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Breve Análise da Recente Dinâmica Territorial no Estado de Roraima José Henrique Vilas Boas – IBGE/BA – [email protected] Osmar Barreto Borges – IBAMA/RR – [email protected] Resumo O Estado de Roraima apresenta, no seu conjunto, uma interessante conformação de regiões com diferentes dinâmicas de ocupação e uso de seu território. De um passado lento e sedimentado, passou, em tempos recentes, a um presente acelerado e mutante. Aproveitando esse excelente laboratório para o estudo da dinâmica territorial e dos modelos de desenvolvimento, vaise procurar aqui espacializar e analisar, de forma breve, os diferentes aspectos de desenvolvimento de uma região brasileira onde, basicamente, se tem uma forte presença do Estado, mas que, contudo, observa uma atuante participação de diferentes correntes da iniciativa privada. Abstract The State of Roraima presents, as a hole, an interesting set of areas with different occupation dynamics and use of its territory. Of a slow and silted up past, it passed, in recent times, to an accelerated and mutant present. Taking advantage of this excellent laboratory for the study of the territorial dynamics and of the development models, it will seek to map them here and to analyze, in a brief way, the different aspects of development of a Brazilian area where, basically, a strong presence of the State is had, but that, however, it observes an active participation of different currents of the deprived initiative. Introdução O Estado de Roraima apresenta uma peculiaridade que constitui um diferencial seu em relação aos demais estados da Amazônia brasileira; além da floresta tropical, conta com uma extensa área campestre da formação do Cerrado, na sua porção nordeste, em pleno extremo norte brasileiro. Esta característica deu razão ao desenvolvimento na região de um modelo próprio de ocupação, uso e povoamento para os moldes de Amazônia, embora, no entanto, se na Amazônia, com o aporte de suas particularidades.

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Breve Análise da Recente Dinâmica Territorial no Estado de Roraima

José Henrique Vilas Boas – IBGE/BA – [email protected]

Osmar Barreto Borges – IBAMA/RR – [email protected]

Resumo

O Estado de Roraima apresenta, no seu conjunto, uma interessante

conformação de regiões com diferentes dinâmicas de ocupação e uso de seu

território. De um passado lento e sedimentado, passou, em tempos recentes, a

um presente acelerado e mutante. Aproveitando esse excelente laboratório

para o estudo da dinâmica territorial e dos modelos de desenvolvimento, vai­se

procurar aqui espacializar e analisar, de forma breve, os diferentes aspectos de

desenvolvimento de uma região brasileira onde, basicamente, se tem uma forte

presença do Estado, mas que, contudo, observa uma atuante participação de

diferentes correntes da iniciativa privada.

Abstract

The State of Roraima presents, as a hole, an interesting set of areas with

different occupation dynamics and use of its territory. Of a slow and silted up

past, it passed, in recent times, to an accelerated and mutant present. Taking

advantage of this excellent laboratory for the study of the territorial dynamics

and of the development models, it will seek to map them here and to analyze, in

a brief way, the different aspects of development of a Brazilian area where,

basically, a strong presence of the State is had, but that, however, it observes

an active participation of different currents of the deprived initiative.

Introdução

O Estado de Roraima apresenta uma peculiaridade que constitui um

diferencial seu em relação aos demais estados da Amazônia brasileira; além da

floresta tropical, conta com uma extensa área campestre da formação do

Cerrado, na sua porção nordeste, em pleno extremo norte brasileiro. Esta

característica deu razão ao desenvolvimento na região de um modelo próprio

de ocupação, uso e povoamento para os moldes de Amazônia, embora, no

entanto, se na Amazônia, com o aporte de suas particularidades.

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A principal contribuição que este trabalho pretende dar é a de definir

áreas do Estado de Roraima no que elas apresentam de aspectos distintos

entre si quanto ao seu desenvolvimento, formas e modelos, e mostrar seus

inter­relacionamentos. A dinâmica territorial verifica­se em todos os cantos do

país e do mundo, mas, particularmente, nesse Estado, sua presença é

marcante, e, como em um jogo de peças dispostas em cima de uma mesa, fácil

de observar seus movimentos, reflexos e conflitos.

Esta riqueza de situações, basicamente, se deve ao salto que deu a

região do rio Branco, o atual Estado de Roraima, no que diz respeito ao seu

desenvolvimento. Saiu de um passado de níveis de transformação muito

lentos, que configuravam uma situação econômica e social muito sedimentada,

passando para um presente de desenvolvimento acelerado, o que lhe confere

um alto grau de mutabilidade nas relações intereconômicas e intersociais, com

reflexos no espaço, na paisagem.

