brics: uma análise na perspectiva da teoria do desenvolvimento

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Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Centro Sócio Econômico Departamento de Economia e Relações Internacionais Pedro Henrique Badari Zinsly Rodrigues BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento Econômico Florianópolis, 2013

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Page 1: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Centro Sócio Econômico

Departamento de Economia e Relações Internacionais

Pedro Henrique Badari Zinsly Rodrigues

BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento Econômico

Florianópolis, 2013

Page 2: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

3

PEDRO HENRIQUE BADARI ZINSLY RODRIGUES

BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento Econômico

Monografia submetida ao curso de Ciências Econômicas

da Universidade Federal de Santa Catarina, como

requisito obrigatório para a obtenção do grau de

Bacharelado.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Alves Valente

FLORIANÓPOLIS, 2013

Page 3: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

4

PEDRO HENRIQUE BADARI ZINSLY RODRIGUES

BRICS: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota _6,5_ ao aluno Pedro Henrique Badari

Zinsly Rodrigues na disciplina CNM 5420 – Monografia, pela apresentação deste trabalho,

com data de aprovação em _03/12/2013_

Banca Examinadora:

-------------------------------------------------

Prof. Orientador Dr. Marcos Alves Valente

-------------------------------------------------

Prof. Dr. Francis Carlo Petterini Lourenço

-------------------------------------------------

Prof. Dr. Gueibi Peres Souza

Page 4: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

5

RESUMO

RODRIGUES, Pedro Henrique Badari Zinsly. Utilização da teoria do desenvolvimento

para analisar os BRICS no período de 2002 até 2012. 81 f. Curso de Ciências Econômicas,

Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.

Para realizar a análise dos principais indicadores de desenvolvimento dos países conhecidos

como “BRICS”, parte-se de que o conceito de desenvolvimento supera a ideia de crescimento,

presente em autores como Celso Furtado, Schumpeter e Keynes, sendo mais adequada uma

visão ampla e estrutural, contrastando com a simplicidade de uma análise voltada apenas ao

crescimento econômico. Foram utilizadas estatísticas referentes aos diversos aspectos: sociais,

econômicas e estruturais destas economias, com o objetivo de analisarmos a previsão

realizada por Jim O’Neill, no artigo publicado em 2001: “Building Better Global Economic

BRICs”, e analisar a presença, ou não, do fenômeno do desenvolvimento nestes países. Foram

analisados tanto os fatores econômicos como políticos, no período de 2002 a 2012. A partir de

2006, o países pertencentes ao acrônimo realizam encontros entre os chefes de Estado,

possibilitando a formação de um grupo político. Durante a análise dos dados, percebe-se uma

grande discrepância entre os países pertencentes ao acrônimo, sobretudo pela grande

participação da China e baixa representatividade econômica da África do Sul, a qual é

convidada a participar das reuniões dos chefes de Estado pela sua importância geopolítica. No

período, percebe-se uma evolução das diversas estatísticas analisadas, podendo concluir que

realmente existiu o desenvolvimento destes países, porém, ainda estão bem atrás dos países

desenvolvidos.

Palavras-chave: Desenvolvimento; Indicadores de Desenvolvimento; BRIC; BRICS.

Page 5: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

6

ABSTRACT

To perform the analysis of the main indicators of developing countries known as "BRICS" if-

part of the concept of development outweighs the idea of growth, present in authors such as

Celso Furtado Schumpeter and Keynes, would be the most appropriate. Because it represents

a broad and structural, contrasting with the simplicity of an analysis focused only on

economic growth. We used statistics relating to various aspects as: social, economic and

structural of these economies, in order to evaluate the prediction made by Jim O'Neill, in a

paper published in 2001, "Building Better Global Economic BRICs", and to analyze the

evidences, or not , of the Development in these countries . Were analyzed, economic and

political factors in the period 2002-2012.

Keywords: Development; Development Indicators; BRIC; BRICS.

Page 6: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

7

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados Demográficos e Geográficos dos BRICS e do Mundo ................................ 27

Tabela 2 - População em situação de Extrema Pobreza nos BRICS ........................................ 28

Tabela 3 - Acesso da População ao Saneamento Básico nos BRICS e no Mundo .................. 29

Tabela 4 - Quantidade de alfabetizados e analfabetos nos BRICS........................................... 30

Tabela 5 - Expectativa de anos de vida ao nascer .................................................................... 31

Tabela 6 - Despesas com Saúde, em % do PIB, nos países do BRICS, Alta Renda e no Mundo

.................................................................................................................................................. 33

Tabela 7 - Despesas per capita com Saúde nos BRICS, Mundo e países Desenvolvidos ........ 33

Tabela 8 - Extensão da Malha Ferroviária nos BRICS ............................................................ 34

Tabela 9 - Consumo de Energia Elétrica nos BRICS e no Mundo........................................... 35

Tabela 10 - Produção de Energia Elétrica nos BRICS e no Mundo ......................................... 36

Tabela 11- Comparação entre a Produção e o Consumo de Energia Elétrica nos BRICS, em

relação ao total mundial ............................................................................................................ 36

Tabela 12 - Comparação entre a Produção e o Consumo de Energia Elétrica na China, em

relação ao total mundial ............................................................................................................ 37

Tabela 13 - PIB por pessoa empregada, US$ em PPC (2005) nos países do BRICS e EUA .. 39

Tabela 14 - Pedidos de Registro de Patente por residentes e não residentes dos BRICS, EUA,

países de alta renda e o total mundial ....................................................................................... 41

Tabela 15 - Representatividade dos pedidos de registro de patente dos BRICS, EUA e países

de alta renda no total mundial................................................................................................... 41

Tabela 16 – Pedidos de registro de patente nos BRICS ........................................................... 42

Tabela 17 - PIB e participação no PIB mundial dos BRICS, países desenvolvidos e total

mundial ..................................................................................................................................... 44

Tabela 18 - Variação do anual PIB, em US$ de 2005, nos países do BRICS, alta renda e

mundo ....................................................................................................................................... 44

Tabela 19- PIB per capita (PPC), em US$ de 2005, nos países do BRICS, Zona do Euro e

EUA .......................................................................................................................................... 45

Tabela 20 - Níveis de IDH ........................................................................................................ 47

Tabela 21- Índice de Desenvolvimento Humano, de 2000 a 2012 ........................................... 47

Tabela 22 - Formação Bruta de Capital Fixo nos BRICS, países com alta renda e no Mundo,

de 2002 a 2012 .......................................................................................................................... 48

Page 7: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

8

Tabela 23 - Principais eventos diplomáticos ocorridos no âmbito dos BRICS entre 2006 e

2012 .......................................................................................................................................... 53

Tabela 24 - Principais Parceiros Comercias de Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul .. 58

Tabela 25 - Proporção do IED mundial em países desenvolvidos, BRICS e outros países ..... 59

Tabela 26- Proporção do IED mundial no Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul ......... 60

Tabela 27 - Maiores Reservas Internacionais Mundial, 2002 a 2012 ...................................... 60

Tabela 28 - Importação e Exportação entre Brasil e Rússia ..................................................... 62

Tabela 29 - Importação e Exportação entre Brasil e Índia ....................................................... 62

Tabela 30 - Importação e Exportação entre Brasil e África do Sul .......................................... 63

Tabela 31 - Importação e Exportação entre Brasil e China ...................................................... 63

Tabela 32 - Taxa de Juros Real dos BRICS, entre 2002 a 2012............................................... 65

Tabela 33 - Operações de Crédito no Brasil, por pessoa física e pessoa jurídica, de 2002 a

2012 .......................................................................................................................................... 66

Tabela 34 - Financiamento Imobiliário Concedido por recurso do Sistema Brasileiro de

Poupança e Empréstimo ........................................................................................................... 70

Tabela 35 - Proporção da Exportação de Combustíveis dentre todas mercadorias exportadas

pela Rússia, de 2002 a 2012 ..................................................................................................... 72

Tabela 36 - Renda do Petróleo e Gás Natural, em relação ao PIB da Rússia, de 2002 a 2011 72

Tabela 37 - Indicadores Econômicos da Rússia ....................................................................... 73

Tabela 38 - Dados Demográficos dos BRICS .......................................................................... 74

Tabela 39 - Dados Socioeconômicos dos BRICS .................................................................... 75

Tabela 40- PIB e Participação mundial do PIB nos países do BRICS e no Mundo ................. 76

Page 8: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

9

ABREVIAÇÕES

G-7 – Grupo dos Sete

G-20 – Grupo dos Vinte

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

CIA - Agência Central de Inteligência

FMI - Fundo Monetário Internacional

PIB – Produto Interno Bruto

ONU – Organização das Nações Unidas

PNB – Produto Nacional Bruto

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

RNB – Renda Nacional Bruta

PPC – Paridade de Poder de Compra

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

SDR – Direito Especial de Saque

IED – Investimento Externo Direto

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

URV – Unidade Real de Valor

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

Peti – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PTRC – Programa de Transferência de Renda Condicionada

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

Page 9: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo

TI – Tecnologia da Informação

Page 10: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14

1.1. PROBLEMÁTICA ........................................................................................................ 14

1.2. OBJETIVO .................................................................................................................... 16

1.2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................ 16

1.3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 18

2.1. CONCEITOS ................................................................................................................. 19

2.2. OBSTÁCULOS ............................................................................................................. 21

2.3. A INTERPRETAÇÃO PELAS ESCOLAS ECONÔMICAS ....................................... 23

2.4. INDICADORES ESTATÍSTICOS ............................................................................... 25

2.4.1. ÍNDICES DEMOGRÁFICOS ........................................................................................ 26

2.4.2. POBREZA ...................................................................................................................... 27

2.4.4. Educação ......................................................................................................................... 29

2.4.5. Saúde .............................................................................................................................. 31

2.4.3. Infraestrutura .................................................................................................................. 34

2.4.6. Inovação e Produtividade ............................................................................................... 37

2.4.7. Renda .............................................................................................................................. 43

2.4.8. IDH ................................................................................................................................. 46

2.4.10. Considerações ............................................................................................................... 48

3. BRIC .............................................................................................................................. 49

3.2. APROXIMAÇÕES POLÍTICAS .................................................................................. 51

3.3. APROXIMAÇÕES ECONÔMICAS ............................................................................ 57

4. BRICS: O BRASIL NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,

NO PERÍODO ENTRE 2002 ATÉ 2012 ................................................................................. 61

4.1. COMÉRCIO INTRA-BRICS ........................................................................................ 61

4.2. A QUESTÃO DO CRÉDITO ....................................................................................... 64

4.3. POLÍTICAS PÚBLICAS .............................................................................................. 66

4.3.1. Bolsa Família ............................................................................................................. 67

4.3.2. PAC ............................................................................................................................ 68

5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................... 70

5.1. A DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA RUSSA ............................................................... 71

5.2. O CENÁRIO SOCIAL NA ÍNDIA ............................................................................... 73

Page 11: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

12

5.3. REPRESENTATIVIDADE ECONÔMICA DA ÁFRICA DO SUL ............................ 75

5.4. O PESO CHINÊS .......................................................................................................... 76

6. REFERENCIAS ............................................................................................................ 78

Page 12: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

13

"Em um triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual

à soma dos quadrados dos dois outros lados; mas convém adicionar

a pergunta: trata-se realmente de um triângulo retângulo?"

S. Jevons

(Epígrafe: FURTADO,1961)

Page 13: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

14

1. INTRODUÇÃO

1.1. PROBLEMÁTICA

O estudo sobre o desenvolvimento existe desde o surgimento da Economia enquanto

ciência. Adam Smith, em “Uma Investigação da Natureza e Causas da Riqueza das Nações”,

buscou identificar a essência do desenvolvimento de uma nação.

Existem diversas interpretações para o conceito de desenvolvimento, podendo ser um

sinônimo de crescimento, ou como coloca Sandroni (1994), sendo um crescimento aliado a

mudanças estruturais na economia e na sociedade, onde um simples crescimento da renda por

habitante não necessariamente implicaria em um aumento de bem estar da população. Existem

definições que ampliam este conceito, agregando aos fatores econômicos, os fatores sociais e

ambientais.

O estímulo do desenvolvimento, segundo Furtado (1991), baseia-se no fato do homem

ser visto como um fator de transformação do mundo, o qual não estaria em equilíbrio com o

meio, possuindo assim a necessidade de transformá-lo na realização individual ou coletiva.

Definindo o conceito de desenvolvimento presente no trabalho, será analisado os países

pertencentes ao acrônimo BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China; como também a mudança para

BRICS, com a inclusão da África do Sul

O Acrônimo BRIC, foi inicialmente proposto pelo Economista chefe Jim O’Neill da

Goldman Sachs, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”,

onde compara e projeta as economias de Brasil, Rússia, Índia e China, com as economias dos

países pertencentes ao G-7 (grupo formado pelos sete países mais ricos do mundo: Estados

Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). Por meio de dados

referentes aos níveis de crescimento do PIB, do tamanho da população e da importância

relativa no comércio internacional destes países, O´NEILL (2001) apresenta inicialmente,

dados que mostram os quatro países que constituem os BRICs, crescendo até 2001 em um

nível superior ao dos G-7 e projeta cenários em que os BRIC teriam um maior peso no âmbito

mundial nos próximos 10 anos em relação aos demais países.

O interesse neste trabalho surge da união entre dois temas: desenvolvimento e BRICS.

A partir do artigo de O’Neill, começa a ser dada uma grande importância para esses países nas

mídias e nas universidades ao redor do mundo. Temas relacionados ao desenvolvimento

continuam com o interesse nos dias atuais, como também existia no tempo de Smith, Ricardo,

Page 14: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

15

Schumpeter, Keynes, entre outros. Torna-se interessante acompanhar a trajetória político-

econômica destes países, começando como um simples relatório de um banco de

investimento, para uma possível instituição política.

O trabalho será dividido em quatro partes, iniciando com a conceituação do termo de

Desenvolvimento Econômico, sendo mostradas algumas interpretações e suas características.

Passando para a segunda parte, que buscará identificar possíveis indicadores estatísticos da

ocorrência do processo de desenvolvimento. Será realizado na parte inicial do trabalho, um

breve acompanhamento histórico das diversas interpretações do tema nas diversas escolas

econômicas com o intuito de mostrar certas peculiaridades das interpretações realizadas, as

quais estão intimamente relacionadas ao contexto histórico presenciado.

Na terceira parte do trabalho será conceituado o termo BRIC, analisando o artigo de

Goldman Sachs, que marca o surgimento do acrônimo, e o coloca como um dos temas

centrais da mídia econômica mundial, contextualizando os principais fatos e eventos

ocorridos no cenário político-econômico ocorridos intra-BRICS durante o período de 2002 e

2012. A quarta parte estará focada em uma breve análise individualizada do Brasil no

contexto dos BRICS.

Analisar o desenvolvimento econômico destas economias, utilizando uma base da

teoria econômica, visa uma maior compreensão da teoria como também a constatação de

setores chave nos tempos atuais, podendo assim dar suporte a trabalhos futuros mais

específicos.

O problema de pesquisa deste trabalho pode ser resumido para a seguinte questão: A

melhoria econômica preconizado pelo economista chefe do Goldman Sachs aos países do

BRICS, sob uma perspectiva do desenvolvimento econômico, ocorreu no período de 2002 até

2012?

Page 15: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

16

1.2. OBJETIVO

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar, com uma base de obras referentes ao desenvolvimento econômico, e utilizar

algumas estatísticas econômicas, o desenvolvimento econômico apresentado nas economias

selecionadas - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – no período de 2002 a 2012.

1.2.2. Objetivos Específicos

Verificar em uma perspectiva do Desenvolvimento, a projeção econômica realizada no

trabalho publicado em 2001, “Building Better Global Economic BRICs”.

Acompanhar dados e fatos históricos relativos aos setores sociais, políticos e

econômicos de 2002 a 2012.

Page 16: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

17

1.3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada no presente trabalho, seguindo a definição de Silva;

Menezes (2000), terá sua abordagem na forma de uma pesquisa qualitativa, onde as opiniões e

informações retiradas da teoria econômica serão confrontadas e utilizadas pelo recurso das

séries estatísticas encontradas nos mais variados bancos de dados.

Na questão referente aos procedimentos técnicos (GIL, 1991), será feita o tipo de

pesquisa bibliográfica, tratando-se de uma pesquisa explicativa, o qual será visada a

identificação de fatores que determinaram a ocorrência do fenômeno.

Serão analisados diversos trabalhos na temática de desenvolvimento econômico,

possuindo como referencial teórico os pertencentes as escolas keynesiana, estruturalista e

desenvolvimentistas. O trabalho consiste em uma descrição econômica, que busca contemplar

fatores estruturais e sociais dos países pertencentes ao acrônimo, para assim, conseguir uma

melhor análise sobre a possível ocorrência do desenvolvimento econômico nestes países.

A cobertura temporal do trabalho será definida pelo período inicial de 2002 e final de

2012, sendo os dados extraídos dos banco de dados presente em sites como: Banco Mundial,

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Agência Central de Inteligência (CIA) e Fundo Monetário Internacional

(FMI).

Page 17: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Teoria do Desenvolvimento Econômico possui suas origens nos economistas

mercantilistas e clássicos, porém ganha destaque como um ramo da Ciência Econômica nos

anos 1940, em um contexto de crise da teoria econômica neoclássica (BRESSER-PEREIRA,

2008). A base teórica do desenvolvimento, citada por Bresser-Pereira, é encontradas nas obras

de autores como Adam Smith, Karl Marx, Schumpeter e John Maynard Keynes.

Seguindo a definição de Furtado (1991), a teoria do desenvolvimento teria como

objetivo principal explicar as causas e o modo em que ocorre o aumento da produtividade do

fator trabalho, e com isto as consequências na organização da produção e distribuição do

produto social. Há dois modos da perspectiva macroeconômica de ser realizada, podendo

advir de uma construção de modelos simplificados dos atuais sistemas econômicos existentes,

ou por um plano histórico, sendo um estudo crítico, o qual tem como objetivo o confronto

com uma realidade histórica.

Um dos pontos chave da obra de Furtado (1981) é a percepção de que o economista

trabalha com esquemas simplificados do mundo real, precisando definir um nível de

generalidade que não afete sua eficácia explicativa, ou seja, sendo válida. No tema da teoria

do desenvolvimento não se pode eliminar os processos econômicos históricos, o fator tempo,

como tampouco ignorar as diferenças de estrutura econômicas dos países e os diversos níveis

de desenvolvimento.

Outros autores, como Baldwin (1979), colocam que o desenvolvimento econômico

pode ser melhor compreendido como um processo dinâmico e sequencial, onde mudanças em

determinadas variáveis causam alterações em outras, podendo gerar uma elevação na renda

per capita, ou no bem estar da sociedade. Assim o grande problema seria descobrir quais as

variáveis chave deste processo. KINDLEBERGER (1976) diferencia crescimento econômico

de desenvolvimento econômico, onde crescimento significa maior produção, enquanto

desenvolvimento implica em maior produção e mudanças técnicas e institucionais.

