bt./!:l&da - coppead.ufrj.br · 3. kanban 2. sistema toyota de produção 4. ... solução...

252
FATORES DE EXlTO NA IMPLANTAÇÃO Do JUST-IN-TIME NA INDÓSTRIA BRASILEIRA UM ESTUDO DE CASOS LUIZ FERNANDO BARCELLOS TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE'FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - COPPEAD/UFRJ J COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS A OBTENÇAO DO GRAU DE MESTRE EM (M.Sc.) APRO\l,ADA POR: PROF. PRESIDENTE PRO'. bt./!:l&DA .S.. E SOUZA COPPEAD/UFRJ /UFRJ RIO DE JANEIRO J RJ 7 BRASIL r1AIO DE 1991

Upload: nguyenthuan

Post on 26-Sep-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

FATORES DE EXlTO NA IMPLANTAÇÃO

Do JUST-IN-TIME NA INDÓSTRIA BRASILEIRA

UM ESTUDO DE CASOS

LUIZ FERNANDO BARCELLOS

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE'FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO - COPPEAD/UFRJ J COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

A OBTENÇAO DO GRAU DE MESTRE EM CI~NCIAS (M.Sc.)

APRO\l,ADA POR:

PROF. PRESIDENTE

PRO'. bt./!:l&DA .S.. E SOUZA

COPPEAD/UFRJ

A~l'J~ /UFRJ

RIO DE JANEIRO J RJ 7 BRASIL r1AIO DE 1991

Page 2: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

ii

BARCELLOS, Luiz Fernando

Fatores de êxito na implantação do

Just-in-Time na indústria brasileira: um

estudo de casos. Rio de Janeiro, UFRJ,

COPPEAD, 1991.

IX, f. 243

Tese: Mestre em Ciências (Administração de Empresas)

1. Just-in-Time

3. Kanban

2. Sistema Toyota de Produção

4. Administração Produção

de

I. Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPEAD

11. Título

Page 3: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

iii

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Joaquim Douglas Albuquerque pelo incentivo e

inestimável ajuda para a elaboraçáo deste trabalho.

A Angela, à Solange, ao Erenilton e ao João Alfredo

pelo paciente trabalho de datilografia e confecção de tabelas

e figuras.

Ao meu orientador, Prof. Kleber Fossati Figueiredo

pela clareza e objetividade com que me mostrou "o caminho das

pedras".

A todos o meu apreço e a minha amizade.

Rio, maio de 1991.

Page 4: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

iv

DEDICATÓRIA

A meus pais.

Page 5: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

v

SINOPSE

O trabalho tem como objetivo identificar os fatores

responsáveis pelo sucesso da implantação do sistema JUST-IN­

TIME na indústria brasileira.

A partir de um modelo de fatores (ambientais,

estruturais e gerenciais) oriundo de uma profunda revisão da

literatura são estudados os casos de implantação do JUST-IN­

TIME em cinco indústrias de primeira linha estabelecidas no

Brasil.

Na conclusão, além de se procurar evidenciar os

fatores mais importantes para o sucesso destas implantações

são propostos três novos fatores com a finalidade de melhor

adequar o modelo à realidade brasileira.

Page 6: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

vi

ABSTRACT

This research objective was to identify the factors

responsible for successfull implementations of JUST-IN-TIME

system on brazilian industry.

A model of Environmental,structural and Managerial

factors emerged from the available literature and was tested

on five JUST-IN-TIME implementation cases of top brazilian

sited companies.

The work's conclusion tries to highlight the most

important factors affecting these implementations and also

suggests three new factors in order to make the model more

suitable to be used on this country.

Page 7: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

vii

íNDICE

CAPíTULO I - INTRODUçAo

o Assunto e Sua Importância

A Indústria Brasileira

Objetivos e Organização do Estudo

CAPíTULO 11 - REVISAo DE LITERATURA

Introdução

Just-in-Time: Definição e Histórico

Just-in-Time: Características

PÁG.

1

1

4

10

12

12

13

19

Benefícios Esperados 30

Limitações 36

Fatores a Considerar no Processo de Implantação

do Sistema (O Modelo Conceitual) 37

Fatores Ambientais 41

Fatores Estruturais 65

Fatores Gerenciais 76

CAPíTULO 111 - METODOLOGIA 104

Page 8: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

viii

CAPíTULO IV - DESCRIÇAo DOS CASOS

Introdução

Descrição dos Casos Segundo os Fatores Que

Constituem o Modelo Conceitual

Andreas Stihl Moto-Serras Ltda.

Brastemp S.A.

Maxion S.A.

Metal Leve S.A.

Yanmar do Brasil S.A.

CAPíTULO V - ANÁLISE DOS RESULTADOS

Introdução

Fatores Gerenciais

Fatores Estruturais ,

Fatores Ambientais

CAPíTULO VI - CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE

PESQUISAS FUTURAS

Introdução

Voltando ao Modelo

Outros Fatores

prosseguimento da Pesquisa

110

110

112

112

126

144

170

187

203

203

206

217

222

225

225

226

230

233

Page 9: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

ix

BIBLIOGRAFIA 235

REFERENCIAS ADICIONAIS 242

Page 10: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

CAPITULO I - INTRODUÇÃO

O ASSUNTO E SUA IMPORTÂNCIA

A recuperação da economia japonesa apos o final da

segunda guerra mundial ainda e um fenômeno a desafiar a

compreensão dos estudiosos neste final de século. Em menos

de 40 anos um país arrasado pela derrota e completamente

dependente de todo tipo de matérias primas transformou-se em

uma das três maiores potências industriais do planeta, cujos

produtos são sinônimos de qualidade reconhecidos por todos.

Num mundo cada vez mais integrado em todos os

sentidos, não existem mais mercados cativos e nem vantagens

competitivas que perdurem por muito tempo. As conquistas

porventura obtidas são mantidas a duras penas por um esforço

quase diário em busca de excelência. Neste contexto, o

desempenho da indústria japonesa tem sido ímpar e seus

produtos e serviços normalmente representam o padrão a ser

atingido e o adversário a ser batido.

Dentre as razôes apontadas para o sucesso da

indústria nipônica, grande destaque se dá ao Sistema Toyota

de Produção, assim chamado por ter sua origem naquela fábrica

de automóveis. Popularizado no ocidente como Sistema Just­

in-Time, o mesmo foi estudado à exaustão, principalmente nos

Estados Unidos, que fizeram grandes esforços em sua adoção

Page 11: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

2

visando recuperar a competitividade perdida. Muitas sao as

histórias de sucesso registradas embora alguns fracassos

também sejam reportados. Estes últimos no entanto devem ser

em maior número, mas como a história e escrita pelos

vencedores, somente alguns poucos são contabilizados.

No Brasil, so se tomou conhecimento do sistema Just-

in-Time ao final da década de 70, época em que a ilusão do

"milagre brasileiro" já se tinha dissipado e alguns pioneiros

procuravam alternativas no sentido de se capacitar para

enfrentar o mercado externo e a concorrência internacional.

De lá -para ca, multiplicaram-se os cursos, os consultores

especializados, palestras, seminários, etc. Os adeptos

entusiasmados julgam que no Just-in-Time residiria a solução

para tornar a indústria brasileira competitiva e citam nomes

e histórias de adotantes bem sucedidos. Os céticos por sua

vez consideram que não se pode adaptar em nosso ~ pa1s um

sistema originário de outro com cultura tão diferente da

nossa.

De qualquer forma, a busca de alternativas que

tornem a indústria brasileira verdadeiramente eficaz exige

um estudo desapaixonado de todas as possibilidades de

solução. Dificilmente se conseguirá resolver uma situação tão

complexa como esta (da qual se fará um esboço a seguir) com

uma so técnica ou alternativa. Neste sentido, este trabalho

busca identificar os motivos que levaram alguns dos

Page 12: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

3

adotantes a ter sucesso, para tentar compor um quadro de

circunstâncias que indiquem ser a adoção do Just-in-Time uma

solução viável para o caso em questão.

A contribuição que este trabalho pretende dar

consiste em tentar, a partir de casos em que se constate

efetivamente o sucesso da aplicação do Just-in-Time no

Brasil, formular um modelo para isto adequado à realidade

brasileira.

Um dos argumentos mais freqüentes contra a adoção de

técnicas ou modelos oriundos de outros países no Brasil é o

velho chavão: "aqui -e diferente, nao vai dar certo". O

objetivo deste estudo, além de começar a descobrir onde "deu

certo" é procurar explicar as razões que levaram a isso.

Page 13: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

4

A INDÚSTRIA BRASILEIRA

Dentre as pesquisas que periodicamente sao

divulgadas a respeito da situação da indústria brasileira,

uma em particular, divulgada pela revista EXAME (39) de 29

de junho de 1988, merece atenção. Este trabalho, encomendado

pelo Long Term Credit Bank of Japan, que vem a ser um dos

maiores bancos de financiamento de empreendimentos

industriais de todo o mundo, compara e comenta sob a ótica do

investidor as condições de competitividade de alguns setores

industriais no Brasil, na Coréia do Sul e em Formosa.

De todos os setores analisados (automobilístico,

auto-peças, computadores e periféricos, máquinas-ferramenta,

produtos eletrônicos

aviação, fundição e

de consumo, semicondutores, siderurgia,

textil) apenas os três últimos são

considerados efetivamente competitivos no mercado

internacional. Além de alguns comentários específicos sobre

cada setor sao quatro as conclusões gerais da pesquisa,

segundo a reportagem:

"A indústria brasileira nao tem agilidade para

atender as aspirações dos consumidores."

Page 14: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

edição

5

"A ausência de competição limita o avanço da

indústria e reflete-se de ponta a ponta no

processo de produção."

"Qualidade e tecnologia são atributos de

produtos que saem de um grupo seleto de

indústrias, justamente aquelas que estão

orientadas para o mercado externo."

"A mão-de-obra brasileira, ainda

moderado

que

despreparada tem um peso na

composição de custos das empresas e continua

funcionando como um chamariz para o capital

estrangeiro."

Ainda na revista EXAME

de 3 de outubro de

(7), so que agora em sua

1990, foram divulgados os

resultados de uma pesquisa efetuada pela Boucinhas & Campos

Consultores junto a setenta empresas privadas nacionais,

multinacionais e estatais. Tal pesquisa procurou avaliar as

empresas em relação a quatro fatores competitivos

(capacitação tecnológica, gestão da produção, flexibilidade e

excelência empresarial) e seus resultados (em percentuais)

estão sumarizados na tabela abaixo:

Page 15: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

6

'CAPACITAÇÃO GESTÃO DA FLEXIBI EXCELENCIA

TECNOL6GICA PRODUÇÃO LIDADE EMPRESARIAL

Inexistente O 6 4 6

Estágio Inicial 40 52 31 31

Média Internac. 40 33 50 44

Competitiva 18 7 13 17

Altamente Compet. 2 2 2 2 ,

Ainda na mesma matéria foram citados resultados

obtidos pela empresa Ernst & Young em pesquisa que compara

quatro indicadores de desempenho de empresas brasileiras

com o padrão internacional. A tabela abaixo resume este

trabalho:

Page 16: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

Peças rejeitadas devido

a problemas de qualidade

(em %)

Custo de produção média

internacional = 100

Número de dias até a en­

trega das encomendas

Pedidos atendidos que

geraram reclamações dos

clientes (%)

7

MÉDIA

BRASILEIRA

2,5

114

37

2,4

PADRÂO

MUNDIAL

0,02

90

2

0,01

Finalmente, em sua edição de 12 de dezembro de 1990

a mesma revista EXAME (25) aprofunda mais sua análise sobre a

pesquisa recém descrita esclarecendo também que esta foi

feita por encomenda da FIESP e da Câmara Americana de

Comércio. As informações foram fornecidas pelos principais

executivos de 220 empresas de vinte setores diferentes,

filiadas a uma ou outra das encomedantes. Embora a matéria em

Page 17: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

8

questão nao forneça dados esclarecedores da

representatividade da pesquisa tais como tamanho da amostra,

número de respostas obtidas como percentual do número de

questionários enviados, perfil das empresas que responderam,

etc., algumas de suas conclusões merecem ser mencionadas:

"O giro dos estoques é baixo. Numa companhia

de primeira linha gira-se o estoque de oitenta

a cem vezes por ano contra dez vezes no

Brasil".

"Boa parte da morosidade abúlica do

atendimento aos pedidos se deve a falta de

flexibilidade na produção. Menos de 11% das

empresas brasileiras empregam o just-in-time,

so 10% se preocupam em formar operários

polivalentes e apenas 22% fazem manutenção

preventiva de equipamentos. O tempo de troca

de ferramenta, que permite a passagem de um

produto para outro, também e mais alto nas

empresas brasileiras que nas empresas de

padrão mundial.Nestas, a troca e feita em

cinco minutos. Consomem-se oitenta e um

minutos, em média, no Brasil".

Page 18: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

9

competir efetivamente no mercado

mundial, a maioria das empresas brasileiras

precisará passar por uma revolução interna em

suas práticas e culturas administrativas".

Como se vê pelo que foi dito acima, embora alguns

numeros citados devam ser questionados, existe, de forma

geral, um consenso de que para atingir níveis de eficácia

adequados ao mercado mundial a indústria brasileira deve

resolver de forma definitiva os problemas ligados diretamente

à produção. Além disso também se ve que, embora em minoria,

existem empresas que efetivamente já solucionaram estas

questões e que, portanto, é possível fazê-lo apesar de toda a

complexidade do meio ambiente brasileiro.

Page 19: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

10

OBJETIVOS E ORGANIZAÇAO DO ESTUDO

Conforme

capítulo inicial,

já foi comentado anteriormente neste

o principal objetivo deste trabalho

consiste em identificar os fatores que levaram a bom termo a

implantação do sistema Just-in-Time em algumas indústrias no

Brasil.

o capítulo II dedica-se a uma minuciosa revisão de

literatura que, além de explicar o sistema e historiar seu

surgimento, busca construir um modelo de fatores que levam ao

sucesso uma implantação do sistema Just-in-Time.

o capítulo III trata da metodologia usada para

testar o modelo proposto no capítulo anterior. Aí estão

expostas as razoes que levaram a escolha das empresas

estudadas, a forma com que foram conduzidas as entrevistas e

todos os aspectos pertinentes à metodologia do estudo.

No capítulo IV são descritos os casos pesquisados. A

descrição reune os dados obtidos nas entrevistas e

levantamentos feitos junto as empresas. Esta pesquisa foi

feita durante o mês de fevereiro de 1989. A descrição obedece

à seqüência de fatores constantes no modelo do capítulo II de

forma a facilitar a comparação entre as diversas empresas.

Page 20: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

11

o capítulo V discute e compara os casos vis-à-vis o

modelo proposto procurando ressaltar as maiores diferenças

observadas, bem como apontar caso a caso quais os fatores

mais importantes.

Finalmente, o capítulo VI além de aprofundar as

conclusões já esboçadas anteriormente, propoe dois novos

fatores para o modelo que devem torná-lo mais adequado à

realidade brasileira. Aí também sugere-se um caminho para as

futuras pesquisas sobre o tema em questão.

Page 21: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

12

CAPíTULO 11 - REVISAO DE LITERATURA

INTRODUçAo

Desde o momento em que os procedimentos industriais

japoneses começaram a ser notícia, inúmeras publicações sobre

tais procedimentos, suas implicações e a melhor forma de

adotá-los invadiram as comunidades acadêmica e empresarial.

O objetivo deste capítulo e apresentar uma revisão de

literatura sobre o terna Just-in-Time, considerando as

publicações relevantes aos propósitos do presente estudo.

Na primeira parte do capítulo procurar-se-á definir

o JIT e fazer um pequeno histórico sobre o seu surgimento e

dos fatores que conduziram ao seu desenvolvimento.

A seguir, a preocupaçao será com a caracterização

pormenorizada do sistema e seus requisitos. Serão focalizados

também os benefícios esperados com sua implantação, bem corno

algumas de suas limitações.

Na terceira e última parte do capítulo, o objetivo

será desenvolver um modelo conceitual com os fatores que

devem ser considerados no projeto e implantação de um sistema

Just-in-Tirne. Tal modelo será o marco de referência para a

pesquisa que se constitui no núcleo central deste trabalho.

Page 22: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

13

JUST-IN-TIME: DEFINIÇAo E HIST6RICO

Uma discussão presente em um razoável número de

publicações diz respeito a se o Just-in-Time é uma técnica

ou uma filosofia. Escapa aos objetivos deste trabalho

abordar esta polêmica. Sob um ponto de vista mais pragmático,

o interesse será o de apresentar definições que deixem claro

ao leitor em que consiste, operacionalmente, um sistema JIT.

Seguindo esta linha, GIUNIPERO e KEISER

compilaram várias definições:

"Um sistema que produz o item requerido no

tempo e na quantidade necessária."

"Um sistema de fabricação no

necessárias para completar

qual

os

as partes

produtos

acabados sao produzidas ou chegam ao local de

montagem assim que são necessárias."

"Uma filosofia centrada na eliminação de

perdas no processo de fabricação."

"Uma filosofia de controle de estoque cujo

objetivo é ter somente material suficiente no

lugar certo e somente na hora certa para fazer

apenas a quantidade certa de produtos."

(14)

Page 23: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

14

Corno alternativa pode-se recorrer à definição de JIT

formulada pelo próprio Taiichi Ohno (citada por LEE e

EBRAHIMPOUR, (21)), que foi o diretor da Toyota japonesa,

reconhecido geralmente corno o responsável pela criação e

implantação do JIT naquela empresa:

"Ter a peça certa precisamente na hora certa e

na quantidade certa para a montagem."

Outro reputado estudioso das técnicas industriais

japonesas, SCHONBERGER (35), nos diz que a idéia em que

repousa o JIT é:

"fabricar e entregar produtos apenas a tempo

de serem vendidos, submontá-los apenas a tempo

de montá-los nos produtos acabados, fazer

peças apenas a tempo de entrar nas

submontagens e, finalmente, adquirir materiais

apenas a tempo de serem transformados em peças

fabricadas."

Além destas, inúmeras outras definições de JIT

podem ser encontradas na literatura. Entretanto, e como pode

ser constatado inclusive nas definições apresentadas, o que

se verifica em todas elas são mudanças de palavras em relação

a definição original formulada por Taiichi Ohno.

Page 24: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

15

Talvez mais útil para o entendimento do JIT seja

apresentar, de maneira breve, um histórico da evolução do

sistema. A descrição a seguir baseia-se principalmente em

CUSUMANO (9) , que apresenta, cronologicamente, o

desenvolvimento das inovações introduzidas pela Toyota

japonesa, inovações estas que, em conjunto, constituem o que

se chama de sistema Just-in-Time.

Em meados da década de 30, a Nissan iniciou a

produção em

de um modelo

massa de veículos no Japão, importando as partes

de caminhão Dodge e adotando equipamento e

técnicas de produção americanas que predominaram até o inicio

dos anos 80.

A Toyota por sua vez nao era associada a nenhuma

grande fábrica de automóveis quando de sua fundação em 1930.

Seu primeiro veículo foi um caminhão projetado por seu

fundador Kiichiro Toyoda baseado em um chassis Ford, um motor

Chevrolet e carroceria Chrysler DeSoto. Este caminhão tinha

tantos problemas técnicos que levou-se mais de dez anos para

resolvê-los satisfatoriamente.

Quando se deu conta da necessidade de melhoria e

mudança freqüente em seus produtos, bem corno do pequeno

tamanho de seu mercado (os militares japoneses compravam

toda a produção da Nissan, mas nao a da Toyota), Toyoda

Page 25: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

16

passou a ter como

how" interno e

principais

montar um

objetivos:

sistema de

desenvolver "know­

produção barato e

adequado a pequenos volumes. Isto foi feito pela aquisição

de máquinas universais e pequenas prensas de estamparia que

eram facilmente adaptáveis às mudanças de modelo.

Esta foi provavelmente a genese

"flexível" que prosseguiu nos anos de

da produção

pós-guerra,

contribuindo para a competitividade da Toyota frente as

outras fábricas de automóveis japonesas. A empresa continuou

sem se associar a fabricantes estrangeiros e preferiu não

seguir a tendência de automação na indústria.

Quando foi trabalhar na Toyota em 1943, Taiichi

Ohno nao tinha experiência em indústria automobilística e

também não tinha nenhuma predileção pelos métodos americanos

de gerenciar produção. Aproveitando-se do equipamento

versátil adquirido pela empresa nos anos 30, Ohno

gradualmente introduziu uma série de inovações que em alguns

casos complementavam e em outros desafiavam os preceitos de

Frederick Taylor e Henry Ford. Assim foi iniciada a revolução

que mudou substancialmente os conceitos de gerenciamento de

produção em massa no mundo.

Quando se conhece a história narrada acima em breves

palavras, passa-se a concordar com WEISS (43) que, em artigo

para a Harvard Business Review, coloca que a maior

Page 26: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

17

produtividade japonesa e na verdade fruto de escolhas e de

políticas racionais e objetivas feitas por seus

administradores.

Voltando ao trabalho de CUSUMANO (9 ) tem-se a

confirmação disto quando ele descreve, por exemplo, que a

habilidade de um so funcionário operar várias máquinas foi

desenvolvida pelo fato de que, com a baixa demanda, não havia

trabalho suficiente para que se tivesse um operário por

máquina e, portanto, o mesmo trabalhador tinha que saber

executar mais de uma operação. Da mesma forma, o método de

"puxar a produção" foi copiado das fábricas de aviões

americanas na 2a. guerra e dos supermercados, em função

principalmente de problemas financeiros de manutenção de

estoques nos anos de alta inflação do pós-guerra. Em relação

à expressão "puxar a produção" cabe um esclarecimento. Ao

contrário das fábricas ocidentais onde cada setor ou posto de

trabalho procura individualmente maximizar a própria

quantidade produzida, em uma fábrica Just-in-Time cada posto

de trabalho produz somente o necessário ao consumo do setor

ou posto seguinte. Assim, a velocidade do trabalho de cada um

e determinada sempre pela rapidez com que o processo

subseqüente consome o insumo originário do processo anterior.

Em última análise, isto significa que a produção e comandada

pelo setor responsável pela entrega do produto final ao

departamento de vendas. Conforme a quantidade solicitada por

este último para atender o mercado, aquele inicia a montagem

Page 27: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

18

final, "puxando" desta forma o trabalho de todos os outros

setores.

De forma análoga ao trabalho de CUSUMANO, MONDEM

(24) sintetiza alguns fatos descritos acima e conclui que a

Toyota consistentemente considerou perigoso, devido as

condições de mercado, imitar cegamente o sistema Ford e as

técnicas americanas de produção em grande escala.

Page 28: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

19

JUST-IN-TIME: CARACTERíSTICAS, BENEFíCIOS E LIMITAÇÕES

CARACTERíSTICAS

Em trabalho publicado pela revista Industrial

Engineering, MONDEM (24) sumarizou em um diagrama (figura 1)

as principais características do sistema de produção da

Toyota, bem como seus principais benefícios. Neste artigo, o

autor diz que o ideal do JIT é obtido através de três pré­

requisitos de produção que sao: projeto de processos,

padronização das tarefas e amortecimento da produção, além de

um sistema de informação chamado de sistema KANBAN. Com

pequenas variações LEE e EBRAHIMPOUR (21) e EBRAHIMPOUR e

SCHONBERGER (12) concordam e consideram estes quatro fatores

como as bases do sistema JIT.

Além disso, segundo AGGARWAL e AGGARWAL (2) duas

condições também devem ser assumidas:

- A taxa de produção ao final da linha de montagem

deve ser nivelada, não tolerando flutuações acima

de mais ou menos 10%, e

- Cada operário trabalha o melhor que pode e tão

criativamente quanto possível a partir do momento

que é investido de responsabilidade e autoridade.

Page 29: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

I I Arnorteci~nto da Produçao

l' I

Tamanho de Lote Redu-zido

20

FIGURA 1

PERFIL DO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇAo (Mondem, (24))

(Saldas)

j'

I Aumento de Lucro Aumento do Capital Circu­lante em Relação ao Capi­tal Total

i Aumento do Giro do Capital

j

Eliminação de Supérfluos, Especial I mente Estoques

i I Fluxo eon t Inuo de Produção f

1-

Just-io-Time Autonomação (produzir os itens necessã (controle autõnomo - de defeitos) rios! nas quantidades ne-c~s~~~ias, no tempo neces-

l' sar~o

l' I I

I Métodos de prOduçãoJ ISistema de Informaçõesl Controle pe Controle de la equipe - Qualidade , de trabalho ,

I I Projeto Padronização IIIKanbanll I "Andoo"l

Dispositivo dos Pro- Automático cessos das Tarefas de Parada

\ ~ I1Bakayoke1!

I "'- "'-Tempo de Tro

Trabalhador Tarefa Completa Multifuncio- da no Tempo Pre

ca Reduzido- nal visto -

Page 30: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

21

Procurar-se-á a seguir explicar detalhadamente cada

uma destas características e condições. Além disso, para

completar a explanação do modelo da figura 1, será comentada

a parte do sistema relativa ao controle autônomo de defeitos

(AUTONOMAÇÂO) •

o detalhamento a seguir e baseado em sua maior parte

nos autores acima citados mas, principalmente, em MONDEM

(24) •

PROJETO DOS PROCESSOS

Contrariamente ao que e hábito nos sistemas

tradicionais de produção, o fluxo de peças e partes em

direção ao setor de montagem final em um sistema JIT é

"puxado" pelos setores adiante do processo. Desta maneira,

cada seção solicita à anterior o material necessário para

trabalhar e assim sucessivamente. Em relação ao lay-out

tradicional no ocidente (agrupamento por tipo de processo)

passa a existir uma mudança significativa, já que o novo lay­

out (por produto) procura agrupar os equipamentos na

seqüência completa de fabricação, desde a matéria até o

produto acabado ou o sub-conjunto a ser usado na etapa

posterior. Esta mudança traz como principal conseqüência uma

necessidade de alteração na formação da mão-de-obra. Se no

sistema tradicional a ênfase era dada ao operário

Page 31: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

22

especializado em um particular tipo de processo, no sistema

JIT passa a ser necessária a existência de funcionários

capazes de executar diversas tarefas diferentes pelo simples

fato que produtos diferentes exigirão processos diferentes em

cada caso. Em outras palavras, na produção seriada

tradicional apesar de mudar o tipo de produto, cada operário

continua executando

especializou (soldar,

somente

fresar,

o processo no qual se

tornear, etc.). No JIT, no

entanto, todos devem estar habilitados a executar vários

tipos de tarefa, de acordo comas necessidades do momento.

Assim, o primeiro requisito fundamental do JIT, o

projeto de processos por produto, requer, por sua vez, a

existência de operários multi-funcionais. Além das tarefas

ligadas ao processo produtivo estes operários realizam

manutenção no equipamento, inspeção de qualidade, limpeza e

também participam de projetos de melhoria do trabalho.

PADRONIZAÇAO DAS TAREFAS

Esta característica dos sistemas JIT não é muito

diferente dos sistemas habituais. Existe uma folha padrão de

operaçao onde estão discriminados, entre outros, os seguintes

itens:

- tempo do ciclo,

Page 32: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

23

rotina de operação e

quantidade padrão de material em processo.

o tempo de ciclo, calculado como o quociente entre a

quantidade mensal de produtos e o número de horas de trabalho

por mês, determina o ritmo da produção e, em conseqüência, o

número de funcionários alocados a cada fase do processo.

A rotina de operação indica a seqüência de tarefas a

serem executadas em cada processo.

A quantidade padrão de material em processo e a

quantidade mínima de material que deve estar permanentemente

na linha de produção, incluindo • a~ o que está sendo

trabalhado pelos equipamentos. Sem esta quantidade, a

seqüência pré-determinada de vários tipos de máquinas na

linha não consegue operar simultaneamente.

AMORTECIMENTO DA PRODUçAo

Esta característica seria, segundo MONDEM (24), o

mais importante de todos os requisitos e se constituiria na

pedra-de-toque do sistema Toyota em comparação ao sistema

Ford.

Page 33: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

24

Conforme já foi visto, quando se "puxa" a produção o

processo posterior vem ao processo anterior buscar as partes

nas quantidades necessárias no tempo necessário e

necessárias. Por esta regra de produção, se o processo

subseqüente solicita material de maneira incerta em termos de

tempo e quantidade, o processo anterior é naturalmente levado

a se preparar para esta variação na demanda, fazendo estoque

para atender as situações de pico de necessidade. Esta

variação na demanda tem um efeito multiplicativo para trás

que resulta em necessidades de estoque cada vez maiores e nos

leva de volta aos processos tradicionais de produção com

grandes volumes de matéria-prima e material em processo.

Como se ve no modelo da figura 1, alguns dos maiores

benefícios do JIT são decorrentes da redução drástica de

estoques em todas as fases do processo. Este é o motivo pelo

qual se

ao final

torna tão importante uma taxa de produção constante

da linha, conforme foi dito anteriormente na

primeira condição. Somente com uma demanda de produtos

constante e previsível é possível ter uma produção amortecida

(tendo-se em todas as fases do processo, requisições de

material constantes em termos de tipo, quantidade e tempo) e

trabalhar com níveis mínimos de estoques.

Em princípio nao e difícil imaginar o funcionamento

de uma linha de produção JIT a partir de uma demanda final

constante e de um produto único (linha de produção dedicada).

Page 34: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

25

o que dizer, ent~, ~ uma linha de produção que

simultaneamente faz produtos de diversos tipos sem parar e a

uma velocidade constante?

Esta importantíssima virtude de flexibilidade do

sistema JIT é comentada a seguir.

Segundo SCHONBERGER (34), o tamanho de lote em uma

fábrica JIT e visto de maneira diferente em relação ao

clássico modelo do lote econômico. O lote econômico de

fabricação (ou compra) consiste no tamanho de lote para o

qual a combinação de custo de preparação (ou de pedido) mais

custo de manutenção de estoque torna-se mínima. Enquanto no

Ocidente as empresas tendem a considerar o custo de

preparaçao (ou de pedido) como dado, uma empresa trabalhando

no JIT os vê como um desafio. Assim, o esforço em diminuir

estes custos traz como conseqüência a diminuição do volume do

lote econômico até o tamanho ideal de uma so peça. Através de

programas de redução de custo de preparação, a Toyota chegou

ao ponto de trocar ferramentas de estampar o capô dos

automóveis em apenas 12 minutos, quando as fábricas de

automóveis européias e norte-americanas costumam levar de 4 a

6 horas (HAYES, (16». Assim, ao se conseguir o que AGGARWAL

(1) chamou de "níveis negligenciáveis de custo de

preparação/pedido", tornou-se possível programar a produção

para fabricar simultaneamente diversos produtos diferentes em

uma mesma linha, respeitando-se, porém, os níveis de demanda

Page 35: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

26

final em termos de tipo, quantidade e tempo. Em MONDEM (24)

pode se ter uma boa idéia de como funciona este tipo de linha

de produtos misturados na Toyota.

Reconhecendo que o tipo de produção descrito no

parágrafo anterior e ideal e dificilmente atingível,

SCHONBERGER (35) apresenta cinco etapas distintas na

evolução do "lay-out" de uma fábrica em direção ao modelo

completo JIT. A primeira configuração é a tradicional por

trabalho especializado (JOB SHOP) e a última é a linha de

produtos misturados.

Finalmente, outra conseqüência nao menos importante

da produção amortecida e a compra ou chegada de insumos

Just-in-Time. Conforme ANSARI e HECKEL (3) a aplicação deste

conceito não se limita apenas aos sistemas de produção, mas

também é aplicável às operações de aquisição de insumos.

Também SCHONBERGER (34) comenta que os japoneses

consideram os estoques adquiridos de terceiros tão maléficos

quanto aqueles gerados no interior das fábricas. Assim sendo,

a idéia do JIT aplicada as compras se traduz em encomendas ou

autorizações freqüentes e em entregas também freqüentes.

Page 36: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

27

o SISTEMA KANBAN

o sistema KANBAN gerencia o método de produção Just­

in-Time. Em poucas palavras, o sistema KANBAN é um sistema de

informação que controla harmonicamente as quantidades de

produção em todos os processos (MONDEM, 24).

Inúmeros trabalhos descrevem o sistema KANBAN em

maior ou menor extensão. Referências podem ser encontradas em

AGGARWAL e AGGARWAL (2), EBRAHIMPOUR e SCHONBERGER (12), LEE

e EBRAHIMPOUR (21) e HAHN e outros (15). Além destes, existe

em SCHONBERGER (35) um apêndice exclusivamente dedicado ao

sistema em questão.

No trabalho de RIBEIRO (29), onde se descreve uma

experiência de implantação de sistema KANBAN no Brasil, o

autor define o sistema KANBAN como sendo "um sistema de

controle da produção comandado através do uso de cartões onde

quem determina a fabricação de um novo lote é a necessidade

de peças definidas pelo setor seguinte". Esta definição

enfatiza de forma clara a afirmativa de que o sistema KANBAN

é o gerenciador de informação que faz funcionar a produção

Just-in-Time. Ai podem ser encontrados inúmeros outros

detalhes tais como método de cálculo das quantidades dos

cartões, "lay-out", etapas para implantação, etc ••

Page 37: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

28

CONTROLE AUTÔNOMO DE DEFEITOS (AUTONOMAÇ~O)

Para que o sistema JIT funcione perfeitamente é

absolutamente necessário que 100% das peças que fluem de um

processo para outro sejam perfeitas. Por isso, Controle de

Qualidade e tão importante e tem necessariamente que

coexistir com o sistema JIT para garantir o fluxo contínuo de

produção (MONDEM, 24).

De acordo com EBRAHIMPOUR e SCHONBERGER (12) o

Sistema JIT lida naturalmente com o problema da qualidade;

com quantidades pequenas de produção os erros são logo

descobertos. Além disso, os dois autores reafirmam em relação

ao JIT um dos princípios fundamentais do Controle Total de

Qualidade: a responsabilidade pela qualidade é do pessoal da

produção e não do departamento de Controle de Qualidade. Este

princípio é considerado decisivo também por autores como

SCHONBERGER (34) e RIBEIRO (29), bem como por HAYES (16)

que afirma que os gerentes japoneses estão na realidade um

passo adiante: qualidade é antes de mais nada uma maneira de

pensar.

Autonomação é simplesmente a maneira com que estes

princípios são postos em prática. Em termos de equipamento, o

equipamento autônomo -e aquele no qual sao instalados

dispositivos automáticos de checagem de qualidade (BAKAYOKE)

Page 38: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

29

que param a produção quando sao detectados problemas de

qualidade.

