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Constitucional Breves considerações sobre a colisão entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade Priscila Coelho de Barros Almeida Resumo: O presente artigo versa sobre a colisão que ocorre entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade quando a divulgação de notícia através da imprensa afeta os direitos das pessoas envolvidas, especialmente a honra, a imagem, a privacidade e a intimidade. Ambos os direitos são imprescindíveis num Estado Democrático de Direito. A resolução da colisão entre ambos os direitos passa pela análise do caso concreto, utilizando como critério os Princípios da Unidade da Constituição, da Ponderação dos Direitos e da Proporcionalidade. Palavras‐chave: Colisão. Liberdade de Imprensa. Direitos da Personalidade. Direitos Fundamentais. Resolução. Principio da Unidade da Constituição. Princípio da Ponderação. Princípio da Proporcionalidade. Abstract: This article is about the collision that occurs between press freedom and the rights of personality where the dissemination of news through the press affects the rights of people involved, especially the honor, image, privacy and intimacy. Both rights are essential in a democratic state of law. The resolution of the collision between the two rights is the analysis of the case, using as criterion the Principles of Unity of the Constitution, the Balance of Rights and Proportionality. Keywords: Collision. Freedom of the Press. Rights of Personality. Fundamental Rights. Resolution. Principle of Unity of the Constitution. Principle of Balance. Principle of Proportionality. Sumário: 1. Introdução. 2. Colisão de direitos: liberdade de imprensa e direitos da personalidade. 2.1. Direitos da personalidade. 2.2.liberdade de imprensa. 2.3. A colisão de direitos. 3. Conclusão. 4. Referências bibliográficas 1. INTRODUÇÃO Todos os dias a sociedade se vê diante de um número enorme de informações, propagadas pelos mais diversos meios de imprensa. Na mesma proporção em que são veiculadas, as informações são deixadas de lado, diante de novos fatos ocorridos no meio social, e que demandam divulgação. Essas informações, por retratarem a realidade social, colocam o homem como figura central, o que, não raro, acarreta situações em que o indivíduo se sente lesado nos seus bens mais importantes: a honra, a imagem, a intimidade, a privacidade e os outros direitos conexos a estes, que compõem a personalidade, primado da natureza humana. Diante desta situação, surge a necessidade de se verificar no caso concreto qual dos dois valores postos em discussão deve prevalecer. No entanto, é necessário ter em mente que o problema não é tão facilmente resolvido, pois se esta diante de dois direitos fundamentais, protegidos constitucionalmente, de magnitude para a sociedade contemporânea. Para tanto, deve‐se valer dos critérios e princípios hermenêuticos advindos da construção doutrinária, que irão servir de norte ao intérprete e aplicador do direito. Não há direito mais importante que o outro, só o fato concreto dirá qual direito irá sobressair, sem resultar no aniquilamento do outro. 2. COLISÃO DE DIREITOS: LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS DA PERSONALIDADE A existência de dois direitos fundamentais aparentemente contrapostos diante de um caso concreto não é algo incomum dentro da ótica do mundo jurídico, em especial a colisão entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade, posto que vive‐se nos dias atuais sob o império da imprensa, que na mesma medida que pode trazer a informação a população, pode acabar por violar direitos da personalidade das pessoas envolvidas no fato jornalístico divulgado. Verifica‐se nos dias atuais o poder crescente que a imprensa tem exercida na sociedade mundial, principalmente pela diversificação de sua propagação, bem como pela facilidade de acesso aos meios de comunicação pela população de um modo geral. Ademais, diante da aparente omissão do Poder Público, vem a imprensa ganhando espaço social como verdadeiro porta‐voz dos anseios populares e fiscal da sociedade. Não se pode afastar também a verificação de que, como decorrência direta dos avanços tecnológicos, e porque não dizer sociais, houve uma intromissão dos meios de comunicação na vida das pessoas, por vezes violando os direitos da personalidade das pessoas envolvidas no fato a ser divulgado. A liberdade de informação é essencial numa sociedade que preserve os direitos