c rreio -...

35
C rreio O A revista das relações e cooperação entre África-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia N ° 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 REPORTAGEM HAITI despontar da esperança DOSSIER Ilhas do Pacífico. As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes REPORTAGEM HAITI despontar da esperança DOSSIER Ilhas do Pacífico. As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes

Upload: ngokhanh

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Venda proibidaISSN 1784-682X

C rreioO

A revista das relações e cooperação entre África-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia

N° 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

REPORTAGEM

HAITIdespontar da esperança

DOSSIER

Ilhas do Pacífico.As alterações

climáticas em foco

ÁfricaTirar mais proveito dos seus diamantes

REPORTAGEM

HAITI despontar da esperança

DOSSIER

Ilhas do Pacífico.As alterações

climáticas em foco

ÁfricaTirar mais proveito dos seus diamantes

A revista das relações e cooperação entreÁfrica-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia

Comité EditorialCo-presidentesJohn Kaputin, Secretário-Geral Secretariado do Grupo dos países de Africa, Caraíbas e Pacífico www.acp.int

Stefano Manservisi, Director Geral da DG Desenvolvimento Comissão Europeia ec.europa.eu/development/

Equipa editorialDirector e Editor-chefe Hegel Goutier

ColaboradoresFrançois Misser (Editor-chefe adjunto), Debra Percival

Editor assistente e produção Joshua Massarenti

Colaboraram nesta edição Ruth Colette Afabe Belinga, Marie-Martine Buckens, Sébastien Falletti, Sandra Federici, Jean-François Herbecq, Andrea Marchesini Reggiani, Gotson Pierre, Mirko Popovitch.

Relações Públicas e Coordenação de arteRelações PúblicasAndrea Marchesini Reggiani (Director de Relações Públicas e responsável pelas ONG e especialistas) Joan Ruiz Valero (Responsável pelas relações com a UE e instituições nacionais)

Coordenação de arteSandra Federici

Paginação, MaquetaOrazio Metello OrsiniArketipa

Gerente de contratoClaudia RechtenTracey D’Afters

CapaPhyllis Galembo, Servitor Homel Dorival, standing in a sacred space,poses with a ceremonial cup used in rituals, 1995, Soukri, Haiti.Por cortesia de Phyllis Galembo

ContracapaImagem de BigStockPhoto.com© Holger Mette

ContactoO Correio45, Rue de Trèves1040 BruxelasBélgica (UE)[email protected]: +32 2 2374392Fax: +32 2 2801406

Publicação bimestral em português, inglês, francês e espanhol.

Para mais informação em como subscrever,Consulte o site www.acp-eucourier.infoou contacte directamente [email protected]

Editor responsávelHegel Goutier

ParceirosGopa-Cartermill - Grand Angle - Lai-momo

A opinião expressa é dos autores e não representa o ponto de vista oficial da Comissão Europeia nem dos países ACP.

Os parceiros e a equipa editorial transferem toda a responsabilidade dos artigos escritos para os colaboradoresexternos.

A revista das relações e cooperação entreÁfrica-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia

C rreioO

C rreioO

O nosso parceiroprivilegiado:

o ESPACE SENGHOR

OEspace Senghor é um centro

que assegura a promoção

de artistas oriundos dos países de

África, Caraíbas e Pacífico e o

intercâmbio cultural entre comuni-

dades, através de uma grande

variedade de programas, indo das

artes cénicas, música e cinema

até à organização de conferên-

cias. É um lugar de encontro de

belgas, imigrantes de origens

diversas e funcionários europeus.

[email protected]

www.senghor.be

EDITORIAL

Das catástrofes naturais ou políticas... e outros efeitos do esquecimento 3

EM DIRECTO

Dialogar sempre com o outro. Entrevista com Giovanni Bersani 4

PERSPECTIVA 6

DOSSIER Ilhas do Pacífico. Alterações climáticas e vulnerabilidade 9

Tuvalu, um símbolo mundial 10

Viver com o receio constante das alterações climáticas 12

Uma sociedade civil dinâmica 13

Tsunami nas Ilhas Salomão 14

Todas vulneráveis: tirania das distâncias e Anel de Fogo 16

Ilhas do Pacífico submersas devido

ao aquecimento climático 17

União Europeia e Estados ACP procuram

“estratégias de adaptação” 19

INTERACÇÕES

Jornadas Europeias do Desenvolvimento.Juntos frente às alterações climáticas 20

Uma nova parceria estratégica 22

Os APE “inflamam” a Assembleia Paritária 24

COMÉRCIO

A África quer transformar os seus diamantes em casa 27

EM FOCO

Um dia na vida de Mimi Barthélémy 29

NOSSA TERRA

O ouro verde no centro das controvérsias 31

REPORTAGEM Haiti

Construir com base na estabilidade 34

“Temos de saber a quem pertence a terra neste país” 37

Relações haitiano-dominicanas e meios de comunicação 40

“Precisamos de irrigação, reflorestação e insumos agrícolas” 41

Procura-se crédito para negócios 44

10.º FED visa estradas e governação 46

Aliciar turistas para um “país incrível” 48

Captura da alma do Haiti: Sergine André 50

DESCOBERTA DA EUROPARoménia

Roménia, país de contrastes 51

Roménia de A a Z 52

Um novo país doador 53

Ser africano na Roménia 55

Branco-negro 55

Transilvânia: terra prometida do turismo 56

Qual será o futuro do turismo rural na Roménia? 58

CRIATIVIDADE

Uma ocasião demasiado rara para valorizar os fotógrafos africanos 59

Prémio Príncipe Claus de 2007 61

A história natural dos museus camaroneses 62

PARA OS MAIS JOVENS

As ilhas remotas vão mesmo desaparecer? 63

CORREIO DO LEITOR/AGENDA 64

ÍndiceO CORREIO, Nº 4 NOVA EDIÇÃO (N.E.)

N. 4 N.E. - JANEIRO FEVEREIRO 2008

C rreioO

A revista das relações e cooperação entre África-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Editorial

3

Vista sobre Port-au Prince, Óleo em tela, deBottilliers, 2007Copyright Debra Percival

Há catástrofes e catástrofes. Aquelas que sãosusceptíveis de serem provocadas pelasalterações climáticas, as catástrofes natu-rais e outras, como a tormenta que se aba-

teu sobre o Quénia – um modelo – no final do ano.Embora as catástrofes não sejam previsíveis, são noentanto facilitadas pela negligência e sobretudo peloesquecimento do ser humano.

O grande tema deste número de O Correio é consagra-do às alterações climáticas no Pacífico. É um tema quenão se apresenta numa perspectiva pessimista, porquea determinação de proteger o seu país e a calma e aalegria de viver da população do pequeno país símbo-lo da ameaça, Tuvalu, são uma lição de optimismo.

Outra razão de optimismo está nas decisões tomadasno âmbito da cooperação entre o grupo África-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia, sobre a preven-ção destas catástrofes naturais. Nas JornadasEuropeias do Desenvolvimento em Lisboa, no fim doano, a União Europeia aceitou, convicta, a ideia de umempréstimo mundial para ajudar os países em desen-volvimento a enfrentar as alterações climáticas,empréstimo este que reforçará as estratégias adoptadasnesta matéria pelo Conselho da União Europeia e peloConselho de Ministros ACP-UE.

A nova parceria estratégica UE-África, concluída emLisboa no fim do ano passado, debruça-se igualmentesobre as origens das catástrofes. Entre as suas vinteacções prioritárias, figuram ainda as alterações climá-ticas mas igualmente a paz e a segurança, a governa-ção democrática e os direitos humanos e outras protec-ções contra a implosão social, política e económica. Aassinatura, mesmo de geometria variável e sem entu-siasmo, antes da expiração de uma série de acordos de

parceria económica entre a UE e as regiões ou paísesACP, demonstrou um comportamento realista deambas as partes para evitar os riscos de afastar docomércio mundial estes últimos.

Acontece então o cataclismo do Quénia, o oásis, aque-le país onde as crianças enchem os museus, onde aBolsa de Nairobi dava lucros avultados aos investido-res, para apenas citar algumas glórias deste país. Écerto que foram apontadas algumas derivas políticas ede governação. Todavia, embora essas derivas pudes-sem ter provocado alguns conflitos, não explicam, noentanto, só por si uma tal avalanche de violência a queo mundo assistiu com torpor.

O grande esquecido da democracia em muitos paísesveio ao de cima: a tribo. Não há problema tribal, há,isso sim, o problema do esquecimento da tribo. Ademocracia à moda europeia, inclusive a dos EstadosUnidos, por exemplo, teve em conta, desde a sua ori-gem, o facto «tribal». Não necessariamente no sentidoétnico – Hutu e Tutsi serão biologicamente etniasdiferentes? – mas no sentido do sentimento de perten-ça a um grupo. Ponderou o princípio «um homem, umvoto» por instâncias como os Senados, onde os gruposminoritário e maioritário têm mais ou menos o mesmopeso, garantindo assim a protecção dos seus interessesvitais. Sem isso, seria reticente em votar por alguémdo outro grupo, mesmo sendo o melhor.

A cooperação ACP-UE tem provavelmente a possibi-lidade de aprofundar tal reflexão e agir contra outrascatástrofes.

Hegel Goutier

Editor-chefe

Das catástrofes naturais ou políticas... e outros efeitos do esquecimento

G.B. – Primeiro, há que ter em conta que o desafio era extremamentedifícil. Em 1957, 50 dos 53 países africanos eram colónias ou territóriossob controlo. A independência e os movimentos de libertação levaramao poder regimes não democráticos. Entre 1962 e 1989, só tinhamgovernos democráticos o Botsuana, o Senegal e a Maurícia, o que temconstituído uma característica fundamental para a prosperidade e ocrescimento económico destes países, em comparação com os paísesonde os sistemas de partido único, apoiados por uma potência estran-geira, têm prevalecido. Não podemos esquecer que, nessa altura, haviaem África a Terceira Guerra Mundial entre os dois blocos em que esta-va dividido o mundo. A ameaça nuclear impedia que essa guerra se pas-sasse no Norte. Teve então lugar em África.Nos últimos 30 anos, promovemos a criação de parlamentos em todosos países ACP e em muitos deles foram conseguidas melhorias na pro-dução agrícola, nomeadamente nos países onde a fome e a pobreza tin-ham matado muitas pessoas. Lutámos contra o “apartheid” até à suaabolição. Partindo de uma terrível herança colonial, 45 anos depois aUnião Africana (UA) tem a sua própria constituição, um governo cen-tral, governos regionais e um parlamento. Não nos esqueçamos doponto de partida. Quero salientar aqui que a política da UE tomou umrumo muito diferente da dos EUA, porque não se baseia na intervençãomilitar, mas na utilização de valores e princípios morais em constantemediação, o que nem sempre é visível, mas que tem sido decisivo emmuitas situações.

A.M.R. – Portanto, é uma história de sucesso para a “exportação dademocracia”. Mas a violação de direitos humanos é ainda um proble-ma em muitos desses países. Será que a UE fecha às vezes os olhos aestas questões?

G.B. – Nós reconhecemos o princípio no Tratado de Lomé III, mas oproblema era decidir quem seria o responsável pelo controlo de possí-veis violações e, posteriormente, decidir as sanções a aplicar. Tanto oConselho de Ministros como a Comissão não podiam assumir essa tare-fa. Em 1984, a Presidência da Assembleia decidiu assumir esse papel eapresentar casos específicos de violações dos direitos humanos àAssembleia Parlamentar.Em 1986, houve uma aprovação difícil do regulamento. A partir dessemomento, os assuntos relativos aos direitos humanos passaram a ocu-

par o topo da agenda da Assembleia Paritária ACP-UE.Lembro-me da altura em que telefonei ao Presidente da Somália, SiadBarre, durante uma reunião da Assembleia. Ele tinha proferido senten-ças de morte contra três líderes da oposição. Pedi-lhe que lhes perdoas-se com base nos princípios da Assembleia. No dia seguinte, estando aAssembleia reunida, ele telefonou-me para me dizer que as sentençasde morte dos líderes tinham sido comutadas em exílio.Outra negociação difícil foi com o Presidente Menghistu da Etiópia,que na altura detinha como prisioneira a irmã mais velha de HailéSelassié, com noventa anos de idade. Neste caso, a intervenção do Vice-Presidente etíope da Assembleia foi muito importante. Foi autorizado oexílio da senhora em Londres.

A.M.R. – Como foram celebrados os 50 anos do Tratado de Roma?

G.B. – Houve muitas comemorações, mas os debates foram escassosdado o Tratado de Roma conter a essência da cooperação com paísesterceiros. A Parte IV tratava esse aspecto integrante do texto. Foi umadas questões mais difíceis e mais debatidas: a França e a Bélgica que-riam transferir o fardo da gestão colonial e pós-colonial para a entãorecém-fundada Comunidade Económica Europeia. A Alemanha opôs-se, considerando-o “um presente envenenado”. A solução foi um mode-lo de “parceria de igualdade” com os países coloniais, envolvendo dis-cussões prolongadas em que nada estava garantido e tudo devia sernegociado! Nessa altura, surgiu a ideia de criar um “Fundo de desenvol-vimento dos países e territórios ultramarinos”. O problema é que o nívelde financiamento nunca foi suficiente.

A.M.R. – Está familiarizado com o antigo O Correio dos ACP-UE…Qual é a sua opinião sobre a nova edição?

G.B. – Tendo em conta a negligência dos meios de comunicação em ter-mos de cooperação, O Correio tem a possibilidade e o dever de divul-gar informações inovadoras e diferentes para reforçar o entendimentomútuo entre a UE e os países ACP. Desejo-vos os melhores auspícios epeço que não parem diante dos obstáculos que poderão encontrar nopercurso e que visem uma informação corajosa que ultrapasse o que épuramente técnico para alcançar os corações dos leitores. �

DIALOGAR semprecom o outro.

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 54

Como membro do Parlamento Europeu tem estado envolvido nas rela-ções Europa-África desde o final dos anos 60. O que poderá dizer-nossobre as origens do Tratado de Lomé?

G.B. – Falemos primeiro da origem do seu nome. Nas reuniões deOutubro de 1974, na Maurícia, foi assinado um acordo sobre as novasestruturas institucionais numa nova Convenção para substituir IaundéII. No âmbito desta Convenção, chegou-se a um acordo de constituiçãode uma nova assembleia de representantes europeus e dos países ACP,com mais poderes do que antes e incluindo uma maior participação dospaíses africanos, de 18 a 46 nações. Mas o problema era encontrar umnome para o novo Tratado! Lagos e Nairobi foram duas sugestões, masos países francófonos opuseram-se. Convidei alguns dos principaisparticipantes nas reuniões da Maurícia a relançar o debate emBolonha, Itália, juntamente com o Embaixador Dagadou do Togo. Noalmoço de encerramento, ocorreu-me a ideia de "Convenção de Lomé",em honra do Embaixador Dagadou. Nessa altura, Dagadou era mode-rador e Presidente do Comité de Embaixadores dos países ACP. Aescolha de um país grande ameaçava a unidade do grupo ACP, mas umpaís pequeno, como o Togo, não era assim tanto uma ameaça. Noinício, esta proposta parecia mais uma brincadeira, mas a ideia chegoua Bruxelas e foi apoiada.

A.M.R. – Desde os anos 90 tem havido um criticismo à Convenção deLomé devido à sua incapacidade de resolver os problemas de pobrezae subdesenvolvimento. Qual é a sua opinião?

E m directo

Andrea Marchesini Reggiani

DIALOGAR semprecom o outro. Entrevista com Giovanni Bersani

O italiano Giovanni Bersani foi Presidente da antiga Assembleia Parlamentar CEE-ACPde 1976 a 1989 e, posteriormente, o seu Presidente Honorário. Tem sido um dos principais defensores da integração europeia, sobretudo quando se trata das relaçõesda UE com o continente africano. Defende a promoção da democracia através damediação, do diálogo e da paz, trazendo à cena valores e princípios morais e evitando a intervenção militar.

Giovanni Bersani.© CEFA onlus

Andrea Marchesini Reggiani, Giovanni Bersani e Ranieri Sabatucci

durante a apresentação do O Correio, Délégation

Culturelle – Alliance Française, Bolonha 14 de Dezembro de 2007.

© Niksa Soric

Em directo

Os APE são acordos recíprocos decomércio livre, mas enquanto que aUE concordou em abrir o seu mer-cado a todos os bens e produtos dos

ACP, com excepção do açúcar e do arroz, sujei-tos a curtos períodos transitórios a partir de 1 deJaneiro de 2008, as nações ACP só serão obriga-das a abrir os seus mercados gradualmente, deacordo com o calendário faseado negociado de 5a 25 anos para a maioria das mercadorias sensí-veis e que abrange 80% ou mais de todo ocomércio. Ao abrigo das regras comerciais daOrganização Mundial de Comércio (OMC), ossignatários de qualquer acordo de comércio livreestão autorizados a excluir determinados bensdesde que esses acordos cubram “substancial-mente” todo o comércio. Consequentemente,muitos ACP optaram por não incluir nos APE asua produção agrícola.Até agora, apenas as Caraíbas assinaram umAPE como entidade regional2. Este acordo, ela-borado com todos os Estados CARICOM,abrange não só as mercadorias mas também ocomércio nos serviços, alfândegas, facilitação docomércio, barreiras técnicas ao comércio, medi-das sanitárias e fitossanitárias, agricultura epesca, pagamento e movimentos de capital, con-corrência, propriedade intelectual, contratospúblicos, assuntos ambientais e sociais e fundosde desenvolvimento, que incentivarão a integra-ção regional.Outros Estados ACP, que já assinaram acordosaté à data, são sub-regiões ou um ou dois estadosACP individuais numa determinada região.Optaram por acordos “apenas de mercadorias”com o compromisso de continuar com as nego-ciações sobre outros aspectos do acordo, elabo-rando um APE global até final de 2008. A maio-ria, mas não todos, são países de rendimentomédio. Sentiram mais a necessidade de assinardevido à renúncia da OMC, relativa ao acordo decomércio de Cotonu, ter expirado em 31 deDezembro de 2007. A alternativa teria sidoenfrentar os direitos aduaneiros no âmbito do

Sistema Generalizado de Preferências (SGP). Só um pequeno número de países ACP encontra-se hoje nesta posição, incluindo o Gabão, aRepública do Congo, a Nigéria e um grupo denações do Pacífico, ou seja as Ilhas Cook, Tonga,Ilhas Marshall, Niue, Micronésia, Palau e Nauru.As entidades de comércio da UE indicam que,enquanto o Congo e o Gabão manifestaram inte-resse num APE, a Nigéria recusou negociar umAPE nesta fase. Acrescentam que, devido aobaixo nível de comércio da UE com o Pacífico,esta região não irá sofrer tantas perdas resultan-tes da implementação do SGP. Uma declaração recente do Secretariado dosACP em Bruxelas afirma: “Os ACP pedem àUnião Europeia que tome medidas susceptíveisde garantir a continuação do comércio nas mes-mas condições, de modo que os operadores eco-nómicos permaneçam no mercado e a prosperi-dade e o bem-estar dos cidadãos dos países ACPnão sejam prejudicados.”Acrescenta que alguns dos “acordos provisó-rios” tinham sido assinados sob pressão e devemser revistos aquando da elaboração de acordosglobais no decorrer de 2008.Muitos dos Países Menos Desenvolvidos (PMD)estão ainda indecisos em relação aos APE. OPresidente do Senegal, Abdoulaye Wade, infor-mou que o seu país ainda não está preparadopara o comércio livre. Os PMD podem continuara beneficiar da isenção e de uma quota livre nasexportações para o mercado da União Europeiasob a iniciativa comunitária “Tudo MenosArmas” de 2001. Contudo, uma declaração da Direcção doComércio da UE continua a salientar os benefí-cios de um APE global: “Dão a oportunidade deapoiar a integração progressiva dos ACP na eco-nomia internacional e de certificar que o inigua-lável acesso dos ACP aos mercados da UE trou-xe um verdadeiro crescimento do comércio e umdesenvolvimento económico alargado. Emsuma, a oportunidade de proporcionar o queCotonu não foi capaz de fazer.”

1 - Há um total de 79 Estados ACP, mas a África do Sultem um acordo comercial bilateral com a UniãoEuropeia e não participou num APE.

2 - Ver no final do artigo os membros Caricom. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 7

Esta iniciativa responde a uma preocu-pação da sociedade civil, e especial-mente da Rede da África AustralContra o Tráfico e Abuso de Crianças

(Southern Africa Network Against Traffickingand Abuse of Children — SANTAC), apadrin-hada por Graça Machel, viúva do antigoPresidente de Moçambique, Samora Machel, eesposa de Nelson Mandela, e pelo PrémioNobel da Paz, o Arcebispo anglicano do Cabo,Desmond Tutu.Numa conferência organizada por esta ONGem Março de 2007, em Joanesburgo, o direc-tor-geral da DG do Desenvolvimento naComissão Europeia, Stefano Manservisi, deuo seu apoio político a este combate, ao qualse solidarizaram os Comissários europeus doDesenvolvimento e da Estratégia deComunicação, Louis Michel e MargotWallström.É um importante desafio. Segundo aOrganização Internacional do Trabalho(OIT), a Organização Internacional dasMigrações (OIM) e a UNICEF, o tráfico decrianças é um fenómeno que afecta vários

milhares de pessoas na região. Mas é difícilmedir exactamente a amplitude desse tráfico,nomeadamente devido à ausência de assentosde nascimento num país como o Malavi.Juntamente com Moçambique e a Zâmbia, estepaís é considerado ao mesmo tempo um país“fornecedor” de crianças e de trânsito para aÁfrica do Sul e a Península Arábica.O tráfico de crianças é parte do fenómeno maisamplo do tráfico de seres humanos, cujo volu-me de negócios mundial relativo ao crimeorganizado se calcula em cerca de 7 mil milhõ-es de dólares. Suas causas são diversas. ASANTAC evoca a pobreza e a epidemia doVIH-SIDA. Estes males têm como consequên-cia um crescimento considerável do númerode órfãos, que são confiados tanto a parentescomo a famílias de acolhimento, elas própriasem dificuldade e facilmente enganadas pelasorganizações criminosas que, com o pretextode lhes oferecerem trabalho ou educação,recrutam estas crianças, o mais das vezesmeninas, para as redes de prostituição ou paraas transformar em escravos.Um dos problemas é que, se os países tenta-

rem fazer face individualmente à situação,não têm a capacidade para controlar as suasfronteiras. Além disso, mesmo se os dirigen-tes começam a consciencializar-se deste pro-blema, não ratificaram, porém, todos os ins-trumentos legais internacionais para comba-ter este flagelo. Também não existem instru-mentos regionais na África Austral para aprevenção, supressão ou repressão do tráficode seres humanos. Daí a necessidade de umaresposta regional, cuja primeira etapa será apróxima conferência de Maputo. Esta deveráresultar numa declaração, numa estratégia enum plano de acção de dez anos.Seguidamente, haverá que preparar uma con-ferência de entidades financiadoras organiza-da pelos países da Comunidade para oDesenvolvimento da África Austral (SADC)durante a qual se apresentará esse plano deacção, para o qual a Comissão Europeia e osEstados-Membros da UE contribuirão comapoio financeiro. Nesta fase, as medidas pre-vistas vão da elaboração de programas decooperação judiciária e policial à transferên-cia de competência técnica. �

6

P erspectiva

Debra Percival

TRINTA E CINCONAÇÕES ASSINAMnovos acordos comerciaisComo anunciou O Correio, 35 dos 781 Estados de África, Caraíbas e Pacífico assinaram Acordos deParceria Económica (APE) com a União Europeia. Todos tinham apreciado a anterior entrada prefe-rencial no mercado da UE ao abrigo do Acordo de Cotonu.

A Comissão Europeia pretende organizar, juntamente com os países da África Austral,uma conferência regional “de alto nível” sobre o tráfico de crianças, em Junho de 2008.

QUEM ASSINOUATÉ AGORA? (EM 3 DE MARÇO DE 2008)

APE GLOBAL:Agrupamento regional CARICOM:Antígua e Barbuda, Baamas, Barbados,Belize, Dominica, RepúblicaDominicana, Granada, Guiana, Haiti*,Jamaica, Santa Lúcia, São Vicente eGranadinas, São Cristóvão e Neves,Suriname e Trindade e Tobago.

ACORDOS "PROVISÓRIOS” OU "APENAS DE MERCADORIAS”:

ÁFRICA CENTRAL: Camarões

COMUNIDADE DA ÁFRICA ORIENTAL:

Burundi*, Quénia, Ruanda*, Tanzânia*,

Uganda*

AFRICA ORIENTAL E AUSTRAL:

Comores*, Madagáscar*, Maurícia,

Seicheles, Zimbabué

PACÍFICO: Papua-Nova Guiné, Fiji

ÁFRICA OCIDENTAL: Costa do Marfim,

Gana

COMUNIDADE PARA O

DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA

AUSTRAL (SADC):

Botsuana, Lesoto*, Namíbia,

Moçambique*, Suazilândia

Fonte: DG Comércio, Comissão Europeiawww.ec.europa.eu/trade/

* Países Menos Desenvolvidos (PMD) �

François Misser

República Democrática do Congo (RDC):de volta a Bunia (Ituri). © EC/ECHO/François Goemans

TRÁFICO DE CRIANÇAS na África Austral: conferência

regional em perspectiva

TRÁFICO DE CRIANÇAS na África Austral: conferência

regional em perspectiva

Perspectiva

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Não há dúvida que o Pacífico é umadas regiões mais vulneráveis emtermos de riscos de catástrofescausadas pelas alterações climáti-

cas. Estão nesta situação várias ilhas decorais de baixa altitude. Uma delas, Tuvalu,tornou-se num símbolo desta ameaça, mastambém da capacidade de resistência e da

determinação de um pequeno país a sobrevi-ver. Passa-se o mesmo nas ilhas vulcânicassituadas ao longo do Anel de Fogo (“Ring ofFire”), bem como nas Ilhas Salomão quedeploraram, no passado mês de Abril, asdevastações de um tsunami causado por umterramoto, resultando em dezenas de mortos edezenas de milhares de sem-abrigo. As popu-

lações destes países ameaçados lamentamque alguns países ricos, em grande parte res-ponsáveis pela poluição que está na base dasdesregulações climáticas, hesitem em reduziro seu nível de poluição. Um homem políticode Tuvalu assimilou esta atitude a um “terro-rismo rastejante” que ameaça o seu país. �

9

D ossier

8

Na “Declaração de Bruxelas”, osministros fizeram questão de rea-firmar a importância do diálogointra-ACP no âmbito do Acordo

de Georgetown, e mais especialmente aoabrigo da parceria ACP-UE, colocando asquestões relacionadas com a saúde no centrodos programas de desenvolvimento dos seusrespectivos Estados. Será dada prioridade àluta contra as doenças transmissíveis, como porexemplo o VIH e a SIDA, a tuberculose e opaludismo, nomeadamente através da partilhade experiências e de boas práticas. Além disso,os ministros comprometeram-se a promover aassunção dos serviços médicos e o tratamentodas doenças não transmissíveis e das doençastropicais negligenciadas, bem como das doen-ças resultantes de violência ou de traumatismo,através do reforço dos sistemas de saúde.

> Travar a fuga de cérebros

Outra preocupação dos Ministros ACP daSaúde é a fuga contínua do pessoal sanitárioaltamente qualificado dos seus respectivospaíses para os países desenvolvidos, nomeada-mente para a União Europeia. Para entravaresta fuga, os ministros “manifestaram todos oseu empenho” em instituir estratégias concre-tas para a “formação, recrutamento e retençãodos profissionais de saúde locais”. E namesma ordem de ideias, decidiram promoverparcerias com as empresas farmacêuticas a fimde facilitar o acesso, por um custo acessível,aos medicamentos patenteados e mobilizarfinanciamento para a investigação e elabora-ção de novos medicamentos ou meios de diag-nóstico. �

Marie-Martine Buckens

Os ministros ACP dãoPRIORIDADE À SAÚDEFace aos numerosos desafios colocados pelo desenvolvimento da saúde nos Estados e regiões ACP,os Ministros ACP da Saúde, reunidos pela primeira vez em 25 e 26 de Outubro de 2007 emBruxelas, decidiram intensificar a sua cooperação.

