turner (2002), com o objeto de depreender,
assim, quais as principais metáforas que embasam o processamento cognitivo do discurso do
alcoólatra em recuperação da A.A.CERP. Concluímos, partindo das construções metafóricas da
perspectiva do sujeito-alcoólatra, de que modo as metáforas atuam na reconceptualização do self
e sua importância fundamental no tratamento do alcoólatra, uma vez que com a ajuda destas
representações estendidas semanticamente, o alcoólatra consegue traçar cognitivamente dois
espaços mentais, os quais fazem necessariamente parte da construção de sua autoimagem. E,
ainda, pudemos observar que estas metáforas utilizadas podem integrar, também, um discurso
moral do que é o vício, constituindo-se em uma parcela de um discurso ideológico já instaurado
socialmente.
31
O ENUNCIADO CONCRETO NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA ÀS MARGENS DO RIO
GUAMÁ
Cristiane Dominiqui Vieira Burlamaqui ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A relação entre a vida e a linguagem na materialidade textual precisa ser entendida como
atividade inscrita sócio-historicamente. Nas escolas públicas de Belém do Pará, em 2017, os
estudantes do 6º ano do ensino fundamental travaram uma batalha na produção escrita e a porta
de entrada foi a leitura desenvolvida em diferentes textos verbo-visuais. Uma atividade de leitura-
escrita proposta na aula de português teve como tema “o trajeto entre a escola e a minha casa”.
Nos textos produzidos pelos alunos ribeirinhos, observou-se a maneira como a vida desloca-se
para o interior da criação textual e produz sentidos que dialogam com diferentes instâncias
discursivas: a vida cotidiana de cada um, seus olhares para o entorno da escola, o percurso de
vinda para a escola e as formas de agenciamento da escola. A investigação desenvolveu-se em
três eixos: visual, verbal e verbo-visual, dado o caráter multimodal dos textos selecionados: oito
desenhos. No que diz respeito ao eixo visual, o interlocutor é transportado para espaços e tempos
distintos, onde as imagens, que têm como ponto de referência a escola (o professor), tematizam
as travessias dos barcos que revolvem as águas dos rios e deslocam a população ribeirinha de
uma margem à outra do rio Guamá. No eixo verbal, composto de nomes e locuções de
identificação, os desvios ortográficos expõem os processos cognitivos dos estudantes ribeirinhos
para assimilação do sistema da escrita, reproduzindo na escrita os sons da fala. A violação do
sistema lexical evidencia a maneira como a escrita vem sendo assimilada por esses alunos, um
indício de agenciamento da escola, em que o princípio da reprodução se torna essência para
estabilização da escrita (GERALDI, 2015). Em contrapartida, a tentativa dos estudantes de forjar
um sistema de estabilização para a sua escrita deixa rastros de sua variante oral. No eixo verbo-
visual, há deslocamentos que ocorrem no nível morfossintático: as locuções adjetivas (ilha do
Combu, furo do paciência, posto de gasolina, Ilha do Bijogó, etc.) e os complementos nominais
(praça Princesa Isabel, rio Guamá, rio Guarapiranga, etc.) adotam, no contexto dos desenhos, o
papel de advérbio de lugar conferindo precisão ao texto/discurso. Nesse processo de
reconstituição de seu percurso diário casa/escola/casa, os estudantes ribeirinhos realizam uma
dupla orientação do tema (para o interior e para a realidade) e produzem sentidos que evidenciam
um lugar único assumido por sujeitos sócio-históricos na cadeia discursiva.
Palavras-chave: Texto verbo-visual; estudantes ribeirinhos; aula de português; Teoria Dialógica
do Discurso.
32
Argumentação e Multimodalidade: a propaganda Repense 2018
Daiana da Silva Teixeira ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Iniciação Científica
A circulação de propagandas é intensamente impulsionada pelo Youtube, mídia que possibilita
ampla divulgação de conceitos, serviços e produtos. Assim, este trabalho torna-se relevante por
contribuir com a reflexão acerca da produção e interpretação de textos argumentativos, muitos
deles constituídos por textos verbais e não verbais, os quais podem ser encontrados na Internet
ou não.Este trabalho faz parte de uma pesquisa de iniciação científica, a qual tem por objetivo
investigar como a interação entre as modalidades verbal e visual gera movimentos argumentativos
e gerencia a construção do ethos das marcas em propagandas lançadas no Youtube. Para esta
apresentação, recortou-se um vídeo da campanha “Repense 2018”, promovida pela empresa de
telecomunicações VIVO, objetivando compreender as relações entre o multimodal, o
argumentativo e o discurso multicultural que perpassa o texto.Para isso, a pesquisa assume como
referências centrais Breton (1999) e Toulmin (2006 [1958]), no que se refere à argumentação. Em
relação à análise de imagens, baseia-se na Gramática do Design Visual, conforme Kress e Van
Leewen (2006). Para amparar o estudo do discurso multiculturalista, recorreu-se às propostas de
Semprini (1999), e para desenvolver as relações entre marketing, mídia e Semiótica Social, apoia-
se em Prados (2009).Portanto, a respeito dos resultados obtidos até o momento, verificou-se que
as imagens são predominantemente narrativas (função de representação), de oferta e de
modalidade naturalista (função de interação), e os sujeitos e suas práticas ou características são
expostos em primeiro plano (função de composição). As imagens atuam como dados, sendo que a
dinâmica do texto multimodal analisado converge para uma alegação final, segundo o esquema
argumentativo proposto por Toulmin (2006 [1958]). Percebeu-se também que a construção do
ethos da marca VIVO utiliza estratégias para convencer um público a aderir ao multiculturalismo e
ao mesmo tempo busca agradar aqueles que compartilham esse ponto de vista.
Palavras-chave: Multimodalidade. Argumentação. Propaganda. Multiculturalismo.
33
A relevância dos elementos constitutivos da língua falada e os desafios do ensino
Daniel de Almeida Torres de Brito
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Iniciação Científica
Este trabalho tem por objetivo demonstrar a viabilidade do ensino da língua falada para alunos do
ensino médio, através do jogo teatral; apresentar uma proposta de um laboratório discursivo que
mimetize as interações face a face do cotidiano. Metodologicamente procedemos com a aplicação
e descrição de duas experiências realizadas com alunos do ensino médio da escola pública do
Estado de São Paulo – Escola Andronico de Mello – no bairro de classe média chamado Vila
Sônia. A primeira experiência intitulada “Aspectos da língua oral” foi realizada no primeiro
semestre de 2015 em cinco turmas do segundo ano e uma turma do terceiro ano. A Segunda
experiência, intitulada “Coesão e Coerência” foi realizada no segundo semestre de 2015, com
alunos que faziam parte de um grupo autônomo de teatro, no contraturno, pertencentes aos três
anos do ensino médio. Foram usados os conceitos linguísticos da obra de Marcuschi (1999), entre
outros, e o conceito de jogos teatrais segundo a obra de Spolim, (1994), e Boal (1991). Como
resultados os alunos observaram a presença das características determinantes para a
organização e a compreensão do texto conversacional – gestos; olhares; expressões faciais e
prosódia. Assim como puderam compreender os meios pelos quais se estabelecem a coesão e a
coerência no texto oral; o conceito de turno conversacional e as diferentes formas de alternância,
os marcadores conversacionais e os elementos constitutivos da língua oral em uma interação face
a face. Concluímos que o jogo teatral, como mimetizador da vida cotidiana, portanto, como
mimetizador das situações conversacionais, provou ser adequado para produzir textos orais na
escola, assim como se mostrou eficiente para o ensino das características que norteiam a língua
oral. Sendo assim, a aplicação de técnicas de jogo teatral, em um ambiente de laboratório
discursivo, com o objetivo dos alunos praticarem jogos de linguagem, em que, além do
reconhecimento das características da língua falada, e a influência do contexto na produção
discursiva, produzam textos orais argumentativos em uma interação conversacional, face a face.
Percebeu-se também a necessidade de ampliar os campos de pesquisa para o ensino de língua
falada. Van Dijk (2014) postula que o discurso é uma matéria transversal que envolve, além dos
aspectos linguísticos, aspectos antropológicos e cognitivos. Portanto, para o devido ensino de
língua falada o profissional de ensino deve estudar outros campos de pesquisa.
Palavras-chave: - discurso - identidade - cognição – ensino.
34
O ensino de escrita em inglês e a escola de idiomas: local ideal ou idealizado?
Daniela Cleusa de Jesus Carvalho ([email protected])
Orientador: Marília Mendes Ferreira
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Língua Inglesa
Doutorado
A escrita em língua inglesa atinge um novo status devido às novas demandas acadêmicas e
educacionais (WARSCHAUER, 2000; WINGATE & TRIBBLE, 2011). Os institutos de idiomas são
considerados o local ideal para a aprendizagem de uma segunda língua, de acordo com uma
pesquisa conduzida pelo British Council no Brasil (2014). Tais espaços afirmam primar pela
qualidade do ensino (SOUZA, 2006; CAMARA, 1977; MARCUSCHI, 2008). A pesquisa que vem
sendo realizada junto ao Laboratório de Letramento Acadêmico da FFLCH visa investigar o ensino
da escrita em Inglês no nível avançado de uma escola de idiomas. Esta comunicação traz os
resultados parciais da pesquisa, ao revelar como uma escola de idiomas constitui o seu discurso
como um local de práticas embasadas em teorias sociointeracionais (BAKHTIN, 2006;
MARCUSCHI, 2008) em sua propaganda midiática e acaba por promover um ensino estruturalista
em suas práticas (SAUSSURE, 1969).Para tal, analisou-se o site da instituição, um documento
interno de caracterização da unidade escolar, a entrevista concedida por um dos gestores e o livro
didático utilizado no nível avançado do ensino de inglês. A análise consistiu em mapear palavras
que revelassem as teorias que embasavam o trabalho da unidade nesses documentos. Os
resultados revelaram que por mais que a escola faça uso de termos que indiquem uma prática
embasada nos pressupostos sociointeracionais nos diferentes documentos utilizados, esses
mesmos instrumentos contraditoriamente revelam outras expressões que descaracterizam esse
trabalho. Esses resultados salientam a necessidade de se questionar as práticas desses espaços
que são consagrados pela opinião pública como local ideal de ensino e aprendizagem, bem como
a necessidade de repensarmos o ensino de língua inglesa, em especial a escrita, uma vez que
está atinge um novo status. O ensino de escrita em língua inglesa passa a ser uma mercadoria
devido a crescente exigência do domínio linguístico para fins acadêmicos e profissionais.
Palavras-Chave: Escrita, Análise de Material Didático, Teorias de Ensino e Aprendizagem.
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(IN)TOLERÂNCIA DE GÊNERO NA LEGISLAÇÃO DE DIFERENTES PAISES
Daniela Susana Segre Guertzenstein ([email protected])
Supervisora: Eva Alterman Blay
Programa de Pós-Graduação em Sociologia
Pós-Doutorado
O texto constitucional é a mais completa manifestação literária, que tem como objetivo estabelecer
a soberania de sua própria doutrina sobre seus cidadãos e em seu território nacional. A
constituição (no sistema legislativo de origem romana) e as leis básicas (no sistema legislativo de
origem anglo-saxônica) são os princípios literários que fundamentam o poder de suas instituições
oficiais e legitimam (des)igualdades de deveres e direitos cidadãos com o objetivo de garantir a
ordem pública, o bem estar coletivo e a segurança nacional.
Esta apresentação tem como tema comparar o texto constitucional de países diferentes, suas
identidades religiosas oficiais e como esses classificam a pluralidade de gênero e as identidades
sexuais entre outras. As descrições, a seguir numeradas, dos textos legislativos são analisadas
através dos indicadores discursivos de tolerância e aceitação a diversidade étnica, social e
religiosa de Flora Burchianti e Ricard Zapata-Barreiro (2013): 1) a descrição da coletividade
nacional; 2) a descrição de instituições religiosas e de outras religiosidades, e; 3) as
características que identificam sexualidades, diversidades individuais e subjetivas de gênero.
O recorte selecionado são os princípios fundamentais da Constituição da República Federativa do
Brasil, da Constituição Nacional da República Argentina, da Constituição da República Italiana, da
Constituição Federal dos Estados Unidos da América, da Constituição da Federação Russa, das
Leis Básicas de Israel e das Leis Básicas da Palestina.
Esta apresentação tem como objetivo estimular a criação de critérios para pontuar níveis de
(in)tolerância a diversidade humana nas mais diversas literaturas e as reflexões finais avaliam os
impactos sociais de discriminações de gênero e (in)tolerância a diversidade e a pluralidade de
contextos em suas constituições.
Palavras-chave: Legislação; Religião; Etnia; Gênero Sexual; Cidadania.
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Discurso, Engajamento e Design Visual: Modos de Incorporação do Discurso Feminista em
Propagandas de Cosméticos
Danielle Martins Santos ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Iniciação Científica
O objetivo desta pesquisa foi, por meio de uma análise qualitativa do corpus, depreender em que
medida o discurso feminista é incorporado ao discurso publicitário de marcas de cosméticos
atuantes no Brasil e quais os desdobramentos discursivos que essa incorporação gera em termos
de persuasão relativa ao consumo do/a produto/marca, da constituição da imagem/ethos da
marca e de construção de uma identidade feminina.
O corpus da pesquisa foi constituído por vinte e uma peças publicitárias, em formato de vídeos,
publicados no youtube no período entre setembro de 2015 e dezembro de 2016, de cinco
diferentes empresas de cosméticos. Ao todo, foram seis propagandas da marca Natura, cinco da
Avon, quatro de O Boticário, três de Dove e também três de quem disse, berenice?.
Para a análise dessas propagandas, foram considerados pressupostos teóricos: da Análise Crítica
do Discurso, como descrita por Fairclough (2003); da Linguística Sistêmico-Funcional,
principalmente a Teoria da Avaliatividade, e dentro desta a vertente do Engajamento, como
explanadas por Martin & White (2005); e da Teoria do Design Visual, a partir das considerações de
Kress & Van Leeuwen (2006). Bem como foram levados em consideração princípios da teoria
publicitária (Sant’Anna, Rocha & Garcia, 2015) e da teoria feminista, com foco na terceira onda do
feminismo e no mito da beleza discutido por Naomi Wolf (1992).
Os resultados mostraram que, prototipicamente, as marcas buscam se posicionar contra o mito da
beleza, variando em uma escala de comprometimento, bem como tentam estabelecer a si
mesmas e a seus produtos como fonte de empoderamento feminino, e representam as mulheres
como cientes do mito e escolhendo livremente usar os cosméticos dessas empresas.
Nesta apresentação, o foco será voltado para os resultados encontrados nas cinco propagandas
analisadas da marca Avon, e no dialogismo entre essas propagandas e o feminismo interseccional
(Crenshaw, 1989).
O objetivo desta pesquisa foi, por meio de uma análise qualitativa do corpus, depreender em que
medida o discurso feminista é incorporado ao discurso publicitário de marcas de cosméticos
atuantes no Brasil e quais os desdobramentos discursivos que essa incorporação gera em termos
de persuasão relativa ao consumo do/a produto/marca, da constituição da imagem/ethos da
marca e de construção de uma identidade feminina.
O corpus da pesquisa foi constituído por vinte e uma peças publicitárias, em formato de vídeos,
publicados no youtube no período entre setembro de 2015 e dezembro de 2016, de cinco
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diferentes empresas de cosméticos. Ao todo, foram seis propagandas da marca Natura, cinco da
Avon, quatro de O Boticário, três de Dove e também três de quem disse, berenice?.
Para a análise dessas propagandas, foram considerados pressupostos teóricos: da Análise Crítica
do Discurso, como descrita por Fairclough (2003); da Linguística Sistêmico-Funcional,
principalmente a Teoria da Avaliatividade, e dentro desta a vertente do Engajamento, como
explanadas por Martin & White (2005); e da Teoria do Design Visual, a partir das considerações de
Kress & Van Leeuwen (2006). Bem como foram levados em consideração princípios da teoria
publicitária (Sant’Anna, Rocha & Garcia, 2015) e da teoria feminista, com foco na terceira onda do
feminismo e no mito da beleza discutido por Naomi Wolf (1992).
