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Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento / David H. Stern. [tradutor Regina Aranha, et al.]. Rio de Janeiro: bvbooks, 2021.

ISBN 978-65-86996-31-93ª edição brasileira Junho | 2021

Impressão e Acabamento Geográfica EditoraConteúdo 1. Bíblia. N.T. – Comentários I.Título.

Índices para catálogo sistemático:1. Comentários: Novo Testamento: Bíblia 225.72. Novo Testamento: Bíblia: Comentários 225.7

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

bvbooksBV Films Editora Eireli

Rua Visconde de Itaboraí, 311 Centro | Niterói | RJ | 24.030-090

55 21 2127-2600www.bvbooks.com.br

Originalmente publicado em inglês sob o título Jewish New Testament Commentary - Copyright 1992, David H. Stern - Published by Jewish New Testament Publications/Messianic Jewish Publishers - 6120 Day Long Lane, Clarksville, MD 21029, USA - www.messianicjewish.net/jntp

Todos os direitos reservados

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610/98. É expressamente proibida a reprodução deste livro, no seu todo ou em parte, por quaisquer meios, sem o devido consentimento por escrito.

Os conceitos concebidos nesta obra não, necessariamente, representam a opinião da bvbooks, selo editorial BV Films Editora Eireli. Todo o cuidado e esmero foram empregados nesta obra; no entanto, podem ocorrer falhas por alterações de software e/ou por dados contidos no original. Disponibilizamos nosso endereço eletrônico para mais informações e envio de sugestões:

[email protected].

Todos os direitos em língua portuguesa reservados à bvbooks Editora ©2021.

Editor rEsponsávEl Claudio Rodrigues

AdAptAção dE CApA Laércio Filho

projEto gráfiCo E diAgrAmAção Pedro SimastrAdutorEs

Regina Aranha Lena Aranha

Valéria Lamim Pedro Bianco

Marson Guedes Edinael Rocha Celia Clavello

rEvisorEs João Félix

Angela Nunes Paulo Pancote

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Para a glória de deus, a salvação de israel

e a edificação da comunidade messiânica

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Introdução ....................................................................................................... 11

as boas-novas de Yeshua, o messias, contadas Por

Mattityahu (Mateus) ....................................................................................... 25

Marcos ............................................................................................................ 111

Lucas ............................................................................................................... 127

Yochanan (João) ............................................................................................ 175

OS ATOS DOS EMISSÁRIOS DE YESHUA, O MESSIAS ............................................. 237

as cartas de sha’ul, emissário de Yeshua, às comunidades messiânicas

Romanos......................................................................................................... 351

1Coríntios ...................................................................................................... 467

2Coríntios ...................................................................................................... 521

Gálatas ............................................................................................................ 549

Efésios ............................................................................................................. 609

Filipenses ....................................................................................................... 627

Colossenses ................................................................................................... 637

1Tessalonicenses .......................................................................................... 651

2Tessalonicenses .......................................................................................... 663

Sumário

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as cartas individuais de sha’ul, emissário de Yeshua

1Timóteo ........................................................................................................ 669

2Timóteo ........................................................................................................ 687

Tito .................................................................................................................. 693

Filemom .......................................................................................................... 699

as cartas gerais

Judeus Messiânicos (Hebreus) ................................................................... 701

Ya‘akov (Tiago) .............................................................................................. 769

1Kefa (1Pedro) ............................................................................................... 787

2Kefa (2Pedro) ............................................................................................... 803

1Yochanan (1João) ....................................................................................... 815

2Yochanan (2João) ....................................................................................... 825

3Yochanan (3João) ....................................................................................... 827

Y’hudah (Judas) ............................................................................................ 829

A REVELAÇÃO (APOCALIPSE) DE YESHUA, O MESSIAS, A YOCHANAN.................. 833

Apêndice ........................................................................................................ 905

Sobre o autor ................................................................................................. 911

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Comentário Judaico do Novo Testamento

Prefácio para a edição em português do

Você tem em suas mãos uma ferramenta que vai revolucionar a sua per-cepção do Novo Testamento! É simplesmente umas das melhores obras de estu-do e referência bíblica sobre o Novo Testamento.

Por que o Comentário Judaico do Novo Testamento é tão incrível e fasci-nante? Pondere comigo a resposta dessa pergunta. O Senhor Jesus na sua vinda ao nosso mundo como homem foi judeu. O cristianismo nasceu do contexto do judaísmo, como a nova aliança de Deus para com os homens, mas cumprindo a velha aliança, e não abolindo-a. Os apóstolos e escritores do Novo Testamento eram judeus.

Então o que poderia ser melhor para entender o Novo Testamento do que vê-lo explicado por um judeu, que crê no Senhor Jesus como Messias e Salvador, e no Novo Testamento como a Palavra de Deus? Pois sendo judeu, e ao mesmo tempo crendo no Senhor Jesus, o autor do Comentário Judaico do Novo Testa-mento, David Stern, consegue explicar de um jeito profundo e esclarecedor as Escrituras, de uma forma empolgante. Ele explica muitas nuances do Novo Tes-tamento, extraindo pepitas de ouro do contexto judaico, que antes passariam despercebidos facilmente.

Recomendo a todos que levam a sério o estudo do Novo Testamento, que tenham uma cópia desse comentário superlativo. Será de ajuda tanto para o judeu que quer estudar e entender melhor o Novo Testamento, como para o gentio, ou não judeu. A visão do comentário é de respeitar quem somos e nossas convicções.

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10 Prefácio

Encorajo você a estudar mais uma vez o Novo Testamento, com esse ma-ravilhoso comentário ao lado, e tenho certeza que Deus vai usá-lo para dar-lhe um compreensão mais profunda da sua Palavra! Essa obra vai lhe inspirar a estudar com novos olhos as Escrituras Sagradas, e ao aplicar as verdades da Palavra na sua vida, tenho certeza que você vai ser profundamente tocado e inspirado pelo Espírito Santo de Deus!

Niterói, 01 Maio de 2021

Claudio F. RodriguesEditor e Dir. Executivo

BV Books Editora

Estude para apresentar-te aprovado a Deus, como obreiro que não tem de que

se envergonhar, dividindo corretamente a palavra da verdade.

(2Tm 2:15 BKJ1611)

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i — o que é o comentário Judaico do novo testamento?

O Comentário Judaico do Novo Testamento (CJNT) lida com “assuntos judai-cos” que confrontam leitores do Novo Testamento — questões que os judeus têm a respeito de Yeshua (Jesus), o Novo Testamento e o cristianismo; questões que os cristãos têm sobre o judaísmo e as raízes judaicas da fé; e questões que os judeus messiânicos têm sobre ser tanto judeu quanto messiânico. É um volume que acom-panha o Novo Testamento Judaico (NTJ), minha tradução do Novo Testamento do original grego para o inglês feita para extrair a essência do seu judaísmo.

Um comentário “Desperta-Consciência”. Quase todo mundo se aproxima do Novo Testamento com opiniões pré-concebidas sobre assuntos judaicos. Ge-ralmente isso acontece por não os ter examinado e, às vezes, ocorre por causa do preconceito ou do treinamento a que se foi submetido na infância. Em qualquer um dos casos, meu objetivo com o Comentário Judaico do Novo Testamento é fornecer às pessoas mais informações acerca dos assuntos judaicos do Novo Testamento e, assim, torná-las capazes de chegar a novas conclusões sobre eles.

Por essa razão eu chamo o CJNT de um comentário “desperta-consciência”. Ele apresenta informações que oferecem novas opções. Um leitor deveria ter a com-preensão de que o Novo Testamento é um livro judaico — escrito por judeus, que descreve amplamente os judeus, e escrito tanto para judeus quanto para gentios. Os judeus deveriam saber que o Novo Testamento apresenta Yeshua de Natzeret (Nazaré) como o Filho de David, o tão esperado Messias de Israel, essencial para a salvação individual e coletiva dos judeus. Os cristãos deveriam ter certeza de que são para sempre um só povo com os judeus e que o Novo Testamento não dá espa-ço para o antissemitismo de forma alguma.

Introdução

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12 Introdução

ii — o ProJeto conJunto ntJ-cJnt

Essa tarefa de desperta-consciência é desempenhada parcialmente pelo Novo Testamento Judaico e por este livro. Na verdade, minha ideia original, de 1977, era apenas escrever um comentário sobre o Novo Testamento que lidasse com assuntos judaicos. Mas depois de rascunhar umas poucas notas para alguns capítulos do livro de Atos, percebi que muito do que eu estava escrevendo consis-tia em objeções à versão em inglês que estavam usando: “A tradução diz ‘X’, mas no original grego significa ‘Y’”. Em vez de desperdiçar o tempo do leitor buscando terceiros (tradutores), decidi tentar traduzir o texto grego e descobri que gostei do resultado. Assim, o Novo Testamento Judaico nasceu — como um pensamento tardio. A partir daí, ancorei meus comentários no NTJ e ignorei o que considerava abordagens equivocadas de outras versões, distintas daquilo que o Novo Testa-mento de fato diz (ou seja, a partir daquilo que eu entendia que ele dizia).

Eu desejava publicar tanto a tradução quanto um comentário num único volume, não apenas porque eles se complementam, mas porque eu acreditava que algumas das abordagens mais controversas no NTJ necessitavam das minhas no-tas no CJNT para defendê-las. Infelizmente, devido ao meu ritmo de vida não foi possível terminar esse projeto rapidamente. Quando a tradução estava pratica-mente pronta — e eu ainda estava trabalhando no comentário —, um amigo disse: “Publique apenas o Novo Testamento Judaico. Tanto os judeus quanto os cristãos precisam ver que o Novo Testamento é um livro judaico. Não se preocupe em de-fendê-lo — a Palavra de Deus subsiste por si só. Posteriormente seu comentário vai servir para seu propósito.” Ele me convenceu. Então publiquei a primeira edição do NTJ em 1989; houve três edições posteriores.

Enquanto o NTJ foi recebido com muita alegria pela maioria dos judeus messiâ nicos e por muitos cristãos, alguns judeus não-messiânicos e uma grande quantidade de comentaristas foram, é claro, críticos. Sempre que lia um comen-tário negativo que eu considerava injusto, sentia-me frustrado pelo fato de que o comentário não estava lá para fornecer uma defesa. Agora está, e espero que estimule uma discussão inteligente sobre os assuntos judaicos que cercam o Novo Testamento.

O Novo Testamento Judaico. Como o CJNT é baseado no NTJ, algumas pala-vras sobre ele se tornam necessárias. O NTJ expressa o judaísmo essencial do Novo Testamento de três maneiras, que chamo de cosmética (ou superficial) religioso--cultural e teológica.

•Elementos cosméticos — como utilizar “estaca de execução” em vez de “cruz”, “Ya‘akov” em vez de “Tiago” e, é claro, “Yeshua, o Messias” em vez de “Je-sus Cristo” — são óbvios; e sua frequência tem um efeito coletivo.

•Elementos religioso-culturais inserem o evangelho mais seguramente em seu ambiente judaico; o uso da palavra "tzitzit” em vez de “orla” em Mattityahu (Ma-teus) 9:20 para descrever o que a mulher com a hemorragia tocou, e “Chanucá” em vez de “festa da dedicação” em Yochanan [João] 10:22, são dois exemplos meus.

•Elementos teológicos incluem traduzir judeus messiânicos [Hebreus] 8:6 para mostrar que a Nova Aliança não foi meramente “estabelecida”, mas “dada como Torá”, e como diz Romanos 10:4, “(...) o fim da Torá é o Messias”, e não “o fim da lei é Cristo”.

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13Introdução

Para a uma discussão mais ampla do que a do caráter do NTJ, veja a Seção V a seguir.

Comentários judaico-messiânicos do Novo Testamento. O CJNT é, até onde eu saiba, apenas o segundo comentário a respeito do Novo Testamento escrito por um judeu messiânico. O primeiro foi escrito por Jehiel Zvi Lichtenstein (1827-1912), cujo Comentário do Novo Testamento, escrito em hebraico, foi publicado em assentamentos pelo Institutum Delitzschianum, em Leipzig, Alemanha, entre 1891 e 1904, com o texto em blocos na tradicional impressão hebraica e os co-mentários em Rashi (citei partes dele em minhas próprias notas sobre as Epístolas Gerais e a primeira parte de Apocalipse). Ele seguiu os passos de Joiachim Heinrich Biesenthal (1800-1886), que escreveu comentários sobre os Evangelhos, Romanos, Hebreus, Salmos e Isaías. Neste século, Victor Buksbazen, Charles Lee Feinberg, Moshe Immanuel Ben-Maeir, Louis Goldberg e Arnold Fruchtenbaum estão entre os crentes judeus que produziram comentários sobre um ou mais livros da Bíblia. A organização “Netivyah”, em Jerusalém, sob a direção de Joseph Shulam, está preparando um comentário hebraico sobre o Novo Testamento que, como este, se baseia em fonte judaicas e tenta recuperar a compreensão judaica; o primeiro produto desse esforço será um comentário substancial sobre Romanos. Ainda há necessidade de se escrever mais comentários judaico-messiânicos sobre todos os livros da Bíblia, tanto do Tanakh (Antigo Testamento) quanto do Novo Testamento.

A Bíblia judaica completa. Produzi o Novo Testamento Judaico para mostrar quão judaico é o Novo Testamento. Nunca desejei traduzir o Tanakh do hebraico para o inglês porque ninguém questiona seu judaísmo. Além disso, em resposta a uma demanda clara, estou preparando a Bíblia judaica completa, que consiste no Novo Testamento Judaico reunido com uma tradução existente adaptada estilisti-camente do Tanakh. Os leitores terão toda a Bíblia num único volume, com o NTJ como sua porção Novo Testamento.

iii — que tiPos de comentários estão no cJnt?

O CJNT aborda diversos temas, alguns mais familiares, outros menos, para atingir seus propósitos. Entre eles estão:

Notas históricas explicando a situação do escritor, dos leitores originais e dos assuntos da passagem, com o foco na cultura judaica em particular.

Notas linguísticas explicando pontos da gramática grega ou o significado das palavras gregas, esclarecendo frequentemente pontos similares da linguagem, da gramática ou da forma de pensamento hebraicos que sublinham o texto grego.

Notas exegéticas explicando o que a passagem quer dizer. Às vezes, elas ocorrem porque o texto não está claro para o leitor que não conhece o contexto original. Mas frequentemente as escrevo porque o texto geralmente é mal compre-endido pelos cristãos, pelos judeus ou por ambos; neste caso, preciso demonstrar que a falta de compreensão tradicional está equivocada, como também explicar por que minha tradução e/ou interpretação está correta.

Notas ressaltando a maneira de pensar dos escritores judeus. Como os escritores do Novo Testamento eram todos judeus (acredita-se que Lucas tenha

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14 Introdução

sido um prosélito do judaísmo), frequentemente ressalto seus padrões rabínicos de discussão e argumento.

Paralelismos na literatura judaica. Menciono paralelos do Novo Testamento a partir de fontes judaicas antigas, medievais e modernas, incluindo as seguintes:

•Os apócrifos. Uma coleção de 15 livros judaicos escritos do século III ao sé-culo I antes da E.C.. Eles foram excluídos do Tanakh, embora os católicos romanos os incluam no cânon bíblico. Entre eles estão Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Siraque (Eclesiástico), Baruque, Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus. Todas as edições em inglês católicas e algumas protestantes incluem os apócrifos. Também existe uma edição crítica de R. H. Charles.

•Os pseudepígrafes. Mais de sessenta livros escritos entre o século III antes da E.C. e o século I depois da E.C. normalmente atribuídos a figura do Tanakh por seus autores reais. A maioria o elaborou em cima de temas do Tanakh ou é apoca-líptico em seu caráter (veja minha nota sobre Revelação 1:1). Existe em uma antiga edição em inglês de R. H. Charles e em uma outra mais recente e completa, editada por James H. Charlesworth.

•O Talmud. A parte 1 é o Mishna, uma apresentação em tópicos da Torá judaica Oral com discussões rabínicas; foi compilado por volta de 220 da E.C. por Y’hudah HaNasi (Judá, o Príncipe) e consiste em seis seções divididas em 63 trata-dos. Hillel, Shammai, Gamli’el e Akiva estão entre os rabinos mais bem conhecidos cujas contribuições foram incluídas.

A parte II é o Gemara, que consiste em um amplo comentário sobre os tra-tados do Mishna, feitos por rabinos que viveram entre os séculos III e V da E.C.. O Talmud de Jerusalém, com Gemara feito por rabinos principalmente da terra de Israel, é mais antigo, menor e menos conhecido do que o Talmud babilônico, com seu Gemara escrito por rabinos da diáspora que viviam na Babilônia ou perto dela.

O Mishna de Blackman é uma edição nas línguas hebraica e inglesa. A edição em inglês, de Soncino, do Talmud é bem conhecida. A edição em hebraico de Adin Steinsaltz está sendo publicada, em inglês, volume a volume.

•O Halakhic Midrashim. O primeiro termo significa “relacionado à lei” e o segundo “discussões, homilias, alegorias”. Essas combinações do século IV da E.C. contêm um material muito mais antigo e reúnem Mekhilta (Êxodo), Sifra (Levítico) e Sifre (Números e Deuteronômio). O Mekhlita foi publicado em inglês pela Jewish Publication Society e o Sifre sobre Deuteronômio pela Universidade de Yale.

•O Midrash Rabbah. A edição final foi feita entre os séculos VI e X, mas a maioria do material é muito mais antiga. Inclui o midrashim relacionado ao Penta-teuco e os Cinco Rolos. Soncino publicou uma edição em inglês.

Entre as fontes medievais que menciono estão Rashi (Rabino Shlomo Yit-zchaki, 1040-1105), o mais famoso comentarista judeu da Bíblia e do Talmud, e o Rambam (Rabino Moshe Ben-Maimon, também conhecido como Maimonides, 1135-1204).