ILHAS DO PACÍFICO. Alterações climáticas e vulnerabilidadePor Hegel Goutier

Reportagem em Tuvalu, Ilhas Salomão e Fiji

© IStockphoto.com

Uma clínica em Blantyre (Malawi), inaugurada em Março de 2006 pela Comunità di Sant’Egidio.

© Joshua Massarenti

A extensão de Tuvalu, principal ilha do atol de Funafuti.© Hegel Goutier

Perspectiva

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

alimentação local, que normalmente atingiaum metro de comprimento e tornou-se cadavez mais raquítico, estando mesmo em vias deextinção.

> Sensibilização precoce

A população de Tuvalu apercebeu-se rapida-mente do perigo. A partir de 1992, altura emque ainda se discutia a realidade ou não dasalterações climáticas, os sucessivos governosde Tuvalu accionaram o alarme sobre a catás-trofe que estaria, pensavam, a ameaçar o país.

No início, as suas preocupações não tiverammuito eco. No entanto, a sua perseverança e oapoio sem falhas da sua sociedade civil que,em certo sentido, emergiu em torno da questãodo ambiente, deram os resultados esperados. Éde crer que o funcionamento democrático deTuvalu não seja alheio a este despertar. Apesardos meios muito escassos, conseguiu-se inte-ressar as instâncias internacionais pelas altera-ções climáticas, muito antes daqueles que hojesão muitíssimos a se apresentarem como arau-tos desta causa. Foi uma política de comunica-ção bem sucedida. O mundo inteiro rende-se aeste pequeno país.

> Consenso e envolvimento colectivo

O consenso dos responsáveis políticos deTuvalu sobre a problemática do clima tambémenvolve a sociedade civil, que é relativamenteforte. A Associação das Organizações NãoGovernamentais de Tuvalu, TANGO, agrupacerca de cinquenta estruturas orientadas parasectores diferentes, embora todas se ocupem,em maior ou menor grau, dos riscos associadosao clima. Todas se unem em volta do Governopara sensibilizar os responsáveis, tanto no exte-rior como no interior, para esta questão. AnnieHomasi, directora da TANGO, personalidadeem foco nos fóruns altermundialistas, fala-nos,de entre outros temas, da coordenação entre asociedade civil e o poder político.

> Com matizes, apesar de tudo

Há um amplo consenso nas posições governa-mentais face aos riscos climáticos. Um dos rarosa mitigar este consenso foi o reverendo Kitiona

Tausi, que acrescenta a questão dos riscos climá-ticos às outras divergências que o opõem aoGoverno sobre questões ideológicas. Para ele, oGoverno assinou o Protocolo de Quioto, masoptou por uma instalação petrolífera destinada afornecer electricidade às outras ilhas do país, emvez de fomentar a energia solar. A título infor-mativo, recorde-se que a sua igreja utiliza pai-néis solares. Critica igualmente o Governo peladecisão de deslocar parte da populaçãotomando, na sua opinião, uma medida inaceitá-vel, embora reconheça que alguns padrescomungam da posição do Governo.Siuila Toloa, professora da Escola Primária deNauti, presidente da Island Care, ex-secretá-ria-geral da Cruz Vermelha de Tuvalu durante21 anos, insiste, por exemplo, na responsabili-dade colectiva, incluindo a da população deTuvalu, na procura de soluções para o pro-blema. No entanto, o seu SOS não se destinaapenas aos grandes poluidores. "O aqueci-mento global só pode ser resolvido se todostrabalharmos na mesma direcção. Pelo menos,reduziremos os danos. A causa dos danos nãoé Tuvalu, como também não é aquilo que ardeem África que nos ameaça. Estou a pensar nospaíses que não assinaram o Protocolo deQuioto. A esses peço: 'Ajudem-nos, senão omeu país afundar-se-á'", afirmou.�

DDoossssiieerrClima Pacífico

1110

Bastam algumas vagas, um pouco maisaltas do que o habitual, para ser neces-sário tomar uma barca para ir da pistade Funafuti, que é o atol capital de

Tuvalu, ao bar do aeroporto. Tuvalu agrupa umdestes conjuntos de ilhas que emergem ligeira-mente acima das águas do mar, sob a ameaçapermanente de tsunamis e outras catástrofesnaturais.28 de Fevereiro de 2006 foi um dia de terror emvárias das nove ilhas do arquipélago de Tuvalu,sobretudo em Funafuti. O atol estende-se numarco de círculo de 12 quilómetros entre a lagoae o oceano, com uma largura que nunca excede400 metros e vai-se estreitando à medida que seaproxima das duas extremidades. Culmina a 3,7metros. Bastou uma vaga de 3,5 metros, a maisalta registada nestas costas, vindo morrer semmuita força, para inundar nesse dia uma boaparte da ilha – o aeroporto ficou mais uma vez

submerso – e, ao retirar-se, deixou bolsas deágua salgada venenosa para as plantas alimenta-res. Embora esta inundação seja excepcional,acontece regularmente que, com as grandesmarés, as ilhas de Tuvalu fiquem parcialmentesubmersas. As inundações carreiam imensascalamidades: os parcos lençóis freáticos ficamcontaminados e a água salobra estagnada infil-tra-se nas fossas de esgotos e mistura-se com osdepósitos de imundícies que enchem as fossascavadas na altura da Segunda Guerra Mundial.Neste contexto, a agricultura é cada vez maisaleatória.

> Deterioração cada vez mais acentuada

As observações científicas e empíricas com-provam o agravamento da situação nas ilhasde Tuvalu. O nível do mar em volta dos atóis,

segundo os dados fornecidos por um sistemaaustraliano de observação das marés, subiusete centímetros nos últimos 13 anos, ultra-passando assim o simples efeito mecânico dodegelo dos glaciares. Na opinião dos peritos,para isso terão provavelmente contribuídooutros factores, como El Niño, por exemplo.Um sinal significativo desta deterioração é aimersão de uma porção do atol de Funafuti. Ailhota Tepuka Salivilivili desapareceu na águadepois de ter perdido, numa fase anterior, osseus coqueiros. Pessoas idosas comunicaram a O Correio oresultado das suas observações: as chuvas sãocada vez mais raras, mas paradoxalmentecada vez mais fortes e tempestuosas, capazesde abrir brechas na terra em locais frágeis,como nos pontos de escavação destas fossasda guerra, o que terá prejudicado o desenvol-vimento do pulaka, um tubérculo essencial à

DDoossssiieerr Clima Pacífico

Hegel Goutier

TUVALU, um símbolo mundialTuvalu é o nome actual das antigas Ilhas Ellice: superfícies imersas com apenas 26 km2,numa zona exclusiva de 0,75 milhão de km2 e 10.000 habitantes.

Atol de Funafuti. Vista do mar.© Hegel Goutier

No cimo:Aeroporto Internacional de Funafuti.

© Hegel Goutier

Ao centro e em baixo, lado esquerdo:Unidade de dessalinização de água do mar.

© Hegel Goutier

Em baixo à direita: Camião dos bombeiros no aeroporto de Funafuti.

© Hegel Goutier

> Medidas em curso para proteger o ambiente

Temos zonas de preservação, uma nesta ilha eduas nas outras ilhas. A ideia consiste em pre-servar essas zonas. E estamos igualmente atentar promover um programa de sensibiliza-ção para as pessoas tentarem manter as ilhaslimpas. Os plásticos e as latas têm de ser colo-cados num sítio determinado, para serem reti-rados e não sujarem as ilhas. Também estamosa procurar obter assistência do Fundo Mundialpara o Ambiente (FMA) para nos ajudar a ten-tar resolver o problema da erosão das nossasilhas em Tuvalu.

> Um projecto ambicioso

Quanto às cavidades no solo (burrow pits*),havia um projecto financiado pela SOPAC(Comissão de Geociências Aplicadas do Sul doPacífico) para dragar areia da lagoa e enchê-las,mas esse projecto não resultou por causa doimpacto nas margens da lagoa. Para sua infor-mação, o Governo está a tentar apresentar umdocumento de estratégia para obter apoio dedoadores para a construção de uma ilha artificialno lago. Se o projecto conseguir arrancar, talvezaproveitemos a oportunidade, com a assistênciade países que ajudaram no projecto inicial utili-zando areia, para encher essas cavidades. Paranós é um grande desafio, mas acho que comuma ideia bem coordenada podemos convencerdoadores a apoiar este projecto.

> Sobrepopulação

Está a tornar-se um problema, até agora nãomuito grave, mas é verdade que temos de enca-rar os diferentes níveis de desenvolvimentoentre as ilhas e a capital para podermos deter a

urbanização e impedirmos a vinda de mais pes-soas. Estamos a tentar melhorar o nível de vidanas outras ilhas, para que possuam os mesmosequipamentos e o mesmo tipo de projectos dedesenvolvimento para atrair financiamentossuplementares. Estamos à procura de modos ede meios para resolver o problema de sobrepo-pulação que temos em Funafuti.

> Sobrepopulação e cultura tradicional

No caso de Funafuti, pode dizer-se que temosalguns pequenos problemas, mas nas outrasilhas não. A cultura e os costume ainda perma-necem intactos. A sobrepopulação e os proble-mas de terras não afectam a vida do dia-a-dia ea cultura de Tuvalu. E no que diz respeito àsegurança, ainda temos terrenos seguros emFunafuti, embora o excesso de população come-ce a ser um problema. Temos também de resol-ver o problema da gestão dos resíduos.

> Vão ficar de qualquer modo?

É esse o consenso geral neste momento. Sesairmos, perdemos a nossa identidade e anossa soberania. Por isso tentamos protegeras nossas ilhas o melhor que podemos parapoder continuar aqui. Mas se as coisas piora-rem, já foram feitos contactos com aAustrália e a Nova Zelândia para ver sepodem acolher Tuvalu.Agradeço-lhe esta oportunidade de informaradequadamente os europeus. Assim temos apossibilidade de dizer ao mundo que mesmosendo pequenos e isolados, não estamos pioresdo que outras grandes ilhas da região. Para ogoverno e para os cidadãos de Tuvalu é muitoimportante avançar, procurar viver com osnossos recursos e os nossos meios, consolidar

as reservas financeiras e investir em projectosviáveis e que tragam benefícios económicos àpopulação. Queremos sobretudo manter o con-ceito de boa governação, que é um grande pro-blema para muitos países do mundo.

*Buracos escavados durante a Guerra, onde eram lan-çados os detritos. H.G. �

Viver com o RECEIO CONSTANTEDAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICASSr. Lotoala Metia, Ministro das Finanças, do PlaneamentoEconómico e das Empresas

Maatia TOAFA, Primeiro-Ministro em exercício eMinistro dos Negócios

Estrangeiros de Tuvalu, 59ªAssembleia Geral da ONU, 24 deSetembro de 2004:

Vivemos em Tuvalu com receio per-manente dos efeitos adversos dasalterações climáticas e da subida donível do mar. As nossas condições devida nas ilhas, a apenas três metrosacima do nível do mar, e as fontes desegurança alimentar já estão grave-mente afectadas com o aumento dasalinidade das águas subterrâneas, aerosão dos solos, a descoloração doscorais e a ansiedade total. A ameaçaé real e séria. E não é muito diferentede uma forma lenta e insidiosa deterrorismo contra Tuvalu.É por isso que Tuvalu atribui grandeimportância à Convenção-Quadrodas Nações Unidas sobre asAlterações Climáticas e ao Protocolode Quioto, que proporcionam o qua-dro global mais adequado para redu-zir as emissões de gases com efeito deestufa (GEE). �

TANGO tem 47 organizações mem-bros em todo o país e inclui váriostipos de organizações. Tango é aorganização-mãe. Há ONG da área

da saúde, grupos para uma maior autonomiaeconómica e grupos humanitários, como aCruz Vermelha, entidades religiosas e muitasoutras. Trata-se de facto de uma vasta repre-sentação da sociedade civil.Colaboramos estreitamente com o governo nodomínio das alterações climáticas. O nossogoverno tem chamado a atenção para estasquestões em instâncias internacionais e tam-bém a nível regional. Por isso, enquanto ONGconstituímos a coligação. Trabalhamos igual-mente com o Fundo Mundial para a VidaSelvagem (WWF), sedeado em Fiji, e com oDepartamento do Ambiente. Realizámosfóruns regionais da sociedade civil.Debruçámo-nos sobre questões de governa-ção, da saúde e do género a nível regional efizemos recomendações aos governos. Atravésdestes fóruns estabelecemos prioridades parao que queremos fazer e elaboramos planos deacção. Trabalhamos igualmente na sensibiliza-ção dos meios de comunicação social. Emzonas onde as ilhas estão a sofrer erosão,temos projectos para ajudar a comunidade aplantar árvores tradicionais e, por exemplo,para evitar a perda de coqueiros, que tambémnos asseguram um meio de subsistência.Queremos que a população de Tuvalu se ajude asi própria. Alguns aspectos das alterações climá-ticas estão fora do nosso controlo. Não ospodendo controlar, limitamo-nos a participarnas instâncias internacionais onde podemosexprimir as nossas preocupações. Em vez desermos dependentes, de nos dizerem o que é

preciso fazer, precisamos também, nós próprios,de fazer alguma coisa. Países como os Estados Unidos da América emesmo a Austrália1, um dos nossos vizinhos,não são muito sensíveis a esta questão. Aindanão ratificaram o Protocolo de Quioto, o instru-mento que efectivamente ilustra estas questões.A Nova Zelândia é sensível. Temos um regimede migração com a Nova Zelândia, mas a

Austrália não nos abre as portas. Colaboramosmais com a sociedade civil da Nova Zelândia.Por exemplo, numa próxima reunião emWellington vamos discutir os preparativos logís-ticos para acolher cidadãos de Tuvalu.

1 Entrevista realizada antes da mudança de governo na

Austrália. H.G. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

DDoossssiieerrClima Pacífico

1312

DDoossssiieerr Clima Pacífico

UMA SOCIEDADE CIVILdinâmica

Annie Homasi é directora executiva da Associação das ONG de Tuvalu (TANGO) e foicondecorada com a Ordem do Império Britânico, em reconhecimento do seu generosoapoio às comunidades de Tuvalu e do sul do Pacífico. Faz aqui um breve resumo dotrabalho da sua organização1.

Bandeira de Tuvalu.© IStockphoto.com/Ufuk Zivana

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

reconstruir-se, foi decretada a proibição dasua captura, afectando as populações quevivem dessas actividades.

> O Triângulo de Coral

Os danos para o ambiente submarino nasredondezas da Ilha de Choiseul ainda estão aser avaliados, mas são consideráveis, dizemos especialistas. Esta zona é uma das maisricas do mundo pela biodiversidade dos corais(cerca de 500 espécies) e dos peixes de recife(mais de 1000 espécies). As Ilhas Salomãofazem parte do Triângulo de Coral (CoralTriangle) com a Indonésia, Filipinas, Malásia,Timor-Leste e Papua-Nova Guiné. A afecta-ção dos corais pode ter impactos em série nabiologia submarina.

> Desflorestamento e alterações climáticas

Nas Ilhas Salomão, 70% das receitas doEstado são provenientes dos direitos deexportação da madeira e da venda de licençasde corte. A exploração da floresta tropical fra-giliza consideravelmente o ambiente. Estaexploração é extremamente intensa naWestern Province, a mais atingida pelo tsu-nami. As previsões geralmente admitidasapontam para a extinção das florestas numprazo de cinco anos apenas. O pouco que restade floresta já foi objecto de licenças de explo-ração. Actualmente, os cortes efectuados cor-respondem a cerca do triplo da quantidadeconsiderada como sustentável. E as empresasflorestais continuam a aumentar as suas quan-tidades. Antes mesmo do tsunami, a maiscomprida lagoa do mundo rodeada de ilhas e,talvez, a mais bela segundo os peritos, aLagoa Marovo na Western Province, estavaem grave perigo devido ao estado avançadode desflorestamento da ilha principal. Paracomeçar, já quase não há marisco nem peixes.Além disso, as empresas florestais trabalhamem terrenos inclinados, o que não deixa decriar riscos de erosão nas zonas costeiras,acentuando assim os efeitos potenciais dasubida do nível do mar. William Atu, director de projecto do gabinetede Honiara de “The Nature Conservancy”(www.nature.org), explica a O Correio queestes sedimentos originados pela erosão numalagoa profunda, como acontece em inúmeroslocais das Ilhas Salomão, danificam os coraise provocam efeitos colaterais na vida marinhaem geral. Os estragos provocados pelo tsu-nami nos corais e na vida marinha das provín-

cias Isabel e Choiseul são objecto de avalia-ções mais precisas a publicar pela organiza-ção. Para o Sr. Atu, é imperativo, quanto maisnão seja sob o prisma da protecção doambiente, que o Governo legisle sobre aexploração das florestas. Mas o Governo nãoo faz ou não aplica a legislação existente,acrescenta, porque há muita gente da provín-cia que é apoiada pelas empresas florestais,

sendo também muito importantes os interes-ses públicos e privados do comércio damadeira no país. A prática da pesca não émenos insustentável, acrescenta o Sr. Atu. Ascapturas da maior companhia de pesca comer-cial do país, Solomon Taiyo LTD, diminuíram20% desde 1993.

H.G. �

DDoossssiieerrClima Pacífico

1514

Ilhas Salomão – 2 de Abril de 2007, 7h40 damanhã. Um tsunami devasta as zonas cos-teiras na Western Province e em Choiseul.Foi provocado por um terramoto de 8,1

graus na escala de Richter, com um epicentrosituado apenas a 45 km da pequena cidade pis-catória e de desportos náuticos de Gizo (5000habitantes), na Ilha de Gizo (Western Province),a 205 km de Chirovanga, Choiseul, a segundaprovíncia mais afectada, e a uma distância de345 km da capital Honiara, na Ilha deGuadalcanal. Devido à sua proximidade com oepicentro do sismo, Gizo não recebera nenhumaviso. Felizmente que as trombas de água caí-ram durante o dia e as vagas de 3 metros nãoeram tão altas e tão impressionantes como as dotsunami do Oceano Índico em Dezembro de2004. Apesar disso, não deixaram de causardezenas de mortes e deixar milhares de pessoassem abrigo, nomeadamente em Gizo. Foramigualmente sinistradas as localidades de Naro eTaro Islands e, em menor grau, Vella La Vella,Kolombangana, Nova Geórgia e Simbo naWestern Province.Em termos de vidas humanas, os danos teriamsido muito mais graves se as populações emcausa não tivessem beneficiado de projectos de

sensibilização desenvolvidos após o tsunami doOceano Índico. “Felizmente aconteceu duranteo dia e as pessoas puderam observar que o marrefluía, vendo nisso um sinal de que algo nãoera normal, o que levou a maior parte das pes-soas a deslocar-se para terrenos mais altos”,especificou o ex-Primeiro-Ministro Sogavare,ainda em funções aquando da visita de OCorreio, em Novembro de 2007.Na ilha vulcânica de Simbo, a cerca de trintaquilómetros da Ilha de Gizo, o mar invadiu200 metros de terra, libertando o enxofre deuma cratera submarina do vulcão. A inunda-ção da igreja da aldeia provocou a morte dobispo, que procedia a uma ordenação, e de trêsfiéis. Após o tsunami, registaram-se vinte ecinco réplicas do terramoto intimidando apopulação, que ficou acantonada nos planal-tos da ilha mais tempo do que o necessário,receosa de novo tsunami.

> Destruição dos recursos marinhos

Segundo as avaliações feitas pelo Secretariadoda Comunidade do Pacífico (SPC), o tsunami

provocou a destruição não só dos recursosmarinhos selvagens, mas também dos centrosde aquicultura, o que não deixou de afectar oabastecimento das comunidades instaladas nasfaixas costeiras. A aquicultura diz respeito aomarisco, às pérolas de cultura e às espéciespara aquário. As quintas à volta de Gizo foramcompletamente destruídas. O plano elaboradopelo SPC, após as reuniões com os aquiculto-res, consistia em ajudá-los a relançar as activi-dades a partir de exemplares provenientes deoutra ilha da mesma província e, entretanto,fornecer mariscos aos agricultores para mante-rem as suas actividades comerciais. Titana, naIlha de Gizo, que também lamenta a perda devidas humanas, Rarumana e Sagheragi foramas aldeias mais gravemente atingidas. Nestaúltima aldeia, havia reservas importantes depeixes de ornamentação que iam ser transpor-tados para a capital Honiara quando o tsu-nami irrompeu. Consequentemente, refereainda o SPC, a antena local do World FishCenter e o centro sub-regional de Gizo deCoPSPSI (“Commercialisation of SeaweedProduction in the Solomon Islands”) tiveramde abrandar consideravelmente as suas activi-dades. Para ajudar determinadas espécies a

DDoossssiieerr Clima Pacífico

TTSSUUNNAAMMIInnaass IIllhhaass SSaalloommããoo

Extrato: Entrevista com o antigo Primeiro-MinistroManasseh Sogavare.Manasseh Sogavare foi Primeiro-Ministro de 2000 a 2001 e novamente de 2006 a2007. Derek Sikua sucedeu-lhe em 21 de Dezembro de 2007.

O Correio: Depois de ser devastado pelo tsunami, o seu país recebeu apoio suficiente depaíses estrangeiros para poder regressar à normalidade?

Diria que não. Houve muitas promessas. É o que fazem habitualmente os doadores.Gostamos do vosso país e vamos ajudar-vos. Passados 6 meses do brutal acontecimento,ainda esperamos para ver as promessas materializadas. Penso que isto não acontece apenascom as Ilhas Salomão. Dizem que as promessas feitas aquando do tsunami na Ásia nãoforam totalmente cumpridas. Ainda aguardam a ajuda prometida. Dito isto, penso tambémque devo ser honesto. Recebemos ajuda dos que prometeram e efectivamente cumpriram.Mas não de todos. O problema mantém-se, há pessoas que prometeram ajuda e que aindanão se manifestaram. �

Sede do Serviço de Meteorologia das Ilhas Salomão.© Hegel Goutier

Piroga.© IStockphoto.com/Longshots

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

“Os países em desenvol-vimento das ilhas doPacífico só são respon-sáveis por 0,03% das

emissões mundiais de dióxido de carbono. E,no entanto, prevê-se que estes países tenhamque enfrentar as consequências mais precocese mais graves das alterações climáticas nospróximos dois séculos.” Já em 2001 era este ocenário apresentado pelo GrupoIntergovernamental de Peritos sobre asAlterações Climáticas (GIEC), incumbidopelas Nações Unidas de assistir as Partes naConvenção Internacional nos aspectos científi-cos das alterações climáticas.No seu relatório de 2007, o GIEC precisou oseu ponto de vista: “Nas pequenas ilhas receia-se que a deterioração das condições nas faixascosteiras afecte os recursos locais, nomeada-mente a pesca, e reduza o valor turístico destesdestinos. A subida do nível do mar deveráagravar as inundações, o efeito das tempesta-des, a erosão e outros riscos das faixas costei-ras, ameaçando assim as infra-estruturas, ohabitat e as instalações que constituem osmeios de subsistência das comunidades insula-res. As alterações climáticas reduzirão osrecursos hídricos em muitas ilhas de pequenasdimensões, por exemplo nas Caraíbas e noPacífico, de tal maneira que serão insuficientespara satisfazer a procura nos períodos depouca precipitação.”

> Refugiados climáticos

Minúsculas rochas vulcânicas atiradas e espal-hadas no oceano, a maior parte das ilhas doPacífico são recifes coralinos que mal exce-

dem o nível do mar, quando não se encontramsituadas abaixo deste nível, como acontececom a República de Quiribáti, constituída portrês arquipélagos, 32 atóis e uma ilha isolada.O ponto culminante de Quiribáti é Banaba e osseus 81 metros. Tuvalu, Estado da Polinésia,tem oito atóis cujo ponto mais alto se situa a4,5 metros acima do nível das águas… Metadedos seus 11.636 habitantes vive abaixo de trêsmetros de altitude.Ora, as alterações climáticas tornam as marésaltas – águas de até 3 metros acima do nível

normal – cada vez mais frequentes. Tuvalu é oprimeiro país onde as pessoas tiveram deabandonar as suas terras para escapar às inun-dações. Quiribáti e Vanuatu também se vêemforçadas a realojar as populações vítimas daerosão das faixas costeiras e da subida do níveldo mar. Esta migração forçada, nota um relató-rio das Nações Unidas, “implica uma necessi-dade urgente de planos coordenados, tanto anível regional como internacional, para realo-jar as comunidades ameaçadas e criar um arse-nal político, jurídico e financeiro adequado”.

DDoossssiieerrClima Pacífico

1716

As ilhas do Pacífico formam uma dasregiões do mundo mais susceptí-veis de ser afectadas por alteraçõesclimáticas devido à sua vulnerabili-

dade dependente de vários factores: as suaspequenas dimensões, o seu afastamento (a tira-nia das distâncias), as suas estruturas geológi-cas – são muitas vezes ilhas coralinas à tona daágua – , a sua posição nas linhas de deslize dasplacas tectónicas e, portanto, os terramotos eos tsunamis (o famoso Anel de Fogo que seestende até às Américas e ao Japão e desce atéà Nova Zelândia). Sem falar de uma gestãodos recursos, por vezes insustentável. Todas,ou quase todas, estão em situações semelhan-tes ou raramente mais invejáveis que Tuvaluou as Ilhas Salomão. Eis alguns exemplos.Quiribáti culmina a 87 metros, mas muitasdestas ilhas são recifes coralinos cobertos pordois ou três metros de areia, sem rios nem nen-huma fonte de água potável. Algumas ilhas deQuiribáti, nomeadamente Banaba, foram fra-

gilizadas pela exploração do fosfato pelaBritish Phosphate Commission e outras, nasLines Islands, por ensaios das bombas a hidro-génio do Reino Unido e dos Estados Unidosdurante o período colonial. A Ilha de Tarawa(70.000 habitantes) tem os mesmos proble-mas que Tuvalu, apesar de ser maior. Numdos seus recentes relatórios, o ProgramaRegional para o Ambiente do Pacífico Sul(SPREP)1 confirmou que dois ilhéus inabita-dos de Quiribáti – Tebua Tarawa e Abanuea –foram submersos em 1999.As costas dos 19 atóis das Ilhas Marshall estãototalmente deterioradas. Para as proteger,como em Quiribáti, a população amontoa alidesesperadamente todo o tipo de materiaisusados volumosos, camiões, carros velhos eoutras máquinas usadas e cobrem-nos depedras. As Ilhas Marshall e Quiribáti já têm osseus primeiros refugiados ecológicos napequena ilha alta de Niue.Papua-Nova Guiné. Rios da dimensão do

Amazonas quando os seus cursos evoluem emdistâncias relativamente curtas. Em 19 deSetembro de 1994, uma explosão de várioscones do vulcão Rabaul destruiu, em grandeparte, a cidade do mesmo nome. Certas ilhasadjacentes também estão ameaçadas de extin-ção. É o caso, nomeadamente, das IlhasCarteret, com cerca de 2000 habitantes quereconstruem sem parar diques de protecção etentam afastar os mangues sem muita esperan-ça de sucesso. Foi tomada a decisão de ostransferir em pequenos grupos para as IlhasBougainville a quatro horas de navegação.Nauru, muito rica no passado graças às minasde fosfato, foi devastada e fragilizada até àssuas fundações por 50 anos de sobrexploraçãodeste mineral agora esgotado.

