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Brasil tem um grande desafio à frente: envelhecer com saúde exame.abril.com.br/revista-exame/envelhecer-com-saude Até 2030, o país terá pela 1ª vez mais idosos que crianças. O setor de saúde será pressionado, mas a tecnologia e a gestão eficiente podem trazer equilíbrio Por Flávia Furlan, de Brasília (DF), e Leo Branco, de Palmas (TO) Idosos no Brasil: a presença de pessoas acima de 60 anos na população cresce em ritmo acelerado | Andréa Rêgo Barros/PCR/FOTOSPUBLICAS / (/) A rede de laboratórios Alliar enfrenta um dos maiores desafios de sua curta história — a empresa foi criada em 2011 por quatro grupos de diagnósticos de São Paulo, de Minas Gerais e de Mato Grosso do Sul. Impelida pelos planos de saúde , a Alliar batalha diligentemente pela eficiência. Um dos recursos que estão gerando ganho de produtividade são as centrais de comando de exames de ressonância magnética a distância. Para o exame, normalmente o paciente é conduzido por um auxiliar até o equipamento, enquanto um técnico dentro da mesma sala programa o aparelho. Mas na Alliar não é mais assim. Os técnicos ficam nas centrais (dentro ou fora da unidade em que o exame é realizado), de onde comandam a ressonância e se comunicam com o paciente e o auxiliar. Isso é possível com o uso de softwares, câmeras e microfones da alemã Siemens. O aparato, criado a princípio para a Alliar, já foi exportado para Estados Unidos, Alemanha, China e Índia. Instalada em 2015, a primeira central da Alliar, no bairro 1/11

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Page 1: Brasil tem um grande desafio à frente: envelhecer com saúde · saúde. “O modelo tradicional de plano de saúde está fadado ao insucesso, porque, de cada 100 reais arrecadados,

Brasil tem um grande desafio à frente: envelhecer comsaúde

exame.abril.com.br/revista-exame/envelhecer-com-saude

Até 2030, o país terá pela 1ª vez mais idosos que crianças. Osetor de saúde será pressionado, mas a tecnologia e agestão eficiente podem trazer equilíbrioPor Flávia Furlan, de Brasília (DF), e Leo Branco, de Palmas (TO)

Idosos no Brasil: a presença de pessoas acima de 60 anos na população cresce em ritmoacelerado | Andréa Rêgo Barros/PCR/FOTOSPUBLICAS / (/)

A rede de laboratórios Alliar enfrenta um dos maiores desafios de sua curta história — aempresa foi criada em 2011 por quatro grupos de diagnósticos de São Paulo, de MinasGerais e de Mato Grosso do Sul. Impelida pelos planos de saúde, a Alliar batalhadiligentemente pela eficiência. Um dos recursos que estão gerando ganho deprodutividade são as centrais de comando de exames de ressonância magnética adistância. Para o exame, normalmente o paciente é conduzido por um auxiliar até oequipamento, enquanto um técnico dentro da mesma sala programa o aparelho. Mas naAlliar não é mais assim. Os técnicos ficam nas centrais (dentro ou fora da unidade em queo exame é realizado), de onde comandam a ressonância e se comunicam com o paciente eo auxiliar. Isso é possível com o uso de softwares, câmeras e microfones da alemãSiemens. O aparato, criado a princípio para a Alliar, já foi exportado para Estados Unidos,Alemanha, China e Índia. Instalada em 2015, a primeira central da Alliar, no bairro

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paulistano da Vila Mariana, tem 35 técnicos que programam 40 máquinas. Com atecnologia, foi possível reduzir em um terço o número de técnicos na rede — como háradiação nas salas de exame, a lei limita a carga de trabalho e eram necessários maisprofissionais na versão presencial. Já os pedidos de repetição de exames caíram 35%,uma vez que o técnico não atende todos os pacientes que batem à porta, só os que farãoos exames de sua especialidade. “Os planos de saúde nos pressionam para a redução dopreço dos serviços”, diz Eduardo Margara, diretor de operações da Alliar. “Eles sentemuma alta nos pedidos de exames devido ao envelhecimento da população, o que, por suavez, está pressionando seus custos.”