Desenvolvimento econômico, portanto, representaria além de uma maior produção, uma

mudança na estrutura da produção. O crescimento e o desenvolvimento caminhariam juntos

apenas em situações específicas de economias no estágio inicial de desenvolvimento, onde um

crescimento de qualquer magnitude seria traduzido em um desenvolvimento.

Page 18: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

19

2.1. CONCEITOS

Existem diversos conceitos de desenvolvimento na teoria econômica. Souza (2005)

exemplifica a corrente de pensamentos neoclássica, de Solow, que considera o crescimento

como sinônimo de desenvolvimento, onde um país seria subdesenvolvido porque cresce

menos do que os desenvolvidos. Para esta corrente, a economia expandiria abaixo de suas

possibilidades, por não utilizar integralmente os fatores de produção que dispõe.

Autores ligados a teoria da Dependência, entendem que o crescimento é condição

indispensável para o desenvolvimento, mas não é condição suficiente. Nesta corrente

encontramos economistas como Lewis (1969), Myrdal (1968), Fernando Henrique Cardoso e

Enzo Faletto (1970), que definem desenvolvimento como um processo social. Os aspectos

puramente econômicos deixam transparecer as condições sociais existentes, não podendo ser

considerado apenas as condições e os efeitos sociais do sistema econômico, sendo necessário

uma interpretação sociológica complementar, visando explicar a transição das sociedades

tradicionais para as sociedades modernas.

Uma forma alternativa ou até mesmo complementar de definir desenvolvimento

econômico seria a utilizada por Bresser-Pereira (2008), sendo um processo de acumulação de

capital, com uma contínua incorporação do progresso técnico ao trabalho e ao capital,

ocasionando elevação da produtividade ou da renda per capita, e consequentemente elevando

o bem-estar da sociedade. Portanto, para Bresser-Pereira (2008), poderia-se dizer que o

desenvolvimento econômico seria um fenômeno histórico que inicia-se nas nações que

realizaram a Revolução Capitalista.

Souza (2005) argumenta que a ideia de crescimento implicando no desenvolvimento,

pelo fato da renda ser distribuída continuamente entre os proprietários dos fatores de

produção, implicaria em uma melhoria dos padrões de vida da população. No entanto,

analisando os fatos empíricos, nem sempre que ocorre um crescimento gera uma melhora na

economia como um todo, podendo ocorrer as seguintes situações: o desemprego não diminuir

na rapidez necessária; ocorrer a transferência do excedente de renda para outros países;

ocasionar uma grande concentração de renda; os baixos salários limitarem a expansão do

mercado interno. Coloca-se como fundamental uma mudança qualitativa no modo de vida da

sociedade como um todo, de suas instituições e estruturas produtivas, para assim ocorrer a

transformação de uma economia atrasada e desigual, para uma economia mais eficiente,

igualitária e humanitária.

Page 19: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

20

Esta visão da necessidade de uma mudança qualitativa é compartilhada por

economistas como Prebisch (1949), Furtado (1961), Singer (1977) e os demais autores da

tradição cepalina e marxista. Em que, o desenvolvimento econômico em países

subdesenvolvidos se faz necessário mudança de estruturas econômicas, sociais, políticas e

institucionais, causando uma melhoria na produtividade e na renda média da população.

Assim, é desta forma um fenômeno de longo prazo, que causa a elevação geral da

produtividade e também do nível de bem-estar do conjunto da população.

Amartya Sen, economista indiano ligado a formulação do Índice de Desenvolvimento

Humano, critica a tese liberal de desenvolvimento (SILVA, 2010). Para o ele, o

desenvolvimento econômico implicaria na expansão das capacidades humanas e no aumento

da liberdade. O desenvolvimento seria uma busca de bem-estar e deveria ser compreendido

dentro de uma abordagem que privilegie as capacidades dos agentes, sendo necessário

remover as principais fontes de privação e limitações das liberdades aos indivíduos, como: a

pobreza, tirania, falta de oportunidades, negligência pública, entre outros. O agente livre e

sustentável seria o motor fundamental do desenvolvimento.

As liberdades políticas (liberdade de expressão e eleições livres) auxiliam na

segurança econômica, dão oportunidades sociais, estão presentes na educação e no serviço de

saúde, facilitam a participação econômica, dão oportunidade aos indivíduos de participarem

ativamente do comércio e da produção, e assim poderem auxiliar a geração de abundância

individual (SEN, 2010).

Bresser-Pereira (2008) argumenta que para muitos economistas não-ortodoxos, a

identificação do desenvolvimento econômico com crescimento seria ideológica. Para este

autor, essa identificação ocultaria o fato de que o desenvolvimento econômico implicaria em

uma melhor distribuição de renda e não apenas no crescimento.

A visão presente neste trabalho é que o desenvolvimento deve expressar uma visão

geral da economia, devendo ser acompanhado por diversas ações, como: desenvolvimento

social, desenvolvimento político e desenvolvimento estrutural. Este tem como finalidade uma

melhoria qualidade de vida da sociedade como um todo, desde melhoria dos níveis de

educação, saúde e saneamento básico de todos cidadãos, quanto em relação a competitividade

da economia no cenário internacional, que engloba aspectos referente a infraestrutura,

inovação e produtividade.

Esta visão pode ser descrita na seguinte passagem:

Page 20: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

21

...o conceito de desenvolvimento compreende a ideia de crescimento, superando-a. Com

efeito: ele se refere ao crescimento de um conjunto de estrutura complexa. Essa complexidade

estrutural não é uma questão de nível tecnológico. Na verdade, traduz a diversidade das formas

sociais e econômicas engendradas pela divisão do trabalho social. Porque deve satisfazer às

múltiplas necessidades de uma coletividade é que o conjunto econômico nacional apresenta sua

grande complexidade de estrutura. Esta sofre ação permanente de sua multiplicidade de fatores

sociais e institucionais que escapam à análise econômica corrente [...] A hipótese de

crescimento sem desenvolvimento, com referência a um conjunto econômico de estrutura

complexa, seria uma construção mental sem correspondência na realidade [...] Dessa forma, o

desenvolvimento é ao mesmo tempo um problema de acumulação e progresso técnico, e um

problema de expressão dos valores de uma coletividade (FURTADO, 1977, p. 90-93).

Portanto, Celso Furtado coloca que devemos compreender que desenvolvimento

envolve uma estrutura complexa. Não podemos simplificar o conceito para apenas uma

relação de qualquer crescimento gere o desenvolvimento. O desenvolvimento é resultado de

uma interação entre diferentes estágios e características das estruturas políticas, sociais e

econômicas.

Cabe compartilhar a visão de Furtado (1981), de que desenvolvimento funda-se na

realização das potencialidades humanas, onde o estudo do desenvolvimento tem como tema

central a invenção cultural, a morfogênese social. Interessante que esta invenção pode ser

ligada aos fins, aos desígnios últimos, o qual dá os valores, podendo ser morais, religiosos,

estéticos, entre outros; ou ainda, uma invenção ligada a ação, com a existência de objetivos ou

fins definidos.

O caminho pelo qual a sociedade favorece em momentos históricos a criação de

técnicas e não de valores, não é o foco deste estudo. O que sabemos é que o progresso técnico

possui um poder de difusão muito superior do que a criação de valores.

2.2. OBSTÁCULOS

As dificuldades para o desenvolvimento dos países é um fato comum no sistema

capitalista, principalmente nos países atrasados tecnologicamente, com estruturas de produção

precárias e um sistema político excludente e pouco atuante. Keynes em sua obra “The General

Theory of Employment, Interest and Money”, afirma que existem dois principais defeitos na

sociedade econômica capitalista: de um lado o fato de que a renda é mal distribuída, e do

outro, que o sistema econômico não assegura livremente as condições do pleno emprego.

Outra característica importante da teoria de Keynes, é que a economia é um processo

Page 21: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

22

histórico, onde as tomadas de decisões dos agentes possuem referências do passado, as quais

não tendem a se repetir. O futuro sendo incerto, gera aos agentes um aumento das incertezas,

que irão impactar na tomada de decisões, levando-os a preferir tomadas de decisões mais

conservadoras, pelo custo que uma decisão equivocada que pode gerar e pelo fato desta ser

irreversível.

No capítulo 24 da Teoria Geral, Keynes indica que para solucionar os problemas

crônicos do capitalismo (a crise de desemprego e a concentração de renda e da riqueza),

seriam necessárias políticas fiscais, monetárias e de rendas, visando garantir um ambiente

propício para as tomadas de decisões de gastos dos agentes. Keynes também coloca a questão

do desenvolvimento econômico da nação, que para elevarmos a renda de uma sociedade é

necessário inicialmente a existência de um ambiente favorável para a tomada de decisões de

gastos e novos investimentos.

Furtado (1977, p. 283) coloca a questão do desenvolvimento voltado para as

economias subdesenvolvidas. Ele afirma que estas economias encontram na substituição de

importação o fator impulsor do desenvolvimento, porém, logo que esgotam as possibilidades

de substituição de importação acabam tendendo para a estagnação. Deste declínio da

capacidade de importar, pode ocorrer a elevação relativa dos preços de equipamentos de

difícil substituição, gerando efeitos nos preços relativos dos bens finais.

Em outra obra, Furtado (1981) cita as especificidades dos países subdesenvolvidos.

Inicialmente o autor coloca que o fator dinamizador das economias subdesenvolvidas (ao

serem inseridas na divisão internacional do trabalho), não foi pelo desenvolvimento de suas

forças produtivas mas por um reflexo dos países centrais, em que ocorrem transformações nas

estruturas econômicas e na organização social. Já na periferia do sistema, as modificações dos

sistemas produtivos sendo induzidas pelo exterior, geram uma modificação da demanda

interna sem o impacto na estrutura social, e assim uma grande diferença entre o sistema

produtivo e sociedade. Manifestada pela heterogeneidade social e nas diferenças de padrões

de consumo, o autor explica que a economia subdesenvolvida possui sua dinâmica dependente

do comportamento da minoria social (beneficiária do excedente), que é financiada por uma

demanda muito diferente do padrão de consumo da população em geral, sendo marcada por

uma grande concentração de renda e importadora de bens de luxo e supérfluos.

Fatores que podemos citar como possíveis entraves ao desenvolvimento são:

capacidade produtiva, estrutura social, tecnologia disponível, tamanho do mercado interno,

grau de desenvolvimento dos setores econômicos, capital social qualificado e disponível,

acesso ao crédito de longo prazo, capital produtivo, infraestrutura, etc. Esses são alguns dos

Page 22: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

23

exemplos de fatores que desempenham papel no desenvolvimento econômico, sendo a sua

falta um possível entrave do processo.

2.3. A INTERPRETAÇÃO PELAS ESCOLAS ECONÔMICAS

Adam Smith (1723-1790), conceituando a teoria do valor-trabalho reestabelece o

importante papel da indústria no desenvolvimento das forças produtivas. Nesse conceito

temos na indústria a função de gerar economias de escala e rendimentos crescentes, sendo

neutralizados os rendimentos decrescentes existente na agricultura, e combatendo a tese

fisiocrata de que as leis naturais regem a economia. Também modifica a tese anterior da

relação entre riqueza e metais, que explica que a riqueza viria das trocas entre os indivíduos,

sendo esta derivada do trabalho. Segundo Smith (2003, pag. 9) “o que constitui o trabalho de

um homem num estágio primitivo da sociedade corresponde comumente ao de vários homens

numa sociedade mais desenvolvida”, podemos então relacionar que o aumento da riqueza gera

um desenvolvimento na sociedade em questão, derivados da intensidade do capital, tecnologia

e divisão do trabalho.

Smith em sua obra As riquezas das nações: investigação sobre sua natureza e suas

causas (1776), escreve que o trabalho torna-se mais produtivo por uma maior divisão do

trabalho e por um maior estoque de capital, ocasionando uma maior produtividade e um maior

valor do produto total, sendo trabalho produtivo aquele que produz um excedente de valor

sobre seu custo de reprodução. Portanto, a produção e consequentemente o desenvolvimento

será maior quanto mais trabalhadores produtivos forem contratados.

David Ricardo (1772-1823), segundo Hunt (2005, p. 112), foi o primeiro economista a

argumentar que o livre-comércio internacional poderia beneficiar dois países, mesmo que um

deles produzisse mais eficientemente todas as mercadorias comercializadas. O importante

seria uma vantagem relativa, onde um dos países deveria ter alguma mercadoria com uma

quantidade de trabalho incorporado menor do que a do outro país.

Outra contribuição ocorre com Karl Marx, que influenciado pela teoria do valor e dos

lucros, de Smith e Ricardo, realiza um refinamento e uma crítica, principalmente pelo fato de

ser o primeiro deles a colocar como essencial uma perspectiva histórica na análise econômica.

Assim, descreve a produção como uma atividade social, que se organiza de acordo com as

formas e modos de produção de cada época (HUNT, 2005, p. 193).

Bresser-Pereira (2008) coloca que é importante adotar uma perspectiva histórica-

estrutural e institucional para compreender o desenvolvimento econômico. O processo

Page 23: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

24

histórico tem como marco fundador a Revolução Capitalista, onde a tradição e a religião

deixam de ser o centro coordenador, para ser o Estado e o mercado.

A Teoria Neoclássica cria um novo instrumento analítico para confrontar com as

ideias de Marx, encontrada na teoria do equilíbrio geral. Com base na ideia de que os

mercados tenderiam ao equilíbrio, deriva a noção que seja qual for a mão-de-obra ofertada,

sempre teria uma demanda de emprega-la, desde que estes trabalhadores aceitem os salários

do mercado, que é determinado pela produtividade do último trabalhador empregado.

Haberler (1976), coloca que enquanto os escritores clássicos tinham uma teoria do

desenvolvimento e crescimento, os neoclássicos não se interessavam pelos problemas

dinâmicos de desenvolvimento. Estavam interessados na “alocação estática de recursos”,

como a formação de valor e preço, monopólio e concorrência, ou seja, com problemas

microeconômicos.

A Economia neoclássica não é aplicável para os problemas econômicos dos países

subdesenvolvidos, pois não explicam o processo de desenvolvimento (FURTADO, 1977).

Furtado (2009), afirma que o desenvolvimento econômico possui pilares fundamentais

como a Revolução Comercial e a Revolução Industrial. Essas revoluções foram um processo

de racionalidade expresso pelo objetivo econômico do lucro, que adota o processo de

acumulação de capital, e a intensificação da competição entre os agentes e produtores. Estes

surgem conjuntamente com a acumulação e o investimento inovador como formas de alcançar

o desenvolvimento.

Cardoso Jr; Acioly; Matijascic (2009), colocam que a obra de Furtado é um

contraposto a simplicidade dos modelos neoclássicos, pois destaca que seus pressupostos não

possuem o fator histórico, deixando de lado as especificidades de cada país. Como também,

segundo Furtado, é enfatizado que subdesenvolvimento é uma formação histórica e social

específica, a qual não resulta necessariamente no desenvolvimento.

Cabe colocar que Schumpeter (1883-1950) trabalha com a ideia de que a ação criadora

do empresário seria o motor do progresso econômico, manifestada pela introdução de

inovações no processo produtivo e facilitada pela existência de um sistema de crédito. Este

teria a função de retirar do circuito econômico os recursos necessários para financiar seus

novos empreendimentos. Schumpeter, conforme observa FURTADO(1977), possui um

enfoque diferente dos neoclássicos, inclusive pela introdução da frequente busca pelas

inovações.

A obra de John Maynard Keynes (1883 – 1846) constitui um dos grandes marcos da

teoria econômica, que realiza uma análise partindo da reformulação do equilíbrio geral, a qual

Page 24: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

25

possuindo como postulado implícito a lei de Say, gera uma dificuldade para a verdadeira

compreensão do processo econômico. Keynes faz uma reformulação na teoria neoclássica e

elimina a premissa do pleno-emprego (FURTADO, 1977, pag. 53).

Existe no pensamento keynesiano a noção de que se as forças de mercado não

realizarem os investimentos necessários, se faz necessária a presença do Estado, favorecendo

o investimento e visando à geração de emprego. O Estado não é mais e nem menos eficiente

para gerenciar as atividades econômica, e sim necessário para fazer o que a iniciativa privada

não faz, e deve fazê-lo bem (SICSÚ; VIDOTTO, 2008).

Nota-se que importantes autores da teoria econômica admitem a necessidade de uma

análise ampla do tema desenvolvimento. Em Adam Smith, aparece o tema sendo derivado do

capital, tecnologia e da divisão do trabalho, ou seja, de fatores econômicos e sociais. David

Ricardo, coloca a questão política do livre mercado e em Furtado encontra-se a ênfase de que

desenvolvimento envolve fatores amplos, como a formação histórica e social, como também o

fato de que o subdesenvolvimento pode ser uma condição específica que não leva

necessariamente à um processo de desenvolvimento no longo prazo.

2.4. INDICADORES ESTATÍSTICOS

Em Haberler (1976), temos que é preciso ter cuidado ao medir o crescimento de

períodos diferentes para não escolher momentos da mesma fase de ciclo. Por exemplo,

comparar um período da economia com praticamente o pleno emprego com outro período de

igual situação. Também diz que é importante que se tenha a noção de não confundir um

crescimento de longo prazo com uma recuperação de curto prazo, como pode ocorrer caso

comparássemos uma variação no PIB em um país que acaba de sair de uma depressão

econômica com outro período de expansão, ou vice-versa.

Kindleberger (1976) observa que a utilização de uma determinada estimativa

estatística é específica para cada caso. A renda per capita é o mais apropriado se estivermos

interessados em analisar o consumo, a renda por trabalhador seria melhor se o interesse da

análise for a produção, e a renda por homem-hora de trabalho será indicada para o foco da

eficiência da economia.

Com o avanço dos institutos internacionais de pesquisa estatísticas em órgãos como:

Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), ONU, entre outros órgãos de grande confiabilidade e credibilidade internacional,

Page 25: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

26

possuímos acesso a extensa série de dados, possibilitando expandir a análise do tema de

desenvolvimento para uma visão mais específica. Esta visão é capaz de captar com maior

proximidade e realidade as mudanças estruturais das diferentes nações, e por este motivo, será

escolhida uma visão similar ao utilizado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),

criado com o objetivo de ser um contraponto ao indicador muito utilizado, o Produto interno

Bruto (PIB) per capita.

Não será utilizado exclusivamente o IDH devido à peculiaridades relativas aos

indicadores econômicos presentes no índice. No IDH os pontos principais são: Saúde, sendo

medida pela expectativa de vida; Educação, medida pelos anos de educação dos adultos e

também expectativa de anos escolares para as crianças; relativo a Renda, medida pela Renda

Nacional Bruta (RNB) per capita, expressa em poder de paridade de compra (PPC) constante,

em dólar, tendo 2005 como ano de referência.1 Portanto, trata-se de uma busca por estatísticas

que carreguem a complementaridade das questões sociais, dos fatores econômicos e dos

fatores estruturais da economia.