fundamentais da pessoa humana. O amplo acesso e propagação das notícias pelos meios de comunicação difusores são os pilares para um Estado que se considere Democrático de Direito. Dessa forma, a liberdade de informação deve ser irrestrita, para que a sociedade possa ter amplo conhecimento dos fatos que se passam no meio social. Mas o que fazer quando essa liberdade de informação acaba por violar os direitos mais próprios do homem, os direitos da personalidade? Como se pode resolver essa situação, tendo em vista que ambos os direitos são fundamentais, e não se pode falar na anulação de um diante do outro, já que ambos gozam de proteção constitucional? O Estado Democrático de Direito tem como um de seus pilares o respeito e a garantia dos direitos fundamentais do homem, entendidos como aquelas prerrogativas e instituições que ele (direito positivo) concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas.”[1] Dentre esses direitos fundamentais, encontra‐se a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade, protegidos constitucionalmente, havendo mecanismos próprios para sua preservação, o primeiro nos artigos 5°, inc. XIV, IV, IX e 220, caput, e parágrafo 1°, e o segundo no art. 5°, inc. V e X da Constituição Federal. Ambos são a personificação do Principio da Dignidade da Pessoa Humana, erigido à categoria de principio constitucional máximo. A origem da liberdade de imprensa e dos direitos da personalidade repousa na série de acontecimentos e movimentos filosóficos que invadiram o mundo ocidental no final da Idade Média, início da Idade Contemporânea, e que culminaram com a Carta de Princípios da Independência Norte‐ Americana e a Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão, de cunho altamente burguês, baseados, principalmente no Iluminismo, tendo o homem como centro do universo, numa visão antropocêntrica; no cristianismo, que prega o homem como imagem e semelhança de Deus, ponto de partida para a dignidade do ser humano; e no movimento jusnaturalista, berço da idéia dos direitos naturais, como sendo aqueles inatos ao individuo, pelo simples fato de serem seres humanos. A concepção da liberdade, como norteadora de toda a individualização do homem, foi a base para esses direitos fundamentais de 1ª geração, sendo, portanto, direitos individuais por natureza, onde o homem almeja uma não intromissão do Estado na sua esfera individual, como é sabido, uma ação negativa por parte do estado por parte do estado. 2.1. DIREITOS DA PERSONALIDADE Os direitos da personalidade são aqueles imanentes da personalidade humana, ou seja, são aqueles que se constituem pelo simples fato de ser o homem ser humano, na realidade são efeitos do fato jurídico personalidade, como bem atesta o mestre Pontes de Miranda: “(...) no suporte fático do fato jurídico de que surge direito de personalidade, o elemento objetivo é ser humano e não ainda pessoa: a personalidade resulta da entrada do ser humano no mundo jurídico.”[2] Existem inúmeras espécies de direitos da personalidade, até porque as projeções que emanam da personalidade, fato jurídico, como já dito, que tem como efeito os direitos da personalidade, não se esgotam tão facilmente. Dentre eles, algumas espécies merecem aqui destaque por se relacionarem diretamente com a liberdade de informação: a honra, a imagem, a vida privada e a intimidade, pois, “costumeiramente, o exercício da liberdade de imprensa suscita colidência em especial como o direito à honra, à imagem e à privacidade.”[3] 2.2. LIBERDADE DE IMPRENSA A liberdade de imprensa encontra repouso no pensamento que “envolve, assim, um primeiro momento interno, em que se forma o pensamento, tanto quanto outro externo em que se manifesta”[4], compreendendo a liberdade de pensamento e liberdade de manifestação de pensamento. É a partir desse instante, em que o individuo manifesta seu pensamento, que nasce a opinião, ou mais propriamente a liberdade de opinião, já que este tem o total direito de propagá‐la. Nesse aspecto, compreende‐se a liberdade de informação, como grau máximo dessa liberdade de opinião, onde estaria incluída tanto a liberdade de informar, direito esse individual por natureza, e a liberdade de ser informado, direito coletivo que tem a sociedade de ficar a par dos fatos sociais, “nesse sentido, a liberdade de informação compreende a procura, o acesso, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada qual Você está aqui: Página Inicial Revista Revista Âmbito Jurídico Constitucional

