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BULLYING: UMA QUESTÃO DE SAÚDE A SER TRABALHADA NO ENSINO DE CIÊNCIAS.

Eliane Aparecida Belin Mandrick1

Helaine Maruska Vieira Silva2

RESUMO: As dificuldades de relacionamento, a falta de uma harmonia nas relações entre estudantes fez suscitar a necessidade de compreender os reflexos do bullying sobre o sistema neuroendócrino e a ação do mesmo como indutor das doenças psicossomáticas que acarretam danos ao funcionamento do organismo humano. Questiona-se o bullying visando ainda uma reflexão para a sensibilização quanto ao mesmo, disponibilizando informações e ressaltando a importância da identificação precoce. Considerando a necessidade de reconhecer a escola como espaço de formação de um cidadão crítico e consciente, torna-se fundamental identificar e exercer ações no sentido de combater o bullying, demonstrando as consequências à saúde de quem sofre esse tipo de violência. Para a construção deste artigo fez-se uso da pesquisa bibliográfica e o resultado das discussões de textos na área de Ciências – sistema nervoso, sistema endócrino, bullying, análise de vídeos motivacionais, conceituais e fragmentos de filme com o tema afetividade, valores humanos e morais e regras de convivência.

Palavras-chave: Bullying. Ensino de Ciências. Escolar.

1. INTRODUÇÃO

Para que a escola tenha um ambiente seguro e saudável e que sua principal

“função” seja respeitada, não se pode permitir que danos físicos e/ou psicológicos,

causados pelo bullying, prejudique o processo de ensino e aprendizagem.

Compreendê-lo é um desafio para pais, educandos, educadores e gestores

escolares.

O desafio em compreender o bullying, está no fato de que ele ocorre em

ambientes escolares, mas decorre de atitudes morais e éticas que começam muito

antes da criança chegar à escola. Os educandos agressivos já conviveram e viram

todo tipo de violência, sem, no entanto, compreende as conseqüências destas

atitudes para a psique do indivíduo que sofre a agressão.

De acordo com Kohlberg (1992) apud Lepre (2009), existem três níveis de

raciocínio moral. No primeiro nível, o pré-convencional, as ações das crianças por

1Aluna PDE da Secretaria do Estado da Educação do Paraná – 2012/2013. Professora de Ciências

do Colégio Estadual Professora Dilma Krohling Angélico de Catanduvas - Paraná. E-mail [email protected] 2 Professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do /UNIOESTE, Cascavel-Pr, Brasil.

Doutorado em Ciências (Fisiologia Humana) pela Universidade de São Paulo, Brasil (2005). E-mail: [email protected]

volta dos nove anos, se baseia em “interesses próprios ou medo da punição”. No

segundo nível, considerado como o convencional, os adolescentes “emitem juízos

tendo como referências as regras do grupo”, ou seja, das instituições reconhecidas

socialmente, no caso, a família, a escola, a mídia e a religião. No terceiro nível, os

jovens são “guiados por princípios morais universais, [...] o pensamento é regido por

princípios e não por regras sociais”.

Neste sentido, torna-se interessante trabalhar, no ensino de Ciências, ações

que reforcem a reflexão individual e coletiva que permitam que o indivíduo possa

orientar-se de forma racional e autônoma em situações de conflito de valores.

O artigo 277, da Constituição Federal, diz que a criança, o adolescente e o

jovem têm direito a convivência familiar e comunitária e estes tem o dever de colocá-

los a salvo de toda forma de “negligência, discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão”.

Diante do exposto sobre a lei e sabendo-se que, na escola, acontecem

situações de opressão de alguns alunos sobre os outros e que, legalmente,

nenhuma situação é permitida, não se pode ficar omisso, pois os que sofrem o

bullying tornam-se oprimidos. Porém, a escola se vê numa situação de impotência,

ao mesmo tempo em que precisa agir, no sentido de contribuir para amenizar as

ações conflituosas entre os alunos. Portanto, deve desenvolver capacidades morais

e éticas, para que estes possam agir de forma racional e autônoma em situações de

conflitos e divergências de idéias, quanto aos valores morais e éticos.