Assim os países pertencentes ao acrônimo BRICS serão analisados, neste trabalho, em

uma perspectiva ampla de desenvolvimento econômico, onde teremos dados como:

demografia, pobreza, infraestrutura, educação, saúde, inovação, produtividade, renda.

Também analisaremos o IDH registrado neste período comparando os países com maior nível

mundial e os pertencentes ao acrônimo BRICS.

2.4.1. ÍNDICES DEMOGRÁFICOS

Torres (1995), explica que Pareto foi um economista que revolucionou a importância

da variável populacional, quando aponta uma dependência entre fatores demográficos e

econômicos. O melhoramento e a deterioração das condições econômicas de um país, para

Pareto, estariam relacionadas com os fenômenos populacionais.

Sendo importante levarmos em conta estes dados na análise econômica. Deve-se ter o

cuidado de não supervalorizarmos esta variável, ao mesmo tempo que, não podemos deixar de

considera-la.

Com base no documento publicado pela EUROSTAT (2012), percebemos que os

índices demográficos nos trazem as tendências do crescimento populacional como fertilidade,

mortalidade e imigrações, que estão ocorrendo e assim devendo ser analisadas para uma

1 Disponível em: < http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH >, acessado em

20/06/2013

Page 26: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

27

melhor tomada de decisão do poder público. A população de um país, além de ser

determinante da estrutura social, também exerce pressões políticas e econômicas, pois o

tamanho de sua população está diretamente relacionada ao tamanho de seu mercado interno.

Os países pertencentes ao BRICS, de acordo com a Tabela 1, representavam mais de

40% da população mundial, em 2012. Ocupando uma área de aproximadamente 30% do

território mundial. Nesse cenário, percebe-se a grandeza demográfica e espacial deste

acrônimo, com a possibilidade de representar uma grande importância geopolítica.

Tabela 1 – Dados Demográficos e Geográficos dos BRICS e do Mundo

População Total (milhões) Área Total (km²)

País 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2012

Brasil 174,7 178,6 182,1 186,1 190,8 193,9 8.459.420

Rússia 145,5 144,3 143,5 143,2 143,0 142,7 16.376.870

Índia 1.088,7 1.123,0 1.157,0 1.190,9 1.224,6 1.258,4 2.973.190

China 1.285,9 1.300,6 1.314,6 1.328,3 1.341,3 1.353,6 9.327.490

África do Sul 46,0 47,2 48,3 49,3 50,1 50,7 1.213.090

Mundo 6.257,6 6.412,9 6.568,6 6.726,1 6.885,2 7.046,4 129.709.895

Fonte: Unesco, IPEA, Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor.

Após, examinar elementos quantitativos, referente às grandezas populacionais e

espaciais dos países. Será analisado o aspecto qualitativo desta população, iniciando está

análise pelos níveis de pobreza encontrados nos países do BRICS.

2.4.2. POBREZA

Um dos principais indicadores de desenvolvimento é o número de pessoas pobres,

com renda insuficiente para o atendimento das necessidades básicas. De acordo com dados

do Banco Mundial, estima-se que a soma das pessoas que possuem uma renda de até dois

dólares por dia, chega-se a uma população de 3 bilhões, ou seja, quase a metade da população

mundial.

Cabe ao Estado o papel essencial na organização do esforço de desenvolvimento, por

meio de oferta e da regulação do crédito, infraestrutura básica e serviços sociais básicos,

como saúde, educação e segurança.

Page 27: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

28

De acordo com a ONU são consideradas como pobres as famílias que possuem uma

renda familiar apenas para atender ás necessidades básicas, enquanto as famílias miseráveis

seriam aquelas cuja renda familiar cobre apenas alimentação.

A ONU estabeleceu em Setembro de 2000 as chamadas Metas do Milênio, sendo uma

destas metas definida como a redução da extrema pobreza pela metade até 2015. É

considerada como extrema pobreza aqui, a população que possui uma renda inferior a U$1,25

por dia.

De acordo com a Tabela 2, o Brasil conseguiu diminuir pela metade a porcentagem de

sua população vivendo em situação de extrema pobreza. O caso chinês é o mais notável,

diminuindo de 36% para 12% a população em extrema pobreza, neste mesmo período.

Tabela 2 - População em situação de Extrema Pobreza nos BRICS

População com renda de até U$ 1,25 por dia (PPP) (% pop total)

País 2000 20005 2011

Brasil 12 9 6

Rússia 1 0 0

Índia - 42 33

China 36 16 12

África do Sul 26 17 14

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor.

Por meio da publicação do Relatório do Desenvolvimento Humano 2013 (PNUD,

2013), encontra-se um destaque para o êxito na diminuição da pobreza em Brasil, China e

Índia. Só a China foi responsável por retirar da pobreza um número de 510 milhões de

pessoas. A questão da pobreza torna-se fundamental na análise do processo do

desenvolvimento, pelo fato de possuir múltiplas dimensões.

Uma das causas da pobreza é a falta de rendimentos, como também os aspectos

relativos ao nível e ao acesso à educação e saúde. Durante o período de desenvolvimento dos

países europeus, ao longo do século XX, estes conseguiram reduzir a pobreza com o aumento

de renda, aliado a investimentos públicos na saúde e na educação (PNUD, 2013, pag. 27). A

pobreza e a miséria são características dos países pertencentes ao BRICS. Como também,

outros fatores que ampliam a má qualidade de vida da população. Há uma profunda

desigualdade econômica, má qualidade de serviços públicos de saúde, transporte, educação,

lazer e saneamento básico. Esses fatores são impactantes no ritmo de desenvolvimento.

Por meio de análises com 132 países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, identificou-

se uma relação inversa entre desigualdade e o desenvolvimento humano, ou seja, quanto

maior a desigualdade menor o desenvolvimento humano (PNUD, 2013, pag. 30).

Page 28: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

29

De acordo com Saker (2007) o acesso ao saneamento básico faz parte da realização

plena dos direitos humanos, sendo um corolário do direito ao desenvolvimento.

De acordo com a Tabela 3, dentre os países pertencentes ao BRICS, o Brasil está em

melhor situação referente ao acesso do Saneamento Básico pela população. Este é acessado

por mais de 80% da população. No quadro oposto, encontra-se a Índia, com a pior situação, e

sendo o único dos BRICS com um nível de acesso menor que a média mundial. A Índia

avançou durante o período de 2002 à 2012, de 27,2% para 35,1%, porém está muito aquém

dos demais, e muito abaixo de um nível relativamente satisfatório, que é no mínimo 60%

(MOREIRA, 1988, p. 31).

Tabela 3 - Acesso da População ao Saneamento Básico nos BRICS e no Mundo

Saneamento Básico (% pop.)

País 2002 2005 2006 2009 2010 2011

Brasil 75,80 77,50 78,10 79,70 80,30 80,80

China 48,80 54,90 57,00 62,90 64,80 65,10

Índia 27,20 29,90 30,70 33,40 34,20 35,10

Rússia 71,70 71,20 71,00 70,60 70,40 70,40

África do Sul 69,80 71,30 71,80 73,30 73,80 74,00

Mundo 57,63 59,94 60,68 62,59 63,26 63,50

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborada pelo autor

2.4.4. Educação

A importância da educação ao processo de desenvolvimento pode ser exemplificada

pela seguinte passagem:

[...] a educação tende a elevar os salários via aumentos de produtividade, a aumentar a

expectativa de vida com a eficiência com que os recursos familiares existentes são utilizados, e

a reduzir o tamanho da família, com o declínio no número de filhos e aumento na qualidade de

vida destes reduzindo, portanto, o grau de pobreza futuro (BARROS; MENDONÇA, 1997, p.

6).

De acordo com a publicação “Adult and Youth Literacy: National, regional and global

trends, 1985-2015” (UNESCO, 2013), existem 10 países em que o número de pessoas

analfabetas excedem 10 milhões de habitantes, estando presente nesta lista: Brasil, com 14

milhões, China, com 52 milhões e Índia com 287 milhões. É perceptível que o conjunto dos

Page 29: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

30

10 países abrigariam 556 milhões de analfabetos, representando mais de 70% dos 774 milhões

de analfabetos do mundo (UNESCO, 2013 pag. 10).

Segundo a Tabela 9, a Índia apresenta apenas 62,8% de sua população alfabetizada,

sendo que todos os demais representantes do acrônimo possuem um nível superior a 90% de

sua população alfabetizada. Nota-se uma profunda desigualdade de gêneros existente na Índia,

pelo fato de apenas 50,8% das mulheres estarem alfabetizadas. Considerando os países do

BRICS em conjunto, chega-se a um total de 356,5 milhões, o que representam

aproximadamente 46% da população analfabeta mundial.

Tabela 4 - Quantidade de alfabetizados e analfabetos nos BRICS

País Ano Alfabetizados (acima de 15 anos) Analfabetos

Total (%) Homens (%) Mulheres (%) Total (milhões) Mulheres (%)

Brasil 2010 90,4 90,1 90,7 13.984 49,8

Rússia 2010 99,7 99,7 99,6 383 60,9

China 2010 95,1 97,5 92,7 52.347 73,3

Índia 2006 62,8 75,2 50,8 287.355 65,1

África do Sul 2011 93 93,9 92,2 2.474 56,7

Fonte: Unesco (2013, p. 33), elaborado pelo autor

Dentre as propostas presente nos Objetivos do Milênio (ONU, 2000), está a

universalização do ensino primário. O objetivo é de até 2015, todas as crianças, independente

do sexo, tenham a possibilidade de cursar e concluir o ensino básico.

O relatório da ONU (2013), cita que entre os anos 2000 e 2011, o número de crianças

fora da escola no mundo diminuiu de 102 milhões para 57 milhões. Neste relatório, o Brasil

ganha destaque pelo programa Bolsa Família, que retirou da pobreza 50 milhões de pessoas.

Com base na publicação “The European Union and the BRIC countries”, EUROSTAT

(2013), temos que a educação é um dos pilares de fundação da sociedade. Esta é importante

para a sociedade como um todo, como também para o próprio indivíduo, pois através da

educação serão desenvolvidos diversas habilidades: físicas, mentais e sociais.

O objetivo principal da educação nos dias atuais é de preparar e qualificar os

trabalhadores para o mercado de trabalho. Um dos fatores fundamentais para o sucesso dos

países desenvolvidos, como são os países europeus, se deve ao fato de possuírem uma alta

qualidade na educação primária, secundária e terciária.

Nos países pertencentes ao BRICS, a disponibilidade de uma mão-de-obra educada e

especializada, será de fundamental importância para a continuidade do processo de

desenvolvimento econômico. Isto acontece pois o crescimento de médio e longo prazo destes

Page 30: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

31

países, dependerá da qualidade do capital humano existente, pela necessidade organizacional

e de inovações que requerem as sociedades desenvolvidas.

Pinto (2013), utilizando-se de dados referente ao tema da educação, coloca a tese de

que a universalização da educação nos países do BRICS não foi acompanhada de uma

melhora na sua qualidade. Coloca como exemplo o caso brasileiro, em que a expansão do

acesso não teve igual elevação qualitativa, sendo evidenciadas nas altas taxas de reprovados.

A tese de Costa Pinto pode ser sustentada por uma análise dos dados do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - Inep, do Ministério da Educação, referente às

taxas de rendimento dos estudantes brasileiros. Nota-se que durante o período de 2007, em

que se inicia a pesquisa, e o ano de 2011, houve uma elevação da taxa de reprovação de

12,70% para 13,10%. Apenas em relação à taxa de abandono, ocorreu uma melhora ano após

ano, derivada das políticas públicas de combate à evasão escolar, como o Bolsa Família.

2.4.5. Saúde

A saúde dos cidadãos é um dos pontos importantes para a questão do desenvolvimento

em uma nação. Para ser avaliado este fator será utilizado como proxy a expectativa de vida ao

nascer.

Tabela 5 - Expectativa de anos de vida ao nascer

Expectativa de Vida (ao nascer)

Ranking IDH

Países 2000 2006 2008 2010 2012

- Muito Alto IDH 77,7 79,1 79,5 79,8 80,1

- Alto IDH 69,9 71,7 72,3 72,9 73,4

- Médio IDH 66,9 68,3 68,8 69,3 69,9

- Baixo IDH 54,3 56,7 57,5 58,3 59,1

1 Noruega 78,7 80,1 80,5 80,9 81,3

2 Austrália 79,5 81,2 81,5 81,8 82,0

3 Estados Unidos 76,8 77,7 78,1 78,4 78,7

55 Rússia 65,0 66,7 67,7 68,5 69,1

85 Brasil 70,1 71,8 72,5 73,1 73,8

101 China 71,2 72,4 72,8 73,2 73,7

121 África do Sul 54,8 51,0 51,4 52,2 53,4

136 Índia 61,6 63,7 64,4 65,1 65,8

Fonte: UNESCO, elaborado pelo autor.

Page 31: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

32

Com base do banco de dados estatísticos da Unesco, referente à expectativa de vida,

percebe-se a diferenciação entre os números de anos esperados que um cidadão do mundo

desenvolvido viva, comparado a um país pobre e/ou subdesenvolvido. Temos os países

desenvolvidos apresentando uma expectativa de vida superior a 80 anos de vida, já os

cidadãos dos países mais pobres possuindo uma expectativa de viver apenas durante 59 anos.

Brasil e China possuem os melhores níveis, pertencendo ao grupo de países com Alto

IDH, pois suas expectativas são superiores a 73,4 anos. Já a África do Sul apresenta uma das

piores expectativas de vida do mundo, com apenas 53,4 anos, fato que evidencia que além de

haver um grande gap na expectativa de vida dos países pertencentes ao BRICS comparados

com os países desenvolvidos, existe também uma diferença no nível dos países pertencentes

ao BRICS.

Porém, deve-se ter o cuidado ao realizar conclusões destes dados, pois “o aumento da

expectativa de vida ao nascer, no entanto, não significa que todos irão atingir a velhice. É

preciso analisar indicadores qualitativos de esperança de vida” (CARDOSO Jr, ACIOLY,

MATIJASCK, 2009, p. 34).

Analisando a tabela 6, referente as despesas com a saúde em relação ao PIB, o Brasil

apresenta o nível mais elevado, e a Índia o nível mais baixo dentre os países do BRICS. O

Brasil foi o país que mais aumentou a despesa na Saúde, durante o período de 2002 até 2011.

Iniciou com uma taxa de 7,19%, em 2002, elevando para 8,90% do PIB em 2011. No caso da

Índia, ocorreu uma diminuição do investimento na saúde, de 4,40%, em 2002, para 3,87% do

PIB, em 2011.

Outra questão importante de se analisar, é que nenhum dos países possuíram no

período um nível de gasto com a saúde comparável com a média mundial ou com os países

que possuem uma alta renda. Poderíamos sugerir que esta distorção deve-se a uma preferência

dos governantes na questão produtiva e comercial em detrimento das questões sociais.

Page 32: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

33

Tabela 6 - Despesas com Saúde, em % do PIB, nos países do BRICS, Alta Renda e no Mundo

Despesas com a Saúde (% PIB)

País 2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011

Brasil 7,19 7,13 8,48 8,28 8,75 9,01 8,90

Rússia 5,99 5,19 5,30 5,14 6,17 6,48 6,20

Índia 4,40 4,50 4,03 3,93 3,95 3,75 3,87

China 4,81 4,75 4,55 4,63 5,15 4,98 5,16

África do Sul 8,50 8,91 8,53 8,02 8,71 8,70 8,52

Mundo 9,93 10,08 9,95 9,80 10,61 10,25 10,05

Desenvolvidos 10,91 11,12 11,19 11,28 12,36 12,15 11,98 Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Complementando a análise acima, encontra-se na Tabela 7 os dados referente às

despesas per capita com a Saúde, em dólar corrente. Com estes valores, consegue-se notar a

tamanha distorção existente dentre os países do BRICS, como também em relação aos países

de alta renda.

Durante o período analisado, os países de alta renda tinham um gasto de US$ 2.489,99

per capita, em 2002, passando para US$ 4.608,20 per capita, em 2011. Enquanto no mesmo

período, o Brasil elevou sua despesa de US$ 203,06, em 2002, para US$ 1.120,56, e a Índia

de US$ 21,06 per capita, em 2002, para apenas US$ 59,10 per capita, em 2011.

Tabela 7 - Despesas per capita com Saúde nos BRICS, Mundo e países Desenvolvidos

Despesas per capita com a Saúde (US$ corrente)

País 2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011

Brasil 203,06 257,39 491,58 715,08 733,90 990,27 1.120,56

Rússia 142,05 212,43 365,92 596,48 527,23 670,36 806,70

Índia 21,06 28,70 32,99 42,70 43,59 51,36 59,10

China 54,09 70,12 93,39 156,61 191,28 218,78 278,02

África do Sul 205,28 413,18 460,80 445,24 495,31 630,93 689,27

Mundo 528,93 664,45 750,89 893,80 904,73 946,08 951,58

Desenvolvidos 2.489,99 3.151,59 3.522,30 4.119,26 4.168,58 4.302,70 4.607,20

Fonte: Banco Mundial (2013), elaboração do autor

Registrou-se no Brasil um aumento superior a 550% das despesas per capita com a

Saúde, fato similar é encontrado em todos países do BRICS, os quais registraram, um

aumento médio de 472%.

Page 33: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

34

2.4.3. Infraestrutura

Com base em Bruno, B. Silva (2009), podemos dizer que infraestrutura refere-se ao

sistema de serviços coletivos de uma região ou país, como o sistema de transporte,

telecomunicações e saneamento básico.

O desenvolvimento econômico não pode ser analisado sem a questão da infraestrutura, já que

esta surge como um de seus principais eixos [...] Sem uma infraestrutura de transportes

suficientemente desenvolvida, a economia terá sua taxa de crescimento limitada [...] Pode-se

considerar também que os gargalos em infraestrutura se traduzem em custos de produção mais

elevados e, consequentemente, tendem a pressionar para cima a taxa de inflação e o custo de

vida. Além disso, reduzirão a competitividade externa da economia, à medida em que tornam

os produtos exportados mais caros (BRUNO, B. SILVA, 2009, p. 7).

Analisando o termo Infraestrutura, destaca-se a pertinência do prefixo “infra”, que

significa embaixo, e remete ao fato de serem um conjunto de atividades e estruturas que

formam a base para o desenvolvimento de uma região. Será analisado o sistema de transporte,

através da malha ferroviária, e também o aspecto energético, pois a energia elétrica é muito

importante na dinâmica produtiva de um país.

