bruxaria, oráculos e magia entre os anzande0010

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  • 8/2/2019 Bruxaria, Orculos e Magia entre os Anzande0010

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    dur I impo P l I i ' I I qu e ttlt' 1'(lV JIIII1'1( 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 cnlru I) IIJlll'1! do ' 0 1 1 1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 HIlip rim eira respo stn d ur ( ) V ' L ' t l i l t ill f l il li , V ! U I H .l J ' h n e d l n t u {jut .!0 VI'II"IIIIusado nessa sessao era discrimltinutc, Mutou a prlmcira a ve c I l1 l l l ' l l 'OI i ! I " 'nao era impotente, pois quando 0 /)(! lIge c i r n p o t c n t c , todas LISl i ve s l'lOhll'\lvem; poupou a segunda ave e mostrou que n5.0era um vencno SLlI,lt'I'P()I!'III~ Ipois quando 0 e todas as aves morrem. Poupou varias outras a v e s , I ll IIS 1111IInal matou a ultima delas, mostrando que mantinha sua potencia. Os 1 \ 1 ' , 1 111111buscam essas evidencias em cada teste para estabelecer se 0 vencno . bOlli,

    12

    Falta contar como nos velhos tempos aspessoas bebiam veneno de 01';\ .ulo, Ipreciso algum cuidado ao considerar a frase zande m om biri b en ge ("bchll Vi Ineno de oraculo"), pois e uma expressao comum de urn principe qumuluquer dizer simplesmente que "voce deve submeter seu caso ao oraculo dt' VI'neno". Mas no passado, embora raramente, asvezes algumas pessoas b , 1 1 1 1 1 1 1 1veneno de fato. Isso podia acontecer de dois modos. Urn homem acusado thuma ofensa seria podia oferecer-se para beber veneno depois de um teste ( 1 111cular com aves ter-se pronunciado contra ele. Do mesmo modo, seumu 11 i 11lher acusasse urn homem de ter cometido adulterio com ela, ele podia 1 ) 1 '0 , '1 I Ique tanto ele quanta a mulher bebessem veneno.oveneno do oraculo era tambem ministrado ocasionalmente a l1lCI1III1I~escravos em casos importantes envolvendo principes. Falava-se a elesna 11 ] ( ' 1 1rna linguagem que as aves.0veneno era misturado com agua numa culu.] Imenino, sentado no chao eusando um cinto decapim bingba, bebia 0veneru IIe entao 0 interrogador sacudia sinetas e dirigia-se ao veneno dentro d l , l l lQuando terminava sua fala, esfregava a cuia na cabeca do menino e m a n d n v uque ele selevantasse. Se0menino alcancava a asa da ave e voltava com ela, t'lIl~sedirigiam novamente ao veneno no seu interior e lhe diziam entao para 1'1colocar no lugar a asa da ave. Depois fariam uma terceira e ultima f a l a c driam ao menino para buscar a asa novamente. Entao 0teste estaria terminaduSe 0veneno fosse matar urn menino, nao 0mataria enquanto estivl'Hnl'sentado quieto no chao, embora ele sofresse espasmos de dor que 0fariam cticar os braces para tras, ofegando para respirar. Quando 0menino C ll 'I.faziam-se esforcos, com 0 consentimento do rei, para revive-lo, ministrundo-lhe uma mistura viscosa feita da planta mboyo, da arvore kypoyo, e sal.lHNfazia com que vomitasse 0veneno. Depois ele era levado para urn riacho, '0locado a sombra, e despejava-se agua fria em seu rosto.

    I ~A I' " I ' \ ) I I I 1 ) (

    J J r o / ; I ' l I l C l S s u s cu tu lo s j J d a consulta(10 o rac u lo d e v en en o

    IIh .1II~V plll'~1m uitas pessoas na Inglaterra os fatos relatados no ultimo capi-111111il l s u e maioria, elas desacreditaram ou desdenharam deles. Tentavam11111 1 1 1 M perguntas explicar 0 comportamento zande racionalizando-o, isto

    1 1 1 1 1 1 ' 1 ' " .tando-o nos termos da nossa cultura. Essas pessoas supoem que os.llId s e u t en d e m necessariamente as qualidades dos venenos assim como'hi II tntcndemos, ou que atribuem uma personalidade ao oraculo, uma1 1 1 . , 1 1 11q L l e julga como os homens, mas com maior presciencia: ou que 0IIIlido manipulado pelo operador, cuja astucia preserva a fe dos leigos.

