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    Recomendaes de Adubao e Calagem para o Estado de So Paulo

    Bernardo van Raij Heitor Cantarella

    Jos Antnio Quaggio ngela Maria Cangiani Furlani

    1. INTRODUO

    Nesta Segunda Edio do Boletim Tcnico N 100, a base de anlise de solo para calagem e macronutrientes continua sendo a mesma da Primeira Edio. As determinaes bsicas so a matria orgnica, o pH em cloreto de clcio, o fsforo extrado do solo com resina trocadora de ons, os teores trocveis de clcio, magnsio e potssio e a acidez total a pH 7. Os valores calculados so a soma de bases, a capacidade de troca de ctions e a saturao por bases. A recomendao de calagem passou a ser feita visando a elevao da saturao por bases dos solos a valores variveis por culturas.

    O uso da anlise de solo ampliado nesta publicao, incluindo-se as determinaes de enxofre, boro, cobre, ferro, mangans e zinco, para amostras da camada arvel do solo, e argila e alumnio trocvel para amostras do subsolo. Alm disso, passa a ser usada a anlise foliar para muitas culturas, incluindo todos os macronutrientes e os micronutrientes boro, cobre, ferro, mangans e zinco. Todos os resultados de anlises de solo e de plantas apresentam-se no Sistema lnternacional de Unidades. No caso de corretivos e fertilizantes isso ainda no possvel e as recomendaes so dadas nos moldes antigos. Apenas nos captulos mais gerais avana-se um pouco em indicar contedos e clculos para corretivos e fertilizantes com base no Sistema Internacional de Unidades.

    A produtividade esperada introduzida como um importante critrio nas recomendaes de adubao. Para o nitrognio ainda no se usa a anlise de solo, mas a previso de respostas esperadas ao nutriente feita para diversas culturas anuais, com base no histrico de uso anterior da gleba; para algumas culturas perenes, a resposta a nitrognio inferida pelo teor foliar. Para muitas culturas, a diagnose foliar includa como instrumento complementar de avaliao do estado nutricional.

    Ampliaram-se as culturas contempladas, com a incluso de diversas de responsabilidade do Instituto Agronmico que ficaram fora da primeira edio. Alm disso, desta vez so apresentadas as recomendaes de adubao para pastagens e forrageiras e para essncias florestais. Tambm a hidroponia recebeu ateno nesta publicao.

    Os 12 primeiros captulos tratam de aspectos gerais, relacionados s anlises de solos e plantas; os outros captulos cuidam de recomendaes especficas para culturas, agrupadas em diversas categorias.

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    2. AMOSTRAGEM DE SOLO

    A amostragem de solo a primeira etapa em um bom programa de adubao e calagem. Nunca demais lembrar que, por melhor que seja a anlise qumica, ela no pode corrigir falhas na retirada da amostra ou na sua representatividade.

    Detalhes sobre amostragem de solo, tais como definio de glebas, retirada de amostras compostas, ferramentas utilizadas, local e profundidade de amostragem e outros, so apresentados em impressos distribudos pelos laboratrios. Contudo, alguns aspectos especficos so lembrados aqui, visando a maior uniformidade no procedimento.

    2.1 Escolha das glebas para amostragem

    Dividir a propriedade em glebas homogneas, nunca superiores a 20 hectares, amostrando cada rea isoladamente. Separar as glebas com a mesma posio topogrfica (solos de morro, meia encosta, baixada, etc.), cor do solo, textura (argilosos, arenosos), cultura ou vegetao anterior (pastagem, caf, milho, etc.) e adubao e calagem anteriores. Em culturas perenes, levar em conta, tambm, a variedade e a idade das plantas. reas com uma mesma cultura, mas com produtividade diferente, devem ser amostradas separadamente. Identificar essas glebas de maneira definitiva, fazendo um mapa para o acompanhamento da fertilidade do solo com o passar dos anos. Se a propriedade for muito grande, no seno possvel amostr-la completamente, prefervel amostrar apenas algumas glebas, no muito extensas, representando situaes diferentes.

    2.2 Ferramentas e coleta de amostras

    A coleta de amostras pode ser feita com enxado, p reta ou, preferivelmente, com trado. O trado - tipo holands, tubo ou de caneco - torna a operao mais fcil e rpida. Alm disso, permite a retirada das amostras na profundidade correta e das mesmas quantidades de terra de todos os pontos amostrados.

    Todas as ferramentas, bem como recipientes, utilizados na amostragem e embalagem da terra, devem estar limpos e, principalmente, no conter resduos de calcrio ou fertilizantes. Para amostras nas quais se pretende analisar micronutrientes, usar trado de ao e evitar baldes de metal galvanizado.

    De cada gleba devem ser retiradas diversas subamostras para se obter uma mdia da rea amostrada. Para isso, percorrer a rea escolhida em ziguezague e coletar 20 subamostras por gleba homognea. Em culturas perenes, tais como caf, citros, seringueira etc., a amostragem deve ser feita em toda a faixa de solo adubada, que reflete melhor os tratamentos aplicados nos anos anteriores.

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    Em cada ponto afastar, com o p, detritos e restos de culturas. Evitar pontos prximos a cupinzeiros, formigueiros, casas, estradas, currais, estrume de animais, depsitos de adubo ou calcrio ou manchas no solo. lntroduzir o trado no solo at a profundidade de 20 cm. A terra coletada representa uma poro de solo na profundidade de 0-20 cm. Raspar a terra lateral do trado, no caso de trado tipo holands, aproveitando apenas a poro central.

    possvel, tambm, amostrar adequadamente o solo com um enxado ou p reta. Os cuidados e nmeros de subamostras so os mesmos descritos para o trado. Aps a limpeza superficial do terreno, fazer um buraco em forma de cunha, na profundidade de 0-20 cm, deixando uma das paredes o mais reta possvel. Cortar, com o enxado, uma fatia de cima at embaixo e transferir para o balde. Para evitar encher demasiadamente o balde, dificultando a mistura das amostras, cada fatia coletada pode ser destorroada dentro do prprio buraco, retirando-se uma poro dessa terra para o balde. importante coletar uma mesma poro de terra em cada um dos pontos amostrados.

    Transferir a terra de cada subamostra para um balde ou outro recipiente limpo. Repetir a amostragem do mesmo modo em cada um dos 20 pontos. Quebrar os torres de terra dentro do balde, retirar pedras, gravetos ou outros resduos, e misturar muito bem. Se a amostra estiver muito mida, deixar a amostra secar ao ar.

    Retirar cerca de 300 g de terra do balde e transferir para uma caixinha de papelo apropriada para anlise de solo ou saco plstico limpo. Essa poro de terra ser enviada ao laboratrio. Jogar fora o resto da terra do balde e recomear a amostragem em outra rea.

    ldentificar a amostra de solo com o nome do proprietrio, propriedade, identificao da gleba amostrada e data. Anotar em um caderno, juntamente com o mapa da propriedade, o nmero de cada amostra e o local de onde foi retirada. Essas anotaes so importantes para identificar o local para posterior aplicao de calcrio e fertilizantes. Alm disso, facilitam o acompanhamento da evoluo da fertilidade do solo de um ano para outro.

    2.3 Frequncia e poca de amostragem

    A anlise de solo deve ser repetida em intervalos que podem variar de um a vrios anos, dependendo da intensidade da adubao, do nmero de culturas de ciclo curto consecutivas ou do estgio de desenvolvimento de culturas perenes. De forma geral, convm amostrar com maior frequncia culturas que recebem maiores aplicaes de adubos.

    As amostras devem ser retiradas vrios meses antes do plantio, no caso de culturas temporrias, j que diversas providncias dependem do resultado da anlise de solo. Tambm conveniente retirar amostras antes da arao para permitir a aplicao de calcrio antes dessa operao. No caso de culturas perenes, a amostragem deve ser feita, de preferncia, no final da estao chuvosa.

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    2.4 Local e profundidade de amostragem

    Nos casos de culturas anuais e de culturas perenes a serem instaladas, retirar as amostras simples que formaro a amostra composta em todo o terreno e na profundidade de 20 cm, a chamada camada arvel. Para fins de clculos em fertilidade do solo, essa camada tem um volume de 2.000.000 dm3 de terra, para uma rea de um hectare.

    Para culturas perenes, que recebem aplicaes localizadas de adubo, como caf e frutferas, retirar as amostras dos locais onde o adubo aplicado. Embora nesses casos os adubos no sejam incorporados ao solo, a amostragem igualmente feita na profundidade de 20 cm, para manter a coerncia da interpretao de resultados. A mesma observao vale para cultivo sob plantio direto, recomendando-se, tambm, a amostragem na profundidade de 0 a 20 cm, at que, eventualmente, a pesquisa indique alternativa melhor.

    Amostras compostas podem, tambm, ser retiradas na profundidade de 20 a 40 cm, principalmente para avaliar a acidez do subsolo, bem como os contedos de clcio, enxofre e potssio. A coleta deve ser feita, de preferncia, com trado. Primeiro coletar a amostra de 0-20 cm e em seguida retirar a terra da superfcie que caiu dentro do buraco, para depois aprofundar o trado at 40 cm. Antes de transferir a terra para o balde, raspar a terra lateral do trado e retirar tambm 2 a 3 cm da parte superior. Isso tudo importante para evitar a contaminao com terra da superfcie. Os trados tipo tubo so convenientes para a amostragem profunda, podendo-se utilizar um tubo de menor dimetro para a de 20-40 cm.

    2.5 Envio da amostra de solo ao laboratrio

    A amostra de solo deve ser acompanhada da Folha de Informaes, preenchida com dados referentes a cada uma das glebas amostradas. Cada amostra deve ser identificada, da mesma maneira, na caixinha ou em outra embalagem que a contiver, na Folha de informaes e no mapa da propriedade.

    As amostras podem ser enviadas pelo correio ou entregues a qualquer um dos laboratrios que utilizam os mtodos de anlise de solo desenvolvidos no IAC. Esses laboratrios tm seus resultados identificados por uma etiqueta do ano do programa de controle de qualidade do sistema IAC de anlise de solo.

    Caso haja interesse em recomendao de calagem e adubao, o usurio deve especificar a cultura e o cdigo correspondente, completando, alm disso, o solicitado na Folha de Informaes para Anlise de Solo.

    3. REPRESENTAO DOS RESULTADOS DE ANLISES DE SOLOS, FOLHAS, FERTILIZANTES E CORRETIVOS

    A adoo do Sistema Internacional de Unidades (SI), nesta edio, implica em alterao nas representaes e nos valores de parte dos resultados.

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    3.1 Unidades de representao de resultados

    As bases de representao sero o quilograma (kg) ou o decmetro cbico (dm3) para slidos e o litro (L) para lquidos.

    Os contedos sero expressos em quantidade de matria, podendo ser usados mol de carga (molc) ou milimol de carga (mmolc), ou em massa, com as alternativas de grama (g) ou miligrama (mg). O milimol de carga corresponde ao miliequivalente, que no ser mais empregado.

    A porcentagem no dever mais ser utilizada para representar teor ou concentrao e, assim, dar lugar a uma representao combinando as unidades acima.

    3.2 Solos

    Os resultados de ctions trocveis, clcio (Ca2+), magnsio (Mg2+), potssio (K+), alumnio (AI3+), de acidez total a pH 7 (H+ + Al3+), de soma de bases (SB) e de capacidade de troca de ctions (CTC) sero apresentados em mmolc/dm3. Os valores so 10 vezes maiores do que a representao anterior, em meq/100 cm3.