Este mesmo conceito de autonomia é estendido às

linhas de produção que utilizam intensamente mão-de-obra.

Neste caso, é usado o ANDON -que e um painel luminoso onde

cada operação e representada por uma luz. Se ocorre alguma

coisa errada o operário do processo com problemas acende a

sua luz e toda a linha para. Além disso, os funcionários

próximos ao posto de trabalho em questão se dirigem ao mesmo

para ajudá-lo na solução do problema. Em MONDEM (24) pode-

se encontrar alguns detalhes a mais sobre este processo.

Page 39: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

30

BENEFíCIOS ESPERADOS

Em consonância com o modelo apresentado na figura 1,

a maioria dos trabalhos abordando o JIT considera a redução

do estoque e dos inúmeros custos associados, como o maior

benefício daquele sistema. Não e pois sem razao que um

gerente senior japonês disse:

"Nós acreditamos que estoque é a raiz de todo

mal. Você ficarã surpreso com o quanto se

simplificam os problemas e se reduzem custos

quando não há estoques. Por exemplo, você não

necessitará de nenhum gerente de estoque ou de

sistemas sofisticados para controle de

estoque. Também nao precisará de expedidores,

porque nao tem que expedir mais. E,

finalmente, quando alguma coisa está errada o

sistema para. Imediatamente toda a

organização se envolve no problema e trabalha

rapidamente para resolvê-lo. Se você possui

estoques de segurança estes problemas em

potencial permanecem ocultos e podem nunca ser

corrigidos."

(HAYES, 16)

Page 40: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

31

Também EBRAHIMPOUR e SCHONBERGER (12), SCHONBERGER

(34) e (35) e WALLEIGH (42) comentam a redução de custo de

manutenção de estoque proveniente do JIT.

Este sistema levou a Divisão Pontiac da GM americana

a obter uma redução de 30% em estoque num período de oito

meses juntamente com redução de sucata e de custo unitário

das partes. Além disso, LEE e EBRAHIMPOUR (21) consideram

possível o aumento dos lucros como conseqUência de maior

qualidade dos produtos, maior produtividade, maior eficiéncia

de mão-de-obra e equipamento, obtendo-se mais motivação e

espírito de equipe na força de trabalho.

Ainda em relação a estoques, HAHN e outros (15)

comentam que a Toyota gira seus estoques de 41 a 63 vezes por

ano enquanto o habitual nas fábricas de automóveis americanas

e de 5 a 8 vezes. Também AGGARWAL e AGGARWAL (2), entre

outros exemplos, citam a Chrys1er canadense que graças ao

sistema obteve uma redução de 50% no material em processo.

Aumento na qualidade

comentado por SCHONBERGER (34)

outros (15).

e outro importante benefício

e (35) e também por HAHN e

Um ótimo sumário dos benefícios obtidos pelo JIT em

forma de diagrama de causa e efeito pode ser visto na figura

2, extraída de SCHONBERGER (34). Também em RIBEIRO (29)

Page 41: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

32

FIGURA 2

OS REFLEXOS DA PRODUÇÂO JUST-IN-TIME (Schonberger, (34),)

Retirada deliberada dos estoques amortecedores e/ou trabalhadores

(F) acentua- (H) Consciência mais

/ d~ dos problemas e respec Menos estoques amortecedores

. \ ~"" tt'M"'_" / tLvas causas

",,-L. ~ Idéias para reduzir o ta manha dos lõtes

lhorar a execu ção das entre= gas no JIT

Ideias para controlar (E)

dos defe1itos ~P~~ia~~~1~6;n~:~:i_ tos

I (B) (G) Reduções no H

tamanho dos Produção JIT~ Controle sobre refu gos e sobre qualida de -

~ ____________ ~~ Ritmos de pro duçáo mais re guIares -

lotes L-,-____ -r __ J

(A) Menos estoque no sistema

,

(I) Menos despesas indiretas com: juros sobre os esto­ques ociosos, espaços e equi pamentos p/ a armazenagem -dgs estoques, contabiliza­çao dos estoques e contro le f{sico dos mesmos -

,

(C) M~nos horas de mao-de-obra no retrabalho

,

(D) Menor Desperd{ cio de mate':' riais

MENOS MATERIAL, MENOS MÃO-DE-OBRA E MENOS INSUMOS INDIREIOS PARA CONSEGUIR A MESMA PRODUÇÃO OU UMA PRODUÇÃO MAIOR = MAIOR PRODUTIVIDADE

MENOS ES11JQUE NO SISTEMA = RESPOSTAS MAIS RÁPIDAS AO MERCADO, MELHOR PREVISÃO E ME NOS ADMINISTRAÇÃO

Page 42: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

33

podem ser encontrados diversos gráficos quantificando os

benefícios do JIT obtidos em sua experiência. Estes gráficos

e quadros comparativos apresentam números relativos à

diminuição de horas extras trabalhadas, material em processo

e estoques.

Em pesquisa conduzida na indústria automobilística

americana e seus fornecedores, CELLEY e outros (8) obtiveram

em uma amostra de 131 empresas (359 questionários enviados) o

seguinte resultado em termos de benefícios obtidos com o JIT.

BENEFíCIO FREQtmNCIA %

Redução de estoque 60 55,6

Melhoria nas relações cf clientes 49 45,4

Melhoria na qualidade 47 43,5

Remessas JIT bem sucedidas 37 34,2

Melhores relações cf fornecedores 32 29,6

Maior produtividade 36 33,3

Redução nos custos de preparaçao 25 23,1

Melhores relações cf funcionários 24 22,2

Em extenso trabalho relativo ao processo de compra

Just-in-Time e ao desafio que representa sua implantação nos

EUA, SCHONBERGER e GILBERT (36) enumeram uma grande série de

Page 43: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

34

benefícios para comprador e fornecedor em relação a cinco

aspectos distintos, a saber:

custos de material,

- eficiência administrativa,

- qualidade,

projeto (Engenharia de Produto) e

produtividade.

Também em trabalho relativo à aquisição de insumos

pelo sistema JIT, ANSARI e HECKEL ( 3 ) argumentam que os

custos adicionais de transporte a que se incorre no processo

sao amplamente cobertos pela redução de

do estoque. Estas conclusões sao,

amparadas por uma ampla pesquisa (não

ANSARI, sobre Just-in-Time nos EUA.

custos na manutenção

segundo os autores,

publicada), feita por

Finalmente, de acordo com resultados preliminares de

um estudo de caso feito por GIUNIPERO e KEISER (14), apesar

do JIT ainda estar em sua fase inicial de implantação, alguns

benefícios já foram constatados:

- Melhoria de comunicações com fornecedores;

Maior proximidade nas relações com pessoal da

engenharia;

Page 44: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

35

- Eliminação de grande numero de depósitos alugados;

- Redução no número total de fornecedores;

Melhoria na performance de remessa de vendas

(análise estatística demonstra uma clara tendência

para diminuição de atrasos nas entregas);

Melhoria no desempenho de fornecedores marginais,

conforme a percepção do pessoal de compras.

Page 45: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

36

LIMITAÇÕES

As limitações que se pretende comentar aqui sao

inerentes ao processo em si e não têm relação com os pré­

requisitos e os outros fatores relacionados anteriormente.

Apesar de, teoricamente, nao existir limitação para

a implantação do JIT, verificou-se que o sistema é mais

eficiente quando os itens controlados possuem alta atividade,

repetibilidade e pequena variação nas quantidades

consumidas. Isto e o que afirma RIBEIRO (29) que vai além e

fornece um sistema para seleção de itens adequados ao

sistema.

Sob este aspecto, AGGARWAL e AGGARWAL (2) alegam que

somente 60 a 70% de todas as partes podem ser gerenciadas

pelo KANBAN por serem usadas regularmente e em grandes

volumes. Ainda segundo eles, os outros itens deverão ter sua

produção gerenciada pelos métodos convencionais.

Por outro lado, a grande maioria dos autores não dá

importância a este tipo de limitação, talvez por pensar como

SCHONBERGER (34) que comenta que no papel, pelo menos,

qualquer firma em qualquer indústria que esteja disposta a

diminuir tamanhos de lote e estoques e se mover na DIREÇÃO

GERAL do sistema JIT pode esperar obter ALGUNS de seus

benefícios.

Page 46: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

37

FATORES A CONSIDERAR NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÂO DO SISTEMA

(O MODELO CONCEITUAL)

INTRODUÇÂO

Como mencionado no capítulo inicial, o principal

objetivo deste trabalho e procurar estabelecer um modelo com

OS fatores que devem ser considerados para o sucesso da

implantação do JIT em empresas brasileiras. Sendo as

experiências neste sentido muito recentes em nosso país, a

literatura disponível para pesquisa é muito escassa. Por este

motivo, o modelo conceitual proposto na figura 3, e que sera

explicado em detalhes nas páginas seguintes, está baseado nas

experiências de outros países, principalmente EUA. Tomando

como ponto de partida este modelo e testando-o em alguns

casos de implantação na indústria brasileira, procurar-se-á

chegar a um modelo mais adequado a realidade nacional.

Com o objetivo de tornar mais cômoda a leitura e

mais produtivas as entrevistas a serem realizadas, julgou-se

oportuno, como se ve na figura 3, agrupar os fatores em três

diferentes categorias: fatores ambientais, estruturais e

gerenciais. Os critérios de classificação estão expostos a

seguir.

Page 47: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

FA1URES GERIlNCIAIS

1.

o papel da gerência na mudança da cultura e a importância de seu en volvlmento para o sucesso do Just':" in-Time

2. mTIVAç10 DOS FIJJICIONlliOS

Gerência participativa, trabalho multifuncional, benefIcios, salá rios, ambiente de trabalho, etc7

3. TREIHAMKIITO/RI!CRIITAHKNTO

polltica de Treinamento e Recru­tamento, treinamento de fornece­dores, análise de valor, etc.

4. POLtrrCA DE IMPI.AIfIAçAo

A implantação do Just-in-Time vis ta como a introdução de uma novã tecnologia

FIGURA 3

o MODELO CONCEITUAL

FATORES DE ÊXlTO NA IMPLANTAÇÃO DO JUST- IN-TIME

FAl'URES AMBlE!ITAlS

1. CULTIlRA

Influencia da diferença de cultura na implan tação do Just-in-Tirne -

2. HRRCAOO FORNRCIIDOR

Comportamento dos fornecedores diante das ca racterIsticas das compras Just-in-Time

,( FA1'ORI!S RSTRIlTORAlS

1. SISTEMA :rllClllOO

Tipos de processo, lay-out, programação de manutenção e produção, troca rápida de fer­ramenta, etc.

2. SISTI!MA DE INFORKAçAo

O Kanban como SI O uso da informação e os padrões de comuni­cação na empresa

3. ESPECIALIZAÇÃO DA FÃBRICA

A fábrica focada e sua sinergia com o Just­in-Time

w 00

Page 48: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

39

Como Fatores Ambientais foram classificados aqueles

que, por suas características,

Assim, os

funcionários

possíveis efeitos

na implantação do

da

são externos às empresas.

cultura nacional dos

JIT serao abordados com o

título de Cultura. Em seguida, a influência do relacionamento

com fornecedores na adoção do sistema, será objeto de análise

do fator Mercado Fornecedor.

Foram chamados de Fatores

em princípio, estariam mais

Estruturais aqueles que,

fortemente ligados às

características da indústria a qual a empresa em questão

pertence. Em Sistema Técnico procurou-se avaliar o tipo de

processo produtivo usado pela empresa e seus efeitos na

implantação do Just-in-Time. O mesmo foi feito em relação ao

fluxo de informação e comunicação na empresa sob o título de

Sistema de Informação. O último fator deste grupo,

Especialização da Fábrica, tem como

influência desta característica

principalmente nos conceitos relativos

objetivo discutir a

específica baseado

à fábrica facada.

O terceiro grupo dos fatores procura abrigar

aqueles mais ligados a administração da empresa e do sistema

Just-in-time no seu dia a dia. Por serem, a princípio, mais

controláveis pelo comando da organização foram intitulados de

Fatores Gerenciais. O primeiro deles, Cultura da

Empresa/Mentalidade Gerencial, volta-se especificamente para

o papel requerido da gerência na mudança da cultura da

Page 49: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

40

empresa que se dá por ocasião da introdução do Just-in-Time.

Motivação dos Funcionários vai, a seguir, analisar as

práticas gerenciais

engajamento de

relevantes

todos em

para que

prol

se obtenha o

do sistema.

Treinamento/Recrutamento explora as necessidades colocadas

pela adoção do Just-in-Time em relação as respectivas

políticas e, finalmente, política de Implantação procura

analisar a necessidade de encarar a adoção do JIT como um

projeto de inovação tecnológica e os requisitos que advem

desse reconhecimento.

Page 50: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

41

FATORES AMBIENTAIS

CULTURA

Propositadamente este fator foi colocado como o

primeiro a ser descrito. E isto porque, na realidade, seria

inócuo considerar todos os outros fatores se uma empresa

acredita que a "cultura nacional" e um fator impeditivo à

aplicação e práticas desenvolvidas em uma cultura tão

especial como ~

e a japonesa. Pode parecer estranho ao leitor

que esta análise de fatores a considerar na adoção de um

sistema Just-in-Time, comece com um fator que nao deva ser

considerado. Ocorre, entretanto, que, como será visto na

continuação, há uma certa crença de que a cultura ocidental

não é compatível com a aplicação de métodos desenvolvidos na

cultura oriental. Por se constituir na primeira grande fonte

de controvérsias quando se discute a aplicação de técnicas

industriais japonesas em países ocidentais, este estudo não

poderia se furtar a abordar este tema.

Um dos primeiros autores a escrever sobre esta

controvérsia foi Peter Drucker. Em uma das primeiras

discussões a aparecer no ocidente sobre o assunto (DRUCKER,

11), o autor considerava que imitar as políticas gerenciais

japonesas seria descabido e inútil. Isto porque, segundo ele,

cada uma destas políticas estava profundamente enraizada nas

tradições e cultura japonesas. Cada uma delas aplicaria aos

Page 51: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

42

problemas de uma sociedade e economia industriais os valores

e costumes desenvolvidos tempos atrás pelos guardiões do clã

japonês, pelos sacerdotes Zen em seus mosteiros e pelos

calígrafos e pintores das escolas de arte japonesas. Apesar

disso, Drucker argumentava que a atenção e estudo cuidadoso

destas técnicas poderiam mostrar o caminho para resolver

alguns problemas de nossas empresas.

Aparentemente, após dez anos de estudo, a opinião do

autor mudou de forma

Harvard Business

significativa. Em

Review (DRUCKER,

outro artigo para a

10) ele comenta que

considerar que estas regras administrativas representam

somente tradição e valores tipicamente japoneses, está

errado. Ao invés disso, argumenta que a maneira pela qual as

regras sao implementadas pode ser caracteristicamente

japonesa, mas as regras em si não representam esta tradição e

teriam seus fundamentos aí altamente questionáveis.

Em linhas gerais, AGGARWAL e AGGARWAL (2) e ROBERTS

(30) concordam que assertivas quanto à existência de um

estilo 1'6nico" japonês de gerenciamento calcado em

tendências culturais são um exagero.

Observando a questão por outro ángulo LEE e

EBRAHIMPOUR (21) alegam que os próprios japoneses provaram

que políticas, filosofias gerenciais e técnicas podem ser

importadas e, com algumas modificações, serem aplicadas em

Page 52: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

43

ambiente e cultura diferentes. De forma mais incisiva, TREVOR

e outros (38) em trabalho focalizando o desenvolvimento dos

sistemas japoneses de gerenciamento na Inglaterra e Alemanha

colocam que:

I1Assim, na Grã-Bretanha "cultura" -e

freqüentemente a razao pela qual "não se pode

fazer isto". Cultura se torna um álibi para

não mudar, para nao se olhar seriamente para

as sementes do sucesso em competitividade em

outros lugares ••• "

"Conforme observou Max Weber, o pai alemão das

ciincias sociais, "o apelo ao caráter nacional

e geralmente uma mera confissão de

ignorância" •

Apesar de tambim afirmar que fatores culturais

japoneses, tais como emprego vitalício e decisões grupais,

embora muito diferentes dos nossos (americanos), nao parecem

ser antecedentes necessários ao Just-in-Time, SCHONBERGER

(34) considera adequados alguns comentários adicionais. A

existincia de 125 milhões de habitantes no arquipélago

japonis, que tem uma área equivalente à do estado americano

de Montana, mas sem as riquezas naturais deste, leva os

japoneses a serem naturalmente habilidosos em trabalhar com

poucos recursos e evitar desperdícios. Sendo assim, parece

Page 53: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

44

razoável associar esta tendência à economia, ao processo JIT

de produção e controle de estoque. Assim, continua o autor,

para o empregado de uma fábrica japonesa, por exemplo, os

seguintes fatos sao fontes óbvias de desperdício de

recursos:

Materiais parados podendo se deteriorar

representam perda de recursos materiais escassos;

Áreas de armazenagens necessárias para materiais

parados são perda de espaço, que também é escasso;

Fabricar partes, subconjuntos ou produtos finais

de maneira descuidada leva a perdas em recursos

materiais e energéticos.

Esta linha de argumentação e endossada por CELLEY e

outros (8) da forma que se segue:

"Inicialmente houve muito ceticismo porque se

pensava que os japoneses possuíam vantagens

culturais e geográficas unicamente adequadas

para operar o JIT com sucesso. Embora seja

verdade que o esquema japonês de implementação

integra fatores culturais, gerentes neste país

(EUA) estão começando a observar que os

requisitos FUNDAMENTAIS para o JIT nao sao

Page 54: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

45

baseados culturalmente. Os gerentes

americanos deveriam primeiramente identificar

e alcançar estes requisitos fundamentais para

então utilizar características culturais

americanas quando se mostrar vantajoso fazê-

lo. ti

Apesar da discussão sobre emprego vitalício ser

conduzida mais adiante

observar que alguns

neste trabalho, torna-se importante

autores, discordando da afirmativa

anterior de Schonberger, não consideram o emprego vitalício

como uma característica cultural. Assim, Haruo Shimada

(citado por REITSPERGER, 28) afirma que o sistema

paternalista japonês de emprego não é originário das relações

feudais da sociedade pré-industrial, mas sim, de reações

econômicas racionais dos empregadores em decorrência da

carência de mão-de-obra qualificada e da alta rotatividade de

pessoal na fase inicial do moderno crescimento industrial

japonês. Também citado no mesmo trabalho, Thurley sugere que

se deva conceituar a "gerência japonesa" como uma "abordagem

dinâmica para solução de problemas em vez de uma gama de

princípios sociais".

Em estudo recente onde sao comparados japoneses e

americanos em relação a processos de tomada de decisão e

comunicação, PASCALE (27) conclui que em princípiO os dados

obtidos não levam a supor que a diferença cultural seja

Page 55: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

46

decisivamente responsável por processos decisórios e de

comunicação diferentes em empresas americanas operando nos

EUA e empresas japonesas operando no Japão. Como curiosidade

vale a constatação feita pelo autor de que uma das causas da

comunicação informal mais desenvolvida no Japão reside no

fato da escrita por ideograma nao ser adequada a

processamento mecânico, encorajando portanto o contato face a

face.

Finalmente, BETHLEM (6) cita em seu capítulo 5, que

tem por título "Cultura e Management", estudo realizado pelo

professor G. Hofstede para a ILO (International Labour

Office) sobre diferenças culturais relacionadas ao trabalho

em mais de cinqüenta países. O estudo em questão procurou

identificar dimensões de valores para as culturas dos países

visitados, coletando dados de entrevistas com funcionários

de uma empresa multinacional neles instalada. As quatro

dimensões identificadas foram:

Individualismo x Coletivismo,

Distância do Poder (grande x pequena),

- Fuga à incerteza (forte x fraca) e

Masculinidade x Feminilidade.

sâo as seguintes as definições apresentadas para

estas quatro dimensões de valores culturais:

Page 56: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

47

"Individualismo significa preferência por uma

estrutura social frouxa, em que cada indivíduo

cuida apenas de si mesmo e de sua família.

Coletivismo, preferência por uma estrutura

social bem entrelaçada, em que cada indivíduo

pode esperar que seus parentes ou classe ou

outro tipo de grupo a que pertença cuidem

dele, em troca de lealdade incondicional.

Distância do Poder significa até que ponto os

membros de uma sociedade aceitam a

distribuição desigual do poder. Isto afeta o

comportamento dos menos poderosos em rel·ação

aos mais poderosos.

Fuga à incerteza é o grau de desconforto que

sentem os membros de uma sociedade com a

incerteza e a ambigüidade. Esse desconforto

leva as pessoas a apoiarem crenças que

prometem certeza e a manterem instituições que

protegem o conformismo.

Masculinidade representa a preferência de uma

sociedade por realização, heroísmo,

combatividade e sucesso material. Feminilidade

representa a preferência da sociedade por

Page 57: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

48

relacionamentos, modéstia, apoio aos fracos e

qualidade de vida."

Ainda sobre esta última dimensão, o autor comenta

que o ponto básico de diferenciação está nos papéis sociais

dos sexos. As "sociedades de performance" (masculinas)

procuram uma grande diferenciação entre os sexos enquanto as

"sociedades de bem-estar" (femininas) permitem à mulher e ao

homem papéis semelhantes.

Os pesquisadores do ILO atribuíram graus às

dimensões em cada ~ pal.s estudado e montaram três gráficos

relacionando distância do poder x individualismo, distância

do poder x fuga -a incerteza e fuga a incerteza x

masculinidade (ver gráficos nas páginas seguintes). Nos dois

primeiros, Brasil e Japão têm suas sociedades caracterizadas

por grande distância do poder, baixo individualismo e grande

fuga a incerteza. No terceiro a sociedade japonesa foi

caracterizada como altamente masculina em oposição a

brasileira, que foi considerada ligeiramente feminina. A

cultura norte-americana foi considerada como de pequena

distância do poder, alto individualismo, pequena fuga da

incerteza e grande masculinidade.

Na conclusão do capítulo, BETHLEM comenta a

dificuldade de se chegar a resultados positivos no

desenvolvimento de executivos e de empresas com material de

Page 58: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

49

GRÁFICO

OI~IA DO PDOER (lNOEX)

'DEN SWE •

• • IRE GBR

°NZl -Na!

-MEX

-YUG

GRE o

PlOTAGEM DA DISTÂNCIA DO PODER (DF'? X FI I'IIRA CINOlENTA AlísES E TRts REGIÕES

BETHLEM (6)

Page 59: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

, GRAFICO 2

BoilCO ildivi<llalsmo

:;-9 , x w o ~

o :; Ul :::; .. .AUT ::> "19l o 5 i5 ~

IFE· ·SWE 'DEN

'NZL

50

DISTÂNCIA DO PODER :.:(Nl;:::.EX~IJ't~_~ _____ ~

IDO' 'PER

'ECA 'VEN

SAL SI~ ,

'Y\JG

'TlJl 'BRA

IND

l'iIN '

Grande DP

MAL'

f'HI'

NET'

GBR , AUL'

, USA Gtmde DP

Aijo individuali orno Pequeno DP

Baixo mdiviOJolisrro

DISTÂNCIA DO POOER (Df') X INDIVIDUALISMO/CCl..ETIVISMO PLOTI\DD _ CINÓUENTA fJ<íSES E

TR~S REGKES

BETHLEM (6)

Page 60: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

, GRAFICO 3

'SWE

i;!; ,

'NCfl

• DEN

'NET

• FIN

CH..

'OOS 'YUG

51

MASCULINIDADE (INDEX - MAS)

'THA TAl

SRA' ISR

FRA' I SFA •• "TU

K~· -PAN ,

PER

SAL'

'URU 'GuA

'POR

, IRE

R.DTAGEM DE MASCULNlDADE/FEMINILIDADE X FUGA DA INCERTEZA (FI) F11IRA CINOUENTA

PAíSES E TRÊS REGIÕES

BETHLEM (6)

Page 61: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

52

ensino e professores importados, particularmente se estes vem

dos EUA, onde, pela análise feita, a cultura tem

características quase simétricas às do Brasil.

Embora isto não seja uma conclusão do autor supra

citado, e impossível deixar de notar que Brasil e Japão em

dois dos trés gráficos apresentados ocupam o mesmo quadrante

(oposto aos EUA) no mapeamento cultural feito pelo ILO. Isto

parece sugerir que sob certos aspectos culturais o JIT possa

ser mais facilmente implantado no Brasil que nos EUA.

EM RESUMO

Não há na

convicente no sentido de

literatura,

a cultura

nenhuma argumentação

brasileira (e qualquer

outra cultura) ser um fator limitativo à implantação do Just­

in-Time. A maioria das indicações aponta para o surgimento do

sistema no Japão principalmente como conseqüência das

particularidades vividas pela indústria daquele país nos anos

posteriores à 2a. Guerra Mundial. A inclusão do fator Cultura

no modelo conceitual da pesquisa se justifica para corroborar

que o êxito da implantação do JIT nao depende do fato de uma

empresa considerar em maior ou menor

peculiaridades da cultura nacional na

procedimentos desenvolvidos em outra cultura.

medida

adoção

as

de

Page 62: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

53

o MERCADO FORNECEDOR

Conforme foi comentado na caracterização do sistema

JIT, quando se estabiliza a demanda ao final do processo e a

produção i "puxada" a partir dai, torna-se possivel integrar

o JIT com os fornecedores e os fornecedores destes. Caso esta

integração com os fornecedores nao se efetue, boa parte dos

beneficios oriundos da redução de estoques será perdida pela

necessidade de manter estoques de matiria prima para as

fases iniciais do processo de produção. Por este motivo a

análise do fator mercado i quase que totalmente voltada para

o mercado fornecedor, se bem que para uma empresa Just-in­

Time, seria interessante tambim entregar seus produtos por

este sistema,

acabado.

eliminando assim os estoques de produto

Em relação ao mercado fornecedor, o primeiro

comentário a ser feito i praticamente uma continuação do que

se disse a respeito de interesses comuns na parte referente à

cultura.

Quando se fala sobre a importância que os gerentes

japoneses dão a tudo que diga respeito ao longo prazo, HAYES

(16) define as relações entre fornecedor e consumidor como

uma parceria e que, como em toda parceria, o objetivo desta é

um relacionamento de longo prazo mutuamente benéfico.

Page 63: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

54

Voltando a negar a origem cultural e reforçando as

assertivas anteriores de que os fundamentos do JIT não têm

esta base, HAHN e outros (15) abordam a questão da seguinte

forma:

"o objetivo fundamental da função de compras

é prover

de forma

a empresa com materiais de qualidade

confiável pelo custo mais baixo

(custo ótimo) a longo prazo."

"A utilização de sistemas e fornecimento JIT

não altera o objetivo fundamental da função de

compras. No entanto a abordagem básica usada

para alcançar este objetivo é diferente."

"Isto significa que a ênfase deve ser mudada

de um relacionamento altamente competitivo,

orientado para um adversário, para uma relação

a longo prazo orientada para a cooperação."

nUm relacionamento de longo prazo com

fornecedores enfatiza um esforço mútuo para

reduzir custos e repartir as economias daí

resultantes. Em muitas firmas isto exige um

reexame na filosofia que governa a relação

comprador-fornecedor."

Page 64: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

55

Quando comparam as práticas de compra e fornecimento

tradicionais nos EUA versus compra e fornecimento pelo

sistema JIT, LEE e ANSARI (20) consideram que existem nove

atividades principais relacionadas ao fornecimento de

materiais onde o sistema JIT é diferente do tradicional. Uma

tabela com um sumário das diferenças em relação a estas nove

atividades é mostrada na figura 4. Além disso, serão feitos

comentários adicionais sobre alguns dos itens em questão

baseados principalmente neste trabalho, mas também em

SCHONBERGER (34) HAHN e outros (15), SCHONBERGER e GILBERT

(36) e AGGARWAL e AGGARWAL (2).

LOTES DE COMPRA

A importância de compra e produção em pequenos lotes

já foi vista nas características do JIT. O grande problema

dos pequenos lotes ainda é o custo do transporte. Duas são as

abordagens possíveis para este problema. A primeira e

procurar desenvolver fornecedores localizados próximo a

empresa sempre que possível. Ainda de acordo com esta

abordagem, pOde-se encorajar os fornecedores a se instalarem

perto das empresas através do oferecimento de contratos de

fornecimento a longo prazo.

Page 65: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

ATIVIDADE DE COMPRA

Lote de Compra

Seleção de Fornecedores

Avaliação de Fornecedores

Inspeção de Recepção

FIGURA 4

ANALISE COMPARATIVA DAS pRATICAS DE COMPRA TRADICIONAL NOS EUA E JAPONESA

COMPRA JUST-IN-TIME

Compra em pequenos lotes com embarques fre­qUentes.

Fonte única de sUErimentos para uma dada pe­ça com localizaçao próxima e contrato de lo!! go prazo.

~nfase na qualidade do produto1 desempenho nas entregas e preço, porém oao se aceita ne nhurn percentual de rejeição de peças.

Contagem e inspeção de recepção reduzida eventualmente eliminada.

e

COMPRA TRADICIONAL

Compra em grandes lotes com embarques menos fre­qUentes.

Várias fontes de suprimento para uma dada parte e contratos de curto prazo.

Enfase na qualidade do produto, desempenho nas en tregas e preço, e, também 2% de rejeição é acei~ tável~

o comprador é responsável por receber, contar e inspecionar todas as peças que chegam.

Negociação e Processo de Concorrência Objetivo princieal ~ alcançar qualidade produtos atraves de contratos de longo zo e preços razoáveis.

nos pra-

ObJ~tivo principal é conseguir o menor preço pos­s1vel.

Determinação do Modo de Transporte

Especificação do Produto

Documentação

Embalagem

LEE e ANSARI (20)

Envolvimento com fretes de entrada e sarda de materiais, bem como preocupação com pon­tualidade nos embarques. Programação de em­barques ê responsabilidade do comprador.

Especificações "frouxas". O comprador confia mais em especificações de desempenho do que no projeto e o fornecedor é encorajado a ser criativo ••

Menos documentação formal. Hora de entrega e quantidade podem ser mudadas por telefone.

Pequenos "containers" padronizados contendo a quantidade certa e com as informações cor retas.

Envolvimento com fretes de sarda de materiais ao menor custo possrvel. prograrnção de embarques é responsabilidade do fornecedor.

Especificações rígidas. O comprador confia mais nas especificações de projeto do que no desempe­nho do produto e os fornecedores têm menos liber dade em relação às especificações.

Exige grande perda de tempo e documentação for­mal. Mudanças em datas de entrega e quantidades exigem pedidos de compra.

Embalagem ~omum para qualguer tipo de peça sem e! pecificaçoes claras de codigo das peças e conteu do-

U1

'"

Page 66: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

57

A segunda possibilidade está em desenvolver um

programa de fretes consolidado entre diversos fornecedores.

Por este programa, em dias pré-estabelecidos, um caminhão

percorreria os fornecedores, embarcando pequenos lotes e

faria entregas Just-in-Time ao cliente comum. Segundo LEE e

ANSARl (20), ambas as abordagens tém sido usadas por empresas

americanas, tais como Hewlett-packard e GM, bem como pela

fábrica da Kawasaki nos EUA.

SELEçAo E AVAL lAÇA0 DE FORNECEDORES

Esta e uma atividade considerada de importância

decisiva para o JlT, já que nao basta apenas qualidade mas

consistência na qualidade ao longo do tempo. Esta

consistência so e possível através de envolvimento do

fornecedor no projeto do produto e um relacionamento de longo

prazo que encoraje lealdade e minimize os riscos de

interrupção no fornecimento. Outra condição para a existência

deste tipo de relacionamento é um número de fornecedores

pequeno que possam dar e ter atenção privilegiada por parte

do comprador.

TRANSPORTE

Em relação a transporte, um dos problemas citados

com maior freqüência e a distância geográfica separando

Page 67: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

58

fornecedores de consumidores, sendo mesmo considerado por

SCHONBERGER e GILBERT (36) como um dos maiores obstáculos

para a difusão do JIT nos EUA. Também contribui para o

agravamento do problema o fato do transporte estar em mãos de

firmas independentes que na maioria das vezes nao têm como

principal preocupação servir adequadamente a seus clientes.

Apesar disso algumas soluções têm sido encontradas como, por

exemplo, a da fábrica da Honda nos EUA que contratou uma

empresa de transportes para seu serviço exclusivo, tornando-

se inclusive responsável pela programação das viagens segundo

sua conveniéncia. A outra solução possível o já citado

programa de consolidação de fretes que segundo ANSARI e

HECKEL (3 ) tem funcionado bem, particularmente para a

fábrica da Buick localizada em Flint, Michigan.

EMBALAGEM

Este é um aspecto que na maior parte das vezes e

relegado a segundo plano pelos sistemas tradicionais e

normalmente não é responsabilidade do comprador. Pelo sistema

JIT a idéia e usar pequenos "containers" padrão para cada

tipo de peça e código. A partir do momento que estas

embalagens contenham a quantidade precisa de peças tem-se as

seguintes vantagens:

- inexistência de excessos ou faltas,

Page 68: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

59

- fácil e precisa contagem das peças;

especificação precisa do conteúdo das embalagens,

o que evita que o comprador cometa erros.

Além das vantagens acima, SCHONBERGER e GILBERT

(36) comentam que no Japão as embalagens protegem muito mais

e isso evita prejuizos decorrentes de danos no transporte.

Ainda neste trabalho os autores discutem extensamente as

compras e o fornecimento Just-in-Time e relacionam as

características do mesmo de maneira análoga em relação a

quatro aspectos principais:

qualidade e transporte.

fornecedores,

Esta relação está listada a seguir:

Fornecedores:

- poucos fornecedores;

- fornecedores próximos;

- trabalhar repetidamente com

fornecedores;

quantidade,

os mesmos

Page 69: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

60

- uso de técnicas de análise de valor para

possibilitar que os fornecedores desejáveis

mantenham seus preços competitivos;

- agrupamento de fornecedores distantes;

- concorrência entre fornecedores principalmente

limitada a novas peças;

- comprador deve resistir a tendência de integração

vertical;

fornecedores sao encorajados a estender o JIT para

os seus fornecedores.

Quantidades:

- estáveis (um desejável pré-requisito);

- embarques freqüentes em pequenos lotes;

- contratos de longo prazo;

- papelada e burocracia mínimas;

Page 70: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

61

quantidades nos embarques variáveis de uma para

outra entrega, mas com total final fixo;

pouca ou nenhuma permissão de excesso ou falta de

peças em uma entrega;

encorajar fornecedores a embalar as quantidades

certas;

- encorajar fornecedores a reduzir seus lotes de

produção (evitar armazenagem de material nao

enviado).

