breve tratado de deus, do homem e do seu bem estar

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Filosofia

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  • FILESPINOSA a u t n t i c a

    Baruch de EspinosaBreve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar

    P r e f c io

    Marilena Chaui

    Introduo

    Emanuel Angelo da Rocha Fragoso Ericka Marie Itokazu

    Traduo e notas

    Emanuel Angelo da Rocha Fragoso Lus Csar Guimares Oliva

  • Copyright 2012 Autntica Editora

    TTULO ORIGINAL

    Korte Verhandeling van God, de Mensch en deszelfs Welstand

    COORDENADOR DA COLEO Fll

    Gilson lannini

    COORDENADORES DA SRlE FII/ESPINOSA

    Andr Menezes Rocha, Ericka Marie Itokazu e Homero Santiago

    CONSELHO EDITORIAL

    Gilson lannini (UFOP); Cludio Oliveira (UFF); Danilo Marcondes (PUC-Rio); Joo Carlos Salles (UFBA); Monique David-Mnard (Paris); Olmpio Pimenta (UFOP); Pedro SCissekind (UFF); Rogrio Lopes (UFMG); Rodrigo Duarte (UFMG); Romero Alves Freitas (UFOP); Slavoj liiek (liubliana); Vladimir Safatle (USP)

    TRADUO

    Emanuel Angelo da Rocha Fragoso e Luls Csar Guimares Oliva

    REVISO TCNICA

    Ericka Marie Itokazu

    CAPA

    Diogo Droschi

    PROJETO GRAFICO DE CAPA E MIOLO

    Diogo Droschi

    EDITORAO ELETRNICA

    Conrado Esteves

    REVISO

    Dila Bragana de Mendona

    EDITORA RESPONSVEL

    Rejane Dias

    Revisado conforme Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde janeiro de 2009.

    Todos os direitos reservados pela Autntica Editora, Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida, seja por meios mecnicos, eletrnicos, seja via cpia xerogrfica, sem a autorizao prvia da Editora.

    AUTNTICA EDITORA LTDA.Belo HorizonteRua Aimors, 981, 8 andar Funcionrias 30140-071 . Belo Horizonte . MG Tel.: (55 31)3214 5700

    Televendas: 0800 283 13 22 www.autenticaeditora.com.br

    So PauloAv. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I 11o andar, Conj. 1101 . Cerqueira Csar 01311-940. So Paulo. SP Tel.: (55 11)3034 4468

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Espinosa, Baruch de, 1632-1677.

    Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar / Baruch de Espinosa ; prefcio Marilena Chaui; Introduo Emanuel Angelo da Rocha Fragoso, Ericka Marie Itokazu ; traduo e notas Emanuel Angelo da Rocha Fragoso, Lus Csar Guimares Oliva. - Belo Horizonte : Autntica Editora, 2012. - (Coleo FIL/Espinosa)

    Ttulo original: Korte Verhandeling van God, de Mensch en deszelfs Welstand

    ISBN 978-85-65381-43-7

    1. Filosofia 2. Deus 3. tica 4, Espinosa, Baruch de,1632-1677. Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar I. Chaui, Marilena. II. fragoso, Emanuel Angelo da Rocha. III. Itokazu, Ericka Marie. IV. Oliva, Luls Csar Guimares V. Ttulo. VI. Srie.

    12-07385 CDD-149.7

    ndices para catlogo sistemtico:1. Espinosismo : Filosofia 149.7

  • Sumrio

    7. Prefcio - Breve relato Marilena Chaui

    19. IntroduoEmanuel Angelo da Rocha Fragoso Ericka Marie Itokazu

    Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar47. Prefcio

    49. Primeira Parte: de Deus e de quanto Lhe pertence

    49. Captulo 1: que Deus existe []

    54. Captulo II: o que Deus

    63. Dilogo entre o Intelecto, o Amor, a Razo e a Concupiscncia66. Segundo Dilogo

    70. Captulo III: que Deus causa de tudo

    72. Captulo IV: das obras [aes] necessrias de Deus

    75. Captulo V: da providncia de Deus

    76. Captulo VI: da predestinao de Deus

    79. Captulo VII: dos atributos que no pertencem a Deus

    83. Captulo VIII: da Natureza Naturante

    84. Captulo IX: da Natureza Naturada

    86. Captulo X: o que so o bem e o mal

    89. Segunda Parte: do homem e de quanto lhe pertence89. Prefcio [Segunda parte]

    92. Captulo 1: da opinio, da crena e do saber

    94. Captulo II: o que so a opinio, a crena e o conhecimento claro

    95. Captulo III: origem da paixo. Da paixo vinda da opinio98. Captulo IV: o que procede da crena.

    E do bem e do mal do homem

    101. Captulo V: do amor

    104. Captulo VI: do dio

  • 106. Captulo VII: da alegria e da tristeza

    107. Captulo VIII: da estima e do desprezo, etc.

    109. Captulo IX: da esperana, do medo, etc.

    112. Captulo X: do remorso e do arrependimento

    113. Captulo XI: da zombaria e do gracejo

    114. Captulo XII: da honra, da vergonha e do despudor

    116. Captulo XIII: do apreo, da gratido e da ingratido

    117. Captulo XIV: do pesar; e do bem e do mal nas paixes

    119. Captulo XV: do verdadeiro e do falso

    121. Captulo XVI: da vontade

    125. Captulo XVII: da diferena entre a vontade e o desejo

    127. Captulo XVIII: das utilidades do que precede

    129. Captulo XIX: da nossa felicidade, etc.

    135. Captulo XX: confirmao do anterior

    138. Captulo XXI: da razo

    140. Captulo XXII: do conhecimento verdadeiro, do renascimento, etc.

    143. Captulo XXIII: da imortalidade da mente

    144. Captulo XXIV: do amor de Deus pelo homem

    148. Captulo XXV: dos demnios

    149. Captulo XXVI: da verdadeira liberdade, etc.

    153. [Concluso]

    155. Apndice: Demonstrao geomtrica

    Breve compndio do tratado de Baruch de Espinosa, de Deus, do homem e do seu bem-estar

    165. Breve compndio Johannes Monnikhoff

    173. Glossrio da traduo

  • Prefcio Breve relato

    Marilena Chaui1

    Um manuscrito, naturalmente. Um berto Eco, O nome da rosa

    Haia, fevereiro de 1677. N a vspera de sua morte, ocorrida em21 de fevereiro de 1677, Espinosa reuniu um conjunto de inditos que confiou ao seu mdico e amigo Lodewijk Meijer. Depois que este partiu, o filsofo passou algum tempo queimando papis. O que ter destrudo? Por qu? Talvez nunca venhamos a saber.

    k

    Era o ano de 1703. Os doutores Stolle e Halmann, vindos da Alemanha, visitavam a Holanda em busca de notcias sobre Espinosa. O que os fizera empreender a viagem? Afinal, em novembro de 1677, fora publicada a obra pstuma do filsofo tanto em latim, com o ttulo de B. de S. Opera Posthuma, como em holands, intitulada De Nagelate Schrijten rntt B .d.S , e os dois amigos ntimos de Espinosa, Jarig Jelles e Lodewijk Meijer, organizadores dessas edies, afirmaram haver publicado tudo quanto julgaram digno de valor. O que esperavam encontrar? Teria a curiosidade dos dois viajantes sido aguada por uma

  • passagem do prefacio de Jelles, na qual este sugeria no ser impossvel que se pudesse encontrar jun to aos amigos e conhecidos de Espinosa outros escritos, como, por exemplo, um pequeno tratado sobre o clculo algbrico do arco-ris?

    A viagem foi proveitosa. Chegados a Amsterd, Stolle e Halmann dirigiram-se editora da obra espinosana e ali se encontraram com o filho do editor Rieuwertsz, responsvel pelas edies de 1677. Qual no foi sua agradvel surpresa, relataram eles mais tarde, quando Rieuwertsz filho lhes trouxe um manuscrito, porm no o de um tratado sobre o arco-ris, e sim, vindo da prpria mo de Espinosa, uma tica em holands, prim eira verso da tica em latim, tal com o Espinosa a havia composto inicialmente . O manuscrito no estava redigido em forma geom trica, mas dividido em captulos e desenvolvido de maneira contnua como o Tratado tcolgico-poHtico. Por que no se encontrava nos Opera Posthuma nem nos Nagelate Schrfiten, perguntaram intrigados? Rieuwertsz filho, repetindo o que ouvira de seu pai, o qual lhe dissera o que ouvira de Jelles e Meijer, contou-lhes que estes julgaram que a publicao da tica geom trica tornava dispensvel a do manuscrito holands, simples esboo da obra magna. Assim, em bora os dois amigos do filsofo conhecessem esse manuscrito, nunca fora publicado porque, no dizer de Rieuw ertsz filho, a tica impressa estava m elhor acabada do que a manuscrita e era mais formosa do que esta , um tanto prolixa e de linguagem mais descuidada.

    D o encontro com o livreiro, Stolle e H alm ann propalaram a distino entre a tica latina impressa e seu esboo m anuscrito ou a tica holandesa no impressa . Essa distino acabaria resultando num a confuso: de fato, R ieuw ertsz filho assinalara aos dois visitantes que havia no manuscrito um captulo inexistente na tica impressa, o captulo 21, intitulado Sobre o diabo . Divulgada essa notcia, alguns editores alemes da obra de Espinosa acreditando que a tica h o landesa era um esboo inicial da tica latina , julgaram que faltaria apenas publicar aquele captulo com o um suplem ento para que a obra ficasse completa. O captulo 21 nunca foi publicado, porm , sem que se saiba com o nem por que, da em diante ele foi confundido com o manuscrito, que passou a ser denom inado Tratado sobre o diabo.

    Todavia, uma reviravolta estava para acontecer.

    8 FILESPINOSA

  • C orria o ano de 1851. D e passagem p o r A m sterd, um o u tro estudioso alem o, B oehm er, en con trou na livraria de F. M uller um a cpia holandesa da biografia de Espinosa, escrita p o r K hler (mais conhecido com o C olerus), A verdade da Ressurreio de Jesus Cristo defendida contra B. de Spinoza e seus seguidores, com a vida desse fam oso filsofo, publicada em 1706. A cpia que B o eh m er tinha d ian te dos olhos era m anuscrita, e nela estavam includas as Anotaes de Espinosa ao Tratado teolgico-poltico, e dois outros escritos: um a N ota, que dava cincia da existncia de um m anuscrito de um a obra espinosana no publicada e um Compndio ou sum rio do seu contedo .