    Os resultados de fsforo (P), de enxofre (S-SO42-) e dos micronutrientes boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), mangans (Mn) e zinco (Zn), sero apresentados em mg/dm3. Na prtica, os resultados tm sido apresentados, por muitos laboratrios, em partes por milho (ppm), mesmo para o caso de medidas volumtricas de solo, o que costuma ser o caso da anlise de solo para fins de fertilidade. Assim sendo, essa representao, em ppm, tem sido usada de forma ambgua e, por isso, o seu uso deve ser descontinuado. De qualquer forma os nmeros no mudaro.

    Os resultados de matria orgnica (MO) sero apresentados em g/dm3, sendo os valores 10 vezes maiores que a representao anterior, em porcentagem (%), que corresponde a g/100 cm3, j que a medida de solo no laboratrio volumtrica.

    A saturao por bases (V) e a saturao por alumnio (m), sero expressos em porcentagem (%). Note-se que estes so ndices calculados e no representaes de concentraes ou teores. Nesses casos, admitido o uso da porcentagem.

    3.3 Folhas A porcentagem (%) deixa de ser usada para macronutrientes e substituda

    por g/kg, com nmeros 10 vezes maiores. Tambm a representao em partes por milho (ppm) no mais ser usada,

    dando lugar a mg/kg. Neste caso, os nmeros no mudaro.

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    3.4 Corretivos da acidez

    Os teores, tanto das fraes granulomtricas, como de clcio e de magnsio, sero apresentados em g/kg.

    O poder de neutralizao ser dado em molc/kg. Para os corretivos ser impossvel adotar imediatamente o SI, j que o

    comrcio desses produtos no feito usando essa representao. No captulo de corretivos e fertilizantes, sero apresentadas as duas

    alternativas e feitas comparaes.

    3.5 Fertilizantes

    No caso dos macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S) os resultados sero apresentados em g/kg, em substituio porcentagem. Os resultados sero 10 vezes maiores, em se tratando dos elementos.

    Para fsforo e potssio h, ainda, o problema das representaes em P2O5 e em K2O, que tambm no podero ser abandonadas. Para fertilizantes, ser preciso usar a representao do SI juntamente com a indicao tradicional.

    Os micronutrientes sero representados em mg/kg, ao invs de ppm. Os nmeros no mudaro.

    No caso de adubos fluidos, as representaes dos teores de macro e micronutrientes sero feitas, respectivamente, em g/L e em mg/L.

    3.6 Converso de unidades

    As representaes antigas podem ser convertidas nas novas, considerando as relaes indicadas no quadro 3.1.

    Nos casos da porcentagem (%) e de partes por milho (ppm), percebe-se como essas representaes no tm significado preciso, podendo ser diferentes, conforme a base de representao. J no sistema novo, a representao explcita e no deixa margem a dvidas.

    Tambm fica claro que o miliequivalente (meq) s mudou de nome, passando a ser conhecido como milimol de carga (mmolc). O fator de converso 10, mostrado no quadro 3.1, deve-se mudana da base de representao, de 100 para 1.000, da mesma maneira como foi feito para a porcentagem.

    A unidade de condutividade eltrica o deci-siemen por metro (dS/m), que passa a substituir o miliohm/cm. Neste caso os valores numricos permanecem os mesmos.

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    Quadro 3.1. Fatores para converso de unidades antigas em unidades do Sistema lnternacional de Unidades

    Unidade Antiga (A) Unidade Nova (N) (N = A x F)

    Fator de Converso (F)

    % g/kg, g/dm3, g/L 10 ppm mg/kg, mg/dm3, mg/L 1

    meq/100 cm3 mmolc/dm3 10 meq/100g mmolc/kg 10

    meq/L mmolc/L 1 P2O5 P 0,437 K2O K 0,830 CaO Ca 0,715 MgO Mg 0,602

    mohm/cm dS/m 1

    4. INTERPRETAO DE RESULTADOS DE ANLISE DE SOLO

    Alm da interpretao da anlise de solo para P, K, Mg e calagem, nesta edio esto sendo introduzidas interpretaes para respostas a nitrognio, teores de clcio, enxofre, micronutrientes e, tambm, para resultados da anlise qumica de amostras do subsolo. A tabela de interpretao de P foi subdividida para quatro grupos de culturas, de acordo com o grau de exigncia a fsforo.

    4.1 Nitrognio

    Ainda no se tem, para So Paulo, um critrio confivel de recomendao da adubao nitrogenada com base na anlise de solo. Est-se adotando, para diversas culturas anuais, um critrio de classes de resposta esperada que, associado s recomendaes por produtividade esperada, dever resultar em adubaes mais coerentes com as necessidades em cada caso. Para algumas culturas perenes, as classes de resposta esperada a nitrognio so estabelecidas com resultados de teores de N em folhas.

    As classes de resposta esperada so assim conceituadas: Alta resposta esperada - Solos corrigidos, com muitos anos de plantio

    contnuo de gramneas ou outras culturas no leguminosas; primeiros anos de plantio direto; solos arenosos, sujeitos a altas perdas por lixiviao. Culturas perenes com teores baixos de N nas folhas.

    Mdia resposta esperada - Solos muito cidos, que sero corrigidos; ou plantio anterior espordico de leguminosas; ou solo em pousio por um ano; ou uso de quantidades moderadas de adubos orgnicos. Culturas perenes com teores mdios de N nas folhas.

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    Baixa resposta esperada - Solos em pousio por dois ou mais anos; cultivo aps pastagem (exceto solos arenosos); ou solos com cultivo anterior intenso de leguminosas; ou adubao verde com leguminosas ou rotao permanente com leguminosas; uso constante de quantidades elevadas de adubos orgnicos. Culturas perenes com teores altos de N nas folhas.

    4.2 Fsforo e potssio

    Os resultados de fsforo e de potssio so divididos em cinco classes de teores. Os limites de classes foram estabelecidos com ensaios de calibrao, realizados principalmente para culturas anuais em condies de campo e levando em conta as respostas aos elementos aplicados na adubao, expressos em termos de produo relativa. Assim, a correspondncia dos limites de classes de teores com os respectivos limites de produo relativa, so os apresentados no quadro 4.1. Quadro 4.1. Limites de interpretao de teores de potssio e de fsforo em solos Teor Produo

    relativa K+

    trocvel P resina

    Florestais Perenes Anuais Hortalias % mmolc/

    dm3 mg/dm mg/dm mg/dm mg/dm

    Muito baixo 0 - 70 0,0 - 0,7 0 - 2 0 - 5 0 - 6 0 - 10 Baixo 71 - 90 0,8 - 1,5 3 - 5 6 - 12 7 - 15 11 - 25 Mdio 91 - 100 1,6 - 3,0 6 - 8 13 - 30 16 - 40 26 - 60 Alto > 100 3,1 - 6,0 9 - 16 31 - 60 41 - 80 61 - 120 Muito Alto > 100 > 6,0 > 16 > 60 > 80 > 120

    No caso do fsforo, os limites de interpretao so dados para quatro grupos de culturas, com exigncias crescentes de maior disponibilidade de fsforo: florestais, perenes, anuais e hortalias. Trata-se de uma classificao feita para fins prticos de organizar a adubao fosfatada por grupos de culturas.

    Note-se que o limite superior da classe de teores altos duas vezes maior que o limite superior da classe de teores mdios.

    No caso do potssio, bem como de outros ctions trocveis, os diversos extratores usados em laboratrios de anlise de solo do resultados comparveis, significando que, em geral, no importante mencionar o mtodo usado na extrao. Alm disso, para potssio, o teor do nutriente no solo um ndice melhor para avaliar a disponibilidade do que a relao com outros ctions ou a porcentagem da CTC. A relao com a CTC pode, eventualmente, ser usada como um critrio auxiliar, mas no em substituio ao critrio bsico dado no quadro 4. 1.

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    J no caso do fsforo, muito importante o extrator usado. Para So Paulo, pesquisas realizadas no Instituto Agronmico, confirmando informaes de diferentes pases, mostraram que o processo de extrao com resina de troca de ons um mtodo que avalia melhor a disponibilidade do nutriente para as culturas. De forma geral, o mtodo da resina apresenta correlaes mais estreitas com ndices de disponibilidade de fsforo em solos, determinados com plantas, do que outros extratores usuais, permitindo uma diagnose mais apurada do grau de deficincia de P em solos.

    4.3 Acidez

    Os parmetros relacionados acidez dos solos, pH em CaCl2 e saturao por bases, apresentam estreita correlao entre si, para amostras retiradas da camada arvel. A interpretao adotada para valores de pH em CaCl2, e da saturao por bases, apresentada no quadro 4.2. A determinao do pH em uma soluo 0,01 mol/L de cloreto de clcio, permite obter resultados mais consistentes do que a determinao do pH em gua. Isto porque, esta ltima determinao mais afetada por pequenas quantidades de sais que podem ocorrer nas amostras de solo que chegam ao laboratrio, em consequncia de adubaes, perodos de seca ou da mineralizao que acontece em amostras de solo midas acondicionadas em sacos plsticos. Quadro 4.2. Limites de interpretao das determinaes relacionadas com a acidez da camada arvel do solo. Acidez pH em CaCl2 Saturao por bases V (%) Muito alta At 4,3 Muito baixa 0 25 Alta 4,4 - 5,0 Baixa 26 50 Mdia 5,1 - 5,5 Mdia 51 70 Baixa 5,6 - 6,0 Alta 71 90 Muito Baixa > 6,0 Muito alta > 90

    A tabela de interpretao de parmetros da acidez, indicada no quadro 4.2, tem o objetivo tcnico de servir de base para a organizao de informaes, como o caso de acompanhar a evoluo da fertilidade do solo. As culturas variam muito e, desse modo, as classes apresentadas podem ter significado diverso para grupos de plantas com caractersticas diferenciadas quanto acidez.

    4.4 Clcio, magnsio e enxofre

    Para clcio, magnsio e enxofre so estabelecidas trs classes de teores, com a interpretao apresentada no quadro 4.3.

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    A interpretao de magnsio bastante consistente com os dados experimentais disponveis e as tabelas de interpretao de diferentes instituies. H bastante polmica, tanto para o magnsio, como para o potssio sobre a interpretao em termos da porcentagem da CTC, ao invs dos teores, conforme apresentado no quadro 4.3. Tambm aqui a experimentao agronmica aponta para o uso dos teores absolutos como o melhor critrio. Na prtica, se houver magnsio suficiente, no dever ocorrer deficincia. Porm, se os teores de magnsio forem baixos, a adubao potssica poder agravar a deficincia.

    Para o clcio, os valores apresentados, so os mnimos desejveis para culturas, seno o limite superior o necessrio quelas mais exigentes no nutriente, independentemente da questo da calagem. Nesse caso, embora haja respaldo em resultados experimentais, j que deficincias de clcio so raras em condies de campo, os limites apresentados so bem mais baixos do que os adotados por vrias organizaes no Brasil. Uma das grandes dificuldades isolar a questo da deficincia de clcio do problema da acidez excessiva, j que solos deficientes em clcio so, em geral muito cidos. Nesses casos, a calagem corrige a acidez e supre clcio em teores mais do que suficientes. Quadro 4.3. Limites de interpretao de teores de Ca2+, Mg2+ e SO42- em solos Teor Ca2+ trocvel Mg2+ trocvel S-SO42- ___________ mmolc/dm3___________ mg/dm3 Baixo 0 - 3 0 - 4 0 - 4 Mdio 4 - 7 5 - 8 5 - 10 Alto > 7 > 8 > 10

    Um assunto que tem ocasionado polmica a necessidade de estabelecer, no solo, uma determinada relao Ca/Mg. H abundante informao na literatura, a qual mostra que as produes de culturas no so afetadas por essa relao entre valores que variam de um mnimo ao redor de 0,5 at valores acima de 30, desde que nenhum dos dois elementos esteja presente em teores deficientes.

