caderno c: di cavalcanti como você nunca viu

1
DI CAVALCANTI como você nunca viu Mulher e Gato: aquarela sobre cartão (1927-29) O óleo sobre eucatex Duas Mulheres (1935) O óleo sobre tela Bailarina de Circo (1938) Fábio Trindade DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Ter a oportunidade de ver quadros inéditos de Di Cavalcanti é algo que apenas uma cidade como São Paulo pode oferecer. Com um detalhe importante ainda: sem pagar nada por isso. A capital paulista pode ter diversos problemas e contratempos, mas quando o assunto é arte, felizmente o público está bem servido. E o assunto aqui não são apenas os grandes museus do município, bastante conhecidos do brasileiro. Muitas vezes, as preciosidades estão atrás de portas que, para um cidadão relativamente distraído, sequer existem. Não dá para dizer que a entrada da Galeria Almeida e Dale, no Jardim Paulista, é tão discreta assim, até porque o nome do artista homenageado está escrito em letras garrafais na fachada do local. Porém, para chegar até ela, é preciso sair do incessante burburinho da Av. Paulista, descer quase dois quilômetros pela Alameda Joaquim Eugênio de Lima e virar à esquerda na Rua Caconde, uma região já bastante residencial. É aqui, entretanto, onde estão nada menos que 50 obras de Di Cavalcanti, entre óleos, aquarelas e guache, que podem ser visitadas gratuitamente até 28 de maio. Com o nome Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos,a mostra é composta por quadros de coleções particulares, muitos deles nunca tendo sido expostos antes. “Há obras realmente espetaculares, que nunca foram vistas, porque nós construímos exposições apenas com obras de acervos particulares. Então é uma oportunidade única para serem vistas”, explica Antônio Almeida, sócio da galeria. Ele cita como exemplo o óleo sobre tela Três Mulheres, de 1938. “A obra foi um presente de casamento e ficou na mesma família por 50 anos. Ela veio do Rio de Janeiro e essa é a primeira vez que ela compõe uma mostra. Ou seja, é inédita.” Já o quadro Menina com Flores e Cavalo Rosa, de 1942-43, segundo o sócio, pouquíssimas vezes fez parte de uma exposição aberta e há anos não era mostrado ao público. O mesmo acontece com A Praia, de 1944, que havia sido exposto pela última vez há 20 anos. Outra obra inédita é Dengosa, de 1938, que pertence a Airton Queiroz, da Fundação Edson Queiroz. “Trata-se de uma das maiores instituições brasileiras, muito forte principalmente no Nordeste. É uma referência, com um acervo espetacular, importante para a cultura brasileira de forma única. É um presente ter essa e outras obras aqui.” Com curadoria de Denise Mattar, a exposição reúne obras produzidas pelo artista carioca entre os anos de 1925 e 1949, período que marca o amadurecimento, transformação e virada na obra de Di Cavalcanti. Ele tinha acabado de voltar de sua primeira viagem à Europa, tendo morado por dois anos em Paris e visitado a Itália para ver obras de Tiziano, Michelangelo e Da Vinci, entre outros. Segundo o próprio Di, como declarou em diversas ocasiões, a viagem criou nele “uma nova natureza, e o meu amor à Europa transformou meu amor à vida em amor a tudo que é civilizado. E como civilizado comecei a conhecer a minha terra.” “Este é o período que contempla as consideradas obras-primas dele, então optamos por ficar com um recorte pequeno. Até porque ele produziu muito, produziu dos anos 20 aos 70, então montar uma exposição muito grande poderia confundir”, explica Almeida. Neste período de 24 anos, é possível ver os principais temas da obra de Di Cavalcanti: pessoas comuns, suburbanos, em lugares como favelas, botecos, docas, bordéis, festas populares e, claro, muitas mulheres, mulatas, negras, brancas, morenas, loiras, ricas e pobres. Trabalhos que trabalham opostos, como o lirismo e a sensualidade, o real e o fantástico. O espaço Segundo Antônio Almeida, o objetivo foi transformar a galeria, que tem 22 anos e está há 15 no local atual, num espaço cultural relevante para São Paulo. “Nós participamos de todas as feiras no Brasil e vimos que tinha uma lacuna muito grande no mercado de arte. A arte moderna estava esquecida, não se fazia mais grandes exposições. Então nos últimos cincos anos decidimos abrir a galeria para fazer essas exposições, tanto de arte moderna até de arte concreta, como já fizemos do Volpi, por exemplo.” Exatamente por isso, as mostras são construídas com obras de acervos particulares, para que não tenha nenhuma referência com venda. “O dia a dia do comércio nós já fazemos. E hoje em dia fazer uma exposição de Di Cavalcanti para venda é praticamente impossível, se for procurar no mercado deve ter quatro ou cinco a venda. Então fazendo com coleções particulares e gratuitamente porque queríamos que o público tivesse acesso e que a galeria se tornasse mais um espaço cultural. Nosso trabalho é fomentar a arte.” Lançamento Como parte da exposição e como um presente ao legado de Di Cavalcanti, a Galeria Almeida e Dale lança no dia 8 de abril, durante a SP-Arte, o livro Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos, que conta com mais de 200 obras do artista, em publicação da Editora Capivara. Também com curadoria de Denise Mattar e consultoria de Elisabeth Di Cavalcanti, a edição resgata o trabalho e a importância do artista porque, segundo os organizadores, embora sendo um dos mais conhecidos e importantes artistas brasileiros, Di Cavalcanti tem poucas publicações sobre seu trabalho. A maior parte delas realizada há anos e esgotadas. Pé na estrada EXPOSIÇÃO na Galeria Almeida e Dale, na região dos Jar- dins, em São Paulo, reúne 50 trabalhos do artista carioca pertencentes a coleções PARTICULARES; muitas dessas obras nunca foram vistas antes pelo PÚBLICO O quê: Exposição Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos Quando: Até 28 de maio, de segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados das 10h às 14h Onde: Galeria Almeida e Dale (R. Caconde, 152, Jardim Paulista, São Paulo, fone: 11 3887-7130) Quanto: Entrada franca O quê: Lançamento do livro Di Calvalcanti - Conquistador de Lirismos Quando: 8 de abril, entre 17h e 18h Onde: Livraria Blooks na SP-Arte (Parque Ibirapuera, Av. Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, São Paulo) Quanto: R$ 40 (inteira, para entrada na feira) Fábio Trindade/AAN Visitante observa uma das 50 obras de Di Cavalcanti expostas na galeria AGENDE-SE Campinas SEXTA-FEIRA 1º / 04 / 2016 CORREIO POPULAR

