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Arqueologia Subaquática 1 Arqueologia Subaquática O que é a arqueologia subaquática? Está interessado em navios e assun- tos relacionados com navegação, primeiros povoados ribeirinhos, História e Arqueologia? Já pensou em considerar o mundo da arque- ologia subaquática como uma carreira profissional, uma actividade amadora, ou simplesmente como um prazer? Como considera o mundo da Arqueologia Subaquática? Uma carreira profissional, uma actividade amadora, ou simplesmente como uma actividade lúdica? Cobrindo quase três quartos do nosso planeta, a água é a fonte de toda a vida na Terra. O transporte em meio aquático permitiu a exploração de uma parte importante do planeta, aproximou povos e facilitou a ascen- são e a queda de grandes impérios. Sob a superfície dos nossos oceanos, mares, lagos, rios e terrenos alagados jazem os vestígios arqueológicos do passado, preservados nas linhas costeiras pré-históricas e históricas, em naufrágios, cidades submersas, obras portuárias ou através de outros tipos de testemunhos das actividades dos nossos antepassados, que rece- bem o nome de sítios arqueológicos. A arqueologia é a ciência que estu- da as sociedades passadas através da análise e interpretação de seus restos materiais (cultura mate- rial) nos seus devidos contextos. O objectivo da Arqueologia é produzir conhecimento sobre culturas e comportamentos huma- nos do passado, através da inves- tigação sistemática de artefactos, estruturas, paisagens, entre outros vestígios da acção antrópica passa- da. A Arqueologia subaquática leva este estudo a um ambiente especial, que contem desafios particulares e fornece resultados únicos aos investigadores. A maioria dos arqueólogos subaquá- ticos especializa-se em Arqueologia Náutica: o estudo da construção e uso de todos os tipos de embarcações e navios, históricos ou pré-históri- cos. Para estes especialistas os sítios arqueológicos de naufrágios são o foco principal das investigações. Mas há outros tipos de sítios arque- ológicos subaquáticos, tais como sítios pré-históricos inundados após o fim da última glaciação, pântanos ou lagos onde pessoas depositaram oferendas ou enterraram os seus mortos, cidades e zonas portuárias inundadas devido a variações do nível do mar decorrentes de actividades sísmicas, habitações e sítios agrícolas ou industriais situados ao longo das margens de rios, baías e lagos, entre outros. Os arqueólogos subaquáticos usam diferentes fontes para localizar esses sítios arqueológicos. No caso dos locais de naufrágios, as mais comuns são os registos históricos, tais como desenhos e projectos de navios, diários de navegação (rotei- ros) e manifestos de carga, relatos de explorações, mapas antigos e registos legais, financeiros e tributários. A arqueologia subaquática no mundo Os projectos de arqueologia subaquá- tica variam desde a pesquisa de navios do século XIX perdidos sob o gelo do Oceano Árctico, nas costas do Cana- da, até à prospecção remota de ilhas artificiais em Ponape, na Polinésia, estendem-se as nascentes inundadas da Flórida, contendo restos humanos, até as povoações da Idade do Bronze nos Alpes Suíços. Uma vez que a água cobre a maior parte da superfície do

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Artigo sobre arqueologia subáquatica

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Arqueologia Subaquática

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Arqueologia SubaquáticaO que é a arqueologia subaquática?

Está interessado em navios e assun-tos relacionados com navegação, primeiros povoados ribeirinhos, História e Arqueologia? Já pensou em considerar o mundo da arque-ologia subaquática como uma carreira profissional, uma actividade amadora, ou simplesmente como um prazer? Como considera o mundo da Arqueologia Subaquática? Uma carreira profissional, uma actividade amadora, ou simplesmente como uma actividade lúdica?

Cobrindo quase três quartos do nosso planeta, a água é a fonte de toda a vida na Terra. O transporte em meio aquático permitiu a exploração de uma parte importante do planeta, aproximou povos e facilitou a ascen-são e a queda de grandes impérios. Sob a superfície dos nossos oceanos, mares, lagos, rios e terrenos alagados jazem os vestígios arqueológicos do passado, preservados nas linhas costeiras pré-históricas e históricas, em naufrágios, cidades submersas, obras portuárias ou através de outros tipos de testemunhos das actividades dos nossos antepassados, que rece-bem o nome de sítios arqueológicos.