Qualidade:

- mínima imposição de especificação de produto ao

fornecedor;

- ajuda aos fornecedores para que estes atinjam

requisitos de qualidade;

- proximidade entre pessoal de garantia de qualidade

do fornecedor e do comprador;

- encorajar fornecedores a usar gráficos de controle

de processos em vez de inspeção por amostragem.

Page 71: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

Transporte:

62

programação de chegada dos fretes;

ganhar controle usando transporte

exclusividade, e consolidação

armazenagem quando possivel

transporte de carreira.

próprio, ou com

de fretes e/ou

em vez de usar

A implantação de um sistema como este, que na

maioria dos aspectos e diferente das práticas vigentes,

requer um grande esforço de coordenação e controle entre as

organizações compradora e vendedora.

o trabalho do comprador junto ao fornecedor foi

muito bem definido por SCHONBERGER e GILBERT (36) como

"missionário" e já havia sido constatado por HAYES (16) que

comentara que os japoneses não se contentavam simplesmente em

pressionar seus fornecedores para melhorar a qualidade. Ao

contrário, eles os ajudavam a consegui-la.

Em relação a seleção de peças a serem compradas pelo

sistema JIT, ANSARI e HECKEL (3) asseguram que até aquela

epoca (1987) nenhuma empresa americana havia adotado este

critério para todos os seus itens de compra. Neste mesmo

trabalho, os autores sugerem ainda que se deve tentar obter

entregas diárias dos itens classe A e classe B e que nao há

Page 72: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

63

impacto significativo em relação ao custo de manutenção do

estoque dos itens classe C, podendo estes serem entregues em

média duas vezes por ano. Já WALLEIGH (42) narrando sua

experiência na Hewlett-Packard, conta que "lá eles começaram

pelos itens volumosos e só então partiram para aqueles de

alto valor unitário".

Como última observação a respeito do fornecimento

Just-in-Time, deve ser dito que ANSARI e MODARRESS (4)

listaram os problemas mais freqüentes encontrados na

implantação destes sistemas como sendo:

falta de interesse por parte dos fornecedores,

- falta de suporte da alta gerência,

baixa qualidade dos produtos,

falta de suporte e interesse dos funcionários,

- falta de suporte das empresas de transporte,

falta de suporte do pessoal de engenharia e

falta de comunicação.

Dentre as diversas recomendações que sao feitas

pelos autores para superar estes problemas estão a educação e

treinamento, tanto para fornecedores quanto para o pessoal

interno da empresa.

Page 73: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

64

Para o êxito do Just-in-Time e o aproveitamento

integral de suas vantagens, torna-se necessário que a empresa

busque aproximar-se de seus fornecedores percebendo-os como

parceiros no negócio. Além de tornar o JIT acessível ao

fornecedor, deve com ele procurar solucionar os problemas

comuns tais como qualidade, transporte, embalagem, preços,

etc.

Page 74: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

65

FATORES ESTRUTURAIS

SISTEMA T1!:CNICO

A denominação deste fator foi extraída de MINTZBERG

(23) onde se define sistema técnico como sendo:

" ••• tecnologia das operaçoes - os instrumentos

usados pelos operadores para transformar o que

entra no sistema no que sai do sistema ••• "

Assim definido, o primeiro fator estrutural vai

explorar as características de operação das empresas e sua

influência na implantação do Just-in-Time.

A primeira observação a ser feita em relação à

definição acima e que ela tem dois elementos principais:

instrumentos e operadores. Em relação aos últimos, WEISS

(43) afirma que os trabalhadores japoneses comparados com os

americanos da Western Electric não faltam significativamente

menos ao trabalho, não têm menos probabilidade de se demitir

e nem trabalham mais. Em seu trabalho focalizando a indústria

automobilística japonesa, CUSUMANO (9) também considera que o

desempenho das firmas japonesas não depende do emprego de

operários japoneses, mas sim, das inovações introduzidas em

termos de tecnologia e gerência. Além disso, considera que as

mais importantes destas inovações puseram em xeque algumas

Page 75: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

66

das assunçoes mais fundamentais da produção em massa. Ainda

segundo o mesmo autor, estas inovações consistiram em

revisões nos equipamentos americanos e europeus, em suas

técnicas de produção e em suas políticas em relação a mao­

de-obra e fornecedores levadas a efeito nas décadas de 50 e

60.

o segundo elemento da definição inicial os

instrumentos também e objeto de análise exaustiva pelos

estudiosos do JIT.

Em relação ao tipo de processo que mais se adequaria

ao uso do JIT, alguns autores como SCHONBERGER (35) e

RIBEIRO (29) consideram que seja a produção repetitiva em

altos volumes.

e outros (8)

Apesar disso, a pesquisa conduzida por CELLEY

apresentou como resultado que o tipo de

processo nao influenciou a decisão de introdução do JIT. As

diferenças observadas entre as empresas de fluxo contínuo

(processo), montagem em série, montagem em lotes e por

encomenda nao foram consideradas estatisticamente

significativas.

Parece que as diferenças marcantes sejam devidas

principalmente aos pré-requisitos para a produção JIT, e que

foram vistos quando o sistema foi caracterizado (ver Just-in­

Time: Características neste capítulo). Assim, LEE e

EBRAHIMPOUR (21) afirmam que a mudança no lay-out das

Page 76: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

67

empresas buscando produzir cada unidade em uma cadeia

contínua, por si so vai desencorajar a produção em lotes e

torná-la um fluxo contínuo adequado à produção amortecida.

SCHONBERGER (35) lembra também que a Tecnologia de

Grupo, definida por HAHN e outros (15) como sendo o princípio

de agrupar peças com necessidades de processos comuns para

reduzir a variedade dos mesmos e aumentar a produtividade, é

uma técnica desenvolvida pelos ingleses e implementada em

grande escala pelos japoneses. A grande vantagem desta

técnica provem do fato de que ela permite que com o mesmo

dispositivo ou ferramenta montado na máquina sejam realizadas

operaçoes em peças diferentes, economizando tempos de troca

de ferramenta e estoques de dispositivos e ferramentas

diferentes.

A flexibilidade que se obtém pelo uso de máquinas do

tipo universal já foi citada, bem como a padronização das

tarefas, que e um atributo que, segundo EBRAHIMPOUR e

SCHONBERGER (12), conduz a uma taxa de produção uniforme e

invariável, que por sua vez torna mínimo o material em

processo.

Outra característica do sistema técnico observada

por HAYES (16) diz respeito a carga de utilização das

máquinas. Foi observado que no Japão os equipamentos operam a

uma velocidade mais lenta que a indicada pelo fabricante e

Page 77: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

68

que é a habitual nos EUA. Este ritmo mais lento, também

observado por WEISS (43), aliado a um efetivo programa de

manutenção preventiva de máquinas e ferramentas faz com que a

idade média de ferramentas no Japão (20 anos) seja quase o

dobro da americana (10 a 12 anos). Hayes prossegue citando um

gerente americano que estudou as firmas japonesas em sua

indústria e estimou que mesmo usando equipamento similar ao

americano a vida útil das máquinas japonesas é duas a três

vezes maior. Este executivo americano assim concluiu sua

constatação:

"Eles usam as suas máquinas; nós abusamos das

nossas n.

Também RIBEIRO (29) considera um rigoroso programa

de manutenção preventiva como uma etapa necessária e aponta

algumas de suas peculiaridades:

- manutenção e lubrificação diárias executadas pelo

operador;

- operaçao em um único turno de trabalho;

- operaçao cadenciada, sem forçar o desgaste e

- manutenção proporcional

equipamento.

ao tempo de uso do

Page 78: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

69

Outro programa intimamente ligado aos "instrumentos"

de produção, bem corno aos pré-requisitos fundamentais do

Just-in-Time, e o programa de troca rápida de ferramentas.

Este programa tem corno objetivo específico a redução dos

tempos de preparação, possibilitando com isso amortecimento

da produção (lembrar figura 1). Somente com um amplo trabalho

neste sentido, que inclui urna série de características, tais

corno: programação das trocas, planejamento das etapas com

definição da seqüência de operações, sistema de guias para

posicionamento automático das ferramentas, sistemas

pneumáticos de fixação, padronização de dimensões, automação

do processo tanto quanto possível, preparação com as máquinas

trabalhando e treinamento de equipes especializadas para

troca rápida de ferramentas e que se conseguirá reduzir os

tempos de espera a níveis mínimos e obter todos os benefícios

daí decorrentes. (RIBEIRO (29), CUSUMANO (9»

Outro aspecto relacionado corno pré-requisito para o

JIT está na maneira como se faz a programaçao da produção.

Com efeito, corno bem exemplifica HAYES (16), a produção não

pode ficar exposta a modificações de última hora impostas

geralmente pelo pessoal de Marketing, já que simplesmente nao

existe estoque para

programação. Sendo esta

atender

de urna

a essas

rigidez

alterações na

I'f~rrea" nao se

observa nas fábricas japonesas a atmosfera de crise que pode

ser exemplificada nos EUA pela "crise das tardes de sexta­

feira" ou pelo "esforço de fim de mês", segundo o autor.

Page 79: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

70

Na pesquisa de CELLEY e ou·tros (8), alterações

freqüentes na progamação são ainda consideradas como o maior

problema para a implantação do JIT nos EUA e também aquele

que apresenta a menor evolução no sentido de ser controlado

com sucesso. Uma programaçao estável também é lembrada por

SCHONBERGER e GILBERT (36)

desenvolvimento de um programa

WALLEIGH (42) recomenda ainda, que

seja feito abaixo da capacidade

eventual problema nao comprometa

planejado.

EM RESUMO

como essencial para o

de compras Just-in-Time e

o programa de produção

máxima, para

o nível de

que algum

produção

A preparaçao do sistema técnico para uma implantação

com éxito do Just-in-Time não implica em mudança radical nos

equipamentos na maior parte dos casos, embora isso possa

eventualmente ser necessário. Entretanto, um rigoroso

programa de manutenção preventiva, mudanças de "lay-out",

dispositivos para a redução dos tempos de preparaçao e uma

programaçao adequada do trabalho sao requisitos

indispensáveis ao sucesso do projeto.

Page 80: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

71

SISTEMA DE INFORMAçAO

A necessidade de informação em tempo real e uma

parte importante do JIT. Esta afirmação encontrada em CELLEY

e outros (8) é devida a inesperada constatação feita em sua

pesquisa de que um dos maiores problemas encontrados na

implantação do JIT nos EUA (só perde em importância para

programaçao da produção e qualidade) vem a ser a inabilidade

para mudar os sistemas burocráticos

das empresas.

("papelada") por parte

Falta de comunicação entre os diversos setores da

empresa também e um problema mencionado por ANSARI e

MODARRESS (4) que reconhecem ser este um problema de difícil

solução e recomendam envolvimento e suporte contínuo da alta

administração como possível caminho para sua solução.

A importância do KANBAN como o sistema de informação

que gerencia a produção Just-in-Time está aí. Empregando

cartões escritos a mao ao invés de computadores para planejar

e controlar o movimento das peças (EBRAHIMPOUR e

SCHONBERGER, (12», fica facilitado um fluxo claro e direto

das informações permitindo que o conceito do Just-in-Time

funcione (HAHN e outros, (15».

Apesar de prover informação de forma extremamente

simples e em tempo real, o KANBAN não é solução para todos os

Page 81: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

72

problemas. WALLEIGH (42) considera que apenas com este

sistema seria impossível para uma empresa convencional manter

o controle necessário, mas que com a simplificação obtida

pelo JIT passa a ser muito mais fácil

planejar a produção via computador.

controlar estoques e

Finalmente, deve-se observar que computadores ainda

assim serao necessários para a administração de um sistema de

compras e fornecimento Just-in-Time segundo ANSARI e

MODARRESS (4); neste caso utilizados para planejar e

monitorar o sistema de transportes controlado pela própria

empresa compradora. Não se deve esquecer também que o sistema

de sinalização por luzes (ANDON) e os dispositivos de

checagem automática (BAKAYOKE) já comentados, bem como de

forma geral os "sistemas de monitoração" de máquinas e

ferramentas citados por HAYES (16) são fontes de informação

importantes para o JIT.

EM RESUMO

Os autores consultados sustentam que um sistema

Just-in-Time só pode ser efetivo se for monitorado por um

eficiente sistema de informação.

Page 82: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

73

ESPECIALIZAÇAo DA FÂBRICA

Embora, em princípio, o grau de especialização nao

seja um fator de influência na implantação do Just-in-Time

(CELLEYe outros, (8», alguns autores como WALLEIGH (42),

reportando sua experiência na H.P., recomendam que a

implantação seja feita a partir de um projeto experimental em

uma única linha de produtos, onde todo o pessoal possa

conhecer na prática como funciona um sistema JIT. Também na

experiência descrita por RIBEIRO

em uma única linha de montagem.

(29) a implantação deu-se

A facilidade de implantação do JIT em pequena

escala, aliada a necessidade de contato estreito e

proximidade com outros setores da empresa e fornecedores, fez

com que em diversos trabalhos (SCHONBERGER, (34) ;

SCHONBERGER e GILBERT, (36); HAHN e outros, (15» fossem

lembrados como de grande utilidade os conceitos desenvolvidos

por SKINNER (37) em seu artigo intitulado "THE FOCUSED

FACTORY". Neste artigo, Skinner questiona as pretensas

vantagens e economias de escala que se obtem em grandes

empresas com várias linhas de produtos altamente

verticalizadas. Em sua concepção, "uma fábrica focada numa

estreita variedade de produtos dirigidos a um particular

nicho de mercado irá superar em performance uma fábrica

convencional que tem uma missão maior". A fábrica focada e

vista com vantagens em relação à convencional em itens como

Page 83: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

74

equipamento e processos, gerência da força de trabalho,

programação e controle, controle de qualidade e estrutura

organizacional. Quando comenta as características da fábrica

focada em relação aos cinco itens vistos acima, Skinner fala

em aspectos tais como "equipamento de uso geral",

"habilidade em executar vários serviços", "programação fixa",

"qualidade extremamente confiável" e "produção amortecida e a

tempo". Visto isso, não é surpresa constatar a sinergia entre

os conceitos de fábrica focada e JIT.

Reconhecendo a dificuldade em desfazer as enormes

fábricas existentes, SKINNER (37), SCHONBERGER e GILBERT

(36) e também HAHN e outros (15) sugerem que as mesmas sejam

divididas em centros de lucro (ou custo) administrados de

forma totalmente independente entre si embora fisicamente

próximos. Isto tenderá a reduzir a complexidade envolvida no

planejamento e controle da produção, bem como na gerência de

estoques.

o conceito de fábrica focada também se aplica,

segundo SCHONBERGER e GILBERT (36) aos fornecedores, pois

sendo estes primariamente dedicados a suprir um só cliente

isto se torna bom para ambos. ~ comum a existência deste tipo

de empresa no Japão embora os autores reconheçam que haja uma

importante minoria, especialmente na indústria eletrônica,

que ainda acredite na integração vertical como estratégia

para garantia de fornecimento de insumos.

Page 84: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

75

EM RESUMO

As experiências de implantação do JIT parecem

indicar que em pequenas unidades o sistema pode ser

implantado e controlado mais facilmente. T arnb ém em

decorrência disso a descentralização administrativa parece

ser benéfica à introdução do Just-in-Time.

Page 85: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

76

FATORES GERENCIAIS

CULTURA DA EMPRESA E MENTALIDADE GERENCIAL

Como será visto a seguir, a análise deste primeiro

fator gerencial se fará, sob diversos aspectos, como uma

continuação natural daquela feita quando se discutiu a

cultura como o primeiro dos fatores ambientais.

No capítulo 12 de seu livro Organizational Behavior,

que tem por título Organizational Culture, HELLRIEGEL e

outros (18) atribuem a Edgar Schein a sugestão de que a

cultura organizacional se forma em parte para responder a

dois grandes grupos de problemas com os quais toda

organização se defronta:

problemas de adaptação e sobrevivência e

problemas de integração interna.

Continuando sua análise, na qual está baseada toda a

abordagem inicial deste fator, os autores consideram que a

cultura, a moral e as normas sociais do país no qual a firma

está operando sao determinantes na formação da cultura da

organização.

Assim, "cultura organizacional pode ser definida

como um padrão de crenças e expectativas compartilhado pelos

Page 86: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

77

membros da organização. Estas crenças e expectativas

compartilhadas geram produtos e serviços, conversaçao e

outras expressões verbais, comportamentos e emoçoes. Por

outro lado, estas coisas, palavras, atos e sentimentos sao

percebidos pelos funcionários e os ajudam a entender e

interpretar a cultura da organização - a inferir significado

de eventos e políticas e a compreender seu ambiente de

trabalho".

Na seqüência, os autores observam que culturas

fortes podem ser caracterizadas por três grandes fatores:

desempenho dos papéis gerenciais - particularmente

em relação a tomada de decisão, uso das

informações e relações interpessoais das formas

desejadas pela companhia;

- um ambiente interno que dá o tom e provê os

funcionários de claras "deixas" quanto ao

comportamento e performance desejados;

programas de recursos humanos com o objetivo de

implementar e manter a cultura desejada.

o papel da gerência e sua ligação com a cultura da

empresa fica mais evidente quando, ainda no mesmo trabalho,

sao descritos os mecanismos de manutenção e reforço da

Page 87: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

78

cultura organizacional que seriam:

também

o que os gerentes avaliam, prestam atenção e

controlam;

- as formas pelas quais os gerentes (particularmente

de topo) reagem a incidentes críticos e crises

organizacionais;

- aprendizado, treinamento e modelos dos papéis

gerenciais;

- critérios de alocação de recompensas e prestígio;

critérios de recrutamento,

remoção da organização.

seleção, promoção e

Os cinco mecanismos expostos acima sao considerados

como os veículos para mudança da cultura

organizacional. Sendo assim, basta acrescentar a palavra

mudar à frente de cada um deles e tem-se as armas de que

dispõe a administração para modificar a cultura da empresa.

Estabelecida esta base conceitual para a cultura

organizacional e o papel dos gerentes em sua formação, ver­

se-ão agora alguns aspectos de sua influência na implantação

do Just-in-Time. Deve-se ressaltar que em outros fatores

Page 88: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

79

gerenciais como Motivação e Treinamento/Recrutamento também

se fará referência aos conceitos estabelecidos acima.

A Teoria Z de William Ouichi foi sem sombra de

dúvida o que mais popularizou no ocidente as diferenças do

estilo japonês e ocidental (particularmente norte-americano)

de administração. Neste trabalho, o autor compara os dois

estilos (chamados de tipo A, o americano, e tipo J, o

japonês) em relação a sete aspectos distintos e propõe um

modelo híbrido (o tipo Z

adequada

(OUICHI e

para as empresas

ver Figura 5) como a forma mais

norte-americanas daqueles dias

JAEGER, 26). Pretendia-se com isso estabelecer um

padrão para as empresas bem sucedidas.

HELLRIEGEL e outros (18) afirmam em seu trabalho

nao haver evidência com respeito à existência de um melhor

tipo de cultura organizacional, e com isto concorda OUICHI

que alega que o tipo Z não é universal (OUICHI e JAEGER,

(26)). O debate sobre a teoria Z trouxe também um

esclarecimento maior a respeito das características do estilo

japonês de administração. No trabalho de SETHI e outros (33)

são feitas algumas

características que os

críticas

autores

contundentes

consideram

as três

como mais

largamente apreciadas no sistema japonês de administração de

negócios: o emprego vitalício, o sistema salarial baseado em

antigüidade e as decisões por consenso. Esta e outras

críticas serão vistas a seguir.

Page 89: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

80

FIGURA 5

AS ORGANIZAÇÕES TIPO A, TIPO J, E A TEORIA Z (Ouichi e Jaeger ,_.( 26) ).

TIPO A (AMERICANA)

• Emprego de curto prazo

• Processo Decisório Indivi­dual

• Responsabilidade Individual

• Avaliação e Promoção Rápi­das

• Controle Explícito e Forma­lizado

• Carreira Especializada

• Visão Segmentada

TIPO J (JAPONESA)

• Emprego Vitalício

• Processo Decisório Con­sensual

• Responsabilidade Coleti va

• Avaliação e Promoção Len tas

• Controle Implícito e In­formal

• Carreira não Expecializ~ da

• Visão Generalista

TIPO Z

• Emprego de Longo Prazo

• Processo Decisório Consen suaI

• Responsabilidade Indivi­dual

Avaliação e Promoção Len­tas

• Controle Implícito e lnfor mal com Medições Expiíci= tas e Formalizadas

• Carreira Moderamente Esp~ cializada

• Visão Generalista

Page 90: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

81

o emprego vitalício e reconhecidamente uma

característica de poucas grandes empresas japonesas (menos de

1/3) , segundo autores como HAYES (1981), HAHN e outros

(1983), ROBERTS (30) e

inclusive considera que

também SETHI e outros (33). Roberts

a semelhança de muitos países

ocidentais, no Japão existe um mercado de trabalho primário

que é o das grandes empresas e um mercado secundário com

condições completamente diferentes do primeiro. Além disso,

Roberts e também Hayes alegam que o conceito de emprego

vitalício nao pode ser considerado estranho ao ocidente, já

que nas grandes empresas existe um núcleo de funcionários (de

30 a 40% nas empresas americanas, segundo Hayes) que são o

seu "capital humano" e têm emprego por toda vida. Mesmo

levando em consideração a existência de algumas inovações em

relação aos padrões ocidentais como sistemas de aposentadoria

diferentes e proteção ao emprego dos mais jovens que

dependam dele para manutenção de suas famílias (comentadas

por DRUCKER, (11», a grande vulnerabilidade do sistema,

segundo SETHI e outros (33), está no fato de que ele só pode

ser mantido sustentado por altas taxas de crescimento da

economia do país. Somente assim as empresas absorveriam toda

a mão-de-obra disponível no mercado de trabalho. Ainda

segundo os autores, a queda nas taxas de crescimento da

economia japonesa viria a comprometer também o sistema de

promoçao e remuneraçao por antigüidade que era rigidamente

atado ao sistema de empregos vitalícios. Algumas empresas em

Page 91: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

82

conseqüência estariam introduzindo elementos de gerência

funcional e separando os dois sistemas (SETHI e outros,

(33» •

Quanto as decisões por consenso, apesar da pesquisa

de PASCALE (27) ter concluído que esta prática leva a uma

maior qualidade percebida das decisões por parte dos

funcionários e da constatação feita por DRUCKER (11) de que

este tipo de decisão nao precisa ser "vendido" às outras

pessoas na

também se

organização, pois todas participam de sua tomada,

contesta

circunstãncias. Segundo

altas taxas de inovação

natureza dos mercados

sua validade em determinadas

SETHI e outros (33), em condições de

tecnolõgica e mudanças, bem como a

e da competição, o tempo disponível

para a tomada de decisão tende a ser cada vez menor exigindo

maior necessidade de reações rápidas. Em conseqüência disso,

"algumas companhias estão se esforçando para reduzir o tempo

de tomada de decisão deixando de lado gerentes de nível médio

e limitando o numero de pessoas envolvidas no processo

decisório" (SETHI e outros, (33».

Como se viu neste resumo das críticas feitas ao

sistema japonês de gerência, ficam evidenciadas as assertivas

iniciais quanto a nao existência de uma única cultura

organizacional ideal. Entretanto, conforme RIBEIRO (29),

quem pretender desenvolver o programa JUST-IN-TIME sem

análise prévia da cultura da empresa e sem adaptação para

Page 92: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

83

suas condições características estará incorrendo em sério

risco de ver seus esforços fadados ao insucesso.

A análise prévia da cultura e a sua eventual

modificação sao responsabilidade da gerência da empresa. A

sua função na implantação do Just-in-Time é o que será visto

a seguir.

LEE e EBRAHIMPOUR (21), examinando os requisitos

para implantação do JIT, atribuem a J.M. Juran as seguintes

palavras:

(16 )

"A gerência representa o papel mais importante

na implementação do JIT, a qual deve ser

iniciada do topo, com total apoio de todos os

níveis de gerência. De fato, a gerência deve

primeiro examinar a si própria, porque a

necessidade de suporte e liderança da alta

administração é essencial para qualquer grande

mudança organizacional."

WALLEIGH (42), CELLEYe outros (8) e também HAYES

enfatizam a importãncia suporte da alta

administração. ANSARI e MODARESS

do

( 4 ) concluíram em sua

pesquisa que este e um grande problema na implantação das

compras JIT nos EUA; e RIBEIRO (29) e da opinião que a

Page 93: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

84

resistência nos escalões de média e alta gerência e o maior

entrave ao JIT nas empresas brasileiras.

Mas somente apoio nao e suficiente. t necessário,

além disso, que a gerência seja aberta a críticas e

comentários dos funcionários. Este tipo de gerência é crucial

para a implementação do JIT (LEE e EBRAHIMPOUR, (21)).

Voltando a PASCALE (27), ali é mencionado um estudo de Vroom,

em 1970, que concluiu pela maior aceitação das decisões e

maior probabilidade de as mesmas serem executadas

eficientemente nos casos de gerência participativa.

Outra característica que a implantação do Just-in­

Time exige da gerência é a consciência de que apesar do "JIT

nao ser uma idéia complexa sua implementação é complexa e

pode demorar alguns anos ••• A gerência deve entender o longo

tempo necessário para implementar o JIT e evitar apressar o

processo porque isto pode causar a destruição dos benefícios

esperados". (LEE e EBRAHIMPOUR, (21))

O comprometimento com a qualidade por parte da

gerência pode ser exemplificado através de EBRAHIMPOUR e

SCHONBERGER (12) quando comentam que qualidade deve ter

prioridade sobre a quantidade produzida. Este e um bom

exemplo de uso dos mecanismos à disposição do gerente para

mudança da cultura da organização. Os gerentes encorajam os

trabalhadores da produção e os inspetores de qualidade a

Page 94: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

85

identificar e corrigir qualquer problema de qualidade que

surja (mesmo quando seja pequeno a ponto de nao comprometer a

inspeção final do produto). Esta atitude dos gerentes

japoneses e contrastada por HAYES (16) com aquela vigente

nos EUA de "nós contra eles" entre trabalhadores da produção

e inspetores de qualidade. Ainda segundo o autor, no Japão,

"nós" são todos os funcionários e "eles" são os defeitos.

Outro

EBRAHIMPOUR e

tipo de medida

SCHONBERGER (12) ,

gerencial que segundo

diferencia o Japão do

habitual no ocidente, consiste em que lá o retrabalho é

executado por quem fez da primeira vez e nao por um setor

especial que tenha esta função específica, como nos EUA.

Ainda em relação a mentalidade gerencial, HAYES

(16) sustenta que os gerentes americanos apreciam as crises

porque obtém grande satisfação pessoal, mais reconhecimento e

as maiores recompensas por resolvê-las. Crises

coisas que fazem o trabalho divertido. Para

japoneses, entretanto, uma crise é evidência

são uma das

os gerentes

de falha. Seu

objetivo e uma operação livre de rupturas e crises uma

operaçao sem dilemas dramáticos.

Em relação a política de recursos humanos, WEISS

(43) acredita que o fato de as empresas japonesas

apresentarem mais engenheiros por trabalhador e tê-los mais

próximos ao dia a dia das fábricas seja uma decisão

Page 95: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

86

administrativa da maior importância para a produtividade da

força de trabalho. Também a atitude gerencial em relação a

eventuais erros dos subordinados e muito bem colocada por

SAKURAI (31) quando diz que a pergunta a ser feita deve ser

"o que houve de errado?" ao invés de "quem errou?".

Uma síntese da preocupaçao da administração das

firmas japonesas em relação a seus funcionários, que em sua

pesquisa ARAI e TOMLINSON (5 ) concluíram ser superior a

qualquer outra, pode ser dada pelo comentário de um gerente

japonês em visita aos EUA, citado por HAYES (16).

EM RESUMO

"Eu tenho a impressão que os gerentes

americanos dispendem mais tempo preocupando-se

com o bem estar e lealdade dos acionistas que

eles não conhecem do que o que dispendem com

seus funcionários, que eles conhecem. O

gerente japonês está sempre se perguntando

como pode dividir o sucesso da empresa com

seus funcionários."

Constitui tarefa fundamental da gerência a análise

da cultura da empresa e sua possível modificação para que o

sistema Just-in-Time seja introduzido com êxito. A gerência

Page 96: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

87

deve estar preparada para enfrentar reaçoes em todos os

escalões assim como estar consciente de que uma inovação como

esta exigirá tempo, resignação e muita habilidade gerencial.

Page 97: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

88

MOTIVAÇAo DOS FUNCIONÁRIOS

"O sistema Just-in-Time tem seu fundamento na

motivação dos operários e supoe que os

trabalhadores vao executar seu trabalho o

melhor possível se lhes e concedida maior

responsabilidade e autoridade. Cada

trabalhador tem direito de parar a linha de

montagem no caso de atraso ou descoberta de

uma peça ou componente defeituoso. Isto supõe

que os empregados vão ajudar aqueles que se

atrasam e que cada pessoa é capaz de executar

tipos de trabalho distintos."

"Em poucas palavras, conseguir o compromisso

do pessoal competente da empresa e motivá-lo

tem sido sempre a chave do sucesso, juntamente

com o apoio da alta direção."

Os dois parágrafos acima, retirados de AGGARWAL (1),

estabelecem claramente a importãncia que a motivação dos

funcionários tem para que se obtenha perfeito funcionamento

do Just-in-Time. Segundo o autor, cada operário trabalha o

melhor que pode e tão criativamente quanto possível a partir

do momento que é investido de responsabilidade e autoridade.

Page 98: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

89

WEISS (43), comentando o alto nível das inovações

tecnológicas introduzidas pelos operários japoneses, afirma

que "somente uma força de trabalho excepcionalmente

inteligente e motivada irá produzir um registro tão

impressionante de inovações". O autor e de opinião que

recompensas financeiras diretas por sugestões e a política

salarial das empresas japonesas estão entre as explicações

para este fato. Também CELLEY e outros (8) argumentam que

estas açoes nao exigem nenhum tipo de devoção fanática à

empresa, mas que podem ser motivadas por interesses pessoais,

tais como segurança no emprego e aumentos salariais ligados

a melhoria da produtividade.

Apesar de considerar que uma definição clara da

fórmula através da qual os benefícios serão repartidos entre

todos seja de importáncia capital, RIBEIRO (29) alega que

além de uma política salarial diferenciada deve-se dar

atenção também a melhoria das condições de higiene,

segurança, alimentação e a qualquer outro benefício que venha

a contribuir para a melhoria da qualidade de vida no

trabalho. Este aspecto também foi observado por HAYES (16)

nas fábricas japonesas por ele visitadas que foram

consideradas excepcionalmente limpas e quietas,

independentemente do tipo de indústria, idade ou localização.

Outro fato que também chamou a atenção de HAYES foi a não

existência de um critério salarial único; cada empresa adota

aquela que lhe parece mais conveniente.

Page 99: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

90

Uma das características observadas por DRUCKER (11)

em relação ao operário japonês ê a sua baixa resistência a

mudanças. Segundo Drucker, "isto se traduz em uma alegre

vontade por parte dos empregados para aceitar mudanças

contínuas em tecnologia e processos, e para considerar um

aumento crescente na produtividade como uma coisa boa para

todos". Esta consciência de que a prosperidade da empresa

está firmemente ligada à de seus funcionários foi constatada

na pesquisa que ARAI e TOMLINSON (5) fizeram em empresas

americanas e japonesas de mais de 11 diferentes indústrias. A

pergunta: "A sua firma acredita que seus empregados sintam

que a prosperidade

em suas próprias

da companhia está relacionada a melhorias

vidas?", 77% das empresas japonesas

responderam que "eles sentem fortemente que sim" contra

apenas 28% das empresas americanas para a mesma resposta.

Sendo assim, não é de surpreender o resultado da pesquisa de

ANSARI e MODARRESS (4) que concluíram ser a falta de apoio

dos funcionários outro grande problema na implantação do

Just-in-Time nos EUA. Resistência a mudanças, receio de

perder o emprego, pressao crescente e frustração potencial

foram citadas como razoes chave para a implantação do

sistema JIT não receber cooperação suficiente por parte dos

funcionários. A solução sugerida pelos autores neste caso é o

desenvolvimento, por parte da gerência, da crença entre os

funcionários que seu próprio futuro depende do sucesso da

empresa.

Page 100: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

91

Gerência participativa também -e considerada como

fator de motivação por LEE e EBRAHIMPOUR (21) que argumentam

que este estilo de gerência aumenta o moral dos

trabalhadores e melhora seu relacionamento com a gerência.

Prosseguem os autores:

"No sistema de produção JIT as relações entre

gerência e empregados sao baseadas em

confiança mútua, respeito e cooperaçao. Num

ambiente como este os operários trabalham

melhor e mais motivados. Assim, o

desenvolvimento de uma cultura organizacional

como esta é essencial para implementar o JIT

com sucesso."

Os Círculos de Qualidade, que sao grupos de

funcionários do mesmo setor que se reúnem periodicamente para

trabalhar em projetos e sugestões de melhoria do trabalho,

também são considerados um fator motivador por SCHONBERGER

(34) e WALLEIGH (42). O primeiro atribui a eles "evidentes

contribuições à melhoria da qualidade, ao aperfeiçoamento dos

métodos de trabalho e a elevação da moral e da motivação dos

trabalhadores". Walleigh considera que além disso, os

empregados se tornarão menos resistentes a mudanças, pois

cada um passa a sentir o novo sistema "como algo próprio".

Page 101: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

92

Finalmente, a própria utilização de trabalhadores

multi funcionais exigida pelo JIT é vista por EBRAHIMPOUR e

SCHONBERGER (12) como um fator motivador. Dizem os dois:

"A utilização de trabalhadores

multifuncioniais nao so diminui o número de

trabalhadores e aumenta a produtividade, mas

também aumenta o trabalho em equipe e a moral

entre os

multi funcionais

caso especial

trabalho."

funcionários. Trabalhadores

podem ser pensados como um

de ampliação/enriquecimento de

Em sua última frase, os autores estão se referindo

explicitamente ao clássico artigo de HERZBERG (19) sobre

como motivar funcionários. Nesta publicação, Herzberg explica

o que e o enriquecimento do trabalho e defende basicamente a

idéia que a única maneira de motivar um funcionário é dar-lhe

uma tarefa que constitua um desafio e pelo qual o mesmo se

responsabilize. Também MINTZBERG (23) faz no capítulo 4 de

seu livro "The Structuring of Organizations" extensa análise

da especialização

enriquecimento.

do trabalho versus sua ampliação e

Page 102: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

93

EM RESUMO

A motivação dos funcionários é um fator decisivo no

êxito da implantação do sistema Just-in-Time. Felizmente, o

próprio sistema, por suas características tais como operário

multi funcional e células de trabalho, conduz à motivação dos

funcionários pelo enriquecimento das tarefas que precisam

realizar.