Tanto um novo investimento em infraestrutura quanto na a infraestrutura já existente,

são elementos importantes para a ocorrência do processo de desenvolvimento. Analisando os

dados da Tabela 8, temos Rússia, Índia e China apresentando uma extensa malha ferroviária,

com um aumento de 11,27% da malha chinesa entre o período de 2002 e 2011. Contraste aos

dados destes três países, temos no Brasil e África do Sul, apresentando, no caso brasileiro, um

fator mais preocupante, pela dimensão territorial que ocupa, ocasionando uma sobrecarga do

transporte rodoviário, aumentos nos custos de produção, elevação do custo de vida e menor

competitividade internacional.

Tabela 8 - Extensão da Malha Ferroviária nos BRICS

Malha Ferroviária (km)

País 2002 2004 2006 2008 2010 2011

Brasil - - 29.314 29.817 29.817 29.817

China 59.530 61.015 63.412 60.809 66.239 66.239

Índia 63.140 63.200 63.332 63.327 63.974 63.974

Rússia 85.542 85.286 92.217 84.158 85.292 85.292

África do Sul 22.657 20.247 20.047 24.487 22.051 22.051 Fonte: Banco Mundial (2013)

Page 34: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

35

A energia elétrica desempenha um papel crucial ao processo de desenvolvimento, pois

possibilita o aumento da produtividade dos fatores de produção (capital e trabalho), como

também eleva o bem estar da sociedade. O fato de melhorar a qualidade de vida da população

ocorre pela inserção desta na sociedade moderna, respondendo a anseios populares de

produtos como: refrigeradores, aquecedores e condicionadores de temperatura, meios de

comunicação e entretenimento, iluminação, entre outros. Por isto, um dos objetivos

prioritários dos países em desenvolvimento é o abastecimento energético de toda população.

Para os países em desenvolvimento, o crescimento da oferta de eletricidade permanece sendo

um componente essencial de sua estratégia de desenvolvimento econômico. O crescimento

populacional, a urbanização e a industrialização deverão induzir por muitos anos ainda um

forte crescimento do consumo desse energético (OLIVEIRA, 1992, p. 1).

O consumo de energia elétrica, durante o período de 2002 a 2012, conforme observado

na Tabela 9, apresenta as seguintes características: o consumo de energia elétrica no mundo

cresceu 33,64% no período; dentre os países do BRICS, a China apresentou o maior

crescimento, com um consumo de 1.530,64 TWh em 2002, para 3.937,92 TWh em 2010, o

que representa um crescimento de aproximadamente 157%.

A África do Sul, foi o único país dentre os BRICS que não apresentou um expressivo

crescimento do consumo de energia elétrica no período, consumindo 209,01 Twh de energia

elétrica em 2002, para um crescimento de 240,09 TWh em 2010, ou seja, um crescimento de

apenas 15,25%, sendo muito aquém dos demais países citados.

Tabela 9 - Consumo de Energia Elétrica nos BRICS e no Mundo

Consumo de Energia Elétrica (TWh)

País 2002 2004 2006 2008 2010

Brasil 324,37 359,95 389,95 428,25 464,70

Rússia 770,77 811,65 872,39 913,51 915,65

Índia 435,76 492,81 572,95 662,25 754,61

China 1.530,64 2.056,57 2.677,04 3.255,39 3.937,92

África do Sul 209,01 217,06 228,96 240,76 240,09

Mundo 14.714,89 15.964,70 17.340,98 18.528,09 19.665,48

Fonte: Banco Mundial(2013), elaborado pelo autor.

Para complementar a análise do consumo, devemos analisar a produção de energia

elétrica dos países do BRICS. Nota-se na Tabela 10, que a produção de energia elétrica no

Page 35: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

36

mundo eleva-se de 16.158,28 TWh em 2002, para 21.464,22 TWh em 2010, ou seja,

apresentando um crescimento de aproximadamente 32,84%. Dentre os países do BRICS,

novamente temos a China como o grande destaque, realizando um crescimento de

aproximadamente 154% no período, partindo de uma produção de 1.654,91 TWh em 2002,

para 4.208,26 TWh em 2010. Também podemos destacar o crescimento observado no Brasil e

na Índia, de aproximadamente 49,20% e 60,71% respectivamente.

Tabela 10 - Produção de Energia Elétrica nos BRICS e no Mundo

Produção de Energia Elétrica (TWh)

País 2002 2004 2006 2008 2010

Brasil 345,67 387,45 419,34 462,86 515,75

Rússia 889,31 929,91 993,87 1038,43 1036,12

Índia 597,29 666,65 753,25 841,71 959,92

China 1.654,91 2.204,71 2.869,80 3.481,98 4.208,26

África do Sul 218,56 240,93 250,85 255,52 256,65

Mundo 16.158,28 17.524,12 18.975,91 20231,40 21.464,22

Fonte: Banco Mundial(2013), elaborado pelo autor.

Na Tabela 11, analisando conjuntamente os países pertencente ao BRICS, temos que

em 2002, eles representavam 22,93% da produção mundial e 22,23% do consumo mundial de

energia elétrica. No ano de 2010, nota-se um grande aumento da participação mundial na

produção e no consumo, com uma produção conjunta de 32,50% e um consumo de 32,10% de

toda energia elétrica produzida e consumida no mundo. Portanto, podemos notar que existiu

no período uma melhora relativa e um desenvolvimento interno, dos países pertencentes ao

acrônimo.

Tabela 11- Comparação entre a Produção e o Consumo de Energia Elétrica nos BRICS, em

relação ao total mundial

Energia Elétrica - BRICS

Ano 2002 2006 2010

Produção (% mundial) 22,93% 27,86% 32,50%

Consumo (% mundial) 22,23% 27,34% 32,10%

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor.

Também devemos ter um cuidado na análise, pois existe uma heterogeneidade dentre

dos BRICS bastante grande, possuindo a economia chinesa um maior peso no acrônimo.

Baseando-se da Tabela 12, a China apresentava uma participação mundial de 10,24% na

Page 36: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

37

produção e 10,40% no consumo de energia elétrica mundial, em 2002. Já em 2010, a

participação no cenário mundial da China amplia, com uma participação de 19,61% da

produção mundial e 20,02% do consumo mundial de energia elétrica. Estes são alguns dados

que demonstram a grande importância chinesa no período.

Tabela 12 - Comparação entre a Produção e o Consumo de Energia Elétrica na China, em

relação ao total mundial

Energia Elétrica – China

Ano 2002 2006 2010

Produção (% mundial) 10,24% 15,12% 19,61%

Consumo (%mundial) 10,40% 15,44% 20,02%

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor.

De acordo com o relatório da PNUD (2013), poucos países conseguiram manter um

ritmo de rápido desenvolvimento sem um grande investimento público. Investimento não

apenas em infraestrutura, como também em educação e saúde. Este investimento objetiva

criar círculos virtuosos, onde as próprias políticas sociais e de crescimento se reforcem, pois

foram constatados que em países de baixa desigualdade, o crescimento tem um impacto mais

positivo na redução da pobreza, do que em países com uma alta desigualdade.

2.4.6. Inovação e Produtividade

Conforme apontado por Furtado (2009, pag. 86), o desenvolvimento econômico

consiste na introdução de novas combinações de fatores de produção, as quais tenderam a

aumentar a produtividade do trabalho. Com a elevação da produtividade, decorrente da

modernização da técnica produtiva, eleva-se a renda real social, ou seja, a quantidade de bens

e serviços à disposição da população.

Furtado nota que em economias muito atrasadas, existe uma produtividade muito

baixa, ocasionando um grande comprometimento de sua capacidade produtiva para satisfazer

as necessidades mais básicas. Com este comprometimento, resulta uma pequena

disponibilidade de excedentes, para satisfazer formas diferenciadas de consumo ou cobrir

inversões.

Page 37: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

38

As grandes dificuldades do desenvolvimento se encontram, portanto, nos níveis mais

baixos de produtividade. Iniciado o processo de crescimento, a dinâmica própria deste

faz com que parte do aumento da renda se reserve para a capitalização. (...) O impulso

inicial que permite superar essas dificuldades veio historicamente, de fora da

comunidade (FURTADO, 2009, p 88).

Portanto, para ocorrer o processo de desenvolvimento em uma economia muito

atrasada, é de suma importância o aumento da produtividade. Sendo introduzidas novas

técnicas produtivas, a economia conseguirá elevar a renda real social e gerar um maior

excedente econômico. Também se pode notar no texto de Furtado (2009, pag. 85), nos

diferentes países subdesenvolvidos, caso dos países do BRICS, existe uma deficiente

utilização dos fatores de produção. Deficiência causada, na maioria das vezes, por uma

escassez do fator capital. Assim, desperdiça-se o fator mão-de-obra porque é insuficiente o

fator capital. Consequentemente, nas economias subdesenvolvidas encontramos uma

produtividade média de um conjunto de fatores de produção menor que a encontrada nos

países desenvolvidos.

[...] Essa dificuldade não poderá ser contornada senão através de um esforço de

adaptação da tecnologia [...] Nesse desajustamento básico entre oferta virtual de

fatores e orientação da tecnologia reside, possivelmente, o maior problema que

enfrentam atualmente os países subdesenvolvidos (FURTADO, 2009, p. 86).

Para ser avaliada a produtividade de um país, Matjascic, Dias E Higa (2009, p. 27),

utilizam um índice de produtividade, dado pela razão entre o PIB e o número de pessoas

empregadas.

Page 38: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

39

Tabela 13 - PIB por pessoa empregada, US$ em PPC (2005) nos países do BRICS e EUA

Produtividade –

PIB por pessoa empregada, US$ PPC (2005)

Brasil Rússia Índia China África do Sul EUA

2002 17.678 25.322 6.359 6.843 20.804 95.514

2004 17.691 28.754 7.063 8.561 21.439 99.446

2006 18.051 32.704 8.071 10.548 22.846 101.526

2008 19.232 36.649 9.028 13.099 23.509 102.450

2009 19.029 34.289 9.630 14.256 23.482 103.143

2010 19.807 35.716 10.226 15.688 24.520 106.209

2011 19.950 37.070 10.659 17.067 25.354 107.551

2012 19.899 38.327 11.048 18.325 26.167 108.080

Fonte: The Conference Board Total Economy Database™, acessado em Outubro de 2013

Na Tabela 13, destaca-se o grande crescimento da produtividade chinesa no período. A

China inicia com um PIB por pessoa empregada de US$ 6.843, em 2002, atingindo

US$ 18.325, em 2012, registrando no período um crescimento de aproximadamente 167%.

No conjunto, os países do BRICS, apresentaram um crescimento de aproximadamente 66%

no período.

Nota-se que, apesar de um grande crescimento durante este período, a diferença em

relação a países desenvolvidos, como os EUA, são grandes e quase impossíveis de serem

atingidas no curto prazo, como também no médio prazo para a maioria dos países.

O aumento da produtividade ou da produção por trabalhador ocorre tanto na produção

dos mesmos bens através da redução sistemática da quantidade de trabalho simples

utilizado, quanto através da transferência da mão-de-obra para setores com maior

conteúdo tecnológico ou maior valor adicionado per capita (BRESSER-PEREIRA,

2008, pág. 1).

Bresser-Pereira, partindo do raciocínio acima, explica que a transferência da mão-de-

obra para setores com maior conteúdo tecnológico, possui uma maior importância, pois seria a

forma do país alocar uma mão de obra mais capacitada. Empregando trabalhadores com um

custo social de reprodução maior, serão demandados padrões mais elevados de consumo, que

por sua vez refletiram em uma busca por novas processos e tecnologias produtivas. Portanto,

temos um processo de desenvolvimento dependente tanto do sistema educacional, como do

desenvolvimento tecnológico e da acumulação de capital.

Page 39: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

40

Além da produtividade, iremos analisar o nível tecnológico dos países. Utilizando os

pedidos de registro de patente como proxy para o nível tecnológico, conforme apresenta-se no

trabalho de MATJASCIC, DIAS e HIGA (2009, pag.29). A patente é um direito de

propriedade concedido a uma invenção, sendo consequência de anos de pesquisa e avanços

nas mais diversas áreas.

Na Tabela 14, notamos que os países pertencente ao acrônimo BRICS, com exceção

da África do Sul, obtiveram um grande crescimento no número de registros de patentes. No

Brasil o registro de patentes saltou de 16.022, em 2002, para 28.306 registros, em 2011, uma

elevação de aproximadamente 77%. A China elevou o número de pedidos em surpreendentes

556,11%, partindo de 80.232, em 2002, para 526.412 registros, em 2011.

Podemos identificar a existência de uma diferenciação nas quantidades de registros

por residentes e não residentes. Esta diferença quantitativa entre eles, derivada da baixa

qualificação do capital social presente nestes países como também pela forte presença de

transnacionais, que possuem um maior investimento em P&D e capital social estrangeiro

qualificado.

Matjascic, Dias e Higa (2009, pag.30), coloca este fato como uma estratégia das

empresas transnacionais instaladas nos países subdesenvolvidos, servindo como garantia de

reserva de mercado, sem necessariamente uma contribuição para os avanços tecnológico

serem inovativos para o país.

Page 40: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

41

Tabela 14 - Pedidos de Registro de Patente por residentes e não residentes dos BRICS, EUA,

países de alta renda e o total mundial

O crescimento no número de registros de patentes não esteve presente exclusivamente

nos BRICS. Os EUA registram no mesmo período, um aumento de 50,57% dos pedidos de

registro. Nos países com uma renda elevada, o qual os EUA está incluído, existe uma

predominância de registros dos pedidos de patentes entre os residentes. Nestes países

encontramos um capital social qualificado e abundante, como também um grande

investimento em inovação e desenvolvimento tecnológico.

Na Tabela 15, encontra-se dados referentes à representatividade dos BRICS, EUA e

os países de alta renda no número mundial, de pedidos de registros de patentes.

Tabela 15 - Representatividade dos pedidos de registro de patente dos BRICS, EUA e países

de alta renda no total mundial

Pedidos de Registros de Patentes (% mundial)

Países 2002 2006 2008 2011

BRICS 10,23% 17,22% 20,84% 30,10%

EUA 23,19% 23,75% 23,82% 23,47%

Desenvolvidos 85,18% 77,53% 73,78% 65,33% Fonte: World Intellectual Property Organization (WIPO), elaboração do autor

Page 41: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

42

Os países do BRICS obtiveram uma aumento na participação no campo de registro de

patentes mundial. Em 2002, os BRICS representavam apenas 10,23% dos pedidos de patentes

do mundo, enquanto os EUA possuíam 23,19% e os países desenvolvidos concentravam

85,18% dos pedidos. Em 2011, os BRICS elevam sua participação global para 30,10%,

enquanto os países de alta renda diminuem para 65,33% e os EUA registram um pequeno

aumento, para 23,47%.

A maior concentração poderia indicar que ocorreu um desenvolvimento tecnológico

nos BRICS superior à média encontrada nos países de alta renda. Mas analisando os dados

observa-se que a elevação ocorreu em grande parte pelos não residentes, sendo formado em

grande parte por pesquisadores e empresas com sede nos países desenvolvidos.

Um dos motivos para o desenvolvimento tecnológico, por não residentes, encontra-se

no fato de que os capitais estrangeiros, utilizando suas transnacionais, priorizaram nestes anos

os países dos BRICS, pois apresentavam: crescimento econômico, grande mercado

consumidor interno, mão-de-obra barata e uma escassez na oferta de produtos.

Tabela 16 – Pedidos de registro de patente nos BRICS

Pedidos de Registros de Patentes dos BRICS (% Total)

Países 2002 2004 2008 2011

China 54,35% 63,88% 77,84% 81,53%

Outros (BRIS) 45,65% 36,12% 22,16% 18,47%

Fonte: World Intellectual Property Organization (WIPO), elaboração do autor

Especificando a análise para os BRICS, na Tabela 16, tem-se uma grande

heterogeneidade, onde a China possui um peso muito superior aos demais integrantes. Em

2002, dos 147.627 pedidos de patentes pelos BRICS, a China foi responsável por 54,34%

destes pedidos. Em 2011, dos 645.668 pedidos de patentes pelos BRICS, a China passou a

representar 81,52%.

Na análise geral sobre produtividade e nível tecnológico, existe uma diferença muito

grande de todos os países do BRICS em relação aos EUA, podendo ser considerado com um

dos países desenvolvidos que se encontram no limite do conhecimento tecnológico. Conforme

explica Celso Furtado, os países subdesenvolvidos apresentam uma deficiência na utilização

dos fatores de produção, sendo utilizada muita força de trabalho, pelo fato de existir uma

escassez de capital.

Page 42: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

43

Na questão referente ao nível tecnológico, podendo ser considerado como um

fomentador dos processor de inovações, encontra-se uma grande supremacia chinesa. Nota-se

com os dados da tabela 16, que em 2002, a China representava aproximadamente 25% do

total de registros de patentes norte-americana. Já em 2011, atinge um número de pedidos de

registros sendo 4,5% superior ao número total norte-americano. Nos demais países do BRICS,

apenas Brasil e Índia, registram um avanço superior ao dos EUA, porém, em um nível bem

inferior ao chinês. A Índia aumenta de 3,43% para 8,22%, e o Brasil, de 4,79% para 5,62%,

em relação com o número total de pedidos de patente pelos EUA entre 2002 e 2011.

2.4.7. Renda

O’NEILL (2001) cunhou o termo “BRIC”, partindo sobretudo de um viés econômico.

Os países pertencentes a este loco, seriam aqueles que comporiam um grupo com dados

semelhantes, e que, em geral, seguem um ritmo de crescimento econômico muito acelerado e

mais estabilizado quando comparado a outras economias. Na Tabela 17, temos que em 2002

os BRICS representavam 8,79% do PIB mundial contra 82,99% dos países desenvolvidos. Já,

em 2012 os BRICS elevam sua participação para 20,65% do PIB mundial contra 68,29% dos

países desenvolvidos. Os países do BRIC, superam inclusive as expectativas de O’Neill2,

passando de um PIB de aproximadamente US$ 3 bilhões para acima de US$14,5 bilhões em

2012.

Internamente, a China registrou o maior crescimento, passando de 4,35% para 11,62%

do PIB mundial entre 2002 e 2012. O crescimento menos expressivo foi da África do Sul,

passando de 0,33% para 0,53% do PIB mundial entre 2002 e 2012.

2 Retirado do site: <http://www.spiegel.de/international/business/departing-goldman-sachs-exec-still-sees-bright-

future-for-bric-nations-a-890194.html>, acessado em 20/10/2013

Page 43: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

44

Tabela 17 - PIB e participação no PIB mundial dos BRICS, países desenvolvidos e total

mundial

Em BRESSER-PEREIRA (2008, p. 1), temos que o aumento da renda por habitante

seria o meio mais geral de medirmos o desenvolvimento econômico em determinada

sociedade, pois estaríamos aproximadamente mensurando a elevação da produtividade

ocorrida.

O autor também chega a citar que: “A regra, o que ocorre historicamente na maioria

das vezes, é o crescimento da renda per capita implicar mudanças estruturais na economia e

na sociedade” (BRESSER-PEREIRA, 2008, pág. 3), assim teríamos que o crescimento da

renda seria uma proxy de extrema importância em nossa análise.