A Economia, em poucos anos, no espaço de uma só geração, deixou de

refletir uma ocupação e uso da terra baseados na pecuária extensiva, garimpo

do ouro e diamante (atualmente proibido), na região dos campos, e no

extrativismo vegetal, na região da floresta, e vai cedendo espaço para uma

agricultura diversificada, seja de culturas temporárias, seja de culturas

permanentes, e, também, para uma pecuária, agora, em padrões modernos.

Com isso, trabalha­se com uma realidade multivariada, em que se tem

frentes pioneiras, povoações antigas abandonadas, modernas fazendas de

gado, rebanhos comunais, plantações de arroz de alta tecnologia, agricultura

itinerante, desmatamentos, “desintrusão”, criatórios de peixe, implantação de

novas culturas de mercado, assentamentos rurais em quantidade e semi­

abandonados. Os mapas não conseguem acompanhar e espacializar as

mudanças político­administrativas e sócio­econômicas observadas em um

Estado, que se encontra em um intenso movimento em busca de suas

vocações e de sua cara.

Áreas quando ao seu desenvolvimento

Apenas um breve comentário será feito para apresentar as diferentes

áreas de desenvolvimento definidas aqui em uma primeira aproximação (Figura

1). Outras áreas devem ser ainda definidas e algumas dessas, ainda

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particularizadas em sub­áreas ou mesmo em outras áreas quanto ao seu

modelo de desenvolvimento e quanto ao comportamento presente da dinâmica

territorial.

A identificação dessas áreas teve início quando do levantamento feito

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, da cobertura e uso da

terra do Estado de Roraima, nos anos de 2004 e 2005. Tomando por base

então o relatório técnico resultante desse levantamento, “Uso da Terra no

Estado de Roraima” (IBGE, 2005), dá­se continuidade aos estudos e pesquisas

quanto ao aspecto do desenvolvimento regional e da dinâmica territorial, cujos

resultados preliminares são aqui apresentados.

O estudo completo dessas áreas exige comprovações fundamentadas

em dados censitários e econômicos, levantamento histórico de documentos

legais, mapas e bibliografia, pesquisas de campo detalhadas e análise

temporal da ocupação e uso da terra por imagens de satélite e outros recursos

disponíveis de Sensoriamento Remoto e até mesmo de Aerofotogrametria, se

houver.

Não somente regiões como áreas foram definidas e descritas, como

também cidades, pelos aspectos interessantes quanto a Sinergia e Entropia

que possam apresentar, ou mesmo quanto ao próprio modelo de

desenvolvimento ou forma de criação, o que lhes dá a sua condição atual.

E com isso, pode­se dar início ao estudo pela sua capital, Boa Vista, que

além de suas próprias características, resume a força da posição estratégica

do Estado no território nacional, como seu ponto avançado e como participação

do Brasil no contexto do Caribe. Roraima é o elo de ligação de uma importante

região que se forma, e que ainda se expande e se afirma, ao norte da América

do Sul; região essa que, em princípio, compreende os estados brasileiros do

Amazonas e de Roraima, e os países vizinhos, Venezuela, Güiana e Suriname

(Figuras 2 e 3).

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FIGURA 1: Áreas do Estado de Roraima quanto ao seu desenvolvimento. A

definição dos limites das diferentes áreas é aproximada.

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FIGURA 2: Linha de fronteira entre Brasil e Venezuela. A rodovia cruza a

fronteira na cidade de Pacaraima, no Estado de Roraima, a dez quilômetros da

cidade de Santa Elena, já na Venezuela. O asfalto da BR­174 chega de

Manaus e Boa Vista e vai até Caracas.

FIGURA 3: Travessia de balsa no rio Tacutu. Fronteira entre o Brasil e a

Güiana, onde a construção da ponte internacional encontra­se paralisada. Por

asfalto, chega­se pela BR­401 até Bonfim, que faz fronteira com Lethen, na

Güiana. Futuramente, Georgetown e Paramaribo, capitais da Güiana e do

Suriname, respectivamente, estarão mais próximas ainda.

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A Capital Boa Vista

A capital é moderna, com traçado planejado, e é uma cidade que deve o

seu desenvolvimento à condição de capital de estado, com o decorrente

alojamento do setor público­administrativo, e que sente atualmente os reflexos

progressistas de uma instalação integral desses serviços com a mudança de

sua antiga condição de território para a de estado.