A arqueologia é a ciência que estu-da as sociedades passadas através da análise e interpretação de seus

restos materiais (cultura mate-rial) nos seus devidos contextos. O objectivo da Arqueologia é produzir conhecimento sobre culturas e comportamentos huma-nos do passado, através da inves-tigação sistemática de artefactos, estruturas, paisagens, entre outros vestígios da acção antrópica passa-da. A Arqueologia subaquática leva este estudo a um ambiente especial, que contem desafios particulares e fornece resultados únicos aos investigadores.

A maioria dos arqueólogos subaquá-ticos especializa-se em Arqueologia Náutica: o estudo da construção e uso de todos os tipos de embarcações e navios, históricos ou pré-históri-cos. Para estes especialistas os sítios arqueológicos de naufrágios são o foco principal das investigações.

Mas há outros tipos de sítios arque-ológicos subaquáticos, tais como sítios pré-históricos inundados após o fim da última glaciação, pântanos ou lagos onde pessoas depositaram oferendas ou enterraram os seus mortos, cidades e zonas portuárias inundadas devido a variações do nível do mar decorrentes de actividades sísmicas, habitações e sítios agrícolas ou industriais situados ao longo das margens de rios, baías e lagos, entre outros. Os arqueólogos subaquáticos usam diferentes fontes para localizar esses sítios arqueológicos. No caso dos locais de naufrágios, as mais comuns são os registos históricos, tais como desenhos e projectos de navios, diários de navegação (rotei-ros) e manifestos de carga, relatos de explorações, mapas antigos e registos legais, financeiros e tributários.

A arqueologia subaquática no mundo

Os projectos de arqueologia subaquá-tica variam desde a pesquisa de navios do século XIX perdidos sob o gelo do Oceano Árctico, nas costas do Cana-da, até à prospecção remota de ilhas artificiais em Ponape, na Polinésia, estendem-se as nascentes inundadas da Flórida, contendo restos humanos, até as povoações da Idade do Bronze nos Alpes Suíços. Uma vez que a água cobre a maior parte da superfície do

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planeta e que o mundo subaquático era inacessível à maioria das pesso-as há poucas décadas, o património cultural subaquático que necessita ser estudado é vastíssimo.

Entre os projectos mais importantes a decorrer presentemente contam-se navios da Idade do Bronze, gregos, romanos e medievais no Mediter-râneo, na Europa, nas Américas e em todos os outros continentes, mares e oceanos. Em Portugal os restos dos navios Aveiro A, Cais do Sodré, Arade 1 e Nossa Senhora dos Mártires, entre outros. No Brasil, os restos do navio negreiro Camar-go entre outros sítios arqueológicos subaquáticos.”A conservação de artefactos arqueológicos

Os trabalhos de arqueologia suba-quática nem sempre envolvem a escavação de um sítio, mas sempre

que se retiram artefactos para estudo detalhado é essencial a existência de laboratórios para tratamento e conservação. A condição de excep-cional preservação de alguns artefac-tos encontrados em meio húmido é geralmente mais aparente que real.

Os artefactos imersos durante longos períodos reagem quimicamente com a água e com os sedimentos que os

rodeiam. Uma mudança súbita de ambiente e exposição ao ar pode iniciar uma cadeia de reacções quími-cas nos materiais que compõem os artefactos que os pode levar a uma rápida destruição.

Os conservadores são os especialistas que trabalham com arqueólogos para preservar artefactos, quer para estudo, quer para exibição.

A conservação de objectos demora geralmente muito mais tempo que a sua escavação e os cuidados de longo prazo são frequentemente caros e trabalhosos. Se não houver instalações apropriadas e recursos disponíveis é frequentemente prefe-rível deixar os artefactos no ambiente subaquático original. Os conservado-res trabalham com os arqueólogos e gestores do património cultural para verificar as condições de equilíbrio de sítios e artefactos deixados in situ, preservados para as gerações futuras.