A Tabela 18, indica a variação anual do PIB, medidos a preço constante de 2005. A

China apresentou uma média de crescimento igual a 10,34% durante 2002 a 2012, sendo o

maior crescimento registrado pelos BRICS e seguido pela Índia e Rússia, as quais

apresentaram no período um crescimento médio de 7,32% e 4,72%.

Tabela 18 - Variação do anual PIB, em US$ de 2005, nos países do BRICS, alta renda e

mundo

Page 44: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

45

O Brasil apresentou um crescimento médio de 3,52%, possuindo como auge de

crescimento o ano de 2010. Este crescimento de 7,53% do PIB anual é influenciado pelo ano

base de 2009, o qual refletiu a crise econômica iniciada nos EUA. Portanto, o melhor período

da economia brasileira foi durante 2004 até 2008. Nestes quatro anos, o país registrou um

crescimento médio de 4,82%.

Os países de alta renda registraram no período um crescimento médio mais baixo que

a o menor crescimento dentre os países do BRICS (África do Sul: 3,53%). Este é um dado

que corrobora com a tese de que os países do BRICS foram o motor da economia mundial

nesta época.

Torna-se interessante a análise complementar da Tabela 19, a qual nos mostra o PIB

per capita, em condição de paridade do poder de compra, utilizando como base o dólar de

2005. Estas condições foram estabelecidas para o PIB, pois, precisamos de um valor que seja

comparável e que não possa ser distorcido por variação cambial e inflacionária.

Tabela 19- PIB per capita (PPC), em US$ de 2005, nos países do BRICS, Zona do Euro e

EUA

PIB per capita - paridade do poder de compra (PPC) - US$ de 2005

País 2002 2004 2006 2008 2009 2010 2011

Brasil 8.002,92 8.343,88 8.753,24 9.584,05 9.468,39 10.092,92 10.278,63

Rússia 9.546,04 11.088,16 12.877,69 14.767,30 13.616,21 14.159,35 14.714,19

Índia 1.817,84 2.051,63 2.377,74 2.635,34 2.818,86 3.073,21 3.223,34

China 3.108,05 3.718,64 4.611,30 5.712,25 6.206,82 6.819,32 7.417,89

África do Sul 7.863,90 8.259,30 8.977,29 9.604,49 9.355,77 9.496,88 9.678,16

BRICS 6.067,75 6.692,32 7.519,45 8.460,69 8.293,21 8.728,34 9.062,44

Zona do Euro 28.432,57 28.937,98 30.068,20 30.770,80 29.300,63 29.787,87 30.112,27

EUA 39.934,96 41.629,71 43.228,11 43.069,58 41.187,66 42.078,59 42.485,98

Fonte: Banco Mundial, World Development Indicators (WDI)

Podemos comparar cada país do BRICS com os EUA, e também com a média dos

países pertencente à Zona do Euro. Assim, iremos compará-los com países desenvolvidos e

analisar a diferença relativa.

Na Tabela 19, a média do PIB per capita, em paridade de poder de compra dos

BRICS, era de US$ 6.067,75 em 2002, passando para US$ 9.062,44 em 2011. Em termos

relativos, a diferença dos BRICS com os países da Zona do Euro, foi de US$ 22.364,82, em

2002, e US$ 21.049,83, em 2011. É registrado no período uma diferença de US$ 1.314,99 a

favor dos BRICS.

Page 45: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

46

No caso dos EUA, realizando a mesma comparação, os BRICS possuíam uma

diferença de PIB per capita igual a US$ 33.867,21 em 2002, passando para US$ 33.423,54 em

2011. Portanto, também se encontra uma diferença a favor dos BRICS, de US$ 443,67. Estes

dois fatos corroboram para a tese da ocorrência do desenvolvimento econômico nos BRICS.

Porém deve atentar-se, quando se realiza a análise de cada país separadamente.

Comparando o PIB per capita individualmente dos BRICS em relação aos países da Zona do

Euro, a Índia registrou o pior resultado, aumentando a diferença de US$ 26,614,73 para

US$ 26.888,93, entre 2002 e 2011. No caso da Rússia e da China, encontra-se nestes dois

países os maiores ganhos, com uma melhora de US$ 3.488,45 e US$ 2.630,14,

respectivamente, entre 2002 e 2011.

Na comparação dos PIB per capita individual dos BRICS com os EUA. A Rússia e a

China são os únicos países que apresentam ganhos relativos. A Índia registra no período uma

piora de US$ 1.145,52, a África do Sul apresentou uma piora de US$ 736,76, e o Brasil uma

piora de US$ 275,31 do PIB per capita, em paridade do poder de compra, comparado com

PIB per capita dos EUA, sendo uma comparação apenas na relação entre os dois países, por

mais que a economia brasileira tenha apresentado melhoria em diversos setores, na questão

citada e em relação a economia americana, a economia brasileira aumentou a diferença

relativa.

2.4.8. IDH

O IDH é uma referência mundial no tema, foi criado em 1990 por Mahlub ul Haq e

Amartya Sen, economista ganhador do Prêmio Novel de Economia de 1998. Desde sua

criação, o índice sofreu algumas mudanças metodológicas, sendo atualmente marcada por três

áreas: Saúde, equidade e sustentabilidade.

Seu objetivo foi de ampliar a perspectiva de desenvolvimento, a não apenas seu

sentido econômico, com a ideia de englobar o desenvolvimento humano, mesmo que não

represente ainda todos os aspectos, como democracia, equidade e sustentabilidade.

Na Tabela 20, encontram-se as diferentes classificações de IDH. Os países são

divididos em quatro grupos, sendo: Muito Elevado, Elevado, Médio e Baixo. Estão no grupo

dos países com mais alto nível aqueles que possuírem um IDH médio de 0,905 em 2012, e

entre os piores, os que possuírem uma média de IDH de 0,466.

Page 46: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

47

Tabela 20 - Níveis de IDH

Níveis de IDH

Países 2000 2006 2008 2010 2012

Muito Elevado 0.867 0.892 0.898 0.902 0.905

Elevado 0.695 0.732 0.745 0.753 0.758

Médio 0.549 0.599 0.617 0.631 0.640

Baixo 0.385 0.432 0.448 0.461 0.466 Fonte: UNDESA (2011), Barro and Lee (2011), UNESCO (2012)

Na Tabela 21, foram escolhidos os países que ocupam o nível mais elevado de IDH,

como: Noruega, Austrália e Estados Unidos, para ser comparado com os países pertencentes

ao acrônimo BRICS. A Rússia e o Brasil possuem um nível de desenvolvimento humano

elevado, já a China, África do Sul e Índia possuem um índice médio de desenvolvimento

humano, sendo a Índia o pior deles, na 136° posição.

O IDH médio no mundo é de 0,694, os BRIC possuem uma média de 0,693, mas, se

for adicionada a África do Sul, a referida média cai para 0,680.

Tabela 21- Índice de Desenvolvimento Humano, de 2000 a 2012

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Ranking País 2000 2006 2008 2010 2012

1 Noruega 0.922 0.951 0.950 0.952 0.955

2 Austrália 0.914 0.929 0.933 0.935 0.938

3 EUA 0.907 0.926 0.931 0.934 0.937

55 Rússia 0.713 0.761 0.778 0.782 0.788

85 Brasil 0.669 0.704 0.716 0.726 0.730

101 China 0.590 0.650 0.672 0.689 0.699

121 África do Sul 0.622 0.606 0.613 0.621 0.629

136 Índia 0.463 0.515 0.533 0.547 0.554

BRIC 0,609 0,658 0,675 0,686 0,693

BRICS 0,611 0,647 0,662 0,673 0,680

Fonte: UNDESA (2011), Barro and Lee (2011), UNESCO (2012), World Bank (2012) e IMF (2012).

Outro aspecto à ser analisado é com relação à taxa de crescimento do IDH, em que os

países pertencentes ao BRIC, desconsiderando a África do Sul, possuíram, neste período, um

considerável avanço. Portanto, ao mesmo tempo em que é evidente a grande diferença nos

níveis de desenvolvimento humano dos BRICS em relação aos países desenvolvidos, tem-se

de um outro lado uma diminuição desta diferença e um crescimento relativo destes países

perante aqueles com níveis elevados de IDH.

Page 47: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

48

Cabe ressaltar que a questão essencial é evidenciar estes avanços, para que as políticas

sociais e econômicas, com objetivos de melhorar a qualidade de vida da população,

continuem sendo feitas, e também, com isso, servirá como exemplo aos países

subdesenvolvidos. Como exemplo, pode-se citar o Brasil e a Índia, pois ambos têm apoiado

nos aspectos relacionados ao desenvolvimento humano, os quais foram subvalorizados em

modelos anteriores, sendo utilizados em programas de transferência de renda e direito ao

trabalho.

2.4.10. Considerações

Embora o desenvolvimento econômico dependa dos fatores do lado da oferta, como a

educação, produtividade, inovação, infraestrutura, entre outros relatados acima, é crucial o

lado da demanda, ou seja, o processo de desenvolvimento, sobretudo econômico, que é

dependente de uma taxa de investimento elevada. Esta taxa de investimento elevada possui

alguns fatores essenciais para ocorrer, como: oportunidades de investimentos lucrativos para o

empresário, acesso ao crédito de longo prazo e expectativas positivas sobre o cenário

econômico.

KON (1991), explica que a Formação Bruta de Capital Fixo é uma medida estatística

do investimento que indica um crescimento das riquezas historicamente acumuladas, voltadas

as atividades produtivas. A autora cita François Perroux (1961), colocando que todo progresso

econômico estaria ligado a acumulação de bens de capital, o qual gera uma elevação no

rendimento do trabalho humano e na produtividade da sociedade.

Tabela 22 - Formação Bruta de Capital Fixo nos BRICS, países com alta renda e no Mundo,

de 2002 a 2012

Formação Bruta de Capital Fixo (% PIB)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Média

Brasil 16,2 15,8 17,1 16,2 16,8 18,3 20,7 17,8 20,2 19,7 17,6 17,86

Rússia 20,1 20,9 20,9 20,1 21,2 24,2 25,5 18,9 22,6 25,5 26,0 22,34

Índia 25,0 26,2 32,5 34,3 35,9 38,0 35,5 36,3 37,0 35,4 35,6 33,79

China 37,9 41,2 43,3 42,1 43,0 41,7 44,0 48,2 48,1 48,3 48,1 44,17

África

do Sul

15,9 16,7 18,1 18,0 19,7 21,2 22,7 19,5 19,2 19,5 19,4 19,08

Alta

Renda

20,0 20,0 20,5 20,8 21,3 21,5 20,8 17,5 18,1 18,2 - 19,87

Mundo 21,0 21,2 22,1 22,3 22,9 23,1 22,7 19,9 20,6 20,7 - 21,64

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Page 48: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

49

Na Tabela 22, temos dados referentes à Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF),

nota-se que o Brasil é o país que se encontra em pior situação frente aos demais BRICS, como

também quando comparável com os países desenvolvidos de alta renda e com a média

mundial. Este baixo investimento, limita os crescimentos futuros do PIB brasileiro, como

também demonstra uma dificuldade ou até mesmo a aversão do empresário nacional em

realizar uma ampliação ou modernização de sua indústria, tornando-se menos produtivo,

quando comparado aos competidores estrangeiros.

A China e a Índia foram os países com maior nível de investimento em FBKF, em

relação ao PIB, no período de 2002 a 2012. A China registrou uma média de investimento em

FBKF, sendo aproximadamente duas vezes superior à média mundial e aos países de alta

renda.

3. BRIC

O Acrônimo BRIC, cunhado em 2001 pelo economista-chefe Jim O’Neill, do

Goldman Sachs, não chega a analisar a possibilidade de uma conformação em um grupo

diplomático, e foca na capacidade transformadora da geopolítica que estes países iriam gerar

no cenário econômico mundial.

O artigo discute algumas relações econômicas e geopolíticas. O diplomata brasileiro

LEÃO (2012, p. 50), afirma que na concepção original de O’Neill apenas é identificada a

dimensão da economia e a taxa de crescimento para a criação do BRIC. Por meio de uma

análise e um raciocínio economicista, realiza uma previsão entre o crescimento destes países

emergentes com os países pertencentes ao G-7. Com esses fatores, O’Neill prevê alguns

indicadores econômicos de países pertencentes ao BRIC, que iriam terminar a década de 2000

com um nível tão alto quanto alguns países desenvolvidos.

A sigla BRIC transformou-se em instrumento de análise, não apenas acadêmico, mas

também no âmbito da política internacional. Ainda não é considerada um grupo internacional

formal, mas registra alguns acontecimentos para que isso se torne concreto. O mais

significativo destes são as reuniões dos chefes de Estado desses países.

Baumann (2010), explica que existem importantes fatores que diferenciam estas

economias, como o fato, por exemplo, de não possuírem moeda mutualmente conversível, e

terem diferentes graus de desenvolvimento capitalista entre eles. Também se percebe no

Page 49: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

50

tocante às liberdades democráticas, e no fato do Brasil ser o único que não é uma potência

nuclear.

Na questão referente ao comércio externo, existem diferenças no grau de dependência

para o dinamismo. Isso gera claras diferenças manifestadas no âmbito da Organização

Mundial de Comércio, nos debates sobre a matriz energética e nas posições no G-20

financeiro (BAUMANN, 2010, p.8).

A união destes países no artigo de O’Neill (2001), deve-se a uma análise referente a

uma classificação de diversos países do mundo. O autor realiza uma comparação entre os

países pertencentes ao Grupo dos sete (G7), com China, Índia, Brasil e Rússia, denominados

pelo acrônimo BRIC. Ao realizar uma análise, com base à uma série histórica de 1999 até

2002, percebe o comportamento dos seguintes indicadores: PIB; PIB per capita, medido em

paridade de poder de compra; taxa de crescimento do PIB; inflação e do tamanho da

população destes países.

O’Neill conclui que deveria ser revisto o G-7. De acordo com os resultados projetados,

a China seria o país com maior importância de ser incluída no grupo, já a inclusão do Brasil,

Rússia e Índia, existiria certa incerteza, que poderia ser justificada pelo fato do Canadá fazer

parte do grupo.

O relatório de O’Neill não expressa em momento algum o termo “desenvolvimento”,

fato este que não se deve estranhar já que o objetivo principal seria guiar o fluxo de capital

especulativo. Trata-se de um pensamento predominante da escola neoclássica, que não

abrange questões sobre a desigualdade social, acesso à educação e saúde, quantidade de

miseráveis, entre outros aspectos socioeconômicos, que não possuem tamanha atenção quanto

a busca pela valorização do capital, expressa no crescimento do PIB.

Segundo SEN (2011), a concepção adequada do termo desenvolvimento deve ir além

da acumulação de riquezas e crescimento do PIB, sem que desconsidere sua importância no

processo. Mas precisa ter uma visão ampla do mecanismo de desenvolvimento.

De repente, fomos guiados a condição de potência emergente, ao lado da China, da Índia e da

Rússia. Graças aos nossos 190 milhões de habitantes. Porque somos um país de renda média.

Tudo bem. Mas, afinal, continuamos a representar pouco mais de 1% do PIB (Produto Interno

Bruto) mundial. Por que e para que tanto barulho? (BRESSER-PEREIRA, 20/06/2009, Folha

de S. Paulo).

Trata-se de um questionamento referente ao Brasil. Porém, podemos realocar o mesmo

raciocínio para qualquer um dos países pertencentes ao acrônimo, pois, o BRIC torna-se mais

Page 50: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

51

elogiado pela imprensa e pelo establishment internacional, e até mesmo comparado a países

desenvolvidos como Canadá e Itália, por exemplo.

Este questionamento não deve ser tratado como uma dúvida perante a legitimidade dos

dados (citados pelos autores e pela imprensa em geral), mas sim pela forma em que é tratado,

e também pelo ufanismo que seus dirigentes políticos passam a população. Devemos

reconhecer os grandes avanços econômicos e sociais ocorridos nestes países, porém não

podemos esquecer dos grandes desafios e problemas socioeconômicos existentes.

De acordo com artigo da Embaixadora brasileira REIS (2012, p.32), há quem

classifique o grupo como um novo centro de influência em uma estrutura multipolar de

poderes (passaria a vigorar no século XXI). Outros indicariam que eles mudaram a

perspectiva pela qual vemos o mundo. Como também, existem os que não vislumbram

qualquer futuro para países tão diversos historicamente e culturalmente, e que ainda possuem

interesses econômicos muitas vezes conflitantes.

3.2. APROXIMAÇÕES POLÍTICAS

a) I Cúpula dos BRIC3

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, até 2006, os BRICs ainda não

possuíam mecanismos para ter articulação entre eles. O que mudou com a Reunião de

Chanceleres dos quatro países durante a 61ª Assembléia Geral das Nações Unidas, em 23 de

Setembro de 2006. Em junho de 2009, ocorre uma importante etapa para a elevação do nível

de interação política, por meio da Cúpula de Ecaterimburgo. Nesta ocasião se inicia uma

discussão de fortalecimento da cooperação no âmbito do BRIC, sendo colocada pela imprensa

como um compromisso que objetivava trazer novas respostas a velhos problemas, e oferecer

uma nova liderança para enfrentar a inércia e a indecisão4. Os pontos principais desta reunião

foram:

Enfatizar e apoiar o papel central do G20 em lidar com a crise financeira;

3 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas-mais-informacoes/saiba-mais-bric/documentos-emitidos-

pelos-chefes-de-estado-e-de-governo-pelos-chanceleres/comunicado-i-cupula-bric> Acesso em 08/04/2013 4Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/discursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoes/presidente-da-republica-federativa-do-brasil/Artigo-Em-Ecaterimburgo-os-Bric-atingem-sua>

Acesso em 08/04/2013

Page 51: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

52

Compromisso com a promoção da reforma das instituições financeiras internacionais,

buscando uma voz mais ativa das economias emergentes nas instituições financeiras

internacionais, apontamento da ideia de criar um sistema monetário mais

diversificado;

Manter e ampliar o comércio internacional;

Apoiar a diversificação de fontes e suprimentos de energia e no campo da eficiência

energética;

Condenar o terrorismo, compromisso com a diplomacia multilateral e apoio da Índia e

do Brasil na aspiração de um papel mais relevante na Organização das Nações Unidas.

Portanto, dentre os pontos do encontro, o central é uma maior participação geopolítica

deste grupo no processo decisório internacional, sem confrontar com as ideias dos países

centrais. É também ponto central apoiar decisões, não deixando de citar abertamente a

necessidade de uma reforma abrangente da ONU, para assim torná-la mais “eficiente”.

Aproveita brevemente para indicar a necessidade de um novo sistema monetário

internacional, utilizando a expressão “[...]de que seja criado um sistema monetário

internacional estável, previsível e mais diversificado.”

