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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL BRUNA DE OLIVEIRA MARINI DO JORNALISMO IMPRESSO AO DIGITAL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO PROJETO ESPECIAL AMÉRICA VERMELHA NO JORNAL ZERO HORA CAXIAS DO SUL 2017

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

BRUNA DE OLIVEIRA MARINI

DO JORNALISMO IMPRESSO AO DIGITAL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE

PRODUÇÃO DO PROJETO ESPECIAL AMÉRICA VERMELHA NO JORNAL

ZERO HORA

CAXIAS DO SUL

2017

2

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

BRUNA DE OLIVEIRA MARINI

DO JORNALISMO IMPRESSO AO DIGITAL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE

PRODUÇÃO DO PROJETO ESPECIAL AMÉRICA VERMELHA NO JORNAL

ZERO HORA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II. Orientadora: Profª Ma. Adriana dos Santos Schleder

CAXIAS DO SUL

2017

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BRUNA DE OLIVEIRA MARINI

DO JORNALISMO IMPRESSO AO DIGITAL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE

PRODUÇÃO DO PROJETO ESPECIAL AMÉRICA VERMELHA NO JORNAL

ZERO HORA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia II, do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul.

Aprovada em: __/__/____

Banca Examinadora

______________________________________________ Profª. Ma. Adriana dos Santos Schleder Universidade de Caxias do Sul - UCS ______________________________________________ Profª. Dra. Marlene Branca Sólio Universidade de Caxias do Sul - UCS ______________________________________________ Prof. Me. Marcell Bocchese

Universidade de Caxias do Sul - UCS

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu pai, Gelson, por me proporcionar a oportunidade de cursar

Jornalismo. À minha madrinha Maristela pela total dedicação e apoio nesta trajetória.

À minha mãe, Luciane, por entender minha ausência nesse período.

Amigos Angelo Luís Scopel, Débora Debon e Pâmela Pelizzaro, muito

obrigada por toda a ajuda durante a elaboração desta monografia. Vocês são muito

especiais. Ao meu namorado, Jeferson, por me incentivar sempre que preciso.

À jornalista Amanda Munhoz pela receptividade na redação de Zero Hora, em

Porto Alegre.

Professora Adriana dos Santos Schleder, obrigada por aceitar o desafio de

ser minha orientadora. Sem você esse processo seria muito mais difícil. Agradeço

também aos demais docentes do curso e funcionários do Cetel pela convivência e

aprendizado.

5

RESUMO Esta monografia tem por objetivo investigar de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do conteúdo ofertado nas mídias do veículo de comunicação. Para conduzir a pesquisa, foram criadas três hipóteses: a convergência digital muda a forma de compreensão do conteúdo jornalístico; o leitor é beneficiado com a convergência digital, pois recebe um conteúdo mais amplo e detalhado; o jornalismo impresso ganha com as novas possibilidades de interação na internet. O método utilizado foi a Análise de Conteúdo, juntamente com as técnicas de revisão bibliográfica, entrevista e observação. Os temas abordados a partir da revisão bibliográfica são a Evolução do Jornalismo Impresso no Brasil, a Convergência Digital e o Jornalismo Digital. Com o desenvolvimento do processo metodológico, foi possível perceber que o leitor do jornal impresso ganha novas possibilidades de interação ao apropriar-se do conteúdo disponível na plataforma online. Dessa forma, quanto mais se investe em tecnologia, mais completo e interativo será o material apresentado. Palavras-chave: Jornalismo Impresso. Convergência Digital. Jornalismo Digital. Jornal Zero Hora. Projeto América Vermelha.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema de Análise de Conteúdo desenvolvido por Bardin .................... 48

Figura 2 – Registro da visita da pesquisadora ao jornal Zero Hora ........................... 58

Figura 3 – Capa do jornal Zero Hora de 16 de agosto de 2016 ................................ 61

Figura 4 – Superstição de Fernando Carvalho .......................................................... 64

Figura 5 – Fernandão ergue a taça de campeão da Libertadores............................. 66

Figura 6 – Infográfico Quem Foram os Campeões ................................................... 67

Figura 7 – Chamada para conteúdo online ............................................................... 68

Figura 8 – Print Screen da aba Os Adversários ........................................................ 71

Figura 9 – Print Screen da chamada para o web documentário................................ 74

Figura 10 – Print Screen do gif do ex-jogador Tinga ................................................. 75

Figura 11 – Capas do jornal Zero Hora na época da competição ............................. 77

Figura 12 – Imagem dos campeões .......................................................................... 78

Figura 13 – Quiz Pinte a América de Vermelho ........................................................ 79

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 09

2 EVOLUÇÃO DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL .......................... 12

2.1 O COMEÇO .................................................................................................. 12

2.2 A TECNOLOGIA INVADE AS REDAÇÕES .................................................. 16

2.3 O JORNALISMO IMPRESSO NO RIO GRANDE DO SUL ........................... 19

3 CONVERGÊNGIA DIGITAL .......................................................................... 23

3.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTERNET .................................................. 23

3.2 TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES .............. 26

3.3 VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO E NOVAS PERSPECTIVAS MIDIÁTICAS 30

4 JORNALISMO DIGITAL ............................................................................... 33

4.1 DIFERENÇAS ENTRE JORNALISMO IMPRESSO E DIGITAL .................... 33

4.2 A NOTÍCIA NO JORNALISMO DIGITAL ....................................................... 36

4.3 AS FERRAMENTAS DO JORNALISMO DIGITAL ........................................ 39

5 METODOLOGIA ........................................................................................... 43

5.1 MÉTODO ....................................................................................................... 43

5.1.1 Pré-análise ................................................................................................... 43

5.1.2 Exploração do material ............................................................................... 45

5.1.3 Tratamento dos resultados obtidos e interpretação ................................ 46

5.2 TÉCNICAS .................................................................................................... 48

5.2.1 Revisão bibliográfica .................................................................................. 49

5.2.2 Entrevista ..................................................................................................... 50

5.2.2.1 Desenvolvimento das entrevistas ............................................................... 51

5.2.2.1.1 Perfil dos Entrevistados ........................................................................... 52

5.2.3 Observação .................................................................................................. 54

5.2.3.1 Objeto de pesquisa .................................................................................... 55

5.2.3.1.1 O jornal Zero Hora ................................................................................... 55

5.2.3.2 Corpus da pesquisa.................................................................................... 56

5.2.3.3 Relato da visita ........................................................................................... 56

8

6 ANÁLISE DE CONTEÚDO ......................................................................... 60

6.1 JORNALISMO IMPRESSO ......................................................................... 60

6.2 JORNALISMO DIGITAL .............................................................................. 70

6.2.1 Transposição de conteúdo ....................................................................... 70

6.2.2 Jornalismo Digital na prática ................................................................... 73

6.2.3 Convergência Digital em benefício do leitor ........................................... 80

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 84

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 87

APÊNDICES ......................................................................................................... 94

ANEXOS ................................................................................................................ 97

9

1 INTRODUÇÃO

O jornalismo impresso sempre me atraiu. Quando criança, o fato de ver ideias

e notícias serem transformadas em texto, intercaladas com fotografias e artes

gráficas, chamava muito a minha atenção. Mesmo sabendo da importância dos

acontecimentos factuais, foram as grandes reportagens1 que despertaram a minha

vontade de cursar Jornalismo. Quando um assunto relevante para a sociedade é

explorado os leitores são beneficiados com boas histórias.

Porém, as mudanças tecnológicas ocasionadas com o advento da internet2

causaram grande impacto no jornalismo tradicional. Com a instantaneidade da web3,

não é preciso mais esperar o jornal impresso para ler as notícias. Uma vez que a

maioria das pessoas tem acesso à rede, as grandes reportagens também passaram

a ocupar o meio online4. Hipertextos5 recheados com imagens, vídeos e links6 são

encontrados facilmente na plataforma. O resultado da união entre o jornalismo

impresso e a mídia digital despertou em mim a vontade de apresentar as

possibilidades de desenvolvimento de conteúdo com foco na convergência digital.

Por isso, a pesquisa analisa o processo de produção do projeto especial

América Vermelha7 no jornal Zero Hora. A reportagem aborda os 10 anos da

primeira conquista do Internacional na Copa Libertadores da América. Publicada na

edição impressa do dia 16 de agosto de 2016, a matéria conta a história do título

1 É uma reportagem com conteúdo aprofundado, muita apuração e um olhar diferenciado sobre certo tema, que pode resultar em milhares de caracteres ou horas documentais. Disponível em: <http://casperlibero.edu.br/onde-esta-grande-reportagem/>. Acesso em: 24 set. 2016. 2 É uma rede de computadores interligada, que possibilita o acesso a informações sobre e em qualquer lugar do mundo. Disponível em: <http://www.significados.com.br/internet/>. Acesso em: 4 set. 2016. 3 Sistema de informações ligadas através de hipermídia que permitem ao usuário acessar uma infinidade de conteúdos através da internet. Disponível em <http://www.significados.com.br/?s=web>. Acesso em: 4 set. 2016. 4 Significa "em linha" ou "conectado". Disponível em <http://old.knoow.net/ciencinformtelec/informatica/online.htm>. Acesso em: 4 set. 2016. 5 É, em sua definição, uma forma de escrita e leitura não linear, com blocos de informação ligados a palavras, partes de um texto ou, por exemplo, imagens. Disponível em <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do-texto/hipertexto.html>. Acesso em: 24 set. 2016. 6 É uma palavra em inglês que significa elo, vínculo ou ligação. Disponível em <https://www.significados.com.br/link/>. Acesso em: 19 dez. 2016. 7 Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/noticias/2016/08/12/zh-lembra-os-10-anos-da-primeira-

libertadores-conquistada-pelo-inter/>. Acesso em: 2 dez. 2016.

10

conquistado pelo time de futebol em 2006. No site8 do jornal, a aba destinada ao

especial9 apresenta conteúdo multimídia como web documentário10, quiz11 e vídeo.

Pertencente ao Grupo RBS, o jornal Zero Hora (ZH), com sede em Porto

Alegre, tem investido tanto no impresso quanto no digital. Um bom exemplo é a

superedição de fim de semana, que conta com os cadernos Vida e Fíndi e as

revistas ZH DOC e Donna. E uma das fortes apostas no online são os Projetos

Especiais ZH – seção onde encontra-se o material que será analisado na pesquisa.

Com base na análise da reportagem publicada no jornal impresso e do projeto

especial disponível no site, essa pesquisa busca responder a questão norteadora:

de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na

apropriação do conteúdo ofertado nas mídias do veículo de comunicação?

Neste sentido, o objetivo geral segue na mesma linha: investigar de que forma

a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do

conteúdo ofertado nas mídias do veículo de comunicação. Quanto aos objetivos

específicos, planeja-se contextualizar o jornalismo impresso desde o surgimento até

o século XXI; definir o que é convergência digital; avaliar a influência da internet na

produção do conteúdo no jornalismo impresso; caracterizar os processos de

produção da notícia no jornalismo impresso e no jornalismo online; analisar o

processo de produção do projeto especial América Vermelha, do Jornal Zero Hora;

entrevistar profissionais do Jornal Zero Hora que estiveram envolvidos na produção

do projeto.

Para nortear a pesquisa, foram criadas três hipóteses: a convergência digital

muda a forma de compreensão do conteúdo jornalístico; o leitor é beneficiado com a

convergência digital, pois recebe um conteúdo mais amplo e detalhado; o jornalismo

impresso ganha com as novas possibilidades de interação na internet.

8 Informações divulgadas através de páginas virtuais. No contexto das comunicações eletrônicas, website e site possuem o mesmo significado. Disponível em <http://www.significados.com.br/?s=site>. Acesso em: 5 set. 2016. 9 Disponível em <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/america-vermelha/>. Acesso em: 2 jul. 2017. 10 É um “sistema” multimídia, normalmente acessado pela Internet, que reúne informações em diferentes formatos – textos, áudios, vídeos, fotos, ilustrações e animações – a respeito de um tema específico, permitindo ao espectador o controle na navegação, a interação e a participação. Disponível em: <http://webdocumentario.com.br/para-saber-mais/mas-afinal-o-que-e-webdocumentario/>. Acesso em: 12 dez. 16. 11 Jogo de questionários que tem como objetivo fazer uma avaliação dos conhecimentos sobre determinado assunto. Disponível em: <https://www.significados.com.br/quiz/>. Acesso em: 12 dez. 16.

11

A partir do desenvolvimento metodológico da pesquisa foram produzidos sete

capítulos. O capítulo 2, Evolução do Jornalismo Impresso no Brasil, apresenta o

desenvolvimento dessa mídia desde o seu surgimento até a atualidade, tanto no

âmbito nacional como estadual. O capítulo 3, Convergência Digital, aborda a

evolução histórica da internet e contextualiza as mudanças ocasionadas pelo

surgimento das tecnologias na sociedade da informação. Além disso, aponta o

impacto dessas tecnologias nos veículos de comunicação tradicionais.

O quarto capítulo, Jornalismo Digital, parte de uma comparação entre a

prática do jornalismo nos meios digital e impresso. A produção da notícia na internet

e as possibilidades de interação na plataforma também são assuntos apresentados.

O método adotado para a realização da pesquisa, Análise de Conteúdo, de

Laurence Bardin, encontra-se no capítulo 5, Metodologia. Para auxiliar no

desenvolvimento da monografia foram utilizadas as técnicas de revisão bibliográfica,

entrevista e observação. No capítulo 6 encontra-se a Análise de Conteúdo,

elaborada a partir da revisão bibliográfica, das entrevistas coletadas e da

observação da pesquisadora ao conteúdo coletado.

No capítulo 7, Considerações Finais, encontra-se a resposta da questão

norteadora e a confirmação ou não das hipóteses da pesquisa.

12

2 EVOLUÇÃO DO JORNALISMO IMPRESSO NO BRASIL

A mídia impressa tem um papel relevante na história mundial. Muito antes da

chegada da internet, o jornalismo impresso foi o meio de comunicação responsável

por manter os leitores atualizados acerca dos acontecimentos. Dessa forma, neste

capítulo serão abordados fatos sobre o desenvolvimento desta mídia no âmbito

nacional e estadual.

2.1 O COMEÇO

Em comparação com outros países e continentes, os impressos no Brasil

tiveram seu surgimento tardio. O primeiro jornal brasileiro foi lançado em 1808, após

a chegada da corte portuguesa e da criação da Impressão Régia, onde a censura

prévia era exercida. Em 1º de junho de 1808, Hipólito José da Costa editou a

primeira edição do Correio Braziliense, em Londres. O periódico foi impresso

clandestinamente na Europa para não ser censurado. Segundo Marco Morel, no

capítulo Os primeiros passos da palavra impressa (2015), o jornal abordava

problemas da Colônia e cruzava o oceano para ser distribuído por aqui.

De acordo com Nelson Werneck Sodré, no livro História da Imprensa do Brasil

(1999), apesar de ser redigido em Londres, o Correio Braziliense foi o precursor do

jornalismo impresso no Brasil. Porém, conforme Morel (2015), antes de 1808 já

existia um número superior a 300 obras de autores brasileiros. As publicações

incluíam, além de livros, impressos anônimos, com relatos de festas e

acontecimentos, e até manuscritos de escritores clássicos. Além disso, outros jornais

produzidos na Europa eram lidos no Brasil. Morel (2015, p. 30) esclarece que “desde

1778, por exemplo, a Gazeta de Lisboa circulava pela América portuguesa, inclusive

no Rio de Janeiro”.

Em setembro de 1808, três meses após o surgimento do Correio Braziliense,

passou a circular a Gazeta do Rio de Janeiro, redigida primeiramente pelo frei

Tibúrcio da Rocha. Após quatro anos, o novo redator era Manuel Ferreira de Araújo

Guimarães, também responsável pelos periódicos O Patriota (1813-14) e O Espelho

(1822). O cônego Vieira Goulart redigiu a Gazeta em 1820, após o movimento liberal

português. Morel (2015) aponta que a Gazeta atuava como as gazetas européias de

Antigo Regime, circulando no ambiente do Estado absolutista, área de competições

13

simbólicas e não de relações monolíticas. Sobre os dois primeiros periódicos a

circularem no Brasil, o autor revela que:

é comum colocar-se, em estudos históricos, a contraposição entre a Gazeta do Rio de Janeiro (enquanto jornal oficial) e o Correio Braziliense (que fazia críticas ao governo). Porém, uma comparação atenta indica que, além dessa evidente dicotomia oposição/situação, existiam convergências entre estes dois periódicos. Tanto a Gazeta quanto o Correio defendiam idêntica forma de governo (monárquica), a mesma dinastia (Bragança), apoiavam o projeto de uma união luso-brasileira e comungavam o repúdio às ideias de revolução e ruptura, padronizado pela crítica comum à Revolução Francesa e sua memória histórica durante a Restauração (MOREL, 2015, p. 31).

O surgimento dos impressos no início do século XIX trouxe também a opinião

pública. Para Morel (2015, p. 33), “a opinião pública era um recurso para legitimar

posições políticas e um instrumento simbólico que visava transformar algumas

demandas setoriais numa vontade geral”.

Em 1821, a imprensa teve um grande passo: Dom Pedro I decretou o fim da

censura prévia. Ricardo Noblat, no livro A arte de fazer um jornal diário (2004, p.

166), revela que “no mesmo ano surgiu o Diário do Rio de Janeiro, considerado o

primeiro jornal informativo do país”. Uma linha do tempo com a cronologia da história

do jornal no Brasil12, divulgada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), revela

que a circulação do Diário do Rio de Janeiro, criado por Zeferino Vito de Meireles,

começou em 1º de junho. Publicado até 1878, o Diário foi o periódico criado antes da

Independência que circulou por mais tempo. Ainda segundo a cronologia, o ano de

1821 também foi marcado pelo lançamento do Conciliador do Reino Unido, o

primeiro jornal privado brasileiro, editado por José da Silva Lisboa.

Os primeiros jornais a circularem pelo Brasil refletiam a sociedade que viria a

tornar-se a nação brasileira. O início da imprensa foi marcado por figuras que

defendiam o estilo panfletário, conhecido por características marcantes como a

capacidade de persuadir e atacar, linguagem literária e sátira, enquanto outros

resguardavam o governo. Porém, de acordo com Morel (2015), nem todos os jornais

seguiam o caminho do debate político. É o caso do Jornal do Commercio (1827) e

do Diário de Pernambuco (1825), que tinham sua linha editorial mercantil e noticiosa.

Segundo Morel (2015), os periódicos sobreviviam conforme as condições da

época, em um país recém-independente que tinha como objetivo constituir-se em

12 Disponível em: <http://www.anj.org.br/cronologia-jornais-brasil/>. Acesso em 17 mar. 2017.

14

nação. Após a primeira fase dos impressos, o periodismo teve foco nas causas

políticas, deixando um pouco de lado as manifestações literárias. Por outro lado, os

jornais desempenhavam um papel relevante como prestadores de serviço.

O Jornal do Commercio representava o jornalismo do Império. Conforme Ana

Luiza Martins, no capítulo Imprensa em tempos de Império (2015), antes chamado

de Espectador Brasileiro, o periódico criado pelo francês Pierre Plancher tinha maior

número de editorias e caderno de economia. Plancher investiu em equipamentos e

operários qualificados. A autora ressalta que o jornal foi reaberto em 1º de outubro

de 1827 como Jornal do Commercio e atualmente é apontado como o mais antigo

diário da Amércia Latina a circular de forma regular desde o seu surgimento.

Além do jornalismo, os veículos também tinham a responsabilidade de

divulgação dos anúncios. Martins (2015) explica que os jornais atendiam a demanda

de uma sociedade que procurava por serviços variados.

A função veiculadora comercial da imprensa foi além da divulgação de negócios, pois desde a década de 1820 figurou como instância oportuna na formação de um mercado livre, instrumento valioso para empregado e empregador (MARTINS, 2015, p. 55).

