bruna franchetto_alto xingu_uma sociedade multilíngue

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Alto XinguumA sociedAde multilngueorganizadora Bruna FranchettoRio de JaneiroMuseu do ndio - Funai2011coordenao editorial, edio e diagramaoAndr AranharevisoBruna FranchettocapaYan Molinosimagem da capaDesenho tradicional kuikuroDadosInternacionaisdeCatalogao naPublicao(CIP)(CmaraBrasileiradoLivro,SP,Brasil)Alto Xingu : uma sociedade multilngue / organizadora Bruna Franchetto. -- Rio de Janeiro : Museu do Indio - FUNAI, 2011. Vrios autores. ISBN 978-85-85986-34-6 1. Etnologia 2. Povos indgenas - Alto Xingu 3. Sociolingustica I. Franchetto, Bruna.11-02880 CDD-306.44ndices para catlogo sistemtico:1. Lnguas alto-xinguanas : Sociolingustica306.44museu do ndio - Funaiprograma de ps-graduao em antropologia social do museu nacional universidade Federal do rio de Janeiroedio digital disponvel emwww.ppgasmuseu.etc.br/publicacoes/altoxingu.htmlEvidncias lingusticas para o entendimento de uma sociedade multilngue: O Alto Xingu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3Bruna FranchettoComparando lnguas alto-xinguanas:Metodologia e bases de dados comparativos . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Sebastian DrudeAlto Xingu: Uma sociedade multilngue? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Lucy SekiPragmatic Multilingualism in the Upper Xingu speechCommunity. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87Christopher BallLxico Comparativo: Explorando aspectos da histria trumai . . . 113Raquel Guirardello-DamianAweti in Relation with Kamayur:The two Tupian Languages ofthe Upper Xingu . . . . . . . . . . . . . 155Sebastian DrudeSumrioAspectos da morfofonologia e morfologia nominal da lngua Mehinaku (Arawak) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193Angel Corbera MoriDistines prosdicas entre as variantes Karib do Alto Xingu:Resultados de uma anlise acstica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217Glauber Romling da Silva, Bruna Franchetto & Manuela ColamarcoForma do espao, lngua do corpo e histria xinguana. . . . . . . . 235Michael HeckenbergerANEXOS1.Tabela comparativa de termos culturais alto-xinguanos2.Tabela comparativa de termos designativos de artefatos alto-xinguanosTabelas em formato .xls para Microsoft Excel disponveis em: www.ppgasmuseu.etc.br/publicacoes/altoxingu.htmlbrunafranchetto3IntroduoEstelivroreneaversorevisadaeatualizadadamaioriados trabalhosapresentadosemworkshoprealizadode17a22demaro de2008noMuseuNacional-UFRJ,noRiodeJaneiro,contendoos resultadosdoProjetoEvidnciaslingusticasparaoentendimentodeuma sociedademultilngue:oAltoXinguapresentadoparaoEditalUniversal 2006doConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientfcoe Tecnolgico/CNPq. Apresentamos aqui resultados no conclusivos, mas j sufcientes para lanar as bases de uma nova viso comparativa e global do sistema nativo regional multilngue e multitnico conhecido como Alto Xingu1, objeto privilegiado, h mais de um sculo, das atenes dos que procu-raram entender a histria indgena, antes e depois da Conquista. 1 O Alto Xingu uma rea de transio entre a savana e a foresta densa amaznica, localizada ao nortedoaltiplanocentralbrasileiroeoslimitesmeridionaisdabaciaamaznica.Aregioapre-senta caractersticas ecolgicas nicas.Evidncias lingusticas para o EntEndimEnto dE uma sociEdadE multilnguEo alto xIngubrunafranchettoUFRJ, CNPq evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue4brunafranchetto5No sistema alto-xinguano convivem, ainda hoje, falantes de: a que ns chamamos de lngua Karib alto-xinguana com as suas duasvariantesprincipais:KuikuroeUagiht,deumlado,Kalapaloe Nahukwa/Jagam/Matipu, do outro; Wauja e Mehinaku, variantes de uma mesma lngua Arawak; Yawalapiti, outra lngua Arawak; Kamayur, uma lngua tipicamente Tupi-Guarani; Aweti, lngua s margens da famlia Tupi-Guarani; Trumai, lngua isolada. Estamosdiantedeumsistemaregionalhistricaeetnografca-mentecomplexo,comtradiesdeorigemdistinta,lnguasgenetica-mentedistintasevariantesinternasacadalngua,umamlgamaque articulasemelhanasediversidade,comprocessosdetraduonasdi-ferentes lnguas de conceitos e objetos compartilhados.Os resultados obtidos graas ao projeto CNPq so tambm indi-cativos das direes que a pesquisa dever seguir. Trata-se de dar impul-so ao trabalho comparativo entre as lnguas do Alto Xingu, um sistema nativoaindavigorosoparaoqualsovitaisaconvivnciadelnguas distintaseocompartilhamentodeumamesmacultura.OAltoXingu noscoloca,ainda,questesinstigantes,sobretudoquandoprocuramos compreenderasuaformaohistricaeaconfunciadedistintasln-guasetradies.Paraestefm,necessrioabriroempreendimento para a colaborao efetiva dos outros pesquisadores que se dedicam ao estudo dessas lnguas, sobretudo das mais cruciais para o entendimento do sistema alto-xinguano em diversas escalas temporais e espaciais. Esteprojetomobilizouumtrabalhocoletivoesolidrioentre linguistasinvestigadoresdeumcasoexemplardahistriaindgenadas terras baixas da Amrica do sul, com abertura interdisciplinar e experi-mentao de metodologias ainda novas no contexto brasileiro. 1.a questoOsprimeirosresultadosdapesquisainterdisciplinarentreosKuikuro doAltoXingu,integrandolingustica,etnologiaearqueologiacome-amaclarearoprocessopeloqualpovosfalantesdelnguasperten-evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue4brunafranchetto5centesaostrsmaioresagrupamentoslingusticosdaAmricadoSul (Arawak,KaribeTupi)edeumalnguaisolada(Trumai)chegarama criarumsistemasocialnicoevivoathoje:ocomplexosociocultu-ral do Alto Xingu (Mato Grosso, periferia da Amaznia meridional). A perguntafundamentalquensnoscolocamos:comosurgiuestesis-tema,numlongoperodoqueseestendedesculoIXD.C.atopre-sente e formado por povos de culturas e lnguas distintas? Tendo como panodefundoestapergunta,outraseimpeenosinteressamaisde perto:qualtemsidoopapelda(s)lngua(s)edomultilinguismonesse processo, que resultou em uma sociedade onde a diversidade lingustica temsidoumadasprincipaiscondiesdesuareproduo?Comea-mosaresponderaestasperguntasnoartigoLanguage,ritualandhisto-ricalreconstruction:towardsalinguistic,ethnographical andarchaeological account ofUpper Xingu Society (Fausto et al, 2008), onde foram articuladas dife-rentes escalas temporais e diferentes abordagens, focando a vida ritual, bem como a linguagem e a(s) lngua(s) a ela associadas, como porta de entrada para a explorao das conexes que delinearam o sistema alto-xinguano no tempo e no espao. 2.a perspectIva arqueolgIcaOquedizapesquisaarqueolgicarealizadade1993atagorapor Michael Heckenberger no territrio dos Kuikuro, um dos grupos karib alto-xinguanos? No ltimo captulo deste livro, Heckenberger nos ofe-rece um balano atual de seu caminho investigativo e de suas descober-tas.Estetextointrodutivocontmapenasosprembulosnecessrios para uma sua leitura mais fundamentada. AprimeiraevidnciadeocupaodatadosculoIXD.C.Aco-lonizaoinicialfoimarcadaporaldeiascirculareseumaindstriace-rmicacomparvelquelaproduzidahojepelospovosarawakdoAlto Xingu, o que leva hiptese de que os primeiros colonizadores devem tersidoarawak(Heckenberger,2005).AfamlialingusticaArawaka mais amplamente dispersa, geografcamente, na Amrica do Sul, se es-tendendo das ilhas caribes, ao norte, at a periferia meridional da Ama-znia, ao sul. Parece altamente provvel que os primeiros colonizadores evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue6brunafranchetto7do Alto Xingu foram povos arawak que migraram para o norte e para o sul a partir da Amaznia central (cerca de 3000 anos atrs), para ento chegar Amaznia meridional e se dispersar num eixo leste-oeste, das plancies da Bolvia ao Alto Xingu. Os povos arawak, conhecidos histo-ricamenteeetnografcamente,almdepertenceremaumamesmafa-mlialingustica,apresentamelementosculturaisrecorrentes(Schmidt, 1917;Heckenberger2002):hierarquia,espaospoltico-rituaisdefni-dos,participaoemsistemasregionaispluritnicosemultilngues,re-des extensas de troca, sedentarismo e prticas agrcolas elaboradas. Esta hiptese supe que haja uma associao estreita entre um de-terminado agrupamento (gentico) lngustico e um tipo cultural, assim comoumagramticaculturalperpetuadaatravsdesculos.Talhipte-sedemanda,contudo,umaboadosedeprecauoanalticaenecessita seravaliadaapartirdenovosdadosedeumainvestigaointerdiscipli-nar aprofundada. Seja como for, a populao alto-xinguana colonizadora chegouregiocomumagramticaculturalestabelecida:aldeiascircu-larescomasuapraa,seucentropoltico-ritual.Elacresceuatmea-dos do sculo XIII e, por volta de 1250, tinha alcanado propores im-pressionantes superando de muito os limites habitualmente atribudos s sociedadesindgenasdasterrasbaixas.Operododeboomdemogr-fco e cultural durou at meados do sculo XVII, com aldeias dez vezes maiores do que as atuais, caracterizadas por estruturas defensivas, como revelam as escavaes de 12 stios, at o momento. Os stios pr-histri-cos (complexos formados por aldeias principais e aldeias satlites) eram conectados poramploscaminhos,indicandouma densa interao social (Heckenbergeretal2003,2008).Apresenadepontes,barragens,ca-nais,assimcomoumatransformaosignifcativadacoberturavegetal, revelamumsistemacomplexoeumaocupaoeexploraodoterrit-rio surpreendentemente profunda e extensa. Essa escala monumental se deve no tanto a demandas econmicas, mas, sobretudo, indica uma fun-o poltico-ritual: prestgio (em competio) das aldeias e de seus chefes. QuemconheceoAltoXingureconheceaquiarazodeserdosistema atual, embora em menor escala.Em meados do sculo XVII, o sistema alto-xinguano entra em co-lapso por causa dos efeitos diretos e indiretos da Conquista. As grandes evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue6brunafranchetto7aldeiasdesaparecem,apopulaodrasticamentereduzidaporsucessi-vas epidemias (Heckenberger, 2001b). Este foi o quadro encontrado pelo primeiro etngrafo e testemunho da sobrevivncia desse sistema plurit-nico e multilngue, o alemo Karl von den Steinen (1886, 1894).SegundoHeckenbergerosistemaalto-xinguanoseformou pelaabsoro,assimtrica,depovosetradiesdistintosnummode-loarawakpr-existente.Nofcil,contudo,defnirquoassimtrico ousimtricofoioprocessoqueresultouemidentidadesconstrudasa partir de uma rede de diferenas. Se h evidncias consistentes de uma proeminnciaedeumaprecednciaarawak,nomenosclaroqueo pluralismo cultural e lingustico enriqueceu o sistema como um todo. 3.a perspectIva etnolgIcaApesquisaetnolgicaprocuraresponderquestoseguinte:quetipo de formao scio-poltica o sistema alto-xinguano?muitodiferentedasestruturasreticulares,semcentro, fortemente igualitrias, formadas por grupos locais ligados por trocas econfitos.NoAltoXingu,aguerrafoisubstitudaporoutras prticassociais.Oconfrontofoiritualizadoemeventosintertribais (Gregor 1990:113; 1994).Estecomplexoculturalsedefneporumaticaalimentar,um comportamentoestritamenteregrado,aritualizaodopoderpoltico doschefes,esferasdetroca,exposioetransmissoderiquezassim-blicas.Precisaobservarqueocasoxinguanonoumaexceona Amaznia, onde encontramos paralelos, em outras reas, apesar de hoje bastante transformados.OritualolocusdoqueosKuikuro,porexemplo,chamamde tisghtu,anossa(tis-,1apessoapluralexclusiva)maneiradeser,e tisakis,anossapalavra/lngua.Avidacerimonialobjetivadae umdosmecanismoschavesparaaproduodaidentidadedotodo e, ao mesmo tempo, da autonomia poltica dos grupos locais. Tal au-tonomiassetornareal,efetiva,apartirdomomentoemqueuma aldeiasatlitedeoutra,daqualseseparou,poderecebereenviar mensageiros-convidadoresparaasfestasintertribais.NoAltoXin-evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue8brunafranchetto9gu,existemcercade15diferentesrituais,estruturadosemtornode conjuntosdecantos,umaoumaisnarrativasmticaseumarotina coreogrfcaprecisa.Hrituaisintraeintertribais.Estesltimosin-cluem confrontos cerimoniais entre anftries e hspedes: hoje, a luta corporal,nopassado,jogosdebolaecompetiesentrecorredores. Sempoderentraremdetalhes,noslimitesdestaapresentao,pode-seafrmarqueosrituaisalto-xinguanoscompartilhamdeumames-ma estrutura organizacional, bastante complexa, que chega a envolver amaioriadosmoradoresdeumaaldeiadurantelongosperodosdo anoeatransmissodepapis,prerrogativaseresponsabilidades.H rituaisligadoschefaerituaisquemediamentrehumanoseno-humanos(itsekeemKuikuro).Oritualmediascio-politicamenteen-trehumanosecosmo-politicamenteentrehumanoseno-humanos (Barcelos Neto, 2004).2 Aconfguraoespacialdescritapelaperspectivaarqueolgica codifca, hoje, um universo de donos e chefes que produz uma for-te integrao ritual, intra e inter-aldeias, e o controle de conhecimen-tos rituais. As festas alto-xinguanas servem, tambm, para a constru-o de estruturas comunais e para a produo de surplus alimentar. Os dados do presente indicam que um sistema relativamente se-melhante ao atual poderia explicar muitos dos registros arqueolgicos. Todavia, nos faltam dados sufcientes para compreender a continuida-de dessa combinao de assimetrias locais e simetrias inter-locais. Ou formasdeagrupamentohierarquizadoteriamoperado(eoperariam) tambm regionalmente? Seja como for, estamos diante de um sistema amaznico, embora se encontrem, hoje, apenas os restos de redes re-gionais em outros cantos das Terras Baixas. Qual era afnal o panora-ma humano amaznico s vsperas da Conquista?2 NovaspesquisasetnogrfcasnoAltoXinguestoacrescentandodadoseanlises,tornando ainda mais complexo o quadro e contribuindo para um debate em torno do modelo proposto por Heckenberger.Em2010,MarinaVanzolinidefendeu tese dedoutoradonoPPGAS/MuseuNa-cional/UFRJ intitulada A fecha do cime: o parentesco e seu avesso segundo os Aweti do Alto Xingu; Joo Veridiano Franco Neto concluiu a dissertao de mestrado em antropologia Xama-nismo Kalapalo e assistncia mdica no Alto Xingu: estudo etnogrfco das prticas curativas, na UNICAMP;AntonioGuerreiroJuniordesenvolveprojetodedoutoradonaUnBsobrechefae esttica poltica a partir de uma etnografa do Kwaryp entre os Kalapalo.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue8brunafranchetto94.a perspectIva lIngustIcaO que diz, finalmente, a pesquisa lingustica?Do ponto de vista lingustico, o modelo at o momento propos-topelaarqueologiae,mesmocomumafexocrtica,pelaetnologia, apresenta um razovel nmero de problemas. Por outro lado, preciso lembrar que se o Alto Xingu tem sido objeto de muitos estudos antro-polgicos,hpelosmenos60anos,apesquisaarqueolgicaviveum reforescimento nos ltimos 15 anos e a pesquisa lingustica, to antiga comoaantropolgica,temseintensifcadoapenasrecentemente.Os estudos lingusticos, todavia, so ainda fragmentrios.Temosapenasduasgramticasdereferncias,umapublicada(Seki, 2000,paraoKamayur),outraaindaindita(Guirardello,1999,parao Trumai). Trs projetos de documentao exaustiva foram realizados no m-bito do Programa DOBES (Documentao de Lnguas Ameaadas, Institu-to Max Planck e Fundao Volkswagen, Alemanha) para as lnguas Kuikuro, Aweti e Trumai. Alm da obra importante de Ellen Basso, uma antroploga norte-americana que tem se dedicado a uma fna anlise de parte do acervo de narrativas dos Kalapalo, h um conjunto de estudos pontuais ou prelimi-narespraticamenteparacadaumadaslnguasalto-xinguanas(verabiblio-grafa lingustica alto-xinguana no fnal deste captulo). O artigo de Corbera Morinestelivroofereceumnovoestudonombitodamorfossintaxedo Mehinaku, uma das lnguas Arawak, ainda incipientemente documentada.Estelivrooferecemaisumestudocomparativoindito,en-treasduaslnguasTupialto-xinguanas,AwetieKamayur,realizado porSebastianDrude.Osestudoscomparativosanterioressoapenas dois:Seki&Aikhenvald(1994)sobreaslnguasArawakalto-xinguanas (Yawalapiti, Mehinaku, Wauja) e Meira & Franchetto (2005). Estesdoisltimosautoresvasculharamovocabulriobsicode lnguasKaribsetentrionaisedetrslnguasKaribmeridionais(Ikpeng, BakairieKuikuro)emumpormenorizadotrabalhodecunhohistrico-comparativo, propondo a existncia de dois ramos karib meridionais, re-sultado de duas migraes independentes, provavelmente vindo do norte do rio Amazonas e subindo o rio Xingu: o ramo alto-xinguano e o ramo pekodiano, este incluindo Bakairi e Ikpeng/Arara.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue10brunafranchetto114.1.notas sobre a lngua karIb alto-xInguanaIntroduzimosatravsdestaseoumresumodosresultadosalcan-adosatomomentopelainvestigaohistricadalnguaouramo Karib alto-xinguano em seu contexto sul-amaznico.A famlia Karib uma das maiores da Amrica do Sul, com ln-guas faladas no Brasil, nas trs Guianas, na Venezuela e na Colmbia. NasclassifcaesanterioresaotrabalhodeMeira&Franchetto,as lnguasmeridionaisArara-Ikpeng,alnguaalto-xinguanaeBakairi soquasesempreincludasnummesmogrupo(Derbyshire1999, Kaufman1994,Durbin1977).possvelhojeavaliarmaisprecisa-mente o grau de parentesco entre as lnguas meridionais com o obje-tivo de apresentar melhores argumentos a favor ou contra a hiptese de um nico agrupamento meridional. Vejamos um breve histrico.FoiKarlvondenSteinen(1886,1894)odescobridordasln-guasKaribmeridionais:Bakairi,Nahukwa,Apiak(Tocantins).Ele chamou todos os grupos karib alto-xinguanos de nahuqu, ciente de queesteerasomenteumrtuloprovisrioquesubsumiaumaconsi-dervel variedade dialetal. Krause (1936), a partir de materiais trazidos para a Alemanha pelo primo de Steinen e os coletados por Hermann Meyer,afrmavaqueumgrupochamadodeYarumhabitavaarea aolesteesudestedorioCuluene,entreoXingueoAraguaia.Os Nahuqu (Nahukwa) e os Calapalu (Kalapalo), grupos karib da ba-ciadoAltoXingu,tinhamrelaesdescontnuasenosemprepac-fcascomosYarumaolongodorioYarum(talvezorioTanguro) edorioParanayuba(hojeSuy-Miss).Finalmente,Krausepublicou umacomparaoentreYarum,ApiakdoTocantins,osdialetos Nahuqu e o Bakairi (baseado em Steinen 1892). Concluiu que havia relaes lingusticas estreitas entre Yarum e Apiak, e mais distantes com os dialetos Nahuqu. Retomando as hipteses decorrentes da pesquisa arqueolgica de Heckenberger, na primeira metade do sculo XVII, o rio Culuene sepa-rava os Karib ao leste das grandes aldeias arawak a oeste. possvel que grupos karib tenham atravessado o Culuene do leste para oeste, foran-do grupos arawak a se deslocarem para o norte e para oeste. Estes re-cm-chegados karib teriam se tornado os Karib alto-xinguanos de hoje evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue10brunafranchetto11(Kuikuro, Kalapalo, Nahukwa, Matipu). Na fgura acima, Heckenberger identifcaosstiosarqueolgicosemvoltadalagoaTahununu(noalto direita, ao leste do rio Culuene) e os conjuntos Kuhikugu e Ipatse dos antepassados karib j a oeste do rio Culuene. OutrosgruposkaribteriamdadoorigemaosYarum-Apiak, ocupandoasreasemqueMeyerosencontrou.Nocomeodosc. XX,osYarumjtinhamdesaparecidodaregioentreoaltoXingu e o Araguaia, assim como no existiam mais os Apiak do rio Tocan-tins, por epidemias e ataques de outros grupos.3 3 Ver as narrativas kalapalo sobre os Yaruma ou Jaguma em Basso (1995); h ainda descendentes de cativos Yarum entre os Suy, povo j que vive na Terra Indgena do Alto Xingu, ao leste do Posto Diauarum (Patrick Menget, comunicao pessoal).evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue12brunafranchetto13Quais as mudanas compartilhadas pelas trs lnguas Karib meridionais?Meira e Franchetto (2005) reconstruram os segmentos proto-karib, comparandocognatosdetrslnguasdosul(Kuikuro,Bakairi,Ikpeng) comcincolnguassetentrionais(Yukpa,Tiriy,Hixkaryana,Makuxi, Panare). Os cognatos encontrados na lista Swadesh foram contados e ta-bulados.Osresultadossugeremqueastrslnguasmeridionais(Bakairi, Ikpeng e Kuikuro) no formam um grupo claramente defnido. Apesar de Ikpeng e Bakairi serem mais prximos entre si do que de qualquer outra lngua Karib, a porcentagem de cognatos compartilhados entre Kuikuro e Bakairi no maior daquela entre Kuikuro e Tiriy e o compartilhamento bem menor entre Kuikuro e Ikpeng.Yukpa39 Tiriy34 55 Hixkaryana36 56 48 Makuxi32 50 45 48 Panare32 44 37 44 39 Bakairi26 46 37 41 39 51 Ikpeng30 42 36 40 41 44 45 KuikuroPorcentagens de cognatos encontrados na lista Swadesh (100 termos)A reconstruo dos proto-segmentos foi usada para determinar as mudanasquepoderiamserdefnidasparaaslnguasmeridionaisees-sasmudanasforamcomparadasdemodoaestabelecerapossibilidade de que pelos menos algumas delas pudessem ter sido compartilhadas. A concluso que h bons argumentos a favor de um sub-grupo que com-preendeBakairieArara-Ikpeng,masnoKuikuro.Este,comseusco-dialetos(Matipu,Kalapalo,Nahukwa),deveriaservistocomoumramo totalmente independente dentro da famlia Karib. Resumimos as mudan-as histricas mais signifcativas:evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue12brunafranchetto13*p >hemHixkaryanaeKuikuro;>w/V__VemBakairie Ikpeng; preservado nas outras lnguas. *n (tambm outros possveis proto-fonemas como *) > em Kuikuro(enoKaribaltoxinguanoemgeral);velarizaoemtodosos ambientes, exceto nos grupos consonantais ou em casos de emprstimos.*r >fapuvularemKuikuro,mudananocompartilhadape-lasoutraslnguasKaribmeridionais;noramoBakairi-Ikpeng,temos*l comoinovaocompartilhada,masnonoramomeridional(Kuikurol parece ter sido um fenmeno independente).*e > Kuikuro i em todos os ambientes, mas nenhuma mudana correspondente em Bakairi ou em Ikpeng.*o > Kuikuro o, e, i.* > Kuikuro e, i. * foiconservadoouperdidoatravsdereduosilbicano Karib alto-xinguano (Kuikuro).MeiraeFranchettopropuseram,ento,aexistnciadedoisramos meridionais independentes na famlia Karib: um inclui somente o Kuikuro e os seus co-dialetos alto-xinguanos e o outro inclui Bakairi e Ikpeng. No-meamosoltimosub-ramo,dePekodiano,daspalavrasBakairipekodo eIkpengpetkom,mulher.Atribumosasafnidadesentreosdoisramos, especialmenteentreBakairieKuikuro,aemprstimos,jqueumgrande nmero de Bakairi viveu, at 1920, ao longo dos rios Culiseu e Batovi, pr-ximos dos Nahukwa. Estudos comparativos so ainda necessrios para re-velar outros traos compartilhados. Por exemplo, as trs lnguas meridionais possuem um sufxo de aspecto-tempo verbal com a forma -l ou -, no encontrado nas lnguas Karib setentrionais. No claro se estamos diante de uma inovao compartilhada ou de emprstimo, talvez um trao areal. De qualquer maneira, os resultados tendem a enfraquecer a hipte-sedeumaorigemsul-amaznicadafamliaKarib,hipteseapresentada por Steinen, entre outros.4.2.encontros lIngustIcosSeki(1999)autoradonicotrabalhocomvisoabrangentedosis-temaalto-xinguano.Nestelivro,elanosapresentaumanovaverso evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue14brunafranchetto15de artigo anterior (Seki, 1999). Sua hiptese de que o Alto Xingu seria umarealingusticaincipientefundamentadaeinstiganteeprecisa serretomadaeavaliadaluzdosdadosdenovaspesquisas,sobretu-donoqueconcerneainfunciaarawak.OtrabalhodeSekiumdos rarssimosestudoscomparativosquepossamdialogarcomaetnologia e a arqueologia. Como vimos, alguns avanos foram possveis graas experinciamultidisciplinardoProjetoDOBESdedocumentaoda lnguaKuikuro(KKDP).Porisso,spodemosavanaralgumasideias ealgunsresultadosapartirdoKKDP,abrindoolequedepossibilida-des que o Projeto se propus a explorar.Areconstruodopassadoalto-xinguanoeaetnografadopre-sente pressupem dois processos opostos no que diz respeito relao entrelngua(s)ecultura(s).Deumlado,pressupeumsistemaextre-mamente estvel entre um modelo cultural especfco e uma populao linguisticamentediferenciada(osArawak).Poroutrolado,pressupe umaconsidervelplasticidadedessamesmarelaoquandoseche-gaaosgrupostupiekarib.Comoexplicarisso?Seahiptesecorre-ta,porqueosArawakteriamretidoummodeloculturaldesenvolvido 3.000anosatrsnaAmazniaCentral,enquantoKaribeTupiteriam sido moldados por este mesmo modelo, abandonando suas caractersti-cas singulares com exceo da lngua? Estaperguntapoderiaserrespondidaseestivssemosdiantede uma expanso imperial, mas no este o caso. Confitos belicosos pon-tuaram a histria das relaes entre os povos alto-xinguanos. Ao invs da predao familiarizante, uma expresso de autoria de Carlos Fausto (1999, 2001),emsuaanlisedaguerraedoxamanismonaAmaznia,aestra-tgianoAltoXingufoiaproduoderelaescadavezmaiscordiais, construindo uma identidade mais forte do que o conjunto das diferenas, atravs de trocas, festas, visitas, casamentos. A arte do envolvimento alto-xinguana uma mistura de diplomacia e manipulao que acaba domesti-cando o outro. um jogo de poder no centralizado, difuso e reticular.Aconstruodocomplexoalto-xinguano,quecomeounofnal doprimeiromilnioecontinuaathoje,mostraque,apesardaCon-quista, permaneceu um processo histrico dinmico de transformao e adaptao, de contatos e mudanas.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue14brunafranchetto15Asnarrativasmticasedehistriaoral,coletadaseanalisadasao longodoKKDPeainvestigaocomparativaconduzidapelosres-ponsveisdosProjetosDOBES,dedocumentaodaslnguasalto-xinguanasKuikuro,AwetieTrumai(veritemII),jtrouxeramalgu-masevidnciasinteressantes.Hoje,osgruposqueseauto-identifcam como autctones so os Wauja e os Mehinaku (Arawak), junto com os Kuikuro,Kalapalo,NahukwaeMatipu(Karib).Osrestantessocon-sideradosrecm-chegadosqueadentraramaregioemtemposhist-ricosequeseadaptaramaosvaloreseaomododeviverxinguano. KamayureAweti(Tupi)teriamchegadodepoisdosculoXVIII,as-sim como Yawalapiti (Arawak) e Trumai (isolada)4. Mesmohoje,adistinoentreoriginaiserecm-chegados um elemento bsico na poltica e na socialidade alto-xinguana, onde oprestgiodosprimeirosnoomesmodossegundos.5Mesmo siafronteiraentreregistromticoeregistrohistricofracamen-temarcada,jqueasnarrativasmticasincorporamfrequentemen-teeventoshistricos,umestudodasmodalidadesepistmicasnas 4 Aversoarqueolgicadestahistriacoincideapenasparcialmentecomasnarrativaslo-cais.Comofoidito,oncleoinicialparecetersidoumapopulaofalantedeArawakho-mognea.Osfalanteskaribteriamchegadodepois,talvezentreossculosXVIeXVII. HeckenbergerlocalizoupequenosaldeamentosnofortifcadosprximodolagoTahununu (extremolestedoterritriokuikuro)comestruturascirculares(2005:103-112).Asemelhan-aformaldestasestruturascomascasascoletivasdospovoskaribdaregioguianesa(eo fato de que os Kuikuro consideram Tahununu como seu territrio original) sugere que estas pequenasaldeias,compostasdeumanicacasamultifamiliarcircular,poderiamtersidode fato erguidas pelos antepassados dos Kuikuro, Kalapalo, Matipu e Nahukwa. Assim, a incor-porao dos Karib teria se dado depois ou durante o colapso do sistema das grandes aldeias fortifcadas, deslanchando a formao do sistema pluritnico e multilngue alto-xinguano.5 NalnguaKaribalto-xinguana,ospovosautctonessochamadosdekuge,distintosde ngikogo (no-xinguanos) e kagaiha (no-ndios). A palavra kuge , possivelmente, uma forma contradadopronomelivrekukuge,nsinclusivo.Kukugeformadopeloproclticode1a pessoainclusivaku(k)-eopronomelivreuge,1apessoasingular,amboscomcognatosem outras lnguas Karib. Em Bakairi, outra lngua Karib meridional, falada por grupos que par-ticiparam do sistema alto-xinguano, kur tanto a forma livre de 1a pessoa inclusiva plural e sua auto-denominao. Nas lnguas Arawak alto-xinguanas, esses povos originais so chama-dos de putaka, povo de aldeia, um termo oposto a muteitsi (Ireland 2001:257). Em Kamayur eAweti,lnguasTupi,ospovosoriginaissochamadosdehawayp(emoposioakawayp) (Bastos1977:58)emoat(emoposicoawaraju)respectivamente,enquantoemTrumaiso chamados de yaw (em oposio a adis).evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue16brunafranchetto17narrativas e no discurso kuikuro (Franchetto, 2007) aponta para uma distino entre tempo mtico