1- Instaurado em 1974 pela Comissão do Pacífico Sul,o SPREP tem por missão ajudar os países da região aproteger o ambiente e a praticar um desenvolvimentosustentável.H.G. �

DDoossssiieerr Clima Pacífico

TODAS VULNERÁVEIS: tirania das distâncias e

ANEL DE FOGO

ILHAS COOK15 ilhas, 13 das quais habitadas;coralinas no Norte e vulcânicas noSul; 240 km2; 1.800.000 km2 deáguas territoriais; 19.450 habitan-tes (2000)

FIJI332 ilhas, 100 das quais habita-das, 2 delas muito grandes;18.272 km2; 1.260.000 km2 deáguas territoriais; 799.265 habi-tantes (2000)

QUIRIBÁTI28 atóis, 17 dos quais habitados;690 km2; 3.600.000 km2 de águasterritoriais; 84.440 habitantes(2000)

ILHAS MARSHALL5 ilhas coralinas, 29 atóis e 1200ilhéus; 170 km2; 2.131.000 km2 deáguas territoriais; 51.665 habitan-

tes (2000)

ESTADOS FEDERAIS DA MICRONÉSIA4 grupos de ilhas que perfazem607 ilhas, algumas vulcânicas eoutras do tipo atóis coralinos; 700km2; 2.978.000 km2 de águasterritoriais; 117.644 habitantes(2000)

NAURU1 ilha coralina sobrelevada, 24km2; 320.000 km2 de águas terri-toriais; 12.500 habitantes (2000)

NIUE1 atol coralino sobrelevado; 259km2; 390.000 km2 de águas terri-toriais; 1800 habitantes (2000)

PALAU200 ilhas coralinas ou vulcânicas,8 das quais habitadas; 487 km2;

600.900 km2 de águas territoriais;19.485 habitantes (2000)

PAPUA-NOVA GUINÉ462.840 km2, 3.120.000 km2 deáguas territoriais; mais de5.099.000 habitantes (2000)

SAMOA2 ilhas principais e 7 ilhas adjacen-tes; 2857 km2; 120.000 km2 deáguas territoriais; 169.900 habi-tantes e cerca de 100.000 quevivem no estrangeiro (2000)

ILHAS SALOMÃO6 grandes ilhas, 20 pequenas ecentenas de ilhéus; 28.446 km2;1.630.000 km2 de águas territo-riais; 416.200 habitantes (2000)

TONGA169 ilhas, 45 das quais habitadas;699 km2; 700.000 km2 de águas

territoriais; 98.850 habitantes(2000)

TUVALU9 atóis coralinos, nos quais há 8ilhas habitadas; 26 km2; 757.000km2 de águas territoriais; 9900habitantes (2000)

VANUATU12 ilhas grandes e cerca de 70pequenas habitadas; 12.189 km2;680.000 km2 de águas territoriais;192.910 habitantes (2000)

Os 14 países ACP do Pacífico:

ILHAS DO PACÍFICO SUBMERSAS devido ao

AQUECIMENTO CLIMÁTICOCostas corroídas, lençóis freáticos salinizados, primeiros êxodos de refugiados “climáticos”: o aquecimento climático já é uma dura realidade para a maioria dosinsulares do Pacífico. Do mesmo modo, é dada prioridade a programas que permitama esta população e ao seu ambiente adaptar-se à nova situação climática. Estes programas beneficiam do apoio da União Europeia.

Atol de Funafuti.© Hegel Goutier

Imagem do atol de Funafuti. À direita o oceano, à esquerda a lagoa. © Hegel Goutier

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

As ilhas ACP do Pacífico não serãoas únicas a sofrer severamente asconsequências das alterações cli-máticas. Os Estados insulares das

Caraíbas e a África também se encontramentre os pontos do globo que deverão ser, e jáo são, os mais afectados pelo aquecimentoanunciado. Reconhecendo a responsabilida-de dos países industrializados neste proces-so, a Comissão Europeia elaborou, em 2003,uma estratégia destinada a ajudar os paísesem desenvolvimento a enfrentar os desafioscolocados pelas alterações climáticas. Estaestratégia foi adoptada em 2004 peloConselho de Ministros da UE através de umplano de acção para o período 2004-2008. Apartir daí, o processo acelerou um pouco.Depois, houve as Jornadas Europeias doDesenvolvimento (JED), cujo tema dasegunda edição, organizada em Novembropassado em Lisboa, foi consagrado às altera-ções climáticas. As Jornadas aconteceramapenas um mês antes da ConferênciaInternacional sobre o Clima que, em Bali,adoptou finalmente um “roteiro”, empenhan-do países industrializados e países em desen-volvimento a envidar esforços para reduziras suas emissões de gases com efeito de estu-

fa para além de 2012, data final do primeiroperíodo do Protocolo de Quioto. Na reuniãode Novembro, em Lisboa, o ComissárioEuropeu do Desenvolvimento, Louis Michel,lançou um apelo à constituição de um“empréstimo mundial” para ajudar os paísesem desenvolvimento a enfrentar as altera-ções climáticas. “Imaginemos de maneira criativa umEmpréstimo Mundial que permita angariarmeios para responder a este problema criadopelo clima. Se não adoptarmos, aqui e agora,uma decisão política forte com resultadosimediatos, estaremos na mesma situaçãodaqui a 15 anos.” Este empréstimo, acrescen-tou o Comissário, deverá ser gerido pelasinstituições internacionais e totalmenteapoiado e financiado pelos países mais ricos.

> Necessidade de aliança global

O Empréstimo Mundial permitiria, nomeada-mente, apoiar as acções previstas na estratégiaadoptada pelo Conselho da UE em 2004, mastambém pelo Conselho Conjunto ACP-UE deJunho de 2006, em Port-Moresby, na Papua-Nova Guiné. Mais recentemente, aAssembleia Paritária ACP-UE, reunida de 19

a 22 de Novembro em Kigali, exigiu a criação“de uma estratégia completa sujeita a prazos”,a fim de integrar a prevenção das catástrofes eas estratégias de adaptação concebidas emtodos os planos de desenvolvimento nacio-nais, na política europeia de desenvolvimentoe na ajuda humanitária. Solicita também aospaíses ACP e à UE que fixem um objectivoespecífico para as energias renováveis, quedeveriam ser o elemento central dos progra-mas de cooperação.Por sua vez, Bernard Petit, director-geraladjunto do Desenvolvimento na ComissãoEuropeia, reconheceu nas JED de Lisboa quea parte da ajuda actualmente consagrada àsestratégias de adaptação era “insignificante”e indicou as duas orientações principais quea UE deveria seguir. Primeiro, a necessidadede incluir a parceria UE-África nas estraté-gias de adaptação. Segundo, definir umaabordagem mais política que englobe todosos países. É nesta perspectiva que a UE tra-balha actualmente na construção de umaaliança global, envolvendo os países em des-envolvimento, especialmente os Estadosinsulares, e atribuindo uma grande importân-cia às alterações climáticas nas estratégias dedesenvolvimento. M.M.B. �

DDoossssiieerrClima Pacífico

19

Perante esta subida inexorável das águas e arecrudescência de ciclones por vezes assusta-dores – como o ciclone Val, de funestamemória, que, em 2001, devastou a ilha deSamoa, provocando danos avaliados em230% do PIB desta pequena economia e cau-sando a morte de 13 pessoas –, a ComissãoEuropeia criou uma Facilidade ACP-UE paraas catástrofes naturais. Também estão previs-tos outros fundos. Por sua vez, o secretário-geral do Programa Regional Oceânico doAmbiente (PROE), Asterio Takesa, indicouque a UE já contribuiu com 200 milhões deeuros para a adaptação às alterações climáti-cas e 150 milhões de euros para planos deacção nacionais. O PROE é uma organizaçãointergovernamental encarregada de promovera cooperação, apoiar os esforços de protecçãoe melhoria do ambiente do Pacífico e favore-cer o seu desenvolvimento sustentável. OPROE conta com 25 membros, quatro paísesdesenvolvidos com interesses directos naregião (França, Nova Zelândia, Austrália eEstados Unidos) e 21 países e territórios insu-lares do Pacífico: os Estados Federados daMicronésia, Fiji, Guam, Ilhas Cook, IlhasMarianas do Norte, Ilhas Marshall, IlhasSalomão, Quiribáti, Nauru, Niue, NovaCaledónia, Palau, Papua-Nova Guiné,Polinésia Francesa, Samoa, SamoaAmericana, Tokelau, Tonga, Tuvalu, Vanuatue Wallis e Futuna.

> Ecossistemas em perigo

Para Espen Ronneberg, responsável pelasquestões climáticas do PROE, o Pacíficorepresenta uma grande variedade de desafios,devido à sua topografia, à capacidade limita-da para enfrentar as mutações ambientais e àescassez de competências locais. No seuentender, embora exista um consenso científi-co sobre o efeito de estufa e a realidade dasalterações climáticas, ninguém sabe ao certose as temperaturas mundiais vão continuar asubir ou se haverá acontecimentos imprevis-tos. E acrescenta que, se os recifes coralinos eos ecossistemas insulares podem naturalmen-te adaptar-se em certos limites, ninguém sabe,porém, o que ocorrerá se estes limites forematingidos rapidamente. É o caso, nomeada-mente, dos mangues, dos ecossistemas precio-sos e com grande valor económico. Segundoum estudo financiado, entre outros, peloPrograma das Nações Unidas para oAmbiente (PNUA) (“Os mangues das ilhas doPacífico face a um clima em evolução e àsubida dos mares” - 2006), cerca de 13% dosmangues do Pacífico correm o risco de extin-ção, sendo os das Ilhas Fiji e Samoa os maisameaçados. Neste estudo, Kitty Simonds,director executivo do Conselho de Gestão dasPescas do Pacífico Ocidental, explica que“devido aos laços funcionais entre as zonas

húmidas de mangues e os restantes ecossiste-mas costeiros, bem como à sua contribuiçãoimportante para a produção haliêutica nasproximidades das faixas costeiras, os gover-nos e as comunidades locais das ilhas doPacífico devem agir imperativamente paraassegurar o aprovisionamento sustentável dosserviços inerentes aos ecossistemas de man-gues. O Conselho procedeu recentemente àsubstituição de todos os seus planos actuais degestão das pescas por planos integrados, base-ados nos ecossistemas, para cada arquipélago.As conclusões e as recomendações do presen-te estudo contribuem para a elaboração destesnovos planos relativos aos ecossistemashaliêuticos e adaptados ao local”. M.M.B. �

DDoossssiieerr Clima Pacífico

UNIÃO EUROPEIA E ESTADOS ACP PROCURAM “ESTRATÉGIAS

DE ADAPTAÇÃO”

Floresta destruída.© IStockphoto.com/Geralda

Destruições provocadas pelo tsunami na província de Choiseul. © Robert Iroga

Curso de sensibilização sobre as alterações climáticas. © Hegel Goutier

18

Estados insulares, nos países africanos, nomea-damente os do Sael. É importante que a sua vozseja ouvida em Washington, Pequim ou NovaDeli”, declarou José Manuel Durão Barroso,Presidente da Comissão Europeia, presente nacapital portuguesa. Um apelo repetido pelo con-vidado surpresa das JED 2007, Kofi Annan, queusou de toda a sua autoridade para apontar aospaíses ricos as suas responsabilidades. “Nãonos podemos dar ao luxo de falhar.Necessitamos de um regime pós-Quioto quecomece hoje, não amanhã!”, declarou em tomgrave o antigo Secretário-Geral da ONU.

> A aldeia das ONG

Antes de serem uma plataforma política, asJED são um espaço de debate e de encontroentre os profissionais e o grande público, quefora convidado a visitar em grande número a“aldeia das ONG” e a participar nas discus-sões. No parque da FIL, 650 lisboetas, jovensou menos jovens, aliaram-se às “figuras deproa” das alterações climáticas e às ONG,oriundas tanto do Norte como do Sul. Yvo deBoer, secretário executivo da Convenção-Quadro sobre as Alterações Climáticas dasNações Unidas, encontrou os representantesda Climate Action Network ou ActionAidInternational. Com mais de 2100 participan-tes, “Lisboa foi o ponto de encontro entreDavos e Porto Alegre”, declarou entusiasma-do Durão Barroso.O tema das alterações climáticas foi abordadosob todos os prismas nas múltiplas mesas-redondas, tendo como prioridade o enraiza-mento local. Os países ACP não foram esque-cidos no debate específico sobre as consequên-

cias do aquecimento para os seus agricultores.“É útil estar aqui. Isto permite trocar conheci-mentos, alargar contactos... e, eventualmente,encontrar financiamentos para os nossos pro-jectos”, explica Samuel, agricultor do Gana. AsJED também são um grande salão onde os pro-fissionais do desenvolvimento podem encon-trar-se, trocar impressões e... fazer negócios. “É um espaço incontornável no sector, nomea-damente para encontrar parceiros e fazer negó-cios!”, explica um representante de Granada,uma produtora de audiovisual especializada emdocumentários sobre os países em desenvolvi-mento. Os pavilhões de Radio FranceInternationale ou France 5 atestam que o des-envolvimento é mesmo um mercado de futurono sector do audiovisual. Para os estudantesseduzidos pelo sector caritativo, as JED sãouma boa oportunidade para conseguirem umprimeiro emprego.

> Vitrina

Os Estados aproveitam estes encontros comouma vitrina para mostrarem os seus esforçosem prol dos países pobres. Assim, todos osEstados-Membros da UE, excepto a Bulgária,instalaram um pavilhão nas margens do Tejo.Até havia um pavilhão de Cuba! Os Estadosque aderiram à UE desde Maio de 2004 res-ponderam presente e nada os distingue dosmais “antigos”. “Na nossa opinião, fazemoscoisas boas em matéria de desenvolvimento,logo, é importante demonstrá-lo”, explica arepresentante do pavilhão da República Checa.Nos meandros da aldeia, alguns pavilhõesrepletos de ecrãs planos do último gritoimpressionam pelo seu design rebuscado,

embora nem sempre sejam dos Estados maisvirtuosos em matéria de ajuda pública ao des-envolvimento.Mas esta abundância de iniciativas não ocul-tou a mensagem principal das JED 2007: aurgência em ajudar os mais pobres no comba-te às alterações climáticas. “Algumas partes daÁfrica serão afectadas por acontecimentos cli-máticos extremos, como inundações ou tem-pestades. Isso acontecerá não no final do sécu-lo, mas durante a nossa própria existência”,advertiu o administrador do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento,Kemal Dervis. “Serão os mais desfavorecidosos primeiros a serem afectados”, preveniuMamadou Cissokho, presidente da rede dasorganizações de camponeses e produtores daÁfrica Ocidental.Louis Michel não esperou muito para passarda reflexão à acção ao propor, na sessão deencerramento, um “empréstimo mundial” paraajudar os países pobres a enfrentar as alteraçõ-es climáticas. “Se não tomarmos, aqui e agora,uma decisão política forte com resultados ime-diatos, daqui a 15 anos estaremos na mesmasituação”, afirmou o Comissário. Foi um des-afio lançado a todos os decisores da Europa ede outros continentes, mas também uma formade lembrar que as JED são um meio de quedispõe a UE, primeiro doador mundial, parainfluir na agenda do desenvolvimento ainda, omais das vezes, determinada em Washington.A terceira edição das JED já está agendadapara Novembro de 2008 em França, provavel-mente em Estrasburgo, tendo como tema pro-missor o papel dos poderes públicos no desen-volvimento.�

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 2120

Apoucos metros do Tejo, no imensoparque da Feira Internacional deLisboa (FIL), ONG e diplomatas,agricultores africanos ou Chefes de

Estado, misturam-se alegremente num ambien-te próprio de um salão de estudantes. Esta mes-cla improvável é a receita detonadora dasJornadas Europeias do Desenvolvimento(JED), cuja segunda edição teve o êxito espera-do de 7 a 9 de Novembro de 2007, em Lisboa.Após a primeira edição em forma de balão deensaio em 2006, em Bruxelas, esta iniciativa,concebida pelo Comissário Europeu doDesenvolvimento, Louis Michel, entrou emritmo de cruzeiro na capital portuguesa, subor-

dinada a um tema central: o impacto das altera-ções climáticas sobre o desenvolvimento.“Se não integrarmos as alterações climáticasnas nossas políticas de desenvolvimento – aquie agora – perderemos o benefício de todos osinvestimentos que fizemos.” O Comissário deuo tom, o da gravidade, já na sessão de aberturaperante José Sócrates, Primeiro-Ministro dePortugal, que detinha a Presidência da UE, cujapresença assinalava pela primeira vez a aprova-ção das JED pelo Conselho. Este apelo à res-ponsabilidade transformou-se em grito de alar-me quando o Presidente das Maldivas,Maumoon Abdul Gayoom, explicou que oaquecimento global ameaçava a própria sobre-

vivência do seu arquipélago. Daí a ideia de lan-çar um apelo solene a todos os países desenvol-vidos e emergentes para se empenharem emobjectivos coercivos de redução das emissõesde gás carbónico. Na véspera da tão aguardada ConferênciaInternacional sobre as Alterações Climáticasem Bali, no mês de Dezembro, as JED apresen-taram uma plataforma ideal à UE para quemanifeste a sua solidariedade com os paísespobres e aumente, assim, a pressão sobre osoutros parceiros mais hesitantes em empenhar-se nas negociações. “São os que menos contri-buíram para as alterações climáticas que são osmais afectados. Refiro-me aos pequenos

I nteracções

JORNADAS EUROPEIAS DO DESENVOLVIMENTO

Sebastien Falletti

Juntos frente àsALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Jornadas Europeias do Desenvolvimento, Lisboa, 7 a 9 de Novembro de 2007. © CE

KKofi Annan e José Manuel Barroso, Lisboa, 7 a 9 de Novembro de 2007. © CE

InteracçõesACP-UE

22 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Sete anos depois da primeiraCimeira UE-África realizadano Cairo e do fracasso da rea-lização de um segundo encon-

tro em 2003, devido a um desacordoquanto a convidar ou não o Presidentedo Zimbabué Robert Mugabe, aCimeira de Lisboa lançou a nova parce-ria estratégica entre os dois continentes.Este novo relacionamento e a novaEstratégia Conjunta África-UE serãoimplementados através de um primeiroPlano de Acção (2008-2010) com oitoparcerias específicas UE-África, queabrangem mais de 20 acções prioritáriasem domínios como a paz e segurança,governação democrática e direitoshumanos, comércio e integração regio-nal, Objectivos de Desenvolvimento doMilénio (ODM), energia, alterações cli-máticas, migração, mobilidade e empre-go, ciência, sociedade da informação eespaço. Os resultados iniciais serão ana-lisados na próxima Cimeira, agendadapara se realizar em 2010 em África.

> Plano de acção

Os mais de 70 Chefes de Estado e deGoverno dos dois continentes compro-meteram-se a assegurar que aArquitectura Africana de Paz eSegurança passará a funcionar plena-mente, criando ao mesmo tempo a estru-

tura necessária para o financiamento pre-visto de actividades de manutenção depaz em África. Nos próximos meses aSomália dará uma oportunidade para tes-tar este compromisso no terreno. A parceria deverá igualmente abranger apromoção do Mecanismo Africano deAvaliação pelos Pares e o apoio à CartaAfricana da Democracia, das Eleições eda Governação, intensificando aomesmo tempo a cooperação no domíniodos bens culturais. O Plano de Acçãoaborda igualmente o comércio, a integra-ção regional e medidas para reforçar acapacidade de África para estabelecernormas e controlos de qualidade e assis-tir ao lançamento de uma parceria UE-África ambiciosa em matéria de infra-estruturas, a que foi afectado um pacotede 5,6 mil milhões de euros. Outras par-tes do Plano de Acção incluem acelerar oprogresso para os Objectivos deDesenvolvimento do Milénio e melhorara segurança energética e o acesso à ener-gia comuns. Outro objectivo fundamen-tal é desenvolver uma agenda comum dedecisões políticas para abordar as impli-cações das alterações climáticas.Também estão incluídas as migrações, amobilidade e o emprego, sendo dadaênfase à aplicação da declaração daConferência de Trípoli sobre Migração eDesenvolvimento e ao Plano de AcçãoUE-África relativo ao tráfico de sereshumanos. Além disso, o Plano de Acção

centra-se igualmente no apoio ao desenvolvi-mento de uma sociedade da informação emÁfrica e na realização de esforços especiaispara estabelecer capacidade científica.No contexto mais vasto UE-África e a fim deimplementar as prioridades acordadas, aComissão Europeia e 31 Estados ACP da Áfri-ca Subsariana assinaram em Lisboa programasde cooperação conhecidos por Documentos deEstratégia Nacionais para o período 2008-2013,avaliados em mais de 8 mil milhões de euros(ver extratexto). Serão assinados acordossemelhantes com outros países nas próximassemanas, o que fará aumentar a dotação da UEatravés do 10.º Fundo Europeu deDesenvolvimento para os países da ÁfricaSubsariana para um montante entre 11 e 12 milmilhões de euros no período 2008-2013. Estevalor não inclui o financiamento adicional paraimprevistos, a ajuda regional, os financiamen-tos do Banco Europeu de Investimento (BEI) eo programa de cooperação separado com aÁfrica do Sul, os países do Norte de África eoutros acordos, como a assistência relacionadacom o comércio. Para além destes, foram con-cluídos acordos de cooperação separados comos países do Norte de África, bem comoempréstimos do BEI.

> “Aliança indispensável”

Nas palavras do Comissário para oDesenvolvimento, Louis Michel, a EstratégiaConjunta, o Plano de Acção e os acordosindividuais procuram criar uma "aliançaindispensável" entre os dois continentes,abordando em conjunto os desafios do futuroe ultrapassando as diferentes perspectivasque podem ter sido expressas na Cimeira deLisboa. Foi uma Cimeira que correspondeu atodas as expectativas em termos de discussãoaberta e séria e relegando para a história aantiga relação unilateral doador-beneficiário. Um exemplo foi quando a Chancelerinaalemã, Angela Merkel, aproveitou a oportuni-dade para lembrar ao Presidente RobertMugabe o carácter universal de valores comoos direitos humanos. Ele reagiu criticandofortemente a "arrogância" da Alemanha e deoutros países que o criticaram. Mais tarde,um apelo do Presidente da Líbia, MuamarGaddafi, para uma indemnização pelos danoscoloniais deparou com a recusa de LouisMichel, que referiu o enorme volume deajuda ao desenvolvimento atribuída pelaEuropa nas últimas décadas à região.Procurando unir os dois lados, o Presidenteda Comissão da União Africana, Alpha OmarKonaré, instou os líderes dos dois continentes

a "enterrarem definitivamente o passadocolonial".

E actualmente, apesar destas declarações fran-cas, as relações entre a UE e a Líbia deram umpasso em frente com a decisão do ConselhoEuropeu de 14 de Dezembro de dar início anegociações para concluir um acordo de coo-peração com Trípoli. Os dois lados também não se furtaram a ques-tões sensíveis, como as migrações. Uma ques-tão em que a Europa está preocupada com oafluxo de imigrantes ilegais e África estáansiosa por acabar com a fuga de cérebros,mas em que ambos os lados querem aproveitaras oportunidades oferecidas pela migração cir-cular, as oportunidades de emprego e a criaçãode empregos. Os projectores também se viraram para a pers-pectiva de acordos comerciais compatíveiscom a Organização Mundial de Comércio(OMC) – os designados Acordos de ParceriaEconómica: APE. Prevê-se que em 2008 estesacordos substituam as preferências comerciaisnão recíprocas de que os Estados ACP têmbeneficiado ao abrigo das cláusulas comerciaisdo Acordo de Cotonu.O Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade,exprimiu a opinião de que África não estava pre-parada para criar uma zona de comércio livrecom a Europa. Dois dirigentes europeus concor-daram em certa medida com esta opinião. OPrimeiro-Ministro irlandês Bertie Ahern afir-mou que era preciso “mais tempo” para as nego-ciações, enquanto o Presidente francês NicolasSarkozy reconheceu a vulnerabilidade de algunspaíses ACP. No entanto, alguns funcionários

europeus salientam que estes pontos de vista nãoreflectem a posição da UE, que atribuiu ummandato à Comissão Europeia para negociar osAPE com os países ACP. Apesar disto, a Comunidade da ÁfricaOriental, vários Estados da África Austral e doOceano Índico, a Costa do Marfim e o Ganaconcluíram acordos provisórios de comérciode mercadorias com a Comissão Europeia. OPresidente desta Instituição, Durão Barroso,comprometeu-se a consultar os líderes dasquatro regiões africanas antes de lançar umanova ronda de conversações, em Fevereiropróximo, para concluir APE globais com todosos países da África Subsariana. Estes acordosabrangerão igualmente o comércio de servi-ços, investimentos, propriedade intelectual e aabertura dos contratos públicos à concorrência F.M. �

23

Uma nova PARCERIA

estratégica Uma Estratégia Conjunta e um primeiro Plano de Acção para 2008-2010, destinados alançar a nova parceria estratégica entre a UE e África, foram os dois resultados principais da segunda Cimeira UE-África, realizada em Lisboa, em 8 e 9 de Dezembro de2007. Foi uma Cimeira sem tabus e com debates francos, que mostrou uma vontade clarade virar a página do passado colonial e enfrentar em conjunto os desafios do futuro.

José Manuel Barroso durante a Cimeira UE-África em Lisboa (8 e 9 de Dezembro de 2007). © EC

José Manuel Barroso e Alpha Oumar Konaré, Presidente da União Africana em Lisboa. © EC

O Comissário Europeu para o Desenvolvimento e a Ajuda Humanitária,Louis Michel, durante a Cimeira UE-África em Lisboa

(8 e 9 de Dezembro de 2007). © EC

Interacções UE-África InteracçõesUE-África

24 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Ajuda por país Montantes dos programas indicativos nacionais paraos 31 Estados signatários dos documentos de estra-tégia de cooperação com a UE (rubricas A e B):

Em milhões de euros Benim 340,2 Botsuana 77,3Burquina Faso 537,2Burundi 202,1Camarões 245,9Comores 48,1Congo-Brazzavillle 85Jibuti 41,1Etiópia 674Gabão 50,2Gâmbia 77,9Gana 373,6Guiné-Bissau 102,8Quénia 394,4Lesoto 138Libéria 161,8Madagáscar 588,2Malavi 438Mali 559,3Maurícia 63,4Moçambique 634,1Namíbia 104,9Ruanda 294,4São Tomé e Príncipe 18,2Senegal 297,8Seicheles 6,3Serra Leoa 268,4Suazilândia 63,9Tanzânia 565,1Chade 311Zâmbia 489,4

NB: A estes montantes podem acrescentar-se subsí-dios suplementares para cobrir necessidades imprevis-tas, bem como ajudas regionais e os financiamentosdo Banco Europeu de Investimento.

Fonte: Direcção-Geral do Desenvolvimento daComissão Europeia

25

REPARTIÇÃO DO10º FED

Dos 22.682 milhões de euros do10.º FED (2008-2013), 21.966milhões vão para países ACP,

286 milhões para Países e TerritóriosUltramarinos (PTU) e 430 milhões para aComissão, a título de apoio à programa-ção e execução do FED. O montantetotal para os países ACP inclui 17.766milhões de euros para os programasindicativos nacionais e regionais, 2700milhões para cooperação intra-ACP eintra-regional e 1500 milhões paraFacilidades de Investimento. O FED vaicentrar-se mais nos programas regionaispara apoiar a execução dos Acordos deParceria Europeus (APE) e também nos"incentivos" para a boa governação. �

Os APE “INFLAMAM” a Assembleia Paritária

“Não há plano B! O plano são as regras daOMC”, declara com firmeza Louis Michelna sala em polvorosa do centro de conferên-cias do Serena Hotel, em pleno centro de

Kigali, onde uma centena de parlamentares, oriundos dos quatrocontinentes, o ouviram. O Comissário Europeu doDesenvolvimento deu o seu apoio total aos Acordos de ParceriaEconómica (APE) que a UE tenta celebrar com os países ACP, afim de satisfazer as exigências da OMC. Mais do que nunca, osAPE dominaram os debates da Assembleia Parlamentar Paritária(APP) UE-ACP, na sua 14ª reunião, que decorreu de 19 a 22 deNovembro de 2007 na capital ruandesa, desencadeando não sódiscussões acesas com a Comissão Europeia, mas também divi-sões entre deputados europeus.A poucas semanas da data-limite de 31 de Dezembro, fixada pelaOMC para a conclusão das negociações, a APP serviu de porta-voz às inquietações provocadas pela liberalização comercial pre-vista nos APE. E os parlamentares ACP, apoiados por muitos dosseus colegas do Parlamento Europeu, não deixaram escapar aoportunidade de transmitir a mensagem à Comissão, encarregadadas negociações, mas também ao Conselho, tirando partido da pre-sença de João Cravinho, Ministro da Cooperação de Portugal, queentão detinha a Presidência da UE.

