bzo2h2 de arabidopsis thalianarepositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/reposip/317150/1/... · 2018....

111
Universidade Estadual de Campinas Instituto de Biologia Departamento de Genética e Evolução Caracterização funcional do gene Bzo2h2 de Arabidopsis thaliana: um regulador da transcrição homólogo ao locus Opaco2 de milho Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de Doutor em Genética e Biologia Molecular, área de concentração Genética Vegetal e Melhoramento. Luciane Gauer Orientador: Prof. Dr. Michel Georges Albert Vincentz Campinas – SP 2004

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  • Universidade Estadual de Campinas Instituto de Biologia

    Departamento de Genética e Evolução

    Caracterização funcional do gene Bzo2h2 de Arabidopsis thaliana: um regulador da transcrição homólogo ao locus Opaco2 de milho

    Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade

    Estadual de Campinas, para obtenção do título de Doutor

    em Genética e Biologia Molecular, área de concentração

    Genética Vegetal e Melhoramento.

    Luciane Gauer Orientador: Prof. Dr. Michel Georges Albert Vincentz

    Campinas – SP 2004

  • ii

  • Campinas, 06 de fevereiro de 2004.

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. Michel Georges Albert Vincentz Profa. Dra. Adriana Silva Hemerly Prof. Dr. Celso Eduardo Benedetti Prof. Dr. Gonçalo Amarante Guimarães Pereira Profa. Dra. Marie-Anne Van Sluys Prof. Dr. José Andrés Yunes Prof. Dr. Márcio de Castro Silva Filho

    iii

  • A ciência é algo que possuímos ou não possuímos. E se a possuímos, não podemos tirar dela somente aquilo de que gostamos. É necessário

    aceitar também o imprevisto e o perturbador. (Lewis Tomas, 1979)

    iv

  • Agradecimentos

    Ao meu orientador Michel pela paciência e excelente orientação.

    Aos doutores Marie-Anne Van Sluys, Celso Benedetti, Adriana Hemerly e Gonçalo

    Guimarães, membros da banca examinadora.

    Aos membros da pré-banca Celso Benedetti, Carlos Ramos e Marcelo Menossi

    pela critica revisão e sugestões.

    Ao Dr. Adilson leite (in memorian) pela amizade e pela fonte inesgotável de

    conhecimento.

    As meninas da secretaria, Tânia, Sandra e Fabiana por resolverem da melhor

    forma possível as tão chatas questões burocráticas.

    A Sandra Lúcia Martins pelo grande auxílio técnico e pelo cuidado com as plantas.

    A prof. Sandra Carmelo (Depto Botânica, Unicamp) pelas discussões e pelo

    acompanhamento durante as técnicas histológicas.

    Ao Laboratório de Anatomia Vegetal da Unicamp pela disponibilização de espaço

    e equipamentos.

    A J. Giraudat (Institut des Sciences Végétales, Gyf sur Yvette, França) pela

    biblioteca de cDNA de Arabidopsis thaliana.

    A V. Pautot (Laboratoire de Biologie Cellulaire, INRA-Versailles, França) pela

    contribuição com os experimentos de hibridação in situ.

    A minha família, especialmente minha avó, que mesmo de longe sempre me

    apoiou e acreditou em mim.

    As amigas e irmãs do coração, Adriana e Letícia, pelas discussões, conselhos e

    pela amizade sem limites. Obrigada por estarem sempre ao meu lado.

    Ao meu amigo Luizinho (BH) obrigada pela amizade, você teve o melhor e o pior

    de mim.

    A Natália, minha primeira “aluna de iniciação”, obrigada pela grande amizade e por

    tantas vezes ter quebrado meu galho.

    Aos amigos do laboratório Fernanda, Amanda e Roberta pela grande amizade,

    pelos divertidos momentos juntos e pela oportunidade que tive com vocês de aprender a

    ensinar.

    A minha amiga e conterrânea Cláudia, obrigada por me ensinar os primeiros

    passos da biologia molecular.

    v

  • Aos amigos do CBMEG, Sylvia, Paulo Schölgl, Dani, Mário, Eduardo, Márcio,

    Thaís, Fábio, Vicente, Jiri, Susan, ao pessoal da Genética Animal e do laboratório do

    Mano pelas trocas de idéias, “quebra-galhos” e pela amizade.

    Aos ex CBMEGuianos, Eneida, Isabel, De Lucca, Almir, Luciana e Alba pelas

    discussões, conselhos e pela amizade.

    As amigas do “sul” Janaína e Tati, que mesmo de longe sempre estiveram por

    perto.

    A Giovana, obrigada pelo apoio, pela força e pela amizade na tão difícil etapa final.

    Sei que não agüentas mais ouvir falar em “tese”.

    Ao seu Capella e a Dona Antonieta, muito obrigada pelo grande carinho.

    Aos novos amigos da Alellyx pela força na etapa final.

    A FAPESP pelo apoio financeiro.

    vi

  • Índice Lista de Abreviações ................................................................................................................ .ix Lista de Figuras e Tabela............................................................................................................x Resumo ...................................................................................................................................... xii Abstract ..................................................................................................................................... xiv 1. Introdução............................................................................................................................... 1

    1.1 Regulação da expressão gênica em eucariotos ............................................................... 1

    1.2 A família dos fatores de transcrição basic-leucine zíppers.............................................. ..4

    1.3 Genética reversa................................................................................................. ............. 7

    1.4 Diferenciação do tecido vascular.................................................................................... 11

    1.5 Objetivos......................................................................................................................... 17

    2. Material e Métodos ............................................................................................................... 18 2.1 Material vegetal e condições de crescimento .................................................................. 18

    2.2 Métodos ........................................................................................................................... 19

    2.2.1 Construções dos plasmídeos ............................................................................... 21

    2.2.2 Transformação genética de A. thaliana e obtenção das linhagens homozigotas

    para um locus do transgene.................................................................................26

    2.2.3 Extração e análise do DNA genômico .................................................................. 27

    2.2.4 Extração e análise do RNA total ........................................................................... 28

    2.2.5 Ensaio histoquímico da atividade de GUS............................................................ 29

    2.2.6 Localização in situ da atividade de GUS............................................................... 30

    2.2.7 Ensaio fluorimétrico da atividade de GUS............................................................. 30

    2.2.8 Localização in situ do mRNA Bzo2h2 ................................................................... 31

    2.2.9 Análise da anatomia do cilindro vascular .............................................................. 31

    3. Resultados ........................................................................................................................... 32 3.1 Identificação dos genes de A. thaliana homólogos ao gene O2 de milho .......................32

    3.2 Os genes de A. thaliana homólogos ao regulador O2: padrão evolutivo da família O2...33

    3.3 Caracterização genética e molecular das linhagens transgênicas de Arabidopsis..........37

    3.3.1 Obtenção das linhagens transgênicas F2 homozigotas para um locus...................37

    3.3.2 Atividade de GUS nas linhagens Bzo2h2 promotor (1,8 kb)::GUS e Bzo2h2

    promotor (0,5 kb)::GUS....................................................................................................39

    3.3.3 Nível de expressão do gene Bzo2h2 nas linhagens transgênicas de Arabidopsis..39

    vii

  • 3.3.4 Análise da integração do T-DNA .............................................................................40

    3.4 Caracterização funcional de Bzo2h2: análise do padrão de expressão do gene quimérico

    Bzo2h2 promotor::GUS .............................................................................................. ....43

    3.4.1 Padrão de expressão do gene Bzo2h2 .................................... ............................43

    3.4.2 Localização in situ da expressão de Bzo2h2 ...................................................... 46

    3.4.3 Regulação da expressão de Bzo2h2.....................................................................48

    3.5 Caracterização funcional de Bzo2h2: análise de plantas 35S::Bzo2h2, dsRNA Bzo2h2 e

    do mutante nulo bzo2h2-1.....................................................................................................55

    3.5.1 Desenvolvimento das plantas 35S::Bzo2h2, dsRNA Bzo2h2 e do mutante nulo

    bzo2h2-1.........................................................................................................................56

    3.5.2 Anatomia do cilindro vascular das plantas 35S::Bzo2h2 e do mutante nulo bzo2h2-1.62

    4. Discussão .............................................................................................................................. 64 4.1 Evolução da família O2....................................................................................................64

    4.2 Bzo2h2: um marcador da determinação/diferenciação do floema...................................66

    4.3 Bzo2h2 promotor::GUS não responde aos principais reguladores do crescimento e

    desenvolvimento....................................................................................................................68

    4.4 Ausência de fenótipo diferenciado nas plantas com expressão alterada para

    Bzo2h2...................................................................................................................................69

    4.5 Conclusões......................................................................................................................71

    4.6 Perspectivas.....................................................................................................................72

    5. Referências Bibliográficas...................................................................................................74 6. Anexo I................................................................................................................................ ....84

    viii

  • Lista de Abreviações

    ABA ácido abscísico Apt gene da adenosina fosforribosil transferase bZIP basic leucine-zipper Bzo2h2 gene Bzo2h2 (bZIP O2 homologous 2) BZO2H2 proteína BZO2H2 bzo2h2-1 alelo nulo do gene Bzo2h2 CaMV vírus do mosaico da couve flor cDNA DNA complementar CTAB brometo de alquiltrimetilamônio DAG dias após a germinação DAP dias após a polinização DNA ácido desoxirribonucléico dsRNA dupla fita de RNA EST expressed sequence tag DEPC dietil pirocarbonato EDTA ácido etilenodiaminotetracético GCN4 general control protein 4 GFP green fluorescent protein gusA gene β-glucoronidase de Escherichia coli GUS enzima β-glucoronidase de Escherichia coli Kb kilobase (s) KDa kilodaltons MES ácido 2-N-morfolino etanosulfônico mRNA RNA mensageiro MUG 4-metil-umbeliferil-β-Dglucoronídeo NaCl cloreto de sódio nptII gene da neomicina fosfotransferase II o2 mutação opaco 2 O2 gene Opaco 2 O2 proteína Opaco 2 PCR reação da polimerase em cadeia pb par(es) de base(s) polyA sítio de poliadenilação p/v peso sobre volume RNA ácido ribonucléico RNAi RNA de interferência rpm rotações por minutos RT-PCR reverse transcriptase PCR SSC .citrato de sódio SDS dodecil sulfato de sódio T-DNA DNA de transferência de Agrobacterium tumefaciens v/v volume/volume X-Gluc ácido 5-bromo, 4-cloro, 3-indol, β-D-glucorônico