    R etom ando alguns pontos do relato que, tem pos antes, haviam feito Stolle e H alm ann, dizia a N ota:

    Nas mos de alguns amantes da filosofia, conserva-se um Tratado manuscrito de Espinosa, que, em bora no esteja com posto em forma geomtrica com o sua tica impressa, entretanto contm os mesmos pensamentos e argumentos. Por seu estilo e po r sua construo, fcil ver que se trata de uma das primeirssimas obras do autor, que dela se serviu com o u m esboo de seu pensamento para com por sua tica. Ainda que esta contenha as mesmas coisas, porm mais elaboradas e extensas, em ordem geom trica, todavia, sendo o m todo m atem tico m uito raro e inusitado em metafsica e poucos os hom ens nisso especialistas, torna-se muito mais obscura para a maioria do que este Tratado, do qual apenas o incio do Apndice, num a pequena parte, est composto segundo essa ordem [...] Alm dessa obra, tam bm esto em meu poder diversas Anotaes e adies de Espinosa a vrios lugares do Tratado teolgico-poltico, que acrescentaremos aps a biografia, depois de darmos um Compttdio brew do tratado manuscrito acima mencionado.2

    Em 1852, ainda que ignorando quem seria o au to r da N ota e do Compndio breve, B oehm er os publicou em sua verso orig inal h o lan desa, acom panhados de um a traduo em latim . F undado nos textos da nota e do sum rio, B oehm er teceu com entrios em que salientava a

    2 E. Boehmer Benedicti de SpinozaTractatus de l)eo. Apud Fillipo Mignini Introdu- zione, Brciv iMltato su Dio, 1'Uomo v il suo fofir. Japadre Edittore, Uuquila, 1986, p. 14.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS. 0 0 HOMEM E 0 0 SEU BEM-ESTAR 9

  • influncia de Descartes 11a teoria espinosana das paixes e considerava o Apndice geomtrico do tratado manuscrito idntico ao conjunto de oito proposies da verso da Etica que Espinosa enviara a O ldenburg em setembro de 1661, inferindo disso que o manuscrito deveria estar escrito nessa poca. Alm de ser o primeiro a propor uma data para a composio do manuscrito, Boehmer inferiu do sumrio que o texto original de Espinosa havia sido escrito em latim e no em holands, pondo em questo a existncia de uma Etiaj em holands redigida pelo filsofo.

    Ora, logo depois da publicao de Boehmer, eis que, em Amsterd, o livreiro Muller arremata num leilo uma pasta contendo um volume intitulado Bcnedicii/Nagelate, que no era seno o primeiro volume dos Nagelate Schrifteii de 1677, mas, agora, contendo em manuscrito um longo Prefcio sobre a vida e a obra de Espinosa (como seu autor se referia reconstruo da casa da famlia de Espinosa, ocorrida em 1743, o prefacio deve ser posterior a essa data). Ali estavam tambm as Anotaes de Espinosa ao Tratado teolgico-poltico e um novo Compndio ou sumrio do Tratado manuscrito. Porm, mais importante, ali se encontrava, finalmente, uma cpia em holands do texto completo desse tratado.

    Pondo-se de acordo com M uller e afastando-se da opinio de Jelles e Meijer, o grande especialista em Espinosa,Johannes vanVloten decidiu publicar um suplemento obra espinosana, imprim ir o Tratado manuscrito e oferec-lo aos leitores que, assim, poderiam conhecer as vrias maneiras como a tica havia sido elaborada .

    A descoberta, porm, no estava terminada. Seu ponto culminante aconteceria exatamente quando vanVloten finalizava a preparao do Supplementum.

    O poeta e jurista de Roterd, Adriaan Bogaers, anunciou que possua um segundo manuscrito, redigido na caligrafia e no estilo dos textos holandeses da segunda metade do sculo XVII, colocado num volume onde se lia que os textos de Espinosa ali apresentados eram tradues para o holands de textos escritos em latim. Eram eles o Tratado teolgico-poltico acrescido das Anotaes e um manuscrito que no mais era denominado de maneira indefinida com o Tratado manuscrito, mas trazia um ttulo preciso: Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar - Korte Verhandeling van God, de Mensch, en deszkvs Welstand.

    10 filSespinosa

  • VanVloten examinou esse segundo m anuscrito e observou que trazia anotaes e correes gramaticais escritas pela mesma m o que copiara o manuscrito do sculo XVIII, adquirido p o r M uller, e concluiu que o copista desse manuscrito conhecera e utilizara o do sculo XVII. C onsiderando o m anuscrito do sculo X V III m elhor acabado e elegante, decidiu m anter sua publicao, ainda que reco rrendo em certos casos ao seiscentista, aceitando seu ttulo c a afirm ao, en co n trada em seu prefcio, de que a redao orig inal fora feita em latim e, portanto, que os dois m anuscritos eram tradues holandesas de um original latino at ento no encontrado. Em 1862, foi finalm ente publicado o Supplementum obra de Espinosa co n ten do o Clculo algbrico do arco-ris, o Clculo de probabilidades, algumas cartas ind itas, o novo Compndio breve e, em holands e latim , o Breve tratado, conform e o m anuscrito do sculo X V III. O m anuscrito do sculo XVII precisou aguardar at 1869, quando teve sua p rim eira edio, publicado por Schaarschmidt.

    Desde ento, o manuscrito do sculo XVII (possudo por Boergers) seria denom inado M anuscrito A e o do sculo X V III (adquirido por Muller), M anuscrito B. Mais de um sculo depois de suas prim eiras publicaes, em 1986, ao publicar a prim eira edio crtica do M anuscrito A ou o Breve tratado propriam ente dito, com anlises filolgicas, estilsticas e histricas, Filippo M ignini3 organizou o co n ju n to dos textos que com pem a histria dessa obra do jovem Espinosa, cujo original latino continua perdido. Designou o Compndio m encionado por Boehm er, Compndio x, e o do volum e adquirido p o r M uller, Compndio a . 4

    Antes de indagar sobre as cpias do Breve tratado e os demais textos que o acom panharam ao longo do tem po, precisamos indagar por

    ' Trata-se de unia edio bilnge holands/italiano. Mignini seguiu o manuscritoA. Korte Verluindeling vau God, de Meusch, en deszlevs YVelstand/Brrvc Tmttato su Dio, 1'Uomo e il suo bene. Introduziam, ediziane, traduziam e conimento. Japadre Editore, l/Aquila. 1986.

    4 H, portanto duas verses do manuscrito e duas do compndio. H trs cpias do manuscrito: manuscrito A com a; manuscrito B com x; e manuscrito A, sem compndio.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS. DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 11

  • que Boehmer e vanVloten,1 no sculo XIX, c Gebhardt' e Mignini, no sculo XX, afirmaram ser o Breve tratado um texto redigido em latim por Espinosa.

    Essa afirmao , na verdade, uma tomada de posio numa polmica em torno do manuscrito, originada por uma passagem da Nota, na qual se afirma que Espinosa ditou em holands o texto. Este teria sido um conjunto de aulas que o filsofo teria ministrado em holands aos seus amigos (o Crculo de Espinosa7) e que um deles teria redigido. Muitos estudiosos da obra espinosana aceitaram essa verso, alegando, entre outros argumentos, a construo do texto que, em sua opinio, seria fragmentado, pouco ordenado, como atestam, de um lado, a presena de dois dilogos inseridos entre os captulos 2 e 3 da primeira parte, e a existncia de um Apndice geomtrico, uma espcie de tentativa para organizar a exposio precedente.

    No entanto, como alegaram Boehmer, van Vloten, Gebhardt e Mignini, essa opinio inaceitvel. Na verdade, ela contrariada por cinco fatos: em primeiro lugar, nao podemos esquecer que, em algumas de suas cartas, Espinosa lamenta no dominar a lngua holandesa vendo-se, por isso, compelido a dirigir-se aos seus correspondentes em latim; em segundo, quando ministrou aulas a um aluno particular (Casearius) sobre a filosofia escolstica e a cartesiana, o fez em latim e assim as publicou (Princpios da filosofia cartesiana e Pensamentos metafsicos); em terceiro, a Nota, ao sugerir que o texto havia sido um ditado,

    5 VanVloten e Gebhardt so os dois principais editores da obra completa de Espinosa. Benedicti de Spinoza Opera quotquot reperta sunt, org.J. Van Vloten et J. P. N. Land, Editio Tertia, Hagae C om itum , apud M . Nijhoff, 1914.

    6 Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften he- rausgegeben von Carl Gebahardt. Heidelberg, CarI W inter, 1925. 2. Auflage Heidelberg, 1972. 4 Bande.Spinoza Opera V. Im Auftrag der Heidelberger Akademie derWissenschaften heraus- gegeben von Carl Gebhardt. Heidelberg, Carl Winter, 1987.

    7 Essa expresso foi cunhada por K. O. Meinsma numa obra clssica Espinosa e seu crculo. Spinoza en zijn Kring. Historisch-Kritsche studien over hollandsche urijgeesten. Haia, M. Nijhoff, 1896, Spinoza et son cercle. tude critique et historique sur les htrodoxes hollandais. Traduit du neerlandais par S. Roosenburg. Appendices latins et allemands traduits par J. V. Osier. Paris,Vrin, 1983.

    12 FILESPINOSA

  • contradiz o que Espinosa afirma expressamente na concluso do tratado, onde lemos: aos amigos para quem escrevi , alm de contradizer o prefcio do Manuscrito A, que afirma que o tratado foi escrito em lngua latina para uso de seus discpulos [...] agora traduzido para a lngua holandesa para os amantes da verdade ; em quarto, as anlises filolgicas e estilsticas indicam a forte presena de latinismos que o tradutor holands certamente praticou para se m anter o mais prxim o possvel do texto original; e, finalmente, em quinto, o prefcio ao volume no qual o Manuscrito A foi encontrado diz textualm ente que as duas obras ali presentes - o Tratado teolgico-poltico e o Breve tratado eram tradues holandesas de textos em latim. A posio hoje aceita pelos estudiosos da obra espinosana , portanto, de uma redao em latim, feita diretamente por Espinosa e traduzida para o holands por um de seus amigos, provavelmente Johannes Bouwm eester ou Pieter Balling.

    Mas, quem foram os copistas de A e B? Q uando foram feitas as cpias? Q uem redigiu a Nota e o Compndio (x), publicados por Boehmer, e o segundo Compndio (a), publicado por vanVloten?

    Era o ano 1865. Antonius van der Linde,8 com base em estudos filolgicos e comparaes caligrficas entre manuscritos autgrafos, fz aparecer finalmente o nome do copista do M anuscrito B: o cirurgio de Amsterd, Johannes M onnikhoff, ao qual foi atribuda a autoria da Nota, do Compndio x e do Compndio a (os dois sumrios so idnticos, a nica diferena entre eles encontrando-se numa advertncia final, em a , ao declarar que o texto espinosano original fora escrito em latim e traduzido para o holands). Alm disso, foi possvel determ inar que M onnikhoff copiara o manuscrito A, pois a mesma mo que redigira o M anuscrito B fizera anotaes marginais, correes gramaticais e pequenos comentrios ao Manuscrito A. Por que M onnikhoff se deu ao trabalho de copiar um indito de Espinosa? Alguns julgam que foi a maneira pela qual tentara defender seu amigo W illem D eurhoff e o editor de sua obra, van den Velde, processados, em 1743, sob a acusao de ideias espinosistas. Outros, porm, afirmam que tanto M onnikhoff como D eurhoff nada tinham de

    H Devemos a van der Linde a primeira compilao dos livros da biblioteca de Espinosa e dos estudos publicado sobre a obra do filsofo. Van der Linde, A. Benedktus Spinoza, Bibliognifie. (1870). Nieuwkoop, B. de Graaf, 1965.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS. DO HOMEM E 00 SEU BEM-ESTAR 13

  • espinosistas (defendiam a transcendncia de Deus e a imortalidade da alma) e,possivelmente, o primeiro defendeu o segundo fazendo entrar nas atas do processo uma cpia de um tratado de Espinosa que comprovaria o no espinosismo do amigo. Quem h de saber?