    Il ldllHum ainda sobre 0que acontece quando 0resultado de urn teste contra-II II uutro, que deveria ser confirmado para que 0veredicto fosse valido; 01 1 1 1 ueontece quando as descobertas do oraculo sao desmentidas pela expe-

    II III 11 ' e 0 que acontece quando dois oraculos dao respostas contrarias a1 1 1 1 ~ 1 I 1 1 l J ergunta,

    (h: mesmos problemas - e outros, naturalmente - me ocorreramIlhllldo estava na terra dos Azande. Fiz investigacoes e observacoes sobre os

    IHIlIins que me pareciam importantes. Neste capitulo relato minhas conclu-I I M.Al'1.tesde apresenta-las, devo advertir 0 leitor que estamos tentando ana-I III IIl l i t iS urn comportamento que uma crenca, Os Azande tern pouca teoria, 1 1 l ' I ' seus oraculos e nao sentem necessidade de doutrinas.'I'raduzi a palavra benge por "trepadeira do veneno", "veneno de oraculo"

    III" , " 1 1 . 1 10 de veneno", conforme 0 contexto. Mas e necessario assinalar queIt I ' i a , s zan de sobre 0 benge sao muito diferentes das nocoes sobre venenoIII1'lH'evalecementre as classes cultas da Europa. Para nos 0benge e urn vene-

    1 1 1 1 , mas nao para eles.r , verdade que 0 benge deriva de uma trepadeira selvagem da mata; e queI'otie supor que suas propriedades residam na trepadeira, isto e , que sejam

    Illlfll 'iedades naturais; mas aos olhos zande, ele so se torna 0 benge das con-1111S oraculares (e fora dessa situacao nao se tern qualquer interesse nele)II!tlnGlofoi preparado segundo certos interditos e empregado da rnaneiraItllllicional. Para ser mais preciso, apenas esse benge manufaturado e benge

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    Ifli

    1'111'I ( 1 1 - 1 1 \ 1 , 1 1 1 1 I .. I)' '1IIOdOlil I II w iz no , 'I' 's l1 d e sp ru vh lo ! i ( ' Mlllll'l1l 111II~madciru".

    Po r isso , p rgun tu r uo s A znndc () Ill' u 'onln' r ia sc .lc s nlinis l l ' I INHI'111u rn a dose ex tra I' v 'II 'n o a um a ave qu e S\ r ivcs s I' ob ru do dliH < l n N I Iu su a is , o u se c o lo a ss cr n a lg um ve n c n o nacornidade LI m ho m '111,C lIm.'!' 1 " ' 1guntas tolas. Os Azande nao sabern 0que aconteceria, nao estao il1lcl'I.'HIlIHIII~nisso, e ninguem foi tolo 0 bastante para gastar bom veneno de orriculo ('Illexperiencias tao ridiculas. 0 benge propriamente dito e dotado de pol III IIem virtude da abstinencia dos interessados e de seu conhecimento cia ( 1 ' < 1 ( 1 1 \ IIe so funcionara nas condicoes de uma sessao,

    Quando perguntei a urn zande 0 que aconteceria caso se a dm i n i s t l'IlSH(' IIuma ave uma dose de veneno atras da outra, durante uma consulta na q l l l d (Ioraculo devesse poupar a ave para dar a resposta certa a pergunta, mel! illl Ilocutor respondeu que nao sabia exatamente 0que aconteceria, mas SUPIIIIIIIque cedo ou tarde ela estouraria, Elenao aceitou demodo algum a sugestuu IIque 0veneno extra mataria a ave, a nao ser que a pergunta fosse s u b i t a r n r u tinvertida, de modo que 0oraculo tivesse de matar a ave para dar uma respollllIcorreta - ocasiao em que evidentemente ela morreria de imediato.