Existem conexões históricas e conceituais entre o que os rabinos escre-veram e quase toda a linha do Novo Testamento. No entanto, evitei o exagero rabínico no CJNT — uma vez que não há necessidade de duplicar o que Hermann Strack e Paul Billerbeck fizeram exaustivamente em seu livro de seis volumes Kommentär Zum Neuen Testament Aus Talmud Und Midrasch (Munique: C. H. Beck’sche Verlagsbuchhandlung, 1926, reimpresso em 1978), embora nem todas as suas referências sejam igualmente relevantes. O meu propósito com as notas feitas a partir de escritos judaicos não é provar que o Novo Testamento copiou o

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15Introdução

judaísmo rabínico nem o contrário, mas simplesmente apresentar uma amostra dos muitos paralelos; veja minha nota em Mattityahu [Mt] 6:7.

Assuntos judaicos modernos. Na tradição ocidental, um comentário acadê-mico não discute assuntos modernos que não têm relação direta evidente com o texto bíblico. Em contraste, eu os investigo — primeiro, porque os comentaristas judeus tendem a fazer exatamente isso, uma vez que veem a vida como um todo; e, segundo, porque a visão das pessoas sobre assuntos modernos éticos, políticos, sociais e psicológicos podem apresentar sintomas de objeções a aspectos do Novo Testamento.

Por exemplo, escrevi uma nota sobre quando, como e para quem o evange-lho deveria ser proclamado — com referência específica ao evangelismo do povo judeu — em 1 Kefa [1 Pedro] 3:15-16 (“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa cons-ciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo”). Em 1 Coríntios 4:1-2 (“Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e des-penseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel”) existe uma nota relacionada sobre se o evangelismo judaico é uma tarefa inerentemente vã; muitos judeus e cristãos já concluíram que sim; minha nota, como você pode imaginar, defende o evangelismo de judeus. De igual modo, discussões sobre o casamento entre judeus e gentios e a assimilação da cultura gentia por judeus estão ancorados a versículos apropriados.

Outros assuntos judaicos despontam nas questões cristãs. Muitos cristãos pensam que a Igreja substituiu os judeus como o povo de Deus e que a terra de Israel não é mais prometida a eles. Não são poucos versículos que oferecem opor-tunidade de se corrigir essa visão equivocada, como também de demonstrar que o Novo Testamento não dá base para qualquer forma de antissemitismo e certamen-te não é, ele próprio, antissemita.

Assuntos teológicos despontando do diálogo judeu-cristão. O melhor exemplo é a nota de Romanos 5:12-21, em que abro caminho para uma discus-são teológica sobre o “pecado original”, uma noção que, compreendida da forma que é pela maioria das pessoas, é inaceitável para não-judeus messiânicos, e parece peculiar para um número significativo de cristãos. Meu objetivo é dar sentido a um conceito deslocado e mostrar como ele pode ser útil.

Em diversos lugares lanço perguntas como “Yeshua é Deus?” e “Deus é uma Trindade?” Com essas duas perguntas tento perpassar as respostas automáticas de “Com certeza” (cristãos) e “Claro que não” (judeus) para discutir o âmago do assunto — respostas positivas e negativas podem surgir de seus contextos tanto de cristãos quanto de judeus e podem admitir formulações menos antagônicas sem comprometer as informações das Escrituras.

Elementos devocionais. Este não é um comentário devocional, mas me sinto com liberdade para introduzir um material devocional parcial para dar uma dimen-são adicional ao comentário e para fortalecer o conteúdo espiritual.

Elementos homiléticos. Do mesmo modo, assim como este comentário não é uma coleção de sermões nem um guia para que pregadores os escrevam, penso que seu interesse e sua utilidade aumentam por conter material desse tipo.

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16 Introdução

Advocacia e apologética. Muito do comentário tem como objetivo promul-gar uma abordagem judaico-messiânica das Escrituras e defendê-la, às vezes con-tra pontos de vista não-judaico-messiânicos, às vezes contra várias posições ideo-lógicas cristãs, e outras vezes ainda contra atitudes seculares.

Deus existe. Yeshua é o Messias de Israel. A Bíblia é a Palavra de Deus para a humanidade. A morte de Yeshua foi necessária para a salvação de todos. A Igreja não substituiu os judeus como o povo de Deus. Essas são as afirmações que podem ser defendidas neste comentário, e não hesito em assim fazer. Não me obriguei a assumir uma postura neutra acerca de todos os assuntos, embora faça assim com alguns — especialmente aqueles em que não percebo um relacionamento direto com questões judaicas.

Desafios e exortações. Às vezes, assumindo o papel de pregador, vou além da advocacia e da apologética para desafiar e incentivar o leitor a executar ações responsivas.

Anedotas e ilustrações pessoais. Às vezes introduzo anedotas e informa-ções pessoais que seriam inadequadas num comentário mais formal.

Ajudas bíblicas. Existem no mercado muitas bíblias de estudo, dicionários bíblicos e enciclopédias bíblicas, introduções à Bíblia e muitos outros tipos de aju-das bíblicas. Elas explicam como a Bíblia e seus livros, individualmente, são organi-zados, por quem e para quem foram escritos e o contexto histórico geral, além de detalhes necessários para a compreensão de que o leitor moderno possa necessi-tar. A introdução ao NTJ inclui alguns elementos desse tipo; mas, em sua maioria, o CJNT não duplica o que essas obras fazem; embora exija para si esse tipo de tarefa em relação a assuntos judaicos. Por exemplo, não esmiúço todos os livros do Novo Testamento, mas faço isso em Romanos, porque conhecer sua estrutura é impor-tante para compreender o judaísmo de sua mensagem.

Redundância para conveniência e para educação. Construí uma quantidade considerável de redundâncias no CJNT. Um leitor com a paciência de ler todo o texto pode ficar incomodado ao ver o quão frequentemente eu me repito. A maio-ria dessas repetições ocorre intencionalmente, com o objetivo de servir ao leitor mais usual, que procura uma passagem e não sabe que posso ter feito o mesmo comentário em outro lugar. Eu poderia eliminar a redundância criando referências a outras notas, e fiz isso muitas vezes. Ainda assim, deixei algumas repetições, de certa forma para evitar que o leitor tenha que ficar pulando de uma parte do livro para a outra o tempo todo e parcialmente para enfatizar ideias que espero que o leitor assimile.

Algumas coisas foram deixadas de fora. Não tento explicar tudo. Por exem-plo, em Gálatas 3:4 ressalto que “outras interpretações são possíveis”, mas não digo quais são. O leitor interessado deve consultar um comentário crítico.

Além disso, você provavelmente será capaz de identificar tópicos não men-cionados que acha que deveriam ser abordados. Se percebermos que volumes deste tamanho e maiores foram escritos a partir de um único versículo do Novo Testa-mento e até mesmo de uma única palavra, fica claro que muito do que deveria ter sido dito não foi. Por exemplo, escrevi muito pouco sobre assuntos textuais. Geralmente, aceito o texto crítico da Sociedade Bíblica Unida; mas, além das pou-cas observações na introdução e nas notas de rodapé do NTJ e no livro em si, a

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17Introdução

“crítica inferior” (a análise de problemas textuais com foco em determinar que versão de um texto é autêntica) é raramente o que o CJNT faz. Algumas pessoas perceberão assuntos judaicos que deixei de fora ou com que lidei de modo que considerarão incompleto ou insatisfatório. Algumas questões que têm ramifica-ções judaicas abordei rapidamente, muito embora outros tenham escrito sobre elas profundamente — por exemplo, sobre em que dia da semana Yeshua foi executado, ou ainda, se a comunhão deveria ser oferecida diariamente, semanalmente, mensal-mente, anualmente ou quando se desejar. Sou apenas uma pessoa e este é apenas um livro. Espero que outras pessoas preencham minhas lacunas e explorem o novo território.

Corrigindo erros do NTJ. O CJNT aponta erros nas edições anteriores do NTJ (além de problemas de impressão) e os corrige na nota apropriada. Veja tam-bém o parágrafo 7 da Seção V a seguir.

iv — o cJnt e o Judaísmo messiânico

Judaísmo messiânico: 100% judeu e 100% messiânico. O judaísmo messi-ânico define seu alvo como sendo 100% judeu e 100% fiel à Bíblia (que consiste no Tanakh mais o Novo Testamento). Ele se recusa a se adequar a categorias de outras pessoas.

A principal objeção do cristianismo: “você está reconstruindo a ‘parede de separação, que estava no meio.” O maior problema dos cristãos com o judaís-mo messiânico é expresso frequentemente por essas palavras: “Você está recons-truindo a ‘parede divisória’, que o Messias derrubou (Efésios 2:11-16). Sua ênfase no judaísmo vai desgastar a unidade dos judeus e dos gentios na Comunidade Messiânica (a Igreja)”. Nego que estamos fazendo tal coisa. Muitas das notas no CJNT são voltadas a refutar essa impressão equivocada dos objetivos do judaísmo messiânico.

A principal objeção do judaísmo: “você não pode ser judeu e acreditar em Jesus.” O problema judaico mais comum com o judaísmo messiânico pode ser es-tabelecido da seguinte forma: “Você está tentando o impossível — não pode aceitar Yeshua como o Messias e ainda assim ser judeu.” A objeção assume algo que exige prova, uma vez que o CJNT mostra que a verdade é o oposto: não apenas Yeshua e seus seguidores eram todos judeus, mas ao longo dos últimos 2.000 anos existiram judeus que tiveram Yeshua como Messias, Salvador e Senhor, ao mesmo tempo em que permaneceram leais ao povo judeu como eles permitiram.

O desafio: criar um judaísmo messiânico viável. Todavia, a tarefa de criar um judaísmo messiânico viável que se relacione seriamente com a história e a evolução tanto do judaísmo quanto do cristianismo durante os últimos vinte sé-culos ainda não foi realizada. Escrevi dois livros que lidam com esse objetivo sistematicamente (algo que o CJNT não pode fazer, devido a seu formato versí-culo-a-versículo). Meu livro [Manifesto judeu messiânico] tem como objetivo aju-dar judeus messiânicos a organizar pensamentos e ações enquanto perseguem os empolgantes desafios que enfrenta o movimento do judaísmo messiânico. Um resumo intitulado Restoring the Jewishness of the Gospel: A Message for Christians [Restaurando o judaísmo do Evangelho: uma mensagem para cristãos] é dirigido aos cristãos que não têm conhecimento do judaísmo do Evangelho. Espero, um

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18 Introdução

dia, completar a trilogia com um livro que explique o judaísmo messiânico a ju-deus não-messiânicos.

v — extraindo o máximo do cJnt

Use o NTJ. Como o Comentário Judaico do Novo Testamento é um volume que acompanha o Novo Testamento Judaico, uma de suas funções é explicar a dis-tância do NTJ das abordagens mais usuais. O CJNT pode ser lido com outras ver-sões, mas o fluxo de interação entre o texto e o comentário estará necessariamente ligado, uma vez que o comentário considera as abordagens do NTJ como algo já in-formado e frequentemente explica por que outras abordagens estão erradas. Além do mais, as notas de rodapé fornecem referências a todos os 695 versículos do Tanakh mencionados no Novo Testamento, e seu glossário dispõe de equivalentes para mais de 400 nomes e termos em hebraico encontrados no NTJ; o CJNT supõe que o leitor tem essa informação e raramente a duplica. Assim, para aproveitar o máximo de seu CJNT, use o NTJ.

Leia a Introdução do CJNT. Essa é uma parte essencial da Introdução ao CJNT. Não repito aqui o que escrevi lá. No entanto, para estimular o interesse e refrescar memórias, enumero suas oito sessões com um conteúdo brevemente ano-tado. O leitor pode ver que ele discute uma grande quantidade de assuntos gerais que são inseparáveis do tema essencial do CJNT.

1. Por que o Novo Testamento Judaico? O NTJ é necessário para mostrar aos judeus e aos cristãos que o Novo Testamento é um livro judaico, para combater o antissemitismo cristão, para lidar com a má interpretação judaica do Evangelho e para ajudar a pensar sobre a maior divisão da história: a separação entre a comu-nidade judaica e a Igreja.

2. A Bíblia. Sua mensagem central é que o homem, individual e associada-mente, pecou e necessita de salvação; e que Deus graciosamente forneceu essa salvação por intermédio de Yeshua, o Messias, para aqueles que confiam nele e o obedecem. O Tanakh (Antigo Testamento) e o Novo Testamento são indepen-dentes: dois testamentos, uma Bíblia — dada ao povo de Deus, Israel, os judeus, a quem os gentios são acrescentados sem se converter ao judaísmo quando confiam no Deus de Israel e em seu Messias.

3. O Novo Testamento. Ele contém os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as 13 epístolas de Sha’ul (Paulo), as 8 epístolas gerais e o livro de Revelação; existem parágrafos em cada uma dessas cinco divisões. Há discussões sobre a linguagem, a datação e o cânon do Novo Testamento, e sobre a opinião da tradição e do meio acadêmico.

4. Como o Novo Testamento Judaico expressa o judaísmo do Novo Tes-tamento. De três modos, como explicado acima (cosmeticamente, culturalmente/religiosamente e ideologicamente); utilizando, também, o “português judaico”, de-finindo expressões em hebraico e iídiche, para que judeus que falam português possam incorporá-las em seu discurso diário.

5. Assuntos relativos à tradução. Dois assuntos principais: (1) traduções “literais” contra “dinâmicas” (conhecidas por alguns pelo termo negativista de “pa-ráfrases”), e (2) a que ponto a interpretação pessoal do tradutor afeta sua tradução (meu ponto de vista é que ele o traduz de qualquer modo, logo o tradutor deveria admitir isso; não apenas isso, mas onde existe mais de um significado possível não deveria traduzir de modo ambíguo, e sim escolher o melhor significado e expres-

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19Introdução

sá-lo bem). O texto grego utilizado para o NTJ é o texto crítico da Sociedade Bíblica Unida, edição de 1975, que é o mesmo de Nestle-Aland.

6. Razões para certas abordagens. Aqui dou um panorama antecipado do que pretendo fazer no CJNT. Escolhi sete passagens e expliquei por que as tradu-zi e como as traduzi. Três exemplos: Yeshua “completou” ou “cumpriu” a Torá? (Mattityahu [Mt] 5:17). Será que “ligar e desligar” (Mattityahu 18:18) se refere ao controle de demônios ou a determinar a Halachá (lei, prática comum) messiânica? As frases de Sha’ul sobre “obras da lei” e “debaixo da lei” se referem à Torá ou ao legalismo? Escrevi um parágrafo sobre cada questão; no CJNT respondi de forma mais extensiva.

7. Profecias do Tanakh cumpridas por Yeshua, o Messias. Uma lista com 54 profecias do Tanakh sobre a primeira vinda do Messias com passagens do Novo Testamento mostrando como Yeshua as cumpriu. Dos cerca de 50 falsos messias conhecidos na história judaica, nenhum cumpriu mais do que algumas; ele cum-priu todas. Infelizmente, a lista contém erros nas três primeiras edições em inglês com capa de papel e na primeira edição com capa dura; por favor, faça as correções como se segue:

PÁGINA PROFECIA AGORA SE LÊ DEVERIA LER-SE

xxvi 1ª “marca” o “calcanhar” da serpente

“marca” ou “esmaga” a “cabeça” da serpente.

2ª 18:18, 22:18 [apagar]

6ª 11:23 13:23

7ª 5:11 1:18

xxviii 8ª 7:48 [apagar]

18ª Mattityahu 27:31, 39-44, 67-68

Mattityahu 26:67-68; 27:31, 39-44

xxix 1ª 20:25 20:35

4ª 24:31(20) 34:21(20)

6ª Mattityahu 2:1; Lucas 3:1, 23

Romanos 5:6, 1Kefa 3:18

8. Utilizando o Novo Testamento Judaico. O texto do NTJ tem citações do Tanakh em negrito, com livro, capítulo e versículo em notas de rodapé no final de cada coluna. Um índice com as 695 citações do Tanakh encontra-se no final. Dois mapas mostram Eretz-Israel (a Terra de Israel) na época de Yeshua, e o Me-diterrâneo Oriental e o Oriente Próximo na época do Segundo Templo; Há uma chave para lugares-nomes. Glossários com tradução para o português de nomes e termos em hebraico e aramaico; um “glossário invertido” fornece equivalentes em hebraico e aramaico dos tradicionais nomes e palavras em português.

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20 Introdução

vi — convenções usadas no cJnt

Abreviações gerais. Abreviações padrões incluem “v.” e “vv.” (“versículo” e “versículos”), “s.” e “ss.” (“e o(s) seguinte(s) versículo/versículos’’) e “ad loc.” (do la-tim ad locum, “no lugar” em que a mesma passagem é discutida). O Novo Testamen-to Judaico é abreviado “NTJ” e a versão King James da Bíblia, também conhecida como Versão Autorizada, frequentemente é referida como “KJV”. Outras versões não são abreviadas. As abreviações “E.C.” e “a.E.C.” significam “Era Comum” (d.C.) e “Antes da Era Comum” (a.C.); sobre essas convenções veja nota em Mattityahu [Mateus] 2:1.