Os resultados mostraram que, prototipicamente, as marcas buscam se posicionar contra o mito da
beleza, variando em uma escala de comprometimento, bem como tentam estabelecer a si
mesmas e a seus produtos como fonte de empoderamento feminino, e representam as mulheres
como cientes do mito e escolhendo livremente usar os cosméticos dessas empresas.
Nesta apresentação, o foco será voltado para os resultados encontrados nas cinco propagandas
analisadas da marca Avon, e no dialogismo entre essas propagandas e o feminismo interseccional
(Crenshaw, 1989).
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso; Publicidade; Feminismo; Teoria do Design Visual;
Engajamento.
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O Percurso Gerativo do Sentido em Osman Lins
Denilson de Oliveira Moura ([email protected])
Orientador: Ivã Carlos Lopes
Iniciação Científica
Analisaremos semioticamente o conto “Retábulo de Santa Joana Carolina”, publicado por Osman
Lins (1924-1978), em 1966, dentro do volume de narrativas “Nove, Novena”. O “Retábulo de
Santa Joana Carolina”, narrativa biográfica de uma avó, professora primária da zona rural de
Pernambuco, como a Paixão de Jesus Cristo, é composto por doze cenas ou doze mistérios
permeados de incompletude e de fragmentação narrativa. Dá-se uma dimensão mítica pela
divisão em mistérios, pelos diversos ciclos da natureza, pelos signos do zodíaco, etc. Configura-se
esta narrativa um retrato do Brasil interiorano, nordestino, pobre e rural. Nosso interesse é a
habilitação com a metodologia e terminologia semiótica chamada “standart”, da escola de Paris, a
partir das bases desenvolvidas por Greimas, anteriormente às pesquisas e desenvolvimentos da
dita “semiótica tensiva”. Nossa fundamentação teórica erige-se de Algirdas Greimas, Diana Luz
Pessoa de Barros e José Luiz Fiorin. Em nossa análise estruturalista, no plano do conteúdo,
partiremos do nível que primeiro se apresenta ao leitor: o nível discursivo. A partir do elenco de
isotopias figurativas e temáticas, engendraremos o nosso nível narrativo para este conto. Uma vez
esquematizado o nível narrativo com suas modalizações e valores e actantes, saltaremos para
uma concepção acerca das categorias semânticas basilares do nível profundo, ou, fundamental.
De certo que o texto oferece ao leitor não somente a escrita alfabética da língua natural, antes
emprega símbolos alquímicos e astrológicos, será imprescindível abordarmos o que seja
concernente ao plano da expressão e sua relação semissimbólica com o plano do conteúdo.
Palavras-chave: níveis de representação, percurso gerativo do sentido, Osman Lins.
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OPOSIÇÃO E CONCESSÃO NOS MATERIAIS DIDÁTICOS: DISCURSO DO OUTRO?
Denise Aparecida Telheiro Emerici ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O direito à educação e o acesso a cidadania está assegurado pela Constituição Brasileira. Neste
sentido, a distribuição de coleções didáticas para os alunos das escolas públicas do país é um
importante instrumento na democratização do ensino e na formação de cidadãos. No entanto,
mesmo depois de 20 anos do advento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento
que enfatiza a articulação entre leitura, escrita, oralidade e conhecimentos linguísticos no ensino
de língua materna, os alunos das escolas públicas ainda estão longe da proficiência na escrita,
conforme indicadores da avaliação da educação básica (IBGE, PISA, SAEB). Por isso, no
mestrado em desenvolvimento, no Programa de Filologia e Língua Portuguesa, na linha de
pesquisa de Linguística Aplicada do Português, pesquisamos, sob a perspectiva de Bakhtin e do
Círculo, a relação entre a produção escrita e os conhecimentos linguísticos em coleções
aprovadas no último Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Fundamental Anos Finais
de Língua Portuguesa (PNLD-2017). Nesta comunicação em particular, trazemos resultados ainda
parciais sobre a análise de uma sequência didática de Português – Linguagens (2015), de William
Roberto e Thereza Cochar Magalhães. Essa escolha se justifica por ter sido a coleção com mais
de 50% de exemplares distribuídos, para verificar como se dá a relação entre o ensino da
oposição (mas) e da concessão (embora) com a produção de artigo de divulgação científica,
levando-se em consideração que o uso dessas formas linguísticas está relacionado ao
posicionamento do indivíduo enquanto ser histórico social em diálogo com o discurso do outro
(VOLÓCHINOV, 2017).
Palavras-chave: LIVRO DIDÁTICO, ESCRITA, REFLEXÃO LINGUÍSTICA, DISCURSO DO
OUTRO.
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Imediatez e distância comunicativas: análise de textos de concepção oral e escrita
Denise Durante ([email protected])
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
O trabalho visa apresentar alguns dos resultados de nossa pesquisa pós-doutoral, cujo foco foi a
realização de uma revisão teórica sobre o modelo teórico da imediatez e distância comunicativas,
de Koch e Öesterreicher (1985; 1990). Buscou-se, nessa pesquisa, aplicar o referido modelo à
análise de textos empíricos. Sendo assim, realizou-se a comparação entre um texto falado (uma
aula expositiva) e um texto escrito (um artigo acadêmico-científico) produzidos pelo mesmo
enunciador, com vistas a identificar, descrever e analisar possíveis limitações da utilização dos
conceitos de imediatez e distância comunicativas para a caracterização de mensagens faladas e
escritas. Para a análise dos textos empíricos que compõem o corpus, foram retomados os
trabalhos de Marcuschi (2004) e Urbano (2006; 2011; 2013), autores que se voltaram para o tema
do contínuo concepcional entre a oralidade e a escrita, ambos tendo como base o modelo de
Koch e Öesterreicher. No que concerne à metodologia, adotou-se o método indutivo, tendo-se em
vista que os aspectos identificados na amostra selecionada podem ser expandidos para a
caracterização de outros textos falados e escritos. Foram empregadas igualmente as pesquisas
bibliográfica e documental. Como um dos resultados, identificaram-se dificuldades para a
aplicação dos dez parâmetros comunicativos, elencados por Koch e Öesterreicher, nos textos do
corpus. Destaca-se, na análise, a relevante influência do meio (fônico ou gráfico) sobre a
concepção das mensagens oral e escrita produzidas pelo enunciador. Sendo assim, concluiu-se
que uma das limitações do modelo teórico da imediatez e distância comunicativas pode ser a
desconsideração das interferências do meio sobre a concepção das mensagens. Essas
influências se manifestaram no corpus nos âmbitos do planejamento textual, da progressão
temática, da seleção lexical e no nível sintático dos enunciados.
Palavras-chave: imediatez; distância; contínuo concepcional.
41
#Cracolândia de 2017 e Espaço Público nas interações do Twitter
Douglas Lopes de Melo ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
No quadro singular da Web 2.0 da contemporaneidade, o qual pessoas diversas expressam seus
pontos de vista, sobretudo políticos, o presente trabalho tem como proposta um estudo de caso de
ações da Prefeitura de São Paulo, no outono e inverno de 2017, manifestas por tweets e
interações, a estes associadas, do então prefeito João Doria Jr (@jdoriajr), tematizando sobre
ações no centro velho da capital paulista, conhecida como Cracolândia. Com base teórica na
Análise Crítica do Discurso (ACD) (FAIRCLOUGH, 2003), o aporte teórico aqui eleito aponta em
duas direções interdisciplinares. A primeira, de caráter social, versa questões como: a inserção em
rede dos diversos grupos sociais e a construção de uma inteligência coletiva (LÉVY, 1999;
RECUERO, 2009); e as questões da tensão social gerada e estudadas sob o conceito de grupos
endógenos e exógenos (VAN DIJK, 2000). Tais questões são eleitas em razão da identificação
dos diversos participantes, favoráveis ora às políticas do prefeito, ora aos vulneráveis sociais, alvo
dos atos em forma de lei tematizados. A segunda, de caráter linguístico e concernente à
Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2014 [1985]), diz respeito à
representação dos atores sociais envolvidos (VAN LEEUWEN, 2008); e ao conceito de Atitude,
inscrita na Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005). A justificativa para essas escolhas pauta-se
na hipótese que sua correlação diga, através da linguagem, as afinidades e disparidades nas
avaliações e nas formas de representação em face dos discursos assumidos pelos distintos
grupos de participantes. A metodologia empregada na mineração de dados, ao longo do projeto
ao qual este trabalho se insere, compreende a coleta das cadeias de interações vinculadas aos
tweets do prefeito que constituem nossa temática. A análise destes, conforme as categorias
eleitas no aporte teórico linguístico, através da ferramenta computadorizada UAM, em ensaios
prévios, aponta para dois caminhos: a aceitação positiva em termos de polaridade da Atitude ao
grupo de pessoas socialmente vulneráveis, na forma de empatia por estas, contrastante com a
negativa às autoridades, personificadas no pref. João Doria; ou por uma polarização inversa para
os mesmos Atores Sociais representados.
Palavras-chave: Avaliatividade; Representação dos Atores Sociais; Vulnerabilidade Social;
Twitter; prefeito João Doria.
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Desencontros da direita brasileira: a polêmica do “imigrante escória”
Douglas Rabelo de Sousa ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Nosso trabalho, decorrente da dissertação de mestrado em andamento, A construção midiática da
imigração no Brasil do século XXI: uma perspectiva cognitivo-discursiva, apresenta uma análise
cognitivo-retórica de uma polêmica online, que intitulamos de polêmica do “imigrante escória”,
constituída por vozes da dita direita brasileira. Tal polêmica discorre sobre reflexões de como o
fenômeno atual da imigração de sírios, haitianos e senegaleses deve ser tratado no Brasil,
levando-se em consideração os aspectos socioeconômico-culturais subjacentes aos grupos de
imigrantes e aos brasileiros. Tal embate mostra-se interessante por desvelar uma fragmentação
da direita em relação a um assunto atual e de suma importância. Para o desenvolvimento da
análise, destacaremos a estrutura da polêmica, classificando-a de acordo com a tipologia do
discurso polêmico proposta por Dascal (1996), na qual o autor tipifica três categorias ideais de
polêmica: discussão, disputa e controvérsia, visando revelar sua estrutura como, também, qual
resolução está implicada: resolução total, resolução parcial ou tentativa de convencimento do
outro sem resolução final. Em seguida, utilizaremos da configuração funcional da argumentação,
elaborada por Fairclough e Fairclough (2012), com o propósito de analisar as ameaças, objetivos,
valores, circunstâncias e ações presentes nos discursos analisados. Para a finalização dos
nossos objetivos, recorreremos ao modelo sociocognitivo de van Dijk (2014) para discorrer sobre
dois construtos cognitivos: as atitudes e as ideologias para identificar a identidade, norma, grupo
de referência e recursos dos discursos apresentados. Como parte do nosso corpus, disporemos
de discursos, veiculados por meio de vídeos, editoriais e colunas, de 2015 a 2016, do deputado
federal e atual presidenciável, Jair Bolsonaro, do filósofo Olavo de Carvalho e do portal de notícias
conservador-liberal, Diário da Insurgência, vozes uníssonas em relação ao bloqueio de imigrantes,
e do ex-colunista da Veja Leandro Narloch, uma voz destoante que preza pela liberdade de
circulação dos imigrantes.
Palavras-chave: Imigração, Análise Crítica do Discurso, Argumentação, Polêmica, Direita política
brasileira.
43
A MITOPOIESIS ROSIANA EM “A BENFAZEJA”
Edna Tarabori Calobrezi ([email protected])
Programa de Pós-Graduação: Teoria Literária e Literatura Comparada
Em muitos contos rosianos há estruturas míticas subjacentes, revestidas da palavra, como
suporte de sua função em cada narrativa, conforme a fortuna crítica do autor. Embora outros
escritores tenham se utilizado do mito, Guimarães Rosa o faz de modo singular. O objetivo da
pesquisa é tratar dessa singularidade; destacando como exemplo, “A Benfazeja” (Primeiras
estórias), apoiados em teorias sobre o mito de Mircea Eliade (1972), Lévi-Strauss (1978) e Freud
(1980), principalmente; e noções do método de Wladimir Ja Propp (1984), relacionando-o à
estrutura mítica e ao diagrama da fábula, para compreender como se dá a articulação do mito nos
escritos. A linha desta pesquisa é a Semiótica textual; sua justificativa é detectar a camada mítica
no conto rosiano, observando o posicionamento do autor diante da verdade instituída no mito pela
palavra criadora. Rosa não oferece uma visão mítica do mundo; sua linguagem, contraria a
retórica tradicional, mas propõe um linguajar caipira estilizado que também não se lê facilmente.
Ao trabalhar a materialidade da palavra, atua na esfera da verdade revelada primordialmente no
mito, em sua essência. Sua investigação problematiza a visão maniqueísta do mundo, visando
obter a superação das polaridades pré-estabelecidas, mantendo diálogos com polos antagônicos
e esferas ilógicas. A pesquisa já foi concluída (analisamos outros contos de Primeiras estórias: “A
menina de lá, “Um moço muito branco” e “Nada e a nossa condição”) e constatamos que ao
alterar a estrutura mítica, Rosa apresenta um questionamento do mito e, consequentemente, da
condição humana. Emprega o mito de forma crítica, não coibindo a liberdade de pensamento e,
pela maneira ambígua como o enfoca, desautomatiza e leva à reflexão de certas dicotomias:
Bem/Mal, Certo/Errado, Real/Irreal, Belo/Feio, Normal/Anormal; pondo em dúvida dogmas, muitas
vezes, fundantes de nossa cultura, o que sugere que a verdade nem sempre se encontra na
realidade imposta ao homem.
Palavras chave: Guimarães Rosa, linguagem, mito, questionamento.
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O trabalho com conteúdos culturais em aula de língua estrangeira pela voz dos
professores
Emily Caroline da Silva ([email protected])
Orientadora: Eliane Gouvêa Lousada
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês
Doutorado
O trabalho com os conteúdos culturais em aula de língua estrangeira é contemplado em
documentos oficiais sobre o ensino-aprendizagem de línguas, como mostra o Quadro Comum
Europeu de Referência para Línguas (CONSELHO DA EUROPA, 2001), no entanto, mesmo
havendo essas orientações, o trabalho com esses conteúdos configurou-se como um dilema para
professores de francês que ingressam na profissão (SILVA, 2015). Para identificar as
representações dos professores, nos e pelos textos, sobre a pertinência e a relevância do trabalho
com os conteúdos culturais, Silva (2015) estudou as verbalizações de dois professores de um
curso de extensão universitária durante entrevistas em autoconfrontação cruzada (CLOT, FAITA,
2001), em que os professores voluntários assistiam às filmagens de suas aulas, comentando-as e
reagindo sobre as dificuldades que tiveram naquele momento. Essas entrevistas foram transcritas
e analisadas segundo o modelo de análise de textos do interacionismo sociodiscursivo
(BRONCKART, 1999, 2006, 2008), em que foram observados os conteúdos temáticos, os
mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos. Esta apresentação tem por objetivo
aprofundar e expandir uma parte deste estudo referente aos mecanismos de textualização,
evidenciando de que forma os professores construíram a representação do trabalho com os
conteúdos culturais ao longo da entrevista. Para isso, analisaremos as séries coesivas nominais
por meio das anáforas, catáforas, rotulações e categorizações (KOCH, 2014), bem como os
lexemas verbais (BRONCKART, 1999) utilizados pelos professores ao se referirem ao ensino-
aprendizagem dos conteúdos culturais.
Palavras-chave: interacionismo sociodiscursivo; língua estrangeira; séries coesivas nominais.