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  • 4/30/2015 Breves consideraes sobre a coliso entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade - Constitucional - mbito Jurdico

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    Constitucional

    Breves consideraes sobre a coliso entre liberdade de imprensa e direitos da personalidadePriscila Coelho de Barros Almeida

    Resumo: O presente artigo versa sobre a coliso que ocorre entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade quando a divulgao de notcia atravs da imprensaafeta os direitos das pessoas envolvidas, especialmente a honra, a imagem, a privacidade e a intimidade. Ambos os direitos so imprescindveis num Estado Democrtico deDireito. A resoluo da coliso entre ambos os direitos passa pela anlise do caso concreto, utilizando como critrio os Princpios da Unidade da Constituio, da Ponderaodos Direitos e da Proporcionalidade.

    Palavraschave: Coliso. Liberdade de Imprensa. Direitos da Personalidade. Direitos Fundamentais. Resoluo. Principio da Unidade da Constituio. Princpio daPonderao. Princpio da Proporcionalidade.

    Abstract: This article is about the collision that occurs between press freedom and the rights of personality where the dissemination of news through the press affects therights of people involved, especially the honor, image, privacy and intimacy. Both rights are essential in a democratic state of law. The resolution of the collision betweenthe two rights is the analysis of the case, using as criterion the Principles of Unity of the Constitution, the Balance of Rights and Proportionality.

    Keywords: Collision. Freedom of the Press. Rights of Personality. Fundamental Rights. Resolution. Principle of Unity of the Constitution. Principle of Balance. Principle ofProportionality.

    Sumrio: 1. Introduo. 2. Coliso de direitos: liberdade de imprensa e direitos da personalidade. 2.1. Direitos da personalidade. 2.2.liberdade de imprensa. 2.3. A colisode direitos. 3. Concluso. 4. Referncias bibliogrficas

    1. INTRODUO

    Todos os dias a sociedade se v diante de um nmero enorme de informaes, propagadas pelos mais diversos meios de imprensa. Na mesma proporo em que soveiculadas, as informaes so deixadas de lado, diante de novos fatos ocorridos no meio social, e que demandam divulgao.

    Essas informaes, por retratarem a realidade social, colocam o homem como figura central, o que, no raro, acarreta situaes em que o indivduo se sente lesado nos seusbens mais importantes: a honra, a imagem, a intimidade, a privacidade e os outros direitos conexos a estes, que compem a personalidade, primado da natureza humana.

    Diante desta situao, surge a necessidade de se verificar no caso concreto qual dos dois valores postos em discusso deve prevalecer. No entanto, necessrio ter emmente que o problema no to facilmente resolvido, pois se esta diante de dois direitos fundamentais, protegidos constitucionalmente, de magnitude para a sociedadecontempornea.

    Para tanto, devese valer dos critrios e princpios hermenuticos advindos da construo doutrinria, que iro servir de norte ao intrprete e aplicador do direito. No hdireito mais importante que o outro, s o fato concreto dir qual direito ir sobressair, sem resultar no aniquilamento do outro.

    2. COLISO DE DIREITOS: LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS DA PERSONALIDADE

    A existncia de dois direitos fundamentais aparentemente contrapostos diante de um caso concreto no algo incomum dentro da tica do mundo jurdico, em especial acoliso entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade, posto que vivese nos dias atuais sob o imprio da imprensa, que na mesma medida que pode trazer ainformao a populao, pode acabar por violar direitos da personalidade das pessoas envolvidas no fato jornalstico divulgado.

    Verificase nos dias atuais o poder crescente que a imprensa tem exercida na sociedade mundial, principalmente pela diversificao de sua propagao, bem como pelafacilidade de acesso aos meios de comunicao pela populao de um modo geral.

    Ademais, diante da aparente omisso do Poder Pblico, vem a imprensa ganhando espao social como verdadeiro portavoz dos anseios populares e fiscal da sociedade.

    No se pode afastar tambm a verificao de que, como decorrncia direta dos avanos tecnolgicos, e porque no dizer sociais, houve uma intromisso dos meios decomunicao na vida das pessoas, por vezes violando os direitos da personalidade das pessoas envolvidas no fato a ser divulgado.

    A liberdade de informao essencial numa sociedade que preserve os direitos fundamentais da pessoa humana. O amplo acesso e propagao das notcias pelos meios decomunicao difusores so os pilares para um Estado que se considere Democrtico de Direito.

    Dessa forma, a liberdade de informao deve ser irrestrita, para que a sociedade possa ter amplo conhecimento dos fatos que se passam no meio social.

