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1 brasília nasceu de um gesto primário: dois eixos se cruzando, ou seja, o próprio sinal da cruz como quem pede bênção ou perdão Braxilia final.indd 1 10/08/2012 12:49:45

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brasília nasceu de um gesto primário: dois eixos se cruzando, ou seja, o próprio sinal da cruz

como quem pede bênçãoou perdão

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BRAXÍLIA REVISITADA VOL. I

Copiraite bai © Nicolas BehrCapa: Criação do autor

1ª edição - 20042ª edição - 2012

“OBRAS quase COMPLETAS” Cx. Postal 866670.312-970 – Brasília [email protected] (61) 3468 3191

RESTOS VITAIS Iogurte com Farinha – agosto 77Grande Circular – junho 78Caroço de Goiaba – julho 78Chá com Porrada – julho 78 (impedido de publicar, por ordem judicial, entre 15 de agosto de 78 a 30 de março de 79, escreveu poemas em telhas frescas, depois queimadas, da série “ O que me der na telha ”)Bagaço – maio 79

VINDE A MIM AS PALAVRINHAS Com a Boca na Botija – junho 79Parto do Dia – julho 79 Elevador de Serviço – agosto 79Põe sia nisso! – agosto 79Entre Quadras – agosto 79 Brasiléia Desvairada – setembro 79 Saída de Emergência – setembro 79Kruh – outubro 79303F415 – julho 80L2 Noves Fora W3 – novembro 80

PRIMEIRA PESSOA Porque Construí Braxília – 1993Beijo de Hiena – 1993 Pelas Lanchonetes dos Casais Felizes – 1994Segredo Secreto – 1996 Estranhos Fenômenos – 1997 (antologia, seleção do autor – 1977- 97)Viver Deveria Bastar – 2001

Umbigo – 1ª ed. 2001, 2ª ed. 2006 Poesília – poesia pau-brasilia - 2002 Menino Diamantino – 1ª ed. 2003, 2ª ed. 2012 Peregrino do Estranho – 2004 Braxília Revisitada – vol. I – 2004, 2ª ed. 2012 Restos Vitais – (coletânea) – 2005 Vinde a Mim as Palavrinhas (coletânea) – 2005 Primeira Pessoa (coletânea) – 2005 Iniciação à Dendrolatria – 2006 Laranja Seleta, Ed. Língua Geral - 2007 Beije-me (fotografias) - 2009 La Brasilíada (espanhol) - 2009 O Bagaço da Laranja - (antilogia)- 2009 Brasilíada, Ed. Língua Geral - 2010 A Lenda do Menino Lambari - 2012Meio Seio, Ed. Língua Geral - 2012

Inéditos:A Teus Pilotis O Itinerário do Curativo A Balada do Falso Poeta BRASÍFRA-ME OUSuperquadras invisíveisAILISARB - Enciclopédia FantásticaEu tenho unhas

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quando será inaugurada em mim esta cidade?

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“ ...aparecerá neste sítio a terra prometida donde fluirão leite e mel”. ô seu dom bosco, cadê o leite? cadê o mel? cadê o meu pão com manteiga?

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no dia da inauguração os candangos jogaram seus sonhos pra cima quem pegar pegou

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não tente gostar de brasília tão rápido assim

blocos de verdade sobrevoam superquadras imaginárias

superquadras à procura de uma cidade

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jk perdeua eleição

brasília não existe

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brasília só para convidados

sem crachá não entrasem carimbo não entrasem puxar o saco não entrasem este poema não entra

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brasília é isso mesmo que você está vendo mesmo que você não esteja vendo nada

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viadutos sem saídas

apartamentos sem portas

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eixos que se cruzam

pessoas que não se encontram

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aqui se celebram os valores de uma sociedade

aqui se enobrece o espírito de uma nação

blá-blá-blá blasília

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anunciaram a utopia

mas foi brasília que apareceu

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tua fauna oficial: cisnes australianos no espelho d’água do congresso nacional

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tua fauna marginal: quero-queros levando pedrada no gramado em frente à rodoviária

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três da madrugada no eixão

sem ter pra onde ir sem ter pra onde corrergritar não vale morrer não adianta

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já é brasília?

não

apenas a sensação

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teus ministérios minhas ministéricas

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se estão a preservar cidades barrocas por que não incluir brasília?