    Sem dvida, muito mais instigante o mistrio que envolve o Manuscrito A, considerado o nico autntico e do qual o Manuscrito B uma verso literria setecentista.

    Os dois manuscritos possuem exatamente o mesmo contedo, esto divididos em duas partes com captulos, em ambos h dois dilogos e dois apndices, um prefcio Parte II e notas de rodap. Todavia, conforme descrio de Mignini, o Manuscrito A tem o toque de duas mos diferentes ou de duas caligrafias (a original, que alterna letras gticas e cursivas, mo segura, uniforme e clara, e a de Monnikhoff, mais rpida e descuidada nos trechos longos e muito esmerada nas correes da primeira cpia), alm de acrscimos feitos por M onnikhoff (um retrato de Espinosa, duas poesias dedicatrias, ttulos que faltavam 110 alto de umas vinte pginas). No entanto, nem o dpo de papel nem a letra do primeiro copista permitem determinar quem foi ele nem estabelecer uma data precisa na segunda metade do sculo XVII.

    Explica-se, assim, por que durante longo tempo prevaleceu uma certa desconfiana com respeito ao Breve tratado, levando sua desvalorizao no conjunto da obra de Espinosa. Rascunho abandonado, esboo juvenil marcado pelo neoplatonismo renascentista, texto desordenado e descuidado, original perdido, traduo que pode ter deformado pensamento do filsofo: ofuscado pela grandeza da tica, no faltaram suposies para dar ao tratado um lugar secundrio e deix-lo praticamente abandonado nos trabalhos de comentrio e interpretao da obra espinosana. Como seria de outro modo, visto Jelles e Meijer terem declarado que haviam publicado tudo o que era digno de valor?

    Comecemos, porm, lembrando que, escrito antes da tica, o Breve tratado pertence ao perodo em que Espinosa vivia em Amsterd e Rijnsburg, isto , na poca de constituio e florescimento do Crculo de Espinosa, entre 1656 e 1662.

    Lembremos tambm sua circunstncia.' Num a Holanda politicamente dividida entre republicanos e monarquistas, diviso que se expressava nas lutas religiosas entre calvinistas arminianos tolerantes

    14 FILESPINOSA

  • e gomaristas intolerantes, o Crculo de Espinosa reunia hom ens que buscavam uma religio compatvel com a razo, tolerante, tica, liberada da instituio eclesistica, a maioria deles vinda de uma dissidncia arminiana, os Colegiantes. O Crculo com punha-se de um grupo heterogneo de Colegiantes: msticos, como Jarig Jelles e Pieter Balling, cientistas e filhos de burgueses, como Johannes Hudde, Simon deVries e Johannes Bouwmeester, racionalistas cartesianos, com o os mdicos Lodewijk M eijer e H erm ann Boerhaave, racionalistas hobbesianos, como o mdico, advogado e poeta Adriaan Koerbagh. Cada um deles interpretava o pensamento espinosano segundo as opes religiosas e filosficas que haviam feito. Assim como o Tratado teolgico-poltico exprime a posio poltica republicana e democrtica de Espinosa, assim tambm o Breve tratado exprime a busca de um dilogo entre o filsofo da imanncia e seus amigos msticos, uns, e racionalistas, outros.

    A circunstncia poltico-religiosa e filosfica da Holanda seis- centista ilumina o contedo e o escopo do Breve tratado, que prope encontrar uma via racionalista para os grandes temas religiosos que preocupam seus amigos mais prximos (providncia divina, predestinao, o bem e o mal, livre-arbtrio, pecado, diabo, salvao). Isso explica o papel dos dois dilogos, que, inseridos na clssica linhagem da discusso maiutica, convidam os leitores a buscar um cam inho seguro para enfrentar os debates impostos pela tradio metafsica e teolgica. Com efeito, o Breve tratado possui uma dimenso pedaggica que no encontramos nas demais obras do filsofo. Dirige-se a um grupo de cristos protestantes, defensores da tolerncia religiosa, da nova cincia da natureza e, como o prprio filsofo, formados ni> caldo da cultura filosfica holandesa do sculo XVII, isto , pela obra de Descartes e pelo renascimento das filosofias estoica e epicurista, contrapostas hegemonia universitria da Escolstica. Para esse seleto grupo de amigos, sinceramente interessados no conhecim ento verdadeiro e dedicados busca da liberdade e da felicidade, Espinosa precisa, com pacincia e cuidado, ensinar outra maneira de pensar que, sem ofender a religiosidade de uns e o cartesianismo de outros, os conduza rum o a um pensam ento inteiramente novo que subverte as tradies religiosas e filosficas.

    Por isso mesmo o ncleo do tratado ser exatam ente aquele que encontraremos na lltica. Nele encontramos, na ontologia, a crtica do

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 15

  • antropocentrismo e do antropomorfismo com a exposio da unicidade substancial e da causalidade imanente necessria (ou a imanncia da natureza naturante natureza naturada), a distino entre os atributos divinos (pensamento e extenso) e as propriedades que a imaginao costuma afirmar da essncia divina (bondade, perfeio, justia), a demonstrao de que s existem coisas e essncias singulares e que o homem um modo singular da substncia, definido como um corpo existente do qual a alma ou a mente ideia; na teoria do conhecimento, a distino entre as maneiras de conhecer, o lugar ocupado pela opinio na formao das paixes, e o lugar da razo e da intuio na formao das aes e das ideias verdadeiras; na tica, a redefinio do bem e do mal, a crtica da confuso entre liberdade e livre-arbtrio, a afirmao da livre-necessidade, a definio da felicidade com o am or intelectual de Deus, que libera o hom em das paixes e o salva pela verdadeira liberdade.

    Todavia, se o ncleo das duas obras idntico, suas diferenas no se reduzem ao modo de exposio - geomtrica a impressa, por captulos, a manuscrita - nem maneira como os temas religiosos aparecem em cada uma delas - tolerncia religiosa, na manuscrita, crtica radical da superstio, na impressa. Dentre as diferenas mais significativas, podemos assinalar, em primeiro lugar, o aumento da preciso conceituai na exposio da ontologia, isto , a clara diferenciao entre substncia e atributo; em segundo, com o desenvolvimento da teoria do conatus, uma distino mais incisiva entre passividade e atividade pela determinao da diferena de suas causas (ou os conceitos de causa inadequada e causa adequada); em terceiro, uma nova organizao do conjunto das paixes sob sua matriz, isto , a trade alegria, tristeza e desejo; em quarto, um tratamento mais alongado e conceitualmente mais preciso da servido e da liberdade; em quinto, a demonstrao de que a intuio no um contato imediato com um contedo verdadeiro, mas a apreenso direta da multiplicidade simultnea de afces corporais, de suas ideias e das ideias dessas ideias em sua conexo necessria com a potncia da substncia absolutamente infinita, isto , Deus.

    N o entanto, tais diferenas so justamente o que fazem a im portncia e o interesse do Breve tratado, que merece ser lido e com preendido como autntica filosofia espinosana, e no foi gratuita a opinio

    16 FIIESPINOSA

  • cie RieuwtTtsz filho quando explicara a Stolle e H alm ann que havia duas ticas: a tica impressa em latim e a tica manuscrita em holands, esboo da primeira.

    Mas, se assim , resta um enigm a. C o m efeito, se o Breve tratado apenas a Etica holandesa , um m ero esboo, en to por que um escrito latino teria sido traduzido para o holands se, d iferen tem ente do Tratado teolgico-poltico, po r exem plo, no estava destinado p u blicao, e no o publicaram Jelles e M eijer? O ra, se nos lem brarm os de que Espinosa o escrevera para seus am igos mais ntim os, terem os uma pista para com preender p o r que o m anuscrito latino foi trad u zido para o holands: Jarig Jelles no conhecia latim , e a traduo foi destinada a ele.

    E foi assim que, de Jelles, o Tratado manuscrito passou a R ieuw ertsz pai e filho, destes, ao livreiro van der Velde, em cuja livraria M onnikhoff o copiou, at que, no sculo seguinte, a cpia de M onn ik ho ff fosse parar na pasta que M uller arrem atou num leilo, enquanto a cpia de R ieuw ertsz/van der Velde fosse cair nas mos de Boegers com o ttulo de Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar.

    Peripcias de um manuscrito, naturalm ente .

    So Paulo, m aro de 2012

  • Introduo

    Emanuel Anseio da Rocha Fragoso Ericka Maric Itokazu*

    Em Amsterd, no dia 24 de novembro de 1632, nasce Baruch de Espinosa. Filho de judeus portugueses das cercanias de Beja, Baruch de Espinosa vive em Amsterd at os 23 anos, quando excludo da com unidade judaico-portuguesa por determinao do herem (excom unho) lido publicamente pelo rabino da congregao Talmud Torah, em 26 de julho de 1656:

    Por sentena dos anjos, pelo juzo dos santos, ns, irmos, expulsamos, amaldioamos e imprecamos contra Baruch de Spinoza com o consentimento do santo Deus e o de toda essa comunidade [...] com o antema lanado por Josu contra Jeric, com a maldio de Elias aos jovens, e com todas as maldies da lei. Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja ao levantar-se e maldito seja ao deitar-se, maldito seja ao sair e maldito seja ao regressar. Q ue Deus nunca mais o perdoe ou o aceite; que a ira e a clera de Deus se inflamem contra esse homem, e que seu nome seja riscado do cu e que Deus, para seu mal, exclua-o de todas as tribos de Israel. Ordenamos que ningum mantenha com ele comunicao oral por escrito, que ningum lhe preste favor algum, que ningum permanea sob o mesmo teto que ele, que ningum se aproxime dele a menos de quatro cvados de distncia e que ningum leia uma obra escrita ou concebida por ele.

    N o m esm o ano de sua excom unho, Espinosa decide m udar-se para R ijnsburg , posterio rm en te V oorburg e, finalm ente, para H aia,

    * Emanuel Angelo da Rocha Fragoso professor de tica tia Universidade Estadual do Cear e editor da Revista Ccnatus - Filosofia de Spinoza, e Ericka Marie Itokazu doutora em Filosofia pela Universidade de So Paulo e membro fundador do Grupo de Estudos Espinosanos da USP.