    O enxofre extrado do solo com soluo de CaH2PO4 0,01 mol/L, que extrai principalmente a forma de sulfato, considerada disponvel. A interpretao apresentada no quadro 4.3 refere-se camada arvel. Convm ressaltar que comum haver acmulo de sulfato abaixo da camada arvel e, assim, uma diagnose mais apurada sobre a disponibilidade de enxofre deve levar em conta, tambm, os teores da camada de 20-40 cm de profundidade.

    4.5 Micronutrientes

    A interpretao adotada apresentada no quadro 4.4.

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    O importante na interpretao da anlise qumica de micronutrientes em solos o uso de extratores adequados para avaliar a sua disponibilidade. Os extratores que se revelaram mais eficientes, nos estudos realizados no Instituto Agronmico, foram a gua quente para boro e a soluo do complexante DTPA para zinco, ferro, cobre e mangans.

    A interpretao da anlise de solo para micronutrientes pode ser aprimorada pela considerao de diferentes espcies vegetais. Nas tabelas de adubao, a interpretao da anlise de solo includa para aquelas culturas em que tm sido constatadas deficincias frequentes. Quadro 4.4. Limites de interpretao dos teores de micronutrientes em solos Teor B Cu Fe Mn Zn

    gua quente _____________________________ DTPA_____________________________________

    mg/dm3 Baixo 0 - 0,20 0 - 0,2 0 - 4 0 - 1,2 0 - 0,5 Mdio 0,21 - 0,60 0,3 - 0,8 5 - 12 1,3 - 5,0 0,6 - 1,2 Alto > 0,6 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2

    4.6 Matria orgnica e argila

    O teor de matria orgnica do solo no revelou ser, no Estado de So Paulo, um ndice adequado para predizer a disponibilidade de nitrognio em solos e, consequentemente, no tem sido usado para essa finalidade.

    O teor de matria orgnica til para dar idia da textura do solo, com valores at de 15 g/dm3 para solos arenosos, entre 16 e 30 g/dm3 para solos de textura mdia e de 31 a 60 g/dm3 para solos argilosos. Valores muito acima de 60 g/dm3 indicam acmulo de matria orgnica no solo por condies localizadas, em geral por m drenagem ou acidez elevada.

    importante obter determinaes dos teores de argila do solo, no somente da camada arvel, mas tambm em profundidade. Os resultados so expresses em g/kg.

    4.7 Interpretao de resultados de anlise de amostras do subsolo

    A anlise de amostras retiradas na profundidade de 20-40 cm serve para diagnosticar possveis condies desfavorveis ao desenvolvimento radicular, principalmente de culturas menos tolerantes acidez. Essas condies so dadas por:

    Ca2+ < 4 mmolc/dm3 Al3+ > 5 mmolc/dm3, associado com saturao por alumnio (m) > 40%.

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    A anlise de amostras de subsolos tambm til para avaliar a disponibilidade de enxofre, pois o sulfato tende a acumular no subsolo.

    Outra informao importante pode ser obtida com a anlise de potssio que, acusando resultados altos, indica lixiviao do nutriente.

    Bernardo van Raij, Jos Antnio Quaggio, Heitor Cantarella e Cleide A. de Abreu

    Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    5. PRODUTIVIDADE ESPERADA

    O conceito de produtividade esperada est seno introduzido para diversas culturas como um dos critrios para alterar nveis de adubao. H razes objetivas para considerar a produtividade esperada nas adubaes: a) culturas mais produtivas requerem maior quantidade de nutrientes; b) com maiores produes, h maior renda, o que permite a aquisio de maiores quantidades de fertilizantes.

    importante entender que a produtividade esperada no funo apenas das doses aplicadas de fertilizantes, dependendo de diversos fatores, tais como solo, potencial gentico da planta cultivada, condies climticas durante o ciclo da cultura e o manejo, incluindo neste o controle de pragas, molstias e plantas daninhas e o fornecimento ou no de gua de irrigao. O solo pode, em parte, ser melhorado com o manejo, fator este sob o controle do produtor, mas tambm apresentar limitaes intrnsecas impossveis de ser alteradas, como textura, por exemplo.

    Portanto, produtividade esperada no deve ser confundida com produtividade desejada.

    A definio de uma determinada produtividade esperada deve levar em conta, sempre que houver informaes, as colheitas passadas dos ltimos anos. Assim, a meta de produtividade esperada deve ser colocada entre a mdia dos ltimos anos e a maior produtividade obtida. Dessa maneira, garante-se o suprimento adequado de nutrientes para produes crescentes. Se as metas de produtividade esperada forem seno atingidas, convm aument-las para as colheitas seguintes.

    Embora a escolha de uma produtividade esperada seja um difcil exerccio de adivinhar o futuro, no h alternativa melhor para adubar em condies de produtividade muito diversa das culturas. melhor errar um pouco para mais, para no deixar de ganhar em anos bons, lembrando que os aumentos de produo, geralmente, tm valores muitas vezes maiores que o gasto com adubos. Alm disso, fsforo e potssio permanecem no solo, no caso de menor utilizao em anos de produtividades inferiores s previstas, no ocorrendo perdas desses nutrientes.

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    O problema maior passa a ser o nitrognio, que no se acumula no solo em formas minerais, seno sujeito a lixiviao, alm de no existir mtodo de anlise de solo para o nutriente em nossas condies. Por outro lado, como a aplicao do nitrognio feita de forma parcelada, com as maiores doses aplicadas quando o desenvolvimento da cultura j est em estado adiantado, possvel alterar a sua dosagem mesmo aps o plantio, nas adubaes de cobertura, caso se preveja produtividade esperada menor do que a inicialmente prevista. Para algumas culturas perenes, como caf e citros, por exemplo, possvel utilizar um critrio mais tcnico, que a anlise foliar, mas tambm vinculado produtividade esperada.

    O histrico das glebas , consequentemente, um fator muito importante para a melhor definio de um programa de adubao. Espera-se que, com o tempo, a previso de produtividade possa basear-se, de forma crescente, em elementos tcnicos cada vez melhores, que incluem modelos agroclimticos, levantamentos detalhados de solos etc.

    6. CORREO DA ACIDEZ DO SOLO

    A necessidade de correo da acidez, ou de calagem, ser indicada nas tabelas especficas de cada cultura apenas como uma meta de saturao por bases a se atingir. O clculo da calagem explicado neste captulo dentro de duas alternativas, ou seja, com base em representao dos corretivos em porcentagem de xidos de clcio e magnsio ou considerando os teores desses elementos em gramas por quilograma, dentro do Sistema Internacional de Unidades. O uso do gesso para a melhoria do ambiente radicular de solos cidos tambm discutido.

    6.1 Corretivos da acidez

    Os corretivos da acidez do solo mais utilizados no Brasil so as rochas calcrias modas, chamados simplesmente de "calcrios", classificados, de acordo com a concentrao de MgO, em calcticos (menos de 5%), magnesianos (5 a 12%) e dolomticos (acima de 12%). Tambm existem os calcrios calcinados.

    Quanto granulometria, a legislao exige que pelo menos, 95% do material corretivo passe em peneira de 2 mm (ABNT n. 10), 70% em peneira de 0,84 mm (ABNT n. 20) e 50% em peneira de 0,30 mm (ABNT n. 50).

    Do ponto de vista qumico, de acordo com a natureza do material, os mnimos exigidos pela legislao so os apresentados no quadro 6.1.

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    Quadro 6.1. Valores mnimos, do poder de neutralizao (PN) e da soma dos teores de clcio e de magnsio, exigidos pelo Ministrio da Agricultura, e valores correspondentes com o uso do Sistema Internacional de Unidades Material Poder de neutralizao Soma de clcio e magnsio

    ___________________________ _________________________________ Equiv. CaCO3 Mol CaO + MgO Ca + Mg

    % molc/kg % g/kg Calcrio modo 67 13 38 250 Calcrio calcinado agrcola 80 16 43 280 Cal virgem agrcola 125 25 68 450 Cal hidratada agrcola 94 19 50 330 Escria 60 12 30 200 Outros 67 13 38 250

    O poder de neutralizao (PN), expresso atualmente em porcentagem de "equivalente carbonato de clcio", representa o teor contido de neutralizantes. Seu valor pode ser determinado no laboratrio ou calculado, nos casos em que a totalidade do clcio e do magnsio esteja na forma de xidos, hidrxidos ou carbonatos, o que lhes garante o poder neutralizante dos compostos. O clculo feito por:

    PN = CaO(%) x 1,79 + MgO(%) x 2,48.

    Como as partculas mais grosseiras dos corretivos da acidez no dissolvem no solo, no perodo de alguns meses, usa-se uma outra expresso, que deprecia as partculas menos reativas. Trata-se do poder relativo de neutralizao total (PRNT), calculado por:

    PRNT = (PN x RE)/100.

    O PRNT representa, assim, o valor do PN multiplicado por RE, que indica a reatividade de partculas de calcrio de diferentes tamanhos, em relao ao carbonato de clcio finamente modo, em um perodo de trs meses. A eficincia relativa calculada por:

    RE = 0,2x + 0,6y + z. sendo x a porcentagem do material retido na peneira ABNT n. 20, y o material retido na peneira ABNT n. 50 e z o material que passa pela peneira ABNT n. 50. O material retido na peneira ABNT n. 10 considerado como tendo reatividade nula.

    O gesso um material que vem sendo usado para aumentar os teores de clcio e reduzir a saturao de alumnio em subsolos cidos. Trata-se,

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    basicamente, de sulfato de clcio e as exigncias para comercializao so teores mnimos de 13% de S e 16% de Ca. O gesso tem ao totalmente diferente dos corretivos do quadro 6.1, e por no ter ao direta sobre a acidez, no se aplicam a ele os conceitos discutidos acima.

    6.2 Clculo da necessidade de calagem

    A quantidade de calcrio a aplicar, para elevar a saturao por bases do solo de um valor atual, V1, a um valor maior, V2, calculada pela expresso seguinte:

    NC = CTC (V2 V1) 10 PRNT

    na qual NC a necessidade de calagem, dada em t/ha, e CTC a capacidade de troca de ctions do solo, expressa em mmolc/dm3. Os demais smbolos j foram explicados.

    Para calcrios modos, quando o PRNT no determinado, pode-se adotar um valor mdio para o PRNT de 67%. Os resultados devem ser arredondados em nmeros inteiros, no se aplicando menos de 1 t/ha, j que difcil aplicar quantidades menores com os equipamentos disponveis no mercado.

    A escolha dos valores de V a serem atingidos com a calagem (V2) depende da cultura, e esto indicados nas respectivas tabelas. Por exemplo, para o arroz irrigado recomenda-se atingir V2 = 50% e, para alfafa, V2 = 80%. Nesta edio do Boletim 100, houve alterao dos valores preconizados para diversas culturas. A importncia do mtodo de clculo da necessidade de calagem descrito est na considerao das diferenas de tolerncia acidez entre culturas.