Nomes e abreviações de livros do Novo Testamento. Alguns dos nomes de livros do Novo Testamento utilizados no NTJ e no CJNT são os nomes hebraicos, listados na tabela a seguir com seus equivalentes mais usuais em português. Esses nomes são escritos em sua totalidade no início de uma frase ou quando é feita referência a um capítulo inteiro (sem referências a versículos). Quando existe uma referência a versículo, são utilizadas as seguintes abreviações:

At Atos dos Emissários (Atos dos Apóstolos)1Co 1Coríntios2Co 2CoríntiosCl ColossensesEf EfésiosGl Gálatas1Ke 1Kefa (1Pedro)2Ke 2Kefa (2Pedro)Lc LucasJM Judeus Messiânicos (Hebreus)Mc MarcosMt Mattityahu (Mateus)Fm FilemonFp FilipensesRm RomanosRv Revelação1Ts 1Tessalonicenses2Ts 2TessalonicensesTt Tito1Tm 1Timóteo2Tm 2TimóteoYa Ya’akov (Tiago)Yd Y’hudah (Judas)Yn Yochanan (João)1Yn 1Yochanan (1João)2Yn 2Yochanan (2João)3Yn 3Yochanan (3João)

Exemplos:Veja 1Co 15:3 Veja 1Coríntios, Capítulo 15, versículo 3Veja 1Coríntios 15 Veja 1Coríntios, Capítulo 15Veja Yd 6 Veja Y’hudah (Judas), versículo 6Yochanan 1:12 [Sem abreviação (“Yn”) no começo de uma frase].

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21Introdução

Nomes, ordem e versificação dos livros do Tanakh (Antigo Testamento). Os nomes tradicionais em português dos livros do Tanakh são utilizados, são es-critos completamente, nunca abreviados. Quando muitos são listados, a ordem é a da Bíblia hebraica, que é a seguinte:

Referências a capítulo e versículo estão como na Bíblia hebraica; onde a Bí-blia cristã difere no número de capítulo e versículo, a ele são acrescentados em parênteses imediatamente depois.

Exemplos:Veja Êxodo 20:12-17 (12-14), Joel 3:2 (2:29), Malaquias 3:23-24 (4:5-6), Salmo

51:17 (15), Neemias 4:6 (3:38), 2Crônicas 18:21-24.

Sequência de Notas no CJNT. Notas referentes a um grande grupo de versí-culos precedem notas referentes a um grupo menor de versículos, que por sua vez precedem notas referentes a versículos e porções individuais.

Exemplos:

caPítulo 8

8:1-9:6 Nota para a passagem que começa no capítulo 8, versículo 1, e termi-na no capítulo 9, versículo 6.

1-13 Nota para o capítulo 8, versículos 1-131 Nota para o capítulo 8, versículo 12-3 Nota para o capítulo 8, versículos 2-33 Nota para o capítulo 8, versículo 35a Nota para o capítulo 8, primeira parte do versículo 55b-6 Nota para o capítulo 8, segunda parte do versículo 5 e versículo 610-12 Nota para o capítulo 8, versículos 10-12

PENTATEUCO(Torá ou CHUMASH)

GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

ANTIGOS PROFETAS(N’VI’IM)

JosuéJuízes1Samuel2Samuel1Reis2Reis

PROFETAS POSTERIORES(N’VI’IM)

IsaíasJeremiasEzequiel(Os 12 Profetas)

OseiasJoelAmósJonasMiqueiasNaumHabacuqueSofoniasAgeuZacariasMalaquias

ESCRITOS(K’TUVIM)

SalmosProvérbiosJó(Os Cinco Manuscritos)

Cântico dos CânticosRuteLamentaçõesEclesiastesEster

DanielEsdrasNeemias1Crônicas2Crônicas

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22 Introdução

caPítulo 9

1-6 Nota para o capítulo 9, versículos 1-67 Nota para o capítulo 9, versículo 7

Referências ao texto de NTJ e a notas do CJNT. Referências ao texto do NTJ são por livro, capítulo e versículo; as notas do CJNT são referidas por essas quatro Abreviações:

N notaNN notas&N e nota&NN e notas

Exemplos:

Veja Mt 5:3 Veja Mattityahu, capítulo 5, versículo 3Veja Mt 5:3N Veja a nota para Mattityahu, capítulo 5, versículo 3Veja Mt 5:3&N Veja Mattityahu, capítulo 5, versículo 3 e sua nota.Veja Rm 10:4-8NN Veja as notas para Romanos, capítulo 10, versículos 4-8Veja Rm 10:4-8&NN Veja Romanos, capítulo 10, versículos 4-8 e suas notasVeja Rm 10:6-8N Veja a nota (singular) para Romanos, capítulo 10, versículo 6-8

Uso do negrito nas Notas. Uma citação do(s) versículo(s) sendo comenta-do(s) é impressa em negrito. No começo de um parágrafo ele normalmente indica que o comentário é apenas sobre aquela porção do(s) versículo(s). Citações de ou-tras partes da Bíblia aparecem em tipo romano comum.

Pronúncia de nomes e termos em hebraico, aramaico e grego. Nomes e termos em hebraico e aramaico são transliterados de modo a facilitar a pronúncia de israelitas. Vogais soam como as letras em itálico nas seguintes palavras: pai, mel, investir, obedecer, rua. Já para as consoantes, o “ch” é pronunciado como em Johann Sebastian Bach, bem como o “kh”; “g” é sempre como em “guia”; outras con-soantes são mais ou menos como em português. O gutural aleph é frequentemente representado por um apóstrofe (’) antes de uma vogal (exemplo: Natan’el, pronun-ciado Na-tan-’el e não Na-tan-el. A parada gutural mais forte ‘ayin (mais fundo na garganta, perto do som de um “g” mais duro) é normalmente representado por um apóstrofe reverso (‘) antes ou depois de uma vogal.

Ao transliterar nomes e termos em grego, fiz um pequeno esforço para aju-dar o leitor a pronunciar as palavras corretamente. Procurei fazê-lo de modo que a pronúncia ficasse igual à da moderna Atenas, e não como seria equivocadamente feito em seminários cristãos. Eu uso “e” para significar a letra grega “epsilon” e “ê” para significar “êta”, “o” para significar “omicron” e “ô” para significar “ômega”. Uso tanto “u” quanto “v” para “upsilon”; esta é minha tentativa de ajudar o leitor a encontrar a pronúncia correta (no entanto, onde está escrito “u”, a pronúncia corre-ta não é “ú”, mas “í”, como também para “i”, “ê”, “ei”, e “oi”. Também “e” e “ai” são pronunciados “é” e “ou” é “ú”. A consoante “b” tem som de “v”, “d” soa como “d”’ em “ideia”, “th” é como em “fim” e “g” como o “i” de “caiaque” ou um “g” suave. Para mais informações consulte qualquer texto sobre linguagem grega moderna.

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23Introdução

Nomes hebraicos e portugueses. Enquanto no texto do NTJ utilizei ape-nas formas do hebraico de nomes pessoais e lugares, no comentário permito usar os nomes mais familiares aos leitores da língua portuguesa. Assim, troco entre “Avraham” e “Abraão”, “Yitzchak” e “Isaque”, “Ya’akov” e “Jacó” (Tanak) ou “Tia-go” (Novo Testamento), etc. Veja o Glossário do NTJ e o Glossário Invertido para esclarecimentos.

vii — agradecimentos

A palavra “agradecimentos” é algo pálido ao se referir a minha dívida de gratidão para com meus pais de abençoada memória, Harold Melrose Stern (1892-1981) e Marion Levi Stern (1899-1976), pelo amor, pela orientação ética, por meu crescimento na comunidade judaica e por outras bênçãos que me deram.

O termo também falha para expressar o que devo a minha esposa, Martha Frances (Frankel) Stern, que tem sido não apenas uma eshet-chayil (“mulher virtu-osa”, Provérbios 31:10-31) e uma ezer k’negdi (“ajudadora idônea”, Gênesis 2:18), mas que também leu todo o manuscrito e ofereceu conselhos sábios; aceito a total responsabilidade por qualquer deficiência devido à minha teimosa falha em ouvi-la.

Doutor Paul Ellingworth, consultor de tradução para a Sociedade Bíblica Uni-da e editor do livro The Bible Translator [O tradutor da Bíblia], passou três semanas inteiras comigo revisando cada palavra de uma versão anterior do Novo Testamen-to Judaico. Seu conselho melhorou minha tradução. Se o leitor discordar de algu-mas de minhas abordagens mesmo depois de ler a minha defesa neste comentário, não o culpe.

Joseph Shulam, um judeu messiânico que conhece muito bem tanto o juda-ísmo quanto o Novo Testamento, único em sua maneira de relacionar um ao outro, é meu amigo íntimo e consultor frequente. Tenho certeza que este comentário é o melhor para nossas conversas.

Martha e eu conhecemos Barry e Steffi Rubin desde a metade dos anos 1970. Desde 1989, Barry é o diretor executivo do Ministério Messiânico Lederer, e tam-bém administra a Jewish New Testament Publications. Steffi, artista maravilhosa, compôs a impressão do CJNT. Somos gratos pelo trabalho deles e ficamos felizes por nossa amizade.

Além de expressar apreço especial por cada uma dessas pessoas, quero acrescentar que aprendi e me beneficiei com muitas outras dentro da comunidade judaico-messiânica de Israel, dos Estados Unidos e do resto do mundo. Também ganhei o conhecimento de professores e amigos que são cristãos gentios, não-ju-deus messiânicos, e de pessoas que não são judias nem cristãs. Sem que liste seus nomes, espero que reconheçam minha intenção de lhes agradecer.

Finalmente — e as palavras aqui não exprimem o suficiente — agradeço ao meu Deus, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e ao seu Messias Yeshua, Salvador e Senhor meu e do povo judeu (“Louvado sejas, Senhor nosso Deus, Rei do universo, que nos manteve vivos, nos preservou e nos capacitou a chegar até aqui!”).

David H. Stern78 Manahat, 96901 Jerusalém, IsraelRosh-HaShanah 5753 (Setembro de 1992)

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24 Introdução

adendo à terceira edição (1994)

Com esta edição estou inaugurando um sistema para acrescentar novas in-formações ao comentário sem desorganizar o layout e o Índice do original. Onde tenho algo novo a dizer (mais do que umas poucas palavras), estou colocando em um apêndice em vez de pôr nas notas originais. O apêndice começa na página 905.

David H. SternYom HaAtzma’ut 5754 (Abril de 1994)

adendo à sexta edição (1998)

Esta é a primeira edição a aparecer após a publicação do meu Complete Jewish Bible [Bíblia judaica completa], minha versão do Tanakh mais o NTJ. Por ra-zões estilísticas, o NTJ, como aparece no CJB, é ligeiramente diferente das edições publicadas anteriormente do NTJ. Modifiquei o mínimo possível, para que leitores do CJNT não tenham dificuldades ao utilizar o CJB do NTJ.

David H. SternChanucá 5759 (Dezembro de 1998)

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Mattityahu (Mateus)

caPítulo 1

1-16 O Novo Testamento começa com a genealogia de Yeshua para mostrar que cumpre todas as exigências estabelecidas pelo Tanakh com relação ao Mes-sias — um descendente de Avraham (Gênesis 22:18), Ya‘akov (Números 24:17), Y’hudah (Gênesis 49:10), Yishai (Isaías 11:1), David (2Samuel 7:13; veja abaixo em “Filho de David”) e Z’rubavel (Haggai 2:22-23). Todos esses nomes aparecem em vv.1-16. Essa genealogia lembra o padrão das suas similares no Tanakh (Gênesis 5, 10; 1Crônicas 1-9 etc.).

A genealogia do Messias como registrado por Lucas é diferente da que aqui está; veja Lc 3:23-38&N.

1 “Yeshua, o Messias”, é chamado de “Jesus Cristo” em outras versões em português, como se o primeiro nome do homem fosse “Jesus” e seu sobrenome “Cristo”. Nenhum dos dois é o caso. “Yeshua” é o nome de Jesus em hebraico e em aramaico, os idiomas que ele falava; em seus 30 e poucos anos na Terra as pes-soas o chamavam de Yeshua. A palavra “Jesus” representa o esforço das pessoas que falam português ao tentar pronunciar o nome do Messias como aparece nos manuscritos gregos do Novo Testamento, “Iêsous” — iee-sus em grego moderno, talvez iai-sus no antigo grego koinê, que substituiu o aramaico como o principal idioma do Oriente Próximo depois das conquistas de Alexandre (331-323 a.E.C.). Assim, a palavra “Iêsous” representa a tentativa das pessoas que antigamente fala-vam grego de pronunciar “Yeshua”. Ao utilizar o hebraico “Yeshua”, no entanto, o NTJ chama a atenção para o judaísmo do Messias. Sobre o nome “Yeshua” veja o versículo 21&N.

O Messias. A palavra grega aqui é “Christos”, que tem o mesmo significado que a hebraica “mashiach”, a saber, “ungido” ou “aquele sobre o qual foi derrama-

As boas-novas de Yeshua, o Messias, contadas por

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Mattityahu (Mateus)26

do”. O significado de ser conhecido como “O Ungido” é que tanto os reis quanto os kohanim (sacerdotes) eram investidos de sua autoridade numa cerimônia de unção com óleo de oliva. Assim, inerente ao conceito de “Messias” é a ideia de receber autoridade sacerdotal e real da parte de Deus.

A palavra grega “Christos” é usualmente traduzida para o português como “Cristo”. Em dois versículos do Novo Testamento (Yn 1:41, 4:25) o texto grego era “Messias”, obviamente como no português “Messias”, uma transliteração da palavra hebraica; ali o NTJ usa “Mashiach” (veja Yn 1:41N).

O NTJ também chama “Christos” de “Mashiach” em duas narrativas onde o seu significado judaico específico está em destaque: em 16:15 e em 26:63 (e, equivalentemente, em Mc 8:29, 14:61; Lc 9:20, 22:67). Outros podem ter usado esse critério para introduzir “Mashiach” em outras passagens, como se pode ver em At 2:31, 36, 38. A decisão do tradutor de usar “Cristo”, “Messias” ou “Mashiach” depende do propósito de sua tradução. No final das contas, vai depender de sua intuição ou de sua preferência pessoal.

Entretanto, no texto do NTJ, o termo Christos é traduzido como “Messias”; “Cristo” não aparece sequer uma vez. Isso ocorre porque “Messias” tem significado na religião judaica, em sua tradição e cultura; enquanto a palavra “Cristo” tem um tom estrangeiro e uma conotação negativa devido à perseguição sofrida pelos ju-deus por parte daqueles que alegavam ser seus seguidores. Além disso, a utilização da palavra “Messias” em mais de 380 vezes no texto do NTJ é uma lembrança con-tínua de que o Novo Testamento alega que Yeshua fez simplesmente o que foi feito pelo Mashiach que o povo judeu tanto espera. A palavra em português “Cristo” não aponta o cumprimento por Yeshua das esperanças judaicas e da profecia bíblica.

Filho de. A palavra hebraica “ben” (“filho”, “filho de”) é comumente usada em três diferentes modos na Bíblia e no judaísmo:

(1) Tanto na Bíblia quanto no judaísmo, um homem é normalmente identifi-cado como um filho de seu pai. Por exemplo, se o filho de Sam Levine, Joe, é cha-mado para ler um rolo da Torá na sinagoga, ele será anunciado não como Joseph Levine, mas como Yosef ben Shmu’el (“Joseph, filho de Samuel”).

(2) “Ben” também pode significar não o filho de fato, mas um descendente mais distante, como era o caso neste versículo: David e Avraham eram ances-trais distantes de Yeshua (também v. 8; Yoram não era o pai, mas o tataravô de Uziyahu).

(3) Em terceiro lugar, ”ben” pode ser utilizado mais amplamente para signi-ficar “tendo as características de”, e isso também se aplica aqui: Yeshua tinha as qualidades encontradas tanto em Avraham quanto no rei David.

Filho de David. Avraham e David são destacados porque têm uma impor-tância única na linhagem do Messias. O termo “Filho de David” é, na verdade, um dos títulos do Messias, tendo como base as profecias do Tanakh de que o Messias seria um descendente de David e se sentaria do trono de David para sempre (para as referências do Tanakh, veja At 13:23&N). Enquanto “Filho de David” não apa-rece como um título messiânico no Tanakh e é visto pela primeira vez como tal na pseudoepígrafe Salmos de Salomão 17:23, 36, escrito no século I a.E.C., o Novo Testamento registra o uso desse termo de quinze a vinte vezes, e ele tem sido continuamente utilizado no judaísmo até os dias de hoje.

Filho de Avraham. Este termo é significativo em pelo menos quatro maneiras:(1) Tanto o rei David quanto o rei Yeshua seguem seus ancestrais até o indi-

víduo escolhido por Deus como o pai do povo judeu (Gênesis 12:1-3).(2) Yeshua é a prometida “semente de Avraham” (Gênesis 13:15, explicado

por Gl 3:16).

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(3) A identidade mística do Messias com o povo judeu (veja 2:15N) aqui é sugerida, uma vez que todo judeu é um filho de Avraham (3:9).

(4) Yeshua também tem uma identidade mística com todos aqueles que acre-ditam nele, sejam judeus ou gentios (Rm 4:1, 11, 17-20; Gl 3:29).

3, 5, 6, 16 Tamar... Rachav... Rut... a esposa de Uriyah (Bat-sheva)... Miryam. Mulheres, especialmente aquelas nascidas gentias, raramente eram incluídas nas genealogias bíblicas. As primeiras quatro eram mulheres gentias a quem Deus ti-nha honrado incluindo as entre os ancestrais registrados de Yeshua, o Messias judeu — por meio de quem os gentios, as mulheres e os escravos tinham a salvação igualmente com os judeus, os homens e os livres (Gl 3:28&N). Sobre se essas mulhe-res se tornaram judias ou continuaram a ser gentias veja At 16:1&N.

16 Yosef, marido de Miryam, da qual nasceu Yeshua. A mudança de lingua-gem da ladainha “X gerou Y” assinala que Yeshua não foi concebido de modo usual; outras passagens estabelecem que o Espírito Santo de Deus desceu sobre Miryam, levando-a a engravidar sem união sexual (vv. 18, 20; Lc 1:27, 31, 34-38; veja tam-bém vv. 18-25&NN, Lc 3:23-38&N).

Yeshua, chamado o Messias. Esta frase um tanto peculiar chama a atenção pelo fato de que a genealogia leva até essa pessoa em particular chamada Yeshua, o Yeshua que era conhecido como o Messias. Não existe nenhuma implicação de que ele não era o Messias; ele se chama de Messias porque ele era e é.