    19

  • cidade em que padece tsico e vem a falecer em 21 de fevereiro de 1677. Expulso pela comunidade judaica e perseguido pelas autoridades catlicas, filsofo cujas obras constavam na proibio do Index, Espinosa era sobretudo cauteloso com a divulgao de seus escritos, tal com o anuncia o ltimo pargrafo do Brcw tratado:

    (...) resta-me apenas dizer algo aos amigos para quem escrevo: (...) E como no desconheceis a disposio do sculo em que vivemos, rogo-vos encarecidamente que seja is muito cuidadosos na comunicao dessas coisas a outros. No quero dizer que devais guard-las inteiramente para vs, mas somente que, se comeardes a comunic-las a algum, no tenhais outro propsito nem outros mveis que a salvao de vosso prximo, assegurando-vos junto a ele que vosso trabalho no seja em vo.

    Os textos de Espinosa passavam de mo em mo, eram copiados pelos muitos amigos e discutidos entre o crculo de sua amizade, textos e cartas guardados s chaves com bastante prudncia, porm nunca proporcional ao tem or das autoridades que proibiam a circulao de suas ideias, tal a fora revolucionria de sua filosofia. Para utilizar as palavras de Jonathan I. Israel, de fato, ningum mais durante o sculo 1650- 1750 nem rem otam ente chegou a rivalizar a notoriedade de Espinosa como o principal desafiante dos fundamentos da religio revelada, ideias herdadas, tradio, moral e o que era ento considerado em todos os lugares - tanto nos Estados absolutistas com o no-absolutistas - com o autoridade poltica divinamente constituda .9 Eis por que, ao longo destes quase quatro sculos aps seu nascimento, narram -se muitas buscas pelos escritos deste filsofo, dentre as quais foram j descobertas algumas cartas, textos no publicados, manuscritos e tradues, antigas edies desaparecidas. Derivadas de tais descobertas, tam bm muitas controversas discusses entre os estudiosos decorreram , ora acerca do reconhecim ento de sua autoria, ora do estabelecimento de quem seria o copista, ou ainda, sobre a datao e a cronologia das redaes dos textos. Certam ente, ainda muito h por encontrar e pesquisar, o que se

    9 ISRAEL, J. I. Iluminismo radical. A filosofia e a construo da modernidade. 1650-1750, Parte l A ascenso do radicalismo filosfico, p. 197, Madras: So Paulo, 2009. (1. ed. 2001).

    20 FIIESPINOSA

  • comprova no exemplo da recente descoberta, em 201 1, na biblioteca do Vaticano, de um m anuscrito da Etica em latim at en to desconhecido.

    Atualmente podem os afirmar que em seus 44 anos de vida, nosso autor seguramente escreveu oito obras: Breve tratado de Deus, do homem c do seu bem-estar (KV), Tratado da correo do intelecto (TIE), Princpios de

    filosofia cartesiana (PPC), Pensamentos metafsicos (CM ), Tratado teolgico- pollico (TTP), tica - Demonstrada em ordem geomtrica (E), Tratado poltico (TP) e Compndio de gramtica da lngua hebraica (CG). A essas obras, p o demos acrescentar sua Correspondncia (Ep),que com preende atualm ente 88 cartas, 50 suas e 38 de seus correspondentes. Desse conjunto, restaram inacabadas quatro obras, dentre as quais, um dos seus prim eiros escritos, o Tratado da correo do intelecto; um curso que ministrou aos seus am igos sobre a filosofia cartesiana, os PPC; um escrito que a vida no lhe perm itiu concluir, o Tratado poltico, e o Compndio de gramtica da lngua hebraica.

    Em vida do filsofo, foram publicados apenas os P P C , com os C M em apndice, em 1.663, e o Tratado teolgico-poltico, em 1670; p o rm, para evitar perseguies ao seu autor, este ltim o foi publicado anon im am ente e com local de im presso falso (H am b u rg i) ,10 um a (des)informao que certam ente auxiliaria na proteo do seu bastante am igo e ed ito r Jan R ieuw ertsz (1617-1687), que vivia e trabalhava em Amsterd, onde, de fato, fora im presso o T T P . A lm desses textos citados, P ierre Bayle (1647-1706), no verbete Spitw za de seu Dicionrio histrico e crtico," faz m eno a u m texto, a Apologia, no qual Espinosa justificaria a sua rup tura com a Sinagoga, escrito no m esm o ano de sua excom unho, e que m uitos com entadores d efend em talvez ser seu nico escrito em portugus, lngua m aterna de Espinosa, p o rqu e em resposta ao herem e com unidade portuguesa de Am sterd. Bayle, contudo, sups o tex to ter sido escrito em espanhol,1- e, alm deste, m enciona tam bm dois outros textos dos quais ainda hoje se discute se so ou no de sua autoria: Clculo algbrico do arco-ris e o Clculo de

    10 APPUHN, 1964, CEuvres l, Notice reiittive au CourcTrait. p. 13. nota 2." BAYLE, 1983, p. 22.12 Appuhn nos fornece o provvel ttulo, Apologia para justificarse de su abdicadn de La

    Synagoga (1964,CEuvres \,Notice rrlariirau CourtTrait.p. 13, nota 1), porm Joaquim de Carvalho questiona se essa obra teria sido realmente redigida em espanhol, pois o prprio termo Apologia, tambm pode ser portugus (1981, p. 373, nota 17).

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, DO HOMEM E DO SEU BEM ESTAR 2 1

  • probabilidades.1' Johann Nic. Khler ou Colerus (1647-1707) por sua vez, menciona uma traduo do Velho lstam ento para o holands, que teria sido jogada ao fogo pelo prprio Espinosa."

    E tambm Colerus que, em sua biografia de Espinosa,ls afirma que o filsofo deixou instrues precisas em caso de sua morte ao seu hospedeiro, o senhor Hendrik van der Spyck, para enviar a sua escrivaninha, onde as cartas e os papis que Espinosa no queimara eram mantidos trancados, para o mesmo amigo e impressor amster- dans que publicou o TTP, Jan Rieuwertsz. Ao fim do ano de sua morte, seus amigos publicam as obras de Espinosa, em dupla edio, latina e holandesa - Opera Posthuma (OP) e Nagelate Schriften (NS) - com os textos da tica, do TP, do T1E, 75 cartas e a CG (esta ltima no publicada na edio holandesa). Nesse mesmo perodo, j se anunciava que ainda faltavam textos do filsofo e que as Opera Posthuma no compunham, portanto, a sua obra completa, tal com o avisam os editores no prefcio da OP: Isto tudo o que de algum valor conseguimos reunir de seus papis pstumos e de algumas c pias, que estavam nas mos de seus amigos e conhecidos (ex adversariis et quibusdam apographis). Cr-se que nas mos de uns e outros ainda haja algo (absconditum) de nosso escritor, que aqui no se encontrar. Talvez haja um pequeno escrito do arco-ris... .16

    13 DOM NGUEZ. In: Breve tratado, 1990, p. 262, nota 277 e p. 266, nota 285.14 Ele tambm havia comeado uma traduo do Velho Testamento para o holands,

    sobre a qual manteve freqentes conversaes com pessoas sbias em idiomas, informando-se sobre as explicaes que os cristos davam s diversas passagens. J havia muito tempo que ele tinha acabado os cinco livros de Moiss, quando, poucos dias antes de sua morte, lanou toda esta obra ao fogo em seu quarto (COLERUS, 1706, p. 131-132).Tambm pode ser consultada a traduo da biografia de Colerus em: COLERUS,Jean. Vida de Spinoza: por Colerus. Traduo de Emanuel Angelo da Rocha Fragoso. Disponvel em: < http://www.benedictusdespinoza.pro. br/4939/15139.html>. Acesso em: 26 set. 2011.

    15 Entretanto, o hospedeiro de Spinoza, o senhor Hendrik van der Spyck, que est ainda pleno de vida, testemunhou-me que Spinoza havia dado ordem de que imediatamente depois de sua morte se enviasse a Amsterd, a Jean [Jan] Rieuwertsz, impressor da cidade,sua escrivaninha onde suas cartas e papis estavam trancados; o que van der Spyck no deixou de executar, segundo a vontade de Spinoza (COLERUS, 1706, p. 114). Essas instrues foram efetivamente cumpridas, conforme atesta ainda Colerus, citando a carta enviada por Rieuwertsz a van der Spyck, de 25 de maro de 1677 (1706,p. 114-115), na qual reconhece ter recebido o mvel.

    16 Apud DOMNGUEZ, 1988, Introd, p. 20-21.

    2 2 FILESPIN0SA

  • A d e sc o b e r ta d o B reve tratadoDiferentemente dos escritos inditos dos quais era possvel encontrar

    a notcia por algum relato testemunhai (os escritos sobre o arco-ris, o clculo de probabilidades e a traduo doVelhoTestamento e a Apologia), a aluso existncia do Breve tratado no se tornou conhecida antes do sculo XIX. A histria desta obra, segundo Charles Appuhn, inicia-se com a busca empreendida pelo erudito alemo ChristophorusTheophilus de Murr (1733-1811) para encontrar os manuscritos dos textos de Espinosa no inclusos na O P /N S de 1677. Em especial, o texto da Apologia, at hoje ainda nao encontrado e almejado pelos pesquisadores, por nele vislumbrarem possibilidades ou, por assim dizer, pistas, para a construo de uma proto-histria do Tratado teolgico-poltico. Embora frustrada a busca pela Apologia, Murr quem nos fornece informaes sobre o que posteriormente seria reconhecidamente a primeira indicao da existncia do Breve tratado. Em sua empreita, Murr encontra,junto a papis que pertenceram famlia do amigo e editor Jan Rieuwertsz, o texto latino das notas de Espinosa sobre oTTP e,ao public-las em 1802,noticia algo curioso sobre a tica, informando que teria sido redigida primeiramente em holands e somente depois teria sido traduzida para o latim, retirando da verso latina um captulo em que comentaria algo sobre o diabo (1802, p. 14). Murr no menciona a fonte. Ora, de onde teria tido conhecim ento de tal informao? E aqui retomaremos alguns dos fatos analisados por Marilena Chaui no Prefcio desta edio, detalhando-os agora sob a perspectiva de reconstruo da polmica em torno da descoberta do Breve tratado.

    A fonte primria desta referncia de uma tica em holands na qual se inclui um captulo sobre o diabo, tal com o confirma Appuhn, tem origem numa publicao de Gottlieb Stolle ou, ainda, no que Atilano D om nguez denomina a pr-histria do Breve t r a t a d o numa viagem pela Holanda realizada por dois estudiosos alemes, Gottlieb Stolle (1673-1744) e Hallmann ou H allemann17 (no h referncia ao sobrenome), realizada entre 1703-1704, com o intuito de encontrar

    17 Para Carl Gebhardt, trata-se do filho do jurista Johann Christian Hallmann (1972, v. 1, lextgestaltung, p. 409). J K. O. Meinsma cita apenas Stolle. que em 1703 ao empreender uma viagem atravs da Holanda, foi encarregado por seus amigos, entre os quais se inclua Christian Thomasius (1655-1728) - opositor vigoroso da difuso do spinozismo na Alemanha - de recolher toda informao possvel acerca da vida de Espinosa (1983, p. 3 e p. 15, nota 5*).