Estaleiro no centro de Kigali (Ruanda).© Andrea Frazzetta (Agenzia Grazia Neri)

Por cortesia de Andrea Frazzetta

Interacções ACP-UE InteracçõesACP-UE

A ÁFRICA QUER TRANSFORMAR

OS SEUS DIAMANTES EM CASA

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 27

C omércio

26

> A Declaração de Kigali

Com um resultado tangível, fruto de vários diasde debates e de negociações nos bastidores, foifinalmente adoptada a Declaração de Kigali,que sublinha as inquietações dos ACP em rela-ção à estratégia da Comissão, que ameaçavaimpor o sistema de preferências generalizado –muito menos generoso em termos de acesso aomercado da UE – aos países que não assinas-sem um acordo dentro do prazo. A Declaraçãode Kigali considera que este sistema “poria emperigo o bem-estar e os meios de subsistênciade milhões de trabalhadores”, lembrando oscompromissos assumidos pela UE no Acordode Cotonu revisto, que especifica que nenhumpaís ACP deverá encontrar-se numa situação

menos favorável no final das negociações. Noentanto, sob a pressão dos democratas-cristãose dos liberais, a Declaração refere igualmente anecessidade imperiosa de compatibilidade comas exigências da OMC. No momento em que os negociadores daComissão tentavam concluir dentro do prazoacordos de comércio livre compatíveis com asregras da OMC, os parlamentares, como nãohouvesse APE completos, denunciaram as“pressões” e a abordagem “dogmática e ditato-rial” do executivo europeu. “Como nos bonsvelhos tempos das colónias, pedem-nos que

sejamos meninos de bem e venhamos assinarem Bruxelas!”, afirmou irritado o Sr. Sebetela,do Botsuana, desencadeando um coro de aplau-sos. “É uma autêntica chantagem!”, exclamou osocialista belga, Alain Hutchinson. Apesar deste dilúvio de críticas, Louis Michelmanteve-se firme. Reafirmou a sua fé nos APEdescritos como “instrumentos de desenvolvi-mento” e tentou serenar os ânimos, lembrandoque a liberalização comercial seria progressiva eacompanhada de ajudas financeiras europeiassubstanciais. “Não se trata de uma liberalizaçãoestúpida e pérfida!” explicou o Comissário antesde lembrar o fracasso do sistema de preferênciacomercial existente há várias décadas. Para ele,chegou a altura de os países ACP aceitarem ojogo da abertura económica, tomando por mode-lo o crescimento dos países asiáticos.

> O monopólio da China

A Ásia e suas potências emergentes, como aChina ou a Índia, que estão a tomar posições nocontinente africano, provocaram outro debateaceso em Kigali, desta vez entre parlamentareseuropeus e os seus homólogos ACP. Estes últi-mos opuseram-se a qualquer crítica a Pequimnum relatório sobre os investimentos estrangei-ros adoptado pela Assembleia, desencadeandoa fúria da co-relatora luxemburguesa AstridLulling. “A China açambarca os recursos natu-rais e as matérias-primas deste continente. Isso

não contribui para o seu desenvolvimento, sóbeneficia as empresas chinesas. A ajuda daChina faz mais mal do que bem”, declarou semambiguidade a deputada europeia, provocandopor sua vez a ira dos parlamentares africanos,apoiados pelo Co-Presidente da APP,Radembino Coniquet. “Cada país tem o direitode estabelecer relações com quem o desejar”,retorquiu secamente um representante daRepública Democrática do Congo (RDC),acrescentando que os ACP não devem receberlições de uma Europa cujas empresas estãomais interessadas em externalizar-se para oImpério do Meio do que para África. Foi umfogo cruzado que revelou a sensibilidade daquestão e o trabalho hercúleo que se depara àUE, que deseja estabelecer um diálogo “a três”com Pequim e o continente africano.A Assembleia recuperou a sua unidade paradenunciar a degradação da situação no Leste daRDC, onde a prossecução dos combates entre oexército congolês e as forças rebeldes, chefia-das pelo general Laurent N’Kunda, forçou350.000 pessoas a fugir dos seus lares emmenos de um ano. Os parlamentares, numaresolução de urgência, apelaram à mobilizaçãoda comunidade internacional e dos paísesvizinhos. “O Congo é o gatilho da África”, afir-mou um parlamentar da RDC. “A violação demulheres, o assassínio de crianças, a violênciae a pilhagem por razões étnicas fazem destacrise uma ameaça à estabilidade da região”,confirmou o deputado alemão, JürgenSchroeder. O aviso da APP foi tragicamenteconfirmado dias depois pela intensificação doscombates à volta da cidade de Goma, perto dafronteira com o Ruanda.A Assembleia foi também uma ocasião paraenviar um sinal de alarme sobre um assuntomenos dramático, mas com repercussões sériaspara os países ACP: o atraso na ratificação doAcordo de Cotonu revisto põe em perigo o des-bloqueio do 10.° Fundo Europeu deDesenvolvimento previsto para o período2008-2013. Os Co-Presidentes, GlenysKinnock e Radembino Coniquet, lançaram umapelo à mobilização dos parlamentos nacionaispara que garantam a ratificação no prazo pre-visto e permitam, assim, o desbloqueio daajuda europeia. Os 27 países da UE e dois ter-ços do Grupo ACP devem obrigatoriamente terratificado o acordo para que a Comissão possautilizar os 22,6 mil milhões de euros do FED.“O problema é muito sério. Enquanto não forconcluído o processo de ratificação, não have-rá financiamentos para os projectos nem ajudaorçamental”, preveniu a Srª Kinnock, esperan-do que esta questão já esteja regularizada napróxima reunião da APP na Eslovénia.S.F. �

Na sequência dos países produtoresde hidrocarbonetos da América doSul, eis que “o nacionalismo dosrecursos” se estende aos Estados

africanos produtores de diamantes, que exi-gem que a indústria os ajude a transformar osseus produtos no seu próprio continente. Umaaspiração difícil em termos de rentabilidade.A pedido dos países produtores africanos, aúltima conferência sobre o diamante, realiza-da em Antuérpia em 15 e 16 de Outubro pas-sado, focalizou-se essencialmente no debatesobre a transformação in loco das suas gemas,processo a que os Sul-Africanos chamaram“beneficiação”.O ponto de partida deste debate é a tomadade consciência pelos dirigentes da ÁfricaAustral de que a África, que fornece a maiorparte das matérias-primas (diamantes, ouro,platina, etc.) do sector mundial da joalharia,só obtém o equivalente de 10% das receitas

deste sector (150 mil milhões de dólares). Mas contrariamente a um Estado como aBolívia, que decidiu pura e simplesmentenacionalizar a indústria do petróleo exigindoque as companhias lhe retrocedessem as suasquotas, os países produtores da África Austral,detentores de quotas importantes no capitaldas companhias mineiras, tencionam garantirque a mais-valia resultante da lapidação dosdiamantes beneficie a sua balança comercial eo seu mercado de emprego.Trata-se de uma onda de fundo. Com oBotsuana, África do Sul, Angola, RDC eNamíbia, a África representa cerca de 60% dovolume e do valor da produção mundial dediamantes brutos e tenciona tirar partido dasituação de oligopólio em que se encontramas companhias mineiras produtoras (as filiaisda De Beers, mas também a companhia ango-lana estatal Endiama) para impor as suas con-dições ao mercado.

> Ocupar um nicho de mercado

Para acrescentar valor aos seus produtos, estesEstados tencionam impor ao mercado a suadeterminação em assegurar, desde já, o acessoa um mínimo de pedras de grande calibre, paraas quais o custo salarial representa uma partemenor do que no caso dos diamantes. Com istotencionam criar um nicho de mercado, aban-donando o das “pequenas mercadorias” aosIndianos, Tailandeses ou Chineses, cujos cus-tos salariais são imbatíveis.Na África do Sul, um acordo celebrado entre aDe Beers e o State Diamond Trader (SDT) autoriza esta entidade a adquirir 10% de toda aprodução para a mandar lapidar no local, pre-ferencialmente por empresas de promoçãoeconómica de Negros (Black EconomicEmpowerment). Na Namíbia, outro acordocelebrado entre a De Beers e a Namíbia

A ÁFRICA QUER TRANSFORMAR

OS SEUS DIAMANTES EM CASA

Activité commerciale, Bamako 2007.© Afrique in visu /Baptiste de Ville d'Avray

Interacções ACP-UE

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Mimi Barthélémy e o conto são inseparáveis. É difícilencontrar um dramaturgo ou actor profissional que tra-balhe a partir dos contos que não conheça esta haitianaque transformou uma arte, senão um folclore tradicional,

em teatro experimental de alto nível, e apresentou as suas criações emdiferentes continentes, recebendo várias distinções pelo seu trabalho dedesbravadora de terrenos encantadores. Aborda o conto sob todos osprismas: pela escrita, a encenação, a música, a sociologia, a semiologia. A sua obra valeu-lhe muitos prémios e distinções. Recebeu distinçõescomo a de Chevalier de l’Ordre National du Mérite (França), Officier del’Ordre des Arts et des Lettres (França), Becker d'Or no 3.° Festival daFrancofonia (1989), Prémio Arletty da Universalidade da LínguaFrancesa (1992), sem contar as presidências de júris e outras distinções. Em 11 de Novembro passado, encontrava-se em Bruxelas, na Roseraie,para apresentar uma peça destinada sobretudo a um público jovem,Quand les chiens et les chats parlaient (No tempo em que os cães e osgatos falavam). Mas, como acontece habitualmente nestes espectáculos,os adultos não se fazem rogados e acorrem aplaudir, tanto neste estilode apresentação como em peças para um público mais exegeta do tea-tro moderno, caso de Une si belle mort (Uma bela morte), ainda nasmemórias, cuja estreia foi um triunfo em Avinhão em 2001.Mimi Barthélémy chegou cedo a Bruxelas. Após a sua chegada, limi-tou-se a tomar um pequeno-almoço convivial com os organizadores doespectáculo. Tinha de se dirigir rapidamente para o teatro da Roseraiepara as últimas afinações, mas também para o prazer dos reencontroscom pessoas conhecidas e admiradores, antes de subir ao palco. Elaconta, plácida, calma como sempre, com uma afabilidade que seduztodos os que privam com ela. E ouve, deixando pensar que os seusinterlocutores são, para ela, o que mais conta na vida. Mimi – como lhe chamam carinhosamente – é uma presença, umaalquimia que seduz rapidamente todo o público por mais morno que

possa ser à partida, transformando-o em figurantes que retomam can-tos e textos, muitas vezes em crioulo ou em espanhol, que o públicomuitas vezes não compreende. As crianças são atraídas por ela, ficamboquiabertas, sem respiração. Não perdiam pitada, fosse uma palavra, uma sílaba ou uma respiração dahistória dos dois gatos esfomeados que decidem que um deles faria demorto para a vizinhança, que acorreu à vigília, artimanha que inventarampara comer os veladores e assim matar a fome. O resumo da história quenos fez previamente já deixava antever que era de cortar o fôlego. “Através deste simples fio e num mundo de animais (ratazana, rato, zan-dolite, pipirite, etc.), aproveito para recriar todo o ambiente de uma vigí-lia mortuária em Haiti. Da cozinha ergue-se a voz que conta ‘Ti Fou e omonstro de sete cabeças ou como o dia e a noite desceram à terra’ (e issopassou-se no Haiti)...” É o maravilhoso que se torna realidade! Depois deste espectáculo, Mimi ainda estava extasiada com o encantoque criara nos pequenos anjos que vieram admirá-la e beber as suas pala-vras e a sua música. A conversa com os amigos e a parte belga da famí-lia do seu ex-marido defunto, Gérard Barthélémy, pai dos seus filhos, co-autor com ela de livros e estudos diversos. O tempo era pouco, ela tinhade apanhar o Thalys nessa mesma noite.Mimi recordar-se-á do seu pai, ex-decano da Faculdade de Medicina dePort-au-Prince, antigo clínico dos Hospitais de Paris e descendente de umantigo chefe negro da guerra de independência do Haiti que fugira paraos bosques para viver em liberdade; e a sua mãe, filha de um antigo pre-sidente do Haiti dos anos 20. Mimi Barthélémy viajou muito, a partir dosdez anos, nas Caraíbas e na Florida, antes de rumar a Paris para estudarCiências Políticas. Expatriação e desilusão. “Quando, aos 16 anos, ajovem que havia concluído os estudos secundários parte do Haïti paraFrança, depressa compreende o doloroso sentido da palavra exílio…Tinha laços de parentesco com os Franceses, pertencia a uma famíliamulata cultivada… A França de então era colonial e encontrava-se em

29

E m foco

28

Diamond Trading Company (NDTC) garante aentrega de diamantes brutos a 11 oficinas delapidação de 2007 a 2011. O objectivo para2009 é pôr à disposição destas oficinas de lapi-dação quantidades de diamantes no valor de300 milhões de dólares.Por sua vez, o Botsuana espera aumentar ovolume de negócios anual das suas 16 oficinasde lapidação nos próximos dois anos de 200para 500 milhões de dólares, o que representa oequivalente ao quarto das suas exportações dediamantes brutos (cerca de 2 mil milhões dedólares). Este país espera colher dividendos dasua posição de primeiro produtor mundial e dofacto de a sua capital, Gaborone, receber, a par-tir de 2008, o maior centro de triagem e distri-buição da Diamond Trading Company, o braçocomercial da De Beers, que externaliza para oBotsuana uma parte das suas actividades dapraça de Londres. Esta terá, aliás, a obrigaçãode alimentar as oficinas de lapidação locais emcondições que lhes permitam ser competitivas,ou seja, em pedras de média ou de grandedimensão.Angola evolui na mesma direcção, apoiada emprojecções que deixam antever a duplicação daprodução actual (cerca de 9 milhões de quilatespara receitas de exportações de cerca de 1,2 milmilhões de dólares) dentro de dez anos. À De Beers, número um mundial da oferta debruto, não lhe resta outra alternativa senãoseguir o movimento. Está em jogo a recondu-ção dos seus acordos de joint-venture com ostrês Estados, o Botsuana, a África do Sul e aNamíbia, que ainda constituem o suporte dasua capacidade de acção no mercado mundial eque partilham o mesmo objectivo estratégico.

> Um novo oligopólio

Está assim em vias de formação um oligopólioafricano da oferta, perante o enxame de nego-ciantes e de lapidadores mundiais. A capacida-de de acção deste oligopólio sairá tanto maisreforçada quanto, a partir de 2008, a procuraexcederá a oferta e o desnível continuará aacentuar-se ulteriormente, de acordo com asprojecções do outro gigante do sector, RioTinto Diamonds, segundo o qual a “beneficia-ção” é “inevitável” (sic). Mesmo se a De Beerstenciona investir cerca de 2,6 mil milhões dedólares em novos projectos, nomeadamente naÁfrica do Sul, Botsuana, Namíbia e Tanzânia,

o desnível vai tomar proporções consideráveis.Outro “peso pesado” do mercado mundial, opresidente da companhia russa Alrosa, SergeyVybornov, considera que, em 2020, a procuramundial de diamantes brutos andará por voltados 20 mil milhões de dólares, quando a ofertasó atingirá 9 mil milhões de dólares à cotaçãoactual. Resultado: as cotações vão subir. Dito isto, a aposta na “beneficiação” só poderáser ganha em determinadas condições, avisa odirector da De Beers, Gareth Penny. A primei-ra é que é necessário ter em conta o desafioasiático dos baixos custos salariais de produ-ção. As oficinas de lapidação implantadas emÁfrica deverão identificar os segmentos domercado em que poderão ser competitivos edeixar as oficinas de lapidação indianas tratar aprodução de menor valor, que não é económi-co transformar no continente. Além do mais, osgovernos africanos deverão criar um ambienteatraente para os investimentos directos estran-geiros no sector. Mas os negociantes de diamantes de Antuérpianão escondem que o desafio não será fácil,quanto mais não seja devido à penúria de mão-de-obra qualificada de que sofre actualmente aÁfrica. Convém não esquecer que a formaçãode um lapidador leva, no mínimo, cinco anos. E por último, as perspectivas não se apresen-tam da mesma maneira para os grandes produ-tores, como o Botsuana, Angola e, mesmo, aRDC ou a África do Sul, e os mais modestos,como a Serra Leoa ou a Libéria. Sendo o pesodos primeiros muito mais importante no mer-cado mundial, podem pressionar muito maisfacilmente as companhias mineiras no sentidoque lhes convém. F.M. �

MIMIBARTHÉLÉMYDramaturga, actriz, contadora de histórias, música e escritora

A metamorfose dos contos

tradicionais caribenhos em teatro

experimental

Um dia na vida de

As fotografias das páginas 27 e 28 ilustram diferentes etapas da produção

de diamantes numa oficinade lapidação em Antuérpia.

Por cortesia do Centro Mundial de Diamantes de Antuérpia (Antwerp World Diamond Centre – AWDC)

Comércio

O OURO VERDE NO CENTRODAS CONTROVÉRSIAS

MMenos mediatizada do que a sua congénere climática, aConvenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) surgiu,como a Convenção sobre o Clima, após a Cimeira daTerra no Rio de Janeiro, em Junho de 1992. Mas nem por

isso o alcance da CDB é menos importante, porque ambiciona conser-var e utilizar de forma sustentável todos os elementos do mundo bioló-gico, de que depende a nossa sobrevivência, muito embora não se con-tente em desempenhar o papel de defensora da natureza. Com o apare-cimento das biotecnologias e a extensão dos direitos de propriedade –nomeadamente a patente – ao mundo dos seres vivos, a CDB propõe umquadro jurídico que assegure uma partilha justa e equitativa dos benefí-cios resultantes dos recursos genéticos, quer se trate de plantas, extrac-tos de animais ou micro-organismos, que estão na origem, nomeada-mente, dos princípios activos de muitos medicamentos. Como se depre-ende, o desafio é enorme. Tanto a nível biológico como económico.

> Empobrecimento

A riqueza biológica da Terra vai empobrecendo. É a conclusão a quechegaram os cientistas para os quais a quantidade de espécies queexistiram na Terra é 10 vezes superior à das espécies actuais. A serassim, a extinção seria um fenómeno normal na natureza, excepçãofeita à diferença de ritmo de extinção, que acelerou. Pode-sedemonstrar que, há mais de um século, a causa do desaparecimentode inúmeros organismos vivos é o homem. Se a tendência actual semantiver, as perdas serão de cerca de 50.000 espécies por ano naspróximas décadas. Devido à sua posição geográfica, a maioria dos Estados ACP desfrutade um clima tropical e subtropical favorável à multiplicação das espé-cies. Assim, as florestas da África Central contêm uma mistura extre-mamente variada de plantas e animais, compreendendo cerca de 400

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 31

N ossa terra

30

plena guerra da Argélia… Ao emigrante estrangeiro, a França não ofere-cia outra opção que a assimilação.”Mimi abandonou os estudos para acompanhar o marido, GérardBarthélémy, adido cultural nas embaixadas de França na Colômbia,Bolívia, Sri Lanka e novamente Bolívia. Depois das referidas peregrina-ções, retomou os estudos em 1972 e licenciou-se em Letras Hispânicasem França. Após uma estadia de um ano nas Honduras entre osGarifunas, para estudar esta cultura rara – primeira mescla no continenteamericano de negros e de ameríndios – cuja língua, o garifuna, é a sobre-vivência africanizada da língua arawak. Uma língua que tem a singulari-dade de ser “sexuada”, as mulheres e os homens não falam da mesmamaneira. Os substantivos utilizados para designar o mesmo objecto, umamesa por exemplo, dizem-se diferentemente em função do locutor ou dalocutora. Foi um doutoramento de teatro sobre o tema do papel do teatroda identidade numa minoria cultural: os Garifunas.“A América Latina e sobretudo a Colômbia deram-me a oportunidade decontactar personalidades culturais de vulto na década de 60. A minha ini-ciação artística fez-se pela frequentação assídua do TEC, TeatroExperimental de Cali, fundado e dirigido por Enrique Buenaventura, e daCasa de la Cultura de Bogotá, fundada e dirigida por Santiago Garcia.Tive a oportunidade de descobrir, graças a eles, as obras de autores con-temporâneos militantes europeus e latino-americanos, como Brecht,

Kantor, Grotowski, Eduardo Manet, José Triana, Arrabal, Borges, JoãoCabral de Melo Neto, etc.”Interessou-se também por teatros tão variados como os de Claude Alranq,L’Odin Théâtre de Eugenio Barba, o Théâtre du Soleil de Mnouchkine ePeter Brook. Frequentou os estágios de Eduardo Manet e do Roy HartThéâtre. Actuou em França sob a direcção de Rafael Murillo Selva, con-hecido na Colômbia, e foi assistente do encenador contestatário ManuelJosé Arce, produzindo então um teatro bastante crítico sobre as ocupaçõ-es militares americanas na América Central e do Sul.Uma grande parte da sua investigação universitária ocorreu paralelamen-te a estas experiências teatrais. Orientou-se para o teatro por espírito desobrevivência, como ela própria disse. “Os meus primeiros passos no tea-tro, a minha aprendizagem no terreno e os meus estudos universitáriosconduziram a uma prática do teatro sobre a memória do meu país. Tinhade resistir à perda de identidade, à alienação a que me condenava a minhaassimilação à França. É numa óptica de resistência pela minha sobrevi-vência mental, de revolta e de militância que abordo o teatro.”

mimibarthelemy.comÚltima obra publicada:Livro com disco “Dis-moi des chansons d'Haïti”Editor: Lise Bourquin Mercadé H.G. �

O OURO VERDE NO CENTRODAS CONTROVÉRSIAS2007 foi o ano do clima, 2008 será o da biodiversidade. De 19 a 30 de Maio próximo, os 188 Estados signatários da Convenção Internacional sobre a DiversidadeBiológica reunir-se-ão em Bona, na Alemanha, para fazerem o balanço dos seus esforços e tentarem restabelecer a biodiversidade em queda livre. Mas também, esobretudo, para procurarem entender-se sobre a questão controversa da “partilhajusta e equitativa dos benefícios resultantes dos recursos genéticos”. Trata-se de umaquestão que ainda divide os países do Norte e do Sul e sobre a qual a União Europeiadesempenha muitas vezes um papel conciliador.

Fouad Maazouz (Marrocos), Azzamour, Série Ici et / est l’ailleurs, Bienal de Fotografia, Bamako 2006. © Fouad Maazouz

Páginas 29 e 30:Mimi Barthélémy durante o seu show no teatro de La Roseraie

em Bruxelas (Novembro de 2007).© Hegel Goutier

Em foco

espécies de mamíferos, mais de 1000 espéciesde aves e mais de 10.000 espécies de plantas, 3000 das quais são endémicas. Mas é nasestepes e nas savanas, nomeadamente africa-nas, que se encontra a mais impressionanteabundância de plantas e animais, a que não éalheia uma mistura de luminosidade natural ede alternância das estações secas e húmidas. Para preservar estas riquezas, tanto continen-tais como marítimas, os Estados ACP, emcolaboração com a UE, tomaram várias iniciativas, designadamente o projecto FISHBASE – “Reforço das capacidades degestão das pescas e da biodiversidade nospaíses ACP”. O objectivo do projecto é for-necer informações que permitam a execuçãode políticas de conservação da biodiversida-de aquática, da sua exploração sustentável eda partilha equitativa dos benefícios, segun-do as disposições da Convenção sobre a bio-diversidade. O projecto estabeleceu trêseixos regionais de coordenação em África.Nas suas regiões respectivas, os coordenado-res supervisam as actividades do projecto deformação e dão o seu apoio aos cientistas egestores das pescas.