e tempo histrico. Alis, os Kuikuro chamamoprimeirodequandonsramosBichos-espritos(it-sekeigelekukatamini)eosegundodequandojramosgente(ver tambm Ireland 1988, para os Wauja).Seospovosoriginaisforamcriadosdiretamentepelosheris mticos,osoutrossefzeramxinguanos.oquecontamosAweti eosTrumai,porexemplo:umprocessodetransformaodendios bravosemgentedeverdade,adotandoocerimonialismoeopaci-fsmoalto-xinguano,valoresticoseestticos,aadoodeumadie-taalimentarespecfca.OsKuikurosereferemaestaxinguanizao atravs do verbo ukugetil (tornar-se gente), termo usado para referir-setambmdomesticaodeumanimalselvagem.AwetieTrumai adotaramavisohegemnicaaofalardeseupassado.ParaosAweti contemporneos,seusancestrais(osEnumaniaeosAwytyza),chega-ram na regio provavelmente em meados do sculo XVIII. No relato deumdeseuschefesatuais,suaantigacondiodewarajusedefne peloconstanteguerrear.Suarepentinatransformaoemxinguano descrita como uma mudana da guerra para a paz, condio depen-dente da presena de grandes chefes (Coelho de Souza 2001 e narrati-vas coletadas por Sebastian Drude no mbito do Projeto DOBES). ParaAwetieTrumai,tornar-segentesignifcouincorporarati-caeaestticaalto-xinguana.NocasodosTrumai,suachegadaaoXin-gu no foi antes da metade do sculo XIX. As narrativas trumai, coleta-das por Raquel Guirardello em seu Projeto DOBES, contm referncias detalhadasaosseusantigoscostumes,totalmentediferentesdosatuais. Aqui, a nfase menos na aceitao do pacifsmo alto-xinguano e mais na adoo da esttica corporal alto-xinguana (ver tambm Monod-Becquelin & Guirardello 2001). Guirardello contribui ao presente volume com um artigo rico em novas informaes que resultam de uma anlise etno-lin-gusticadolxicotrumai,ondeoprocessohistricodexinguanizao parece estar consubstanciado em vrios domnios. Noobstanteessasorigensdesiguais,ospovosdoAltoXingure-conhecem as contribuies e as inovaes atribuveis a cada um. As nar-rativasquecontamasorigensdosvriosrituais,tantoasqueconstam evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue16brunafranchetto17das etnografas, como as coletadas no mbito dos Projetos DOBES, so evidncias disso. A chegada dos Tupi e dos Trumai enriqueceu e ampliou a vida cerimonial. A festa do Javari, por exemplo, seria de origem Trumai e Aweti, mas foi difundida atravs dos Kamayur e muitos de seus cantos so em Kamayur ou outra lngua Tupi-Guarani prxima. Os Kamayur contriburamcomoritualdasmscarasAga(emKuikuro),e,talvez, dasJakuikat.OquintetodefautasTakwaga(emKuikuro)considera-do como sendo de provenincia bakairi, grupo karib que habitou o Alto Xingu at o comeo do sculo XX.Aanlisedasrezaskuikuro(kehege,frmulasdecuraemfala cantada)mostraumamlgamalingusticoinstigante.Emtodaselas, h uma primeira parte em lngua Arawak, parcialmente compreensvel, na qual se pontua a associao com o mito de origem (a primeira exe-cuo),eumasegundaparteemlnguaKarib,hojeaindaplenamen-tecompreensvel,pelaqualpronunciadaafrmulaperformativae simbolicamente efcaz. Os cantos do Kwaryp, o ritual intertribal mais importanteecomemoraodoschefesfalecidos,contmpalavrase expressestupiekarib,comalgunscantosprovavelmentearawak.O ritual Kwaryp, to central e cujas origens mticas remontam origem da humanidade e suas espcies, um exemplo claro do processo his-trico de hibridizao que se deu ao longo dos ltimos sculos.Atabelaquesesegueresultadeumarevisodaoriginalmente elaboradaporCarlosFausto6;nela,cadaumdosrituaiskuikuroca-racterizadopelanaturezaintertribalouintratribaldesuaexecuo,par-ticularmentedodesfechofnaldocicloritual,pelosconjuntosdecan-tosassociados,pelosrituaismenoresqueoacompanham(osquevo com7, companheiros), pela identifcao de gnero de sua temtica e de seus executores e, enfm, pelas lnguas em que seus cantos so cantados.6 Novas pesquisas aprofundam a descrio de rituais, como a dissertao de Isabel Penoni so-bre o Hagaka kuikuro, ritual mais conhecido como Javari (termo tupi), defendida no PPGAS/MN/UFRJ em 2010. Novas pesquisas etno-musiclogicas sero cruciais, como a de Tommaso Montagnani e de Didier Demolin para gneros de msica instrumental e vocal Kuikuro e a de Joo Carlos Albuquerque Souza de Almeida entre os Yawalapiti (MUSA/UFSC). 7 Ikongo,emKuikuro,resultadeprocessosmorfofonolgicoapartirdei-ake-ngo(3-COM-NMLZ) > ike-ngo > ikongo. COM glosa a posposio comitativa ake; -ngo sufxo derivacional, que forma nome de advrbios e sintagmas posposicionais.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue18brunafranchetto19ritual temticaexpresses musicaisIkongocompanheIrocategoriagnerolngua(s)EgitsKwarypIntertribalMemria dechefes mortosauguhi igisVocalMasculinoKarib/ Arawak/ Tupiahogi igisVocalMasculinoatanga igisFlautas uruInstrumentalTiponhfuro da orelhaIntertribaltiponh igisVocalMasculinoArawak/ KaribHagaka JavariIntertribalHomenagem a um chefe, um especialista ritual, um mestre do arco, falecidosHagaka igisVocalMasculinoTupiJamugikumaluIntratribal com festa fnal intertribalRevolta das mulheres; origem das Ita Kueg (Hyper-mulheres)JamugikumaluigisVocalFemininoArawak/ KaribCantosjocososVocalFemininoKaribTolocantos femininos correspondentes s msicas jacuIntratribal com festa fnal intertribalAmor e saudadecantos femininos correspondentes s msicas kagutuTolo igisVocalFemininoKaribNduheTawarawanIntratribalArawak/ KaribevIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue18brunafranchetto19ritual temticaexpresses musicaisIkongocompanheIrocategoriagnerolngua(s)Nduhe hekuguFesta verdadeiraVocalMasculinoArawakKanga unduhugufesta dos peixesVocalMasculinoArawakHugokoVocal MasculinoArawakKuaku igiscanto do papagaioVocalMasculinoArawakTakwagaIntratribal com festa fnal intertribalInstrumentalMasculinoKagutufautas JacuKagutu igisCantos das fautas/ esp-ritos kagutuInstrumentalMasculinoJokokoVocalMasculinoPagapagasapoVocalMasculinoKaribHugagfesta do beija-forIntratribal Estao do pequi Kuaku kuegVocalMasculinoArawak/ KaribTsitsiVocalMasculinoArawakHge otodono da fechaVocalMasculinoArawak/ KaribGipugapeo que foi o topoVocalMasculinoArawak/ KaribevIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue20brunafranchetto21ritual temticaexpresses musicaisIkongocompanheIrocategoriagnerolngua(s)Agatipo de mscaraIntratribalVocalMasculinoTupiTahakuarcoVocalMasculinoTupiJakui katuTipo de mscaraIntratribalVocalMasculinoArawak/KaribKubTipo de mscaraIntratribalCrtica social e comentrios sobre a vida cotidianaVocalMasculino e FemininoKaribKuigi igiscantos da mandiocaIntratribalVocalMasculinoArawak/ KaribApesar de uma histria razoavelmente longa de convivncia e de trfegodepessoas,rituaiseideiasentreosdiversospovosdosistema alto-xinguano, as diferenas lingusticas se mantiveram e a lngua, inclu-sivenonveldasvariantesdialetais,continuasendoodiacrticobsico quemantmasdiferenasdinamizandoosistemacomoumtodo.O multilinguismo diacrtico levou a uma impressionante refexividade me-talingustica, tpico j abordado por Franchetto (2001, 2003, 2006).Trsnveisdistintosdeidentidadelingusticaestopresentes nodiscursonativonointeriordosistemaalto-xinguano:a)ser,por exemplo,Kuikuro(ouKalapalo,Wauja,etc.)serniconasingula-ridadelingusticadeseuprpriotomo(grupolocal,oto-mo,mestre/dono-PL);(b)serumoutroigual(otohongo)emrelaoaldeiaem quesefalaumdialetodamesmalngua;(c)sertelooutrodiferente, em relao aos que falam uma lngua geneticamente distinta. NoesteocasodosYawalapiti,cujalnguaestbeirado desaparecimento,faladapormenosdedezpessoas,emboraseja evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue20brunafranchetto21YawalapitiaaldeiaemquedominamoutraslnguasKarib,Arawak eTupi.ProvavelmentenofoiassimnosKamayurenosAwetido passado,grupostnicosquesurgiramdoamlgamadepovostupi diferentesquedeixaram,atpoucotempoatrs,osvestgiosdeva-riantes dialetais em suas aldeias, como sustenta Drude no captulo de sua autoria neste livro.Com exceo dos Yawalapiti e dos Trumai, grupos internamen-te multilngues por histrias especfcas de disperso e de casamentos intertribais,ospovosalto-xinguanossolinguisticamenteconserva-dores. No h multilinguismo interno. Quando um indivduo mora na aldeia do esposo ou da esposa falante de outra lngua, ele no usar a sua prpria lngua em situaes pblicas, mas sim no dia a dia dentro doespaodomstico;seusflhosserobilngues,mascontinuaroa usar predominantemente a lngua da aldeia em que nasceram e vivem. Os misturados (em Kuikuro, tetsual) so s vezes criticados por no serem falantes puros da lngua da aldeia em que moram.8Retomemosaquestodareflexividademeta-lingustica,fruto deumsistemamultilngue.Kuikuro,Kalapalo,NahukwaeMatipu (Karib)soditosfalaremnagarganta,paradentro,enquanto Wauja e Mehinaku (Arawak) falam para fora, na ponta dos dentes. Acomparaoressaltaqualidadesarticulatrias,comoapreponde-rnciadesonsdorsais(velareseuvulares)naslnguasKaribede coronais e palatais nas Arawak. Asvariantesdialetaistambmoperamcomodiacrticosde identidadesscio-polticasdiferenciadas.Ahistriaoralquecontaa origemdosKuikurocomopovodistintofaladeprocessosinternos defssoqueresultaramnaconstituiodeumnovogrupoapar-tirdeumaaldeiameoriginal(oti,campo,savana),daqualtam-bmseoriginaramosMatipu.Umadestasnarrativas,coletadaspelo KKDP,seconcluicomcomentriosdonarradoredeseuinterlocu-torsobreacisodialetal:aspalavras(aki)eafala(itaginhu)muda-8 A dissertao de Mutu Mehinaku, flho de me kuikuro e pai mehinaku, a ser defendida em de-zembro de 2010 no PPGAS-MN-UFRJ, ser certamente uma contribuio decisiva para a discus-so da mistura lingustica no Alto Xingu, j que seu objeto o encontro entre lnguas e dialetos na gnese e no presente desse sistema.