    ix

  • Lista de Figuras e Tabelas Figura 1: Representação esquemática do domínio bZIP de um fator de transcrição....4 Figura 2: Padrão de diferenciação dos primeiros elementos do xilema e do floema no embrião e na plântula de Arabidopsis thaliana..............................................................14 Figura 3: Formação dos feixes vasculares por canalização.........................................15 Figura 4: Estratégia para construção do cassete de expressão 35S::Bzo2h2 e sua clonagem no vetor de transformação de plantas pCAMBIA 3300.................................22 Figura 5: Estratégia para construção do cassete de expressão Bzo2h2 dsRNA e sua clonagem no vetor de transformação de plantas pCAMBIA 2300.................................24 Figura 6: Estratégia para obtenção da fusão traducional da seqüência promotora Bzo2h2 com o gene gusA e sua clonagem no vetor de transformação de plantas pCAMBIA 2300..............................................................................................................25 Figura 7: Filogenia dos genes homólogos ao O2.............................................34 Figura 8: Esquema da estrutura dos genes da família O2...........................................35 Figura 9: Organização modular das proteínas homólogas à O2..................................35 Figura 10:. Modelo da evolução da família gênica OPACO2.......................................36 Figura 11: Genes quiméricos utilizados na abordagem de genética reversa...............38 Figura 12: Análise da expressão do gene Bzo2h2 em plantas dsRNA Bzo2h2, 35S::Bzo2h2 e no mutante nulo bzo2h2-1 de A thaliana..............................................41 Figura 13: Análise de Southern blot das linhagens transgênicas de A thaliana...........42 Figura 14: Padrão de expressão do gene quimérico Bzo2h2 promotor::GUS............44 Figura 15: Comparação do padrão de expressão do gene quimérico Bzo2h2 promotor:GUS em cotilédones de plantas contendo a fusão traducional de 0,5 Kb e 1,8 kb da seqüência promotora de Bzo2h2.........................................................................45 Figura 16: Localização in situ da atividade de GUS no floema de raízes e folhas de plantas Bzo2h2 promotor::GUS.....................................................................................47 Figura 17: Localização in situ do mRNA Bzo2h2 nos feixes vasculares de plantas selvagens de A. thaliana...............................................................................................49 Figura 18: Análise quantitativa da atividade de GUS em plantas Bzo2h2 promotor::GUS em resposta à auxina e à citocinina.....................................................51 Figura 19: Localização in situ da atividade de GUS em plantas Bzo2h2 promotor::GUS em resposta ao fitohormônio ABA................................................................................53 Figura 20: Análise da expressão do gene marcador gusA em plantas Bzo2h2 promotor::GUS em resposta ao ABA e ao NaCl...........................................................54 Figura 21: Padrão de expressão do gene quimérico Bzo2h2 promotor::GUS em resposta à ausência de luz............................................................................................55

    x

  • Figura 22: Comparação do desenvolvimento de plantas superexpressando (35S::Bzo2h2) e silenciando (dsRNA) Bzo2h2 e do mutante nulo (bzo2h2-1) em relação a plantas selvagens..........................................................................................57 Figura 23: Comparação do desenvolvimento das raízes em plantas superexpressando Bzo2h2 (35S::Bzo2h2) e do mutante nulo (bzo2h2-1) em relação a plantas selvagens......................................................................................................................58 Figura 24: Desenvolvimento do mutante bzo2h2-1 em diferentes condições de crescimento...................................................................................................................59 Figura 25: Anatomia do cilindro vascular de plantas que superexpressam Bzo2h2 (35S::Bzo2h2), do mutante nulo (bzo2h2-1) e de plantas selvagens (wt)....................63 Figura 26: Genes expressos no procâmbio durante a embriogênese de Arabidopsis....................................................................................................................67 Tabela I: Oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento e para as amplificações.................................................................................................................20 Tabela II: Número de acesso e localização de Bzo2h1, Bzo2h2, Bzo2h3 e Bzo2h4...33

    Tabela III: Número de linhagens analisadas quanto à segregação do marcador de seleção..........................................................................................................................38

    Tabela IV: Atividade de β-glucuronidase das linhagens contendo o cassete Bzo2h2 promotor::GUS..............................................................................................................39 Tabela V: Expressão de Bzo2h2 promotor::GUS nas células guarda de estômatos nas várias linhagens analisadas..........................................................................................46

    xi

  • Resumo O locus Opaco-2 codifica um fator de regulação da transcrição do tipo bZIP que

    atua no controle coordenado do metabolismo do carbono, nitrogênio e da síntese das

    prolaminas de reserva durante o desenvolvimento da semente de milho. Prováveis

    proteínas ortólogas e várias bZIPs similares a OPACO-2 foram identificadas e

    parcialmente caracterizadas em outras monocotiledôneas. A análise filogenética de um

    grupo e não redundante de bZIPs de plantas, incluindo os quatros genes de A. thaliana,

    Bzo2h1, Bzo2h2, Bzo2h3 e Bzo2h4, permitiu identificar um grupo de 20 proteínas

    homólogas à proteína O2, denominada de família O2. Bzo2h2 é um gene único que

    provavelmente representa uma função comum a monocotiledôneas e dicotiledôneas.

    Genes quiméricos a fim de promover o silenciamento gênico ou a superexpressão de

    Bzo2h2, assim como fusões traducionais da seqüência promotora desse gene com o

    gene marcador gusA foram introduzidos em A. thaliana. Um mutante nulo para Bzo2h2

    também foi obtido a partir de um banco de mutantes de inserção de T-DNA. Bzo2h2

    encontra-se expresso nos feixes vasculares, mais especificamente no floema de

    cotilédones, folhas, hipocótilo, raízes, flores e vagens. A localização in situ da presença

    do mRNA para Bzo2h2 através da técnica de hibridação in situ permitiu confirmar os

    resultados obtidos através da avaliação da atividade de GUS. Uma análise detalhada do

    padrão de expressão de Bzo2h2 ao longo do desenvolvimento revelou que a atividade de

    GUS já se encontra presente no procâmbio no estágio de maturação do embrião,

    indicando que mesmo antes de haver a diferenciação de xilema e floema, o gene Bzo2h2

    já se encontra expresso, caracterizando assim um marcador de diferenciação do floema.

    A expressão específica de Bzo2h2 no floema sugere um possível envolvimento deste

    gene em algum aspecto da diferenciação deste tecido, já que ele se encontra expresso no

    procâmbio e no ápice de raízes, regiões onde o xilema e o floema ainda não se

    diferenciaram. Entretanto, análises histológicas da anatomia do feixe vascular de plantas

    superexpressando Bzo2h2 e do mutante nulo bzo2h2-1 não revelaram diferenças na

    organização e na estrutura do tecido vascular em relação a plantas selvagens. A ausência

    de fenótipo diferencial nas plantas silenciando Bzo2h2 e no mutante nulo bzo2h2-1 pode

    xii

  • estar relacionada com o fato de que as condições testadas não permitiram evidenciar o

    processo no qual Bzo2h2 está envolvido, ou que as modificações são sutis e

    consequentemente de difícil percepção, ou ainda que algum grau de redundância

    funcional pode estar mascarando os efeitos das mutações em Bzo2h2. Juntos, os

    resultados levam à identificação de um gene que se mantém expresso ao longo de

    praticamente todos os estágios do desenvolvimento, exceto nos primeiros estágios

    embrionários, em todos os órgãos; e que parece não responder aos principais

    reguladores do crescimento e desenvolvimento, como fitohormônios, açúcares e

    estresses abióticos, como estresse osmótico, ausência de luz e baixa temperatura.

    xiii

  • Abstract

    Opaque-2 (O2) is an important regulatory locus of maize seed endosperm

    development. O2 is involved in coordinated regulation of storage protein synthesis,

    nitrogen and carbon metabolism in developing seeds. O2 homologous genes were

    identified in both monocots and dicots, but probable O2 orthologous were only described

    in monocots. Phylogenetic analysis of a possible complete and nonredundant collection of

    angiosperm bZIP factors, including the four genes of A. thaliana, Bzo2h1, Bzo2h2, Bzo2h3

    and Bzo2h4, resulted in the identification of 20 angiosperm O2 homologues that define the

    O2 gene family. Bzo2h2 is a unique gene which represents an ancestral function.

    Construction containing the cDNA in sense orientation under the control of a strong

    promoter was obtained for overexpressing Bzo2h2. Quimeric gene aimed at inducing gene

    silencing through RNA interference mechanism was also constructed. In addition, a

    construction with the promoter sequence of this gene fused to the reporter gene (gusA)

    was made, in order to define the expression pattern of Bzo2h2. Knockout mutant of

    Bzo2h2 was obtained. GUS activity analysis revealed that Bzo2h2 is expressed in

    vascular tissues of cotyledons, leaves, hypocotyl, primary and lateral roots, flowers and

    siliques. Cross sections of roots and leaves revealed that its expression is specific of the

    phloem. In situ hybridization analysis confirmed the previous results. GUS activity also

    revealed that Bzo2h2 expression is present in the procambial cells during the embryo

    maturation stage. In this stage the xylem and phloem are not differentiated yet. This

    suggests that the Bzo2h2 gene may be involved in the differentiation of this tissue. Cross

    sections of roots and leaves of overexpressing Bzo2h2 and Knockout Bzo2h2 mutant

    plants revealed that vascular tissue organization and structure was not altered when

    compared to the wild type plants. The lack of visible phenotypes in knockout mutant and

    overexpression plants could be attributed to functional redundancy or inability to detect

    weak phenotipic changes. We have identified a gene that express through the whole life

    cycle of plant, except in the early embryogenesis, in all organs and doesn’t respond to the

    growth regulators such as phytohormones, sucrose and abiotic stress (osmotic stress),

    darkness and low temperature. .........................................................................................

    xiv

  • 1. INTRODUÇÃO

    1.1 Regulação da expressão gênica em eucariotos

    O genoma de uma célula eucariótica contém, na sua seqüência de DNA, a

    informação para codificar inúmeras proteínas diferentes. O genoma de Arabidopsis

    codifica cerca de 25 mil genes (The Arabidopsis Genome Initiative, 2000) enquanto o

    genoma de arroz codifica para até 60 mil genes (Goff et al., 2002; Yu et al., 2002). O

    mecanismo que define o momento, o local e a quantidade em que uma proteína ativa será

    expressa é definido como controle da expressão gênica. A regulação da expressão gênica

    é fundamental para um grande número de fenômenos biológicos tais como a

    diferenciação e controle do ciclo celular, desenvolvimento geral do organismo e resposta

    a estímulos ambientais (Meshi e Iwabuchi, 1995).