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quando do fechamento do rio paranoá para formar o lago,seriemas, tatus e paus-terrasentoaram um réquiem em memória dos peixes afogados

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turistas casuais, indiferentes,fazendo xixi no pé do monumento

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da próxima vezque eu for a brasília não vou trazer uma flor do cerrado pra você

vou depositá-la no túmulo do candango desconhecido

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o poema é área públicainvadida pela imaginação

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o pássaro-esqueleto sobrevoa a cidade-espelho e não se reconhece

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o céu é nosso mar

mar sem sal

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nova missão cruls:reencontrar brasília

encontrou

mas não contou pra ninguém

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não ficará carimbo sobre carimbo

e carimbo sobre carimboreconstruiremos a cidade sem carimbos

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monumental para ser esquecida

monumental para não ser lembrada

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minha poesia é o que estou vendo agora: um homem correndo na direção de um carro no eixão

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ilha cercada de goiáspor todos os lados

nós, goianos do quadradinho

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feche as suas asassobre elesfecheisso isso

agora aperte bem

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é possível tocar a pele da cidade?

a grama queimadaa educação pelo fogo

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dor arquivadafelicidade protocolada utopia adiada

brasília é o fracasso mais bem planejado de todos os tempos

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demarcar a área do poema no planalto central,tomar posse do poema, ocupá-lo, loteá-lo e depois abandoná-lo nesta página

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começa a demolição

quero pra mim os anjos da catedral

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cidade inventada?ah, inventa outra!

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brasília é a incapacidade do contato afetivo entre a laje e o concreto

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brasília abandonada império abortado

e eu, gladiador manco e sensível, perdido neste imenso coliseu goiano

para paulo bertran

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blocos melancólicos superquadrassem superego eixos se retorcendomonumentos em agonia gramados deprimidoslinhas suicidas

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bicos de seios apontam a direção do monumento na cidade plana

sem seios sem desejos

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por onde vaga a alma de brasília?

procurando uma vagapara estacionar a alma

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brasília é maquete

modelo reduzido do nosso fracasso

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assim nós queremos viver, nós dissemos

assim nós queremos que vocês vivam, disse o arquiteto

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as mudanças no plano pilotoas mudanças em mim

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as águas do paranoánão correm para o mar

viram nuvens e ficam paradas no ar

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arte rupestre do modernismo painéis de athos bulcão

indícios, vestígios esboços, rabiscos

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você ri né jkvai rindo vai rindo até você ver o que fizeram com a sua cidade

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é o fogo no cerradoou é brasília que queima,lá longe?

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alonsanfan óxente

neva na esplanada barricadas na rodoviária a tomada da brastilha

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cai cai balãocai cai balãono meio do eixão

não cai nãonão cai não não cai não

no eixão eu não vou não

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arte pra arquiteto verpoema pra analfabeto ler

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eu sou as 300eu sou as 400

pro mario

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a poesia chapa-brancaatropela o poeta-oficial em pleno eixo monumental

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crie corageme troque de nome cidade jk

que talvez assim o mereça

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tuas qualidades arquitetônicas

meus defeitos poéticos

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o trigo de zeus o louro de apolo o cipreste de hércules a vinha de dionísio

o pequi de jk o araticum de niemeyer o buriti de burle marx a cagaita de lucio costa

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não, o poeta não pode subir

também não pode falar com o síndico pelo interfone, muito menos ficar embaixo do bloco

o poeta pode se matar?

pode sim, mas sem sujar o piso e os pilotis

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nem tudo são árvores na cidade-parque

nem tudo são floresna cidade-jardim

nem tudo é tudo na cidade-nada

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no meio do pesadelo apareceu brasília

aí o pesadelo acabou e começou outro

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memorial cícero rufino de souza

ponte josé severino feitosa

aeroporto raimundo nonato da silva

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o psicólogo o sociólogo o antropólogo explicam brasília

eu não entendoeu gosto

pra pagu

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aqui onde todas as horas são de ninguém

aqui onde todas as honrassão de alguém

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ontem desabaram sobre mimduas superquadras inteiras

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os convênios convenientesas licitações ilícitas não solicitadaso jatinho o jeitinho o jeton as comissões as omissões os conchavos côncavos e convexos

as nem sempre excelentíssimas pessoas

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para os candangos, no princípio do mundo, existiam apenas poeira, soprada pelo deus do vento e lama, soprada pelo deus da chuva

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por uma brasília cabocla: palácios de pau-a-pique blocos de adobe cobertos de palharoçados no lugar dos gramados carros-de-boi transportando ministros

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alô? eu queria falar com a substituta da assistente da secretária da coordenadoria da secretaria da assessoria da chefia da procuradoria da defensoria da corregedoria da ouvidoria da dona maria que está na portaria. ah, saiu? não volta mais hoje…

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respeitosamente encaminho a vossa senhoria, em anexo, a planta do anexo do anexo do anexo do ministério sem nexo

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salvador (1549- 1763) – 214 anosrio de janeiro (1763 – 1960) – 197 anos brasília (1960 – 2166) - 206 anos

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antes de ser matéria compactaesses pilotis que você toca foi sonho

toque com cuidado

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aqui não havia nadasó um grande vazioum deserto

aí inauguraram a capital e o cerrado apareceu logo depois

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adentro a superquadra bombardeada

estou na 315 ou na 415 sul?

pra que lado fica o eixão?