> Partilha dos benefícios

Paralelamente à sua missão de conservação egestão sustentável da biodiversidade, a CBDfoi sobretudo o primeiro tratado internacionala reconhecer o papel primordial do saber tra-dicional, das inovações e práticas em matériade ambiente e de desenvolvimento sustentá-vel, e a incentivar a sua protecção através deDireitos de Propriedade Intelectual (DPI) oude qualquer outro meio. As comunidadeslocais passam a ser consideradas comoimportantes agentes na execução da CDB.Todos estes preâmbulos estão sujeitos adivergências na comunidade internacional, acomeçar pela noção de DPI, que se presta ainterpretações diferentes. Assim, a UniãoAfricana (UA) elaborou uma lei-modelo paraservir de quadro de referência em matéria de

gestão da biodiversidade, em especial da ges-tão das espécies comercialmente interessan-tes: sementes para os agricultores, mas tam-bém espécies de interesse para a indústria,sem esquecer a farmacêutica. Esta lei confir-ma o “privilégio do agricultor”, que lhe per-mite guardar uma parte da sua colheita paraulterior utilização, privilégio que se tornoufacultativo nas demais instâncias internacio-nais. A UA reconhece igualmente o papel dascomunidades locais detentoras de saberes eprevê o pagamento de direitos (royalties) emcaso de utilização destes saberes. No terreno,os países africanos dispõem de legislaçõesainda embrionárias, esperando com certezaque a questão seja resolvida no quadro daCDB. O que está longe de ser o caso. No finalde 2007, os representantes dos 188 signatá-rios da Convenção nada conseguiram, a nãoser constatar os seus desacordos sobre a ques-tão. Países como a Austrália, a Nova Zelândiaou o Canadá (os Estados Unidos não assina-ram a CDB) opuseram-se às pretensões dospaíses do Sul de regulamentar o acesso aosrecursos. M.M.B. �

eportagem

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 33

HAITIO Haiti tem sofrido mais agitação política e social do quea maior parte das nações desde a sua independência em1804. As sublevações frequentes prejudicaram o bem-estar económico e social. Mais de 50% da populaçãovive com menos de um dólar por dia. A Missão das Nações Unidas para a Estabilização, aMINUSTAH, criou um certo grau de segurança a partirde 2004. Isto significa que o governo pode avançar comos planos de relançamento da economia e abastecer asua população. Apesar da falta de recursos autóctones,o Haiti tem potencial comercial por estar rodeado depaíses com rendimentos médios, incluindo a República

Dominicana, que fica situada na mesma Ilha Hispaniola.“A primeira condição para o investimento são a paz e aestabilidade. É por esse motivo que concentramos todaa nossa energia na manutenção da paz e da estabilida-de”, afirmou o Presidente Préval na abertura anual doParlamento, em 14 de Janeiro de 2008. Os doadoresinternacionais participam com um projecto e ajudaorçamental na sustentação da estabilidade.Existem diversas dicotomias neste país das Caraíbas. Asestatísticas revelam uma grande pobreza no país, masapesar disso, a sua cultura é surpreendentemente rica efascinante…

32

BIOPIRATARIAUm dos receios, aliás verificados,

dos países do Sul é a confiscaçãoda sua biodiversidade, mas tam-

bém dos seus saberes, por interesseseconómicos. Os casos de biopiratariasão intermináveis:

Em 1995, a Universidade de Wisconsin(Estados Unidos) entregava quatro patentessobre a brazeína, uma planta 1000 vezesmais açucarada que o açúcar e muito menosrica em calorias. Benefício previsto: 100 milmilhões de dólares por ano. Mas, embora asbagas de brazeína sejam cultivadas no Gabãodesde tempos imemoriais, este país não tirarádisso qualquer benefício: os detentores daspatentes venderam a licença de exploraçãoda planta a várias empresas de biotecnolo-gias, nenhuma das quais é gabonesa.Em Setembro de 2007, o governo sul-afri-cano decidiu proibir até nova ordem aexploração do pelargónio (também conhe-cido por sardinheira), uma planta da famíliados gerânios, após a colheita de centenas detoneladas desta espécie pelas sociedades far-macêuticas estrangeiras, uma das quaisacaba de registar em patente a sua utiliza-ção no combate à SIDA. O Ministério doAmbiente sul-africano anunciou a sua inten-ção de reexaminar todos os projectos deprospecção biológica para se certificar dasua conformidade com a nova regulamenta-ção, que visa proteger os direitos comerciaisdos prestadores tradicionais. �

Sede.© IStockphoto.com/Vladm

Camponês.© IStockphoto.com/Brasil2

Vista de casas em Port-au-Prince.© Debra Percival

Nossa terra

34 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Os Taínos, parentes dos Arawaksda América do Sul que chegaramao Haiti em 2600 a.C., foram osprimeiros habitantes conhecidos

da Ilha Hispaniola. Uma das personalidadesmais veneradas até ao presente foi a RainhaAnacaona, ou “Flor Dourada”, que reinou emXaragua, um dos cinco reinos da Hispaniolaliderados pelos caciques (chefes tribais). Foiuma das últimas a sucumbir à influência espan-hola com a chegada de Cristóvão Colombo em1492: numa recepção do novo governadorespanho em 1503, os seus seguidores foramdetidos e executados. Anacaona escapou, masfoi capturada e enforcada em São Domingo.Estima-se que existissem originalmente entre100 mil a um milhão de taínos na ilha, queforam progressivamente desaparecendo depoisda chegada de Colombo com epidemias e tra-balho escravo forçado. Mas as raízes taínas do

Haiti estão ainda presentes na cultura do país ealguns haitianos alegam ter laços de sanguecom os antigos habitantes da ilha.Os colonialistas franceses trouxeram escravosafricanos em 1520, que povoaram a parte oci-dental da Ilha Hispaniola. Em 1731, osEspanhóis reconheceram a colónia francesa deSão Domingo e foi constituída uma fronteiraao longo de dois rios. Vários líderes de escravos, incluindo FrançoisDominique Toussaint l’Ouverture, viram osseus donos conceder-lhes a liberdade e aFrança aboliu a escravatura em 1803. O cora-ção branco foi simbolicamente rasgado da ban-deira francesa pelo líder rebelde Jean-JacquesDessalines e o vermelho e o azul foram cosi-dos, sendo finalmente içada a bandeira haitianasob a divisa “Liberté ou la Mort”. Em Janeirode 1804, após uma batalha decisiva com osfranceses, Dessalines anunciou a independên-

cia em Gonaives e os Haitianos africanos assu-miram o controlo da ilha recuperando o seunome taíno “Haiti”, ou “terra montanhosa”.

> Século XX

Avancemos agora a passos largos para o SéculoXX e para a importância estratégica do Haitienquanto rota marítima. A ligação proporciona-da pelo recém-aberto Canal do Panamá resultounuma invasão dos EUA em 1915, tendo a ocu-pação durado até 1934. Vários anos depois evário golpes, entrou em vigor a ditadura deFrançois Duvalier, em 1957, contando com oapoio de uma classe média em florescimento eda população pobre rural. Reforçou o seu podergraças aos “Tontons Macoute”, assim denomi-nados por analogia com o fictício Tio Knapsack,que raptava as crianças malcomportadas, quetinham autorização para extorquirem dinheiro e

bens à população e que, em troca, protegiamfielmente o seu presidente. Jean-Claude“Babydoc” Duvalier sucedeu ao seu pai quandoeste morreu, em 1971. Em 1986, “Babydoc”fugiu para França. Seguiu-se um período de ins-tabilidade, de 1986 a 1990. Confrontado com oregresso dos apoiantes de Duvalier, o SupremoTribunal decretou eleições em Dezembro de1990, quando um jovem padre, Jean BertrandAristide, que contava com o apoio generalizadoda sociedade civil, chegou ao poder emSetembro de 1991 sob a égide do movimento“Lavalas”, que significa “torrente”. O actualPresidente, René Préval, foi seu Primeiro-Ministro entre Fevereiro e Setembro de 1991.Ao fim de apenas sete meses de funções, umgolpe perpetrado pelo General Raoul Cédras foiimediatamente condenado e seguido de umembargo económico que se manteve atéOutubro de 1994, quando Aristide regressoucom o apoio dos EUA. Aristide foi impedido deconseguir um mandato consecutivo nas eleiçõespresidenciais de 1996, ganhas por René Préval,que, em 2001, se tornou no primeiro líder da his-tória do país eleito democraticamente a concluirum mandato. Aristide manteve-se uma figurapopular e formou o partido "Fanmi (“família”)Lavalas" e a Fundação para a Democracia, queoferecia empréstimos sem juros e apoio à saúdee educação. Foi eleito Presidente em Novembrode 2000 com 91,7 % dos votos. O 200.º aniver-sário da independência do país foi marcado porprotestos civis que conduziram Aristide ao exí-lio em 29 de Fevereiro de 2004, embora este ale-gue que foi forçado a abandonar o país portemer as agitações generalizadas fomentadaspelos EUA. Boniface Alexandre tornou-sePresidente interino encarregado de organizareleições no prazo de dois anos.Em 7 de Fevereiro de 2006, René Préval tor-nou-se novamente Presidente, eleito para operíodo de 2006 a 2011, no âmbito do movi-mento alargado LESPWA (“Esperança”), quereunia vários partidos políticos e grupos dasociedade civil. Obteve uma magra maioria de51,21%, depois da contagem dos votos embranco, o que exigia o apoio de outros partidospara formar um governo de coligação.

> Um país em mudança

“A situação no nosso país está a mudar. A polí-tica pode ser feita de forma diferente. O paísnão pode, à mínima oportunidade, resvalarpara a instabilidade”, afirmou Préval no seudiscurso de abertura anual ao Parlamento em14 de Janeiro de 2008. Sublinhou alguns dosprincipais desafios económicos e a necessida-de de modernização do Estado como forma dereforçar a segurança, incluindo mudanças no

sistema judicial e a necessidade de crédito einvestimento (ver artigo sobre a indústria) e deenergia fiável e a preços adequados.A presença da Missão das Nações Unidas paraa Estabilização no Haiti (MINUSTAH) temsido a grande responsável pelo regresso à esta-bilidade, embora o Presidente afirme queainda se verificam muitos sequestros e que osseus responsáveis devem ser justiçados.Na sequência da partida do ex-Presidente, JeanBertrand Aristide, uma Resolução doConselho de Segurança da ONU de Junho de2004 mandatou uma força para estabilizar opaís e auxiliar o governo de transição na reali-zação de eleições. “Bandos armados tinham opaís como refém”, declarou David Wimhurst,director de relações públicas da MINUSTAH,discursando na sua sede, o antigo HotelChristopher, em Port-au-Prince.A MINUSTAH conta actualmente com 7060militares, na sua maioria provenientes daAmérica Latina, com um grande contingentedo Brasil, e 2091 agentes da polícia (dados daONU de Novembro de 2007), que estão a con-tribuir para a criação de uma força policial hai-tiana. O novo comandante da MINUSTAH,desde Setembro de 2007, é o diplomata tunisi-no Hédi Annabi. Wimhurst explicou que eranecessária alguma força para refrear os bandosresponsáveis pela violência e pelos sequestros.“Foram necessários três meses para desagre-gar os bandos, algumas vidas foram perdidas e800 pessoas foram detidas em Cité Soleil”,acrescentou Wimhurst. Desde Fevereiro de 2007 é mais fácil circularem Cité Soleil. As acções da MINUSTAH“criarão espaço para um desenvolvimento a

mais longo prazo”, referiu ainda Wimhurst.“Só poderemos abandonar o Estado se houveruma força policial profissional e totalmenteequipada ao serviço do país.” Até à data, foramformados 11.000 agentes da polícia haitiana,ao passo que são necessários pelo menos20.000. Wimhurst declarou que a MINUSTAHestá igualmente a financiar 16 barcos para apatrulha das costas do Norte do Haiti, que sãoum ponto de entrada de drogas ilegais.

> Diáspora dinâmica

Um estudo recente de uma ONG, oInternational Crisis Group (ICG) , refere queo Governo deveria incentivar a diásporahaitiana a investir mais no país: trata-se de trêsmilhões de pessoas, cujas remessasascenderam a 1,65 mil milhões de dólaresamericanos em 2006, o equivalente a 35% doPIB. Damien Helly, analista principal do ICG,afirmou que esta contribuição económicadeveria estar reflectida no sistema políticoatravés da oferta de sistemas de voto noestrangeiro e da autorização de duplanacionalidade e representação da diáspora noParlamento, o que provavelmente exigiria umareforma constitucional. O documentoincentiva também a criação de uma força detrabalho da diáspora mandatada porresponsáveis governamentais do Haiti, portodas as forças políticas, pela sociedade civil epelo sector privado, que elaborasse umaestratégia em 10 anos com o apoio internacional.É também importante para o futuro do país umaestratégia conjunta com a RepúblicaDominicana, apesar da condenação

35

CONSTRUIR COM BASENA ESTABILIDADEUm olhar sobre as sublevações políticas do passado coloca em perspectiva a actualestabilidade relativa no Haiti. Para o governo, é uma oportunidade, juntamentecom o apoio indispensável dos doadores, para consolidar a sua administração eimplementar medidas de relançamento da economia e, assim, atenuar a pobreza.

Palácio presidencial, Port-au-Prince.© Debra Percival

Esquina em Les Cayes.© Marc Roger

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

internacional das violações dos direitos dostrabalhadores haitianos no país vizinho (verartigo de Pierre Gotson). Em Março de 2008,terá lugar em Belledère, no Haiti, a 3ª edição deuma feira conjunta dos dois países sobreecoturismo e ligações culturais organizadaconjuntamente pelo organismo dominicano aFondation Science et Art, a Fondation pour leDéveloppement du Tourisme Alternatif(FONDTAH) e a San Pon Ayiti, conformeexplicou José Serulle, Embaixador da RepúblicaDominicana no Haiti.A descentralização governamental está a evoluirprogressivamente na sequência da eleição deresponsáveis municipais. O Haiti acolheurecentemente a 23ª edição da ConferênciaMundial de Presidentes de Câmara em Côtedes Arcadins, subordinada ao tema dofortalecimento dos municípios. Projectosindividuais como o estudo do BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID),conduzido pela consultora haitiana Sociétéd’Aménagement et de Développement(SODADE), sobre o desenvolvimento de LesCayes, que, de infra-estrutura de prevenção deinundações, se transformou em marina, ésimplesmente um exemplo dos projectosindividuais à escala nacional orientados para odesenvolvimento das regiões, explicou MarcRoger, da SODADE.

> Boas práticas administrativas

No seu discurso ao Parlamento, o PresidentePréval sublinhou também a modernização dosministérios graças à tecnologia, e a necessidadede registar todas as entidades empresariais.“Necessitamos de reconquistar as boas práticasde administração perdidas durante os anosDuvalier”, explicou Price Pady, OrdenadorNacional do Haiti, responsável pela coordena-ção e aprovação de projectos de doadores. Oapoio orçamental para melhorar a capacidade

dos ministérios constitui uma parte importantedo planeamento dos doadores no Haiti (ver arti-go sobre o 10.º FED). “Encaramos o apoioorçamental como um instrumento de diálogointergovernamental. Este diálogo concentra-seem prioridades e políticas identificadas pelogoverno”, afirmou o chefe da Delegação da UEno Haiti, Francesco Gosetti-di-Sturmeck,aquando do anúncio de apoio orçamental suple-mentar em Outubro de 2007. A melhoria do ensino é vista como essencialpara a construção da base de competências dopaís. 40 % da população com mais de 10 anosnão sabe ler nem escrever. Como afirmou oMinistro da Educação, Gabriel Bien Aimé:“Para alterar esta situação necessitamos de maisprofessores qualificados e de instalações, salasde aulas e materiais de ensino mais adequados”,que complementariam o financiamento de insti-tuições de formação de professores por parte daUE (ver artigo sobre o FED). O Ministro BienAimé quer inverter os valores segundo os quais80 % da educação é actualmente fornecida pelosector privado e somente 20 % pelo sectorpúblico. Isto significa o aumento do orçamentoanual para a educação para 8 % em 2008 e 13% no ano seguinte, elevando-o gradualmentepara 25 %, colocando a despesa ao nível da quese verifica na maioria dos países e alcançando,eventualmente, o objectivo "educação paratodos", afirmou o Ministro.

1 - www.crisisgroup.org2 - Para mais informações, contacte a FONDATH:[email protected] , San Pon Ayiti:[email protected] e a Fundacion Cienca y ArteInc: [email protected] - Conferência Mundial de Presidentes de Câmara:www.world-conference-of-mayors.org ConferênciaNacional de Presidentes de Câmara Negros:www.ncbm.org

D.P. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Serge Gilles é líder do partido “Fusiondes Sociaux Démocrates Haitienne”(Partido de Fusão dos Sociais-Democratas do Haiti), que detém uma

das maiores representações parlamentares nopaís: seis dos 30 assentos no Senado e 20 dos99 na Câmara dos Deputados. Este partidoparticipa na “coligação” ou, como Gilles sub-tilmente se lhe refere, de um governo “plura-lista” formado na sequência das eleições de2006. Com 2,62 % dos votos, Gilles foi umdos candidatos derrotados de um grupo de 33que se apresentou às eleições presidenciais deFevereiro de 2006 e que colocou o PresidentePréval no poder. O secretário-geral do partidoFusão, Robert Auguste, está actualmente àfrente do Ministério da Saúde.Gilles passou 25 anos no exílio durante operíodo das ditaduras Duvalier, regressando aoHaiti em 1986. Em meados de Novembro,quando nos conhecemos, preparava-se para

uma reunião ministerial, que teria à tarde como Conselho de Ministros para a qual oPresidente Préval convidara os cinco líderesda oposição. O objectivo era debater uma ava-liação do governo feita pelo Banco Mundial.No nosso encontro em Pétionville, apesar deaplaudir esta consulta aberta, Gilles manifes-tou a preocupação de que a actual liderança doPrimeiro-Ministro, Jacques Edouard Alexis, edo Presidente Préval se tenha mostrado atéagora aquém do necessário no que se refere à“resolução dos grandes desafios do passado”.

> Funcionamento da coligação

“René Préval conta com experiências ante-riores na governação do país. Já foiPrimeiro-Ministro e também Presidente, masnão abusa dos seus poderes. Compreende afragilidade da situação. Até à data, consegui-mos ultrapassar os problemas de segurança.

A polícia nacional que se desagregou foinovamente restabelecida e, apoiada pelaMINUSTAH, a Missão das Nações Unidaspara a Estabilização no Haiti, está a fazer umbom trabalho. O governo pluralista trouxeconsigo a estabilidade política. Há algumascríticas, mas de pessoas que não estão repre-sentadas no governo. Todos os que se encon-tram representados aceitaram permanecerneste governo formado por consenso a fimde garantir a estabilidade do país e, com aajuda da comunidade internacional, tornarpossível a construção de estradas e a reabili-tação dos serviços públicos para dar aogoverno alguma paz de espírito. O país temmuitos problemas. Do lado negativo, volvi-dos dois anos, o Governo ainda não conse-guiu ultrapassar os principais desafios dopassado. Aquilo que lhe digo disse tambémao Presidente, René Préval. As nossas con-versas são muito francas.”

3736

Superfície: 27.750 km2

População: 8,7 milhões de habitantes

PIB: 5 mil milhões de dólares americanos

Crescimento anual do PIB: 2,3%

Dívida a longo prazo: 1,3 mil milhões dedólares americanos (em 2005)

Esperança de vida: 52 anos (números deJunho de 2005)

Índice do PNUD: 146 em 177 (relatório de2007-2008)

Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita:480 dólares americanos

Importações: 1,55 mil milhões de dólaresamericanos (estimativa de 2006), nomeada-mente alimentos, combustível, máquinas,produtos manufacturados.

Exportações: 494 milhões de dólares ameri-canos (estimativa de 2006), café, óleos,mangas, vetiveria.

Política

Presidente: René Préval, desde 14 de Maiode 2006 (mandato de 5 anos).

Chefe do governo: Primeiro-Ministro, JacquesEdouard Alexis, desde 30 de Maio de 2006.

Assembleia Nacional Bicameral e Senado:As eleições para o Senado (30 senadores)são realizadas de seis em seis anos, mas ocandidato com a maioria dos votos em cadaum dos dez departamentos cumpre ummandato de 6 anos, o candidato seguintecumpre 4 e o terceiro candidato 2 anos, oque significa que haverá eleições de substi-tuição de um terço dos membros em 2008. A Câmara dos Deputados (99 deputados) éeleita de 4 em 4 anos – próxima eleição emAbril de 2010.

Principais partidos políticos: Aliança, FusãoHaitiana Social-Democrata; OPL, Organizaçãodo Povo em Luta; Alyans, Aliança NacionalDemocrática; Frente para a Reconstrução doHaiti; Artibonite em Acção (LAAA).

Fontes: Banco Mundial, PNUD, UniãoEuropeia, CIA, Governo do Haiti. �

“Temos de saber a quem PERTENCE A TERRA NESTE PAÍS”

Resumo estatístico do Haiti (números para 2006, salvo indicação emcontrário):

Entrevista a um líder da oposição Fusion, Serge Gilles

O “Tap-Tap” é o mais famoso táxi público do Haiti. © Hegel Goutier

Estátua do escravo desconhecido, Champs des Mars, Port-au-Prince.

© Debra Percival

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

> O receio do neoliberalismo

“Sinto que os antecedentes do Presidente sãoextremamente neoliberais. Vivemos nummundo de números, controlado pelo comércioe pela democracia. Se ficarmos simplesmente àmargem, seremos engolidos pelo comérciointernacional, dominado pelo grande capitalis-mo. Temos de progredir rapidamente recorren-do a princípios democráticos para corrigirmosas regras do jogo, para controlarmos o merca-do através da intervenção estatal.”

> O papel da MINUSTAH

“A MINUSTAH foi necessária porque, após apartida de Aristide, tornou-se impossível geriras crises. Na época, não havia exército e a polí-

cia era corrupta. A opção pela MINUSTAHnão foi má.”“Aquilo que temos de fazer agora é prepararmo-nos para a partida da MINUSTAH. Temos detirar partido da presença da MINUSTAH aquipara formar a força policial e estabelecer outraforça. Alguns chamam-lhe gendarmerie, outrosum novo exército. Qualquer que seja o seunome, é necessária para patrulhar os portos, osaeroportos e as fronteiras e para combater efi-cazmente o problema da droga.”

> Fraca administração

“Temos uma administração muito fraca.Quando se vivem as catástrofes que nós vive-mos, deixa-se para trás o facto de se ter umaadministração muito fraca. Apoio osCanadianos, que investiram imenso em forma-ção. Gostaria de ver uma escola de formaçãopara a administração em cada província e tam-bém duas aqui (na capital, Port-au-Prince).”

> Corrupção no Haiti

“Não se pode dizer que a oposição seja corrup-ta, evidentemente. Não se pode dizer que RenéPréval seja corrupto, já que não é seguramen-te o caso. Conheço Estados que são corruptosde cima a baixo. Se existe corrupção no Haiti,esta refere-se ao tráfico de droga e a uma partedo sistema de justiça. Préval estabeleceu umcomité para avaliar a reforma do sistema dejustiça e o Parlamento acaba de adoptar trêsleis sobre a independência e o saneamento dosistema de justiça (leis decretadas em 27 deNovembro de 2007). Será criada uma escolade formação para juízes. Todos os nossos par-lamentares apoiaram esta reforma.”

> Descentralização do governo

“Sinto que a descentralização faz progredir ademocracia, mas é verdade que ainda não deli-neámos um quadro legal para a descentraliza-ção. Os parlamentares estão a trabalhar no sen-tido de proceder a esta tarefa para que as auto-ridades municipais (collectivités territoriales)possam dar início ao processo. O funcionamen-to de uma autoridade municipal não é apenasuma questão de angariação de financiamento.”D.P. �

38 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

> Reforma agrária

“Em primeiro lugar, precisamos de uma refor-ma cadastral. Temos de saber a quem pertencea terra neste país. Não é normal que um paíscomo o nosso tenha de importar arroz. É fun-damental saber que terra pertence a quemantes do lançamento da produção nacional,que é o principal desafio. Um governo que nãoconsegue alimentar o próprio povo é umgoverno com problemas. A reforma agráriasignifica saber que terra pertence a quem. Setal acontecesse, a pessoa que a cultiva estariamuito mais interessada em fazê-lo, já queaquela seria a sua propriedade.”

> Falta de crédito

“O Governo não fez nada para colocar o crédi-to ao alcance da maioria dos haitianos. O cré-dito aqui é proibitivo; não é normal. Temos derecapitalizar o país. Concordo com o Governono que se refere à necessidade de construirestradas porque as estradas proporcionam tam-bém a criação de um mercado, mas o governotem também de lidar com a questão do aumen-to da produção à escala nacional.”

39

Página 38:Vista de ruas em Les Cayes.

© Marc Roger

De cima para baixo:Líder da oposição, Serge Gilles.

© Debra Percival

Les Cayes.© Marc Roger

Mapa do Haiti.© Minustah

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

40 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

65% da população do Haitiainda depende da terrapara viver, mas o sectorapenas representa 25% do

Produto Interno Bruto (PIB), segundo Jean-Baptiste Chavannes, presidente do amploórgão de camponeses, o Congresso Nacionaldo Movimento Camponês da Papaia(MPNKP). Chavannes afirma que a agricul-tura tem sido caracterizada por anos de negli-gência. Este processo foi acelerado pela libera-lização nos anos 80 e por um excesso dedependência das importações. Outro elementoresponsável pelo declínio da produção localfoi o embargo económico contra o Haiti, de1991 a 1994, cortando as importações de pro-dutos como os alimentos preparados para ani-mais necessários à agricultura.Chavannes afirma que a “situação dramática”de hoje tem origens mais distantes. Diz aindaque o atraso da reforma agrícola é em parte res-ponsável, pois não há uma partilha adequada

da terra desde a independência em 1804, quan-do a divisão da terra de escravos pobres porentre os generais apenas produziu o que chamade “neo-escravatura”. Chavannes acrescentaainda que a reforma agrária urge e que 80% dosprocessos judiciais locais envolvem discussõessobre quem tem jurisdição sobre esta ou aque-la parcela de terra.Contudo, até aos anos 60, o Haiti era auto-sufi-ciente a nível alimentar. Depois disso, o regimeneoliberalista começou a reprimir e gradual-mente destruiu a produção local, sendo exem-plos disso a cultura do arroz e as indústrias aví-cola e dos ovos. Chavannes argumenta que,desde então, o país tem sofrido com a falta decompromisso político para com o sector.O número cada vez maior de habitantes é tam-bém responsável. No momento da indepen-dência, 85% do meio milhão de habitantes doHaiti era essencialmente rural no Centro,Sudeste e Nordeste. Hoje, a população aproxi-ma-se de 8,7 milhões de habitantes (número da

UE para 2007), dos quais 40% vivem emzonas urbanas. Os custos elevados do combus-tível fazem com que a maioria da populaçãoutilize combustíveis da madeira, devastandoflorestas e provocando ainda mais degradaçãoe erosão do solo de cultivo. 50% dos terrenosdo Haiti encontram-se actualmente imprópriospara cultivo. O resultado, segundo Chavannes,é uma subida da factura da importação de ali-mentos: “Importamos 300 milhões de dólaresem comida todos os anos. É uma catástrofe.”

> Falta de crédito

Muitas outras pessoas envolvidas neste sectorno Haiti concordam que o país poderia respon-der melhor às suas próprias necessidades ali-mentares, nomeadamente as relacionadas comaves e ovos. Nos anos 80, a produção industrialde ovos disparou. Depois, eram produzidos100.000 diariamente no Haiti, segundo MichelChancy da Association Haitienne pour la

41

Nos primeiros anos do século XX,os Haitianos deixaram as suascasas para irem trabalhar para asplantações de cana-de-açúcar

dominicanas que abasteciam fábricas constru-ídas ou financiadas pelos americanos. Nosanos 60, foi celebrado um acordo entre os doispaíses para o fornecimento de trabalhadoressazonais que fizessem as colheitas da cana-de-açúcar dominicanas. Depois da condenaçãodeste acordo, no seguimento da queda da dita-dura de Duvalier em 1986, muitos haitianoscontinuaram a migrar para a RepúblicaDominicana, principalmente à procura deemprego. Hoje em dia, embora não se tenha feito umcenso da população, as entidades dominicanasdizem que vivem no país mais de um milhão dehaitianos. A República Dominicana vê esta imi-gração como um fardo e está sempre a repatriarimigrantes haitianos em condições que violamos direitos humanos mais básicos, incluindo adesagregação de famílias, a deportação noctur-na sem coordenação com as autoridades haitia-nas e outras formas de maus-tratos. Os antecedentes da situação actual são umalonga história de hostilidades e disputas. OsHaitianos não esqueceram o massacre de cercade 30.000 conterrâneos na RepúblicaDominicana em 1937 sob as ordens do ditadorRafael Trujillo. Por seu lado, os Dominicanoslembram-se do severo regime de ocupação quelhes foi imposto pelo governo haitiano deJean-Pierre Boyer entre 1822 e 1844.Existem igualmente diferenças culturais entreas duas sociedades que alimentam preconcei-tos na República Dominicana, cuja população

reivindica uma herança índia e espanhola,enquanto que os Haitianos invocam a suaherança africana.Esta situação não favorece o entendimentoentre Haitianos e Dominicanos e influencia otrabalho dos meios de comunicação, afectandoa informação sobre as relações haitiano-domi-nicanas.Durante muito tempo, os meios de comunica-ção haitianos apenas faziam uma coberturaesporádica da questão dominicana, com baseem despachos das agências de imprensa inter-nacionais. Enquanto a imprensa haitiana opera-va ignorando quase totalmente o país vizinho,a imprensa dominicana simplesmente divulga-va as informações oficiais sobre o Haiti forne-cidas pelas autoridades dominicanas.

> Novas tecnologias

Contudo, nos últimos anos, o desenvolvimen-to de Novas Tecnologias de Informação eComunicação (NTIC) e as actividades de sec-tores alternativos no campo da comunicaçãopermitiram que as informações sobre as rela-ções haitiano-dominicanas tomassem outrorumo e adquirissem uma maior presença nosmeios de comunicação haitianos.Uma das agências que tem trabalhado sistema-ticamente nesta questão é a AlterPresse(www.alterpresse.org), uma rede noticiosaalternativa haitiana e membro do GroupeMédia Alternatif, que iniciou funções em2002. A AlterPresse dá prioridade à divulga-ção das relações haitiano-dominicanas,cobrindo regularmente temas essenciais, tantoem francês como em espanhol.