Quando o jornalismo político já não era mais o principal assuntos dos jornais,

em meados do século XIX, abriu-se espaço para o folhetim de pé de página. O

conde de Monte Cristo, publicado no Jornal do Commercio, foi o precursor do

gênero. Entre 1852 e 1878 também destacaram-se folhetins como Memórias de um

sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, no Correio Mercantil; O

Guarani, de José de Alencar, no Diário do Rio de Janeiro; A mão e a luva, em O

Globo, e Iaiá Garcia, em O Cruzeiro, ambos de Machado de Assis. Com o declínio

de outros temas, Martins (2015, p. 69) explica que, “ao lado do folhetim, a crônica e

o conto ocuparam as páginas daquela imprensa periódica, gêneros que permitiram

ao literato brasileiro colocar-se em letra impressa”.

A implantação da ferrovia no Rio de Janeiro, em 30 de abril de 1854, fez as

ideias circularem e a imprensa progredir no país, trazendo outro ritmo ao Império. A

mídia impressa chegou ao interior e os jornais transformaram-se em um negócio

rentável. Martins (2015, p. 71) afirma que a rapidez da informação neste período

“imprimia outro ritmo à notícia e à própria escrita, que deveriam ser ágeis, breves,

telegráficas”.

15

De acordo com Martins (2015), no último período do século XIX, o sistema

centrou-se em três temas recorrentes: crises entre a Igreja e o Estado, a insatisfação

dos militares com o Império e a campanha da Abolição. A autora relata que “todas

elas foram habilmente trabalhadas pela pena dos jornalistas de plantão, contrapondo

uma Monarquia que sufocava a uma República que libertava” (p.73).

Além do conteúdo, evoluções tecnológicas marcaram o meio impresso à

época. No livro História Cultural da Imprensa (2010), Marialva Barbosa define a

linotipo13 como uma “maravilhosa invenção”. A invenção surgiu primeiramente nos

jornais cariocas, em 1892. Conforme a autora, a tecnologia avançou para o resto do

país no século XX.

A possibilidade de compor com mais rapidez o texto permite, por exemplo, a ampliação do número de páginas dos jornais. Mas talvez a mudança mais drástica tenha sido a possibilidade de se atualizar as informações num prazo temporal mais curto (BARBOSA, 2010, p. 26).

Com a Proclamação da República, em 1889, o Império chegou ao fim. Martins

(2015, p. 79) explica que no período “cumprira-se a fase heroica do jornalismo

brasileiro, arrebatado pelos ideais de gerações que fizeram da imprensa o

instrumento eficaz da crítica ao regime, arauto quase exclusivo das forças

descontentes”.

Durante a Primeira República (1889-1930), a imprensa era diversificada.

Maria de Lourdes Eleutério, no capítulo Imprensa a serviço do progresso (2015),

conta que ainda havia espaço para a política, mas a urbanização promoveu novos

eixos de notícia.

Nesse período de transformações, a imprensa conheceu múltiplos processos de inovação tecnológica que permitiram o uso de ilustração diversificada – charge, caricatura, fotografia –, assim como aumento de tiragens, melhor qualidade de impressão, menor custo do impresso, propiciando o ensaio da comunicação de massa (ELEUTÉRIO, 2015, p. 83).

A autora revela que tais avanços fizeram da imprensa uma grande empresa.

Para potencializar o seu consumo, os impressos (jornal, revista e cartaz) eram

aliados às melhorias dos transportes, engrandecendo os meios de comunicação. Por

13 Linotipo: trata-se de um tipo de máquina de composição de tipos de chumbo, inventada em 1884 pelo alemão Ottmar Mergenthaler. A linotipia provocou, na verdade, uma revolução porque venceu a lentidão da composição dos textos executada na tipografia tradicional, onde o texto era composto à mão, juntando tipos móveis um por um. Disponível em: <http://portal.imprensanacional.gov.br/museu/acervo/linotipos>. Acesso em 17 mar. 2017.

16

isso que a imprensa escrita foi, durante décadas, um veículo de superioridade no

Brasil. Porém, com muitos obstáculos, entre eles, a ação da censura.

Quando instalou-se na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, em 1906, o Jornal

do Brasil possuía o maior parque gráfico da imprensa brasileira. Além disso, cada

jornalista tinha a sua máquina de escrever. Dentre as novidades, conforme Eleutério

(2015, p. 88), “o periódico também inovou por ser dos primeiros a estampar em suas

edições tiras das histórias em quadrinhos e uma página dedicada aos esportes”.

O período da República foi marcado pelo progresso. As transformações

ocorridas e a crença na evolução do país eram destaque nas páginas de jornais e

revistas sob vários gêneros literários, entre eles crônicas, reportagens e entrevistas.

De acordo com Tania Regina de Luca, no capítulo A grande imprensa na

primeira metade do século XX (2015), a compra do O Jornal (Rio de Janeiro, 1919)

por Assis Chateaubriand em 1924 marcava o início do que culminou nos

conglomerados Rede Globo e Diários Associados. A autora Marialva Barbosa (2010)

conta que Chateaubriand desenvolveu uma série de mudanças no periódico:

[...] além da ampliação do número de páginas, da inclusão de textos de colaboradores de renome, como Afrânio Peixoto, Virgilio de Melo Franco, entre outros, passa a comprar artigos exclusivos do New York American Syndicate, para assim imprimir ao periódico o que na época se chama “um estilo cosmopolita” (BARBOSA, 2010, p. 77).

Por outro lado, com Getúlio Vargas no poder (1930), a grande imprensa

sofreu modificações. Segundo Luca (2015), alguns jornais pararam de circular, uns

perderam parte de seu brilho, e houve até os que trocaram de dono e alteraram sua

linha editorial.

A imprensa no Estado Novo, a partir da década de 1930, era controlada pelo

Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. O órgão era responsável por

checar as informações e tentar impedir novas publicações. Após a Segunda Guerra

Mundial, em 1945, e o fim do governo de Getúlio Vargas, em 1954, mais desafios

estavam à espera dos jornais.

2.2 A TECNOLOGIA INVADE AS REDAÇÕES

Com o avanço tecnológico, a mídia impressa acabou perdendo espaço para

outros meios de comunicação de massa, como o rádio e a televisão. Noblat (2004)

17

declara que, até meados da década de 1960, os jornais eram a fonte primária de

informação das pessoas.

As máquinas de escrever marcaram as redações do país. No capítulo

Revolução tecnológica e reviravolta política (2015), Luiza Villaméa relata que o

surgimento do computador nos anos 1980 causou uma mudança drástica no fazer

jornalístico.

Usado no começo como uma máquina de escrever sofisticada, o computador acabou com a papelada e o ruído excessivos. Aos poucos, foi se incorporando de tal forma ao cotidiano do ofício que passou a fazer as vezes de editor e arquivo pessoal (VILLAMÉA, 2015, p. 249).

Ainda na década de 1980, uma mudança feita na Folha de S.Paulo

influenciou toda a imprensa: a opinião foi delimitada apenas aos editoriais e colunas

assinadas. À época, muitos conceitos que integravam o Manual Geral da Redação

foram introduzidos na rotina da maioria dos veículos de comunicação do Brasil.

Villaméa (2015, p. 255) afirma que “entre os fundamentais está a necessidade de o

jornalista apresentar ao leitor os diversos lados da história”.

Conforme Villaméa (2015), com a chegada da internet, na segunda metade

dos anos 1990, o jornalista passou a ter o poder de publicar seus textos online e,

sem demora, obter o retorno do leitor. A autora também destaca que o Jornal do

Brasil passou a ser o primeiro periódico brasileiro a ter uma versão na internet, em

1995. Em 2010, após quase 120 anos circulando no meio impresso, o periódico

passou a atuar somente na plataforma online. Segundo uma matéria publicada na

Folha de S.Paulo14, o jornal voltaria a circular nas bancas do Rio de Janeiro em maio

de 2017.

O surgimento de novas tecnologias modificou a relação da imprensa com a

sociedade. No capítulo O meio é a mensagem: a globalização da mídia (2015),

Cláudio Camargo explica que:

a “revolução digital” rompeu as fronteiras que antes separavam as três formas tradicionais de comunicação: o som, a escrita e a imagem. Permitiu o surgimento e o avanço da internet, que representa um quarto modo de se comunicar, uma nova maneira de se expressar, de se informar, de se distrair (CAMARGO, 205. p 270).

14 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/02/1859877-jornal-do-brasil-muda-de-controlador-e-volta-as-bancas-do-rio.shtml>. Acesso em 17 abr. 2017.

18

No capítulo Do jornal impresso ao digital: novas funções comunicacionais

(2002), Héris Arnt revela que a euforia do jornalismo na internet confirma a

adaptação do meio quando o objetivo é informar. Segundo o autor, no início, a

tecnologia auxiliou no processo de modernização das redações (com a substituição

das máquinas de escrever por computadores). Dado esse passo, o avanço também

favoreceu a comunicação entre as editorias do jornal. O autor complementa

afirmando que “quando os jornais começaram a fazer edições on-line não sabiam

para onde iam, nem por que o faziam, mas tinham a intuição de que se não fizessem

acabariam por desaparecer” (p. 224).

Ainda de acordo com Arnt (2002), as novas tecnologias são responsáveis

pela especialização entre as diferentes mídias. O autor aponta que “o jornal

impresso conserva a sua formatação original em “mosaico”, abrigando a pluralidade

de assuntos, temas, enfoques que refletem os diversos segmentos em que se

fragmenta a sociedade” (p. 232). Já para Noblat (2004), o modelo dos jornais está

em situação de risco. O autor aponta que “somente uma mudança radical de

conteúdo, aqui e em qualquer outro lugar, será capaz de prolongar a lenta agonia

dos jornais” (p. 17).

A expansão do jornalismo na internet causou polêmica acerca do futuro dos

jornais impressos. Porém, conforme Arnt (2002), a característica da tecnologia digital

é complementar o meio impresso.

Os meios tecnológicos digitais representam uma nova etapa do jornalismo, um novo meio, um novo suporte, mas não uma ruptura na maneira de criar e comunicar os conteúdos do pensamento. A possibilidade de acesso aos jornais recentes e antigos, bem como a arquivos primários de informação, modifica o patamar da comunicação cuja característica passa a ser a acessibilidade aos conhecimentos e aponta para o potencial de informação sobre sociedade (ARNT, 2002, p. 237).

Antes de aprofundar o estudo sobre a comunicação na internet, é preciso falar

sobre a história do jornalismo impresso no Rio Grande do Sul, Estado onde está

situado o veículo de comunicação objeto de estudo da pesquisa.

19

2.3 O JORNALISMO IMPRESSO NO RIO GRANDE DO SUL

Visto que a monografia trata de um veículo da capital gaúcha, o subtítulo

sobre o jornalismo impresso no Rio Grande do Sul se dará pelos veículos de

comunicação de Porto Alegre.

No livro Tendências do Jornalismo (2003), Francisco Rüdiger afirma que os

primórdios da imprensa na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul estão

ligados ao processo político que culminaria na Revolução Farroupilha. O primeiro

jornal do Estado foi o Diário de Porto Alegre, em 1827. Assim como os periódicos

dos demais estados do país, suas páginas também versavam sobre o governo. O

autor salienta que 32 jornais foram criados no Rio Grande do Sul em um período de

oito anos. “Entre eles mencionemos O Constitucional Rio-Grandense, Sentinela da

Liberdade, O Noticiador, O Recompilador Liberal e o Mercantil do Rio Grande” (p.

21).

No começo, a imprensa gaúcha caracterizou-se por um jornalismo de cunho

político. Rüdiger (2003, p. 21) aponta que “nesse contexto, não constitui exagero

afirmar que a imprensa foi o bastidor intelectual da Revolução Farroupilha. Nas

páginas dos jornais se gestaram as ideias que radicalizaram o processo político e

levaram ao movimento”.

O período pós-revolução foi marcado pelo jornalismo político-partidário. De

acordo com Rüdiger (2003, p. 35), o surgimento desse modelo “[...] está ligado ao

processo pelo qual a classe política transformou a imprensa em agente orgânico da

vida partidária”. O autor explica que o jornalismo foi favorecido com a forma político-

partidária, visto que, nessa fase, ele tornou-se formador da opinião pública. Os

jornais veiculavam a opinião dos partidos na sociedade.

O desenvolvimento agrícola e comercial, a partir da década de 1860,

contribuiu para o progresso da imprensa. Segundo Rüdiger (2003, p. 37-38), “os

jornais foram aos poucos perdendo seu caráter artesanal e passando à fase da

manufatura, baseada na tecnologia da máquina a vapor, com consequente melhoria

na qualidade gráfica”.

Conforme Fábio Rausch, no livro O Jornalismo Sensacionalista na Imprensa

Gaúcha (2015), muitos jornais surgiram a partir de 1852, deixando um pouco de lado

a política e cedendo espaço para outros interesses do público, como humor,

ilustrações e variedade de notícias.

20

Rüdiger (2003) explica que após a fase político-partidária, predominante

desde meados do século XIX até a década de 1930, o jornalismo gaúcho entrou em

uma nova fase: jornalismo informativo e indústria cultural. O jornal Correio do Povo,

fundado por Caldas Júnior em outubro de 1895, foi o precursor do gênero

informativo. Para Rausch (2015, p. 45), isso ocorreu “muito devido à clara proposta

de linha neutra, pautada, tão somente, pela informação jornalística, algo inovador

para um período profundamente influenciado por divisões entre facções ideológicas”.

Segundo Rüdiger (2003), com o fortalecimento das empresas jornalísticas e o

padrão noticioso em alta, o Correio do Povo teve fortes investimentos em sua

estrutura tecnológica. De acordo com o autor, a nova fase cedeu espaço para a

concorrência entre os jornais.

Entre 1910 e 1940, não foram poucas as folhas de boa feitura gráfica e conteúdo editorial de qualidade que procuraram conquistar um espaço nos quadros do novo jornalismo gaúcho, principalmente em Porto Alegre. Na capital, a modernização das relações sociais havia progredido, possibilitando uma diminuição da dependência da imprensa em relação ao campo político, conforme patenteava a trajetória do Correio do Povo (RÜDIGER, 2003, p. 73).

Enquanto isso, no interior do Estado, Rüdiger (2003) aponta que o jornalismo

era marcado pela falta de verba para a criação de empresas jornalísticas modernas.

O povo supria suas necessidades de informação por meio dos jornais da capital. O

autor explica que o avanço dos meios de transporte facilitou a forma de distribuição

dos periódicos. Porém, apesar das dificuldades, vários jornais conseguiram espaço

e modificaram o cenário da imprensa do interior do Rio Grande do Sul.

Entre eles, merecem menção A Razão, o Jornal do Povo (Pelotas, 1938-1949), a Folha da Serra (Cruz Alta, 1937-1966), a Folha do Povo (Rio Grande, 1939-1955), O Nacional (Passo Fundo, 1925), o Diário da Manhã (Passo Fundo, 1935) e O Pioneiro (Caxias do Sul, 1948) (RÜDIGER, 2003, p. 88).

Em Porto Alegre, durante o Regime Militar (1964-1985), no ano de 1964, um

acontecimento movimentou a imprensa gaúcha. Rausch (2015, p. 49) relata que

“uma nova ideologia ganhava relevo na imprensa regional”. O grupo Rede Brasil Sul

de Comunicação (RBS) comprava o jornal a Última Hora, de Porto Alegre, que

passou a ser chamado de Zero Hora. De acordo com Rüdiger (2003), a RBS tornou-

21

se um aglomerado formado por rádio, jornal e televisão em ascensão no Rio Grande

do Sul.

[...] o grupo desenvolveu novos métodos de gestão empresarial em seus veículos, baseando seus negócios na inovação tecnológica de suas instalações e na qualificação mercadológica de seus respectivos produtos. Enquanto isso, seus concorrentes permaneceram aferrados aos padrões empresariais que haviam determinado o seu sucesso nas primeiras décadas do século, ignorando as transformações econômicas, sociais e culturais em curso no contexto de reestruturação monopolística do capitalismo, verificada no país a partir da segunda metade da década de 1950 (RÜDIGER, 2003, p.107-108).

Rüdiger (2003) explica que, em 1969, Zero Hora foi o primeiro jornal da região

sul a implantar a impressão off-set, o que gerou uma reforma em seu parque gráfico.

No ano seguinte, com o Grupo RBS no controle total do periódico, mudanças no

método de gestão e na linha editorial foram realizadas. O objetivo era aproximar-se

do leitor e também expandir-se. Em decorrência disso, Rüdiger (2003, p. 109) afirma

que “[...] Zero Hora tornou-se não só a folha de maior venda avulsa no Estado, mas

a maior em tiragem”.

A partir dos anos 1970, os veículos de comunicação passaram por

modificações. Conforme Rausch (2015), nessa época o Correio do Povo circulava

simultaneamente com a Folha da Manhã e a Folha da Tarde, ambas da empresa

Caldas Junior.

Rausch (2015) afirma que o advento da tecnologia indicou novos caminhos

para o jornal, a revista, o rádio, a televisão e a internet. Nesse contexto, em 1993, o

Grupo RBS adquiriu o jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul, fundado em 1948. Outro

periódico criado pelo grupo, o Diário Gaúcho, de Porto Alegre, começou a circular

em 17 de abril de 2000. Este, por sua vez, é um jornal popular voltado

principalmente para as classes C, D e E. Dentre as novidades, o portal eletrônico

ClicRBS também entrou em funcionamento no ano 2000.

Além do citado Diário Gaúcho, que ganha mais uma versão, dedicada a tratar de curiosidades de artistas e novelas (Diário Gaúcho TV + Novelas), o grupo aposta na integração entre seus veículos, com o ClicRBS, página online que apresenta blogs de colunistas das versões impressas. A Zero Hora também diversifica as temáticas dos cadernos encartados nas edições diárias (RAUSCH, 2015, p. 52).

22

As mudanças também ocorreram em outras empresas de comunicação. Em

2007, conforme matéria publicada na Folha de S.Paulo15, o jornal Correio do Povo

foi vendido para a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Já o

jornal O Sul, de Porto Alegre, deixou de circular sua versão impressa em abril de

2015, mantendo apenas a edição online. De acordo com uma reportagem de Zero

Hora16, a impressão foi impossibilitada pela alta do dólar, que acabou aumentando

os gastos com papel, tinta e outros insumos.

Na percepção de Rüdiger (2003, p. 122), “jamais houve um jornalismo

tradicionalista no Rio Grande do Sul”. De acordo com o autor, o jornalismo gaúcho

seguiu os mesmos passos da imprensa nacional.

[...] nosso jornalismo não tem qualquer especificidade regional, seu desenvolvimento e características, salvo as condições particulares de seu contexto social-histórico, confundem-se com aquelas do jornalismo em geral, na medida em que o jornalismo é um fenômeno ocidental moderno (RÜDIGER, 2003, p. 121-122).

Portanto, o autor alega que não há um jornalismo gaúcho, da mesma forma

como não há um jornalismo nacional no Brasil. Com isso, Rüdiger (2003) afirma que

o jornalismo enfrentou circunstâncias desiguais ao desenvolver-se no país.

O avanço tecnológico provocou mudanças significativas nos processos de

comunicação. Para compreender como essa evolução influencia as formas de

relação entre a mídia e a sociedade, o próximo capítulo irá discorrer sobre a

convergência digital.

15 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1403200720.htm>. Acesso em 02 jul. 2017. 16 Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/04/jornal-o-sul-anuncia-o-fim-da-edicao-impressa-4735581.html >. Acesso em 02 jul. 2017.

23

3 CONVERGÊNGIA DIGITAL

Desde a ascensão dos computadores e da internet, as formas de

comunicação na sociedade sofreram mudanças significativas. Segundo Manuel

Castells, no livro A sociedade em rede (1999, p. 43), “a tecnologia é a sociedade, e a

sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas

tecnológicas”.