    A regulação da expressão gênica pode ocorrer em diferentes níveis: transcrição,

    processamento e transporte do mRNA para o citoplasma, tradução, pós-tradução e

    multimerização (Derman, 1981; Darnel, 1982). Os diferentes passos desde um gene até a

    sua proteína ativa são tradicionalmente vistos como eventos independentes, com cada

    passo sendo completado antes do próximo iniciar. Recentemente tem se mostrado que

    muitos destes passos, desde o gene até a proteína ativa, são conectados, sugerindo uma

    teoria unificada da expressão gênica, onde cada estágio é uma subdivisão de um

    processo contínuo, com cada fase fisicamente e funcionalmente conectada à próxima

    (Maniatis e Reed, 2002; Orphanides e Reinberg, 2002).

    Uma revisão detalhada dos principais passos envolvidos na expressão gênica

    pode ser encontrada em Orphanides e Reinberg (2002). Inicialmente, a partir de um sinal

    percebido pela célula, fatores de transcrição ligam-se a elementos regulatórios do gene

    alvo e através de interações com outros componentes da maquinaria de transcrição,

    1

  • facilitam o recrutamento da RNA polimerase para o sítio de iniciação da transcrição. A

    transcrição de genes codificadores de proteínas é catalisada pela RNA polimerase II.

    Após a RNA polimerase II iniciar a transcrição, o RNA nascente é modificado pela adição

    de uma estrutura na extremidade 5’ denominada cap. O cap protege o novo transcrito de

    nucleases e serve como sítio de ligação para proteínas relacionadas com o seu transporte

    para o citoplasma e com a sua tradução em proteína. As seqüências não codificadoras

    (introns) são removidas por processamento. Após o término da transcrição, na

    extremidade 3’ do RNA é adicionada uma cauda poly A, que está envolvida com a

    estabilidade do mRNA. O processo pelo qual a informação é transferida do DNA para o

    RNA (transcrição) e do RNA para a proteína (tradução) são fisicamente separados nos

    eucariotos pela membrana nuclear. O transporte do mRNA para o citoplasma é mediado

    por fatores que se ligam ao mRNA e o dirigem para o citoplasma por interagirem com as

    proteínas dos poros da membrana nuclear. A tradução do mRNA ocorre nos ribossomos e

    é mecanisticamente similar à transcrição. A proteína nascente pode sofrer modificações

    pós-traducionais até chegar na sua forma ativa.

    Nas células eucarióticas, o DNA genômico está altamente complexado com

    nucleoproteínas formando a cromatina. A unidade organizacional básica da cromatina é o

    nucleossomo, que consiste de 146 pb de DNA formando quase duas voltas completas em

    torno de um núcleo de proteínas. Este núcleo de proteínas é formado por duas cópias de

    cada uma das quatro histonas: H2A, H2B, H3 e H4 (Luger et al., 1997). Essas pequenas

    proteínas carregadas positivamente são altamente conservadas entre todos os

    eucariotos. A cromatina possui um papel central na regulação da expressão gênica, haja

    visto que para ocorrer a ativação da transcrição gênica é necessário que os fatores

    responsáveis pela transcrição tenham acesso à molécula de DNA. As histonas sofrem

    modificações covalentes que resultam na reorganização da estrutura da cromatina

    permitindo o acesso da maquinaria transcricional (Kornberg, 1999). A acetilação das

    histonas foi a primeira modificação a ser correlacionada com a competência transcricional

    e é provavelmente o evento que inicia a liberação da estrutura do nucleossomo (Struhl,

    1998). Mudanças conformacionais no nucleossomo podem ainda ocorrer por

    deacetilação, metilação e fosforilação (Narlikar et al., 2002).

    O controle primário da expressão gênica ocorre em nível transcricional e é

    mediado por proteínas que se ligam a seqüências específicas de DNA (Latchaman, 1990;

    2

  • Kuhlemeier, 1992; Meshi e Iwabuchi, 1995). As seqüências de DNA envolvidas no

    controle da expressão gênica são chamadas de elementos cis. Os promotores são uma

    classe de elementos cis que se localizam a poucos pares de bases do gene que regulam,

    normalmente upstream (revisado por Blackwood e Kadonaga, 1998 e Lee e Young, 2000).

    Outra classe de seqüências de DNA envolvidas com a regulação gênica são os

    enhancers e os silencers (Lee e Yong, 2000). Estas seqüências atuam de uma maneira

    independente da sua orientação e distância do sítio de iniciação da transcrição, sendo

    sítios para a ligação de ativadores e repressores da transcrição, respectivamente

    (Blackwood e Kadonaga, 1998).

    As proteínas que se ligam às seqüências de DNA ou a outras proteínas, regulando

    a transcrição gênica, são denominados de fatores trans. Algumas destas proteínas são

    fatores gerais da transcrição, sendo necessárias para a expressão dos genes transcritos

    pela RNA polimerase II, estando presentes na maioria das células e ativos nas mais

    diversas condições. Entretanto, há fatores de regulação altamente específicos, presentes

    apenas em determinado tipo celular e/ou num determinado momento do ciclo de vida do

    organismo (Kuhlemeier, 1992).

    A transcrição em procariotos pode ser regulada por uma única proteína que se liga

    ao DNA como um homodímero. Entretanto, em eucariotos, a expressão gênica é

    normalmente regulada por um complexo multiprotéico, composto por diferentes

    polipeptídeos, que se ligam ao DNA de uma maneira seqüência específica e que

    interagem diretamente ou indiretamente com a maquinaria basal de transcrição (Tijan e

    Maniats, 1994). Este tipo de regulação transcricional é chamado de controle

    combinatorial, gerando uma complexa rede regulatória. A regulação de um único gene por

    mais de uma proteína fornece uma eficiente maneira para integrar as respostas de uma

    variedade de sinais (Wolberger, 1999).

    Baseado em similaridades entre seqüências de aminoácidos e estruturas dos

    domínios de ligação ao DNA e multimerização dos fatores de regulação de transcrição,

    estes são agrupados em diferentes classes (Pabo e Sauer, 1992). Desta forma temos: a

    classe dos Homeodomínios, a dos Zinc Fingers, a dos Basic Helix-Loop-Helix, a dos

    MADS box, a dos Helix-Turn-helix e a dos Basic-Leucine Zipper. Uma descrição

    detalhada sobre cada uma destas classes pode ser encontrada em Wingender et al.,

    (2000) (http://www.gene-regulation.com/pub/databases/transfac/cl.html). Há vários fatores

    3

  • de transcrição que são encontrados somente em plantas, como as famílias AP2/EREBP,

    NAC e WRKY, fatores responsivos à auxina (ARFs), as proteínas AUX/IAA (que não

    ligam-se ao DNA diretamente, mas interagem com proteínas ARF) e outras pequenas

    famílias. Similarmente, animais e levedura têm muitas famílias de fatores de transcrição

    que não são encontradas em plantas (revisão por Riechmann et al., 2000).

    1.2 A família dos fatores de transcrição basic-leucine zippers Os fatores de regulação da transcrição do tipo bZIP (basic leucine-zipper) são

    encontrados em todos os organismos eucariotos (Kerppola e Curran, 1991; Wingender et

    al., 2000). O domínio de ligação ao DNA destas proteínas é altamente conservado,

    normalmente possuindo de 60 a 80 resíduos, sendo constituído por dois sub-domínios: o

    zíper de leucina e uma região básica (Figura 1).

    NH2

    COOH

    Figura 1: Representação esquemática do domínio bZIP de um fator de transcrição. As

    duas α-hélices representam o domínio bZIP de um homodímero. A região em vermelho

    representa o zíper de leucinas, responsável pela dimerização e a região em azul

    representa o domínio básico, responsável pela interação com o DNA (em cinza). O

    domínio básico se encaixa no sulco maior da dupla fita de DNA.

    4

  • O zíper de leucinas é constituído por repetições de resíduos de leucina a cada

    sete aminoácidos em uma extensão de 30 a 40 resíduos, o número de repetições de

    leucina pode variar de três a nove (Pabo e Sauer, 1992; Hurst, 1995). O zíper de leucinas

    é responsável pela interação entre proteínas, promovendo homo ou heterodimerizações

    (Landschulz et al., 1988). Algumas bZIPs formam apenas homodímeros funcionais (como

    GCN4), enquanto outras são ativas apenas na forma de heterodímeros (como na família

    Fos). Diferentes combinações entre proteínas bZIP podem proporcionar diferentes níveis

    de controle de expressão gênica, uma vez que tais combinações podem alterar a

    afinidade de ligação aos sítios-alvo ou ainda, promover o reconhecimento de sítios

    distintos ou até alterar a atividade do fator (Chiu et al., 1989; Schütte et al., 1989).

    A região básica é composta por cerca de 30 aminoácidos e interage diretamente

    com o DNA (Landschultz et al., 1988; Pabo e Sauer, 1992; Izawa et al., 1993). A região

    básica de cada subunidade se encaixa dentro do sulco maior da seqüência alvo, onde

    cinco aminoácidos estabelecem ligações iônicas ou pontes de hidrogênio com as bases

    de um sítio alvo (Alber, 1992; Ellenberger et al., 1992; König e Richmond, 1993; Hurst,

    1995). O conjunto destas interações é responsável pela determinação da afinidade do

    domínio bZIP por uma seqüência alvo específica (Hurst, 1995).

    Em plantas, análises genéticas, moleculares e bioquímicas indicam que alguns

    fatores bZIP são reguladores importantes de processos fisiológicos e ontogenéticos. Entre

    esses processos, podemos citar a fotomorfogênese com a participação do fator HY5

    (Osterlund et al., 2000), o desenvolvimento dos órgãos florais com os fatores

    PERIANTHIA e LIGULELESS2 (Walsh et al., 1997; Chuang et al., 1999), a elongação e a

    morfogênese celular com os fatores RSG e RF2a (Yin et al., 1997; Fukazawa et al.,

    2000), o controle do balanço de nitrogênio e carbono durante o desenvolvimento da

    semente por O2 (Ciceri et al., 1999), os mecanismos de defesa com os fatores TGA2.2 e

    OBFs (Zhang et al., 1999; Niggeweg et al., 2000), a via de sinalização da sacarose com

    ATB2 (Rook et al., 1998), as vias de sinalização de hormônios com os fatores ABI5, ABF,

    TRAB e TGA (Choi et al., 2000; Finkelstein e Linch, 2000; Uno et al., 2000; Kang et al.,

    2002) e resposta à luz com os fatores CPRF2, CPRF4, GBF1, GBF2 e GBF3 (Schindler et

    al., 1992; Wellmer et al., 1999).

    Baseado na similaridade encontrada entre as seqüências de aminoácidos dos

    domínios bZIP de cerca de 50 fatores de transcrição de plantas foi possível verificar a

    5

  • formação de um grupo de oito proteínas de monocotiledôneas e dicotiledôneas

    relacionadas ao gene Opaco-2 (O2) de milho, que provavelmente representam uma

    família gênica (Vettore et al., 1998).