    23

  • notcias sobre Espinosa por pessoas que o tinham conhecido ou que poderiam fornecer alguma informao nova sobre ele, por exemplo, o filho de Jan Rieuwertsz (1990, nota 2, p. 211). Stolle escreveu um relatrio dessa viagem, uma espcie de jornal, cujos fragmentos foram publicados por G. E. Guhrauer e do qual Freudenthal (1839-1907), em seu livro Die Lcbensgeschichte Spinoza fs, citou algumas passagens.IS Dada a importncia do relato do encontro de Stolle com Rieuwertsz filho para a histria do Breve tratado, ns o reproduzimos a seguir:

    Ele [Rieuwertsz filho] apareceu ainda com outro manuscrito que seu pai tinha igualmente transcrito, mas da prpria mo de Spino- za. Este manuscrito era a tica, uma tica em holands, idioma no qual Spinoza a tinha de incio redigido. Esta tica era totalmente diferente daquela que foi impressa: em vez de estar toda desenvolvida segundo o mtodo matemtico, mais difcil [per difficiliorem methodum matheiuaticatu], estava toda dividida em captulos e (sem a prova artificial de cada coisa [ohnc probatio singulariuin artifidosa]), o raciocnio estava disposto em srie contnua [continua &?ne],como no Tratado teolgico-politico. Rieuwertsz assegurou tambm que na tica impressa a exposio estava muito melhor do que nesta manuscrita; mas tambm reconheceu que nesta ltima havia algo que no havia na impressa. Ele assinala em particular um captulo (que ocupava o lugar 21) de diabolo,do qual no se encontra nada na tica impressa. Neste captulo Spinoza trata da questo da existncia do diabo [de existentia Diaboli], examinando inicialmente a definio de que um esprito contrrio essncia divina e que tira sua essncia de si mesmo [quod sit spiritus essentiae divince contrarius et qui essentiam suam per se habet],ec\e [Spinoza] parece negar a existncia do diabo. Alguns amigos de Spinoza teriam, segundo o que disse Rieuwertsz, copiado este escrito; mas no teria sido jamais impresso, porque h uma bela edio da obra em latim, mais organizada, enquanto que o tratado deixado por imprimir estava redigido de uma forma bem mais livre. Este manuscrito constava de umas 36 folhas e era um pouco prolixo. De resto, me mostrou tambm o manuscrito da verso holandesa do Tratado teolgico-politico, do qual o autor se ocupava (apud D o m n g u e z , Introd., 1990, p. 8-9).

    18 FREUDENTAL, 1899, p. 227-228.

    2 A FILESPINOSA

  • Alguns anos depois de sua viagem , em 1718 (W olf, 1910, p. civ), Stolle publica um livro intitulado Curta introduo histria da erudio,'9 no qual descreve o texto de Espinosa conform e as indicaes dadas por Rieuwertsz filho,2" que posteriorm ente passaram a constar no Catlogo da biblioteca teolgica21 d e ja c o b Friedrich R eim m ann (1668-1743), publicado em 1731, e na Bibliotheca anonymorum et pseudonym onm de jo h a n n C hristoph Mylius (1710-1757), publicada em 1740.22 Portanto, sem que nenhum deles tivesse acesso ao texto, nem conhecim ento de seu contedo, a notcia do Breve tratado circula, ao longo dos sculos X V II e X V III, apenas com o a referncia da existncia de um a tica em holands para se diferenciar daquela escrita em latim, ou um a tica m anuscrita para distinguir da impressa, ou uma tica escrita mais livremente e em captulos por oposio quela demonstrada segundo a ordem geom trica ou, ainda, contendo um captulo sobre o diabo, que teria sido excludo na tica.

    E tam bm com base na referncia fornecida p o r M ylius e M u rr que posterio rm en te H . E. G ottlob Paulus, ao publicar na A lem anha a Benedicti de Spinoza Opera quce supersunt omnia, em 1802-1803, afirm a que a nica obra de Espinosa que faltaria publicar seria um a parte da Etica escrita orig inalm ente em holands, um supplementum Ethices, que trataria tam bm de um principio maio.23 E m 1842, na Frana, Saisset cita literalm ente M ylius, ao assinalar a existncia de u m m anuscrito da tica com um captulo indito sobre o diabo.24 N o ano seguinte, na A lem anha, essas referncias surgem novam ente na publicao das obras de Espinosa p o r B ruder, Benedicti de Spinoza Opera quce supersunt omnia, quando no Prcefatio, este inclui na relao de obras creditadas a Espinosa - mas no encontradas certo Tractatus de diabolo,2* que ainda estaria em m anuscrito.

    19 No original holands, Kurtze Anleitung zur Historie des Gelehrtheit.20 APPUHN, CEuvres 1,1964, nota 2, p. 15.21 No original latino, Catalogus biblioteca? theologiav.22 Apud GEBHARDT, 1972, v. 1, p. 410.25 PAULUS, 1803, v. Posterius, p. XV.24 No original de Saisset: Suivant Mylius (Bibliotheca anonymorum, p.94), le manuscrit

    de Ythique contient un chapitre indit de Diabolo, (1842, v. l,p. CCV1).25 BRUDER, 1843, v, l.p.XIV.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 25

  • Para utilizar as palavras de Atilano Domnguez, este quadro do confuso e ignorncia acerca das referncias ao Bivrc trotado se ameniza com a descoberta, em 1851, que 11111 professor de Filosofia em Halle, o senhor Eduard Boehmer (1827-1906), realiza ao adquirir em Amsterd na livraria de Frederik M uller (1817-1881), jun tam ente com uma traduo holandesa das Anotaes ao Tratado teolgico-pollico, um pequeno e revelador manuscrito em holands que tem por ttulo Breve compndio do Tratado dc Baruch de Espinosa, de Deus, do homem e do sen bem-estar6 juntam ente com 11111 exemplar em holands da Vida de Spinoza de Colerus.27 No livro de Colerus, Boehm er encontra, inserida 110 pargrafo 12, em que o autor descreve as obras inditas de Espinosa, a seguinte anotao manuscrita:

    Nas mos de alguns amantes da filosofia, conserva-se um Tratado manuscrito de Espinosa, que, embora no esteja composto em forma geomtrica como sua tica impressa, entretanto contm os mesmos pensamentos e argumentos. Por seu estilo e por sua construo, fcil ver que se trata de uma das primeirssimas obras do autor, que dela se serviu como um esboo de seu pensamento para compor sua tica. Ainda que esta contenha as mesmas coisas, porm mais elaboradas e extensas, em ordem geomtrica, todavia, sendo o mtodo matemtico muito raro e inusitado em metafsica e poucos os homens nisso especialistas, torna-se muito mais obscura para a maioria do que este Tratado, do qual apenas o incio do Apndice, numa pequena parte, est composto segundo essa ordem [...] Alm dessa obra, tambm esto em meu poder diversas Anotaes e adies de Spinoza a vrios lugares do Tratado teolgico-poltico, que acrescentaremos aps a biografia, depois de darmos um Breve compndio do tratado manuscrito acima mencionado.

    N o ano seguinte, em 1852, Boehm er publicar esse manuscrito holands, o Breve compndio, juntam ente com sua traduo para o latim,

    26 Ttulo no original holands: Korte Schctz der Verhandelitig van Benedictus de Spinoza: over God, den Mensch, en deszelfs IVel-stand.

    27 Korte, og waarachtige Levem-Beschryving van Benedictus de Spinoza, Amslelodam, 1705 (Breve, mas verdadeira descrio da vida dc Benedictus de Spinoza),

    26 FILESPINOSA

  • c iente de que, mesmo sendo de autoria desconhecida, o Compndio era a nica fonte que poderia revelar o contedo da tica m anuscrita , o esboo do pensam ento para com por a Etica. Ora, o Compndio era justamente um resumo bastante detalhado desta que poderia ser um a de suas primeirssimas obras , em bora ainda nao encontrada, tinha finalmente a sua existncia confirmada, seja por aquele que a leu para com por tal resumo, seja pelo prprio testem unho da nota manuscrita que acima reproduzimos.

    Som ente em 1.865, Antonius van der Linde dem onstra que tanto a nota manuscrita quanto o prprio Breve compndio foram escritos pela mesma m o de um cirurgio de R o te rd cham ado Johannes M onnikhoff (1707-1787), o que se confirm ou cabalm ente em estudos posteriores com o reconhecim ento de sua caligrafia nas muitas cpias que fez das obras de W illem D uerhoff (1650-1717) e pela assinatura do Na-reden ou eplogo que ele acrescentara ao Collegium Chrirurgicum Amstelodamense.

    M uito se discutiu para saber se M onnikhoff seria, alm de copista, o autor do Breve compndio: M . Francs, em 1954, afirm a que seria possivelmente o filsofo W illem D eurhoff. M uitas observaes do ao seu resumo um carter polm ico ,28 o que seguido por A ppuhn ,29 em 1964, e por Jean Prposiet (1973, p. 179). Nas dcadas seguintes, contudo, estudos apontam para outra direo, tal co m o defendem Atilano D om nguez (1990) e Filippo M ignini (1986), principalm ente pela expresso nas obras de D eu rho ff de um cartesianism o fervoroso que o afasta da hiptese de ser o au to r do Breve compndio, am bos argum entando que M onnikhoff' certam ente seria seu redator.

    Pouco depois da publicao do Breve compndio, o m esm o livreiro, Frederijk Muller, adquire num leilo o prim eiro volume'*1 dos Nagelate Schriften de 1677, que continha [...] transcrito num a grafia nitidam ente em lngua holandesa, um Prefcio concernente vida e obra de Spinoza, um Compndio quase idntico quele publicado por Boehm er, com

    28 Qeuvres Completes, 1954, p. 1359.w APPUHN, CEtwrcs /, 1964, p. 19-20.

    O segundo volume s seria descoberto em 1972 pelo pesquisador estadunidense Thomas Carson Mark {aptid ME1NSMA, 1983, nota 25, p. 19-20).

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 27

  • mais alguns acrscimos; o texto dc uma Ethica of Zcdc-Lecr cm captulos; e as anotaes ao 'Imitido tcolgico-poKticoV Essa Ethica / Zcdc-Lecr, uma vez examinada, mostrou ter inteiram ente o contedo conform e descrio do Compndio; 011 seja, M uller encontrara o texto integral do Breve tratado com uma nova verso manuscrita do Breve compndio, e que, nos preparativos para a sua publicao, se reconhecer tambm transcritos pelas mos do mesmo copista Johannes M onnikhoft.