Devido a isso, o presente capítulo irá contextualizar as tecnologias da

comunicação e as mudanças ocasionadas por elas na sociedade, além de discorrer

sobre o impacto dessas tecnologias nos veículos de comunicação tradicionais.

3.1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTERNET

O surgimento da internet ocorreu devido à integração de estratégia militar,

colaboração científica, iniciativa tecnológica e inovação contracultural, de acordo

com Castells (1999). A autora Pollyana Ferrari, em seu livro Jornalismo Digital

(2003), revela que as origens da internet datam da década de 1960.

A Internet foi concebida em 1969, quando o Advanced Research Projects Agency (Arpa – Agência de Pesquisa e Projetos Avançados), uma organização do Departamento de Defesa norte-americano focada na pesquisa de informações para o serviço militar, criou a Arpanet, rede nacional de computadores, que servia para garantir comunicação emergencial caso os Estados Unidos fossem atacados por outro país – principalmente a União Soviética (FERRARI, 2003, p. 15).

Castells (1999) afirma que além de a Arpanet ser utilizada pelo Departamento

de Defesa dos EUA, os cientistas também a usufruíam para suas próprias

comunicações. Em consequência da dificuldade para desmembrar a pesquisa

voltada para o intuito militar das comunicações científicas e das conversas pessoais,

em 1983, o uso da Arpanet foi destinado para fins científicos e a Milnet detinha-se às

funções militares.

Com mais de 20 anos de funcionamento, a Arpanet encerrou seus serviços

em fevereiro de 1990. Conforme Castells (1999), após o fim da Arpanet, a internet

passou a ser sustentada pela NSFNET, rede desenvolvida em 1986 pela National

Science Foundation (NSF). Ferrari (2003) aponta que a NSFNET possibilitou a

conexão entre pesquisadores do país por meio dos centros de informática e

24

computadores. Com serviços prestados ao governo, à academia e também aos

usuários, Ferrari (2003, p. 16) relata que “a NSFNET continuou se expandindo e, no

começo da década de 1990, eram mais de oitenta países interligados”.

Apesar da constante evolução, quem ainda não tinha muita intimidade com a

rede sentia dificuldades ao utilizar a internet. Castells (1999) explica que a

transmissão de gráficos ainda era limitada e que o processo de localizar e receber

informações era árduo. Porém, o autor revela que um importante avanço tecnológico

ocorrido na Europa em 1990 permitiu a expansão da internet para a sociedade:

a criação de um novo aplicativo, a teia mundial (world wide web – WWW), que organizava o teor dos sítios da Internet por informação, e não por localização, oferecendo aos usuários um sistema fácil de pesquisa para procurar as informações desejadas (CASTELLS, 1999, p. 88).

Segundo Castells (1999), criada no Centre Européen poour Recherche

Nucleaire (CERN), por Tim Berners Lee, a World Wide Web foi distribuída

gratuitamente pela internet, onde “os primeiros sítios da web foram criados por

grandes centros de pesquisa científica espalhados pelo mundo” (p. 88). O autor

destaca que no centro National Center for Supercomputer Applications (NCSA), o

pesquisador Marc Andreessen inventou o navegador Mosaic, produzido para atuar

em computadores pessoais. Juntamente com seu colaborador Eric Bina,

Andreessen disponibilizou o navegador de forma gratuita na web do NSCA em 1993.

Meses depois, mais de milhões de cópias já estavam em uso.

Devido ao sucesso, Andreessen e sua equipe formaram a Netscape, ao lado

do empresário Jim Clark. De acordo com o Castells (1999), a Netscape lançou, em

outubro de 1994, o primeiro navegador de confiança da internet: o Netscape

Navigator.

Segundo Ferrari (2003), a partir do desenvolvimento da World Wide Web, os

sites de busca passaram a melhorar o design gráfico e a interface17 de suas

páginas. “O termo “portal”, com o significado de “porta de entrada”, começou a ser

usado em 1997” (p. 17-18). A autora destaca que sites como o Yahoo!, fundado em

1994, acrescentaram mais conteúdo em suas páginas de entrada. Sendo assim, ao

invés de encaminhar os usuários para a navegação na grande rede, os sites de

busca acabaram se personalizando para manter os acessos em suas páginas. 17 Seção compartilhada por dois dispositivos, programas ou sistemas, em que eles partilham ou trocam sinais e dados. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/interface/>. Acesso em 02 abr. 2017.

25

Conforme Castells (1999), no fim da década de 1990, os usuários já

acessavam a rede com seus aparelhos e realizavam atividades em casa, no trabalho

e, com o passar do tempo e a chegada de dispositivos móveis, em qualquer lugar.

[...] o poder de comunicação da Internet, juntamente com os novos progressos em telecomunicações e computação, provocaram mais uma grande mudança tecnológica, dos microcomputadores e dos mainframes18 descentralizados e autônomos à computação universal por meio da interconexão de dispositivos de processamento de dados, existentes em diversos formatos (CASTELLS, 1999, p. 89).

Ainda de acordo com Castells (1999), por meio do processamento, os

aplicativos e dados permanecem armazenados nos servidores da rede, o que faz

com que os sites da web conversem entre si. Com o software19 necessário

disponível, é possível conectar os aparelhos a uma rede universal de computadores.

Softwares como o Java (1995) e o Jini (1999), “permitiram que a rede se tornasse o

verdadeiro sistema de processamento de dados” (p. 89).

Castells (1999) explica que a união entre a mídia de massa e a comunicação

mediada por computadores deu espaço a um novo sistema de comunicação, em

meados da década de 1990. Caracterizado pela junção dos veículos de

comunicação e suas interações, o sistema, chamado de multimídia, “estende o

âmbito da comunicação eletrônica para todo o domínio da vida: de casa a trabalho,

de escolas a hospitais, de entretenimento a viagens” (p. 450).

Nesse sentido, André Lemos, no livro Cibercultura (2013), mostra que com a

invenção da prensa por Gutenberg, o meio impresso passou por uma revolução. Os

aparelhos telefônicos capacitaram uma comunicação instantânea entre as pessoas e

a TV e o rádio conduziram informações para um extenso número de espectadores.

Ao referir-se sobre a comunicação online, Lemos (2013, p. 115) afirma que “a

Internet cria, hoje, uma revolução sem precedentes na história da humanidade. Pela

primeira vez, o homem pode trocar informações, sob as mais diversas formas, de

maneira instantânea e planetária”.

18 É um computador de grande porte capaz de realizar processamento de dados complexos. Disponível em: <http://pt.okpedia.com/mainframe>. Acesso em: 15 dez. 2016. 19 Sequência de instruções escritas para serem interpretadas por um computador com o objetivo de executar tarefas específicas. Disponível em: <https://www.significados.com.br/software/>. Acesso em 02 abr. 2017.

26

O autor revela que há inúmeros mecanismos disponíveis na internet, entre

eles, a consulta de banco de dados, fóruns, correio eletrônico, transações

comerciais, leitura de jornais e revistas, rádios online e redes sociais. Para

entendermos mais sobre o cenário atual da internet, o próximo subtítulo irá abordar

as tecnologias da comunicação e suas possibilidades.

3.2 TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E SUAS POSSIBILIDADES

Segundo Pierre Lévy, no livro Cibercultura (2000), as tecnologias digitais

surgiram como base do ciberespaço, este, por sua vez, é um espaço de

comunicação e sociabilidade, bem como um mercado da informação. Nesse âmbito,

surge a cibercultura, um universo totalmente diferente das formas culturais já vistas

anteriormente. O autor define os dois conceitos como:

O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abrange, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (LÉVY, 2000, p. 17).

Nesse contexto, Lemos (2013) complementa a definição de cibercultura como

uma união entre a vida social e os dispositivos eletrônicos. “A cibercultura está

inscrita no nosso dia a dia, presente em todas as atividades, sejam elas do trabalho,

lazer ou vida privada” (p. 11). De acordo com o autor, a cibercultura é um processo

de aceleração que acabou com o espaço homogêneo e com a linearidade existente

na cultura do meio impresso.

Com as tecnologias analógicas, a transmissão, o armazenamento e a recuperação de informação eram completamente inflexíveis. Com o digital, a forma de distribuição e de armazenamento são independentes, multimodais, onde a escolha em obter uma informação sob a forma textual, imagética ou sonora é independente do modo pelo qual ela é transmitida (LEMOS, 2013, p. 70).

Dessa forma, a partir das escolhas do usuário, o ambiente digital também

permite o contato com a realidade. Conforme Lemos (2013), toda a realidade e toda

a experiência constituem o modo de virtualização-atualização. Sendo assim, “a

27

realidade é constituída no processo interminável de atualizações e virtualizações

sucessivas” (p. 161).

A palavra virtual chegou na informática nos anos 1970, quando a International

Business Machines (IBM) lançou a memória virtual, trazendo à tona questões

referentes à desrealização da experiência. Lemos (2013) aponta que as tecnologias

problematizam a nossa visão do mundo. De acordo com o autor, a escrita, a

imprensa, o carro, o telefone e a televisão são exemplos de tecnologias que

transformaram a vida da sociedade, assim como a realidade virtual. Sob essa

perspectiva, Lévy (2000) descreve o mundo virtual como um universo de

possibilidades.

Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas. Computadores e redes de computadores surgem, então, como a infra-estrutura [sic] física do novo universo informacional da virtualidade. Quanto mais se disseminam, quanto maior sua potência de cálculo, capacidade de memória e de transmissão, mais os mundos virtuais irão multiplicar-se em quantidade e desenvolver-se em variedade (LÉVY, 2000, p. 75).

As tecnologias também influenciaram a relação dos processos da

comunicação. Levy (2000) revela que há três grandes formas nesse contexto: um-

todos, um-um e todos-todos. A relação um-todos é formada pelos meios de

comunicação impresso, o rádio e a televisão, mídias que enviam suas mensagens

para receptores pouco interativos. Na categoria um-um estão o telefone e o correio,

ferramentas que proporcionam a interação de pessoa para pessoa. O modo todos-

todos é viabilizado pelo ciberespaço, visto que, por meio dele, é possível

compartilhar as realidades virtuais para milhões de pessoas.

Em vista disso, Lemos (2013) ressalta que a cibercultura especifica-se pela

formação de uma sociedade organizada por meio da conectividade, o que possibilita

interações sociais e troca de informações. O autor explica que “as tecnologias

marcam profundamente a totalidade do corpo social através dos modos de produção

de consumo, das formas de comunicação e da normalização da vida social” (p. 105).

Segundo Lévy (2000), o mundo virtual permite a interatividade por meio da

participação ativa do usuário em uma transferência de informação. Para o

pesquisador, o ciberespaço destaca-se “como prática de comunicação interativa,

recíproca, comunitária e intercomunitária, o ciberespaço como horizonte de mundo

28

virtual vivo, heterogêneo e intotalizável no qual cada ser humano pode participar e

contribuir” (p. 126).

Nesse sentido, Tereza Suyane Alves de França e Taciana de Lima Burgos, no

artigo A informação colaborativa diante do jornalismo no contexto da cibercultura

(2016, p. 2), explicam que “a possibilidade que nos aperfeiçoamos ao longo do

tempo no tratamento da informação, cada vez mais em longa proporção, traz uma

marca divisória para os últimos tempos, principalmente no que se refere à produção

e distribuição de informações”. As autoras apontam que com o crescimento das

redes móveis e aparelhos celulares conectados à internet, a oferta de conteúdos

multimídia é um aspecto contemporâneo, que dispõe ao usuário diferentes formas

de consumir e colaborar com a informação.

A partir desse contexto, Lemos (2013, p. 113) afirma que “a tecnologia digital

possibilita ao usuário interagir, não mais apenas com o objeto (a máquina ou a

ferramenta), mas com a informação, isto é, com o conteúdo”. Dessa forma, o

internauta pode navegar com mais autonomia. Um exemplo disso é o hipertexto, um

processo não linear de interatividade com o conteúdo. Para Lemos (2013, p. 122), “o

hipertexto é uma obra com várias entradas, onde o leitor/navegador escolhe seu

percurso pelos links”.

Consequentemente, pode-se dizer que o consumidor se transformou em um

produtor de conteúdo. De acordo com Henry Jenkins, na obra Cultura da

Convergência (2009), as novas e velhas mídias chocam-se entre si, e o poder do

produtor midiático e do consumidor interagem aleatoriamente. Com a interação entre

as mídias, no âmbito da cibercultura, surge a convergência. O autor refere-se à

convergência como o

[...] fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam (p. 29).

Conforme Jenkins (2009), a transmissão de conteúdos em diferentes

plataformas necessita da participação do usuário. “A convergência representa uma

transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar

novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos” (p.

29-30).

29

O autor também ressalta que a convergência é um processo tanto corporativo

quanto de consumidor. As empresas midiáticas agilizam o fluxo de conteúdo por

seus canais de distribuição, o que gera lucro, amplia o mercado e ainda consolida

suas atribuições com o público.

Consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da mídia e para interagir com outros consumidores. As promessas desse novo ambiente de mídia provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando por direito de participar mais plenamente de sua cultura (JENKINS, 2009, p. 46).

Com a convergência digital, os veículos reconsideraram a forma de consumo

das mídias, já que os novos usuários são ativos e mais conectados socialmente.

Jenkins (2009) esclarece que a convergência pode ser favorável para a ampliação

dos meios de comunicação, já que o conteúdo é difundido em várias plataformas.

Porém, ela também apresenta riscos para empresas que presumem desgastes em

seus negócios. Segundo o autor, “cada vez que deslocam um espectador, digamos,

da televisão para a Internet, há o risco de ele não voltar mais” (p. 47).

A fidelização do público é um dos principais motivos que faz a indústria

midiática aderir à cultura da convergência. Jenkins (2009) acrescenta ainda que a

convergência é uma espécie de estimulante para moldar o comportamento do

consumidor, criando múltiplas formas de vender conteúdo.

Por outro lado, com a cultura participativa, o poder da mídia foi

descentralizado. No artigo Crise ou oportunidade? Como as novas tecnologias

podem contribuir na produção de uma Grande Reportagem Multimídia de qualidade

(2016), Marina Aparecida Sad Albuquerque de Carvalho e Francisco José Paoliello

Pimenta apontam que as empresas de jornalismo “deixaram de ser as únicas

emissoras no processo de comunicação, dividindo espaço com os antigos

receptores, os quais passaram a dar novas significações para as mensagens

recebidas e, depois, retransmiti-las” (p. 2).

De acordo com os autores, a propagação da internet e de suas tecnologias

provocaram mudanças que não podem ser ignoradas. Em consequência disso, os

veículos de comunicação repensaram a sua forma de atuação, tema a ser abordado

no próximo subtítulo.

30

3.3 VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO E NOVAS PERSPECTIVAS MIDIÁTICAS

As novas tecnologias da comunicação trouxeram muitos desafios para

veículos de comunicação como o rádio, a TV e os meios impressos. Para Lucas

Vieira de Araujo, no artigo Mídia e novas tecnologias: até quando os veículos de

comunicação tradicionais vão resistir (2015, p. 13), “não é de se estranhar a

preocupação com o futuro e os questionamentos em torno da continuidade ou não

de determinado veículo, principalmente no caso do jornal e da revista”.

Conforme o autor, a TV e o rádio estão sedentos por espaço de transmissão

de conteúdo e também pela necessidade de modificar os serviços prestados devido

à concorrência com as novas empresas de mídia.

Muito mais que consequência do hibridismo inerente aos tempos atuais, o cenário inspira cuidados e reflexões por parte dos meios de comunicação mais maduros porque a nova geração de consumidores tem forte apego às novas tecnologias e certa resistência ao meio físico, como o papel, e ainda ao modelo de negócio baseado em grade de programação, base de sustentação da TV e do rádio. Como não existe uma forma estabelecida de como lidar com esses fenômenos, os meios de comunicação ainda lutam para se manter sem saber ao certo se trará os resultados esperados. De qualquer forma, o processo de incorporação e de cerceamento da imprensa pelas empresas de base tecnológica e pelas operadoras já começou (ARAUJO, 2015, p 13).

Nessa perspectiva, Jenkins (2009) explica que a solução dos problemas dos

produtores de mídia é melhorar o relacionamento com seus consumidores. “O

público, que ganhou poder com as novas tecnologias e vem ocupando um espaço

de intersecção entre os velhos e os novos meios de comunicação, está exigindo o

direito de participar intimamente da cultura” (p. 53).

Porém, apesar da personalização e das relações de interatividade advindas

da tecnologia, Jenkins (2009) afirma que a escrita não eliminou a fala, o cinema não

excluiu o teatro, assim como a televisão não extinguiu o rádio.

Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital. Os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias (JENKINS, 2009, p. 41-42).

31

Em consequência disso, Bruno Mello Corrêa de Barros e Gil Monteiro Goulart

relatam, no artigo Os meios de comunicação impactados pelas tecnologias

informacionais: o pluralismo e a diversidade a partir das novas possibilidades

democráticas virtuais (2015), que os veículos tradicionais passaram a pensar em

novas possibilidades para atrair o usuário da rede.

É mister preconizar que a égide perpassada na comunicação social – seja pelas novas mídias como pelas já existentes - comporta uma convergência midiática, onde os velhos meios de comunicação estão sendo forçados a conviver com os novos meios, estabelecendo parâmetros e desenvolvendo novas estratégias para realizar uma adequação, visto que a comunicação horizontalizada passou a ser verticalizada através da Internet, permissionando os indivíduos a desempenhar papéis de interlocutores da informação (CORRÊA; GOULART, 2015, p. 6).

De acordo com Ferrari (2003), devido à internet e suas possibilidades, como o

conteúdo personalizado e o noticiário dinâmico, o panorama da mídia de massa do

século XXI é bastante diferente do que era no final dos anos 1990 e início dos anos

2000. A autora revela que softwares modernos e habilitados agilizam o cotidiano das

redações e deixam o fazer jornalístico cada vez mais automatizado.

O potencial da nova mídia tornou-se um instrumento essencial para o jornalismo contemporâneo e, por ser tão gigantesco, está começando a moldar produtos editoriais interativos com qualidades atraentes para o usuário: custo zero, grande abrangência de temas e personalização (FERRARI, 2003, p. 38).

No livro A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e

redes sociais na internet (2012), Raquel Recuero aponta que pessoas do mundo

inteiro utilizam a internet diariamente para interagir com outros indivíduos. A autora

explica que, por meio dessa relação, essas pessoas se submetem a novas ideias e

acabam trocando informações. “Com o advento dos sites de rede social, essas

conversações online passaram a criar novos impactos, espalhando-se pelas

conexões estabelecidas nessas ferramentas e, através delas, sendo amplificadas

para outros grupos” (p.121).

Desse modo, os autores Helson de França Silva e Benedito Dielcio Moreira

salientam, no artigo A Prática Jornalística e o Nomadismo Digital: Potencialidades e

Possíveis Caminhos (2015), que a produção jornalística está mais rápida e

dinâmica.

32

Aspectos como instantaneidade, velocidade no compartilhamento das notícias (impulsionado pelas redes sociais), interação com os leitores (por meio dos comentários nas matérias, por exemplo) e utilização de recursos como hiperlinks e vídeos nos textos trouxeram mais possibilidades ao jornalismo (SILVA; MOREIRA, 2015, p. 3).

Portanto, é papel do jornalista aproveitar essas possibilidades para estreitar

os laços com o internauta. Em seu artigo Impactos do uso de Hiperlocal, Dados e

Aplicativos no jornalismo e comunicação (2016), Aparecido Antonio dos Santos

Coelho explica que as mídias tradicionais estão conseguindo aproximar-se de

diferentes públicos e expandindo o nível de conversa com um usuário em constante

movimento. Para isso, o autor destaca que “o jornalista e o profissional de

comunicação deve entender como funciona a dinâmica das novas tecnologias, como

por exemplo, o uso mais intenso das redes sociais, para uma maior aproximação do

público” (p. 4).