    O2, o fator mais bem caracterizado desta família, é um regulador da síntese das

    prolaminas, a principal classe de proteínas de reserva de milho que são codificadas por

    uma complexa família multigênica (revisado em Heidecker e Messing, 1986). Análises

    genéticas e moleculares indicam que, no endosperma da semente de milho, O2 parece

    ser importante para integrar o metabolismo do carbono e nitrogênio com a síntese das

    proteínas de reserva α e β-zeínas (Schmidt et al., 1992; Damerval e Le Guilloux, 1998;

    Cord Neto, 1998). Ortólogos ao O2 foram caracterizados em Coix (Coix lacryma-jobi) e

    sorgo (Sorghum), duas espécies relacionadas ao milho (Ottoboni et al., 1993; Pirovano et

    al., 1994; Vettore et al., 1998).

    A mutação recessiva o2 confere um aspecto opaco à semente de milho madura.

    Além deste caráter opaco, a semente o2 apresenta vários outros efeitos pleiotrópicos.

    Esta mutação causa um decréscimo de 50 a 70 % das zeínas, principalmente devido à

    redução de 90 % no nível das zeínas de 22 kDa, e um aumento no conteúdo de lisina e

    triptofano (Mertz et al., 1964; Delhaye e Landry, 1986; Habben et al., 1993). O aumento

    relativo no conteúdo desse dois aminoácidos é uma conseqüência da expressão reduzida

    das zeínas, que são pobres em lisina e triptofano (Schmidt, 1993) e a redução da

    atividade da enzima lisina cetoglutarato redutase/succinato desidrogenase (LKR/SDH)

    que degrada a lisina (Kemper et al., 1999). Vários outros aspectos do metabolismo da

    semente também parecem estar modificados: a atividade de RNase no endosperma

    mutante é maior do que em sementes normais (Wilson e Alexander, 1967), os conteúdos

    de várias proteínas e enzimas relacionadas ao metabolismo de aminoácidos,

    principalmente da via do aspartato, encontram-se alterados (Yunes et al., 1994; Damerval

    e Le Guilloux, 1998) e ocorre ainda, alteração na expressão dos genes envolvidos na

    biossíntese do amido (Giroux et al., 1994). Os mutantes o2 apresentam uma maior

    susceptibilidade a patógenos (Loesch et al., 1976). A baixa resistência ao ataque de

    insetos e patógenos pode estar associada, nas sementes o2, a um decréscimo

    significativo nos níveis da albumina b-32, uma proteína que tem atividade de inativação de

    ribossomos e atua como agente de defesa (Bass et al., 1992).

    6

  • 1.3 Genética reversa A. thaliana, pertencente à família Brassicaceae, é uma pequena erva originária da

    Eurásia central, sendo a primeira planta a ter seu genoma seqüenciado. O genoma de

    Arabidopsis possui 125 Mb distribuídos entre 5 cromossomos e codifica para cerca de 25

    mil genes (The Arabidopsis Genome Initiative, 2000). O fim do projeto genoma de

    Arabidopsis e o seqüenciamento de outros genomas, como o de arroz, permitirão acelerar

    o progresso do conhecimento acerca dos mecanismos genéticos que controlam o

    crescimento e o desenvolvimento vegetal. Ku et al. (2000) demostraram que apesar dos

    110 milhões de anos de evolução independente desde a divergência de Arabidopsis e

    tomate, ainda existe algum nível de conservação entre o conjunto e a ordem (sintenia)

    dos genes entre essas duas espécies. Desta maneira, o seqüenciamento do genoma de

    Arabidopsis fornece uma visão geral do conjunto de genes necessários para o ciclo de

    vida de uma angiosperma, permitindo que as informações funcionais obtidas possam ser

    transferidas para espécies menos caracterizadas (Bevan e Murphy, 1999; Bouché e

    Bouchez, 2001; Barnes, 2002; Mitchell-Olds e Clauss, 2002; Soltis e Soltis, 2003).

    A grande disponibilidade de informações sobre seqüências de genomas e ESTs

    (expressed sequence tag) nos bancos de dados torna crítica a atribuição de funções para

    os milhares de novos genes identificados. A função de um gene pode ser considerada a

    partir de diferentes pontos de vista: função bioquímica, por exemplo, uma quinase; função

    celular, por exemplo, um papel na via de transdução de um sinal; função

    desenvolvimental, por exemplo, um papel na formação de um padrão ou ainda uma

    função adaptativa, por exemplo, na contribuição do produto gênico na adaptação do

    organismo (Bouchez e Höfte, 1998). A comparação da seqüência do gene de interesse

    com bancos de dados é a maneira mais simples de se obter informações sobre a função

    de um gene, entretanto somente em nível bioquímico. Portanto, análises computacionais

    são normalmente insuficientes, sendo necessária confirmação experimental.

    O prévio paradigma da genética molecular de descobrir o gene responsável por

    uma função biológica (genética direta) está gradativamente sendo substituído por um

    paradigma da era genômica, que é descobrir a função biológica de um gene (genética

    reversa). A genética direta se baseia na utilização de métodos de seleção para identificar

    mutantes afetados no processo estudado. Inúmeros mutantes foram identificados

    utilizando essa estratégia, como os mutantes relacionados com desenvolvimento floral

    7

  • (Apetala , Agamous, Bowman et al., 1993), respostas hormonais (axr, aba, abi, ein, pin,

    revisado em Coruzzi e Zhou, 2001; Gazzarrini e McCourt, 2001; Vogler e Kuhlemeier,

    2003), fotomorfogênese (phy, cry, Pickett e Meeks-Wagner, 1995), resistência a baixas

    temperaturas (kin, ap, Tähtiharju et al., 1997; Gilmour et al., 1998) entre outros.

    Entretanto, provavelmente essa estratégia chegou a um nível de saturação onde os

    fenótipos mais óbvios já foram identificados. Métodos mais sofisticadas de seleção, como

    o uso do gene marcador da luciferase sobre o controle de um promotor que responde a

    um determinado sinal (Xiong et al., 2001) ou a procura de mutantes de reversão

    (Beaudoin et al., 2000) são abordagens alternativas para identificação de novos genes

    envolvidos no processo estudado. Finalmente, a identificação de parceiros interagindo

    com a proteína estudada também representa uma estratégia para se desvendar a rede de

    regulação na qual o gene de interesse atua (Riechmann, 2002)

    A maneira mais direta de determinar a função de um gene de seqüência conhecida

    é interrompê-lo ou gerar mutações em sua seqüência e analisar o fenótipo decorrente. As

    estratégias de genética reversa caem em duas categorias principais, dependendo se a

    mutagênese é especificamente dirigida para um locus de interesse ou se é realizada

    através de todo o genoma com subseqüente screening para a lesão molecular (Henikoff e

    Comai, 2003). Em plantas, um dos métodos para interferir com a função de um gene

    específico é através do silenciamento gênico pós-transcricional (PTGS). O PTGS é um

    sistema inato encontrado na maioria dos eucariotos, na qual uma dupla fita de RNA

    (dsRNA) é processada em pequenos pedaços de 22-25 pb que desencadeiam a

    degradação específica das moléculas de RNA homólogas (Chuang e Meyerowitz, 2000;

    Matzke et al., 2001; Vaucheret et al.; 2001; Baulcombe, 2002). Esse mecanismo, também

    chamado de RNAi (RNA de interferência), pode ser desencadeado especificamente

    contra um determinando gene através da sua superexpressão, da sua expressão na

    orientação antisenso ou ainda diretamente pela expressão de moléculas que formem um

    dupla fita de RNA em função do pareamento que ocorre devido à presença de homologia

    interna (Chuang e Meyerowitz, 2000). A eficiência do silenciamento gênico pode nem

    sempre ser satisfatória, entretanto essa estratégia tem a vantagem de produzir uma gama

    de fenótipos, o que é particularmente interessante no caso de genes essenciais (Henikoff

    e Comai, 2003).

    8

  • A genética reversa de Arabidopsis tem sido facilitada pelo estabelecimento de uma

    grande coleção de mutantes de inserção que envolve o uso de elementos transponíveis

    ou T-DNAs (http://www.arabidopsis.org/links/insertion.html; Azpiroz-Leehan e Feldmann,

    1997; Krysan et al., 1999; Parinov et al., 1999; Speulman et al., 1999; Tissier et al., 1999;

    Parinov e Sundaresan, 2000; Sussman et al., 2000). O T-DNA (DNA de transferência) é

    um segmento de um plasmídeo indutor de tumor (Ti) de Agrobacterium tumefaciens,

    sendo delimitado por curtas repetições imperfeitas nas bordas. O T-DNA, incluindo

    qualquer seqüência entre suas bordas, pode ser transferido para a célula vegetal através

    de A. tumefaciens. Essa estratégia tem sido facilitada pela bem estabelecida metodologia

    de transformação in planta de Arabidopsis (Bechtold et al., 1993) a qual não envolve os

    laboriosos processos de cultura de tecido. Devido ao fato de as regiões intergênicas

    serem escassas em Arabidopsis, a inserção de um pedaço de T-DNA geralmente produz

    uma dramática interrupção da função gênica (Krysan et al., 1999). Além disso, o número

    médio de inserções por genoma é pequeno (cerca de 1,5 por genoma diplóide) e as

    inserções são aleatórias, não havendo nenhuma preferência sítio específica aparente

    (Azpiroz-Leehan e Feldmann, 1997). Se uma grande população de linhagens

    transformadas com o T-DNA está disponível, existe uma boa chance de se encontrar uma

    planta carregando uma inserção do T-DNA dentro do gene de interesse. Mutações que

    são homozigotas letais podem ser mantidas na população na forma de plantas

    heterozigotas (Krysan et al., 1999). Além disso, diferentes alelos apresentando diferentes

    níveis de expressão podem ser obtidos pela inserção do T-DNA na seqüência promotora,

    o que pode ser particularmente interessante no caso de genes essenciais. Métodos

    baseados em PCR tem sido desenvolvidos a fim de permitir o isolamento de plantas que

    carreguem uma inserção de T-DNA no gene de interesse (McKinney et al., 1995; Krysan

    et al., 1996).