Como se envolver?

A maioria dos arqueólogos subaquá-ticos é empregada em serviços do estado, museus, universidades e como consultores privados. Como carrei-ra a arqueologia subaquática requer pessoas com aptidão, motivação, interesse pelo estudo e preservação do passado, disponibilidade para viajar,

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trabalhar fora do horário convencio-nal e ao ar livre. Por aptidão enten-da-se o domínio das regras da escrita cientifica ou do desenho técnico, da conservação, fotografia, electróni-ca, prospecção remota, mergulho, manobra de embarcações, química, etc. As oportunidades de carreiras de tempo integral são geralmente pouco frequentes e raras em todos os países, mas a participação em organizações profissionais e amadoras oferece oportunidades de envolvimento espe-cifico extremamente gratificantes. Conferências e reuniões científicas, como as organizadas anualmente pela Society for Historical Archaeology (SHA), criam oportunidades para os profissionais, amadores e estudantes apresentarem os resultados dos seus trabalhos, comunicar com colegas, conhecer pessoas com interesses

similares e tomar conhecimento de novos achados e tecnologias.

Oportunidades adicionais podem ser encontradas em organizações que treinam e orientam quer voluntários quer arqueólogos amadores. Traba-lhando sob a orientação de arqueó-logos profissionais, os voluntários podem participar em quase todas as tarefas da arqueologia: pesquisa de arquivo, prospecção de campo e escavação arqueológica, manobra de embarcações, mergulho, trabalho de laboratório, planeamento, logística e angariação de fundos.

Preservar recursos ameaçadosA pesquisa arqueológica abre jane-las sobre um passado desconhecido, permitindo-nos uma visão da vida dos nossos antepassados. A preservação dos recursos arqueológicos é assim vital para manter esta janela aberta. Um pequeno número de sítios arque-ológicos é inevitavelmente perdido cada ano em resultado de acidentes e processos naturais, mas a pilhagem de sítios arqueológicos subaquáticos por curiosos ou por mergulhado-res com motivações económicas é incomparavelmente mais destrutiva. Seja a caça às relíquias romanas ou aos hipotéticos lingotes de ouro ou prata dos navios afundados, a pilha-gem clandestina ou a intervenção não especializada – devidamente autori-zada por alguns estados – de sítios arqueológicos resulta sempre na perda irreparável da herança cultural colec-tiva da sociedade, quer para a geração presente, quer para as vindouras.

As pesquisas arqueológicas são o melhor e o mais eficiente uso de um recurso não renovável: o património cultural de uma nação. Um sítio arqueológico pode ser destruído e os seus artefactos dispersos por uma operação de mero resgate de salvados,

vulgarmente designado por caça aos tesouros ou, em contrapartida, pode ser preservado e estudado por cien-tistas e fruído pelo público perpe-tuamente. Assim, todas as pessoas e não só um pequeno grupo, benefi-ciam da preservação do património subaquático. O estudo sistemático de recursos arqueológicos para fins científicos, turísticos, recreativos e educativos não só preserva os sítios mas também beneficia a economia em longo prazo, por meio do desen-volvimento sustentável.

Como e que eu me posso envolver?

Pessoas com as mais diversas capa-cidades podem ajudar a preservar o nosso património arqueológico subaquático através de vários tipos de acções vitais:

• Suportando organizações que estudam e protegem o património tais como museus, universidades, parques e entidades governamentais e não governamentais.

• Apoiando a emissão de legislação e a criação de fundos para a protecção e gestão de sítios arqueológicos ou o reforço de leis de protecção do património cultural subaquático.

• Não comprando ou vendendo arte-factos arqueológicos.

• Averiguando se as associações que apoiam ou conduzem trabalhos arqueológicos segundo “princípios” científicos, não participam em projectos com fins lucrativos, moti-vados pela possibilidade da venda de artefactos.

• Não perturbando nem removendo artefactos de sítios arqueológicos. Mesmo a remoção de pequenos fragmentos de cerâmica ou outros pequenos artefactos, aparentemen-te sem valor, acaba por destruir os sítios arqueológicos, quer do ponto de vista cientifico, quer recreativo.