Segundo Coelho (2016, p. 5), “[...] novas ferramentas e estratégias

informacionais vêm para aprimorar o processo de elaboração de conteúdo e fazer a

melhor entrega determinada para a melhor plataforma”. Dessa forma, com

estratégias nunca utilizadas de forma exclusiva para o jornalismo, aliadas a

profissionais antenados, intensificou-se o fluxo de informações na web.

O avanço tecnológico e suas possibilidades transformaram a maneira de

produção de conteúdo jornalístico na internet. Para compreender melhor esse

processo, o tema do próximo capítulo será Jornalismo Digital.

33

4 JORNALISMO DIGITAL

A evolução tecnológica proporcionada pela internet possibilitou novas práticas

jornalísticas. Devido a isso, as pessoas não precisam mais esperar o jornal do dia

seguinte para acessarem as notícias. Além de ter perfil multimídia, o jornalista de

web precisa estar atento às constantes transformações do meio online. Porém, não

é possível discorrer sobre a prática do jornalismo digital sem antes falar do

jornalismo impresso. A construção do capítulo ocorre a partir de uma comparação

entre os dois meios. A produção da notícia na internet e as possibilidades de

interação encontradas pelo usuário na plataforma também serão assuntos

abordados a seguir.

4.1 DIFERENÇAS ENTRE JORNALISMO IMPRESSO E DIGITAL

As tecnologias digitais influenciaram a forma de apresentação dos conteúdos

jornalísticos. No capítulo Jornalismo convergente e continuum multimídia na quinta

geração do jornalismo nas redes digitais (2013), Suzana Barbosa revela que a

tecnologia é um elemento determinante no processo de produção jornalística, desde

o trabalho dos jornalistas até a oferta da informação. Em consequência disso, as

notícias circulam com mais velocidade e atendem às necessidades da sociedade.

Sobre o progresso do jornalismo, a autora explica que:

ao lado disso, evoluíram também os meios e as diferentes modalidades de jornalismo: da imprensa ao cinema, do rádio à televisão, até à internet e à web, na qual despontou a modalidade do jornalismo digital, também conhecida pelas terminologias jornalismo online, webjornalismo, e ciberjornalismo (BARBOSA, 2013, p. 38).

Para que a notícia seja publicada em tempo real, o jornalista precisa estar

preparado para lidar com os requisitos estabelecidos pela plataforma online. Ferrari

(2003, p. 40) explica que “além da necessidade de trabalhar com vários tipos de

mídia, é preciso desenvolver uma visão multidisciplinar, com noções comerciais e de

marketing”.

A autora defende um conceito diferente para jornalismo online e digital. O

jornalismo online é marcado pela transposição de conteúdos do impresso para a

internet. Segundo Ferrari (2003, p. 40-41), o digital “compreende todos os

34

noticiários, sites e produtos que nasceram diretamente na Web”. Sobre o meio

impresso, Noblat (2004, p. 38) afirma que “notícia em tempo real deve ficar para os

veículos de informação instantânea – rádio, televisão e internet. Jornal deve ocupar-

se com o desconhecido. E enxergar o amanhã”.

Com base nessa perspectiva, Magaly Prado conta em seu livro

Webjornalismo (2011) que o jornalismo impresso foi convergindo aos poucos para a

web. A autora explica que os jornais “[...] veiculavam pela internet apenas o que

consideravam as principais matérias, e ainda não atualizavam informações ao longo

do dia, que é a definição maior do webjornalismo, ou seja, aquele que publica

notícias em tempo real” (p. 31).

Segundo Prado (2011), a primeira fase do jornalismo na web, a web 1.0,

caracteriza-se pela publicação com browser, portais, sites, home pages, e-mail,

fóruns, chats, buscadores, etc. Já a segunda fase é marcada pela cooperação,

utilizando redes de relacionamento, blogs, marketing, webjornalismo participativo e

escrita coletiva. Além disso, a autora destaca que o espaço ilimitado na cibercultura

propaga trabalhos que anteriormente não tinham muita visibilidade.

A produção do jornalismo na internet é muito diferente da forma como ocorre

no jornalismo impresso. De acordo com Ferrari (2003), a notícia na web pode conter

elementos como vídeo, áudio, animações, entre outras possibilidades. Já o meio

impresso utiliza somente textos, imagens, gráficos e ilustrações. Além disso, os

jornais vêm pensando em estratégias para produzir material de qualidade, fortalecer

o jornalismo e preservar suas peculiaridades. Noblat (2004, p. 16-17) entende que

os jornais devem:

a) Renovar sua pauta de assuntos para ganhar mais leitores, principalmente

mulheres e jovens;

b) Surpreender mais e mais os leitores com informações que eles

desconheçam;

c) Humanizar o noticiário e abordar os temas pela óptica dos leitores;

d) Interagir com os leitores e abrir mais espaço para que falem e sejam

ouvidos;

e) Conferir menos importância às notícias de ontem e ocupar-se em

antecipar as que ainda estão por vir;

f) Apostar em reportagens porque são elas que diferenciam um jornal de

outro;

35

g) Dar mais tempo aos repórteres para que apurem e escrevam bem;

h) Publicar textos que emocionem, comovam e inquietem;

i) Resistir à tentação de absorver prioridades tão características da

televisão: superficialismo, entretenimento, diversão, busca de audiência a

qualquer preço;

j) Investir pesado na qualificação dos seus profissionais;

k) Depender menos de anúncios e mais da venda de exemplares;

l) E mais importante do que tudo acima, fazer jornalismo com

independência e que tome partido da sociedade.

Com a ascensão da internet, o jornalismo impresso precisou se atualizar.

Noblat (2004, p. 22) entende que “a única coisa que um jornal não pode é deixar-se

ficar para trás quando seus leitores avançam”. O autor ainda explica que, assim

como no jornalismo digital,

exige-se do candidato a uma vaga nas redações que seja profissional completo e polivalente. Ele tem de dominar todas as técnicas para o exercício da profissão, manejar os instrumentos capazes de ajudá-lo a fazer melhor o trabalho e ter a nítida compreensão do seu papel de jornalista multimídia (NOBLAT, 2004, p. 36).

Nesse sentido, também é papel do jornalista de mídia impressa dominar os

mecanismos disponíveis na internet. Noblat (2004) declara que é preciso colocar o

acervo de recursos da informática a serviço da informação a ser divulgada. Diante

deste cenário, o autor Nilson Lage diz, em seu livro Linguagem jornalística (2006),

que “a natureza diversificada de competências exigidas do jornalista atinge aí a

máxima pluralidade, até porque ele deverá conhecer o bastante da web para

selecionar suas ferramentas e acompanhar a sua evolução” (p. 79).

No entanto, Ferrari (2003) relata que o repórter de impresso prioriza a

informação para transformá-la em notícia, assim como o profissional de televisão

procura por imagens que emocionam. Conforme a autora, “[...] os jornalistas on-line

precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser

complementados” (p. 48).

A autora ainda aponta que outra diferença importante entre o jornalismo

impresso e digital é que na internet pode-se identificar o clique do usuário, fator

impreciso na mídia impressa. Além disso, as publicações feitas na web podem ser

36

resgatadas por meio do banco de dados, uma espécie de memória que facilita o

trabalho do jornalista.

No entanto, Ferrari (2003) afirma que por encontrar uma gama de

informações na internet, o usuário não é fiel a qualquer site. Já no meio impresso

ocorre o contrário. A autora revela que a fidelidade do leitor é perceptível, já que

quem está acostumado a uma determinada linha editorial dificilmente irá ler outro

jornal.

Apesar da disparidade entre os meios, Ferrari (2003, p. 52) explica que

“entender o poder da mídia é o primeiro passo para a construção de produtos

inovadores e instigantes do ponto de vista editorial” (p. 52). Dessa forma, seja no

impresso ou digital, o jornalista precisa aperfeiçoar-se e utilizar a tecnologia a seu

favor.

4.2 A NOTÍCIA NO JORNALISMO DIGITAL

O jornalismo digital não consiste apenas na produção e publicação de

matérias na internet. Segundo Ferrari (2003), o profissional precisa considerar vários

fatores para impulsionar a reportagem: enquete (pesquisa de opinião), vídeos,

áudios, links com informações sobre o tema, etc.

Além disso, a narrativa digital possui elementos específicos, conforme as

explicações da autora Nora Paul, em Elementos das narrativas digitais (2007):

a) Mídia: é o modelo de expressão utilizada na narrativa. A televisão, por

exemplo, faz o uso de vídeo, áudio e animação. Enquanto o impresso

opera com texto, fotos e gráficos. Já o ambiente digital pode usar todos

esses e outros recursos oriundos dos veículos de comunicação;

b) Ação: as narrativas online permitem inúmeras combinações. A ação diz

respeito ao movimento do conteúdo e a ação exigida pelo usuário para

acessá-lo. São elementos exclusivos da narrativa online as animações

instantâneas, as apresentações automatizadas de slides e o ato de clicar

para movimentar o conteúdo;

c) Relacionamento: o relacionamento do produtor de conteúdo com o usuário

é versátil. Por meio de recursos digitais é possível criar interações com o

37

conteúdo, sendo assim, o usuário não está limitado somente a ler, assistir

ou ouvir a história;

d) Contexto: é a capacidade de possibilitar conteúdo adicional, remetendo a

outros materiais. Na plataforma digital, pode ser gerado por meio de links

com textos publicados sobre o assunto, textos de outras fontes e até

mesmo textos sobre um item relacionado;

e) Comunicação: refere-se à habilidade de conexão com os outros por meio

da mídia digital.

Nesse âmbito, originou-se o ciberjornalismo. Ferrari (2003) o descreve como

as tarefas diárias realizadas pelo jornalista na internet, entre elas estão a criação de

textos para o meio e a participação em fóruns. “Quem é capaz de mexer em várias

mídias ao mesmo tempo e, além disso, escreve corretamente e em português culto,

tem grandes chances de tornar-se um ciberjornalista” (p. 42).

Sendo assim, o jornalista de web precisa pensar diariamente em novas

formas para atrair o leitor. Ferrari (2003) afirma que isso ocorre quando a informação

é aprimorada, utilizando recursos de hipermídia. A autora explica que “não existe

segredo: o leitor percebe quando encontra uma página completa ou outra rasa” (p.

47).

A instantaneidade da internet possibilitou aos jornalistas novas maneiras de

redigir uma notícia. De acordo com Ferrari (2003), o texto precisa conter frases

concisas e simples. Além disso, deve-se evitar sentenças longas e na voz passiva.

O conteúdo é geralmente mais sintético e multimídia do que no meio impresso, por

exemplo. A autora ressalta que “o público on-line é mais receptivo para estilos não

convencionais, já que o leitor não tem tanto compromisso ao navegar, ele “zapeia”

pelos canais, ficando pouco tempo mesmo na notícia que lhe interessa” (p. 49).

No jornalismo impresso, a notícia é geralmente redigida utilizando a técnica

da pirâmide invertida. Conforme Mariana Guedes Conde, no capítulo A estrutura da

notícia na mídia digital: uma análise comparativa entre o webjornal e o aplicativo

para iPad de El País (2013), a pirâmide invertida “consiste na organização dos fatos

principais no primeiro parágrafo, o lead, a partir do ponto mais relevante da

informação” (p. 105). Já no webjornalismo, segue-se o modelo da pirâmide deitada.

Segundo a autora, nesse processo, “[...] a notícia evolui em níveis de leitura desde

um primeiro nível com informações essenciais até um quarto nível com informações

38

mais detalhadas” (p. 107). Sob essa perspectiva, João Canavilhas explica em

Webjornalismo: Da pirâmide invertida à pirâmide deitada (2006) que “[...] neste

modelo é-lhe oferecida a possibilidade de seguir apenas um dos eixos de leitura ou

navegar livremente dentro da notícia” (p. 14).

Apesar de as notícias serem divulgadas a todo o instante no meio online, é

indispensável checar os fatos antes de anunciá-los, entrevistando fontes que

entendam sobre determinado assunto, a fim de evitar a disseminação de boatos. O

autor Miquel Rodrigo Alsina, no livro A Construção da Notícia (2009), afirma que “a

produção do jornalismo de atualidade se articula através dos seguintes gêneros:

notícias e temas da atualidade. A credibilidade é seu mecanismo específico

regulador, que irá determinar o que é publicável” (p. 199). Nesse contexto, Ferrari

(2003) mostra que a veracidade da informação é muito mais importante do que a

rapidez em que ela é publicada na internet.

Os leitores raramente percebem quem foi o primeiro a dar a notícia – e, na verdade, nem se importam com isso. Uma notícia superficial, incompleta ou descontextualizada causa péssima impressão. É sempre melhor colocá-la no ar com qualidade, ainda que dez minutos depois dos concorrentes (FERRARI, 2003, p. 49).

Além da precisão da notícia, o jornalista digital também deve reinventar a

maneira como conta histórias na web. Atualmente, as matérias são divididas em

notas, intercaladas com imagens, vídeos e infográficos. Porém, quando se tratam de

histórias longas, como é o caso da série de reportagens objeto de análise da

monografia, pode-se utilizar um índice. Para isso, Ferrari (2003, p. 76) explica que

“cada capítulo deveria começar com um gancho e terminar deixando o leitor curioso

sobre outros temas de um mesmo assunto, que seriam abordados em notas

subsequentes”.

Conforme Prado (2011), muitos acontecimentos ganham cobertura contínua

na web, aparecendo em páginas de destaque. A autora explica que quanto mais

desdobramento a informação tiver, mais ela volta a circular por meio de links.

Já faz parte da criação de reportagens na web explorar inúmeras possibilidades de alargar a informação, mostrando mais lados da história, além de ter maior espaço para colocar o tema em contexto e trazer mais dados ao clicar em expressões como “saiba mais”, “notícias relacionadas”, “arquivo”, etc (PRADO, 2011, p. 48).

39

A amplitude do jornalismo no universo online permite a colaboração de

diversas áreas para explorar a sua usabilidade e proporcionar ao usuário o melhor

acesso a todo tipo de informação. Ferrari (2003) mostra que isso pode ser percebido

quando

[...] o designer senta ao lado do editor, que já desempenha atualmente a função de um gerente de produto, para desenhar um hot site sobre o desempenho do futebol brasileiro na Copa do Mundo. Passadas algumas horas, um cidadão comum abrirá a tela de seu computador e acessará reportagens sobre o maior evento de futebol do mundo; poderá ler e absorver informação sobre as Copas passadas; conhecer as grandes jogadas e ainda saber a biografia dos maiores jogadores de todos os tempos (FERRARI, 2003, p. 78).

O texto das reportagens online dá autonomia ao leitor, visto que, por meio do

hipertexto – definido por Ferrari (2003) como um bloco de informações digitais

interligadas – ele pode escolher o trajeto que quiser seguir, complementando o

assunto. O comportamento das pessoas na internet é diferente do que ao ler um

livro. Na plataforma, é muito fácil pular de um lugar para outro, seja na mesma

página ou até em um portal de outro país.

4.3 AS FERRAMENTAS DO JORNALISMO DIGITAL

As novas tecnologias também modificaram a forma de como a informação é

tratada na internet. Ferrari (2003) explica que, por meio de softwares modernos, o

fazer jornalístico das redações digitais está cada dia mais automatizado.

O desenvolvimento das redes digitais alavancou a criação da terceira, quarta

e quinta geração do jornalismo na web. Segundo Barbosa (2013), no terceiro e

quarto estágios as bases de dados (BDs) são elementos essenciais para a atividade

jornalística de pré-produção, produção, circulação, consumo e pós-produção. As

BDs também são fundamentais para a elaboração de sites jornalísticos com padrão

dinâmico. A autora afirma que a quinta geração é marcada pelo processamento de

informações por diversas plataformas.

Neste contexto, as mídias móveis, especialmente smartphones e tablets, são os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos em multiplataformas (BARBOSA, 2013, p. 42).

40

No capítulo A hipermídia entrelaça a sociedade (2007), Pollyana Ferrari

relata que por meio da mídia eletrônica a informação perde a sua homogeneidade,

tornando-se um elemento repleto de significados e leituras. A autora aponta que “do

mesmo modo que as ondas eletromagnéticas, o hipertexto também oferece uma

nova concepção de aprendizagem e troca de informação a partir de sua teia não-

linear e suas múltiplas possibilidades de interação” (p. 86). Além disso, a autora

define o hipertexto como uma ferramenta útil para a reconstrução da memória

coletiva.

Dessa forma, Ferrari (2007) afirma que os jornalistas podem criar uma série

de narrativas e interpretá-las por meio da hipermídia. A autora define a hipermídia

como todos os métodos de transmissão de informações como texto, imagem e vídeo

por meio do computador.

Visto que são bombardeados com conteúdo 24 horas por dia, os internautas

têm o poder de decidir o que irão ler e qual site irão visitar. No capítulo Da rigidez do

texto à fluidez do hipertexto (2007), Urbano Nobre Nojosa explica que a linguagem

do hipertexto indica o sentido da comunicação contemporânea.

O hipertexto é um conjunto de nós de significações interligados por conexões entre palavras, páginas, fotografias, imagens, gráficos, seqüência [sic] sonoras, etc. Dessa forma, as narrativas digitais superam as limitações da tradição da oralidade e da escrita, pois não buscam sentido em isolar ou fragmentar o sentido do texto ou do discurso, mas ao contrário, em ampliar a rede de significações (NOJOSA, 2007, p.74).

Por meio da multimidialidade (recursos de som, imagem e movimento) e dos

links clicados no decorrer da matéria, o usuário passa a sentir-se confortável com o

formato de apresentação da notícia. Devido à interatividade da internet, aqueles que

antes eram meros receptores agora também fazem parte do processo jornalístico.

Além disso, conforme explica Paulo Henrique Ferreira, no capítulo Com você, a

imprensa móvel (2007), a ascensão dos aparelhos celulares contribuiu para a

difusão do conteúdo jornalístico. Com isso, a utilização de ferramentas como blogs e

fóruns, e redes sociais como Twitter20, Facebook21, Instagram22 e WhatsApp23,

20 É uma rede social e servidor para microblogging, que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, em textos de até 140 caracteres. Disponível em: < https://www.significados.com.br/twitter/>. Acesso em: 15 dez. 2016. 21 É uma rede social que permite conversar com amigos e compartilhar mensagens, links, vídeos e fotografias. Disponível em: < http://acervo.novaescola.org.br/formacao/formacao-continuada/como-funciona-facebook-624752.shtml>. Acesso em: 15 dez. 2016.

41

permite que o público se envolva e passe, além de apenas opinar e compartilhar

reportagens, a cooperar na produção de conteúdo. Ferrari (2007) mostra que o leitor

é figura ativa no processo de jornalismo online.

Diariamente, os leitores podem acompanhar em vídeo, áudio ou texto o que acontece em matéria de música, moda, cinema, sexo, viagem, estilo de vida e novos talentos, entre outros temas. E o que é melhor, é possível opinar sobre tudo, enviar fotos, o registro de um desfile de moda ou a cobertura completa de um show da sua banda preferida diretamente do celular. Ou seja, o leitor protagoniza sua própria reportagem (FERRARI, 2007, p. 83).

Pode parecer caótica, mas a narrativa digital é estruturada e precisa,

permitindo que o usuário interprete a informação da maneira que considerar mais

proveitosa. Ferrari (2007, p. 88) aponta que com os formatos multimídias “o

participante pode alterar uma narrativa textual existente a partir do desenrolar da

trama; mudar os personagens ou de formato, ou seja, continuar o conto com

inserção de uma imagem, áudio e vídeo”.

De acordo com Prado (2011), quando as matérias recebem suportes

multimídia como áudio, vídeo, animação, entre outros, os leitores, evidentemente,

ultrapassam a barreira da leitura e também ouvem e veem. Além disso, o internauta

irá se aproximar do conteúdo que é relevante para si. A autora alega que ele pode

ler um texto inteiro ou trechos de alguns, bem como determinar o que e como vai ler.