Na Tabela 23, temos um resumo dos eventos realizados entre os anos 2006 e 2012:

Page 52: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

53

Tabela 23 - Principais eventos diplomáticos ocorridos no âmbito dos BRICS entre 2006 e

2012

Ano Eventos no âmbito dos BRIC

2006 - I Reunião de Chanceleres do Grupo BRIC, à margem da 61ª AGNU

(Nova York, Setembro de 2006)

2007 - II Reunião de Chanceleres do Grupo BRIC, à margem da 62ª AGNU

(Nova York, 24 de setembro de 2007)

2008

- I Encontro de Ministros de Finanças do Grupo BRIC (São Paulo, 7 de novembro)

- Reunião dos Chefes de Estado e de Governo do Grupo BRIC por ocasião da

Cúpula do G-8 (Hokkaido, 9 de julho)

- Reunião de Ministros da Fazenda do BRIC na Cúpula do G- 20 Financeiro

(Pittsburgh, 24-25 de setembro)

- Reunião Ministerial do BRIC à margem da 64ª AGNU (Nova York, 24 de

setembro)

- Reunião de Ministros das Finanças e Presidentes de Bancos Centrais em

coordenação prévia ao encontro dos homólogos do G-20 (Londres, 4 de setembro)

- I Cúpula do BRIC (Ecaterimburgo, 16 de junho)

2010

- V Reunião Ministerial do BRIC à margem da 65ª Sessão da Assembleia Geral das

Nações Unidas (Nova York, 21 de setembro)

- II Cúpula do BRIC (Brasília, 15 de abril)

- Encontro de Bancos de Desenvolvimento do BRIC (Rio de Janeiro, 13 de abril)

- Encontro de Ministros da Agricultura do BRIC (Moscou, 26 de março)

2011

- Encontro de Ministros do Comércio do BRICS (Genebra, 14 de dezembro)

- Reunião de Chefes de Estado e de Governo do BRICS à margem da Cúpula do G-

20 (Cannes, 3 de novembro)

- Reunião dos Ministros e Presidentes de Bancos Centrais dos BRICS, à margem da

Reunião Anual do FMI e BIRD (Washington, 22 de setembro)

- III Cúpula do BRICS (Sanya, 14 de abril)

2012

- II Reunião de Altos Funcionários do grupo BRICS na área de ciência, tecnologia

& inovação (Pretória, 6 a 8 de novembro)

- Reunião de Ministros da Fazenda do BRICS à margem da reunião anual do

FMI/Banco Mundial (Tóquio, 11 de outubro)

- Segunda Reunião de Chefes de Estado e de Governo do BRICS à margem da

Cúpula do G-20 (Los Cabos, 18 de junho)

- IV Cúpula do BRICS (Nova Delhi, 29 de março)

Fonte: Ministério das Relações Exteriores, elaboração do Autor

b) II Cúpula do BRIC5

Em 2010, ocorre a II Cúpula do BRIC, sendo realizada em Brasília no dia 15 de abril de

2010, com o objetivo de avançar na cooperação e coordenação dentro do BRIC. Na pauta

5 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas-mais-informacoes/saiba-mais-bric/documentos-emitidos-

pelos-chefes-de-estado-e-de-governo-pelos-chanceleres/comunicado-ii-cupula-bric> Acesso em 08/04/2013

Page 53: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

54

estavam presentes os efeitos da crise econômica mundial, a reforma no sistema financeiro

internacional e o combate ao aquecimento global.

Dentre os principais pontos do encontro podemos citar:

Apoio a uma ordem mundial multipolar, apoiando o papel do G-20 como o principal

fórum de coordenação econômica internacional, e reafirmando a necessidade de uma

reforma abrangente da ONU, para que se torne mais eficiente e representativa,

colocando novamente a importância da Índia e do Brasil nas questões internacionais;

Indicam que a retomada do crescimento econômico mundial, após a crise de 2008,

possui grande influência dos países emergentes e destaca a necessidade de uma

estabilidade das principais moedas de reserva e sustentabilidade das políticas fiscais;

Uma maior contribuição dos países do BRIC ao FMI, uma reforma de cotas do FMI e

assim a abertura de espaço para uma maior participação dos países em

desenvolvimento tanto no FMI quanto no Banco Mundial;

Apoio da candidatura de adesão da Rússia à OMC;

Aumentar os esforços para combater a pobreza, a exclusão social e a desigualdade;

Aumentar a cooperação entre os países-membros do BRIC nas áreas de treinamento,

pesquisa e desenvolvimento no setor energético;

Interessante notar que na II cúpula dos BRIC, perdeu-se a motivação para um novo

sistema monetário internacional, contentando-se com um pedido de que é necessário uma

estabilidade das principais moedas de reserva, ou seja, que não seja realizada a chamada

“guerra cambial”, sugerido pelo ministro Guido Mantega6.

São lembrados os ataques terroristas sofridos na Índia e Rússia; realizado algumas breves

solicitações para a rodada Doha, o Protocolo de Kyoto; e anunciado a publicação conjunta de

instituições estatísticas nacionais.

A II Cúpula demonstra um esforço em aumentar as relações econômicas entre os países, e

expandir a cooperação nas áreas de energia, agricultura, ciência e tecnologia.

c) III Cúpula7

6 Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/2539878/guerra-cambial-esta-se-intensificando-diz-

mantega> Acesso em 09/04/2013 7 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas-mais-informacoes/saiba-mais-bric/documentos-emitidos-

pelos-chefes-de-estado-e-de-governo-pelos-chanceleres/iii-cupula-dos-brics-declaracao-de-sanya> Acesso em

09/04/2013

Page 54: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

55

A III Cúpula dos BRICS foi realizada na China, em Sanya, em 14 de abril de 2011,

sendo marcada pela inclusão da África do Sul como país membro. Com o intuito de abranger

três bilhões de cidadãos de diferentes continentes, a cúpula elegeu como pontos principais:

Promoção da coordenação em questões internacionais e regionais de interesse comum;

Compartilhamento da visão de que o mundo estaria passando por profundas

mudanças, marcadas pelo fortalecimento da multipolaridade, manifestação do

compromisso com a diplomacia multilateral, com a ONU desempenhando papel

central no trato dos desafios e ameaças globais, colocando a necessidade de uma

reforma abrangente nas Nações Unidas, principalmente do Conselho de Segurança,

onde China e Rússia colocam a importância de Brasil, Índia e agora também a África

do Sul nos assuntos internacionais, como também a presença destes países no

Conselho de Segurança;

Reiteram que apesar da economia mundial estar se recuperando, ainda enfrenta

incertezas, onde os países devem trabalhar conjuntamente e que os países do BRICS

terão seu crescimento apoiado pela crescente cooperação nas áreas econômica,

financeira e comercial;

Retornam com a proposta de uma reforma do sistema monetário internacional,

colocando ao debate o papel dos Direitos Especiais de Saque no sistema monetário

internacional, e da composição de uma cesta de moedas;

Indicam que a volatilidade excessiva dos preços das commodities apresentam novos

riscos para a recuperação da economia mundial, onde a comunidade internacional

deveria trabalhar para aumentar a capacidade de produção e equilibrar a oferta e a

demanda, principalmente pelo apoio aos países em desenvolvimento em termos de

financiamento e tecnologias;

Apoio do desenvolvimento e uso de recursos energéticos renováveis, e colocam a

energia nuclear como um elemento importante na composição energética dos países do

BRICS;

Apoio ao desenvolvimento sustentável, a proteção social e a luta contra o HIV;

Um dos pontos interessantes de se notar deste encontro foi a mudança no foco do G-

20, para priorizar o foco na ONU, colocando-a com um papel central no trato dos desafios

e ameaças globais. É realizado inclusive um lobby para Brasil, Índia e África do Sul para

Page 55: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

56

que pudessem adquirir mais espaço internamente na ONU, inclusive, do Conselho de

Segurança.

Outro fato a ser analisado é a retomada da proposta de uma reforma do sistema

monetário internacional, já citada na I Cúpula de 2009, em Ecaterimburgo. Porém, desta

vez tem uma proposta um pouco mais articulada, apoiando uma composição da cesta de

moedas, chamada de Direito Especial de Saque (SDR, na sigla em inglês). Também nesta

ocasião, foi colocado um início na discussão para a regulamentação do mercado de

derivativos de commodities, o qual deveria ser reforçado para evitar a desestabilização dos

mercados, principalmente dos países pertencente ao BRIC.

d) IV Cúpula dos BRICS8

A IV Cúpula dos BRICS ocorreu na Índia, em Nova Delhi, em 29 de março de 2012.

Com o tema “BRICS Parceria para a Estabilidade Global, Segurança e Prosperidade”, teve

como pontos principais:

Demonstração de uma preocupação em relação à situação econômica internacional,

principalmente com a instabilidade na zona do euro e com a excessiva liquidez

decorrente das políticas monetárias adotadas pelos bancos centrais dos países

desenvolvidos;

Reafirma a importância de uma arquitetura financeira global para a manutenção da

estabilidade do sistema monetário internacional, porém não estrutura uma proposta,

apenas indicando a necessidade. Como também pressiona pela reforma das cotas e da

governança do FMI, com intuito de garantir uma maior representação dos mercados

emergentes;

Cita a necessidade do Banco Mundial em ampliar linhas de crédito aos países

emergentes e em desenvolvimento, chegando a considerar a possibilidade de criarem

um novo Banco de Desenvolvimento, voltado a projetos de infraestrutura e de

desenvolvimento sustentável em países do BRICS e países emergentes;

8 Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/quarta-cupula-dos-brics-

nova-delhi-29-de-marco-de-2012-parceria-dos-brics-para-a-estabilidade-seguranca-e-prosperidade-declaracao-

de-nova-delhi> Acesso em 09/04/2013

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57

Opinam sobre as transformações em curso no Oriente Médio e no Norte da África,

sobre os conflitos árabe-israelense, crise Síria, Irã e Afeganistão, sendo colocados

termos diplomáticos, sem o comprometimento com nenhuma das partes envolvidas;

A excessiva volatilidade nas commodities, como alimentos e energia, são vistas como

um risco para a recuperação da economia mundial;

Promover diversos encontros intra-BRICS nos campos da saúde pública, agricultura,

tecnologia, infraestrutura, entre outros;

Nas diversas cúpulas percebe-se uma preocupação de afirmação global do

grupo, presente nas mais diversas pautas abordadas nestas reuniões, com o intuito de

elevar a importância e relevância de atuação dos países do BRICS no cenário

internacional, atuando inicialmente como um bloco geopolítico. Também se tornam

constantes as tentativas de evoluir as trocas comerciais e tecnológicas dos países

pertencentes ao acrônimo.

3.3. APROXIMAÇÕES ECONÔMICAS

a) Parceiros Comerciais

Apesar de terem sido realizados diversos encontros entre os países dos BRICS com a

constante presença do ponto de estreitar as relações políticas, econômicas e comerciais,

notamos que de acordo com os dados referentes aos principais países exportadores e

importados pertencente ao BRICS, o único que teve um êxito relevante foi a China.

Conforme podemos analisar na Tabela 24, referente aos principais países importadores

e exportadores do Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul no ano de 2012, nota-se que a

China torna-se o principal destino das exportações de Brasil e África do Sul e está entre os

maiores destinos dos produtos russos e indianos. No caso das importações, a China é o

principal fornecedor de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.

Um fato importante de ser notado na Tabela 24, que a China é o único país presente

dentre os principais parceiros comerciais dos BRICS. Sendo que nenhum dos demais países

do acrônimo, exercem igual importância na economia chinesa. Isto reforça a ideia de que a

China seria uma economia a ser considerada a parte dos demais BRICS.

Page 57: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

58

Tabela 24 - Principais Parceiros Comercias de Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul

De acordo com De Ouro-Preto (2012, p.70), os BRICS apresentam diferenças

econômicas. A China, por sua vez, apesar de possuir mais da metade de sua população na área

rural, possui um setor industrial e comércio internacional desenvolvido e baseado em produto

com cada vez mais elevado teor tecnológico. Já a Rússia possuí uma grande dependência da

exportação de petróleo e gás natural. A Índia atua fortemente no setor de serviços,

basicamente na tecnologia de informação e software. O Brasil exporta diversas commodities e

inicia-se na exportação de petróleo. E a África do Sul, possui um modelo de exportações

similar ao brasileiro. Assim, a respeito do plano econômico os BRICS não possuem grandes

similaridades e fortes ligações comerciais.

Page 58: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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b) Investimento Externo Direto

De acordo com NAIDIN; SANTOS; FROIMTCHUK (2011, pag. 3), o investimento

externo direto pode gerar externalidades positivas, e interligações aos demais setores da

economia, os países adquirem uma nova técnica: uma possibilidade de aprimoramento da

produção, com a capacidade de melhorar seu desempenho, por meio do aperfeiçoamento da

Divisão Internacional do Trabalho, e também da própria produtividade doméstica.

Deve-se ter em mente de que o IED é apenas uma ferramenta, um meio do país

avançar no processo de desenvolvimento. Um dos principais agentes deste fluxo de capital

internacional são as corporações transnacionais, também conhecidas como multinacionais,

que tem como característica uma produção e transações realizadas por meio de subsidiárias

estrangeiras.

Conforme pode-se analisar na Tabela 25, os BRICS vêm obtendo uma taxa crescente

nos fluxos de IED. Em 2002, atraiam 12,16% do total de IED e 2012 chegam a uma taxa de

33,66%9. Percebe-se então que o conjunto de países desenvolvidos atraíram um total de

60,66%, restando apenas 5,67% aos demais países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.

Assim nota-se que no período ocorreu uma significativa melhora dos países pertencentes ao

acrônimo BRICS em relação aos países Desenvolvidos, e também uma significativa piora na

taxa de investimento estrangeira direta nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento,

passando de 11,84% em 2002 para 5,67% em 2012.

Tabela 25 - Proporção do IED mundial em países desenvolvidos, BRICS e outros países

Investimento Estrangeiro Direto (%)

Países 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012

Desenvolvidos 76,01 72,8 77,8 71,4 62,98 62,54 60,66

BRIC 12,16 14,14 11,8 15,92 26,74 25,79 33,66

Outros 11,84 13,06 10,4 12,69 10,28 11,67 5,67 Fonte: World Bank (2012a). "World Development Indicators 2012.", elaboração do autor

Esta mudança no padrão internacional, conforme relata NAISIN; SANTOS;

FROIMTCHUK (2011), retrata a maior importância dos mercados dos países BRICS como

destino no fluxo internacional. Vale ressaltar que as políticas adotadas para esta atração são

diferentes, mas tais fluxos auxiliam no processo de desenvolvimento de cada país e forçam

uma elevação na competitividade das empresas domésticas.

9 Desconsiderando dados relativos aos Investimentos Estrangeiros Diretos de 2012 da Índia e África do Sul.

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60

Quando analisamos o IED separadamente dos países do BRICS, conforme a tabela 26,

notamos que a atratividade dos países são muito diferentes. O fluxo de IED para a China em

2011 representou mais de 47 vezes o da África do Sul e oito vezes que o IED para Índia.

Apesar da distorção chinesa na análise, encontramos um crescimento significativo no fluxo de

IED para Brasil e Rússia durante o período de 2002 a 2012, passando de 2,64% para 6,72%

no Brasil, e de 0,55% para 4,54% na Rússia dos IED mundialmente.

Tabela 26- Proporção do IED mundial no Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul

Investimento Estrangeiro Direto (% total mundial)

Países 2002 2004 2006 2008 2010 2011 2012

Brasil 2,64 2,51 1,14 2,31 3,88 4,15 6,72

China 7,84 8,59 7,29 7,8 17,71 16,24 22,4

Índia 0,89 0,8 1,18 1,97 1,93 1,87 -

Rússia 0,55 2,14 2,21 3,4 3,14 3,19 4,54

África do Sul 0,24 0,1 0 0,44 0,09 0,34 - Fonte: World Bank (2012a). "World Development Indicators 2012."

c) Reservas Internacionais

Notamos na tabela 27, ser um fato comum dos países pertencentes ao BRICS pode ser

notado pela acumulação de reservas monetárias, incluindo ouro, durante o período. De acordo

com dados do Fundo Monetário Internacional, os BRIC encontram-se entre as 10 maiores

reservas monetária internacionais, possuindo em 2012 próximos de 4,5 trilhões de dólares em

reserva, sendo 41% da reserva mundial. A reserva monetária é importante para os países se

protegerem em cenários de incertezas e um fator importante nas negociações políticas por

uma maior representatividade nos órgãos internacionais.

Tabela 27 - Maiores Reservas Internacionais Mundial, 2002 a 2012

Page 60: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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A importância de reservas internacionais em cenários de incertezas, pode ser notada

pelas crises ocorridas ao longo da década de 1990. Conforme notada por MIRANDA (1999),

cinco crises econômicas atingiram, principalmente, os países subdesenvolvidos: a Crise do

Sistema Monetário Europeu (1992 – 19993); Crise da “Tequila” (1994); Crise Asiática

(1997); Crise da Rússia (1998) e a Crise do cambial no Brasil (1999).

Nestes cenários encontram-se fatores que dificultam uma continuidade de políticas de

desenvolvimento. Um deles é por ocorrerem ataques especulativos, desestabilizando as taxas

de câmbio e diminuição do fluxo internacional de capitais. O Banco Central poderia intervir

pesadamente, vendendo divisas para conter a pressão sobre a taxa cambial, como também

garantindo um fluxo de capital.

Portanto, a reserva internacional é uma importante linha de defesa em conjunturas de

instabilidades. Sendo que, Brasil, Rússia e Índia não possuíam um nível relevante até 2002, e

a África do Sul ainda possui um nível baixo de reserva internacional.

4. BRICS: O BRASIL NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO, NO PERÍODO ENTRE 2002 ATÉ 2012

4.1. COMÉRCIO INTRA-BRICS

Um ponto em comum nas reuniões entre os chefes de Estado dos países pertencente ao

acrônimo BRICS é a busca por uma maior relação comercial intra-BRICS. Assim, serão

analisadas para o Brasil, as relações comerciais bilaterais existentes no período de 2002 até

2012.

Na relação comercial bilateral Brasil-Rússia, tem-se na Tabela 28, que a exportação

brasileira decuplicou entre 2000 e 2010, passando de US$ 423 milhões para US$ 4,1 bilhões

em 2010, e caindo para US$ 3,1 bilhões em 2012. Em termos relativos, oscilou entre 2,07%

em 2002 e 1,3% em 2012 das exportações brasileiras, onde fica demonstrada a pouca

representatividade na relação comercial entre estes dois países.

Nesta pauta de exportação do Brasil, encontra-se principalmente carne e açúcar. Já na

pauta de importações de produtos russos para o Brasil, existe a forte presença de produtos de

média tecnologia, que ocorrem uma elevação significativa no fator de crescimento (passando

de US$ 428 milhões para US$2,8 bilhões). Porém, pouco significativa em termos percentuais

do total importado pela economia brasileira no período, oscilando de 0,91% em 2002 para

1,25% em 2012.

