boletim especial da consciência negra 2014

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ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA 2014 Semana da Consciência Negra As dificuldades de afrodescendentes no meio acadêmico A população negra, que responde por 50,7% dos brasileiros conforme o Censo 2010 do IBGE, ocupa apenas em torno de 30% do funcionalismo brasileiro nas esferas federal, estaduais e mu- nicipais. A informação é dos pesquisadores do Laboratório de Análises Econômicas, Históri- cas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), do Instituto de Economia da Universi- dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2010, dos pouco mais de 180 mil funcio- nários públicos estatutários que ocupavam po- sições de diretores e gerentes, a maioria era branca: 64,1%. Os pretos e pardos, 34,8%. Entre os prossionais das áreas cientícas e in- telectuais (1.600.486 estatutários), a participa- ção de negros subia para 37,6%. Mas especi- camente entre os médicos, esta proporção não chegava a um quinto, equivalendo a 17,6% do total. Entre os professores universitários, não alcançava um terço do total. A participação negra, conforme os pesquisa- dores do Laeser, aumenta entre as ocupações de menor prestígio e remuneração. Entre os prossionais técnicos e de nível médio corres- pondiam a 44,5%. Já entre os empregados em ocupações elementares, o percentual era de 60,2%, aumentando entre os coletadores de lixo e de material reciclável: 70,2%. Para os pesquisadores, as discrepâncias reetem as desigualdades de cor ou raça no mercado de trabalho brasileiro como um todo. Assim, mesmo no setor privado, é habitual encontrar trabalhado- res brancos em posições e grupamentos ocupa- cionais mais prestigiados e melhor remunerados. O inverso ocorre entre os trabalhadores pretos e pardos. No nal de abril de 2014, a comissão de Di- reitos Humanos do Senado aprovou o Projeto de Lei 6.738/13, que reserva 20% das vagas em concursos públicos federais para afrodes- cendentes nos próximos dez anos. Em artigo divulgado recentemente, o Laeser considera que o PL é meritório em seus princípios fun- damentadores. A justicativa é que, por conta das desigualdades nos anos médios de esco- laridade, menor acesso a informação inclusive sobre concursos e a perspectiva de aprovação em concursos públicos. No entanto, em artigo divulgado em agosto de 2014, o Laeser defende que é preciso saber dife- renciar a necessidade de ampliação da presença relativa de pretos e pardos entre os funcionários públicos de todo o país e a efetiva capacidade do projeto para esse m. Ou seja, o que se coloca é que este percentual (20%) se apresenta como modesto mesmo com essa população concorren- do ao mesmo tempo pelo sistema de reserva de vaga e o de ampla concorrência. Acesse: www.aplbsindicato.org.br [email protected] Modelo: Rafaela Rosa Foto: Anselmo Brito Negros são menos de 18% dos médicos e não chegam a 30% dos professores universitários Somos todos iguais! Texto: Cida Oliveira, da Rede Brasil Atual, atualizado pelo departamento de Comunicação da APLB-Sindicato

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Boletim Especial da APLB-Sindicato em comemoração ao Mês da Consciência Negra.

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Page 1: Boletim Especial da Consciência Negra 2014

ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA 2014

Semana da Consciência Negra

As dificuldades de afrodescendentes no meio acadêmico

A população negra, que responde por 50,7% dos brasileiros conforme o Censo 2010 do IBGE, ocupa apenas em torno de 30% do funcionalismo

brasileiro nas esferas federal, estaduais e mu-nicipais. A informação é dos pesquisadores do Laboratório de Análises Econômicas, Históri-cas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), do Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Em 2010, dos pouco mais de 180 mil funcio-nários públicos estatutários que ocupavam po-sições de diretores e gerentes, a maioria era branca: 64,1%. Os pretos e pardos, 34,8%.

Entre os profi ssionais das áreas científi cas e in-telectuais (1.600.486 estatutários), a participa-ção de negros subia para 37,6%. Mas especifi -camente entre os médicos, esta proporção não chegava a um quinto, equivalendo a 17,6% do total. Entre os professores universitários, não alcançava um terço do total.

A participação negra, conforme os pesquisa-dores do Laeser, aumenta entre as ocupações de menor prestígio e remuneração. Entre os profi ssionais técnicos e de nível médio corres-pondiam a 44,5%. Já entre os empregados em ocupações elementares, o percentual era de 60,2%, aumentando entre os coletadores de lixo e de material reciclável: 70,2%.

