bora catucar? análise folkcomunicacional do samba-brega periférico de joão do morro na...
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No final da primeira década do século XXI, a cultura brasileira foi palco de grandes choques culturais, entre popular e erudito, entre as expressões das classes populares em franca ascensão econômica e os costumes e valores hegemônicos, midiatizados globalmente. Contudo, este encontro mostra facetas mais complexas na forma de apropriações e mediações culturais, como no caso do samba-brega de João do Morro, um artista da periferia que em 2006 surgiu como fenômeno no cenário cultural de Recife, Pernambuco. Provindo de um bairro periférico tradicionalmente associado à cultura popular, o Morro da Conceição, o músico adentrou o circuito de shows de classe média-alta, além de reverberar nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais. Com letras consideradas polêmicas, tratando de temas como a sexualidade, as drogas, a violência e os hábitos de consumo da classe C, o artista foi apontado como “cronista da comunidade”, autor de uma “sociologia suburbana”. Baseados na tradição fenomenológica, analisamos suas letras sob dois vieses: o da Folkcomunicação, na medida em que João do Morro poderia ser considerado um ativista midiático, além da ótica do desenvolvimento local, dada a relevância social dos temas que aborda.TRANSCRIPT
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Marcelo SabbatiniUniversidade Federal de Pernambuco
Rede Folkcom
VOZ DAS CARROCINHAS, CRONISTA DA COMUNIDADE OU REI? ANÁLISE
FOLKCOMUNICACIONAL DO SAMBA-BREGA PERIFÉRICO DE JOÃO DO MORRO
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Conceitos
● Líder de opinião / ativismo midiático● Mediações culturais● Ressignificação● Desenvolvimento local
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Uma polêmica tem assombrado os portais e editorias de conteúdo cultural da cidade do Recife. (...) A controvertida bola da vez enverga uma tez achocolatada distribuída em 1,86 m de altura e atende pela alcunha carinhosa de João do Morro, um homem que faz questão de não renegar sua origens.
Sambista debochado e despretensiosamente pagodeiro de comunidade, o artista é egresso de Casa Amarela, um dos maiores bairros e aglomerados populacionais do Recife, cidade que se orgulha da profícua produção cultural que enverga desde tempos imemoriais
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Conceitos
● Líder de opinião / ativismo midiático● Mediações culturais● Ressignificação● Espaços e fluxos hegemônicos/populares● Desenvolvimento local
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Relações de consumo
● Não adianta comprar um celular /que bate foto, filma, baixa jogos na internet / com bluetooth, slim, 3G...Pra ligar 3 segundos?! / Já virou moda ter um celular / você encontra em qualquer lugar / seja um mendigo, carroceiro, papeleiro / maloqueiro, maconheiro / tem um celular / A moda agora é ter um celular / pra bater foto ou então filmar / mas no fim do mês / bota 10 ou 5 conto / e não gasta 1 centavo na hora de telefonar / 3 segundos.../ - Alô, amor, tas aonde? / - To saindo de casa pra ir pro pagode. Oh, não liga / pra mim pra falar 3 segundos, porque celular e mulher / é coisa pra quem pode.
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Símbolos de identidade
● Atenção quem dá chapinha, escova, henê, hairfly / Babosa, kolene, easy, biocolor, frizacolor, megahair / Guarnitina, banho zezé, óleo de tingir, anabel, gesebel / Banho de mel, escova de chocolate, progressiva, definitiva, / O gel de netinho, bobe, biliro, o lencinho dona florinda, / Quando chove é um corre, corre, tem mulher que levanta a blusa / Mostra o peito mas cobre o cabelo,
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Sexualidade e GLSBT
● a galera viajou / no babado dos boyzinho / teve caso que acabou / outros tão no sapatinho / se encontrando nas boates / em qual delas eu não sei / eu não tenho preconceito / se você olhar direito / hoje em dia o mundo é gay / é boyzinho com boyzinho / e boyzinha com boyzinha / é todo mundo se beijando / se amando, se abraçando e fazendo / frentinha.
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"Dupla Exploração"
● Papa frango / Ei boyzinho, você é papa frango! / Ei boyzinho, olha, deixa do teu caor! (sic)/ Ei boyzinho, essa camisa, essa bermuda! / Ei boyzinho, foi o seu frango que comprou! / Eu boyzinho, olha, não diga que é mentira! / Ei boyzinho, porque o frango me contou / Ei boyzinho, que você além de papa frango / Ei boyzinho, é papa frango e gigolô!
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Problemas sociais
● Chegado, espera mais um pouco pra gente ficar noiado, / eu tô esperando chegar o avião, que saiu de bike / pra comprar faz um tempão. / É sempre assim, seja em santo amaro ou na ilha do maruim, / nos coelhos la no coque ou no alto do pascoal, / é talco quento brita e sucesso na moral,
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● Dizem que negão gosta de galega / e que a galega adora um negão / quem quiser ficar comigo, não tem isso não / Entre um casal tem que haver respeito / não importa a raça, não importa a cor / pois o que vale na vida é o amor / O que mais se vê é falta de respeito / muito preconceito, o povo a falar / escuta essa história que eu vou contar / Uma mulher branca engravidou de um negro / o povo da rua a se perguntar: esse menino, como será? / Pegue uma galega e misture com um negão / Não vai nascer uma zebra, Você vai ver no que vai dar / Vai nascer, vai nascer um sarará / sarará, sarará, um menino sarará / (…) / E o nome dele é biro-biro / biro-biro, biro-biro, biro, é biro-biro.
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Economia da comunicação
● Deixa os meninos trabalhar com dignidade / Deixa que a carroça da galera é o ganha pão / Olha se os caras não vendessem meu CD / Se os caras não botasse pra moer / Eu não tava nessa mídia que eu to hoje não
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"Midiologia"
● A turma passa anos e anos estudando numa faculdade / pra ser um jornalista / daquele que dá notícia, fala mal ou bem (...) o jornalista tem uma vida babada, é muita fechação / nos bastidores da mídia, é vida louca, rola groove e rola pegação / e a putaria começa quando a turma se reúne e sai pra beber a turma fuma um charubeck pra tirar o stress e espairecer / (...) eu tô tirando essa onda, / só espero que ninguém se queixe / jornal ou revista, o destino é limpar bunda ou enrolar peixe.