18-25 Sobre a concepção e o nascimento de Yeshua compare com Lc 1:26-38, 2:1-7; Yn 1:1-2:14.

18 comprometida. A palavra hebraica/aramaica para noivado é “kiddushin”, que significa “santificação, separação”, ou seja, a separação de uma mulher em particular para um homem em particular. De acordo com o Mishna, o adultério durante o período de noivado é um pecado mais sério do que depois do casamento.

O Mishna especifica quatro tipos de pena de morte, em ordem descendente de seriedade: apedrejamento, ateamento de fogo, decapitação e estrangulamento (Sanhedrin 7:1). Um homem que tem relações sexuais com uma mulher noiva é submetido à mesma punição que alguém que teve relações com sua mãe, ou seja, o apedrejamento (Sanhedrin 7:4). Aquele que se relacionou sexualmente com a esposa de outro homem é passível de morte por estrangulamento (Sanhedrin 11:1).

Hoje, com o objetivo de eliminar parcialmente a possibilidade de cometer esse grave pecado, o noivado judeu formal (kiddushin ou ’erusin) e o casamento (nisu’in) geralmente são combinados numa única cerimônia.

Ruach HaKodesh, a expressão hebraica para “Espírito Santo”. O termo apa-rece no Tanakh (Isaías 51:13 (11), 63:10-11) e é equivalente a “Espírito de Deus” (Ruach-Elohim), visto primeiro em Gênesis 1:2 como se movendo “sobre a face das águas” antes que Deus dissesse “haja luz”. A partir desse versículo, Isaías 48:16 e de outras referências na Bíblia, pode-se aprender que o Espírito Santo é divino, não menos ou diferente do que Deus. Sob os termos da Nova Aliança, Yeshua en-viou o Espírito Santo para habitar em qualquer pessoa que confiar em Deus por intermédio do Messias. O Espírito Santo capacita a pessoa para uma tarefa, guia para a confiança em Deus, dá dons para facilitar uma vida santa de frutos e um comportamento reto.

Miryam. Em português, esse nome hebraico é usualmente traduzido com a grafia “Miriam” no Tanakh, e “Maria” no Novo Testamento. Essa distinção in-

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fundada e artificial produzida por tradutores subitamente cria uma lacuna entre a mãe de Yeshua e seu próprio judaísmo. A Miriam original era a irmã de Moshe Rabbenu (“Moisés, nosso professor”; Êxodo 2:4-8) e uma profetisa (Êxodo 15:20); em alguns aspectos, ela é vista como um exemplo para a mulher judia nos dias de hoje. Contudo o nome “Maria” evoca no leitor pensamentos sobre uma imagem de “Madonna e Filho”, cheia de esplendor, sorriso beatificado e cercada de anjos, em vez do retrato do Novo Testamento de uma senhora judia terrena num vilarejo de Israel, administrando seu casamento, sua maternidade e outras responsabilidades sociais com cuidado, amor e fé.

A mãe de Yeshua se encontrou grávida pelo Ruach HaKodesh. Mais cedo ou mais tarde todos descobriram que ela estava grávida. Mas nem todos descobri-ram que ela tinha engravidado como resultado não de relações sexuais, mas da atividade sobrenatural do Espírito Santo. O “nascimento virginal” foi um evento sobrenatural (veja a Seção (1) do v.23N). O Deus que fez os céus e a terra é bas-tante capaz de levar uma mulher a engravidar de um modo que não é possível na natureza.

Mattityahu informa a seus leitores da concepção sobrenatural de Yeshua para refutar a inferência óbvia e natural de que Miryam tinha se comportado de forma errada. Os antigos rabinos desenvolveram uma tradição pela qual Yeshua era filho ilegítimo de Miryam e de um soldado romano chamado Pantera (no século II, Tosefta, uma coleção similar ao Mishna, veja Chullin 2:23; no Talmud babilônico do século V, veja Sanhedrin 43a, 67a). Essa calúnia, inventada, é claro, para refutar as alegações do evangelho, foi mais trabalhada na obra antievangelho do século VI Toledot-Yeshu (veja v.21N).

20 Adonai, literalmente “meus senhores”; mas os gramáticos consideram como sendo o “plural da majestade”; assim uma tradução menos literal seria “meu Senhor”. Muito antes da época de Yeshua, porém, a palavra “Adonai” tinha, por uma questão de respeito, substituído ao falar e ao ler em voz alta o nome pesso-al de Deus, as quatro letras hebraicas yud-heh-vav-heh, normalmente escrito em português como “YHVH”, “Javé” e “Jeová”. O Talmud (Pesachim 50a) tornou uma exigência não pronunciar o Tetragrammatron (palavra que significa o “nome de quatro letras” de Deus), e isso permanece como regra nas comunidades judaicas mais modernas. De forma diferente dessa tradição (que, do meu ponto de vista, é desnecessária, mas inofensiva) o NTJ usa “Adonai” onde o original diz “YHVH” (incidentalmente, o nome “Jeová” é uma invenção moderna, um híbrido baseado nas quatro letras hebraicas numa transliteração em alemão, J-H-V-H com as vogais individualmente transliteradas do hebraico de “Adonai”, e-o-a).

A palavra grega aqui é “kurios”, que pode significar (1) “senhor”, no sentido humano, como em “senhor de engenho” (2) “Senhor” no sentido divino ou (3) o nome pessoal de Deus YHVH. O NTJ usa “Adonai” apenas quando se pode ter a certeza de que “YHVH” é o significado correto; não é utilizado se existe dúvida. Até aqui, as edições do NTJ são conservadoras a esse respeito; existem, provavelmente, lugares adicionais no texto em que “Adonai” poderia tranquilamente ser substituí-do por “Senhor”. Para mais informações sobre “kurios”, veja 7:21&N.

21 Esse versículo é um exemplo de um “semitismo” (uma alusão ao hebrai-co ou ao aramaico), traduzido literalmente para o texto grego. Ele fornece fortes evidências em favor da teoria de que havia tradição Oral ou escrita hebraica ou aramaica por trás dos manuscritos gregos, pois apenas em hebraico ou aramaico

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a explicação do nome de Yeshua faz algum sentido; em grego (ou português) não explica nada.

A palavra hebraica para “ele salvará “é “yoshia”, que tem a mesma raiz he-braica (yud-shin-‘ayin) do nome Yeshua (yud-shin-vav-‘ayin). Assim, o nome do Messias é explicado com base naquilo que ele vai fazer. Etimologicamente, o nome Yeshua‘ é uma contração do nome hebraico Y’hoshua‘ (em português, “Josué”), que significa “YHVH salva”. Também é a forma masculina da palavra hebraica “yeshu‘ah”, que significa “salvação”.

A versão em português desse versículo é “... e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Mas em português, salvar as pes-soas de seus pecados não é uma razão para chamar alguém de Jesus mais do que chamar de William ou Francisco. Em grego não é diferente; apenas em hebraico ou aramaico de fato é válida essa explicação.

No hebraico moderno, Yeshua é normalmente chamado de Yeshu (yud-shin--vav, sem o ‘ayin) pelos não-crentes. Esse versículo também mostra por que o nome “Yeshu” não poderia, de modo algum, ser correto — ele não inclui todas as três letras da raiz hebraica de yoshia‘. No entanto, o assunto exige mais informações.

De acordo com os professores David Flusser e Shmuel Safrai, judeus orto-doxos, “Yeshu” é como “Yeshua” era pronunciado pelos judeus galileus no século I. Como mostra 26:73, os judeus da Galileia tinham um dialeto diferente daqueles da Judeia. Segundo Flusser em Jewish Sources in Early Christianity, p. 15, [Origem judaica no cristianismo primitivo], os galileus não pronunciavam a letra hebraica ‘ayin no final de uma palavra. Ou seja, em vez de pronunciar “Ye-shu-a”, eles di-ziam “Yê-shu”. Sem dúvida, algumas pessoas começaram a soletrar o nome de acordo com essa pronúncia.

No entanto, esse não é o final da história. Na polêmica judaica anticristã, tornou-se costume não usar o nome correto de Yeshua, mas intencional e cons-cientemente usar a distorção “Yeshu”, porque em algum momento alguém per-cebeu que “Yeshu” também é um acrônimo consistindo nas primeiras letras do insulto hebraico “Yimach sh’mo v’zikhro” (“Que seu nome e sua memória sejam apagados”; as palavras adaptam e expandem a última frase de Salmo 109:13). As-sim, “Yeshu” era um tipo de imprecação codificada contra o evangelismo cristão. Mais ainda, desde que Yeshua passou a ser lembrado no judaísmo não-messiâni-co como um falso profeta, blasfemador e idólatra, equivocadamente sendo ado-rado como Deus, e uma vez que a Torá diz “Então, disse Moisés a Deus: Eis que quando vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” (Êxodo 3:13), o nome do Messias era pronunciado de forma errada propositalmente. Hoje, a maioria dos israelitas que diz “Yeshu” acredita que esse é o nome correto do homem e o dizem sem outras intenções. O NTJ evita “Yeshu” devido a esse relato, e também porque em hebraico essa palavra, assim como “Jesus” em português, carrega o significado de ser “o deus adorado pelos gentios”.

Mas Yosef Vaktor (veja 10:37N) reinterpreta o acrônimo para exaltar Yeshua, “Yitgadal sh’mo umalkhuto!” (“Que seu nome e seu reino sejam magnificados!”).

22 Tudo isso aconteceu para cumprir o que Adonai disse por meio do pro-feta. A Nova Aliança consistentemente se apresenta como sendo o cumprimento de profecias e promessas feitas por Deus no Tanakh. Essa conformidade a declara-ções de previsões feitas centenas de anos antes, em desafio a todas as probabilida-des razoáveis, provam que Deus “conhecia o final desde o princípio”. E, neste caso, mostra, sem dúvida alguma, que Yeshua é o Messias. O cumprimento das profecias

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é a principal razão, baseada na observação empírica de eventos históricos — ou seja, em fatos — para judeus e outros aceitarem Yeshua como o Messias.

Houve mais de 50 pretendentes messiânicos nos últimos 2.000 anos de his-tória judaica, começando com Todah (Theudas) e Judah HaG’lili (At 5:36-37&NN), continuando com Shim’on Bar-Kosiba (morto em 135 E.C.), que o rabino Akiva re-conheceu como o Messias mudando seu nome para “Bar-Kochva” (“filho de uma Estrela”; veja 2Ke 1:19N em “a Estrela da Manhã”), e culminando em Shabtai Tzvi (1626-1676), e se converteu ao islamismo, e Jacob Frank (1726-1791), que se con-verteu ao catolicismo. Mas nenhum deles cumpria o critério estabelecido no Ta-nakh no que se refere à identidade do Messias; enquanto Yeshua cumpria todas as que são aplicáveis à sua primeira vinda (a lista de profecias cumpridas está listada em 26:24N e na Seção VII da Introdução ao NTJ Jabuti). Dos quatro escritores dos Evangelhos, Mattityahu especialmente se preocupa em apontar esses cumprimen-tos (veja: 5, 15, 17; 3:3; 4:14; 8:17; 11:10; 12:17; 13:14, 35; 21:4; 22:43; 26:31; 27:9). Seu objetivo é mostrar que Yeshua deveria ser reconhecido como o Messias porque cumpriu aquilo que Adonai disse sobre o Messias por intermédio dos profetas do Tanakh.

O que Adonai disse por meio do profeta. Sobre esta frase, veja 2:15N, a quatro parágrafos do fim.

23 A virgem conceberá, e dará à luz um filho. Este versículo introduz uma das principais controvérsias no que se refere ao uso da Bíblia hebraica no Novo Testamento. A seguir, estão três objeções que judeus não-messiânicos e outros céticos frequentemente fazem à colocação que Mattityahu faz de Isaías 7:14b neste versículo, junto com respostas judaico-messiânicas.

1) Objeção: o nascimento de uma virgem é impossível.Resposta: No pensamento acadêmico liberal, milagres são caracteristicamen-

te explicados como um fenômeno natural disfarçado. Alguém pode elaborar essa afirmação apontando casos de partenogênese no reino animal ou em modernas experiências de clonagem. Mas não é o caso de partenogênese humana. É preciso pensar no nascimento virginal como algo sobrenatural.

Normalmente, objeções a um nascimento virginal como sendo algo impossí-vel são resultado de um pensamento lógico de fazer objeções a todo e qualquer tipo de sobrenaturalismo. Mas o Deus da Bíblia é, literalmente, “sobrenatural”, acima da natureza, uma vez que ele criou a natureza e suas leis. Assim, se isso se adequar a seus propósitos, ele pode suspender essas leis. A Bíblia, tanto no Tanakh quanto no Novo Testamento, ensina repetidamente que Deus intervém na história humana e às vezes altera o curso natural dos eventos por razões que lhe são convenientes.

Frequentemente, sua razão, como ocorre aqui, é dar à humanidade um sinal de sua soberania, de sua presença e preocupação. De fato, Isaías 7:14a, que pre-cede imediatamente a frase mencionada, diz: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal”. A palavra hebraica para sinal (“’ot”) significa um evento extraordinário que demonstra e chama atenção para o envolvimento direto de Deus em assuntos humanos. O “Deus” do deísmo, retratado como tendo criado o universo como um homem dando corda em um relógio e deixando que ele funcione por si só, não é o Deus da Bíblia.

2) Objeção: Isaías, ao utilizar a palavra hebraica “‘almah”, estava se referindo a uma “jovem mulher”; se quisesse dizer “virgem”, teria escrito “b’tulah”.

Resposta: “‘Almah” é utilizado sete vezes na Bíblia hebraica, e em cada apari-ção significa explicitamente uma virgem ou implica nisso, porque a palavra bíblica

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“‘almah” sempre se refere a uma mulher solteira de boa reputação. Em Gênesis 24:43, se aplica a Rebeca, a futura noiva de Isaque, já mencionada em Gênesis 24:16 como sendo uma b’tulah. Em Êxodo 2:8 ela descreve a irmã mais velha do jovem Moseh, Miryam, uma menina de 9 anos de idade e certamente uma virgem (assim, o nome da mãe de Yeshua lembra essa outra virgem). As outras referências são para jovens donzelas tocando adufes (Salmo 68:25), donzelas sendo cortejadas (Provér-bios 31:19) e virgens da Corte real (Cântico dos Cânticos 1:3, 6:8). Em cada caso, o contexto exige uma jovem solteira de boa reputação, ou seja, uma virgem.

Além disso, Mattityahu aqui está citando um trecho da Septuaginta, a pri-meira tradução do Tanakh para o grego. Mais de dois séculos antes de Yeshua nas-cer, os tradutores da Septuaginta escolheram a palavra grega “parthenos” para sig-nificar “‘almah”. “Parthenos” sem dúvida alguma significa “virgem”. Isso foi muito antes de o Novo Testamento ter tornado esse assunto uma controvérsia.

O mais famoso comentarista medieval da Bíblia judaica, o rabino Shlomo Yitzchaki (“Rashi”, 1040-1105), que se opôs enfaticamente à interpretação cristoló-gica do Tanakh, ainda assim explicou que em Cântico dos Cânticos 1:3, “‘alamot” (plural “‘almah”) significa “b’tulot” (“virgens”) e se refere de forma metafórica às nações.

Victor Buksbazen, um cristão hebraico, em seu comentário The Prophet Isaiah [O profeta Isaías], cita Rashi como tendo escrito que em Isaías 7:14 “‘almah” significa “virgem”. Nas primeiras quatro edições do Comentário Judaico do Novo Testamento eu citei Rashi. Foi-me avisado que Rashi não escreveu o que eu disse que ele tinha escrito, assim removi a citação do corpo principal do CJNT e aqui peço desculpas por não ter checado a fonte original. Para mais detalhes, veja o Apêndice na página 905.

Em edições anteriores, também me referi a um artigo de 1953 do Journal of Bible and Religion [Jornal da Bíblia e da religião], no qual o acadêmico judeu Cyrus Gordon afirma que as línguas cognatas aceitam a tradução de “‘almah” em Isaías 7:14 como “virgem”. No entanto, Michael Brown, um acadêmico judeu messiânico com doutorado em Semítica, me disse que as observações de Gordon foram base-adas numa leitura antiga incorreta de um texto-chave ugarítico. Nesse caso, meu erro foi resultado de falta de familiaridade com o pensamento acadêmico moderno.

No entanto, a Bíblia nos mostra como podemos saber quando um ‘almah é uma virgem. Rivkah é chamada de uma ‘almah em Gênesis 24:43, mas pode ser deduzido de Gênesis 24:16 (“E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem varão não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro, e subiu”) que ela era uma virgem. Do mesmo modo, sabemos que a ‘almah Miryam era uma vir-gem em Lc 1:34, onde ela pergunta ao anjo como pode engravidar “visto que não conhece varão?”

Uma possível razão para Isaías usar a palavra “‘almah” em vez de b’tulah é que no hebraico bíblico (em oposição ao posterior), “b’tulah” nem sempre significa, de forma não ambígua, “virgem”, como aprendemos a partir da leitura de Joel 1:8: “Pranteiam como a b’tulah” (...). Deuteronômio 22:19 fala sobre uma mulher após sua noite de casamento como sendo uma b’tulah.

(3) Objeção: em Isaías, o contexto (vv. 10-17) mostra que o profeta estava predizendo como um sinal ao rei Achaz que diante da ‘almah como uma criança não concebida e não nascida seria velha o bastante para escolher o bem e recusar o mal, a Síria e o Reino do Norte perderiam seus reis e a Assíria atacaria Judá. Essa profecia foi cumprida no século VIII a.E.C. Portanto, o profeta não estava predizen-do um evento que aconteceria cerca de 700 anos depois.