Embora seja um crescimento decorrente de uma ação estatal, o setor

privado responde perfeitamente às expectativas do investimento público,

principalmente no setor terciário, em que o comércio cresce vertiginosamente

para atender uma clientela exigente de funcionários públicos, concursados,

muitos deles com o terceiro grau de escolaridade e provenientes de todos os

recantos do país.

O setor industrial na capital também cresce, mas por uma razão de uma

certa forma independente do incentivo estatal; cresce por uma característica

física da região, que propiciou o cultivo do arroz nas grandes regiões planas

dos campos de Roraima. A agroindústria do beneficiamento do arroz é

moderna, e localiza­se em Boa Vista e sua produção atende o comércio local e

o de Manaus.

O turismo apresenta grandes perspectivas, principalmente para o

mercado consumidor de Manaus, que vê como uma de suas poucas

alternativas, conhecer Boa Vista, a capital mais próxima de Manaus, cidade

urbanisticamente agradável e com fácil acesso rodoviário, por asfalto.

Também é o ponto inicial do circuito internacional Brasil­Venezuela. O roteiro

tem início em Boa Vista, segue com a visita ao Monte Roraima, a partir de

Santa Elena; passa por Ciudad Bolívar, no rio Orenoco; e finaliza em Isla

Margarita. Por outro lado Boa Vista e seu comércio com produtos da indústria

brasileira são um atrativo para venezuelanos e güianenses (Figura 4).

Boa Vista constitui de fato um pólo regional de desenvolvimento para o

seu Estado. A Sinergia é facilmente observada na cidade, que passa por um

processo de revitalização desencadeado com a transformação do território em

Estado.

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FIGURA 4: Plataforma Meremê. A Orla Taumanan, e suas plataformas sobre

o rio Branco, no porto fluvial de Boa Vista, é uma das muitas áreas de lazer da

cidade.

Áreas Rurais de Boa Vista e Alto Alegre

O desenvolvimento das áreas rurais de Boa Vista e Alto Alegre é o que

melhor se vê no Estado de Roraima, em matéria de livre iniciativa, sendo mais

sentido na agricultura do que na pecuária, que ainda guarda alguns resquícios

dos sistemas de produção tradicionais (Figuras 5 e 6). A diversidade é grande,

chegando a apresentar empreendimentos de criação de peixes de água doce,

em tanques, em resposta à alta demanda pelo pescado nas regiões de Boa

Vista e Manaus.

FIGURA 5: Cultivo de ananás. Rodovia RR­205, município de Boa Vista.

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FIGURA 6: Cultivo de limão­Tahiti. Rodovia RR­205, Município de Boa Vista.

A cidade de Alto Alegre, apesar de todo o aparato de serviços públicos

que ressaltam em todas as sedes municipais do Estado, tem uma forte

movimentação comercial para o atendimento da sua pujante zona rural,

sobressaindo nas suas ruas o aspecto privado sobre o público.

A Sinergia também é observada aqui onde um desenvolvimento

espontâneo do setor privado no meio rural responde às demandas da capital

Boa Vista, aproveitando a sua posição geográfica de proximidade, como

também, quanto à qualidade de terras livres para ocupação.

A Cidade de Caracaraí

Toda a economia do Estado, desde a época da colonização, circulava

pelas águas do rio Branco. As grandes embarcações chegavam tão somente

até Caracaraí, a jusante da Cachoeira Caracaraí. Também só até Caracaraí se

dava a navegação o ano inteiro, mesmo que de forma precária durante a

estação seca. Praticamente o único elo de comunicação do Estado com o

restante do país, seu porto fluvial unia o sistema hidroviário a sul, na área da

mata, com o sistema rodoviário a norte, na área dos campos, onde se

encontrava a capital e a base da economia regional, a pecuária (Figura 7).

Com a chegada da rodovia Manaus­Caracaraí, BR­174, a navegação

caiu e Caracaraí perdeu sua importância econômica e social para o Estado. A

cidade conta agora com perspectivas mais modestas de desenvolvimento do

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que as que pretendia alcançar no passado, que se baseavam na função vital

para o contexto do Estado de um nó hidro­rodoviário.

FIGURA 7: Porto de Caracaraí. Cais em rampa sobre o rio Branco e a

estrutura inacabada do novo cais.