Upload: fabio-trindade

Post on 30-Jul-2016

226 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Caderno C: Di Cavalcanti Como Você Nunca Viu

DI CAVALCANTIcomo você nunca viu

Mulhere Gato:aquarelasobrecartão(1927-29)

O óleo sobre eucatexDuas Mulheres (1935)

O óleosobre telaBailarina

de Circo(1938)

Fábio TrindadeDA AGÊNCIA ANHANGUERA

[email protected]

Ter a oportunidade de verquadros inéditos de DiCavalcanti é algo que apenasuma cidade como São Paulopode oferecer. Com umdetalhe importante ainda: sempagar nada por isso. A capitalpaulista pode ter diversosproblemas e contratempos,mas quando o assunto é arte,felizmente o público está bemservido. E o assunto aqui nãosão apenas os grandes museusdo município, bastanteconhecidos do brasileiro.Muitas vezes, as preciosidadesestão atrás de portas que, paraum cidadão relativamentedistraído, sequer existem.

Não dá para dizer que aentrada da Galeria Almeida eDale, no Jardim Paulista, é tãodiscreta assim, até porque onome do artista homenageadoestá escrito em letras garrafaisna fachada do local. Porém,para chegar até ela, é precisosair do incessante burburinhoda Av. Paulista, descer quasedois quilômetros pela AlamedaJoaquim Eugênio de Lima evirar à esquerda na RuaCaconde, uma região jábastante residencial.

É aqui, entretanto, ondeestão nada menos que 50obras de Di Cavalcanti, entreóleos, aquarelas e guache, quepodem ser visitadasgratuitamente até 28 de maio.Com o nome Di Cavalcanti -Conquistador de Lirismos, amostra é composta porquadros de coleçõesparticulares, muitos delesnunca tendo sido expostosantes.

“Há obras realmenteespetaculares, que nuncaforam vistas, porque nósconstruímos exposiçõesapenas com obras de acervosparticulares. Então é umaoportunidade única paraserem vistas”, explica AntônioAlmeida, sócio da galeria.

Ele cita como exemplo oóleo sobre tela Três Mulheres,de 1938. “A obra foi umpresente de casamento e ficou

na mesma família por 50 anos.Ela veio do Rio de Janeiro eessa é a primeira vez que elacompõe uma mostra. Ou seja,é inédita.” Já o quadro Meninacom Flores e Cavalo Rosa, de1942-43, segundo o sócio,pouquíssimas vezes fez partede uma exposição aberta e háanos não era mostrado aopúblico. O mesmo acontececom A Praia, de 1944, quehavia sido exposto pela últimavez há 20 anos.