    Alm de corrigir a acidez, a calagem deve garantir teores suficientes de magnsio no solo, admitidos como 5 mmolc/dm3 para a maioria das culturas e 9 mmolc/dm3 de Mg2+ para culturas muito adubadas com potssio. O clcio , normalmente, suprido em quantidades suficientes pela calagem, j que os teores necessrios so baixos, conforme explicado no captulo 4.

    Dessas consideraes resulta que a relao Ca/Mg tambm no um fator que precisa ser levado em conta na calagem, desde que seja garantido um teor adequado de Mg. A importncia do equilbrio entre as bases no solo para a produo das culturas tem sido muito discutida, nos ltimos anos, no Pas. Existem recomendaes tcnicas para se ajustar a relao Ca/Mg para valores entre 3 e 4, sem nenhuma sustentao experimental. Ao contrrio, os resultados experimentais sobre este assunto, tanto nacionais como internacionais, tm demonstrado que a relao Ca/Mg tem pouca importncia para a produo das culturas dentro de um amplo intervalo de 0,5:1 at 30:1, desde que os teores desses nutrientes no solo no estejam prximos aos limites de deficincia.

    Outro aspecto a observar que o PRNT uma medida de teor ou contedo neutralizante do corretivo e no de sua qualidade, como tem sido por vezes considerado. Assim, o mais aconselhvel, na escolha do corretivo, considerar o custo do produto aplicado.

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    6.3 Incorporao do corretivo

    Os corretivos tm efeito principal sobre a acidez, a curto prazo, restrito a uma distncia pequena do local de aplicao. Assim, o benefcio mximo, principalmente para a primeira cultura, obtm-se com a aplicao antecipada, distribuio uniforme e a mais profunda incorporao.

    Uma regra importante que a calagem deve ser realizada com a maior antecedncia possvel ao plantio. Contudo, prefervel aplicar o calcrio prximo semeadura que deixar de faz-lo.

    O corretivo deve ser espalhado da forma mais uniforme possvel sobre o terreno e incorporado. Os arados, tanto de disco como de aiveca, proporcionam incorporaes mais profundas que as grades aradoras. Melhor uniformidade de incorporao consegue-se com a aplicao do calcrio de uma s vez, realizando uma pr-mistura com grade semi-pesada e, a seguir, de preferncia com o solo mido, arao profunda para completar a incorporao. Uma segunda opo, talvez mais apropriada para pequenas e mdias propriedades, consiste na aplicao de metade da dose antes da arao e metade antes da gradeao.

    Para culturas perenes formadas, a incorporao profunda nem sempre possvel e h algumas particularidades a serem observadas. Assim, para citros, a poca de aplicao mais favorvel no incio da estao seca (maio a junho) e a incorporao deve ser feita com grade. Para o caf, o perodo mais apropriado logo aps a colheita.

    Os problemas mais srios que vm ocorrendo com a calagem so a aplicao muito prxima ao plantio ou a incorporao muito rasa. No primeiro caso, a consequncia uma reduo do efeito da calagem sobre a produo, pelo pouco tempo para a reao do corretivo com o solo. No segundo, ocorre uma "supercalagem" em uma camada superficial, o que pode agravar deficincias de micronutrientes, e um efeito da calagem em apenas uma camada rasa do solo, o que limita o desenvolvimento radicular e, consequentemente, o melhor aproveitamento da gua do solo, com reflexos negativos na produtividade.

    6.4 Reduo da acidez do subsolo

    A acidez do subsolo dificulta ou impede, em muitos casos, a penetrao de razes. Os fatores envolvidos so teores baixos de clcio ou teores elevados de alumnio. Frequentemente, esses dois problemas ocorrem concomitantemente em solos muito cidos.

    Calagens elevadas e adubaes frequentes contribuem para reduzir significativamente esses problemas de acidez, promovendo o desenvolvimento profundo das razes no subsolo, em decorrncia da lixiviao de sais atravs do perfil do solo.

    O gesso, um sal solvel em gua, outro insumo que tem apresentado efeito favorvel no desenvolvimento do sistema radicular no subsolo, devido ao aumento dos teores de clcio, reduo da saturao de alumnio e, em alguns casos, reduo efetiva da acidez.

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    As condies em que o gesso pode ter efeito positivo na produo de culturas dependem da acidez ou deficincia de clcio do subsolo, alm do grau de tolerncia de cultivares toxidez de alumnio e deficincia de clcio. De maneira geral, em solos com teores de Ca2+ inferiores a 4 mmolc/dm3 e/ou com saturao de alumnio acima de 40%, pode-se esperar efeito, desde que os teores de alumnio no sejam muito elevados. As quantidades a aplicar dependem da textura, e podem ser estimadas por: NG = 6 x argila; onde, NG a necessidade de gesso em kg/ha, e o teor de argila dado em g/kg. O efeito residual do gesso, como o do calcrio, perdura por vrios anos, em solos que nunca receberam aplicaes desse insumo.

    6.5 Clculo da necessidade de calagem usando o Sistema Internacional de Unidades

    Para adequar os clculos dos valores de PN, RE e PRNT ao Sistema Internacional de Unidades, necessrio expressar os teores de clcio e magnsio e as diferentes fraes granulomtricas em gramas por quilograma (g/kg). Os clculos so feitos pelas seguintes expresses:

    PN = Ca/20,0 + Mg/12,2 PNE = PN x RE RE = (0,2x + 0,6y + z)/1.000

    Nesse caso, o PN expresso em molc/kg e os teores de Ca e Mg devem

    estar em g/kg. O poder de neutralizao efetivo, ou PNE, que corresponde ao PRNT, tambm expresso em molc/kg do corretivo. A eficincia relativa das partculas calculada com as fraes granulomtricas indicadas tambm em g/kg do corretivo. O clculo da calagem feito por:

    NC = [2 CTC (V2 V1)] / 100 PNE

    Um exemplo comparativo do clculo da calagem, usando os dois sistemas de unidades, dado no quadro 6.2. Note-se que na anlise de solo j foi decidida a mudana de unidades; assim, no apresentado o clculo usando miliequivalentes, que no mais recomendado. J no caso de corretivos, no , ainda, possvel, utilizar o Sistema Internacional de Unidades, pois a legislao e o comrcio ainda empregam as representaes antigas. De qualquer forma, o exemplo mostra que os clculos pelo Sistema Internacional de Unidades so mais simples.

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    Quadro 6.2. Exemplo de comparao do clculo da necessidade de calagem, usando o sistema atual e o Sistema Internacional de Unidades Parmetro Sistema atual Sistema novo Corretivo Clcio CaO = 23% Ca = 164 g/kg Magnsio MgO = 19% Mg = 115 g/kg Frao peneira 20 x =12% x = 120 g/kg Frao peneira 50 (y) y = 35% y = 350 g/kg Frao passa peneira 50 (z) z = 55% z = 550 g/kg Poder de neutralizao total PN = 88,9% Equiv. CaCO3 PN = 17.63 mmolc/kg Reatividade RE = 77,2% RE = 0,772 Poder de neutralizao efetivo PRNT = 68,6% Eq. CaCO3 PNE = 13,61 mmolc/kg Solo CTC 73 mmolc/dm3 73 mmolc/dm3 V1 23% 23% V2 60% 60% Necessidade de calagem 3,94 t/h 3,97 t/ha

    Jos Antnio Quaggio e Bernardo van Raij Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    7. ADUBAO FOSFATADA

    Nas tabelas de adubao, a recomendao de adubao fosfatada, ser feita em termos de P2O5, j que esta representao est profundamente arraigada nos meios agronmicos, no comrcio e na legislao. Contudo, sempre que possvel, a representao nova, em termos de P, ser tambm indicada para permitir comparaes.

    7.1 Fertilizantes fosfatados

    Os principais fertilizantes fosfatados comercializados no Brasil apresentam-se no quadro 7.1. A caracterizao desse material feita de duas maneiras. No caso dos fosfatos solveis em gua, so indicados os teores de fsforo solvel em citrato neutro de amnio + gua e apenas o teor solvel em gua; para os fosfatos insolveis em gua, indica-se o teor total e o teor solvel em cido ctrico a 2% (20 g/L).

    As exigncias mnimas de teores de fsforo, medidos por cada uma dessas determinaes, variam com a natureza do fosfato. Assim, os teores apresentados no quadro 7.1 so a garantia mnima exigida pelo Ministrio da Agricultura, o que no impede que a comercializao se d com garantias superiores.

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    O quadro 7.1 apresenta os teores de fsforo, na representao usual, em porcentagem (%) de P2O5 e em gramas de P por quilograma de produto (g/kg). So tambm indicados os teores de N e S contidos nos adubos.

    A interpretao dos teores de fsforo em adubos fosfatados varia com a sua solubilidade em gua. Os chamados fosfatos solveis - superfosfatos e fosfatos de amnio - tm a maior parte do fsforo solvel em gua, o que significa pronta disponibilidade. Nesses casos h, tambm, uma frao relativamente pequena de fosfato insolvel em gua, mas solvel em citrato de amnio, tambm considerado disponvel, embora no imediatamente. Os demais fosfatos mostrados no quadro 7.1 so insolveis em gua.

    Alm do "fosfato natural", que representa material de origem nacional, de baixa eficincia, o hiperfosfato um fosfato natural importado, de alta eficincia, chamado tambm de fosfato natural de alta reatividade. Na adubao fosfatada com esses adubos, os clculos devem ser feitos considerando apenas os teores totais de fsforo; os teores solveis em cido ctrico servem to somente para caracterizar produtos de diferentes origens. O termofosfato caracterizado da mesma maneira, mas os teores de fsforo solvel em cido ctrico so mais elevados. Quadro 7.1. Principais fertilizantes fosfatados simples e suas garantias mnimas, de acordo com o Ministrio da Agricultura Fertilizante Representao Teores de fsforo Outros nutrientes Fosfatos solveis em gua Citrato de

    amnio + gua gua Superfosfato simples P2O5, % 18 16 10% de S

    P, g/kg 80 70 100 g/kg de S Superfosfato triplo P2O5, % 41 37

    P, g/kg 180 160 Fosfato diamnico P2O5, % 45 38 16% de N

    (DAP) P, g/kg 200 170 160 g/kg de N Fosfato monoamnico P2O5, % 48 44 9% de N

    (MAP) P, g/kg 210 190 90 g/kg de N Fosfatos insolveis em gua Total cido ctrico Fosfato natural P2O5, % 24 4

    P, g/kg 100 20 Hiperfosfato em p P2O5, % 30 12

    P, g/kg 130 50 Termofosfato P2O5, % 17 14 7% de Mg

    P, g/kg 70 60 70 g/kg de Mg

    Nas adubaes, aplica-se maior parte do fsforo atravs de frmulas NPK, preparadas com diversas matrias-primas, predominando os fosfatos solveis em gua. No caso das frmulas, os clculos de adubao devem levar em conta os teores solveis em citrato de amnio + gua. Existem muitos adubos fosfatados, mas o princpio de caracterizao e de uso similar.

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    7.2 Adubao fosfatada

    Nas recomendaes de adubao, as quantidades de fsforo a aplicar dependem dos teores de fsforo no solo, determinados pelo mtodo de extrao com resina de troca inica e para diversas culturas a produtividade esperada tambm levada em conta.

    O fsforo o nutriente que mais limita a produtividade na maioria dos solos nunca ou pouco adubados. Com adubaes frequentes, os teores tendem a subir, em razo do efeito residual, mas a quantidade exigida para atingir teores altos na anlise de solo bastante elevada, maior para solos mais argilosos.