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Resposta: (pela qual sou grato ao crente judeu Arnold Fruchtenbaum): pelo contrário, o contexto, que inclui tudo de Isaías 7, não apenas oito versículos, mos-tra que o “sinal” do v.14 não era para o rei Achaz, a quem se refere como “você” (singular) nos vv. 11 e 16-17, mas para toda a “Casa de David” mencionada no v.13 e referida como “vocês” (plural) nos vv. 13-14.

O sinal para Achaz era que antes que um na’ar (“filho”, ou uma criança, nunca um bebê recém-nascido) soubesse como escolher o bem e recusar o mal, os eventos de vv.16b-17 ocorreriam. Aquela criança era o filho de Isaías Sh’ar-Yashuv (v.3), que estava com ele quando profetizava e para quem ele provavelmente estava apontando, não o filho (em hebraico ben) do v.14. Isso faz o v.14 prover um sinal para toda a Casa de David, incluindo todos os seus descendentes daquela época em diante até que a profecia fosse cumprida — o que aconteceu pelo nascimento virginal de Yeshua.

Ocasionalmente vimos pessoas sem intimidade com a tradição cristã, espe-cificamente a tradição católico-romana, confundir o termo “nascimento virginal” com “concepção imaculada”. O nascimento virginal de Yeshua — ele sendo conce-bido pelo poder do Espírito Santo de Deus em Miryam antes mesmo que ela tivesse tido contato sexual — é aceito por todos os judeus messiânicos e cristãos gentios que acreditam na Bíblia. A concepção imaculada, a doutrina católico-romana (pri-meiro ensinada pelos Pais da Igreja) que dizia que a própria Miryam foi concebida sem pecado, não é aceita pelos protestantes porque o Novo Testamento não men-ciona isso.

Immanu’el é o nome dado ao Messias em Isaías 7:14, 8:8. Como Mattityahu explica, significa “Deus está conosco” — que é como a palavra hebraica immanu El é traduzida em Isaías 8:10. No entanto, Yeshua não era conhecido por esse nome durante sua vida na Terra; em vez disso, o nome dá uma dica (remez; veja 2:15N) sobre quem ele é ao descrevê-lo: ele é Deus-conosco. O povo de Deus experimenta o cumprimento final em Rv 21:3, onde nos novos Céu e Terra “Deus-convosco” habita entre eles.

No Tanakh, nomes frequentemente descrevem um aspecto da pessoa que o recebeu. De fato, o Tanakh usa diversos nomes para se referir ao Messias, incluin-do “Siló” (Gênesis 49:10), “Rebento” (Isaías 11:1), “Renovo” (Jeremias 23:5, 33:15), e o mais comprido, “Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:5-6 (6-7)). Tudo descreve o Messias, e ainda assim ele era conheci-do por apenas um nome, Yeshua.

24-25 O comportamento de Yosef mostra que ele aceitou Yeshua como seu filho. De acordo com o Mishna, “se alguém diz ‘este é meu filho’ deve receber crédi-to” (Bava Batra 8:6). O Gemara explica que ele deve receber crédito “como garante o direito de herança” (Bava Batra 134a). Assim, Yeshua, como filho legalmente reco-nhecido, tem o direito de herdar o trono do rei David por intermédio de Yossef, um descendente de David (v.8). (Essa observação é feita em Phillip Goble, How to Point to Yeshua in your Rabbi´s Bible, Nova York: Artists for Israel, 1986).

25 Até que tivesse dado à luz. Os protestantes geralmente afirmam que Miryam era uma virgem quando Yeshua nasceu, mas que “as irmãs dele” (plural, pelo menos duas, e quatro irmãos (13:55-56; Mc 6:3) eram os filhos naturais de Miryam e Yossef. A Igreja Católica Romana ensina que Miryam permaneceu virgem por toda a sua vida e que os termos “irmãos” e “irmãs” são usados livremente para se referir a parentes mais distantes (compare com Gênesis 14:12-16, 31:32; Levítico 10:4). A expressão grega “eôs ou” (“até”) é inconclusiva porque não necessariamen-

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te implica em uma mudança; ou seja, a expressão grega poderia significar tanto que eles não tiveram relações durante o período anterior a ela dar à luz como que o tiveram depois, ou que permaneceram celibatários posteriormente. Contudo, o celibato em particular e o ascetismo em geral, embora praticados pelos pagãos como espiritualmente meritórios, eram e são a exceção na fé do judaísmo e da Nova Aliança, como tanto Yeshua quanto Sha’ul ensinam (veja 19:10-12&N, 1Co 7:1-40&NN, Cl 2:18-23&NN, 1Tm 4:3a&N).

caPítulo 2

1 Depois de Yeshua ter nascido entre 8 e 4 a.E.C. a razão pela qual ele nas-ceu “a.C.” (“antes de Cristo”) é que Dionisius Exiguus, o monge do século VI que estabeleceu o calendário moderno, cometeu um erro ao determinar a data que não foi corrigida até tempos depois. Em vez do termo “A.D” (“Anno Domini”, “no ano do Senhor” Yeshua), a comunidade judaica normalmente chama esses períodos de “E.C” (“Era Comum”) e “a.E.C” (“Antes da Era Comum”), para evitar relacionar as datas explicitamente com o Messias.

Em Beit-Lechem. Veja v. 6&N.Herodes, o Grande (73-4 a.E.C.) fundou a dinastia herodiana (veja Lucas

3:1N), que governou Israel e suas redondezas desde 37 a.E.C. até a guerra com Roma em 66-70 E.C.. O próprio Herodes era um homem de grande energia física e ambição. Sua carreira chama a atenção dos historiadores em 47 a.E.C. na Síria e Galiu; uma combinação de sucessos militares, maquinações políticas e subornos de superiores romanos o capacitou a substituir o último dos governantes hasmone-anos, Antígono, quando morreu em 37 a.E.C. (possivelmente em consequência de um dos subornos de Herodes).

Embora tecnicamente judeu por nascimento, uma vez que sua família era de Idumeus (Edomitas) que tinham se convertido à força ao judaísmo sob o domínio dos macabeus hasmoneanos no século II a.E.C. (veja 23:15N), nem sua crença re-ligiosa nem sua ética refletem algo do judaísmo. Porém, ele de fato reconstruiu e aumentou o Segundo Templo que tinha sido edificado sob as ordens de Z’rubavel (veja o livro de Haggai) em 520-516 a.E.C.. Os rabinos talmúdicos disseram que “al-guém que não viu o Templo de Herodes nunca viu um construção bela” (Bava Batra 4a), mas também “foi construído por um rei pecador e o edifício tinha como seu objetivo a expiação por ter destruído os sábios de Israel” (Números Rabbah 4:14).

Herodes era paranoico em relação ao seu poder. Todos os seus rivais foram exterminados, incluindo os da família de sua esposa (ele tinha casado com Marian-ne, uma hasmoneana, e temia a restauração da dinastia hasmoneana) e mesmo alguns de seus próprios filhos (ele tinha 15). Construiu fortalezas remotas, Hero-dion e Matzada, como refúgio para o caso de ele ser deposto. Os eventos descritos em 2:1-17 são inteiramente compatíveis com o comprovado caráter independente daquele homem.

Magos não eram apenas feiticeiros ou mágicos, apesar do termo “mágico”; não eram eles simplesmente astrólogos, embora observassem as estrelas. Eles eram sábios, normalmente em cargos de responsabilidade, mas, às vezes, dignos de respeito por causa de sua sabedoria, mesmo quando não ocupavam cargos ofi-ciais. Esses magos vieram do Império Medo-Persa ou da Babilônia.

2 Rei dos Judeus. Em Yn 1:19N acredito que a palavra grega Ioudaioi deveria ser normalmente traduzida como “naturais da Judeia” e não “judeus” quando o contexto é a terra de Israel. Entretanto a expressão “rei dos Ioudaioi” é utilizada no

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Novo Testamento apenas por não-judeus – aqui pelos magos e depois por Pôncio Pilatos e pelos soldados romanos (27:37; Mc 15:26; Lc 23:3, 38; Yn 19:19). Aqui existe uma exceção: todas essas pessoas estavam interessadas não em distinguir galileus naturais da Judeia, mas judeus de gentios.

No entanto, alguém pode despertar um grande debate ao admitir Ioudaioi como “naturais da Judeia”, mesmo aqui. Não apenas é o contexto da terra de Israel, mas três vezes em vv. 1-6 lemos sobre Beit-Lechem em Y’hudah (Judeia). O acadê-mico judeu Solomon Zeitlin assim compreende a expressão:

“Os evangelhos, de acordo com Mateus (1:1-16) e Lucas (3.24-31), traçam a genealogia de Jesus até David, enquanto Marcos, que não fornece a genea-logia, estabelece que Jesus é o filho de David (12:35). João, que estabelece a visão que Jesus era o filho de Deus, não obstante escreveu ‘outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de David e de Belém, da aldeia onde era David’ 741-42. Segundo os evangelhos, Jesus era saudado com as palavras ‘Bendito o reino do nosso pai David’ (Marcos 11:10), ‘Hosana ao fi-lho de David’ (Mateus 21:9). Na cruz em que Jesus foi crucificado, as palavras ‘Jesus de Nazaré, rei dos judeus’ foram escritas em hebraico, grego e latim [Iesus Nazarenos Rex Iudaeorum]. Mashiah, messias e Cristo eram sinônimos em suas mentes de ‘filho de David’ e ‘rei dos judeus’”. “The Origin of the Idea of the Messiah”, em Daniel Jeremy Silver, ed., In the Time of Harvest, Nova York: The MacMillan Company, 1963, p. 458).

Sua estrela. Isso parece fazer uma alusão a Números 24:17, quando Balaão profetiza: “Uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel.” O judaísmo compreende essa “estrela” como sendo o Messias. Veja 2Ke 1:19N sobre “a Estrela da Manhã”.

4 Kohanim (plural; singular Kohen), “sacerdotes”, palavra que atualmente evoca a imagem de clérigos em denominações cristãs, formais ou ativos em reli-giões orientais ou primitivas. Isso ocorre porque o sacerdócio no judaísmo tem estado adormecido desde a destruição do Segundo Templo, em 70 E.C. Mas na época de Yeshua, quando o Templo estava de pé, o judaísmo sem um sacerdote era inimaginável.

A tarefa de um sacerdote, como a de um profeta, é a de servir como porta--voz e mediador entre Deus e o homem. O profeta fala ao homem em favor de Deus, o sacerdote fala a Deus em favor do homem. Os Kohanim que serviam no Templo eram descendentes do irmão de Moseh, Aharon, bisneto de L’vi, terceiro filho de Ya’akov. Em termos de descrições práticas de tarefas, sua atribuição primária era oferecer sacrifícos de animais no altar. O sempre sangrento altar do Templo de Deus era uma testemunha contínua para Israel de que a punição de Deus para o pecado é a morte (veja JM 10:3). O conceito de sacerdócio e sacrifício é reduzido no judaísmo não-messiânico dos dias de hoje (veja JM 9:22N), mas o judaísmo da Bíblia é inoperante sem eles. O judaísmo messiânico estabelece que Yeshua, o Mes-sias, é nosso kohen eterno (JM 7:23-25) e nosso eterno sacrifício (JM 7:27, Yn 1:29).

Mestres da Torá. A palavra grega “grammateus” é traduzida literamente em hebraico como sofer, que tem o significado literal “escriba” e é normalmente traduzida assim em português. Contudo a função dos sofrim na época de Yeshua ia muito além de copiar rolos e realizar tarefas de secretariado; eles eram os es-tudantes e professores do conteúdo do judaísmo, ou seja, da Torá.

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Principais Kohanin, que eram em sua grande parte saduceus e mestres da Torá, aliados dos fariseus (veja o parágrafo seguinte), representavam as duas principais concentrações de poder dentro do sistema religioso judaico (veja 3:7N). As opiniões dos dois grupos frequentemente diferiam, mas a per-gunta de Herodes recebeu uma resposta simples; a partir disso, aprendemos que todo Israel concordava que o Messias nasceria em Beit-Lechem (veja v. 6N).

Joseph Shulam, judeu messiânico lider em Jerusalém, ressalta que os acadê-micos modernos acreditam que os escribas não eram rabinos nem fariseus, mas “sábios, ‘am-ha’aretz” (veja Yn 7:49N; At 4:13N), mestres da Torá sem s’mikhah (ordenação: veja 21:23N) — mas veja Mc 2:16&N. Por essa razão, eles não podiam estabelecer chiddushim (introduzir novas interpretações) ou posek Halachá (reali-zar julgamentos legais). De acordo com Shulam, essa é a razão pela qual as pesso-as ficaram chocadas por Yeshua ensinar como um rabino e não como um escriba (7:28-29; Mc 1:22&N).

6 No judaísmo a citação de um texto das Escrituras implica em todo o con-texto, não apenas nas palavras citadas. Assim, Miqueias 5:1 (2) lê, totalmente de Hebreus:

“E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.”

Alguns assumiram que este versículo significa apenas que o Messias seria descendente do rei David, que saiu de Beit-Lechem (1 Samuel 17:12), também cha-mada Efrata (Gênesis 48:7). Mas é uma exegese ruim dar essa predição muito clara da origem geográfica do Messias de uma forma tão figurativa. Em vez disso, é um esforço para estabelecer a referência óbvia a Yeshua, o eterno filho de Deus, “que estava no princípio”, como ressaltado em Yochanan 1:1-2&N, 14; 8:56-58&N.

É maravilhoso que, em muitos períodos da História, números significativos de judeus caíram na conversa messiânica de enganadores (veja 1:22N), sendo que nenhum deles cumpria a profecia de ter nascido em Belém.

Existem até mesmo fontes rabínicas que identificam diretamente Beit-Le-chem como o lugar de nascença do Messias, como, por exemplo, o Midrash Rabbah de Lamentações, seção 51 (em Lamentações 1:16):

“Um homem estava arando a terra quando um de seus bois deitou-se. Um árabe passava e lhe perguntou: ‘O que é você?’ Ele replicou: ‘Sou um judeu.’ O árabe lhe disse: ‘Desamarre seu boi e seu arado [como sinal de lamen-tação]’. ‘Por quê?’, quis saber o homem. ‘Porque o Templo dos judeus foi destruído’ — respondeu o outro. O judeu perguntou: ‘Como você sabe isso?’ Respondeu o árabe: ‘Pelo deitar de seu boi.’ Enquanto eles estavam falando, o boi deitou de novo. O árabe disse: ‘Desamarre seu boi e amarre seu arado, porque o libertador dos judeus nasceu.’ O judeu perguntou: ‘Qual é o nome dele?’ Respondeu o árabe: ‘Seu nome é Menachem [Confortador]’. E o judeu perguntou: ‘Qual é o nome de seu pai?’ No que respondeu o árabe: ‘Chi-zkiyahu [o rei Ezequias é identificado na literatura judaica com o Messias]’. Quis saber o judeu: ‘Onde eles moram?’ O árabe respondeu: ‘Em Birat-’Arba, em Beit-Lechem da Judeia’.”

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A mesma aggadah (história) aparece no Talmud de Jerusalém em B’rakhot 5a; lá, a última linha é “Na capital real de Beit-Lechem”. Além disso, embora não identifique o Messias como Yeshua, implica que o Messias já teria vindo, por volta da época da destruição do Templo.

13 Um anjo de Adonai. Veja Yn 1:14N.

15 Do Egito, chamei meu Filho. Oseias 11:1 claramente se refere não ao Messias, mas ao povo de Israel, que era chamado de filho de Deus antes de deixar o Egito (Êxodo 4:22). As duas citações prévias do Tanakh (1:23; 2:6) envolviam cum-primentos literais, mas essa não envolve. Em que sentido, então, a ida de Yashua ao Egito cumpre o que Adonai tinha dito por meio do profeta?

Para responder, precisamos compreender os quatro modos básicos de inter-pretação das Escrituras usados pelos rabinos. São eles:

(1) P’shat (“simples”) — o sentido literal e pleno do texto, mais ou menos o que acadêmicos modernos chamam de “exegese histórico-gramatical”, que olha para a gramática da linguagem e as questões históricas como pano de fundo para decidir o que uma passagem significa. Acadêmicos modernos frequentemente usam a exegese histórico-gramatical como sendo o único meio válido de lidar com um texto; pastores que usam outras abordagens em seus sermões usualmente sen-tem-se na defensiva sobre isso diante de acadêmicos. Mas os rabinos tinham três outros meios de interpretar as Escrituras e sua validade não deveria ser excluída de imediato, mas relacionada à validade de suas pressuposições implicadas.

(2) Remez (“dica”) — presentes numa palavra, numa expressão ou em outro elemento no texto estão dicas sobre uma verdade não estabelecida pelo p’shat. A pressuposição implicada é que Deus pode dar dicas de coisas sobre as quais os escritores da Bíblia não tinham conhecimento.

(3) Drash ou midrash (“busca”) — uma aplicação alegórica ou homilética de um texto. Isso é uma espécie de exegese — a leitura dos pensamentos de alguém presente no texto — em oposição à exegese, que extrai do texto o que ele de fato quer dizer. A pressuposição sugerida é de que as palavras das Escrituras podem se tornar legitimamente os grãos para o moinho do intelecto humano, que Deus pode guiar as verdades não relacionadas diretamente ao texto como um todo.

(4) Sod (“segredo”) — um significado místico ou escondido, alcançado pela operação de valores numéricos de letras hebraicas, ressaltando formas de soletrar incomuns, transpondo letras e coisas do gênero. Por exemplo, duas palavras, em que os equivalentes numéricos daquelas letras somam a mesma quantidade, são boas candidatas a revelar um segredo pelo qual Arthur Koestler em seu livro sobre mentes criativas chamou de “dissociação de ideias”. A pressuposição implicada é de que Deus investe significado nos menores detalhes das Escrituras, mesmo em letras individuais.