Atualmente, Caracaraí se amolda a novas propostas de

desenvolvimento, ainda voltadas para os setores do comércio e de serviços, só

que a nível local, em atendimento às atividades de sua zona rural que, em

contrapartida, se encontram em expansão.

Não seria correto dizer­se que a cidade de Caracaraí encontra­se em

Sinergia ou em um início de um processo de revitalização. Mais seria um

período de estabilização, em que as perdas econômicas sofridas,

contrabalançam com as transformações em seu meio rural e com o movimento

de chegada de migrantes provenientes dos assentamentos rurais no Estado,

desestimulados e em busca de novas alternativas de sobrevivência e da

segurança que uma cidade do porte de Caracaraí já oferece com relação à

oferta de trabalho e aos serviços sociais.

Áreas de Mata de Mucajaí, Iracema e Caracaraí

Novas áreas vêm sendo abertas para a pecuária e agricultura na região

da floresta em Roraima. Muitos desses empreendimentos pertencem a

fazendeiros expropriados de outras áreas do Estado, onde se deu a

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regularização das terras indígenas (Figura 8), que optaram por essa região por

sua localização privilegiada e por serem terras livres para ocupação.

FIGURA 8: Moderna fazenda de gado, com pastagens plantadas. Rodovia BR­

174, município de Iracema.

Embora os municípios de Mucajaí, Iracema e Caracaraí se encontrem na

parte central do Estado, junto ao rio Branco, a exploração econômica de suas

terras estava voltada para os produtos da floresta, como a castanha e a balata,

por exemplo. As atividades agropecuárias, quase que exclusivamente a

pecuária, davam preferência para a região dos campos, mais ao norte.

A dinâmica territorial aqui se dá com a substituição de uma atividade

econômica tradicional que pouco suporte deu ao Estado de Roraima, o

extrativismo vegetal, por uma outra atividade, a agropecuária, que vem em

termos modernos e com investimentos altos de capital, capital privado. Resta

discutir os benefícios ou não para o ambiente como um todo, advindos com

essa mudança radical da paisagem; se o Código Florestal está sendo

observado, ou se haveria outras formas de uso racional da área da floresta.

Área do Médio Rio Branco

O despovoamento de ambas as margens do rio Branco, de Caracaraí a

Carimaú é uma realidade. Não tendo mais os meios de comercializar a balata,

base da economia local, vilas e povoados foram abandonados e rapidamente

tragados pela floresta (Figura 9). Ao longo do rio, observam­se muitas

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capoeiras de mata, a vegetação secundária que procura restabelecer a floresta

e indica onde antes eram as roças das povoações ribeirinhas.

FIGURA 9: Povoado abandonado no médio curso do rio Branco. Restos de

acampamento no que antes era o povoado de Açailândia.

Nessa área, inclui­se a vila de Catrimani, que, às margens do rio Branco,

é quase tão antiga quanto a história de Roraima. Foi sede do município de

Catrimani, que depois passou a se chamar Caracaraí, com a mudança da sede

para essa cidade. Com o seu recente abandono, em pouco tempo

transformou­se em mato, mas ainda continua sendo uma referência geográfica

para a região (Figura 10).

O único regatão que comercializava com os ribeirinhos de toda a região

do rio Branco, com a idade, e sem quem continuasse à frente de seus

negócios, fechou sua empresa. A população de todos esses povoados e

lugarejos, sem meios de sobrevivência, abandonou suas posses e mudou­se,

principalmente, para Caracaraí e Boa Vista.

A Entropia, que já era uma marca da região, chegou ao seu ponto

máximo, causando a sua total desterritorialização. Economia frágil: ocupação e

povoamento frágeis.

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FIGURA 10: A vila de Catrimani foi tragada pela mata.

Área do Baixo Rio Branco

O baixo curso do rio Branco, embora tenha sofrido o mesmo revés

econômico com a extinção da empresa que comercializava a balata, não

chegou ao abandono em virtude do interesse manifestado pelo Estado, que

investiu na manutenção da infra­estrutura de serviços, principalmente na vila de

Santa Maria do Boiaçu.

Área em Entropia com seu processo de desterritorialização estabilizado

por intervenção do Estado, sem no entanto nenhuma perspectiva para o

momento de reversão do processo, por Sinergia.

Terra Indígena São Marcos

A área da Terra Indígena São Marcos encontrava­se dividida entre

fazendas de gado e comunidades indígenas, predominantemente Macuxis.