    Em So Paulo, existem poucas , reas novas a serem cultivadas e, assim, no se pratica normalmente a chamada adubao corretiva com fsforo, embora ela possa ser vantajosa em culturas de alto retorno, em solos muito deficientes. Prefere-se a adubao localizada, em sulcos ou covas, ou sobre o solo, no caso de culturas perenes, embora essa maneira de aplicar seja menos eficiente.

    As recomendaes das tabelas de adubao pressupem fsforo solvel em citrato neutro de amnio + gua. Em solos deficientes, que iro receber quantidades moderadas de fsforo, e tambm em culturas de crescimento rpido, importante usar adubos com elevada proporo de fsforo solvel em gua.

    Termofosfatos e fosfatos naturais so mais eficientes se usados em forma de p fino e incorporados em solos cidos, principalmente os ltimos. Mesmo nessas condies, os fosfatos naturais de baixa solubilidade em cido ctrico, frequentemente produzem efeitos modestos e incertos sobre o desenvolvimento das culturas. Melhores resultados so obtidos com o termofosfato e os fosfatos naturais de alta reatividade.

    O fsforo praticamente imvel no solo. Assim, sempre que possvel, esse nutriente deve ser colocado dentro do solo, em sulcos ou covas, no caso de fosfatos solveis em gua. Para as culturas perenes, deve-se aproveitar a fase de instalao para aplicar o fsforo em profundidade no solo, nas covas ou sulcos. No se deve aplicar fsforo em cobertura para plantas de ciclo curto, a no ser que o adubo seja coberto por terra, para possibilitar a absoro do nutriente pelas razes.

    Bernardo van Raij Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    8. ADUBAO COM NITROGNIO, POTSSIO E ENXOFRE

    8.1 Nitrognio

    A recomendao de nitrognio, nas tabelas de adubao desta publicao, um dos poucos casos em que a anlise do solo no , praticamente, levada em

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    conta. So considerados o manejo e o histrico da gleba, a produtividade esperada e, para algumas culturas, o teor de N foliar.

    8.1.1 Fertilizantes nitrogenados

    Os principais fertilizantes nitrogenados comercializados no Brasil so listados no quadro 8.1. O nitrognio pode estar nas formas amdica (uria), amoniacal ou ntrica e todas as fontes so solveis em gua. Uma vez no solo, em poucas semanas, a maior parte do N amdico ou amoniacal passa para a forma ntrica, pouco retida no complexo de troca, e sujeita a perdas por lixiviao. Estimativas de caminhamento de nitrato no solo indicam valores de 0,5 mm/mm de chuva para solos argilosos a mais de 3 mm/mm de chuva para solos arenosos.

    Para minimizar perdas por lixiviao, os adubos nitrogenados so parcelados de modo que as plantas os recebam nos perodos em que o N possa ser prontamente absorvido. Para as culturas perenes, o N aplicado em 3 a 5 vezes no perodo das chuvas. Nas culturas anuais, o N parcelado em duas ou trs vezes, sendo uma pequena parte no plantio, dependendo do ciclo da cultura, dose recomendada e tipo de solo. A maior parte do N, cerca de 2/3, aplicada em uma ou duas vezes, a partir do perodo em que a planta inicia a fase de ativo crescimento.

    Em solos com pH acima de 7, adubos contendo N na forma amoniacal, aplicados na superfcie do solo, esto sujeitos a perdas de N por volatilizao de amnia. No entanto, solos nessas condies so pouco comuns no Estado de So Paulo. A uria, porm, quando aplicada na superfcie est sujeita a perdas de amnia mesmo em solos cidos. As perdas a campo so variveis, mas estima-se que possam chegar a 20% ou mais do N aplicado se as condies favorecerem a volatilizao. As perdas so maiores se a uria for aplicada em solo mido, seguido de vrios dias de sol, quando a evaporao de gua favorecida, ou se a uria for colocada sobre resduos de plantas, tais como a palhada formada em plantio direto. A uria aplicada sobre solo seco no se hidrolisa e, portanto, no perde amnia, at que condies de umidade permitam a hidrlise. Por outro lado, chuva ou irrigao de 10 a 20 mm geralmente so suficientes para levar a uria para o interior do solo e prevenir as perdas. O enterrio ou cobertura da uria com 5 cm de solo normalmente suficiente para controlar as perdas.

    Em solos de vrzea, que permanecem inundados durante parte ou todo o ciclo da cultura, no se deve empregar adubos com nitrognio na forma ntrica. As condies redutoras do solo provocam rpida desnitrificao, que resulta na produo de N2 ou N2O que so perdidos por volatilizao. Para esses solos, recomenda-se adubos contendo N amoniacal ou amdico. Quadro 8.1. Principais fertilizantes simples contendo nitrognio, potssio e enxofre e suas garantias mnimas, de acordo com o Ministrio da Agricultura (1)

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    Fertilizante N N K 2O K S S Observao

    % g/kg % g/kg % g/kg Uria 44 440 - - - - Sulfato de amnio 20 200 - - 22-24 220-240 Nitrato de amnio 32 320 - - - - Nitroclcio 20 200 - - - - 2-8% de Ca e 1-5% de Mg DAP 16 160 - - - - 45% de P2O5 MAP 9 90 - - - - 48% de P2O5 Amnia anidra 82 820 - - - - Gs Salitre potssico 15 150 14 117 - - 18% de Na Nitrato de potssio 13 130 44 367 - - Cloreto de potssio - - 58 483 - - 45-48% de Cl Sulfato de potssio - - 48 400 15-17 150-170 Sulfato de K e Mg - - 18 150 22-24 220-240 4-5% de Mg; 1-2,5% de Cl Sulfato de Ca (inclui fosfogesso) - - 13 130 16% de Ca Superfosfato simples - - - - 10-12 100-120 18% P2O5; 18-20% de Ca Enxofre - - - - 95 950 (1) Portaria 01, de 4-3-83, publicada no D.O.U. de 9-3-83.

    A nitrificao de adubos contendo N amoniacal produz H+, e provoca a acidificao dos solos. A intensidade de acidificao depende do adubo utilizado (Quadro 8.2). Culturas que recebem altas doses de N localizadas, como o caf e os citros, podem ter uma intensa acidificao na zona adubada e necessitar de aplicaes mais constantes de calcrio. Quadro 8.2. Equivalentes de acidez(-) ou de alcalinidade(+) dos principais fertilizantes nitrogenados Fertilizante Equivalente em kg de CaCO3

    Por kg de N Por 100 kg do produto Amnia anidra -1,80 -148 Uria -1,80 -79 Nitrato de amnio -1,80 -58 Nitroclcio 0 0 Sulfato de amnio -5,35 -107 MAP -5,00 -45 Cloreto de amnio -5,60 -140 Nitrato de clcio +1,35 +19 Nitrato de sdio +1,80 +27 Nitrato de potssio +2,00 +26

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    8.1.2 Adubao nitrogenada

    Para a maioria das culturas, o nitrognio o nutriente absorvido em

    maiores quantidades, da sua alta exigncia. Cerca de 95% ou mais do N do solo faz parte da matria orgnica, que

    constitui o grande reservatrio desse nutriente. No entanto, a capacidade do solo de fornecer N s culturas depende da mineralizao do N orgnico, funo de fatores climticos, de difcil previso. Assim, a anlise de solo tem pouca utilidade, at o momento, para ajudar a definir a adubao nitrogenada.

    As doses de N recomendadas para as principais culturas neste boletim foram determinadas com base na classe de resposta a N, definida conforme o manejo e histrico da gleba, no rendimento esperado e nos teores foliares. A produtividade esperada um importante parmetro para recomendao de adubao com nutrientes como N e K pois, em vista da suas altas concentraes nas plantas, a necessidade da cultura varia muito com o potencial de produtividade. O teor de N nas folhas tem-se revelado um bom critrio para ajustar as recomendaes de N em plantas perenes, tais como citros, caf e manga.

    A capacidade do solo para fornecer N e, consequentemente, a necessidade de adubao nitrogenada varia conforme o manejo do solo e a cultura anterior. Neste boletim, foram definidas trs classes de resposta a N, as quais podem ser ajustadas conforme a cultura a ser adubada:

    1 - Alta resposta esperada: solos bem corrigidos e com mdia ou alta disponibilidade de P e K e que tenham sido cultivados com gramneas como o milho, arroz, trigo, ou culturas no fixadoras de N, como o algodo; reas irrigadas com alto potencial de produo, sujeitas a maior lixiviao; reas nos primeiros anos de plantio direto; solos arenosos mais sujeitos a lixiviao ou solos arenosos em regies quentes, onde a decomposio dos resduos de cultura muito rpida;

    2 - Mdia resposta esperada: solos muito cidos e que sero corrigidos com calcrio, com produtividade limitada no primeiro ano e onde se espera maior mineralizao do N do solo devido correo do solo; solos com plantio anterior espordico de leguminosas; solo em pousio por um ano;

    3 - Baixa resposta esperada: solo em pousio por dois ou mais anos, ou aps pastagens; cultivo intenso de leguminosas ou plantios de adubo verde precedendo a cultura a ser adubada.

    Os critrios para definir classes de resposta no so rgidos e, em algumas situaes, pode-se preferir uma classe diferente daquela escolhida pela aplicao das normas acima. Por exemplo, em solos muito arenosos, onde a decomposio da matria orgnica fresca (pastagens ou adubaes verdes incorporadas ao solo) rpida, a classe de resposta baixa deve ser mudada para classe de mdia ou alta resposta.

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    8.2 Potssio

    O potssio , geralmente, o segundo elemento extrado em maior quantidade pelos vegetais. O potssio trocvel representa a frao disponvel s plantas, embora, em alguns solos, formas no-trocveis tambm possam contribuir para o fornecimento a curto prazo deste nutriente.

    O potssio presente nos tecidos vegetais no incorporado frao orgnica, permanecendo como on. Assim, quando parte do material vegetal reciclado aps a colheita, o K presente pode voltar rapidamente ao solo, em forma prontamente disponvel. Quando o solo amostrado com vegetao exuberante, o resultado da anlise pode subestimar o teor de K disponvel, pois uma parte substancial deste nutriente pode estar na biomassa vegetal. Isso pode ter alguma importncia, principalmente em, solos pobres.

    8.2.1 Fertilizantes potssicos

    Os fertilizantes potssicos mais comuns so listados no quadro 8.1. Nas formas de cloreto, sulfatos ou nitratos, so todos solveis em gua e prontamente disponveis s plantas. As concentraes do nutriente nos fertilizantes so indicadas em % de K2O, como na atual legislao, e tambm em g/kg de K.

    O cloreto de potssio a fonte mais barata e mais utilizada. Devido ao alto teor de cloro, no recomendado seu uso em altas doses em culturas sensveis ao excesso desse elemento, tais como o fumo. No entanto, esta restrio no se aplica maioria das espcies.

    8.2.2 Adubao potssica

    A anlise de solo fornece informaes seguras para se avaliar a disponibilidade de potssio s culturas e o principal parmetro utilizado para definir a recomendao das doses de fertilizantes potssicos nas tabelas desta publicao. Outro parmetro importante a produtividade esperada, que reflete a extrao do nutriente pela cultura e a remoo pelas colheitas.

    As tabelas de recomendao geralmente prevm a aplicao dos fertilizantes potssicos no sulco de plantio, embora esta tambm possa ser feita a lano, antes do plantio. Em solos pobres, a aplicao no sulco mais vantajosa pois, com doses menores, possvel garantir maior quantidade de nutrientes prximo do sistema radicular. Em solos com teores altos, a influncia do modo de aplicao menor.