    Mas o que fazer quando essa liberdade de informao acaba por violar os direitos mais prprios do homem, os direitos da personalidade?

    Como se pode resolver essa situao, tendo em vista que ambos os direitos so fundamentais, e no se pode falar na anulao de um diante do outro, j que ambos gozamde proteo constitucional?

    O Estado Democrtico de Direito tem como um de seus pilares o respeito e a garantia dos direitos fundamentais do homem, entendidos como aquelas prerrogativas einstituies que ele (direito positivo) concretiza em garantias de uma convivncia digna, livre e igual de todas as pessoas.[1]

    Dentre esses direitos fundamentais, encontrase a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade, protegidos constitucionalmente, havendo mecanismos prprios parasua preservao, o primeiro nos artigos 5, inc. XIV, IV, IX e 220, caput, e pargrafo 1, e o segundo no art. 5, inc. V e X da Constituio Federal. Ambos so apersonificao do Principio da Dignidade da Pessoa Humana, erigido categoria de principio constitucional mximo.

    A origem da liberdade de imprensa e dos direitos da personalidade repousa na srie de acontecimentos e movimentos filosficos que invadiram o mundo ocidental no finalda Idade Mdia, incio da Idade Contempornea, e que culminaram com a Carta de Princpios da Independncia Norte Americana e a Revoluo Francesa com a Declaraodos Direitos do Homem e do cidado, de cunho altamente burgus, baseados, principalmente no Iluminismo, tendo o homem como centro do universo, numa visoantropocntrica; no cristianismo, que prega o homem como imagem e semelhana de Deus, ponto de partida para a dignidade do ser humano; e no movimentojusnaturalista, bero da idia dos direitos naturais, como sendo aqueles inatos ao individuo, pelo simples fato de serem seres humanos.

    A concepo da liberdade, como norteadora de toda a individualizao do homem, foi a base para esses direitos fundamentais de 1 gerao, sendo, portanto, direitosindividuais por natureza, onde o homem almeja uma no intromisso do Estado na sua esfera individual, como sabido, uma ao negativa por parte do estado por parte doestado.

    2.1. DIREITOS DA PERSONALIDADE

    Os direitos da personalidade so aqueles imanentes da personalidade humana, ou seja, so aqueles que se constituem pelo simples fato de ser o homem ser humano, narealidade so efeitos do fato jurdico personalidade, como bem atesta o mestre Pontes de Miranda:

    (...) no suporte ftico do fato jurdico de que surge direito de personalidade, o elemento objetivo ser humano e no ainda pessoa: a personalidade resulta da entrada doser humano no mundo jurdico.[2]

    Existem inmeras espcies de direitos da personalidade, at porque as projees que emanam da personalidade, fato jurdico, como j dito, que tem como efeito os direitosda personalidade, no se esgotam to facilmente.

    Dentre eles, algumas espcies merecem aqui destaque por se relacionarem diretamente com a liberdade de informao: a honra, a imagem, a vida privada e a intimidade,pois, costumeiramente, o exerccio da liberdade de imprensa suscita colidncia em especial como o direito honra, imagem e privacidade.[3]

    2.2. LIBERDADE DE IMPRENSA

    A liberdade de imprensa encontra repouso no pensamento que envolve, assim, um primeiro momento interno, em que se forma o pensamento, tanto quanto outro externoem que se manifesta[4], compreendendo a liberdade de pensamento e liberdade de manifestao de pensamento.

    a partir desse instante, em que o individuo manifesta seu pensamento, que nasce a opinio, ou mais propriamente a liberdade de opinio, j que este tem o total direitode propagla. Nesse aspecto, compreendese a liberdade de informao, como grau mximo dessa liberdade de opinio, onde estaria includa tanto a liberdade de informar,direito esse individual por natureza, e a liberdade de ser informado, direito coletivo que tem a sociedade de ficar a par dos fatos sociais, nesse sentido, a liberdade deinformao compreende a procura, o acesso, o recebimento e a difuso de informaes ou idias, por qualquer meio, e sem dependncia de censura, respondendo cada qual

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    pelos abusos que cometer.[5]

    Como assevera Cladio Luiz Bueno de Godoy:

    (...) nesse contexto, em que se garante a liberdade de informao, abrangente do direito a informar e de ser informado, se coloca a liberdade de imprensa. Por meio delase assegura a veiculao das informaes pelos rgos de imprensa.[6].