Situa­se em região estrategicamente importante, já que é cortada pela rodovia

BR­174, asfaltada, que liga Boa Vista a Pacaraima, na fronteira com a

Venezuela, de onde a rodovia, também asfaltada, segue até Caracas.

Para a regularização da situação fundiária da Terra Indígena, os

fazendeiros foram indenizados pelas Centrais Elétricas do Norte,

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ELETRONORTE, que, em contrapartida, construiu sua linha de alta tensão pela

área da Reserva, para levar energia elétrica da Venezuela para Boa Vista. A

empresa aproveita sua presença na região para também desenvolver um

programa comunitário junto às populações da Terra Indígena São Marcos,

envolvendo a Fundação Nacional do Índio, FUNAI, e as comunidades

indígenas (Figura 11).

FIGURA 11: Programa São Marcos. Placa de estrada que fica na entrada do

seu centro de atividades, na rodovia BR­174. Na placa, lêem­se os objetivos

do Programa, a “Desintrusão da Terra Indígena” e o “Resgate de Dignidade”.

Município de Pacaraima.

Com a regularização das terras indígenas, mudou o regime de

propriedade do privado para o comunitário, regime próprio observado nos

povos indígenas brasileiros. A posse da terra e dos bens de produção é

comunitária, bem como os bens produzidos, sua distribuição ou renda. O uso

da terra mudou, e com a saída dos rebanhos de gado, as comunidades

passaram a utilizar parte dos desmatamentos abertos na floresta, ao longo da

rodovia que sobe a serra de Pacaraima, para se dedicar às suas roças com

seus sistemas de produção característicos.

A FUNAI entregou a cada comunidade indígena do Estado, não só às de

São Marcos, um lote de 50 cabeças de gado, que são criadas ou pelos próprios

indígenas ou por “peões” contratados, em retiros localizados nas áreas dos

campos. Com isso, pretende­se diversificar a dieta alimentar nas comunidades

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e substituir a caça que já é escassa na região, ao passo que a população

indígena cresce.

Porém, a principal questão que se coloca no tocante ao desenvolvimento

está ligada à situação do indígena no contexto da Sociedade. A situação de

impasse que vivem, quando a sua realidade já se mistura com a das

sociedades envolventes, quando almejam bens de consumo e padrões sociais

que não são seus, e não têm os meios de produção e renda para adquiri­los.

Na Terra Indígena São Marcos, muitas das comunidades foram se localizar à

beira da rodovia, num claro sinal de sua busca pela inserção no restante da

sociedade brasileira (Figura 12).

FIGURA 12: Comunidade indígena Boca da Mata. As casas são praticamente

todas elas de alvenaria, e a comunidade fica junto da rodovia BR­174.

Município de Pacaraima.

A Cidade de Pacaraima

Este é um dos melhores exemplos, onde se pode visualizar e

compreender o conflito que existe em Roraima entre o Poder Público estadual

e o Poder Público federal. Enquanto as esferas federais do Poder procuram

deter o máximo das terras do Estado, o governo estadual procura, da mesma

forma, ao máximo, estender seu poder, infiltrando seus braços administrativos

por todas as brechas em que possa gerar um desenvolvimento induzido.

A cidade de Pacaraima encontra­se espremida contra a fronteira da

Venezuela, e sua área urbana, com Prefeitura, Câmara, Fórum, escolas,

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hospitais e tudo mais, encontra­se totalmente dentro de área indígena, a Terra

Indígena São Marcos.

Por ser cidade de fronteira, teve um crescimento espontâneo e

desordenado, para atender caminhoneiros e turistas em trânsito, ao lado de um

crescimento planejado, para lhe abrir novos espaços e dar foros de sede de

município. Trata­se de uma cidade em que convivem iniciativa privada e

intervenção do Estado; ou melhor, em que o governo estadual marca sua

presença, e o Município procura controlar a ação desordenada do setor

terciário, o comércio, e administrar o crescimento populacional da cidade

(Figuras 13 e 14).

FIGURA 13: Cultivo de olerícolas em casas de plástico. Esse empreendimento

é administrado por uma ONG, nos arredores de Pacaraima, para atender o

mercado local.

As nuances do desenvolvimento, da preservação do ambiente, da

garantia dos direitos dos indígenas, tudo tem que ser pensado e avaliado com

isenção, avaliando­se o mais cuidadosamente possível seus prognósticos.