    Pelos cuidados de Johannes vanVloten (1818-1883) vem a pblico em Amsterd, finalmente a prim eira edio do Breve tratado, em 1862, no seu Supplementum edio das obras de Espinosa publicada por Carolus Herm annus Bruder, Bencdicti dc Spinoza Opera qn

  • acabaram por revelar a imensa diferena tem poral entre am bos. C o m o m encionam os an teriorm ente, sabia-se que o m anuscrito encontrado prim eiram ente, intitulado Ethica o f Zede-Leer, fora copiado p o r M o - nikhoff, ou seja, no sculo X V III e nao antes de 1763.33 C o n tud o , estudos da caligrafia, variante entre a gtica e a cursiva, a anlise do papel utilizado, bem com o estilo de transcrio acabaram p o r d em onstrar que o segundo m anuscrito, intitulado Korte Verhandeling van God de Mensch en deszelfs welstand, no apenas fora transcrito p o r o u tro copista, mas tam bm que este trabalho teria sido realizado um sculo antes, 110 sculo XVII e, mais ainda, precisam ente na m esm a poca em que vivera Espinosa. Assim, o Korte Verhandeling acabava p o r se revelar o codex unicus do Breve tratado e, portanto , o fim da to alm ejada busca pela tica m anuscrita em holands .

    A polm ica sobre o treve tratadoA boa nova, de que finalm ente estvamos diante do m anuscrito

    certo, chegava repleta de incertezas: teria sido copiado ou red igido p o r amigos de Espinosa? Seriam anotaes de um curso ou um texto d itado por Espinosa aos amigos? D e quem seria a transcrio? O u seria traduo de um texto autntico do filsofo traduzido para o holands? Essa traduo teria sido acom panhada e revisada pelo p rprio Espinosa? Q u e m traduzira? E, jun tam en te com tantas incertezas, um a im ensa m otivao de diversos estudiosos spinozistas em procurar super-las cabalm ente.

    Q uanto transcrio, h neste m anuscrito duas caligrafias distintas: um a seiscentista do copista original na qual tod o o tex to est copiado e, mais um a vez, a de M on n ik ho ff que preparou o tex to para encadernar, acrescentando alguns ttulos, dedicatrias e correes pontuais. N a

    1J Esta data confirmada pelos seguintes argumentos: (1) estar encadernado junto ao texto de Colerus publicado em 1705, (2) pela referncia ao Breve compndio na nota manuscrita encontrada no pargrafo 12 (p. 184-185); (3) pela meno de um livro de Deurhoff publicado no ano 1713, na pgina 196 da H(/

  • primeira edio publicada do Breve trotado, em 1869, Schaarschmidt atribui a redao original a Deurho/i, o que ser rec usado por Willem Meijer no prefacio de sua edio em holands moderno publicada em 1899. Segundo ele, o teor pr-Espinosa do curto prefcio do manuscrito deveria corresponder a um ardente discpulo de Espinosa - o que Deurhoff contundentemente no era sendo muito mais plausvel defender a autoria ou transcrio pela mo de um grande amigo de Espinosa, talvez Jarig Jelles (1620-1683).M

    A dvida de W. Meijer quanto ao reconhecimento da autoria a Espinosa seguia as concluses da leitura comparativa entre o Breve tratado e a tica feita por Freudentahl, que criticara duramente o Breve tratado, afirmando que o conjunto ficou como um rascunho inacabado, que mostra numerosos defeitos, inexatides na expresso, faltas na argumentao, repeties, lacunas e contradies. Contudo, sem negar a autenticidade da obra, Freudentahl sugere que esse rascunho, ao qual o mesmo Espinosa fez vrias edies (dilogos, apndices, notas), recebeu sua forma atual de um redator e foi traduzido ao holands, sem que seu autor controlasse todo esse processo progressivo de deformao.35 Meijer acreditava que os problemas elencados poderiam ser explicados se se atentasse para uma nota marginal no Tratado que mencionava que Espinosa o teria ditado oralmente ; assim, defendia a hiptese de que Espinosa ditara em holands aos seus amigos enquanto vivia em Amsterd.36 Em sua edio de 1925 da Spinoza Opera, Gebhardt assume a hiptese de Freudenthal e considera possvel o redator do original latino ser Jarig Jelles, tendo como tradutor Piter Balling (fl664?), tambm amigo de Espinosa e excelente latinista, tradutor de outras obras do filsofo, os PPC e CM, para o holands. Essa hiptese foi a interpretao concernente composio da obra que se tomaria dominante ao longo dos decnios seguintes .37

    Contrariando as hipteses acima mencionadas, Atilano Dom nguez, em 1990, recusa enfaticamente o no reconhecimento da autoria

    * A PPU H N , 1954, p. 20.iS Apud D O M N G U E Z , 1990, p. 17.36 Cf. D O M N G U E Z, 1990, p. 18.37 M IG N IN I, CEuvres 1,2009, p. 164.

    30 FILESPINOSA

  • do Tratado a Espinosa por aqueles que se fundamentam nas crticas de Freudental sobre a m composio do texto, e que somente um sculo de laborisoso trabalho perm itiu depurar (1990, p. 17). D om nguez desconstri diretamente pelos fundamentos dessa crtica, considerando o Breve tratado uma obra bem construda e perfeitamente confivel situando a sua argumentao para alm da anlise que se que restringe ao dilogo interno obra do filsofo, ou seja, que se limita com parao com a Elica e a ordenao geomtrica para (des)qualificar o Breve tratado, pois isso seria j preconceb-lo como texto de escrita menos rigorosa (se pensado apenas em relao tica), ou um rascunho lacunar da obra posterior ou, ainda, um texto de imaturidade filosfica.

    Recusando enfaticamente essa posio, Domnguez amplia o campo da discusso sobre a anlise do texto, no mais restrito comparao com a tica, mas incluindo sobretudo o campo de temas filosficos propriamente seiscentistas com os quais Espinosa debatia, por exemplo, a filosofia cartesiana. Domnguez encontra certos paralelos entre a Parte II do Breve tratado com Tratado das paixes, de Descartes,38 e, a partir do dilogo entre os textos, demonstra que Espinosa no escreve sobre as paixes na mesma ordem da tica porque acompanha fielmente a ordem cartesiana no tratamento das paixes, porm para desmontar um a um os alicerces que fundamentam a tese de Descartes de que a alma agente governa o corpo paciente e, inversamente, de que a alma passiva quando o corpo ativo, e, simultaneamente, demonstrando uma tese reconhecidamente espinosana por excelncia: de que no h ao da mente sobre o corpo, porque no h interao nenhuma entre mente e corpo.

    Contra a tese de que teria ditado oralmente , Dom nguez retoma a anlise do lxico do manuscrito para defend-lo como traduo de uma obra de fato escrita em latim por Espinosa, tal como se pode comprovar pela latinizao do holands,39 por exemplo, no uso do term o passien , no lugar do correspondente holands lyding , e reprezentatie , em vez de verbeelding . Isso comprovaria o que dito no prefacio mesmo do

    8 H uma apresentao bastante sucinta desta anlise em um a tabela com parativa entre a ordem dada ao tratam ento das paixes (D O M N G U E Z , 1990, nota 142, p. 238-239).

    w Cf. DOM NGUEZ, 1990. p. 27-28.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, 0 0 HOMEM E 0 0 SEU BEM-ESTAR 31

  • Breve tratado, pelo qual o leitor avisado que o texto original fora escrito cm lngua latina por Benedictus de Spinoza para uso de seus discpulos |...| e traduzido para a lngua holandesa ou, ainda, a concluso do Breve tratado, em que Espinosa afirma resta-me dizer algo para os amigos para quem escrevo". Para concluir, Domnguez defende que Espinosa redigiu o Breve tratado para o crculo de estudiosos e amigos de Amsterd durante o perodo entre a sua expulso da sinagoga e a sua mudana a Rijnsburg (1656-1661) e, ainda segundo Domnguez, que seria bastante plausvel que Jarig Jelles, um dos nicos do crculo de amigos de Espinosa que confessava seu desconhecimento do latim e que tinha por hbito solicitar tradues para o holands, pedisse para o amigo Piter Balling, que j traduzira os Pensamentos metafsicos e os Princpios da filosofia cartesiana, que tambm assim o fizesse com o Breve tratado. Porm, como Balling morreu precocemente, outra possibilidade aventada seria a de que o tradutor fosse Johannes Bouwmeester, a quem o prprio Espinosa, aps a morte do amigo Piter, menciona sobre a traduo para o holands da terceira parte da tica, como atesta a carta 28.

    Filippo Mignini considera pouco provvel ser P. Balling o tradutor, principalmente pelas formas lingsticas e gramaticais utilizadas no coincidentes com suas outras tradues que ele fizera de Espinosa, e, pelo mesmo argumento, refuta tambm outros possveis candidatos, notada- mente,Jan Hendrik Glazemaker (1619-1682) e Lodewijk Meyer.40 Para retomar as palavras de Atilano Domnguez, neste sculo de laborioso trabalho, muito se avanou na discusso e no estabelecimento do texto do Breve tratado em seu codex unicus, ou seja, o segundo manuscrito (tambm conhecido como Manuscrito A ), em que muitas das polmicas em torno do Breve tratado foram encerradas. Para apresentar tal quadro sucintamente, reproduzimos pelas concluses elencadas por Filippo Mignini, revalidadas em 2009 ( M ig n in i , 2009, p. 165-177), aps o seu exaustivo estudo sobre a histria, das fontes primrias e provas testemunhais, anlise detalhada dos documentos, inspeo da caligrafia dos manuscritos e comparao entre estilos lingsticos e recursos gramaticais, etc., publicadas na sua clebre edio crtica do Breve tratado de 1986:

    40 Cf. M IG N IN I, 2009, p. 168-169.

    32 FILESPINOSA

  • Concluses certas:1) o Breve tratado urna obra espinosana. Ningum nunca duvidou da autenticidade da doutrina exposta, seja pelos testemunhos externos, seja pela declarao explcita contida na apresentao do Manuscrito A , seja pelo seu contedo. [...]2) O Breve tratado constitui a primeira exposio sistemtica da filosofia espinosana.3) Ningum du vida que o Manuscrito A seja uma cpia anterior quela outra, redigida certamente depois de 1743 por M onni- khoff; alm disso, certo que o Manuscrito A seiscentesco e contm intervenes autogrficas do MonnikhofF, que o usou como exemplar de sua prpria redao [do Compndio}.4) E certo que o Manuscrito A no foi escrito nem por Deurhoff, nem por Rieuwertz, como demonstra o exame caligrfico.5) No existem razes textuais que imponham supor, alm do Manuscrito A, a existncia de outros manuscritos como fonte do Manuscrito B [...]6) Podemos manter, at prova contrria que refute o Prefcio do Manuscrito A, que a obra tenha sido originariam ente composta em latim por Espinosa.7) certo que o exemplar do Manuscrito A foi redigido durante a vida de Espinosa, como demonstra a nota de I, 9.8) certo que o Breve compndio foi com posto por e no somente transcrito por J . M onnikhoff ( M i g n i n i , 1986, p. 97).