    E certo que osAzande nao veem asreacoes das aves ao benge e a a~

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    11 M -r u r o m o I H I I ' I I I I I I I N 1 '1 1 11 I 1 1 1 1 Ii l i t I , '1'111 1 1 t Hilt' 1 j"~I'I\\ n l i l t ' 1 I1 1) /j I1 0 / 1 d . n bs eVH90 1 \ till' I I I I ' ! IIIIll[ , H il i 'l l : \ o n h cc im I lI ~' 1 1 11 1 V''''III) ( 1 1 1 1 ' 1 1 "ou t ro e fr a c o , e c l"o m ais o u 111 '110S loses s e gu nd o ( ) t ip o q ue 'sl:1O u s I I I I lit,Ouve-se com frequencia durante uma sessao: "Na.o e bastanr fori .", "V(H IIdeu 0 bastante a ave", e expressoes semelhantes. Mas os A / a n d 'SilO dOillithldos por uma fepoderosa que os impede de fazer experimentos, d ' g < ' : J l l ' n t l l l ' 1 1 1contradicoes entre os testes e entre veredictos de diferentes oraculos, ~\~'1I11 I'todos osoraculos e a experiencia, Para entender por que osAzancle lido I iI'llIIIde suas observacoes as conclusoes que tirariamos, devemos nos dar coni Iillque sua atencao esta focalizada nas propriedades misticas do oracu 10d .Wlt'no, e que suas propriedades naturais sao de interesse tao pequeno pam ~'I('IIque simplesmente nao entram em consideracao, Para elesa trepadeira nl ll lldiferente do produto final, usado em condicoes rituais, e ela raramente cOllsl1Ide suas nocoes sobre 0oraculo, Sea mente de urn zande nao estivesse fo nIi'l,1Ida nas qualidades misticas do benge, e totalmente absorvida por elas, ,I"perceberia a significacao do conhecimento que ja possui. Tal como e , a 'Olltradicao entre suas crencas e observacoes so setorna uma contradicao evideute e generalizada quando sao colocadas lade a lade nas paginas de urn t r a tuduetnografico, Mas, na vida real, esses pedacos de saber nao participam d L i l l iconceito indivisivel- como se, quando urn individuo pensa no benge, t i V C SH . 'necessariamente de pensar em todos os detalhes que descrevi aqui. Tais d c t ulhes sao funcao de situacoes diferentes e nao estao coordenados. Por conscguinte, ascontradicoes, para nos tao aparentes, nao impressionam urn zande,Seele vern a ter consciencia de uma contradicao, trata-se de uma contradicuuparticular, facilmente explicavel em termos da propria crenc;:a.

    E evidente que 0sistema oracular nao teria sentido sea possibilidade de(lbenge ser urn veneno natural- como urn europeu educado 0considerarianao estivesse automaticamente excluida, Quando eu costumava por em dLlVIda a fezande no oraculo deveneno, defrontava- me ora com assertivas di r eur s iora com uma dessas evasivas elaboracoes secundarias da crenca que se a j u xtam a qualquer si tuacao capaz de provocar cet icismo; ora com uma p o l i d e zcompadecida - mas sempre com urn emaranhado deobstaculos linguisticoa,pois as objecoes nao formuladas por uma cultura nao podem ser adequada.mente expressas em sua lingua.

    Os Azande observam como nos a acao do oraculo de veneno, mas sunsobservacoes estao sempre subordinadas a sua crenca, servindo para explica-lnc justifica-la, Considere 0leitor qualquer argumento que pudesse demolir totalmente as alegacoes azande sobre 0 poder do oraculo. Se esse argumenlofosse traduzido para as form as de pensamento zande, serviria para sustentartoda a sua estrutura de crencas. Pois as nocoes misticas sao eminentemente

    1 1 1 1

    II I II II II 'M 1111'11 , 1 1 1 1 011 1 1 1hI 1 '0 1 1 11 11 11 I" I IIi' I t i l l , " , . OI'dl'lI ,dll, t i t ' I dIIlndu qll 1 1 1 1 1 1 II ~'111111l11 ' 1 1 I Ii I I' I I II I l ' l I l l' I I 'K I ' I IH III II. Ivl'l 'lI0 'on-1 1 , , 1 ' , 1 1 ' P l 1 t l mllplI'('lt'lulllk 1 1 1 4 . 0 i l ! \ 1 , l l I d '1l1101lll'I'HOsIl1l1ll1'I'larci1 1 1 1 1 f 11 \ HI i' ll ,; ' ,l IO rllllll'l'll1 dl' Hell oruculc I, Vt:I1'.IW, ru'l. .m-no nurn idio-ItII I 1 1 1 1 1 ko.: ' 1 ' un o pod mos do r 'on la da r 6 zandc em SC L I oraculo de veneno - assu-I I i l l I I101 1 1 1 ' i lcs csrao lent s de que sc trata de um veneno e simples mente se1IIIIIIII'II1l1111 ao a ( ISO c ia