2. ASPECTOS LEGAIS, BIOCULTURAIS DE GÊNERO, IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA E FORMAS DE PREVENÇÃO

As escolas, de um modo geral, estão vivenciando um atípico comportamento

social, mais agressivo, decorrentes das relações interpessoais. Estas relações

conflituosas vêm chamando a atenção de profissionais da educação e da sociedade

de um modo geral.

A faixa etária entre 12 e 13 anos é considerado o período de transição da

formação intelectual. A psicologia social descreve que o adolescente, neste tempo,

passa por um período de amadurecimento, principalmente nas modificações

corporais, hormonais e nas relações interpessoais em que as atenções estão

voltadas aos colegas da mesma faixa etária e não mais aos familiares como era até

então, principalmente, os colegas da escola.

A faixa etária em que mais acontecem os casos de bullying é de 10 aos 14

anos. Aos 10 anos, os papéis de vítima ou agressor se definem de forma mais clara,

os comportamentos, tanto agressivos, quanto passivos vão se definindo e vão se

incrementando a partir dos 12 anos. Normalmente o agressor é de séries mais

avançadas ou repetentes, podendo ter idade entre 13 e 14 anos e estudar com

alunos de 10 e11 anos, idade média das vítimas (Fante, 2005).

Estudos revelam que o bullying é capaz de alterar a química do cérebro e

conduzir a mudanças no comportamento social. A descoberta é de pesquisadores

da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos. O abuso modifica a química

cerebral, principalmente em regiões fundamentais para o processamento das

emoções. De acordo com as teorias de Fante e Pedra (2008), qualquer tipo de

estresse leva a mudanças de comportamento e promove a liberação de uma série

de “substâncias químicas”. No caso do bullying tende a ser mais grave, porque o

estresse pode se prolongar, tornando-se crônico.

O sistema nervoso central possui regiões responsáveis pela percepção e

resposta aos estímulos. Ou seja, reconhece estímulos e transmite-os para as várias

áreas especificas internamente do SNC3, em uma região chamada sistema límbico.

Uma dessas áreas é o hipotálamo que integra os estímulos e responde a eles

através da glândula hipófise.

A hipófise é uma glândula mestra e está situada na base do cérebro e dentro

do crânio, bem protegida. É ela que libera hormônios que coordenam e controlam,

praticamente, todas as funções corporais. É através de hormônios e de terminações

nervosas que o SNC comanda e interage com nossas funções somáticas e também

emocionais e vice versa.

Uma das glândulas hormonais comandadas pela hipófise são as supra renais,

localizadas sobre os rins. São elas que liberam hormônios envolvidos na fração

luta/fuga. Quando recebemos estímulos ameaçadores, nosso córtex sinaliza uma

situação de perigo/risco. Diante disso a uma reação, esta tem função de

preservação física, enfrentando a ameaça ou fugindo.

3 SNC - sistema nervos central

É o nosso sistema neuroendócrino que atua fazendo com que nossas

glândulas endócrinas trabalhem rapidamente liberando hormônios para que haja a

reação e uma preparação para a luta ou fuga.

Sendo o bullying o que diz Fante (2005)

começa frequentemente pela recusa de aceitação de uma diferença, seja

ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo religião, raça,

estrutura física, peso, cor dos cabelos, deficiências visuais, auditivas e

vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual e física, ou

está relacionada a aspectos de força, coragem e habilidades esportivas e

intelectuais (p. 62-63).

Quando a vítima de bullying se encontra diante de qualquer uma destas

situações, o córtex envia uma substância química que vai para o hipotálamo, o qual

estimulará as supra-renais para que liberem as catecolaminas (adrenalina e

noradrenalina). Estas substâncias promovem várias alterações fisiológicas entre

elas, fazem com que o coração acelere seus batimentos, os vasos sanguíneos se

contraiam, os brônquios dilatem, a respiração aumente e a musculatura se contraia,

entre outros efeitos.