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Os discursos da mídia construídos nas eleições de 2016 - João Dória Jr.: Uma
abordagem dos elementos da LSF e da ACD
Érica Alves Soares ([email protected])
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Aluna Especial
A pesquisa busca investigar os textos transcritos nas mídias impressas, o Estadão e Folha de São
Paulo apresentados no gênero notícia no caderno Política do Estadão e no caderno Eleições da
Folha de São Paulo durante o período de dezembro de 2015 a outubro de 2016 correspondentes
à candidatura do atual prefeito João Agripino da Dória Jr, conhecido por João Dória Jr. e a sua
vitória para o cargo de prefeito da cidade de São Paulo. As eleições de 2016 retratam os eventos,
as estruturas e as práticas discursivas assumidas pelos atores sociais. Partiu-se da conceituação
da ACD, doravante análise crítica do discurso (Fairclough, 2006 e Halliday,1994), passando pelo
levantamento bibliográfico da LSF – Linguística Sistêmico-Funcional (Fuzer (2014), Gonçalves
Segundo, 2014, Bárbara e Mâcedo, 2009). Propõem-se levantar dados referentes ao período de
dezembro de 2015 a dezembro de 2016 extraindo enunciados dos jornais impressos Folha de São
Paulo e Estadão para uma análise linguístico-discursiva em que as funções textual, ideacional e
interpessoal, postuladas por Halliday (1994) articuladas aos significados de Fairclough (2006)
apresentem pistas discursivas e influências nas práticas sociais dos atores sociais, nesse caso, os
eleitores da cidade de São Paulo.
Palavras-chave: Gênero Propaganda, Linguística- Sistêmico Funcional, Análise Crítica do
Discurso, Mídia Impressa.
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“Nós” contra “eles” – Descortesia no contexto político-ideológico na rede social
Fabio Barbosa de Lima ([email protected])
Orientadora: María Zulma Moriondo Kulikowski
Programa de Pós-Graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana
Em nosso estudo de doutorado em andamento, observamos como as manifestações de
descortesia estão elaboradas linguisticamente nas interações em postagens de temática política
na rede social Facebook no Brasil e na Argentina, com a polarização e o enfrentamento do “nós”
contra “eles” que se apresenta no espectro político-ideológico nos dois países. Apresentaremos,
neste trabalho, um breve esboço teórico sobre como as redes sociais podem se constituir em um
campo de estudos sobre a descortesia e a caracterização de nosso corpus. No campo da
Pragmática, podemos afirmar que cortesia e descortesia estão em lados opostos dentro de um
continuum, sendo que um ato de fala pode variar dentro desse campo, para mais cortês ou mais
descortês. No âmbito da descortesia de fustigação, temos as estratégias de afiliação exacerbada
e de refratariedade, que são paralelos traçados por Kaul de Marlangeon (2005) para as categorias
de autonomia e afiliação propostas por Bravo (1999). Tal estudo se justifica ao observarmos que
as redes sociais têm oportunizado novas formas de interação e, consequentemente, têm se
tornado um importante campo para os estudos discursivos, ao possibilitar uma análise de como
seus usuários têm se apropriado dessas novas possibilidades de interação. É possível observar
que há uma radicalização da tomada de opinião nessas interações nas redes sociais: se, por um
lado, a polêmica tem má reputação (Amossy, 2017), e se considera que a comunicação se
mantém pela cortesia, com as manifestações descorteses ocasionando a quebra da interação;
hoje, observamos que a descortesia não representa necessariamente o rompimento da interação,
mas, antes, a fomenta, elevando o tom e mantendo a discussão.
Palavras-chave: Pragmática; descortesia; redes sociais; política
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Analogias e dissensão no debate parlamentar sobre o projeto de lei contra a
LGBTfobia
Filipe Mantovani Ferreira ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Realizou-se, em 08/12/2011, na Comissão de Diretos Humanos e Legislação Participativa do
Senado Federal, um debate sobre o Projeto de Lei da Câmara 122 de 2006 (PLC 122/06), cujo
objetivo era criminalizar a discriminação em função de orientação sexual e identidade de
gênero. O debate, televisionado para todo o Brasil pela TV Senado, caracterizou-se pela
dissensão entre senadores favoráveis e contrários à aprovação do projeto. Dentre os diversos
procedimentos linguísticos-discursivos usados pelos senadores para argumentar de modo a
buscar o assentimento para suas teses, destacaram-se as analogias, as quais funcionaram
diversas vezes como formas de expressão de desacordo entre os senadores debatedores, na
medida em que possibilitaram que o PLC 122/2006 fosse conceptualizado tanto positiva
quanto negativamente. Este trabalho objetiva analisar as analogias como forma de expressão
de desacordo. Propõe-se, para tanto, uma análise qualitativa das analogias empregadas pelos
senadores durante o referido debate. As analogias serão analisadas segundo uma abordagem
que considera suas dimensões cognitiva, social e discursiva. Com base na Teoria do
Mapeamento Estrutural (GENTNER, 1983; GENTNER & FORBUS, 2011), propõe-se uma
descrição do raciocínio analógico em termos de processos mentais que levam à produção de
inferências; partindo da perspectiva dos Estudos de Discurso (VAN DIJK, 2006, 2008) e dos
Estudos de Argumentação (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 1996 [1958]), propomos a
compreensão das analogias como formas de argumentar capazes de levar ao assentimento,
com vistas à consecução de um ou mais objetivos social, ideológica e historicamente situados.
A análise do discurso dos senadores envolvidos no debate permitiu observar que as analogias
constituem uma forma de manifestação do dissenso, visto que permitem que se construam
representações diferentes (ou mesmo opostas) do PLC 122/2006, que ora é considerado
injusto, perfunctório ou inadequado, ora é considerado justo e adequado.
Palavras-chave: analogia; argumentação; debate parlamentar; LGBTfobia; mapeamento
estrutural.
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A Crítica das Formas e seu uso do vocabulário retórico
Francisco Benedito Leite ([email protected])
Orientadora: Lineide do Lago Salvador Mosca
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Desde o Iluminismo Alemão [alem. Alfklärung] no século XVIII, as universidades protestantes das
cidades germânicas tiveram oportunidade de desenvolver estudos altamente especializados e
críticos na área de Exegese Bíblica; pois lá estavam os únicos lugares da Europa em que havia
centros de estudos sobre a Bíblia que não eram supervisionados pela Igreja Católica Romana.
Nesse contexto surgiu a Metodologia da Exegese Histórico-Crítica, uma proposta científica de
interpretar o texto bíblico a partir das múltiplas etapas de sua história e pré-história oral. Um dos
procedimentos dessa metodologia indaga sobre os estágios pré-literários do texto a partir de
formas textuais padronizadas [alem. Gattungsgeschichte] que remetem ao contexto vital que as
produziu [alem. Sitz im Leben]. Essa etapa da exegese é chamada Crítica das Formas [alem.
Formgeschichte], a qual foi muito valorizada pelos teólogos protestantes desde o fim do século
XIX e alcançou sua maturidade com três teólogos germânicos: Martin Dibelius, Rudolf Bultmann e
Klaus Berger; autores respectivamente de História das Formas Evangélicas (1919), História da
Tradição Sinóptica (1921) e Formas Literárias do Novo Testamento (1987). Nas obras
mencionadas é notável que o vocabulário retórico foi utilizado para classificar as chamadas
“formas literárias”, apesar de sabermos que a área de estudos bíblicos acontecia intramuros, sem
diálogo concreto com as perspectivas filológicas de seu mundo contemporâneo. Isso permite
observar que a vitalidade da Retórica de tradição aristotélica permanecia radiante no seio da
Teologia acadêmica europeia em todo o período desde o século XVIII até o XX. No presente
estudo, pretendemos apresentar o modo como Dibelius, Bultmann e Berger realizaram o uso do
vocabulário da retórica em suas obras para definir e nomear as formas literárias do Novo
Testamento e assim proporcionaremos um ponto de vista sobre a Exegese Bíblica a partir das
perspectivas da Retórica e Argumentação, conforme Lausberg (2011) e Perelman (2005).
Palavras-Chave: Retórica, Gêneros, Exegese, Crítica das Formas.
49
AS EMOÇÕES NA TEORIA DA ESQUEMATIZAÇÃO DE JEAN-BLAISE GRIZE: UM
ESTUDO DE CASO DO DISCURSO DE JANAÍNA PASCHOAL NA USP
Frederico Rios C. Dos Santos ([email protected])
Orientadoras: Rossana Rocha Reis (USP); Helcira Lima (UFMG)
Programas de Pós-Graduação: Relações Internacionais (USP);
Linguística do Texto e do Discurso (UFMG)
O presente trabalho visa a se debruçar sobre o discurso proferido por Janaína Paschoal,
professora de Direito e uma das autoras do impeachment de Dilma Rousseff, na USP, no dia 4
(quatro) de abril de 2016. Tomando como pressuposto teórico-metodológico a teoria da
esquematização de Jean-Blaise Grize, procurar-se-á demonstrar que, mesmo a partir de uma
perspectiva descritiva do fenômeno linguístico que não aborda especificamente o papel das
emoções no discurso, é possível pensa-las no âmbito do que o autor francês denominou de
“esquematização”. Como sabido, a teoria da argumentação pressupõe a adesão do interlocutor
não através de raciocínios silogístico-dedutivos, não procura convencer pela razão, mas por meio
do que se considera como uma espécie de “iluminação”, ou seja, o projetar luzes sobre certos
aspectos da realidade e o ofuscar outros, fazendo com que, pelo recorte seletivo dos fatos, o
enunciatário se persuada pela emoção. Percebe-se, portanto, na teoria de Grize, o pressuposto
cognitivista segundo o qual o psiquismo humano funciona, além do ponto de vista intelectual,
também em outros níveis, como o somato-institivo e o emotivo-afetivo. Um dos resultados a que
se chegou foi no sentido de apontar para o fato de que Janaína Paschoal, em seus
encadeamentos argumentativos, buscou mobilizar certos pré-construídos sociais, como, por
exemplo, o de que existe uma guerra maniqueísta entre “amigos” e “inimigos” em jogo quando a
questão é a do governo de Dilma Rousseff (como se este fosse a representação do mal em si,
condenado até por Deus) e os “cidadãos de bem”, as vítimas inocentes de suas atrocidades. Essa
é uma inferência que pode ser fundamentada a partir de uma série de oposições semânticas que
a autora do impeachment carrega em seu discurso, bem como pelo léxico de que ela se utiliza
para suscitar as emoções de ódio e indignação em seu interlocutor.
Palavras-chave: Argumentação. Enunciação. Língua. Discurso.
50
Relações lógico-semânticas entre texto e imagem em vídeos de youtubers:
reflexões iniciais
Gabriel Isola-Lanzoni ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Este trabalho visa a discutir a interação entre as modalidades verbal e visual em produções
audiovisuais de youtubers, procurando atentar tanto para os modos pelos quais elas se articulam
quanto para as relações lógico-semânticas que as constituem, a fim de, numa etapa posterior da
pesquisa, compreender seu papel no processo de convencimento ou persuasão da audiência.
Como aparato teórico para esse estudo, parte-se da perspectiva sistêmico-funcional da linguagem
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004), em especial, do sistema de TRANSITIVIDADE (FUZER;
CABRAL, 2014; ARÚS; LAVID; ZAMORANO-MANSILLA, 2010; GONÇALVES-SEGUNDO, 2014)
– que permite compreender o status da relação entre o linguístico e o imagético, em termos de
dependência ou independência na configuração de uma unidade informacional – e dos sistemas
de relações IMAGEM-TEXTO em mídias (MARTINEC; SALWAY, 2005) e de CONSTRUÇÃO
INTERMODAL (UNWORTH, 2006), que possibilitam entender os esquemas de relações lógico-
semânticas entre as modalidades, a partir de uma extensão do que foi proposto no estudo da
função lógica em complexos oracionais. A título de exemplificação, será utilizado o vídeo “Você
está em uma BOLHA SOCIAL? Descubra!”, publicado no dia 03 de março de 2017, de autoria de
Felipe Castanhari (Canal Nostalgia), da plataforma de streaming YouTube. O Canal Nostalgia
apresenta-se como o nono canal de maior destaque no país em número de inscritos, segundo
pesquisa do portal de notícias Oficina da Net de 14 de junho de 2017, o que revela o impacto
dessas produções na formação de opinião dos usuários da plataforma. Foi possível depreender
diferentes padrões de dependência, dominância e de articulação entre as modalidades verbal e
visual, bem como a instanciação de relações de elaboração, extensão e realce, sinalizando uma
complexidade a se considerar em estudos de textos multimodais de caráter argumentativo em
plataformas virtuais.
Palavras-chave: Multimodalidade. YouTube. Linguística Sistêmico-Funcional. Relações lógico-
semânticas.
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A construção dos objetos fronteiras e imigrantes no discurso político eleitoral
brasileiro e argentino
Gisele Souza Moreira ([email protected])
Orientador: Adrián Pablo Fanjul
Programa de Pós-Graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana
Doutorado
Nesta pesquisa buscamos entender, à luz da Análise do Discurso, como os objetos “fronteiras” e
“imigrantes” foram construídos no discurso político eleitoral dos presidenciáveis nas eleições de
2014 no Brasil e de 2015 na Argentina, levando em conta as condições de produção, a memória e
as representações construídas no discurso. Para isso, apoiamo-nos nos postulados de
COURTINE (2009), INDURSKY (2013), MAINGUENEAU (2015) e ORLANDI (2012). Para compor
o corpus, selecionamos declarações, em rádio ou televisão, de candidatos à presidência nas
últimas eleições no Brasil e na Argentina, e analisamos essas declarações considerando a
materialidade linguística e as condições de produção desses discursos.
Nossa pesquisa se situa em uma época de intensa crise migratória. Momento no qual os diversos
meios de comunicação apresentam e discutem questões relacionadas à imigração e aos
refugiados, período em que cresce, a cada dia, a urgência na busca por soluções que considerem
os direitos e a dignidade humana. Nosso trabalho se justifica pois nesse contexto, ampliam-se
também, de maneira significativa e assustadora, os discursos xenófobos, e analisar esses
discursos nos ajuda a entender o que vem acontecendo.
Nossa hipótese é a de que aspectos das diferentes formações sócio-históricas dos dois países
podem ser percebidos no modo como se constroem, no discurso, os objetos “fronteiras” e
“imigrantes”. As análises que fizemos, até este momento, nos mostram que essas diferentes
formações sócio-históricas culminam em um discurso que, no Brasil, vê o perigo no que pode
entrar pelas fronteiras, ao passo que, na Argentina, vê o perigo em quem pode entrar naquele
território. Ambos os países, de formas distintas, preocupam-se com a manutenção do nacional,
defendendo-se do diferente.
Palavras-chave: fronteiras, imigrantes, discurso, eleições.
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PROCEDIMENTOS DE REFORMULAÇÃO NA INTERAÇÃO DIDÁTICA
Heloisa Gonçalves Jordão ([email protected])
Orientador: Sandoval Nonato Gomes Santos
Programa de Pós-Graduação: Educação
Doutorado
Apoiada em uma abordagem teórica textual-interativa que compreende a linguagem como forma
de ação exercida por interlocutores e contextos específicos (JUBRAN, 2006), a pesquisa busca
descrever e compreender o papel da atividade verbal nos processos de coconstrução dos
sentidos na relação didática, que se constitui na relação: professores x alunos x objeto do saber.
Dentre o conjunto de mecanismos linguísticos emergentes na construção do texto falado
(FÁVERO, 1999), focalizaremos os mecanismos de reformulação como unidade de análise
fundamental para a compreensão da atividade linguística desenvolvida no ambiente didático.