As pressuposições que sublinham remez, drash e sod obviamente expressam a onipotência de Deus, mas também expressam seu amor pela humanidade, no sentido de que ele escolhe, a partir do seu amor, usar meios extraordinários para alcançar o coração e a mente das pessoas. Ao mesmo tempo é fácil ver como se pode abusar de remez, drash e sod, uma vez que todos permitem e, na verdade, exigem, interpretações subjetivas; e isso explica por que acadêmicos, que lidam com o mundo objetivo, hesitam em utilizar esses recursos.

Esses quatro métodos para trabalhar um texto são lembrados pela palavra hebraica “PaRDeS”, um acrônimo formado pelas iniciais; significa “pomar” ou “jar-dim”.

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O que, então, Mattityahu está fazendo aqui? Alguns alegam que ele está su-butilizando as Escrituras, distorcendo o significado daquilo que Oseias escreveu a partir de seu contexto para aplicar em Yeshua. Essas acusações só são válidas se Mattityahu está lidando com o p’shat. Pois não existe dúvida de que o p’shat de Oseias 11:2 se aplica à nação de Israel, e não a Yeshua.

Alguns pensam que Mattityahu está utilizando a abordagem drash, fazendo uma midrash na qual ele lê o Messias no versículo que fala sobre Israel. Muitos rabinos lançam mão do mesmo procedimento; os leitores de Mattityahu não teriam se oposto a isso.

No entanto, acredito que Mattityahu não está fazendo exegese, mas nos dan-do uma remez, uma dica de uma verdade muito profunda. Israel é chamado de filho de Deus anteriormente, em Êxodo 4:22. O Messias é apresentado como filho de Deus alguns versículos antes em Mattityahu (1:18-25), refletindo passagens do Tanakh como Isaías 9:5-6 (6-7), Salmo 2:7 e Provérbios 30:4. Assim, o Filho é equi-valente ao Filho: o Messias é equivalente com, é um com, a nação de Israel. Essa é a verdade profunda sobre a qual Mattityahu dá dicas ao chamar a ida de Yeshua ao Egito de “cumprimento” de Oseias 11:1.

O fato de que o Messias Yeshua se posiciona e é intimamente identificado com seu povo, Israel, é um aspecto corporativo extremamente importante do evan-gelho, geralmente negligenciado no mundo ocidental individualmente orientado. O indivíduo que confia em Yeshua une-se a ele e é “imerso” (batizado; veja 3:1&N) em tudo o que Yeshua é (veja At 2:38&N), incluindo sua morte e ressurreição — para que sua propensão pecaminosa seja considerada morta e sua nova natureza, po-tencializada pelo Espírito Santo, seja então vivificada (Rm 6:3-6&N). De igual modo, assim como essa identificação íntima com o Messias se aplica ao individual, assim o Messias de modo idêntico se identifica com e incorpora o povo judeu, o Israel nacional, a “oliveira” na qual os cristãos gentios foram “enxertados” (Rm 11:17-24) e que ele pode, de modo plausível, se identificar com a comunidade messiânica, a Igreja, como “cabeça do Corpo” (1Co 11:3; Ef 1:10, 22; 4:15; 5:23; Cl 1:18, 2:19) e “pedra posta por cabeça de esquina” (abaixo em 21:42, Mc 12:10, At 4:11; Ef 2:20; 1Ke 2:6-7).

Leitores modernos da Bíblia, ao utilizar a “exegese histórico-gramatical”, ig-noram todos os modos de interpretação, exceto o p’shat, descontando como eise-gese. Essa é uma reação à tendência dos patriarcas da Igreja do século II ao VIII de exagerar na alegoria, um erro que provavelmente resultou de sua falta de compre-ensão das limitações, e assim do mau uso das outras três abordagens rabínicas dos textos. Mas o Novo Testamento é um livro judaico, escrito por judeus num contexto judaico; e os judeus no contexto do século I incluíram todas as quatro formas de lidar com textos. Mattityahu sabia perfeitamente que Oseias não estava se referin-do a Yeshua, a um Messias, ou mesmo a um indivíduo. Ainda assim, ele sentia que Yeshua, num modo profundo, mas recôndito, personifica Israel, sendo a sua vinda do Egito reinterpretada de um modo espiritualmente significativo o Êxodo do povo judeu. Uma vez que o remez e o p’shat têm pressuposições diferentes, alguém deveria esperar o cumprimento de uma profecia por intermédio do remez como sendo diferente do cumprimento literal. Em 1:23 e 2:6, o sentido literal e pleno do texto, o p’shat, é suficiente para demonstrar como as profecias são cumpridas, mas aqui não é.

A expressão “para cumprir o que Adonai tinha dito por meio do profeta” retira a nossa atenção do próprio profeta e a direciona para o Deus que falou por intermédio dele. Isso permite ao leitor compreender que Adonai pode ter dito mais do que aquilo que o próprio profeta compreendeu quando escreveu. Isso

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prepara para a possibilidade que por trás do p’shat de Oseias estava o remez de Deus, para ser revelado no tempo certo e dar credibilidade ao tipo de interpreta-ção “PaRDeS”.

O reconhecimento de que existem quatro modos de exegese judaica também resolve muito da controvérsia referente a como certas passagens do Tanakh devem ser interpretadas. Por exemplo, a maioria dos cristãos diz que Isaías 53 se refere ao Messias, e alguns (embora não todos) judeus tradicionais dizem que se refere a Israel. Porém se existe uma identificação mística entre o Messias e o povo cujo rei ele é (uma ideia exposta em bastante detalhes pelo conhecido teólogo cristão do século XX, Karl Barth, em seu livro Church Dogmatics [Igrejas dogmáticas]), então o conflito de interpretações desaparece; os dois reclamantes detêm sua parte da verdade total.

No entanto, a ideia de que o Messias personificado é identificado intimamen-te com um Israel é de origem judaica. Antes de tudo, nós a encontramos no próprio Tanakh. Compare Isaías 49:3 (“Você é meu servo, Israel, em quem mostrarei o meu esplendor”) com Isaías 49:6 (“Para você é coisa pequena demais ser meu servo para restaurar as tribos de Jacó e trazer de volta aqueles de Israel que eu guardei”). O servo é Israel e aquele que restaura Israel, o Messias. No capítulo 12 do livro de Raphael Patai The Messiah Texts [Os textos de Messias], ele cita Pesikta Rabbati 161-162, onde o Messias é chamado de Efraim (um nome que simboliza Israel) e ao mesmo tempo é apresentado como aquele que suporta os sofrimentos de Israel. De igual modo, a obra do século XIII que está no centro da abordagem mística judaica chamada kabbalah, o Zohar (2:212a), liga o sofrimento do Messias ao de Israel. Patai também conta a história do rabino do século XVIII, Nachman de Bratslav do vice-rei e da filha do rei, acrescentando que a maioria dos intérpretes compreende que o vice-rei representa tanto Israel quanto o Messias sofredor.

18 O p’shat deste versículo a partir de Jeremias não se refere ao Messias, mas ao massacre das tribos do norte de Israel pelos assírios. Contudo existe uma remez aqui da qual Mattityahu faz uso: o tradicional lugar de sepultamento da esposa de Ya’akov, Raquel, fica em Ramah, bem próximo de Beit-Lechem — atual-mente qualquer pessoa pode visitar “o sepulcro de Raquel”. Assim como Raquel em sua sepultura lamenta por sua posteridade, descendente de seu filho Yosef, da mesma maneira as muitas mulheres das proximidades de Beit-Lechem lamentam por seus filhos assassinados.

20-21 O que o Novo Testamento chama de Terra Santa? Não a Palestina, mas Eretz-Yisra’el, “a terra de Israel”. De igual modo as regiões do norte e do sul de Jerusalém são chamadas não de Oriente, mas “Y’hudah” e “Shomron” (Judeia e Samaria; ver At 1:8). O Novo Testamento, como os atuais israelitas, usa os nomes que a Bíblia hebraica utiliza, não aqueles atribuídos pelos romanos ou outros con-quistadores. Veja 5:5&N.

23 Este é um versículo problemático. A cada vez que Mattityahu demostra o cumprimento da profecia escritural (veja lista em 1:23N), um escritor específico — Isaías, Jeremias, David — é denominado de “o profeta” ou “o Tanakh”, seguido por um versículo ou uma passagem. Aqui, os profetas (unicamente plural) são men-cionados e nenhum texto é citado. Isso ocorre claramente pelo fato de Mattityahu deixar de fora a palavra-chave grega “legontos” (“dizer”), que ele usa para citar as Escrituras. Em vez disso, ele parece estar aludindo a um contexto geral encontrado em diversos profetas, capaz de ser cumprido pelo fato de o Messias ser o que o

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texto grego aqui chama de Nazôraios (em alguns outros lugares a palavra é “Na-zarenos”). As perguntas: que profetas? O que eles de fato disseram? E o que é um Nazôraios/Nazarenos?

Alguns já sugeriram que o versículo tem a ver com Yeshua fazendo os votos de nazireado (Números 6:1-23). Mas isso é improvável, uma vez que não há registro que Yeshua, que não era um ascético (11:16-19), tenha feito em algum momento tal coisa.

Uma segunda possibilidade é que, uma vez que Natzeret (Nazaré, ver Lc 1:26N) era um lugar sobre o qual as pessoas faziam piadas — como na observação de Natan’el “pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Yn 1:46) — Mattityahu está se referindo às muitas profecias do Tanakh que dizem que o Messias seria despreza-do (por exemplo, Salmo 22, Isaías 52:13-53:12) e nos informa que essas profecias seriam cumpridas, em parte, por ele ter que carregar o peso de ser um Natzrati, um residente de Nazaré.

A terceira possibilidade é que Mattityahu esteja falando sobre a previsão de que o Messias seria um netzer (“ramo”) da raiz de Yishai, o pai do rei David (Isaías 11:1); mas compare com Jeremias 23:5; 33:15; Zacarias 3:8; 6:12, em que a palavra é “tzemach” (“renovo”). Assim, muitos profetas usam a ideia, embora não a palavra “netzer”. (Para mais sobre “os profetas” veja 5:17N).

O que considero mais provável é que Mattityahu esteja combinando a segun-da e a terceira alternativas por meio de um jogo de palavras, uma técnica muito co-mum na escrita judaica, incluindo na Bíblia. Yeshua é tanto netzer quanto Natzrati.

Finalmente, embora um dos nomes iniciais para os crentes judeus fosse “Notzrim” (“Nazarenos”, ou seja “seguidores do homem de Nazaré”, Atos 24:5&N), seria estranho que Mattityahu usasse o mesmo termo para as pessoas que eles se-guiam. O Talmud refere-se a ele como Yeshu HaNotzri (B’rakhot 17b, Sotah 47a). No hebraico moderno, “Notzri” permanece sendo a palavra utilizada atualmente para “cristão”; mas é errado e confuso falar sobre “Yeshua, o cristão”, ou seja, o segui-dor de Cristo — ele não poderia seguir a si mesmo! A expressão do Talmud deveria ser compreendida como significando “Yeshua, o Natzrati, Yeshua de Natzeret”. Eu uso o termo “Natzrati”, em vez de “Notzri” (ambos são aceitáveis no hebraico mo-derno), para me afastar das conotações modernas de “Notzri” em hebraico.

caPítulo 3

1 Yochanan, o Imersor, normalmente chamado de “João Batista”. O nome “João”, assim como numerosas variantes em muitas linguagens — John, Jean, Juan, Jon, Ivan, Giovanni — vem do hebraico Yochanan, que significa “YHVH foi gracioso, demonstrou favor”.

Enquanto o verbo grego “baptizein” é a fonte das palavras em português “batizar” e “Batista”, sua raiz significa “mergulhar, encharcar, imergir” num líquido para que aquilo que foi mergulhado — por exemplo, tecido em corante, ou couro em corante.

Mas para entender o que “baptizein” significa aqui é necessário buscar o entendimento a partir do judaísmo. De acordo com a Torá, a pessoa precisava ser purificada por rituais antes de entrar no Tabernáculo ou no Templo. A pureza ritual poderia ser perdida de muitas maneiras; o modo principal de restaurá-la era por meio da lavagem. Uma rápida revisão de Levítico mostra quão frequentemente o assunto é mencionado, e uma das seis maiores divisões do Talmud (Taharot, “Limpezas”) é devotada a isso. Muito embora não exista mais o Templo, as mulhe-

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res judias praticantes imergem-se num mikveh (banho ritual) após cada período menstrual, em obediência a Levítico 15; veja JM 13:4N.

Uma pessoa que se imerge participa de uma metáfora óbvia e viva de purifi-cação, com a água, como era feito, levando embora a impureza. Aqui, Yochanan, o Imersor proclama a velha prática da imersão num novo contexto, limpando de uma vida passada de pecado (veja vv. 2&N, 6, 11).

Atualmente, o ritual de batismo em alguns ramos do cristianismo não en-volve completa imersão do corpo na água, mas o derramamento ou a aspersão. Alguns acadêmicos acreditam que pelo menos em algumas circunstâncias, mesmo nos batismos do Novo Testamento, deve ter havido derramamento ou aspersão, e não imersões; versículos tais como Ezequiel 36:25 (JM 10:22) e Lc 3:16 com At 2:17-18; 10:45 são mencionados como apoio. As várias denominações “Batistas” expandiram-se a partir de um movimento nos séculos XVI ou XVII que pregava imersões completas dos crentes, em oposição ao derramamento ou à aspersão de água batismal em crianças que ainda não tinham consciência o suficiente para de-cidir se se tornariam ou não cristãs.

O judaísmo tradicional desenvolveu sua própria teologia do batismo cristão. Talvez porque uma forma de batismo (completa auto-imersão num mikveh) seja re-querida em determinado momento quando um não-judeu se converte ao judaísmo. Esse último tem tradicionalmente compreendido o batismo cristão como sendo um momento em que um judeu se retira da comunidade judaica e adota uma reli-gião estrangeira em oposição ao judaísmo e ao povo judeu. Devido a essas falsas associações que se tornaram ligadas à palavra “batismo” na comunidade judaica, o texto do NTJ usa a palavra descritiva mais correta “imersão” em seu lugar.

2 Voltem-se de seus pecados para Deus. A língua portuguesa tem uma pequena palavra perfeita para expressar essa ideia, “arrepender”, mas no origi-nal a ideia expressa é, literalmente, “desviar-se dos seus pecados e ir para Deus”. Assim, voltei ao original de modo a encontrar o sentido inicial. A palavra grega “metanoiete”, relacionada a “nous” (“mente”), significa “mudar a sua mente, ter uma completa mudança de coração”. O conceito hebraico sublinhado é expresso pela palavra “t’shuvah” (“virar-se, retornar”), que, no contexto do comportamento religioso, significa “virar-se” para os pecados de alguém e “retornar” para Deus. Percebo que não existe apenas uma “de”, mas um “para”, pois virar-se dos pecados de alguém é impossível, a menos que ao mesmo tempo alguém retorne para Deus — de outro modo, a pessoa simplesmente desvia-se de um grupo de pecados para outro. A compreensão judaica de arrependimento, correta neste ponto, é a de que cada indivíduo precisa fazê-lo, ainda assim, isso requer a graça de Deus para que seja capaz de realizar isso — “Converte-nos a ti, Adonai, e seremos convertidos; renova-nos e seremos como dantes” (Lamentações 5:21).

Não é sem sabedoria que um judeu criado com pouco conhecimento do ju-daísmo e que depois adota um estilo de vida judaico ortodoxo é chamado de um “ba’al-t’shuvah”, literalmente, um “mestre do arrependimento”, ou seja, alguém que foi “desviado” de seus modos não-observantes e “converteu-se” numa tentati-va de servir a Deus do modo prescrito pelo Judaísmo Ortodoxo. O desejo de meu coração é o de que todos os judeus se tornem “ba’alei-t’shuvah” por intermédio de Yeshua, o Messias e de que todos os cristãos tornem-se verdadeiramente arrepen-didos também (1Yn 1:9).

Aqui, a mensagem de Yochanan é idêntica à de Yeshua em 4:17.Reino do Céu. A palavra “céus” era utilizada numa tentativa de evitar a

palavra “Deus” (veja 1:20N); e até os dias de hoje, a expressão hebraica malkhu-

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t-haShammayin (“o reino dos céus “) na religião substitui na literatura religiosa judaica “Reino de Deus”, uma expressão frequentemente encontrada no Novo Tes-tamento, primeiro em 6:33. No Novo Testamento Judaico, “Céus” vem em maiús-cula quando se refere a Deus; e em minúscula quando se refere ao céu físico ou ao paraíso.

Tanto em Yochanan quanto na pregação de Yeshua (4:17), a razão para a urgência do arrependimento é que o Reino do Céu está próximo. O conceito do reino de Deus é crucial para compreender a Bíblia. Ele não se refere a um lugar nem a uma época, mas a uma condição na qual a liderança de Deus é reconhecida pela humanidade, e uma condição na qual as promessas de Deus de um universo restaurado, livre do pecado e da morte, são, ou começam a ser, cumpridas.

Em relação ao reino de Deus, a História pode ser dividida em quatro perío-dos: antes de Yeshua, durante sua vida, a era presente (o ‘olam hazeh) e a era futura (o ‘olam haba). Havia uma percepção na qual o reino estava presente anteriormente ao nascimento de Yeshua; de fato, Deus era rei sobre o povo judeu (veja 1Samuel 12:12). A chegada de Yeshua trouxe um salto na expressão terrena sobre o reino, “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).

O Novo Testamento ensina duas coisas aparentemente contraditórias sobre o reino de Deus: que ele está próximo ou presente (este versículo, 4:17; 12:34; Lc 17:21), e que ele ainda está por vir (24:1; Yn 18:36; At 1:6-7). O teólogo George Ladd esclareceu e resolveu esse conflito ao chamar o seu livro sobre o reino de Deus de “The presence of the future” [A presença do futuro].