Quando esse consumidor toma contato com a matéria, gosta e tem um canal na rede, ele a replica, na íntegra ou parte dela, e a consequência é que muito mais gente vai receber a mesma informação. Vai deglutir e devolver, acrescentando algo seu. Uma opinião, uma crítica, uma ressalva, etc. São as novas formas de consumir conteúdo (PRADO, 2011, p. 83).

Nesse sentido, Ferrari (2003) afirma que a personalização de conteúdos na

web é importante para conquistar a fidelidade do usuário. “Com o aumento de

informações no mundo virtual, o internauta deixará de lado o acesso à rede por mera

curiosidade e migrará para sites que oferecem produtos e serviços customizados às

suas necessidades” (p. 35).

22 É uma rede social de fotos para usuários de Android e iPhone. Disponível em: <https://canaltech.com.br/o-que-e/instagram/o-que-e-instagram/> Acesso em: 16 dez. 2016. 23 É um software para smartphones utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão a internet. Disponível em: <https://www.significados.com.br/whatsapp/> Acesso em: 3 mai. 2017.

42

A liberdade de navegação e a interatividade fazem com que o leitor consiga

explorar a informação por várias perspectivas. No capítulo A não-linearidade do

jornalismo digital, Adriane Canan (2007, p. 143) afirma que “[...] não satisfeito com o

que a matéria oferece, o receptor pode optar por buscar mais informações em outros

websites”. A autora relata que, por meio das características da plataforma digital, é

possível:

conduzir os navegadores da web a uma experiência que, para além de agradável, consiga gerar conhecimento, autoconduzir os leitores pelos labirintos da não-linearidade. E, através dessa autocondução, tentar entender melhor os processos de produção das informações (CANAN, 2007, p. 145).

Sendo assim, no jornalismo digital o leitor e o jornalista passam a andar juntos

no processo de elaboração da notícia. O profissional precisa trabalhar para

satisfazer um público cada vez mais exigente. Os usuários, por sua vez, passam a

auxiliar na produção de conteúdo, o que ocorre devido à interação proporcionada

pela internet.

Após a revisão bibliográfica serão apresentadas as outras etapas do processo

metodológico de Análise de Conteúdo da pesquisa.

43

5 METODOLOGIA

Para responder a questão norteadora da pesquisa, que interroga de que

forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do

conteúdo ofertado nas mídias do veículo de comunicação, essa pesquisa acadêmica

utiliza como método a Análise de Conteúdo. As técnicas aplicadas são a revisão

bibliográfica, a entrevista e a observação.

Por meio desse processo metodológico, após analisar o processo de

produção do projeto especial América Vermelha, do jornal Zero Hora, será possível

responder a questão norteadora e confirmar ou refutar as hipóteses da pesquisa.

5.1 MÉTODO

Segundo a autora Laurence Bardin, em seu livro Análise de conteúdo (1977,

p. 38), o método Análise de Conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do

conteúdo das mensagens”.

Bardin (1977) destaca que a análise de conteúdo não é apenas um recurso,

mas sim um instrumento delimitado com formas flexíveis que pode ser aplicado no

campo das comunicações. A autora organiza o método em três etapas cronológicas:

a) a pré-análise; b) a exploração do material; e c) o tratamento dos resultados

obtidos e interpretação.

De acordo com Wilson Corrêa da Fonseca Júnior, no capítulo Análise de

Conteúdo (2005, p. 280), “esse método tem demonstrado grande capacidade de

adaptação aos desafios emergentes da comunicação e de outros campos do

conhecimento”. Os dois autores serão referência metodológica para esta pesquisa.

5.1.1 Pré-análise

Essa parte da pesquisa compreende a escolha dos documentos que serão

analisados, a formulação das hipóteses e dos objetivos. Para Fonseca Júnior (2005,

p. 290), “a pré-análise consiste no planejamento do trabalho a ser elaborado,

procurando sistematizar as ideias iniciais com o desenvolvimento de operações

sucessivas, contempladas num plano de análise”.

44

Segundo Bardin (1977), ainda que a pré-análise seja composta por atividades

não estruturadas, seu objetivo é a organização. A autora divide a etapa em cinco

práticas.

A primeira delas é a leitura flutuante, na qual o pesquisador deve debruçar-se

sobre o material em questão para, posteriormente, obter impressões e orientações a

seu respeito.

Na escolha dos documentos, Bardin (1977, p. 96) afirma que “é muitas vezes

necessário proceder-se à constituição de um corpus”. O conjunto de documentos

submetidos ao processo de análise é o que compõe o corpus. A sua criação

demanda escolhas, seleções e regras. São elas:

a) Regra da exaustividade: após a definição do corpus, deve-se levar em

consideração todos os elementos que o compõem;

b) Regra da representatividade: a análise pode ser realizada em uma

amostra. “Neste caso, os resultados obtidos para a amostra serão

generalizados ao todo” (BARDIN, 1977, p. 97);

c) Regra da homogeneidade: os documentos selecionados para o corpus da

pesquisa precisam ser escolhidos criteriosamente. De acordo com Bardin

(1977, p. 98), “esta regra é, sobretudo, utilizada quando se desejam obter

resultados globais ou comparar entre si os resultados individuais”;

d) Regra de pertinência: aqui, os documentos selecionados devem ser

adequados, fazendo jus ao objetivo da análise.

Delimitado o corpus, a próxima atividade é a formulação das hipóteses e dos

objetivos. Bardin (1977, p. 98) afirma que “uma hipótese é uma afirmação provisória

que nos propomos verificar (confirmar ou infirmar), recorrendo aos procedimentos de

análise”. O objetivo nada mais é do que o propósito da pesquisa.

A quarta etapa consiste na referenciação dos índices e a elaboração de

indicadores. O período prevê a consideração dos textos como instrumentos de

análise, organizando os indicadores de forma sistemática. Segundo Bardin (1977, p.

100), “desde a pré-análise devem ser determinadas operações: de recorte do texto

em unidades comparáveis de categorização para análise temática e de modalidade

de codificação para o registro de dados”.

45

A quinta e última atividade apresentada por Bardin (1977) é a preparação do

material. É nesta prática que o analista deve preparar o material reunido para a

utilização e, eventualmente, para a edição.

5.1.2 Exploração do material

Após a conclusão da pré-análise ocorre a exploração do material. Conforme

Bardin (1977, p. 101), “esta fase, longa e fastidiosa, consiste essencialmente de

operações de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras

previamente formuladas”.

A autora estabelece que processo de codificação envolve o tratamento do

material a ser analisado.

A codificação corresponde a uma transformação — efectuada segundo regras precisas — dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte, agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo, ou da sua expressão, susceptível de esclarecer o analista acerca das características do texto [...] (BARDIN, 1977, p. 103).

Bardin (1977) organiza a codificação a partir de três escolhas: o recorte, a

enumeração e a classificação e agregação. É quando o analista chega na

codificação que ele estabelece se a análise é quantitativa ou qualitativa. Para a

autora, a análise quantitativa fundamenta-se na frequência de aparição de

elementos da mensagem, já a análise qualitativa “é válida, sobretudo, na elaboração

de deduções específicas sobre um acontecimento ou uma variável de inferência

precisa, e não em inferências gerais” (1977, p. 115). Essa pesquisa acadêmica será

qualitativa.

Nessa fase, além de codificar, o analista deverá categorizar o material

selecionado. É na categorização que ocorre a classificação dos elementos do

conjunto, primeiramente por diferenciação e, após, segundo o seu gênero. Para,

Bardin (1977, p. 119), “a categorização tem como primeiro objectivo (da mesma

maneira que a análise documental), fornecer, por condensação, uma representação

simplificada dos dados brutos”.

De acordo com autora, um bom processo de categorização apresenta as

seguintes qualidades:

46

a) Exclusão mútua: cada componente deve se enquadrar em apenas uma

categoria;

b) Homogeneidade: a característica anterior depende dessa. “Um único

princípio de classificação deve governar a sua organização” (BARDIN,

1977, p. 120);

c) Pertinência: as categorias devem ser compatíveis ao material de análise,

integrando o quadro teórico estabelecido;

d) Objetividade e a fidelidade: as partes do material devem ser codificadas da

mesma maneira. De acordo com Bardin (1977, p. 120), “o organizador da

análise deve definir claramente as variáveis que trata, assim como deve

precisar os índices que determinam a entrada de um elemento numa

categoria”;

e) Produtividade: para ser considerado produtivo, um conjunto de categorias

precisa oferecer resultados férteis em índices de inferência, em hipóteses

novas e em dados exatos.

Finalizado o processo de pré-análise e da exploração do material, a próxima

parte da pesquisa será o tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

5.1.3 Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

A última fase da organização do processo de análise de conteúdo refere-se

ao tratamento dos resultados obtidos e interpretação. É nesta fase da pesquisa que,

segundo Bardin (1977), os resultados brutos são tratados a fim de que sejam

significativos e válidos.

De acordo com Fonseca Júnior (2005, p. 284), “a inferência é considerada

uma operação lógica destinada a extrair conhecimentos sobre os aspectos latentes

da mensagem analisada”. Bardin (1977) explica que esse processo acontece por

meio de pólos de atração, com base em elementos clássicos da comunicação. São

eles: a) o emissor e o receptor; b) a mensagem e o seu canal.

O emissor ou produtor da mensagem pode ser tanto um indivíduo quanto um

grupo. A função expressiva ou representativa da comunicação é importante para

proceder a hipótese de que a mensagem exprime o emissor.

47

O receptor também pode ser um indivíduo ou um grupo (restrito ou amplo),

aos quais as mensagens são direcionadas. A mensagem será transmitida ao

indivíduo com o objetivo de agir ou adequar-se a ele. Bardin (1997, p. 134) afirma

que, “por consequência, o estudo da mensagem poderá fornecer informações

relativas ao receptor ou ao público”.

A análise de conteúdo passa obrigatoriamente pela análise da mensagem.

Essa parte é dividida em dois níveis: o código e a significação. Segundo Bardin

(1977), o código é um indicativo que revela realidades subjacentes através de

questões formais. Quando resolvidas, tais dúvidas devem ser seguidas de outras

interrogações. Para a autora, a significação é considerada uma passagem

sistematizada pelo estudo formal do código, pois a análise de conteúdo pode ser

realizada a partir das significações obtidas com a mensagem.

[...] a análise de conteúdo constitui um bom instrumento de indução para se investigarem as causas (variáveis inferidas) a partir dos efeitos (variáveis de inferência ou indicadores; referências no texto), embora o inverso, predizer os efeitos a partir de fatores conhecidos, ainda esteja ao alcance das nossas capacidades (BARDIN, 1977, p. 137).

Existe também o médium, que atua como o canal, o instrumento, o objeto

técnico e o suporte material do código. Porém, de acordo com Bardin (1977), este

gênero é mais utilizado em procedimentos experimentais do que em análises de

conteúdo propriamente ditas.

A figura a seguir mostra o processo de Análise de Conteúdo segundo Bardin:

48

Figura 1 – Esquema de Análise de Conteúdo desenvolvido por Bardin

Fonte: Bardin, 1977, p. 102.

Para auxiliar na aplicação do método, serão utilizadas técnicas específicas de

acordo com o conteúdo a ser analisado.

5.2 TÉCNICAS

Para auxiliar na resposta da questão norteadora, a monografia em questão

utiliza como técnicas a revisão bibliográfica, a entrevista e a observação.

49

5.2.1 Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica é o planejamento inicial da pesquisa. Segundo a autora

Ida Regina C. Stumpf, no capítulo Pesquisa bibliográfica (2005), é nesta fase que o

pesquisador identifica, localiza e obtém a bibliografia sobre o assunto em questão, o

que irá ocasionar na apresentação de um texto organizado com evidências sobre o

pensamento dos autores.

Num sentido restrito, é um conjunto de procedimentos que visa identificar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico (STUMPF, 2005, p. 51).

A autora afirma que é preciso conhecer o que já existe sobre o tema a ser

abordado para nortear as bases a serem seguidas. De acordo com Stumpf (2005, p.

52), “a revisão da literatura é uma atividade contínua e constante em todo o trabalho

acadêmico e de pesquisa, iniciando com a formulação do problema e ou objetivos do

estudo e indo até a análise dos resultados”.

Para que o pesquisador identifique, selecione, localize e obtenha a

documentação necessária para o seu trabalho, Stumpf (2005) divide essa fase em

quatro partes: identificação do tema e assuntos; seleção das fontes; localização e

obtenção do material; leitura e transcrição de dados.

Na primeira etapa, a identificação do tema e assuntos, é fundamental a

escolha do tema da pesquisa. Para facilitar o trabalho do pesquisador, o assunto

deve tratar algo de seu conhecimento, instigando-o. Além disso, um esquema de

como será a divisão do tema em subtemas também irá auxiliar nos limites da

abordagem e na elaboração de um referencial teórico assegurado. Aqui, também

cria-se um rol de palavras-chaves relacionados ao tema para nortear as buscas

sobre o assunto. Nessa fase também delimita-se o tema dentro de espaço e tempo.

Na seleção das fontes, segundo a autora, o pesquisador irá identificar o

material que lhe dará suporte na pesquisa, realizando assim o levantamento

bibliográfico. Stumpf (2005, p. 56) assegura que “a primeira fonte para indicar a

bibliografia pertinente ao tema escolhido é o orientador”. Porém, o estudante

também deve ter acesso às fontes secundárias. Em seu artigo, a autora apresenta

as principais fontes secundárias:

50

a) Bibliografias especializadas: conjunto de publicações que concentram a

relação de obras publicadas sobre um tema em comum, de um

determinado tempo;

b) Índices com resumo: também intitulados abstracts, “são um índice da

literatura corrente de artigos de periódicos, contendo a referência e o

resumo de cada item” (STUMPF, 2005, p. 57);

c) Portais: acessíveis em sites de instituições mantenedoras, são porta de

entrada para serviços e informações, até mesmo bibliográficos;

d) Resumos de teses e dissertações: possuem nas publicações indicação do

autor, título, orientador, ano e universidade das dissertações e teses de

pós-graduação de uma instituição ou país;

e) Catálogos de bibliotecas: listagem de obras de uma biblioteca,

classificados por autor, título e assuntos;

f) Catálogos de editoras: na maioria das vezes disponíveis em bibliotecas,

tais catálogos complementam a pesquisa, visto que as editoras publicam

livros em áreas específicas do conhecimento.

A terceira parte envolve a localização e obtenção do material. Segundo

Stumpf (2005), a localização dos documentos em bibliotecas ocorre por meio da

consulta ao catálogo, seja pela internet ou diretamente com as editoras e, em alguns

casos, até com o autor da obra.

Na quarta e última parte, a leitura e transcrição dos dados, o pesquisador

deve ler o material e determinar o que é prioridade em cada parte do trabalho. O

processo de leitura inclui anotações em fichas (fichamento do material), com dados

de referência da publicação, palavras-chaves e até mesmo citações de autores.

Como resultado da revisão bibliográfica desta monografia foram elaborados

três capítulos. O capítulo dois fala sobre a Evolucao do Jornalismo Impresso no

Brasil; o terceiro capítulo aborda a Convergência Digital; e o capítulo quatro discorre

sobre o Jornalismo Digital.

5.2.2 Entrevista

De acordo com Antonio Carlos Gil, no livro Métodos e técnicas de pesquisa

social (1999), a entrevista é a técnica mais flexível de coleta de dados. O autor

51

explica que neste processo “o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe

formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que lhe interessam à

investigação” (p. 117). Conforme seu nível de estruturação, segundo Gil, a entrevista

pode ser classificada em diferentes tipos:

a) Entrevista informal: é o tipo menos estruturado de entrevista. É diferente

da conversa porque tem como objetivo a coleta de dados. O intuito é obter

uma visão geral do problema pesquisado e identificar alguns aspectos da

personalidade do entrevistado;

b) Entrevista focalizada: aborda um tema específico. O entrevistado fala

abertamente sobre o assunto. É muito utilizada em casos experimentais;

c) Entrevista por pautas: é mais estruturada, visto que é guiada por pontos de

interesse explorados pelo entrevistador. O entrevistado fala

espontaneamente sobre as pautas apontadas;

d) Entrevista estruturada: ocorre de acordo com uma relação fixa de

perguntas, frequentemente intitulada questionário ou formulário. Visto que

as respostas recebidas são padronizadas, não é possível analisar os fatos

com maior profundidade.

Como resultado da aplicação dessa técnica foram realizadas entrevistas com

profissionais do jornal Zero Hora, tanto de forma presencial como por e-mail, no

formato de questionário. É possível entender melhor sobre esse processo no

próximo subtítulo.

5.2.2.1 Desenvolvimento das entrevistas

Para auxiliar no desenvolvimento da pesquisa, foi realizada a entrevista

estruturada por meio de questionário com seis profissionais do jornal Zero Hora.

Foram elaborados três questionários diferentes: um para os editores Nilson Vargas e

Vanessa Girardi; outro para os repórteres do projeto especial América Vermelha

Amanda Munhoz, Leandro Behs e Leonardo Oliveira, e outro para os profissionais

da editoria de Arte Diogo Perin e Leandro Maciel.

52

5.2.2.1.1 Perfil dos Entrevistados

a) Nilson Vargas, editor-chefe de Zero Hora. Formado em Jornalismo pela

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1989, possui pós-

graduação em Teoria da Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, de

São Paulo. Entre 1990 e 1997, atuou em assessoria de imprensa

empresarial na cidade de São Paulo. Depois, começou a trabalhar em

redações de jornais e revistas, entre eles a Veja, a Revista Amanhã, o

Diário Catarinense e o Zero Hora - onde ocupa o cargo de editor-chefe

desde abril de 2012. O contato com o profissional foi realizado por meio do

e-mail [email protected];

b) Vanessa Girardi, 37 anos, formou-se em Jornalismo pela Unisinos em

2001. É pós-graduada em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais

pela Estácio de Sá. Trabalhou no Jornal NH, do Grupo Sinos, de 2003 até

2007, como repórter esportiva. De 2007 até o momento integra o time do

jornal Zero Hora, onde atua como editora online de Esportes. O contato

com a profissional foi realizado por meio do e-mail

[email protected];

c) Leonardo Oliveira, 45 anos, é jornalista formado pela Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em 1995. Possui

mestrado pela Unisinos, com dissertação sobre a nova relação entre

clubes e repórteres setoristas. No campo profissional, atua no jornal Zero

Hora desde 1991, quando trabalhava em áreas de apoio à redação. Em

janeiro de 1996, ingressou na editoria de Política. Em maio do mesmo ano,

foi convidado para ingressar na editoria de Esportes. Dessa data até 2000,

foi setorista do Grêmio. Em 2001, passou a atuar como setorista do

Internacional, onde permaneceu até 2006, quando tornou-se editor-

assistente de Esportes. Em 2012, assumiu como editor de Esportes do

jornal Diário Gaúcho. Em 2014, retornou pra redação de Zero Hora, com a

integração do esporte dos dois jornais. Desde então, acumula os cargos

de colunista online, editor de Esportes do Diário Gaúcho, colunista do ZH

Noite e repórter especial. O contato com o profissional foi realizado por

meio do e-mail [email protected];

53

d) Amanda Munhoz, 28 anos, formada em jornalismo pela Unisinos em 2009,

e pós-graduada em Cultura Digital e Mídias Sociais também pela Unisinos.