Outra obra inédita éDengosa, de 1938, que pertencea Airton Queiroz, da FundaçãoEdson Queiroz. “Trata-se deuma das maiores instituiçõesbrasileiras, muito forteprincipalmente no Nordeste. Éuma referência, com umacervo espetacular, importantepara a cultura brasileira deforma única. É um presente teressa e outras obras aqui.”

Com curadoria de DeniseMattar, a exposição reúneobras produzidas pelo artistacarioca entre os anos de 1925 e1949, período que marca oamadurecimento,transformação e virada na obrade Di Cavalcanti. Ele tinhaacabado de voltar de suaprimeira viagem à Europa,tendo morado por dois anosem Paris e visitado a Itália paraver obras de Tiziano,Michelangelo e Da Vinci, entreoutros. Segundo o próprio Di,como declarou em diversasocasiões, a viagem criou nele“uma nova natureza, e o meuamor à Europa transformoumeu amor à vida em amor atudo que é civilizado. E comocivilizado comecei a conhecera minha terra.”

“Este é o período quecontempla as consideradasobras-primas dele, então

optamos por ficar com umrecorte pequeno. Até porqueele produziu muito, produziudos anos 20 aos 70, entãomontar uma exposição muitogrande poderia confundir”,explica Almeida.

Neste período de 24 anos, épossível ver os principaistemas da obra de DiCavalcanti: pessoas comuns,suburbanos, em lugares comofavelas, botecos, docas,bordéis, festas populares e,claro, muitas mulheres,mulatas, negras, brancas,morenas, loiras, ricas e pobres.Trabalhos que trabalhamopostos, como o lirismo e asensualidade, o real e ofantástico.

O espaçoSegundo Antônio Almeida, oobjetivo foi transformar agaleria, que tem 22 anos e está

há 15 no local atual, numespaço cultural relevante paraSão Paulo. “Nós participamosde todas as feiras no Brasil evimos que tinha uma lacunamuito grande no mercado dearte. A arte moderna estavaesquecida, não se fazia maisgrandes exposições. Então nosúltimos cincos anos decidimosabrir a galeria para fazer essasexposições, tanto de artemoderna até de arte concreta,como já fizemos do Volpi, porexemplo.”

Exatamente por isso, asmostras são construídas comobras de acervos particulares,para que não tenha nenhumareferência com venda. “O dia adia do comércio nós jáfazemos. E hoje em dia fazeruma exposição de DiCavalcanti para venda épraticamente impossível, se forprocurar no mercado deve ter

quatro ou cinco a venda. Entãofazendo com coleçõesparticulares e gratuitamenteporque queríamos que opúblico tivesse acesso e que agaleria se tornasse mais umespaço cultural. Nossotrabalho é fomentar a arte.”

LançamentoComo parte da exposição ecomo um presente ao legadode Di Cavalcanti, a GaleriaAlmeida e Dale lança no dia 8de abril, durante a SP-Arte, olivro Di Cavalcanti -Conquistador de Lirismos, queconta com mais de 200 obrasdo artista, em publicação daEditora Capivara. Tambémcom curadoria de DeniseMattar e consultoria deElisabeth Di Cavalcanti, aedição resgata o trabalho e aimportância do artista porque,segundo os organizadores,embora sendo um dos maisconhecidos e importantesartistas brasileiros, DiCavalcanti tem poucaspublicações sobre seutrabalho. A maior parte delasrealizada há anos e esgotadas.

Pé naestrada

EXPOSIÇÃO na Galeria Almeida e Dale, na região dos Jar-dins, em São Paulo, reúne 50 trabalhos do artista cariocapertencentes a coleções PARTICULARES; muitas dessasobras nunca foram vistas antes pelo PÚBLICO

� O quê:Exposição Di Cavalcanti -Conquistador de Lirismos

Quando: Até 28 de maio, desegunda a sexta, das 10h às 18h;sábados das 10h às 14hOnde: Galeria Almeida e Dale(R. Caconde, 152, JardimPaulista, São Paulo, fone: 113887-7130)Quanto: Entrada franca

� O quê:Lançamento do livro DiCalvalcanti - Conquistadorde LirismosQuando: 8 de abril, entre 17h e18hOnde: Livraria Blooks naSP-Arte (Parque Ibirapuera, Av.Pedro Álvares Cabral, 1.301,Ibirapuera, São Paulo)Quanto: R$ 40 (inteira, paraentrada na feira)

Fábio Trindade/AAN

Visitante observauma das 50 obras de

Di Cavalcantiexpostas na galeria

AGENDE-SE

CampinasSEXTA-FEIRA 1º / 04 / 2016

CORREIO POPULAR