De acordo com Fante e Pedra (2008), após uma situação de estresse, os

níveis de catecolaminas vão baixando devagar e outras alterações fisiológicas

começam a surgir, como a redução do controle da musculatura esquelética, tremor,

crise de choro, desmaio, em algumas situações mais severas pode ocorrer AVC4 ou

um enfarto agudo do miocárdio. Após certo tempo, o indivíduo sente dores

musculares semelhante ao que ocorre em caso de gripe forte.

A liberação das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) se dá por um

processo pelo qual cargas físicas, emocionais e/ou psíquicas são traduzidas na

forma de sinais e sintomas físicos com ou sem causa orgânica específica. Indivíduos

expostos e submetidos ao bullying manifestam, inicialmente, sentimentos de

ansiedade e de medo que são causados pela agressão imposta e liberação das

catecolaminas. Elas também atuam nos SNC, cardiocirculatório, imunológico,

dermatológico e respiratório.

À medida que essa exposição torna-se repetida (característica do bullying),

esses indivíduos podem desenvolver uma gama de sinais e sintomas de alterações

4 Acidente vascular cerebral.

cardiocirculatórios e respiratórios, entre outros, e emocionais que podem levar à

síndrome do pânico.

Portanto, a ansiedade presente nos indivíduos atingidos pelo bullying não é

só emocional. Esses indivíduos submetidos a situações de estresse repetitivo, à

exposição contínua à violência, os alvos do bullying podem desenvolver

manifestações emocionais como: ansiedade, depressão, angústia baixa auto-estima,

altos níveis de estresse, evasão escolar, atitudes de autoflagelação e até suicídio.

Portanto, para compreender o fenômeno é necessário analisar o significado

do termo bullying, o qual é empregado para descrever atos de violência física e/ou

psicológica de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor)

contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender, seja

por uma questão circunstancial ou por desigualdade subjetiva de poder (SILVA,

2010).

Para Fante, uma das maiores especialistas sobre bullying, no Brasil, diz que

O Bullying é uma palavra de origem inglesa, adotada para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão. O bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outros, causando dor e angústia e, executadas dentro de uma relação desigual de poder, tornando possível a intimidação da vítima (p.33).

Ante tais considerações, Fante (2005), adverte que o bullying é um elemento

que agride os direitos da personalidade, destrói a dignidade da pessoa e precisa ser

detectado o quanto antes para que se proteja a pessoa.

Também é importante conhecer e entender as diferentes características que

as vítimas podem apresentar e, segundo Fante (2005), podem ser classificadas em:

Vítima típica: apresenta aspecto físico de sensibilidade, timidez, passividade,

submissão, insegurança, baixa auto-estima, alguma dificuldade de aprendizagem,

ansiedade, aspecto depressivo e coordenação motora deficiente, fisicamente é mais

frágil, comparada com o aspecto de seus companheiros, tem medo de sofrer algum

dano, de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas, tem dificuldade de se

impor e não apresenta comportamento agressivo. As agressões sofridas reforçam a

timidez e baixa auto-estima quando as vítimas já possuem estes traços na

personalidade. Geralmente, relacionam-se melhor com adultos do que com crianças

de sua idade.

Vítima provocadora: é o aluno provocador, mas que não possui habilidades

para lidar com as consequências de suas provocações. Briga quando é atacado,

mas não consegue resolver a situação. Pode apresentar características de

hiperatividade ou ser inquieto, dispersivo e ofensor.

Vítima agressora: é o aluno que transfere todo seu sofrimento para outro,

reproduzindo as agressões sofridas em um aluno mais frágil que ele. Contribui com

o aumento no número de vitimas.