Em 2007, iniciou a sua trajetória no jornal Diário Gaúcho por meio do

atendimento ao leitor, em que estudantes faziam o intermédio do leitor

com a redação. Três anos depois, já graduada, foi promovida a repórter de

opinião. Também passou pelas editorias de Geral e Polícia até chegar no

Esporte, em 2013. A convite do jornal Zero Hora, no fim de 2014, juntou-se

à equipe de Esportes, onde está até hoje. Com a matéria Trago FC, foi

premiada com o segundo lugar do Prêmio ARI. O contato com a

profissional foi realizado por meio do e-mail

[email protected];

e) Leandro Behs, 43 anos, é formado pela Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul (PUCRS) em 1997. Já trabalhou na Rádio Guaíba,

Rádio Gaúcha, CRT, Rádio Pampa, Portal Pelé.Net (atual UOL Esportes),

Correio do Povo, Portal do Esporte (atual Globo.com) e Revista Placar.

Atualmente é repórter de Esportes do jornal Zero Hora. O contato com o

profissional foi realizado por meio dos e-mails

[email protected] e [email protected];

f) Leandro Maciel, 52 anos, é graduado em Publicidade e Propaganda pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Atualmente é editor de Arte do jornal Zero Hora. Possui especializações

em infografia pela Society for News Design e pelo Jornal O Globo e em

design gráfico pela Universidade de Palermo, em Buenos Aires. Em 2016,

recebeu medalhas de ouro e honra ao mérito no prêmio do 10º aniversário

do site internacional de design de jornal da Índia,

www.newspaperdesign.in, em associação com a SOCIETY FOR NEWS

DESIGN REGION 19. Também conquistou medalha de bronze no prêmio

ÑH2016 Lo Mejor del Diseño Periodístico de España, Portugal y América

Latina em 2016. O contato com o profissional foi realizado por meio do e-

mail [email protected].

A elaboração dos questionários ocorreu no fim do mês de dezembro de 2016

e, após as correções, as perguntas foram encaminhadas por e-mail no dia 11 de

54

janeiro. Os arquivos encontram-se nos apêndices da pesquisa. O web designer24

Diogo Perin não respondeu ao e-mail. Como a repórter Amanda Munhoz retornou o

contato após os demais entrevistados, ela sugeriu que a entrevista fosse presencial,

por meio de uma visita ao jornal Zero Hora. Para isso, a pesquisadora deslocou-se

até Porto Alegre no dia 3 de abril de 2017.

5.2.3 Observação

A técnica da observação é uma base essencial para a pesquisa. Segundo Gil

(1999), a observação torna-se mais evidente na fase de coleta de dados. O autor

aponta que “a observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir

os conhecimentos necessários para o cotidiano” (p. 110). A técnica é classificada em

três categorias: observação simples, observação participante e observação

sistemática. De acordo com Gil (1999), na observação simples – técnica utilizada na

monografia – o pesquisador fica distante ao seu objeto de estudo, observando de

forma espontânea os fatos que ocorrem a respeito. Neste caso, o pesquisador age

mais como espectador do que como ator.

Já na participante, o autor afirma que o pesquisador é presença ativa na

observação da comunidade, grupo ou situação a ser estudada.

A observação participante pode assumir duas formas distintas: (a) natural, quando o observador pertence à mesma comunidade ou grupo que investiga; e (b) artificial, quando o observador se integra ao grupo com o objetivo de realizar uma investigação (GIL, 1999, p.113).

A observação sistemática, segundo Gil (1999), é muito utilizada em pesquisas

que buscam a descrição precisa dos fenômenos ou teste das hipóteses. A partir

disso, é preciso criar, antecipadamente, um plano de observação que determine o

que e quando será observado. Essa técnica ocorre em situações de campo ou de

laboratório.

24 Os web designers têm como maior preocupação desenvolver uma interface sólida que garanta o perfeito entendimento do conteúdo e a qualidade de navegação. Disponível em <http://www.tecmundo.com.br/blog/2934-profissao-webdesigner.htm>. Acesso em: 27 jun. 2017.

55

5.2.3.1 Objeto de pesquisa

O objeto de pesquisa da monografia em questão é o jornal Zero Hora. Para

isso, é preciso conhecer o perfil do veículo, abordado no próximo subtítulo.

5.2.3.1.1 O jornal Zero Hora

Em circulação desde 4 de maio de 1964, o jornal Zero Hora25 é referência

editorial para os demais veículos do Grupo RBS. Em 1996, a edição e produção do

periódico passaram a ser digitais. Em 2007, entrou no ar o website zerohora.com.

Após cinco anos, a versão digital do seu conteúdo impresso passou a ser cobrada.

Ao completar 50 anos, em 2014, Zero Hora passou por um processo de

mudança editorial, gráfica e de marca. O editorial do veículo mostra que as

alterações foram percebidas tanto no papel quanto no online, começando um ciclo

de reposicionamento que também otimizou a navegação em tablets26, a exemplo do

ZH Tablet27, e em celulares. Com o ZH Tablet, os assinantes têm acesso ao jornal

digital e também ao ZH Noite, que apresenta um apanhado dos assuntos que foram

notícia durante o dia. As transformações também incluíram novos colunistas,

cadernos diversificados, mudança de paleta de cores, mais espaço para arte,

ilustração, infografia e vídeos.

Os assinantes da plataforma digital28 podem navegar de forma ilimitada pelo

site, com direito ao jornal digital e conteúdos exclusivos. A aba que contém os

Especiais ZH, cujo um deles é objeto de análise da pesquisa, também pode ser

acessada.

25 Disponível em: <http://www.gruporbs.com.br/atuacao/zero-hora/>. Acesso em: 17 nov. 2016. 26 É um tipo de computador portátil, de tamanho pequeno, fina espessura e com tela sensível ao toque. Disponível em: <https://www.significados.com.br/tablet/> Acesso em: 13 dez. 2016. 27 Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/12/zh-tablet-ja-esta-a-venda-4919809.html> Acesso em: 13 dez. 2016. 28 Disponível em: <https://www.assinanterbs.com.br/assinatura/zero-hora>. Acesso em: 17 nov. 2016.

56

5.2.3.2 Corpus da pesquisa

Por meio da observação simples, a pesquisa analisou todo o conteúdo que

envolve o projeto especial América Vermelha, do jornal Zero Hora. A reportagem

relembra os 10 anos da vitória do Sport Club Internacional, que também será tratado

como Inter neste subtítulo, na Copa Libertadores da América. A conquista do

primeiro título da competição pelo Inter foi recontada nos bastidores da campanha.

Os textos revelam amuletos de jogadores, comissão técnica e direção, como os

adversários viram o time, e onde estão os jogadores que ergueram a taça no Beira-

Rio.

O material foi publicado no site de ZH em 13 de agosto de 2016. Além do

texto, o projeto conta com recursos multimídias como web documentário, bastidores

da conquista, quiz e videográfico. No jornal impresso, o conteúdo foi publicado em

16 de agosto de 2016. Neste espaço, foram apresentados os mesmos textos da

plataforma online, com algumas modificações devido ao espaço restrito. Fotos e

ilustrações também compõe a reportagem no meio impresso. Os prints29 de todo o

conteúdo do projeto especial publicado no jornal impresso e no site encontram-se

nos anexos da pesquisa. Para registrar a visita feita ao jornal Zero Hora pela

pesquisadora foi elaborado um relato, que está descrito no item abaixo.

5.2.3.3 Relato da visita

A possibilidade de visitar a redação do jornal Zero Hora surgiu no dia 16 de

março. Nesse dia, recebi um e-mail da repórter de esportes Amanda Munhoz

dizendo que não responderia ao questionário que eu havia enviado em 11 de

janeiro, porque achava melhor conversarmos pessoalmente. Após falar com a

professora orientadora da monografia, decidimos que seria muito bom para o

trabalho realizar a entrevista presencial com a repórter. A visita foi agendada para o

29 Tirar uma "foto" da tela do computador. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/print/12849/>. Acesso em 19 dez. 2016.

57

dia três de abril, às 14 horas. No dia anterior, enviei uma mensagem para Amanda

por WhatsApp confirmando o nosso encontro.

Na manhã do dia três saí de Flores da Cunha com destino a Porto Alegre.

Cheguei na cidade por volta das 11 horas. Pontualmente, às 14 horas, eu estava na

recepção do prédio de Zero Hora, na Avenida Ipiranga, número 1.075. Após realizar

um cadastro e receber um crachá do Grupo RBS, esperei a repórter vir me receber.

Minutos depois, Amanda chegou e levou-me para conhecer o prédio. O

primeiro espaço que ela me apresentou foi o estúdio da Rádio Gaúcha. Na ocasião,

estava no ar o programa Sala de Redação. Consegui ver o apresentador Pedro

Ernesto Denardin e os também integrantes, o ator Zé Victor Castiel e a jornalista

Kelly Matos.

Depois de passarmos pelas dependências da rádio, subimos para a redação

de Zero Hora, agora integrada com a do jornal Diário Gaúcho. O lugar é grande e,

naquele momento, praticamente todos os jornalistas já ocupavam suas mesas.

Amanda explicou-me a divisão das editorias e me apresentou para algumas pessoas

que passaram por nós, como a editora de variedades do Diário Gaúcho, Flávia

Requião.

Em seguida, entramos em uma sala para a realização da entrevista. Antes de

começar a responder o questionário sobre o projeto especial América Vermelha,

Amanda contou-me a sua trajetória de 10 anos no Grupo RBS. Ela começou

trabalhando no atendimento ao leitor no jornal Diário Gaúcho e passou por algumas

editorias até chegar onde queria: a editoria de Esportes. Em 2014, passou a atuar na

editoria de esportes de Zero Hora, onde é setorista do Sport Club Internacional.

Após, comecei as perguntas sobre o projeto especial América Vermelha,

objeto de análise da presente monografia. Amanda contou-me sobre todas as fases,

e falou que seu papel foi produzir conteúdo interativo para a plataforma online.

Conversamos sobre isso por aproximadamente 45 minutos.

Ao encerrarmos o assunto, pedi se poderíamos tirar uma fotografia juntas.

Saímos da sala e fomos até um bar situado ao lado da redação. Lá nos encontramos

com Pedro Ernesto Denardin, Tulio Milman e outros jornalistas. Amanda pediu para

que um colega tirasse uma foto nossa e fomos até a redação para registrar o

momento, de acordo com a Figura 2.

58

Figura 2 – Registro da visita da pesquisadora ao jornal Zero Hora

Fonte: acervo pessoal da pesquisadora.

Feito isso, descemos até a recepção e Amanda se colocou à disposição se

caso eu precisar da ajuda dela para o trabalho. Nos despedimos, devolvi o crachá

59

para a recepcionista e deixei o local. Minha permanência no prédio de Zero Hora foi

de uma hora e meia.

A partir da aplicação do método e das técnicas e com desenvolvimento da

pesquisa até o momento será possível realizar a análise de conteúdo, assunto a ser

apresentado no próximo capítulo.

60

6 ANÁLISE DE CONTEÚDO

A partir da revisão bibliográfica, da observação do corpus da pesquisa e das

entrevistas realizadas com os profissionais do jornal Zero Hora, será possível

realizar a análise do projeto especial América Vermelha. O objetivo é responder a

questão norteadora: de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal

impresso na apropriação do conteúdo ofertado nas mídias do veículo de

comunicação? E confirmar ou refutar as hipóteses do estudo.

Para o melhor desenvolvimento do capítulo foram elencadas duas categorias

de análise, a partir da codificação e categorização do corpus da pesquisa, de acordo

com o método de Análise de Conteúdo, de Laurence Bardin. A primeira categoria

será o Jornalismo Impresso e a segunda categoria será o Jornalismo Digital,

subdividida em três subtítulos: transposição de conteúdo, Jornalismo Digital na

prática e a Convergência Digital em benefício do leitor.

6.1 JORNALISMO IMPRESSO

Para relembrar os 10 anos da conquista da Copa Libertadores da América

pelo Sport Club Internacional, o jornal Zero Hora produziu o projeto especial América

Vermelha. O material entrou no ar no site de Zero Hora em 13 de agosto de 2016.

No jornal impresso, a reportagem foi publicada na editoria de Esportes em 16 de

agosto de 2016, data em que se comemorou uma década do primeiro título da

competição vencida pelo Internacional. O conteúdo não teve um encarte dentro do

periódico, mas ganhou uma chamada na capa do jornal indicando que o leitor

poderia conferir a matéria naquela edição e o especial no site, conforme mostra a

Figura 3:

61

Figura 3 – Capa do jornal Zero Hora de 16 de agosto de 2016

Fonte: Arquivo Zero Hora.

Com textos assinados pelo repórter Leonardo Oliveira, a matéria contou com

seis páginas e uma capa. Em entrevista para a autora dessa monografia, Leonardo

62

Oliveira explicou que foi o coordenador do projeto. “Coube a mim também apurar

e escrever as reportagens que saíram no impresso, dos bastidores da conquista e

dos amuletos usados por alguns personagens daquele grupo de 2006” (OLIVEIRA,

2017).

O processo de produção começou cerca de três meses antes da publicação,

quando o editor de Esportes, Diego Araujo, repassou ao repórter Leonardo Oliveira a

tarefa de pensar na cobertura para o meio impresso e o online.

[...] me reuni com a repórter Amanda Munhoz e a editora-assistente de ZH Esportes, Vanessa Girardi, e fizemos um brainstorming30. Surgiram dessa reunião algumas, [sic] ideias como a de convidar o Perdigão para contar ao seu jeito a conquista, e também a série de vídeos com os personagens contando do local em que estavam no Beira-Rio. Também saiu dessa conversa a ideia de republicar o PDF das páginas da época. O projeto sempre foi pensado de forma conjunta, para o on e o impresso (OLIVEIRA, 2017).

Ao observar o material, pode-se perceber que os textos são aprofundados e

repletos de histórias e falas que retratam momentos vividos durante a competição. O

campeonato foi muito almejado pelo Internacional, que ainda não havia levantado a

taça de campeão da América. Enquanto isso, o seu rival, Grêmio, já era bicampeão

(1983 e 1995). Como o repórter Leonardo Oliveira trabalhou na cobertura do

certame, além das entrevistas, ele buscou informações em jornais da época.

[...] recorri muito porque alguns detalhes escapam à memória. Mas ajudou bastante também o fato de eu estar naquela cobertura como repórter. Fiz todos os jogos até as quartas de final como repórter. Era setorista do Inter. Fui ao México e ao Equador com o clube para cobrir jogos. No intervalo que houve na competição, de dois meses, passei a editor assistente aqui no jornal e participei da cobertura no baixamento das edições (OLIVEIRA, 2017).

Em entrevista para a autora dessa monografia, o repórter Leandro Behs

afirma que também utilizou jornais publicados na época da competição. “[...] tivemos

o apoio do CDI, o departamento responsável pelo material que já foi publicado por

ZH. Sem isso, seria bem mais difícil termos a precisão das histórias (nem tudo está

na internet)” (BEHS, 2017). Com base nos relatos, constata-se que a produção da

30 Esse processo se caracteriza por ser uma dinâmica de grupo, que é utilizada por diferentes tipos de empresas como um método que visa solucionar problemas específicos, através do desenvolvimento de ideias ou projetos. Disponível em: <http://www.novonegocio.com.br/empreendedorismo/o-que-e-brainstorming/> Acesso em 10 jun. 2017.

63

matéria exigiu bastante pesquisa e contextualização histórica dos repórteres. No

capítulo quatro da monografia, Pollyana Ferrari (2003) aponta que uma diferença

entre a internet e a mídia impressa é que as publicações feitas na web podem ser

resgatadas por meio do banco de dados, uma espécie de memória que facilita o

trabalho do jornalista. Já no meio impresso, o profissional conta com o acervo do

próprio veículo de comunicação. O leitor, por sua vez, precisava ter guardado o

jornal da época ou realizar uma pesquisa na internet em outros sites.

Como a reportagem apresenta um contexto histórico, abordando um fato

importante para o Internacional – a primeira conquista da Libertadores – nota-se que

o objetivo é remeter o leitor de volta à época do campeonato. Para isso, é possível

identificar a preocupação da equipe em produzir um material detalhado, que traz

aspectos importantes e curiosos sobre a taça disputada em 2006. Exemplo disso é a

parte da matéria que revela a saga de Roberto Moreno, auxiliar do técnico Abel,

para conseguir ver o treino da LDU no Equador:

Foi a partir da viagem ao Equador para pegar a LDU que o Inter começou a ganhar a Libertadores. A delegação saiu de voo fretado de Curitiba – onde havia ganho de 2 a 1 do Atlético-PR pelo Brasileirão – e fez escala em Guayaquil. Treinou no estádio do Emelec na terça-feira e, cinco horas antes do jogo, subiu para Quito. O trajeto deveria durar meia hora. Só que, ao se aproximar da capital equatoriana, o avião encontrou uma tempestade de granizo. Os solavancos da aeronave e o barulho das pedras batendo na fuselagem aterrorizaram os colorados. – Ave Maria, cheia de graças... Pai Nosso que estais no céu ... – rezava Abel Braga baixinho. Entre uma oração e outra, o técnico praguejava: – Quem foi o FDP que arrumou esse voo na hora do jogo? FDP de altitude que me faz ir na hora do jogo! Os jogadores desceram em Quito com a LDU esmiuçada. Roberto Moreno, o Robertinho, auxiliar de Abel, dissecava os rivais com rigor. Parceiro de Abel desde a passagem pela Ponte Preta, em 2003, Robertinho não se furtava nem de virar um 007. Como fez em Montevidéu, antes do jogo com o Nacional pela fase classificatória. Para ver o treino, pediu a um amigo que comprasse uma camiseta do clube e o esperasse numa Kombi com uma bicicleta dentro. Os dois rumaram até o CT de Los Céspedes, a 12 quilômetros do centro de Montevidéu. Robertinho desceu fardado do carro e, com a bicicleta, recostou-se numa parada de ônibus com vista para o campo. Um uruguaio parou ao seu lado, passou a fitar seu relógio e a tentar ler o que escrevia na prancheta. Sestroso, o auxiliar saiu dali e pedalou até um matagal atrás de uma das goleiras. Enquanto anotava os segredos do rival, quase foi atingido por uma bolada. Ergueu a cabeça e viu dois gandulas correndo em sua direção. Não esperou para saber se eles queriam a bola ou a sua cabeça. Na fuga por uma trilha no mato, caiu da bicicleta. A delegação o reencontrou todo lanhado no hotel (Jornal Zero Hora, 16 de agosto de 2016, p. 33).

Apesar de o trecho ser um pouco longo, ele registra claramente o que a

pesquisadora quer dizer nesse âmbito. O aprofundamento do texto é próprio de um

conteúdo com foco no jornalismo impresso, onde o leitor tem um tempo maior para

64

dedicar a esse tipo de leitura. Como ele não tem outros recursos sobre esse assunto

a não ser o texto, o detalhamento apresentado é importante. Dessa forma, nota-se

que esse tipo de linguagem aproxima-se de um contexto mais literário.

Além de abordar a campanha no campeonato e mostrar curiosidades, a

reportagem também fala sobre os amuletos, contando superstições que iam desde o

presidente até o massagista do clube. Esse conteúdo vai além do futebol e parte

para o lado emocional, revelando as crenças de alguns personagens daquele grupo.

Nesse caso, há um envolvimento com o leitor, já que as pessoas podem se

identificar com aquilo que o entrevistado diz. O ex-presidente Fernando Carvalho,

por exemplo, seguia alguns rituais. Entre eles, tinha o hábito de repetir a roupa. O

traje que dava sorte era a calça cáqui, a camisa branca ou rosa e o paletó xadrez,

como ilustra a Figura 4:

Figura 4 – Superstição de Fernando Carvalho

Fonte: Arquivo Zero Hora.

A partir da observação do material, pode-se perceber que esse estilo de

reportagem fortalece o jornalismo impresso e preserva suas peculiaridades.

Conforme afirma Noblat (2004), no capítulo quatro da monografia, “notícia em tempo

real deve ficar para os veículos de informação instantânea – rádio, televisão e

internet. Jornal deve ocupar-se com o desconhecido. E enxergar o amanhã” (p. 38).