    A aplicao de altas doses de potssio no sulco de plantio deve ser evitada devido ao efeito salino e, em alguns casos, para diminuir perdas por lixiviao. O excesso de sais prximo s sementes e plntulas pode provocar-Ihes a morte e reduzir o "stand", prejudicando a produo. Alm disso, em solos arenosos, h o risco de perdas por lixiviao, pois a quantidade de colides do solo na zona de aplicao do adubo pode no ser suficiente para reter grandes doses do nutriente. Assim, para culturas anuais, recomenda-se no exceder 60 kg/ha de K2O no sulco de plantio. O restante deve ser aplicado em cobertura no incio da fase de maior

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    desenvolvimento das plantas, lembrando que aplicaes tardias ou em solos muito argilosos, podem no ser eficientes. Para doses maiores que 100 kg/ha de K2O, a aplicao a lano, com incorporao antes do plantio, tambm uma alternativa.

    8.3 Enxofre

    A maior parte do S do solo est na forma orgnica e necessita passar por processo de mineralizao para se tornar disponvel s plantas. A forma inorgnica predominante em solos bem drenados a do sulfato, cuja determinao bastante utilizada para avaliar a disponibilidade desse nutriente. Em muitos solos, o sulfato mais retido nas camadas subsuperficiais com reao cida, devido presena de cargas positivas e menores teores de nions como o fosfato, que competem por esses stios de adsoro. Assim, a amostragem do solo para anlise de sulfato deve tambm ser feita na camada de 20 a 40 cm, quando a profundidade do sistema radicular assim o justificar.

    8.3.1 Fertilizantes contendo enxofre

    Os principais fertilizantes minerais contendo enxofre so apresentados no quadro 8.1. Em quase todas as fontes, o S est na forma de sulfato, prontamente disponvel, mesmo na forma de sulfato de clcio, de solubilidade relativamente baixa, presente no gesso e no superfosfato simples. Este nutriente faz parte de importantes fontes de nitrognio, como o sulfato de amnio, e de fsforo, como o superfosfato simples, de modo que, muitas vezes, as necessidades de S podem ser satisfeitas pela adubao com N e P. Essa estratgia quase sempre a mais econmica, uma vez que as necessidades de S para as culturas so, geralmente, pequenas.

    A gessagem, realizada com o propsito de minimizar problemas de acidez e falta de clcio em subsuperfcie (vide captulo 6), geralmente fornece S alm das necessidades das culturas e, por isso, pode resolver o problema de suprimento de S como nutriente por vrios anos.

    O enxofre elementar (So), ou flor de enxofre, com 95 g/kg de S, tambm uma fonte eficiente deste nutriente para as plantas, embora de solubilidade bastante baixa. A disponibilidade do S dessa fonte depende da oxidao a sulfato, cuja velocidade funo da granulometria: quanto mais fina, mais rpida a oxidao. No entanto, o forte poder acidificante do enxofre elementar deve ser levado em considerao (32 kg de S necessitam de 100 kg de CaCO3 puro para neutralizar a acidez produzida).

    8.3.2 Adubao com enxofre

    A extrao de enxofre pelas culturas corresponde geralmente a 10 a 15% da de nitrognio. No entanto, o uso de frmulas concentradas, pobres em enxofre, por longos perodos de tempo, pode colaborar para o empobrecimento do solo e provocar deficincia desse nutriente. Por isso, recomenda-se que a aplicao de enxofre no seja negligenciada nos programas de adubao.

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    Nas tabelas desta publicao, geralmente a recomendao da dose de S no est amarrada anlise do solo, pois poucos laboratrios fazem a determinao desse nutriente em solo. No entanto, os resultados da anlise de S-sulfato tm sido usados com relativo sucesso para prever a disponibilidade desse nutriente s plantas.

    Heitor Cantarella Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    9. ADUBAO COM MICRONUTRIENTES

    As deficincias de micronutrientes em culturas representam uma preocupao crescente, j que elas vm-se acentuando, podendo acarretar srios prejuzos na produtividade. O cultivo em solos de baixa fertilidade, a calagem e o aumento da produtividade, so fatores que tm favorecido o aumento das deficincias de micronutrientes. A anlise de solo para micronutrientes, introduzida nesta publicao, dever ser importante instrumento para orientar a adubao, principalmente se for usada em conjunto com informaes especficas sobre as espcies ou variedades cultivadas.

    9.1 Fertilizantes contendo micronutrientes

    Sais e xidos inorgnicos, silicatos fundidos e quelatos - so usados como fontes de micronutrientes, isoladamente ou incorporados em formulaes com macronutrientes.

    O quadro 9.1 apresenta os principais produtos comercializados no Brasil, com os teores mnimos exigidos pelo Ministrio da Agricultura. Na prtica, podem ser encontrados produtos com teores bem mais elevados. A solubilidade ou no em gua um dos importantes atributos utilizados para orientar o modo de aplicao.

    Os principais fertilizantes so os sais inorgnicos solveis dos elementos. Tambm so utilizados xidos, insolveis em gua. Os chamados silicatos, conhecidos como "fritas", so obtidos por fuso de silicatos com os micronutrientes. Eles so comercializados com grande diversidade de nutrientes, no mnimo dois, e com os teores mnimos apresentados no quadro 9.1. Os quelatos so produtos solveis que mantm os metais neles contidos fortemente complexados, em muitos casos protegendo os elementos de reaes que poderiam reduzir sua disponibilidade no solo.

    Tem havido uma tendncia crescente de incorporao dos micronutrientes em formulaes NPK, principalmente por causa da dificuldade de aplicao das pequenas quantidades normalmente necessrias nas adubaes.

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    Quadro 9.1. Principais fontes de micronutrientes utilizados no Brasil e garantias mnimas exigidas pelo Ministrio da Agricultura Nutriente Fertilizante Garantia mnima Solubilidade

    (conc. do elemento) em gua % g/kg

    Boro Brax 11 110 Solvel Acido brico 17 170 Solvel Silicato 1 10 Insolvel

    Cobre Sulfato 13 130 Solvel

    xido cprico (CuO) 75 750 Insolvel Silicato 2 20 Insolvel Quelato 5 50 Solvel

    Ferro Sulfato ferroso 19 190 Solvel

    Sulfato frrico 23 230 Solvel Quelato 5 50 Solvel

    Mangans Sulfato manganoso 26 260 Solvel

    xido manganoso 41 410 Insolvel Silicato 2 20 Insolvel Quelato 5 50 Solvel

    Molibdnio Molibdato de sdio 39 390 Solvel

    Molibdato de amnio 54 540 Solvel Silicato 0,1 1 Insolvel

    Zinco Sulfato de zinco 20 200 Solvel

    xido 50 500 Insolvel Silicato 3 30 Insolvel Quelato 7 70 Solvel

    9.2 Adubao com micronutrientes

    Existem grandes diferenas de comportamento de espcies vegetais e at mesmo de variedades dentro das mesmas espcies, na suscetibilidade a deficincias de micronutrientes. Assim, nas tabelas de adubao das culturas, a anlise de solo para micronutrientes considerada naqueles casos em que ocorreram deficincias, em So Paulo, principalmente para zinco e boro e, em poucos casos, para cobre e mangans. Ainda no est sendo feita anlise de solos para molibdnio.

    As recomendaes de adubao de micronutrientes, quando indicadas nas tabelas de adubao das culturas, so para aplicaes localizadas, no sulco ou em covas, ou mesmo na superfcie do solo, para culturas perenes, exceto naqueles casos em que prescrita a aplicao foliar.

    Em aplicaes localizadas, as formas solveis em gua so mais prontamente disponveis, principalmente para culturas de crescimento rpido. As fontes insolveis so favorecidas pelo maior contato com o solo, propiciado por incorporao em rea total ou com a terra de sulcos ou covas.

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    Dos micronutrientes, apenas o cloro e o boro apresentam mobilidade acentuada no solo, entretanto, no existe registro de ocorrncia de deficincias de cloro nas condies de So Paulo. J o boro, pela sua mobilidade, pode ser aplicado em adubao de cobertura, at em culturas anuais.

    Os micronutrientes, com exceo do ferro, apresentam efeito residual das adubaes que podem estender-se por vrios anos, dependendo das quantidades aplicadas. Assim, a anlise de solo pode ser usada para acompanhar as variaes sendo, em geral, bastante fcil atingir valores altos. Essa uma informao especialmente importante, no caso de culturas intensivas que recebem vrias aplicaes por ano, possibilitando, com o monitoramento pela anlise de solo, evitar acmulos que podem tornar-se txicos, o que mais provvel de ocorrer para boro.

    O molibdnio pode ser aplicado, de maneira muito eficiente, junto com as sementes. Isso possvel pelas baixas quantidades do nutriente exigidas pelas plantas, o que no ocorre com os demais micronutrientes.

    A aplicao foliar pode ser utilizada para os micronutrientes, com soluo de sais inorgnicos solveis em gua. Nos casos em que isso recomendado, as concentraes preconizadas so dadas nas tabelas de adubao. Para diversas culturas perenes, a pulverizao foliar com micronutrientes uma rotina, aproveitando-se a aplicao de pesticidas. Para as hortalias, a prtica tambm bastante comum, mas para culturas anuais extensivas, a adubao foliar de micronutrientes em geral s se justifica em situaes de emergncia. Em todas as situaes, quando houver deficincia de zinco e mangans recomendvel a aplicao ao solo, de preferncia no plantio.

    Cleide Aparecida de Abreu e Bernardo van Raij

    Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas IAC

    10. ADUBAO ORGNICA

    H um interesse crescente na utilizao de adubos orgnicos, pelo seu reconhecido efeito benfico na produtividade das culturas. Neste captulo, so dadas informaes, no s sobre adubos orgnicos mais tradicionais, mas tambm sobre o uso de resduos diversos na agricultura, considerando que sua aplicao ao solo , muitas vezes, uma maneira conveniente de reciclagem desses materiais orgnicos.

    10.1 Adubos orgnicos

    O principal efeito da adubao orgnica a melhoria das propriedades fsicas e biolgicas do solo. Embora os adubos orgnicos mais utilizados possuam nutrientes em teores geralmente baixos e desbalanceados, necessitando de

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    suplementao com fertilizantes minerais para a maioria das culturas, as aplicaes carreiam nutrientes que devem ser considerados nas adubaes.

    Os nutrientes presentes em adubos orgnicos, principalmente o nitrognio e o fsforo, possuem uma liberao mais lenta que a dos adubos minerais, dependente da mineralizao da matria orgnica, proporcionando disponibilidade ao longo do tempo, o que muitas vezes favorece um melhor aproveitamento.

    Uma composio tpica de vrios adubos orgnicos, usados para melhorar a fertilidade do solo, apresentada no quadro 1 0. 1.

    Algumas caractersticas importantes das principais prticas utilizadas no manejo da matria orgnica do solo, com respeito adio e liberao de nutrientes s plantas so consideradas a seguir.

    10.2 Estercos de origem animal

    So os mais importantes adubos orgnicos, merecendo assim uma ateno parte.

    Embora os estercos possuam praticamente todos os elementos necessrios ao desenvolvimento das plantas, as quantidades normalmente aplicadas no so suficientes para suprir as necessidades das culturas. Os estercos so considerados, em geral, como fontes de nitrognio, seu constituinte mais importante, mas outros nutrientes no podem ser desprezados, tais como fsforo e potssio, alm de cobre e zinco nos estercos de galinha e de porco.