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue22brunafranchetto23ram,afaladosKuikurosetornoureta(titage),enquantoafalados Matipu caiu (isamakil). Por outro lado, o dialeto Karib falado pelos Kalapalo e pelos Nahukwa descrito como sendo falado em curvas (thenkgegiho)ounofundo(inhukili)(Franchetto1986).Observe-se asensibilidademetalingusticasdiferenasprosdicasentreasva-riantesKaribalto-xinguanas.Contudo,taisdiferenasrtmicasno impedemqueosgruposkaribsevejam,umaooutro,comootohon-go(outroigual),falantesdevariantesdeumamesmalngua.Para osKuikuro,telo(outrodiferente)soosquefalamlnguasgeneti-camentedistintas,ArawakouTupi(Franchetto1986).9Nestelivro, Romling,FranchettoeColamarcoapresentamumestudoemfon-tica experimental que procura traduzir as diferenas dialetais Karib alto-xinguanas,rotuladasecomentadaspelosseusfalantes,nospa-rmetrosacsticoseperceptivosrelevantes,descobrindoumadis-tinortmicadramticaqueresultadepadresdedistintasinter-pretaes fonolgicas de constituintes de uma mesma sintaxe frasal. Os autores concluem que os rtulos diferenciadores so um jogo de espelhos, em que cada dialeto reto para seus falantes, como bem explicouKamanNahukwaduranteumaoficinarealizadanaaldeia matipu de Ngahnga em fim de outubro de 2009 (ver nota 9): Kitaginhu ghtuMatipu, Kalapalo, Nahukwa kingal Kuikuro akis heke, iheig (ihotag).leatehetitsilitaginhukoheke:iheig(ihotag),thenkgegihongo.Inketsapa tandmponhonkokiugupongompeinhekntel,anhainhggehaletkenkgegiko, ng hungu igei.Sagage gehale Kuikuroko heke tisitaginhu tangal, iheig gehale, thenkgegiko gehale.Inhal gitage nhani anmi.Sagage gehale titsil ihekeni, inhal gitage itaginhuko anmi.9 Um maior conhecimento da diversidade dialetal karib em sua gnese histrica e em sua rea-lidade atual ser a contribuio de dois projetos em andamento em 2010. O primeiro o pro-jetoLevantamentoScio-LingusticoeDocumentaodaLnguaedasTradiesCulturais dasComunidadesIndgenasNahukwaeMatipudoAltoXingu,fnanciadopeloFundode Direitos Difusos da Secretaria de Direito Econmico do Ministrio da Justia, desenvolvido deabril2009ajunho2010,sobacoordenaodeBrunaFranchettoeexecutadonoMuseu Nacional/UFRJ. O segundo projeto est sendo desenvolvido por Glsama Mara Ferreira dos Santos, ps-doutoranda com bolsa CNPq.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue22brunafranchetto23sobre lnguasMatipu, Kalapalo, Nahukwa falam da relao deles com a lngua Kuikuro: iheig (ihotag).Por isso falamos que a lngua deles iheig (ihotag), thenkgegikongo.Signifca como se estivesse descendo de um morro ou como quando tem curvas no caminho.DamesmaformaosKuikuroescutamanossafala:iheigi,thenkgegiko tambm. Eles ouvem diferente do que a lngua deles.Ns tambm falamos e escutamos as falas deles diferente do que a nossa lngua (principalmente a msica da lngua). Chamaaateno,noAltoXingu,ainexistnciadeumalngua franca,senoconsiderarmosadifusodoPortugusnosltimos60 anos.Istomostraqueospovoschegadosdeforanoforamabsor-vidos numa posio de submisso. Ao invs de criar uma comunidade lingustica,oprocessogeraldeincorporar,transformar,paracriaro sistema alto-xinguano, implicou na criao de uma comunidade moral. A lngua serviu para preservar as diferenas, mas um complexo siste-maderituaiseetiquetasfoicimentandoumaidentidadeenglobante. este o tema do captulo que Christopher Ball escreveu para este vo-lume:apragmtica(comportamentalediscursiva)alto-xinguanaper-miteultrapassarasfronteiraspropriamentelingusticasecomestas mantmumadialticacontnua.Oqueacontecequandoelasedepa-ra com outro outro, outro encontro, aquele entre gente xinguana e gente no-xinguana? Entre kuge e kagaiha, como diriam os Kuikuro? O equvoco irrompe e um profundo desentendimento se instaura. O Projeto Evidncias lingusticas para o entendimento de uma sociedademultilngue:oAltoXingupartiudestechoempricoe analtico,multidisciplinar,paraampliareaprofundaroestudodosis-temaalto-xinguano,emsuaprocessualidadehistricaeemsuasitua-oatual,dopontodevistaespecifcamentelingustico,chamandoa contribuiosistematizadaerefetidadospesquisadoresquehojese dedicamaoestudodesuaslnguas.OProjetofoirealizadoaolon-godedoisanos,dedezembrode2006adezembrode2008,dando continuidade, continuando o empreendimento iniciado em 2001 pelos trsProjetosbrasileirosincludosnoProgramainternacionaldeDo-cumentao de Lnguas Ameaadas (DOBES). Ao mesmo tempo, ele abriucaminhosparanovaspossibilidadesinvestigativas.Nocaptulo evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue24brunafranchetto25que se segue, Sebastian Drude apresenta a metodologia usada no Pro-jeto e desenvolvida a partir daquela primeira experincia dos projetos DOBES Kuikuro, Aweti e Trumai. 5.pesquIsadores e autores DoProjetoEvidnciaslingusticasparaoentendimentodeumasocie-dade multilngue: o Alto Xingu participaram os seguintes pesquisadores, muitos dos quais contriburam para este livro:bruna Franchetto: coordenadora; doutora em Antropologia e pro-fessoradoProgramadePs-GraduaoemAntropologiaSocial, MuseuNacional,UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro.Coorde-nouoProjetoDocumentaolingustica,histricaeetnogrfica dalnguaKaribdoAltoXinguouKuikuro(DOBES,2001-2005). PesquisadoraresponsvelpeloProjetoCNPqDocumentaode lnguas indgenas: explorao de fatos gramaticais, histricos e etno-lingusticos a partir de arquivos multimdia. lucyseKi:doutoraemLingusticaeprofessoradoInstitutodeEstu-dosdaLinguagemdaUNICAMP;atualmentepesquisadorarespons-velpeloProjetoCNPqDocumentaoeanlisedalnguaKamayur: lxico e textos narrativos. Iniciou suas pesquisas sobre o Kamayur em 1968eautoradeumagramticadamesmalngua;coordenouvrios projetos e orientou dissertaes e teses sobre lnguas do Alto Xingu.angelcorberamori:doutoremLingusticaeprofessordoInsti-tutodeEstudosdaLinguagemdaUNICAMP;pesquisadorrespon-svelpeloProjetoCNPqAnliseedescriodalnguaMehinaku (Arawak, aldeias Uwatana e Ipiaipioco), desde 2004.raquelguirardello-damian:doutoraemLingustica,professora daUniversityof theWestof England/UWEepesquisadoraasso-ciadadoMuseuParaenseEmlioGoeldi;coordenouoProjetoDo-cumentao da lngua Trumai (DOBES, 2001-2005). Autora de uma gramtica de referncia da lngua Trumai.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue24brunafranchetto25sebastiandrude:doutoremLingusticapelaUniversidadeLivre deBerlin,pesquisadorassociadodoMuseuParaenseEmlioGoel-di. Coordenou o Projeto Documentao da lngua Aweti (DOBES, 2001-2005).christopherball:doutoremAntropologiaeLingusticadaUni-versidadedeChicago(EUA).NapocadavignciadoProjeto,de-fendeutesededoutoradonaUniversidadedeChicago,sobregne-rosdefala,registrosverbaisecontextosdecomunicaoentreos WaujaenoAltoXingu.hojeprofessordoDartmouthCollege, nos Estados Unidos. glsamamaraFerreiradossantos:napocadoProjeto,ainda doutorandaemLingustica,UFRJ;concludasuapesquisadedou-torado sobre a morfologia kuikuro em 2007, hoje ps-doutoranda (CNPq)comprojetodeinvestigaocomparativadasvariantesda lngua Karib alto-xinguana (Kuikuro, Kalapalo, Nahukwa, Matipu).6.colaboradoresmichael J. hecKenberger: professor da Universidade da Flrida (EUA); etno-arquelogo, conduz pesquisas em arqueologia pr-histrica e hist-ricanoterritriokuikurodesde1992;pesquisadorprincipaldoProjeto Southern Amazonia Ethnoarchaeological Project (com o MN/UFRJ e o Museu Goeldi, National Science Foudation 2004-2005).carlos Fausto: doutor em antropologia pelo PPGAS/MN/UFRJ e pro-fessornestamesmainstituio,coordenaprojetosdepesquisasobreri-tual,economiaepolticaentreosKuikurodesde2003efoicuradorda exposio Tisakis: tradio e novas tecnologias da memria.Kristinesuestenzel:ps-doutorandanoPPGASMN/UFRJsoba supervisodaDra.Franchetto,hojedocentedoDepartamentodeLin-gustica da UFRJ; linguista com PhD na Universidade de Colorado, espe-cialistaemlnguasdafamliaTukano,noroeste amaznico,regiocarac-terizada por um sistema indgena multilngue e multitnico.evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue26brunafranchetto27srgio meira de santa cruz oliveira: professor da Universidade de Leiden(Holanda),pesquisadorassociadodoMuseuParaenseEmlio Goeldi; linguista com doutorado na Universidade de Rice (EUA). Es-pecialista em estudos descritivos e histrico-comparativos das lnguas Karib e Tupi. Coordenou o Projeto DOBES Documentao das ln-guasBakairi(Karibmeridional),Kaxuyna(Karibsetentrional)eSa-ter-Maw (Tupi).glauber romling da silva: bolsista de Iniciao Cientfca/CNPq-UFRJ atfevereiro2007,continuadesenvolvendo,sobaorientaodeBruna Franchetto,projetodedocumentaoeanlisedalnguaParesi-Haliti (Arawak meridional); concluiu o mestrado em 2009 e agora doutorando no Programa de Ps Graduao em Lingustica-UFRJaline varela: bolsista de Iniciao Cientfca (PIBIC-UFRJ) e hoje mes-trandaemlingusticanaUFRJcomprojetosobremarcadoresepistmi-cos na lngua Kuikuro.referncIas bIblIogrfIcasEsta bibliografa no pretende ser exaustiva no que concerne a litera-turaexistentesobreoAltoXingu,sejaelalingusticaouetnogrfca. Aquiestonoapenasosttuloseautorescitadosnopresentecap-tulo,comotambmosincludosnoProjetoCNPqEvidnciaslin-gusticasparaoentendimentodeumasociedademultilngue:oAlto Xingu, com algumas atualizaes.BALL,ChristopherG.2007.Outof thePark:Trajectoriesof Wauja (Xingu Arawak) Language and Culture. PhD Diss., University ofChicago.BARCELOSNETO,Aristteles.2008.Apapaatai:RituaisdeMscarasno Alto Xingu. So Paulo: EDUSP.BASSO,EllenB.1973.Theuseof Portugueserelationshiptermsin Kalapalo(XinguCarib):changesinacentralBraziliancommunicative network. Language in Society, no 2 (1-21).evIdncIas lIngustIcas para o entendImento de uma socIedade multIlngue26brunafranchetto27______. 