Para os pesquisadores, as discrepâncias refl etem as desigualdades de cor ou raça no mercado de trabalho brasileiro como um todo. Assim, mesmo no setor privado, é habitual encontrar trabalhado-res brancos em posições e grupamentos ocupa-cionais mais prestigiados e melhor remunerados. O inverso ocorre entre os trabalhadores pretos e pardos.

No fi nal de abril de 2014, a comissão de Di-reitos Humanos do Senado aprovou o Projeto

de Lei 6.738/13, que reserva 20% das vagas em concursos públicos federais para afrodes-cendentes nos próximos dez anos. Em artigo divulgado recentemente, o Laeser considera que o PL é meritório em seus princípios fun-damentadores. A justifi cativa é que, por conta das desigualdades nos anos médios de esco-laridade, menor acesso a informação inclusive sobre concursos e a perspectiva de aprovação em concursos públicos.

No entanto, em artigo divulgado em agosto de 2014, o Laeser defende que é preciso saber dife-renciar a necessidade de ampliação da presença relativa de pretos e pardos entre os funcionários públicos de todo o país e a efetiva capacidade do projeto para esse fi m. Ou seja, o que se coloca é que este percentual (20%) se apresenta como modesto mesmo com essa população concorren-do ao mesmo tempo pelo sistema de reserva de vaga e o de ampla concorrência.

Acesse: www.aplbsindicato.org.br [email protected]

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Negros são menos de 18% dos médicos e não chegam a 30% dos professores universitários

Somos todos iguais!

Texto: Cida Oliveira, da Rede Brasil Atual, atualizado pelo departamento de Comunicação da APLB-Sindicato

Page 2: Boletim Especial da Consciência Negra 2014

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A juventude negra e a educação

Apesar dos projetos educacionais de inclusão que existem no Brasil, estes ainda não atingi-ram a maioria da juventude afrodescendente no país, milhões de jovens negros formam

batalhão de miseráveis por todo o Brasil, tanto no campo quando na cidade.

Esta juventude negra se encontra abandonada, principalmente na área da educação, o que leva os jovens a se degenerarem para a miséria social, quando a educação pública passa por um grande fenômeno social, que é a evasão escolar. Isso vem acontecendo em todo o Brasil.

Os negros têm passado ao longo dos anos por sistemas políticos que nunca deram perspectivas à sua evolução social. No escravismo foram total-mente afastados de qualquer processo educacio-nal, só lhes restavam látego dos chicotes, dos se-nhores de engenho.

No capitalismo já com a escravidão institucional abolida, enfrentam outro tipo de escravidão que não lhe dão nenhum tipo de perspectiva para fu-turo, o que os dominadores fi zeram foi trocar as

A nação brasileira tem um débito histórico com o povo negro. São muitos casos de denúncias de racismo, preconceito e dis-criminação contra negros e negras, em

nosso país. Durante décadas esta importante par-cela da população vem sofrendo os maus tratos da desigualdade racial que se manifesta de diversas formas na sociedade sendo que uns destes maus

S abemos que a luta do movimento da causa negra no Brasil foi fator primordial para que os negros pudessem ter o 20 de novembro como sua data referencial. Antes disso o 13

de maio era a data em que a comunidade negra comemorava o fi m do sistema escravista no país onde fazia homenagem à Princesa Isabel e outros escravocratas da história.

O 20 de novembro foi a data em que morreu nosso grande general Zumbi dos Palmares, homem que é o orgulho da raça negra, morreu lutando para manter a chama da liberdade dos africanos e seus descendentes.

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senzalas pelas favelas. Podemos observar o resul-tado disso nos milhares de jovens envolvidos no mundo do tráfi co de drogas, outros milhares no xa-drez, outros milhares desempregados.

Mesmo com os 10% do PIB, transferidos para edu-cação, não vai ser sufi ciente para enfrentar as defi -ciências do sistema escolar público no Brasil, e le-gar aos negros um ensino de qualidade. A solução para incluir os negros no processo educacional é a conquista de um sistema social que valorize mais o ser humano do que o capital.

Sabemos que a classe dominante no Brasil sempre difi cultou o acesso da juventude negra à educação, eles sempre tiveram medo do potencial dos jovens negros, sempre ensinaram à juventude que Duque de Caxias é o patrono do Exército brasileiro, fi ze-ram os negros acreditar que seus algozes eram os seus heróis.