    Além da mutagênese insercional por T-DNA, têm se usado transposons e

    retrotransposons com a mesma finalidade. A mutagênse insercional utilizando

    transposons foi usada para clonar genes em Zea mays, Antirrhinum majus e Petunia

    hybrida (Ramachandram e Sundaresan, 2001). Têm se mostrado que retrotransposons

    são capazes de gerar mutações espontâneas em milho, assim também permitindo a

    caracterização de genes (Varagona et al., 1992). Além disso, é possível utilizar a

    mutagênese insercional através de transposons em sistemas heterólogos. Os elementos

    9

  • Ac/Ds (Activator/Dissociator) de milho têm sido usados em A. thaliana, arroz, tomate,

    cenoura, batata, tabaco, petúnia, etc (Ramachandram e Sundaresan, 2001). Uma

    vantagem da mutagênse insercional por T-DNA sobre a mutagênese insercional através

    de transposons é que inserções de T-DNA não se transpõem após a integração dentro do

    genoma e portanto são quimicamente e fisicamente estáveis ao longo das gerações

    (Krysan et al., 1999). Entretanto, a mobilidade dos transposons pode ser útil no caso de

    múltiplos membros de uma família gênica arranjados lado à lado ao longo do

    cromossomo. A habilidade dos transposons de se mover para regiões próximas fornece

    um conveniente método para gerar mutações dentro de todos os membros de uma família

    gênica em uma única planta (Krysan et al., 1999). Outra vantagem é a possibilidade de

    reversão do fenótipo através da excisão do transposon do sítio de inserção para

    comprovar a relação entre mutação e fenótipo (Ramachandran e Sundaresan, 2001).

    A interrupção de um gene nem sempre produz um fenótipo óbvio devido a

    diferentes fatores, como a redundância gênica ou a incapacidade de se detectar

    mudanças sutis no fenótipo da planta analisada (Pickett e Meeks-Wagner, 1995; Weigel et

    al., 2000; Bouché e Bouchez, 2001; Gu et al., 2003; Zhang, 2003). A superexpressão de

    um gene oferece uma estratégia alternativa e complementar para a análise funcional, já

    que pode ser menos afetada pela redundância funcional (Weigel et al., 2000; Nakazawa

    et al., 2003; Zhang, 2003). A superexpressão pode ser obtida pela expressão do gene de

    interesse sob o controle de um promotor forte, como o 35 S do vírus do mosaico da

    couve-flor (CaMV) ou ainda pela estratégia em nível genômico de activation tagging

    (Weigel et al., 2000; Jeon e Na, 2001; Nakazawa et al.; 2003). O princípio envolve o uso

    de promotores fortes inseridos na região proximal da borda direita do T-DNA, o que

    resulta na expressão ectópica ou superexpressão do(s) gene(s) próximo(s) ao sítio de

    integração (Ramachandran e Sundaresan, 2001; Nakazawa et al., 2003). Entretanto, a

    superexpressão de um gene pode gerar alelos neomorfos, onde o fenótipo observado é

    inespecífico, relacionado a uma função diferente que a proteína em grande quantidade

    adquire (Zhang, 2003). Ainda dentro desta estratégia em nível de análise genômica,

    genes repórteres podem ser usados para construir enhancer trap e promoters trap

    (Springer, 2000; Yamamoto et al., 2003), que permitirão a análise do padrão de expressão

    dos genes presentes próximos à extremidade 5’ do T-DNA integrado, sem

    necessariamente gerar mutações nestes genes.

    10

  • A recombinação homóloga é uma estratégia interessante de mutagênese para

    genes específicos e tem sido rotineiramente utilizada para alguns microorganismos, tais

    como Escherichia coli e levedura (Struhl et al., 1979). Esse método permite a substituição

    in vivo, de uma cópia selvagem de um gene, por um cópia modificada in vitro (Bouché e

    Bouchez, 2001). Entretanto, esta técnica tem sido inviável para plantas, no qual o sistema

    de recombinação homóloga é menos ativo (Wang et al., 2001).

    A mutagênese tradicional, através de mutagênicos químicos ou físicos, é

    geralmente útil em plantas e tem sido aplicada com sucesso na genética reversa,

    principalmente por não requerer a transformação de plantas (Henikoff e Comai, 2003). A

    maioria dos mutagênicos químicos utilizados são alquilantes ou azidas. Os mutagênicos

    químicos incluem radiação eletromagnética, tais como os raios gama, raios X, luz

    ultravioleta, etc. A maioria das metodologias de mutagenização é através de sementes,

    mas também há metodologias descritas para plantas inteiras, pólen, bulbos, etc (Kodym e

    Afza, 2003). TILLING (Targeting Induced Local Lesions in Genomes) é um método de

    genética reversa que combina mutagênese química aleatória com screening baseado em

    PCR para identificar mutações de ponto em regiões de interesse (McCallum et al., 2000).

    Em Arabidopsis essa metodologia tem sido usada em grande escala (Arabidopsis

    TILLING Project, http://tilling.fhcrc.org:9366). Cromatografia de alta resolução também é

    capaz de identificar mutações em um único par de base, otimizando a identificação de

    mutações (Osterlund e Paterson, 2002).

    Independente da estratégia utilizada, a análise da função de um gene durante o

    desenvolvimento de uma planta precisa ser realizada a partir de diferentes abordagens,

    considerando seu padrão de expressão, a interação com outros fatores, entre outros

    aspectos.

    1.4 Diferenciação do tecido vascular

    A fase vegetativa do desenvolvimento de uma planta começa com uma única

    célula, o zigoto, que originará um organismo funcional. O zigoto sofre três processos

    desenvolvimentais básicos: divisão celular, expansão celular e diferenciação celular. Em

    plantas, diferente de animais, a embriogênese não gera os tecidos e órgãos do organismo

    adulto, mas apenas estabelece um plano rudimentar do corpo, que consiste de dois

    cotilédones (no caso de dicotiledôneas) e um eixo, que inclui os tecidos meristemáticos.

    11

  • Além disso, nenhuma migração celular ocorre, em contraste com os eventos de migração

    celular que ocorrem em muitos tipos de embriões de animais (Goldberg et al., 1994). A

    maioria das estruturas que fazem parte do corpo da planta é gerada após a

    embriogênese, através da atividade dos meristemas (revisado por Clark, 1997; Berleth e

    Chatfield, 2002).

    As angiospermas podem exibir diferentes padrões de desenvolvimento

    embriogênico (Raghavan, 2000). Em crucíferas, incluindo Arabidopsis, o padrão de

    desenvolvimento durante a embriogênese tem sido extensivamente estudado (Mansfield e

    Briarty, 1991; West e Harada, 1993; Goldberg et al., 1994; Berleth e Chatfield, 2002),

    revelando a ocorrência de distintos estágios morfológicos. Inicialmente, um padrão

    preciso de divisões celulares estabelece uma esfera simetricamente radial, conhecida

    como embrião globular. Rápidas divisões celulares produzem os primórdios dos

    cotilédones, dando origem à simetria bilateral no embrião no estágio de coração. A

    elongação do eixo e um maior desenvolvimento dos cotilédones produz o embrião no

    estágio de torpedo. No final da embriogênese, no estágio de maturação, o embrião e a

    semente perdem água e tornam-se metabolicamente quiescentes.

    Sendo que o embrião em desenvolvimento consiste de uma população crescente

    de células, o destino de cada uma parece ser determinado mais por uma maneira

    posição-dependente do que pela sua origem clonal (Laux e Jürgens, 1997). O primeiro

    evento de diferenciação celular ocorre no embrião no estágio globular, onde a

    protoderme, que originará a epiderme, é produzida (Goldberg et al., 1994). Subseqüentes

    eventos de diferenciação celular resultam na formação de mais duas camadas celulares:

    o meristema fundamental, abaixo da protoderme, que originará os tecidos corticais e, na

    raiz e no hipocótilo, também produzirá a endoderme, e uma camada mais interna,

    denominada de procâmbio, que originará o cilindro vascular e na raiz, também o periciclo

    (Goldberg et al., 1994, Berleth e Chatfield, 2002). A protoderme, o meristema fundamental

    e o procâmbio são denominados de meristemas primários, que após a embriogênese

    originarão a maioria das estruturas da planta adulta.

    Em contraste à epiderme e aos tecidos fundamentais, a formação do cilindro

    vascular requer um padrão mais complexo, incluindo a especificação de dois tipos de

    tecidos com funções especializadas, o xilema e o floema (Nakajima e Benfey, 2002).

    12

  • O xilema é composto por elementos traqueais (elementos condutores),

    parênquima xilemático e fibras xilemáticas. Os elementos traqueais nas angiospermas

    são os elementos de vaso, que são células alongadas, conectadas de extremidade à

    extremidade, formando os vasos condutores (Esau, 1974). Ao longo da diferenciação dos

    elementos de vaso, ocorre deposição de parede celular seguido pela morte celular

    programada e a formação de uma placa de perfuração entre membros adjacentes de um

    mesmo vaso (Mittler e Lam, 1995; Turner e Hall, 2000). Nas gimnospermas, os elementos

    condutores são os traqueídeos, que são conectados através de pontuações (com

    delgadas paredes primárias) em suas extremidades, formando colunas contínuas (Esau,

    1974).

    O floema é composto de elementos crivados, parênquima floemático e fibras

    floemáticas. Nas angiospermas, os elementos condutores são os elementos de tubo

    crivado, que contêm poucas organelas e são ligados uns aos outros por uma placa

    crivada. As placas crivadas são paredes com poros atravessados por filamentos que

    ligam células adjacentes. Junto aos elementos de tubo crivado são encontradas as

    células companheiras, que possuem a mesma origem ontogenética que os elementos de

    tubo crivado mas, diferentes destes, possuem núcleo e demais organelas. Essas duas

    células são altamente modificadas e interconectadas por plasmodesmas, que são

    responsáveis pela comunicação entre esses dois tipos celulares. Nas gimnospermas, os

    elementos condutores são as células crivadas, onde as placas crivadas não são muito

    especializadas e não estão aglomeradas em regiões específicas da parede celular (Esau,

    1974; Ye, 2002).

    Embriões maduros de diferentes espécies variam no grau de diferenciação de

    seus tecidos vasculares, em algumas espécies não há nenhuma diferenciação e em

    outras há diferenciação em diferentes graus dos elementos do xilema ou do floema

    (revisado por Busse e Evert, 1999). No embrião maduro de Arabidopsis não há nenhuma

    diferenciação dos elementos do xilema e do floema, mas apenas o tecido precursor do

    sistema vascular, o procâmbio (Busse e Evert, 1999). A primeira indicação de formação

    de células procambiais ocorre no final do estágio globular, sendo que somente com a

    germinação da semente os elementos do xilema e floema se diferenciam (Busse e Evert,

    1999; Turner e Sieburth, 2002).

    13

  • Em A. thaliana, o padrão de diferenciação vascular das raízes e do hipocótilo exibe

    muitas similaridades (Turner e Sieburth, 2002). O primeiro sinal de diferenciação celular,

    dentro do hipocótilo, é a formação de duas fileiras de elementos do protofloema, cerca de

    dois a três dias após a germinação (Busse e Evert, 1999). As duas fileiras de células são

    localizadas em lados opostos do cilindro vascular (Figura 2), adjacentes ao periciclo.