Agressor ou bullie: pode ter a mesma idade ou ser mais velho que sua vitima,

pode ser fisicamente maior, ser mais dinâmica nos esportes e nas brigas. Vangloria-

se de sua superioridade, intimida, ameaça, domina e subjuga os outros alunos. Tem

dificuldades em aceitar normas. Irrita-se com facilidade e não aceita ser contrariado.

É visto como o aluno mau, frio e antipático. Pode se envolver em condutas anti-

sociais como o roubo, vandalismo e consumo de bebida alcoólica.

Espectador: é o aluno que testemunha todo o sofrimento da vítima, mas não

tem coragem de denunciar por medo de represália dos agressores. Com medo de se

transformar no próximo alvo, o aluno que testemunha as agressões tende a se

afastar da vítima, contribuindo com o processo de exclusão.

O bullying vem sendo encarado como um sério causador de problemas de

saúde que merece uma visão cuidadosa, pois, acarreta sérias consequências

individuais e sociais para a “vítima”. Essa violência psicológica e até mesmo física

gera grande desgaste emocional, podendo afetar o processo pedagógico de ensino

e aprendizagem.

Além da escola, outros fatores também contribuem para que o aluno

apresente comportamentos diferentes do esperado, entre eles a televisão e o

computador, de acordo com Prette (2010) avolumam as informações sobre a

influência destes sobre as crianças e que a

Influência da televisão está diretamente associada ao tempo de exposição e a qualidade da programação disponível. Se os relacionamentos que vêem são de caráter agressivo, elas podem, em algumas situações, exibir o mesmo comportamento de seus heróis ou ídolos (p. 44).

Diante deste contexto, um trabalho em conjunto da sociedade se faz

necessário, pois, o artigo 227 da Constituição Federal diz que

é dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Em contra partida, pelo o art. 129, do Código Penal, diz que “ofender a

integridade corporal ou a saúde de outrem”, terá como pena, detenção de 3 meses a

um ano. Sendo assim, fica claro que há leis que protegem os indivíduos e leis que

punem os infratores de acordo com a legislação. Por que, então, este quadro de

violência dentro da escola? É a escola e, nela, seus profissionais formados em

cursos de licenciatura, que têm que resolver o problema do bullying? A proteção

compete ao conjunto da sociedade. Quem é a sociedade, neste caso?

Nesse sentido, os profissionais de educação devem buscar apoio de outras

instituições para tentar resolver os casos de bullying que ocorrem na escola. A

utilização de normas e ações faz-se necessária para ajudar no enfrentamento dessa

problemática,além de um trabalho coletivo, com envolvimento de todas as áreas:

psicologia, saúde, os assistentes sociais e até profissionais do ministério público,

policiais, Promotoria da vara da Infância e da Juventude, Conselho Tutelar, a família,

a igreja e a mídia como instituições educadoras também devem ser chamadas a

assumir suas responsabilidades.

Tognetta (2009), lembra que agir preventivamente na direção de coibir todo e

qualquer tipo de violência nas instituições de ensino é também agir no sentido de

garantir uma sociedade saudável, na qual o respeito dá o tom nas relações,

fortalecendo os sujeitos em seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e moral,

educando, dessa forma, para relações mais justas, solidárias e respeitosas.

Freire (2005), afirma que “sem diálogo não há comunicação e sem esta não

há verdadeira educação” (p 96). O aprendizado pode ocorrer com maior facilidade

se o professor proporcionar momentos de reflexão através do diálogo e da

afetividade. Freire já dizia que “não há diálogo, porém, se não há um profundo amor

ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo sem amor” (p 91) .

Ou seja, para Freire (2005), o diálogo não é um produto histórico, é a própria

historicizacão, ele é, pois, o movimento constitutivo da consciência que, abrindo-se

para a infinitude, vence intencionalmente as fronteiras da finitude e,

incessantemente, busca reencontrar-se além de si mesmo. Expressar-se

expressando o mundo, implica o comunicar-se.