Page 61: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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Tabela 28 - Importação e Exportação entre Brasil e Rússia

Comércio Brasil-Rússia

Brasil 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Valor (milhões US$ FOB) Importação 428 808 3.443 3.332 1.910 2.791

Exportação 1.252 1.658 942 4.653 4.152 3.141

Total (%) Importação 0,91 1,29 3,77 1,93 1,05 1,25

Exportação 2,07 1,71 0,68 2,35 2,06 1,29

Fonte: MDIC, organizado pelo autor

Na Tabela 29, temos a relação bilateral do Brasil com a Índia, conforme indica

Pochmann (2012), há uma relação muito pouco intensa, apesar da corrente de comércio entre

os dois países ter aumentado quase nove vezes em uma década, passando de US$ 1,2 bilhão

em 2002, para US$ 10,6 bilhões em 2012. As importações de produtos indianos e exportações

de produtos brasileiros são semelhantes, pois temos relativamente um alto grau de

crescimento, porém, com uma pequena significância em termos totais da balança comercial

brasileira, oscilando em torno de 1% para 2%.

Tabela 29 - Importação e Exportação entre Brasil e Índia

Comércio Brasil-Índia

Brasil 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Valor (milhões US$ FOB) Importação 573 556 1.474 3.564 4.242 5.043

Exportação 654 652 939 1.102 3.492 5.577

Total (%) Importação 1,21 0,88 1,61 2,06 2,33 2,26

Exportação 1,08 0,67 0,68 0,56 1,73 2,30

Fonte: MDIC, organizado pelo autor

Na Tabela 30, encontra-se a corrente de comércio do Brasil com a África do Sul

seguindo a mesma tendência existente nas relações com Índia e Rússia. Porém conforme

observa Pochmann (2012), existe um padrão distinto no caso das exportações brasileiras, que

possuem a predominância de produtos de média tecnologia. Dentre as importações sendo

distribuídas entre produtos primários e de média tecnologia.

Interessante notar que a África do Sul passa a frequentar a cúpula do BRIC em 2011.

Em que pese, nota-se uma elevação do comércio Brasil-África do Sul, que segue a tendência

encontrada nos anos anteriores, com a exceção de 2010. Nesta relação encontra-se a menor

representatividade dentre os BRICS para a balança comercial brasileira.

Page 62: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

63

Tabela 30 - Importação e Exportação entre Brasil e África do Sul

Comércio Brasil-África do Sul

Brasil 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Valor (milhões US$ FOB) Importação 182 268 435 774 753 848

Exportação 478 1.037 1.463 1.755 1.310 1.765

Total (%) Importação 0,39 0,43 0,48 0,45 0,41 0,38

Exportação 0,79 1,07 1,06 0,89 0,65 0,73

Fonte: MDIC, organizado pelo autor

As relações comerciais entre Brasil e China, conforme aponta Pochmann (2012),

tiveram crescimento superior à elevação do comércio entre o Brasil e o mundo. Na Tabela 31,

nota-se que entre 2002 e 2012, as exportações brasileiras passaram de US$ 2,5 bilhões para

US$ 41,2 bilhões. Um aumento de 16 vezes, sendo também a representatividade que as

exportações para a China representam na Balança Comercial brasileira neste período, que

passa de 4,17% em 2002 para 17% em 2012, sendo o maior parceiro comercial brasileiro.

No caso das importações, a China também adquire papel de protagonista no cenário

brasileiro. Elevando de US$ 1,5 bilhão em 2002 para US$ 34,2 bilhões em 2012, sendo o

maior fornecedor do mercado brasileiro com 15,35%. Todavia, ressalta Pochmann (2012), que

a pauta exportadora brasileira é marcada pela predominância de produtos básicos, e a pauta de

importação do Brasil mostra uma elevação na importação de produtos de alta tecnologia.

Tabela 31 - Importação e Exportação entre Brasil e China

Comércio Brasil-China

Brasil 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Valor (milhões US$ FOB)

Importação 1.554 3.710 7.990 20.044 25.595 34.251

Exportação 2.521 5.441 8.402 16.523 30.786 41.227

Total (%) Importação 3,29 5,90 8,75 11,59 14,08 15,35

Exportação 4,17 5,63 6,10 8,35 15,25 17,00

Fonte: MDIC, organizado pelo autor

A análise geral, das relações comerciais brasileiras intra-BRICS, demonstra uma

grande variação positiva no período. Porém, em termos de representatividade, dentre os

principais parceiros comercias do Brasil, temos uma pequena evolução. A única exceção é a

China, a qual passa a ser o principal parceiro comercial, representando 15,35% das

importações e 17% das exportações brasileiras. Os demais países, no máximo chegam a

representar 2,30% das exportações (Índia), e 2,26% das importações (Índia). No caso da

África do Sul, a representatividade chega, inclusive, a cair, com importações de 0,39% para

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64

0,38%, e exportações de 0,79% para 0,73%, entre 2002 e 2012. Portanto, não pode ser

considerado relevante as aproximações comerciais brasileiras com os demais países dos

BRICS, com exceção da China, no período analisado.

4.2. A QUESTÃO DO CRÉDITO

O crédito no mercado brasileiro é um importante aspecto a ser analisado no contexto

do desenvolvimento. Sua escassez, como também o seu alto custo, gera uma maior

dificuldade, ou um maior risco, na tomada de decisão para um investimento. Torres Filho

(2012, pág. 91), observando as obras de Maria Conceição Tavares, relata que a economia

brasileira, desde a década de 60 até os dias atuais, vem sofrendo de uma escassez de crédito,

sobretudo referente ao financiamento privado de longo prazo.

O crédito doméstico até o ano de 2004, ficou marcado pela insuficiência, grande

volatilidade, taxas elevadas e prazos curtos. No início do século XXI, modifica-se este

cenário, pelo menos para as famílias. Nota-se que:

[...] desde 2004, o saldo das operações bancárias vem crescendo rapidamente. Essa expansão

deu-se de forma sustentada no tempo, ou seja, com baixa volatilidade. Além disso, as taxas

reais de juros apresentaram quedas expressivas. Entretanto, esse crescimento foi basicamente

destinado ao atendimento das famílias. [...] O mercado de títulos privados continua a beneficiar

um conjunto limitado de empresas e a ser comandado pelos bancos comerciais. A estrutura a

termo da taxa de juros ainda é temporalmente curta. Nesse contexto, a oferta privada de fundos

de longo prazo continua sujeita a severas restrições (TORRES FILHO, 2012, p. 92).

Baseando-se na observação de Torres Filho (2012), temos que o cenário brasileiro é

historicamente marcado pela dificuldade em captação de recursos de longo prazo pelo

empresário nacional. Neste quadro, temos presente uma elevada taxa de juros, um prazo curto

e elevada preferência pela liquidez, dificultando que seja realizado um importante aspecto

para o desenvolvimento econômico de longo prazo.

Na Tabela 32, temos os dados relativos à taxa de Juros Real durante o período de 2002

a 2012. Podemos observar na economia brasileira a tendência declinante. É registrada a taxa

mais elevada, de 46,92% em 2003. Nota-se que existe uma grande diferença entre os países

do BRICS, onde a taxa de Juros Real média encontrada neste período foi de 9,43%. Já no

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65

Brasil, a média foi de 38,62%. Caso seja retirado o Brasil do acrônimo, a média cai para

2,13%.

Tabela 32 - Taxa de Juros Real dos BRICS, entre 2002 a 2012

Taxa de Juros Real (%)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Brasil 47,32 46,92 43,40 44,93 42,07 35,76 35,92 34,95 29,35 34,51 29,70

China 4,70 2,63 -1,25 1,59 2,25 -0,12 -2,31 5,94 -0,82 -1,15 4,10

Índia 7,91 7,29 4,71 6,25 4,48 6,87 4,28 5,77 -0,48 1,74 2,27

Rússia 0,18 -0,71 -7,35 -7,23 -4,12 -3,31 -4,86 13,05 -2,95 -6,13 0,60

África do Sul 4,52 8,91 4,63 4,91 4,35 4,71 6,59 3,15 2,45 2,79 3,12 Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

A grande diferença das taxas de juros é um reflexo tanto do pensamento econômico

ortodoxo, presente no cenário político-econômico brasileiro, sob influência do consenso de

Washington, como também, pela necessidade de recursos internacionais e “traumas”

inflacionários existentes.

Graças à pressão do Ministério da Fazenda, o Banco Central diminuiu um pouco a taxa de

juros real. Entretanto, em nome do combate a uma inflação dominada desde 1994, continuou a

adotar uma política ortodoxa, própria do Consenso de Washington, baseada em taxa de juros

ainda alta e taxa de câmbio sobreapreciada, ou, em outras palavras, baseada em déficit público

e em déficit em conta corrente – duas políticas perversas que levaram o Brasil a perder o

mercado externo e vêm freando o investimento e o crescimento da economia brasileira

(BRESSER-PEREIRA, 2011, p. 76);

Conforme explica Bresser-Pereira (2011), ocorreu no canário econômico brasileiro

uma pressão política para diminuir a taxa de juros real na economia. Porém, está pressão

política não foi suficiente para combater a política monetária ortodoxa, existente desde 1994.

Sendo seguido um modelo neoclássico, promovido pelo Consenso de Washington, de que o

controle inflacionário se faz pela taxa de juros.

Ainda que a maior parte dos países do BRICS apresentem uma taxa de juros elevada,

podemos notar pela Tabela 33, que o Brasil entre 2002 e 2012 realizou uma grande expansão

do crédito. As operações de crédito representavam 26% do PIB em 2002, elevando-se para

53,5% do PIB em 2012.

Page 65: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

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Tabela 33 - Operações de Crédito no Brasil, por pessoa física e pessoa jurídica, de 2002 a

2012

Operações de crédito - R$ (milhões)

Ano Pessoas Físicas Pessoas Jurídicas Total % PIB

2002 137.923 246.473 384.396,00 26,0

2003 159.253 259.006 418.259,00 24,6

2004 203.967 294.754 498.721,00 25,7

2005 263.968 343.055 607.023,00 28,3

2006 326.823 405.767 732.590,00 30,9

2007 425.413 510.559 935.972,00 35,2

2008 532.306 694.988 1.227.294,00 40,5

2009 635.939 778.365 1.414.304,00 43,7

2010 778.209 927.681 1.705.890,00 45,2

2011 940.402 1.089.442 2.029.844,00 49,0

2012 1.107.955 1.251.678 2.359.633,00 53,5

Fonte: Banco Central - Depec, elaborada pelo autor

Interessante notar que neste crescimento, encontramos do lado da demanda um grande

aumento das operações destinadas às pessoas físicas. No período, observa-se um crescimento

de 803,31% das operações para as pessoas físicas, as quais representavam 35,88% do total em

2002, passando para 46,95% do total das operações em 2012. Este crescimento da demanda é

causada pelas famílias, como observa-se na seguinte passagem: “As famílias não só deram

início ao ciclo de expansão como vêm desde então sustentando a expansão do mercado como

um todo” (TORRES FILHO, 2012, p. 95).

4.3. POLÍTICAS PÚBLICAS

A utilização de políticas públicas é uma forma de acelerar e equacionar o processo de

desenvolvimento. A China, no final dos anos 1970, inicia uma das maiores transformações

econômicas da história. Realiza uma inovação institucional que mudaria a sua história, como

também um forte impacto no cenário mundial. Passam a coexistir dois mercados: um com

preços fixos, e outro, em que o excedente da produção mínima dos produtos agrícolas,

poderiam ser negociados livremente.

Com esta flexibilidade em seu rígido sistema político de controle da economia,

aumenta os incentivos a um aumento da produtividade, com um crescimento médio anual de

8,9% entre 1979 e 200910.

10 Disponível em: < http://www.valor.com.br/opiniao/3316466/inovacoes-institucionais > Acesso em 25/10/201

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67

O Brasil, nas últimas décadas, realizou importantes inovações institucionais. No início

de 1994, instituiu a Unidade Real de Valor (URV), conseguindo estabilizar sua economia.

Com a qualidade de não romper contratos, acabar com a relutante “memória” inflacionária e

tornando possível as medidas posteriores para a reorganização e modernização econômica.

Em 2003, ocorre a junção de programas já existentes, sob o nome de “Bolsa Família”.

O programa demonstra que políticas sociais podem ser instrumentos de transformações

econômicas. Sendo determinante para o aumento da escolaridade e redução da pobreza e da

desigualdade.

[...] as economias em que prevalece uma forma de dependência (comercial, financeira,

tecnológica) necessitam conceber uma estratégia de modificação da própria estrutura

como condição prévia à formulação de uma política quantitativa de desenvolvimento

do tipo convencional (FURTADO, 1977, p. 274).

Os países subdesenvolvidos, como é o caso dos BRICS, precisam realizar inovações

institucionais de acordo com as suas necessidades e características internas, para assim

acelerar o processo de desenvolvimento. O Brasil, em 2007, busca através do PAC uma

complementaridade, sendo um programa voltado à estrutura e aquecendo a demanda de sua

economia.

4.3.1. Bolsa Família

Criado em 2003, teve como objetivo organizar o Programa de Transferência de Renda

Condicionada (PTRC). Os PTRC possuem como característica a exigência de que os

beneficiários, em geral, realizem ações em benefícios deles mesmos ou de suas famílias.

DE CASTRO e MODESTO (2010, p. 29-30) citam que o primeiro PTRC Federal, foi

criado em 1996: o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Este programado

Focalizou nas crianças de 7 a 15 anos, em regiões de cultivo de cana-de-açúcar ou carvoarias.

Em 2001, foi criado o Bolsa Escola Federal, que consistia na frequência mínima anual de 85%

para crianças de 6 a 15 anos. Neste período, também foi criado o Bolsa Alimentação, com a

contrapartida de: aleitamento materno, exames pré-natais para gestantes e vacinação das

crianças. Em 2003, é criado o quarto programa, o Cartão Alimentação, sendo exclusivo para

compra de alimentos para famílias com uma renda per capita menor que meio salário mínimo.

Em 2003, no Governo de Lula, ocorre uma valorização de políticas voltadas ao

desenvolvimento social. O Bolsa Escola, atuando na questão educacional, a Bolsa

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68

Alimentação, na mortalidade infantil e o Cartão Alimentação, na população vivendo em

situação de extrema miséria.

De Castro e Modesto (2010, p. 31), colocam que pelo fato destes programas possuírem

diferentes agências executoras, existiam problemas na coordenação entre elas. Existiam

famílias que recebiam os quatro benefícios, e outras que não recebiam transferência alguma.

Assim, em outubro de 2003, o governo federal cria o Programa Bolsa Família, com o objetivo

principal de organizar os PTRCs em apenas um. Sua primeira meta foi de atingir 11,2 milhões

de famílias.

[...] O PBF, com 11 milhões de domicílios, é uma das maiores políticas sociais brasileiras em

número de beneficiários. É superado em número de beneficiários apenas pelo Sistema Único de

Saúde (SUS), que, a princípio, cobre toda a população brasileira, pela educação pública, com

52 milhões de alunos, e pela previdência social, com 21 milhões de benefícios concedidos (DE

CASTRO; MODESTO, 2010, p.33).

O número de famílias atendidas, pelo programa Bolsa Família, passa de nove milhões,

em 2004, para 11,3 milhões em 2008. Com um gasto com benefícios de R$ 3,8 bilhões, ou

0,3% PIB, em 2004, para R$ 10,6 bilhões em 2008. O programa consolida-se como o quarto

programa social existente no país e demonstra a preocupação constante do governo em

melhorar as condições de vida da população brasileira, sobretudo dos segmentos de menor

renda.

O Bolsa Família, explica em grande parte as melhoras das estatísticas sociais, no

Brasil, observadas na parte 1.4 deste trabalho. Este programa acarretou melhoras no nível de

alfabetismo, nas taxas de mortalidade infantil, na esperança de vida ao nascer, nos níveis de

pobreza e da desigualdade de renda da população.

4.3.2. PAC

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi criado em 2007, no segundo

mandato do presidente Lula, e possui como principal articuladora política a então Ministra da

Casa Civil, Dilma Rousseff. Seu principal objetivo seria de promover a retomada do

planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e

energética do Brasil.

Page 68: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

69

O PAC foi um dos responsáveis por dobrar os investimentos públicos brasileiros, de

1,62% do PIB em 2006, para 3,27% em 2010. Também contribuiu em criar 8,2 milhões de

postos de trabalho no período.

Conforme documento elaborado pela DIEESE (2007, p.2), o PAC não foi um legítimo

plano de desenvolvimento, pois possuía um caráter restritivo a um conjunto de medidas que

não contemplavam setores como, por exemplo, educação, saúde, tecnologia, as quais

deveriam estar presentes em um plano desenvolvimentista. O plano, na realidade, trata-se de

um conjunto de medidas na área econômica, onde o governo estabelece metas para

crescimento.

Mesmo não podendo ser considerado um legítimo plano desenvolvimentista, devemos

considerar certos aspectos, que causam mudanças estruturais na economia brasileira.

O PAC revela uma ação governamental planejada com vistas a retomada da capacidade

orientadora do Estado na questão do crescimento econômico do país, através do incremento da

taxa de investimento público e privado em áreas consideradas estratégicas. [...] Tais medidas

podem significar uma mudança qualitativa no papel a ser desempenhado pelo Estado na

sociedade brasileira, através do distanciamento em relação ao discurso liberal das “vantagens

do livre mercado” na alocação dos investimento (DIEESE, 2007, p. 3).

Os principais setores contemplados no PAC foram: Infraestrutura, Crédito, Habitação,

Saneamento. Objetivando, a elevação do crédito e financiamento para saneamento e

habitação, a elevação do crédito pelo BNDES para infraestrutura, logística e desenvolvimento

urbano e a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo.

Em 2011, o PAC entra em sua segunda fase, agora sobre a coordenação de Miriam

Belchior. Nesta fase, o programa possui atuação nos seguintes setores: Transportes, Energia,

Urbanização, Saúde e Habitação. O eixo relativo a habitação, através do Programa Minha

Casa, Minha Vida, recebeu aproximadamente 57% dos investimentos, R$188,1 bilhões. Os

Setores responsáveis pelas questões energéticas receberam um total de R$108,1 bilhões, ou

aproximadamente 33%.

Na Tabela 34, temos que o Programa Minha Casa Minha Vida foi responsável por um

grande salto no número de financiamento imobiliário. Elevou os valores e as unidades, tanto

na construção quanto na aquisição de imóveis residenciais e comerciais. Ocorreu uma

elevação de 28.932 financiamentos, em 2002, para 453.312 financiamentos imobiliários em

2012. Uma elevação de 1.567%, no período.

Page 69: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

70

Tabela 34 - Financiamento Imobiliário Concedido por recurso do Sistema Brasileiro de

Poupança e Empréstimo

FINANCIAMENTOS IMOBILIÁRIOS CONCEDIDOS RECURSOS SBPE

(Valores Nominais e Nº de Unidades) em R$

ANO CONSTRUÇÃO AQUISIÇÃO TOTAL GERAL

VALOR UNID. VALOR UNID. VALOR UNID.