    Embora, as células procambiais que originarão o protofloema não sejam distinguíveis por

    características morfológicas, elas podem ser identificadas a partir das suas relações com

    outros tipos celulares e a partir da localização conhecida do floema nos estágios

    posteriores do desenvolvimento (Busse e Evert, 1999). Ainda, a determinação de quais

    células são as precursoras do xilema e do floema parece depender de suas posições.

    Isso sugere que as células procambiais, em posições distintas, recebem diferentes sinais

    que especificam seus destinos (Ye, 2002). A diferenciação do xilema é observada em um

    estágio similar, mas ocorre normalmente após o início da diferenciação do floema. O

    sistema vascular é particularmente complexo nas folhas, com nervuras primárias,

    secundárias, terciárias e de ordens superiores. As nervuras se originam em diferentes

    momentos e são arranjadas em um padrão, referido como padrão de venação, que reflete

    a ontogenia e a organização estrutural da folha (Avsian-Kretchmer et al., 2002).

    procâmbio

    D C

    B A

    14

    Figura 2: Padrão de diferenciação dos primeiros elementos do xilema e do floema no embrião e naplântula de Arabidopsis thaliana. A, embrião maduro, sistema vascular é representado peloprocâmbio; B, plântula com 2,5 dias, elementos imaturos do floema são representados pelas linhastracejadas e os elementos do xilema imaturo pela linha pontilhada. A diferenciação do xilema ocorreem duas regiões separadas; C, plântula com 2,75 dias. As linhas contínuas representam elementosdo floema, as linhas pontilhadas representam elementos do xilema e D, plântulas com 3 dias. Amaioria dos elementos do xilema e do floema estão maduros. Tanto os elementos do xilema comodo floema se diferenciam acropetalmente na raiz. Retirado de Busse e Evert (1999)

  • A auxina tem sido associada em vários aspectos do desenvolvimento e

    diferenciação do tecido vascular (Aloni, 1995). A auxina é sintetizada nos primórdios

    foliares e folhas jovens e é transportada polarmente em direção à base, gerando um

    gradiente de auxina ao longo da planta (Sachs, 1981; Lomax et al., 1995). A auxina não

    somente desengatilha a diferenciação vascular per se, mas induz a formação de uma

    faixa contínua de células. A partir de experimentos de aplicação local de auxina foi

    possível verificar que a diferenciação vascular ocorre em uma estreita faixa de células,

    extremamente alongada (fileira) e que conecta o sistema vascular emergente ao sistema

    vascular preexistente. Supõe-se que a continuidade do sistema vascular esteja

    relacionada a sinais como os do transporte polar (apical-basal) de auxina (Sachs, 1989,

    1991; Mattsson et al., 1999; Sieburth, 1999), que parece ser mediado por proteínas de

    influxo e efluxo localizadas seletivamente no ápice e na base da membrana celular,

    respectivamente (Lomax et al., 1995; Estelle, 1998).

    Sachs (1981 e 1991) propõe um modelo para a diferenciação do tecido vascular,

    denominado de “canalização” (Figura 3). Este modelo propõe que o fluxo de auxina, que

    se inicia por difusão, a partir do sítio de origem, induz o transporte polar de auxina

    levando à canalização do mesmo ao longo de uma estreita fileira de células, induzindo a

    sua diferenciação em tecido vascular. Isso acontece porque as células com altas

    concentrações de auxina tornam-se especializadas para o transporte polar de auxina e

    assim drenam a auxina das células ao redor. Consequentemente, a formação de um novo

    tecido vascular é um processo autocatalítico no qual um aumento no transporte leva a um

    aumento na concentração de auxina e à diferenciação do tecido vascular, que por sua vez

    leva a um melhor transporte de auxina.

    Figura 3: Formação dos feixes vasculares por canalização. As setas indicam a direção do fluxo daauxina e a largura das mesmas é proporcional à capacidade da célula de transportar auxina. A, Amaioria das células tem capacidade similar de transporte de auxina, que ocorre por difusão; B, Ofluxo aumentado de auxina em algumas células leva a um aumento na sua capacidade detransporte de auxina e C, Especialização de algumas células para transportar auxina, essas célulasdrenam a auxina dos tecidos circundantes levando a formação de uma estreita faixa de célulasdiferenciadas. Retirado de Turner e Sieburth, 2002.

    15

  • A citocinina também é implicada com a diferenciação dos tecidos vasculares,

    provavelmente por estimular a proliferação celular das células procambiais (Sachs, 1991;

    D´Agostinho e Kieber, 1999; den Boer e Murray, 2000). Entretanto, pouco se conhece

    sobre o mecanismo pelo qual a citocinina induz a formação das células procambiais e

    junto com a auxina, leva a formação de xilema e floema (Ye, 2002).

    A transição das células precursoras geneticamente totipotentes para as células

    procambiais e sua subseqüente diferenciação em elementos vasculares maduros,

    envolve eventos do desenvolvimento cuja natureza molecular é ainda desconhecida

    (Scarpella et al., 2000). Embora a formação do xilema tenha sido bem analisada,

    principalmente utilizando como modelo o sistema de cultura de células do mesófilo de

    Zinnia, análises do desenvolvimento do floema são limitadas (Nishitani et al., 2001).

    Alguns genes envolvidos com a diferenciação do sistema vascular foram

    identificados. Athb8 (Arabidopsis thaliana homeobox), um fator de transcrição homeobox

    do tipo homeodomínio-Zip, cuja expressão é detectada no procâmbio de embriões no

    estágio de torpedo (Baima et al., 1995), quando superexpresso leva a superprodução de

    tecidos vasculares, sugerindo que Athb8 possa estar envolvido na estimulação da

    atividade das células procâmbiais (Baima et al., 2001). A análise do padrão de expressão

    do fator de transcrição Oshox 1 (Oriza sativa homeobox 1) indica que esse gene deve

    regular a especificação das células procambiais, pois ele já se encontra nas células

    iniciais do procâmbio, antes mesmo de existir qualquer diferenciação do tecido vascular

    (Scarpella et al., 2000). O mutante wol (wooden leg), que codifica para um receptor de

    citocinina, leva à diferenciação de todas as células procambiais em células do xilema

    (Scheres et al., 1995; Mähönen et al., 2000). Mutação do gene mp (monopteros), que

    codifica um fator de regulação da transcrição responsivo à auxina, interrompe a formação

    normal da continuidade dos feixes vasculares, levando a um desalinhamento das células

    do xilema (Berleth e Jürgens, 1993; Przemeck et al., 1996; Hardtke e Berleth, 1998).

    Mutação no gene PINOID, que codifica uma proteína quinase, elimina completamente a

    formação do câmbio vascular (Christensen et al., 2000). O mutante axr6 (auxin-resistant)

    e bodenlos, previamente descritos como insensíveis à auxina, são defectivos no padrão

    de venação (Hamann et al., 1999; Hobbie et al., 2000). Mutação no gene PIN (Pin-

    formed), que codifica um transportador de auxina, leva a um aumento no tamanho do

    cilindro vascular do caule (Okada et al., 1991; Gälweiler et al., 1998. O gene Vahox 1

    16

  • (vascular associated homeobox 1), que codifica para um fator de transcrição tipo HD-Zip I

    de tomate é especificamente expresso no floema durante o crescimento secundário

    (Tornero et al., 1996). O gene ZeHB3 (Zinnia elegans homeobox 3), que codifica para um

    fator do tipo HD-zip I, é expresso especificamente nas células do floema de todos os

    órgãos de plantas jovens de Z. elegans, sugerindo que o mRNA ZeHB3 não é acumulado

    no floema secundário (Nishitani et al., 2001).

    Devido ao fato dos tecidos vasculares serem relativamente inacessíveis a análise

    e da identificação dos seus tipos celulares no início do desenvolvimento ser difícil, genes

    repórteres célula e tecido específicos fornecem importantes ferramentas para análise do

    desenvolvimento dos tecidos vasculares (Turner e Sieburth, 2002).

    1.5 Objetivos: - Identificar os fatores bZIP homólogos a OPACO-2 de A. thaliana e avaliar a história

    evolutiva desta família,

    - Elucidar o papel fisiológico do fator de regulação da transcrição do tipo bZIP BZO2H2

    de Arabidopsis, que é um dos homólogos a O2.

    17

  • 2. MATERIAL E MÉTODOS

    A clonagem dos cDNAs, a análise filogenética e os programas utilizados estão

    descritos no artigo em anexo.

    2.1 Material vegetal e condições de crescimento

    Plantas de A. thaliana (ecótipo Columbia) foram crescidas em vasos contendo solo

    e vermiculita em uma proporção de 1:1, ou em meio de cultura MS (Murashige e Skoog,

    1962) modificado. Sementes de uma população segregante para um mutante de inserção

    do T-DNA para Bzo2h2 (bzo2h2-1, mutante nulo) foram cedidas pelo Syngenta Research

    Institute (no. de ac: 569C12, www.tmri.org/index.html; Sessions et al, 2002). As sementes

    foram esterilizadas em etanol 70 % por 2 minutos e em hipoclorito de sódio 1 % por 20

    minutos, seguido de três ou quatro lavagens com água destilada estéril e a seguir

    semeadas em meio de cultura. A sincronização da germinação foi feita pela quebra da

    dormência a 4°C por no mínimo quatro dias. O fotoperíodo foi de 16 h diárias de luz

    artificial (lâmpada fluorescente luz do dia e grolux, Silvania) e temperatura de 22°C.

    Meio MS modificado (MS/2): 2,1 g de sais MS (MS salt mixture, Invitrogen, EUA),

    sacarose 0,5 %, phytagel (Invitrogen) 0,23 % (p/v), tampão MES 3 mM pH 5,7. Os meios

    MS/100 e MS/1000 foram preparados a partir de diluições de 50 e 500 vezes,

    respectivamente do meio MS/2. Autoclavar por 20 minutos a 120°C. Quando necessário,

    sacarose, glicose, ABA (Sigma, EUA), citocinina (cinetina, Sigma), auxina (2,4D, Sigma),

    giberilina (GA3, Sigma), etileno (na forma do precursor 1-aminocyclopropano-1-carboxylic

    acid ou ACPC; Sigma) e metiljasmonato (Sigma) foram adicionados ao meio de cultura.

    As soluções estoques de ABA e giberilina foram preparadas em metanol a uma

    concentração de 10 mM. As soluções estoques de cinetina e 2,4D foram preparadas em

    18

  • uma solução de NaOH 0,3 M a uma concentração de 10 e 200 mM, respectivamente. A

    solução estoque de metil jasmonato foi preparada em etanol a uma concentração de 100

    mM. A solução de ACPC foi preparada em água numa concentração de 10 mM, no

    momento da utilização. Para gerar estresse osmótico e salino, foi adicionado ao meio de

    cultura manitol (5 % e 10 %) e NaCl (100-150 mM) respectivamente. O estresse ao frio foi

    induzido por incubação a 4°C por quatro dias. Para o tratamento com ausência de luz, as

    placas foram expostas à luz por três horas e então mantidas embaladas em papel

    alumínio por três dias.