Partindo de uma retomada teórica dos estudos desenvolvidos sobre a reformulação faremos uma
bipartição entre os dois campos teóricos que nos aportam: i) aqueles ocupados com a análise
linguística das reformulações, em diferentes contextos (GÜLICH; KOTSKI, 1987, HILGERT, 2003
BARROS 2003, FÁVERO, 1999), ii) os estudos ocupados da análise das reformulações realizadas
unicamente em ambientes organizados para o ensino e a aprendizagem e sua função nesses
contextos (GARCIA-DEBANC, 2006, 2010; GARCIA-DEBANC, VOLTEAU, 2007, 2008; VOLTEAU
2015) articulados a proposta de unidades analíticas do evento ‘aula’ (MATENCIO, 2001). Os
dados gerados na pesquisa são fruto do acompanhamento de quatro turmas em uma escola
pública municipal da cidade de São Paulo. No total, foram acompanhadas e videogravadas
quarenta aulas realizadas no ambiente sala de aula regular e em laboratório de informática
educativa. O estágio atual da pesquisa apresenta uma proposta de análise a partir de duas
atividades acompanhadas e o conjunto de textos escritos produzidos pelos alunos. Os resultados
parciais apontaram que as unidades analíticas de uma aula desvelam atividades de reformulação
específicas. Observamos que a utilização dos mecanismos linguísticos de reformulação decorrem
do jogo entre o planejado pelo professor e o efetivamente implementado na interação didática: o
modo como os saberes são apresentados aos alunos são remodelados a todo o tempo por
problemas comunicativos emergentes na interação. A articulação das transcrições das filmagens e
das produções escritas dos alunos nos permitiu observar até que ponto a atividade linguística do
professor influencia na produção escrita dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: Interação; reformulação; trabalho docente.
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DIÁLOGOS SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
CONTEMPORÂNEAS BRASILEIRAS E MEXICANAS
Inti Anny Queiroz ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A diversidade cultural enquanto conceito começou a ser difundida mundialmente a partir dos anos
1980, na Conferência Mondiacult, realizada na Cidade do México pela UNESCO. Os resultados
das discussões da conferência mexicana trouxeram a proposta de que a cultura deveria ser vista
por meio de um “olhar antropológico”, compreendendo que todas as ações humanas devem ser
consideradas como cultura e que cultura não era apenas arte e por isso era necessário utilizar o
conceito de diversidade cultural para ampliá-la. A reflexão também propiciou a criação de dois
importantes documentos: a Declaração do México (1982) e, anos mais tarde, Nuestra Diversidad
Creativa (1996). Este estudo buscará observar como, os discursos da UNESCO mexicana
influenciaram os discursos de relevantes processos de construção de políticas culturais ocorridos
no Brasil e mais especificamente no início do século XXI, na gestão de Gilberto Gil no Ministério
da Cultura e a criação do Sistema Nacional de Cultura. O objetivo deste estudo, que integra a
pesquisa de doutorado atualmente em fase de finalização, é analisar as relações dialógicas entre
os discursos dos documentos produzidos pela UNESCO no contexto mexicano em comparação
com enunciados criados para o desenvolvimento das políticas culturais no Brasil. Levaremos em
conta que os enunciados foram produzidos por autores diferentes em contextos distintos e para
isso utilizaremos como fundamentação teórica de análise dos enunciados as teorias do Círculo de
Bakhtin. Buscaremos evidenciar neste estudo, que os documentos da Unesco mexicana
influenciaram diretamente os enunciados brasileiros e assim possibilitaram a criação de um novo
modelo de política cultural.
Palavras-chave: diversidade, política cultural, relações dialógicas.
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Teoria Política, Retórica e Hermenêutica Bíblica em Hobbes
Isaar Soares de Carvalho ([email protected])
Supervisora: Lineide do Lago Salvador Mosca
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Nosso propósito é o de examinar, partindo das pesquisas de C. Hill (2003) e Q. Skinner (1999) o
valor conferido por Hobbes à Retórica e à leitura da Bíblia na perspectiva da Política. Hobbes
procura persuadir o leitor com os recursos da Retórica, cujo uso ele criticara, enquanto mero
artifício dos parlamentares, mas ao mesmo tempo reconhecera seu valor para alcançar a
finalidade de seu discurso, isto é, alcançar a adesão do público leitor, visando convencê-lo de que
seus argumentos são baseados em premissas verdadeiras, que o Estado por ele concebido tem
uma base racional e que, além disso, suas teses são sustentadas pela Palavra de Deus, visto que
seu pensamento político era corroborado pela Bíblia. Procuraremos, pois, demonstrar como
Hobbes valorizou a Retórica e como encontrou uma nova chave hermenêutica da Bíblia, lendo-a
na perspectiva da Política e mostrando que teses como a da teoria do consentimento, da
soberania absoluta e da submissão da Religião ao Estado são corroboradas pelo livro sagrado.
Por um lado, Hobbes reconheceu a importância da Retórica para a exposição de argumentos que,
ainda que verdadeiros filosoficamente, não alcançavam o grande público devido à sua forma
erudita de exposição. Por outro, como a Bíblia era o livro por excelência na Inglaterra do Séc.
XVII, eles buscou persuadir seus leitores com referências constantes a ela, principalmente nas
obras Do Cidadão e Leviatã. Enfim, o trabalho se propõe a fazer uma leitura do uso da Retórica e
da Bíblia por Hobbes nos dois livros citados, o primeiro um texto erudito, cujas teses principais
foram retomadas com amplo recurso à Retórica no segundo, cujo título é endossado pelo texto de
Jó que aparece no alto de sua capa, o qual Hobbes interpretou em relação ao Estado ou Leviatã:
“Não há na Terra poder que se lhe compare”.
Palavras-chave: Thomas Hobbes, Teoria Política, Soberania, Retórica, Hermenêutica Bíblica.
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Enunciados opinativos na mídia independente
Isabel Fernandes ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
RESUMO: Nessa comunicação apresento os estudos parciais do doutorado, em que investigo o
estilo do gênero artigo de opinião, no contexto da opinião pública produzida na esfera jornalística
independente, com o apoio da perspectiva teórica do Método Sociológico e da Metalinguística
propostos por Bakhtin e pelos pensadores do Círculo. O gênero do discurso para Bakhtin e os
demais pensadores do Círculo é o espaço onde a palavra ganha expressão em situações
concretas de comunicação. A partir dessa perspectiva, o gênero artigo de opinião estabelece um
espaço discursivo para a circulação da opinião pública, em que o sujeito/autor, sendo ele mesmo
constituído por diálogos com outros discursos, produz no texto um lugar de diálogo com outras
vozes sociais, para, assim, lançar uma ponte aos possíveis diálogos com o leitor e do leitor com o
corpo social. A partir dos estudos sobre o artigo de opinião nas áreas da linguagem e da
comunicação pôde-se observar duas preocupações distintas: entender como o gênero artigo de
opinião se organiza nos aspectos formais e de conteúdo com o objetivo desenvolver estratégias
de ensino do gênero; entender o gênero para descrever sua função na difusão da opinião pública
e suas características composicionais. Os trabalhos da área de linguagem se concentram na
descrição e na compreensão da construção composicional e no estilo da linguagem,
especialmente na modalização, nos marcadores de responsabilidade enunciativa e nos
marcadores argumentativos. Os elementos do contexto de produção, circulação e recepção nem
sempre são descritos e analisados de modo relacionado ao estilo da linguagem. O conteúdo
temático tem pouca atenção como objeto de estudo, assim como as características sociais da
autoria. A perspectiva do Círculo pode favorecer a integração dos aspectos formais e temáticos
para a compreensão das contribuições do estilo do autor para a formação de um estilo do gênero,
unindo os objetivos dos estudos da linguagem com os estudos da comunicação, com um olhar
para os veículos de comunicação e sua interferência no estilo do autor e do gênero.
Palavras-chave: mídia independente; opinião; dialogismo.
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Categorias de retextualização: uma proposta para análise de inserção de textos de
outrem em textos acadêmicos
Jaci Brasil Tonelli ([email protected])
Orientador: Eliane G. Lousada
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês
Doutorado
A inserção e gestão de vozes, seja das teorias usadas ou dos textos analisados, é uma das
dificuldades frequentes relatadas nos estudos sobre produção textual acadêmica (BOCH, 2013;
POLLET; GLORIEUX; TOUNGOUZ, 2010; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010; PERROTA, 2004).
Ao realizarmos nossa pesquisa de mestrado que tinha como objetivo estudar o desenvolvimento
das capacidades de linguagem ligadas à escrita acadêmica em francês dos alunos da graduação
em Letras (habilitação em língua francesa) ao longo de um semestre, por meio da análise de suas
produções textuais, buscamos meios para descrever as características que encontramos nos
textos dos graduandos. Para elaborar as categorias primeiramente, tivemos por base as propostas
de Matencio (2003) sobre os processos de retextualizar os textos de outrem em resenhas
produzidas por universitários e nos trabalhos de Pollet (2004), que propõe as categorias
“estocagem” e “reconstrução” ao analisar textos produzidos por universitários. A partir dessas
reflexões e tomando como base o modelo de análise do Interacionismo Socio-discursivo
(BRONCKART, 1999/2012; 2006), nos concentramos em três critérios linguístico-discursivos:
índices usados para inserir as vozes, coesão nominal e conexão para propor as categorias de
retextualização. Essas categorias levam em consideração a maneira como as informações de
outrem são inseridas e as relações que o produtor do texto estabelece entre elas, sendo elas:
empilhamento; justaposição; reconstrução (patchwork e mosaico) e construção. Nesta
comunicação apresentaremos as categorias, suas bases teóricas e os critérios para analisar
textos, assim como alguns exemplos de análises. A partir das categorias, discutiremos ainda a
possível contribuição delas para o desenvolvimento da escrita acadêmica.
Palavras-chave: Retextualização; Inserção de vozes; Escrita acadêmica.
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Um mundo conectado, um Papa engajado: A influência de um líder global com base
na argumentação retórica
João C. Men ([email protected])
Orientadora: Lineide do Lago Salvador Mosca
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Resumo: Nossa pesquisa visa entender os reflexos da participação e influência de um líder global,
chefe de igreja e de Estado, Papa Francisco, como um facilitador, mediador e negociador em
temas cruciais para a humanidade. Buscamos compreender a relação existente entre o poder
carismático tradicional do Papa e a possibilidade de liderança ampliada pela expansão da prática
de mediações em conflitos internacionais. Identificamos que o Papa, em seus discursos, é um
orador revestido de singeleza e humildade de coração dos grandes homens. Os sinais de energia,
determinação e busca pela transformação o fazem também ser encontrado, às vezes, como
rebelde, até cruzando as fronteiras entre o sagrado da Igreja que dirige e o profano secular dos
interesses mundiais. O estudo está baseado em conceitos interdisciplinares sob o eixo central da
teoria da Retórica Tradicional, assim como da Nova Retórica e das teorias atuais da
Argumentação. Vale-se igualmente de fundamentos contemporâneos sobre negociação, partindo
do princípio de que a argumentação visa alcançar consenso sobre divergências em determinadas
questões, por meio de estratégias argumentativo-persuasivas. Entender formatos do processo de
negociação e o modo como lideranças podem alterar resultados esperados são justificativas
plenas que embasam o objeto da nossa investigação. Disso resulta a problemática principal do
estudo, refletida no fato de que, em qualquer discurso relacionado à negociação, deve-se levar em
conta a busca incessante do objeto em questão, o impacto produzido e a influência do contexto
em que se insere. O resultado parcial de nossa pesquisa mostra que um grande líder exerce um
papel transformador. Esse, talvez, seja o maior legado trazido pelo Papa: a legitimidade de
propósito, cujas motivações o fazem adotar uma vocação científica de responsabilidade para com
o futuro e uma postura política de paixão, tudo objetivando a adesão de espíritos, tão relevantes
em qualquer processo de argumentação e negociação.
Palavras-chave: Argumentação; Retórica; Negociação.
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O DISCURSO DOS GRUPOS POLÍTICOS NO FACEBOOK NO PERÍODO PÓS-
IMPEACHMENT
Josane Daniela Freitas Pinto ([email protected])
Orientador: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa da Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O crescente número de grupos envolvidos com política tem sido cada vez maior no Facebook,
uma rede social que faz parte do nosso cotidiano e tem refletido a efervescência das discussões
políticas no período pós impeachment de Dilma Rousseff. Esta pesquisa tem como suporte teórico
as pesquisas de Crystal (2005, 2010) sobre Linguística da Internet; as de Fairclough, Mulderrig e
Wodak (2011) e de van Dijk (2010, 2011, 2012) sobre Estudos Críticos do Discurso; as de
Charaudeau (2011, 2016) sobre Discurso Político. Estabelecemos os seguintes objetivos:
identificar as estratégias linguístico-discursivas e recursos semióticos usados nos posts, a fim de
observar possível manipulação política e discutir sobre a identidade dos grupos. Como percurso
metodológico, optamos pela abordagem qualitativa e o nosso corpus é constituído pelos posts dos
grupos políticos no Facebook: Contra o golpe fascista, Jovens de direita e Movimento Brasil contra
a corrupção. As categorias de análise a serem empregadas serão: a da estrutura das ideologias,
proposta por van Dijk (2011), a fim de entender como as identidades desses grupos são
construídas; as estratégias de manipulação, estabelecidas também por van Dijk (2010), a fim de
estudar “autoapresentação positiva” e “outra-apresentação negativa” dos grupos; análise dos
recursos semióticos, sugeridos por Kress e van Leeuwen (2006), para entender a linguagem
verbo-visual. Nesse sentido, verificamos nas primeiras análises dos posts que o uso de
estratégias de manipulação é um ponto em comum entre os diferentes grupos.
Palavras-chave: Discurso político; Estudos Críticos do Discurso; Identidade; Manipulação.
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Análise de conteúdo na Pós-Graduação stricto sensu em turismo
Juliana Ferreira dos Santos ([email protected])
Orientador: Alexandre Panosso Netto
Programa de Pós-Graduação: PPTUR- Mestrado em Turismo EACH
Mestrado
A história da pós-graduação brasileira em turismo é fruto da institucionalização da atividade no
país, da ascensão do ensino superior na área e da demanda por profissionais preparados para
pesquisar, ensinar e produzir conhecimento sobre uma atividade relativamente nova e em franca
expansão no mundo (Panosso Netto 2010). Todos esses são fatores que elevaram os níveis de
exigência tanto no ambito educacional, quanto no profissional. Da universidade para a sociedade,
quanto desta para aquela, é a via de mão dupla que fortaleceu a consolidação da pós-graduação
em turismo no Brasil. Diante dessa oferta, este estudo questiona: Como analisar a partir da
análise de conteúdo a pós-graduação stricto sensu em turismo no Brasil. Justifica-se que de
acordo com Krippendorff (1990), Bardin (1997) a análise de conteúdo tem um direcionamento
empírico de caráter exploratório, estando, portanto, associado aos fenômenos reais do mundo
natural, isto é, não é uma metodologia abstrata ou descontextualizada. Com isso, essa
metodologia transcende as convencionais noções de conteúdo como objeto de estudo apartado
de suas condições de produção e recepção. Logo, a partir de dados empíricos, sistematizados e
organizados, a análise de conteúdo tem uma finalidade preditiva, no sentido das concepções mais
recentes de fenômenos simbólicos situados. Com a entrada dos currículos selecionados na pós-
graduação stricto sensu em turismo, obteve-se 932 artigos, 112 livros e 339 capítulos de livro
como produção docente dos programas de pós-graduação stricto sensu em turismo no Brasil. As
inferências depreendidas nesses procedimentos permitem conceber as condições de produção
dos docentes permanentes na área do turismo nos programas de pós-graduação stricto sensu.
Palavras-chave: Análise de Conteúdo, Turismo, Pós-graduação.