Nessa perspectiva, é possível compreender que a profundidade do conteúdo

apresentado o diferencia do hard news.

A reportagem apresentada ao leitor (e possível torcedor do Internacional)

segue aspectos importantes levantados por Noblat (2004) no capítulo quatro da

monografia: “surpreender mais e mais os leitores com informações que eles

desconheçam, interagir com os leitores e abrir mais espaço para que falem e sejam

65

ouvidos e publicar textos que emocionem, comovam e inquietem” (p. 16-17). Sendo

assim, o leitor é beneficiado com a qualidade da informação recebida, o que pode

gerar uma relação de fidelidade com o veículo de comunicação.

Mesmo com a qualificação da notícia e a aproximação do leitor, a expansão

do jornalismo na internet causou incerteza acerca do futuro dos jornais impressos.

Conforme abordado no capítulo dois desta monografia, Arnt (2002) explica que a

característica da tecnologia digital é complementar o meio impresso.

Os meios tecnológicos digitais representam uma nova etapa do jornalismo, um novo meio, um novo suporte, mas não uma ruptura na maneira de criar e comunicar os conteúdos do pensamento. A possibilidade de acesso aos jornais recentes e antigos, bem como a arquivos primários de informação, modifica o patamar da comunicação cuja característica passa a ser a acessibilidade aos conhecimentos e aponta para o potencial de informação sobre sociedade (ARNT, 2002, p. 237).

Dessa forma, evidencia-se que ainda é possível encontrar histórias que

prendam a atenção do leitor na plataforma impressa, seja pelo modo como são

contadas ou pelos mecanismos utilizados. Na reportagem objeto de análise, nota-se

a presença de fotografias, infográficos e ilustrações que complementam o conteúdo.

De acordo com Arnt (2002), como explicado no capítulo dois da monografia, “o jornal

impresso conserva a sua formatação original em “mosaico”, abrigando a pluralidade

de assuntos, temas, enfoques que refletem os diversos segmentos em que se

fragmenta a sociedade” (p. 232).

Nesse sentido, é visível a preocupação em atrair o leitor com fotografias,

infográficos e ilustrações. As páginas que compõem a reportagem contam com

fotografias da competição, imagens atuais do ex-presidente, ex-jogadores, roupeiro

e massagistas do clube no Beira-Rio. Infográficos e ilustrações mostram o caminho

percorrido até a conquista do título, o time-base, a campanha e quem foram os

campeões. Entre as fotografias utilizadas para ilustrar a matéria, está a épica

imagem em que o capitão do time à época, Fernandão (falecido em 2014 vítima de

um acidente de helicóptero), ergue a taça no estádio Beira-Rio, como mostra a

Figura 5.

66

Figura 5 – Fernandão ergue a taça de campeão da Libertadores

Fonte: Arquivo Zero Hora.

Os infográficos também são aliados do meio impresso para a

contextualização de histórias. Um dos infográficos publicados na reportagem, Quem

Foram os Campões (Figura 6), cita o nome dos jogadores que disputaram o

campeonato, a idade que tinham em 2006 e onde estavam em 2016.

67

Figura 6 – Infográfico Quem Foram os Campões

Fonte: Arquivo Zero Hora.

A apresentação do conteúdo na forma de infográfico é mais convidativa, além

de aprimorar o design da página. No infográfico mostrado acima, é possível conferir

informações sobre o elenco do time campeão, o que é interessante para o leitor, já

que a maioria dos jogadores não atua mais no Internacional.

Porém, apesar do aproveitamento desses recursos, sabe-se que a produção

do jornalismo impresso é limitada a textos, imagens, gráficos e ilustrações. Para

fisgar o leitor, é preciso que a diagramação faça a diferença. Na percepção de

Oliveira (2017), o design e a diagramação representam muito. “[...] um design

arejado e com beleza torna ainda mais envolvente a leitura de um texto qualificado”

(OLIVEIRA, 2017). Nesse seguimento, o repórter Leandro Behs afirma que o mundo

em que vivemos é visual. “[...] nosso olhar já está acostumado a isso e pede por

design e uma apresentação bonita. Sem isso, perderíamos muito em audiência nas

68

matérias” (BEHS, 2017). Na reportagem em questão, além de fotografias,

infográficos e ilustrações, percebe-se a utilização das cores do Internacional

(vermelho e branco) na diagramação, o que deixa o material mais atraente. Com

isso, o leitor acaba se interessando pelo conteúdo.

Contudo, a diagramação não é o único desafio do jornalismo impresso. No

capítulo três da monografia, Lucas Vieira de Araujo (2015) explica que:

muito mais que consequência do hibridismo inerente aos tempos atuais, o cenário inspira cuidados e reflexões por parte dos meios de comunicação mais maduros porque a nova geração de consumidores tem forte apego às novas tecnologias e certa resistência ao meio físico, como o papel, e ainda ao modelo de negócio baseado em grade de programação, base de sustentação da TV e do rádio. Como não existe uma forma estabelecida de como lidar com esses fenômenos, os meios de comunicação ainda lutam para se manter sem saber ao certo se trará os resultados esperados. De qualquer forma, o processo de incorporação e de cerceamento da imprensa pelas empresas de base tecnológica e pelas operadoras já começou (ARAUJO, 2015, p 13).

Devido a isso, pode-se perceber que as ferramentas utilizadas na reportagem

em questão foram bem exploradas, garantindo um conteúdo aprofundado para o

leitor. Apesar de estática e linear, a matéria também apresenta pontos de interação.

Em três momentos o leitor é chamado para conferir o material no site. A primeira

direciona para o web documentário; a segunda para o quiz; e a terceira para o

projeto especial em si, como pode ser observado na Figura 7:

Figura 7 – Chamada para conteúdo online

Fonte: Arquivo Zero Hora.

69

Segundo Jenkins (2009), no capítulo três da monografia, a convergência pode

ser favorável para a ampliação dos meios de comunicação, já que o conteúdo é

difundido em várias plataformas. Nesse âmbito, em entrevista para a autora dessa

monografia, a editora online de Esportes, Vanessa Girardi, afirma que os meios

impresso e online se complementam.

O site tem a instantaneidade da notícia e pode, num segundo momento, aprofundar notícia com especiais, webdocs, com uma infinidade de conteúdos multimídia. O impresso, embora tenha delimitação de espaço, de páginas, tem como desafio diário fugir do básico e aprofundar o assunto, além de permitir chamadas via links e QR Codes para o site (GIRARDI, 2017).

Nesse sentido, nota-se que os avanços tecnológicos provocados pela internet

possibilitaram a atualização do jornalismo impresso. No capítulo quatro da

monografia, Noblat (2004, p. 22) afirma que “a única coisa que um jornal não pode é

deixar-se ficar para trás quando seus leitores avançam”. Conforme o autor, assim

como no jornalismo digital,

exige-se do candidato a uma vaga nas redações que seja profissional completo e polivalente. Ele tem de dominar todas as técnicas para o exercício da profissão, manejar os instrumentos capazes de ajudá-lo a fazer melhor o trabalho e ter a nítida compreensão do seu papel de jornalista multimídia (NOBLAT, 2004, p. 36).

É por isso que o jornalista de mídia impressa também precisa dominar os

mecanismos disponíveis na internet. Noblat (2004) declara que é preciso colocar o

acervo de recursos da informática a serviço da informação a ser divulgada. Além

disso, o profissional precisa estar em constante atualização. Nessa perspectiva,

segundo o editor-chefe de Zero Hora, Nilson Vargas, em entrevista para a autora

dessa monografia, o jornalista versátil e adaptado a todas as mídias é bem-vindo na

redação.

O profissional não precisa saber executar todas as funções em todas as plataformas, mas precisa ter noções claras de como elas se constroem, como são acessadas pelo público, as diferenças entre elas, como se complementam. Conceitos novos, ferramentas novas, tecnologias novas se somam a todo momento. Não se trata de abandonar as premissas essenciais do bom texto, da apuração completa, da imagem com valor estético e/ou jornalístico, mas de somar novos saberes para estar pronto a encarar o novo ambiente profissional (VARGAS, 2017).

70

Desse modo, percebe-se que por meio de textos, ilustrações, imagens e

infográficos, a reportagem apresentou um conteúdo aprofundado e relevante para

torcedores do Internacional e amantes do esporte. Porém, a parceria com a

plataforma digital pode qualificar ainda mais esse conteúdo, possibilitando diferentes

interações para o leitor do impresso na internet. O próximo subtítulo irá analisar o

projeto especial América Vermelha no site de Zero Hora.

6.2 JORNALISMO DIGITAL

Para melhor analisar o tema em questão, optou-se por dividir esse subtítulo

em três abordagens: transposição de conteúdo, Jornalismo Digital na prática e a

Convergência Digital em benefício do leitor.

6.2.1 Transposição de conteúdo

No que diz respeito ao texto, cerca de 90% da reportagem publicada no jornal

impresso sobre os 10 anos da conquista da Libertadores da América pelo

Internacional foi transposta para o especial no site. Conforme o repórter Leonardo

Oliveira, os conteúdos impresso e online foram trabalhados de forma conjunta.

Na parte de texto, como o material seria apenas reaplicado em um formato online, não houve grande preocupação. Exigia apenas a transposição para um modelo usado aqui no jornal para especiais. Eu fiquei responsável por essa parte. Enquanto isso, a Amanda Munhoz assumiu a parte de produção e execução dos vídeos e webdocumentário (OLIVEIRA, 2017).

Nesse contexto, no capítulo quatro da monografia, Ferrari (2003) defende um

conceito diferente para jornalismo online e digital. O jornalismo online é marcado

pela transposição de conteúdos do impresso para a internet. Segundo Ferrari (2003,

p. 41), o digital “compreende todos os noticiários, sites e produtos que nasceram

diretamente na Web”. Dessa forma, é possível constatar que grande parte da

reportagem caracteriza-se, dentro dessa perspectiva, como jornalismo online.

Sob o título Os Adversários, a quinta aba do especial no site é a única parte

que não consta no material impresso. O texto fala sobre como os adversários Martín

Lasarte, técnico do Nacional à época, e Mineiro, gaúcho e herói do São Paulo na

71

conquista do mundial no ano anterior, viram o título conquistado pelo Internacional.

Acima do texto, há uma foto de cada um deles, como pode ser visto na Figura 8:

Figura 8 - Print Screen da aba Os Adversários

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/

america-vermelha/>. Acesso em: 10 jun. 2017.

72

O que pode justificar a transposição do conteúdo do meio impresso para o

site é o fato de que as editorias são integradas em Zero Hora, conforme conta a

editora online de Esportes, Vanessa Girardi:

a equipe de Esportes produz conteúdos para o impresso e para o site. O conteúdo é pensado como um todo. Depois de definido o assunto, se estrutura o material que será usado na edição impressa e o que estará no especial online, que pode ser o mesmo repórter a fazer ou não. Geralmente, um material complementa o outro, dentro da particularidade de suas plataformas (GIRARDI, 2017).

Em entrevista para a autora dessa monografia, a repórter Amanda Munhoz

revela que essa parte do texto foi um acréscimo que o online teve, já que o espaço

no papel é limitado. Além disso, nota-se que outras partes do texto estão um pouco

maiores do que no impresso, mas acredita-se que isso ocorreu em função do layout

ilimitado das páginas no meio digital. A única parte que consta no impresso e não

está no site, é uma pequena retranca pontual sobre um jogo festivo que ocorreu no

dia 16 de agosto de 2016, no Beira-Rio, para celebrar os 10 anos da conquista.

Ferrari (2003) aponta, no capítulo quatro da monografia, que “[...] os

jornalistas on-line precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles

podem ser complementados” (p. 48). Como são plataformas diferentes, com

interações e linguagens diferentes, o ideal não seria apenas transpor o conteúdo,

mas sim produzi-lo de acordo com o meio em que está inserido.

Nesse sentido, sabe-se que a internet possibilitou aos jornalistas novas

maneiras de redigir uma notícia. Ferrari (2003) afirma que o conteúdo é geralmente

mais sintético e multimídia do que no meio impresso, onde em função de poucos

recursos tecnológicos, o conteúdo precisa ser mais descritivo. Já na esfera digital, a

multimidialidade traz novas possibilidades de conexões. A autora ressalta que “o

público on-line é mais receptivo para estilos não convencionais, já que o leitor não

tem tanto compromisso ao navegar, ele “zapeia” pelos canais, ficando pouco tempo

mesmo na notícia que lhe interessa” (p. 49). Apesar das particularidades da

plataforma digital, vale lembrar que o material produzido para o especial América

Vermelha é extenso e repleto de contexto histórico.

Segundo a repórter Amanda Munhoz, os conteúdos foram trabalhados ao

mesmo tempo, mas em frentes diferentes.

73

A gente pensou como que a história ia ser contada pro papel. E aí a gente pensou que seria daquele jeito, uma das coisas eram os amuletos [...], e aí fazendo toda essa parte mais de resgate histórico, de como que aconteceu, de detalhes da época que as pessoas não lembram. A gente tinha que ter o lado das pessoas que enfrentaram esse Inter (MUNHOZ, 2017).

Além do texto, algumas fotografias que ilustraram a matéria no meio impresso

também foram utilizadas no especial no site. Isso pode ser explicado devido à

singularidade das imagens retratadas durante a competição.

Por outro lado, com todo o investimento feito por Zero Hora na plataforma

digital31 nos últimos anos, o texto disponível no meio online não foi diferenciado do

publicado no meio impresso. Apesar disso, o repórter Leandro Behs afirma que a

parte digital nunca esteve dissociada do projeto. “[...] até porque o online te dá mais

liberdade de ação, de criação” (BEHS, 2017).

Portanto, o jornalista de web precisa pensar em novas formas para atrair o

leitor. De acordo com Ferrari (2003, p. 47), “não existe segredo: o leitor percebe

quando encontra uma página completa ou outra “rasa””. Na internet, o

comportamento do usuário é diferente do que ao ler um livro. Facilmente, o

internauta pode pular de um lugar para outro, seja na mesma página ou em qualquer

outro site.

Desse modo, é preciso apresentar um conteúdo que prenda a atenção do

leitor/espectador. No caso da reportagem disposta no especial América Vermelha, o

texto é longo, porque foi preciso contextualizar a saga do Internacional no

campeonato. Além disso, não há limite de espaço no meio online. Apesar de o

material apresentado ser de qualidade, o conteúdo deveria ter passado por uma

adaptação de acordo as características da plataforma online.

Porém, o especial América Vermelha não contou somente com o material

transposto do jornal impresso. O próximo subtítulo aborda a produção de conteúdo

feita exclusivamente para o site.

6.2.2 Jornalismo Digital na prática

A reportagem que celebra os 10 anos da conquista da Libertadores da

América pelo Internacional também contou com conteúdo digital. Já na abertura do

31 Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/01/zh-lanca-superedicao-de-fim-de-semana-e-novas-plataformas-digitais-4961975.html>. Acesso em 12 jun. 2017.

74

projeto especial no site, encontra-se disponível o web documentário produzido,

conforme ilustra a Figura 9:

Figura 9 – Print Screen da chamada para o web documentário

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/america-vermelha/>. Acesso em: 12 jun. 2017.

Com 10 minutos e 48 segundos de duração, o web documentário Meu lugar

na América: 10 anos da Libertadores 2006 se passa no estádio Beira-Rio e conta

com depoimentos dos jogadores campeões de 2006 Alex, Índio e Tinga. Além deles,

o massagista do clube, o ex-presidente Fernando Carvalho e torcedores também

falaram sobre a saga da conquista. A produção contém imagens dos jogos, da

torcida e áudios de narrações realizadas pela rádio Gaúcha. Os depoimentos falam

sobre o ano difícil de 2005, quando o Inter ficou em segundo lugar no Campeonato

Brasileiro, a liderança do capitão Fernandão, o time unido, a expulsão de Tinga

depois de tirar a camisa após o gol da final, entre outras peculiaridades. Conforme

Behs (2017), a ideia de fazer um web documentário surgiu desde o início do projeto.

“[...] cada vez mais ansiamos fazer coisas desse gênero. E, quando temos um

material rico assim, aproveitamos a chance. Muitos mais virão” (BEHS, 2017).

Responsável pela reportagem e produção do vídeo, Munhoz (2017) conta que

precisou da parceria do time para a realização do web documentário. Como as

gravações foram no período da noite, as luzes do estádio precisavam estar ligadas.

Além disso, a taça do título também foi utilizada. Sobre o conteúdo final apresentado

ao espectador, a repórter relata que foi preciso trabalhar muito para oferecer algo

diferente do que já se tinha visto. Munhoz conta que o web documentário também

75

despertou o lado emocional dos torcedores. “[...] eu consegui chegar no coração dos

colorados” (MUNHOZ, 2017).

Dessa forma, é possível perceber que a equipe também preocupou-se em

explorar os recursos multimídia para oferecer mais interatividade ao usuário. Ferrari

(2003) afirma que o profissional precisa considerar vários fatores para impulsionar a

reportagem: enquete (pesquisa de opinião), vídeos, áudios, links com informações

sobre o tema, etc.

Com os personagens da conquista relembrando o primeiro título da

Libertadores vencido pelo Inter, o web documentário produzido para o projeto

especial América Vermelha foi uma boa forma de aproximar o leitor do conteúdo.

Agora, a história é contada de forma visual e não mais somente em textos. De

acordo com Prado (2011), no capítulo quatro da monografia, quando as matérias

recebem suportes multimídia como áudio, vídeo, animação, entre outros, os leitores,

evidentemente, ultrapassam a barreira da leitura e também ouvem e veem.

Além do web documentário, na aba Os Bastidores, a matéria conta com gifs32

dos ex-jogadores Alex, Índio e Tinga. Nota-se que o recurso foi utilizado para

separar o texto da reportagem, como mostra a Figura 10:

Figura 10 – Print Screen do gif do ex-jogador Tinga

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/america-vermelha/>. Acesso em: 15 jun. 2017.

32 São arquivos que permitem animações curtas e repetidas para serem vistas na internet. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-38727418>. Acesso em 10 jun. 2017.

76

Diferentemente do meio impresso, a plataforma digital permite o uso de

imagens em movimento. Conforme Nora Paul (2007), no capítulo quatro da

monografia, a televisão, por exemplo, faz o uso de vídeo, áudio e animação.

Enquanto o impresso opera com texto, fotos e gráficos. Já o ambiente digital pode

usar todos esses e outros recursos oriundos dos veículos de comunicação. Nesse

sentido, a utilização de gifs dos ex-jogadores é outra ferramenta que pode

complementar a experiência do usuário na internet.

O vídeo Perdigão: causos, bastidores y otras cositas más, presente na

terceira aba do especial – intitulada O dono do vestiário – é outro exemplo de

interatividade oferecida ao usuário. Na produção, o ex-jogador fala sobre os

bastidores da conquista com muito bom humor. Segundo Munhoz (2017),

responsável pela reportagem, a entrevista com o Pergidão foi uma aposta para o

online porque ele é uma figura que se enquadra nesse perfil. “O Perdigão para mim

é sensacional, ele é um personagem sensacional, eu fui pra Curitiba entrevistar ele”

(MUNHOZ, 2017).

Com seu jeito irreverente, o ex-jogador revela peculiaridades sobre o elenco

do time à época e também as artimanhas que fazia para manter o peso ideal. Ao

observar o material, percebe-se que foi uma escolha acertada produzir o vídeo com

o Perdigão ao invés de publicar uma entrevista no meio impresso. A sua

personalidade e a forma descontraída de contar as histórias valorizaram a

reportagem.

Desse modo, o vídeo apresentado é mais um recurso que atrai o leitor para a

internet. Ao se identificar com o conteúdo, ele tem a liberdade de compartilhá-lo em

suas redes sociais. Prado (2011, p. 83) afirma que “quando esse consumidor toma

contato com a matéria, gosta e tem um canal na rede, ele a replica, na íntegra ou

parte dela, e a consequência é que muito mais gente vai receber a mesma

informação”. Ou seja, ao ofertar conteúdo multimídia de qualidade para o usuário, há

grandes chances de ele ser compartilhado, o que gera visibilidade para o veículo de

comunicação.