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    IMIlIiII ,l> OI'Il'lIln ri l l 1 1 1 1 1 1 0 1 1 I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 I 1 l t ' l l i t ) ( 1 Inuule 1'1 r, ( llll lln 1 111 1II ill 1(,I H' 101'1111or: 'lilo qUill II I 1IIIIIdo j np 'I'U 10 d ' ~ '1' ( I IlIl1l1tdl'lIl II' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 11101 ' v l o l n d o , ,1 , V O IL s u s cr nlH'IIIH 11111 ede 0 d 'm a d e ir a ' 1 1 1 1 1 l l l l d I, H ' 11 1 1 1 1 '1 1lit'I' d iv r 0 futuro. As 1 rm l tn s 11,0 s~,o ce rta rn cn te p cs so us A s! 'liS ( Il l ( II III I' 'ns; ~L'O termitas e nada rnais. Mas se forem abo rd ad a s d e m od o ( . ' 0 1 ' 1 ' ( ' 111

    M () in h. 0dotadas de poderes misticos.n diflcil para nos entender como 0 veneno, a tabua m a g i c a , as Irmltn (ilr s gravetos podern ser meramente coisas ou insetos, e ainda assi rn ouvh II'ILl' C elito a eles, prever 0futuro e revelar 0presente e0passado. Mas qu.u III I Iu sa do s em situacoes rituais deixam de ser simples coisas e m e ro s in sc to s ( ' Nilt o rn am agentes mist icos. E,ja que os oraculos sao dotados de s eu s p od c: I'~g rac as ao homem, tambem sera por meio do hom em que os perdem, Se 11111t u b u e quebrado, tornam-se novamente meres insetos, coisas e peda o s < i l lmad e i r a .

    3o iorrera de pronto a uma mente europeia que a razao provavel da mort ' 0 1 1sobrevivencia de uma ave e a maior ou menor dose de veneno a ela min is r J' I11 ) se avancara a c o n c l u s a o de que 0veredicto depende da habi lidadc doo p ra do r. De fato urn europeu e s t a prepenso a admitir que 0 operador tr a ( 1 1 1' l a o Mas creio que esta errado nessa suposicao. E verdade que 0numero '0

    t nm a n h o das doses ministradas asvezes variam, eque mesmo avesde i g u a l lum a n h o nem sempre recebem 0mesmo numero de doses; mas supor que O NAz an d e trapaceiam e nada entender da sua mentalidade. Qual seria 0ob je t ivude trapacearr Hoje as declaracoes do oraculo de veneno nao sao mais re (Inhe c i d a s como prova de assassinato ou adulterio, de modo que nao pod,r n a i s ser usado como urn instrumento de j u s t i c a e ganho; as perguntas h nI i tu a is feitas a ele referem-se a s a u d e e ao bem-estar do interrogador e de Sl l l lI~Imilia. Este quer sempre saber sea bruxaria esta ameacando seus interesses "S' assim for 0caso, quem e 0bruxo que 0condenou a algum mal-estar. TraI'll ear,longe de ajuda-lo, iria destrui-lo, pois em vez de poder chegar ao vcrdudeiro bruxo e assim se vel ' l ivre de seu dest ino adverso, chegaria a pesSOi l.rrada, ou a ninguem, e seravitima inevitavel da sina que 0espera. A trapaca ctotalmente contra seus interesses. Resultaria provavelmente em sua mortc,Mesmo em questoes de casamento, em que poderia parecer vantajoso a urnz a n d e obter urn veredicto favoravel, de modo a poder casar-se com d e t e r m i -nuda moca, seria na verdade fatal trapacear; se ele obtivesse urn veredicto in-.orreto isso significaria simplesmente que sua mulher morreria pouco depoisd o casamento.