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O funcionamento discursivo da dissertação de vestibular: o caso da paráfrase
Karen Osorio Gonzales ([email protected])
Orientador: Manoel Luiz Gonçalves Corrêia
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Decorrente da primazia do interdiscurso sobre o discurso, uma característica do funcionamento da
linguagem é a necessária relação entre os diferentes efeitos de sentidos dos discursos. Podemos
dizer que um efeito de sentido não advém de uma estrutura sintática ou semântica, mas como
resultado do embate ou cooperação entre os discursos. O objetivo desta comunicação é
apresentar o funcionamento da paráfrase discursiva, segundo Fuchs (1985), Henry (1990),
Pêcheux e Fuchs (1993), em redações de vestibular de forma a refletir sobre a contribuição da
Análise do Discurso Francesa nesse evento de letramento, assim como observar o uso da
paráfrase formal na produção escrita. Nossa escolha justifica-se também na tentativa de exibir
uma aplicabilidade dessa linha teórica ao processo de ensino/aprendizado da linguagem. Esta
investigação se dá a partir de uma amostra de 205 redações do vestibular da FUVEST/2006 com
o tema “trabalho” e tem como critério metodológico a presença da formação(s) discursiva(s), a
partir de Courtine e Marandin (1981), que constitui os discursos apreendidos na coletânea de
textos da proposta de escrita. Os resultados obtidos mostraram a produção dos dois tipos de
paráfrases pelos vestibulandos, com a prevalência da paráfrase formal na produção do texto
dissertativo. A paráfrase discursiva funcionou como um mecanismo na articulação entre as
formações discursivas veiculadas pelos escreventes, como foi o caso das redações que
apresentaram ao menos um dos posicionamentos assumidos na coletânea sob a forma de
paráfrase discursiva. No caso da paráfrase formal, concluímos que o mesmo compõe o quadro
das condições de produção da escrita escolar.
Palavras-chave: interdiscurso; paráfrase; redação.
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O experimentalismo na literatura portuguesa contemporânea
Lais Akemi Munhoz de Souza ([email protected])
Orientador: Antônio Vicente Seraphim Pietroforte
Programa de Pós-Graduação: Semiótica e linguística geral
Mestrado
Nessa comunicação será apresentado um panorama geral de minha pesquisa de mestrado. Tal
pesquisa possui como objeto o livro “O labirintodonte” (1970), do poeta português Alberto Pimenta.
Este objeto se encaixa na temática experimental do grupo de pesquisa ao qual me filio: o
GEPOEX. A apresentação visará focar o capítulo inicial de minha tese, em que se pretende definir
o experimentalismo na literatura portuguesa contemporânea em seu contexto histórico, geográfico
e filológico. Para isso, serão contrapostos exemplos retirados do objeto com poemas
representativos de cada um dos outros movimentos literários que afloraram no mesmo contexto, a
saber: o neo realismo e o surrealismo. Para a análise destes textos, será utilizada como base
teórica a semiótica fundada por Greimas, com maior aproveitamento dos trabalhos de Floch e
Hjelmslev. A escolha destes artistas se deve à valorização da linguagem pictórica em seus
trabalhos, considerando que uma das características principais do experimentalismo é a
visualidade, a manipulação de elementos tanto puramente verbais como visuais e sonoros.
Pretende-se desse modo, apresentar análises que favoreçam não somente a perspectiva artística
e filológica, mas a linguística incluso. Tais análises, além de definir o experimentalismo português,
buscam demonstrar que a produção inicial de Alberto Pimenta se encaixa nos moldes desse
movimento. Buscam também demonstrar como a semiótica pode ser utilizada como suporte
teórico à obras que levam a manipulação linguística ao extremo. O estudo destas obras, além de
escasso na academia, é de grande proveito para demonstrar novas formas de manipulação e
visão da linguagem e de sua função poética.
Palavras-chave: experimentalismo, poesia, literatura portuguesa.
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LIVROS DIDÁTICOS E O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: POR ENTRE CONTEXTOS E
IDEOLOGIAS
Layanne Marques Coutinho ([email protected])
Orientadora: Marília Mendes Ferreira
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Mestrado
A apresentação oral no X EPED tem como principal objetivo alinhar o projeto de pesquisa, tendo
em vista que o atual estágio ainda é inicial e adaptações estão sendo feitas no que concerne à
viabilidade do projeto: instrumentos e o recorte do corpus da pesquisa podem sofrer modificações.
Atualmente, o levantamento bibliográfico sobre o objeto da pesquisa está sendo executado para
dar início a construção textual da dissertação. A motivação da pesquisa deu-se pela preocupante
situação da educação básica nas escolas públicas brasileiras, mais especificamente, no ensino de
língua estrangeira. O Programa Nacional do Livro Didático criado há 80 anos pelo governo federal,
com intuito de subsidiar o material didático do setor público de ensino, somente em 2011, após
anos de criação do programa, os professores de língua estrangeira tiveram o direito de ter sua
disciplina incluída, ou seja, este profissional participou de apenas 3 ciclos deste programa até o
momento: a escolha do insumo que oferece aos seus alunos ainda é novidade e a má avaliação
deste produto pode comprometer seu trabalho por pelo menos um ciclo (3 anos). Acreditamos que
uma alternativa para ajudar o professor nesta tarefa avaliativa seria a investigação dos contextos
e ideologias presentes nas coleções oferecidas pelo MEC e por essa razão, os pressupostos da
linguística sistêmico-funcional (Halliday (1985), Halliday & Hasan (1989), Eggins (1994/ 2004)
serão utilizados para análise do corpus, este composto por livros didáticos escolhidos no último
PNLD (2017-2019) destinados ao ensino fundamental II, buscando entender como os contextos
(situacional e de cultura) estão organizados textualmente e como foram influenciados
ideologicamente a partir das escolhas linguísticas apresentadas neste suporte de aprendizagem.
Palavras-chave: Linguística Sistêmico-Funcional. PNLD. Ensino de Língua Inglesa. Contextos e
Ideologias.
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O depoimento no Museu da Pessoa
Leonardo Gonçalves de Lima ([email protected])
Orientador: Manoel Luiz Gonçalves Corrêia
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O Museu da Pessoa consiste em um museu virtual que coleta depoimentos de histórias de vida de
qualquer pessoa que queira contar sua história ou a história de alguma pessoa próxima a ela.
Fundado em 1991, até o começo de 2018, o museu reunia aproximadamente 17 mil depoimentos
e mais de 60 mil documentos digitalizados. Pode ser acessado através do endereço eletrônico
<http://www.museudapessoa.net/pt/home>. Os depoimentos são coletados pela equipe do museu
ou pelo internauta. Quando coletados pela equipe do museu, são realizados por meio de
entrevistas. Depois de coletados, passam por edição, baseada numa metodologia própria do
museu, denominada “Tecnologia Social da Memória”, e parte deles é disponibilizada no site, de
forma que essas partes são disponibilizadas de 3 maneiras: vídeo da entrevista, resumo da
história (criada pelo próprio museu) e transcrição ortográfica do depoimento (única parte completa
do depoimento). Diante das diferentes formas de apresentação dos depoimentos, o objetivo deste
trabalho é analisar como as formas de apresentação dos depoimentos em diferentes gêneros
parecem dar indícios da concepção de pessoa presente no Museu da Pessoa, pergunta central do
projeto de mestrado no qual este trabalho está inserido. Para tanto, foi selecionado o depoimento
intitulado “Amor a toda prova”, coletado em 2013, a partir do qual analisarei os três gêneros.
Como arcabouço teórico, parto da teoria dos gêneros do discurso de Bakhtin (2011 [1979]) e
Perelman & Tyteca (2005 [1958]), os quais discorrem a respeito da construção do auditório
universal na retórica. Como resultado, a disponibilização do depoimento em três gêneros parece
ser uma tentativa do museu de criar um auditório universal que possa se identificar com o
depoente independente da forma como é apresentada essa história.
Palavras-chave: Museu da Pessoa; Depoimento; Gênero Discursivo.
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Argumentação, Racionalidade e Cognição - uma abordagem discursiva
Letícia Fernandes de Britto Costa ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A revista "O Bem-Te-Vi", na década de 1930, se destacou como o primeiro periódico voltado para
o público infantil a ser publicado no estado de São Paulo. Suas edições continham além de passa-
tempos e histórias para crianças, a seção "Página dos Pais", que trazia às mães conselhos para
criação de seus filhos. Tais textos chamaram nossa atenção para a questão das estratégias
argumentativas presentes no desenvolvimento desses discursos. Com o intuito de observar, de
um ponto de vista cognitivo e social, quais noções de racionalidade validam a estrutura
argumentativa do discurso da Página dos Pais, da revista "O Bem-Te-Vi", propomos uma
discussão a nível teórico de autores das áreas de Análise Crítica do Discurso (ACD), Filosofia da
Linguagem e Argumentação, que nos propicie uma correlação adequada de tais conceitos. Para
isso, buscamos nosso apoio em Habermas (2012), estudioso da Filosofia da Linguagem, o
conceito de racionalidade e sua aplicabilidade argumentativa; no que se refere aos estudos de
Argumentação, encontramos em Klein (1980) o apoio teórico a respeito das validades coletivas e
validades aceitáveis, e em Koch (1993) as noções sobre a seleção lexical, nossa principal
categoria de análise linguística; e, por fim, van Dijk (2000; 2012), pesquisador da ACD, nos
apresenta o conceito de modelos mentais, fundamental para nosso debate. Após a discussão
teórica, prosseguimos à análise da seleção lexical, cujos resultados foram observados com base
nas teorias de filosofia da linguagem e da ACD. Os resultados apontam para uma base racional
pautada em valores patriarcais, que valida os argumentos propostos nos discursos.
Palavras-chave: Discurso Infantil; Análise Crítica do Discurso; Argumentação.
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Do texto a textualidade na semiótica
Letícia Moraes Lima ([email protected])
Orientador: Ivã Carlos Lopes
Programa de Pós-Graduação: Semiótica e Linguística Geral
Doutorado
O texto, tão presente em nosso dia a dia, nas mais variadas práticas sociais, é o objeto de estudo
de diversas áreas das ciências humanas e sociais, recebendo diferentes acepções de acordo com
construto teórico assumido pelo pesquisador. Buscando contribuir para a problemática que se
insinua sobre a concepção do texto na semiótica, optamos por observar mais atentamente, nessa
apresentação, como tal conceito foi apropriado pela semiótica e vem sendo delineado até os dias
de hoje. Os procedimentos metodológicos da pesquisa dizem respeito I) à investigação da
herança hjelmsleviana do conceito de texto na obra de Greimas e seus desenvolvimentos,
sobretudo em Semântica Estrutural: pesquisa de método (1966), Semiótica e Ciências Sociais
(1976) e Dicionário de Semiótica (1979); II) à retomada do conceito de textualidade e
textualização na semiótica; III) à elaboração de um percurso textual que dê conta de explicar a
transformação do texto absoluto em texto-objeto. Os resultados da pesquisa mostram que se o
ponto de partida é a classe de classes, ao instalar a análise, essa deixa de ser uma grandeza
absoluta. Do ponto de vista da triagem, o percurso realizado é do texto absoluto ao objeto
empírico, perpassando por uma espécie de gramática textual e pela textualidade. A proposta
delineada, neste trabalho, é um recorte de uma pesquisa mais ampla, que tem por título “A noção
de texto na semiótica”, projeto de doutoramento, cadastrado no Departamento de Linguística, na
Universidade de São Paulo, e financiado pelo CNPq, sob a orientação do professor Dr. Ivã Carlos
Lopes.
Palavras-chave: texto, textualidade, textualização, Greimas, Hjelmslev
66
AMADEU AMARAL À LUZ DO DISCURSO
Lígia Mara Boin Menossi de Araujo ([email protected])
Supervisor: Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Esta comunicação é parte de nossa pesquisa de pós-doutorado que tem como material de análise
dissertações, teses, artigos produzidos por estudos no âmbito da Sociolinguística, da Dialetologia
e da Linguística Histórica. Nosso referencial teórico metodológico são os conceitos desenvolvidos
pela análise do discurso de matriz francesa, sobretudo, a noção de narrativa do acontecimento de
Guilhaumou (2009) e a de imagem de autor de Maingueneau (2006). A partir do surgimento de
diferentes narrativas nesse material de estudo, é que temos como objetivo investigar os efeitos de
sentido que ora refletem uma dada história já contada ora contribuem para a (re)escritura dos
fatos conforme novas reflexões; assim, os sujeitos, inseridos num lugar institucional e
determinados por certas regras sócio-históricas, constroem diferentes narrativas em torno de um
acontecimento, proporcionando (re)visitar um pensamento e trazer novas instâncias discursivas,
novos gestos de intepretação. Um dos fatos que justificam nosso trabalho é que não há um
enfoque discursivo sobre uma extensa e pertinente produção bibliográfica de estudiosos da
linguagem que cobrem, cronologicamente, o final do século XIX até o ano de 1940. Nossa
hipótese de pesquisa é a de que as narrativas do acontecimento acerca da obra O Dialeto Caipira
possibilitam o surgimento da imagem de um autor preconceituoso que contribui para produção do
estereótipo do caipira. Esperamos, dessa forma, articular o tratamento analítico dessa referência
na história do português brasileiro a partir do âmbito da descrição linguística para o da
interpretação, assim como compreender as suas relações com a história, a sociedade e a cultura.
Para isso, elencamos como arquivo, nos moldes de Foucault (1969), não a obra em si, ou o seu
conteúdo, todavia toda uma produção acadêmica em diferentes espaços teórico-metodológicos.
Palavras-chave: análise do discurso; narrativa do acontecimento; imagem de autor; Amadeu
Amaral.
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Escola Sem Partido: o papel da argumentação na construção discursivo-
argumentativa
Lucas Pereira da Silva ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Aluno Especial
O programa Escola sem Partido, idealizado por Miguel Nagib, tem como cerne propor uma
suposta neutralidade no que tange aos modos de conduta no ambiente escolar, em especial por
parte dos professores. A fim de discutir o que denominam “assédio ideológico”, a proposta
circulava por grupos isolados de pais e responsáveis, ganhando notoriedade, porém, em 2015,
quando passou a ser debatida em câmaras municipais, assembleias legislativas e no Congresso
Nacional em forma de projetos de lei. O presente estudo tem como propósito analisar a
estruturação discursivo-argumentativa (GONÇALVES-SEGUNDO, 2014, 2017) de um conjunto de
30 textos opinativos circulantes em plataformas online, como portais de revistas e jornais, além de
blogs formadores de opinião, sobre tal Projeto de Lei. Para isso, toma-se como base os
pressupostos teóricos concernentes à abordagem cognitivista da Análise Crítica do Discurso
(HART, 2010, 2014), os estudos referentes à evidencialidade (BEDNAREK, 2006; CARIOCA,
2011; HANKS, 2014; MONTSERRAT GONZÁLEZ et al, 2017; MARÍN-ARRESE, 2011a, 2011b;
GONÇALVES-SEGUNDO, no prelo), bem como os pressupostos teóricos concernentes às teorias
de macroestruturação, funcionalidade e esquematização argumentativa (TOULMIN, 1958; VAN
EEMEREN, HOULTLOSSER, SNOECK HENKEMANS, 2007; GONÇALVES-SEGUNDO, 2016).
Com base em tais dados, será possível discutir os modos de funcionamento da ideologia no
ambiente não só da sala de aula, mas no escolar como um todo, além de questionar o propósito
subjacente ao Projeto, tendo como preliminar a ideia de manutenção de uma ordem social com
base no silenciamento de possíveis vozes resistentes. Por ora, apresentar-se-ão os resultados da
análise de um conjunto de textos elaborados pelo idealizador Miguel Nagib, escritos para a
Gazeta do Povo e a Folha de S. Paulo.
Palavras-chave: Linguística Cognitiva, Análise Crítica do Discurso, Argumentação, Escola sem
Partido.
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A construção e reconstrução de objetos de discurso nas propagandas de
instituições financeiras dos anos 80
Lucimar Regina Santana Rodrigues
Orientadora: Maria Lúcia C.V. O. Andrade
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O objetivo deste trabalho é examinar a construção de objetos-de-discurso a partir da seleção
lexical em propagandas de instituições financeiras veiculadas em revistas dos anos 80, no Brasil.
