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BOLETIM DO LEITE Uma publicação do CEPEA - ESALQ/USP Ano 24 nº 277 | Junho - 2018 Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP JUNHO 2018

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BOLETIM DO

LEITEUma publicação do CEPEA - ESALQ/USPAno 24 nº 277 | Junho - 2018Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP JUNHO

2018

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BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

A greve dos caminhoneiros no final de maio es-tabeleceu um novo marco em termos de pers-pectivas para o setor lácteo. Antes, ainda havia

dúvidas sobre a continuidade da valorização do leite ao produtor em junho e julho, por conta da demanda enfraquecida. Após a paralisação, no entanto, a expres-siva diminuição da oferta já vem pesando no proces-so de formação de preços no campo e deve garantir a sustentação do movimento altista nos próximos meses. O bloqueio de rodovias e o desabastecimen-to de combustíveis prejudicaram o fornecimento de in-sumos para a produção e também o transporte do leite para as indústrias. Assim, a oferta no campo, já impactada pelo clima desfavorável, foi ainda mais reduzida com o descarte de leite no campo. Em recente estudo, o Rabo-bank estimou que a captação recuou 20% no País ape-nas em maio, o que deve diminuir a oferta em 6% no segundo trimestre, na comparação anual. Em relação ao mesmo período de 2017, o banco estima queda de 9%. Sem matéria-prima, as atividades industriais es-tiveram limitadas ou suspensas entre o final de maio e início de junho. Ao longo dos 11 dias de paralisações, o transporte de derivados para os canais de distribuição e as negociações também foram significativamente compro-metidos. Como resultado, os estoques tanto da indústria como do varejo se reduziram expressivamente e de forma homogênea. Ou seja, no pós-greve, as empresas tiveram que lidar com a situação conjunta de desabastecimento, produção limitada, matéria-prima cara e esvaziamen-to de estoques, fatores que impulsionaram as cotações dos derivados entre o final de maio e a primeira quinze-na de junho – mesmo diante da demanda enfraquecida. Apenas nos últimos 15 dias úteis (de 25/05 a 15/06), o preço do leite UHT (longa-vida) comerciali-zado entre indústrias e atacado do estado de São Pau-

lo registrou alta acumulada de 29,3%, saltando de R$ 2,45/litro para R$ 3,15/l. O aumento expressivo nos valores ocorreu como única saída para as empresas re-comporem seus estoques e poderem, assim, norma-lizar seus negócios – o que deve ocorrer até o final de junho. Vale lembrar que as negociações do UHT servem como termômetro para o setor, visto que o derivado é um importante formador de preços do leite no campo. Segundo agentes de mercado, a diminuição da produção e a necessidade das empresas em recompor esto-ques de lácteos elevaram ainda mais a competição de lati-cínios para garantir o fornecimento de matéria-prima antes do pico da entressafra. Desse modo, o preço do leite ao pro-dutor deve registrar a quinta alta consecutiva em junho, po-dendo, inclusive, superar o maior preço verificado em 2017. Mesmo com o início da safra no Sul do País, a pressão da baixa oferta para os próximos meses ainda é forte, tento em vista o atraso das chuvas no Sul, a elevação dos preços dos grãos e o grande número de produtores que deixaram a atividade no último ano. Além disso, o ra-cionamento da dieta dos animais, por conta da escassez de insumos durante a greve, também pode comprome-ter o funcionamento fisiológico dos animais, os picos de lactação e a produtividade nos próximos meses. Assim, é possível que a menor oferta continue a pesar na precifi-cação do leite e sustente a valorização também em julho. Mas é importante lembrar: o poder de compra do consumidor segue enfraquecido diante da estagnação econômica. Isso significa que a absorção das recentes altas ocorreu em função do cenário crítico de desabas-tecimento, mas sua continuidade é bastante incerta de-pois da normalização dos negócios e reabastecimento de estoques e gôndolas. Diante disso, é possível que a es-tabilidade que antecede a queda de preços tipicamente observada em setembro possa, neste ano, se adiantar.