Page 103: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

94

TREINAMENTO/RECRUTAMENTO

o primeiro comentário a ser feito sobre treinamento

diz respeito ao enfoque diferente com que e visto pelos

japoneses. Segundo LEE e EBRAHIMPOUR (21), treinamento no

Japão é uma parte normal do trabalho e não, como no ocidente,

um meio de promoção.

Esta e a origem do conceito de treinamento contínuo

ou vitalício, que consiste na manutenção de programas de

treinamento intensivo em todos os níveis da empresa e

continuamente. Esta filosofia japonesa de investir nas

pessoas para assegurar o lucro futuro tem sido o guia de suas

práticas administrativas (LEE e EBRAHIMPOUR, (21)).

Visto sob este prisma, o treinamento japonês busca

resultados (DRUCKER, (11)) ou, como dizem os dois autores a

pouco citados, e focado em como executar uma tarefa mais

eficientemente e com melhor qualidade.

Outro aspecto que diferencia o treinamento como

visto pelos japoneses é o seu caráter generalista. Este fato,

também observado por DRUCKER (11) , além de representar um

papel fundamental na criação de uma força de trabalho

multi funcional, faz com que os operários se tornem

especialistas na organização em que trabalham e diminui os

problemas de coordenação (OUICHI e JAEGER, (26)). Isto também

Page 104: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

95

tem, segundo WEISS (43) , implicações na carreira e

remuneração dos funcionários. Ocupando diversas posições na

empresa o funcionário também tem seu salário vinculado as

suas múltiplas habilidades.

Uma particularidade do treinamento enfatizada por

diversos autores (SCHONBERGER, (34), SCHONBERGER e GILBERT,

(36); HAHN e outros, (15» como sendo importante para o Just­

in-Time consiste no treinamento em técnicas de Análise de

Valor. Segundo SCHONBERGER (34), esta técnica que foi criada

pelo departamento de compras da General Electric em 1947, é

um processo pelo qual se analisam os projetos dos produtos

com vistas a melhorar seu valor (reduzir-lhes o custo

mantendo suas funções) • A sua importãncia para o

relacionamento com os fornecedores no sistema JIT está no

fato de que sendo o fornecedor um especialista naquilo que

faz, sua análise de valor no projeto do comprador pode

resultar em diminuição substancial de custos para ambos. Como

enfatizam HAHN e outros (15), o fornecedor dispõe de muitas

informações que podem ser de potencial uso pelo comprador.

Existe ainda outro enfoque no que diz respeito aos

fornecedores. Já se comentou a afirmação de SCHONBERGER e

GILBERT (36) quanto ao papel "missionário" dos compradores

junto aos fornecedores, buscando fazer com que estes atinjam

os níveis de qualidade e serviço necessários. Considerando

que a falta de apoio por parte dos fornecedores seja talvez o

Page 105: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

96

maior problema para a implantação do JIT, conforme detectaram

em sua pesquisa, ANSARI e MODARRESS (4) são incisivos quando

afirmam que:

"Para alcançar o propósito maior do JIT, o

comprador deve assumir a responsabilidade pela

educação e treinamento dos fornecedores."

Passando à questão do Recrutamento, este mecanismo

gerencial e fortemente

atribui o sucesso das

recomendado por WEISS

fábricas de produtos

(43) que

eletrônicos

japoneses a uma política de contratação seletiva de sua força

de trabalho. O autor comenta ainda que através de relaçôes de

longa data com professores e conselheiros de colégios, estas

empresas "recrutam a elite da força de trabalho do país".

Finalmente, o mesmo autor considera que a política

de recursos humanos que deveria ser adotada pelas empresas

americanas para melhorar a produtividade deveria ser como se

segue:

Investir mais recursos para atrair uma elite da

força de trabalho;

Selecionar os candidatos exaustivamente para

assegurar que os empregados sejam os melhores;

Page 106: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

EM RESUMO

97

Estabelecer contatos com escolas que possam

encaminhar os melhores candidatos para a empresa;

Amparar os empregados com pesados investimentos em

engenharia, equipamento e treinamento no trabalho;

Encorajar contatos freqüentes entre engenheiros e

trabalhadores da produção;

Motivar os trabalhadores através de políticas de

pagamento e promoçao que

desempenho;

recompensem o alto

Reduzir as taxas de demissões de trabalhadores

experientes, instituindo políticas salariais que

segurem os empregados.

Recrutamento criterioso e treinamento sistemático

dos empregados, com ênfase na eficiente execução das tarefas,

constituem dois requisitos básicos na implantação do Just-in­

Time. Os autores consultados recomendam também o treinamento

dos fornecedores para que estes possam entender o papel que

desempenham no novo processo.

Page 107: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

98

POL1TICA DE IMPLANTAÇAO

o quarto e último fator gerencial diz respeito à

política de implantação do Just-in-Time e a necessidade de

considerar tal implantação como um projeto de inovação

tecnológica, ou seja, um conjunto de atividades cercadas de

incertezas e que exigem o envolvimento e o esforço de todos

os níveis da organização.

o primeiro tema que deve ser discutido nesta parte

do capítulo e o próprio conceito de inovação tecnológica.

Quando uma empresa adota um sistema como o Just-in-Time, ela

está introduzindo uma inovação tecnológica?

MARQUIS (22) cita o economista Jacob Schmookler que

método novo (ou defende que quando uma

fabrica um novo produto),

empresa

ela está

usa um

promovendo uma mudança

técnica. A primeira empresa a introduzir a mudança é uma

inovadora e a mudança e uma inovação. Outra empresa que faça

a mesma mudança e uma imitadora e esta açao e uma imitação.

Marquis discorda de Schmookler alegando que a distinção que

este faz entre inovação verdadeira (uma mudança técnica nova

tanto para o negócio quanto para a economia) e imitação (uma

mudança já difundida na economia e adotada por uma empresa)

conduz a uma visão estreita de inovação e ignora as profundas

transformações por que passaram algumas organizações ao

adotar mudanças técnicas oriundas de outras. Evidentemente,

Page 108: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

99

ainda segundo Marquis, quem adota uma inovação está se

arriscando menos do que quem teve a idéia original mas nem

por isto estará garantido o sucesso da adoção. Para este

autor, treinamento e a experiência do pessoal da empresa

adotante sao os requisitos básicos para as inovações bem

sucedidas.

UTTERBACK (40) concorda com a definição de

Schmookler, mas acrescenta que nao se deve excluir de

consideração a adoção de idéias que logo são levadas adiante

e que sao capazes de causar impacto econômico. Este autor

argumenta, ainda, que a efetividade de uma empresa para

implementar inovações tecnológicas depende de características

ambientais onde se encontra a firma, características internas

da firma e dos fluxos entre a firma e seu ambiente.

A partir das considerações de Marquis e Utterback e

de tudo que já foi exposto nesta revisão de literatura com

relação às transformações que precisa passar uma empresa para

implantar com êxito o sistema JIT, mesmo sendo uma imitação

(na opinião de SChmookler), não cabe dúvida que para a

empresa que se capacita a adotar o JIT, este sistema é uma

inovação.

Citado por VOSS (41), FLECK (13) sustenta que

muitas das atividades e condições que influenciam o sucesso

do processo de implementação dependem muito mais da forma

Page 109: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

100

como a organização adotante se prepara do que da inovação

propriamente dita. O próprio Voss estudou a implantação de

uma série de avançadas tecnologias de fabricação no Reino

Unido, Estados Unidos e Austrália. Apesar de que todas elas

eram reconhecidos sucessos tecnológicos (CAD/CAM, FMS,

ROBOTS, etc.), um significativo número de fracassos foi

registrado.

LEE e EBRAHIMPOUR (21) consideram que apesar de ser

um sistema de produção, a adoção do JIT envolve todos os

níveis da organização e exige modificação de cima até em

baixo. Além disso, continuam aqueles autores, é necessária

uma enorme disciplina nao somente a nível de fábrica mas,

principalmente, a nível gerencial. Um programa com tais

responsabilidades so e possível se a gerência e os

trabalhadores estiverem em estreita cooperação. Na opinião

dos dois autores, a implantação apropriada do JIT so é

possível se gerência e funcionários entenderem o sistema e o

apoiarem de coraçao.

MARQUIS (22) também defende o compromisso

institucional como fator preponderante no êxito da adoção.

Segundo aquele autor, o gerenciamento da inovação é muito

mais que a simples manutenção de um laboratório de pesquisa e

desenvolvimento produtivo. "1': uma meta corporativa que e

importante demais para ser deixada a cargo de qualquer

departamento funcional especializado".

Page 110: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

101

UTTERBACK (40) aconselha que a instituição adotante

contrate consultores externos para trabalhar em colaboração

com seu pessoal. Trata-se de um procedimento cujo objetivo é

reduzir as incertezas sempre presentes num processo de

adoção.

Todo projeto de inovação tecnológica, e o projeto de

introdução do JIT não foge a regra, traz consigo uma série de

mudanças. Em artigo publicado pela HBR, SCHOEN (32) enumera

doze razões (citadas por James Bright) pelas quais existe

resistência a inovação e comenta o papel da gerência no

convívio com as possíveis reaçoes. Essas razões, algumas

muito relevantes com a adoção do JIT, são listas a seguir:

- proteger status social ou prerrogativas;

- proteger uma existente forma de vida;

- evitar a desvalorização do capital investido em

uma instalação existente ou em um serviço de

apoio;

evitar a depreciação de um meio de vida porque a

inovação vai desvalorizar o conhecimento ou

habilidades exigidas atualmente;

Page 111: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

102

- evitar a eliminação de um emprego ou profissão;

evitar gastos, tais como reposição de equipamento

ou renovação e modificação de sistemas existentes

para poder coexistir com a inovação;

- porque a inovação se opõe a costumes sociais,

moda, gostos ou hábitos da vida diária;

porque a inovação entra em conflito com leis

existentes;

por causa da rigidez inerente às organizações

grandes ou burocráticas;

por causa de personalidades, hábitos, medos,

equilíbrio entre indivíduos ou instituições,

status e considerações psicológicas ou sociais

semelhantes;

pela tendência dos grupos organizados de forçar a

conformidade;

pela relutância de um indivíduo ou de um grupo em

provocar distúrbios no equilíbrio da sociedade ou

da atmosfera de trabalho.

Page 112: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

103

Para Schoen, a gerência pode conviver mais

efetivamente com estas situações a partir do momento que

reconheça e entenda que resistência é uma coisa natural, ao

invés de considerá-la como uma anormalidade ou aberração. Em

seguida sugere que a própria gerência freqüentemente

ambivalente sobre mudanças porque oficialmente as reconhece

como essenciais, mas particularmente as ve como uma ameaça

pela incerteza que trazem consigo.

Finalmente, Schoen afirma que inovações tecnológicas

significativas so sao possíveis a partir do total

comprometimento da alta direção da empresa. Segundo ele, isto

nao significa apenas tomar decisões mas tambêm estar

envolvido, estar disposto a correr riscos e, principalmente,

ter consciência do processo como um todo.

EM RESUMO

Como em todo projeto, e particularmente em um

projeto de adoção de uma inovação tecnológica, o esforço

organizacional e enorme. A partir do ápice estratégico da

empresa, todos devem estar preparados para conviver com as

incertezas e as resistências inerentes a adoção de uma

novidade.

Page 113: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

104

CAPíTULO 111 - METODOLOGIA

o caráter exploratório deste trabalho decorre em

grande parte do desconhecimento da existência de estudo

sistemático a respeito do estágio de aplicação do Just-in-

Time na indústria brasileira. Inúmeros casos sao descritos

por consultores e profissionais da área, mas nao se dispõe

de nenhuma consolidação destas informações a nível nacional

que permita esboçar um quadro mais nítido do que consiste o

desenvolvimento deste sistema no Brasil.

o primeiro passo na direção do que se pretende seja

um estudo mais abrangente do tema foi dado no Capítulo 11

com o levantamento dos fatores a serem considerados para uma

implantação bem sucedida do Just-in-Time em outros países, em

especial Japão e Estados Unidos.

o passo seguinte a ser dado, segundo metodologia

descrita a seguir, é uma tentativa de validar aquele modelo à

luz de casos brasileiros. Pretende-se com isso obter um

conjunto de fatores que, em princípio, poderiam ser

considerados adequados à realidade do país. Finalmente, a

última etapa do estudo consistiria num levantamento completo

das experiências com Just-in-Time no Brasil e a partir de

uma amostra significativa, elaborar um questionário e testar

estatisticamente o modelo. Esta última parte, no entanto, não

faz parte do escopo do presente trabalho.

,

Page 114: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

105

A relação das empresas a serem estudadas obedeceu a

um conjunto de etapas e critérios que sao descritos a seguir.

Em primeiro lugar, foi elaborada uma lista de empresas

consideradas a partir de diversas fontes como tendo adotado o

Just-in-Time com sucesso já há algum tempo. Dentre estas

fontes podem ser citadas a revista EXAME, folhetos do

Instituto de Movimentação e Armazenagem de

consultores especializados em JIT, bem

Materiais (IMAM),

como membros da

Associação Fluminense de Círculos de Controle de Qualidade

(AFCCQ) •

A partir desta lista inicial foram selecionadas

cinco empresas (ANDREAS STIHL MOTO-SERRAS LTDA., BRASTEMP

S.A. fábrica de Rio Claro, SP , MASSEY-PERKINS S.A.

(atualmente MAXION S.A.), METAL LEVE S.A. e YANMAR DO BRASIL

S.A.) levando-se em consideração alguns fatores e limitações,

a saber:

1. Origem e controle de capital diversos.

A Andreas Stihl e uma empresa de origem alemã e os

seus proprietários sao alemães. A Brastemp é uma empresa

brasileira e tem seu capital controlado por brasileiros.

A Maxion é o resultado da fusão das subsidiárias de

duas multinacionais (a americana Massey-Ferguson e a inglesa

Page 115: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

106

Perkins) e tem seu capital controlado por um grupo privado

brasileiro, o Iochpe.

A Metal Leve e uma empresa brasileira controlada

por brasileiros.

A Yanmar é uma multinacional japonesa e tem seu

capital controlado por japoneses.

estudada

2. Localização geográfica diversa e diferentes

A

características demográficas das cidades onde

estão instaladas

Andreas Stihl e

estão situ~das

a

em

fábrica da Maxion que foi

são Leopoldo e Canoas,

respectivamente. Ambos municípios da Grande Porto Alegre, no

Rio Grande do Sul.

A Metal Leve está situada na cidade de São Paulo.

A unidade da Brastemp pesquisada está localizada em

Rio Claro, cidade situada a 180 Km de são Paulo e cuja

população foi estimada pelo IBGE como sendo

habitantes em 1985.

de 130.000

Page 116: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

107

A Yanmar também está localizada no estado de são

Paulo a 100 km da capital, em Indaiatuba. Segundo o IBGE, sua

população em 1985 era de aproximadamente 70.000 habitantes.

Convém observar que devido a restrições de recursos

financeiros para a realização do trabalho de campo algumas

empresas, apesar de configurar casos interessantes, foram

eliminadas por demandarem maiores despesas para que fossem

visitadas. Assim, empresas situadas na Zona Franca de Manaus

não foram consideradas, bem como uma fábrica localizada em

Pernambuco.

3. Indústria e area de atuação similares

o fato das cinco empresas estarem ligadas ao setor

metalúrgico pode ser atribuído a duas possíveis razões. A

posição de destaque ocupada por este ramo da indústria, além

da origem do Just-in-Time ter sido nele, seria uma delas. A

outra, adviria do fato de que todos os que foram

consultados, bem como o autor deste trabalho, atuam no setor

em questão. Aparentemente a melhor explicação é a primeira,

já que mesmo na revisão de literatura, a esmagadora maioria

dos exemplos e casos citados estão direta ou indiretamente

ligados ao referido setor.

Page 117: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

108

Por outro lado, o fato de todas as empresas

pertencerem ao mesmo setor tem o mérito de isolar certas

variáveis que poderiam ter influência nos resultados, caso os

setores fossem diversos.

4. Outros fatores

A Metal Leve e uma empresa cujos produtos têm

qualidade reconhecida internacionalmente, além de ser

detentora de tecnologia de ponta em seu ramo de atividades.

Esta empresa fornece tambêm componentes para a Maxion e para

a Yanmar. A Yanmar é geralmente reconhecida como a pioneira

no Brasil a adotar o Just-in-Time.

A fábrica da Brastemp em Rio Claro já foi projetada

para ser uma fábrica focada e funcionar pelo sistema Just-in­

Time, ao contrário das outras que o adotaram posteriormente.

Como pode ser visto, procurou-se diversificar sempre

que possível as características das empresas em questão com o

objetivo de ampliar os horizontes da pesquisa e em

conseqüência enriquecer as possibilidades de análise da

mesma.

Em todas as empresas o principal entrevistado foi o

executivo detentor da maior responsabilidade em relação a

Page 118: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

109

implantação do Just-in-Time. Isto só nao foi possível na

Andreas Stihl por circunstãncias de última hora.

As entrevistas tiveram duração entre duas e quatro

horas. Com exceção da Metal Leve, todas foram seguidas por

visitas às respectivas fábricas.

As perguntas feitas foram do tipo nao estruturado e

o roteiro das entrevistas procurou explorar todos os aspectos

abordados na revisão da literatura quando da formulação do

modelo conceitual. Além disso, os entrevistados foram

instados a acrescentar aspectos relevantes a implantação do

Just-in-Time que nao houvessem sido objeto de nenhuma

pergunta até então. A descrição dos casos que se fará no

capítulo seguinte a partir das entrevistas também será feita

de acordo com os três grupos de fatores propostos no modelo

conceitual de forma a tornar mais fácil a comparação entre os

mesmos.

Finalmente, cabe ressaltar a importância que tem o

fato do entrevistador ser familiarizado não só com a teoria,

mas também, pela experiência profissional, com o ambiente de

uma fábrica. Na visita às operações, bem corno nas entrevistas

com os gerentes, a percepção pessoal alicerçada pela bagagem

profissional representa um papel decisivo na apreensão dos

aspectos intangíveis do problema.

Page 119: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

110

CAPíTULO IV - DESCRIÇÃO DOS CASOS

INTRODUÇÃO

Este capítulo consiste no relato da experiência de

implantação do Just-in-Time nas cinco empresas já citadas.

A primeira parte da descrição do caso traz para cada

uma das empresas um conjunto de informações de caráter geral

cujo objetivo ê situar o leitor em seu contexto. Um histórico

sumarizado, dados sobre faturamento, controle acionário,

principais produtos e mercados sao, entre outras, as

informações aí disponíveis. A figura 6 apresenta um quadro

sintetizando e comparando estas informações para as cinco

empresas.

Na segunda, terceira e quarta partes sao descritos

os casos em questão de acordo com o modelo proposto no

Capítulo 11. Assim, em relação aos Fatores Gerenciais,

Estruturais e Ambientais estão expostos os dados obtidos na

pesquisa junto a cada uma das organizações.

A descrição dos casos propriamente dita inicia pelas

razões que levaram cada uma das empresas a adotar o Just-in-

Time. Sendo estas razões relativas aos Fatores Gerenciais,

estes são abordados em primeiro lugar, vindo a seguir os

Fatores Estruturais e os Ambientais.

Page 120: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

FIGURA 6

CARACTERíSTICAS GERAIS DAS EMPRESAS

IDADI! (X]ItTROLE FATIIRAIIENTO NIlMERo DI! PRINCIPAIS Q\lAllTlDADI! PARCKLA DO

ORIGl!II (NO BRASIL) DO EM 1988 FUNCIONARIOS PROIlI1IOS Ml!NSAL lIIlRCADO

CAPITAL (US$ HILIIÔl!S) PRODUZIDA BRASILllIRO

ANDREAS ALEMANHA 15 ANOS ALEMÃo 45 758 MarOSERRAS 8.000 78% STIBL MarOBOMBAS 1.500 -

(*) "CHICOTES" 2346176m BRASTI!MP BRASIL 3 ANOS BRASILEIRO 8,4 226 ELtTRICOS DE FIO -

(RIO CLARO) PROCESSADO

(**) EUA! TRATORES 1.330 40% 1lAXI0R 27 ANOS BRASILEIRO 300 3.200

INGLATERRA COLHEITADEIRAS 125

(***) PISTÕES 170 4.500 920.000 75'% MKrAL LEVI! BRASIL 39 ANOS BRASILEIRO

MOTOR DIESEL 55% YARMAR JAPÃO 32 ANOS JAPONlls 55 1. 270 Mar. GASOLINA 75%

MICROTRATOR 60%

------- -_. --- ----- - -

(*) Todos os dados são referentes a operação de Rio Claro~ A Brastemp tem 30 anos de existência e teve em 1988 um faturamen to de US$ 598.388.000,00, sendo a 43ª empresa no ranking por faturamento de EXAME "Maiores e Melhores" (Ago/1989). Nã mesma classificação a Maxion e a Metal Leve ocupavam o 45Q e o 131Q lugares.

(**) Dados referentes à operação de Canoas - CRS)

(***) Dados referentes à fábrica de pistões, localizada em Santo Amaro - (SP)

LOCALIZAÇÃO DA FABRICA PESQUISADA

SÃÚ LEOPOLDO (RS)

RIO CLARO (SP)

CANOAS (RS)

CIDADE DE SÃO PAULO

INDAIATUBA (SP)

I-' I-' I-'

Page 121: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

112

DESCRIÇAo DOS CASOS SEGUNDO OS FATORES QUE CONSTITUEM O

MODELO CONCEITUAL

ANDREAS-STIHL MOTO-SERRAS LTDA.

Informações Gerais Sobre a Empresa

A empresa em questão, de propriedade do industrial

alemão Peter Stihl está situada em são Leopoldo - RS a

aproximadamente 50 Km da capital Porto Alegre. Além do

Brasil, onde está instalada há 15, anos possui fábricas nos

Estados Unidos, Alemanha e Suíça.

A partir de quatro modelos básicos sao produzidas,

mensalmente, cerca de 8.000 moto-serras. Esta produção é

complementada por uma linha de moto-bombas cuja produção

mensal oscila entre 1.000 e 2.000 unidades.

o faturamento da empresa foi de aproximadamente US$

45.000.000,00 em 1988 e sua participação no mercado

brasileiro de moto-serras e estimada em 78%. Uma pequena

parte da produção é exportada.

Trabalham na empresa atualmente 758 funcionários,

sendo que deste total 75% aproximadamente correspondem à mão­

de-obra direta.

Page 122: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

113

Anualmente o proprietário da empresa visita a

operação no Brasil e sao comuns as viagens de funcionários a

Alemanha para treinamento e transferência de tecnologia.

A fábrica dispõe de instalações amplas e modernas

contando inclusive com um clube gerido pela associação dos

funcionários da empresa.

Page 123: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

114

ANDREAS STIHL MOTO-SERRAS LTDA.

Fatores Gerenciais

A história da implantação do Just-in-Time na empresa

teve início em 1984. Nesta ocasião, o diretor industrial e o

diretor de materiais da Stihl tendo feito diversos cursos e

viajado ao Japão, começaram a tornar os termos JIT, CCQ,

KANBAN, etc. corriqueiros no linguajar da empresa. A partir

do diagnóstico de uma grande empresa de consultoria, onde

evidenciaram-se problemas como altos estoques entre outros, a

direção da empresa decidiu ao final daquele ano adotar o

Just-in-Time.

o projeto para aplicação

elaborado pela mesma consultoria

deixada sob a responsabilidade

constituído por funcionários da

do JIT na empresa foi

e sua implantação foi

de um grupo de trabalho

Stihl. Dentre as diversas

alternativas propostas, este grupo decidiu que o primeiro

trabalho a ser feito seria a completa reestruturação do "lay­

out", fluxo de materiais e redução dos estoques

intermediários na área de fabricação de peças de magnésio,

incluindo fundição sob pressao, rebarbação, decapagem,

pintura eletrostática e usinagem.

Segundo a empresa, a maior dificuldade enfrentada

inicialmente originou-se do próprio método de implantação

Page 124: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

115

adotado. O citado grupo responsável pela implantação era

fechado e funcionou de forma quase "secreta" até o início do

trabalho na fábrica propriamente dita. O resultado disso foi

uma grande resistência por parte da maioria dos funcionários

que se sentiram marginalizados e rejeitaram o novo sistema.

Um dos maiores focos de descrédito em relação ao JIT foi o

setor de Manutenção que havia sido completamente alijado do

processo de implantação.

O resultado desta falha, ainda segundo a própria

empresa foi, além do atraso no desenvolvimento do programa, a

necessidade de um enorme esforço no sentido de conscientizar

os funcionários, envolvê-los com o programa e modificar a

cultura da empresa. Embora o ápice estratégico desta, a

través de seu diretor industrial que é o responsável pelo

programa mantenha apoio irrestrito ao mesmo, o processo de

envolvimento e conscientização a todos os níveis ainda tem um

longo caminho a percorrer. Conforme as palavras de um dos

entrevistados:

"Não se muda a cultura de uma empresa nos

gabinetes e sem o envolvimento e motivação de

todos desde o início. Entre o conhecimento de

uma técnica e a efetiva iniciativa de adotá-la

por vontade própria há uma distância muito

grande e este hiato demora anos para ser

vencido. 11

Page 125: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

116

Em função de tudo o que foi descrito acima, a

principal estratégia do PROJETO PRODUTIVIDADE, que é como se

batizou na Andreas Stihl a implantação do JIT, consiste em

motivar os funcionários através do seu envolvimento em tudo

que diga respeito ao mesmo a

qualquer projeto de qualquer

ampla divulgação antes de

todos os níveis. Assim, hoje

área da fábrica passa por uma

se decidir por sua adoção. Um

comitê técnico formado pelos chefes de departamento assiste à

apresentação do trabalho e, com a presença de outros

funcionários, discute os detalhes do mesmo exaustivamente.

Outro programa de participação existente na empresa

sao os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ). Criado em

1983, o CCQ na Stihl conta atualmente com cerca de 30 grupos

e tem tido participação destacada em encontros regionais e

nacionais de circulistas. A exposição anual dos trabalhos

realizados tem contado com a presença do proprietário Peter

Stihl e o prêmio aos melhores trabalhos em geral consiste em

uma viagem de visita a outras fábricas. Não há prêmios em

dinheiro porque, segundo a empresa, isto estaria em desacordo

com a filosofia do CCQ.

A política salarial da Stihl tem sido nos últimos

dez anos pagar os melhores salários da região. Esta política,

totalmente desvinculada do JIT, procura manter o menor

salário da empresa sempre acima da média do mercado,

Page 126: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

117

principalmente no que tange a mão-de-obra direta. Um

benefício importante consiste na existência de plano de

previdência privada para todos os funcionários. Este plano,

totalmente custeado pela empresa, tem como objetivo completar

o valor da aposentadoria paga pelo governo. Outros benefícios

tais como lanche gratuito, melhoria nas refeições e melhoria

no ambiente de trabalho sao importantes, pois segundo a

empresa, transmitem aos empregados a sensação de melhoria em

sua qualidade de vida como decorrência do JIT. O plano de

cargos sendo implantado atualmente na empresa prevê a nível

operacional uma remuneração maior para funcionários com

capacitação mais diversificada (multi funcional) , enquanto a

nível de "staff" procura distingüir carreira têcnica e

carreira gerencial com uma política de promoçoes e incentivos

coerente com a opção do funcionário.

Finalmente, cabe ressaltar que na opinião da empresa

um dos pilares de sustentação da motivação para o JIT

consiste no programa de treinamento. Este, tanto a nível

operacional quanto a nível gerencial, ê feito segundo duas

vertentes. A primeira tem ênfase têcnica, concentrando-se em

Análise de Valor, têcnicas estatísticas, etc. A segunda tem

conotação mais educacional buscando conscientização para a

importância da qualidade, difusão de conceitos como valor,

preço, custo e qualidade percebida, entre outros. Em relação

a recrutamento de pessoal a Stihl nao tem nenhum critêrio

especial adotado em decorrência do Just-in-Time.

Page 127: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

118

Em termos de medição dos benefícios obtidos com a

implantação do JIT, os relatórios gerenciais emitidos pelo

CPD evidenciam,

como giro dos

necessidade de

segundo os entrevistados, alguns deles tais

estoques

capital de

maior,

giro,

estoque menor, menor

segundo a empresa, uma

produto, além de uma

sensível

etc. Além destes, houve,

melhoria na qualidade do

visível mudança no aspecto da fábrica,

que tornou-se mais limpa e confortável.

Page 128: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

119

ANDREAS STIHL MOTO-SERRAS LTDA.

Fatores Estruturais

Em decorrência da implantação do Just-in-Time, a

area de produção da empresa foi dividida em 7 mini-fábricas

a saber:

fábrica de fundidos de magnêsio,

fábrica de virabrequim,

· fábrica de plástico,

• fábrica de sabres,

fábrica de pinhões,

fábrica de estampados e

· fábrica de moto-serras.

Cada uma destas fábricas ê dividida em centros de

trabalho e células de trabalho, tendo como produto final

peças prontas para utilização pela fábrica de moto-serras.

Assim, existe por exemplo na fábrica de fundidos de magnésio,

responsável por mais de 22 diferentes tipos de peças uma

célula de trabalho chamada de injetora/prensa. Nesta célula o

operador injeta a peça, retira da máquina, inspeciona e a

coloca em um "container" para voltar à temperatura ambiente.

Durante o tempo de injeção, o mesmo operador faz a rebarbação

das peças já frias em uma prensa. Finalmente, o segundo

operador da célula inspeciona a peça rebarbada. Com esta

Page 129: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

120

mudança de "lay-out" muitos defeitos de fundição, que só

apareciam na rebarbação muito tempo depois, passaram a ser

detectados quase que imediatamente, permitindo a correção do

processo. O tempo total do ciclo entre injeção e inspeção

final caiu de 718 para 48 minutos, também em decorrência da

eliminação de 340 minutos de estoque de peças em processo.

Além disso, houve diminuição no tamanho das ordens de

produção, que dos anteriores 45 dias de consumo passaram para

somente 5 dias. Outro exemplo no mesmo sentido pode ser dado

pela célula de usinagem dos carters ainda na fábrica de

fundidos de magnésio. A simples mudança de "lay-out",

agrupando as máquinas e evitando grandes percursos das peças

pela fábrica com o conseqüente aumento do estoque em

processo permitiu que a capacidade nominal de produção por

turno subisse de 380 para 500 peças. Para isso também

contribuiu o treinamento dos operadores que passaram a ser

capazes de operar qualquer uma das máquinas da célula.

Apesar da divisão em mini-fábricas estar chegando ao

ponto de cada uma delas ter seu próprio almoxarifado, o

processo de focalização ainda está em andamento e detalhes

como o grau de autonomia, sistemas de custeio e outros ainda

se encontram em estudo. O estágio de desenvolvimento do JIT

em cada uma delas também apresenta diferenças. A fábrica de

sabres (que sao as lâminas da moto-serra) e a de moto-serras

já mostram mudanças significativas em termos de "lay-out" e o

objetivo da empresa para 1989 e a fábrica de plásticos.

Page 130: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

121

Outra parte importante do JIT na Andreas stihl é o projeto

"HANDLING" através do qual a empresa pretende desenvolver

"containers" e embalagens padronizadas para todos os itens

internos e também adquiridos de terceiros. Além de

possibilitar controle visual e maior confiabilidade nos

inventários, isto eliminará a necessidade de cartões KANBAN.

Os equipamentos e instalações da empresa sao

bastante novos, sendo que a carga de trabalho dos primeiros

ainda e muito variável (1, 2 ou 3 turnos) dependendo dos

gargalos existentes. Em decorrência disso o programa de Troca

Rápida de Ferramentas está atualmente voltado para os pontos

de estrangulamento no processo. Este programa, que tem

metodologia padrão desenvolvida na própria empresa, já

conseguiu alguns resultados significativos, como por exemplo,

reduções de tempo de troca na fundição de 4 horas para 20

minutos. Também já se tornou rotineira na empresa, quando da

compra de novos equipamentos, a exigência de características

que facilitem a troca de ferramentas ou moldes.

Em termos de controle de qualidade, existem na

empresa diversos processos diferentes. Para alguns itens

críticos como a carcaça da moto-serra (que e também o tanque

de combustível) é feita inspeção a 100% pelo operador e pelo

Controle de Qualidade, além de auditoria no produto final.

Em outros casos e feita inspeção por amostragem ou

simplesmente inspeção pelo operador. Com o propósito de

Page 131: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

122

controlar a qualidade do processo, cada equipamento tem uma

carta de controle monitorada pelo Controle de Qualidade, o

que permite acompanhamento do desempenho da máquina ao longo

do tempo.

Manutenção Preventiva Total (MPT) e o nome do

trabalho desenvolvido pela Andreas Stihl

manutenção de seu equipamento. Através

em

de

relação a

dados como

capabilidade de máquinas, recomendações dos fabricantes,

desempenho dos processos, consumo de rolamentos, correias,

etc. , foi montado um banco de dados em computador para

programar toda a manutenção preventiva da fábrica. Apesar de

nao estar totalmente implantado, já se tornou possível

programar a produção da fábrica em bases anuais, considerando

todas as paradas para manutenção.

Também em fase de implantação está o sistema de

planejamento e controle da produção via computador. Através

de "software" especialmente desenvolvido para a empresa, que

inclui todas as rotinas de fabricação e montagem além da

composição

saber para

dos

um

produtos,

determinado

será possível

programa de

em poucos minutos

produção todas as

necessidades em termos de matéria prima, mão-de-obra e tempo.

Outra vantagem do sistema e permitir a produção acesso em

tempo real e confiança na exatidão das informações.

Page 132: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

123

Em relação à estabilização dos níveis de produção,

sendo a demanda por moto-serras sazonal (alta de abril a

setembro e baixa no restante do ano), a política adotada

procura manter a mesma produção ao longo do ano. Assim, nos

meses de baixa demanda se produz para estoque, evitando

pressionar a produção nos meses de alta. As desvantagens em

termos de custo de estoque são contrabalançadas por evitar

horas extras, desgaste excessivo do equipamento, quebras

inesperadas, etc. Segundo a empresa, já se obteve ganhos

significativos em termos de flexibilidade como por exemplo o

ciclo de produção atual de moto-serras ser de 3 a 4 dias,

enquanto anteriormente era de 15 a 20 dias. Com isso, o giro

de estoques também passou de 158 dias antes do JIT para os

atuais 23 dias.