O presente estudo é um recorte de um projeto maior sobre as propagandas de revistas impressas
no final do século XX e início do XXI, na perspectiva da multimodalidade. A análise será realizada
a partir da seleção do léxico presente no discurso constantes em duas propagandas do Banco
Real, veiculadas na revista Veja. A propaganda tem o importante papel de persuadir, convencer e
levar à ação pela palavra, em função disso, a linguagem da propaganda precisa ser atrativa e
motivadora. O grande desafio dessa modalidade de linguagem é levar o consumidor a se
interessar pela leitura e, por consequência, pelo produto, pelo serviço ou pela ideia propagada. Os
objetos-de-discurso se constroem a partir da seleção do léxico e da interação, imprescindível,
entre o enunciador e o leitor, posto que é da ativação dos conhecimentos partilhados que resulta
uma negociação para construção de sentidos. A construção de objetos-de-discurso envolve,
portanto, a colaboração entre os interlocutores, no caso das propagandas impressas, entre os
anunciantes e os leitores de revistas. Os anunciantes trazem em seus discursos, escolhas verbais
e visuais que remontam o discurso ideológico daquele momento histórico e social, por isso, o
estudo do contexto contribuirá para a percepção da relação entre linguagem e marcas ideológicas.
A fundamentação teórica está centrada nos postulados sobre discurso e contexto, de Van Dijk
(1997) e nas perspectivas teóricas sobre linguagem da propaganda, de Sandmann (2012) e
construção de objetos-de-discurso, de Ingedore Koch (2005).
Palavras-chave: propaganda; seleção lexical; instituições financeiras; objetos de discurso.
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Refutação e relações intersentenciais no ensino de argumentação: reflexões
iniciais
Luísa Bordin de Campos Leite ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Iniciação Científica
Esta pesquisa visa a formular uma proposta de ensino de argumentação focada na correlação
entre os mecanismos lógico-semânticos e táticos e os processos de refutação. Embora os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) prevejam que, ao longo dos ciclos, os alunos se tornem
capazes de identificar, selecionar, compreender e produzir argumentos consistentes no que diz
respeito aos diversos gêneros textuais trabalhados em sala, os professores de Língua Portuguesa
se deparam com dificuldades estruturais para guiar os estudantes, uma vez que tanto os materiais
didáticos quanto a própria formação docente ainda tendem a privilegiar métodos de ensino
classificatórios que enjeitam a reflexão acerca da língua(gem) e de seu uso. Nesse sentido, a
proposta a ser apresentada, ainda em seus primórdios, considerará, em primeiro lugar, os
pressupostos da Linguística Cognitivo-Funcional, que assume a significação como motor da
linguagem e considera o discurso e os sistemas cognitivos como fundamentais para uma
compreensão acurada sobre o funcionamento da linguagem (CUNHA, BISPO & SILVA, 2013).
Desse arcabouço, serão tomados, especialmente, os referenciais acerca das relações
intersentenciais a partir de Halliday (2004) e Neves (2007), que reconhecem a interação entre os
sistemas tático e lógico-semântico. Em segundo lugar, será levado em conta o estudo sobre a
argumentação, em especial da refutação, baseado em Toulmin (1958), van Eemeren et al. (2014)
e Gonçalves-Segundo (2016, no prelo). A proposta de ensino propriamente dita terá como base o
modelo de sequências didáticas de Dolz, Noverraz & Schneuwly (2004). Assim, espera-se, ao final
desta pesquisa, construir um material didático coerente com as necessidades de aprendizagem
dos alunos e, se satisfatório, capaz de fornecer aos professores subsídios para um trabalho mais
detido com um dos componentes centrais do processo de argumentação – a refutação – no
Ensino Básico, de modo a preparar os estudantes a empregar estratégias argumentativas de
forma mais refletida e autônoma.
Palavras-chave: Ensino. Argumentação. Refutação. Relações intersentenciais. Linguística
Cognitivo-Funcional.
70
Um olhar sobre as Expressões Faciais e Linguem Coral em LIBRAS
Marcelo Antoni Enderson Almeida de Oliveira ([email protected])
Orientador: Felipe Venancio Barbosa
Programa de Pós-Graduação: Linguística
Mestrado
Este projeto de pesquisa insere-se na linha de pesquisa A linguística e sua interface com outras
ciências, teóricas e aplicadas, do programa de pós-graduação em Linguística do Departamento de
Linguística da Universidade de São Paulo, no qual refere−se a um estudo inicial sobre a influência
da linguagem corporal e expressões faciais nos processos discursivos de produção e
compreensão da língua brasileira de sinais (LIBRAS), pela perspectiva enunciativa do Círculo de
Bakhtin (2003), e do Reconhecimento Gramatical da Expressão Facial no discurso da Língua de
Sinais de Freitas (2017), na qual o estudo de interpretação da língua de sinais ganhou um caráter
multimodal, devido à consideração da simultaneidade entre sinais, linguagem corporal e
expressões faciais. Os dados foram obtidos através da captura das expressões faciais e
linguagem pelo sensor Microsoft Kinect e por um software de reconhecimento facial e foram
transcritos para o Português no software ELAN (EUDICO Language Annotator), seguindo a
proposta de McCleary, Viotti & Leite (2010). Embora em estágio inicial, a pesquisa aponta para
alguns aspectos discursivos relevantes sobre a LIBRAS, principalmente no que se refere à
dinâmica discursiva entre sinais manuais, linguagem corporal e expressões faciais na composição
de sentido nos enunciados, bem como na formação de modelos de padrões tanto das expressões
faciais e na linguagem corporal da LIBRAS. Outro aspecto observado no corpus é o uso de um
mecanismo discursivo quando não há uma marca temporal específica no enunciado, permite que,
por meio de uma neutralização de alguns elementos da enunciação, o tempo seja construído
espacialmente por meio da linguagem corporal.
Palavras-Chave: teoria enunciativa bakhtiniana, língua brasileira de sinais (LIBRAS), gênero
discursivo, linguagem corporal, expressões faciais.
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Por trás da cobertura jornalística: uma leitura semiótica das Jornadas de Junho, de
2013, e dos Protestos de Março, de 2015
Marcos Rogério Martins Costa ([email protected])
Orientadora: Norma Discini de Campos
Programa de Pós-Graduação: Linguística
Doutorado
Em junho de 2013, as tarifas de transporte público de São Paulo-SP foram reajustadas. Esse
aumento fez eclodir as manifestações de rua chamadas “Jornadas de Junho”. Inicialmente
organizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), essas manifestações se espalharam por todo o
País. Em março de 2015, depois de uma disputa presidencial acirrada, as ruas voltaram a ser
ocupadas por manifestantes. Só que dessa vez havia uma cisão entre apoiadores e opositores ao
governo da, então, presidente Dilma Rousseff. Esses dois capítulos recentes de nossa história
apontam fenômenos discursivos pertinentes às ciências sociais e da linguagem. Por isso, este
estudo os investiga a partir dos estudos da semiótica francesa (GREIMAS;COURTÉS, 2008;
FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001) e dos da filosofia bakhtiniana (BAKHTIN, 2010;
VOLÓCHINOV, 2016). Para tanto, selecionamos como objeto de estudo o ator manifestante de
rua, que é entendido, semioticamente, como o sujeito do fazer que foi tematicamente construído
ao longo de suas repercussões midiáticas. O corpus coletado para a análise desse ator foram as
publicações da mídia impressa de dois jornais de grande circulação, a saber: Folha de São Paulo
e O Estado de São Paulo. As edições selecionadas foram aquelas publicadas durante as
manifestações de rua dos dois fenômenos: os jornais de junho de 2013 e os de março de 2015.
Durante a análise, investigamos como as duas mídias construíram figura e tematicamente o ator
manifestante de rua. Como resultados parciais, compreendemos que, em junho de 2013, o ator
manifestante foi massivamente disforizado pelos dois jornais, enquanto que, em março de 2015, a
depender do posicionamento político adotado pelo manifestante, ele poderia ser euforizado ou
disforizado pelo periódico. Desmonta-se, assim, o paradigma da imparcialidade da esfera
jornalística, bem como se evidencia que o fazer jornalístico conota os fenômenos do mundo
natural a partir de sua própria percepção sensível e ideológica.
Palavras-chave: Semiótica; Manifestações de rua; Ator; Jornal; Ideologia.
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Práticas de Escrita de Gêneros Acadêmicos: Análise Argumentativa de Artigos
Científicos no Curso de Direito
Margibel Adriana de Oliveira ([email protected])
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
O objetivo principal deste trabalho é apresentar reflexões sobre a produção de textos acadêmicos,
especificamente, artigos científicos de alunos da graduação em Direito. A atuação como docente
nesse curso, desde 2004, tem proporcionado observar que ao produzirem os artigos, os alunos
apresentam significativa dificuldade referente à argumentação, especialmente, ao selecionarem os
tipos de argumentos e as fontes de pesquisa. Dessa forma, justifica-se o investimento no estudo,
visto que é recorrente a inserção de citações de textos jornalísticos, coletados aleatoriamente da
internet, como forma de consubstanciar a fundamentação teórica dos artigos, o que pode se
constituir em um problema, porque uma grande parte dos sites de onde são retirados os textos,
não possuem avaliação ou aprovação de um conselho editorial científico universitário. Desta
forma, o trabalho está inserido na linha de pesquisa da Retórica e Argumentação, a qual servirá
como base do estudo, uma vez que já foi desenvolvida no doutorado (2010-2014) e continua
como a principal área de pesquisa. Além disso, por se tratar de áreas que também são de
interesse da pesquisa ora em desenvolvimento, os discursos jurídico e jornalístico serão tratados
no referencial teórico, o qual tomará por base: Perelman & Olbrechts-Tyteca (2005 [1958]), Mosca
(2004 [1997]) e Grácio (2013; 2012), relativos à retórica e argumentação. Quanto ao discurso
jurídico utilizaremos: Petri (2005 [2000]) e Henriques (2008). Para o discurso jornalístico: Ferrari
(2010) e Kucinski (2004), além de Motta-Roth & Hendges (2010), no que diz respeito à produção
textual acadêmica. Como procedimento metodológico será utilizada a análise de conteúdo
(Moraes, 1999), de trechos de aproximadamente 100 artigos, os quais foram produzidos em 2016
e 2017, em uma instituição de ensino superior particular.
Palavras-chave: Argumentação; Discurso; Produção textual.
73
A teoria bakhtiniana e a escola francesa CLESTHIA/CEDISCOR na análise
comparativa discursiva
Maria Glushkova ([email protected])
Supervisora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O objetivo do presente trabalho é apresentar as ideias básicas, desenvolvidas no grupo de
pesquisa Diálogo (USP) e CLESTHIA-CEDISCOR da Université Paris III Sorbonne Nouvelle sobre
a análise comparativa discursiva entre as línguas e culturas diferentes. Este campo de pesquisa
ainda não está bastante desenvolvido no Brasil. São apresentadas as ideias das pesquisadoras
fransesas Sophie Moirand, Chantal Claudel e Patricia von Münchow. O conceito de tertium
comparationis, ou seja, a terceira parte de comparação será explicado. O conceito antigamente
era usado na área da retórica contrastiva e está tornando-se um conceito de grande importância
em todos os níveis de análise comparativa. O tertium comparationis será definido em função do
nível discursivo de análise, com base em conceitos que são comparáveis entre culturas e podem
ser aplicados em níveis variados da análise. O trabalho utiliza uma abordagem teórico-
metodológica para a análise comparativa de discursos no português do Brasil e em russo,
tomando como base as concepções bakhtinianas de enunciado, gênero discursivo, relações
dialógicas e estilo, presentes nas obras do Circulo, incluindo 'Marxismo e filosofía da linguagem:
problemas fundamentais do metodo sociológico na ciência da linguagem' de Valentín Volóchinov e
outros trabalhos da década de 1920, 'Estética da criação verbal', 'Os gêneros do discurso' de
Mikhail Bakhtin, entre outros. Durante o trabalho serão apresentados os exemplos de
comparação: análise comparativa da divulgação científica no Brasil e na Rússia, a análise das
entrevistas orais com cientistas na televisão e na rádio sobre a escassez de água, na qual foram
observadas duas abordagens distintas dos falantes em relação a seus públicos. No Brasil a
questão já configura um acontecimento discursivo, diferentemente do tom teórico que ela assume
na Rússia.
Palavras chave: Analise discursiva comparativa; Teoria bakhtiniana; Tertium comparationis;
Estudos comparativos.
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A proposta de Norman Fairclough e Philip Graham em “Marx as a critical discourse
analyst”
Mariana Gomes da Cruz ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Como parte de uma pesquisa de pós-graduação em desenvolvimento na Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH - USP), este trabalho
compreende a síntese de dois capítulos que constituem um aprofundamento no artigo “Marx as a
critical discourse analyst: the genesis of a critical method and its relevance to the critique of global
capital”, publicado em 2002 por Norman Fairclough e Philip Graham. Pretende-se apresentar as
principais ideias deste texto, considerando as noções apontadas como intersecção entre as ideias
marxistas e a Análise Crítica do Discurso (ACD) – sobretudo a abordagem faircloughiana, que se
coloca nesta posição comparativa ao propor tão diretamente um reconhecimento do marxismo na
ACD. Será necessário, no entanto, adotar uma postura crítica para compreender o que a
publicação deste artigo pode significar no atual momento de desenvolvimento dos estudos
discursivos nas ciências humanas, dada a forte influência pós-estruturalista e o embate entre esta
forma de pensamento desenvolvida na pós-modernidade e o materialismo histórico dialético. Para
isso, faremos uso das reflexões dos teóricos Alex Callinicos (1993) e Fredric Jameson (1992)
sobre a pós-modernidade e suas considerações sobre os problemas dessa corrente de
pensamento e seus efeitos na sociedade contemporânea. Espera-se que a discussão realizada
possa contribuir com o desenvolvimento de outras pesquisas que utilizam os pressupostos
faircloughianos para análise, ponderando a centralidade que este artigo pode vir a possuir no todo
da obra de Fairclough, indicando explicitamente o enfoque assumido no estabelecimento de
determinadas categorias presentes em sua metodologia, além de possibilitar uma reflexão sobre
os caminhos que estão sendo tomados pelos estudos discursivos.
Palavras-chave: marxismo; Análise Crítica do Discurso; materialismo; pós-estruturalismo.
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O enunciado político na imprensa: uma análise comparativa dos jornais O Estado
de S. Paulo e The Guardian
Mayara Feliciano Palma ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Iniciação Científica
Esta pesquisa de iniciação científica propõe uma análise comparativa do discurso na esfera
jornalística por meio da comparação entre as primeiras páginas de dois jornais impressos que
circulam em comunidades etnolinguísticas distintas: O Estado de S. Paulo, pertencente à
imprensa brasileira (mais especificamente, à imprensa paulista), e The Guardian, pertencente à
imprensa britânica. As capas escolhidas para análise referem-se a três eventos políticos do ano
de 2016: o impeachment da presidente brasileira Dilma Rousseff, a vitória de Donald Trump nas
eleições americanas e a morte do líder cubano Fidel Castro. O objetivo central deste trabalho é
identificar, descrever e interpretar as culturas discursivas possíveis nas esferas jornalísticas
brasileira e inglesa mediante a comparação do tratamento linguístico e imagético (ou verbo-visual)
dado a esses três eventos por cada um dos jornais em suas capas, levando também em
consideração a relação que essas escolhas exercem com os fatores socioculturais de cada país e
apontando suas possíveis diferenças e semelhanças. Para tanto, iremos nos apoiar em conceitos
desenvolvidos por Bakhtin e o Círculo, e presentes principalmente nas obras Marxismo e filosofia
da linguagem – Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem e Teoria
do Romance I – A Estilística, bem como nas ideias desenvolvidas pela Análise Comparativa de
Discursos do Cediscor.