    I ~ I I t 'l t i ll l l (! ! I I I p u 'IIII'HIIIII 1111111111 1I11 i11 Idll1l' d n Ill', l' llio umuII III, uu OpN Idlll' I 1 1 1 1 1 1 I, ' q l l t ' W, 1'111'Il'Jllo (' PI'OIH I,illn, [0 ionsulror1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 III ' ! l O S {jm' r u (Iklll dn O p l ' l ' ulor, I H I l I I , '(l11l0 V 'I' 'moil 110 p r o x i m o' ' 1 , 1 1 1 1 1 0 , p(ld~H ' I'W I I ( . ' ( ) J l 1 ' J l I ( ri o J w l l O Q ll H I1 '1 'O 1 0 ru n c io n a rn e n to do ora-1 1 1 1 1 II In 1 1'1 10 , 1 11 HI nn o c u b e no .a s o d o o ra c u 10 d e v en en o , pelos seguintes

    1 11 11 1 V I I :( I ) ( ) o pc ra do r lIg '111 pub l i c o . Sua aud i e n c i a , toda composta de interes-

    IIIIINIII lis l' lIla OLI i n ve s t i g ac ao , senta-se a poucos metros de distancia, podetI II Ill' 'I ' fa z c em grande parte dirige suas a c o e s .( ,) P i .ou ev i d en t e para mim, nas muitas ocasioes em que presenciei as'III I lilt i s, q u e 0o p e r a d o r estava tao pouco ciente do resultado que seria obti-t i l l q uu uto e u ou qualquer outro observador. Eu conclui, observando suas1\1 I' I f fl la e e x p r es s a o , que ele se considerava urn servidor me c a n i c o do ora-I Itllll~' le modo algum seu dirigente.( ) A s vezes 0 consultor do oraculo e seu operador. Urn homem que" I I'! II (a 110 que os Azande acreditam sobre bruxaria e oraculos, e ainda assim1 1 1 1 1 1 1 ' a s s e , s e r i a urn lunatico.

    (4) Presenciei casos em que era do interesse do operador que asaves vi-\1 em , e no entanto elas morreram, e vice-versa.

    ( r : : ) Nao ha uma classe especial de operadores. Eles nao formam uma cor-1 "11' 1\ ' . 0 ou confraria. Amaioriados adultos homens sabe como operar 0 ora-IlIh), qualquer urn que 0 deseje pode faze-lo. Nao se pode usar de trapaca111111 urn praticante do mesmo tipo de trapaca,

    (6 ) Os operadores sao geralmente meninos entre 12 e 16 anos, suficiente-uunte grandes para conhecer e observar os tabus de al imentacao e jovens 01111 tante para seabsterem de relacoes sexuais. De todo 0 pais zande, esses ino-I"lit's sao provavelmente as pessoas que menos sabem trapacear; a l em disso,1110 stao em geral preocupados com os problemas dos adultos tipicamenteI'PI'.sentados ao oraculo.

    (7) 0 oraculo secontradiz prat icamente a metade dasvezes em que sefa-It'lIl doistestes para a mesma pergunta.

    (8) Os Azande nao compreendem que 0 benge e urn veneno natural, eIHII'tantonao sabem nem mesmo que uma trapaca desse tipo seria possivel.I )j raodo oraculo de atri to que urn homem trapaceou com ele, mas nunca seuuvira a sugestao de que urn homem possa tel' manipulado desonestamente 0OI'n.culode veneno.

    A diferenca no numero de doses ministradas as aves deve-se a certas re-IoII'aS tecnicas de operar 0 oraculo. Ha urn numero comum de doses para avesIi .diferentes tamanhos, mas 0 oraculo da suas respostas por interrnedio das

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    !lVI' , ('II I() , 11111lldt I 1 11 11 11 11 11 I II 1 I I I I I I I i I 'I, pud ' 1 1 1 1 1 1 1 " t i t ' ! l 1 ! H l l I '1"1 I t il lV III Pl"" 'h 'I' tlUl' I I It 1IIIIIh IlliIll P . I t , V 'II '110, P()I'ql l~' I ll li ll ll , '\ Imil" III' II iI1 p 'r gU llln 1 '0 1ouvld I, 1111 II Ilid 1(t I I Hin do rc sp on dk !n . I k ilN \ IIHHIII,, ,d 'pois d e d ua s d os es , lIIIV('1lt10 P \l'"" t 'I" s id o a b so l ut u rn 'Ill' u l c t ndu , 11111/lIllll(Ill' cste seja 0 numero c om um d 'doses para uma avedaqu 'I "\11111111111, 11111(cr 'ira dose pode ser dada. Se a ave permanece in aba lave l , clcs snlWII 1 1 1 1 1 1 IIoni .ulo dara urn veredicto claro, poupando-a: e que respond 'llscm Ih'jllliy ( es, pois, ja que matou outras aves no rnesmo dia, e sabidarnente 11111 /11'/11,d \ boa qualidade, que pode matar aves seassim quiser .