A educação afetiva e intelectual impulsiona o educador e educando a

conquista de uma sociedade mais solidária. Ele propõe uma educação

problematizadora e dialógica buscando promover caminhos para que o próprio aluno

seja sujeito e construa sua autonomia. A escola deve estar aberta ao diálogo e,

dessa forma, buscar juntamente aos professores e alunos o respeito mútuo e a

confiança.

Para que a construção do conhecimento ocorra de forma efetiva, é primordial

o papel do professor para que o mesmo, utilizando-se do conhecimento apoiado no

currículo, possa atender as necessidades educacionais do aluno. Mas também é

importante a metodologia e os recursos metodológicos que este professor adota

para desenvolvê-lo.

Neste sentido, as aulas ministradas sobre o bullying, por meio dos conteúdos

de ciências: sistemas nervoso e endócrino e a junção deste o neuroendócrino

baseia-se nos princípios freireanos:

Uma ação educativa dialógica, transformadora, contextualizada e

problematizadora;

Uma abordagem educacional ética e que enfatize as interconexões biológica,

cultural e simbólica;

Uma aprendizagem que se estabelece diariamente a partir da leitura do

mundo.

O trabalho foi realizado com 70 alunos do 8º ano do Ensino Fundamental de

uma Escola Estadual do município de Catanduvas – Pr, sendo ampliado aos 6º

anos (cerca de 60 alunos) devido detecção de sinais de bullying entre os estudantes

desta série. Para a maioria das atividades, as turmas foram divididas conforme seus

respectivos períodos, matutino e vespertino. Em decorrência do interesse dos

docentes em desenvolver ações no âmbito escolar envolvendo o tema “bullying”, as

palestras e oratória foram proferidas para todos os alunos da escola.

As atividades metodológicas foram desenvolvidas a partir da combinação de

forma simultânea ou seqüencial, oferecendo ao aluno a oportunidade de perceber e

analisar o assunto sob diversos ângulos. De acordo com seguintes passos:

observar, analisar, teorizar, sintetizar e aplicar e/ou transferir o aprendido para o dia

a dia da escola.

Para isso foram usado textos de livros didáticos (livro do aluno), slides com

imagens, textos síntese produzidos para este fim, vídeos que contribuíram para

conceituar o sistema nervoso e endócrino e uma análise da fisiologia e anatomia, ou

seja, a forma e função dos mesmos, com base nos slides disponíveis no site

http://www.portefolionaturas.net/nonoano.htm objetivando analisar e compreender o

bullying como uma ação capaz de alterar o equilíbrio neuroendócrino.

O depoimento do aluno 1 confirma a relevância desse trabalho “Foi muito

importante adquirir conhecimentos sobre os efeitos do bullying no organismo e na

vida social, pois, muitos cometiam essa violência sem ter noção das

consequências”.

Primeiro é preciso promover uma aprendizagem significativa, contextualizada

e direcionada para temas sociais, como é o bullying, auxiliando outros professores a

identificar as ações do bulie/agressor. Para que não aconteça deparar-se com uma

realidade como a do seguinte depoimento:

Lembro de um educando que amedrontava os colegas, ofendendo com palavras de baixo calão, ameaçando, gritando, intimidando, ofendendo, aterrorizando seus colegas de sala, professores, equipe pedagógica e demais funcionários da escola, pois tinha uma forma oportunista quando falava que os parentes eram violentos e estavam na cadeia, vangloriando-se disso e utilizando a situação para amedrontar e obrigar os colegas a fazer ou tentar fazer os trabalhos para ele. Percebia que esse educando queria escolher as matérias para estudar e dizia que se entrasse nas aulas que não gostaria de assistir, iria se vingar. Professor 1

Para isso, foi desenvolvido um plano de aula em etapas. Cada etapa foi

realizada a partir dos conteúdos na forma de textos, vídeos e atividades, palestras,

visitas e entrevistas, observações, produção de cartazes e panfletos para o auxílio

na fixação e compreensão.