Palavras-chave: Bakhtin; Imprensa; Análise comparativa.
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O elogio ao pintor: lugares-comuns de Quintiliano e Alberti no “Antiguidade da Arte
da Pintura”, de Félix da Costa Meesen, 1696
Monica Messias Silva ([email protected])
Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP)
Ao elogiar a Arte da Pintura a fim de conquistar subsídios para a construção de uma academia de
Artes em Porutgal, Félix da Costa Meesen, no tratado “Antiguidade da Arte da Pintura”, aplica
lugares-comuns de Quintiliano e Alberti, entre outras autoridades, a fim de descrever como deve
ser o bom pintor. Esses lugares-comuns de Quintiliano provêm do último dos doze livros que
compõem a sua “Instituição Oratória”, datada do século I d. C., quando o professor de retórica
romano caracteriza como deve ser um bom orador. Mais tarde, no século XV, Leon Battista Alberti
seguirá os mesmos procedimentos retóricos de Quintiliano, todavia para tratar do bom pintor. A
obra de Alberti é o que conhecemos hoje como a primeira doutrina sobre pintura, o “Da Pintura”.
Por conseguinte, Félix da Costa Meessen, ainda no final do século XVII, realiza operações na
chave do decoro de Quintiliano e Alberti, em que o discurso é convencionado de acordo com o
lugar-comum do artifex bonus, congruente para enaltecer tanto um bom orador quanto um bom
pintor. Trata-se de um locus retórico que é emulado e convertido em expressões comumente
usadas por tratadistas na composição de elogios. O tratado manuscrito de Félix da Costa Meesen
foi transcrito para o português atual em uma edição modernizada e, atualmente, encontra-se
disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP como Dissertação de Mestrado
defendida em dezembro de 2017 intitulada “Antiguidade da Arte da Pintura, sua nobreza, divino e
humano que a exercitou, e honras que os monarcas fizeram a seus artífices - Félix da Costa
Meesen - 1696: texto modernizado e análises”.
Palavras-chave: Retórica; Lugar-comum; Arte; Pintura; Elogio.
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Discurso e Situação de Rua
Natalia Penitente Andrade ([email protected])
Orientador: Décio Bessa da Costa
Iniciação Científica
Nosso propósito é o de examinar, partindo das pesquisas de C. Hill (2003) e Q. Skinner (1999) o
valor conferido por Hobbes à Retórica e à leitura da Bíblia na perspectiva da Política. Hobbes
procura persuadir o leitor com os recursos da Retórica, cujo uso ele criticara, enquanto mero
artifício dos parlamentares, mas ao mesmo tempo reconhecera seu valor para alcançar a
finalidade de seu discurso, isto é, alcançar a adesão do público leitor, visando convencê-lo de que
seus argumentos são baseados em premissas verdadeiras, que o Estado por ele concebido tem
uma base racional e que, além disso, suas teses são sustentadas pela Palavra de Deus, visto que
seu pensamento político era corroborado pela Bíblia. Procuraremos, pois, demonstrar como
Hobbes valorizou a Retórica e como encontrou uma nova chave hermenêutica da Bíblia, lendo-a
na perspectiva da Política e mostrando que teses como a da teoria do consentimento, da
soberania absoluta e da submissão da Religião ao Estado são corroboradas pelo livro sagrado.
Por um lado, Hobbes reconheceu a importância da Retórica para a exposição de argumentos que,
ainda que verdadeiros filosoficamente, não alcançavam o grande público devido à sua forma
erudita de exposição. Por outro, como a Bíblia era o livro por excelência na Inglaterra do Séc.
XVII, eles buscou persuadir seus leitores com referências constantes a ela, principalmente nas
obras Do Cidadão e Leviatã. Enfim, o trabalho se propõe a fazer uma leitura do uso da Retórica e
da Bíblia por Hobbes nos dois livros citados, o primeiro um texto erudito, cujas teses principais
foram retomadas com amplo recurso à Retórica no segundo, cujo título é endossado pelo texto de
Jó que aparece no alto de sua capa, o qual Hobbes interpretou em relação ao Estado ou Leviatã:
“Não há na Terra poder que se lhe compare”.
Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica; Situação de rua; Mudança; Práticas Sociais.
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A heterogeneidade constitutiva de Português: Linguagens
Nathalia Akemi Sato Mitsunari ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O trabalho a ser apresentado investiga como o discurso autoral, no capítulo de produção de texto
"A crítica" de Português Linguagens (2013), volume 2, prepara o aluno não apenas para eventuais
práticas linguísticas, mas também para a compreensão da realidade, sem rejeitar as exigências do
Exame Nacional do Ensino Médio e dos vestibulares mais prestigiados no país. O livro didático de
língua portuguesa em questão foi o mais vendido entre os aprovados pelo Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD) de 2015, e o capítulo “A crítica”, em especial, instigou-me, não só porque
trata do discurso do outro, mas também porque o faz através da linguista francesa Jacqueline
Authier-Revuz. Tomando o livro didático como gênero discursivo, foi analisado, neste estudo,
como o discurso autoral re(a)presenta seus objetos de ensino e o discurso do outro, levando-se
em consideração a avaliação apreciativa dos autores e editores em relação a uma esfera de
produção, a uma esfera de avaliação e a uma esfera de circulação. Resultado de estudos feitos
em Língua, Discurso e Ensino, em disciplina homônima ministrada pela Professora Doutora Maria
Inês Batista Campos, durante o primeiro semestre de 2017 na Universidade de São Paulo, este
trabalho se fundamenta na metodologia da teoria dialógica do discurso que evidencia a
produtividade do encontro entre pesquisas em gêneros do discurso e práticas de ensino. Como
resultado, constata-se a importância de, na elaboração de livros didáticos de língua portuguesa,
atentar-se não só à escolha dos objetos de ensino, mas também à re(a)presentação do discurso
do outro que, na heterogeneidade mostrada do discurso autoral, gera julgamentos de valor em
relação ao que seria um ensino de língua materna e a uma expectativa interlocutativa, pertinente à
pesquisa a ser feita durante meu mestrado.
Palavras-chave: Análise dialógica do discurso; Livro didático de língua portuguesa; Discurso
autoral; Escrita.
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Dos males que a ti vêm, abra, Pandora: abstrações sobre um estudo da
esquizofrenia sob a luz dos estudos linguísticos cognitivos
Paulo Henrique Franco Cavalheiro ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Aluno Especial
Sob um ponto de vista determinista, a esquizofrenia, condição que atinge cerca de 1% da
população mundial, é considerada a desestruturação psíquica no qual o indivíduo perde,
paulatinamente ou abruptamente, a noção de realidade, fazendo com que sua manifestação
interacional seja comprometida, ao menos sob os ditames sociais. Entretanto, de acordo com
Segundo (2017), a relação do discurso “deslocado” do indivíduo com os padrões e esquemas
mentais compartilhados socialmente (senso comum) parece ser resultado da relação corporal e
química com o mundo social que a pessoa interage. Tal percepção de estudos, oriunda da
linguística cognitiva, nos fornece suporte teórico adequado para que possamos compreender esse
fenômeno neural, como a relação nature x nurture, esquemas mentais e enação. Além disso,
como percebe Dijk (2006), é de interesse desse campo de estudos que se analisem esses
distúrbios, pois os esquemas mentais e modelos de contexto deficientes, causados pelo dano
neural ao indivíduo, ditam uma percepção atípica, que, uma vez sendo a cognição corporeada,
tende a propiciar a iminência de discursos que não engendram os esquemas contextuais previstos
pela sociedade em que se encontram, fazendo com que seu discurso não encontre com facilidade
um ouvinte que esteja disposto a traduzir seu discurso, o estigmatizando. Desse modo, nossa
ideia de projeto de doutoramento busca reunir ideias e analisar o discurso do indivíduo
esquizofrênico e, sob a luz das teorias da linguística cognitiva moderna, sobretudo nos apoiando
em Djik (2006), Evans (2006) e Hart (2014), buscarmos uma sólida base teórica que permita
compreender o indivíduo esquizofrênico e seu discurso, propiciando uma maior integração desses
na sociedade, estudo esse que tem como fim buscar uma maior aceitabilidade desses indivíduos
na sociedade, reduzindo a pressão social que o estigma produz.
Palavras-chave: discurso; cognição; esquizofrenia.
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“O ensino da adjunção adnominal na escola: reflexões críticas”
Sabrina Nascimento de Alencar ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Iniciação Científica
A proposta desta apresentação é examinar a forma como a classe sintática dos adjuntos
adnominais é abordada nos livros didáticos de gramática da Língua Portuguesa, compreendendo,
principalmente, o material usado para os últimos anos do Ensino Fundamental II e para os
primeiros do Ensino Médio. Com o objetivo de promover um estudo mais aprofundado e pertinente
conforme a análise exigida por cada setor de abordagem (o teórico e o prático), a estrutura divide-
se em duas partes: a que se debruça sobre as conceituações da classe sintática a partir de
diferentes perspectivas e a que se volta para os exercícios cuja finalidade é trabalhar o emprego
dos adjuntos no campo textual. Em ambas as ramificações, faz-se necessário o apoio em artigos
relativos à ancoragem nominal (Langacker, 2008; Isola-Lanzoni, 2017), à referenciação (Koch,
2014), e ao campo didático do ensino de gramática (Travaglia, 2013; Moura Neves, 2002) a fim de
sustentar consistentemente as conclusões extraídas a partir desse diagnóstico crítico e reflexivo
sobre o ensino de adjuntos adnominais em sala de aula. A questão da ancoragem e da
referenciação são fundamentais para apresentarem uma perspectiva mais profunda e ampla a
respeito de elementos envolvidos na esfera do processo de adjunção, cuja função está
relacionada, em primeira instância, ao estabelecimento de uma referência no universo discursivo,
o que envolve a construção de subtipos categoriais, o estabelecimento da extensão de conjuntos
e a identificação dos referentes em face do conhecimento enciclopédico, do conhecimento
partilhado e do cotexto. Tais finalidades são indispensáveis para a compreensão mútua, visto que
o adjunto adnominal é um dos mecanismos responsáveis por garantir a progressão referencial,
seja na escrituralidade, seja na oralidade. Esse processo, no entanto, não é integralmente
considerado e explorado pelo material didático do Ensino Básico, pois este prioriza um tratamento
mais simplificado, que deu margem a uma conceituação insatisfatória dos adjuntos – entendidos
como elementos acessórios – cuja verdadeira relevância para a linguagem é, portanto,
negligenciada. Esta pesquisa, como um todo, visa justamente a apresentar uma discussão e uma
proposta de sequência didática que recupere o valor semântico-pragmático e textual desse
componente gramatical.
Palavras-chave: ancoragem nominal; adjunto adnominal; referenciação; ensino; material
didático.
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Entre Memes e Campanhas: Análise de uma cadeia de gêneros digitais
Sergio Mikio Kobayashi ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Este trabalho apresentará uma perspectiva teórica sobre os Memes da internet e realizará uma
análise ilustrativa a partir desta formulação. Para isso, percorremos um caminho teórico das
noções básicas a respeito da constituição do Meme, desde sua concepção biológica até sua
inserção nos meios digitais, nos apoiando principalmente nas contribuições de Richard Dawkins
(1979) e Limor Shifman (2013). Em seguida, realizamos uma análise experimental do Meme
"Bela, Recatada e do Lar", observando a forma com que a retratação da mulher foi contraposta à
perspectiva apresentada pela reportagem, nesse sentido utilizaremos a perspectiva da Análise
Crítica do Discurso, apoiada em autores como Fairclough (2010) e Wodak (1999). O objetivo
principal deste trabalho, resultante de uma pesquisa de Mestrado em andamento, é traçar as
características ideológicas que sustentam cadeias de gênero formadas na internet, tomando como
centro o gênero Meme e os textos que, por um lado, emergem de sua instanciação e, por outro,
lhe servem de mote, de modo a compreender suas relações com os diversos movimentos sociais
(sejam eles digitais ou não) que dialogam durante o processo de ressignificação de uma
Campanha. Como resultados parciais que serão apresentados, pudemos observar como o
processo de concorrência e seleção garantem uma maior ou menor inserção social do que é
replicado, a depender do contexto sociocultural em que está inserido; assim como os
desdobramentos em outros textos estão correlacionados às estruturas sociais que
constantemente são debatidas nas redes digitais.
Palavras-Chave: Cadeia de Gênero, Campanha Digital, Memes.
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O ensino do francês por meio de gêneros textuais: o que dizem os professores
sobre suas sequências didáticas
Suélen Maria Rocha ([email protected])
Orientadora: Eliane Gouvêa Lousada
Programa de Pós-Graduação: Estudos linguísticos, literários e tradutológicos em francês
Doutorado
Dentro do ensino de francês como língua estrangeira (FLE) que adotamos, ou seja, através dos
gêneros textuais, na linha interacionista sociodiscursiva - ISD (Bronckart, 1999, 2006), as
pesquisas do Grupo Alter-Age CNPq foram até então, sobretudo, voltadas para a análise do
desenvolvimento das capacidades de linguagem dos alunos (Lousada; Rocha, 2014; Guimarães-
Santos, 2013; Melão, 2014; Rocha, 2014; Sumiya, 2016). Entretanto, falta investigar como a
perspectiva dos gêneros textuais chega efetivamente na sala de aula e como o professor se
apropria das ferramentas oferecidas pela engenharia didática (Dolz, 2016) para realizar seu
trabalho. O objetivo dessa pesquisa doutoral é analisar o desenvolvimento do professor ao
elaborar e aplicar os seus materiais didáticos para o ensino do FLE dentro de um contexto
formativo. A partir dos métodos de análise do trabalho da Clínica e da Ergonomia da Atividade
(Clot, 1999; Faita, 2004), realizamos entrevistas de auto confrontações simples e cruzada (Clot et
al, 2000) com os professores participantes da Formação piloto, realizada em 2017, intitulada
“Ensinar francês a partir de gêneros textuais”. Após uma análise preliminar da infraestrutura geral
das transcrições, reconhecemos os conteúdos temáticos mobilizados na interação (Bronckart,
1999). Assim, podemos dividi-los em dois grupos: dilemas relacionados ao trabalho do professor
de FLE, como a gestão dos turnos de fala dos alunos, a comanda das atividades, a coerção
temporal, a personalidade dos alunos; bem como dilemas relacionados ao trabalho com os
gêneros textuais proposto: a dinâmica ou a falta dela na atividade de produção escrita, o próprio
objeto de ensino a escolha do texto da sequência didática. Para esta comunicação, apresentarei
os resultados preliminares da análise de um excerto da transcrição da entrevista de auto
confrontação cruzada, procurando delinear a progressão temática em torno do conflito vivido por
uma das professoras com relação a produção escrita dos alunos
Palavras-chave: interacionismo sócio discursivo; formação; gêneros textuais, língua estrangeira.
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As implicações de Humboldt na filosofia da linguagem de Volóchinov
Taciane Domingues ([email protected])
Orientadora: Sheila Grillo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Resumo: esta pesquisa de mestrado é filiada ao programa em Filologia e Língua Portuguesa do
DLCV-FFLCH/USP da linha “Teorias do Discurso”. Debruça-se sobre a Filosofia da Linguagem do
Círculo de Bakhtin (anos 1920), especificamente sobre a obra de Valentin N. Volóchinov Marxismo
e Filosofia da Linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem (MFL), de 1929 – retraduzida diretamente do original russo pelas professoras Sheila
Grillo (USP) e Ekaterina Volkova Américo (UFF). Nesta obra, o alemão Wilhelm von Humboldt,
considerado um dos autores de maior influência no desenvolvimento da linguística russa, é
também um dos principais interlocutores de Volóchinov na constituição da filosofia marxista da
linguagem; as interrelações entre ambos são o objeto de nossa pesquisa. O objetivo desta
comunicação é dar a conhecer o escopo de nosso trabalho, ainda em fase inicial, que compara
ambas teorias sobre o discurso: a idealista alemã de Humboldt e a marxista de Volóchinov.