    bservei que os Azande as vezes dao menos doses no segundo (('.IlIll, IIp,i1'lgo,que no primeiro. Eles nao estao tentando trapacear , mas nao qlll'llilllg a s t e r 0 veneno valioso. 0 objetivo do segundo teste e verificar se 0 Ot'll(Iili l"I' ,wa funcionando corretamente quando deu sua primeira r e s p os t n , 1 1 1 1 1 1 1pede ser provado claramente tanto ap6s uma ou duas doses como ,Ip

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    ('OIlIP()J'[ un 1110. till 1 1 1 1 1 d~ Iflllll I l h ) I~llIIIHI() () V ' II ~1l0 1'1' q 1t'1l1t'lllt'lIli'Ollllll'ltlio d \ M.IIIl It : l'OIll-\lllt Ililli hi n H1'[0 1 ' 1 s 0 I '111(. 'CIli1n ,Ido PO I l I l " "p O I ' lim d o s i n r cr r n c d h tr l n s, llill IV!' /. ' Il l contato com urna p e s s o 1lm p u r u , . 1 1 lsl 'l ' s s t r agado p ara s em prc ,

    A b ru x a ri a e s er np re c ita d a como uma exp l icacao p a n l v i red l c t o s ('1111dos , Ela pode tambern tornar 0oraculo impotente, embora isso s cju e rn Hl'l'tliuributdo a quebra de tabu. De um modo geral a presen

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    "'",!mf'I,," "'" '" I "'' ",

    V ll 'IH II ' b 'I ll dl~Il('1111lr III1 III II I I 111'[ d o 'III '110 Ih.!Wdlllt', () 01 ' ,d n It.tlilc on ta r ( )$S aS C Oi.S t lH ,)S p ',~!llIlI, (' 10 II I l im o t, '1 11p O I ' 'H po nd '" I II IWI'Hllllhlfeitas a ele.

    5Foi observado que osAzande agem experimentalmente dentro do Cjlllldl'lJ tl fsuas nocoes misticas. Atuam como n6s teriamos que agir se n~() livcSHI'lllIl1Imeio de fazer analises quimicas e fisio16gicase quisessernos obter os nWNlllIlI1resultados que eles. Assim que 0veneno e trazido da floresta, ele e testadll Iilllilse descobrir se algumas aves viverao e outras morrerao sob Sua i n f l u I H ' I INao seria razoave] usar veneno sem primeiro ter verificado setodas as n v rl l f li tquais ele e ministrado nao morrem ou vivem, pois nesse caso 0 oraculo NI'I IIuma farsa. Cada sessao deve ser em simesma experimentalmente consislt'nl jAssim, seas tres primeiras aves sobreviverem, osAzande ficarao ap re e nx lvn s ,suspeitando que 0 oraculo nao esteja funcionando adequadamente. MIIN IU !entao a quart a ave morre, ficam satisfeitos. Dirao: "Voce ve, 0veneno C b o u t ,ele poupou astres primeiras aves, mas matou esta." 0comportamento 1 ' , 1 1 1 1 ( [ 1 1 ,embora ritual, e consistente, e as razoes apresentadas para esse compol'lllmento, embora misticas, sao intelectualmente coerentes. .

    Se suas nocoes misticas lhes permitissem generalizar as observacocs, IIAzande perceberiam, como n6s, que sua fe nao tern fundamento. Eles !1l\ 'Hmos fornecem aprovanecessaria. Dizem que asvezes testam urn veneno IH)VIIou velho que suspeitam ter sido corrompido fazendo-lhe perguntas bobas, Nillua cheia dao veneno a uma ave e dirigem-se a ele assim:

    Oraculo de veneno, fale it galinha sobre estas duas lancas aqui. Como vou ~lIhllao ceu, seperfurarei a Iua hoje com minhas lancas, mate a ave. Senao perfuru "I "a lua hoje , oracu]o de veneno, poupe a ave.Se 0oraculo mata a ave eles sabem que esta corrompido.Eainda assim osAzande naoveem que seu oraculo nao I h e s diz nada! SUI1

    cegueira nao se deve a estupidez: eles raciocinam de modo excelente noidinrna de suas crencas, mas nao podem raciocinar fora ou contra suas crencns,porque nao tern outro idioma em que expressar seus pensamentos.o leitor naturalmente desejara saber 0 que dizem os Azande quando 0fatos subsequentes provam que asprofecias do oraculo de veneno estavam 'I'radas. Aqui novamente nao se surpreendem com 0 resultado; ele nao prov 1que 0 oraculo seja futil, Prova, antes, quao bern fundadas sao suas crencas 1 1 1 1bruxaria, na feiticaria e nos tabus. A contradi