Baixa oferta e desabastecimento no pós-greve sustentam movimento de alta

Equipe Leite: Natália Salaro Grigol - Pesquisadora do Projeto Leite

Equipe de Apoio | Caio Monteiro, Ana Carolina Vettorazzi e Munira Nasrrallah, Ivan Barreto e Juliana Cristina dos Santos

Equipe Grãos: Lucilio Alves - Pesquisador Projeto GrãosEquipe de Apoio | André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Isabela Rossi, Carolina Sales, Raphaela Spolidoro, Márcia Ferreira, Sarah Lima, Marcella Rena e Alexia Mayra de Oliveira

EXPEDIENTE Editora Executiva: Natália Salaro GrigolPesquisadora do Projeto Leite

Jornalista Responsável: Alessandra da Paz - Mtb: 49.148

Editores Cientí� cos: Prof. Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros e Prof. Sergio De Zen

Revisão:Bruna Sampaio - Mtb: 79.466Nádia Zanirato - Mtb: 81.086Flávia Gutierrez - Mtb: 53.681

Contato:(19) 3429-8834 | [email protected]

Endereço para correspondência:Av. Centenário, 1080 | Cep: 13416-000 | Piracicaba/SP

O Boletim do Leite pertence ao CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USPA reprodução de conteúdos publicados neste informativo é permitida desde que citados os nomes dos autores, a fonte Boletim do Leite/Cepea e a devida data de publicação.

LEIT

E AO

PRO

DUTO

R

Por Natália Grigol

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3CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Tabela 1 - Índice de Captação do Leite do Cepea (ICAP-L)

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Grá� co 1 - Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de maio/18)

2015

2017

Maio/181,2545

0,85

0,95

1,05

1,15

1,25

1,35

1,45

1,55

1,65

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

R$/L

itro

MÉDIA BRASIL PONDERADA LÍQUIDA (BA, GO, MG, SP, PR, SC, RS)VALORES REAIS - R$/LITRO (Deflacionados pelo IPCA de maio/18)

Média2005 a 2017

2014

2016

VARIAÇÃO MENSAL NA CAPTAÇÃO

abr-17 -1,10%

mai-17 0,76%

jun-17 6,81%

jul-17 4,42%

ago-17 4,92%

set-17 4,11%

out-17 -1,76%

nov-17 1,32%

dez-17 0,23%

jan-18 -2,17%

fev-18 -1,22%

mar-18 -7,22%

abr-18 -1,46%

Acumulado dos 12 meses 7,01%

Acumulado 2018 -11,65%

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BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

LEITE AO PRO

DUTOR

Tabela 2 - Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquido) em ABRIL/18 refe-rentes ao leite entregue em MARÇO/18

Tabela 3 - Preços em estados que não estão incluídos na “média Brasil” – RJ, MS, ES e CE

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Preço BrutoInclusos frete e CESSR (ex-Funrural)

Preço LíquidoVar%Bruto

Var%Líquido

Mesorregião MÍnimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo % %

RSNoroeste 1,2171 1,3566 1,6073 1,0911 1,2286 1,4738 11,24% 12,28%

Centro-Oriental 1,1596 1,1996 1,2453 1,0648 1,1042 1,1492 3,52% 4,86%

Média Estadual - RS 1,1801 1,3143 1,5375 1,0614 1,1936 1,4122 9,83% 10,35%

SC

Oeste Catarinense 1,0910 1,3220 1,4803 0,9918 1,2193 1,3753 8,97% 8,91%

Norte Catarinense/Vale do Itajaí 0,9169 1,1993 1,3554 0,7907 1,0689 1,2227 7,94% 5,60%

Média Estadual - SC 1,0917 1,3129 1,4634 0,9910 1,2089 1,3571 8,56% 8,38%

PR

Centro Oriental Paranaense 1,1767 1,3725 1,3606 1,0987 1,2915 1,2784 1,65% 0,06%

Oeste Paranaense 1,1110 1,3106 1,3932 1,0513 1,2480 1,3295 7,46% 9,66%

Norte Central Paranaense 1,3117 1,4202 1,6015 1,1623 1,2692 1,4478 10,29% 11,27%

Sudoeste Paranaense 1,2522 1,4015 1,5144 1,1247 1,2718 1,3831 8,10% 8,07%

Média Estadual - PR 1,2057 1,3503 1,4379 1,1029 1,2454 1,3316 6,47% 6,55%

SP

São José do Rio Preto 1,1894 1,3990 1,5141 1,0759 1,2824 1,3958 5,18% 5,18%

Campinas 1,2604 1,4616 1,5499 1,1197 1,3180 1,4050 6,61% 7,05%

Vale do Paraíba Paulista 1,2836 1,3919 1,4555 1,2125 1,3191 1,3818 5,44% 5,43%

Média Estadual - SP 1,2255 1,3810 1,4793 1,1251 1,2783 1,3752 6,60% 7,10%

MG

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 1,2783 1,5084 1,6855 1,1489 1,3757 1,5501 9,79% 8,29%