Page 133: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

124

ANDREAS STIBL MOTO-SERRAS LTDA.

Fatores Ambientais

Em relação ao mercado fornecedor a Andreas stihl

ainda tem praticamente tudo a fazer. Apesar da existência de

alguns itens com entregas semanais, o programa de

qualificação gerenciado pelo Controle de Qualidade tem como

principal objetivo o desenvolvimento de fornecedores com

qualidade assegurada. Este programa, apesar de vir de

encontro às necessidades do JIT, nao significa

necessariamente fornecimento Just-in-Time.

A Andreas stihl também ainda nao fornece seus

produtos Just-in-Time, mas considera que isto seria uma

vantagem competitiva, pois além de atender rapidamente ao

cliente teria uma redução no custo de manutenção de estoques

de produto acabado.

No que diz respeito às características culturais da

mão-de-obra brasileira, a empresa jUlga que pelo fato de

estar num segmento da indústria que emprega a elite do

operariado, a implantação do Just-in-Time esteja sendo mais

fácil. Em termos de nacionalidade, a não ser pelo Gerente

Industrial e pelo chefe do departamento de fundição,

respectivamente finlandês e alemão, todos os outros cargos de

nível gerencial são ocupados por brasileiros. Ainda segundo a

Page 134: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

125

empresa, o maior grau de educação formal de sua força de

trabalho aliado ao envolvimento e participação de todos no

projeto faz com que eventuais limitações culturais tenham

seus efeitos minimizados.

Page 135: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

126

BRASTEMP S.A

Informações Gerais Sobre a Empresa

A fábrica de chicotes elétricos da Brastemp S.A.

está situada em Rio Claro - SP, distante 180 Km da capital do

estado.

A Brastemp S.A. foi fundada há 30 anos e seu

controle acionário e brasileiro, do grupo Brasmotor. A

empresa se dedica a fabricação de eletrodomésticos e seu

faturamento em 1988 foi da ordem de US$ 600.000.000,00.

A fábrica de Rio Claro

subconjuntos de ligação elétrica

dedica-se à produção dos

(os "chicotes") para os

eletrodomésticos da Brastemp, bem como da Cônsul e da Semer

que também são empresas do mesmo grupo. Além disso, parte de

sua produção também atende a outros clientes como Fiat e

Gurgel.

o faturamento anual desta unidade chega a atingir

US$ 400.000,00 tendo a mesma como insumos básicos fios,

isoladores e terminais elétricos. A empresa processou em

janeiro de 1989 2.346.176 metros de fio, trabalhando com 188

funcionários de mão-de-obra direta em 2 turnos de 6 horas.

Além destes trabalham na fábrica outros 21 horistas indiretos

e 17 mensalistas, perfazendo um total de 226 funcionários.

Page 136: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

127

A fábrica, inaugurada há

diferencial o fato de já ter

3 anos, tem como grande

sido concebida focada para

funcionar pelo sistema Just-in-Time, apesar deste sistema só

existir na Brastemp de forma localizada e não tão completa.

Finalmente, cabe

em processo final de

observar que a fábrica encontra-se

qualificação pelos UNDERWRITERS

LABORATORIES (U.L.l, o que tornará possível a exportação de

eletrodomésticos com redes de fiação feitas no Brasil.

Atualmente, a Brastemp é obrigada a importar "chicotes" dos

EUA para poder vender seus produtos naquele mercado.

Page 137: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

128

BRASTEMP S.A.

Fatores Gerenciais

A montagem da fábrica de chicotes elétricos da

Brastemp na cidade de Rio Claro se deu como conseqüência da

série de eventos que se segue. Em primeiro lugar, desde o

início da década de 80 a empresa já tinha um compromisso com

a prefeitura local em instalar ali uma de suas fábricas, mas

isto não havia sido possível em virtude da crise econômica

que o país vivia naqueles anos. A viagem de dois de seus

diretores ao Japão fez com que eles se tornassem entusiastas

do JIT, porem a tentativa de implantação do sistema na

fábrica de são Bernardo do Campo teve pouco sucesso. Dentre

as razoes para isto, além do tamanho e complexidade da

operaçao em questão, destacou-se a resistência por parte do

sindicato a idéia do operário multi funcional, já que o

sistema salarial vigente baseia-se na especialização do

trabalhador em determinada função.

Tomada a decisão de construção da fábrica em Rio

Claro, foi convidado a dirigí-la um ex-funcionário da empresa

com vasta experiência industrial. Este profissional, que

hoje ocupa o cargo de Gerente de Operaçôes da mesma, fez

cursos no IMAM (Instituto de Movimentação e Armazenagem de

Materiais) e visitou empresas que adotavam o JIT buscando com

isso conhecer o sistema e adaptá-lo a suas necessidades.

Page 138: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

129

Atualmente, esta e a única unidade da Brastemp que opera

totalmente segundo o Just-in-Time. Em todas as outras o

sistema só é aplicado parcialmente e em alguns setores.

Segundo a empresa, apesar de qualidade ser a

preocupaçao número um dos gerentes da Brastemp houve

resistência interna ao sistema, principalmente por parte dos

setores que tinham contato com os fornecedores tradicionais

de chicotes para a empresa. Aqueles fabricantes tiveram sua

falta de qualidade evidenciada e fizeram de tudo, inclusive

baixar muito seus preços para inviabilizar a operação de Rio

Claro. Também a questão do turno de 6 horas de trabalho foi

responsável por algumas dificuldades com o sindicato local,

mas este problema foi contornado sem maiores problemas

segundo a direção da fábrica.

A grande ênfase que se dá em Rio Claro ao

treinamento, principalmente operacional, tem sua origem na

implantação da operaçao. De acordo com o principal executivo

da empresa, a consciência de que uma fábrica Just-in-Time era

muito diferente da indústria tradicional fez com que, desde o

início, ele próprio se encarregasse de treinar e criar

condições para a existência de uma cultura adequada na

empresa. Assim, desde o início o treinamento operacional é

feito pelos próprios gerentes, "in loco", procurando através

de exemplos simples como o do funcionamento de um

supermercado explicitar o funcionamento do sistema Just-in-

Page 139: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

130

Time. Esta formação de cultura também se estendeu à conceitos

como cronometragem e a necessidade de fazer as tarefas no

tempo adequado, nem mais nem menos. A origem da inspeção pelo

operador foi, ainda segundo a empresa, conseqüência do

esforço feito no sentido de mostrar aos funcionários a

importância do chicote elétrico em um aparelho

eletrodoméstico, bem como incutir nos mesmos a mentalidade de

só fazer o que se sabe com certeza.

Para criar o espírito de equipe tão necessário para

a produção

tradicional

em células,

mutirão para

o exemplo dado consistia no

a construção de casas. Os

integrantes de cada célula sao encorajados a resolver seus

problemas de forma autônoma e a analisar seus próprios erros

de maneira construtiva, procurando saber o que levou a tal.

Cada célula tem um representante que muda todo o mês e mesmo

sendo um operador como outro qualquer e o responsável pela

coordenação do trabalho da mesma. Também a importância de se

deixar a célula limpa, arrumada e pronta para o próximo turno

é evidenciada pela analogia com a atitude que todos costumam

ter ao esperar visitas em sua casa. O uso de uniformes

brancos e a predominância de cores claras na fábrica procura,

além de dar um aspecto agradável, realçar a limpeza das

instalações.

A ambientação de novos funcionários a empresa se faz

com cuidado para deixar o novo operador a vontade e o

Page 140: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

131

treinamento operacional conta, atualmente, com fitas de vídeo

onde cada operação é mostrada em detalhes.

Em termos de treinamento

pela operaçao considera

através do exemplo e

que a

gerencial, o responsável

melhor forma de fazê-lo é

da autonomia. Assim, cada um dos

gerentes tem completa autoridade sobre tudo aquilo que diz

respeito ao seu trabalho e só deve recorrer ao superior em

caso de ser absolutamente necessário. O gerente por sua vez

faz uma auditoria periódica no funcionamento da fábrica e em

caso de erro orienta os subordinados quanto à forma correta

de fazer o trabalho. Ainda

manter o JIT funcionando

segundo o gerente

satisfatoriamente

da fábrica,

depende de

acompanhamento constante por parte de todos, principalmente

dos níveis de chefia, porque é muito fácil recair no sistema

convencional. Cabe mecionar ainda que apesar do treinamento

em análise de valor, sua aplicação e limitada

simplicidade do produto. Ainda assim, conseguiu-se

dada a

em 1988

uma redução de custo da ordem de US$ 1 milhão/ano no chicote

usado nos fogões, havendo ainda outros projetos em andamento.

Em relação a critérios de recrutamento, a empresa

procura dar preferência a quem nunca trabalhou, ou então teve

poucos empregos para evitar que se traga para dentro da

fábrica os vícios de outros sistemas de trabalho. Sinais de

personalidade agressiva são altamente indesejáveis e nao há

nenhuma restrição quanto a idades, considerando-se inclusive

Page 141: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

132

desejáveis candidatos mais velhos, apesar da contradição

entre este e o primeiro critério citado, que privilegia os

inexperientes. Não existe também nenhuma diferenciação entre

sexos no que tange a salários.

o principal fator de motivação dos funcionários da

fábrica de Rio Claro e, segundo seu gerente de operações,

além do ambiente e do respeito ao funcionário, a política de

promoção interna. Esta política que levou ex-operadores a

cargos na manutenção, na recepçao, no controle de qualidade e

até nos escritórios pretende sinalizar a todos os

colaboradores (assim sao chamados os funcionários da

empresa) que o seu progresso na Brastemp so depende deles

mesmos. Além disso, os salários pagos pela empresa estão

entre os melhores da região existindo ainda benefícios

adicionais tais como seguro saúde Unimed, convênio para

compras com desconto nos supermercados pão-de-Açúcar, bem

como em óticas e farmácias.

Isso tudo traduz-se numa permanente fila de

candidatos a trabalhar na empresa e em um "turnover" muito

baixo. Em 1985 e 1986 não saiu ninguém, em 1987 saíram 4

pessoas e em 1988 um total de 10 funcionários saíram por nao

se adaptarem definitivamente ao sistema.

o maior benefício obtido da criação da fábrica de

chicotes JIT foi, na opinião da empresa, uma expressiva

Page 142: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

133

melhoria na qualidade deste componente. Este era um problema

tão grande que existia na recepçao de materiais da Brastemp

em são Bernardo uma "bancada dos fornecedores", onde se fazia

a seleção dos chicotes recebidos um a um. A produtividade

alcançada se evidencia, por exemplo, na comparação entre o

volume teórico de produção em janeiro de 1989 (1.688.2440

metros de fio processado) e o volume real obtido de 2.346.176

metros. Esta produção 40% maior com os mesmos 188

funcionários de mão-de-obra direta e as mesmas 28.200 horas

trabalhadas é atribuída a ausência de perdas em tempo e

material que se observa em uma fábrica Just-in-Time quando

comparado com os processos tradicionais que serviram de base

para os cálculos teóricos de capacidade. Isto também se

reflete na margem operacional da fábrica que atinge hoje 30%,

acima dos 10% que foram estimados inicialmente e também da

média das empresas do grupo.

Segundo o Gerente de Operações da fábrica, para que

estes resultados fossem obtidos, a atitude pessoal sua e dos

outros gerentes foi fundamental. Estrito cumprimento do

horário de trabalho por parte da gerência, rigoroso controle

de custos e de horas extras, bem como combate permanente a

todo e qualquer desperdício são uma constante na empresa.

Exemplo disso consiste na utilização de copos de vidro para o

lanche dos funcionários, que além de melhores para tomar

café sao, a médio prazo, mais baratos que os copos

descartáveis, mesmo levando-se em consideração o custo da

Page 143: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

134

máquina para lavá-los. Além disso, acompanhar de perto o dia

a dia da produção e dar atenção imediata a qualquer problema

nesta área, bem como trabalhar com total autonomia devem ser

características básicas a nortear os procedimentos de todos

os gerentes da fábrica.

o fato da operação de Rio Claro ainda nao ser uma

divisão independente e sim uma extensão da Brastemp já começa

a restringir o desenvolvimento do Just-in-Time na empresa. A

partir do momento em que deixe de transferir os chicotes para

a Brastemp e passe a vendê-los, como faz para a Semer e a

Consul, a fábrica poderá fazer investimentos com recursos

próprios de forma autônoma. Um destes investimentos seria,

possivelmente, a automação de certas operações com o objetivo

de uniformizar a qualidade e minimizar a chance de ocorrência

de defeitos para maiores volumes de produção. No atual

estágio tem-se trabalhado muito no desenvolvimento de

dispositivos de produção que, apesar de simples permitem que

se alcance padrões de qualidade ainda melhores que os atuais.

Como última observação, deve-se notar que, caso a

homologação da fábrica pelos Underwriters Laboratories se

concretize, o mercado de exportação assim aberto poderá

tornar a fábrica de Rio Claro um centro de lucro virtualmente

independente da Brastemp.

Page 144: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

135

BRASTEMP S.A.

Fatores Estruturais

Pelo fato de ser uma fábrica focada já concebida

para trabalhar pelo Just-in-Time, a operação da Brastemp em

Rio Claro tem uma estrutura organizacional muito simples.

Entre o Gerente de Operações e o nível operacional

propriamente dito, existe somente um nível hierárquico

composto por quatro chefias: produção, Processos,

Administração e Recursos Humanos. A Manutenção subordina-se

ao chefe de Produção, enquanto o Controle de Qualidade

responde à chefia de Processos. Convém observar que estas

duas chefias trabalham na mesma sala junto a linha de

produção.

A produção é do tipo mão-de-obra intensiva, havendo

um so equipamento automático de corte, desencapamento e

colocação de terminal no fio em toda a fábrica. Esta, por sua

vez é dividida em células dispostas em linha desde a entrada

de matéria prima até a montagem final dos chicotes.

O tipo de equipamento utilizado é muito espefíco, já

que os fabricantes de terminais fornecem junto com os mesmos

as máquinas e ferramentas adequadas para sua aplicação.

Também na fase final de produção dos chicotes sao usados como

dispositivos as mesas de montagem, projetadas e construídas

Page 145: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

136

na própria fábrica para a montagem de cada tipo de chicote.

A fábrica de Rio Claro trabalha em dois turnos de

seis horas com cerca de 100 funcionários por turno. Segundo

a gerência da fábrica,

sistema de trabalho.

operários seria menor

algumas vantagens justificariam este

Em primeiro lugar, o cansaço dos

e portanto a produtividade seria

mantida em um nível mais elevado e mais constante. Outra

vantagem deste sistema seria a redução de custo decorrente de

não necessitar fornecer refeição aos funcionários no local de

trabalho. Além disso, possibilita que donas de casa possam

ser funcionárias da empresa, conciliando seus afazeres

domésticos com o trabalho na indústria. A empresa também

incentiva seus funcionários a terem outro emprego e prove

facilidades neste sentido, como por exemplo, troca de turno e

permissão para carteira assinada por outro empregador.

Em relação a manutenção preventiva, o modo de

trabalhar descrito acima possibilita 12 horas de equipamento

parado a cada dia, o que se reflete em grande eficácia e

facilidade para programar os trabalhos de manutenção. As

máquinas trabalham a 80%

pelo fabricante e cada

da capacidade

uma delas

auditada

nominal especificada

tem sua curva de

pelo Controle de capabilidade permanentemente

Qualidade. Também a vida das ferramentas de cravação de

terminais, em termos de número de batidas, é controlada a

ponto dos fabricantes utilizarem as informações da Brastemp

Page 146: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

137

como referência para a qualidade de seus produtos. Os 6

funcionários da manutenção são multifuncionais, isto e,

apesar da especialização profissional foram treinados para

que na maior parte dos casos pudessem agir na correção de

problemas em qualquer máquina. A partir do momento em que foi

feita solicitação de manutenção corretiva, o prazo máximo de

chegada do pessoal ao equipamento com problemas e de 20

segundos. Finalmente, o controle de estoque de peças de

reposição no almoxarifado da manutenção também e feito

através de cartões Kanban.

A programaçao da produção e feita a partir da

previsão de montagem gerada pelo setor de programação da

Brastemp em são Bernardo do Campo. Desta forma, a fábrica de

chicotes sabe com 90 dias de antecedência as necessidades de

produção e neste período recebe os materiais necessários que

também sao comprados de forma centralizada. Como os

fornecedores de fios, isoladores e terminais da empresa

ainda não trabalham pelo JIT, o estoque de matéria prima

costuma ser para um mês de produção.

As entregas de chicote para a Brastemp e Semer sao

feitas diariamente através de veículo próprio e para a Consul

as entregas sao semanais e utilizam os serviços de uma

transportadora. Em ambos os casos, os motoristas dos

caminhões foram treinados para entender e operar com os

"containers" padronizados e com os cartões Kanban. Quando

Page 147: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

138

saem das fábricas clientes, eles ligam para Rio Claro

avisando quais sao as quantidades e tipos de chicote

correspondentes aos cartões que estão levando, para que em

caso de acidente o fornecimento nao seja interrompido.

Chegando em Rio Claro,

de expedição o motorista

tendo o caminhão encostado no setor

troca os "containers" vazios por

outros cheios e coloca os respectivos cartões no painel,

acionando-se assim a produção. A partir deste instante, o

objetivo da fábrica e repor o material dos recipientes vazios

e deixá-los na expedição, para a próxima solicitação.

Em função da programação prévia, a demanda e

razoavelmente previsível, em torno de mais ou menos 10%. Na

eventualidade de uma queda brusca de demanda a fábrica

diminui o ritmo de produção, retirando caixas e cartões do

circuito, sendo no entanto penalizada pelo aumento anormal no

estoque de matéria prima. Na hipótese inversa, as fábricas

clientes consultam Rio Claro sobre a

de matéria prima e capacidade.

possibilidade em termos

Em caso de resposta

afirmativa, a produção tenta atender com o mesmo numero de

caixas e cartões, para forçar diminuição do material em

processo e sQ,em último caso volta a adicioná-los ao sistema.

Segundo a gerência da fábrica, as 12 horas de inatividade

diária e, paradoxalmente, o alto estoque de matéria prima tem

como contrapartida uma grande flexibilidade que lhe permite

atender a aumentos bruscos de produção geralmente sem

problemas. Nos casos de queda de demanda, o tempo ocioso é

Page 148: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

139

utilizado para treinamento e em casos extremos os

funcionários ficam batendo papo na área de lazer existente na

fábrica.

Além do acompanhamento da capabilidade dos

equipamentos, o controle de qualidade é feito pelos próprios

operadores. Nos casos em que a auditoria de qualidade de

produto encontra defeito, toda a produção daquela caixa é

inspecionada por um elemento da célula que produziu aquele

chicote, numa bancada especial chamada de "castigo". Além

disso, a célula, mesmo desfalcada de um elemento, deve manter

a produção horária padrão. Esta última se constitui em

elemento importante para a manutenção da qualidade, pois

obriga a um ritmo cadenciado de produção, evitando correrias.

Também em casos de retrabalho quem o faz a célula que

produziu as peças defeituosas. O resultado em termos de

qualidade pode ser avaliado pela sucata como percentual de

matéria prima processada em 1986, 1987 e 1988 que foi de

respectivamente 0,17%, 0,20% e 0,06%.

Além do Kanban, que responde pela maior parte do

fluxo de informação a nível operacional, alguns outros

sistemas são utilizados pela fábrica de Rio Claro. Um grande

painel luminoso (ANDON) sinaliza para cada operação a sua

situação: luz verde para operaçao normal; luz amarela para

chamar o controle de qualidade e luz vermelha para parada de

processo e chamada de manutenção corretiva. O controle

Page 149: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

140

horário de produção também tem a função de sinalizar aos

responsáveis por processos e qualidade a existência de alguma

anormalidade, pela diferença entre a produção prevista e a

produção real.

Com respeito a informação gerencial a empresa

dispõe de terminais remotos dos computadores da Brastemp em

são Bernardo do Campo onde, através do sistema COPICS, se tem

informação sobre custos, estrutura de produtos, programação

da produção, programação de compras, estoques, etc. Tanto a

nível operacional quanto a nível gerencial, informação em

tempo real -e considerada de importãncia decisiva pela

gerência da fábrica de Rio Claro.

A fábrica de chicotes foi a experiência piloto da

Brastemp em relação a idéia de descentralização e focalização

de operaçoes. No início de suas atividades a fábrica em

questão foi tratada como mais uma concorrente entre os

fornecedores de chicotes para a Brastemp, tendo conquistado

seu lugar com melhor qualidade, menores preços e prazos mais

convenientes. Em decorrência dos resultados obtidos, esta

filosofia vem se espalhando pelas outras empresas do grupo

através do argumento de que "já funciona assim em Rio Claro".

Page 150: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

141

BRASTEMP S.A.

Fatores Ambientais

Tendo sido concebida como uma fábrica Just-in-Time,

a operaçao da Brastemp entrega seus produtos por este sistema

a todos os clientes. O estoque máximo de chicotes na Brastemp

e na Semer que distam cerca de 200 Km de Rio Claro monta a um

dia de produção, enquanto na Consul (1.000 Km distante) chega

a 5 dias. O fato destes clientes não operarem Just-in-Time

por vezes penaliza a fábrica de Rio Claro, já que quando as

previsões de demanda dos mesmos nao se realizam, os chicotes

não sao consumidos e o estoque aumenta muito na pequena

fábrica que se preparou para produzir os volumes programados.

Na outra ponta, grande esforço vem sendo

desenvolvido junto aos fornecedores de fios e terminais no

sentido de obter destas indústrias entregas Just-in-Time, já

que estes dois insumos respondem igualmente por cerca de 60%

do custo de um chicote. A dificuldade tem origem no porte

destes fabricantes, muito maior quando comparado aos volumes

de compra da fábrica de Rio Claro. Neste sentido, esta última

desenvolveu e implantou um projeto que pinta os fios na cor

desejada antes de cortá-los, o que reduziu o número de tipos

de fio em estoque somente as bitolas necessárias na cor

branca. Mesmo com esta diminuição do número de itens e com o

conseqüente aumento de volume dos mesmos a dificuldade

Page 151: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

142

persiste, o que tem feito com que a empresa pense em se

retrointegrar, passando a produzir também o fio. Isto seria

feito através de outra fábrica focada e que também operasse

Just-in-Time, de acordo com a filosofia atual da Brastemp de

aumentar o número de operações deste tipo no grupo.

Finalmente, do ponto de vista do principal executivo

da fábrica de Rio Claro a maior dificuldade em relação à máo­

de-obra brasileira reside na existência de uma cultura

industrial viciada, cuja mudança levará ainda muito tempo.

Devido a isso, se faz necessário o acompanhamento constante

do trabalho para que se evite voltar ao sistema tradicional

de produção, o que, ainda segundo o mesmo executivo, pode ser

em parte evitado pela política de contratar quem nunca

trabalhou em indústria. Uma ferramenta considerada valiosa

neste aprendizado consiste na prática de fazer o responsável

por qualquer erro executar o retrabalho em todas as peças

defeituosas.

o mesmo dirigente argumenta por outro lado que o

gerente que souber ouvir os subordinados e trabalhar em

equipe passa a se beneficiar da criatividade e do interesse

por melhorar que, em sua opiniáo, sao características do

brasileiro. Segundo ele, a grande maioria de boas soluções

adotadas pela fábrica tiveram sua origem em idéias dos

operadores. Também as restrições que se faz normalmente nas

empresas a contratação de pessoas de mais idade são, de

Page 152: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

143

acordo com este gerente, um preconceito cultural, pois em

sua experiência estas pessoas sao altamente motivadas pela

oportunidade, produtivas e ainda impõem respeito aos mais

novos pelo exemplo de seriedade e dedicação.

Page 153: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

144

MASSEY-PERKINS S.A. (MAXION S.A.)

Informações Gerais Sobre a Empresa

A Massey-Perkins S.A., que opera no Brasil desde

1962, ê o resultado da fusão das empresas Massey-Ferguson, de

origem americana, e Motores Perkins, de origem inglesa. A

partir de 1983 o controle acionário passou a ser do grupo

gaúcho Iochpe, existindo ainda participação minoritária de um

grupo canadense.

A fábrica de Canoas - RS, município próximo à Porto

Alegre, dedica-se à fabricação de tratores e colheitadeiras,

tendo produzido em 1988 16.000 tratores, que computadas todas

as variações correspondem a 300 modelos diferentes. As 1.500

colheitadeiras produzidas no mesmo ano são de 30 modelos

diferentes e o faturamento desta operação, ainda em 1988, foi

de US$ 300.000.000,00, aproximadamente. Naquele ano, 32% da

produção da empresa foi destinado à exportação, sendo que o

objetivo para 1989 é 40%.

A fábrica de são Bernardo do Campo - SP está voltada

para a produção de motores diesel e a álcool, entre 48 e 165

HP de potência, dos quais fabricou cerca de 58.000 unidades

em 1988 e que correspondem a um faturamento de

aproximadamente US$ 200.000.000,00.

Page 154: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

145

Da produção da fábrica de motores cerca de 30% sao

para uso da própria Massey-Perkins, enquanto os restantes sao

vendidos em sua maior parte para a indústria automobilística.

Neste segmento, o maior comprador e a General Motors que

adquire 35% do total de motores produzidos.

máquinas

A participação da empresa

agrícolas (tratores e

no mercado brasileiro de

colheitadeiras) pode ser

estimada em 40% sendo que no segmento mais importante que e o

de tratores seus principais concorrentes sao a Valmet e a

Ford. Em motores, a participação da empresa no mercado está

em cerca de 25%.

450.

Em termos de faturamento total, a empresa ocupa o

lugar entre todas as empresas operando no Brasil

( "MAIORES

agrícolas

E MELHORES", Agosto 1989)

para EUA, América Latina

e exporta máquinas

e Oriente Médio. O

desenvolvimento do mercado japonês configura sua mais recente

ofensiva no mercado internacional.

Na fábrica de Canoas trabalham cerca de 3.200

funcionários e na de são Bernardo 1.800, perfazendo um total

de aproximadamente 5.000 pessoas. Deste total, 53% são mâo­

de-obra direta, 30% mão-de-obra indireta e os restantes 17%

mensalistas.

Page 155: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

146

Através de grande campanha publicitária em junho de

1989 foi divulgada sua nova razão social: MAXION S.A ••

Page 156: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

147

MAXION S.A

Fatores Gerenciais

A decisão de se implantar o Just-in-Time na Maxion

foi tomada pela diretoria da empresa em conseqüência da

análise do mercado e da concorrência no seu segmento

industrial, o que está sintetizado nos parágrafos seguintes.

A década que vai de 1977 a 1987 assistiu a um

enorme aumento da produtividade agrícola no mundo. A pesquisa

genética fez com que o volume de produção por area cultivada

tenha crescido substancialmente o que não aumentou a demanda

por equipamento, uma vez que esta continua proporcional à

area cultivada. Além disso, o setor experimentou uma grande

profissionalização pelo uso de mão-de-obra mais qualificada,

o que trouxe como conseqüência melhor uso e maior cuidado com

o equipamento utilizado. Como resultado destes fatores a

produção de grãos no mundo ocidental cresceu 30% na década em

questão. Apesar da existência

partes do planeta o mercado

de bolsões de fome em algumas

mundial de "commodities"

apresentou excesso de oferta e uma constante queda de preços

no mesmo período.

Para a indústria de implementos agrícolas, os fatos

expostos acima tiveram sérias conseqüências. Em 1987 foram

vendidos no mundo ocidental 450.000 tratores que correspondem

Page 157: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

148

a metade dos 900.000 tratores vendidos em 1977. A feroz

concorrência neste mercado tem provocado um sem número de

falências de fabricantes tradicionais e a sobrevivência

estará reservada somente aos mais aptos.

A partir da vontade de permanecer no seleto grupo

dos fabricantes bem sucedidos em seu mercado, a diretoria

da Maxion constatou a necessidade de rever todo o seu

processo de manufatura, passando a encará-lo não mais como um

custo, mas sim, como uma arma estratégica para a consecuçao

de seus objetivos. Já tendo alcançado 40% de participação no

mercado brasileiro a empresa julga que o grande objetivo deve

ser conquistar parcelas de mercados mais nobres e de maior

poder aquisitivo como EUA e Japão. A direção da empresa cita

como exemplo do sucesso desta estratégia a recente exportação

de tratores para a Austrália, tradicional cliente de

fabricantes ingleses que foram desalojados pela Maxion com

produtos de melhor qualidade,

mais rápida. Também em 1988

2.500 tratores (17% de toda a

iniciada a venda para o Japão.

mais baratos e com entrega

foram exportados para os EUA

produção) e em 1989 deve ser

A implantação do JIT a partir de 1987 foi uma das

decisões estratégicas tomadas pela empresa para permanecer

competitiva a nível mundial e é aquela cuja implantação está

mais adiantada. Outras medidas, como por exemplo capacitação

de representantes no exterior e projetos de produto

Page 158: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

totalmente nacionais,

percorrer.

149

ainda têm uma sêrie de etapas a

o responsável pelo programa é o vice-presidente de

manufatura, que considera impossível implantar o JIT sem o

total comprometimento do ápice estratégico da empresa. Isto,

segundo ele, se deve ao fato de que o JIT nao e somente mais

uma técnica, mas sim, uma nova filosofia de administração da

atividade manufatureira que além de envolver fatores técnicos

diz respeito principalmente a fatores humanos.

Em relação a

humanos citados acima

fundamental o fato

introduzido um programa

a

de

mentalidade gerencial e aos fatores

empresa considera de importãncia

que já por volta de 1980 foi

de Qualidade Total que contribuiu

significativamente para a criação de uma cultura voltada para

a qualidade entre seus funcionários. Além disso, procurou-se

estimular através de desenvolvimento gerencial uma quebra de

barreiras interdepartamentais e uma maior informalidade no

relacionamento entre todos os funcionários, com o objetivo de

que todos trabalhassem para otimizar os resultados da

empresa e não somente os de seus próprios setores. Sob este

aspecto foi observada uma grande diferença de aceitação entre

as fábricas de Canoas (Massey-Ferguson) e de são Bernardo do

Campo (Motores Perkins). Nesta última, devido a mentalidade

britãnica de formalização, departamentalização, distância

entre gerência e operários e burocracia enraizada na cultura

Page 159: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

150

da empresa, as dificuldades vem sendo muito maiores, apesar

de uma de suas linhas de usinagem ter sediado o primeiro

projeto de JIT na empresa. A partir de outra linha piloto em

Canoas e da constatação que o sistema funcionava, o mesmo

foi se ampliando a ponto de ser considerado pela direção da

empresa como irreversível.

As maiores barreiras a introdução do JIT na Maxion

situaram-se nos níveis médios de gerência. Insegurança, temor

pela perda de status e quebra

existentes, bem como acomodação

dos esquemas de poder

são alguns dos fatores que,

segundo a direção da empresa, explicam

mudança. Apesar de todo o esforço

esta resistência a

no sentido de obter a

adoção de uma nova postura a empresa avalia que no caso da

Perkins por exemplo cerca de 80% da gerência acabou saindo da

empresa. Os operários, por outro lado, apesar de inicialmente

manifestarem desconfiança acabaram por aderir

entusiasticamente ao programa. De acordo com a opinião da

direção da Maxion a origem da motivação dos funcionários para

a adoção do JIT está no fato de que, ao contrário do sistema

tradicional, o JIT exige que o homem seja tratado como um ser

pensante e não como um fator de produção do qual se extrai

somente força física. Desta forma a empresa argumenta que ter

os fatores higiênicos razoavelmente satisfeitos é condição

necessária mas

satisfação da

não suficiente

necessidade

para motivar. Isto porque, a

de associação, de auto

determinação, de sentir orgulho pela tarefa realizada, bem

Page 160: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

151

como ter consciência do seu significado (apesar de conhecidos

pelo ocidente há muito tempo) só se tornaram realidades pela

adoção do Just-in-Time.

A política salarial da empresa objetiva remunerar

seus funcionários permanentemente acima da mêdia de mercado.

Além disso, dispõe de convênios médicos (UNIMED em Canoas e

AMICO em são Bernardo) para todos os funcionários, bem como

busca fornecer as melhores condições possíveis em seus

refeitórios. A menos que seja impossível, procura-se sempre

promover os funcionários internamente, evitando-se

recrutamento externo.

o sistema de produção através de mini-fábricas semi­

autõnomas atende, segundo a empresa, necessidades técnicas e

humanas. Além dos fatores técnicos como melhoria de qualidade

e diminuição de estoques este tipo de organização mexe

profundamente em fatores psicológicos e sociais. Assim,

produzir um produto completo para atender a um cliente

visível (outra mini-fábrica) e fazer isto não a partir da

ordem de um chefe arbitrário, mas sim através da própria

avaliação das necessidades apontadas em um painel KANBAN e

discutidas com os colegas de equipe, traz o operário muito

próximo ao sentimento experimentado por um artesão e quebra a

separaçao existente entre planejamento e execuçao do

trabalho.

Page 161: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

152

Como exemplo de sua argumentação no parágrafo

anterior, a empresa cita a mini-fábrica responsável pela

montagem final da Retro-Escavadeira que sozinha fatura por

ano algo em torno de US$ 50 milhões. Esta mini-fábrica, que

funciona em um pavilhão independente, teve todo o seu "lay­

out" refeito, todo o sistema de montagem revisto, bem como

todas as embalagens e sistemas de transportes reavaliados. A

grande característica a diferenciar esta completa

reformulação do processo produtivo em questão consiste no

trabalho ter sido totalmente feito pelos dois encarregados e

cinqüenta operários do setor, sem nenhuma interferência de

qualquer gerente ou órgão de "staff" da Maxion. Isto faz com

que os funcionários se sintam "donos" do setor, tenham

orgulho de sua capacidade e inteligência, sejam mais

produtivos e atinjam níveis de realização profissional

impensáveis pelos padrões vigentes há bem pouco tempo,

segundo a opinião da empresa.

Não existem Círculos de Controle de Qualidade

formalmente constituídos na Maxion, pois segundo esta o

próprio sistema de mini-fábricas faz com que os grupos se

reúnam e discutam seus

existência de pequenas areas

problemas espontaneamente. A

de lazer nas mini-fábricas (os

"cafezódromos") e a autonomia que as mesmas têm para

determinar suas próprias horas de descanso levaram de forma

natural que as conversas nos intervalos "evoluíssem de

mulher e futebol para os problemas e suas soluções".