1ª ETAPA: a anatomia e fisiologia do sistema nervoso;

2ª ETAPA: a anatomia e fisiologia do sistema endócrino;

3ª ETAPA: a relação neuroendócrina no controle das atividades funcionais do

organismo humano e as doenças psicossomáticas decorrentes;

4ª ETAPA conceito de bullying e as ações legais e educativas para facilitar os

relacionamentos intra e interpessoais.

Na relação com os educandos, durante o desenvolvimento do trabalho,

percebeu-se que há uma necessidade em entender por que as pessoas agem como

agem, como se pode observar no depoimento:

“Queria que as pessoas fossem capazes de perceber seus erros e ver que cometer bullying não leva a lugar algum. Seria um ato muito bonito se as pessoas admitissem seus erros, tornando-se pessoas de bem na sociedade, serem solidárias e amigas de todos. Somos 7 bilhões de pessoas e ninguém é igual a ninguém, cada um tem um jeito diferente de ser”. Aluno 2

Dada a importância deste depoimento, também é importante analisar o papel

do professor, e como deve agir este profissional diante de tal situação. Do ponto de

vista da tendência pedagógica materialista histórica dialética, é necessário que ele

seja um mediador e a afetividade seja o seu alicerce, além de ser um pesquisador.

Para Moran (2009), o professor precisar ser

um pesquisador em serviço. Aprende com a prática e a pesquisa e ensina a partir do que aprende. Realiza-se aprendendo – pesquisando – ensinando - aprendendo. O seu papel é fundamentalmente o de um orientador/mediador.(p. 30)

Moran (2009), descreve como deve ser um professor. Primeiro

orientador/mediador intelectual – aquele que Informa, ajuda a escolher as

informações mais importantes, trabalha para que elas se tornem significativas para

os alunos, permitindo que eles as compreendam, avaliem – conceitual e eticamente,

reelaborem-nas e adaptem-nas aos seus contextos pessoais. É, ainda, aquele que

ajuda a ampliar o grau de compreensão de tudo e a integrá-lo em novas sínteses

provisórias.

Orientador/ Mediador emocional – aquele que motiva, incentiva, estimula,

organiza os limites com equilíbrio, credibilidade, autenticidade, empatia.

Orientador/Mediador gerencial e comunicacional – Organiza os grupos, as

atividades de pesquisa, ritmos, interações. Organiza o processo de avaliação e é a

ponte principal entre a instituição, os alunos e os demais grupos envolvidos (a

comunidade). Organiza o equilíbrio entre o planejamento e a criatividade. O

professor atua como orientador comunicacional e tecnológico; ajuda a desenvolver

todas as formas de expressão, de interação, de sinergia, de troca de linguagens,

conteúdos e tecnologias.

Orientador ético – Ensina a assumir e vivenciar valores construtivos, individual

e socialmente.

Cada professor deveria colaborar com um pequeno espaço, sendo uma pedra

na construção dinâmica do “mosaico” sensorial – intelectual – emocional - ético do

aluno. Dessa forma iria organizando continuamente seu quadro referencial de

valores, idéias, atitudes, tendo por base alguns eixos fundamentais comuns como a

liberdade, a cooperação, a integração pessoal. Um bom educador faz a diferença.

O professor precisa buscar novas metodologias e estratégias de ensino que

promovam as questões interpessoais dos alunos, enfocando a teoria de Vygotsky, o

qual, propõe uma visão sóciointeracionista , segundo a qual, o desenvolvimento

humano se dá em relação nas trocas entre os pares sociais e através de processos

de interação e mediação.

Agir preventivamente, compreendendo as causas comuns de conflitos no dia

a dia e criando ações concretas e diretas no combate ao bullying escolar, ainda é

um grande desafio, pois, para que isso ocorra, é necessário a busca do

conhecimento científico através de estudos sistematizados utilizando-se de

conteúdos inseridos no currículo escolar, sendo estes também partes integrantes

dos conteúdos estruturantes da disciplina de ciências. .