    D enom inaes do Breve compndio e do Breve tratado

    O manuscrito do Breve compndio encontrado por B oehm er no exemplar da Spinozas Levensbeschryvittg de Colerus foi denom inado por Mignini de Compndio x , e o manuscrito encontrado ju n to com a Ethica o f Zede-Leer por Muller, de Compndio a (1986, p. 44). Os manuscritos do Breve tratado so denominados de Manuscrito A e Manuscrito B , e ambos se encontram atualmente na Biblioteca Real de Haia e tem o nm ero de cdigo 75G15 e 75G16, respectivamente. A ordenao alfabtica, A e B, foi estabelecida em funo da cronologia de sua redao, conform e

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS. DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 33

  • sugerem os estudos posteriores e as anlises dos textos, o Manuscrito A foi redigido 110 sculo XVII, e o Manuscrito B no sculo seguinte, contudo, o Manuscrito B, tambm referido como Codex B (Wolf, 1910, p. evi), apesar de ser denominado com a segunda letra do alfabeto, o manuscrito que foi encontrado primeiro, conforme descrito acima, pelo livreiro Muller que o adquiriu em leilo juntamente com um novo compndio, o Compndio a. O primeiro, Compndio x> se encontra na Biblioteca Universitria de Haia (Holanda); o segundo, Compndio a , na Biblioteca Real de Haia.

    Algumas edies histricas do Breve compndio e do Breve tratado

    Em 1852, Boehmer publica o Compndio %, juntamente com a nota alusiva ao Breve tratado e as anotaes ao TTP em holands.

    Em 1862, van Vloten publica o Manuscrito B com o Compndio a , o Tracatulum de Iride41 em holands com traduo latina, algumas cartas inditas de Espinosa encontradas numa fundao dos colegiantes do sculo XVII, o Orphelinat de Orange, em Amsterd (A p p u h n , 1964, CEuvres 1, nota 1, p. 17), e alguns documentos referentes vida do filsofo, como o dito de excomunho proferido contra Espinosa em 1656. J o Manuscrito A - tambm referido como Codex A (W olf , 1910, p. evi) foi encontrado encadernado junto a um volume do TTP, quando vanVloten preparava a publicao do seu Supplementum em posse de Bogaers, conforme descrito acima. Esse manuscrito foi publicado inicialmente por Schaarschmidt em 1869 edio que A . Wolf assinala ser a mais cuidadosa edio do Codex A" (1910, p. evi) - , e posteriormente includo na edio completa das obras de Espinosa por vanVloten e Land de 1882-1883 e de 1895.

    Em 1899, Willem Meijer (1842-1926) publica uma transcrio do Breve tratado em holands moderno, com o texto em holands do manuscrito do Breve compndio encontrado por Boehmer com sua respectiva traduo latina, mais exata do que a publicada em 1852.

    41 Trata-se do Clculo algbrico do arco-ris, cuja autoria atribuda a Espinosa por van Vloten. Ao contrrio do que afirma Domnguez (1990, p. 11), van Vloten no publicou nessa edio o texto do Reeckening van Kanssen - Clculo de probabilidades.

    34 FILESPINOSA

  • Em 1925, Carl Gebhardt (1881-1934) publica no primeiro volume da Spinoza Opera o Compndio %, juntam ente com o Manuscrito A e o Manuscrito B do Breve tratado.

    Em 1986, Filippo Mignini (1946- ) publica sua edio crtica do Breve tratado, contendo o Compndio a , e cotejando tambm o compndio % - trabalho at ento indito , o Manuscrito A do Breve tratado e as respectivas tradues para o italiano, juntam ente com um completo estudo crtico, com o histrico das hipteses redacionais, analisando as fontes primrias e comparando-as, compondo uma histria crtica completa de ambos os textos, e com o estabelecimento textual do Breve tratado e do Breve compndio enriquecidas com indicaes de acrscimos do copista no manuscrito original, acrescentando sugestes de correes do texto, contemplando suas variadas redaes.

    No ano 2000 GHJ ou Gerrit H. jongeneelen disponibiliza na Internet o texto do Korte Verhandeling van God de mensch en deszelvs welstand, informando-nos que esta verso do Breve tratado se baseia na terceira edio de vanVloten, (Benedicti de Spinoza. Opera quotquot reperta sunt, 1914) e pode [...] ser considerada uma edio diplomtica do manuscrito [Manuscrito A ou 75G15] no que concerne ao texto; . Em 2003 e 2007 foram feitas revises do material disponibilizado, enriquecido com estudos de campos semnticos, vocabulrio, quadros comparativos, anlises histricas e textuais, estudos do mtodo, etc.

    Em 2009 publicado na Frana o volume I das CEuvres de Espinosa, Pretniers crits, com uma nova traduo do Breve tratado realizada por Jol Ganault a partir do texto estabelecido por Mignini.

    Sobre a traduo*Breve tratado

    Esta traduo do Breve tratado teve por base a edio crtica de Filipo Mignini, editada em 1986 pela editora Japadre, a qual utilizou o manuscrito A cotejando e pontuando as suas diferenas com o B, e se

    * Feita por Emanuel Angelo da R ocha Fragoso, professor de tica na Universddade Estadual do Cear (UECE) e editor da Revistti Conatus: Filoso fa de Spinoza, e Lus Cesar Guimares Oliva, professor de Histria da Filosofia M oderna da U niversidade de So Paulo.

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO OE DEUS, 0 0 HOMEM E 0 0 SEU 8EM ESTAR 35

  • tornou referncia entre os especialistas, tanto que o mesmo estabeleci mento de texto foi posteriormente utilizado tambm na edio francesa de Ganault (2009), a ltima a ser consultada. Tambm levamos em conta a antiga traduo francesa de Paul Janet, publicada em 1878 e cotejada com a traduo inglesa de A. W olf de 1910. Optam os por consultar essa traduo porque ela se fundamenta na traduo alem de Christoph Sigwart de 1870, que se utiliza dos dois manuscritos, com pletando-os com inmeros esclarecimentos, o que a fez ser considerada a primeira edio crtica do KV. Dadas as dificuldades do holands da poca, com inmeras alteraes em relao lngua corrente, sem falar nos problemas especficos do manuscrito do KV, tivemos a consultoria dos colegas Jan G. J. ter R eegen e Edrisi de Arajo Fernandes.

    Finalmente, o cotejo com a traduo espanhola de Atilano D om nguez (1990), da qual adotamos a numerao dos pargrafos, levou-nos a duas decises fundamentais. Em prim eiro lugar, alertou-nos para pequenos problemas no estabelecimento de texto de M ignini, cujas correes no manuscrito levaram a mudanas im portantes, sobretudo no captulo 19 da parte II, onde implicaram uma reordenao dos pargrafos feita por M ignini, que na verdade no necessria. E m bora m antendo o texto holands tal com o estabelecido por M ignini, seguimos Dom nguez na traduo e organizao deste captulo. Em segundo lugar, tam bm acompanhamos D om nguez ao no incluir na traduo a dupla srie numrica presente no manuscrito, nem as notas marginais ou notabilia transcritas por Gebhardt e presentes na edio de Mignini. O s notabilia tinham por funo guiar o leitor atravs de uma breve sntese do contedo de cada pargrafo e dar referncias de textos paralelos. Ao seguir as supresses propostas por Dom nguez, deixamos o texto mais limpo e menos redundante para o leitor.Breve compndio

    Esta traduo do Breve compndio foi feita a partir da verso original holandesa do Korte Schetz, denom inada Compndio a - p u blicada pela prim eira vez na edio crtica de Filippo M ignini do Korte Verhandeling em 1986 - , com parada com a outra verso h o landesa, publicada p o r Carl G ebhardt (Spinoza Opera), denom inada por M ignini de Compndio %. Trata-se do m anuscrito encontrado

    36 F ll f .PIN0SA

  • por Hduardus B oehm er, professor na U niversidade de H alle, q u e o descobriu por acaso num exem plar holands da Vida de Sp inoza p o r C olerus, com prado n um livreiro de A m sterd, F rederik M uller, que desde 1852, quando B oehm er a publicou pela p rim eira vez, v inha a ser a nica publicada at a edio crtica de M ign in i. N osso tex to foi cotejado com as tradues para o italiano, para o espanhol e para o francs, realizadas pelo p r p rio M ign in i, p o r D o m n g u e z e Jo l G anault (que tam bm utilizaram o Compndio cr), respectivam ente. Tam bcm cotejam os com as tradues francesas de C harles A p pu hn e M adeleine Francs, que utilizaram o Compndio %.

    R eferncias Obras completas (O P e Opera Omnia)APPUHN, Charles. CEuvres de Spinoza. Traduction et notes par Charles Appuhn. Paris: GF Flammarion, 1964-6. 4 v.B. de S. Opera Posthuma. Quorum series post Praefationem exhibctur. 1677 [Amsterd: J. Rieuwertsz],BRUDER, Carolus Hennannus. Benedicti de Spinoza Opera quce supersunt omnia: Ex editionibus principibus denuo edidit... Edirio stereotypa. Lipsiae: Typis et sumtibus Bernh. Tauchnitz Jun., v. 1, 1843; v.2, 1844; v. 3, 1846.CAILLOIS, Roland; FRANCS, Madeleine; MISRAHI, Robert. Spinoza CEuvres Completes. Texte traduite, prsent et annot par R. Caillois, M. Francs et R. Misrahi. Paris: Gallimard, 1954. 1 v. (Bibliothque de la Pliade).CALES, Mario; COHAN, Oscar. Spinoza Obras Completas. Prologada por AbrahaniJ. Weiss y Grego rio Weimberg, traducciones de Mario Cals y Oscar Cohan. Buenos Aires: Acervo Cultural, 1977. 5 v.GEBHARDT, Carl. Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. Heildelberg: Carl Winter, 1925; 2. Auflage 1972. 4 v.GEBHARDT, Carl. Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. Heildelberg: Carl Winter, 1925; Ristampa 1972. Milano: Edio Eletrnica a cura di Roberto Bombacigno e Monica Natali, 1998. 1 CD-Rom.GFRCERER, A. Benedicti de Spinoza Opera Philosophica omnia: Edidit et Pnvf- tionem adjecit... Stuttgarde: Typis J. B. Mezleri, MDCCCXXX [1830], 1 v.PAULUS, Henr. Eberh. Gottlob. Benedicti de Spinoza Opera qtur supersunt otu- nia: Iterum edenda curavit, Prartationes, vitam auctoris... len*v: In Bibliopolio Acadmico, 1802-1803. 2 v. eni 3.