Page 162: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

153

Em termos de treinamento, a Maxion parte do

princípio que educação básica é condição primordial para que

o funcionário possa responder positivamente a qualquer tipo

de treinamento e, mais ainda, cre que em um país como o

Brasil isto faça parte do papel social das empresas. Por

isso, funciona em suas instalações um

primeiro e segundo graus freqüentado

funcionários todas as noites entre 18:00

curso supletivo de

por cerca de 800

e 20:00 horas. Os

professores são todos funcionários da empresa, que além de

oferecer lanche gratuito a todos fornece ônibus para o

transporte para casa e arca com todas as despesas de material

escolar. A meta a ser atingida pela empresa com este programa

consiste em ter 80% de sua mão-de-obra direta de fábrica com

o segundo grau completo em 5 anos.

Outra grande meta da política de treinamento da

Maxion está em prover suporte de conhecimento para viabilizar

a já comentada política de recrutamento interno. Por este

motivo, os cursos são voltados para a formação de mão-de-obra

adequada ao atendimento das necessidades que se vislumbra em

um futuro imediato. Além disso, existe a preocupação em

reciclar os ocupantes de funções que eventualmente se tornem

obsoletas, como aconteceu com os controladores de produção

quando foi implantado o JIT. Estes profissionais foram então

treinados para que se tornassem desenhistas detalhistas.

Também para viabilizar o funcionamento das mini-fábricas de

forma semi-autônoma e preciso que seus integrantes conheçam

Page 163: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

154

algumas técnicas estatísticas, medição indutrial, "lay-out" e

outras que so podem ser transmitidas a eles através de

instrução especializada.

Em termos de treinamento gerencial, o programa se

subordina uma vez mais às normas de recrutamento da empresa.

Uma vez por ano a empresa promove nas melhores universidades

do país um recrutamento de profissionais de nível superior

que, além de avaliados tecnicamente em suas areas, têm o seu

perfil psicológico e humano levantado no sentido de buscar

pessoas adequadas às crenças e filosofias da empresa. Os

profissionais assim admitidos, apesar do seu potencial, sao

"folhas de papel em branco", segundo a empresa; e seja de que

área forem, passam o primeiro ano trabalhando diretamente na

fábrica " ••• lá onde corre bala, com o pé preto, sem carpete

nem ar condicionado ••• ".

A partir desta aculturação e do desenvolvimento

destes profissionais a empresa pretende formar seus quadros

gerenciais. Este programa funciona há quatro anos, havendo já

um gerente e alguns supervisores oriundos do mesmo.

Em relação ao estágio em que se encontra a

implantação do JIT na Maxion as primeiras palavras da direção

da empresa advertem para o fato de que se trata de um

processo contínuo e dinâmico que nunca poderá ser considerado

como definitivamente implantado. Mesmo assim, diz que a

Page 164: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

155

produção "puxada" e o Controle de Qualidade Total, bem como a

importãncia dos aspectos humanos, já fazem parte da cultura

da maioria da empresa. A Manutenção Preventiva Total é em sua

opinião o aspecto do JIT que está com sua implantação mais

atrasada.

Dentre os indicadores de sucesso do JIT, a empresa

destaca que o giro de estoques que antes era de 7 a 8 vezes

por ano, já alcançou em 1988 20 vezes por ano e tem por

objetivo chegar a 25 vezes em 1989. Como forma de comparar a

Maxion informa que a média dos supermercados no Brasil é de

18 vezes por ano. Este aumento do giro do estoque

correspondeu a uma diminuição de US$ 20 milhões (4% do

faturamento anual) em capital de giro. Apesar desta

diminuição no estoque a empresa argumenta que a flexibilidade

para atender alterações bruscas de demanda aumentou

visivelmente.

Todos os índices de qualidade melhoraram de forma

dramática e um exemplo disto está no que mede a sucata como

percentual sob o material processado que caiu de 0,25% para

0,12% em menos de um ano.

Outra alteração significativa deu-se, segundo a

empresa, nos índices relativos a pessoal. O absenteísmo caiu

de 8% para 2%, o número de acidentes de trabalho ficou 4

vezes menor, o "turnover" caiu para menos de 0,5% ao ano e o

Page 165: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

156

número de açoes trabalhistas contra a empresa também diminuiu

muito.

Finalmente, segundo a opinião da direção da Maxion,

para que se tenha êxito na implantação do Just-in-Time dois

cuidados básicos devem ser tomados. Os primeiros projetos

pilotos de JIT na empresa fracassaram redondamente porque

eram geridos pela Engenharia Industrial e não pela Produção.

Segundo a empresa, o sistema só funciona se for totalmente

conduzido pelo pessoal de Produção e órgãos como Engenharia

Industrial e Controle de Qualidade forem utilizados para

apoio e consultoria quando convocados pela mesma.

Outro mal a ser evitado é acreditar que o Just-in­

Time pode ser implantado por uma consultoria externa à

empresa. Segundo a Maxion, uma consultoria pode ter êxito em

introduzir aS técnicas, mas como o JIT é um sistema sócio­

técnico a sua implantação estará destinada ao fracasso, pois

o sistema social da empresa não estará comprometido com ela.

A Maxion usou consultoria externa (IMAM) para difundir as

técnicas entre seus funcionários, mas desde o início todos

os executivos, principalmente aqueles ligados à manufatura,

dão aulas e ministram seminários pelo menos uma vez por mes

para operãrios, clientes e fornecedores.

De acordo com a opinião do vice-presidente de

manufatura da empresa, um recente comercial de televisão

Page 166: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

157

exemplifica bem a necessidade de comprometimento do ápice

estratégico através da frase:

"Nio basta ser pai, tem que participar."

Page 167: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

158

MAXION S.A.

Fatores Estruturais

A operaçao da Maxion situada em Canoas encontra-se

bastante verticalizada com relação a tipos de processo. A

exceção de fundição e forjaria, a empresa dispõe dos mais

diversos recursos, tais como corte e estampagem de chapas,

solda, usinagem, pintura e montagem.

o principal processo da fábrica de motores e a

usinagem, sendo que as poucas peças estampadas que fazem

parte dos mesmos sao fornecidas pela fábrica gaúcha. As

compras externas de insumos podem ser divididas em três

grandes grupos: produtos patenteados de terceiros, tais como

pneus, baterias, material

elétrico em geral, etc.;

hidráulico em geral, material

peças forjadas e fundidas e

finalmente pequenas peças tais como, porcas, parafusos,

arruelas e outros.

Em termos de "lay-out" apenas 5% da área de produção

ainda se mantém pelo sistema antigo, isto é, por tipo de

processo. Todo o restante da operação encontra-se dividido em

mini-fábricas integradas. Estas unidades são constituídas

tipicamente por 25 a 30 horistas diretos chefiados por um

encarregado e têm tanta autonomia quanto possível. Assim, por

exemplo, apesar dos aspectos comerciais das compras, tais

Page 168: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

159

como preços, serem negociados

responsável pelo acompanhamento

mesmas é a mini-fábrica.

de forma centralizada, o

transporte e recepção das

Também as mini-fábricas sao totalmente auto-

suficientes em termos de controle de qualidade, e apesar do

controle pelo operador só estar efetivamente funcionando em

mais ou menos 50% delas, detêm total responsabilidade em

relação ao atendimento a clientes internos e externos. Outras

funções, tais como limpeza, alocação de mão-de-obra, controle

de custos, de absenteísmo, de despesas e de produção são

executadas e mensuradas a nível de mini-fábrica,

possibilitando desta maneira que a pequena unidade tenha

controle total do seu desempenho.

Ainda tendo por trás de si a filosofia de que quem

planeja executa, foram redefinidas as funções de chefia e de

departamentos, tais como Controle de Qualidade e Engenharia

Industrial. Os encarregados das mini-fábricas nao são chefes

que devem ser obedecidos, mas membros de uma equipe que, em

conjunto, decide, planeja e executa suas tarefas. O Controle

de Qualidade faz o papel de auditor e de facilitador,

treinando e ajudando as diversas unidades a usar as

ferramentas de qualidade e de controle de processos. Também a

Engenharia Industrial tem função análoga, sendo constituída

de somente 10 engenheiros e técnicos senior com larga

experiência e que têm como função básica treinar o pessoal

Page 169: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

160

operacional. Além deste papel de facilitadores, estes homens

têm como missão olhar para fora da empresa em busca de novos

métodos e processos que no futuro devam ser implantados.

Todo o trabalho do dia a dia é executado pelas mini-fábricas.

Com relação ao tipo de equipamento disponível, a

maioria consiste de máquinas de uso universal com cerca de 20

anos de utilização. Em algumas linhas, tais como motores e

tratores, devido ao alto volume de produção, encontram-se

equipamentos especializados e linhas dedicadas, como por

exemplo, as máquinas de usinagem de bloco de motores. A

existência na fábrica como um todo de 22 mãquinas de comando

numérico, entre centros de usinagem, tornos e retíficas,

configura uma

equipamento.

exceçao em termos de idade e tipo de

A Manutenção Produtiva Total, que é considerada um

dos pilares do JIT na Maxion ainda tem apesar disso um longo

caminho a percorrer

Atualmente, grande

na empresa,

ênfase vem

segundo seus dirigentes.

sendo dada à limpeza e ao

cuidado em checar as condições dos equipamentos antes de

fazê-los funcionar. Outro aspecto da manutenção que deve ser

destacado foi a realização de 32 manutenções preventivas de

grande porte feitas em 1988. Nestes casos, equipamentos em

estado crítico devido a longa vida e ao mau uso no passado

foram totalmente desmontados e restaurados. Dois aspectos

merecem destaque neste trabalho, sendo o primeiro deles o

Page 170: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

161

"upgrading" tecnológico feito no equipamento. Assim, a

própria empresa modernizou as máquinas, introduzindo em

alguns casos até controle numérico, tornando-as mais

adequadas a suas necessidades. Outra inovação significativa

foi a participação dos usuários do equipamento no processo de

restauração do mesmo. Desta forma, em todos os casos a

manutenção foi executada por uma equipe formada pelo pessoal

de manutenção e pelos operadores da máquina que além de

fornecerem valiosos subsídios em relação ao equipamento e

suas necessidades, tornaram-se "experts" em seu funcionamento

e suas características.

Outro programa cuja responsabilidade de implantação

está nas equipes de cada mini-fábrica é o programa de redução

do tempo de espera, ou Troca Rápida de Ferramenta (T.R.F.l.

Apesar dos inúmeros resultados obtidos, este trabalho também

e considerado como sendo de longo prazo e, segundo a

experiência da Maxion, na maior parte dos casos os tempos de

espera são reduzidos em até 70%, simplesmente organizando o

processo. Em decorrência desta

ferramentas e dispositivos

conclusão, todos os tipos de

foram retirados de gavetas e

armários, sendo colocados expostos em painéis localizados nas

mini-fábricas. A vantagem disso, ainda segundo a empresa,

reside no fato de que para organizar os diversos setores e

planejar trocas de ferramentas e dispositivos nao há

necessidade alguma de investimento.

Page 171: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

162

A Maxion tem sua produção totalmente "puxada" pelo

sistema Kanban e a não ser pelas linhas de montagem final não

tem nenhum controle de fabricação. O programa mensal de

produção fica estabelecido ao início de cada período em uma

reunião a nível de diretoria. Levando em consideração a

previsão de vendas, possibilidades físicas de produção e os

diversos fatores financeiros envolvidos, bem como as

recomendações prévias de cada setor, decide-se as quantidades

e o "mix" de produção daquele período. Este resultado passa a

ser então a linha mestra de trabalho para os quatro

funcionários do setor de Planejamento e Controle de

Produção, que sao os responsáveis por administrar a execuçao

do plano no dia a dia. Tanto quanto possível o composto

diário de produção e o mesmo composto mensal para manter

estabilizada a demanda e evitar sobrecarga nos setores. As

linhas de montagem final são do tipo produtos misturados e

têm diversos processos de fabricação junto a si, permitindo

que em grande parte dos casos a produção seja "puxada"

somente pela visão dos produtos que estão sendo montados.

Segundo a empresa, a maior dificuldade ao adotar

este sistema está na grande instabilidade da demanda,

ocasionada principalmente pela situação econõmica do país.

Além disso, também o mercado externo é imprevisível e vencer

uma concorrência internacional pode significar uma revolução

no plano de produção, já que boa parte dos produtos faturados

destina-se ao mercado externo. Em conseqüência disso, a

Page 172: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

163

interação constante entre vendas e PCP torna-se decisiva para

o funcionamento do Just-in-Time na Maxion. O ideal seria,

segundo a empresa, programaçao firme no mês corrente, 10% de

variação no mês seguinte, 30% no terceiro mes e possível

mudança completa no quarto mes. A realidade atual, no

entanto, não permite isto, o que se reflete em níveis de

estoque inadequados e muito trabalho de reprogramação.

Uma medida importante do JIT, o ciclo de produção,

apresentou uma evolução significativa na empresa. Antes da

implantação do sistema, entre o pedido e a entrega de um

trator por exemplo levava-se mais de 15 dias, sendo que

atualmente este prazo é de 48 horas. Em termos de fabricação,

um fundido bruto de grande porte que entre na fábrica torna­

se um trator rodando em menos de 24 horas.

Conforme já foi dito, o único sistema de informação

usado pela Maxion para gerenciar a produção é o Kanban. A

partir do plano de produção do mes em curso e da previsão

para os três meses seguintes as linhas de montagem começam a

"puxar" a produção e o setor de compras faz as encomendas aos

fornecedores. A indicação de quantidades e tipos de insumos a

serem comprados para atender a previsdão de vendas é feita

por um sistema MRP que, no entanto, foi totalmente

descontinuado em seu sistema de gerenciamento de produção. A

própria nota fiscal que acompanha o material que chega a

fábrica serve como documento para carregar o estoque. A baixa

Page 173: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

164

o estoque de matéria-pr'ima so se faz quando o produto é

faturado, também usando MRP. O processo produtivo é uma

"caixa preta" gerenciada pelo Kanban. Deve-se observar que em

boa parte dos casos o Kanban consiste na própria embalagem

que movimenta as peças na fábrica. Assim, por exemplo, a

montagem traz para o setor de pintura um carrinho com

capacidade pré-fixada de peças e com o código das mesmas a

identificá-lo. Tendo a esperá-lo outro carrinho idêntico já

carregado de peças que vai de volta para a montagem, o

trabalho da pintura consiste em encher aquele que veio vazio

de peças pintadas. são poucos os painéis ANDON existentes nas

fábricas e o objetivo da empresa é uma integração tão grande

de processos que possibilite a substituição do Kanban por

controle visual puro.

Finalmente, em caso de problemas que nao possam de

forma alguma ser resolvidos a nível de mini-fábrica, o

acionamento de órgãos de "staff" como Controle de Qualidade,

Engenharia Industrial ou Engenharia de Produto se faz de

imediato, informalmente, sem necessidade de papel, requisição

ou qualquer burocracia. Casos de problemas crônicos ou

repetitivos são resolvidos pela criação de forças-tarefa

lideradas pelo pessoal de produção, visto que os setores

citados acima são, segundo a filosofia de trabalho da Maxion

meros prestadores de serviço ao cliente produção.

Page 174: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

165

MAXION S.A.

Fatores Ambientais

A alegação que normalmente se faz de que a cultura

e/ou etnia brasileira seria um fator limitador para a

implantação do Just-in-Time no Brasil e violentamente

rechaçada pela Maxion. Segundo a empresa, o que existe na

realidade e urna deficiência generalizada de fatores objetivos

corno educação formal, saúde, alimentação e moradia adequados.

Outra consideração feita pela empresa diz respeito a

existência de vários bolsões dentro do país que se situam em

níveis muitos diferentes de satisfação destas necessidades

básicas. Assim, no Nordeste as relações entre patrões e

empregados no campo ainda podem ser comparadas a servidão da

Idade Média, enquanto no Sul a colonização foi oriunda de

países industrializados que já apresentavam entre outras

características maior nível de educação formal. Ainda assim,

a empresa, situada no extremo sul do país e empregando a

nata da mão-de-obra do principal segmento operário da nação,

surpreendeu-se ao encontrar cinqüenta analfabetos entre seus

funcionários.

O executivo responsável pelo JIT na Maxion observa

ainda que a implantação de esquemas participativos de

gerência se faz de maneira muito mais fácil no Brasil que por

exemplo nos EUA, onde muitos anos de cultura industrial

Page 175: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

166

Taylorista criaram um afastamento quase irremediável entre

gerentes e operários, apesar de que este problema já pode ser

detectado de forma localizada na área da Grande são Paulo. O

mesmo executivo comenta ainda que já ouviu de um dos vice­

presidentes da Toyota diversos elogios a criatividade, à

capacidade de assimilação e a vontade de trabalhar do

operário brasileiro.

Concluindo sua argumentação, o vice-presidente de

manufatura da Maxion alega que dificilmente se terá exemplos

maiores de trabalho em grupo, de criatividade e de

organização do que as Escolas de Samba, o Jogo de Bicho e os

campeonatos de futebol de varzea, sendo estes últimos

provavelmente mais bem organizados que o próprio Campeonato

Brasileiro de Futebol. O que existe na realidade sao

desculpas e subterfúgios para, segundo ele,

verdadeiro problema: incompetência gerencial.

esconder o

Em relação a questáo sindical, a opinião da Maxion

considera que a implantação do JIT representa uma evolução

significativa nas relações empresa-empregado, resultando numa

efetiva melhoria da qualidade de vida do trabalhador. Assim,

os dirigentes sindicais que trabalham na empresa nao

conseguem falar contra o sistema, devido à pressão que sofrem

das bases. Por outro lado, a miopia de alguns empresários que

acreditam em relações trabalhistas próprias do começo do

século alimenta a convicção de outros, dentre os quais

Page 176: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

167

inúmeros líderes sindicais, que o modo de produção

capitalista está falido e deve ser substituído por outro mais

adequado. Segundo a empresa, estas convicções políticas

impedem que as organizações dos trabalhadores enxerguem o

sistema de maneira simpática e contribuam para sua difusão.

Nas condições atuais do mercado brasileiro, fornecer

tratores Just-in-Time nao representa nenhuma vantagem

competitiva significativa, pois sendo o preço "cipado" os

pedidos se concentram sempre nos últimos dias do mês, antes

dos aumentos. Por outro lado, a flexibilidade que a fábrica

adquiriu tem representado uma vantagem decisiva nas

exportações, pois permite prazos de entrega mais rápidos que

os dos concorrentes, mesmo internacionais. Isto, aliado à

qualidade e baixo preço, tem sido uma arma poderosa, como

ficou demonstrado no exemplo já citado da venda para a

Austrália.

Em relação a seus próprios fornecedores, a Maxion

iniciou ao final de 1988 um trabalho que ela mesma qualifica

como sendo de doutrinação e portanto de longo prazo, uma vez

que segundo a empresa, no Japão isto demorou 30 anos para ser

feito.

Em primeiro lugar, a Maxion começou a diminuir o

número de fornecedores que passaram de 450 no início de 1988

para 300 no fim do mesmo ano, sendo que o objetivo para o

Page 177: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

168

final de 1989 é ter somente 200. Com isto a empresa mantem

somente os mais qualificados e procura ter para cada item um

só fornecedor. Desta forma, apesar de ter por exemplo, três

fornecedores de parafusos, cada tipo de parafuso so e

comprado de um único fabricante. Isto, além de facilitar a

manutenção e o controle da qualidade, não cria dependência de

um único fornecedor e impede que este, sabendo que é único,

pratique preços abusivos.

Em segundo lugar, cada um destes fornecedores

remanescentes está sendo instado pela empresa a entregar seus

produtos Just-in-Time, se possível, diariamente. Como a

maioria destes fabricantes se encontra em são Paulo a Maxion

contratou uma transportadora que diariamente percorre os

fornecedores agendados e concentra o material em seu

entreposto, situado em Taboão da Serra. A partir daí o

material e transferido para caminhões maiores que o levam

para o Rio Grande do Sul. Na estrada existem três postos de

controle através dos quais os motoristas se comunicam com a

fábrica, o que permite que em caso de quebra ou acidente os

veículos sejam rapidamente localizados. Toda a logística

desta operação foi desenvolvida e e controlada pelo pessoal

da Maxion, que tem contrato de exclusividade com a

transportadora e cujos caminhões retornam a são Paulo com

produtos da empresa.

Page 178: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

169

A Maxion tem plena consciência que a imensa maioria

dos 50 fornecedores que já aderiram ao esquema descrito no

parágrafo anterior só tem flexibilidade de estoque e não

flexibilidade de origem. Isto significa que eles continuam

trabalhando segundo os métodos tradicionais, produzindo

grandes lotes e entregando um pouco de cada vez. Como isto

não interessa nem a Maxion, que continua com os riscos de

qualidade oriundos do processo tradicional e nem ao

fabricante que arca com o custo de manutenção de estoque

elevado de produto acabado, a primeira iniciou o programa de

doutrinação propriamente dito a que se referiu anteriormente.

Através de seminários mensais com duração de um dia inteiro a

empresa se propoe a transmitir as técnicas e filosofias do

JIT a seus fornecedores, para que com isso eles se tornem

também fábricas Just-in-Time. A grande dificuldade deste

processo é, além do longo prazo demandado, a postura de

alguns fabricantes que preferem ser sumariamente cortados à

mudarem suas

habituais.

práticas gerenciais e seus procedimentos

Page 179: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

170

METAL LEVE S.A.

Informações Gerais Sobre a Empresa

Fundada em 1950 com o objetivo de suprir o mercado

brasileiro

importações,

de autopeças grandemente dependente de

a Metal Leve responde

(Agosto, 1989),

atualmente, segundo

"MAIORES E MELHORES" pelo terceiro maior

faturamento do setor (US$ 271.822.000,00), inferior somente

aos da Cofap S/A e da Robert Bosch do Brasil Ltda ••

A empresa, totalmente controlada por brasileiros,

utilizou-se em seu começo de tecnologia alemã e tem duas

grandes linhas de produtos:

pistões e pinos, que normalmente formam conjuntos,

podendo no entanto ser vendidos separadamente;

bronzinas, arruelas de encosto e buchas que sao

produtos muito similares, também componentes de

motores de combustão interna.

A Metal Leve detém cerca de 75% do mercado

brasileiro de seus produtos e exporta algo em torno de 35% de

sua produção, que em 1988 foi de 11 milhões de pistões e 120

milhões de bronzinas, aproximadamente.

Page 180: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

171

Os principais clientes, tanto no Brasil quanto no

exterior, sao as montadoras de automóveis e reposição de

autopeças. A exportação se faz tanto diretamente pela venda

de pistões e bronzinas como indiretamente pelos motores e

veículos brasileiros enviados para clientes no exterior.

A fábrica de pistões situada em Santo Amaro (bairro

da capital paulista) emprega 4.500 funcionários dentre os

quais se encontram aqueles da administração geral da empresa.

Outra unidade,

pela produção

localizada em são Bernardo do Campo, responde

de bronzinas, empregando cerca de 1.800

funcionários. Estima-se que 75% da mão-de-obra da empresa

trabalha diretamente ligada a produção, tendo os restantes

funções administrativas.

Page 181: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

172

METAL LEVE S.A.

Fatores Gerenciais

o Just-in-Time na Metal Leve teve início quando em

1986 seu Diretor Industrial, havendo tomado conhecimento do

sistema, encomendou a uma empresa de consultoria um estudo

que avaliasse os benefícios potenciais de sua adoção. Diante

do resultado apresentado por este estudo foi decidida a

imediata implantação do sistema.

As primeiras reaçoes a esta determinação foram de

dúvida e ceticismo. Apesar de achar o sistema interessante, o

argumento que mais se ouvia era de que "isso aqui não

func iona 11 •

A diretoria nao se sensibilizou com os argumentos

contrários e manteve a determinação de aplicação imediata do

sistema. Isto foi feito através da implantação de uma célula

piloto ao final do ano de 1986. Segundo a empresa, o início

desta experiência foi traumático. Nesta ocasião a demanda por

peças estava muito aquecida (a fábrica trabalhava em 3

turnos) e a produção do setor em questão caiu pela metade. Ao

mesmo tempo que cobrava o volume de produção a gerência

instruía os responsáveis pela célula no sentido de que a

qualquer problema a produção fosse parada e só se voltasse a

operar com o contratempo resolvido. O conflito gerado com

Page 182: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

173

isso foi enorme, a ponto de se ouvir frases do tipo "se isto

estivesse em linha como antes, funcionava".

Atualmente, a empresa reconhece que naquela ocasião

julgava erroneamente que 80% dos problemas de implantação do

JIT eram técnicos e somente 20% estariam relacionados as

atitudes dos funcionários. Na realidade a implantação do JIT

envolve uma profunda mudança na postura em relação aos

problemas ao invés de apresentar uma nova solução para eles.

Ainda segundo a Metal Leve, o JIT representa uma

grande mudança na cultura da empresa e do trabalhador

brasileiro.

As maiores resistências ao JIT tiveram origem nos

níveis médios de gerência. Estas pessoas, a maioria com

muitos anos de casa devido ao baixo "turnover" da empresa

rejeitou violentamente o novo sistema de trabalho imposto de

fora para dentro. Acostumados a conviver com velhos problemas

que normalmente eram disfarçados pelos altos estoques de

material em processo, estes profissionais se viram forçados a

resolvê-los imediatamente. Também em muitas situações a maior

parcela de culpa estava com a empresa que, anteriormente, em

face dos problemas, preferia e estimulava soluções paliativas

ao invés de dar condições reais aos seus funcionários para

que os mesmos fossem resolvidos.

Page 183: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

174

Também por falta de comunicação os operários que

inicialmente se entusiasmaram passaram a uma atitude mais

reservada. Acreditando que o sistema se refletiria em

melhores salários e tendo como retorno somente uma melhoria

nas condições de trabalho ficaram decepcionados e a

empolgação inicial foi arrefecida.

Apesar de todos os obstáculos, os resultados

alcançados pelas células-piloto nas duas fábricas foram

estimulantes. Reduções em tempos de "set up" de 40 para 6

horas e estoques de matéria-prima que caíram de 4 para 1 mês

fizeram com que a Metal Leve elaborasse um Plano Diretor de

Implantação para o Just-in-Time que tem como horizonte os

próximos 5 anos. Na verdade, este plano é bipartido e cada

uma de suas partes vai procurar atender condições específicas

encontradas em cada uma das fábricas da Metal Leve. Isto se

deve à crença partilhada pela empresa e pela consultoria que

sendo o JIT uma filosofia, a adoção e implantação do mesmo

deve ser feita de acordo com as particularidades de cada

caso.

A forma pela qual está sendo feito este plano é,

segundo a empresa, resultado da maior lição que se teve com

as experiências piloto do JIT. O plano vem sendo amplamente

divulgado, inclusive a nível operacional, mas especialmente

pela gerência média a qual está sendo comprometida em busca

de objetivos discutidos e aceitos por todos. A implantação

Page 184: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

175

deste plano será coordenada por dois grupos ligados a

Gerência de Planejamento Industrial, mas será levada a efeito

pelo pessoal ligado diretamente à Produção. Outra decisão já

tomada consiste em que qualquer ampliação da capacidade

existente na fábrica ser a feita no formato de células de

produção Just-in-Time. Quanto às linhas existentes, será dada

prioridade aquelas de produtos mais nobres e de tecnologia

mais sofisticada. Além disso, a ligação entre quaisquer

setores que não possam estar visualmente próximos deverá se

fazer por cartões KANBAN.

A empresa acredita que para motivar os funcionários

das futuras células em relação ao novo sistema e preciso que

eles tenham treinamento específico que coloque em evidência a

melhoria das condições de trabalho com o JIT. Para isso, vem

sendo elaborado pelo setor de treinamento da Metal Leve um

seminário com esta

coisas, incluir

finalidade,

uma simulação

o qual deve,

de linha de

entre outras

produção que

permita a comparação dos dois sistemas "in loco". Segundo a

empresa, pode haver dúvidas se isso seria suficiente para

motivar os funcionários, mas certamente é necessário pois os

integrantes das atuais células se ressentem da falta deste

tipo de treinamento.

A pOlítica salarial e de benefícios da empresa

sempre procurou se situar em um patamar que lhe permitisse

contratar e manter uma força de trabalho de alto nível. Esta

Page 185: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

176

política, que segundo a empresa emana de seu conselho de

administração, explica o baixo

não sofreu qualquer influência

in-Time. Também em relação a

"turnover" da mão-de-obra e

pela adoção do sistema Just­

melhorias no ambiente de

trabalho nao houve mudança significativa, pois já se tratava

de um programa da empresa que, entre outros objetivos, visava

satisfazer exigência de auditoria de clientes no exterior.

A Metal Leve tem Círculos de Controle de Qualidade

funcionando há bastante tempo e considera que isto facilita

de certa forma a implantação do JIT. Também existe na empresa

um programa de reuniões quinzenais envolvendo três níveis

hierárquicos onde são discutidos os problemas do trabalho no

dia a dia. Este programa tem como objetivo suprir as

deficiências

tradicionais,

de comunicação

fazendo com

dos canais hierárquicos

que os problemas cheguem

rapidamente aos ouvidos de quem pode resolvê-los. Estas

reuniões têm seu calendário seguido a risca e, segundo a

empresa, atingem plenamente seus objetivos.

Em termos de recrutamento e seleção também nao

existe ainda nada que tenha sido criado em função do JIT,

embora a empresa disponha de uma descrição formal de cargos

que serve como base para seleção e promoção.

Finalmente, a Metal Leve considera que o primeiro

passo para uma implantação bem sucedida deve ser o

Page 186: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

177

convencimento e a venda da idéia. Sem que isto seja

amplamente conseguido a todos os níveis, a empresa julga que

nao se consegue levar o processo adiante principalmente pela

falta de uma clara sinalização sobre o que se espera da

atuação de cada funcionário nele.

Page 187: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

178

METAL LEVE S.A.

Fatores Estruturais

Para efeito de análise dos fatores estruturais,

particularmente o sistema técnico, a empresa em questão deve

ser dividida em duas fábricas independentes.

No que se refere aos pistões, a produção começa pela

fusão da liga de alumínio, seguida pela moldagem das peças em

coquilha permanente de aço, tratamento térmico, usinagem, em

alguns casos tratamento superficial, inspeção final e

classificação por faixa de tolerâncias dimensionais. Em

paralelo, e nao tão verticalizada quanto a produção dos

pistões, está a fabricação de pinos. Dependendo do diâmetro

do pino o mesmo é forjado a partir de um arame de aço ou

cortado a partir de uma barra também de aço. Usinagem,

tratamento térmico, retífica e inspeção final são os passos

subseqüentes do processo. A partir daí os pinos podem ser

comercializados individualmente ou formando jogos com os

pistões.

o processo de produção de bronzinas por seu turno e

muito diferente daquele dos pistões, sendo também à exemplo

dos pinos, menos verticalizado. A partir de chapas de aço

corta-se tiras que sao em seguida laminadas a frio e

recozidas. Através da deposição sobre as tiras de po de

Page 188: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

179

bronze sinterizado, ligas alumínio-estanho, ligas de cobre ou

outros materiais obtem-se o que se chama de material de

bronzina semi-acabado. Com esta matéria-prima são produzidas

as bronzinas propriamente ditas, através de processos de

estampagem e usinagem.

Em virtude das diferenças entre as duas fábricas em

termos de produtos, processos, quantidades produzidas e

velocidade de produção, a Metal Leve decidiu implantar o

Just-in-Time de forma independente por fábrica. Assim, foi

escolhida uma linha em cada uma delas para que nela se

realizasse uma experiência piloto de JIT. Em decorrência

disto, nao estando ainda nenhuma das fábricas funcionando

totalmente no Just-in-Time, a descrição do caso se fará

enfocando preferencialmente esta experiência e suas

diferenças com a forma tradicional de operação da empresa.

Apesar do "lay-out" de ambas as fábricas ser por

processo, na de pistões já existia uma certa divisão das

máquinas por linhas de produto, enquanto na de bronzinas os

equipamentos eram

de máquina. Este

divididos considerando-se somente os tipos

fato tornou a célula piloto do JIT na

fábrica de bronzinas uma mudança de "lay-out" mais radical do

aquela da fábrica de pistões.

As máquinas existentes na Metal Leve sao em sua

maior parte (cerca de 80%) equipamentos fabricados

Page 189: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

180

especialmente para a produção de pistões ou bronzinas. A

empresa tem corno política atual adquirir máquinas de uso mais

geral, que com alguma adaptação possam ser utilizadas para

fabricação de seus produtos. Esta conduta não foi adotada em

razao do Just-in-Time, mas sim, do alto custo e da

dependência dos fabricantes em que se incorre trabalhando com

máquinas especiais. A possibilidade de usar máquinas

universais em lugar de especiais para fabricação de seus

produtos decorre da popularização e do desenvolvimento dos

equipamentos de comando numérico que, segundo a empresa, têm

em certos casos características superiores a algumas máquinas

especiais. Além disso, outra exigência do sistema Just-in­

Time proporcionada por máquinas de comando numérico consiste

na enorme rapidez para troca de operaçao e ferramenta com a

conseqüente diminuição dos tempos de espera.

Em relação a manutenção do equipamento, a

experiência da Metal Leve também foi distinta nas duas

fábricas. Antes do Just-in-Time não havia grande preocupação

com manutenção preventiva, procurava-se utilizar o

equipamento em sua capacidade máxima. Com a introdução do

conceito de células e produção puxada, as conseqüências

daquela falta de preocupação tornaram-se claras, apesar de

distintas nas duas fábricas.

Na fábrica de pistões, como já existia algum "lay-

out" por produto, uma dessas linhas foi escolhida e

Page 190: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

transformada em célula.

intermediários uma série de

181

Com a diminuição dos estoques

problemas no funcionamento dos

equipamentos, que até então estavam ocultos, começaram a

aparecer. Devido a isso, a produção diária que pelo esquema

anterior era de 4.000 peças caiu para níveis de 1.500 a 2.000

peças. Este fato, que por um lado foi benéfico por forçar a

resolução desses problemas, tornou em contrapartida a

implantação da célula bem mais difícil.

Na fábrica de bronzinas a célula foi criada de forma

diferente, uma vez que os seus equipamentos foram

selecionados nas diversas áreas funcionais e, antes de

instalados, passaram por uma completa revisão. Isto tornou a

implantação da célula muito mais fácil e fez com que esta

atingisse seu regime normal de trabalho rapidamente.