Centro de operação de exames da Alliar: a tecnologia reduz custos | Fabiano Accorsi

O setor de saúde brasileiro — assim como a Alliar — está inquieto. Enquanto tenta lidarcom as mazelas históricas do desperdício e da má gestão, agora também tem de seadaptar à realidade do envelhecimento da população. Não é de hoje que se verificou essatendência, mas o fato é que seus impactos estão mais evidentes. A longevidade, umaconquista da humanidade, está fazendo a quantidade de idosos aumentar em todo omundo. No Brasil, o ritmo tem se acelerado. A Organização das Nações Unidas prevê que,de 1950 a 2050, a fatia de pessoas acima de 60 anos na população cresça seis vezes noBrasil, o dobro da taxa projetada para paí-ses como Canadá e Holanda. Em 2030, onúmero de idosos por aqui vai superar pela primeira vez o de crianças com até 14 anos. “OBrasil demorou 18 anos para dobrar a população de idosos, enquanto a França levou 45anos”, diz o médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional deLongevidade. “Há nações que conseguem postergar o efeito do envelhecimento atraindoimigrantes, o que não acontece por aqui.” Kalache palestrou durante o EXAME FórumSaúde, realizado em Brasília no dia 21 de junho, com a presença de autoridades,executivos e especialistas no setor de saúde brasileiro.

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Fábrica da Abbot, no Rio de Janeiro: a redução da burocracia abrirá portas para trazer mais remédios ao país | MarceloCorrea

Viver mais é uma boa notícia para todo mundo, desde que se viva com saúde. E, nesseponto, os especialistas acreditam que o Brasil avança lentamente. A população estáficando mais idosa, porém continua pobre e desigual. Segundo a Organização das NaçõesUnidas, o país é o décimo mais desigual no mundo. Por aqui, um cidadão pobre leva novegerações para atingir a renda média nacional, enquanto na Dinamarca são necessáriasapenas duas. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE), que reúne os países mais ricos, os jovens de hoje enfrentarão mais desigualdadena velhice do que os aposentados atuais, devido ao desemprego e às disparidadessalariais causadas pelas últimas crises. “O envelhecimento nos toca desde o início da vida,quando é preciso promover a saúde, a participação na sociedade e o aprendizadocontínuo”, afirma Kalache.

Para o setor público, fica a preocupação com os idosos de menor renda, que tendem ater mais complicações decorrentes de doenças crônicas e a precisar de mais cuidados delongo prazo. Normalmente, um familiar deixa de trabalhar para cuidar do idoso doente ou afamília desembolsa muitos recursos com o cuidador, podendo comprometer até 70% darenda do domicílio. Segundo a OCDE, há apenas 218 instituições públicas, como casas derepouso, disponíveis para atender 20 milhões de brasileiros de mais idade, e 71% dosmunicípios não têm esse tipo de instituição. Sem um cuidado apropriado à população,haverá mais pressão no sistema público, que já está sobrecarregado. Essa realidade éevidenciada pela opinião do brasileiro sobre os serviços públicos: três em cada quatroafirmam que eles são ruins ou péssimos e cerca de 80% já desistiram de uma consulta ouexame pela demora em marcar. “A percepção do brasileiro é que o sistema públicosimplesmente não está funcionando”, diz Renato da Fonseca, gerente da ConfederaçãoNacional da Indústria, responsável por uma pesquisa a respeito.

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Diante dessa realidade, o setor público começa a buscar mais eficiência com o uso detecnologia. Em Curitiba, no Paraná, há prontuários eletrônicos para toda a populaçãodesde 1999. No início deste ano, a tecnologia permitiu identificar os 500 000 cidadãos queprecisavam de vacinação diante do surto de febre amarela e os 30 000 cidadãos acima de80 anos que necessitam deacompanhamento de saúde. Na cidade, desde o ano passado,os médicos vão até a residência de idosos com doenças crônicas para fazer coisas comomedir a pressão ou prescrever um remédio. “O custo anual do projeto, de 1,2 milhão dereais, é um décimo do que seria gasto com uma internação”, diz a secretária de Saúde deCuritiba, Márcia Huçulak. O resultado: a taxa de internações na cidade, de seis casos paracada 100 000 atendimentos, está um terço abaixo da média nacional.

Além do setor público, o privado também não está numa situação confortável. Com alongevidade, tende a crescer mais de 50% o número de internações, exames e consultasde idosos nos planos de saúde até 2030, segundo o Instituto de Estudos em SaúdeSuplementar, um centro de pesquisa mantido pelas operadoras privadas de planos desaúde. “O modelo tradicional de plano de saúde está fadado ao insucesso, porque, decada 100 reais arrecadados, 85 vão para o pagamento de despesas com o atendimentoaos pacientes”, diz Leandro Fonseca da Silva, diretor da Agência Nacional de SaúdeSuplementar. “É por isso que temos insistido que as empresas sejam gestoras da saúdedos pacientes,e não apenas vendedoras de planos de saúde.” Como forma de equilibrar aconta, a agência lançou novas regras para a coparticipação dos clientes no pagamento deconsultas e exames. Grandes empresas também estão agindo para reduzir os custos dosplanos dos funcionários. Um caso recente é o da Amazon, da gestora Berkshire Hathawaye do banco JP Morgan Chase, que anunciaram a criação de uma empresa conjunta desaúde, sem fins lucrativos, para reduzir os custos dos planos de seu 1 milhão deempregados. Entre as atividades previstas pela nova empresa está o desenvolvimento deaplicativos, como um que sugere genéricos para que os funcionários saibam de opçõesmais baratas de remédios na hora da compra.