    Devese ter em mente que nos dias atuais, a imprensa no s restrita ao material impresso, sua abrangncia muito maior, dizendo respeito a todos os meios possveis poronde possa se propagar a informao, passando pelos jornais e peridicos impressos, o sistema de rdio e televiso at o novssimo meio de comunicao, que a internet.

    Na sociedade atual, a imprensa desempenha papel preponderante, refletindose em todas as relaes humanas; hoje no existe fato social que no seja alvo dos meios decomunicao, quer seja pelo aumento considervel da possibilidade de todas as classes sociais terem acesso imprensa, quer seja pela acirrada concorrncia existente entreas empresas que dominam a rea dos meios de comunicao, podese dizer que no h campo da atividade humana que no interesse diretamente imprensa. Enfim, tudoque a pessoa, interessa imprensa. A cobertura jornalstica est em todos os lugares, todo o tempo, de dia e de noite. Em suma, h informao para todos os gostos enecessidades. [7]

    2.3. A COLISO DOS DIREITOS

    Nesse contexto, no resta dvida, existe a possibilidade cristalina do exerccio da atividade de imprensa colidir com os direitos mais ntimos do ser humano, os direitos dapersonalidade, corporificados mais propriamente na honra, imagem, intimidade e privacidade, como j dito anteriormente.

    Ocorre que a situao no de to simples resoluo. Como dito, tanto a liberdade de imprensa quanto os direitos da personalidade so fundamentais do homem, portanto,quando h coliso entre ambos, estarse diante de uma coliso de direitos fundamentais, conforme preceitua J.J Gomes Canotilho:

    (...) de um modo geral, considerase existir uma coliso de direitos fundamentais quando o exerccio de um direito fundamental por parte de seu titular colide com oexerccio do direito fundamental por parte de outro titular.[8]

    Para a soluo do conflito, devese partir do pressuposto de que a Constituio deve ser considerada como unidade, como um todo, portanto no deve existir contradiesdentro dela; deve sim haver uma harmonizao de sues preceitos, constituindo assim o Principio da Unidade da Constituio.

    Sobre esse aspecto, assim aduz Luis Roberto Barroso:

    uma lance de olhos sobre a Constituio de 1988 revela diversos pontos de tenso normativa, isto , de proposies que consagram valores e bens jurdicos que secontrapem e que devem ser harmonizados pelo intrprete.[9]

    Dentro do ordenamento jurdico, encontramos duas espcies de normas: as regras e os princpios, quando as regras encontramse em conflito, apenas uma delas poder serconsiderada vlida dentro do ordenamento jurdico, pois o ordenamento jurdico no tolera a existncia de regras jurdicas em oposio entre si.[10]. Nesses casos, estarse diante de uma antinomia aparente de normas.

    Os critrios para a soluo da antinomia aparente so: o cronolgico, hierrquico e o da especialidade, com base nisso, podese chegar a concluso sobre a validade ouinvalidade da regra. No entanto, esses critrios no podem ser adotados quando se trata da coliso de direitos fundamentais, posto que esses tm o mesmo valorhierrquico, vm expressos em normas contemporneas albergadas na constituio[11], tendo, portanto, o mesmo valor cronolgico, e so normas gerais, no detendoespecialidade.

    Por sua prpria natureza, a coliso de direitos fundamentais se d no mbito dos princpios, j que os direitos fundamentais so outorgados por normas jurdicas quepossuem essencialmente as caractersticas de princpios[12], e esses no se resolvem sobre o critrio do conflito de regras; no h o que se falar em princpios vlidos ouinvlidos, conforme preceitua Edilsom Pereira de Farias:

    (...) verificada, no entanto a existncia de uma autntica coliso de direitos fundamentais cabe ao intrprete aplicador realizar a ponderao dos bens envolvidos,visando resolver a coliso atravs do sacrifcio mnimo dos interesses em jogo[13].

    A soluo da coliso de direitos fundamentais deve ser feita tomando como base o Princpio da Unidade da Constituio, j mencionado, o Principio da Proporcionalidade e oPrincpio da Razoabilidade.