Sul/Sudoeste de Minas 1,2278 1,4103 1,5186 1,1218 1,3016 1,4083 5,99% 5,85%

Vale do Rio Doce 1,2089 1,3182 1,4091 1,0911 1,1988 1,2884 4,50% 3,87%

Metropolitana de Belo Horizonte 1,2069 1,3865 1,5881 1,0999 1,2768 1,4754 6,30% 6,56%

Zona da Mata 1,2051 1,3367 1,4299 1,0793 1,2090 1,3009 8,36% 8,33%

Média Estadual - MG 1,2453 1,4127 1,5623 1,1257 1,2907 1,4381 7,15% 6,77%

GOCentro Goiano 1,3261 1,4071 1,5720 1,2037 1,2835 1,4460 10,31% 10,82%

Sul Goiano 1,2266 1,3906 1,5744 1,1038 1,2653 1,4464 5,05% 5,37%

Média Estadual - GO 1,2492 1,3962 1,5611 1,1260 1,2708 1,4333 7,28% 7,67%

BACentro Sul Baiano 1,1150 1,2165 1,2673 1,0000 1,1000 1,1500 6,98% 7,51%

Média Estadual - BA 1,3191 1,3218 1,3298 1,1926 1,1952 1,2031 - -

MÉDIA NACIONAL - Ponderada 1,2142 1,2866 1,3445 1,0696 1,1414 1,1979 7,12% 8,56%

RJSul Fluminense 1,0164 1,2362 1,3606 0,9667 1,1808 1,3028 1,47% 1,43%

Centro 1,2952 1,4216 1,4510 1,1732 1,2977 1,3267 7,85% 6,22%

Média Estadual - RJ 1,1121 1,2835 1,3713 1,0354 1,2035 1,2898 6,31% 5,89%

MSLeste 0,8420 1,0280 1,1151 0,7354 0,9187 1,0045 -3,68% -2,36%

Sudoeste 1,0711 1,2392 1,3811 0,9253 1,0909 1,2313 5,82% 7,92%

Média Estadual - MS 0,9840 1,1472 1,2813 0,8489 1,0096 1,1420 1,73% 2,85%

ESSul Espírito-santense 1,1574 1,3073 1,4639 1,0725 1,2202 1,3745 12,39% 12,30%

Média Estadual - ES 1,1315 1,3320 1,4586 1,0230 1,2205 1,3453 6,26% 7,60%

CE

Sertões Cearenses 1,1572 1,2740 1,3591 1,1093 1,2244 1,3082 -0,45% -1,30%

Metropolitana de Fortaleza 1,2029 1,3285 1,3682 1,1827 1,3064 1,3455 -0,04% -0,04%

Centro Sul Cearense 1,0716 1,1535 1,2763 1,0537 1,1344 1,2554 0,01% 0,05%

Média Estadual - CE 1,1376 1,2775 1,3512 1,0922 1,2300 1,3026 -1,28% -1,61%

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BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

LEITE AO PRO

DUTOR

Após três meses de altas consecutivas no mercado ataca-dista de São Paulo, o preço do leite UHT recuou 0,38% en-tre abril e maio, fechando a R$ 2,3986/litro, em média, em

termos reais (deflacionados pelo IPCA de maio/18) – frente a maio de 2017, a baixa é de 10,77%. Os dados foram levantados por meio das pesquisas diárias realizadas pela equipe do Cepea com o apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). De acordo com colaboradores do Cepea, na primeira quinze-na de maio, os preços começaram a recuar, devido à baixa demanda pelo leite longa vida. Assim, a prática de promoções ganhou força e a con-corrência entre empresas aumentou. Na segunda quinzena, os preços continuaram em queda, devido à paralisação dos caminhoneiros, que comprometeu tanto o fornecimento de matéria-prima quanto o trans-

porte de derivados nos canais de distribuição, travando as negociações. Quanto ao queijo muçarela, o preço permaneceu em alta pelo terceiro mês consecutivo, fechando a R$ 16,88/kg, em média, em valo-res reais, elevação de 6,97% quando comparada ao valor de abril/18 e de 3,69% frente a maio/17. A baixa oferta de matéria-prima no cam-po e a procura aquecida levou ao cenário de aumento nas cotações. A pesquisa quinzenal de derivados lácteos também veri-ficou a valorização dos queijos em maio, com aumento de 2,81% no preço da muçarela e 2,25% no do queijo prato, em relação ao mês anterior, fechando a R$ 16,09/kg e R$ 16,59/kg, em ter-mos reais (deflacionados pelo IPCA de maio/18), respectivamen-te - considerando-se a média nacional (inclui GO, MG, PR, RS e SP). Para os outros derivados, houve variações menores que 1%.