Caso nada seja feito, o Brasil poderá alcançar 25% do produto interno bruto de gasto totalno sistema de saúde — hoje, a fatia é de 9,5%. Os dados, do Instituto Coa-lizão Saúde,que elabora estudos na área, consideram a mudança do perfil demográfico — o custo doatendimento hospitalar de quem tem mais de 60 anos é o dobro do registrado para outrasfaixas etárias. Na projeção dos gastos, entra também a inflação dos serviços de saúde,cujos preços têm subido devido à incorporação de novas tecnologias. Um estudo daconsultoria Mercer Marsh Benefícios, realizado com 225 operadores de saúde em 62países, mostra que o Brasil terá a terceira maior inflação médica neste ano, de 15,4%,atrás apenas da Argentina, com 26%, e do Egito, com 20%.

Uma forma de reduzir o custo é garantir a oferta de remédios a preços mais baratos.Nessa jornada, o Ministério da Saúde tem formado parcerias com o setor privado desde2012, comprando em grandes quantidades por valores inferiores das farmacêuticas, com acontrapartida de transferência de tecnologia para os laboratórios públicos. Até agora, 112parcerias já foram feitas, gerando economia de 5,2 bilhões de reais. “As parceriasampliaram a oferta de medicamentos pelo Sistema Único de Saúde”, diz Thiago RodriguesSantos, diretor de Inovação do Ministério da Saúde. A redução de custos também pode vircom os medicamentos biossimilares, uma espécie de genéricos dos biológicos, que tratam

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de doenças complexas e representam gastos anuais de 1,3 bilhão de reais no Brasil. Hoje,a Agência Nacional de Vigilância Sanitária analisa o pedido de 11 biossimilares.“Estimamos que deverá haver redução de até 10% em relação ao preço do remédio dereferência, que também tende a cair com a pressão da entrada de um biossimilar”, dizAlcebíades Athayde Júnior, presidente da farmacêutica Libbs.

Esses exemplos mostram que o Brasil não está fadado ao fracasso na luta por trazerequilíbrio ao sistema de saúde. Ao contrário disso, uma série de medidas pode sertomada, com impactos significativos. Os dados do Instituto Coalizão Saúde mostram que,se eliminados os fatores de risco, como tabagismo, sedentarismo, consumo excessivo deálcool e dieta pouco saudável, seriam poupados 100 bilhões de reais ao ano do sistema.“A primeira coisa a fazer é criar uma cultura que dê prioridade à prevenção de doenças”,diz Denise Eloi, diretora executiva do Instituto Coalizão Saúde, também participante doEXAME Fórum Saúde.

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Promover a saúde requer uma rede de atendimento próxima do paciente, um desafio paraum país continental. O Brasil tem dois médicos para cada 1 000 cidadãos, número quetriplica nas cidades acima de 500 000 habitantes, mas cai para menos de 0,5 emmunicípios pequenos da Região Norte, de acordo com o Conselho Federal de Medicina.Mesmo as cidades médias da região sofrem com uma quantidade de médicos 53% inferiorà média nacional para municípios similares. Em Palmas, capital do Tocantins, desde 2014a prefeitura financia uma escola para que recém-formados em medicina possam fazer aespecialização nos postos de saúde, com visitas à casa de pacientes. Em quatro anos,400 jovens passaram pelo programa. Antes da residência médica, menos da metade dosmoradores tinha acesso a consultas preventivas. “Hoje, graças aos residentes,conseguimos cobrir toda a cidade”, diz o médico Nésio Fernandes, ex-secretário de saúdede Palmas que implementou o projeto. A fila de espera para uma consulta médica nãourgente, que não raramente superava 10 000 pessoas, hoje está quase zerada.

O caminho para garantir serviços melhores a uma população que envelhece tambémpassa por redução da burocracia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem semexido nesse sentido. “Temos um número de técnicos pequeno para manter o sistema

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eficiente como o mercado gostaria”, disse no EXAME Fórum Saúde Varley Dias Sousa,gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da Anvisa. “Mas os produtos maisurgentes têm sido aprovados em ritmo mais acelerado.” Até há pouco tempo, todo registrode remédio entrava numa fila única e os técnicos tinham de avaliar o que caía em suasmãos. A fila alcançou 700 pedidos, com demora de até seis anos para resposta. No iníciodo ano passado, estagiários foram contratados para checar os documentos antes de oprocesso começar, e os 33 técnicos foram divididos em áreas de conhecimento, avaliandomais de um remédio com função semelhante ao mesmo tempo. A fila caiu 80% e deve serzerada nos próximos meses. Dessa forma, mais remédios devem chegar ao país.“Produtos que estão em nosso portfólio em outros mercados há muito tempo, e que nãotrazíamos pela demora em aprovar, agora já podem ser lançados aqui”, diz Juan CarlosGaona, presidente do laboratório americano Abbott no Brasil.