    2.2 Métodos

    Procedimentos básicos foram usados para digestões enzimáticas e clonagens de

    DNA; transformação de Escherichia coli e minipreparações de plasmídios (Sambrook et

    al., 1989). As purificações de fragmentos de DNA foram realizadas em gel de agarose

    utilizando o kit QUIquick Gel Extraction (Quiagen, Alemanha) seguindo o protocolo do

    fabricante. O seqüenciamento do DNA foi realizado segundo a metodologia Dye

    Terminator (Big Dye Kit, Perkin Elmer, USA) e analisado com os programas DNASIS

    (Amersham Pharmacia Biotech, Inglaterra) e BLAST no servidor NCBI

    (www.ncbi.nlm.nih.gov). Os oligonucleotídeos utilizados para seqüenciamento são

    apresentados na Tabela I. As reações de PCR foram realizadas em um volume final de 50

    µl contendo o tampão de reação 1X (Tris HCl 10 mM pH 9,0, KCl 50 mM), MgCl2 1,5 mM,

    200 µM de cada um dos dNTPs, 0,4 µM de cada um dos oligonucleotídeos, 1 unidade de

    Taq DNA polimerase (Invitrogen) e cerca de 200 ng de DNA genômico de A. thaliana ou

    cerca de 50 ng de DNA plasmidial. As reação de amplificação foram realizadas através de

    uma etapa inicial de desnaturação a 94°C por 3 minutos, seguida de 30 ciclos de

    desnaturação a 94°C por 45 segundos, anelamento dos oligonucleotídeos (temperatura

    varia conforme o par de oligonucleotídeos) por 30 segundos e extensão a 72°C por 1

    minuto e 30 segundos e de uma última etapa de extensão a 72°C por 5 minutos.

    Todas as posições das seqüências nucleotídicas são indicadas em relação ao

    nucleotídeo “A” do códon ATG de início de tradução, o qual corresponde a posição +1.

    19

  • Tabela I: Oligonucleotídeos utilizados para o seqüenciamento e para as amplificações.

    oligonucleotídeos Seqüência (5’→ 3’) Posição UsoDIR GTA AAA CGA CGG CCA GTG CC pUC 18 Seqüenciamento REV AAC AGC TAT GAC CAT GAT TAC pUC 18 pBSK(-) Seqüenciamento T7 AAT ACG ACT CAC TAT AGG GC pGEM-T-easy Seqüenciamento

    SP6 CAT ACG ATT TAG GTG ACA CTA TAG pGEM-T-easy Seqüenciamento

    RIL3 GAA ACA AGG GTC TAG AG 83-100 do CDNA Bzo2h2 Obtenção do cDNA inteiro LG1 CTTGTGTGTTAAGCTTCAAAG - 24 a -3 do CDNA Bzo2h2 Adição do sítio Hind III para obtenção do

    cDNA inteiro LG2 CAAGCCCTCTAGACCCTTG 77-95 do CDNA Bzo2h2 Obtenção do cDNA inteiro e RT-PCR do

    gene Bzo2h2 LG3 GTTCTGAAGAATTCGAGTCATG 830-852 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio EcoR I para obtenção do

    cDNA inteiro LG4 CTTTAACCTGCAGCTTCAATCTCGTTCACG -2000 a –1970 do gene Bzo2h2 Adição do sítio Pst I para construção da

    fusão traducional Bzo2h2::gusA LG5 ACTTGGTAGAGCTCGAGACTC 432-457 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio Xho I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA LG6 TACATGTTCTCTAGAAAGAGAG 836-857 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio Xba I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA LG7 ACTTGGTGGATCCTGAGACTCAG 431-456 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio BamH I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA LG8 TACATGTTCTCGAGAAAGAGAG 836-857 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio Xho I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA LG9 CCAGACAGAGTGGGATCCCTAGGGC 774-799 do gene gusA Adição do sítio BamH I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA LG10 CTTCGGTTTGAGCTCGCGAGTG 1710-1732 do gene gusA Adição do sítio Sst I para construção do

    cassete Bzo2h2 dsRNA e RT-PCR de gusA S3GUS3 CCAGCTCGGATCCACTTCTCTCCATGGCAATGTC 22-56 do cDNA Bzo2h2 Adição do sítio BamH I para construção da

    fusão traducional Bzo2h2::gusA S3GUS5 CCAAGAATACAACTGCAGATGAGTG 563-588 do gene Bzo2h2 Adição do sítio Pst I para a construção da

    fusão traducional Bzo2h2::gusA Oligo dT 18 TTTTTTTTTTTTTTTTTT Extremidade 3’ polyC RT-PCR, síntese da primeira fita RTPCRH2 GATGTCTGAGACGCAGCTAAC 805-826 do cDNA Bzo2h2 RT-PCR do cDNA Bzo2h2

    ATPR1 TCCCAGAATCGCTAAGATTGC 24 a 45 do gene Apt1* Controle do RTPCR ATPR2 CCTTTCCCTTAAGCTCTG 484 a 502 do gene Apt1* Controle do RTPCR

    RTPCRGUS RT-PCR do cDNA gusA * gene da adenosina fosforibosil transferase, (At1g27450, AAN15689; Moffatt et al., 1994)

    20

  • 2.2.1 Construções dos plasmídeos

    a) Construção gênica para obter a superexpressão de Bzo2h2

    A obtenção do cDNA Bzo2h2 inteiro (n° de ac. AF310223) foi realizada a partir da

    extremidade 5’ de 110 pb obtida a partir de 5’ RACE clonada em pGEM-T easy (clone 5’)

    (Promega, EUA) e da extremidade 3’ de 730 pb proveniente do screening do banco de

    cDNA de semente em desenvolvimento de A. thaliana clonada em pBKS+ (clone 3’). O

    clone 5’ foi amplificado com os oligonucleotídeos RIL3 e LG1 (Tabela I) e o clone 3’ com

    os oligonucleotídeos LG2 e LG3 (Tabela I). O produto da PCR do clone 5’ digerido com

    Hind III e Xba I e o produto da PCR do clone 3’ digerido com Xba I e EcoR I foram

    purificados, ligados pelas extremidades Xba I e clonados nos sítios Hind III e EcoR I em

    pUC 18 (Stratagene) para formar o clone Bzo2h2::pUC18 (Figura 4) e então

    seqüenciados. O cDNA inteiro foi purificado como um fragmento Hind III – EcoR I e

    tratado com DNA polymerase I large (Klenow) fragment (Invitrogen) conforme

    recomendação do fabricante, a fim de obtermos extremidades cegas. Para a construção

    de Bzo2h2::pRT-Ω (Figura 4), o fragmento de 840 pb com extremidades cegas foi clonado

    em pRT- Ω (Überlacker e Werr, 1996) previamente digerido com BamH I, tratado com

    DNA polymerase I large (Klenow) fragment e desfosforilado pelo tratamento com fosfatase

    alcalina (Amersham Pharmacia Biotech), conforme recomendação do fabricante. A

    identificação dos clones positivos e a verificação da orientação do inserto foram

    realizadas pelas digestões com Pst I e Pst I - Xba I, respectivamente. O cassete

    35S::Bzo2h2 foi clonado no sítio Pst I do vetor de transformação pCAMBIA 3300

    (www.cambia.org.br) e a orientação verificada pela digestão com Xho I e Xba I.

    b) Construção gênica para obter o silenciamento gênico de Bzo2h2

    Segundo Chuang e Meyerowitz (2000), a formação de uma dupla fita de RNA

    desencadeia o silenciamento gênico do gene alvo de uma maneira muito mais eficiente do

    que simplesmente a formação de uma fita simples de RNA na orientação antisenso. Essa

    dupla fita é formada pela transcrição de um cassete que contenha um fragmento do gene

    de interesse na orientação senso e antisenso intercalados por uma seqüência

    nucleotídica qualquer. Para isso, foi construído um cassete de expressão onde um

    fragmento do cDNA Bzo2h2 (436-847 pb, n° de ac. AF310223) na orientação antisenso e

    senso são separados por uma seqüência do gene gusA (786-1809pb, n° de ac. M14641)

    21

  • Construção do cDNA inteiro

    5’

    Hind III Xba I

    clone 5‘

    Hind III Xba I EcoR I

    Bzo2h2 cDNA inteiro

    EcoR I Xba I

    Extremidade 3’clone 3’

    Digestão dos produtos de PCR

    Bzo2h2::pUC18

    35 SXba I Pst I

    poly A Ω Bzo2h2 cDNA teiro

    Pst I

    Clonagem do cDNA Bzo2h2 inteiro em pRT-Ω

    35S::Bzo2h2

    Clonagem do cassete de expressão 35S::Bzo2h2 no vetor pCAMBIA 3300

    Xho I

    polyA 35Sbar

    pCAMBIA 3300 Borda esquerda

    Figura 4: Estratégia para construção do cassete de expressão 35vetor de transformação de plantas pCAMBIA 3300. 35S: promoto

    couve-flor; Ω: seqüência 5’ não traduzida de vírus do mosaicopoliadenilação do vírus do mosaico da couve-flor; bar: gen

    fosfinotricina, LacZ: gene da β-galactosidase; pUC 18 MCS: mult

    Pst I, Sal I, Acc I, Hinc II, Xba I, BamH I, Xma I, Kpn I, Sst I, EcoR I).