Pacaraima, embora seja considerada uma invasão em território indígena,

constitui, juntamente com a própria rodovia, um dos meios de inserção da

população indígena no todo da sociedade brasileira. Exemplo disso, na feira

de Pacaraima a comercialização de farinha grossa, banana, galinhas e peixe

seco, produzidos nas comunidades indígenas, constitui uma fonte de renda

para a aquisição de artigos industrializados que já fazem parte de suas

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necessidades de consumo (Figuras 15 e 16). Feiras e mercados municipais

são um reflexo da zona rural e da economia local.

FIGURA 14: Casa de Verão do Governador. A presença do Estado logo se faz

sentir, aproveitando o clima ameno da serra de Pacaraima, que a mais de

1.000 m de altitude, torna Pacaraima uma opção de turismo para toda a região

da Amazônia Ocidental.

FIGURA 15: Venda de farinha na Feira de Pacaraima. O excedente da

produção agrícola das comunidades indígenas vizinhas à cidade, basicamente

farinha de mandioca e banana, é comercializado na feira local.

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FIGURA 16: Comercialização de galinhas na Feira de Pacaraima. A feira

oferece muito poucos produtos, mas é abastecida praticamente pelas

comunidades indígenas de São Marcos.

A Cidade de Amajari

A cidade de Amajari merece destaque, por ser um bom exemplo de

intervenção do Estado e de desenvolvimento dirigido, quanto à criação de

cidades em pontos estratégicos, oferecendo toda gama de serviços públicos e

assistência social. Em cima de um pequeno núcleo original, formou­se uma

cidade de ruas largas, grandes lotes, em que se destacam as casas onde

funcionam os diferentes órgãos que fazem parte do equipamento urbano, como

empresa de água, de luz, etc...

Com isso, mesmo que a cidade apresente muito pouco movimento, o

governo estadual, estrategicamente, marca sua presença em meio a áreas

indígenas, reservas do meio ambiente e assentamentos rurais da esfera

federal, administrados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA.

A iniciativa privada é tão incipiente na cidade e os assentamentos

agrícolas tão desarticulados, que o Governo sentiu necessidade de que se

construísse uma granja pública, para a produção de galinhas e ovos para o

abastecimento local (Figura 17).

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FIGURA 17: Granja municipal de Amajari. A construção de uma granja

municipal é mais um elemento que se faz presente na implantação de cidades

e criação de municípios, forma encontrada pelo Estado para ocupação do

território e seu povoamento.

Áreas Yanomamis

As aldeias indígenas dos Yanomamis ocupam a parte ocidental do

Estado de Roraima. Formam uma grande área contínua, e o distanciamento

total dessa população torna­se fundamental para a preservação física e cultural

desse povo, que ainda mantém seus hábitos e costumes em harmonia com a

Natureza. É justificada até a existência de uma área a mais que funcione como

um cinturão de isolamento, reduzindo ao máximo o contato dessas populações

com a sociedade “civilizada”.

É importante e ético não só a preservação da biodiversidade, como

também da sociodiversidade, no que diz respeito às etnias que compõem a

sociedade brasileira. Deve­se manter, portanto, o seu desenvolvimento

autóctone, o que leva a um desenvolvimento preservado para a região.

Terra Indígena Waimiri­Atroari

Localizada ao sul do Estado, na fronteira com o Amazonas, a Terra

Indígena Waimiri­Atroari é atravessada pela rodovia BR­174 que liga Manaus a

Boa Vista. As populações indígenas que aí vivem, de uma maneira geral, já

têm um certo grau de aproximação com o restante da sociedade brasileira.

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Seus valores culturais e étnicos encontram­se em um nível intermediário de

preservação.

Embora seja possível ainda para o povo Waimiri­Atroari manter um certo

desenvolvimento autóctone, a sua posição geográfica leva a um contato

forçoso com o restante da sociedade brasileira. Isto leva a que um

desenvolvimento controlado seja pensado pelos órgãos responsáveis, devendo

rever não só as condições jurídicas relacionadas às terras indígenas para

resolver conflitos atuais, como também trabalhar hoje com prognósticos

futuros. A inexorável absorção de uma sociedade menor pela envolvente e

maior, embora deva ser retardada, quando vier, deve garantir um processo de

inserção social digno, preservando a sua identidade étnica e cultural com a

terra, sua integridade física e de seus valores éticos e morais.