    O nitrognio dos estercos e de outros materiais orgnicos pode ser manejado mediante as denominadas "sries de decaimento", que expressam a porcentagem de mineralizao do N que ocorre a cada ano aps a aplicao do resduo. Como exemplo, um adubo orgnico com uma srie de decaimento de 0,30; 0,10; 0,05 indica que, para o primeiro ano, 30% do seu contedo total em N estar mineralizado, 10% do total restante no segundo ano e 5% do restante do N no mineralizado no primeiro e segundo anos estar disponvel no terceiro e assim sucessivamente. O quadro 10.2 apresenta as sries de decaimento para alguns adubos orgnicos e os totais de N a serem adicionados pelos adubos para manter uma quantidade fixa de 1 00 kg/ha de N mineralizado por ano. Com relao ao P e ao K, pode-se assumir que 70% do P e praticamente todo o K estaro disponveis no primeiro ano de aplicao.

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    Quadro 10.1. Composio tpica de vrios materiais orgnicos de origem animal, vegetal e agroindustrial (sem secar) Materiais orgnicos C/N Umidade C N P K Ca

    _________________g/kg________________ Esterco bovino fresco 20 620 100 5 2,6 6 2 Esterco bovino curtido 21 340 320 15 12 21 20 Esterco de galinha 10 550 140 14 8 7 23 Esterco de porco 9 780 60 7 2 5 12 Composto de lixo 27 410 160 6 2 3 11 Lodo de esgoto 11 500 170 16 8 2 16 Vinhaa in natura 17 950 10 0,6 0,1 3 1 Torta de filtro 27 770 80 3 2 0,6 5 Torta de mamona 10 90 450 45 7 11 18 Mucuna 20 870 60 3 0,6 3 2 Crotalria jncea 25 860 70 2,8 0,4 3 2 Milho 46 880 60 1,3 0,2 3 0,5 Aguap 20 940 20 1 0,1 1 1 Materiais orgnicos Mg S Zn Cu Cd Ni Pb

    __g/kg__ __________mg/kg_________ Esterco bovino fresco 1 1 33 6 0 2 2 Esterco bovino curtido 6 2 217 25 0 2 1 Esterco de galinha 5 2 138 14 2 2 17 Esterco de porco 3 - 242 264 0 2 3 Composto de lixo 1 2 255 107 2 25 111 Lodo de esgoto 6 2 900 435 11 362 360 Vinhaa in natura 0,4 0,5 3 5 - - - Torta de filtro 0,8 3 20 13 - - - Torta de mamona 5 - 128 73 - - - Mucuna 0,4 - 6 3 - - - Crotalria jncea 0,4 - 2 1 - - - Milho 0,2 0,2 3 1 - - - Aguap 0,2 0,2 3 2 0 1 2 Os valores no so absolutos, servindo apenas para uma avaliao de ordem de grandeza. Para converter as quantidades dos elementos de tabela para quantidades no material seco (base seca), usar a relao: concentrao no resduo seco em g/kg ou mg/kg = concentrao no material sem secar em g/kg ou mg/kg x 1.000 / (1.000 - umidade em g/kg). Para converter g/kg em %, dividir o valor do quadro por 10.

    A mistura de adubos fosfatados com esterco, alm de aumentar a disponibilidade de fsforo, ajuda a reter amnia, reduzindo as perdas de nitrognio. Para seu uso prtico, importante curtir os estercos, para evitar danos s plantas.

    As quantidades normalmente aplicadas, variam de 10 a 100 t/ha de esterco bovino e pelo menos 4 vezes menos de esterco de galinha. As quantidades dependem da cultura e do grau de pureza do esterco.

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    Quadro 10.2. Quantidade total de N necessria para manter uma taxa de mineralizao de 100 kg N/ha por ano durante um perodo de 15 anos para trs tipos de material orgnico(1) Material orgnico Tempo em anos srie de decaimento 1 2 3 4 5 10 15

    ____________N, kg/ha por ano__________ Esterco de galinha 111 110 109 109 108 106 105 0,90; 0,10; 0,05 Esterco de curral seco, 1,0% N 500 300 290 244 218 138 112 0,20; 0,10; 0,05 Lodo de esgoto lquido, 2,5% N 286 232 218 203 189 145 122 0,35; 0,10; 0,05 (1) Informao da Universidade da Califrnia, Riverside, EUA.

    10.3 Compostos

    Qualquer material vegetal pode ser utilizado para a produo de composto. O uso de estercos de animais ou de terra retirada da camada superficial do solo, ricos em microrganismos, ou de corretivos e adubos como calcrio, uria e os superfosfatos, aceleram a decomposio dos restos vegetais e enriquecem o produto final. Condies adequadas de aerao, umidade (60%) e de temperatura tambm auxiliam a ao dos microorganismos na estabilizao do composto.

    Compostos com relao C/N menor que 25 e relao C/P menor que 200, em geral, liberam a maior parte do N e do P no primeiro ano de aplicao. As dosagens de composto variam de 30 a 50 t/ha, em rea total.

    10.4 Resduos urbanos e industriais

    Enquadram-se nessa classificao o lixo urbano, o lodo de esgoto, a vinhaa, a torta de filtro, as borras, os resduos de laticnios, etc. Em geral, os produtos so desbalanceados quanto aos teores de nutrientes neles contidos, necessitando uma suplementao na adubao, com fontes minerais. Os lodos, geralmente, so pobres em potssio devido ao seu processo de obteno que perde esse nutriente em soluo. Em compensao, podem apresentar teores elevados de fsforo, s vezes superiores ao nitrognio, e mais de 80% do P pode estar disponvel no primeiro ano de aplicao. O composto de lixo urbano tem-se comportado de forma similar ao esterco de curral, obtendo-se um efeito significativo na produo j no primeiro ano com dosagens de 40t/ha.

    O composto de lixo urbano e o lodo de esgoto, por apresentarem risco de conter patgenos, compostos orgnicos de difcil decomposio no solo e metais pesados, como o cdmio, o nquel e o crmio, devem ser empregados

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    preferencialmente em parques e jardins e em culturas que no sejam de consumo direto, como o algodo, a seringueira, a cana de acar e os cereais, a fim de que a cadeia alimentar fique protegida de contaminao. Todos os resduos com teores elevados em metais pesados devem ser de aplicao restrita, a fim de se evitar o acmulo no solo.

    O quadro 10.3 indica os limites adotados por alguns pases da Europa e pela Comunidade Econmica Europia para a concentrao de metais pesados no composto de lixo urbano e no lodo de esgoto. A legislao dos EUA j restringe as quantidades mximas a serem aplicadas por ano e as acumuladas no solo, no caso do lodo de esgoto conter quantidades elevadas de metais pesados (Quadro 10.4). Assim, a utilizao de resduos urbanos na agricultura deve prever um monitoramento constante, para evitar a contaminao tanto do solo como do aqufero, principalmente quando o material orgnico contiver teores de um ou mais elementos txicos prximos aos limites mostrados nos quadros 10.3 e 10.4. No Brasil, ainda no h valores definidos para teores de metais txicos ou de quantidades mximas a aplicar para culturas. A vinhaa , principalmente, uma fonte de potssio, com disponibilidade similar ao cloreto de potssio, e tambm contribui com quantidades apreciveis de N, Ca, Mg, Zn, Cu e Mn. Sua aplicao aumenta o pH e a atividade biolgica do solo. As dosagens recomendadas variam com a fertilidade do solo e o tipo de composio do mosto que deu origem ao resduo. A torta de filtro libera cerca de 20% de seu contedo em N, no primeiro ano de aplicao, e apresenta uma elevada capacidade de reteno de gua a baixas tenses. As quantidades aplicadas por hectare esto em torno de 3 a 10 toneladas da torta seca no sulco de plantio e de 30 a 50 t do resduo seco em rea total. Quadro 10.3. Limites para a concentrao de metais pesados no composto de lixo urbano e no lodo de esgoto, adotados por alguns pases da Europa para o uso agrcola, com base no material seco (m.s.)

    ___________Composto de lixo___________ ______Lodo de esgoto_______ Elemento ustria Itlia Holanda Blgica Alemanha Sucia C.E.E

    (1) (2) ___________________________mg/kg de m.s.____________________________

    Cdmio 6 10 5 5 5 15 15 20 Crmio 300 500 500 150 200 900 1.000 750 Cobre 1.000 600 600 100 500 800 3.000 1.000 Mercrio 4 10 5 5 5 8 8 16 Nquel 200 200 100 50 100 200 500 300 Chumbo 900 500 500 600 1.000 900 300 750 Zinco 1.500 2.500 2.000 1.000 1.500 2.500 10.000 2.500 (1) Culturas alimentcias. (2) Culturas ornamentais.

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    As tortas vegetais, como a torta de mamona indicada no quadro 1, so

    tambm adubos orgnicos de grande interesse, embora de disponibilidade limitada no comrcio. Outros produtos, como farinha de sangue, farinha de ossos, etc., tem uso muito restrito na adubao. Quadro 10.4. Quantidades mximas de metais pesados permitidas no lodo de esgoto e taxa mxima de aplicao anual e acumulada no solo agrcola, de acordo com a legislao 40 CFR parte 503, regulamentadora do uso do lodo de esgoto nos EUA, com base na matria seca, a partir de 1993 Elemento Quantidade mxima Taxa mxima de Taxa mxima de

    no lodo aplicao anual aplicao acumulada mg/kg kg/ha/ano kg/ha

    Arsnio 75 2,0 41 Cdmio 85 1,9 39 Crmio 3.000 150 3.000 Cobre 4.300 75 1.500 Chumbo 840 15 300 Mercrio 57 0,85 17 Molibdnio 75 0,90 18 Nquel 420 21 420 Selnio 100 5,0 100 Zinco 7.500 140 2.800

    10.5 Adubos verdes

    As leguminosas incorporam o nitrognio do ar atmosfrico ao solo atravs da fixao simbitica. A produo de massa vegetal chega a conter de 16 a 25 kg/ha de N por tonelada de matria seca, dos quais uma cultura subsequente pode aproveitar de 10 a 50%. Dependendo das condies edafoclimticas, a decomposio do material vegetal incorporado pode-se dar rapidamente, com perdas do nitrognio por lixiviao, anteriores ao perodo de necessidade mxima da cultura subsequente.

    As leguminosas em rotao de culturas incorporam nitrognio ao sistema, reduzindo as necessidades nas adubaes.

    10.6. Adubos organominerais

    Tais adubos, de acordo com a legislao, precisam conter no mnimo 25% de matria orgnica total na frmula. A adio de matria orgnica humificada

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    formulao mineral proporciona vrias vantagens mistura como: diminuir a fixao de P pela frao coloidal do solo; reter ctions, principalmente o K da frmula; fornecer os macro e micronutrientes contidos na matria orgnica empregada na formulao e diminuir as perdas de nitrognio pela lixiviao por apresentar uma solubilidade mais lenta. Alm disso, os adubos organominerais, em geral diminuem o ndice salino da mistura e apresentam menor empedramento que as formulaes minerais quando ensacados. Esses adubos tambm possuem maior friabilidade, proporcionando distribuio mais uniforme no solo. Constituem-se numa excelente alternativa para a reciclagem de resduos urbanos na agricultura.

    Ronaldo S. Berton Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    11. COMPOSIO QUMICA DE PLANTAS E DIAGNOSE FOLIAR

    As plantas tm aproximadamente 5% de nutrientes minerais na matria seca, mas h grandes diferenas entre espcies e, alm disso, as quantidades totais exigidas por uma cultura dependem da produtividade. Assim, importante conhecer o contedo em nutrientes das plantas, principalmente da parte colhida, para poder avaliar a remoo de nutrientes da rea de cultivo. Tambm importante avaliar se o estado nutricional das plantas adequado, o que pode ser feito pela diagnose foliar. Esses dois assuntos so tratados neste captulo.