Após três meses de alta, UHT recua em maio

DERI

VADO

S

Por Munira Nasrrallah

Fonte: Cepea-Esalq/USP e OCB.Nota: Médias mensais obtidas de cotações diárias.

Fonte: Cepea-Esalq/USP.Nota: Valores reais, deflacionados pelo IPCA de maio/2018.

Variações em termos reais (de� acionados pelo IPCA de maio/2018)Cotação diária - atacado do estado de São Paulo

Média de preços em maio/18

Variação (%) em relação a abril/18

Variação (%) em relação a maio/17

Leite UHT R$ 2,40/litro -0,38% -10,77%

Queijo muçarela R$ 16,88/kg 6,97% 3,69%

Preços médios (R$/litro ou R$/kg) praticados no mercado atacadista e as variações no mês de maio em relação a abril de 2018

ProdutoGO MG PR RS SP Média Brasil

Abr Mai % Abr Mai % Abr Mai % Abr Mai % Abr Mai % Abr Mai %

Leite pasteurizado 2,24 2,23 -0,79% 1,96 1,95 -0,63% 1,90 1,91 0,30% 2,32 2,29 -1,18% 2,26 2,28 0,85% 2,14 2,13 -0,30%

Leite UHT 2,51 2,49 -0,75% 2,28 2,29 0,23% 2,42 2,42 0,05% 2,38 2,44 2,52% 2,39 2,43 1,68% 2,40 2,41 0,73%

Queijo prato 17,15 17,34 1,15% 19,38 19,69 1,62% 14,79 15,33 3,66% 15,03 15,48 3,03% 16,61 16,96 2,15% 16,59 16,96 2,25%

Leite em pó int.(400g) 13,99 14,42 3,03% 16,03 15,59 -2,72% 14,59 14,21 -2,60% 15,62 15,36 -1,67% 13,94 14,13 1,33% 14,83 14,74 -0,63%

Manteiga (200g) 24,37 24,69 1,33% 24,90 25,31 1,63% 23,05 23,27 0,95% 23,99 24,11 0,52% 25,72 25,44 -1,13% 24,41 24,56 0,64%

Queijo muçarela 15,78 16,32 3,43% 17,50 18,38 5,00% 15,53 15,13 -2,61% 16,04 16,11 0,43% 15,59 16,77 7,57% 16,09 16,54 2,81%

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CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

MERCADO

INTERN

ACION

AL

Exportação tem volume mais baixo desde 2010Por Ana Vettorazzi, Laura Medeiros e Juliana Santos

Em maio, o volume de lácteos vendido pelo Brasil ao mercado internacional chegou ao menor patamar desde 2010, totalizando 2,4 milhões de litros em

equivalente leite. Entre abril e maio, a baixa é de 55,1% e, frente a maio de 2017, de 65,4%. Os embarques mais baixos são resultado da menor produção brasileira de leite, intensificada pelo início da entressafra, além do desestímulo de produtores frente aos baixos preços no início de 2018. Os lácteos mais exportados pelo Brasil foram os queijos, com 52,8% de participação no total, seguidos do leite condensado, com 41,1%. Os principais destinos dos produtos brasileiros foram o Chile, Paraguai e Rússia, com participações de 22,3%, 20,1% e 13,8%, respec-tivamente. Em contrapartida, a Argentina, que normal-mente está entre os principais compradores de lácteos do Brasil, ficou em novo lugar em maio, com apenas 3,8%. Quanto às importações, o Brasil adquiriu 102 mi-lhões de litros em equivalente leite em maio, 13,8% maior

do que em abril, mas 14,9% menor do que em maio de 2017. Os principais produtos importados continuaram sen-do o leite em pó, com 75,5% de participação no total e os queijos, com 22,3%. A Argentina e o Uruguai continu-aram liderando as vendas de lácteos ao Brasil, com 50,3% e 40,7% de representação no total, respectivamente. A importação de leite em pó aumentou 15,1% se comparado a abril, mas recuou 8,5% frente a maio do ano passado. As compras brasileiras de queijos, por sua vez, fo-ram 10,3% maiores em relação às do mês anterior; porém, estiveram 31,5% menores em relação a maio de 2017. As-sim, considerando-se as importações de lácteos em geral, houve queda de 35,3% no volume total acumulado de janei-ro a maio de 2018 em relação ao mesmo período de 2017. Com o aumento das importações e a diminuição das exportações, a balança comercial se manteve negativa em 99,4 milhões de litros de leite, ou 42,1 milhões de dólares.