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    1)(. h hllu 011 M,lIlld IllllllII.1111'1'1p,1llltll, (til 11I1('~IIJ(tMlltH ' 1 1 1 1 1 '1 I II.llm 'Ill' 'OJl1PI'OVllduN P ' liI jl l ' l ' I 11'11; rll', ' I l l II>'II INpt'l'Kllilll I Pit' . ' 1 1 \ 1 1 1vern a contingcn h .;\s r 'Hposll. I! () I 0 I m Ii 'I'I i s r u d n s , o u, l ' INONl' I','vi.1I111erroneas em vista dos acontc imcntos subsequent 'S, lev '111I 'I 'l lI il i, I I'~I'"cacao do erro. Em ultimo recurso, os enos sernprc POChl1 scr cx j Ii' , , 1 0 1 11"1uma interferencia mistica. Mas nao ha necessidacle de sc SU pOI' < rIl l ' 0 1 ' 1 1 1 1 1 1esteja ciente de que evita colocar questoes claras. Restri ngindo SLI ; JS P~' I 'HI1 1 1 i 1a certos tipos bem conhecidos, ele age conforme a tradicao, Nao Ih~' 0 1 1 1 1 1testar 0 oraculo experimentalmente, a n3.0 ser que tenha scrias HlIt'(iI'III'.quanta a uma amostra part icular de veneno.

    Alem disso devemos lembrar que 0 valor do oraculo esta na sua huhl lh] ,de em revelar 0 jogo de forcas mist icas. Quando os Azande indag.un 101111saude, casamento ou caca, elesestao buscando informacao sobre 0 J110vlI l I I ' l Ito das forcas psiquicas que lhes podem causar dissabores. Nao estao l 'I II III IIIsimplesmente descobrir as condicoes objetivas num determinado m 0 I 1 I I ' 1 1 1 1 Ido futuro, nem osresultados objetivos de determinada acao, mas a indiiltl~11ldos poderes mist icos de que dependem tais condicoes e resultados. 1 1 1 1 1 1 1quando 0oraculo anuncia urn horizonte sombrio para um hornem, cslt ' 1 1 I 1contente de ter sido avisado, porque agora que conhece as disposicoes dull) IIxaria pode entrar em contato com ela e fazer com que 0 futuro the scju I I 1 1 1 1_favoravel,

    Com seus oraculos um zande pode descobrir asforcas mist icas que I'llram sobre um homem e 0 condenam antecipadamente; tendo-as descohcrlupode opor-se a elas ou alterar seus pIanos de modo a evitar 0 destino qUI' 1 1 1 1espera numa aventura particular. Assim, e evidente, as respostas que r I(I'llnao se referem em geral a acontecimentos objet ivos, e portanto nao pod 1 1 1ser facilmente contrarias it experiencia.

    No entanto, observei frequentemente que os Azande, ao sererninl inmados de que a doenca osesprei ta , nem sequel' tentam descobrir 0 no 111(, tlubruxo responsavel e fazer com que este sopre agua; apenas esperam

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    'A p a r i ' Oil ' IISOH ' 1 ' i 1 l l i1 H l i H , IlilIPOl!W pod l , l t IV" duvhl I d (jIll' 11111Im em s e a pro ve it d c u da b r ichu qu 001" c u lo III ' P '1'lltik pili' 1!lIIlI'1 11'111quer, ou para d e ix a r de f az e r 0 q u e I H 1 0 q u 'I', ; \I"m d i s H O ( , , 1 II I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 d 1, 1do o r a c u l o para desculpar sua c o n d L11'HOL i p a r a obl'ig II' o s outros I Ill,' III II Ioraculo e muito util, por exemplo, no casoem que ~1mulh -rde 1lglll'llllh IIse ausentar de casa pa ra vi si tar os pai s. E l iflc il a o m arid o p ro ih ir I V Nlhl,ll'"se ele puder dizer que os oraculos nao a a c o n s e l h a r n a C ; l z e r isso, p o d " 1 1 1 1 , 1 1 1 1impedi-la como bloquea r qua isquer o b jeco es pOl' p a rt e d o s p n l' l' II I\ ', 4 1 1 1 1 1 1 _