Segundo a empresa, o simples contraste entre os dois

exemplos evidenciou de forma indiscutível a importância que

tem a manutenção preventiva, pois a célula da fábrica de

pistões só funcionou bem quando todos os problemas de

máquinas foram resolvidos.

o fato de a Metal Leve ser uma fornecedora de

insumos para outra indústria que monta

problemas em relação a programaçao

o produto final traz

da produção. Além da

instabilidade do mercado brasileiro, segundo a empresa, uma

montadora leva em média 30 dias entre resolver mudar sua

Page 191: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

182

programação de produção e esta resolução se transformar em

ordem de fabricação na Metal Leve. Em geral, quando isto

acontece, o prazo que se dispõe para atender adequadamente ao

cliente torna-se muito

longo ciclo de produção

exíguo.

(cerca de

Se for considerado ainda o

60 dias) da Metal Leve,

devido sobretudo a sua produção bastante verticalizada, pode­

se ter uma boa idéia da dimensão do problema enfrentado pelo

setor de programação da produção. Por este motivo, alguns dos

objetivos perseguidos pela empresa com a implantação do JIT

são a redução do ciclo de produção e aumento da flexibilidade

da mesma para que se possa atender com mais rapidez às

variações na demanda.

Em termos de Controle de Qualidade, a Metal Leve

ainda trabalha pelo esquema tradicional de produção, inspeção

e auditoria final. Em virtude do Just-in-Time, estão sendo

introduzidos na empresa a inspeção pelo operador, o controle

estatístico de processos e o conseqüente estudo de

capabilidade de máquinas. Os primeiros resultados neste

sentido têm demonstrado que inúmeros equipamentos nao possuem

a capabilidade necessária devido principalmente à deficiência

de manutenção citada anteriormente. Além disso, com a

evolução dos motores de combustão interna, as exigências de

projeto de suas peças têm-se tornado cada vez mais rígidas, o

que reforça a necessidade de maior controle sobre os

processos de fabricação.

Page 192: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

183

Em relação a Sistemas de Informação, também a

característica de indústria intermediária da Metal Leve se

manifesta. A nao ser no caso de setores funcionais

fisicamente separados, corno por exemplo Fundição e Usinagem,

a empresa nao pretende utilizar cartões Kanban, mas sim,

fazer ligação física ente as diversas fases do processo. Isto

so e possível pelas condições particulares do processo de

produção da Metal Leve, cuja seqüência em linha difere

bastante da tradicional "bacia hidrográfica" característica

de, por exemplo, urna montadora de automóveis. Atualmente

porem, o uso de computador é generalizado para controle e

planejamento de produção.

Finalmente, o projeto de implantação do Just-in-Time

na Metal Leve pretende "retalhar o monstro", ou seja, dividir

a empresa em mini-fábricas. Isto porém, ainda está a nível de

projeto, sendo prematuro prever qual o nível de autonomia que

cada urna destas unidades teria.

Page 193: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

184

METAL LEVE S .A.

Fatores Ambientais

A primeira característica do ambiente brasileiro a

ser considerada pela empresa em questão como empecilho a

implantação do Just-in-Time ou a qualquer inovação em termos

de processo industrial seria o baixo grau de educação formal

da mão-de-obra empregada. Esta linha de raciocínio argumenta

que por terem aprendido tudo o que sabem no trabalho diário,

os níveis inferiores de chefia, encarregados e supervisores

de produção principalmente, resistem sistematicamente a

qualquer perspectiva de mudança nas regras do jogo pela

insegurança típica que têm aqueles que aprenderam na prática

em relação aos que estudaram.

No caso específico do JIT, a Metal Leve acredita que

preservar os trabalhadores mais experientes é fundamental,

pois a grande mudança que o sistema traz em si diz respeito

principalmente à forma de administrar o processo de produção

e nao a novas tecnologias para fabricação de pistões e

bronzinas.

Ainda segundo a empresa, esta mudança cultural seria

facilitada se fosse possível isolar do ambiente da empresa

funcionários experientes e inexperientes criando uma pequena

fábrica que nasceria funcionando Just-in-Time. Um exemplo

Page 194: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

185

disto tem sido a nova fábrica da Metal Leve nos EUA, que já

está nascendo JIT e com todas as características que o

sistema requer.

Em relação ao mercado fornecedor, a única

conseqüência visível foi uma redução nos estoques de matéria­

prima de 4 meses para um mês. Apesar disso a Metal Leve

julga que brevemente os seus fornecedores serao pressionados

a trabalhar JIT da mesma forma que ela vem sendo, pois no

mercado mundial fornecer Just-in-Time vem se tornando cada

vez mais uma decisiva vantagem competitiva. Segundo a

empresa, a tecnologia dos motores de combustão interna vem

avançando muito rapidamente e

incorporar

laboratórios

os mais recentes

seus clientes desejam poder

desenvolvimentos de seus

nos produtos vendidos aos consumidores. Esta

exigência do consumidor final acaba se refletindo na Metal

Leve que deve trabalhar com estoques de produto acabado

mínimos, pois o risco de obsolescência e muito grande e

também deve ter flexibilidade suficiente em sua produção

para que as modificações no produto sejam feitas rapidamente

sem comprometer a qualidade e a produtividade do processo.

Embora este tipo de exigência seja muito mais marcante no

mercado de exportação, as montadoras instaladas no Brasil

também as estão adotando por inspiração de suas matrizes no

exterior.

Page 195: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

186

A questão sindical é colocada pela empresa como um

foco de problemas em potencial para a implantação do JIT. As

exigências dos sindicatos em relação à salário de acordo com

o grau de especialização do operário entram em conflito

flagrante com a idéia do operário multifuncional. Além disso,

a difusão do sistema nos grandes centros industriais também

deve ser dificultada, pois a maior produtividade JIT tende a

exigir um maior esforço do funcionário que, também segundo a

empresa, se choca com o corporativismo sindical e o desejo do

brasileiro em geral que quer ter um emprego e nao um

trabalho.

Finalmente, a empresa coloca que para quem já

trabalha há alguns anos na Metal Leve e visível a

deterioração das relações de trabalho entre a empresa e seus

funcionários. Este fato é visto como conseqüência direta do

acirramento das diferenças entre os sindicatos dos

trabalhadores e dos patrões que tende a igualar as condições

oferecidas por todas as empresas e desfazer o vínculo

funcionário-empresa, que atualmente quase não existe mais na

Metal Leve.

Page 196: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

~87

YANMAR DO BRASIL S.A.

Informações Gerais Sobre a Empresa

A empresa foi fundada em 1957, dedicando-se

inicialmente à comercialização de motores importados. Em 1961

instala em Indaiatuba SP a primeira fábrica de motores

diesel de pequeno porte no Brasil. Desde então, através da

aquisição de outras empresas e de desenvolvimento de novos

produtos, vem ampliando sua participação nos mercados em que

atua.

o controle acionário da empresa (67%) pertence à

Yanmar Diesel Engine Co. Ltd. com sede em Osaka, Japão. Os

restantes 33% sao propriedade de sócios brasileiros. O

faturamento em 1988 foi cerca de US$ 55.000.000,00.

As principais linhas de produtos da empresa sao:

motores diesel pequenos (de 4 a 36HP e 1 a 3

cilindros) a participação da Yanmar neste

mercado é estimada em 55%, sendo seus principais

concorrentes a Agrale e a Kubota;

motores a gasolina - esta linha de produtos é a

da antiga fábrica Onan Montgomery, adquirida pela

Yanmar em 1980 e transferida de são Paulo para

Page 197: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

188

Indaiatuba. A participação neste mercado e

estimada entre 70 e 80%;

máquinas e implementos agrícolas nesta linha o

principal produto e o microtrator que tem 50% de

participação no mercado brasileiro. O principal

concorrente é a Kubota;

tratores - em 1987 a empresa lançou seu primeiro

trator de 4 rodas em dois modelos. Sua

participação no mercado é estimada entre 3 e 4% e

seus principais concorrentes sao a Agrale, a

Maxion e a Valmet.

Além das vendas no mercado brasileiro, parte da

produção da empresa e exportada para alguns países africanos

e latino-americanos.

Em Indaiatuba a Yanmar tem aproximadamente 1.150

funcionários, sendo que 300 destes trabalham na Fundituba,

que e uma fundição de peças de ferro e alumínio de

propriedade da empresa. No escritório central em são Paulo

trabalham 120 funcionários. Na empresa como um todo cerca de

70% dos empregados trabalham diretamente envolvidos com a

produção.

Page 198: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

189

YANMAR DO BRASIL S.A.

Fatores Gerenciais

o sistema Just-in-Time foi adotado inicialmente pela

Yanmar do Japão por volta de 1975 e a sua introdução na

filial brasileira foi feita por orientação direta do

presidente da matriz, por ocasião de visita à operação aqui

instalada.

Segundo a empresa, houve grande dificuldade nos dois

primeiros anos porque não se tinha consciência da necessidade

de adoção deste tipo de sistema de produção que, além do

mais, era totalmente desconhecido no Brasil. A única fábrica

a trabalhar com o JIT em nosso país era a da Toyota em

Diadema e foi através de visitas àquela empresa que o pessoal

da Yanmar começou a tomar contato com um sistema JIT em

funcionamento. Ainda segundo a Yanmar, deve-se ter em mente

que naquela ocasião havia grande desconhecimento e também

muita dúvida, mesmo no Japão, quanto a eficácia do JIT.

Apesar do pioneirismo da Toyota remontar à década de 50, esta

empresa é muito fechada e ainda hoje não gosta de expor muito

sua tecnologia de produção.

Atualmente, a grande maioria dos funcionários da

Yanmar, mormente aqueles ligados diretamente à produção,

acredita no sistema porque viu resultados, tais como reduções

Page 199: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

190

de tempo de espera de 8 horas para menos de 20 minutos sem

gastar dinheiro e também no estoque de material em processo

que caiu em média de 2 meses para 3 dias. A empresa considera

o apoio atual dos funcionários ligados a produção como

exemplo da mudança de mentalidade, pois no início da

implantação as maiores resistências vieram daí. Além de

resistir muito a trabalhar com pouco estoque, a introdução do

trabalho multi funcional também foi muito difícil.

Acostumados a ser especialistas em determinada tarefa, os

funcionários chegaram a reinvindicar salários multiplicados

pelo número de máquinas que passaram a operar. Segundo a

Yanmar foi um grande desafio mostrar a seus funcionários que

o volume de trabalho não havia aumentado, e sim, se tornado

mais diversificado, o que teria como benefício a diminuição

de fadiga devida ao mesmo. Também a gerência média, "viciada

no sistema tradicional", opos muita resistência, a ponto de

se ter que demitir alguns de

ainda existe desconfiança

particular por parte do

seus integrantes.

em relação ao

Mesmo assim,

sistema, em

pessoal administrativo e dos

escritórios que, talvez pela distância da fábrica, ainda nao

acredita muito no JIT.

o responsável pelo programa PERDA ZERO, nome pelo

qual o JIT é conhecido na Yanmar, é o seu Diretor Industrial.

O atual Diretor Vice-Presidente foi o primeiro responsável

pela implantação do sistema em 1977, tendo posteriormente

ocupado o cargo de Diretor Industrial.

Page 200: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

191

Antes do início da implantação do JIT a empresa já

se empenhava em ter uma filosofia voltada para a melhoria da

qualidade, baseada nos princípios do TOTAL QUALITY CONTROL

(TQC). Segundo a empresa, este esforço era orientado no

sentido de mostrar aos funcionários que o trabalho de todos

eles tinha um cliente: o processo posterior; e que melhorando

a qualidade do próprio trabalho aumentava a satisfação do

cliente. A existência deste tipo de filosofia veio, ainda

segundo a Yanmar, de encontro as necessidades e contribuiu

para a consecução dos objetivos na implantação do JIT.

Em termos de motivação a Yanmar considera que antes

de se pensar nisto há que se fazer com que as necessidades

primárias de todos os funcionários estejam plenamente

satisfeitas. Apesar de nao ter certeza absoluta de estar

neste estágio, a empresa acredita que as necessidades mínimas

estão atendidas e, nas palavras de um de seus executivos

(japonês), sob este aspecto o operário japonês é igual ao

operário brasileiro.

Quanto à motivação propriamente dita a empresa julga

que as pessoas querem ser avaliadas pelo trabalho que

realizam e que deve-se criar oportunidades

dos Círculos de Qualidade, faz-se

para isso. Alêm

mensalmente uma

apresentação de melhorias alcançadas onde sao entregues

brindes aos funcionários que mais se destacaram. Muito

Page 201: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

192

treinamento, com especial ênfase as técnicas de Análise de

Valor, também e considerado um fator motivacional. Partindo

da premissa de que o funcionário deve se sentir útil e também

sentir que a melhoria da empresa está diretamente ligada à

melhoria de sua própria vida, existe na empresa um programa

de sugestões que dá prêmios em dinheiro aos autores das

idéias que contribuam para a melhoria da qualidade e

produtividade. Qualquer sugestão recebe no ato uma pequena

quantia em dinheiro e apos a implantação da mesma suas

conseqüências sao analisadas por uma comissão que atribui

pontos segundo critérios pré-estabelecidos. Conforme a

pontuação obtida o autor recebe uma quantia em dinheiro,

sendo que acima de determinado número de pontos esta decisão

passa a caber à diretoria, a quem caberá dimensionar o real

impacto do trabalho em termos de recompensa.

A importância que é dada às técnicas dos Círculos de

Qualidade e Análise de Valor pode ser dimensionada pela

existência de duas salas equipadas com televisão, vídeo-

cassete, "flip-charts", etc. cada uma delas destinada a

abrigar as reuniões dos respectivos grupos. Além destas duas

existe uma terceira, chamada de Sala de Criatividade, que tem

as paredes cobertas de desenhos de dispositivos, exemplos de

automação de baixo custo e outros destinados a ajudar aqueles

que a utilizam a encontrar soluções e criar novas

alternativas de resolução para os problemas do dia a dia.

Page 202: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

193

Em termos de política salarial,

funcionários da fábrica multi funcionais o plano

sendo os

de cargos se

torna bem simples. Existem três categorias de funcionários:

A, B e C, sendo que em cada uma delas há cinco faixas

salariais distintas. Os critérios para enquadramento nestas

faixas levam em conta fatores como experiência,

multiplicidade de habilidades, atitude, etc. A cada seis

meses se faz uma avaliação formal de desempenho onde cada

funcionário pode ou nao ser promovido à luz dos critérios

citados. Cabe ressaltar que devido à pOlítica da empresa de

privilegiar promoções internas em casos de abertura de vagas,

promoções podem ocorrer a qualquer época.

Ainda em termos de avaliação de desempenho, se dá

grande ênfase nos casos de gerentes, chefes, supervisores,

etc. à gerência participativa, sendo esta uma das filosofias

da empresa. Em função disso, o treinamento gerencial procura

enfatizar o papel do chefe como divulgador de novas técnicas

e treinador de seus subordinados. No nível operacional, no

entanto, o treinamento "on the job" tem preferência.

Dentre os diversos aspectos importantes para o JIT

a empresa procura evidenciar a enorme importância que tem

para o sistema a organização, limpeza e arrumação do local de

trabalho. Nas palavras de um de seus executivos "controle

visual só é possível em um local limpo e arrumado onde tudo

seja visível. Caso contrário, tem que usar computador ••• ".

Page 203: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

194

Em termos de recrutamento e seleção a empresa busca

contratar pessoas com pouca experiência em indústria, pois

julga mais fácil adaptar um individuo com estas

caracteristicas ao sistema JIT. Apesar de outras empresas

japonesas, como por exemplo a Toyota, terem preferência por

contratar japoneses ou "brasileiros com cara de japonês", a

Yanmar não julga que isto tenha importância para o JIT, não

havendo em seus quadros mais de 1% de japoneses ou nisseis.

Ainda em termos de recursos humanos, a empresa ressalta que

seus indices de acidentes de trabalho e de rotatividade de

mão-de-obra são insignificantes.

Alêm da já citada redução do estoque em processo de,

em média, dois meses para apenas três dias, outros

indicadores atestam o sucesso na implantação do Just-in-Time.

De acordo com a empresa a produtividade fisica, medida como a

relação entre a quantidade de produtos e o número de pessoas

necessárias para produzi-los, aumentou 3 a 5 vezes de 1977

até os dias de hoje.

Outro beneficio considerado pela empresa como

bastante significativo seria a convicção da maioria de seus

funcionários da importância do seu trabalho e de que so

seriam demitidos em último caso. Para isso, duas politicas da

empresa sao consideradas fundamentais. A primeira, dificulta

ao extremo a admissão de novos funcionários a qualquer nivel,

procurando sempre outras alternativas de solução no caso de

Page 204: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

195

aumento do volume de trabalho. A segunda, em casos de redução

de demanda, segrega os melhores e mais experientes

funcionários de cada setor para trabalhar em projetos de

melhoria de métodos e aumento de produtividade. Assim, quando

a demanda volta a aumentar, a produtividade também e maior,

diminuindo a pressão em favor de contratações. Apesar de

frisar que ninguém tem emprego garantido, a Yanmar julga que

a estabilidade de mão-de-obra que se consegue com estas

políticas tem um efeito muito positivo na mente de seus

funcionários.

Em termos de estágio de implantação, internamente o

JIT já está em toda a fábrica, sendo que atualmente os

programas mais significativos deverão ser obtidos pelo avanço

no trabalho junto aos fornecedores.

Como observação final, a empresa faz uma autocrítica

em relação ao método de implantação utilizado por ela. Apesar

de considerar o JIT "uma verdadeira revolução", o fato de o

mesmo ter sido introduzido na fábrica toda ao mesmo tempo

gerou um numero excessivo de problemas, cuja superaçao so se

viabilizou com muito esforço

direção da matriz japonesa.

e com o apoio incondicional da

Embora considere que este apoio

incondicional do ápice estratégico da empresa seja condiçáo

"sine qua non" para a implantação do JIT, esta última se

torna mais fácil quando feita por partes, a partir de um

projeto piloto em algum setor da empresa.

Page 205: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

196

YANMAR DO BRASIL S.A.

Fatores Estruturais

A fábrica de Indaiatuba pode ser definida tanto

para motores, quanto para tratores e microtratores como de

produção em série. Esta característica mantem-se mesmo para

produtos de exportação, que, em volume aproximado de 40%

constituem na realidade séries especiais, incorporando

variações aos produtos básicos.

A nao ser pela estamparia e pela soldagem, todo o

restante da fábrica tem "lay-out" por produto, sendo dividida

em células de produção. Algumas destas células sao de

produção misturada, sendo que no caso das células da usinagem

a oferta de peças se faz através de supermercados. A produção

e totalmente gerenciada por um sistema de cartões Kanban,

desde o depósito de produto acabado até os armazéns de

matéria-prima e peças compradas.

o equipamento da Yanmar consiste em sua grande

maioria de máquinas universais, sendo que esta filosofia

norteia a aquisição das mesmas desde 1976, ano em que foi

iniciado o Just-in-Time na empresa. Apesar disso, existem na

empresa alguns equipamentos de aplicação específica para

casos em que isto é imprescindível. Em geral, as máquinas não

Page 206: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

197

sao muito novas, estando porem em excelente estado de

conservaçao.

Não existe, segundo a empresa, grande preocupaçao

com a carga de trabalho das máquinas, procurando-se utilizar

ao máximo o equipamento. Grande atenção, no entanto, é dada à

manutenção preventiva e corretiva, pois todos têm consciência

de que qualquer parada de máquina significa parada de

produção.

A filosofia básica que orienta o programa de

Diminuição do Tempo de Espera (ou Troca Rápida de Ferramenta)

na Yanmar consiste em ganhar tempo sem gastar dinheiro.

Assim, grande esforço se faz no sentido de racionalizar as

trocas através de pré-preparação, pré-teste, ajuste e outros

com a máquina funcionando, para que se possa com a redução

dos tempos de troca de matrizes reduzir o tamanho dos lotes

de produção. Um exemplo do ganho neste sentido pode ser dado

pela linha de usinagem de virabrequins, onde gastava-se cerca

de 8 horas para trocar do tipo da referida peça e atualmente

isto se faz em menos de 20 minutos.

A maior dificuldade que a empresa enfrenta para uma

adequada programaçao da produção e a conseqüente compra de

insumos aos fornecedores e a instabilidade da demanda no

mercado brasileiro nos dias de hoje. Assim, o pessoal de

vendas faz grande esforço no sentido de conhecer o mercado e

Page 207: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

198

informar convenientemente à fábrica o que vai ser vendido.

Neste sentido, variações de mais ou menos 20% do programado

são consideradas normais, bastando que sejam comunicados por

telefone à fábrica. Quaisquer mudanças maiores que isto sao

tratadas corno anormalidades.

A função do Controle de Qualidade na fábrica de

Indaiatuba restringe-se a auditoria periódica em peças

prontas. Toda a inspeção durante o processo produtivo é feita

pelos operadores, e na rotina de fabricação de cada peça este

tempo conta corno tempo de produção. Além disso, a Produção

dispõe de um detalhado levantamento da capabilidade de cada

processo, onde o mesmo tem urna classificação que define para

o operador qual o tipo de inspeção a ser adotado. Assim, um

processo com capabilidade maior que 1 (em outros termos,

100%) significa que as tolerâncias que o projeto da peça

exige sao mais folgadas do que aquelas que o processo

garante. Nestes casos o operador faz inspeçâo por amostragem.

Nos casos em que a capabilidade for menor que 1

(menor que 100%) faz-se inspeçâo em 100% das peças,

rejeitando aquelas que estiverem em desacordo

pelo projeto. Ainda nestes casos o nível

com o exigido

de rejeição é

acompanhado até o ponto em que um investimeno na melhoria do

processo seja amortizado pela redução de sucata.

Page 208: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

199

Para que sejam de fácil visualização, as

capabi1idades dos processos são identificas por cores, sendo

que a maioria delas é > 1 podendo portanto ser inspecionadas

por amostragem.

Conforme já foi visto anteriormente, toda a produção

da Yanmar e gerenciada pelo sistema Kanban. Segundo a

empresa, a introdução do JIT contribuiu para agilizar o fluxo

de informações por toda a empresa. Como após o JIT qualquer

problema na fabricação tem reflexos imediatos na quantidade

produzida, a comunicação entre os setores foi se tornando

cada vez mais informal e um enorme volume de papel e

requisições em inúmeras vias foi eliminado. Desta forma, o

costume de agir imediatamente para a solução de um problema

está arraigado nos diversos setores da fábrica, apesar de

ainda haver resistência em vários setores a redução da

burocracia.

Finalmente, cabe ressaltar que apesar da autonomia

das diversas linhas ou células estar restrita ao trabalho do

dia a dia, tudo que se faz na Engenharia de Produto e na

Engenharia de Desenvolvimento, bem como no Controle de

Qualidade, tem a participação ativa do pessoal de Produção.

Assim, a Produção e ouvida e interfere em tudo que diga

respeito ao seu trabalho diário.

Page 209: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

200

YANMAR DO BRASIL S.A.

Fatores Ambientais

A criatividade do brasileiro e o fato de nos níveis

subaltermos a mão-de-obra ser "uma folha de papel em branco"

facilitam, segundo a Yanmar, a implantação do Just-in-Time no

Brasil. O grande problema, ainda segundo a empresa, reside

nos níveis intermediãrios de chefia, que opõem resistência e

por isso não cumprem bem o seu papel de treinadores dos

subordinados nas técnicas e filosofias do novo sistema.

Segundo a opinião do diretor vice-presidente da Yanmar o

operário japonês é mais resistente, não aceita uma diretriz

sem querer mudá-la e também é mais indiferente que o nosso a

movimentos como o dos Círculos de Qualidade e outras

campanhas que, quando bem vendidos e gerenciados, têm uma

adesão entusiástica por parte de nossa mão-de-obra.

Alguns itens da linha de produtos da Yanmar sao

entregues "just-in-time", ou seja, nao há estoque de produtos

acabados e por ocasião da encomenda a fábrica monta e entrega

o produto rapidamente ao cliente. Isto uma vantagem

competitiva importante segundo a empresa, pois se traduz em

um melhor atendimento ao cliente em relação ao que a

concorrência presta.

Page 210: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

201

Em relação ao recebimento de insumos "just-in-time",

a situação é mais complexa. Os fornecedores de menor porte e

próximos a Indaiatuba tem um relacionamento mais estreito com

a empresa, são treinados por ela e em número aproximado de 40

já provem peças conforme o sistema. O fato de nao serem

fornecedores exclusivos da Yanmar se traduz em uma

complicação adicional, pois se torna muito difícil a

conciliação dos dois métodos de trabalho, principalmente no

que tange - -a programaçao de produção. Alguns destes, como a

Fundituba que é uma fundição de propriedade da Yanmar e um

fornecedor de embalagens, sao visitados pelos veículos da

empresa diversas vezes por dia. Este é um ponto que a Yanmar

considera de importãncia fundamental, pois para o JIT

funcionar adequadamente "quem precisa vai pegar".

Quanto aos fornecedores de peças e partes cujo porte

em relação ao da Yanmar é maior, as dificuldades também o

são. Tendo como seus maiores clientes as grandes montadoras

da indústria automobilística, as empresas em questão não se

interessam, em princípio, no desenvolvimento de entregas

"Just-in-Time" para a Yanmar. Isto faz com que esta última

tenha que em diversos casos se sujeitar a programaçoes

trimestrais em seus pedidos o que, face à instabilidade da

demanda e ao custo financeiro na manutenção de estoques, é

muito ruim. A Yanmar, no entanto, acredita que se as

condições do mercado brasileiro no segmento de autopeças em

geral fossem mais estáveis estas empresas seriam mais

Page 211: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

202

receptivas ao JIT, pois têm conhecimento e condições para se­

lo.

Finalmente, cabe registrar as razões pelas quais a

Yanrnar chama o seu sistema de PERDA ZERO. Segundo o seu

Diretor Vice-Presidente, este sistema, que e também chamado

de Sistema Toyota de Produção, tem dois princípios sendo um o

JUST-IN-TIME e o outro o AUTO CONTROLE. Desta forma,

combinando as técnicas do JIT com as atitudes dos

funcionãrios em parar a produção e só prosseguí-la quando os

erros (ou fontes de perda) sao eliminados seria possível

chegar ao ideal de "perda zero" . Este executivo considera

equivocadas as preocupaçoes de certas pessoas em saber

exatamente como funcionam o Kanban ou o JIT quando na

realidade o que realmente faz diferença e o auto controle.

Neste sentido, e para que a mão-de-obra tenha condições de

detectar mais imediatamente os erros, o entrevistado

considera como ferramenta fundamental os "bakayokes n, ou

dispositivos à prova de erro. A utilização intensiva deste

tipo de instrumento pela Yanmar e, segundo ele, uma das

razões do sucesso na adoção do sistema "PERDA ZERO" pela

empresa.

Page 212: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

203

CAPíTULO V - ANALISE DOS RESULTADOS

INTRODUçAo

o objetivo deste capítulo consiste em, a partir dos

cinco casos descritos anteriormente, analisar as diferenças e

semelhanças observadas comparando-as com modelo proposto na

revisão de literatura.

De forma análoga ao que foi feito na descrição dos

casos, os fatores gerenciais serão vistos em primeiro lugar,

vindo a seguir os estruturais e os ambientais.

Também a ordem de discussão dos fatores gerenciais

será coerente com a forma com que foram apresentados na

descrição dos casos. Assim, a partir da política de

implantação e da cultura da empresa/mentalidade gerencial,

chegar-se-á a motivação e políticas de treinamento e

recrutamento.

Na

comparativo

página

(figura

seguinte

7) entre

está

as

apresentado um quadro

empresas que procura

sintetizar o estágio de aplicação em que se encontram as

diversas características e/ou técnicas preconizadas pelo

modelo conceitual nas mesmas. Cabe observar porém, que este

quadro apesar de ser um instrumento útil para a análise que

se fará a seguir tem algumas sérias limitações. Assim, por

Page 213: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

204

FIGURA 7

ESTAGIO DE IMPLANTAçAO DO JUST-IN-TIME NAS EMPRESAS ESTUDADAS

ANDREAS BRASrBIIP MAXIOII HKlAL

STIHL LEVE

política salarial especial E TI N N

Treinamento especIfico TI TI TI E

Recrutamento especial N TI TI N

Quantificação de benefIcios S TI TI S

1tLay-out11 por células S TI TI E

Kanban S TI TI E

Operário multi-funcional S TI TI N

Uso de análise de valor N TI S N

CIrculos de qualidade TI N N TI

Andon N TI S N

Bakayoke N S TI N

Linha de produtos misturados N N TI N

Troca rápida de ferramenta S N TI E

Inspeção pelo operador S TI S E

Controle estatístico do processo S TI TI E

Uso de embalagens especiais E S S N

Manutenção preventiva S TI S E

Recebimento Just-io-Time N N S N

Entrega Just-in-Time N TI N N

S tem, ao menos parcialmente

TI totalmente implantado

N não tem

E em estudo

YAIIMAR

TI

TI

TI

TI

TI

TI

TI

S

TI

N

TI

S

TI

TI

TI

N

TI

S

S

Page 214: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

205

exemplo, quando se diz que Andreas Stihl e Maxion tem

inspeção por operador parcialmente implantada nao significa

que estejam necessariamente no mesmo estágio de aplicação

desta técnica, conforme ficou claro na descrição dos casos

feita no capítulo anterior. Esta ressalva é válida para todos

os itens da figura em questão.

Page 215: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

206

FATORES GERENCIAIS

POLíTICA DE IMPLANTAÇAO

Boa parte das diferenças observadas entre as

empresas estudadas pode ser creditada a este fator.

A importância estratégica em se adotar o JIT e a

consciência que a direção da MAXION tem de que sua

sobrevivência como empresa num mercado altamente competitivo

depende disso configuram, talvez, a mais forte razão para

explicar o êxito da implantação do JIT naquela empresa. Na

MAXION, aparentemente, o JIT e percebido claramente como um

programa de empresa e nao de uma só diretoria ou de alguns

setores que acreditam nele.

A fábrica da BRASTEMP em Rio Claro também pode ter

seu sucesso explicado pelo fato de que seu gerente de

operações acredita firmemente no JIT como sistema de trabalho

adequado para obtenção de qualidade nos produtos e

produtividade no trabalho que se executa. Não se pode deixar

de considerar no entanto que, neste caso, dois outros

aspectos tiveram importância decisiva. Em primeiro lugar, o

fato que a fábrica já foi criada para funcionar "Just-in­

Time" e desde o início o projeto estava sob responsabilidade

do seu atual gerente. Em segundo lugar, pelo fato de estar

longe da fábrica principal ficou praticamente isolada de suas

Page 216: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

influências,

indepentente.

funcionando

207

como um "laborat6rio" quase

Por motivo muito semelhante (vontade da direção da

empresa) mas em condições completamente diferentes a YANMAR

também obteve êxito na implantação do JIT. A desvantagem do

pioneirismo em termos de Brasil foi de certo modo

contrabalançada pelo acesso direto ao Japão e a uma "certeza"

muito maior do benefícios do sistema a partir do pr6prio

exemplo japonês. Também à semelhança da BRASTEMP, o gerente

encarregado da implantação na epoca (1977) conhecia

profundamente os detalhes e dificuldades envolvidos na adoção

do JIT. Mais que isso, numa demonstração inequívoca da

importãncia do seu trabalho, ocupa atualmente o cargo de

diretor vice-presidente da empresa no Brasil.

Em relação ao fator ora em discussão os casos da

ANDREAS STIHL e da METAL LEVE guardam muita semelhança entre

si. Em ambas as empresas a implantação do JIT foi decidida a

partir do diagn6stico de uma consultoria especializada. A

questão que se coloca com relação a isso diz respeito ao

quanto a alta direção da empresa realmente conhece o JIT e

acredita em sua eficácia e adequação as necessidades da

mesma. Embora nao se tenha como responder de forma

satisfat6ria a tal pergunta, alguns indícios levam a

conclusão que o Just-in-Time foi tratado nos dois casos como

um assunto estritamente técnico e em conseqüência disso as

Page 217: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

208

dificuldades de implantação aumentaram muito. Tal fato é

reconhecido abertamente pela ANDREAS STIHL que teve que

redirecionar sua estratégia de implantação no sentido de

envolver todos os funcionários e mudar a cultura da empresa.

A METAL LEVE, de forma semelhante, considera que

errou ao avaliar o JIT como uma nova solução técnica para os

problemas ao invés de uma nova postura em relação a eles.

Não deve ser simples coincidência o fato de que

estas duas últimas empresas são, dentre as cinco estudadas,

aquelas em que a implantação do JIT se encontra mais

atrasada. Algumas razões poderiam ser citadas para justificar

a suposta falta de comprometimento do ápice estratégico

destas empresas. Aparentemente, a adoção do JIT aí não foi

(ao contrário da MAXION, por exemplo) uma questão de

sobrevivência. Também nao foi, como no caso da BRASTEMP, uma

retrointegração, onde

externos por uma

se procurava substituir fornecedores

operaçao própria que deveria ser,

obrigatoriamente, mais eficaz para que o investimento se

justificasse.

Conforme pode ser observado na tabela de

características gerais das empresas, tanto a ANDREAS STIHL

quanto a METAL LEVE são amplamente dominantes nos respectivos

segmentos de mercado, o que deve naturalmente levá-las a uma

posição cautelosa quanto à adoção de inovações tão radicais

Page 218: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

209

corno e urna mudança completa em seu "modus operandi".

o uso de consultoria externa para implantação do JIT

torna-se altamente questionável porque, por tudo o que se

viu, o grande desafio consiste em mudar as atitudes das

pessoas na organização toda, e isto só é possível se for

feito pelo pessoal "da casa" que sao as únicas pessoas que

efetivamente dominam a cultura da empresa.

Outro aspecto a evidenciar as diferenças entre as

empresas no que tange ao estágio de aplicação do Just-in-Time

diz respeito a quantificação dos benefícios obtidos pela

adoção do sistema. MAXION,YANMAR e BRASTEMP têm claramente

mais segurança em relação aos números que apresentam do que

ANDREAS STIHL e METAL LEVE. Cabe observar porém, que o uso

deste tipo de informação corno ferramenta gerencial e,

normalmente, muito típico da cultura de cada empresa e talvez

mereça um estudo totalmente à parte.