Notas: (1). Consideram-se os produtos do Capítulo 4 da NCM mais leite modificado e doce de leite. Fonte: Secex / Elaboração: Cepea.

1 A categoria “leites em pó” considera os seguintes NCM definidos pela Secex: 4021010; 4022110; 4021090.² A categoria “queijos” considera os seguintes NCM definidos pela Secex: 04061010; 04061090; 04062000; 04063000; 04064000; 04069010; 04069020; 04069030; 04069090.

Tabela 1 - Volume importado de lácteos (em equivalente leite)¹ - MAIO/18

Produto Volume (mil

litros de leite)

Maio/18 - Abril/18

Participação no total

importado em maio/18

Maio/18 - Maio/17

Total 101.789 13,8% - -14,9%

Leite em pó (integral e desnatado)

76.812 15,1% 75,5% -8,5%

Queijos 22.701 10,3% 22,3% -31,5%

Manteiga 777 -31,7% 0,8% -60,8%

Leite modificado 1.402 53,4% 1,4% 438,9%

Total acumulado jan-mai/2018 frente ao mesmo período de 2017: -35,3%

Tabela 2 - Volume exportado de lácteos (em equivalente leite)¹ - MAIO/18

Produto Volume (mil

litros de leite)

Maio/18 - Abril/18

Participação no total

exportado em maio/18

Maio/18 - Maio/17

Total 2.414 -55,1% - -65,4%

Leite em pó (integral e desnatado)

53 -8,8% 2,2% 84,2%

Leite condensado 992 -44,5% 41,1% -70,9%

Queijos 1.275 -42,2% 52,8% -55,1%

Leite modificado 25 -83,4% 1,1% -89,5%

Total acumulado jan-mai/2018 frente ao mesmo período de 2017: -56,2%

CUST

OS

DE P

RODU

ÇÃO

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7CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

MERCADO

INTERN

ACION

AL CUST

OS

DE P

RODU

ÇÃO

Custo de produção sobe em maio pelo 5º mês seguido

Por Caio Monteiro e Ivan Barreto

Os custos de produção da pecuária leiteira seguiram em alta em maio pelo quinto mês consecutivo. O Custo Operacional Efetivo (COE), que considera os

gastos correntes da propriedade, se elevou em 0,73% de abril para maio na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). De janeiro a maio, o COE registra alta de 4,26%. O aumento do COE esteve atrelado à elevação de 1,8% no preço do concentrado em maio, principal insumo da atividade. Segundo levantamentos da Equipe de Insu-mos Pecuários do Cepea, a valorização do concentrado reflete a alta nos preços dos grãos, em especial do milho. Por outro lado, os preços de insumos de su-plementação mineral registraram estabilidade em maio (-0,03%), num momento importante para a atividade. Com o início do período de seca, redução da qualida-de das forragens e diminuição da duração dos dias, o produtor recorre à suplementação mineral, visan-do assegurar a disponibilidade de nutrientes na dieta para garantir produtividade e sanidade do rebanho.

RELAÇÃO DE TROCA – Com a menor oferta no cam-po, o preço do leite recebido por produtores se elevou

em 8,4% de abril para maio e registrou alta acumu-lada de 24,2% desde janeiro. Com a elevação da re-ceita, o poder de compra do pecuarista cresceu em 4,4% para o milho e em 24,9% para o sal mineral. Enquanto em abril eram necessários 31,6 li-tros de leite para comprar uma saca de 60 kg de milho e 57,55 litros de leite para adquirir um saco de 30 kg de fósforo 65g, em maio, foram necessá-rios 30,2 litros e 43,21 litros para adquirir os mes-mos insumos, respectivamente. Esse cenário favore-ce a nutrição adequada do rebanho no período de seca e, consequente, melhor desempenho produtivo. No entanto, é importante destacar que a alta mais intensa na receita e as relações de troca mais favoráveis em maio não significam lucratividade no campo. Há cerca de um ano, os preços do leite esta-vam despescando e a grande volatilidade da receita desestimulou muitos produtores, que investiram menos ou saíram da atividade. De modo geral, o segmento produtivo enfrenta grandes desafios relacionados à ca-pitalização e dificuldades em cobrir os custos com de-preciação, que asseguram a atividade no longo prazo.