    Nas condicoes reais de funcionamento do oraculo, os i\zHlld(' HilHlllll1 Ireceber uma previsao favoravel no primeiro teste e de adiar 0 I 'Sll' 1 J I I I 1 h l i l itivo que pode contradize-lo pelo maior tempo possivel. A t rad i , ' ( lo pi 1 1 1 1 1 1lhes certa liberdade quanta a ordem em que dispoern suas pcrgunru 1 1 1 1 1 1 1 1culo e quanta ao numero de doses administradas as aves. l -h l 1I11)tl1 1 (I' ti , Ii,terrogar 0 oraculo, pois como ele deve responder "sim" ou "nnn" I I 1 11 1pergunta, urn homem pode definir os termos da res posta a n 1 ' 1 1 1 u u l na pergunta. Por meio de sutis interpretacoes das reacoes das aves (]n VI'II! IIsempre e possive l quali ficar as decla racoes dadas pelos oraculos III) IIHlhl Iou poupa-las.

    Em tudo isso os Azande nao estao trapaceando, Para suas n 'l't' ".III Iindividua is em determinadas si tuacoes urn homem Ianca mao das II(J , f _ 1( 1mais favorecem seus desejos. Os Azande nao podem ir alem dos lillilll'M I Ibelecidos por sua cul tura e inventar nocoes; mas, no inte rior dessc 1111111comportamento humano nao e rigidamente determinado p e l o 'OHIIIIIIsempre se tern alguma liberdade de acao e de pensamento.

    II

    1'1'1J III

    t nun O I ' ( 1 " I l / o s il ( l l I c l e

    II" dll Of .culo d v n no, o s Azande respeitam 0 dakpa, ou oraculo das11111111N,!) so '010 a u rn veredicto do oraculo das term it a s diante do ora-IId 1II!'Iio J : ' l 1 - H < 1 onfirmacao, e nao se coloca urn veredicto do oraculo de1111111HII'I til l' as termitas 0 confirm em. Se mais de urn oraculo e consulta-

    It N I H ll l t lin 1113.0 sempre do menos importante antes de recorrer ao mais, 11111111',u s guinte ordem: 1) oraculo de atrito; 2) terrnitas; 3) oraculo deI 1111' I l n l < t a e 0 oraculo de veneno dos pobres. Nao se gasta muito, por-

    I I I I N I U I I 1 1 1 1 1 homem achar uma termite ira e enfiar dois ramos de arvores deIII r ll lc r n t~ s numa das cavidades e voltar no dia seguinte para ver quall it 1 II I rrmtas comeram. 0principal inconveniente desse oraculo do

    1 1 1 1 t i l ' v l S L A zande e 0 fato de ele ser demorado e restrito. Leva uma noite in-II 1111 spender a uma pergunta, e muito poucas perguntas podem ser, III 1lI IS1110 tempo.1111 o t i o s asquestoes importantes as dec isoes do oraculo das te rrnita s de-II Inrroboradas pelo o raculo de veneno. Mas como 0veneno e ca ro, fica1IIII I0 obter veredicto s prel iminares das te rrnit as e recorrer ao oraculo1111111penas para a decisao final. Assim, urn homem descobre que, den-III I111I:t.i.a de locais, ha urn mais adequado para ele construir sua cas a - e111110U a escolha das termitas diante do oraculo de veneno para confir-II 11mulheres e os homens podem consult ar 0 oraculo das terrnit as, e asI Ii vezes usam-no. Todos 0 conhecem e podem uti liza-lo,

    I I I)I't\culo e considerado muito seguro - bern mais que 0 de atrito. OsIt till'. rn que as terrnitas nao prestam atencao ao falat6rio dornestico,IIdn somente as perguntas que lhes sao dirigidas. Os homens mais ve-

    l" III III'ElIn consultar 0 oraculo das terrnitas no corneco de cada mes paraI'i IHltinuarao a ter boa saude . Urn homem rico faz essa mesma pergun-

    III It I 1110de veneno.1111ingua zan de, 0oraculo recebe seu nome de uma das arvores cujo ga-!II lido na termiteira. Os Azande podem dirigir suas perguntas a essesI'll [avia em gera l dirigem-se as terrni tas, e em seus cornentarios sob re1110fica claro acharem que estas escutam suas perguntas e respon-

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