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  • Breves Consideraes Acerca do Grau 29 (Missionrio da Religio) no

    Rito Brasileiro de Maons Antigos, Livres e Aceitos

    Ivan Lopes Magalhes

    Missionrio da Filosofia

    O despretensioso objetivo destas linhas compartilhar com os

    IIrMissionrios da Religio alguns contedos recentemente pesquisados

    que, esperamos, possam contribuir com as nossas Sesses de Estudo.

    1. O Grau 29 no Rito Escocs Antigo e Aceito: Grande Cavaleiro Escocs

    de Santo Andr ou Patriarca das Cruzadas.

    Escolhemos o REAA para abordarmos o Grau 29 na Maonaria tradicional

    em virtude da maior facilidade de acesso a fontes de consulta. Optamos por

    no abordar em maiores detalhes seus aspectos ritualsticos por fugirem ao

    nosso escopo.

    Trata-se de um Grau que correspondente categoria dos Templrios na

    parte histrica da fuso das Ordens Militares, provenientes das Cruzadas,

    com a Maonaria, tendo sido introduzido no REAA em 1786, na reforma

    filosfica de Frederico II, Rei da Prssia. Seu carter Templrio se origina

    de uma Cruzada a Jerusalm em que cerca de 27.000 escoceses fugiram

    Inquisio tanto na Frana quanto em alguns outros pases e, tambm, do

    acolhimento dos sobreviventes da Ordem pelos Maons da Esccia. A

    Ordem dos Templrios, como sabido, foi banida em toda a Europa,

    exceo do Reino de Portugal, onde o Rei D. Diniz impediu perseguies,

    tendo criado, a partir dela, a Ordem de Cristo, existente at os dias atuais.

    Uma das organizaes de Maons escoceses passou a se reunir s

    procisses religiosas que ocorriam no dia 30 de novembro de cada ano, em

    homenagem a Santo Andr, padroeiro da Esccia. Essa organizao foi

    ento chamada pelo povo de Cavaleiros de Santo Andr, o que explica

    tanto o nome deste Grau quanto a sua respectiva Jia, pois consta da

    tradio Crist que Santo Andr foi martirizado em uma cruz em forma de

    Xis (cruz de Santo Andr).

    Um dos principais objetivos do Grau o de exaltar a Fidelidade Ordem

    do Templo, com vistas sua secreta reconstruo, sendo quatro os deveres

    do Gr Escocs:

    Venerar a razo pura;

  • Ser inimigo da mentira, da astcia e da traio;

    Proteger a virtude e a inocncia;

    Lutar em defesa da Liberdade e da Justia.

    Para alcanar o alto nome de Grande Cavaleiro Escocs de Santo Andr,

    deve-se combater pela Justia e pela Liberdade de Pensamento e de

    palavra, contra a tirania e o erro, sem esquecer que a Verdade sagrada, e

    que o Grau tem por princpio o Amor aos semelhantes, com base na Ordem

    e tendo por objetivo o Progresso.

    Significativa a representao da Jerusalm Celeste neste Grau, que

    a mesma Jerusalm de que trata o Grau 19 do mesmo REAA (Grande

    Pontfice ou Sublime Escocs), dedicado afirmao do Cristianismo em

    prosseguimento filosofia do Grau 18, Prncipe Rosa Cruz.

    O Grande Cavaleiro Escocs de Santo Andr comprova o poder da

    Razo que nos faz erguer a Nova Jerusalm.

    2. O Grau 29 no Rito Brasileiro de Maons Antigos, Livres e Aceitos:

    Missionrio da Religio.

    O Rito Brasileiro dedicado ao aperfeioamento dos Maons, conciliando

    a Tradio com a Evoluo, o Nacional com o Universal e a Razo com a

    F (Art. 2, caput, da Constituio do Rito), e tem por um de seus

    princpios basilares ... o Tesmo. Afirma a existncia de um Deus Criador,

    proclama a glria do Supremo Arquiteto do Universo e a crena na

    imortalidade da alma (Art. 1, II, da Constituio do Rito). O Tesmo,

    lembremos, a doutrina que afirma a possibilidade da interveno benfica

    do Supremo Arquiteto do Universo, que dirige a obra da Criao a um

    propsito por Ele determinado, em nossas vidas (Providncia Divina),

    protegendo e orientando aos que O buscam com reverncia e contrio.

    Ope-se ao Desmo que, por sua vez, considera que aps a criao do

    Universo pelo Supremo, os acontecimentos seguiriam curso prprio,

    regidos pelas leis naturais, sem a Sua interferncia, havendo entre Ele e os

    homens seres intermedirios capazes de suprir a carncia humana por uma

    proteo sobrenatural.

    a partir desses alicerces que se construiu e sustenta no Rito Brasileiro o

    Grau 29, que orientado no sentido de, no estrito campo individual,

    sugerir-se um caminho na conciliao da razo com a f.