Page 8: BOLETIM DO LEITE - cepea.esalq.usp.br · transporte de derivados para os canais de distribuição e as negociações também foram significativamente compro-metidos. Como resultado,

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BOLETIM DO LEITE | JUNHO DE 2018 - ANO 24 - Nº 277

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

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MILHO: Com maior oferta, cotações recuam 12% na parcial de junho

Os preços do milho recuaram na primeira quinzena de junho, interrompendo o movimento de alta obser-vado desde o final de abril. A pressão vem, sobretudo, da maior disponibilidade do cereal no período. Na primeira semana de junho, compradores se mantiveram afastados do mercado, aguar-

dando a regularização das entregas, após a greve dos caminhoneiros. Já na segunda semana, com o início da colheita e a regularização das entregas, produtores começaram a ceder nas ofertas. Assim, a comercialização esteve limitada a lotes pontuais. Na média das regiões acompa-nhadas pelo Cepea, o preço da saca de 60 quilos do milho recuou 6,6% no mercado de balcão (pre-ço pago ao produtor) e, no disponível (negociação entre empresas), 7,7% no acumulado do mês (en-tre 1º e 15 de junho). Em Campinas (SP), o Indicador ESALQ/BM&F registrou queda mais intensa no mesmo período (12,7%), devido à maior pressão compradora, fechando a R$ 40,04/saca de 60 kg no dia 15. Quanto à colheita brasileira, ainda está no início no interior paulista, Goiás e Minas Gerais. No Paraná, até 11 de junho, a colheita estava em 1% da área total, e as condições das lavouras seguiam inferiores às da tem-porada anterior, com apenas 33% em boas condições. Em Mato Grosso, a colheita chegou a 2,03% até o dia 8. Refletindo a maior oferta nos próximos meses, na BM&FBovespa, os contra-tos futuros de milho tiveram fortes reajustes. Os vencimentos Jul/18 e Set/17 recuaram 10,6% e 8,2% no mês, ao fecharem o pregão do dia 15 a R$ 38,88/sc e R$ 37,3/sc, respectivamente.

FARELO DE SOJA: Demanda externa � rme mantém preço em alta

As cotações do farelo de soja seguiram em alta na primeira quinzena de junho, impulsionadas pela de-

manda externa firme. As negociações no mercado brasileiro, no entanto, estiveram lentas no período,

visto que algumas indústrias estavam recebendo lotes fechados antes da greve de caminhoneiros.

Dados da Secex apontam que, em maio, o Brasil enviou ao exterior 1,65 milhão de to-

neladas de farelo de soja, o maior volume em dois anos. Em 2018, o Brasil já exportou sete mi-

lhões de toneladas. Já na primeira quinzena de junho, o volume embarcado se reduziu, com

a média diária em 31,5 mil toneladas, 60% abaixo da de maio/18 e 52% inferior à de junho/17,

ainda de acordo com a Secex. Essa diminuição no ritmo dos embarques pode estar atrela-

da à greve dos caminhoneiros no final de maio e à indefinição da nova tabela de frete rodoviário.

Embora o Brasil tenha expectativa de conseguir maior fatia das exportações de farelo de soja

neste ano, por conta da quebra na safra argentina, indústrias nacionais estão preocupadas com a demanda

doméstica, especialmente por parte do setor de aves. Segundo a Equipe de Aves do Cepea, após perdas

acumuladas ao longo de vários meses, agentes da cadeia de avicultura de corte se preocupam, agora, com as

incertezas relacionadas às transações no mercado internacional. Recentemente, a China, o terceiro maior

parceiro comercial do Brasil, colocou em vigor sobretaxas provisórias sobre a proteína de frango brasileira.

Por Carolina Camargo Nogueira Sales

MIL

HO E

FAR

ELO

DE

SOJA

janeiro 32,70

fevereiro 34,76

março 41,37

abril 39,92

(R$/sc de 60 kg)

janeiro 1.004,88

fevereiro 1.115,87

março 1.211,72

abril 1.292,72

(R$/tonelada)

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Por Raphaela Spolidoro

maio 42,69

1ª quinzena de junho

42,77

maio 1.396,71

1ª quinzena de junho/2018

1.413,65