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abortar planos trazer costa no peito estourar balões oscar de efeitos arquitetônicos cegar tesourinhas jotaká desce daí

flores burlescas zombam de jardins marxistas

todos sofrem no país de israel

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a terra bruta, os homens brutos, a terra vermelha, sangüínea,deflorada

o holocausto vegetal que se inicia

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a superquadra nada mais é do que a solidão dividida em blocos

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brasília não envelheceu

abrasileirou-se

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buritis burocráticos demitem monótonos gramados

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caldo de cana amargo pastel frio e insosso passageiro sem destino rodoviária vazia

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carente, solitário, aos domingos à tarde ia para a esplanada só para dar informações aos turistas

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burocratas de verdade só fazem amor em almofadas de carimbo

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centro cultural nicolas behr?

nem morto

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clips promovido a grampeadorsonhando ser carimbo um dia

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como decifrar tua caligrafia de postes e ventos?

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o que não falei sobre brasília o tempo dirá por mim

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eu insulto o burocrata sim o burocrata não

eu insulto o burocrata sim-sim o burocrata não-não

pro mário

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evangelho da realidade contra jotakristo segundo são lúcio

naquele dia, jotakristo, subindo aos céus num pé de pequi, disse aos candangos: felizes os que construíram comigo esta cidade pois irão todos para as satélites

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feitorias, coqueirais e crustáceos apenas interiorizados

brasília para sempre ancoradano litoral do lago paranoá

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ilha da fantasia?não!

arquipélago da imaginação!

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ipês protestam contra os atropelamentos no eixão oferecendo flores às vítimas

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leitura da segunda carta de são oscar aos candangos, goianos e troianos

naqueles dias, jotakristo, vindo de luziânia, parou numa entrequadra, sentou-se numa faixa de pedestre e perguntou aos seus discípulos: estão vendo aquele pardal ali? nem eu

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logo após o dia 11 de setembro, assustados com a possibilidade deatentado a todas as torres gêmeas do mundo, os senadores e deputadosaprovaram rapidamente uma lei que tornava o edifício do congresso nacional invisível aos aviões

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mordo o bloco até sangrarem as gengivas dos pilotis

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mordo brasília e não ladro mais enquanto passam os comboios presidenciais

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meu alicate de estimação perdido para sempre na construção da rodoviária

como soldar novamente meus sonhos a ti?

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meu olhar distorcido sobre timeu olhar cego meu olhar doce

meu lirismo não-amoroso te cantar é desencantar

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na declaração pediram para preencher os campos

– os campos minados –

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os candangos pegavam na vida sem luvas

a vida é um fio desencapado caído na rua em noite de chuva

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ninguém comeu brasília

como eu

brasília nua e crua

como assim?

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no princípio era a lama a lama virou cama a cama virou câmara

onde eles legislam deitam e rolam

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nordestinos em forma de aves migratórias pousam na beira do lago paranoá para um breve descanso

alguns fazem ninhos e ficam

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nossos balões têm mais floresnossos gramados são mais verdesnossos burocratas muito mais dóceisnossos carimbos mais reluzentes

nossos poetas bem comportados

demais

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ODE PARA BRASÍLIA

ode? onde?ode é pra quem pode!

avenidas largas – gestos estreitos grandes espaços – pequenos passos

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o nível do mar baixou e o esqueleto de brasília surgiu

quem foram os construtores dessa fantástica cidade?

teriam sido felizes os seus habitantes?

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poetas no semáforo te oferecendo balinhas, uma cidade ou o esboço

vai levar esta aqui, moço?!

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os candangos foram então obrigados a morar fora da cidade fortificada

já os brasilienses migraram para a capital logo depois, encontrando a cidade pronta

mesmo após brasília continuaremos desejando viver em sociedade?

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chegou ao último degrau da carreira e, lá de cima, pulou

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o maior poeta de brasília acaba de se enforcar com uma fita métrica

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a última coisa que eu quero fazer em brasília é morrer

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