A história real do Brasil registra que Duque de Ca-xias foi o maior combatente das lutas libertárias do povo negro; que os bandeirantes foram assassinos e estupradores de índias e negras, além de merce-nários. È importante saber que foi um mercenário bandeirante que destruiu de forma covarde o Qui-lombo de Palmares, e nome do assassino é Domingos

O Brasil na contramão do racismo

20 de Novembro é nossa Data-Mãe

tratos são de uma crueldade e vira e mexe estão estampados nas páginas de jornais e revistas, nos programas sensacionalistas nos fi nais de semanas com o extermínio de jovens negros e negros nas periferias das grandes e médias cidades, onde fa-mílias negras são vitimadas pelo racismo e dizima-das pelo tráfi co.

Observamos que pouco ou nada está sendo feito pelas autoridades públicas, que não buscam ma-neiras de resolver o problema. A inexistência de políticas públicas e a falta de programas sociais e uma política investigativa qualifi cada que priorize a busca da causa dos problemas em contraponto às matanças sem causa que vitimam jovens, mulhe-res e homens negros, condenando-os a morte e à desonra, quando são vitimas, e arrastam os familia-res, que além de perderem os parentes ainda são

A confi rmação da popularização dessa data signifi -ca para nós uma vitória ideológica do povo negro contra este sistema opressor que continua racista e absolutamente reacionário no Brasil. A cada mo-mento observamos no Brasil manifestações racistas contra as pessoas da raça negra. São constantes. Apesar de temos leis que condenam as atitudes racistas, elas se tornam fi cção jurídica, já que os fl agrantes de manifestações racista são evidentes no nosso cotidiano.

O artigo5º capitulo 62 da Constituição Federal diz que o racismo é crime inafi ançável, mas ainda fal-ta regulamentação da lei. Daí que conclamamos o movimento negro brasileiro para vir para a rua e deixar os ambientes mais confortáveis dos palá-

Jorge Velho, que está na historia ofi cial como herói.

Consciente ou inconscientemente a juventude ne-gra tem formado os seus quilombos urbanos nas periferias das cidades; são grupos que se organi-zam através da capoeira, grupos de hip hop, grupo de jovens, associação de moradores, pagodes, ti-mes de futebol, núcleo de resistência negra contra a violência policial.

Daí quero dizer que os conteúdos que hoje existem no nosso sistema educacional não estimulam a ju-ventude negra, a pensar e se rebelar, e sim manter o que está aí no Estado brasileiro, talvez por isso que a juventude esteja fugindo da escola. E se inse-rindo de qualquer forma no mercado de trabalho, para sobreviver com um mísero salário mínimo.

Por: Nivaldino Felix*

Por: Nivaldino Felix*

obrigados a provar a inocência dos entes queridos, fazendo assim o papel da policia.

A violência é um prato cheio para as campanhas eleitorais. Os candidatos discorrem sobre este tema com propriedade cheia de fórmulas mágicas para solução de tão grave problema que segundo eles vem tirando-lhes o sono. “Sabe de nada ino-cente”, não às formulas mágicas para solucionar a violência.

Só há um jeito de haver equidade para este fami-gerado caos. É através da Educação Pública, laica e de qualidade com direitos e oportunidades iguais para que todos, na inclusão, respeitem negros e negras valorizando-os. E a nação brasileira avance e saia da contramão frente às injustiças praticadas ao povo negro.

cios, temos que fazer como acontecia nos anos 80 e 90, onde este movimento fazia as suas lutas nas periferias da cidades e nos grandes centros urba-nos. Não podemos deixar chegar o outro 20 de no-vembro, para vir para as ruas lutar contra o racismo.Portanto o 20 de novembro é a nossa data-mãe, precisamos fazer com que esta data se mantenha como grande bastião da conquista da liberdade para a comunidade negra, nossos brados têm que ecoar por todos os cantos do país como uma gran-de luz acesa para o futuro.

* Gercy Rosa é diretora de Políticas Sociais da APLB-Sindicato

*Nivaldino FelixDiretor de Imprensa da APLB-SindicatoPesquisador, escritor e poeta

*Nivaldino FelixDiretor de Imprensa da APLB-SindicatoPesquisador, escritor e poeta

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