    11.1 Composio qumica das plantas

    Para as principais plantas cultivadas, so apresentadas tabelas com a composio qumica, para os nutrientes nitrognio, fsforo, potssio e enxofre, para a planta inteira e a parte colhida, ou apenas para a parte colhida de culturas perenes. Em ambos os casos, os valores referem-se sempre a uma tonelada de produto colhido.

    As informaes fornecidas nesta publicao permitem confrontar as adubaes com as extraes e exportaes de nutrientes pelas culturas e preparar balanos nutricionais, que podem ser teis, juntamente com outras informaes, para redirecionar as adubaes.

    Deve-se lembrar que as quantidades de nutrientes necessrias para as recomendaes econmicas de adubao no dependem apenas da reposio do que exportado pelas colheitas. No desenvolvimento das culturas, quantidades importantes de nutrientes so necessrias formao da parte vegetativa das plantas e para rgos que concentram nutrientes, tais como frutos e gros, razes e tubrculos, etc. Alm disso, h a interao dos nutrientes com o solo, como fixao ou lixiviao, entre outros processos. Resulta, assim, um sistema

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    complexo, em que a composio qumica da parte area das plantas apenas um dos componentes.

    De qualquer forma, a composio qumica das plantas pode ser uma indicao til, desde que no seja usada isoladamente como critrio de recomendao de fertilizantes.

    11.2 Diagnose foliar

    A folha o rgo da planta na qual as alteraes fisiolgicas, em razo de distrbios nutricionais, tornam-se mais evidentes. Por essa razo, quase sempre os diagnsticos nutricionais das plantas so feitos atravs das folhas, pela tcnica que, de forma ampla, denomina-se diagnose foliar.

    A diagnose foliar pode ser feita atravs da observao visual de sintomas de distrbios nutricionais (diagnose visual) ou atravs de procedimentos mais sofisticados, envolvendo, por exemplo, a anlise qumica das folhas. A diagnose visual possvel apenas quando os sintomas de deficincia ou excesso se manifestam visualmente. Nesse estgio, muitas vezes inevitvel a perda de produo.

    A diagnose foliar, via anlise qumica, permite a avaliao do estado nutricional, isto , permite identificar o nvel de comprometimento da produtividade, em funo da situao nutricional, principalmente em casos extremos.

    A interpretao correta dos resultados de uma anlise depende de muita experimentao para o estabelecimento de ndices de calibrao que reflitam o estado nutricional das plantas. Na prtica, os critrios para isso variam bastante, mas tem havido acmulo de informaes na literatura mundial, em geral reproduzidas de uma publicao para outra, com acrscimo de informaes regionais. No caso desta publicao, foram utilizados limites de teores da literatura e do prprio acervo de dados do Instituto Agronmico.

    Geralmente se estabelecem um ou mais nveis crticos ou faixas de concentrao que permitem definir se a concentrao do nutriente adequada, deficiente ou excessiva. Neste Boletim Tcnico, so apresentadas faixas de teores considerados adequados.

    A composio das folhas afetada por diversos fatores. Para que a interpretao dos resultados no seja prejudicada essencial a padronizao da amostragem. Alm disso, contaminaes por pulverizaes podem prejudicar a interpretao. Para a diagnose de micronutrientes em folhas, no devem ser feitas aplicaes foliares no perodo do ano agrcola que antecede amostragem de folhas.

    Para diversos grupos de culturas, so apresentadas as tabelas de interpretao, visando servir de subsdio para o acompanhamento dos resultados da adubao. Os resultados so usados para a recomendao quantitativa de fertilizantes apenas para nitrognio em algumas culturas perenes. Nos demais casos, a diagnose foliar usada para avaliar se as adubaes esto sendo adequadas e ela pode ser usada para alterar as rotinas de adubao.

    A interpretao correta da anlise qumica das plantas est associada principalmente amostragem e cuidados no envio do material para o laboratrio.

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    Os procedimentos de amostragem so apresentados para cada cultura. No caso de possveis distrbios nutricionais, retirar amostras pareadas, ou seja, uma amostra de plantas afetadas e outra de plantas sadias. No caso de plantas ainda no contempladas com recomendaes de amostragem e interpretao, seguir as indicaes para plantas que mais se assemelham, retirando folhas recm-maduras.

    Enviar as amostras em sacos de papel, evitando que o material demore mais de 48 horas entre a coleta e o processamento no laboratrio. Se houver necessidade, as folhas podem ser armazenadas em geladeira por algum tempo at completar a amostragem. Esse tempo, entretanto, no pode ser muito longo, para evitar a deteriorao do material.

    Os limites de interpretao para a diagnose foliar basearam-se nos dados de arquivo da Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas e em vrios livros, destacando-se: INTERNATIONAL FERTILIZER INDUSTRY ASSOCIATION. IFA World fertilizer use manual. Paris, IFA, 1992. 632p. JONES Jr., J.B.; WOLF, B. & MILLS, H.A. Plant analysis habdbook. Athens, Micro-Macro, 1991. 213p. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C. & OLIVEIRA, S.A. de. Avaliao do estado nutricional das plantas. Piracicaba, POTAFS. 1989. 201 p. MARTIN-PRVEL, P.; GAGNARD, J. & GAUTIER, P. Plant analysis: as a guide to the nutrient requirements of temperate and tropical crops. New York, Lavoisier, 1987. 722p.

    Ondino Cleante Bataglia Seo de Fertilidade do Solo e Nutrio de Plantas - IAC

    12. IMPLEMENTAO DAS RECOMENDAES

    Uma das etapas crticas da adubao a sua implementao. Ao nmero muito grande de recomendaes derivadas das tabelas de adubao, contrapem-se a existncia de grande diversidade de insumos. Resulta que a conciliao entre as quantidades recomendadas de nutrientes e as efetivamente aplicadas em geral no fcil. Contudo, considerando que a adubao no precisa ser feita com grande preciso, pode-se chegar a implementaes prticas muito mais simples do que se imagina. Sendo discutidos os casos dos adubos simples, das frmulas NPK e da aplicao de enxofre e de micronutrientes.

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    12.1 Adubos simples

    No caso de adubos simples, a quantidade a aplicar calculada multiplicando a dose recomendada do nutriente por 100 e dividindo pelo teor do nutriente, em porcentagem, no adubo escolhido.

    Como exemplo, considere-se a adubao, em kg/ha de N, P2O5 e K2O, de 20-130-70. Pretende-se utilizar os seguintes fertilizantes: sulfato de amnio (20% de N); superfosfato triplo (41% de P2O5) e cloreto de potssio (58% de K2O). As quantidades a aplicar sero as seguintes (arredondando em dezenas):

    sulfato de amnio - 100 kg/ha superfosfato triplo - 320 kg/ha cloreto de potssio - 120 kg/ha

    12.2 Frmulas NPK

    Para utilizar frmulas NPK, o primeiro passo estabelecer a relao aproximada de nutrientes e procurar uma frmula com a mesma relao ou prxima. No exemplo dado acima, a relao 1-6-3 bastante prxima, sendo representada, como uma opo possvel, pela frmula 5-30-15.

    A quantidade necessria encontrada multiplicando a soma dos nutrientes recomendados por 100 e dividindo pela soma dos nutrientes da frmula. Para atender a recomendao de 20 kg/ha de N, 130 kg/ha de P2O5 e 70 kg/ha de K2O, o clculo o seguinte:

    (20 + 130 + 70) x 100 = 220 x 100 (5 + 30 + 15) = 50 440 kg/ha

    Para conferir as quantidades de nutrientes que sero aplicadas com 440

    kg/ha da frmula 5-30-15, multiplicar o teor de cada nutriente na frmula pela quantidade correspondente e dividir por 100. Obtm-se 22 kg/ha de N, 132 kg/ha de P2O5 e 66 kg/ha de K2O, muito prximas das recomendadas.

    12.3 Adio de enxofre e de micronutrientes

    A adio de enxofre pode ser feita por adubos simples ou frmulas. Nos dois casos, necessrio conhecer a recomendao de S e o teor do nutriente contido no adubo, e o calculo similar ao mostrado para N, P e K. Exemplificando com o caso acima, a adio de 100 kg/ha de sulfato de amnio (22% de S), resulta na aplicao de 22 kg/ha de S.

    No caso dos micronutrientes para adio ao solo, as necessidades em adubos simples tambm feita por clculo similar ao mostrado para NPK. Para aplicao em formulaes NPK, preciso calcular o teor aproximado que a

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    frmula deve conter dos micronutrientes. Suponha-se que a adubao acima - 440 kg/ha de 5-30-15 - necessite carrear para o solo 1 kg/ha de B e 2 kg/ha de Zn.

    Para determinar o teor desses nutrientes, contidos na frmula, multiplicar a quantidade necessria por 1 00 e dividir pela quantidade da frmula que ser aplicada. Resulta em 0,23% de B e 0,45% de Zn. Ou seja, a frmula deve conter em torno de 0,25% de B e 0,5% de Zn.

    12.4 Modos e pocas de aplicao

    As tabelas, em geral, indicam pocas e modos de aplicao de corretivos e fertilizantes. O modo de aplicao tambm discutido nos captulos que tratam da correo do solo e dos diferentes nutrientes. Aqui ser feita uma discusso resumindo os aspectos mais importantes.

    O calcrio deve ser incorporado ao solo com a maior antecedncia possvel ao plantio, para melhor reao do corretivo. importante um bom contato do calcrio com o solo e, para isso, recomenda-se a pr-incorporao com grade e depois a arao profunda ou aplicar metade antes da arao e metade depois, para incorporao com gradagem. A incorporao profunda tambm importante. No aconselhvel a incorporao rasa, com grade, principalmente em solos que esto sendo corrigidos pela primeira vez, pois pode resultar em excesso de calagem prximo superfcie do solo, acarretar deficincias de micronutrientes e limitar o aprofundamento do sistema radicular.

    Em culturas perenes formadas ou em sistemas de plantio direto, nos quais no vai ser feita a arao, o calcrio deve ser aplicado em rea total e, quando possvel, em quantidades maiores nas partes adubadas do terreno. Se possvel, incorporar levemente com grade, sem danificar as razes das plantas. importante lembrar que preciso incorporar muito bem o calcrio na formao de culturas perenes ou no incio de sistemas de produo em plantio direto, j que aplicaes superficiais atuam lentamente nas camadas mais profundas do solo e um solo mal corrigido no incio comprometer a produtividade por muito tempo.

    A adubao, em culturas anuais, aplicada 5 cm ao lado e abaixo das sementes. Normalmente se aplica pouco nitrognio, quantidades altas de P e moderadas de K, dependendo da anlise de solo. Aplicaes elevadas de cloreto de potssio no sulco de plantio podem causar dano s plantas, pelo alto ndice salino desse adubo. Cabe ressaltar a importncia da aplicao localizada do fsforo, principalmente em solos com teores baixos do nutriente. Nesses casos, a fonte deve ter predominncia de fsforo solvel em gua. Fosfatos insolveis em gua so mais eficientes em mistura com o solo e em condies de maior acidez. Embora no se recomende, nas tabelas, a adubao fosfatada corretiva pode ser feita quando se pretender no primeiro ano, alta produtividade em solos mui