Metodologia: a) discorrer sobre os conceitos principais da filosofia humboldtiana e, a partir desses
conceitos, clarificar as relações entre pensamento e língua no idealismo; b) discorrer sobre os
conceitos principais da filosofia marxista e, da mesma forma, clarificar as relações entre
pensamento e língua no marxismo do Círculo e c) comparar ambos autores segundo os
resultados anteriores. Para discorrer sobre Humboldt, recorreremos à sua fortuna crítica, assim
como a ensaios do linguista no original alemão. Da mesma forma, o trabalho sobre o Círculo se
dará com apoio em sua fortuna crítica, além de traduções do russo para o português e o inglês.
Os resultados previstos provavelmente gravitarão em torno dos conceitos de dialética e
dialogismo de ambos autores, palavras-chave que marcaram nossa pesquisa de Iniciação
Científica sobre MFL e outro idealista (seguidor de Humboldt), Karl Vossler.
Palavras-chave: Humboldt; Volóchinov; Círculo de Bakhtin; Filosofia da Linguagem; Discurso.
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Os intertextos no filme As horas: uma análise sincrética
Taís de Oliveira ([email protected])
Orientadora: Elizabeth Harkot de La Taille
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Doutorado
A partir do conceito de intertextualidade conforme estudado na área da teoria semiótica discursiva
(GREIMAS; COURTÉS, 2008 [1979] & GREIMAS; COURTÉS, 1986), analisamos, neste trabalho,
o filme As horas (orig. The Hours, dir. Stephen Daldry, 2002). Mostramos, em nossa análise, como
as diversas linguagens sincretizadas no filme trabalham em conjunto para trazer à tona os
intertextos nele presentes e construir os efeitos de sentido em seu espectador. Nossas principais
bases teóricas foram Fiorin (2003), texto base para o estudo da intertextualidade em textos
verbais neste seio teórico, e Dondero (2209), que estuda, na contemporaneidade, a
intertextualidade em textos visuais. Aqui, encontramos dois conceitos de grande valia para esta
análise: o de intertextualidade genérica (aquela entre uma obra e um gênero) e o de
intertextualidade intrasserial (aquela entre obras de uma mesma série). A primeira aparece em As
horas com relação ao gênero natureza morta. Já a segunda, adaptamos para o que chamamos de
simulacro de intertextualidade intrafílmica – ‘simulacro’ já que as três histórias mostradas no filme
não constituem textos independentes, e por isso essa relação não pode ser considerada de fato
intertextual. Trata-se de um dos efeitos de sentido do filme: é como se o espectador estivesse
diante de três narrativas distintas que se intercalam e se entrelaçam. Propomos, também, em prol
da completude da análise, novas categorias intertextuais, como a actorial e a biográfica, aquela
relativa à construção das personagens e esta relativa à inspiração de nosso corpus na biografia
da escritora Virginia Woolf; as duas estando estritamente relacionadas uma à outra, já que há
várias personagens do filme baseadas em pessoas que viveram ao redor da escritora inglesa.
PALAVRAS-CHAVE: intertextualidade; sincretismo; cinema; semiótica.
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JOGOS EDUCACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS E ANTIBULLYING: VALORIZAÇÃO
DA DIVERSIDADE OU APAGAMENTO DAS DIFERENÇAS?
Talitha Paratela ([email protected])
Orientadora: Maria José Coracini
Programa de Pós-Graduação: Linguística Aplicada (UNICAMP)
Mestrado
O estabelecimento das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, em 2012, e
do Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), em 2015, promoveram mudanças
no conteúdo tratado nas salas de aula brasileiras. Além da inserção dos temas transversais nas
disciplinas ministradas na rede pública de ensino, essas medidas determinam a confecção de
ferramentas didáticas em defesa dos direitos humanos. Em vista disso, à luz da teoria discursivo-
desconstrutiva, pensada por Maria José Coracini e pautada nos escritos de Michel Foucault,
Jacques Derrida, Sigmund Freud e Jacques Lacan, analisaremos dois jogos infantis paradidáticos:
um é a cartilha Chega de Bullying, produzida pelo Cartoon Network, em parceria com a Secretaria
de Educação do Estado de São Paulo, a Plan International e a Organização dos Estados Ibero-
americanos (OEI); o outro é o Jogo da Igualdade e das Diferenças, desenvolvido pela ONG
Recimam e pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Partindo do pressuposto de que
brincadeiras associam-se a representações do social e traços da cultura na qual estão inscritas,
trabalhamos com a hipótese de que as atividades lúdicas, apesar de visarem à pluralidade,
recorrem ao pensamento dicotômico, homogeneizando e apagando as singularidades dos sujeitos
representados. Nosso objetivo é contribuir com os estudos sobre linguagem, sujeito e identidade,
pensar na forma com que a concepção de educação para a diversidade influencia a elaboração de
recursos utilizados como apoio aos livros didáticos obrigatórios, verificar como os jogos em
questão mobilizam representações sociais para a constituição identitária, e refletir sobre o
discurso que fundamenta a chamada educação em direitos humanos. Nesta conferência, vamos
expor os resultados parciais de nossa investigação e relacioná-los à temática do mal-estar na
cultura, presente na obra freudiana.
Palavras-chave: Bullying. Direitos Humanos. Paradidáticos. Mal-estar.
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Olhares cognitivo-funcionais sobre o ensino de vozes verbais na escola: desafios e
propostas
Thabata Dias Haynal ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Iniciação Científica
Através da perspectiva da linguística cognitivo-funcional e partindo das considerações de
Lemmens (1995, 2012), Neves (2002), Almeida (2003) e Segundo (2017) foi elaborada uma
proposta de transposição didática partindo do conteúdo linguístico acadêmico referente às vozes
verbais para um possível uso nas aulas de gramática no Ensino Fundamental II e Médio. Muito se
discute sobre a necessidade de uma nova abordagem gramatical escolar, no entanto, as reflexões
se limitam, muitas vezes, a exibir os problemas; através deste trabalho buscamos elaborar uma
proposta de intervenção prática tendo como base um dos conteúdos sintático-semânticos mais
negligenciados pela gramática normativa, as vozes verbais. O projeto está em sua etapa final: na
elaboração de um material didático teoricamente embasado e factível, pensado para um uso real
em sala de aula. O objetivo desta comunicação é trazer as questões levantadas durante o
processo, bem como suas dificuldades e objetivos alcançados na conclusão deste projeto de
iniciação científica. O processo foi constituído a partir da seleção do corpus teórico, posterior
análise crítica de materiais didáticos atualmente usados em ambientes escolares, tais como
Abaurre, Abaurre e Pontara (2012) e Cereja (2008), e conseguinte construção e produção de um
material didático que aborde o tema das vozes verbais sob o olhar da linguística cognitivo-
funcional. Apresentaremos o material em sua fase final de elaboração e ele será posto em
discussão para que, em diálogo, possamos pensar em novos caminhos para o ensino de
gramática escolar.
Palavras-chave: vozes verbais, ensino, materiais didáticos, transposição didática.
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O gênero gramatical no Português Brasileiro a partir da Linguística Funcional
Centrada no Uso: estudos preliminares
Vivian de Ulhôa Cintra Bernardo ([email protected])
Orientador: Paulo Chagas de Souza
Programa de Pós-Graduação: Semiótica e Linguística Geral
Mestrado
O gênero gramatical no Português Brasileiro (PB) pode ser categorizado entre o “marcado” e o
“não marcado”, nos termos de Câmara Jr (1966), ou entre “feminino” e “masculino”,
respectivamente. A primeira categorização implica que os sufixos –o e –a de palavras como
‘menino’ ou ‘aluna’, por exemplo, não seriam marcas de gênero, mas sim vogais temáticas. No
entanto, procuramos investigar se os falantes identificam, em determinadas palavras, gêneros
gramaticais que, então, relacionam a gêneros sociais, independentemente de considerarmos se,
na teoria gramatical, trata-se de um gênero marcado e um não marcado ou de duas classes de
gêneros diferentes (feminino e masculino). Sendo assim, o fato de o gênero masculino coincidir
com a ideia de “genérico”, no PB, talvez sofra influência de uma possível associação, por parte
dos falantes da língua, dos gêneros gramaticais a gêneros biológico-sociais. Para compreender a
existência e o uso desse masculino genérico no PB, parece-nos relevante considerar alguns
fenômenos comumente estudados pela vertente da Linguística Funcional Centrada no Uso,
conforme os escritos de Bybee (2010), Langacker (2008) e Lakoff & Johnson (1987). Entre esses
fenômenos, interessam-nos, principalmente, a metáfora e aqueles caracterizados por Bybee
(2010) como sendo de domínio geral, que impactam a configuração da gramática — em especial,
categorização, associação transmodal, memória enriquecida, analogização. Nesta comunicação,
pretendemos apresentar, como resultados parciais, que falantes tendem a não reconhecer que o
masculino genérico inclui seres femininos na mesma proporção que reconhecem a inclusão de
seres masculinos. Por fim, discutiremos se os usos (e, por extensão, as compreensões que os
falantes fazem deles) da marcação de gênero no PB mostram-se influenciados por pressões
metafóricas, ou ainda por outros processos cognitivos, e como isso parece ocorrer.
Palavras-chave: gênero gramatical; morfossintaxe; Linguística Funcional Centrada no Uso.
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O desenvolvimento da competência leitora em aulas de língua materna: análise de
réplicas de leitura por meio de produção escrita
Viviane Dinês de Oliveira Ribeiro Bartho ([email protected])
Orientadora: Norma Seltzer Goldstein
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Uma escola democrática tem como objetivo principal o desenvolvimento da cidadania, a qual
pressupõe a competência leitora: capacidade de realizar uma leitura crítica, de estabelecer
verdadeiras réplicas aos textos lidos. Nas aulas de língua materna, quando é solicitada aos alunos
a leitura de um texto e, na sequência, uma produção escrita que permita avaliar o processo de
leitura, são observados, comumente, dois fenômenos: a) reprodução truncada das ideias do autor
dos textos lidos: indícios de compreensão incompleta ou mera retomada parcial de sentidos; e b)
emissão de opinião pessoal, que se limita à supervalorização da própria intuição, em detrimento
das ideias apresentadas pelo autor. Embora as relações de alteridade e a dialogia sejam inerentes
à leitura e a toda produção de linguagem humana, esses processos podem, sob uma postura
monológica do sujeito, serem apagados no processo de leitura cuja verificação revela a ocorrência
de efeitos monofônicos (BARROS, 2011), e não, polifônicos, caso em que a pluralidade das vozes
sociais em interação seria ouvida / lida. A produção de textos resultantes da leitura, pela tendência
monofônica, revela a dificuldade dos alunos em realizar a leitura como uma forma de estabelecer
verdadeiras réplicas. O objetivo, neste momento de nossa pesquisa de doutorado, foi analisar, sob
pressupostos teóricos de Bakhtin em interface com conceitos da Análise do Discurso Francesa,
produções de texto de alunos da uma unidade de ensino público federal. Embora todo texto possa
ser considerado uma réplica, muitas vezes, essa réplica pode não ser satisfatória a uma formação
autônoma e crítica. Apresentaremos resultados iniciais na forma de indícios que apontam dois
tipos de textos: 1) os que podem ser considerados verdadeiras réplicas – ou, ao menos, réplicas
razoáveis, que demonstram leitura dialógica; 2) os que não podem ser considerados réplicas, por
não revelarem uma leitura suficientemente crítica por parte dos respectivos autores.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Língua Materna; Leitura crítica; Dialogia; Efeitos de monofonia e
de polifonia; Réplicas discursivas.
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Gênero e Empatia no YouTube: desafios teórico-metodológicos
Winola Weiss ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
Programa de Pós-Graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O objetivo deste trabalho é tecer considerações iniciais sobre uma pesquisa de mestrado sobre
gestos de empatia/antagonismo (CAMERON, 2013; GONÇALVES-SEGUNDO; RIBEIRO, 2016)
em vídeos do YouTube marcados por especificidades de gênero, isto é, compostos
exclusivamente por homens ou exclusivamente por mulheres. O foco da pesquisa recairá sobre as
diferentes estratégias linguístico-discursivas de empatia/antagonismo articuladas pelos atores
sociais entre si e para com o público. A investigação se apoia nas discussões da teoria feminista
sobre masculinidades e feminilidades, buscando entender como certos youtubers desafiam ou
mantêm comportamentos estereotipados entre si e para com o público e como representam
pessoas cisgêneras do gênero oposto. No caso dos vídeos de mulheres, também interessa
ponderar sobre a aposta ética da sororidade: a eliminação da misoginia internalizada e a estética
da gentileza (LAGARDE, 2001). A opção pelo corpus audiovisual presente no YouTube se dá pela
proeminência dessa rede social para a exposição de opiniões, disseminação de informações e
notícias, entretenimento e ativismo. Assim, é possível encontrar os mais diversos discursos acerca
de homens e mulheres, bem como sobre equidade de gênero, emancipação das mulheres e as
táticas necessárias para tal empreendimento. Será discutida, ainda, a relevância dos
pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva (FALCONE, 2008; FAUCONNIER, 1999; LAKOFF,
1980), da Linguística Sistêmico-Funcional (MARTIN; WHITE, 2005) e da Análise Crítica do
Discurso (FAIRCLOUGH, 2003) para a investigação dos gestos de empatia/antagonismo. Essa
combinação é especialmente profícua porque permite a depreensão de padrões ideacionais,
interacionais e estilísticos tanto do contexto social e discursivo, como também dos âmbitos
linguístico e cognitivo, configurando a tríade cognição-discurso-sociedade, essencial para esta
investigação.
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso; Empatia; Feminismo; Linguística Cognitiva;
Linguística Sistêmico-Funcional.
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O uso da metonímia no Fédon de Platão
Yasmin Jucksch ([email protected])
Orientador: Roberto Bolzani Filho
Programa de Pós-Graduação: Filosofia
Doutorado
O Fédon é um diálogo platônico sui generis no que se refere à abordagem da natureza da alma
por Platão. A despeito da complexidade anímica exibida em outros diálogos (p. ex. República,
Fedro e Timeu), no Fédon encontramos uma alma aparentemente simples e uniforme. No entanto,
é possível supor que este deslocamento de sentidos não se dá como uma mudança conceitual,
mas como um expediente discursivo útil aos propósitos específicos do Fédon. Se nos outros
diálogos o escopo central era a descrição da natureza da alma e das relações entre suas partes,
agora, no Fédon, o problema gira em torno do modo como a alma se relaciona com tudo que seja
corpóreo. Desse modo, Platão privilegia agora a peleja entre alma (psyché) e o corpo (sôma)
buscando iluminar os entraves gnosiológicos, éticos e afetivos que o corpo impõe à alma. No
entanto, uma análise mais detida nos revela que o corpo, no Fédon, possui os mesmos desejos e
impulsos das partes irracionais indicadas nos outros diálogos, e que o papel da alma no Fédon
corresponde ao da parte racional nos textos citados. Isso equivaleria a uma transfiguração
discursiva operada através do recurso da metonímia de forma bastante radical, não só porque o
termo sôma parece referir-se aos desejos e repulsas individuais provenientes de diferentes partes
da alma, mas porque parece referir-se também de forma mais ampla a tudo que seja fenomênico
ou corpóreo (temporal, mutante, sensível). Desejamos portanto argumentar a favor da leitura da
dicotomia entre sôma e psyché como uma metonímia usada perspicazmente por Platão para
referir-se ao conflito entre, de um lado, os desejos das partes irracionais e os fenômenos por elas
desejados ou confrontados, e, de outro, a inteligência iluminada que deseja voltar-se para o ser.
Palavras-chave: metonímia, Platão, discurso, Fédon.