    Baseado nesses princpios, que no caso se dar o equilbrio dos dois direitos postos, impondo limitaes a ambos os direitos, dependendo da situao, como afirma RenAriel Dotti:

    (...) as limitaes reciprocamente impostas no resultam da hierarquia entre as liberdades em conflito posto no ser adequado um critrio de superposio mas dascircunstncias em cada situao concreta.[14]

    3. CONCLUSO

    A coliso entre a liberdade de imprensa e os direitos da personalidade ocorrem constantemente no meio social, visto que a propagao da informao, que tem o homemcomo ponto central, acaba muitas vezes por violar os direitos bsicos do ser humano.

    A sua resoluo no pode passar pelo aniquilamento de um direito sobre o outro, tendo em vista que se tratam de direitos de igual magnitude, a personificao do princpioda dignidade da pessoa humana.

    Portanto, a sua resoluo se faz pela ponderao dos direitos postos em situao de conflito, com base nos princpios da Unidade da Constituio, da Proporcionalidade e daRazoabilidade.

    Referncias bibliogrficas:BARROSO, Lus Roberto. Interpretao e aplicao da constituio: fundamentos de uma dogmtica constitucional transformadora. So Paulo: Saraiva, 1996.BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 7 ed. atual. aum. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2004CALDAS, Pedro Frederico. Vida privada, liberdade de imprensa e dano moral. So Paulo, 1997.CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional. 6ed. rev. Coimbra: Almedina, 1995.DOTTI, Ren Ariel. Proteo da vida privada e liberdade de informao. So Paulo: Revista dos tribunais, 1980.FARIAS, Edilsom Pereira de. Coliso de direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a liberdade de expresso e informao. 2 ed. atual. Porto Alegre:Srgio Antnio Fabris, 2000.FERRAZ JR, Trcio Sampaio. Introduo ao estudo do direito: tcnica, deciso, dominao. 2 ed. So Paulo: Atlas, 1994.GODOY, Cludio Luiz Bueno de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. So Paulo: Atlas, 2001.MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado: parte geral. T. VII. Rio de Janeiro: Borsoi, 1955.NOBRE, Freitas. Imprensa e liberdade: os princpios constitucionais e a nova legislao. So Paulo: Summus, 1988.______. Comentrios lei de imprensa. 3 ed. atual. So Paulo: Saraiva, 1985.SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16 ed. rev. atual. So Paulo: Malheiros, 1998.Notas:[1] SILVA, Jos Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16 ed. rev. atual. So Paulo: Malheiros, 1998, p. 182.[2] MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado: parte geral. T. VII. Rio de Janeiro: Borsoi, 1955, p. 5.[3]GODOY, Cladio Luiz Bueno de. A liberdade de imprensa e os direitos da personalidade. So Paulo: Atlas, 2001, p. 37.[4] Ibidem, ibidem , p.55.[5] SILVA, Jos Afonso da. Op. cit., p. 249.[6]GODOY, Cladio Luiz Bueno de. Op. Cit., p.61[7] CALDAS, Pedro Frederico. Vida privada, liberdade de imprensa e dano moral. So Paulo, 1997, p. 67.[8] CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional. 6ed. rev. Coimbra: Almedina, 1995, p. 643.[9] BARROSO, Lus Roberto. Interpretao e aplicao da constituio: fundamentos de uma dogmtica constitucional transformadora. So Paulo: Saraiva, 1996, p. 183.[10] FARIAS, Edilsom Pereira de. Coliso de direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a liberdade de expresso e informao. 2 ed. atual. PortoAlegre: Srgio Antnio Fabris, 2000 p. 119.[11] Ibidem, ibidem, p. 120.[12] Ibidem, ibidem, 121.[13] Ibidem, Ibidem , p. 122.[14] DOTTI, Ren Ariel. Proteo da vida privada e liberdade de informao. So Paulo: Revista dos tribunais, 1980, p . 181.

    Priscila Coelho de Barros AlmeidaProcuradora Federal Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Alagoas Ps graduada em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Pblico IDP

    Informaes Bibliogrficas

    ALMEIDA, Priscila Coelho de Barros. Breves consideraes sobre a coliso entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade. In: mbito Jurdico, Rio Grande, XIII, n.

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    80, set 2010. Disponvel em: . Acesso em abr 2015.

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