Hoje o reino de Deus vem imediata e verdadeiramente — mas de forma parcial — para todos aqueles que depositam sua confiança em Yeshua e sua men-sagem, comprometendo-se assim a viver a vida santa que o governo de Deus de-manda. Como um exemplo da “parcialidade”, eles têm paz em seu coração, muito embora não exista paz no mundo. Entretanto, no futuro, no final da história da era presente, quando Yeshua retornar, ele vai inaugurar o reino verdadeira e comple-tamente (Rv 19:6); então Deus cumprirá o resto das suas promessas sobre o reino.

Um dos estudos espirituais mais profundos que uma pessoa pode realizar na Bíblia é a respeito do reino de Deus tanto no Tanakh quanto no Novo Testamento.

3 Esta citação inicia a segunda parte do livro de Isaías (capítulos 40-66), que oferece conforto a Israel e contém muitas referências ao Messias. A voz de alguém clama: ‘no deserto’ é Yochanan, identificado em espírito com o profeta Elias; veja Mc 1:2-3N.

A voz de alguém clama: ‘no deserto, preparem o caminho do Adonai!’ A maioria das traduções, bem como as primeiras duas edições do NTJ, diz que aque-le que clama está no deserto. Todavia isso está errado; é possível perceber o erro ao examinar as marcas de pontuação/cantilação no texto hebraico massorético de Isaías. Ele demonstra que “no deserto” combina com “preparai o caminho”, e não com “alguém clamando”. Assim, o correto seria “a voz do que clama: ‘no deserto preparai o caminho de Adonai’”. Embora essas indicações não sejam inspiradas por Deus, indicam como o texto foi lido e compreendido na época em que foram acrescentadas (não depois do século VIII E.C.); e sem uma razão positiva para com-preender o texto de forma diferente, é melhor assumir que estas marcas estejam corretas.

4 Pelos de camelo era um tecido grosso e áspero usado pelos pobres que não podiam usar roupas de lã. Enquanto os ricos podiam pagar cintos ornamentais,

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um pobre usava um cinto de couro. Assim, Yochanan, como muitos profetas antes dele, identificava-se com os pobres. Mas o cinto de couro também faz uma associa-ção com Elias (v. 3N, 2Reis 1:8).

Gafanhotos. Levítico 11:21-22 menciona quatro espécies de insetos que po-dem ser comidos. Mishma Chullin 3:7 define as características dos insetos kosher e, no Gemara, Chullin 65a – 66a analisa extensamente essas regras. Insetos eram comida para os pobres na época de Yeshua; os beduínos os cozinham e comem até os dias de hoje, assim como fizeram os judeus no Iêmem antes que aquela comunidade fosse removida para Israel pela Operação Tapete Voador, em 1950. Mel silvestre. Provavelmente mel de tâmaras, porque os oásis perto de Jericó são conhecidos por produzir tâmaras naquela época e agora, e abelhas não vivem no deserto (essa expressão foi corrigida desde edições anteriores). Esse versículo nos fala que Yochanan vivia fora do hábito econômico normal do país, para que pudesse ser totalmente devotado à sua tarefa profética.

6 Confessando seus pecados. A palavra grega exomologeô, significa ‘’con-cordar, admitir, reconhecer, declarar publicamente, confessar”, literalmente, “dizer a mesma coisa”. No caso da conversão dos pecados, alguém está dizendo sobre eles a mesma coisa que Deus diz, reconhecendo as obras erradas que foram praticadas, desejando declarar publicamente a tristeza, a culpa e o desejo de mudar. No Yom Kipur (Dia do Perdão) e em outros dias de jejum, s’lichot (orações de penitência) são feitas, o que pode ajudar as pessoas que estão orando com kavvanah (intenção, devoção) a admitirem seus pecados e concordarem com a opinião de Deus sobre eles. Veja Yn 1:9&N; Ya 5:16&N.

Pecados. Nós vivemos numa época em que muitas pessoas não sabem o que é o pecado. O pecado é a violação da Torá (1Yn 3:4), a transgressão da lei que Deus deu a seu povo para ajudá-lo a viver uma vida de acordo com seus desejos e ao mesmo tempo ser santo e agradável a Deus. Na assim chamada Era do Iluminismo, dois ou três séculos atrás, a noção de relativismo moral começou a ganhar espaço nas sociedades ocidentais. Sob a sua influência, as pessoas descartavam o conceito de pecado, considerando-o irrelevante. Segundo esse ponto de vista, não existem pecados, apenas doenças, azares, erros e as consequências da influência do meio ambiente, da hereditariedade e de aspectos biológicos (terminologia ocidental) ou do destino ou karma (oriental). De modo alternativo, reconhece-se que o pecado existe, mas apenas como definido na cultura de alguém — relativismo cultural que nega o conceito bíblico de pecado como o errado absoluto.

Muito da Bíblia preocupa-se em explicar o que é o pecado, qual é o salário do pecado e como podemos evitar essa punição e ter nossos erros perdoados. Além disso, mostra como podemos viver uma vida santa, livre do poder do pecado, agra-dando a Deus e a nós mesmos. Veja o livro de Rm, especialmente 5:12-21N.

7 P’rushim e tz’dukim (plural; singular parush, tzadok), “fariseus e sadu-ceus”. Na época de Yeshua existiam duas principais opiniões do que era a situação religiosa. Em 586 a.E.C., a Babilônia conquistou a Judeia e Jerusalém, derrubou o Primeiro Templo, que o rei Salomão tinha construído, e deportou as classes gover-nantes para a Babilônia. Com o Templo, os sacrifícios e o kohanim não funcionan-do mais, os judeus no exílio, e depois de seu retorno, 70 anos depois, buscaram outra forma de se organizar e pela qual pudessem centrar sua vida comunal. Eles a encontraram na Torá (a “Lei”, veja 5:17N), como pode ser visto no relato sobre a leitura da Torá por Esdras (Neemias 8). Os antigos estudantes, desenvolvedores e mantenedores da Torá parecem ter sido da casta sacerdotal hereditária — o pró-

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prio Esdras era um kohen e um sofer (“escriba”). Mas depois, na medida em que os kohanim voltaram a se preocupar com o sistema sacrificial como ele se desen-volveu durante o período do Segundo Templo, um movimento que apoiava a Torá e favorecia sua adaptação às necessidades do povo surgiu e tornou-se um desafio para a autoridade dos kohanim. Os kohanim do século I E.C. eram conhecidos como tz’dukim, em homenagem ao kohen gadol, apontado como pelo rei Salomão Tzadok (seu nome significa “justo”; compare 6:1-4&N; 13:17&N).

Nesse meio tempo, sob a autoridade dos Macabeus no século II a.E.C., aque-les cuja principal preocupação não eram os sacrifícios, porém a Torá, eram cha-mados de Hasidim (é certo que pelo nome, que significa “piedosos”, não havia conexão. Entre eles há muitas comunidades de judeus ortodoxos que seguem os ensinamentos divulgados pelo talmidim do mestre da Europa oriental e místico do século XVII, conhecido como o Ba’al Shem Tov.). Os sucessores dos Hasidim eram conhecidos como p’rushim, que significa “separados”, porque eles se separavam do modo mundano para não fazer o mesmo que as pessoas faziam. Esses p’rushim não apenas assumiram que o Tanakh era a palavra de Deus para o homem, mas também consideraram que a tradição acumulada ao longo dos séculos pelos sábios e mestres era também a palavra de Deus — a Torá Oral — de modo que se desen-volveu um sistema de viver que tocava em cada aspecto da vida.

Nos dias de Yeshua, os tz’dukim tendiam a ser mais ricos, mais céticos, mais carnais e cooperavam mais com os governantes romanos do que os p’rushim. No entanto, a destruição do Segundo Templo em 70 E.C., terminou com a viabilidade dos tz’dukim, ao destruir o pragmatismo de sua responsabilidade de chefia; e a tradição que eles podem ter desenvolvido foi, em sua maioria, perdida. Veja At 23:6&N.

Os p’rushim e seus sucessores tornaram-se livres para desenvolver melhor sua própria tradição herdada e transformá-la no centro de gravidade para a vida judaica em todos os lugares. Eventualmente, devido à dispersão do povo judeu, que separou muitos do fluxo vivo da tradição, esse material Oral foi coletado e es-crito no Mishna (220 E.C.) sob a coordenação editorial de Y’hudah HaNasi (“Judá, o Príncipe”). As discussões rabínicas sobre o Mishna durante os dois ou três séculos seguintes na terra de Israel e na Babilônia foram coletadas para formar os Gemara de Jerusalém e da Babilônia. Combinados com o Mishna, eles constituem os Tal-muds de Jerusalém e da Babilônia.

Séculos de pregação cristã tornaram a palavra em português “fariseu” pra-ticamente um sinônimo para “hipócrita” e “legalista teimoso” — testemunha para isso é a inclusão de sentido de “farisaico” em muitos dicionários.

Enquanto é verdade que o próprio Yeshua acusou “ai de vós, mestres da Torá e p’rushim, hipócritas, pois que fechais aos homens o reino dos céus” (veja o capítulo 23 e 23:13N), os cristãos frequentemente esquecem que essas palavras duras foram dirigidas num contexto familiar — um judeu criticando alguns de seus colegas judeus. Uma espiada em qualquer jornal comunitário judaico moderno vai mostrar que os judeus ainda são críticos com relação uns aos outros e desejam manter esse espírito de criticismo — reprovar e repreen-der são comportamentos normais e aceitáveis em muitos assentamentos judeus. No entanto, Yeshua não condena seus companheiros judeus pelo fato de serem fariseus, mas sim por serem hipócritas — o primeiro não implica no segundo. Mais ainda, a crítica de Yeshua não era dirigida a todos os p’rushim, mas ape-nas àqueles que eram hipócritas. Enquanto alguns fariseus não eram sinceros e tinham preocupações exacerbadas com aspectos exteriores, outros não estavam “longe do reino de Deus” (Mc 12:34), e alguns se tornaram seguidores de Yeshua

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sem deixar de ser p’rushim (At 15:5). De fato, Sha’ul disse diante do Sanhedrin “Homens irmãos, eu sou Parush” — eu “sou”, e não “era” (At 23:6).

Devido às associações negativas subconscientes que a maioria das pessoas tem com a palavra em português “fariseu”, o NTJ usa em seu texto as palavras hebraicas originais “Parush” (singular) e “p’rushim” (plural) e, em nome do parale-lismo, substitui “tzadok/tz’dukim” por “saduceu/saduceus”.

Raça de víboras! Yochanan teve o discernimento de que aqueles fariseus e saduceus em particular (veja os parágrafos acima) não eram sinceros. Se eles eram diletantes e estavam analisando a mais recente novidade religiosa ou se eram en-viados de Jerusalém, encarregados de investigar as atividades de Yochanan, não fica claro. Lucas 7:28-32 sugere a primeira opção, Mt 21:23-27, a segunda. De qual-quer modo, os religiosos daquela época não aceitaram o ministério de Yochanan.

Punição futura, literalmente, “a ira que viria”. Fala-se sobre a ira de Deus aqui e frequentemente no Novo Testamento como a ira, enfatizando o quão certa-mente — alguém pode até dizer o quão automaticamente — a ira de Deus deve se-guir o pecado. Assim como a lei física da gravidade torna certo que a consequência automática de pular de um edifício alto seja a destruição física, a lei moral de Deus sobre o pecado deixa certo que a consequência automática de persistir em pecados é a destruição espiritual eterna na ira divina.

9 Não suponham poder consolar a si mesmo, dizendo: ‘Avraham é nosso pai!’. O acadêmico judeu messiânico, Alfred Edersheim, escreveu:

“Eles imaginaram que, de acordo com a noção comum na época, a ira era derramada apenas sobre os gentios, enquanto eles, como filhos de Abraão, certamente iriam escapar — nas palavras do Talmud, aquela ‘noite’ (Isaías 21:12) era ‘apenas para as nações do mundo, mas o lamento de Israel’ (Jere-mias Ta’anit 64a)?“Pois, nenhum princípio foi mais plenamente estabelecido na convicção po-pular de que todo Israel tinha parte no mundo futuro (Sanhedrin 10:1 [citado em Romanos 11:26aN]) e isso especificamente devido à sua conexão com Abraão” (The Life and Times of Jesus the Messiah, [A vida e a época de Jesus de Nazaré]. RANDOLPH, Anson D.F. and Company, 2a ed. Vol. I, p. 271, New York,1884).

Deus pode fazer surgir filhos a Avraham destas pedras!, assim como ele levantou Isaque no altar de pedra numa ressurreição figurativa; compare JM 11:19&N. A frase em português “filhos... destas pedras” é uma tentativa de pre-servar por meio de aliteração do jogo de palavras em hebraico que o texto grego ignora. “Filhos” em hebraico é banim, “pedras” está escrito abanim (pronuncia-se avanim). Uma possibilidade menos provável é que “destas pedras” signifique “des-tes montinhos de terra, estas ‘am-ha’aretz” (veja Yn 7:49N; At 4:13N). O jogo de palavras vem sendo comum no discurso judaico desde as épocas antigas até os dias de hoje, com muitos exemplos no próprio Tanakh; veja 2:23N.

11-12 Fogo. Alguns comentaristas enxergam isso como um fogo purifica-dor que vai eliminar a maldade do povo judeu, segundo as linhas estabelecidas em Malaquias 3:19-21 (4:1-3) e Salmo 1:6 (“o caminho dos ímpios perecerá”); veja Rv 20:15. O mesmo Salmo também compara os ímpios com moinha (Salmo 1:4). Outros admitem que a passagem seja um entusiasmo pela santidade, estando em fogo por Deus.

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Ele os imergirá no Ruach HaKodesh, o “Espírito Santo”, o Espírito de Deus. Uma promessa feita pelo próprio Yeshua (Lc 24:49; Yn 15:26; 16:13-14; At 1:8); seu cumprimento começa em At 2:1ff.

15 Devemos realizar tudo o que a justiça exige. O próprio Yeshua não ti-nha que ser imerso por seus pecados, porque ele não cometeu nenhum (JM 4:15). Alguns sugeriram que ele estava se identificando plenamente com a humanidade pecadora, que necessitava de purificação (veja 2:15N; Rm 8:3&N; Fl 2:6-8). Sobre o que a justiça de Deus exige, veja Rm 3:24-26.

16 Alguns antigos manuscritos acrescentam após “abriram”, a expressão “para ele”.

17 Voz do céu ou bat-kol; veja Yn 12:28&N; At 9:4N. “Céu” aqui tem um sig-nificado duplo — (1) o céu, (2) Deus; veja v. 2N.

Este é meu Filho a quem amo. Enquanto a verdade que todos, de certo modo, são filhos de Deus, Yeshua o é de um modo único — seu “único “(ou “uni-gênito”) filho (Yn 1:18&N). Duas outras passagens vêm à nossa mente: uma na qual se refere a Adão como sendo filho de Deus (Lc 3:23), e Salmo 2:7, “Adonai me dis-se: tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. Combinado com 1Co 15:45, no qual Yeshua é chamado de “o último Adão”, e Rm 5:12-21, onde Yeshua e Adão também são comparados, esses textos nos mostram que ao pensar na pessoa e no ministério de Yeshua, é preciso manter Adão em mente. Isso é especialmente importante nos versículos a seguir, nos quais Yoshua, assim como Adão, é tentado pelo Adversário, Satanás. Veja também v. 15N.

Tenho muito prazer nele. A linguagem é reminiscente de Isaías 42:1, uma das passagens sobre “Servo”; Isaías 42:1-4 é citado abaixo (12:18-21); veja também 17:5. As passagens sobre “Servo” às vezes se referem ao povo de Israel, e às ve-zes ao Messias, um fato que fortalece a questão estabelecida em 2:15N, pelo qual Yeshua, o Messias representa e apoia todo o povo judeu.

caPítulo 4

1 Adversário. A palavra grega diabolos é traduzida do hebraico satan, “ad-versário, oponente, rebelde”. Em Isaías 14:11-15, nas entrelinhas de uma referência ao rei da Babilônia, pode-se ler sobre a queda de uma criatura que certa vez foi poderosa e bela, mas que em seu orgulho se rebelou contra Deus e tornou-se o oposto dele; Ezequiel 28:11-19 é similar. Por outro lado, Jó 1-2 é claro ao apre-sentar Satanás como o oponente tanto de Deus quanto do homem. Em Gênesis 3, como serpente, ele tenta Adão e Eva a desobedecerem a Deus; a equivalência entre o Adversário e a serpente fica clara em Rv 12:9, que diz “o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo”. Satanás é uma criatura, de modo algum é igual a seu Criador; ainda assim ele é a fonte original de todo pecado, mal e oposição a Deus. O livro de Jó ensina que a razão pela qual um Deus bom e onipotente permite essa oposição é um mistério, mas que Deus permanece no controle perfeito e sem comparação. Isso nós vemos muito clara-mente em Jó 40-41, em que “Beemote” e “Leviatã” são vistos como figuras do Ad-versário, pois quando Deus desafia Jó para lidar com elas, ele responde: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:6). Tanto o Tanakh quanto o Novo Testamento assumem a existência de uma ação sobrenatural de anjos bons e

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obedientes, que servem a Deus, e de anjos (demônios) maus e rebeldes, que servem ao Adversário.

3 Filho de Deus. (veja 1:1N sobre “filho de”). Esse termo teologicamente importante do Novo Testamento pode significar: (1) uma pessoa de Deus (sem tons divinos ou sobrenaturais); (2) uma pessoa especial enviada por Deus; (3) o Filho de Deus na carne, como descrito nos capítulos 1-2 acima e em Lucas 1-2; (4) um humano cuja presença na Terra exigiu um ato criativo especial de Deus, seja Adão ou Yeshua, que assim é chamado de “o segundo Adão” (Lc 3:38; Rm 5:12-21; 1Co 15); (5) o Yeshua que pode em sua vida terrena se relacionar com Deus como seu Pai legítimo, chamando-o de “Abba”; e (6) o indivíduo, ou a Palavra, divino, eternamente existente, que sempre esteve e sempre estará dentro da “estrutura” interior de Adonai e, na estrutura que é o único Deus, é em sua essência o Filho no relacionamento tanto equivalente quanto subsidiário com o Pai (Yn 1:1-3, 14; 10:31; 14:9-10, 28; Filipenses 2:5-11). Aqui, vindo da boca do Adversário, provavelmente carrega todos os seis significados.