1985. A musical View ofthe Universe. Philadelphia: University ofPennsylvania Press.______. 1987. In Favour ofDeceit. Tuscon: The University ofArizona Press.______. 1995. The Last Cannibals. Austin: University ofTexas Press.BASTOS,RafaelJosdeMenezes.1978.AMusicolgicaKamayur:para uma antropologia da comunicao no Alto Xingu. 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O objetivo de um grupo de pesquisadores, sobretudo linguistas, foi o de ampliar e aprofundar as respostas hoje possveis a uma questo central para o conhecimento das socie-dades e das lnguas nativas das terras baixas da Amrica do Sul, em particular da Amaznia meridional: quais foram (e quais so hoje) os processo de gnese ereproduodosistemaindgenamultilngueemultitnicoconhecidocomo AltoXingu.Procurandorespostasemumtrabalhodemontagemdeumaes-pciedequebra-cabeabasicamentehistrico,soabordadassucessivamente e, em seguida, de modo interligado, as contribuies da arqueologia, da etnol-gica e da lingustica. Esta ltima mereceu um detalhamento maior e especfco, dado que a perspectiva lingustica, entre os possveis olhares sobre o fenme-no, foi eleita como o foco de interesse para lanar uma ponte com outros cam-pos de produo de conhecimentos.Palavras-chave: Alto Xingu; Multilinguismo.ABSTRACTThischapterisanintroductiontothebookandthesetof textsthathave goneintoitsmaking.Themultidisciplinaryprojectleadingtotheworkshop heldin2008andtothispublication,allwiththesametitle,stemmedfrom the experience accumulated through earlier research projects. The objective ofthegroupof researchers,primarilylinguists,wastobroadenanddeepenthe answers that we can now obtain to a question central to the understanding ofthe native societies and languages ofthe South American lowlands, especially southernAmazonia:namely,whatwere(andwhataretoday)theprocesses of genesisandreproductionresponsibleforthemultilingualandmultiethnic indigenoussystemknownastheUpperXingu.Seekingresponseswithinan enterprisethatbasicallyresemblespiecingtogetherahistoricaljigsawpuzzle, thebooksuccessivelyexaminesininterconnectedformthecontributionsofarchaeology,ethnologyandlinguistics.Thelatterreceivesmoredetailedand specifcattention,sincethelinguisticapproach,amongthevariouspossible ways ofexploring the phenomenon, was chosen as the focal point for building bridges with other felds ofknowledge production.Key-words: Upper Xingu; Multilingualism.s ebas tI andrude39Introduo: comparando as lnguas do alto xInguO sistema alto-xinguano famoso por incluir vrios povos que compar-tilhamdiversostraosculturaiseconvivemnumconstanteintercmbio material e simblico. Ao mesmo tempo, eles mantm sua individualidade e,emparticular,suasrespectivaslnguasouvariedadeslingusticas,1que so um dos emblemas mais importantes para o estabelecimento de fron-teiras sociais entre os diferentes grupos locais. Estapublicaotratadasrelaesentrealgumasdaslnguasalto-xinguanasedosrefexoslingusticosdaconvivnciacultural,polticae social que caracteriza a maioria dos povos do Alto Xingu. 1 Noquesegue,usootermolnguanosentidoscio-polticomaisdoqueestritamente lingustico.Assim,abstraiodofatoqueosWaujaeosMehinakusocapazesdesecomu-nicar uns com os outros sem problemas e sem um ter aprendido a variedade do outro ou seja,dofatodequesetrata,nocaso,dedoisco-dialetosdeumamesmalngua(outro dialeto desta lngua era, provavelmente, o falar dos Kustenau, j no mais existentes como grupo local distinto). O mesmo vale para as variedades da lngua Karib alto-xinguana fala-das por Kuikuro, Kalapalo, Matipu e Nahukwa. comparando lnguas alto-xinguanasmetodologIa e bases de dados comparatIvos sebas tI andrudeJohann Wolfgang Goethe-Universitt Frankfurt/Main Museu Paraense Emlio Goeldicomparando lnguas alto-xInguanas40s ebas tI andrude41Embora o foco da maioria dos autores seja dirigido a uma lngua particular,precisoinvestigarosaspectosglobaisdaconfguraolin-gustica desta rea, pois queremos desvendar indcios que as respectivas lnguas podem oferecer sobre o complexo sistema cultural abrangente e seu desenvolvimento histrico. Provavelmente, o processo da formao dosistemadeixouvestgiosnasdiferenteslnguas.possvelqueelas possamcontribuircomfatosrelevantesparadeterminarosmomentos (e sua ordem relativa) em que os distintos grupos entraram em contato comosdemais?provvelqueasparticularidadeseaindividualidade de cada grupo se refitam de uma forma ou de outra em distintas pro-priedades lingusticas. E afnal, qual exatamente o papel das lnguas na defniodealteridadesnoAltoXingu?Estasquestesforamformu-ladaseinicialmenteabordadasporBrunaFranchetto(e.g.,2001),mas com bases empricas ainda incipientes.Portanto, para comear a responder a tais perguntas, foi necessrio conceberumprojetomaiorearticulado,numacooperaoquevisasse comparar as lnguas (ou variedades).Ora, como se comparam entes to complexos e abstratos como ln-guas, que convivem num sistema que j foi chamado de rea cultural?Postuloaquiquehquatronveisemquevaleparticularmen-tecompararmosdadoslingusticosparaavanarnaanlisedequestes como as mencionadas acima.1.a estrutura das lnguas, isto , seu sistema sonoro (fontica, fo-nologia) e grama tical (morfologia e sintaxe com seus respectivos compo-nentes semnticos). Se h traos compartilhados (tais como fones raros, categorias e estruturas gramaticais compartilhadas etc.), pode ser possvel distinguirtraosdeumarealingustica(emsurgimento)(cf.Seki,1999 enestevolume).Paraistonecessriotambmobservarasproprieda-des anlogas de outras lnguas na regio, para diferenciar traos que dis-tinguem as lnguas alto-xinguanas das demais na mesma rea geogrfca, condio necessria para falar numa rea lingustica.2.olxicopodeseranalisadotantocomrespeitoaregularidadese particularidades formais (padres de composio, derivao e semelhan-tes) quanto a sua estrutura semntica (cate gorizaes e relaes sistemti-comparando lnguas alto-xInguanas40s ebas tI andrude41cas compartilhadas ou diferenciais). O lxico tambm pode revelar deta-lhes e a intensidade do contato entre os povos no passado e no presente, como por exemplo, atravs de emprstimos (entre as lnguas, ou emprs-timos compartilhados provenientes de outras lnguas).3.odiscurso.Emdiversassituaes,osfalantesdecadalnguafa-zem uso dos recursos estruturais e do vocabulrio da lngua de uma for-maespecialporexemplo,paraintroduzirumnovofatoouumanova personagem numa narrativa. Como dirigir-se ao outro, quais frmulas se usamnafalaritual,aonarrar,aofalarempblico,comumamigo,na famlia?Qualaestrutura,aordememtextostradicionais,quaistpi-cosfguramproeminentementeounoaoversarsobreumdadoassun-to? Estes tipos de propriedades lingusticas costumam escapar da anlise meramentegramaticalelexical.necessrioanalisardiversasinstncias de textos para descobrir padres que ultrapassem o uso casual por parte dosindivduosourecorrnciasacidentais.Soestespadresosquepo-demtertraoscompartilhadosporcertacomunidadelingustica,como o caso dos grupos que compem o sistema alto-xinguano e como o caso do sistema como um todo.4.o contedo. Alm de ver com quais meios (estruturais, lexicais e retricos)osAlto-Xinguanosseexpressam,podemosedevemosobser-var o que eles dizem. Aqui ultrapassamos o campo da lingustica propria-mente dita e entramos em reas afns da antropologia e dos estudos lite-rrios, em particular quando estudamos o contedo de mitos e narrativas tradicionais. Aqui tambm procuramos o que compartilhado e o que particular de cada grupo. Isto pode trazer insights relevantes e reveladores sobre o sistema do Alto Xingu.evidentequeumprogramadepesquisacomoodelineadoaqui requeracontribuiodetodososlinguistasparticipantesdopresente projeto e possivelmente de outros e especialmente requer tempo. O primeiro passo juntar dados e materiais das e nas diferentes lnguas,demodoaterumaprimeirabaseparaacomparao.Para oprimeironvelaestruturaprecisamosdeanlisesdetalhadase globais das lnguas alto-xinguanas. At recentemente dispnhamos de comparando lnguas alto-xInguanas42s ebas tI andrude43apenasduasgramticasdescritivas(Seki,1999,paraoKamayur,ea teseinditadeGuirardello,1999,sobreoTrumai)edeumconjun-to de artigos, descritivos e tericos, bem como de duas teses inditas sobreoKuikuro,umadasvariantesKarib(Franchetto1986;Santos, 2007). Os participantes do Projeto que esto contribuindo para o pre-sentevolume,esto,assim,construindoecompletandosuasanlises atravsdepesquisasaindaemcursooudoaprofundamentodees-tudosjapresentadosoupublicados.Paraosegundonvel,precisa-mos