O papel do professor é de fundamental importância para que exista um clima

de respeito e paz dentro da escola, fazendo com que os alunos entendam a

importância do respeito a todos e do diálogo, ao invés da utilização de práticas

agressivas. Se na sala de aula os alunos não estiverem em harmonia com o

ambiente, o processo educativo dos alunos sofrerá consequências.

Fante (2005), concorda que:

[...] um relacionamento marcado pela falta de afetividade positiva e pelos maus-tratos físicos ou verbais influenciará o indivíduo, determinando seu desempenho social e sua capacidade de adaptação às normas de convivência, bem como sua habilidade de integração social. Portanto, as raízes do comportamento agressivo estão fincadas na infância, sendo o modelo de identificação familiar o elemento fundamental para a sua compreensão (p.173).

A questão está na organização do trabalho coletivo em sala de aula para se

realizar a construção do conhecimento, procurando desenvolver no educando a

autonomia e racionalidade, bases para a formação de valores individuais. Lepre

(2009), propõe que seja trabalhada uma educação voltada para a moral, para formar

hábitos de convivência que reforcem valores como a justiça, a solidariedade, a

cooperação ou cuidados para com os outros.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do pressuposto que a convivência e a relação entre os indivíduos é

uma forma de adquirir e/ou modificar comportamentos e atitudes, a escola torna-se

um lugar ideal para isso.

Por esse motivo foi desenvolvido este trabalho para o qual se propiciou

desenvolver habilidades sociais, as quais facilitam a relação intrapessoal e

interpessoal dos educandos com eles mesmos e, com o professor e as dinâmicas de

grupos, proporcionou-se falar sobre princípios humanos, valores morais e éticos

para uma melhor convivência e compreensão das habilidades sociais necessárias

para se viver bem.

Os conhecimentos adquiridos e as possíveis transformações nas atitudes e

ações doravante positivas do coletivo da turma podem ser percebidos nas

considerações dos alunos sobre o trabalho realizado, como se pode perceber nos

seguintes depoimentos: “Humilhava meus colegas sem perceber que os entristecia,

para "mim" era mais uma simples brincadeira onde eu apenas me divertia”. Aluno 3

Teve grande importância o desenvolvimento deste projeto na escola, pois não davam muita importância por pensar que era simples brincadeira - os apelidos - diminuíram consideravelmente. (O conhecimento adquirido vamos levar para a vida toda)". Aluno 4 Em minha sala de aula os apelidos eram constantes e era dado mais importância para essas brincadeiras ofensivas do que aos estudos. Com o desenvolvimento desse projeto, os apelidos maldosos diminuíram. O ambiente escolar tornou-se mais agradável. Aluno 5

Com esse trabalho proporcionou-se aos educandos conceitos científicos e

atualizados sobre o funcionamento dos sistemas nervoso e endócrino e as

consequências para a saúde mental das crianças e adolescentes que são alvos de

bullying tais como: insônia, baixa auto estima e depressão, podendo também

desenvolver transtornos como a fobia escolar, um medo exagerado de freqüentar a

escola que pode prejudicar os estudos. Outra grave conseqüência do bullying é a

prevalência de índices elevados de pensamentos de morte e ideação. Ao mesmo

tempo em que ficou esclarecido aos alunos a importância para a saúde do corpo

físico e mental, à medida em que adquirem informações, conhecimentos sobre o

tema bullying e suas implicações nos sistemas citados.

Os estudos e as interferências são necessárias para qualquer tipo de

violência, e quando ocorre dentro da sala de aula, a proposta é sempre agir. O tema

deve ser trabalhado e o primeiro passo é admitir que os problemas existem, para

então criar mecanismos de auxílio. Pois, sabe-se que não é muito fácil perceber

quando o bullying está ocorrendo, geralmente o agressor não o pratica na frente dos

outros e a vítima demora e,na maioria das vezes, não denuncia.

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