O Brasil tem um duplo desafio: sanar as doenças do sistema de saúde, hoje emdesequilíbrio, enquanto aprende a lidar com o envelhecimento da população. Nas próximaspáginas, EXAME mostra exemplos de países que conseguiram tornar o sistema de saúdemais sustentável, de tecnologias que reduzem os custos e de empresas cujo negócio focaa longevidade. São componentes importantes de uma possível receita para o Brasilenvelhecer, mas com boa saúde.

DEBATE: VIVER MAIS E MELHOR

Executivos, gestores públicos e especialistas em longevidade estiveram no EXAMEFórum Saúde, em Brasília, para debater como ampliar o acesso à saúde e prolongar avida dos brasileiros | Fotos: Cristiano Mariz

Leandro Fonseca da Silva, diretor da ANS: “As operadoras precisam ser gestoras da saúde dos pacientes”

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Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade: “Desde cedo precisamos pensar no envelhecimento”

Thiago Rodrigues Santos, diretor do Departamento do Complexo Industrial e Inovação do Ministério da Saúde (à esq.);Varley Dias Sousa, gerente-geral de medicamentos da Anvisa (ao centro); e Pedro Bernardo, presidente da Interfarma:

a redução da burocracia pode ampliar o acesso da população brasileira a mais medicamentos inovadores

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Gaetano Crupi, presidente da Bristol-Myers Squibb: “Novas tecnologias ajudarão no equilíbrio do sistema de saúde”

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Lídia Abdalla, presidente do laboratório Sabin (à esq.); Denise Eloi, diretora executiva do Instituto Coalizão Saúde; eAdriano Caldas, presidente da Johnson & Johnson Medical Devices: a prevenção é fundamental para reduzir os custos

do sistema de saúde

O PACIENTE COM A MÃO NO BOLSO

Pressionadas pelo aumento dos custos, as operadoras de planos de saúde repassam aconta aos clientes — e enfrentam uma boa dose de resistência

Atendimento no hospital: reajustes e coparticipações para controlar o custo do setorFoto: UEPG | Fotos Públicas

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O envelhecimento da população e a escalada da inflação médica estão causando umenorme problema para as empresas de planos de saúde. Elas têm tomado medidas paraganhar eficiência e conter a disparada das despesas. Como exemplo, a operadorabrasileira Amil, controlada pelo grupo americano UnitedHealth, tem 16 centros deprevenção para pacientes com doenças crônicas. Eles são orientados a seguir umaalimentação saudável e a praticar exercícios, uma forma de evitar a cara hospitalização.Mas, apesar da disseminação desse tipo de programa entre as operadoras, não há muitasaída: parte da conta de saúde está sendo repassada aos consumidores. Não sem umaboa dose de resistência.

No embate entre clientes e planos, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) moveu umaação para limitar o reajuste dos planos individuais em 2018 — nos anos anteriores, a taxasuperou 13%. O instituto se baseia num relatório do Tribunal de Contas da União queapontou problemas na metodologia da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).Segundo o documento, a ANS considera como base para o reajuste dos planos individuaiso aumento praticado nos planos coletivos, que são feitos sem tanta vigilância. O Idecganhou em primeira instância, quando o reajuste foi limitado a 5,72%, mas perdeu emsegunda. A ANS divulgou um reajuste de até 10%, e o Idec recorreu. O caso continua naJustiça.

No mais recente episódio, a ANS lançou em junho regras para a coparticipação dopaciente no pagamento de tratamentos cobertos pelos planos de saúde. Essas cobrançasocorrem há duas décadas, mas não tinham um limite. Agora, a coparticipação deve ser deno máximo 40%: numa consulta de 70 reais, o paciente pagará até 28 reais. Em um mês,a cobrança de todas as coparticipações não pode exceder o valor de uma mensalidade.“Atuamos para racionalizar o uso dos serviços de saúde e evitar o endividamentoexcessivo do paciente”, diz Rodrigo Aguiar, diretor de desenvolvimento setorial da ANS.De acordo com os órgãos de defesa do consumidor, as medidas desestimulam consultas eexames.

O esforço do setor de saúde para dividir a conta com os clientes está disseminado empaíses como Singapura e Holanda. “Isso reduz o desperdício e as fraudes, que atingem,em média, 20% dos recursos gastos com saúde”, diz Carlos Suslik, consultor especializadoem gestão de saúde. É uma saída para lidar com as mazelas do sistema brasileiro, masque deve causar mais embates.

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