de bases de dados lexicogrfcas extensas, idealmente dicionrios abrangentes2,etambmbasesdedadosmaisespecfcas,cobrindo, por exemplo, campos semnticos selecionados.Paraoterceironvele,emparticular,paraoquartonvel,preci-samos de verses comparveis de textos, especialmente verses de um mesmo texto, como de uma narrativa ou de um depoimento anlogos. Emseguida,comumnmeromaiordedadossobreousodaslnguas emsituaescotidianas,aindateremosmuitooquedescobrirsobrea organizaododiscurso.Felizmente,emprincpio,hojepossvelob-terestematerial,graastecnologiaatualemetodologiadedocu-mentaolingusticadesenvolvidanosltimosanosemprogramasde pesquisacomooELDP(EndangeredLanguagesDocumentationProject)eo DOBES(DokumentationbedrohterSprachen,DocumentaodeLnguas Ameaadas, cf. Drude 2006).Partindo da experincia acumulada de alguns dos autores em proje-tos de documentao lingustica, surgiu a iniciativa de levantar e organizar materiais que pudessem servir para estudos comparativos no Alto Xingu. Dadooestadoatualeopotencialparaaanlisecomparativa, focalizamos,numaprimeiraetapa,osegundo(lxico)eoquartonvel (contedo)e,portanto,priorizamosaobtenodelistascomparveis depalavras(coleeslexicogrfcas)etextosanlogosemseislnguas (ou variedades): Famlia KaribKaribalto-xinguano(variedadeKuikuro;responsveisprincipais: Bruna Franchetto e Mara Santos)2 Nenhum dicionrio sobre alguma lngua alto-xinguana foi publicado at hoje.comparando lnguas alto-xInguanas42s ebas tI andrude43Famlia (tronco) tupiAweti (responsvel principal: Sebastian Drude) Kamayur (subfamlia Tupi-Guarani; responsvel principal: Lucy Seki)Famlia arawaKMehinaku (responsvel principal: Angel Corbera Mori)Wauja (responsvel principal: Christopher Ball)trumaiLngua isolada (responsvel principal: Raquel Guirardello-Damian)Umdesideratumparaofuturoincluirsistematicamenteasoutras variantes do Karib alto-xinguano (em particular, Kalapalo, mas tambm Matipu e Nahukwa), a lngua Bakairi3, tambm da famlia Karib, e a ln-gua Yawalapiti (Arawak, sem ser co-dialeto de Mehinaku e Wauja).Conforme dissemos, como primeiro passo, concordamos em cole-tar material lexicogrfco e textos de gneros e tpicos diferentes.Nasprximasduasseesdestecaptulo,especifcoquaissoos materiaisqueosparticipantesdoProjetoconcordaramemlevantar,eli-citare/ougravar(lexicaisetextuais), paraanlisesrealizadasoufuturas, semprenocontextodeumempreendimentocomparativo.Certamente, com tais metas e metodologia, trata-se de um projeto de carter explora-trio e, sob vrios aspectos, inovador no panorama brasileiro.1.lIstas comparatIvas de palavrasO lxico de uma lngua refete a histria, a cultura, a cosmoviso, as ins-tituiessociaisepolticasdosseusfalantes.Parapodercompararpala-vrascomsignifcadosemelhanteoupertencentesaummesmocampo semnticoprecisoterumaboadescriolexicogrfcadalngua,no somente com tradues para outras lnguas, mas com descries explica-tivas(defnies)dossignifcados,idealmentenalnguavernculaena lngua dominante. No h ainda dicionrios dessa natureza abrangentes 3 Foi iniciada cooperao com o linguista Srgio Meira, da Universidade de Leiden (Paises Baixos) e que vem se dedicando documentao da lngua Bakairi.comparando lnguas alto-xInguanas44s ebas tI andrude45e que possam servir para a comparao das lnguas do Alto Xingu. Sendo assim,abaseparaacomparaofoieestsendoorganizadapelospr-prios participantes deste projeto.Selecionamosalgumasreasdolxicoparaasquaisqueremosle-vantar o inventrio lexical de cada lngua, partindo de listas de termos em Portugus que devem servir para elicitar termos com signifcados seme-lhantes nas respectivas lnguas. Estas reas so:termosculturaischaves(incluindoosrelativosaosmuitos rituais alto-xinguanos),artefatos (incluindo instrumentos musicais e elementos da es- trutura da casa tradicional),termos do parentesco, partes do corpo, animais: mamferos, peixes, aves. As listas esto em formato de tabelas (ver tabelas Termos Culturais e Artefatos, nos anexos do livro), onde cada termo em Portugus constitui o ponto de referncia de uma linha. O ideal um formato em que os v-rios termos de uma lngua alto-xinguana, que de alguma forma correspon-demaotermoemPortugus,ouquesorelevantesparaacomparao, sejamrelacionadosclaramentecomotermoemPortugus.Porenquan-to, usamos clulas mescladas dentro de uma tabela em formato spreadsheet, masestamosprocurandoeexplorandooutrasformasmaisapropriadas, especialmente para poder transformar os nossos bancos de dados em ou-tros formatos a serem usados com outros softwares. Neste contexto, um problemageralqueasdiferenciaessemnticasemumalnguanoso necessariamente idnticas s de outra lngua, e com cada lngua a comple-xidade das correspondncias e divergncias cresce exponencialmente.Nas listas atuais, para cada lngua h vrias colunas no mnimo uma para a palavra correspondente na lngua e usualmente uma segunda para um comentrioouumaexplicao,especialmentesehalgumadivergnciase-mntica. Algumas vezes h uma coluna para uma glosagem detalhada, espe-cialmente no caso de termos compostos ou derivados; ou pode haver uma coluna com comentrios forma lingustica mais do que ao signifcado.Passamos a dar algumas informaes gerais sobre as listas de pala-vras e o material coletado at fnal de agosto de 2008.comparando lnguas alto-xInguanas44s ebas tI andrude451.termos culturaisEstalistacomeouasercompiladaem2001porBrunaFranchettoe, atualmente,contm47termosemPortugusparaconceitosbsicose centraisnaculturaalto-xinguana,taiscomoaldeia,alma/sombra,ca-minho,chefe,etc.Comoquasetodasaslistas,osdadoscoletadosj esto reunidos em formato Excel, com uma folha para o histrico da ta-bela (registrando mudanas e acrscimos). Atualmente, a tabela possui 60 linhas, visto que em algumas lnguas h mais do que um termo para um dado termo em Portugus. A verso mais nova contm os termos corres-pondentes em todas as seis lnguas e pode ser lida no Anexo 1.2.termos relacionados a rituaisEsta lista, de certa forma, uma expanso da anterior, e foi recentemente elaborada por Carlos Fausto com Bruna Franchetto, do grupo de pesqui-sa Documenta Kuikuro; trata-se de um dos primeiros resultados do traba-lho de documentao dos rituais, cantos e msicas, iniciativa dos prprios Kuikuro.Porenquanto,umdocumentodetextoecontmsomenteos termos em Kuikuro. Esta lista em forma de tabela apresenta os nomes dos rituais,amaioriapan-xinguanos,emencionapropriedadesdasmsicas/cantos relacionados. Para cada ritual especifca o companheiro (vrios ri-tuais so percebidos como relacionados ou em pares), a categoria (verbal/instrumental),sexodosparticipantesprincipais(feminino/masculino),a topologia dos cantos (ordenados ou no), a lngua ou lnguas destes cantos e a sua quantidade quando associados (em sutes e peas).4 Veja-se a ta-4 A documentao dos rituais kuikuro est vinculada a diferentes projetos concludos ou em andamen-to: coordenados por Carlos Fausto e com a participao de Bruna Franchetto: Programa Demonstra-tivodosPovosIndgenas(PDPI)Projeto:Documentriosobreocicloecolgicodopequi,suafesta e histrias (aldeia Ipatse, Kuikuro, Alto Xingu, Estado do Mato Grosso); Projeto Rituais Kuikuro do Alto Xingu: Tradio e Novas Tecnologias da Memria. Documenta Kuikuro, Vdeo nas Aldeias, As-sociao Indgena Kuikuro do Alto Xingu. Petrobrs Cultural, MinC (Pronac: 056552), 2006-2008; Pro-jeto de Pesquisa CNPq, Edital Cincias Humanas 2005, Projeto Uma arqueologia do tempo presente (fase III msica, linguagem e aprendizagem); Auxlio Pesquisa CNPq, Edital Universal 2006, Projeto Arte, Imagem e Memria: Uma Antropologia Xinguana do Ritual; Bolsa de Pesquisa Faperj Cientista do Nosso Estado 2006, Projeto: Arte, Memria e Ritual na Amrica Indgena: Horizontes de uma An-tropologia da Imagem. 2007-2008; Projeto CAPES-COFECUB Arte, Imagem, Memria: Horizontes de uma antropologia da arte e da cognio (co-coordenador Carlos Severi, EHSS, Frana). 