    Tratava-se, tal como no REAA, de Grau conferido por comunicao, para

    acesso ao Grau 30, at a edio do Decreto n 195, de 19 de agosto de

  • 2008, que reformou a Constituio do Rito. Desde ento se tornou um Grau

    adquirido por Iniciao.

    Mantidos tanto o princpio geral manico que veda debates sobre poltica

    ou religio em Loja (evitando-se proselitismos ou apologias que induzam a

    um sectarismo nessas esferas), quanto o Cobridor Geral do Grau (em

    conformidade com o REAA), o Rito Brasileiro optou por no adotar as

    figuras alegricas e o Cobridor Completo do Escocismo, por entend-los de

    pouca significao objetiva no que concerne conciliao pretendida entre

    a F e a Razo.

    Convm, neste ponto, distinguirmos entre Religio e Teologia. Religio

    deriva do vocbulo religar, isto , visa ao restabelecimento de uma ligao

    do divino com o que dele se desligou, num regresso aos preceitos contidos

    nas Sagradas Escrituras de sua F. Nesse sentido, a Maonaria religiosa,

    embora no seja uma religio. Por sua vez, a Teologia o ramo da cincia

    que estuda Deus em todos os seus aspectos, utilizando criteriosamente da f

    e da razo dentro de mtodos interpretativos, entre outros. Enquanto ramo

    da cincia instrumento de interesse do Maom na questo central do Grau

    29. Por isso no se pode confundir Teologia com a Religio, assim como

    ambas no se confundem com a Maonaria, apesar dos pontos de interesse

    em comum.

    3. Maonaria, F e Razo:

    A F, ao lado da Esperana e da Caridade, uma das trs virtudes teologais

    crists, simbolizada pela ncora no Painel da Loja de Aprendiz, e expressa

    a crena em alguma doutrina, princpio ou ensinamento, que leve ao

    conhecimento de Deus, de Sua natureza, Seus propsitos, Sua Misericrdia

    e Amor por ns; da Redeno e da Salvao; a F legitima o conhecimento

    de Deus que nos dado pela Sua prpria revelao. A F aceita a verdade

    pela autoridade de Deus.

    A Razo, por sua vez, nos diz apenas da existncia e dos atributos divinos,

    justificando o que a f afirma, livrando-nos das crendices que carecem de

    fundamento lgico. a liberdade do pensamento que elabora o

    conhecimento, aps momentos de meditao. No entanto, possui

    limitaes, como adverte Jules Boucher:

    O racionalista (de ratio, razo) recusa-se a levar em considerao

    tudo o que vai alm dos limites de seu entendimento. (...) O

    racionalista fixa-se em sua concepo e dela faz um dogma, agindo

    como um fantico, exatamente como os fiis de no importa que

  • religio, de no importa qual Igreja, para os quais no existe salvao

    fora dos dados teolgicos que lhes so prprios.

    Todavia, se As filosofias falam razo; as religies tocam o corao; a

    iniciao excita a parte espiritual do ser e permite o acesso mais elevada

    compreenso metafsica do sentido da vida. Algo, portanto, existe entre a

    F e a Razo, pois segundo o Rito Brasileiro, ambas no se opem. nesse

    ponto que se insere a Maonaria, com seu carter Inicitico, que a distingue

    tanto das Religies quanto das Cincias e da Filosofia. Isso por si s

    justificaria a expresso Arte Real.

    Rizzardo da Camino afirma que:

    Raramente, numa religio, procedida a Iniciao (...).

    Percorrendo o caminho filosfico desde os primrdios da civilizao,

    todos os aspectos religiosos eram cercados pelo mistrio e somente

    os que adentravam nos emaranhados trajetos filosficos recebiam a

    Iniciao (...). A Maonaria como Instituio Secreta sempre adotou

    a Iniciao para a seleo dos seus filiados.

    Entendemos que os diversos Ritos Manicos no desvirtuam a sua

    essncia e nem a sua natureza inicitica, mas so diferentes modos de se

    representar um mesmo fato, uma mesma realidade. A Maonaria no impe

    nenhum dogma religioso ou filosfico, pois no se confunde com nenhuma

    Religio ou Filosofia. O mesmo Jules Boucher chega a afirmar, em relao

    Maonaria, que Pouco lhe importam as religies e as filosofias, j que

    ela se situa alm e fora delas e que Os escritores Maons enganam-se em

    suas explicaes porque no evitam a grave causa de confuso que consiste

    em se querer explicar uma pela outra a filosofia, a religio e a iniciao. A Maonaria, como sistema velado de smbolos e alegorias, leva o Iniciado

    que persevera em seu estudo a um conhecimento esotrico cujo alcance

    pode ser esboado pelas palavras de Brunetire:

    O smbolo imagem, pensamento... ele nos faz captar, entre o

    mundo e ns, algumas dessas afinidades secretas e dessas leis

    obscuras que podem muito bem ir alm do alcance da cincia, mas

    que nem por isso so menos certas. Todo smbolo , nesse sentido,

    uma espcie de revelao.