    BARUCH OE ESPINOSA BREVE TRATADO DE DEUS, DO HOMEM E 0 0 SEU BEM ESTAR 37

  • PRAT, J. G. Ouwres Completes de B. de Spinoza. Traduites et annotcs par J . (!. Prat. Paris: Librairie de L. Hachette et C', MDCCCLXIll 1I8(>3|. 3 v.SAISSET, mile. CEuvres de Spinoza. Traduites par Etnile Saisset. Paris: Char- pentier, Libraire-diteur, 1842. 2 v.PRAT, J. G. CEuvres de Spinoza. Traduites par mile Saisset. Paris: Charpentier, Libraire-diteur, 1861. 3 v.SHIRLEY, Samuel. Spinoza Complete Works. Translations by Samuel Shirley. Edited, vvith Introduction and Notes, by Michael L. Morgan. Indianapolis/ Cambridge: Hackett Publishing Company, 2002.VLOTEN, Johannes van; LAND, J. P. N. Benedicti de Spinoza Opera quotquot repertasunt. RecognoveruntJ. van Vloten et ). P. N. Land. Editio Tertia. Hagae- Comitum: Apud M. Nijhoff, 1914. 4 v em 2.

    Edies Originais do Breve compndio Compndio aMIGNINI, Filippo. Korte Schetz der Verhandeling van Benedictus de Spinoza, over God, den Mensch, en deszelfs Welstand. In: Spinoza - Korte Verhandeling, van God, de Mensch, eu deszelvs Welstand = Breve Trattato su Dio, Vuomo e il suo bette. IntToduzione, edizione, traduzione e commento di Filippo Mignini. LAquila: Japadre, 1986. p. 802-816 (pginas pares).Compndio %BOEHM ER, Eduard. Benedicti de Spinoza Tractatus de Deo et homine eiusque

    felicitate lineamenta atque adnotationes ad Tractatum Theologico-Politicum: edidit et illustravit Eduardus Boehmer. Halae ad Saiam: J. F. Lippert, 1852.GEBHARDT, Carl. Korte Schetz der Verhandeling van Benedictus de Spinoza, over God, den Mensch, en deszelfs Welstand. In: Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. Heildelberg: Carl Winter, 1925; 2. Auflage 1972. v. I, p. 3-10.

    Edies originais do Breve tratado M anuscrito AGEBHARDT, Carl. Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. Heildelberg: Carl Winter, 1925; 2. Auflage 1972. 4 v. KV: v. I, p. 1-121.GHJ [Gerrit H. Jongeneelen]. Spinoza Korte Verhandeling van God de mensch en deszelvs Welstand. Disponvel em: . Acesso em: 25 set. 2011.MEIJER, Willem. Spinozas Werken IV. Korte Verhandeling van God de mensch en deszelvs Welstand; Oorspronkelijk in het Latijn geschreven door B[enedictus]

    38 FILESPINOSA

  • D[e] S|pinoza|, cti thans uit een Neerduitschc vertaling der 17^ eeuw in de taal van onzen tjd overgebracht door W. Mejer. Amsterdam: Van Looy, 1899.M IGNINI, Filippo. Spinoza - Korte Verhandeling, van God, de Mensch, en deszelvs Wvlstand = Breve Trattato su Dio, l uomo e il suo bene. Introduzione, edizione, traduzione e commcnto di Filippo Mignini. LAquiIa: Japadre, 1986. p. 120- 364 (pginas pares).SCHAARSCHM IDT, Carl. Benedicti de Spinoza korte verhandeling van G od, de mensch en deszelfs welstand: tractatuli deperditi De Deo et homine ejusque felicitate - versio Blgica, ad antiquissinii codicis fidem edidit et praefatus est Car. Schaarschmidt. Amstelodami: Apud Fredericum Muller, 1869.42VLOTEN, Johannes van; LAND, J. P. N . Benedicti de Spinoza. Opera quotquot repertasunt, RecognoveruntJ. van Vloten e tj. P. N. Land. Editio Tertia. Hagae- Comitum: Apud M. NijhofF, 1914. 4 v. KV: v. 4, p.1-99.43Manuscrito BGEBHARDT, Carl. Spinoza Opera. Im Auftrag der Heidelberger Akademie der Wissenschaften herausgegeben von Carl Gebhardt. Heildelberg: Carl W inter, 1925; 2. Auflage 1972. 4 v. KV; v. I, p. 526-609.VLOTEN, Johannes van. Benedicti de Spinoza Opera quae supersunt omnia supple- mentum. Contitiens Tractatum hucusque ineditum de Deo et homine, Tractatulum de Iride, Epistolas nonnullas inditas, et ad eas vitamque philosophi collectanea. Cum philosophi chirographo ejusque imagine photographica, ex originali hospitis H. van der Spijck. Amstelodami: Apud Fredericum Muller, 1862. p. 1-251 (pginas mpares).44

    Tradues do Breve tratado AlemoSCH A A R SC H M ID T, Carl. B. de Spinoza: Kurzgefasste A bhandlung von Gott, dem M enschen und dessen Glck. Berlin: L. H eim ann, 1869 (reed. 1874, 1907).

    42 Para Mignini, a edio do manuscrito A, inas incompleta (op. cit., p. 114)..43 Segundo Appuhn, esta edio de van Vloten do Korte Verhandeling a repro

    duo quase integral dos dois textos, o manuscrito A e o B (op. cit., p. 17). Para Mignini, o manuscrito A com as variantes mais notveis do manuscrito B (op. cit., p. 26).

    44 Segundo Appuhn, em sua traduo para o latim e na publicao do texto encontrado pelo livreiro Fr. Muller (manuscrito B), van Vloten no deixou de fazer alguns emprstimos ao texto que se encontrava com o poeta holands A. Bogaers (manuscrito A). (Op. cit., p. 17). Para Mignini esta a edio do manuscrito B, com integrao do manuscrito A (op. cit., p. 114).

    BARUCH DE ESPINOSA BREVE TRATADO DE OEUS, DO HOMEM E DO SEU BEM-ESTAR 39

  • EspanholGALS, Mario; COHAN , Oscar. Spinoza Obras Completas. Prologada por AbrahamJ. Weiss y Grcgorio Weimberg, traduccioncs do Mario C 'als y Oscar Cohan. Buenos Aires: Acervo Cultural, 1977. 5 v. KV: v. I, p. 111-226.DOMNGUEZ, Atilano. Spinoza: Tratado Bret>e. Traduccin, prlogo y notas de Atilano Domnguez. Madri: Alianza, 1990.FrancsAPPUHN, Charles. CEuvres de Spinoza. Traduction et notes par Charles Appuhn. Paris: GF Flainmarion, 1964-1966. 4 v. KV: CEuvres 1, p. 29-166.CAILLOIS, Roland; FRANCS, Madeleine; M1SRAH1, Robert. Spinoza CEuvres Compltes. Texte traduite, prsent et annot par R. Caillois, M. Francs et R . Misrahi. Paris: Galiimard, 1954, 1 v. (Bibliothque de la Pliade). KV: p. 9-95 (Texte) e p. 1359-1391 (Notes).GANAULT, Joel. Korte Verhandeling - Court Trai t. Texte tabli par Filippo Mignini. Traduction par Joel Ganault. In: Spinoza - CEuvres. I. Premiers Ecrits. dition publie sous la direction de Pierre-Franois Moreau. Paris: Presses Uni- verataires de France, 2009. p. 183-474.JANET, Paul. Court Trait sur Dicu, L'Homme et la Batitude. Traduit pour la premire fois en franais et prcd dune introduction par Paul Janet. Paris: Genner Baillire et C1'., 1878.InglsROBINSON, Lydia Gillingham. Spittoza's Sliort Treatise on God, Man, and Human Welfare. Translated by Lydia Gillingham Robinson. Chicago: The Open Court Pub., 1909 [General Books Publication, 2009],SHIRLEY, Samuel. Short Treatise on God, Man, and his Well-Being. In: Spinoza Complete Works. Translations by Samuel Shirley. Edited, with Introduction and Notes, by Michael L. Morgan. Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing Company, 2002. p. 31-107.WOLF, A. Spinozas short treatise on God, man and Human well-being. Londres: 1910. Disponvel em: . Acesso em: 25 set, 2011.WOLF, A. Spinozas short treatise on God, man and Human well-being. Translated and edited, with an introduction and commentary and a Life of Spinoza by A. Wolf. Londres: Adam and Charles Black, 1910.ItalianoMIGNINI, Filippo. Spinoza Korte Verhandeling, van God, de Mensch, en deszelvs Welstand = Breve Trattato su Dio, 1uorno e il suo bene. Introduzione, edizione, traduzione e commento di Filippo Mignini. LAquila: Japadre, 1986. p. 121 -365 (pginas mpares).

    40 FILESPIN0SA

  • LatimVLOTEN, Johannes van. Benedicti de Spinoza Opera quae supersunt omnia supple- incntuin. ('ontinens Tractatum hucusque ineditutn de Deo et homine, Tractatulum de Iride, Hpistolas nonnullas inditas, et ad eas vitamque philosophi collectanea. Cum philosophi chirographo ejusque imagine photographica, ex originali hospitis H. van der Spijck. Amstelodami: Apud Fredericum Muller, 1862. p. 2-250 (pginas pares).

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  • Breve tratado de Deus, do hom em e do seu bem -estar

  • Prefcio

    R edigido anteriorm ente na lngua latina por Baruch de Espinosa para uso de seus discpulos, que queriam dar-se ao exerccio da tica e da verdadeira filosofia.E agora traduzido para a lngua neerlandesa para uso dos amantes da verdade e da virtude: para que possa finalmente ser tapada a boca aos que se vangloriam tanto neste dom nio, ao extrem o de im por aos simples seu esterco e sua im undcie com o se fora o mbar-gris mais precioso, para que enfim deixem de maldizer o que ainda no entendem : D eus, eles mesmos e a jud ara p rom overa m tuo bem-estar. E para que os enterm os do intelecto45 sejam curados pelo esprito da doura e da tolerncia, de acordo com o exem plo do senhor C risto , nosso m elhor mestre.

    45 O termo holands verstand ser traduzido por "intelecto , e no por "entendim ento, seguindo, assim, a maior parte das tradues em lngua portuguesa do equivalente latino intelectus, termo fundamental na obra de Espinosa. N o entanto, o verbo correspondente verstaan" ser traduzido majoritariamente por entender , visto que o verbo inteligir tem uso limitado no portugus contemporneo. Cabe ao leitor ter em mente a conexo "intelecto-entender , cuja evidncia no holands se perde na traduo. Essa opo, por outro lado. levar a formulaes que soaro estranhas ao leitor das outras obras do filsofo, com o entendido por si ou entendido por outro, as quais correspondem s expresses concebido por si e concebido por outro" da Etica. Unificar essas formulaes seria tentador, sobretudo levando em conta que o tradutor do Brctv tratado para o holands pode ter sido impreciso ao lidar com ter