    22

    in

    LacZ

    EcoR I

    Hind III pUC 18 MCS

    Borda direita

    S::Bzo2h2 e sua clonagem no

    r 35 S do vírus do mosaico da

    do tabaco; poly A: sinal de

    e bar, confere resistência à

    iple cloning site (Hind III, Sph I,

  • sob o controle do promotor 35 S do CaMV (Figura 5). Os fragmentos antisenso e senso de 411 pb do cDNA Bzo2h2 com os sítios de restrição Xho I e BamH I, Sst I e Xba I,

    respectivamente foram obtidos por amplificação a partir do cDNA Bzo2h2 com o

    oligonucleotídeos LG5 e LG6 (Tabela I). A seqüência de 1023 pb do gene gusA, utilizada

    como intercaladora entre os fragmentos de cDNA antisenso e senso, foi amplificada a

    partir do vetor pBI 121 (Clontech, EUA) com os oligonucleotídeos LG9 e LG10 que

    adicionam os sítios BamH I e Sst I, respectivamente. Cada um dos produtos de PCR foi

    clonado em pUC18 e seqüenciados. Inicialmente, o cDNA parcial antisenso digerido com

    Xho I e BamH I e o fragmento do gene gusA digerido com BamH I e Sst I foram clonados

    nos sítios Xho I e Sst I do vetor pRT100 (Überlacker e Werr, 1996). Posteriormente, o

    cDNA parcial senso digerido com Sst I e Xba I foi clonado no plasmídio H2antiseno::gusA-

    pRT100. O cassete completo Bzo2h2 dsRNA, contendo os cDNA senso e antisenso

    separados por um fragmento do gene gusA, sob o controle do promotor 35S e com um

    sinal de poliadenilação (35S::H2antisenso::gusA::H2senso::polyA), foi liberado pela

    digestão com Pst I e clonado em pCAMBIA 2300 (www.cambia.org.br). A orientação do

    cassete foi verificada pela digestão com as enzimas de restrição BamH I e Xho I.

    c) Fusão traducional da seqüência promotora Bzo2h2 ao gene marcador gusA

    A seqüência promotora do gene Bzo2h2 foi definida a partir da identificação da

    seqüência nucleotídica presente nos bancos de dados. Inicialmente, com o projeto

    genoma ainda não concluído, a seqüência disponível foi de cerca de 500 pb upstream ao

    gene. A qual foi utilizada para construir a fusão traducional com o gene marcador gusA

    (Figura 6). Entretanto, com o término do projeto genoma, foi possível verificar a presença

    de mais 1500 pb upstream ao gene Bzo2h2, sendo então utilizado cerca de 1,8 kb para

    realizar uma nova fusão traducional da seqüência promotora Bzo2h2 com o gene

    marcador gusA (Figura 6).

    A seqüência promotora de cerca de 500 pb foi amplificada com o par de

    oligonucleotídeos, S3GUS5 e S3GUS3 (Tabela I), digerida com BamH I (o sítio presente

    na extremidade 3’ foi adicionado pelo oligonucleotídeo S3GUS3 e o da extremidade 5’

    estava presente na seqüência), gerando um fragmento de 524 pb que foi clonado em pUC

    18 para seqüênciamento. A seqüência promotora de 1800 pb foi amplificada com os

    oligonucleotídeos S3GUS3 e LG4 que adicionam os sítios BamH I e Pst I

    23

  • EcoR I

    Pst I

    Hind IIIXho I

    pUC 18 MCS

    LacZpolyA 35Snpt II

    Pst I Pst I

    35S::H2antisenso::gusA::H2senso::polyA

    H2antisenso::gusA-pRT100

    Clonagem do fragmentoBzo2h2 cDNA senso nos sítiosSst I e Xba I deH2antisenso::gusA-pRT100

    polyA35 S cDNA parcialXho I

    gusABamH I Sst I Xba I

    (Bzo2h2 dsRNA)

    Clonagem do cassete de expressão Bzo2h2 dsRNA no vetor pCAMBIA 2300

    Pst I

    gusABamH I Sst I Xho I

    cDNA parcial

    BamH I Xba I Sst I

    cDNA parcial

    cDNA parcialgusA polyA cDNA parcial

    BamH I Sst I Xba IXho I

    35 S

    Produtos da PCR digeridoscom as enzimas indicadaspara a clonagem em pRT100

    Clonagem dos fragmentosBzo2h2 cDNA antisenso egusA em pRT100

    Borda esquerda Borda direitapCAMBIA 2300

    Figura 5: Estratégia para construção do cassete de expressão Bzo2h2 dsRNA e sua clonagem no vetor de transformação de plantas pCAMBIA 2300. 35S: promotor 35 S do vírus do mosaico da couve-flor; poly A: sinal de

    poliadenilação do vírus do mosaico da couve-flor; npt II: gene da neomicina fosfotransferase II, confere resistência

    à canamicina, LacZ: gene da β-galactosidase; pUC 18 MCS: multiple cloning site (Hind III, Sph I, Pst I, Sal I, Acc I,

    Hinc II, Xba I, BamH I, Xma I, Kpn I, Sst I, EcoR I). As setas indicam a orientação do cDNA.

    24

  • EcoR I BamH I Hind III

    H2 pro 2,0 Kb

    Digestão do vetor pBI 121 com Xba I e EcoR I para liberar ocassete com o gene gusA e clonagem em pUC 18

    pBI 121

    EcoR I

    35S

    Xba I BamH I

    gusA Nos ter

    BamH I BamH I

    H2 pro 0,5 Kb

    gusA::pUC 18

    gusA Nos ter

    Pst I Xba I BamH I EcoR I

    Ligação promotor EcoR I respectiva2300

    E

    -1,8 kb

    Pst I

    Produtos da PCR digeridos

    Pst I

    Hind III

    p

    LacZ

    Borda direita

    Figura 6: Estratée sua clonagem

    35 S do vírus d

    sintetase; poly A

    fosfotransferase

    multiple cloning s

    Ligação dos produtos de PCR em fase com gusA::pUC 18

    dos cassetes com o1,8 Kb e 0,5 Kb nos sítios

    e Pst I - EcoR I,mente, do vetor pCAMBIA

    coR I

    + 42 pb H2pro(1,8Kb)::gusA-pUC18

    EcoR I BamH IPst I BamH I

    H2 pro 1,8 Kb

    Hind III BamH I

    gusA

    EcoR I

    Nos ter

    gusA Nos ter H2 pro 0,5 Kb

    H2pro(0,5Kb)::gusA-pUC18 + 66 pb - 481 pb

    I

    EcoR IUC 18 MCS

    Xho IXho I poly Anpt II35S

    pCAMBIA 2300 Borda esquerda

    gia para obtenção da fusão traducional da seqüência promotora Bzo2h2 com o gene gusA

    no vetor de transformação de plantas pCAMBIA 2300 ou pCAMBIA 3300. 35S: promotor

    o mosaico da couve-flor; pro: seqüência promotora; Nos ter: terminador da nopalina

    : sinal de poliadenilação do vírus do mosaico da couve-flor; npt II gene da neomicina

    II, confere resistência à canamicina, LacZ: gene da β-galactosidase; pUC 18 MCS:

    ite (Hind III, Sph I, Pst I, Sal I, Acc I, Hinc II, Xba I, BamH I, Xma I, Kpn I, Sst I, EcoR I).

    25

  • respectivamente, gerando um produto de 2020 pb que foi clonado em pGEM-T easy

    (Promega). Ambos produtos de PCR incluem 42 nucleotídeos, ou seja, 14 aminoácidos da

    seqüência codificante do gene Bzo2h2.

    Para a construção do cassete de expressão H2 promotor::gusA, o vetor pBI 121

    (Jefferson, 1987) foi digerido com Hind III e EcoR I para promover a liberação do gene

    gusA (Figura 7). Este cassete foi subclonado nos sítios Xba I e EcoR I de pUC 18 gerando

    o plasmídeo gusA-pUC 18. As duas seqüências promotoras utilizadas, de 524 pb e de

    1800 pb, foram clonadas nos sítios BamH I e Pst I-BamH I de gusA:pUC 18,

    respectivamente, resultando nos plasmídeos H2pro(0,5 Kb)::gusA-pUC18, e

    H2pro(1,8Kb)::gusA-pUC18. A orientação da integração dos dois cassetes foi verificada

    por digestão com Pst I-EcoR I para o plasmídeo Bzo2h2pro(0,5 Kb)::gusA-pUC 18 e com

    Pst I-BamH I e Pst I-Hind III para o plasmídeo Bzo2h2pro(1,8 Kb)::gusA-pUC18. A

    manutenção da fase de leitura correta da seqüência Bzo2h2 fusionada ao gene gusA foi

    verificada por sequenciamento. O cassete Bzo2h2pro(0,5 Kb)::gusA::NOSter foi liberado

    por digestão com BamH I e EcoR I e clonado no vetor de transformação de plantas

    pCAMBIA 3300, e o cassete Bzo2h2pro(1,8 Kb)::gusA::NOSter foi liberado por digestão

    EcoR I e clonado no vetor de transformação pCAMBIA 2300. A orientação do cassete

    Bzo2h2pro(1,8 Kb)::gusA::NOSter foi verificada por digestão com Xho I – Hind III.

    2.2.2 Transformação genética de A. thaliana e obtenção das linhagens homozigotas para

    um locus do transgene

    Os vetores binários carregando os genes quiméricos descritos anteriormente

    foram introduzidos em Agrobacterium tumefaciens GV3101::pMP90 (Koncz e Schell,

    1986) para transformação de A. thaliana. O cultivo, conservação e transformação de A.

    tumefaciens foram realizados conforme descrito por Brasileiro (1998). Os clones positivos

    foram identificados através de Southern blot (Sambrook et al., 1989).

    A metodologia usada para a transformação de A. thaliana foi de transformação in

    planta descrita por Bechtold et al. (1993) modificada, na qual uma solução contendo A.

    tumefaciens carregando o vetor de interesse é borrifada sobre plantas em estágios iniciais

    do florescimento. Esse procedimento foi realizado por duas vezes com um intervalo de

    uma semana entre uma aplicação e outra. Esta metodologia apresenta uma grande

    vantagem sobre os métodos de transformação tradicionais, pelo fato de não requerer a

    regeneração de transformantes a partir de cultura de tecidos.

    26

  • Após a transformação, as sementes foram coletadas e semeadas em meio MS/2

    suplementado com 0,5 % de sacarose, contendo o respectivo marcador de seleção,

    canamicina (150 µg/ml, para pCAMBIA 2300) ou com glifosinato de amônio (3 mg/l,

    Finale, para pCAMBIA 3300). As plantas selecionadas foram transferidas para vasos

    com terra e vemiculita (1:1). As sementes F1 foram coletadas individualmente por planta,

    novamente semeadas em meio com o agente seletivo e autofecundadas para gerar

    plantas F2. A identificação das F1 homozigóticas para um locus ativo do gene quimérico foi

    feita pela análise do padrão de segregação de resistência à canamicina ou ao glifosinato

    de amônio na F2.

    2.2.3 Extração e análise do DNA genômico

    A extração de DNA das plantas F2 homozigotas para um locus do transgene foi

    realizada segundo a técnica de CTAB descrita por Doyle e Doyle (1987) com modificações. Rosetas de plantas de 3 a 4 semanas crescidas em meio MS/2

    suplementado com 0,5 % de sacarose foram coletadas e congeladas imediatamente em

    nitrogênio líquido. Cerca de 3 g de tecido foi macerado em cadinho com nitrogênio líquido

    até a obtenção de um pó fino e então transferido para um tubo contendo 5 ml de tampão

    de extração (Tris-HCl 0,1 M pH 8,0; C