Page 219: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

210

CULTURA DA EMPRESA/MENTALIDADE GERENCIAL

Este segundo fator tem, na realidade, grande

correlação com a política de implantação, a qual é em grande

parte determinada por ele.

o reconhecimento por parte da direção da MAXION de

que o Just-in-Time é um sistema sócio-técnico evidencia de

forma clara a importãncia que o fator humano tem para aquela

empresa na adoção do JIT. Tanto na MAXION quanto na YANMAR a

satisfação das necessidades básicas do ser humano, conforme a

hierarquia de Mas1ow, se coloca como condição "sine qua non"

para o êxito da implantação. Embora reconheçam ainda estar

distantes do ideal neste aspecto, as duas empresas alegam

firmeza de propósitos na perseguição deste objetivo, pois

dele depende todo o seu sucesso empresarial.

Tanto na YANMAR quanto na MAXION, mas principalmente

na BRASTEMP, o papel do gerente como treinador é evidenciado

e colocado como preponderante para o sucesso do JIT. Segundo

esta última, o exemplo de pontualidade e assiduidade, bem

como preocupação em treinar continuamente o pessoal para

alcançar padrões cada vez mais elevados de desempenho são a

essência do trabalho do gerente.

Sob o aspecto da cultura da empresa ao programa de

Qualidade Total adotado anos antes pela MAXION e pela YANMAR,

Page 220: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

211

sem dúvida deve ser creditado parte do êxito alcançado pelo

JIT. As duas empresas reconhecem que foi muito mais fácil

adotar o JIT num ambiente em que os conceitos de qualidade

já estavam difundidos e aceitos de forma quase generalizada.

Talvez a melhor forma de exemplificar as diferenças

observadas no envolvimento da alta direção das empresas

estudadas seja através da descrição do processo de combinação

e marcação das entrevistas para a pesquisa que deu origem ã

este trabalho.

Em primeiro lugar, houve um telefonema no qual se

explicava os objetivos de pesquisa e se solicitava a marcaçao

da entrevista com o responsável pelo programa na empresa.

Seguiu-se então, uma carta da direção da COPPEAD confirmando

os termos da conversa por telefone. Em todas as empresas (ã

exceção da MAXION) houve indicação prévia de uma pessoa para

o contato inicial. No caso da MAXION, o nome do responsável

foi descoberto em uma reportagem e o contato feito através de

lista telefônica. Em todos os casos, as entrevistas foram

marcadas com pelo menos um mes de antecedência e conforme a

conveniência do entrevistado.

Na MAXION e na YANMAR o entrevistado ocupava o cargo

de vice-presidente da

gerente geral daquela

empresa. Na

operação.

BRASTEMP

Em todos

era o próprio

os casos eram

profundos conhecedores do sistema e de todos os detalhes da

Page 221: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

212

sua implantação, com a qual estiveram pessoalmente

comprometidos. Na METAL LEVE o entrevistado apesar do grande

conhecimento do sistema, não pertencia ao ápice estratégico

da empresa. O mesmo ocorreu na ANDREAS STIHL, sendo que nesta

última a maior parte da entrevista foi feita com um

engenheiro chamado a última hora e que não conhecia todos os.

detalhes do assunto.

Como se vê pelas atitudes das empresas, nao deve ser

coincidência o estágio mais avançado do JIT em que estão

MAXION, YANMAR e BRASTEMP.

Page 222: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

213

MOTIVAÇÃO DOS FUNCIONÂRIOS

o fato de o trabalho multi funcional ser um caso

particular de enriquecimento do trabalho (ver capítulo 11) é

reconhecido e bastante explorado pela MAXION, como bem

exemplifica o projeto do novo lay-out da fábrica de retro­

escavadeiras, totalmente executado pelos seus operários.

Também aí, bem como na BRASTEMP, nota-se um grande esforço no

sentido de tornar o ambiente de trabalho o mais agradável

possível, com áreas de lazer, "cafezódromos", plantas, etc.

Além disso, as fábricas sao de uma limpeza e arrumação

irrepreensíveis.

Em termos de salários e benefícios, nao surgiu nada

de novo, a não ser pela alegação da YANMAR e da ANDREAS STIHL

de que ali os operários com maior diversidade de habilitação

têm maiores salários. Em relação a benefícios, a ANDREAS

STIHL destaca-se das outras por ter um plano de previdência

privada que comp1ementa as aposentadorias de seus

funcionários, totalmente custeado pela empresa. Cabe

observar, porém, que este plano já existia independentemente

do JIT.

Finalmente, o mito de que no Japão a dedicação dos

funcionários à empresa é totalmente voluntãria e independe de

recompensas materiais é quebrado pela YANMAR através de seu

programa de sugestões. A empresa argumenta que

Page 223: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

214

"produtividade se paga com dinheiro" e que isso vale tanto no

Brasil quanto no Japão. Ainda segundo a empresa, a seriedade

deste programa e a motivação que resulta para um funcionário

ter suas idéias aprovadas, implantadas e recompensadas

contribui substancialmente para o aperfeiçoamento contínuo do

programa.

Também cabe observar que a política adotada pela

YANMAR de evitar sempre que possível novas admissões quando

se tem aquecimento de demanda e demissões no caso contrário,

deve contribuir significativamente para a motivação de seus

funcionários. Esta política, no entanto, deve ser de

aplicação muito difícil face a instabilidade econõmica do

país.

Page 224: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

215

TREINAMENTO/RECRUTAMENTO

Sob este aspecto, o grande destaque dentre os casos

estudados cabe à MAXION com seu

de primeiro e segundo graus.

necessidade específica do JIT,

programa de educação básica

Embora esta nao seja uma

mais uma vez reforça a

importância estratégica que recursos humanos tem para a

empresa, facilitando muito a introduçâo e aperfeiçoamento de

quaisquer novas tecnologias entre seus funcionários.

Em termos de treinamento gerencial, YANMAR e

BRASTEMP novamente enfatizam o papel do treinador a ser

desempenhado pelo gerente, enquanto a MAXION vai buscar seus

futuros gerentes em escolas e universidades e procura treiná­

los e aculturá-los a partir dos níveis mais baixos da

organização. Nos três casos observa-se uma grande preocupação

em quebrar a relação rígida tradicional CHEFE-SUBORDINADO e

transformá-lo em uma liderança mais natural, calcada em maior

conhecimento das pessoas e dos aspectos envolvidos nos

problemas do dia a dia. Assim, o gerente passa a ser mais um

facilitador e consultor do que propriamente um chefe.

A preferência pelo recrutamento de inexperientes

manifestada pela MAXION, YANMAR e BRASTEMP tem nesta última

um aspecto motivacional que cabe destacar. Trabalhando em

dois turnos de 6 horas a empresa dá preferência à pessoas com

mais de 35 anos, de preferência donas de casa, que teriam no

Page 225: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

216

salário uma complementação da renda familiar.

deste nicho de mercado de mão-de-obra

relativamente barata e altamente motivada

A descoberta

que além de

pela nova

oportunidade, configura certamente um caminho a ser explorado

por inúmeras empresas.

Em relação à treinamento, ainda convem uma última

observação. Apesar de comentadas (e utilizadas,

principalmente pela BRASTEMP e pela YANMAR) nao se deu muita

ênfase à utilização e aos beneficios decorrentes da aplicação

das técnicas de Análise de Valor pelas empresas pesquisadas.

Assim, aparentemente, o projeto do produto ainda nao

configura uma preocupação importante para estas empresas o

que, sem dúvida, é uma lacuna a ser preenchida no sentido de

se obter maiores beneficios pela adoção do JIT.

Page 226: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

217

FATORES ESTRUTURAIS

SISTEMA T~CNICO

Em relação às técnicas usadas pelo Just-in-Time, nao

existe nas empresas adotantes nenhuma grande diferença em

relação ao que se apregoa na literatura. Sendo as cinco do

ramo metalúrgico e de produção seriada não houve dificuldade

em adotá-las, já que sao oriundas do mesmo segmento

industrial. As principais diferenças observadas, como por

exemplo o "lay-out" por células já implantado em sua

totalidade na MAXION, na BRASTEMP e na YANMAR mas nao na

METAL LEVE e na ANDREAS STIHL, deveu-se ao estágio em que se

encontra a implantação do JIT naquelas empresas e nao a

dificuldades técnicas específicas. Outro exemplo para o que

foi dito acima são os programas de T.R.F. (Troca Rápida de

Ferramenta), cuja evolução tende a acompanhar passo a passo a

introdução do sistema como um todo. Ainda assim, todas julgam

que neste aspecto ainda têm um longo caminho a percorrer.

Controle estatístico de processos, capabilidade de

equipamentos e manutenção preventiva sao decisivos para o

JIT, embora não sejam específicos para o mesmo. Em todas as

empresas visitadas considera-se que o atraso observado em

relação a isto, no Brasil em geral e nelas em particular,

está cobrando seu preço de quem tenta tornar-se competitivo e

operacionalmente mais produtivo.

Page 227: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

218

Em qualquer caso, confirmaram-se as afirmativas da

revisão de literatura que os aspectos técnicos do JIT são

simples e nao se constituíram em obstáculo a adoção do

sistema nas empresas pesquisadas.

Page 228: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

219

SISTEMA DE INFORMAÇÃO

Ter a produção totalmente "puxada" e gerenciada por

cartões "Kanban", como ocorre na MAXION, BRASTEMP e YANMAR,

confirma o estágio avançado de implantação do JIT naquelas

empresas, além de mais uma vez corroborar as assertivas

anteriores sobre a simplicidade das técnicas usadas.

empresas

Cabe destacar,

em questão

ainda sob este aspecto, que todas as

consideram relevante o problema da

comunicação interna e procuram solucioná-lo de diversas

formas. A YANMAR preocupa-se em eliminar papelada, memorandos

e todo tipo de burocracia interna para agilizar o fluxo de

informações. Este também e um objetivo da MAXION, que

estimula a informalidade nas comunicações entre os setores. A

METAL LEVE faz reuniões quinzenais com três níveis

hierárquicos e a ANDREAS STIHL faz reuniões gerais onde

projetos são apresentados e debatidos.

A necessidade de comunicação interna mais eficaz

constitui-se sem dúvida em problema nestas grandes empresas,

que se torna mais evidente com adoção de sistemas como o

Just-in-Time. No caso da BRASTEMP, pelo fato de ser uma

operaçao pequena, comunicação interna não é empecilho.

Page 229: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

220

ESPECIALIZAÇAo DA FÁBRICA

A maior facilidade que se tem em implantar o JIT em

uma fábrica focada, pequena e com poucos níveis hierárquicos,

como é o caso da operação da BRASTEMP em Rio Claro, converte­

se rapidamente em grande dificuldade quando se tenta levar o

sistema a clientes e fornecedores. O tamanho e poder de

barganha muito maior destes, praticamente impossibilita

qualquer tentativa de receber insumos Just-in-Time e, em

certos casos, até a entrega JIT é prejudicada.

Deve-se observar porém, que esta dificuldade advém

tão somente do fato de que o JIT ainda e muito pouco

difundido no Brasil. Assim, embora a curto prazo este tipo de

problema não tenha solução, a nao ser por retrointegração,

(ver capítulo IV BRASTEMP FATORES AMBIENTAIS) pode-se

esperar que, caso a adoção do JIT se generalize na indústria

brasileira, o mesmo seja minimizado.

Finalmente, convém notar que o "lay-out" por células

preconizado pelo JIT nao e outra coisa senao tentar

transformar uma grande fábrica em uma rede de pequenas

fábricas focadas interligadas por cartSes "Kanban". Esta

seria uma solução que tentaria aproveitar as vantagens da

fábrica focada sem as desvantagens de seu pequeno tamanho e

poder de barganha face ao ambiente. Além disso, para as

Page 230: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

221

cilulas o cliente a ser atendido e mais visivel do que para

uma fábrica facada isolada.

Page 231: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

222

FATORES AMBIENTAIS

CULTURA

Como pode ser notado pela leitura dos casos, este

fator além de difícil de conceituar com precisão permite

múltiplas interpretações.

Apesar disso, existe uma convergência praticamente

unânime de opiniões que o problema está na falta de educação

formal, que é a interpretação mais comum que se dá à palavra

"cultura". Desta forma, voltam a baila as carências de

educação básica, saúde, alimentação e moradia, velhas

conhecidas da maioria dos brasileiros.

Também neste caso, ainda que por exclusão,

confirmaram-se as assertivas da revisão de literatura de que

a cultura nacional nao se constitui em empecilho para a

adoção do JIT. De qualquer forma, em um país com a extensão e

diversidade cultural como o nosso, qualquer afirmativa

radical é temerária, mesmo porque as empresas estudadas estão

situadas na porção mais próspera da nação.

Em qualquer caso, porem, tudo indica que no Brasil

também sera comprovada a tese de que o sistema Just-in-Time

não é baseado na cultura nacional japonesa, e portanto, seu

sucesso não depende basicamente de características culturais.

Page 232: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

223

MERCADO FORNECEDOR

Ao que tudo indica, esta é a barreira mais difícil

com que se defrontam no momento as empresas que internamente

já têm o Just-in-Time implantado, caso da BRASTEMP, MAXION e

YANMAR.

As dificuldades neste sentido começam a ser

conhecidas por empresas que, a exemplo da MAXION, se

lançaram a um programa de difusáo do JIT entre seus

fornecedores. Cultura empresarial arcaica e extremamente

resistente ã inovações, desconfiança, condições de estradas e

transportes, grandes distâncias entre fornecedores e fábrica,

instabilidade econômica, etc. são problemas para os quais não

se deve esperar soluções fáceis e muito menos a curto prazo.

Soluções corno a verticalização pensada pela

BRASTEMP, chegando até mesmo a produzir o fio, são de escopo

limitado e resultados duvidosos. Além disso, contrariam a

filosofia do JIT que e a de

negócio, de forma com que

fornecedores.

desenvolver parceiros para o

todos ganhem e não engolir os

Em qualquer hipótese, salta aos olhos a evidência

que ainda estamos nos primeiros passos do longo caminho que

leva uma relação fornecedor-cliente, tal qual o sistema Just­

in-Time necessita. Este fato traz ainda corno conseqüência

Page 233: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

224

negativa um atraso na evolução do projeto do produto. Como se

viu na figura 4, um dos benefícios da compra Just-in-Time se

dá quando o fornecedor (especialista no que produz) transfere

ao cliente "know-how" relativo as especificações do item

fornecido, o que tende a facilitar sua manufatura e portanto

baixar seus custos. Esta Análise de Valor decorrente da

relação fornecedor-cliente somente sera conseguida com a

mudança na forma do relacionamento entre eles apregoada pelo

Just-in-Time.

Page 234: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

225

CAPíTULO VI - CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

INTRODUçAo

o capítulo final deste trabalho sera dividido em

três blocos distintos, a saber:

Em primeiro lugar, tentar-se-á avaliar quais os

fatores do modelo original proposto no capítulo II foram mais

relevantes face aos cinco casos estudados;

A seguir, serão sugeridos três outros fatores ao

modelo, no sentido de torná-lo mais adequado à realidade

brasileira e,

Finalmente, serão feitas sugestões para novas

pesquisas que levem ao aperfeiçoamento e aprofundamento dos

conceitos e conclusões aqui propostos.

Page 235: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

226

VOLTANDO AO MODELO

Como prólogo a análise da relevância dos fatores

propostos inicialmente para o êxito de uma implantação Just­

in-Time, deve-se fazer ainda algumas observações sobre os

casos estudados.

Apesar de pelas indicações iniciais as cinco

empresas estarem com o JIT efetivamente implantado, a

pesquisa mostrou que isto só acontecia realmente na BRASTEMP,

na MAXION e na YANMAR. ANDREAS STIHL e METAL LEVE na verdade

ainda estavam ao nível de experiência piloto quando das

visitas e entrevistas. Por este motivo, as análises feitas

aqui sâo baseadas principalmente nas três primeiras empresas.

Tudo indica que dos nove fatores apresentados no

capítulo lI, os maiores responsáveis pelo êxito da

implantação do JIT nas empresas estudadas foram os FATORES

GERENCIAIS. Destes, cabe particular destaque à CULTURA DA

EMPRESA/MENTALIDADE GERENCIAL e à POLíTICA DE IMPLANTAÇÃO. OS

outros dois fatores (MOTIVAÇÃO DOS FUNCIONÂRIOS e

TREINAMENTO/RECRUTAMENTO) sâo em grande parte decorrência dos

primeiros.

Conclui-se daí que os grandes responsáveis pelo

êxito (ou fracasso) de toda implantação de Just-in-Time serão

Page 236: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

227

sempre os gerentes, particularmente aqueles do ápice

estratégico da empresa. A eles cabe a missão indelegável de

conhecer em detalhes o sistema e persistir sempre na vontade

de torná-lo realidade, a despeito de todos os obstáculos.

Por suas próprias características mais técnicas, os

FATORES ESTRUTURAIS nao apresentam grandes dificuldades para

sua implantação. Deve-se recordar porém, que as condições do

MERCADO FORNECEDOR vistas anteriormente sao críticas no caso

de uma fábrica especializada de pequeno porte que queira

trabalhar Just-in-Time.

Dentre os FATORES AMBIENTAIS, CULTURA aparentemente

nao e obstáculo, apesar das ressalvas feitas anteriormente.

Por outro lado, MERCADO FORNECEDOR constitui-se em um

problema sério, particularmente devido a mentalidade

gerencial/cultura empresarial predominante no país. Vencer

estas barreiras e sem dúvida o preço a se pagar pelo

pioneirismo.

Cabe ainda relembrar nesta análise a observação de

SCHONBERGER (34) feita no capítulo 11 Limitações. Talvez a

maior vantagem do sistema Just-in-Time resida no fato de que

o mesmo nao é um pacote fechado que se adota por inteiro ou

não. Assim, pode-se ter só Troca Rápida de Ferramentas, ou so

produção puxada por Kanbans em toda ou em parte da fábrica,

que se obtem, ao menos, parte dos benefícios do sistema. O

Page 237: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

228

caso da ANDREAS STIHL constitui-se em um bom exemplo para

isso. A sazonalidade da demanda por seus produtos obriga que

se produza para estoque nos meses de baixa demanda, o que

contraria a teoria do JIT quando esta afirma que estoques de

produto acabado também sao indesejáveis. Isto, no entanto,

não impede que ela usufrua dos outros benefícios propiciados

pela adoção do sistema. Por outro lado, sem motivação e sem o

efetivo comprometimento de todos, nem isso se consegue.

Finalmente, quando se compara o modelo proposto no

capítulo 11 com as categorias de decisão para estratégia de

manufatura propostas por HAYES e WHEELWRIGHT (17) no capítulo

2 de seu livro "Restoring

Through Manufacturing"

our Competi tive

intitulado "The

Edge, Competing

Concept of

Manufacturing Strategy" observa-se que das oito categorias

propostas por aqueles autores (capacidade; características em

termos de tamanho, localização e especialização; tecnologia;

integração vertical; força de trabalho; qualidade;

planejamento da produção/controle de materiais e organização)

apenas a primeira nao foi comentada em nenhum ponto de

análise precedente. A explicação para isto deve-se

provavelmente ao fato que esta categoria, bem como tamanho,

localização, especialização, tecnologia empregada e grau de

integração vertical (chamadas pelos autores de Categorias

Estruturais) serem na grande maioria dos casos de

implantação do JIT, imutáveis, ou seja, dados do problema.

Quando isto não acontece, caso da BRASTEMP, a liberdade para

Page 238: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

229

estas tomadas de decisão tende a facilitar a implantação do

sistema.

Page 239: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

230

OUTROS FATORES

Embora a pesquisa realizada tenha confirmado o

modelo apresentado inicialmente como adequado ao estudo dos

fatores para o sucesso de uma implantação de Just-in-Time no

Brasil, algumas evidências surgiram no sentido de que dois

outros FATORES AMBIENTAIS devam ser adicionados ao mesmo, no

intuito de adequá-lo a nossa realidade. são eles a SITUAÇÃO

ECONÔMICA DO PAIs e o TAMANHO DA CIDADE onde se localiza a

fábrica. Além destes, parece conveniente acrescentar ao

modelo como FATOR ESTRUTURAL o PROJETO DO PRODUTO.

A sugestão do primeiro é um tanto óbvia. Em todas as

entrevistas realizadas, as incertezas da economia brasileira

foram levantadas como obstáculo sério ao sistema. A demanda

varia bruscamente em determinadas épocas somente em função de

boatos, pedidos se concentram ao final dos meses por causa da

"virada" dos indexadores econômicos, a oscilação das taxas

reais de juros faz com que em certas épocas seja vantajoso

formar estoques etc.

As conseqüências do exposto acima se dão a dois

níveis. Em primeiro lugar, um dos três pré-requisitos ao

Just-in-Time, o AMORTECIMENTO DA PRODUÇÃO (ver capítulo lI,

Características) se torna muito difícil de conseguir e os

efeitos negativos disso vão da linha de montagem final até as

encomendas aos fornecedores. Em segundo lugar, a incerteza

Page 240: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

231

econômica e a inflação dela decorrente afetam

significativamente o ânimo e a disposição dos funcionários. t

sem dúvida alguma muito mais difícil motivar e comprometer

uma força de trabalho preocupada com o aviltamento diário do

salário e temerosa de perder o emprego.

Apesar das condiçôes econômicas atingirem o país

como um todo, torna-se necessário examinar detidamente suas

conseqüências sobre a indústria a que pertence a empresa

estudada. Como cada segmento da economia ê afetado de forma

diferente, esta análise pode ser um instrumento útil no

sentido de avaliar a relevância de cada um dos fatores do

modelo em cada caso.

o segundo fator a acrescentar e que, tal como o

primeiro, nao aparece na literatura, diz respeito a

localização da empresa estudada em uma cidade como são Paulo

ou como Rio Claro, por exemplo. Como visto na primeira parte

destas conclusões, os fatores gerenciais têm o papel mais

decisivo na implantação do Just-in-Time. O fato de gerentes e

funcionários freqüentarem o mesmo ambiente social, mesmos

clubes, seus filhos a mesma escola, tal como acontece em

cidades pequenas, tende a tornar mais fácil o convívio no

ambiente de trabalho. Um "mau"

funcionário torna-se conhecido logo

gerente ou um "mau"

pelas poucas indústrias

do local e isto lhe traz muitas dificuldades. Ao contrário,

em um grande centro as diferenças sociais sao muito mais

Page 241: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

232

acentuadas e o distanciamento entre as pessoas muito maior.

Neste último caso, a relação de cumplicidade entre gerência e

funcionários em prol da empresa é substituída por uma relação

muitas vezes até belicosa, o que certamente so traz

obstáculos para implantação de um programa como o Just-in­

Time. A METAL LEVE, por exemplo, reporta o gradativo

distanciamento de seus funcionários e a perda de

identificação dos mesmos com a empresa. A BRASTEMP por sua

vez considera que foi muito mais fácil implantar o JIT em Rio

Claro do que seria na fábrica-mãe, em são Bernardo, entre

outros fatores devido às condições sociais expostas acima.

Assim, qualquer análise de implantação do Just-in­

Time deve considerar, calcada na localização da empresa em

questão, as condições sociais em que isso se dá.

Finalmente, a inclusão do PROJETO DO PRODUTO se

justificaria por dois motivos. Em primeiro lugar, a já

comentada pouca ênfase dada pelos entrevistados aos aspectos

relativos a Análise de Valor parece indicar um caminho ainda

pouco trilhado a merecer uma atenção maior. Além disso, no

caso de empresas multinacionais, possivelmente serao

encontradas restrições à modificação em projetos de autoria

da matriz, o que seria eventualmente a explicação para a

falta de interesse em abordar mais firmemente este aspecto

quando se adota o Just-in-Time.

Page 242: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

233

PROSSEGUIMENTO DA PESQUISA

Urna lacuna a ser preenchida em urna pesquisa como

esta, embora de difícil consecução, consistiria em tentar

captar a percepção que os funcionários a nível operacional

têm do sistema Just-in-Time e da forma como foi implantado em

sua empresa. Apesar do visível sucesso da implantação em

empresas como MAXION, YANMAR e BRASTEMP e natural que as

opiniões de seus gerentes sejam ufanistas e, portanto,

parciais. Os resultados de um questionário anônimo entre os

funcionários seriam, com certeza, muito úteis para estes

mesmos gerentes avaliarem a distância entre o que eles acham

e o que os seus subordinados realmente sentem a respeito do

sistema. Além disso, certamente contribuiria para orientar a

estratégia para novas políticas de implantação.

Outra alternativa para prosseguimento da pesquisa

seria retornar às cinco empresas aqui estudadas. As visitas

aqui descritas foram feitas em fevereiro de 1989. Levantar a

situação apos mais de dois anos deve trazer novos e

interessantes subsídios, mormente no que tange ao desempenho

das empresas face às turbulências da economia brasileira

neste período.

Finalmente, ainda resta a possibilidade de fazer um

levantamento completo de todas as empresas que adotam o Just-

Page 243: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

234

in-Time no Brasil, para que se forme uma idéia precisa da

extensão que enc6ntraram seus adeptos no país.

Page 244: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

235

BIBLIOGRAFIA

01. AGGARWAL, Sumer C. MRP, JIT, OPT, FMS? Harvard Business

Review, v. 63, n. 5, p. 8-12, Sept./Oct. 1985.

02. ; AGGARWAL, Sudhir. The rnanagernent of

rnanufacturing operations: an appraisal of recent

developrnents. International Journal of Operations and

Production Managernent, v. 5, n. 3, p. 21-38, Ju1. 1985.

03. ANSARI, A.; HECKEL, Jirn. JIT purchasing: irnpact of

04.

freight and inventory costs. Journal of Purchasing and

MateriaIs Managernent, v. 23, n. 2, p. 24-38, Surnrner

1987.

MODARESS, B. Just-in-Tirne purchasing:

problerns and solutions. Journal of Purchasing and

MateriaIs Managernent, v. 22, n. 2, p. 11-15, Surnrner

1986.

05. ARAI, J.; TOMLINSON, Williarn H. Cornparative analysis

between japanese and american philosophies toward hurnan

resources, product quality and corporate culture. In:

ANNUAL MEETING OF EUROPEAN INTERNATIONAL BUSINESS

ASSOCIATION, 15-17 Dec. 1985. Glasgow, Escócia. (Não

publicado)

Page 245: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

236

06. BETHLEM, Agrícola de S. Gerência a brasileira. são

Paulo, McGraw-Hill, 1989.

07. CAMARGO, G.; BALBI, s. Há mais de uma pedra no meio do

caminho. Exame, v. 22, n. 20, p. 34-40, 3 out. 1990.

08. CELLEY, Albert F. et

in the United

aI. Implementation

States. Journal of

MateriaIs Management, v. 22, n. 4,

1986.

of Just-in-Time

Purchasing and

p. 9-15, Winter

09. CUSUMANO, Michael A. Manufacturing innovation: lessons

from japanese auto industry. Sloan Management Review,

v. 30, n. 1, p. 29-39, FalI 1988.

10. DRUCKER, Peter F. Behind Japan's sucesso Harvard

Business Review, v. 59, n. 1, p. 83-90, Jan./Feb. 1981.

11. What me can learn from japanese management.

Harvard Business Review, v. 49, n. 2, p. 110-122,

Mar./Apr. 1971.

12. EBRAHIMPOUR, M.; SCHONBERGER, Richard S. The japanese

Just-in-Time/Total quality control production system:

potential for developing countries. International

Journal of Production Research, v. 22, n. 3, p. 421-

430, 1984.

Page 246: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

237

13. FLECK, J. Robotics in manufacturing organizations. In:

WINCH, G. (ed. ) • Information techno1ogy in

manufacturing processes. London: Ronandale, 1983.

14. GIUNIPERO, Larry C.; KEISER, Edward F. JIT purchasing in

a non-manufacturing environment: a case study. Journal

of Purchasing and MateriaIs Managements, v. 23, n. 4,

p. 19-25, Winter 1987.

15. HAHN, Chan

in-Time

K.; PINTO,

production

Peter A.; BRAGG, Daniel A.

and purchasing. Journal

Just­

of

Purchasing and MateriaIs Management, v. 19, n. 3, p. 2-

10, FalI 1983.

16. HAYES, R.H. Why japanese

v. 59,

factories work? Harvard

17.

Business Review,

1981.

n. 4, p. 57-66, Ju1./Aug.

; WHEELWRIGHT, Steven C. Restoring our ------competitive edge: competing through manufacturing. New

York: J. Wiley 1984.

18. HELLRIEGEL, D. ; SLOCUM,

Cu1ture.

J.W. ; WOODMANN, R.W.

Organizational In: Organizationa1

behavior. 4 ed. Saint Paul: West, 1986. Capo 12, p.

338-359.

Page 247: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

238

19. HERZBERG, Frederick. Novamente: como se faz para motivar

funcionários? Biblioteca Harvard de Administração de

Empresas, v. 1, n. 13, p. 3-13, 1975.

20. LEE, Sang M., ANSARI, A. Comparative ana1ysis of

21.

japanese Just-in-Time purchasing and traditional U.S.

purchasing systems. International Journal of Operations

and production Management, v. 5, n. 4, p. 5-14, Sept.

1985.

______________ , EBRAHIMPOUR, M. Just-in-Time production

system: some requirements for implementation.

International Journal of Operations and production

Management, v. 4, n. 6, p. 3-15, Nov. 1984.

22. MARQUIS, Donald G.

innovations. Innovation,

The anatomy of sucessfull

v. 1, n. 7, Nov. 1969.

23. MINZTBERG, Henry. The Structuring of organizations: a

synthesis of the research. Englewood Cliffs: Prentice­

Hall, 1979.

24. MONDEN, Yasuhiro. What makes the Toyota production

system realy tick? Industrial Engineering, v. 13, n. 1,

p. 36-46, Jan. 1981.

Page 248: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

239

25. NETZ, C. Muitas pedras e pouco ouro nas empresas. Exame,

v. 22, n. 25, p. 92-98, 12 de dez. 1990.

26. OUICHI, Wi11iam G.; JAEGER, A1fred M. Type Z

organization: stability in the midst of mobility.

Academy of Management Review, v. 3, n. 2, p. 305-314,

Sept. 1978.

27. PASCALE, Richard P. Communication and decision making

across cultures: japanese and american comparisons.

Administrative Science Quarterly, v. 23, n. 1, p. 91-

110, Mar. 1978.

28. REITSPERGER, Wo1f. British Employees: responding to

japanese management phi1osophies. In: ANNUAL MEETING OF

EUROPEAN INTERNATIONAL BUSINESS ASSOCIATION, 15-17 Dec.

1985. Glasgow, Escócia. (Não publicado)

29. RIBEIRO, Paulo D. Kanban: resultados de uma implantação

bem sucedida. 2.ed. Rio de Janeiro: COP, 1986.

30. ROBERTS, Benjamin C. Issues in british and japanese

industrial re1ations systems. Journal of Japanese Trade

& Industry, n. 2, p. 20-22, Mar./Apr. 1984.

Page 249: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

240

31. SAKURAI, Kiyohiko. Japanese worker attitudes: a key

factor in productivity. In: PRODUCTIVITY CONGRESS, 17-

18 Oct. 1984. Singapura. (Não publicado)

32. SCHOEN, Dona1d R. Managing technological innovation.

Harvard Business Review, v. 47, n. 3, p. 156-167,

May!Jun. 1969.

33. SETHI, S. prakash; NAMIKI, Nobuaki; SWANSON, Carl L.

The decline of the japanese system of management.

California Management Review. v. 26, n. 4, p. 35-45,

Summer 1984.

34. SCHONBERGER, Richard S. Some observations on the

advantages and imp1ementation issues of Just-in-Time

production system. Journal of Operations Management,

v. 3, n. 1, p. 1-11, Nov. 1982.

35. • Técnicas industriais japonesas: nove

36.

lições ocultas sobre simplicidade. são Paulo: Pioneira,

1984.

GILBERT, James P. Just-in-Time

purchasing: a challenge for U.S. industry. California

Management Review, v. 26, n. 1, p. 54-68, Fall 1983.

Page 250: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

241

37. SKINNER, William. The focused factory. Harvard Business

Review, v. 52, n. 3, p. 113-121, May/Jun. 1974.

38. TREVOR, Malcom; SCHENDEL, Jochen; WILPERT, Bernhard.

Generalists or specialists? The japanese management

development system in Britain and Germany. In: ANNUAL

MEETING OF EUROPEAN INTERNATIONAL BUSINESS ASSOCIATION,

15-17 Dec. 1985. Glasgow, Esc6cia. (Nio publicado)

39. UM RETRATO sem retoques. Exame, v. 20, n. 13, p. 28-32,

29 jun. 1988.

40. UTTERBACK, James M. The process of technological

innovation within the firmo Academy of Management

Journal, v. 14, n. 1, p. 75-87, Mar. 1971.

41. VOSS, L.A. Research notes: the need for a fie1d of study

of implementation of innovations. Journal of production

and Innovation Management, v. 2, n. 4, p. 266-271, Dec.

1985.

42. WALLEIGH, Richard C. Cual es su excusa para no utilizar

el metodo JIT? Harvard-Deusto Business Review, p. 59-

68, ene./mar. 1987.

43. WEISS, Andrew. Verdades elementares sobre a indústria

japonesa. Exame, v. 19, n. 353, p. 67-73, 11 jun. 1986.

Page 251: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

242

REFERENCIAS ADICIONAIS

Apesar de nao estarem citados explicitamente no

corpo deste trabalho, os seguintes livros e/ou textos foram

importantes instrumentos de reflexão e estudo para a

consecuçao do mesmo, principalmente no que se refere a

cultura.

01. BASTIDE, Roger. Brasil, Terra de Contrastes. 8.ed. são

Paulo: Difel, 1978.

02. BENEDICT, Ruth. o crisãntemo e a espada. 2.ed. são

Paulo: Perspectiva, 1988.

03. HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 12.ed.

Rio de Janeiro: Olyrnpio, 1978.

04. MATTA, Roberto da. O que faz o Brasil Brasil? 2.ed. Rio

de Janeiro: Rocco, 1986.

05. MORITA, Akio; REINGOLD, Edwin M.; SHIMOMURA, Mitsuko.

Made in Japan. são Paulo: Cultura, 1986.

06. SATOSHI, Kamata. Japão: a outra face do milagre. Rio de

Janeiro: Brasiliense, 1985.

Page 252: bt./!:l&DA - coppead.ufrj.br · 3. Kanban 2. Sistema Toyota de Produção 4. ... solução viável para o caso em questão. ... textil) apenas os três

243

07. SEMLER, Ricardo. Virando a própria mesa. são Paulo:

Best Seller, 1988.