Áreas Indígenas do Extremo Noroeste do Estado

A estrutura fundiária de Roraima tem passado por profundas

transformações com a desocupação das terras indígenas. O extremo noroeste

do Estado constitui uma área de ocupação indígena expressiva. Com a

desapropriação, sedes de fazenda de gado transformam­se em comunidades

indígenas, passando o seu uso de privado para o coletivo. Com a entrega,

pela FUNAI, do lote de 50 cabeças de gado a cada comunidade indígena,

altera­se também a forma de produção, perdendo esta seu caráter privado,

passando para formas comunais da produção (Figuras 18 e 19).

Áreas dos Assentamentos Rurais do Sudeste do Estado

São muitos os assentamentos rurais do INCRA em Roraima, e, ainda,

existem os de administração estadual. Verifica­se um alto percentual de

abandono de suas glebas, principalmente, por falta de verbas para o

financiamento da produção e para assistência técnica. A área aqui definida e

descrita situa­se no Sudeste do Estado, ocupando áreas ao longo das rodovias

BR­174, em direção a Manaus, e BR­210, a Perimetral Norte.

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FIGURA 18: Comunidade Novo Paraíso, antes, Fazenda Bala. Rodovia RR­

202, entre Normandia e Vila Surumu. Conta inclusive com uma escola.

Município de Normandia.

FIGURA 19: Gado bovino nos retiros das comunidades indígenas. Rodovia

RR­202, entre Normandia e Vila Surumu. Cada comunidade recebeu da

FUNAI 50 cabeças de gado. Município de Normandia.

Além da agricultura para a própria subsistência praticada pelos

assentados, a comercialização da banana constitui sua mais importante fonte

de renda. A exploração da madeira se dá com a abertura das vicinais e com a

cota de desmatamento permitida a cada gleba (Figura 20).

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FIGURA 20: Vicinal 19 do Assentamento Rural de Rorainópolis. As

castanheiras mortas são um sinal de que nem sempre a legislação que

estabelece a sua preservação é observada.

Mesmo com os assentamentos em abandono, a estagnação do meio

rural não corresponde ao movimento observado nas cidades da região,

principalmente Rorainópolis, que, em sinergia, acumula outras variáveis ao seu

desenvolvimento. Rorainópolis é um centro comercial; cidade pioneira, é a

mais antiga cidade da região, que por sua localização na BR­174, se

transformou em cidade de trânsito para quem chega de Manaus, a primeira

cidade quando se chega a Roraima, após a travessia da Terra Indígena

Waimiri­Atroari, foi cidade de negócios para quem queria mexer com terra.

Embora a região como um todo pudesse estar alcançando níveis

maiores de desenvolvimento, se as glebas dos assentamentos estivessem

produzindo como o esperado, Rorainópolis continua crescendo, em um

desenvolvimento espontâneo; encontra­se em sinergia. São Luiz do Anauá,

São João da Baliza e Caroebe, inicialmente simples núcleos urbanos que

receberam foros de município, estão se desenvolvendo com a alta intervenção

do governo estadual, que dotou essas cidades com todo os equipamentos

urbanos. Todas essas quatro cidades do Sudeste de Roraima recebem a

população que abandona a zona rural, em entropia.

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Conclusão

Propositadamente, não se procurou, como seria recomendável, colocar

em ordem as diferentes áreas segundo sua dinâmica territorial e forma de

desenvolvimento, separando as áreas em entropia das em sinergia.

Direcionou­se a ordem de entrada das áreas de desenvolvimento a partir do

centro, a capital do Estado, e daí, em função de relações entre elas de

correspondência e de fluxos.

Em decorrência dessa exposição, sobressai o sentimento de um Estado

em ebulição, onde se tem diferentes tipos de troca de energia, com fluxos de

diversas direções, conflitos. Resultado esperado de uma região que passou

em um curto espaço de tempo, de um passado lento e sedimentado para um

presente acelerado e mutante, virando de cabeça para baixo economia,

sociedade, valores e a terra.