2002 594.682.885 10.317 1.174.703.843 18.615 1.769.386.728 28.932

2003 965.283.031 16.797 1.252.388.376 19.683 2.217.671.407 36.480

2004 1.394.392.606 24.961 1.607.863.590 28.866 3.002.256.196 53.827

2005 2.855.228.721 34.762 1.996.854.935 26.461 4.852.083.656 61.223

2006 4.483.511.118 45.433 4.856.775.892 68.440 9.340.287.010 113.873

2007 9.400.686.375 89.011 9.008.997.801 107.122 18.409.684.176 196.133

2008 16.220.846.923 162.299 13.811.491.211 137.386 30.032.338.134 299.685

2009 13.853.857.571 138.721 20.163.406.837 163.970 34.017.264.408 302.691

2010 24.412.172.265 201.758 31.785.406.148 219.627 56.197.578.413 421.385

2011 35.193.181.820 226.733 44.723.573.547 265.756 79.916.755.367 492.489

2012 28.086.332.539 168.170 54.690.647.923 285.142 82.776.980.462 453.312 Fonte: Estatísticas Básicas-SBPE-SFH/BACEN, Banco de Dados-CBIC. Elaboração do autor

5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, notamos que os países pertencentes ao acrônimo BRICS,

apresentaram no período de 2002 a 2012, significativos avanços em fatores sociais, estruturais

e econômicos em suas economias, porém não chegam no nível dos países desenvolvidos.

Podemos considerar que ocorreu o desenvolvimento em todos os países do acrônimo, porém

não de forma igualitária. Dentre os países do acrônimo, a China foi o país que mais ocorreu

transformações estruturais e econômicas, registrando um avanço superior em praticamente

todas economias dos BRICS. Analisando diversas estatísticas, notamos que a previsão de

O’Neill (2001) obteve um grau de assertividade, principalmente na importância da economia

chinesa no cenário internacional.

Nos demais países dos BRICS, as estatísticas mostram os avanços ocorridos,

refletindo mudanças estruturais, avanços sociais e econômicos. Porém, ainda é grande a

diferença para os países desenvolvidos.

Os BRICS, sobretudo a partir de 2006, realizaram encontros entre os chefes de

Estado, visando uma maior aproximação política e econômica. Neste curto prazo, observa-se

um melhor resultado apenas no campo político. Na questão econômica, ainda não foram

registradas melhorias significativas.

Nesta última parte, serão abordados alguns aspectos específicos de cada país

pertencentes ao acrônimo BRICS. Inicialmente, será colocada a dependência da economia

Page 70: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

71

russa pelo setor energético, depois teremos uma análise do cenário social da Índia, passando

por um questionamento da representatividade da África do Sul, para ser considerada

integrante deste acrônimo, chegando por fim, no peso da economia chinesa no grupo, ao

contrário da África do Sul, a China distorce positivamente diversas estatísticas, gerando uma

análise mais otimista ao grupo, escondendo certas peculiaridades dos demais participantes.

5.1. A DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA RUSSA

O setor energético russo é o mais importante dentre os países do BRICS, como

também de todo mundo. Segundo SCHUTTE (2011, p 82), a Rússia é a maior exportadora de

energia, possui a maior reserva de gás e a sétima maior de petróleo. Sua importância no setor

é de longa data, e no período 1975 e 2007, se destacaram como a maior produtora de petróleo.

Na literatura, encontramos diversas referências à existência de uma potencial reserva que

ainda não foram descobertas na região da Sibéria e do Oceano Ártico.

Os governos de Vladimir Putin e Dmitri Medved colocaram o setor energético

subordinado ao desenvolvimento nacional. Esta diretriz política adotada, foi uma reação ao

processo de privatizações, ocorrido no início da década de 90, e influenciada pela crise russa

de 1998.

A Rússia possui uma posição geográfica que aumenta sua importância estratégica no

setor. A União Europeia, China, Japão e Índia, estão entre os mercados que mais demandam

energia no mundo. Outro importante aspecto, dentre os países produtores da região

(Azerbaijão, Cazaquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), a Rússia destaca-se pelo tecnologia,

capital e acesso aos grandes mercados, pelo fato de controlar as redes de óleos e gasodutos.

Na Tabela 35, temos os dados referente à importância da exportação dos combustíveis,

ao total de mercadorias exportadas pela Rússia. A representatividade dos combustíveis no

comércio exterior da Rússia eleva em aproximadamente 18% durante o período. Em 2002, a

exportação de combustíveis representava 52,47% das mercadorias exportadas, em 2012 eleva-

se para 70,27%. Estes dados nos permitem identificar a grande dependência deste setor para a

economia russa, diferentemente do que ocorrem nos demais países do BRICS. Possui um

nível muito superior à média dos demais BRICS e dos países desenvolvidos, de 10,88% e

12,38% respectivamente.

Page 71: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

72

Tabela 35 - Proporção da Exportação de Combustíveis dentre todas mercadorias exportadas

pela Rússia, de 2002 a 2012

Exportação de Combustível (% Total de Mercadorias Exportadas)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Rússia 52,47 54,49 54,69 61,77 62,88 61,45 65,66 66,69 65,62 66,98 70,27

Brasil 4,88 5,19 4,57 5,98 7,71 8,29 9,46 9,00 10,14 10,54 11,03

Índia 4,63 5,96 8,05 10,33 14,75 15,90 17,71 13,39 16,95 18,52 18,51

China 2,59 2,54 2,43 2,30 1,81 1,69 2,21 1,70 1,69 1,69 1,50

África do Sul 11,99 9,78 9,09 10,34 9,36 10,44 9,48 11,06 9,95 11,24 12,50

Desenvolvidos 9,08 9,41 9,98 11,40 11,65 12,25 14,19 12,08 12,31 13,56 12,38 Fonte: Banco Mundial (2013), elaborada pelo autor

Na análise da tabela 36, referente à importância da renda do petróleo e gás natural para

o PIB russo, notamos uma diminuição no período. Em 2002, a renda do petróleo e do gás

natural representavam 24,9% do PIB da Rússia, chegando ao auge em 2005, de 35,98%.

Porém, é afetada pela crise econômica de 2008, caindo para 17,37% em 2009, e chegando em

2011 a um nível de 18,59% do PIB. Na análise comparativa com os demais países do BRICS,

notamos que o petróleo e o gás natural representam ao PIB da Rússia, um nível sete vezes

superior do que ao Brasil, e aproximadamente treze vezes superior à Índia.

Tabela 36 - Renda do Petróleo e Gás Natural, em relação ao PIB da Rússia, de 2002 a 2011

Renda do Petróleo e Gás Natural (% PIB)

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Rússia 24,09 30,87 29,28 35,98 30,76 24,79 28,04 17,37 17,87 18,59

Brasil 2,09 2,45 2,73 3,35 3,41 3,02 3,64 2,14 2,25 2,68

Índia 1,04 1,17 1,37 1,77 1,91 1,63 2,23 1,06 1,18 1,45

China 1,94 2,28 2,59 3,45 3,38 2,85 3,34 1,69 1,86 1,96

África do Sul 0,27 0,17 0,30 0,30 0,27 0,30 - - - -

Desenvolvidos 1,31 1,77 2,06 2,97 3,13 3,05 4,14 2,07 2,45 2,78 Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Comparando os dados econômicos (Tabela 37), do período de 2002 a 2012. Notamos

que o período foi marcado por um acentuado crescimento do preço do petróleo, utilizando

como base o preço da OPEP, a qual a Rússia não faz parte, podemos notar que o Barril de

Petróleo era vendido por US$ 24,36 em 2002, passando para US$ 109,45, em 2012. No

período, registrou um crescimento médio de 19% no valor do barril de petróleo, sendo o preço

de 2012, 349% superior ao preço de 2002.

Page 72: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

73

Tabela 37 - Indicadores Econômicos da Rússia

Rússia - Indicadores Econômicos

Ano

PIB

(Milhões US$)

Var. PIB

(Anual)

Reservas Int.

(Milhões US$)

Barril de Petróleo

(US$)

2002 345.110,44 4,74 48.325,64 24,36

2003 430.347,77 7,30 78.409,35 28,1

2004 591.016,69 7,18 126.257,96 36,05

2005 764.000,90 6,38 182.272,10 50,64

2006 989.930,54 8,15 303.773,19 61,08

2007 1.299.705,76 8,54 478.822,29 69,08

2008 1.660.846,39 5,25 426.278,77 94,45

2009 1.222.648,13 -7,82 439.341,75 61,06

2010 1.524.915,34 4,50 479.222,29 77,45

2011 1.899.086,23 4,29 497.410,25 107,46

2012 2.014.776,31 3,44 537.816,37 109,45

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Em 2009, a Rússia registrou uma queda do seu PIB em aproximadamente US$ 438,2

bilhões. Esta queda é agravada pela diminuição da cotação do barril de petróleo, de US$33,39

sobre o valor do barril de 2008. Porém, apesar desta dependência energética, a Rússia

conseguiu no período, aproveitar sua vantagem comparativa no comércio mundial energético,

para acumular reservas internacionais, elevando de US$ 48,3 bilhões em 2002, para

US$ 537,8 bilhões em 2012, sendo um fator importante para a proteção da sua economia em

período de crise, como também, garante uma maior autonomia política.

5.2. O CENÁRIO SOCIAL NA ÍNDIA

De acordo com a tabela 38, a Índia possui uma população de 1,2 bilhões de habitantes,

sendo o segundo país mais populoso do mundo. Este país registrou no período de 2002 a

2012, um crescimento anual médio na sua população de 1,41%, sendo superiores aos demais

países do BRICS, com um crescimento populacional médio de 0,66%, onde a Rússia

apresentou uma diminuição anual média de 0,15% na sua população. Continuando esta média

de crescimento populacional, a Índia ultrapassará a população da China em 2025, tornando-se

o país mais populoso do mundo.

Page 73: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

74

Tabela 38 - Dados Demográficos dos BRICS

Dados Demográficos dos BRICS

Países Ano 2002 2010 2011 2012

Índia População (milhões) 1.076,71 1.205,62 1.221,16 1.236,69

Cresc. Pop. (%) 1,61 1,29 1,28 1,26

Densidade Demográfica (km²) 362,14 405,50 410,72 -

Brasil População (milhões) 179,39 195,21 196,94 198,66

Cresc. Pop. (%) 1,36 0,88 0,88 0,87

Densidade Demográfica (km²) 21,20 23,07 23,28 -

Rússia População (milhões) 145,30 142,39 142,96 143,53

Cresc. Pop. (%) -0,45 0,34 0,40 0,40

Densidade Demográfica (km²) 8,87 8,69 8,73 -

China População (milhões) 1.280,40 1.337,71 1.344,13 1.350,70

Cresc. Pop. (%) 0,67 0,48 0,48 0,49

Densidade Demográfica (km²) 137,27 143,41 144,10 -

África do Sul População (milhões) 45,53 49,99 50,59 51,19

Cresc. Pop. (%) 1,38 1,35 1,18 1,18

Densidade Demográfica (km²) 37,53 41,21 41,70 -

Mundo População (milhões) 6.257,64 6.885,22 6.965,94 7.046,37

Cresc. Pop. (%) 1,25 1,18 1,17 1,15

Densidade Demográfica (km²) 48,23 53,08 53,70 -

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Na Tabela 38, nota-se que a Índia possui uma densidade populacional muito superior

aos demais países do BRICS e da média mundial. Com uma densidade de 410,72 habitantes

por km², as cidades indianas tornam-se cada vez mais saturadas e repletas de problemas de

mobilidade, saneamento, poluição e moradia.

Utilizando dos dados da Tabela 39, temos um panorama da situação social da Índia,

que possui um PIB per capita de US$ 3.876,01, o pior nível dentre os países do BRICS, que

possuem uma média de US$11.991,86. Também referente à renda, temos na Índia uma

parcela de 68,76% da população vivendo com uma renda de até US$2 por dia, medidos em

paridade de poder de compra, sendo o nível mais elevado dos BRICS e um dos maiores de

todo mundo.

A expectativa de vida da população indiana encontra-se dentre os mais baixos dos

BRICS, com 65,96 anos, estando a frente apenas da África do Sul. Também referente à saúde

de sua população, a Índia registra a maior taxa de mortalidade infantil dos BRICS, com 43,80

a cada 1.000 nascimentos.

Page 74: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

75

A educação é um setor preocupante. Mesmo possuindo importantes centros

tecnológicos, como a indústria de TI de Bangalore11, apresenta uma taxa de alfabetização dos

adultos de 62,75% e dos jovens em 81,13%. Como possui uma população de

aproximadamente 1,2 bilhões de habitantes, o governo parece priorizar uma educação seletiva

de qualidade do que uma educação básica a todos.

Tabela 39 - Dados Socioeconômicos dos BRICS

Dados Socioeconômicos Ano Índia Brasil Rússia China África do Sul

PIB per capita(US$) 2012 3.876,01 11.908,92 23.500,98 9.233,01 11.440,38

Expectativa de Vida (anos) 2012 65,96 73,35 69,00 75,04 55,30

Pop. com renda de até $2 por dia (PPC)

2009 68,76¹ 10,82 0,05 27,21 31,33

Mortalidade Infantil 2012 43,80 12,90 8,90 12,10 33,30

Taxa de alfabetização, adultos 2010 62,75² 90,30³ 99,58 94,27 88,71⁴

Taxa de alfabetização, jovens 2010 81,13 98,06³ 99,68 99,40 97,57

Fonte: Banco Mundial (2013)

¹ Dado referente ao ano 2010

² Dado referente ao ano 2006

³ Dado referente ao ano 2009

⁴ Dado referente ao ano 2007

5.3. REPRESENTATIVIDADE ECONÔMICA DA ÁFRICA DO SUL

A África do Sul foi incluída no acrônimo durante a quinta cúpula dos BRIC em

2010. Sua inclusão foi motivada, principalmente, por critérios diplomáticos, pois o grupo até

então não possuía nenhum país pertencente ao continente africano12.

De acordo com BITTENCOURT (2011), os argumentos que justificam o acrônimo

formado apenas por Brasil, Rússia, Índia e China seria de cunho econômico, entretanto, em

uma visão do sistema internacional, teríamos a motivação do convite a inclusão da África do

Sul.

Uma das críticas encontradas a inclusão da África do Sul, deve-se ao fato de que os

países dos BRIC possuírem uma participação no PIB mundial muito superior ao deste país.

11 Disponível em: <http://tecnologia.terra.com.br/negocios-e-ti/india-se-reafirma-como-potencia-da-tecnologia-

na-asia,1b292feb711ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html> Acesso em 12/10/2013 12 Disponível em: <http://www.economist.com/blogs/economist-explains/2013/03/economist-explains-why-

south-africa-brics> Acesso em 15/10/2013

Page 75: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

76

Conforme podemos notar na Tabela abaixo, a África do Sul representava 0,33% do PIB

mundial, em 2002 e 0,53%, em 2012.

Tabela 40- PIB e Participação mundial do PIB nos países do BRICS e no Mundo

PIB (milhões US$)

País 2002 % (Mundial) 2012 % (Mundial)

África do Sul 111.100,86 0,33% 384.312,67 0,53%

Brasil 504.221,23 1,51% 2.252.664,12 3,13%

Rússia 345.110,44 1,03% 2.014.776,31 2,80%

Índia 522.798,46 1,56% 1.841.717,37 2,56%

China 1.453.827,55 4,35% 8.358.363,14 11,62%

Mundo 33.408.324,80 100,00% 71.918.394,48 100,00%

Fonte: Banco Mundial (2013), elaborado pelo autor

Este questionamento em relação à inclusão da África do Sul no acrônimo é feito com

base de que, se fossemos pensar apenas em termos econômicos, teríamos outros países com

uma maior representatividade no cenário mundial, onde a África do Sul não representaria a

quinta maior economia emergente do mundo. O’Neill13 cita que no seu lugar, poderiam estar:

Coréia do Sul, Indonésia, México ou Turquia, pois estes seriam países que representam ao

menos 1% do PIB mundial. O autor também cita que o território e a população sul-africana é

pouco expressivo, diferentemente dos demais países do acrônimo.

5.4. O PESO CHINÊS

De acordo com Lyrio (2010, p. 37), “o crescimento econômico chinês tem-se

baseado fundamentalmente na utilização extensiva de fatores subutilizados”. Ou seja, seu

crescimento nas últimas décadas foi marcado por uma grande incorporação da população

rural, vivendo em uma economia predominantemente agrícola, para os centros urbanos,

trabalhando nas indústrias. Esta oferta abundante de mão de obra mal remunerada, aliada as

altas taxas de investimento e grande demanda interna não atendida, tem sido apontada como o

principal motivo do crescimento chinês.

Dentre os países do BRICS, a China é o mais populoso, com 1.353,6 milhões de

habitantes, sendo a população rural de 48,22%14 deste total, ou seja, a China ainda possui um

13 http://www.bloomberg.com/news/2010-12-29/south-korea-beats-south-africa-as-bric-candidate-goldman-

says.html 14 Dados informados pelo Banco Mundial, acessado em 25/10/2013

Page 76: BRICS: Uma análise na perspectiva da teoria do Desenvolvimento

77

total de 652 milhões de habitantes vivendo em uma economia predominantemente agrária,

garantindo uma oferta de mão de obra barata a sua indústria por alguns anos.

O único país, dentre os BRICS, com uma população comparável a população chinesa,

seria a população indiana com 1.258,4 milhões de habitantes, sendo que a população rural na

Índia de 68,34% é a maior dos BRICS, porém os níveis sociais referente a educação, pobreza

e saúde na China são superiores.

Quando analisamos as diversas estatísticas, referente a população em situação de

extrema pobreza, população com acesso ao saneamento básico, crescimento da malha

ferroviária, consumo de energia elétrica, produção de energia elétrica, pedidos de registro de

patente e crescimento do PIB, temos uma supremacia chinesa em todas delas. Torna-se

oportuno notar que no período de 2002 a 2012, a China passa a ser o principal parceiro

comercial de todos países dos BRICS, ocupando a primeira posição das importações destes

países e entre os quatro maiores destinos das exportações de Brasil, Índia, Rússia e África do

Sul.

Com base dos dados e na análise dos países dos BRICS, presente neste trabalho, pode-

se concluir que conforme preconizado por O’NEILL(2001), ocorreu um desenvolvimento

econômico nos países do BRIC. Porém, com um levantamento de diversos dados econômicos,

nota-se que o desenvolvimento ocorreu de maneira mais acentuada na China.

Em critérios econômicos, a China deveria ser colocada a parte do grupo, pois possui

uma representatividade muito superior em praticamente todos dados. Porém, como um grupo

que busque inserção no cenário político-econômico mundial, torna-se relevante a presença de

todos países, conseguindo um maior poder de negociação e representatividade nos organismos

internacionais.

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