2007-2010. Fausto e Franchetto so tambm curadores da exposio Tisakis: Tradio e Novas Tecnologias da Memria, Rio de Janeiro: Museu do ndio. 2006-2007 e Museu de Artes e Ofcios de Belo Horizonte 2008-2009.comparando lnguas alto-xInguanas46s ebas tI andrude47bela apresentada no primeiro captulo deste livro, bem como os coment-rios que a acompanham.3.arteFatosEst uma lista bastante ampla (mais do que 330 linhas, para aproximada-mente220termosemPortugus)ecompleta(dadosparaquasetodosos itens, para Aweti, Kamayur, Kuikuro, Mehinaku, Trumai e Wauja). A lista contm termos como abanador, braadeira, arranhadeira e os principais alimentos, como os diferentes tipos de beiju de polvilho de mandioca, alm de incluir itens que no so da cultura tradicional, como caneta (ver tabela no anexo). Futuramente, a cada termo ser associada uma imagem e uma fcha tcnica5, possibilitando, assim, uma comparao precisa.4.instrumentos musicaisTrata-sedeumtipodeartefatoemdestaquenaculturaalto-xinguana (comooscantosdosrituaissedestacamentreostermosculturais),e por isto merece uma lista a parte, proposta mais recentemente, em 2006. Altimaversopossuiostermospara16itensemAweti,Kamayur, Kuikuro e Trumai. A tabela ainda est em estado preliminar.5.construo da casaAcasatradicionalprovavelmenteoartefatomaiscomplexodoAlto Xinguecadacomponenteematerialtemumtermoespecfco.Jque todososAlto-Xinguanosconstroemmaisoumenosomesmotipode casa, vale a pena comparar estes termos. A tabela (j no formato padro, comhistrico)amaisrecenteeaprimeiraquecontacomumcon-junto de fotografas pertencentes ao arquivo digital da documentao da lngua Kuikuro (Bruna Franchetto), como parte da documentao da ln-gua Kuikuro (DOBES, 2001). Estas fotos foram submetidas a tratamento grfco por Sebastian Drude em 2007 de modo a permitir a identifcao das partes da casa referidas pelos termos indgenas alto-xinguanos, como mostram as duas imagens reproduzidas abaixo:5 Para a elaborao de fchas tcnicas, indispensvel a consulta obra de referncia de Berta Ri-beiro, Dicionrio de Artesanato Indgena, So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1988.comparando lnguas alto-xInguanas46s ebas tI andrude47Amelhorformadeacoplar os itens lexicais s fotografas ain-daestsendoinvestigadaeauti-lidadedestematerialestsendo testada com a maioria das lnguas. Porenquanto,alistatemaproxi-madamente50termosetemos dadosparaAweti(50termos), Kamayur (30) e Kuikuro (30).6.Termos de parentescoEstecamposemnticoumdos maisfundamentaisparaqualquer anliseantropolgicaecostuma estarentreosprimeirosaserem coletadosemqualquerpesquisa decampo.Jqueosconceitos soextremamenteestruturados (constituemumsistemadescrit-velcompoucosparmetros,comogerao,sexodeegoealter,con-sanguinidadeouafnidade,etc.),notemosdadosemumasimples lista,massim,umatabelaestruturadaparacadalngua.verdade queaestruturadestatabela(usualmentecomaproximadamente40 posies/ clulas) pode variar de lngua para lngua, isto , a abrangn-comparando lnguas alto-xInguanas48s ebas tI andrude49cia de um termo grafcamente, o tamanho da clula pode divergir. Em geral, todavia, as tabelas providenciam uma forma razoavelmente adequada para a comparao. At o momento obtivemos dados com-pletos de quatro lnguas (Aweti, Kamayur, Kuikuro e Trumai).7.partes do corpo e termos aFins Estalistasurgiuapartirdajunodaselicitaesbaseadasemdi-ferentesmanuaisparaacoletadedados,inclusivemapasdocor-pohumano,masculinoefeminino,evdeosdidticosnocasodo Kuikuro. Alm dos termos para partes do corpo propriamente dito, htermosparasecreta(lquidos,secreeseoutrassubstnciaspro-duzidaspeloorganismohumano).umalistabastanteampla(atu-almentetemosaproximadamente330linhas)eaindaprecisaser organizadamaiscoerentemente,poisalgunstermosemPortugus so vagos ou equivalentes a outros. Isto ocorre, em parte, por causa domaterialheterogneoquefoiusadoparaaelicitao.Portanto, provvelqueonmerodelinhasdiminuasensivelmentedepoisde umareorganizao.Observamosadificuldadededeterminarcom preciso o referente de um termo, j que se trata s vezes de pontos, s vezes de reas e j que pontos e reas referidos por um termo em Portuguscoincidemraramentecomopontooureareferidopor aquele termo na lngua indgena. Assim, por exemplo, a traduo de palavras como quadril, ombro, coxa, no imediata e pressupe umaelicitaocuidadosa.Atualmentetemosdadossomentepara duas lnguas: 180 termos para o Kuikuro e 220 para o Aweti. 8.mamFeros Os mamferos constituem uma classe menor, mas usualmente saliente, de animais. Temos uma tabela de 77 linhas, com os nomes em vern-culo e cientfco de cada animal. Utilizamos obras de referncia para a elicitao6, mas ainda no resolvemos se e como ns poderemos citar e reproduzir as imagens-estmulo no nosso banco de dados. A ltima 6 Emmons, L. H., and F. Feer. Neotropical rainforest mammals: a feld guide. Chicago: The University ofChicago Press, 1990. Eisenberg, Jolan. Mammals ofthe Neotropics The Northern Neotropics vol. 1, Chicago: The University ofChicago Press. 1989.comparando lnguas alto-xInguanas48s ebas tI andrude49versoincluidadosmaisoumenoscompletosparaAweti,Kuikuroe Trumai.9.peixes Nocontextoalto-xinguano,omundodos peixes central,tanto no mbitomitolgicocomonaalimentao.Infelizmente,aidentifica-ocorretadepeixesnoumatarefaparano-especialistasepre-cisariadacolaboraodeumictilogo,aindamaisporquenoh bancosdedadosbiolgicosparaaregiodoAltoXingu.Poren-quanto,trabalhamoscomalgumasobrasderefernciagerais7,com ilustraes. Organizamos um notvel conjunto de fotografias tiradas na rea indgena por Franchetto, Santos e Fausto. A tabela resultan-tetemaproximadamente85linhas,nonecessariamentecompletas, econtmdadosdetrslnguas(Aweti,KamayureKuikuro),que precisam de verificao.10.avesComo os peixes, as aves so importantes no plano mitolgico e, para os Xinguanos,algumasespciestambmservemcomoalimento.Apesar de terem sido usadas referncias comuns8, as difculdades de identifca-o so ainda maiores, por isto vale o mesmo que foi dito acima para a lista dos peixes. A necessidade de colaborao profssional por parte de ornitlogossefazurgentejnasituaoatualdatabelaresultante:ela tem 365 linhas, mas provavelmente muitos sinnimos e casos em que a diferena ou identidade devem ser verifcadas. Temos 240 e 230 termos para Aweti e Kuikuro, com vrias repeties9. Para o Kamayur, temos uma lista de 120 termos que tambm precisa de reviso. 7 Cabalzar,Aloisio(org.),PeixeeGentenoAltoRioTiqui.SoPaulo:InstitutoSocioambiental. 2005. L. Lauzanne e G. Loubens. Peces del Rio Mamor. Paris: Ed. de IOrstom, 1985. J.C. de Olivei-ra (org.), A contribuio do setor eltrico ao conhecimento de novos peixes. Rio de Janeiro: Eletrobrs, 1999. 8 Frisch, Johan Dalgas. Aves Brasileiras. So Paulo: 1981.v.1. Sick, Helmut. Ornitologia Brasileira, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001. Santos, Eurico. Pssaros do Brasil: vida e costume. Belo Ho-rizonte: Col. Zoologia Braslica, vol.5. 1979.9 possvel que um termo possa cobrir vrias espcies, especialmente se estas pertencem a uma mesma famlia, mas, s vezes, bastam algumas propriedades em comum para termos um engano na identifcao da espcie.comparando lnguas alto-xInguanas50s ebas tI andrude512.textos comparatIvosApropostametodolgicadegravar,analisarecomparartextosan-logosbemmaisrecentedoqueacomparaodelistasdepalavras (amplamente aplicada desde o sculo XIX, especialmente no contexto do mtodo histrico-comparativo). Portanto, estamos entrando numa novareadeinvestigaoeonossotrabalho,emparte,decarter pioneiro e exploratrio.Para a fase inicial, ns nos propomos reunir um conjunto de seis tex-tos pertencentes a cinco diferentes gneros10 e com diferentes temticas:narrativa mtico-histrica sobre a origem do grupo/povo, narrativa mtica sobre a origem da mandioca, descrio da aldeia, descrio do procedimento para a construo da casa tradicional, descrio ou explanao da recluso pubertria masculina e feminina. Aexecuodecadatextofoioudevesergravadaemudioe, quando possvel, em vdeo. Para a sua comparao, precisamos anotar os textos, isto , no mni mo transcrever (na lngua original) o que foi dito e traduzi-lo para o Portugus. Para isto, podemos aplicar a meto-dologia desenvolvida nos ltimos anos no contexto da documentao lingustica11.Paraacomparaodocontedo,fazemosusoprincipal-mentedatraduo(paraoPortugus,oupossivelmenteparaoIn-gls). Comeamos por uma estruturao que facilita o descobrimento detpicosoufgurascompartilhadas,oudiferenasnaorganizao dos respectivos textos.Estetrabalhofoirealizado,atomomento,somenteparaKui-kuro,TrumaieAweti,apartirdegravaesrealizadasaolongodos projetos de documentao no contexto do programa DOBES. 10 Usamos aqui uma concepo instrumental e talvez algo ingnua de gneros uma concepo mais sofsticada teria que levar em considerao as categorias nativas, sendo que alguns dos textos em questo provavelmente no pertencem a nenhuma categoria tradicional, mas so artefatos no-vos produzidos em funo do trabalho de documentao.11 Para uma viso geral e detalhada da metodologia, ver Drude (2006).comparando lnguas alto-xInguanas50s ebas tI andrude511.histria da origem do grupo/povoNormalmente, este um texto cannico, parte da tradio oral e da me-mriacoletiva.Comoocorreparaoutrostextos,relevantequepossa haver diferentes verses, por diferentes tradies, herdadas por diferentes narradores.Poroutrolado,umamesmanarrativapodeterversesexe-cutadaspelomesmocontadoremcontextosdiferentes,comfnalidades diferentes,12 sendo, por exemplo, mais ou menos extenso, ou salientando ou omitindo certos detalhes. importante documentar, como parte dos metadados, quem contou a narrativa, para quem e em qual contexto. O que de interesse primordial neste caso a anlise do contedo (nvel 4). Este diretamente relevante para a reconstruo do passado do sistemaalto-xinguano,servindocomopontoderefernciaparacompa-raes com, por exemplo, dados arqueolgicos (ver o artigo introdutrio de Franchetto neste volume). Cada narrativa, novamente, uma verso e ela deve ser interpretada luz dos fltros da memria individual e coletiva edaestruturadaarticulaoentrepersonagenseeventos.Divergncias na postulada ordem da chegada dos respectivos grupos ao sistema alto-xinguano podem ocorrer, at por motivos polticos. 2.mito da origem da mandiocaComoamandiocaafontemaisimportantedecarboidratosdos Xinguanos,omitodesuaorigemfazpartedoinventrionarrativo detodososgruposeprovavelmentedoinventriocompartilhado portodososgruposdoAltoXingu.Divergnciasdocontedo(n-vel 4) e em detalhes como o ordenamento de