Elaborou centenas de artigos, alguns deles emcooperação com colegas dominicanos, relacio-nados principalmente com a imigração, ques-tões fronteiriças, comércio binacional, direitoshumanos, ambiente, catástrofes naturais,saúde, turismo, cultura, etc.Com mais de 20.000 ocorrências por dia e rela-tórios transmitidos por vários meios de comuni-cação (rádio, televisão, jornais, sítios web) emtodo o Haiti, República Dominicana e outrasregiões, a AlterPresse tem ajudado a garantiruma melhor cobertura mediática dos assuntoshaitiano-dominicanos, bem como a influenciarvárias decisões sobre estas questões. A AlterPresse tem relações profissionais e deamizade com a Espacio Insular, uma agênciadominicana alternativa criada em Agosto de2006. Em Fevereiro de 2007, celebraram umacordo de cooperação e, em Novembro passa-do, completaram um estudo sobre as relaçõeshaitiano-dominicanas e sobre como são apre-sentadas nos meios de comunicação em ambosos países, tendo organizado uma reunião de jor-nalistas haitianos e dominicanos em Port-au-Prince para discussão dos assuntos em questão. Os jornalistas aperceberam-se que dois paísesque partilham a mesma ilha partilham igual-mente um destino. Por esse motivo, é necessá-rio haver compreensão e cooperação paraultrapassar qualquer hostilidade, para facilitara compreensão e a harmonia e para criar pers-pectivas de um desenvolvimento comumenraizado num sentido de solidariedade. �

Gotson Pierre*

RELAÇÕESHAITIANO-DOMINICANAS E MEIOS DE COMUNICAÇÃOAs relações nem sempre foram fáceis devido aos direitos dos trabalhadores haitianos nos“Bateys”** dominicanos. As iniciativas de união dos dois países através da abertura de canaisde informação apenas conseguem contribuir para uma melhor compreensão entre as duospartes. Isto reforçará a política bilateral adotada pelo governo do Haiti, visando o estabele-cimento de relações mais estreitas em prol dos dois países.

“PRECISAMOS DE

IRRIGAÇÃO, REFLORESTAÇÃOE INSUMOS AGRÍCOLAS”Tudo no Haiti é captado em prospecções e as dádivas da terra não são uma excepção,mas será isto uma licença meramente artística? A verdadeira imagem é a da degradaçãoda terra, do fraco investimento e da baixa produção, incitando a reformas urgentes.

Vista sobre o Lago Saumatre, do Haiti em direcção à República Dominicana. © Debra Percival

*Gotson Pierre é co-fundador do Grupo MediaAlternatif**Lugar reservado nas explorações açucareiras aosescravos e mais tarde aos cortadores de cana.

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

Promotion de l’Elévage (Associação Haitianapara a Promoção da Actividade Pecuária)(AHPEL) e também da ONG Vétérimed. Agoraapenas são produzidos 30.000 ovos por mês, namaior parte das grandes quintas do Haiti. Commelhores infra-estruturas, crédito e um bomabastecimento eléctrico, a RepúblicaDominicana tem preenchido as lacunas deixadasnos mercados, conforme explica GreetSchaumans da ONG belga Broederlijk Delen. Relativamente à produção de frangos, de 6 mi-lhões produzidos anualmente nos anos 80, a pro-dução caiu fortemente no início dos anos 90devido ao embargo económico. No final dosanos 90, o mercado foi preenchido com impor-tações maciças de rações de frango congelado,segundo números da Vétérimed. Agora, a pro-dução de frangos no país é de apenas um quartoda dos anos 80, ou seja, 1,2 a 1,5 milhão por ano. Quase toda a gente ligada ao sector refere quefalta crédito para investir em tecnologia e produ-tos que permitam à agricultura realizar o seupotencial. Gabriele lo Monaco, conselheira dadelegação da UE no Haiti, afirma que “não exis-te praticamente investimento na agricultura porparte dos pequenos agricultores”. Chavannesacrescenta: “Tem havido uma descapitalizaçãoda agricultura dos camponeses.”Chavannes refere que os agricultores daRepública Dominicana conseguem aceder a cré-ditos com uma taxa de 12% ao ano e com umaredução de até 6%. No Haiti, o crédito ou éinacessível ou está indisponível. As taxas de jurode 20 a 30% são comuns. Diz-nos ele:“Precisamos de um compromisso político quefalta à agricultura. Precisamos de irrigação, dereflorestação e de produtos. No 35.º Aniversáriodo Congresso, em Março de 2008, vamos apelarpara uma agricultura diversificada, bem comopara um comércio justo e reforma agrária.” Serge Gilles, líder do partido Fusão dos Sociais-Democratas, referiu igualmente numa entrevistaà necessidade de crédito e de reforma agrária porforma a permitir que as pessoas possuam terra, oque encorajaria o investimento individual.Considera igualmente que o Haiti tem futuro naagricultura orgânica, sendo que estes produtossão vendidos em mercados internacionais a pre-ços mais elevados do que os produtos normais.

> ‘Lèt Agogo’

A Vétérimed, ONG de profissionais especializa-dos em saúde e produção animais, cujo objecti-vo é ajudar a aumentar os rendimentos daspequenas quintas rurais, criou um projecto agrí-cola que marcou. Os lacticínios, como o leite eo iogurte esterilizados, fabricados em 10 unida-des de micro-transformação, são distribuídospor todo o país por organizações rurais de

juventude. A Lèt Agogo, o nome comercial dosprodutos, recebeu um prémio de melhor produ-to na América do Sul. A agricultura não é um sector prioritário para o10.º FED, mas a UE já financiou muitos projec-tos com ONG para a promoção da segurançados alimentos e lançou igualmente um esquemade diversificação agrícola para o Centro e o Sul.Um projecto aprovado recentemente no valorde 3 milhões de dólares, dos quais 495.000dólares são fornecidos pelo governo do Haiti,vai elaborar informações sobre a vulnerabilida-de daqueles que dependem da agricultura emtodo o país. Este projecto será realizado pelaOrganização para a Alimentação e a Agricultura(FAO) e o Instituto Haitiano de Estatísticas eInformações, com o objectivo de desenvolverestratégias contra a insegurança alimentar. Alguns produtos de nicho de mercado, como ocafé Rebo e Haitian Blue e a manga Francis,popular na diáspora haitiana de Miami, tive-ram algum êxito em termos de exportação,

embora as fracas infra-estruturas e as instala-ções de refrigeração limitadas constituam obs-táculos às exportações de produtos perecíveisa uma maior escala.Há quem pense que o Haiti deveria seguir ospassos do Brasil no que respeita ao cultivo demais cana-de-açúcar para produção de bioeta-nol. Isto reduziria a despesa de combustível dopaís. Mas a ONG belga Broederlijk Delen afir-ma num documento que antes de seguir emfrente deverá haver um questionamento sobrese esta seria a melhor utilização a dar à terra.Argumenta que a utilização generalizada daterra para produção de bioetanol a nível globalfará subir os preços dos géneros alimentícios.Neste caso, além de precisar de investir muitoem água e infra-estruturas necessárias a qual-quer empreendimento relacionado com o bioe-tanol, o Haiti agravaria sua dependência dasimportações de alimentos e arriscaria perderqualquer benefício decorrente da produção decombustível mais barato. D.P. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 4342

Magnificência da terra do Haiti, land,tela de Casimir pendurada na Villa Creole (Port-au-Prince). © Debra Percival

Vendedora de maracujá, Port-au-Prince. © Debra Percival

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

Handschuh diz que o programa foi inspiradopelo sucesso nacional de algumas Pequenas eMédias Empresas (PME), incluindo o INDEP-CO para a indústria e a ONG Vétérimed (verartigo sobre a agricultura) para o sector doslacticínios.O INDEPCO, Institut de Développement et dePromotion de la Couture, cujo director é HansGaroute, importa tecidos que vão ser utiliza-dos na confecção de uniformes escolares eoutro vestuário acabado. A Vétérimed melho-rou a vida de agricultores com unidades paraprocessamento e produção de lacticínios (verartigo sobre a agricultura).O PRIMA oferece uma gama de apoio a novasPME e associações comerciais. Disponibilizasubsídios para estudos de exequibilidade,seminários, assistência técnica, formação depessoal, compra de equipamento de escritório,participação em exposições de feiras comer-ciais e a compilação e impressão de folhetospromocionais. Segundo Handschuh, existe umgrande potencial na transformação de frutos evegetais e na produção de cimento e outrosmateriais de construção. O projecto financia igualmente o reforço dodiálogo entre os sectores público e privado,tendo como objectivo o lançamento de socie-dades associadas. Handschuh diz que “os doissectores não comunicavam entre si”. Paraabranger tanto quanto possível o país inteiro,de acordo com a política geral de descentrali-zação do governo, o PRIMA possui igualmen-te um escritório em Les Cayes, no sul do país.Segundo Handschuh, o objectivo é que os pro-jectos em curso sejam, a determinada altura,apoiados por instituições de crédito. A disponi-bilidade de crédito e os seguros são actual-mente muito maus no sector agrícola.

> Optimismo

Existem outras iniciativas em curso no sectorcomercial. Um Fórum de Comércio eInvestimento do Haiti (HITF), realizado emPort-au-Prince nos dias 15 e 16 de Novembrode 2007, reuniu representantes do governo hai-tiano e do sector privado, para procuraremmaneiras de fazer mais negócios no Haiti,impulsionados pelo acesso mais facilitado aosmercados regionais ao abrigo da iniciativaEncorajamento à Oportunidade de ParceriaHemisférica no Haiti (Haitian HemisphericOpportunity Partnership Encouragement –HOPE). As áreas que se julgam ter potencialincluem o turismo, a indústria agroalimentar, osbiocombustíveis, as telecomunicações e o arte-sanato. O secretário-geral adjunto daOrganização dos Estados Americanos (OEA),Albert R. Ramdin, que dirige o grupo de trabal-ho da OEA-Haiti, anunciou aos jornalistas pre-sentes no evento que a geração de empresas iriapropiciar um governo democrático e segurança.O Embaixador do Haiti em Bruxelas,Raymond Lafontant Jr., também nos disse queas regras de origem melhoradas eram um dospontos principais de interesse do país no novoAcordo de Parceria Económica (APE) que aUE celebrou em finais de Dezembro com todosos países da Caricom.* Irá permitir ao Haiti autilização de produtos importados na manufac-tura, continuando contudo a exportar o produtofinal para a UE com isenção de direitos.

* O Haiti tornou-se um membro de pleno direito daComunidade do Caribe (Caricom) em 1996 e é o únicopaís menos desenvolvido no grupo. Os outros mem-bros são Antígua e Barbuda, Baamas, Belize, Dominica,República Dominicana, Granada, Guiana, Jamaica,Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, São Cristóvão eNeves, Suriname e Trindade e Tobago. D.P. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 4544

Oque parece ser um vigorosonegócio num mercado de quasenove milhões de consumidores,ao nível da rua esconde uma falta

de organização, uma procura interna fraca efalta de crédito bancário, o que leva a um fracoinvestimento nos sectores produtivos e poucovalor acrescentado aos produtos. A balançacomercial total com a UE foi negativa em 77milhões de euros em 2004, sendo os têxteis oúnico sector que registou um excedente deexportação de 2 milhões para o mercado daUE nesse mesmo ano.Com mais segurança nas ruas e um governoestável no poder, os Haitianos esperam queuma economia doméstica mais saudável pro-porcione emprego e melhore o nível de vida nopaís. As questões de segurança impediramrecentemente que empresas internacionaisinvestissem no Haiti, mas existem agora sinaisde investimento externo. A Digicel, o operadorde rede móvel que cobre a totalidade dasCaraíbas, é uma grande empresa regional quese apercebeu que pode ter grandes lucros nomercado haitiano e os seus painéis publicitá-rios vermelhos atraem as atenções nos espaçospúblicos da capital.A abundância de criatividade no Haiti e omercado interno potencialmente grande, bem

como os mercados próximos dos EstadosUnidos e do resto das Caraíbas, são trunfosóbvios, mas no que respeita à criação depequenas empresas, as que contactámosdurante a elaboração desta reportagem men-cionaram frequentemente a falta de créditocomo o maior obstáculo ao lançamento de umnegócio. O perfil de negócios do país nãomelhora devido às pobres infra-estruturas,especialmente as estradas que ligam a capitalao resto do país, as falhas de electricidadefrequentes e o facto de possuir poucas maté-rias-primas locais.

> O PROJECTO PRIMA

O PRIMA ou, em Kwèyol, o “PwogramRanfosman Entegre na sektè Komès an Ayti” éum projecto da União Europeia (UE) que apoiao esforço para estimular a produção nacional.O projecto no valor de 8 milhões, a realizar emquatro anos, de 2005 a 2009, está a ajudar aspequenas empresas. Já tem inscrições emexcesso, segundo o seu director, Klaus DieterHandschuh, o que levou o Ordenador Nacional(NAO) a sugerir que seria benéfico um projec-to de seguimento.

BBAARRBBAANNCCOOUURRTT,,MMAARRCCAA

LLÍÍDDEERR DDOO HHAAIITTII

A marca de rum do Haiti mundial-mente famosa, Barbancourt, temvindo a expandir-se apesar da

recente falta de segurança no país,segundo Thierry Gardère, director-geralda empresa. A Barbancourt é reconhecidapor revistas de bebidas como uma dascinco melhores marcas de rum nomundo. Gardère diz que os barris de car-valho branco francês da região deLimousine, utilizados para o envelheci-mento, e a utilização de cana-de-açúcarem vez de melaço importado são a razãoda diferença no sabor deste rum particu-larmente suave. Actualmente, a empresa,com 250 empregados, produz por ano 3milhões de garrafas de rum de 4, 8 ou 15anos, realizando vendas particularmenteboas nos Estados Unidos, Panamá e Chile. Gardère pertence à quarta geração destaempresa familiar iniciada em 1862.Explica que um projecto regional comu-nitário para produtores de rum cariben-hos fez aumentar a produção. O projectoúnico no valor de 70 milhões de euros,com duração de 4 anos para todos osprodutores de rum, foi originalmentecriado para compensar as perdas no sec-tor, devido a um acordo realizado naOMC em 1996, em Singapura, sobre aabertura do mercado às bebidas espiri-tuosas brancas. Lançado em 2002, foirecentemente prorrogado até Junho de2010 para utilizar todos os fundos dispo-níveis. �

PROCURA-SECRÉDITO paraNEGÓCIOSSe vende maracujás, roupa ou música e não se levanta antes do sol nascer, podeesquecer encontrar um lugar para vender em Port-au-Prince ou na área comercialvizinha de Pétionville. Todos os espaços no passeio terão sido ocupados. Vendedoresambulantes tentam ganhar o seu dia-a-dia.

Com mais segurança nas ruas e um governo estável no poder, os haitianos esperam que uma economia doméstica

mais saudável proporcione empregoe melhore o nível de vida. © Debra Percival

“Necessidade de crédito e investimento para aumentar a produção”. © Debra Percival

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

> Estradas importantes para a economia

“Todos os projectos são uma prioridade noHaiti”, afirma o ordenador nacional, Price Pady.A construção e a melhoria de estradas comoforma de estimular o crescimento económico é oprincipal ponto de interesse do 10.º FED (175milhões de euros). Dos 3400 km totais de estra-das do Haiti, apenas 10 % se encontram em bomestado. As extensões a que se destina o apoio do10.º FED são as que vão de S. Rafael ao CaboHaitiano e as estradas circulares ao redor do

Cabo Haitiano e Mirebalais, bem como umaestrada entre Mirebalais e a fronteira com aRepública Dominicana. Espera-se que o apoioorçamental se destine ao sector e que seja atribu-ída uma contribuição ao Fonds d’EntretienRoutier – FER haitiano (Fundo de ManutençãoRodoviária) para a manutenção da rede. Espera-se também que o Banco Mundial e a Françafaçam melhorias numa extensão entre Hinche eS. Rafael (ver mapa), por forma a completar aartéria entre a capital e o Cabo Haitiano.O 10.º FED financiará também a boa governa-ção (36 milhões de euros), que é uma priorida-de para sustentar a estabilidade política do país.O documento de estratégia da UE para o Haitido 10.º FED indica que “a reforma do sistemajudicial é, a curto prazo, o principal desafio dogoverno”. Haverá apoio para a descentraliza-ção e para ajudar a implementar o “Documentde Stratégie National pour la Croissance et laRéduction de la Pauvrété” (DSNCRP), o docu-mento que se espera da parte do governo sobreos seus planos de crescimento económico eredução da pobreza a longo prazo.Estão previstos cerca de 48 milhões de euros deapoio orçamental directo, um pagamento anualligado à boa gestão das finanças públicas. Todos os projectos fora dos sectores específi-cos incluem o auxílio a intervenientes nãoestatais (8,8 milhões de euros), iniciativas cul-turais (3,7 milhões de euros), OrdenadorNacional e apoio técnico institucional (7,5milhões de euros), estratégias binacionais coma República Dominicana e a implementaçãodo novo Acordo de Parceria Económica (12milhões de euros). D.P. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 200846

Elegível para o Fundo Europeu deDesenvolvimento (FED) pela primei-ra vez ao abrigo da Convenção deLomé IV em 1990, o Haiti sofreu uma

série de crises políticas e institucionais, dosanos 90 até 2004, que fizeram com que o paga-mento de fundos pela UE destinados a sectoresfundamentais da economia fossem canalizadospara projectos de emergência, humanitários ede “pós-conflito”. O golpe de estado contra o PresidenteBertrand Aristide em 1991 atrasou a imple-mentação dos 112,2 milhões de euros do 7.ºFED (1990-1995). O pagamento dos 148 mil-hões de euros do 8.º FED (1995-2000) carac-

terizou-se por “uma ausência de governo”,resultando na adopção de “medidas apropria-das” por parte da UE em 2001, tendo os fun-dos sido destinados para benefício directo dapopulação, incluindo ajuda de emergência,projectos através da sociedade civil e ajudaadicional do Serviço de Ajuda Humanitária daComunidade Europeia (ECHO). Um dos poucos projectos a mais longo prazo arealizar era o apoio ao sector da educação em1999. Um montante de 28 milhões de eurospara o PARQUE (“Programme d’Améliorationde la Qualité de l’Education” - Programa deMelhoria da Qualidade da Educação) incluía aconstrução e reabilitação de 17 locais de for-mação de professores, “Ecoles Fondamentalesd’Application et Centres d’AppuiPédagogique” (EFACAP), que iriam servir 350escolas em 4 departamentos. O ordenadornacional Price Pady afirma que este esquema“extremamente bem-sucedido” foi recente-mente alargado com 14 milhões de euros dofundo “pós-conflito” do 9.º FED (ver abaixo).

> Ajuda pós-conflito

Quando terminou a crise política de 2004, esta-va a ser concebido o 9.º FED (2000-2007). O

seu orçamento de 167,6 milhões de euros foiredireccionado para apoio “pós-conflito”, apoioàs eleições de 2006 e reabilitação do país.Juntou-se o que restou dos 7.º e 8.º FED, dandoum total de 276 milhões de euros “pós-crise”.Financiou-se a realização de eleições (18 mil-hões de euros), bem como o apoio comercial àeducação através do PRIMA (ver artigo sobrea indústria), alguma construção de estradas ediversos projectos através da sociedade civil(ver AVSI abaixo).A extensão de estrada que liga Port-au-Prince aMirebalais estava a ser asfaltada por altura danossa visita, embora a construção no terrenoinclinado e rochoso que desce de Port-au-Prince tenha sido difícil, como explica RobertoRivoli, engenheiro de estradas da empresa fran-cesa BCEOM, que está a orientar o trabalho dogrupo de construção dominicano. Trata-se deuma secção da estrada situada entre a capital eo Cabo Haitiano na costa norte. Estão tambémem curso uma secção adicional desta estradapara Hinche e uma melhoria da estrada que vaido Cabo Haitiano a Dajabon, na fronteira daRepública Dominicana, com verbas do 9.º FED.A melhoria na gestão económica por parte dogoverno eleito recentemente também atraiu aajuda orçamental geral (36 milhões de euros)em 2006-2007.

“RESPEKTEMOUN, Bati Kay”

“Agora podemos andar por todo olado em segurança”, comentaFiammetta Cappellini, consul-

tora sócioeducacional da ONG italiana AVSI,que está a executar um projecto FED para aconstrução da paz no bairro Cité Soleil,situado a norte de Port-au-Prince, cujas barra-cas albergam cerca de 350.000 haitianos.Anteriormente controlado por bandos arma-dos, que usavam a violência e faziam seques-tros, a partir de Fevereiro de 2007 a vida nasruas é mais fácil, tendo sido detidos muitosdos responsáveis pela violência com a ajudada MINUSTAH.O projecto, no valor de 1,2 milhão de euros, arealizar em três anos, de 2007 a 2009, intitu-lado “Bati lapè” (Consolidação da Paz), ao qualsão atribuídos 200.000 euros pela ONG Justiçae Paz, ensina que “existe uma alternativa aosbandos armados”, segundo Carlo Zorsi, repre-sentante da AVSI no Haiti.Não é difícil explicar a frustração das pessoasque vivem nesta porção de terra de 5 km2 semequipamentos básicos, sem emprego e semsaberem de onde virá a próxima refeição. Osburacos de balas nalgumas casas são a provada disponibilidade de armas.Fiammetta Capellini explica que no início foidifícil transmitir a mensagem de paz, pois aspessoas estavam habituadas a receber algomaterial em troca. O programa dá formação a“mediadores da paz” que transmitem a mensa-gem a outros que assinam uma “Declaração decompromisso para com a paz”. Carlo Zorsi dizque foi difícil transmitir uma visão do futuroaos jovens, principalmente àqueles que têmidades compreendidas entre 18 e 28 anos. Oprograma dá igualmente apoio mais geral, porexemplo na ajuda à elaboração de CV.Fornece também assistência social e aconselha-mento psicológico a crianças mais novas.Fiammetta Cappellini explica que a violênciado meio engendrou a violência no seio dasfamílias contra as mulheres e as crianças.Zorsi diz que há necessidade de se continuar atrabalhar em “Cité Soleil” e também no bairrosocial de Matissant, a sul da capital. Afirmaainda que poderia ser útil um projecto de hor-ticultura urbana com pneus e telhados esublinha a necessidade de auxiliar as autorida-des locais. Zorsi diz que “o presidente daCâmara (de Cité Soleil) foi eleito, mas tempouca influência ou capacidade”.www.avsi.org �

47

Obras na estrada que vai de Port-au-Prince a Mirebalais

financiada pelo FED.© Debra Percival

No cimo: Projecto de Educação da AVSI para asCrianças, Cité Soleil, um bairro da lata em Port-au-Prince. © Carlo Zorzi

A construção e a melhoria de estradas como formade estimular o crescimento económico é o principalponto de interesse do 10º FED, tendo sido atribuídos175 milhões de euros. © Debra Percival

Mapa do Haiti que mostra as principaisredes rodoviárias.Direitos de autor: Vincenzo Collarino

10.O FED VISA ESTRADAS E

GOVERNAÇÃO10.O FED VISA ESTRADAS E

GOVERNAÇÃOA estabilidade política actual significa que o 10.º FED (2008-2013) poderá ser dedi-cado a sectores cruciais para o futuro do país. Um total de 291 milhões de euros aoabrigo do 10.º FED (2008-2013) destinar-se-á à construção de estradas e àgovernação, à reforma do sistema judicial e à descentralização, bem como a algumauxílio orçamental geral.

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

naïve. Ao ver o Palácio Presidencial totalmente branco, ima-gine as entradas e saídas de governantes do Haiti. Não muito longe, não se podem perder as noites de voodoojazz das quintas-feiras do Hotel Oloffson. Sabe-se que o HotelTrianon de Graham Greene em “Os Comediantes” era basea-do no Hotel Oloffson, onde o autor escreveu parte do roman-ce. Várias casas adornadas de Port-au-Prince são caracteriza-das por varandas vitorianas enfeitadas, torreões, frontões e tel-hados inclinados. Colina acima, as galerias no bairro comer-cial de Pétionville estão cheias de trabalhos de artistas haitia-nos muito procurados. Ainda mais acima, em Botilliers, apre-cie uma vista geral sobre Port-au-Prince.Para noroeste, Gonaives é o local onde foi declarada a inde-pendência do Haiti em 1 de Janeiro de 1804, e na parte su-doeste do Haiti, o Parque Nacional de Macaya é o que restado pico da floresta nebulosa virgem do país que ascende aos2347 metros. Anne Rose Durocher pretende partilhar a suapaixão: “Temos de mostrar o incrível país que é o Haiti.”

> 600.000 excursionistas de um dia

Com tão poucos viajantes a dormir uma noite no Haiti, éuma surpresa tomarmos conhecimento, através doMinistério do Turismo, que 600.000 turistas visitam o paísanualmente. Quase todos os viajantes de um só dia são tra-zidos a bordo do paquete Royal Caribbean, da LibertyOverseas. O barco faz escala nas praias de areia branca deLabadie, no norte, 2 a 3 vezes por semana e cada viagemfaz desembarcar cerca de 4300 turistas. São cobrados 6dólares americanos aos visitantes pelo desembarque, indometade para o governo haitiano e o resto para a empresaque dirige as instalações na praia. Paul Emile Simon,arquitecto urbano no Ministério do Turismo explica que,com a Citadelle a apenas alguns passos, tem-se a sensaçãode que os visitantes podiam despender mais dinheiro emviagens a esta fortaleza no céu, mas as fracas infra-estru-turas são um entrave às visitas. Há igualmente muita esperança em relação aos projectosbinacionais com a República Dominicana, incluindo odesenvolvimento do Lago Saumâtre e do Lago Enriquillona República Dominicana. Simon explica que os lagos sesituam na mesma “faixa ecológica” e partilham a fauna,crocodilos, iguanas e flamingos. Simon vê oportunidadespara hotéis e campos de golfe na parcela de terreno planada área circundante.Alguns pensam que se deveria oferecer o Haiti como um“destino paralelo” num circuito que abrangesse aRepública Dominicana, Jamaica e Cuba. Giliane Joubert,da associação do turismo do Haiti, acha que embora exis-tam muitos hotéis familiares de muito boa qualidade noHaiti, o país tiraria benefícios do investimento de umacadeia internacional. Encoraja-se igualmente a diáspora do Haiti a investir maisno sector. A “Cimeira de Desenvolvimento do Turismo noHaiti” organizada pela MWM Associates, em Port-au-Prince, de 20 a 22 de Junho de 2008, vai ver, entre outrascoisas, a forma como as parcerias, entre o sector público eo privado, podem trabalhar em conjunto por forma adesenvolver o sector.D.P. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 4948

Em Novembro de 2007, uma viagem detrês dias de um grupo de turistas japo-neses foi alvo de notícia de destaque nojornal “Le Nouvelliste” do Haiti. O que

este grupo tinha de especial era o facto de nãoserem trabalhadores para o desenvolvimento,nem amigos ou familiares de pessoal da ONU,nem pessoas que iam assistir a conferências, etodos mantiveram os hotéis do Haiti ocupados.Estando por chegar outro grupo destes turistas“reais” do Extremo Oriente, em inícios de 2008,existe optimismo pelo facto dos veraneantesestarem de novo a ser aliciados para o Haiti. O turismo tem sido seleccionado como umaprioridade para o Governo como forma de geraremprego, rendimentos e crescimento, mas atrairvisitantes é ainda uma enorme tarefa de relaçõ-es públicas. É comum verem-se os capacetesazuis da ONU por todo o país, e assim o seránum futuro próximo. Também os sequestrosesporádicos em troca de dinheiro, noticiados naimprensa internacional, assustam os turistas. Asestradas com sulcos e buracos profundos signi-ficam que, por todo o país, a visita de locais éapenas atractiva para quem gosta da aventura.Por outro lado, é fácil ver por que razão ogoverno está empenhado em potencializar osector. Há uma grande variedade de locais a

visitar que levam os visitantes a penetrar nasricas história e cultura do país. Ao mesmotempo, pode desfrutar dos trunfos das Caraíbas:areia branca e um ambiente descontraído namaior parte dos locais do país.“O Haiti é umcocktail de destinos”, explica Giliane CésarJoubert, directora executiva da associação deturismo do Haiti.Anne Rose Schoen Durocher, directora daempresa publicitária ARCA, em Port-au-Prince,que vive no Haiti há 28 anos, e que chegoucomo guia turística de uma operadora europeialíder, afirma que o turismo era saudável nosanos 70. Nessa altura, um dos ex-libris maisfamosos do país, “La Citadelle”, dramatica-mente situada no topo de “Pic-la-Ferrière”,construída pelo rei Henri-Christophe para evitarnovas invasões por parte dos franceses, costu-mava ter 600 visitantes por semana. No sopé daCitadelle ficam as ruínas do palácio Milot SansSouci de Henri-Christophe, destruído por umterramoto em 1842.Segundo Durocher, a visão dos refugiados adeixar o Haiti em barcos nos últimos anos deDuvalier e a crise do VIH, com a qual não selidou muito bem do ponto de vista das rela-ções públicas, afastaram os turistas e o sectornunca recuperou. Explica ainda que o país

andou para trás muito depressa e o turismotambém foi à mesma velocidade. Por volta de1986-1987, o turismo estava paralisado.