Entre os materiais produzidos para a plataforma digital, também está a

campanha do Internacional no campeonato. Algumas das informações divulgadas,

como o placar dos jogos, também foram publicadas em um infográfico no impresso.

Porém, como o meio online não tem restrição de espaço, o projeto especial no site

conta com a data e o local de todos os jogos, o placar, quem fez gol em cada

77

partida, bem como quem levou cartão amarelo ou foi expulso. Além disso, estão

dispostas as capas de Zero Hora e do caderno de Esportes de antes e depois das

14 partidas da competição até o título, além de duas crônicas de David Coimbra,

conforme ilustra a Figura 11:

Figura 11 – Capas do jornal Zero Hora na época da competição

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/ america-vermelha/>. Acesso em: 15 jun. 2017.

Nesse âmbito, nota-se que o objetivo do material disponibilizado é viabilizar o

máximo de informações possíveis sobre a conquista do campeonato, fortalecendo

assim a relação do veículo com o usuário. No capítulo quatro na monografia, Paul

78

(2007) explica que o contexto, um dos elementos da narrativa digital, é a capacidade

de possibilitar conteúdo adicional, remetendo a outros materiais, como pode ser

visto na Figura 10. De certa forma, o leitor está recebendo um conteúdo

personalizado. Ferrari (2003) afirma que a personalização de conteúdos na web é

importante para conquistar a fidelidade do usuário. “Com o aumento de informações

no mundo virtual, o internauta deixará de lado o acesso à rede por mera curiosidade

e migrará para sites que oferecem produtos e serviços customizados às suas

necessidades” (p. 35).

A personalização do conteúdo também pode ser percebida na aba Os

campeões. A página apresenta uma fotografia em preto e branco dos jogadores no

dia da final do certame. Ao clicar nas posições dispostas na parte de cima da

imagem (goleiros, zagueiros, laterais, volantes, meias e atacantes), a fotografia de

cada jogador correspondente à posição se acende. Abaixo, consta o nome, o

número da camisa, a idade em 2006 e por onde anda atualmente, como pode ser

visto na Figura 12:

Figura 12 – Imagem dos campeões

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/america-vermelha/>. Acesso em: 15 jun. 2017.

79

Sendo assim, o leitor pode se atualizar sobre o elenco campeão em 2006 de

uma maneira interativa. Paul (2007) explica que por meio da ação as narrativas

online permitem inúmeras combinações. Elementos como animações instantâneas,

apresentações automatizadas de slides e o ato de clicar para movimentar o

conteúdo são alguns exemplos. No caso do projeto especial América Vermelha, o

usuário tem várias possibilidades de interagir com a reportagem, já que o material

produzido na plataforma digital tem movimento.

Isso também ocorre com o quiz Pinte a América de Vermelho, que encerra o

projeto especial no site. O jogo contém 10 perguntas para o leitor testar seus

conhecimentos sobre a trajetória do Inter na Libertadores de 2006. Ao lado de cada

questão, situa-se um infográfico com o desenho da América e um rolo de pintura. A

cada resposta certa, um pedaço da América é pintado, conforme retrata a Figura 13:

Figura 13 – Quiz Pinte a América de Vermelho

Fonte: Site Zero Hora. Disponível em: <http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/america-vermelha/>. Acesso em: 15 jun. 2017.

Dessa forma, como o jogo apresenta movimento, o usuário consegue interagir

com o conteúdo. Além disso, ele tem a oportunidade de aprimorar o seu

entendimento sobre o assunto. A equipe precisou buscar ferramentas diferenciadas

para atrair o leitor/espectador.

Visto que todos os projetos especiais de Zero Hora possuem o mesmo

modelo gráfico, outro recurso utilizado na reportagem a fim de captar a atenção do

80

usuário foi o design. Em entrevista para a autora dessa monografia, o editor de Arte,

Leandro Maciel, conta que no especial América Vermelha a editoria de Arte sugeriu

a aquarela para chamar o web documentário (Figura 08) e o quiz (Figura 12) e

também as cores e fontes utilizadas. Segundo Munhoz (2017), o design proporciona

uma grandeza diferente ao material. “Quando tu bota um layout diferente eu acho

que muda, tu dá a importância que o fato precisa, tu marca uma história” (MUNHOZ,

2017).

Nesse sentido, também é possível salientar a importância do projeto como

memória. Uma vez que o material está disponível na internet, qualquer pessoa

consegue ter acesso a ele. Diferentemente do jornal impresso, o conteúdo pode ser

visto em qualquer lugar, desde que seja possível conectar-se à rede. Munhoz (2017)

afirma que o leitor tem muito a ganhar na plataforma digital, visto que o projeto

especial tornou-se um registro histórico.

Apesar de grande parte do texto ser igual ao publicado no jornal impresso, a

equipe conseguiu produzir um conteúdo de qualidade para a plataforma digital.

Conforme explica Prado (2011), no capítulo quatro da monografia, “já faz parte da

criação de reportagens na web explorar inúmeras possibilidades de alargar a

informação, mostrando mais lados da história, além de ter maior espaço para

colocar o tema em contexto” (p. 48).

Portanto, ao complementar sua experiência no meio online, o leitor encontra

novas possibilidades de interação propiciadas pela esfera digital. Porém, esse

conteúdo é gerado pela convergência de mídias, que surge do fluxo entre as

plataformas. A partir disso, o próximo subtítulo irá abordar a Convergência Digital em

benefício do leitor.

6.2.3 Convergência Digital em benefício do leitor

Independentemente do uso de fotografias e infográficos, a reportagem do

jornal impresso é estática. Já na internet, o usuário é convidado a interagir com o

material publicado. Essa relação faz com que o leitor se aproprie do conteúdo

proposto. Sabe-se que os processos de comunicação foram influenciados pelas

tecnologias. Dessa forma, a transposição do texto do meio impresso para o online

81

não é a maneira ideal de operar na plataforma. É preciso apresentar ao internauta

um material atrativo, explorando os recursos multimídia disponíveis na rede.

No caso do projeto especial América Vermelha, pode-se destacar que,

mesmo com a reprodução de boa parte do texto no site, o leitor também contou com

conteúdos digitais. Nesse caso, não há uma concorrência entre as plataformas

impresso e online, mas sim uma ideia de complementaridade. Com isso, nota-se que

a convergência possibilita ao leitor novas formas de consumir esse conteúdo. O

editor-chefe de Zero Hora, Nilson Vargas, afirma que um dos fatores de não existir

concorrência é o fato de que o material é produzido pelos mesmos profissionais

tanto no meio impresso como na web.

Concorrência entre plataforma digital e impressa é um não-assunto, não se trata mais nas nossas conversas. As plataformas se completam, contam com a chancela da marca ZH, oferecem um cardápio amplo de opções para o leitor acessar o conteúdo da forma como quiser na hora em que quiser. As decisões são integradas e planejadas. Pensando no melhor para o leitor decidimos o momento e o formato como os conteúdos serão ofertados nas plataformas digitais e papel (VARGAS, 2017).

Nesse sentido, a convergência digital instigou os veículos a reconsiderarem a

forma de consumo das mídias, visto que os novos usuários são mais ativos e

conectados socialmente. Com a difusão do conteúdo em várias plataformas, Jenkins

(2009) afirma, no capítulo três da monografia, que a convergência pode auxiliar no

desenvolvimento dos meios de comunicação.

Sob essa perspectiva, o leitor encontra um texto aprofundado no impresso e

pode complementar a sua leitura no site com o web documentário, o quiz, o vídeo

com o ex-jogador Perdigão e as capas do jornal Zero Hora e do caderno de Esportes

à época, por exemplo. Quando o leitor passa a acessar o conteúdo na web, ele tem

o poder de escolher o caminho a seguir. Por isso, é importante que o veículo ofereça

um material de qualidade, o que, em contrapartida, também irá estreitar a sua

relação com o usuário.

Conforme Jenkins (2009), a transmissão de conteúdos em diferentes

plataformas necessita da participação do usuário. “A convergência representa uma

transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar

novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos” (p.

29-30).

82

Por outro lado, apesar das experiências vivenciadas pelo internauta na

plataforma online, a convergência não significa o fim do meio impresso. Jenkins

(2009, p. 41-42) explica que “os velhos meios de comunicação não estão sendo

substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados

pela introdução de novas tecnologias”. Em consequência disso, a produção de

conteúdo para o meio impresso também é favorecida com o acesso às tecnologias,

visto que as reportagens podem ser complementadas por meio de banco de dados

ou com informações obtidas na rede. Como as editorias são integradas em Zero

Hora, os profissionais têm o desafio de apresentar matérias qualificadas ao leitor de

ambas as plataformas.

Porém, o uso das tecnologias também trouxe desafios no âmbito digital. É

preciso que o material apresentado seja responsivo33, ou seja, se adapte a diferentes

formatos de tela. Caso contrário, dependendo do dispositivo utilizado pelo leitor, ele

não terá acesso à reportagem. O editor de Arte, Leandro Maciel, explica que ao

desenvolver um conteúdo digital é preciso que ele funcione primeiro no dispositivo

mobile34. “[...] este é o nosso pensamento "mobile first". Se um produto produzido

pela editoria de Arte não funciona no mobile é pq [sic] ele ainda não está pronto para

ir ao ar” (MACIEL, 2017).

Sobre o uso das tecnologias, Munhoz (2017) revela que apesar do espaço

ilimitado, as ferramentas disponíveis na internet ainda são pouco exploradas.

Contudo, o projeto especial objeto de análise da monografia conta com um material

relevante e interativo, que contém as características apresentadas para o jornalismo

na web. Na concepção da editora online de Esportes, Vanessa Girardi, com a

convergência o leitor do jornal impresso que se apropria do conteúdo na plataforma

online só tem a ganhar.

[...] hoje, além de notícias com um maior aprofundamento no papel, o universo digital oferece ao mesmo leitor um complemento que vai desde um simples vídeo até uma imersão de uma notícia relevante por meio de um especial no site com infográficos, games, entre outros (GIRARDI, 2017).

33 Diz-se de um site ou página da internet programada para apresentar diferentes configurações, adequando-se automaticamente ao formato do ecrã em que é exibida. Disponível em: <https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/responsivo>. Acesso em 16 jun. 2017. 34 É uma expressão inglesa usada para classificar aparelhos e serviços criados para dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2014/04/dicionario-de-tecnologia-entenda-o-significado-dos-termos.html>. Acesso em 16 jun. 2017.

83

De fato, os recursos multimídia dispostos no material online complementam a

reportagem publicada no meio impresso. Com isso, a convergência digital

possibilitou novas formas de consumir esse conteúdo e agregou conhecimento ao

usuário.

A partir da análise de conteúdo, será possível, agora, responder a questão

norteadora e confirmar ou não as hipóteses da pesquisa nas considerações finais

desta monografia.

84

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo evolutivo das tecnologias da informação impactou no jornalismo,

trazendo novas maneiras de apresentação da notícia. Nesse sentido, a presente

pesquisa questiona de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal

impresso na apropriação do conteúdo ofertado nas mídias do veículo de

comunicação. Na elaboração da Análise de Conteúdo, a pesquisadora constatou

que o leitor encontra novas possibilidades de interação ao complementar sua

experiência no meio digital.

Portanto, a partir da observação do projeto especial América Vermelha no

jornal Zero Hora, concluiu-se que as plataformas impressa e online se

complementam. Por meio de um texto detalhado e da utilização de ilustrações,

imagens e infográficos, a reportagem no jornal impresso apresentou um material

consistente e importante para o contexto histórico no qual está inserido. Já na web,

conforme abordado na análise, o correto seria elaborar o texto de acordo com as

características do meio. Apesar disso, a produção do conteúdo digital beneficiou o

leitor com diferentes formas de interação (web documentário, vídeo, gif, quiz, entre

outros). Sendo assim, entende-se que a convergência digital qualifica o conteúdo,

possibilitando novas experiências para o leitor do impresso na internet.

Para auxiliar na resposta da questão norteadora, foram levantadas três

hipóteses. A primeira delas afirma que a convergência digital muda a forma de

compreensão do conteúdo jornalístico. A hipótese foi confirmada, porque apesar de

90% do texto da reportagem publicada no jornal impresso estar reproduzido no

especial no site, nota-se que o material feito exclusivamente para o meio digital

possibilita ao leitor novas formas de apropriação desse conteúdo. Dessa forma, ele

passa a interagir com os recursos multimídia presentes na reportagem, como o web

documentário, o quiz e o vídeo com o ex-jogador Perdigão. Prado (2011) afirma que

quando as matérias recebem suportes como áudio, vídeo, animação, entre outros,

os leitores, evidentemente, ultrapassam a barreira da leitura e também ouvem e

veem. No meio impresso, apesar do uso de fotografias, infográficos e ilustrações, a

reportagem é estática. Com a convergência das mídias, o usuário complementa a

sua vivência na internet por meio das possibilidades de interação oferecidas na rede.

A segunda hipótese afirma que o leitor é beneficiado com a convergência

digital, pois recebe um conteúdo mais amplo e detalhado. Após a análise do

85

conteúdo, foi possível confirmar a hipótese. Por se tratar de uma reportagem com

contexto histórico, o texto apresentado é longo e bastante aprofundado,

característico do jornalismo impresso. Nesse caso, o leitor tem acesso a um

conteúdo rico em detalhes, com uma linguagem que traz aspectos do gênero

literário. Já na web, a exploração dos recursos multimídia ofereceu mais

interatividade ao usuário. Sendo assim, Ferrari (2003) afirma que o profissional

precisa considerar vários fatores para impulsionar a reportagem: enquete (pesquisa

de opinião), vídeos, áudios, links com informações sobre o tema, etc. De fato, no

caso do projeto especial América Vermelha, constatou-se que foi produzido um

material amplo e detalhado tanto no impresso como no online. Contudo, percebe-se

que as ferramentas disponíveis na plataforma digital complementaram o conteúdo.

Se no impresso o leitor contou com textos, ilustrações, imagens, infográficos e uma

diagramação atraente, no digital a história foi contada com o acréscimo de vídeo,

web documentário, quiz, gifs, fotos das capas do jornal Zero Hora na época da

competição e infográficos animados.

A terceira e última hipótese afirma que o jornalismo impresso ganha com as

novas possibilidades de interação na internet. A hipótese foi confirmada, pois a

instantaneidade da web permite ao meio impresso o aprofundamento e a

qualificação da notícia. Com o advento das tecnologias, as reportagens podem ser

complementadas por meio do acesso ao banco de dados ou com informações

obtidas na rede. Sob essa perspectiva, foi possível identificar que a profundidade do

conteúdo apresentado na reportagem América Vermelha fortalece o jornalismo

impresso e preserva suas peculiaridades. Além disso, nota-se uma aproximação

com o leitor, visto que a reportagem trouxe aspectos importantes e curiosos sobre a

taça disputada em 2006, como os bastidores da competição, a campanha do time e

os amuletos que acompanhavam desde o presidente até o massagista do clube.

Sendo assim, é possível perceber que o objetivo geral, de investigar de que

forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do

conteúdo ofertado nas mídias do veículo de comunicação, foi atingido. Além do

objetivo geral, os objetivos específicos de contextualizar o jornalismo impresso

desde o surgimento até o século XXI; definir o que é convergência digital; avaliar a

influência da internet na produção do conteúdo no jornalismo impresso; caracterizar

os processos de produção da notícia no jornalismo impresso e no jornalismo online;

analisar o processo de produção do projeto especial América Vermelha, do jornal

86

Zero Hora, e entrevistar profissionais do jornal Zero Hora que estiveram envolvidos

na produção do projeto especial América Vermelha também foram alcançados.

O desenvolvimento da pesquisa acadêmica permitiu o conhecimento da

pesquisadora acerca do tema estudado. Com isso, a realização do trabalho foi

importante para aprofundar o entendimento tanto na área do jornalismo impresso

como no digital. Portanto, além de ser um passo fundamental para a formação

acadêmica, a pesquisa também se mostrou uma experiência significativa no âmbito

profissional.

Essa monografia tem como propósito auxiliar no entendimento da produção

jornalística em tempos de convergência digital. Espera-se que a pesquisa consiga

auxiliar estudantes e demais pesquisadores dispostos a continuar investigando esse

tema.

87

REFERÊNCIAS

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94

APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA - MONOGRAFIA I GRAVADO EM

CD.

95

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIOS ELABORADOS PARA AS ENTREVISTAS.

Questionário enviado para os repórteres do projeto especial América Vermelha Amanda Munhoz, Leandro Behs e Leonardo Oliveira: 1. Qual foi o papel desempenhado por você no projeto especial América Vermelha? Somente online? Somente impresso? Ou os dois? 2. Como se deu o início do processo? O projeto foi pensado na editoria de esportes ou em conjunto com o digital? 3. Em relação ao conteúdo, o foco foi primeiro abordar o impresso e depois o online? 3. Na plataforma digital, como surgiu a ideia de fazer um web documentário? 4. Qual foi o tempo destinado para a produção deste conteúdo? Como ocorreu a divisão das tarefas? O repórter foi destinado apenas para o projeto ou também realizava atividades de rotina? 5. A memória impressa (jornais da época) os auxiliou a recontar essa história? Onde os profissionais buscaram os dados para desenvolver o conteúdo? 6. Na sua opinião, quanto representa dentro de um conteúdo apresentado o design e a diagramação? Explique. 7. Na sua opinião, de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do conteúdo ofertado na internet? Questionário enviado para o editor-chefe de Zero Hora, Nilson Vargas, e para a editora online de Esportes, Vanessa Girardi: 1. Com que frequência são desenvolvidos os projetos especiais? 2. Quanto tempo um repórter precisa para desenvolver um projeto especial? Ocorre a destinação exclusiva de profissionais para isso? 3. Como você avalia a parceria entre as editorias de Esporte e Online para o desenvolvimento de projetos especiais? 4. Você percebe as plataformas impressa e online como concorrentes? Ou um complementa o outro? 5. Na sua opinião, qual o perfil do profissional para a produção de conteúdos multimídia? 6. Na sua opinião, quanto representa dentro de um conteúdo apresentado o design e a diagramação?

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7. Na sua opinião, de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do conteúdo ofertado na internet? Questionário enviado para o editor de Arte, Leandro Maciel, e para o web designer Diogo Perin: 1. Em âmbito geral, como ocorre a produção gráfica dos projetos especiais? 2. No projeto América Vermelha, houve uma discussão conjunta ou a equipe recebeu o material pronto para desenvolver o design gráfico e conteúdos digitais? 3. O que foi sugerido pela editoria de arte para tornar a reportagem mais atrativa? 4. Em tempos de convergência digital, o que você leva em consideração no desenvolvimento do conteúdo digital, pensando na interação com o usuário/leitor? 5. Na sua opinião, quanto representa dentro de um conteúdo apresentado o design e a diagramação? 6. Na sua opinião, de que forma a convergência digital beneficia o leitor do jornal impresso na apropriação do conteúdo ofertado na internet?

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ANEXO A – PRINT SCREENS DO CONTEÚDO DO PROJETO ESPECIAL

AMÉRICA VERMELHA NOS MEIOS IMPRESSO E DIGITAL GRAVADOS EM CD.

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ANEXO B – ENTREVISTA COM AMANDA MUNHOZ E TERMO DE

AUTORIZAÇÃO E CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS GRAVADOS JUNTO AO

CD DO ANEXO A.

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ANEXO C – PRINT SCREENS DOS CONTATOS E ENTREVISTAS COM OS

PROFISSIONAIS DE ZERO HORA VIA E-MAIL, FACEBOOK E WHATSAPP.

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