    Feitas essas breves consideraes, no temos receio em afirmar que a

    Maonaria, por seu carter inicitico e religioso, no pretende substituir as

    Religies nem tampouco prescindir da Razo, representada pelas Cincias

  • e pela Filosofia, sobretudo se nos referimos ao Rito Brasileiro, que entende

    o Maom como um homem de seu tempo, e que no deve prescindir das

    ferramentas disponibilizadas pelas diversas reas do conhecimento para

    realizar seus objetivos. Dentre os sublimes objetivos de um Maom est o

    de, atravs de seu aprimoramento moral e espiritual, se tornar capaz de

    estabelecer uma ponte entre a F e a Razo para melhor compreender o

    Supremo Arquiteto do Universo e Seus desgnios, e auxili-Lo na

    edificao moral e espiritual da humanidade (ou a edificar a Jerusalm

    Celeste, como diriam nossos IIr do REAA), em Sua Honra e Glria,

    tarefa dos verdadeiros Iniciados.

    4. Referncias:

    BOUCHER, Jules A Simblica Manica. So Paulo: Editora

    Pensamento, 2011.

    DA CAMINO, Rizzardo Dicionrio Manico. So Paulo: Madras, 2004.

    DA CAMINO, Rizzardo Rito Escocs Antigo e Aceito. Loja de Perfeio

    1 ao 33. So Paulo: Madras, 2010.

    GILES, T. R. Introduo Filosofia. So Paulo: EPU/EDUSP, 1979.

    __________ - Constituio do Rito. Regulamentos do Rito no Brasil.

    Estatutos do Supremo Conclave do Brasil. Rio de Janeiro: Supremo

    Conclave do Brasil, 2009.

    __________ - Ritual do Grau 29. Missionrio da Religio. Rio de Janeiro:

    Supremo Conclave do Brasil, 2011.

    __________ - Ritual do Grau 30. Cavaleiro Kadosch ou Cavaleiro da

    guia Branca e Negra. Rio de Janeiro: Supremo Conselho do Gr. 33 do

    1[1] Jerusalm, ou Yara-Salm, que significa morada da paz (cf. Da Camino - Dicionrio Manico, p. 223). A Jerusalm Celeste se encontra descrita no Cap. 21 e seus versculos, no Livro do Apocalipse. 2[2] Por princpios basilares poderamos perfeitamente entender clusulas ptreas, ou seja,

    aquelas que nenhuma reforma poderia modificar. Dentre essas clusulas ptreas consta em seu inciso III a fraternidade dos homens, filhos do mesmo Pai. 3[3] Cf. Ritual do Grau 29 Missionrio da Religio, pp. 34 - 36. 4[4] Cf. Ritual do Grau 29 Missionrio da Religio, p. 5. 5[5] Pelo Supremo Conclave do Brasil do Rito Brasileiro de Maons Antigos, Livres e Aceitos.

  • 6[6] Art. 8 da Constituio do Rito. A propsito, colao com sua acepo de concesso de

    ttulo, direito ou grau seria mais adequado que iniciao, tanto no sentido esotrico quanto do ponto de vista esotrico (Cf. Ritual do Grau 29 Missionrio da Religio, pp. 4 - 5). 7[7] Considerem-se, nesse caso, as distines de mtodos, objetivos e problemticas existentes entre a Religio, a Teologia e a Maonaria. 8[8] Cf. Da Camino Dicionrio Manico, p. 172 9[9] Cf. Ritual do Grau 29 Missionrio da Religio, pp. 41 - 42. No dizer do filsofo

    dinamarqus Kierkegaard, a f seria um salto no escuro, que em termos materiais ou morais no nos traz qualquer garantia de xito (Cf. Giles, pp. 84 - 85), o que se pode exemplificar pela passagem bblica do Gnesis (22, 1-12) em que Abrao deveria sacrificar seu nico filho, como prova de sua f. 10[10] Cf. Ritual do Grau 29 Missionrio da Religio, p. 42. 11[11] Cf. A Simblica Manica, pp. 15 16. 12[12] Cf. Boucher, p. 58. 13[13] Cf. Dicionrio Manico, p. 208. 14[14] Cf. A Simblica Manica, pp. 58 59. 15[15] Isto : aquele que foi colocado no caminho. 16[16] Cf. Boucher, p. 12.