> “Locais de paragem obrigatória”

Para ela, os “locais de paragem obrigatória”incluem Jacmel, uma bonita cidade do séculoXIX, perdida no tempo a sul, construída porcomerciantes de café com pilares vitorianos deferro fundido e agora associada ao artesanato. OCabo Haitiano, no norte, é a segunda cidade doHaiti e fica perto de La Citadelle. Les Cayes, construída em 1720, é uma cidadedescontraída situada a sudoeste. Anne RoseDurocher diz que todo o sul está em bom estadode conservação e possui quilómetros de praiasde areia incríveis. Côte des Arcadins, mesmo anorte de Port-au-Prince, tem também extensõesde praias de areia. Os turistas não devem deixar de ver a agitadacidade de Port-au-Prince. Mesmo no centro, oChamps de Mars, construído em 1953 e recente-mente renovado pelo Presidente René Préval, éuma espécie de espaço recreativo ou ponto deencontro, um local para os Haitianos verem eserem vistos. No mesmo local, o Museu de ArteHaitiana alberga uma vasta colecção de arte

ALICIAR a los TURISTAS para um “país incrível”

Cena na praia perto de Les Cayes.© Marc Roger

De cima para baixo:“O Haiti é um cocktail de destinos” – explicaGiliane César Joubert, directora executiva da associação de turismo do Haiti. © Marc Roger

Cenas de rua em Les Cayes.© Marc Roger

Reportagem Haiti ReportagemHaiti

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

> Um percurso instável

Encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente, aRoménia constitui uma ilha de latinidade numoceano eslavo. Na sua história, alternam-seperíodos de modernização acelerada e de estag-nação devastadora. Das origens geto-dácias eromanas da Antiguidade até à formação de umanação, a Roménia conheceram as invasões bár-baras, a divisão em principados independentesna Idade Média, o domínio otomano e o dosHabsburgos antes da unificação no século XIX.Os territórios do que viria a ser a Roméniaabsorveram inúmeras influências como, por

exemplo, a dos colonos saxões enviados pelossoberanos húngaros na Idade Média, a fim detornar segura uma fronteira oriental a contascom os ataques dos tártaros e turcos. Estes últi-mos, outrora mestres da Moldávia e daValáquia, não colonizaram nem islamizaram oque para eles não passava de uma provínciaperiférica do império. Concederam uma amplaautonomia aos seus vassalos, sujeitando-os àadministração das poderosas famílias gregas deConstantinopla, os Fanariotes. Estes legadosalemães e gregos ainda perduram. Por fim, foipouco tempo após o primeiro conflito mundialque o país pôde adquirir as fronteiras daquilo aque chamamos a “Grande Roménia”. No deco-rrer desta história atribulada, os romenos assis-tiram muitas vezes a guerras nas suas terras,

mas nunca estiveram do lado dos agressores.Tiveram de se conciliar com os apetites dos trêsgrandes impérios que os rodearam ou mesmo osanexaram: russo, austro-húngaro e otomano. ASegunda Guerra Mundial ao lado da Alemanhanazi, de 1941 a 1945, custou caro ao país, nãosó em termos de perdas humanas, como tam-bém pela subsequente incorporação no blococomunista. A Revolução de 1989 pôs fim aocomunismo extravagante e destrutivo do dita-dor Nicolae Ceausescu. No dia 1 de Janeiro de2007, a Roménia aderiu à União Europeia,dando assim provas de uma estabilidadeinquestionavelmente benéfica para o seu desen-volvimento. Latina e ortodoxa, é uma sínteseoriginal entre o Ocidente e o Oriente que sóenriquece a Europa. �

51

D escoberta da Europa

50

Sergine André é tudo o que o país temde cativante: vibrante, criativa, sen-sual, um espírito livre. As pinturasdela reflectem a extrema mistura de

esperança e desespero, optimismo e pessimis-mo do país.Os primeiros trabalhos de Sergine André apre-sentam figuras quase imperceptíveis escondidasem segundo plano na tela. Algumas são sólidascom traços visíveis e sorridentes rodeadas porum segundo plano cor-de-laranja. São quaseprotectoras. Outras figuras são dificilmente per-ceptíveis, com as suas características esqueléti-cas e espectrais que deixam um mero rasto natela, e são mais ameaçadoras. Será que todasestas formas e feitios diferentes são as represen-tações da artista dos espíritos Iwa do Vodu? O “Vodou” ou “vòdu” nas línguas da ÁfricaOcidental, Fon e Éwé, que significa espíritosou criação divina, foi trazido para o Haitiquando os Bkongos da África Central e osIgbos e Iorubas da África Ocidental chegaramao país como escravos. No vodu, um bom“Bondyè” é adorado, mas os espíritos são ser-vidos (Sèvis Lwa). Existem literalmente cente-nas de espíritos, ou “Lwa”, geralmente dividi-dos em “Rado”, espíritos quentes, que sãomais agradáveis e “Petwo”, espíritos frios masagitados. Nenhum dos grupos é puramentebom ou mau. O vodu incorpora igualmentealgumas influências dos habitantes originaisdo país, os índios taínos, e utiliza também asimagens de santos católicos romanos pararepresentarem espíritos. Pensa-se que istotenha tido origem na altura em que os escravostinham de esconder a sua religião aos senhorescoloniais. Durante as cerimónias vodu, ofere-cem-se aos espíritos comida, bebida e presen-tes quando os sacerdotes vodu, “Hougans”, eas sacerdotisas, “Mambos”, tentam entrar emcontacto com eles e com os espíritos dos ante-passados de sangue através de cânticos e ora-ções. Os espíritos podem possuir as pessoas

que num estado de transe agem e falam atravésdo espírito. Acredita-se que todos tenham uma

relação especial com um espírito específico,mas podem servir vários. “Sou influenciada pelo vodu, claro que fazparte de mim” – afirma Sergine André, expli-cando contudo que as figuras que pintapodem apenas ser sombras ou sonhos de noi-tes negras da região rural de Artibonite, noHaiti, onde cresceu. Após ter estudado na “Ecole des Arts” emOtava, Canadá, regressou ao Haiti. EmDezembro de 1997, ganhou o concurso“Connaître les Jeunes” (que exibiu o trabalhode jovens pintores) do Instituto Francês. Foientão artista convidada, de Abril a Junho de1998, na “Ecole Nationale des Beaux-Arts” emParis. Entre Abril e Junho de 2006, viajou paraa África do Sul com a “Bag Factory” para tra-balhar com jovens artistas e onde se entristeceucom as brechas da sociedade sul-africana. Porentre as suas inspirações, cita o recentementefalecido artista abstracto haitiano Jean Claude“Tiga” Garoute, a cujo “Solèy Brile”, um méto-do de utilização de tinta e ácido que produz umefeito lustroso ao trabalho artístico, a pintoraprestou homenagem no próprio trabalho.Cores-de-laranja, vermelhos e outras coresvibrantes mostram a sua energia e paixão.Actualmente está a trabalhar numa série depinturas com tonalidades azuis. Utilizandograndes pinceladas, aparecem formas simétri-cas em segundo plano, quase como janelas.Talvez sejam os espíritos Iwa frios. “Talvez eupinte apenas o que vejo”, diz ela, deslocando-se para uma janela aberta do seu estúdio. Oolho de Sergine André é uma janela para aalma do Haiti. D.P. �

Jean-François Herbecq

RROOMMÉÉNNIIAA,, ppaaííss ddee ccoonnttrraasstteessNova fronteira oriental da Europa, a Roménia é, sem dúvida, o país do continenteque regista o desenvolvimento mais acelerado. Membro da União Europeia hápouco mais de um ano, caracteriza-se tanto por um crescimento económico rápidocomo por estruturas obsoletas e necessitadas de reforma. O país oferece igualmen-te fortes contrastes regionais. Como tal, revela-se um destino turístico mal conheci-do mas com um enorme potencial. Com as suas inúmeras minorias, a Transilvâniaoferece um belo exemplo de modelo de coabitação multicultural.

Captura da alma do Haiti:SERGINE ANDRÉPor entre o vasto conjunto de pintores, escritores, músicos e talentos cinematográficosdo Haiti, Sergine André, ou “Djinn”, parece evocar a alma do Haiti.

Sergine André no seu estúdio em Pétionville com umadas suas novas pinturas. © Debra Percival

Sergine André, sem titulo, Óleo em tela, 30 x 40cm.Por cortesia da artista. Fotografia: Debra Percival

Fundo: Sergine André, sem titulo, Óleo em tela, 30 x 40cm.Por cortesia da artista. Fotografia: Debra Percival

O Rei Decebal.© J.-F. Herbecq

Estrada em Bucareste.© J.-F. Herbecq

Cena popular em Bucareste.© J.-F. Herbecq

Reportagem Haiti

UM NOVO PAÍS DOADOR

52 N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Odia 1 de Janeiro de 2007 foi ummomento histórico para aRoménia. Os benefícios da suaadesão à União Europeia já se

faziam sentir antes desta data, com as refor-mas e um crescimento médio de 6% ao longodos últimos sete anos. Os investimentosestrangeiros registaram uma forte progres-são, o desemprego permaneceu baixo. Alémdisso, a adesão trouxe os benefícios de umacesso completo ao mercado interno, às polí-ticas económicas e de coesão social da UE.Permitiu igualmente uma presença reforçadana cena internacional. Em suma, para arepresentação permanente da Roménia naUnião Europeia, este primeiro ano de adesão- 2007 - foi para o país um sucesso muitoclaro nos planos económico, social e políti-co. A partir de agora, qual será a sua políticaface os países ACP?“O apoio definitivo concedido pelo regimecomunista de Ceausescu a alguns países afri-canos denegriu a imagem da cooperação”,advertiu logo de início Daniel Daianu, recen-temente eleito para as bancadas liberais doParlamento Europeu.

“Os regimes políticos vão-se, as pessoasficam”, relembra, por sua vez, o ministro dosNegócios Estrangeiros, Adrian Cioroianu, quenão excluiu do diálogo político uma dimensãoeconómica a fim de recuperar os mercados ediversificar as fontes de abastecimento ener-gético. Porque a Roménia perde mercados emÁfrica… Os principais países da África sub-sariana com os quais a Roménia mantém tro-cas comerciais são Angola, Costa do Marfim,Etiópia, Gana, Guiné, Nigéria, Sudão e Áfricado Sul. As relações económicas e comerciaisreorientaram-se para os parceiros ocidentaisou geograficamente próximos. A Representação Permanente da Roméniarecorda que o país apresenta uma série devantagens interessantes para os Estados afri-canos: em matéria de economia e de tecnolo-gia, por exemplo. As universidades romenasformam mais de 30 000 especialistas, quetêm contribuído para a realização de obras einfra-estruturas na Nigéria e no Gana, explo-rações mineiras e petrolíferas na Nigéria,Senegal e Burundi, culturas agrícolas emMoçambique e Madagáscar, prospecção deágua na Zâmbia e instalações de montagem

53

Aslan: concebido pela Dr.ª Ana Aslan nos anos50, o Gerovital H3, cujas propriedades anti-envelhecimento são extraordinárias, cura tudoou quase tudo: da artrite à depressão, passandopela queda de cabelo. Tornou-se no emblemada investigação romena e numa prenda muitoestimada.

Brancusi: o mais célebre escultor romeno foium dos primeiros a tentar a arte abstracta,sobretudo em França, onde passou uma grandeparte da vida.

Ceausescu: era para ser sapateiro mas ascen-deu ao poder, um pouco surpreendentemente,em 1965. Após anos resplandecentes, em que seposicionou de forma muito independente emrelação a Moscovo, mergulhou o país numaditadura surrealista que lhe valeu mesmo umtelegrama de felicitações de … Salvador Dali. Oseu grande amigo Mobutu ficou muito afectadocom a sua morte.

Drácula: “o facto de Drácula não ter existidonão quer dizer que não exista”, escreveu a histo-riadora Lucia Boia. O Príncipe Vlad Tepes, "oEmpalador", do século XV, está na origem destemito muitas vezes associado a Ceausescu, o“vampiro vermelho”.

Ecologia: palavra desconhecida na Roménia atéhá pouco tempo.

Francofonia: ilha de latinidade num oceanoeslavo, a Roménia conserva, graças ao francês,uma janela aberta para o mundo, nomeada-mente para África.

Guarda de Ferro: movimento extremista dosanos 30, mescla de mística nacionalista, anti-semitismo e fervor ortodoxo. Os seus“Legionários do Arcanjo São Miguel” foramfinalmente eliminados, política e fisicamente,pelo Marechal Ion Antonescu.

Húngaros: a principal minoria étnica naRoménia - 1,7 milhões de húngaros para 22milhões de romenos – representa um quintoda população da Transilvânia, onde continuaa afirmar a sua identidade após a repressãocomunista.

Indústria cinematográfica: o cinema rome-no goza de renome internacional graças àsobras de Cristi Puiu, Cristian Mungiu e CorneliuPorumboiu, sem esquecer o saudoso CristianNemescu. Mas por trás das Palmas de Ouro edos prémios, existem milhares de profissionais.Muitos cineastas estrangeiros, com destaquepara Francis Ford Coppola, vêm filmar naRoménia, beneficiando nomeadamente das pai-sagens fabulosas.

Judeus: segundo a Comissão Wiesel, “aRoménia é responsável pela morte de maisjudeus do que qualquer outro país a seguir àprópria Alemanha”, mas em comparação comos massacres cometidos na Bessarábia, naBucovina e na Transnístria e apesar das persegui-ções, a maioria dos judeus da Roménia sobrevi-veu à Guerra. Contudo, 250 000 judeus e roma-nichéis foram assassinados pelo regime deAntonescu durante a Guerra.

Kronstadt e Koloszvar: nomes respectiva-mente alemão e húngaro de duas cidades daTransilvânia, Brasov e Cluj, o que ilustra a diver-sidade étnica da região.

Logan: mais de 700.000 modelos vendidos emmenos de quatro anos. A Dacia fez um sucessoem 55 países com este veículo cobiçado “amenos de 5 000 euros” construído pela Renault.Produzido em sete países (entre os quais aRoménia, Marrocos e, brevemente, a África doSul), existe em três versões - automóvel de quatroportas, carrinha e camioneta - para responder àsnecessidades de todos os mercados emergentes.

Manele: estilo musical em voga. Trata-se deuma fusão de música tradicional romena commelopeias ciganas, caracterizada pelo popcomercial com um sabor oriental. Possui, semdúvida, tantos adeptos entre jovens e romani-chéis como entre os detractores intelectuais. Ostextos, frequentemente vulgares, falam de din-heiro e mulheres, de máfia e amor… É umpouco o rap, n’dombolo ou zouk local. Novo leu: Um novo leu vale 10 000 lei antigos eas notas novas são de plástico, logo, laváveis àmáquina!

Órfãos: as crianças de rua ou colocadas emlares constituem sempre uma das categoriasmais desfavorecidas, apesar dos progressosrecentes.

Pequena Paris: alcunha de Bucareste, herdadada vontade de ocidentalizar a cidade e os costu-mes no século XIX.

Quadrilátero: dois departamentos búlgaros dosul da Dobruja incorporados na Roménia entre1913 e 1940. Pretexto para o desafio face aoque é búlgaro.

Religião: 86% da população romena é ortodo-xa. A queda do comunismo abriu caminho auma igreja ortodoxa de valores conservadores enacionalistas.

Sarmale: prato nacional de folhas de couve emsalmoira recheadas, acompanhadas de mamali-ga, espécie de polenta.

Tökés, Laszlo: pastor protestante húngaro queacendeu o rastilho, condenando publicamenteCeausescu em 1989, em Timisoara. Acaba de sereleito para o Parlamento Europeu.

Universidade: foi no recinto da Universidadede Bucareste que a Revolução de 1989 teveinício. Mais de mil manifestantes mortos. É o“quilómetro zero da democracia na Roménia”.

Vegetariano: uma refeição sem carne não éuma refeição. Excepto durante a Quaresma.Wurmbrand, Richard: Nasceu em Bucareste,em 1909, e foi até à sua morte, em 2001, umdos maiores pregadores cristãos. Este judeu ale-mão da Roménia converteu-se ao protestantis-mo e passou 14 anos nas prisões comunistas.

Xenofobia: os romenos têm tendência a cul-par os ciganos e romanichéis, que representampraticamente um décimo da população (muitomenos, segundo o governo) por todos osmales da terra.

Yuan: cigarros, móveis, bicicletas, produtosagro-alimentares… são os investimentos chine-ses na Roménia após a entrada na UniãoEuropeia. Encontra-se igualmente em constru-ção um novo “Chinatown” em Bucareste… nobairro denominado Europa!

Zizânia: ambiente de trabalho na classe políti-ca romena.

J.F.H. �

Roménia de A a Z

UM NOVO PAÍS DOADORA adesão da Roménia à União Europeia, no início de 2007, assinalou uma viragem na sua política externa: o país integrou os objectivos europeus decooperação e, acima detudo, juntou-se ao grupodos países doadores. No entanto, esta políticaface aos países ACP permanece embrionária.

Fotografia da T-shirt do Drácula © J.-F. Herbecq

Igreja de Timisoara© J.-F. Herbecq

O Edifício Berlaymont, Bruxelas 2006. © EC

Descoberta da Europa Roménia Descoberta da EuropaRoménia

SER AFRICANO NA ROMÉNIADois milhões de romenos expatriados contra apenas 60.000 estrangeiros residentes no país. E no entanto, aRoménia começa a tornar-se numa terra de imigração. Aeconomia do país está em crescimento e necessita de mão-de-obra. Os recém-chegados são provenientes daMoldávia, Turquia ou Ásia e, por vezes, de África. Para osafricanos, a integração nem sempre é fácil.

54 N. 4 N.E. – ENERO FEBRERO 2008

para a indústria automóvel e ferroviária naNigéria. Actualmente, um número significati-vo de especialistas romenos trabalha em dife-rentes países africanos.Para a eurodeputada socialista Corina Cretu,é altura de fomentar novas relações entre aRoménia e os países terceiros. Contudo,recorda que, como doador, a Roménia deveráter em conta as suas próprias capacidades. O antigo ministro das Finanças DanielDaianu mostra-se optimista: “O alargamentoda União Europeia a Leste não significa umaredução do orçamento reservado à coopera-ção, pelo contrário: o orçamento globalencontra-se em crescimento. Isto quer dizerque a política de cooperação para o desenvol-vimento da Roménia continua um poucoparoquial e isso deverá mudar!”

> "Bom soldado"

Mesmo se, após a adesão à União Europeia, asrelações entre a Roménia e os países da Áfri-ca subsariana constituem uma dimensãoimportante da sua política externa, esta inte-gração euro-atlântica continua a ser o seuprincipal objectivo, explica a representaçãoromena em Bruxelas. Os países geografica-mente próximos, nomeadamente os países deLeste e os Balcãs Ocidentais, têm prioridade,tal como os países em vias de estabilização

onde a Roménia participa nas forças de paz,como por exemplo no Iraque ou noAfeganistão. Efectivamente, já há muitotempo que a Roménia é o "bom soldado" dacena internacional. Bucareste participa, semhesitar, nas operações de manutenção da pazem quatro continentes: Haiti, Congo, Costa doMarfim (todos países francófonos!), Etiópia,Eritreia, Sudão, Libéria, Afeganistão, Nepal,Timor-leste, Geórgia e Kosovo. A adesão da Roménia à União Europeia fê-lapassar do estatuto de beneficiário para o defornecedor de ajuda. Brevemente, contribuirápara o FED, o Fundo Europeu deDesenvolvimento, que visa co-financiar pro-jectos no continente africano com outrosEstados-Membros da UE. Simultaneamente, ogoverno romeno exprimiu a sua vontade deapoiar os objectivos de desenvolvimento domilénio, assim como as actividades da ONUnos domínios da educação e da saúde, altera-ções climáticas, segurança alimentar, ajudahumanitária e manutenção da paz.

> Francofonia

Com 5 milhões de habitantes que dominam ofrancês numa população de cerca de 22 mi-lhões, a Roménia constitui um posto avança-do da francofonia na Europa de Leste. Em2007, o governo romeno implementou umsistema de bolsas de estudo, baptizado de“Eugène Ionesco”, destinado aos residentesestrangeiros das instituições de ensino supe-rior da Roménia. A Roménia concede, assim,um montante anual de um milhão de eurospara os doutorandos e os investigadores dospaíses do Sul e membros da francofonia. Oobjectivo deste programa é permitir aosinvestigadores e doutorandos dos países doSul beneficiarem de um estágio de, no máxi-mo, 10 meses em 15 instituições de ensinosuperior romenas reconhecidas pela suaexcelência. O número mínimo de bolsas con-cedidas anualmente é de 70 e, em 2008, seráde 120. O programa Eugène Ionesco temagora um ano e, entre os investigadores já

inscritos, há representantes do Benim,Camarões, Costa do Marfim, Guiné,Mauritânia, Madagáscar e Senegal.A 10.ª Cimeira da Francofonia realizada emBucareste de 25 a 29 de Setembro de 2006apresentou uma série de manifestações cultu-rais abrangendo diversos aspectos da vidaartística. Deste modo, sob o nome de Ritmos eImagens da Francofonia, artistas e grupos pro-venientes de Marrocos, Haiti, Congo, Djibuti,Vietname, Senegal e Guiné apresentaramespectáculos ao ar livre, altamente apreciadospelo público romeno. Uma exposição de pintu-ra sobre vidro “Senegal – Roménia: o diálogosobre a rota do vidro” venceu o desafio de con-jugar a diversidade cultural destes dois paísesapresentando as obras de dez artistas. J.F.H. �

Amadou Niang, antigo estudante,testemunha: “Como bolseiro sene-galês, fiquei desde logo decepcio-nado com as más condições reser-

vadas aos estudantes no terceiro ciclo. O quar-to na cidade universitária estava em muitomau estado e foi preciso alugar um estúdiocom o meu próprio dinheiro. A qualidade dosestudos também deixa a desejar. Há corrupçãonos exames.”

Uma vez terminados os estudos, AmadouNiang quis ficar na Roménia. Por amor. Masmesmo o casamento com uma romena nãoimpede as discriminações, tanto a nível admi-nistrativo como na procura de emprego.Quanto à dificuldade de existir como um casalmisto, afirma que “a lei anti-discriminação éuma fachada e não é eficaz. Para além de umamulta, não prevê a indemnização da vítima”,insiste, salientando que os romanichéis são,

sem dúvida, mais vítimas do racismo do queos africanos e que, apesar de tudo, tem muitosamigos romenos. Amadou Niang criou uma associação para aju-dar os imigrantes a instalarem-se. E não é oúnico a reagir: um programa intitulado“Democracia e coragem” ensinará os jovensdas escolas a renunciar ao racismo.

J.F.H. �

55

“Em 2004, aquando da nossaestreia, pouca gente nos davauma oportunidade de suces-so”, recorda Andrei. “Porém,

aqui estamos no mercado ao fim de três belosanos. A nossa imagem, um branco e um negro,teve um impacto muito forte”. Kamara acres-centa: “A nossa mensagem é bem transmitida.Ao ver-nos juntos, dois amigos e duas raçaspara uma única música, as pessoas compreen-deram que o entendimento entre dois homensde cores e culturas diferentes é possível”.“As músicas guineense e francesa sempre mefascinaram. Fui influenciado pela minha culturafranco-guineense enriquecida, com o tempo,pela cultura da Roménia”, conta o Guineense deBucareste. “E isto faz de Kamara uma persona-

gem à parte no mercado musical romeno”,acrescenta o seu comparsa branco, Andrei.Os êxitos dos AlbNegru, “Noi doi” (nós os dois)ou “Muza mea” (minha musa), conjugam oromeno e o francês. Uma aposta arriscada numpaís francófilo, é certo, mas que associa muitasvezes a modernidade à língua inglesa. “É verda-de que a língua francesa na música romena éuma novidade. Os anos passaram e podemosdizer que a fusão entre o rap francês e o popromeno é uma aposta ganha”, avalia Kamara. Três álbuns em três anos, uma participação noFestival da Canção da Eurovisão com um grupocosmopolita e muitos projectos, entre os quaisdigressões em Espanha e, sem dúvida, emFrança: o êxito dos AlbNegru é total.J.F.H. �

BRANCO-NEGRO Branco-negro: O duo AlbNegru, formado pelo romeno Andrei e o franco-guineenseKamara, constitui um manifesto vivo a favor da tolerância. Mistura de pop romenocom um sabor oriental e de hip-hop francês com toques de reggae, a música dos AlbNegru canta o amor e a abertura aos outros. Notável num país onde os estrangeiros são, por vezes, vistos com desconfiança.

Festival Francófono em Bucareste, 2006.Bernard Verschueren

Celebração do Tratado de Adesão à UE da Bulgária e daRoménia, 25 de Abril de 2005. © EC

Antiga moeda © EC

Amadou Niang© A. Niang

O duo AlbNegruAlbNegru

Descoberta da Europa Roménia Descoberta da EuropaRoménia

Ciganos munidos de Motorola fotografam osbólides que desfilam.As grandes cidades já atraem os turistas. Clujcontinua a atrair a atenção e a conhecer umenorme êxito. Em 2007, com a nomeação paracapital europeia da cultura, saiu a sorte grandea Sibiu, mais conhecida pelo nome alemão deHermannstadt: esta jóia urbana pôde ser reno-vada para ascender ao estatuto de destino deturismo de qualidade. Brasov é menos concor-rida, mas não lhe falta charme ao pé das mon-tanhas. Em Sighisoara, outra cidade saxã, osturistas japoneses já desembarcaram. Disparamas objectivas à vista da mais pequena placa dra-culesca. Os parques de campismo dos castelose cidadelas enchem-se completamente. Os ago-ráfobos evitarão a visita ao castelo (chamadode Drácula) de Bran, enquadrado num mercadoperfeitamente kitsch: é bonito e bem restauradomas só dificilmente consegue absorver aenchente de turistas na época alta! Mais a leste da Transilvânia, a partir de TirguMures, depois no país sicule, estamos comoque numa ilha húngara em pleno centro daRoménia. Escritas em romeno e húngaro namelhor das hipóteses, a sinalização encontra-se, muitas vezes, apenas em magiar. Os par-ques “memoriais” são ornados de estátuasenfeitadas com fitas com as cores húngaras.Vendem-se recordações diversas, chávenasou t-shirts vangloriando a Grande Hungria…Sensível… J.F.H. �

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 200856

ATransilvânia atrai. O céu é lindoao pôr-do-sol. Aqui, ao longo daestrada, vendedores de cebolas,amoras ou framboesas. Mais abai-

xo, águas termais, lagoas quentes ou salinas.Vulcões antigos, minas de sal com virtudescurativas. Vales arborizados ou pastagens ver-dejantes. Alguns parques de campismo maisou menos selvagens, muitos churrascos… osromenos adoram essas coisas.A região é um mosaico de culturas. Aqui, fala-se húngaro, ali conversa-se em romeno.Pergunta-se em alemão, responde-se em inglês.Não existem fronteiras, mas a língua muda… Ao longo das estradas, muitas vezes em cons-trução, assistimos a um trânsito barulhento.Nas passagens de nível, o trânsito abranda.