O que se viu nesses últimos trinta anos foi que, para ocupar áreas de

fronteira, são abertos assentamentos agrícolas ao longo das novas rodovias

que se abriam na floresta, e elegem­se para ocupá­los excedentes

populacionais de outros lugares do país, esvaziando­se, de imediato, os

conflitos nesses lugares existentes, e com isso chegam os maranhenses a

Roraima; a mineração do ouro e do diamante assume grandes proporções e a

dizimação dos yanomamis pelos garimpeiros chama a atenção dos organismos

internacionais, e com isso aumenta a conscientização nacional a respeito e

fecham­se, por lei,os garimpos em todo o território nacional; e, ainda mais

significativo, acelera­se a regulamentação de terras para os indígenas, que

antes tinham suas aldeias misturadas às tradicionais fazendas de gado e que

depois passaram a ficar espremidas pela multiplicação de muitas outras novas

fazendas; e, em decorrência disso, fazendeiros foram expropriados e passaram

a abrir seus pastos em áreas da floresta, ou adquirindo os direitos de algumas

glebas melhor situadas; glebas essas abandonadas pelos assentados, e de

muitas outras glebas e assentamentos, tomando o rumo das cidades onde

possam ter outras oportunidades de sobrevivência; concomitante a isso, e em

função de tudo isso, tem­se o crescimento da capital com a chegada dos novos

funcionários do Estado, crescimento que transformou o antigo território, o que

implicou no surgimento de novas demandas, que acarretam a modernização da

Economia tanto na cidade quanto na zona rural próxima, trazendo novas

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alternativas para ex­garimpeiros, ex­assentados e mesmo indígenas ex­

aldeiados, tudo isso realimentando o seu crescimento e o seu

desenvolvimento; ao passo que, ao longo do rio Branco, outrora a grande

artéria líquida de comunicação da região com o restante do país, assiste­se,

agora abandonada e relegada pelo deslocamento do eixo de desenvolvimento

para a estrada que rasgou a selva e que, depois de asfaltada, garante a

comunicação durante todo o ano, desde Manaus até Boa Vista, e ainda até

Caracas, assiste­se ao fim da incipiente economia baseada no extrativismo da

balata e saída dos ribeirinhos que povoavam suas margens em busca de

outras oportunidades; e Boa Vista se moderniza e o Estado cresce, quer mais

controle sobre sua terra e busca por mais espaços.

E aí se apresenta a questão axial para o desenvolvimento regional do

Estado: encontrar os meios de como lidar com a questão do domínio da terra e

a da multiplicidade de suas populações.

Mais do que entre fazendeiros e indígenas, o embate de forças dentro

da dinâmica territorial de Roraima tem­se dado, sucessivamente, mandato a

mandato, entre governos estaduais e os da União. Tem­se dois estados.

Embora, normalmente, se tenha realmente dois estados, o estadual dentro do

nacional, a diferença ideológica entre o nível local e o nacional leva a que se

observe com mais atenção a qualidade dessa relação.

Os estudos para lidar com as contradições do desenvolvimento

econômico e social em relação ao meio­ambiente já se encontram bem

avançados, no sentido de se dar a devida importância à biodiversidade. No

entanto, em relação às ditas comunidades tradicionais, ou seja, comunidades

indígenas, quilombolas e outras, ainda se discutiu e se avançou muito pouco

em direção a como lidar com a sociodiversidade dentro da realidade do

presente e diante da realidade do futuro.

A questão indígena quanto ao desenvolvimento é um assunto por

demais melindroso e de difícil apreensão de todos os elementos envolvidos, e

até mesmo de identificá­los. Embora, aparentemente, seja tratada apenas

como uma questão de terra, se fosse encarada pelo prisma do Planejamento

Regional e do desenvolvimento, passaria a ser uma questão de atendimento

das distintas necessidades básicas de diferentes populações que co­habitam

um país.

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Por fim, deve ser ressaltada a importância dos estudos de dinâmica

territorial, para que se identifiquem as diferentes áreas quanto ao

desenvolvimento e para que os escritórios de Planejamento tenham assim uma

compreensão integrada de uma região e possam traçar diagnósticos e sugerir

medidas corretivas no intuito de subsidiar as esferas do poder de tomada de

decisão.

E não se deve esquecer que este trabalho teve por base um

levantamento de ocupação e uso da terra, que com isso se mostrou uma

ferramenta útil para a área de estudo do Desenvolvimento Regional,

principalmente se esses levantamentos privilegiam não tão somente a

cobertura da Terra, como também, os sistemas e as formas de produção e a

estrutura fundiária.

Espera­se que a presente contribuição tenha continuidade em outros

trabalhos, tanto na identificação de outras áreas de desenvolvimento, quanto

no aprofundamento do estudo de cada área definida, porque Roraima é um

Estado rico em exemplos para o estudo do desenvolvimento e da dinâmica

territorial, e mais, em tempo real. Um Estado em transformação, em busca de

sua cara.

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Agradecimentos

Os nossos agradecimentos a Regina Maria Pereira Coutinho, geógrafa,

analista especializada do IBGE, pela elaboração do cartograma apresentado

neste trabalho em meio digital, utilizando o aplicativo Microstation.