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Organizações de arqueologia subaquática

Muitos caminhos levam à arqueologia subaquática. No plano da formação profissional basta consultar o guia dos cursos de licenciatura ou mestrado que incluam cadeiras de arqueologia náuti-ca e subaquática. Pode também contac-tar-se a organização governamental responsável pela arqueologia subaquá-tica no seu país. Na Internet o website do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) (http://www.ipa.min-cultura.pt /cnans), e do Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática (CEANS / NEE / UNICAMP) – http://www.nepam.unicamp.br têm uma lista de sítios e organizações dedicadas à arqueologia subaquática em muitos países do mundo.

O Conselho Consultivo de Arqueologia Subaquática

O Conselho Consultivo de Arque-ologia Subaquática – ou Advisory Council on Underwater Archaeolo-gy (ACUA) que fornece formação e consultadoria a organizações privadas e governamentais, bem como a acadé-micos, mergulhadores e ao público em geral, sobre assuntos relacionados com arqueologia subaquática, conser-vação e gestão do património cultural subaquático (www.acuaonline.org). O ACUA assessoria da organização do encontro anual – a Conference on

Historical and Underwater Archaeo-logy – e ajuda o editor a produzir os artigos dedicados à arqueologia suba-quatica que são publicados na revista da SHA, Historical Archaeology.

Ler mais sobre este assunto

Bass, George, Archaeology Beneath the Sea, 2006, London: Thames and Hudson.

Dean, Martin, et al., 1995, Archaeo-logy Underwater: The NAS Guide to principles and Practice, Dorchester: Nautical Archaeology Society.

Delgado, James P., ed., 1997, Encyclo-pedia of Underwater and Mariti-me Archaeology, London: British Museum Press.

The International Journal of Nautical Archaeology. Revista da Nautical Archaeology Society, publicada trimestralmente desde 1972.

Macauly, David, 1993, Ship, Boston, MA.: Houghton Mifflin.

Muckelroy, Keith, 1980, Archaeology Underwater: Atlas of the World’s Submerged Sites, New York: McGraw-Hill.

Rambelli, Gilson, 2002. Arqueolo-gia até debaixo d’água. São Paulo: Maranta.

Organizações

Departement des Recherches Archeologi-ques Subaquatiques et Sous-Marines, Fort Saint-Jean, 13235 Marseille, Cedex 2, France.

Centro Nacional de Arqueologia Náuti-ca e Subaquática, Avenida da Índia 136, 1300-300 Lisboa, Portugal.

Centro de Estudos de Arqueologia Nautica e Subaquatica (CEANS),

do Nucleo de Estudos e Pesqui-sas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (NEPAM / UNICAMP), Campinas, SP, Brasil, CEP:13083-970.

International Committee on Underwa-ter Cultural Heritage (ICUCH) of the International Committee of Monuments and Sites (ICOMOS), 49-51, Rue de la Federation, 75015 Paris, France.

Nautical Archaeology Society, 19 Colle-ge Road, HM Naval Base, Ports-mouth, Hants, PO1 3LJ, United Kingdom.

Créditos

Foto 1: Registro arqueológico / Foto: Fernanda Rodrigues (Natu-reza & Imagem)

Foto 2: Elaboração de croquis/ Foto: Fernanda Rodrigues (Natu-reza & Imagem)

Foto 3: Estudo sistemático das estru-turas de um navio a vapor / Foto: Fernanda Rodrigues (Natureza & Imagem)

Foto 4: Pepper Wreck ou navio de SJB2, Portugal (Foto: Fran-cisco Alves, CNANS)

Foto 5: Navio Ria de Aveiro A, Protugal (Foto: Guilherme Garcia, CNANS)

Foto 6: Confeccionando a planta baixo de um sítio / Foto: Rambelli (CEANS/NEE)

É permitido copiar esta brochura. Para mais informação sobre arqueologia histórica e subaquática, ou para obter mais copias desta brochura, contactar http://www.sha.org.