TTRRAANNSSIILLVVÂÂNNIIAA:: TTEERRRRAA PPRROOMMEETTIIDDAA DDOO TTUURRIISSMMOONão há dúvidas de que a Transilvânia deve muito ao autor irlandês, Bram Stoker, que,ao criar a personagem do Conde Drácula em 1897, inaugurou uma galeria de clichésque assentam na Transilvânia como uma luva. Todavia, a região não se resume aoscastelos perdidos nas brumas dos Cárpatos. O seu património arquitectónico tambéminclui igrejas fortificadas, cidades saxãs e aldeias bem conservadas. As suas montanhase colinas oferecem igualmente paisagens magníficas. Trunfos a destacar.

57

Página 56: Os castelos e os vales são atracções

potenciais para o turismo. © EC

À esquerda: Em Sfantu Gheorghe,uma parede divide a

rua Varady Jozsef. © J.-F. Herbecq

Foto central: Na Transilvânia, promovem a identidade húngara.

© J.-F. Herbecq

Em baixo: Os parques “memoriais”estão adornados com estátuas

decoradas com as coreshúngaras.. © J.-F. Herbecq

UM MURO DIVIDEUMA RUA EM DUASEM SFANTU GHEORGHE

Estamos em Szekelföld, o país dos Sicules. Oshúngaros étnicos habitam a parte oriental

da Transilvânia. Trata-se de uma pequena cida-de onde se fala mais húngaro do que romeno.Para além de um museu, tem muito poucointeresse para os turistas.Longe do centro da cidade, uma rua resi-dencial sobe. À partida, nada a distinguedas outras. A seguir a uma igreja, o bairroresidencial é muito modesto. Menos viven-das, mais pavilhões, depois blocos de apar-

tamentos. Nada de especial. Mas, de repente, a rua divide-se em duas emtodo o seu comprimento: um muro de 2,5metros separa o lado direito do lado esquer-do. Um lado é de asfalto, alguns carrosencontram-se estacionados ao longo dos blo-cos de apartamentos. No outro lado, a ruatransforma-se em caminho de terra que ladeiapequenas casas modestas. Nem um carro.Alguns rapazes brincam. Basta um olhar para identificar as duas popula-ções separadas. De um lado, os “brancos”, dooutro, os “negros”, os “morenos”, os ciganos,os romanichéis.Entre eles, um muro de betão. �

Descoberta da Europa Roménia Descoberta da EuropaRoménia

A7ª edição dos Encontros Africanosda Fotografia, uma das raras iniciati-vas que valorizam as realizações doscriadores de África, é um momento

esperado por todos aqueles que, tanto no Sulcomo no Norte, se interessam por este meio par-ticularmente contemporâneo: a fotografia.Próxima do vídeo, com que trabalham inteligen-temente vários fotógrafos profissionais, a foto-grafia artística de expressão, ou mais simples-mente de autoria, é dificilmente rentável paraum criador africano demasiado afastado das edi-toras, das salas de exposição, das redes de difu-são e dos pontos de encontro profissionais.Isto torna os Encontros Africanos daFotografia ainda mais indispensáveis e sópodemos lamentar o facto de, à excepção daÁfrica do Sul, onde vários autores e organiza-dores são activos, muito poucos projectos pro-fissionais ligados à fotografia serem desenvol-vidos no continente. Apenas podemos citaralgumas acções no Mali, Botsuana, Gabão,Zimbabué e na Tunísia.Nesta perspectiva em que falta fazer tudo, os7º Encontros de Bamako são indispensáveisainda que, de facto, tivessem sido iniciados,organizados e supervisionados com a ajuda deperitos vindos de Paris em colaboração com aCasa Africana da Fotografia de Bamako.Como dizia com humor um visitante maliano:“Antes víamo-los fotografar-nos, agora aju-dam-nos a olhar para as nossas próprias foto-grafias” e a colocar os operadores culturaismalianos perante um dilema: autogerirem-seou sujeitarem-se.

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008 59

riatividade

58

Apequena região montanhosa deMaramures, encostada à Ucrânia anorte da Transilvânia, é, por vezes,apresentada como o “Shangri-La” da

“romenidade”. Com efeito, num país maioritaria-mente agrícola é difícil dissipar o mito do cam-ponês romeno, mesmo na altura da adesão àUnião Europeia.Longe do turismo de massas do litoral do MarNegro ou dos castelos que se diz terem abrigado oConde Drácula, esta região verde, com tradiçõesbem enraizadas, viu desembarcar uma espécie par-ticular: a do turismo pós-moderno, explica RalucaNagy. “Há 10 anos, os turistas descobriram Praga.Hoje, rumam a Bucareste ou Sófia”, resume ela. Oetnoturista recusa-se a bronzear como um idiota.Pelo contrário, informa-se e mostra-se curioso eatraído pelas outras culturas.“A paisagem dos postais de Maramures e o mito deuma autenticidade romena (algo falacioso, tendoem conta a sua história que viu desfilar húngaros eucranianos) fizeram o sucesso da região. Em algunsanos, o turismo «amigável», baseado na hospitali-dade tradicional, deu lugar a uma relação maiscomercial”, constata no local a antropóloga.

“As pessoas de Maramures, na maior parte doscasos agricultores a tempo parcial devido à pobre-za da terra, enveredaram pelo turismo rural.Alguns, que trabalham no estrangeiro, construíramnovas casas para receber os visitantes com maisconforto do que as casas tradicionais dos bosques.O desenvolvimento destes “pensiuni” assépticosameaçam precisamente aquilo que constitui acaracterística principal do turismo em Maramures:a sua autenticidade. Arrisca-se mesmo a esgotar-se”, afirma a investigadora.E contudo, o turismo verde é um trunfo para aRoménia, diz Raluca Nagy: “nenhum outro país naEuropa tem uma oferta tão vasta, mas é um poten-cial que deve ser utilizado de forma inteligente”.J.F.H. �

QUAL SERÁ o futuro do turismo rural na

ROMÉNIA?

Os campos e as montanhas preservam as suas paisagens e tradições. O turismo verdeé uma oportunidade para a Roménia, mas o seu desenvolvimento ameaça a autenti-cidade de regiões únicas como Maramures.

Encontro com Raluca Nagy, investigadora em Antropologia na Universidade Livre de Bruxelas (ULB) e na Universidade de Cluj

Mirko Popovitch*

Uma ocasião DEMASIADO rara para VALORIZAR os FOTÓGRAFOS AFRICANOSEncontros africanos de fotografia em Bamako

De cima para baixo:

Fanie Jason (África do Sul), Carters on the Way to the epping scrap yard, Série Cape Carting, Bienal de Fotografia,Bamako 2005. © Fanie Jason

Samy Baloji (RDC), Gécamines 3, Série Mémoire, Bienal de Fotografia, Bamako 2006. © Samy Baloji

O porto de Bamako, lugar surpreendente de intensa actividade e de vida © Anne Sophie Costenoble

No cimo:Interior típico de uma casa em Lunca Livei. © EC

Vida nas zonas rurais. © EC

Descoberta da Europa Roménia

60

Num soberbo catálogo franco-inglês de 269páginas, magnífica ferramenta editada pelaCULTURES FRANCE, descobrimos um ver-dadeiro directório das múltiplas sensibilidadesque alimentarão durante décadas a diversidadecultural tão apreciada. É esse o desafio de umencontro como este. A África fotografadapelos Africanos; a Europa, a América, omundo, fotografados pelos Africanos. EmBamako em 2007, o tema exacto era “ACidade e o Além”, o que inspirou tantos olha-res diferentes, tantos apelos ao diálogo, clichésreveladores, imagens de amor e de paz.A cidade africana é um labirinto improvávelpara o visitante estrangeiro à procura de pon-tos de referência familiares. Os códigos inven-tam-se aí à medida que vão surgindo. Ao sabordo vento. E é o vento que fabrica este sincretis-mo arriscado que, apesar de tudo, funciona.Porque é feito de carne e de sangue. (SimonNjami, Comissário-Geral dos EncontrosAfricanos da Fotografia em Bamako)O interesse de um encontro fotográfico estáem constituir uma ocasião para os fotógrafosde se confrontarem com a criação mais actual.Claro que, em Bamako, as referências eram dequalidade. O olho experiente de Simon Njamie o do seu comissário associado, SamuelSidibé, director do Museu Nacional do Mali,permitiram a selecção de uma plêiade de talen-tos de 16 nacionalidades de origem africana.Mas de que se trata ao evocarmos a origem deum artista e, sobretudo, de um fotógrafo? Deuma identidade de nascença, administrativa,cultural? Sabendo que uma parte dos fotógra-fos presentes na Bienal vivem em Londres,Paris, Nova Iorque e vão de tempos a tempos,de máquina ao pescoço, procurar novas forçasnos seus países, podemos interrogar-nos o quesignifica hoje a fotografia africana. Será real-mente africana, mais africana que a de alguémde origem ocidental que passou metade davida em terras de África e que se empenha emolhar e palpar as luzes e os contrastes da vidaafricana? E o que dizer da condição dos fotó-grafos africanos menos providos que escolhe-ram permanecer na terra dos seus antepassa-dos e se esforçam por afirmar, na indiferença,uma sensibilidade do terreno?Voltemos ao evento: os Encontros de Bamakoeram também a impressionante presença daFundação Jean-Paul Blachère, que tem o nomedo seu mecenas, que a partir do local da suaresidência de artistas de Apt (França) valorizahá vários anos com subtileza as obras dosartistas africanos mais originais. Em matériade fotografia, devemos-lhe o facto de ter reve-lado muito cedo Saïdou Dicko (BurquinaFaso), a quem foi atribuído um Prémio maisuma vez este ano, o da Organização

Internacional da Francofonia. Em Bamako,num baldio arranjado, expunha o trabalho de16 artistas que combinavam fotografias e víde-os numa espantosa cenografia.O Âmbito da promoção para a Formação emFotografia (CFP) de Bamako, apoiado pelaUnião Europeia, nada ficava a dever. Este cen-tro de formação em imagem, apoiado pelaassociação “Contraste” de Bruxelas, acolhiauma formação cruzada de 18 estagiáriosmalianos e belgas. Este projecto, apoiado pelaAfricalia, permitiu a criação de 200 fotogra-fias, expostas e projectadas nos bairros popu-lares de Bamako. Paralelamente, o “Cinemadigital ambulante” fazia deambular um estúdiodigital pelos mercados da cidade, captandoaqui e ali, num louco ambiente de festa, cente-nas de retratos de habitantes que associava,com um computador, a paisagens da aldeiaglobal. O sucesso foi assegurado pelas projec-ções em ecrã gigante das figuras do bairro queficavam então sorridentes à frente da torreEiffel, das pirâmides de Quéops, da GrandeMuralha da China! Por fim, e porque é indispensável multiplicar ointercâmbio, mergulhar os criadores em con-frontações estéticas, criar ocasiões para visio-nar obras, os organizadores tinham convidadoa Finlândia e a sua nova geração de captadoresde imagens para exporem os seus trabalhos.Choque, descoberta, partilha de valores, desensibilidade e de urgência, sempre com umaquestão: o que pode aproximar mundos em sitão diferentes? O homem escondido por detrásdo gesto artístico? O desejo de conheceroutros lugares? A generosidade de um rosto?Ou simplesmente a vontade de viver umaexperiência positiva: ver fotografias?

* Mirko Popovitch, Director da Africalia (Bélgica) �

OFundo Príncipe Claus para aCultura e Desenvolvimento foi cria-do em 6 de Setembro de 1996, paracelebrar o 70º aniversário de Sua

Alteza Real, o Príncipe Claus, marido da RainhaBeatriz da Holanda. Este fundo premeia artistas,pensadores e organizações culturais em África,Ásia, América Latina e Caraíbas desde 1997.O Fundo Príncipe Claus atribuiu um prémio a

Faustin Linyekula pelo seu total empenhamentoem prol do Congo, pela excepcional coreografia,bem como pelo corajoso regresso ao respectivopaís e pela sua inovadora estimulação da vidacultural, apesar da instabilidade e turbulênciaque prevalecem. O coreógrafo de Kisangani utiliza movimentos,textos, imagens e sons para divulgar e sensibili-zar para a experiência de viver no meio de umconflito que tem assolado o seu país durantedécadas. Descreve-se a si próprio como um con-tador de histórias. Ao honrar Lineykula emDezembro de 2007, o júri mencionou que assuas actuações eram fortes e retratavam uma lin-guagem vanguardista.Desde há dez anos até à data, o Fundo PríncipeClaus tem atribuído prémios de 100.000 eurosa personalidades notórias e organizações deÁfrica, Ásia, América Latina e das Caraíbas no

ramo da cultura e do desenvolvimento. Sãoconvidadas personalidades do mundo inteiro apropor nomes e, baseando-se em pesquisas,um júri restrito seleciona alguns candidatosdos quais sairá um vencedor que receberá oprémio numa cerimónia realizada na presençada família real em Amesterdão. Em 2007, oPrémio Príncipe Claus decidiu homenagearartistas e organizações que trabalham paraimpedir o poder destrutivo dos conflitos, pro-movendo a beleza, o diálogo e o respeito, adignidade e auto-estima face à devastação.Dez prémios mais pequenos de 25.000 eurosforam atribuídos, nomeadamente, ao produtor deteatro e revolucionário cultural, Augusto Boal(Brasil), à actriz e poetisa Patricia Ariza, quetrabalha na Colômbia, ao cartonista da TanzâniaGado, ao grupo artístico Ars Aevi (Bósnia eHerzegovina), à União Sudanesa de Escritores(Sudão) e à Rádio Isanganiro fundada em 2002,no Burundi, por um grupo de jornalistas. �

61

Sandra Federici

PRÉMIO PRÍNCIPE CLAUS DE 2007

No cimo:Bienal de Fotografia, Bamako 2007.

© Afrique in visu /Baptiste de Ville d'Avray

Em baixo:Bienal de Fotografia, Bamako 2007.

© Afrique in visu / Baptiste de Ville d'Avray

Faustin Linyekula com Papy Ebotani e Djodjo Kazadi em The Dialogue Series III, Dinozord 2006.

© Sammy Baloji, por cortesia de Faustin Linyekula

Sudanese Writers Union.Por cortesia de SWU

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Palmarés:PRÉMIO SEYDOU KEÏTA:

Calvin Dondo, Zimbabué PRÉMIO DA UNIÃO EUROPEIA:

Aïda Muluneh, EtiópiaPRÉMIO DA ORGANIZAÇÃOINTERGOVERNAMENTAL DA FRANCOFONIA(OIF):

Saïdou Dicko, Burkina Faso PRÉMIO ELAN DA AGÊNCIA FRANCESA DEDESENVOLVIMENTO (AFD):

Mohamed Camara, Mali PRÉMIO DE IMAGEM:

Amal Kenawy, Egipto PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI:

Nontsikelelo “Lolo” Veleko, África do Sul

PRÉMIO ÁFRICA EM CRIAÇÕES: Sammy Baloji, RepúblicaDemocrática do Congo

PRÉMIO FUNDAÇÃO BLACHÈRE: Adama Bamba (primeiro prémio)

Os Encontros Africanos da Fotografia foramco-produzidos pela Casa Africana daFotografia, pelo Ministério da Cultura doMali e por CULTURES FRANCE, com o apoioda União Europeia, e beneficiaram do apoioda Agência Francesa de Desenvolvimento(AFD) e da Organização Intergovernamentalda Francofonia (OIF). �

Publicação Facts de Ars Aevi. Por cortesia de Ars Aevi

Desenhos animados por GadoPor cortesia de Gado

Criatividade Criatividade

N. 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

Diz-se cada vez maisque na região doPacífico e dasCaraíbas, por

exemplo, muitas das pequenasilhas remotas, que são de umarara beleza, correm o risco dedesaparecer.Desde há um certo tempo, aTerra não cessa de aquecer. Nospaíses mais frios, como naEuropa, há menos neve do queantes, chove um pouco menos e,por vezes, está calor quandodevia estar frio. Nos países onde não há Inverno,há muito calor, quase sempredemasiado calor. Em certasregiões, já quase não chove. Nestas circunstâncias, as plantas crescemdificilmente e é difícil encontrar água para beber, porque é a água dachuva que penetra profundamente na terra. É esta água que se bombeia eque sai das torneiras.Verifica-se igualmente um aumento do número de grandes catástrofesmortíferas: furacões, terramotos, inundações, vulcões em erupção. NoPólo Norte e no Pólo Sul, onde havia constantemente enormes quantida-des de gelo, hoje o gelo derrete depressa. Ao derreter, aumenta a quanti-dade de água nos mares. Em certas zonas da Europa, por exemplo na Bélgica e nos PaísesBaixos, e sobretudo nas pequenas ilhas do Pacífico, que são como gran-des corais planos, quase ao nível do mar, isto pode ser grave. Num des-tes países, Quiribáti (deve pronunciar-se Kiribass), duas das pequenasilhas foram desaparecendo pouco a pouco no mar. Não eram habitadas,mas havia gente que dava ali os seus passeios. Conta-se que, um dia, o

Príncipe de Gales, o PríncipeCarlos de Inglaterra, quandojovem, almoçou numa delas.Nalgumas pequenas ilhas deQuiribáti, a população tem medoe tanto as pessoas deste paíscomo de um outro, as IlhasMarshall, já partiram refugiar-senoutro pequeno país da regiãoque se chama Niue. Niue temsorte, é montanhoso. Mas o país ameaçado do Pacíficode que mais se fala é Tuvalu. Diz-se que poderá ser o primeiro paísa desaparecer inteiro se a água domar continuar a subir. VisitámosTuvalu. Dizia-nos uma avozinha:“Deixarei partir os meus filhos e

os meus netos, mas eu ficarei, é aqui que quero morrer.” É triste.As crianças aprendem nas escolas o que se pode fazer para ajudar o país:não esbanjar a água, proteger as árvores, etc. Aprendem igualmente o quedevem fazer em caso de perigo, se o nível das águas subir. Mas nem pen-sar em partir. Susana, de 9 anos, diz-nos: “Não sei o que fazer, mas nãoquero partir.” Uma outra miúda, Tepula, disse-nos que subirá a uma árvo-re e aguardará que o nível das águas baixe. Um miúdo, Teisi, quer ficarpara vigiar o seu país e Kanava, outro rapaz, diz que encherá o mar parafazer uma montanha. A verdade é que Kanava tem razão. Ele pensa o mesmo que os governan-tes do seu país que querem construir uma ilha artificial mais alta perto dapraia. Para isso, é necessário muito dinheiro e materiais. Pensam, comoestas crianças, que as pessoas do mundo inteiro vão dar uma ajuda paraevitar que o seu belo país desapareça do mapa.H.G. �

63

ara os mais jovens

62

Opatrimónio, material ou imate-rial, é um elemento essencial daidentidade de um país. Portanto,a sua protecção é uma obriga-

ção moral e de responsabilidade pública. OsCamarões compreenderam isto perfeitamentee têm feito grandes esforços nessa área.O Ministério da Informação e Cultura dosCamarões, aquando da realização dosEstados Gerais da Cultura, tomou resoluçõese assumiu compromissos em termos de valo-rização do património daquele país. Contudo, a partir de 1980, com o concurso doGabinete de investigação científica e técnicado ultramar e do Fundo universitário deapoio à investigação, lançou-se num vastoprograma de investigação sobre o inventáriodo seu património. Isto levou à instituição deestruturas como centros de informação, edu-cação, formação e investigação. Deste modo, existem em Iaundé, em Douala enalgumas localidades do Oeste dos Camarõesalguns museus, galerias e monumentos, ondeencontramos colecções de natureza diversa(etnografia, história local e regional, geogra-fia, história natural, artes plásticas). OMinistério da Cultura muniu-se igualmentede uma política de aquisição de obras con-temporâneas através de concursos de criação. No entanto, a rede de museus é demasiadofraca, se considerarmos toda essa riqueza.

Estão abertos apenas 15 museus e alguns nãomerecem essa designação. Os museus priva-dos representam mais de metade dessas ins-tituições em actividade.

> Letargia

Apesar das resoluções tomadas, existe umacerta letargia na gestão dos museus públicos.Por esse motivo, encontramos aí alguns proble-mas. Além da falta de espaço e de equipamen-to necessários para exposição permanente, osmeios financeiros são demasiado limitadospara o bom funcionamento dos museus: o equi-pamento de controlo do clima, os serviços edu-cativos e missões de recolha e transporte dasobras pelo país e a montagem das bibliotecasespecializadas em museologia e ciências auxi-liares. As obras ficam, assim, expostas a diver-

sos factores de degradação. Temos também, esobretudo, dificuldade em recrutar pessoalqualificado. A isto se devem os enormes atrasosobservados em matéria de conservação e res-tauração.Aliás, todas estas lacunas colocaram o proble-ma da própria pertinência da criação de tais ins-tituições em África a nível geral. Felizmente, oequívoco foi retirado aquando de um encontroorganizado pela ICOM, no Gana, em 1991(Que museus para África? Património de futu-ro), que teve como efeito a melhoria da situaçãodos museus africanos. Actualmente, os organis-mos internacionais tomam medidas para ajudaresses países a enfrentar verdadeiramente estesdesafios. Espera-se que os especialistas da cul-tura dos Camarões que participam nestes semi-nários possam concretizar as suas sugestõespara ultrapassar as dificuldades ligadas à con-servação das colecções e garantir uma melhorvalorização do património cultural camaronêsjunto do público.

* Historiadora de Arte.Professora na Universidade de Yaoundé I,Camarões

1- Actas dos Estados gerais da cultura, Iaundé,Palácio dos Congressos, Ministério da Informação eda Cultura, 23-26 de Agosto de 1991, p. 54, 55.

2 -Boletim ZAMANI, 1993, n°5/6, p. 8.�

As ilhas remotas vãoMESMO DESAPARECER?

Radek Steska, 2007 Manifesta!© Africa e Mediterraneo

Apresentação de máscaras, Museu Bandjoun, Grassland, Camarões.

© Projecto de museus de Grassland

Museu Nacional dos Camarões: entrada principal.© Achille Komguem

© Kirill Livshitskiy. Imagen de BigStockPhoto.comdos museus camaroneses

Ruth Colette Afane Belinga*

A HISTÓRIA NATURAL dos museus camaroneses

Criatividade

orreio do leitor

ÁFRICAÁfrica do Sul Angola Benim Botsuana Burquina Faso Burundi Cabo Verde CamarõesChade Comores Congo (República Democrática) Congo (Brazzaville) Costa doMarfim Djibouti Eritreia Etiópía Gabão Gâmbia Gana Guiné Guiné-Bissau GuinéEquatorial Lesoto Libéria Madagáscar Malawi Mali Mauritânia Maurícia (Ilha)Moçambique Namíbia Níger Nigéria Quénia República Centro-Africana Ruanda SãoTomé e Príncipe Senegal Seicheles Serra Leoa Somália Suazilândia Sudão TanzâniaTogo Uganda Zâmbia Zimbabué

CARAÍBAS Antígua e Barbuda Baamas Barbados Belize Cuba Domínica Granada Guiana HaitiJamaica República Dominicana São Cristóvão e Nevis Santa Lúcia São Vicente eGranadinas Suriname Trindade e Tobago

PACÍFICOCook (Ilhas) Fiji Marshall (Ilhas) Micronésia (Estados Federados da) Nauru Niue PalauPapuásia-Nova Guiné Quiribáti Salomão (Ilhas) Samoa Timor Leste Tonga TuvaluVanuatu

UNIÃO EUROPEIAAlemanha Áustria Bélgica Bulgária Chipre Dinamarca Eslováquia Eslovénia EspanhaEstónia Finlândia França Grécia Hungria Irlanda Itália Letónia Lituânia LuxemburgoMalta Países Baixos Polónia Portugal Reino Unido República Checa Roménia Suécia

As listas dos países publicadas pelo Correio não prejulgam o estatuto dos mesmos e dos seus territórios, actualmente ou no futuro. O Correio utiliza mapas de inúmeras fontes.O seu uso não implica o reconhecimento de nenhuma fronteira em particular e tampouco prejudica o estatuto do Estado ou território.

Países de África – Caraíbas – Pacíficoe União Europeia

Janeiro 2008 > 22-23 Fórum do sector privado africano

organizado pelo Departamento dosAssuntos Económicos da União Africana – Adis Abeba

> 28-29 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas – Bruxelas

> 31-2.2 Conferência dos Chefes de Estadoe de Governo da União Africana –Adis Abeba

Fevereiro 2008 > 18 Conselho de Ministros da UE

sobre Assuntos Gerais e Relações Externas – Bruxelas

> 20-22 PNUE – Fórum Ministerial Mundial para o Ambiente – 10ª sessão extraordinária – Mónaco

Março 2008 > 10-11 Conselho de Ministros da UE

sobre Assuntos Gerais e Relações Externas – Bruxelas

> 15-22 Assembleia Paritária ACP-UE – Liubliana

> 17-20 CNUCED – Conselho sobre o Comércio e o Desenvolvimento – 24ª sessão extraordinária – Genebra

Abril 2008 > 28-29 Conselho de Ministros da UE

sobre Assuntos Gerais e Relações Externas – Bruxelas

Maio 2008 > 16-17 Cimeira UE-América Latina-

Caraíbas (EU-LAC) – Lima

> 26-27 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas – Bruxelas �

AGENDA Janeiro – Maio 2008

Fico feliz por esta Revista muito educativa estar de volta e estou ansiosopor ler novamente sobre os acontecimentos nos Países ACP.

<peterskwi>

Obrigado pela edição número 1 do O Correio. Depois de ler a publica-ção, acolho o novo estilo com prazer.

Michel Baudouin, Professor de agronomia na Universidade de Gembloux (Bélgica)

e perito em desenvolvimento rural

Parabéns pela vossa revista. Melhores cumprimentos,Paméla d’Authier

CiradDirecção das Relações Europeias e Internacionais

Delegação para a Europa comunitária (Montpellier - França)

Estou a escrever a partir do Fórum Europeu da Juventude (FEJ). Estamosfelizes por saber que O Correio ACP-UE voltou a ser lançado.

Angela Corbalan Coordenadora de Imprensa e Relações Externas da FEJ

(Bruxelas - Bélgica)

Deixem-me felicitar-vos pelo restabelecimento desta publicação que temsido sempre extremamente valiosa para nós no Uganda.Com agradecimentos,

Michel LejeuneVice-Director executivo

NCHE (Kampala - Uganda)

Bem-vindo de volta a revista O Correio ACP-UE é muito educativa nos paí-ses ACP-UE. Aceitem os meus parabèns por terem voltado a imprimir estarevista. Atenciosamente

Asagaya JasperIaundé Camarões

Cartas dosleitores

A vossa opinião e as vossas reacções aos nossos artigos interessam-nos. Não hesitem em no-las comunicar.

Endereço: O Correio – 45, Rue de Trèves 1040 1040 Bruxelas (Bélgica)Sítio Internet: [email protected] Correio electrónico: www.acp-eucourier.info

Venda proibidaISSN 1784-682X

C rreioO

A revista das relações e cooperação entre África-Caraíbas-Pacífico e a União Europeia

N° 4 N.E. – JANEIRO FEVEREIRO 2008

REPORTAGEM

HAITIdespontar da esperança

DOSSIER

Ilhas do Pacífico.As alterações

climáticas em foco

ÁfricaTirar mais proveito dos seus diamantes

REPORTAGEM

HAITI despontar da esperança

DOSSIER

Ilhas do Pacífico.As alterações

climáticas em foco

ÁfricaTirar mais proveito dos seus diamantes