O Tanakh é pouco claro sobre essas coisas, ainda assim oferece fortes r’ma-zim (“dicas”; veja 2:15N) em Isaías 9:5-6 (6-7); Miqueias 5:1 (2); Salmo 2:7; Provér-bios 30:4 e Daniel 7:13. Na antiga literatura judaica, Enoque 105:2 e 4 Esdras 7:28-29, 13:32-52, 14:9 referem-se ao Messias como o Filho de Deus. Compare 8:20N sobre “filho do homem”.

4-10 O Tanakh, o Antigo Testamento — mencionado como “Escritura” ou “está escrito” na maioria das traduções. A palavra hebraica “Tanakh” é um acrôni-mo formado a partir das primeiras letras das três partes da Bíblia Hebraica:

1) Torá (“Ensinamento”) — os cinco livros de Moisés, ou Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio).

2) N’vi’im (“Profetas”) — os livros históricos (Josué, Juízes, Samuel e Reis), os três Profetas Maiores (Isaías, Jeremias e Ezequiel) e os 12 Profetas Menores.

3) K’tuvim (“Escritos”) — Salmos, Provérbios, Jó, os “cinco rolos” (Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester), Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

Se você é o Filho de Deus. Satanás apresenta a Yeshua cada uma das três categorias de tentações especificadas por Yochanam (1 Yn 2:15-17): “a concupis-cência da carne” ou “carne” (Rm 7:5&N) — “Se você é o Filho de Deus, ordene que estas pedras se transformem em pães”; “a concupiscência dos olhos” — o Adver-sário (...) mostrou-lhe todos os reinos do mundo em toda a sua glória, e lhe disse: “Se você se ajoelhar e me adorar, eu lhe darei tudo isto.”; “e a soberba da vida” — o diabo o transportou à cidade santa, Jerusalém, o colocou sobre o pináculo do Templo, e disse-lhe: “Se você é o Filho de Deus” disse, “pule!”.

Satanás já estava utilizando os três tipos de tentações no Jardim do Éden: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer” (concupiscência da car-ne), “e agradável aos olhos” (concupiscência dos olhos), “e árvore desejável para dar entendimento” (soberba da vida), “tomou do seu fruto, e comeu” (Gênesis 3:6).

A diferença é que “o primeiro homem” não resistiu ao Adversário (Ya 4:7), mas “o último homem” resistiu (Rm 5:12-21&N; 1Co 15:21-22; 45-49&NN; JM 4:15). Yeshua, demonstrando o poder da Palavra de Deus ao resistir ao Adversário (Ya 4:7), cita a Torá como resposta para todas as três tentações — Deuteronômio 8:3 no v. 4, Deuteronômio 6:16 no v.7 e Deuteronômio 6:13 no v. 10. Mas Satanás, “o pai

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da mentira” (Yn 8:44), pode deturpar as Escrituras para enganar — Salmo 91:11-12 no v.6.

12 Veja 14:3ff.

13 K’far-Nachum (Cafarnaum; o nome hebraico significa “vila de Naum”) ficava localizada na praia noroeste do lago Kinneret (o mar da Galileia; veja v.18N), o local de muitas das atividades de Yeshua, como descrito no Novo Testamento. Agora é um parque arqueológico supervisionado pela Igreja Católica Romana e re-ferências para excursões cristãs em Israel. Para uma estrutura octogonal bizantina do século V em meio a ruínas mais antigas atribui-se o fato de ter sido o local em que Kefa viveu (8:14); se assim foi, as ruínas mais antigas devem ser parte das pri-meiras construções das congregações de judeus messiânicos. As paredes de uma sinagoga do século IV ainda permanecem de pé.

15 Isaías 8:23-9.1 (9:1-2). Veja Lc 1:79N.

18 Lago Kinneret é o nome utilizado em Israel para o conjunto de água fres-ca formado pelo rio Yarden (Jordão), em Galil (Galileia); é chamado assim devido ao seu formato semelhante ao de uma harpa (kinnor, em hebraico antigo). Versões em português da Bíblia o identificam como o mar da Galileia; em Yn 6:1, 23 e 21:1 o texto grego o chama de “o mar de Tiberíades”.

Kefa é o nome que Yeshua deu para Shim‘on Bar-Yochanan (Yn 1:42&N); significa “pedra”, em aramaico. A palavra grega para “pedra” é “petros”, que é nor-malmente traduzido para o português como “Pedro”. Ocasionalmente, em vez de traduzir “Kefa” como “Petros’’, o texto grego translitera “Kefa” como “Kephas”; isso aparece nas versões em português como “Cefas”“.

21 Ya‘akov Bem-Zavdai e Yochanan, normalmente chamados de “Tiago, fi-lho de Zebedeu, e João”. Falantes de português normalmente desconhecem o fato de que o nome “Tiago” vem do hebraico “Ya‘akov” (“Jacó”). “Ya‘akov” foi translite-rado no grego como “Iacobou”; no latim tornou-se “Iacobus” e depois “Jacomus”, de quem evoluiu para o inglês “James” e para o português “Tiago”. O nome “Tiago”, aparentemente gentio, demonstra suas raízes judaicas, como vimos acima, no caso com o nome “João” (3:1N).

23 Boas-novas do Reino é a tradução do NTJ do grego evangelion, que dá ao português palavras como “evangelismo”. Outro significado para a palavra em português seria “boas-novas”.

24 Sob o poder de demônios. A palavra grega daimonizomenoi, às vezes, é traduzida como “demoníacos” ou “pessoas possuídas por demônios”. Como ressal-tado em 4:1N acima, a Bíblia assume a existência de um mundo espiritual. De acor-do com o Novo Testamento, demônios — também chamados de espíritos imundos ou malignos, espíritos mentirosos ou anjos do maligno — podem afetar as pessoas, provocando nelas doenças físicas, aberrações mentais, moléstias emocionais e ten-tações morais. “Endemoninhado” significa “afetado por demônios”. A “possessão” ou “posse” de um ser humano por demônios não é ensinada na Bíblia.

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caPítulo 5

1 Talmidim (plural; singular talmid), “discípulos”. A palavra portuguesa “discípulo” falha em transmitir a riqueza de relacionamento entre o rabino e seus talmidim no século I E.C. Mestres, tanto os itinerantes quanto Yeshua e os estabe-lecidos em um lugar fixo, atraíam seguidores que, de todo coração, se dedicavam a seus professores (embora não de modo impensado, como acontece atualmente em algumas seitas). A essência do relacionamento era a confiança em cada área da vida, e seu objetivo era fazer o talmid como seu mestre em conhecimento, sabedo-ria e comportamento ético (compare 10:24-25 e veja a referência no glossário do NTJ em talmid).

3 Os capítulos 5-7 constituem o Sermão do Monte. Compare o Sermão de Lucas 6:20-49&N, em que muitos dos mesmos tópicos são tratados, de certo modo, diferentes. Por exemplo, onde Lc 6:20 simplesmente diz “Bem-aventurados vós, os pobres” (compare com Lc 6:24), o v.4 diz a mesma coisa dos pobres em espírito, aqueles que têm a atitude humilde, dependente, vulnerável das pessoas pobres, mesmo se acontecer de elas serem ricas.

Quão abençoados. A palavra grega makarios corresponde à hebraica asher, que significa “abençoados”, “felizes” e “afortunados” em um mesmo termo, assim nenhuma palavra em português seria adequada. Para um exemplo em hebraico, compare com Salmo 144:15: “Bem-aventurado/abençoado/feliz/afortunado é o povo cujo Deus é Adonai”. Os versículos 3-12 são conhecidos como as beatitudes porque a palavra “beatos” foi usada na mais conhecida versão latina, a “Vulgata” de Jerônimo (c. 410 E.C.), para traduzir “makarios”. Para saber mais sobre as beatitu-des, veja o Apêndice, p. 905.

Reino do Céu. Veja 3:2N.

5 Quão abençoados são os pacíficos! Porque eles herdarão a terra!. Ou será que eles, como dizem outras versões, “herdarão a Terra”? Os cristãos frequen-temente pensam que, uma vez que o Evangelho é para toda a humanidade, Deus não está mais interessado em Israel como uma nação (muito embora 23:37-39&N prove o oposto). Esse erro — conhecido variavelmente como teologia da Reposição, teologia do Domínio, teologia do Reino Agora, teologia da Aliança (em algumas de suas formas), Reconstrucionismo e (na Inglaterra), Restauracionismo — com suas implicações antissemitas, está tão disseminado que passagens do Novo Testamen-to são até mesmo traduzidas de forma equivocada em conformidade com ele (veja Rm 10:1-8&NN para observar outra passagem). O versículo aqui estudado é uma dessas passagens. A maioria das versões informa ao leitor que “os mansos”, presu-mivelmente todos os mansos, de todas as nações, “herdarão a Terra”, governando todo o planeta. Enquanto os crentes retornarão para governar com o Messias na sua Segunda Vinda (1Ts 4:13-18, Rv 20), aqui Yeshua está citando o Salmo 37:11, em que o contexto deixa claro que “os mansos” se refere aos mansos de Israel, que, segundo as promessas de Deus, “herdarão a terra”, a terra de Israel, que Mattityahu mencionou anteriormente (2:20-21&N).

Embora a palavra grega gê possa significar tanto “Terra” quanto “terra”, no Salmo 37 a palavra hebraica “eretz” significa “terra” (e não “Terra”) não menos de seis vezes: aqueles de Israel que confiarem em Adonai vão “habitar na terra (v.3); e aqueles de Israel que esperarem em Adonai (v.9) são mansos (v.11 citado aqui), são abençoados por Adonai (v.22), são justos (v.29) e guardam o seu caminho (v.34) vão

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“herdar a terra”. O termo “herdar”, no Tanakh, se refere à herança de Deus para o povo judaico, que inclui adicionalmente a elementos espirituais, não toda a Terra, mas um pequeno território específico na costa leste do mar Mediterrâneo.

Como o evangelho é universal, e devido à falsa teologia que ensina que Deus não está mais interessado nos judeus como uma nação, os cristãos têm a tendência de supor que o Novo Testamento de algum modo cancela a promessa de Deus de dar ao povo judeu a terra de Israel. A oposição ao atual Estado de Israel por parte dos cristãos é baseada nessa falsa presunção. Para combater esse erro é importante que judeus e cristãos igualmente compreendam que o Novo Testamento não altera nenhuma das promessas de Deus para o povo judeu; as promessas literais de Deus não são de modo algum espiritualizadas a partir da existência “em Cristo”. Veja mais material sobre o assunto no Apêndice, p. 905.

Dezoito vezes no Novo Testamento a expressão grega “ê gê” se refere à terra de Israel. Como mencionado, duas são explícitas — Mattityahu chama a Terra Santa de “Eretz-Israel” duas vezes (Mt 2:20-21&N). Quatro são citações do Tanakh — aqui (Salmo 37:11), Mt 24:30 e Rv 1:7 (Zacarias 12:10,14) e Ef 6:3 (Deuteronômio 5:17). Cinco são baseadas no Tanakh sem serem citações — Lc 4:25 e Ya 5:17,18 (1 Reis 17:1; 18:1, 41-45), JM 11:9 (Gênesis 12,13,15, 20, 23) e Rv 20:9 (Ezequiel 38-39). As oito restantes são percebidas pelo contexto — Mt 5:13, 10:34, 27:45; Mc 15:33; Lc 12:51, 21:23, 23:44; Rv 11:10). Como os teólogos da Reposição alegam que Deus não promete mais a Terra de Israel para os judeus, é importante ver que o Novo Testamento ainda dá a posse da terra de Israel física pelos judeus um lugar signi-ficativo no plano de Deus.

Para mais informações sobre a teologia da Reposição e suas refutações veja as notas em Mt 24:34; Lc 21:24; At 1:6-7, 21:21; Rm 2:28-29; 11:1-32, 11-12, 13-32, 23-24, 28-29; 2Co 1:20; Gl 6:16; Ef 2:11-16. Veja também meu Manifesto judaico messiânico.

13-14 Os crentes judeus são sal, algo que preserva a terra de Israel (veja v. 5N), ou seja, para o povo judeu, e luz do mundo para os gentios, como ensinado em Isaías 49:6. Deus estabelece uma “aliança de sal” (Números 18:19), que é aplicada ao rei David e aos seus descendentes — ou seja, ao Messias — em 2 Crônicas 13:5.

Os judeus que creem no Messias são o remanescente justo (Rm 11), por amor a quem Deus preserva Israel e o mundo. Para mais informações sobre sal veja Lc 14:34-35&N, Cl 4:5-6&N. Às vezes, judeus-messiânicos israelenses sentem que não são parte da comunidade judaica “real” na terra de Israel. Mas a razão pela qual os judeus messiânicos estão aqui é para serem o remanescente justo, por amor de quem Deus preserva a nação de Israel. Isso nos motiva a continuar acreditando em um Deus, tentando concretizar a visão judaico-messiânica e proclamando Yeshua a nosso povo.

17 Não pensem que vim abolir a Torá ou os Profetas. Não vim abolir a Torá, mas completar, para tornar pleno seu significado. A palavra hebraica “Torá”, literalmente “ensinamento, doutrina” é a versão tanto da Septuaginta quanto do Novo Testamento para a palavra grega “nomos”, que significa “lei”. O idioma grego teve uma influência mais direta e penetrante no português e em outras línguas modernas do que o hebraico, e é por isso que na maioria dos idiomas fala-se sobre a “Lei” de Moisés em vez de o “Ensinamento” de Moisés. Também isso é parte da razão pela qual os cristãos equivocadamente passaram a considerar a Torá como tendo um caráter legalista (veja Rm 3:20bN, Gl 3:23bN).

No judaísmo a palavra “Torá” pode significar:

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Mattityahu (Mateus)50

(1) Chumash (o Pentateuco, os cinco livros de Moisés); ou (2) O Chumash mais os Profetas e os Escritos, ou seja, o Tanakh (conhecido

pelos cristãos como o Antigo Testamento; veja 4:4-10N); ou (3) Isso mais a Torá Oral, que inclui o Talmud e outros materiais legais; ou(4) Isso mais todas as instruções religiosas dos rabinos, incluindo materiais

éticos e homiléticos.Aqui tem o primeiro significado, uma vez que “os profetas” são menciona-

dos separadamente. Os Profetas. A palavra “profetas” (como em 7:12, 22:40; Lc 16:16, 28, 31;

24:44; Yn 1:45, 6:45; At 13:15, 27, 40; 15:15; 24:14; 28:23; Rm 3:21) refere-se à se-gunda das três principais partes do Tanakh. Ao mencionar tanto a Torá quanto os profetas, Yeshua está dizendo que ele não veio modificar ou substituir a Palavra de Deus, o Tanakh. Compare Lc 24:44-45.

Completar. A palavra grega para “completar” é “plêrôsai”, literalmente “en-cher”. A teologia da Reposição, que erroneamente ensina que a Igreja substituiu os judeus como povo de Deus (v.5N), compreende esse versículo de dois modos equivocados.

Primeiro, Yeshua “cumprindo” a Torá significaria que seria desnecessário que as pessoas cumprissem agora. Mas não existe lógica na proposição de que o fato de Yeshua obedecer a Torá elimina nossa necessidade de obedecê-la. De fato, Sha’ul (Paulo), cujo objetivo em sua carta aos romanos é estabelecer “a obediência da fé” em Yeshua, ensina que essa fé não abole a Torá, mas a confirma (Rm 1:5, 3:31).

Segundo, com a mesma falta de lógica, Yeshua “cumprir” os profetas pa-rece implicar que nenhuma profecia do Tanakh permanece para os judeus. Mas as promessas da Bíblia hebraica para os judeus não são abolidas em nome de ser “cumpridas em Yeshua”. Em vez disso, o cumprimento em Yeshua é uma certe-za a mais de que tudo o que Deus prometeu aos judeus vai acontecer (veja 2Co 1:20&N).

É verdade que Yeshua manteve perfeita a Torá e cumpriu as previsões dos profetas, mas essa não é a questão aqui. Yeshua não veio para abolir, mas para “cumprir” (plêrôsai) o significado que a Torá e as exigências éticas dos profetas exigem. Assim, ele veio completar nossa compreensão da Torá e os Profetas para que possamos tentar de modo mais eficiente ser e fazer o que eles dizem que de-vemos ser e fazer. Os versículos 18-20 enunciam três modos nos quais a Torá e os profetas permanecem necessários, aplicáveis e fortalecidos. O capítulo 5 dá seis casos específicos nos quais Yeshua explica o sentido espiritual mais profundo de questões da Lei judaica. De fato, esse versículo estabelece o tema e a proposta de todo o Sermão do Monte, em que Yeshua completa e aprofunda a compreensão de seu talmidim no que se refere à Torá e aos profetas, para que eles possam exprimir mais plenamente o que representa ser o povo de Deus.

A escritora anglicana Brigid Younghughes apoia minha compreensão dessa passagem com as seguintes palavras:

“‘(...) Não vim ab-rogar, mas cumprir.’ E certamente ‘cumprir’ significa com-pletar, no sentido de trazer à perfeição e não como os cristãos frequente-mente têm interpretado, tornar obsoleto; cumprir de tal modo que aperfei-çoe uma fundação sobre a qual será construído posteriormente” (Cristiani-ty´s Jewish Heritage [Herança do cristianismo judaico], West Sussex: Angel Press, 1988, p. 8).