boletim depe 03_maio_2016

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1 Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política Departamento de Economia Grupo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Econômico e Política Econômica Boletim DEPE, Ano I, n.3 Maio 2016 Os recentes desdobramentos da crise política apontam para a aprovação pelo Senado Federal da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma. A probabilidade de um governo provisório comandado por Michel Temer aumentou. Na área econômica, Henrique Meirelles segue sendo o mais cotado para vir a comandá-la. Embora conte com amplo trânsito no mercado financeiro e junto a empresários, Meirelles comandou o BCB em um quadro econômico bastante diverso, com cenário externo benigno e espaço para as políticas econômicas domésticas. Hoje o quadro é outro e terá que mostrar que sabe navegar em mares revoltos. Terá repertório para isso? A pergunta é pertinente porque a situação exige mais ousadia e criatividade nas políticas macroeconômicas. O discurso de Temer tem ainda ressaltado uma visão conservadora que prevê cortes de gastos incluindo programas sociais, todas de difícil aceitação por parte da população. Os indicadores antecedentes seguem demonstrando uma piora na atividade econômica, com destaque, para a rápida e elevada deterioração do mercado de trabalho. Mesmo com a gravidade da crise econômica e com a tendência de queda da inflação, o Copom manteve a taxa Selic em 14,25%a.a 1. Brasil: Nível de atividade Indústria e Varejo Na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), o comércio varejista registrou um avanço de 1,2% no volume de vendas em fevereiro de 2016 em comparação ao mês anterior. Destaca- se o resultado de Móveis e eletrodomésticos (+5,0%). no comércio varejista ampliado, observou-se uma variação de 1,8% no volume de vendas em relação a janeiro, com aumento de 3,8% em Veículos e motos, partes e peças e de 3,3% em material de construção. No acumulado no ano e em 12 meses, o comércio varejista ampliado apresentou respectivamente quedas de 10,1% e de 9,1%. A Pesquisa Industrial Mensal Produção Física (PIM-PF) registrou um avanço de 1,4% em março de 2016 frente ao mês anterior, considerando a série livre de influências sazonais. Dentre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis (+0,3%), bens intermediários (+0,1%), bens de consumo semi e não-duráveis (+0,9%) e bens de capital (+2,2%) registraram aumentos. No acumulado de 2016, o setor industrial total teve queda de 11,7%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o recuo foi de 9,7%. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), registrou 36,2 pontos em abril de 2016, apresentando uma queda de 1,2 ponto em comparação com o mês anterior e de 2,3 pontos em relação a abril 2015. O indicador permanece abaixo de 50 pontos pelo 25º mês consecutivo, indicando a baixa confiança do empresariado. Mercado de trabalho: emprego e renda Segundo a PNAD, divulgada pelo IBGE, no período entre janeiro a março de 2016, a taxa de desocupação foi de 10,9%, ficando acima da taxa de 10,2% referente ao trimestre móvel Gráfico 1 Brasil: Evolução do saldo líquido de empregos gerados (em mil) Fonte: CAGED / Elaboração: DEPE *acumulado em 12 meses até março.

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Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política

Departamento de Economia

Grupo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Econômico e Política Econômica

Boletim DEPE, Ano I, n.3 – Maio 2016

Os recentes desdobramentos da crise

política apontam para a aprovação pelo Senado

Federal da admissibilidade do processo de

impeachment da presidente Dilma. A

probabilidade de um governo provisório

comandado por Michel Temer aumentou. Na

área econômica, Henrique Meirelles segue

sendo o mais cotado para vir a comandá-la.

Embora conte com amplo trânsito no mercado

financeiro e junto a empresários, Meirelles

comandou o BCB em um quadro econômico

bastante diverso, com cenário externo benigno

e espaço para as políticas econômicas

domésticas. Hoje o quadro é outro e terá que

mostrar que sabe navegar em mares revoltos.

Terá repertório para isso? A pergunta é

pertinente porque a situação exige mais

ousadia e criatividade nas políticas

macroeconômicas. O discurso de Temer tem

ainda ressaltado uma visão conservadora que

prevê cortes de gastos incluindo programas

sociais, todas de difícil aceitação por parte da

população.

Os indicadores antecedentes seguem

demonstrando uma piora na atividade

econômica, com destaque, para a rápida e

elevada deterioração do mercado de trabalho.

Mesmo com a gravidade da crise econômica e

com a tendência de queda da inflação, o Copom

manteve a taxa Selic em 14,25%a.a

1. Brasil: Nível de atividade

Indústria e Varejo

Na Pesquisa Mensal do Comércio

(PMC), o comércio varejista registrou

um avanço de 1,2% no volume de

vendas em fevereiro de 2016 em

comparação ao mês anterior. Destaca-

se o resultado de Móveis e

eletrodomésticos (+5,0%). Já no

comércio varejista ampliado,

observou-se uma variação de 1,8% no

volume de vendas em relação a

janeiro, com aumento de 3,8% em

Veículos e motos, partes e peças e de 3,3% em

material de construção. No acumulado no ano e

em 12 meses, o comércio varejista ampliado

apresentou respectivamente quedas de 10,1% e de

9,1%.

A Pesquisa Industrial Mensal Produção Física

(PIM-PF) registrou um avanço de 1,4% em março

de 2016 frente ao mês anterior, considerando a

série livre de influências sazonais. Dentre as

grandes categorias econômicas, bens de consumo

duráveis (+0,3%), bens intermediários (+0,1%),

bens de consumo semi e não-duráveis (+0,9%) e

bens de capital (+2,2%) registraram aumentos. No

acumulado de 2016, o setor industrial total teve

queda de 11,7%. Já no acumulado dos últimos 12

meses, o recuo foi de 9,7%.

O Índice de Confiança do Empresário

Industrial, divulgado pela Confederação Nacional

da Indústria (CNI), registrou 36,2 pontos em abril

de 2016, apresentando uma queda de 1,2 ponto em

comparação com o mês anterior e de 2,3 pontos

em relação a abril 2015. O indicador permanece

abaixo de 50 pontos pelo 25º mês consecutivo,

indicando a baixa confiança do empresariado.

Mercado de trabalho: emprego e renda

Segundo a PNAD, divulgada pelo IBGE, no

período entre janeiro a março de 2016, a taxa de

desocupação foi de 10,9%, ficando acima da taxa

de 10,2% referente ao trimestre móvel

Gráfico 1 Brasil: Evolução do saldo líquido de empregos gerados

(em mil)

Fonte: CAGED / Elaboração: DEPE *acumulado em 12 meses até março.

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imediatamente anterior. Assim, cerca de 11,1

milhões de pessoas sem emprego representam um

aumento de 39,8% em comparação ao mesmo

período de 2015. Um dos reflexos do aumento do

desemprego é o aumento do número de brasileiros

que trabalham por conta própria. Houve elevação

de 1,2% em comparação com o trimestre anterior

e de 6,5% em relação ao trimestre de janeiro a

março de 2015, representando um acréscimo de

1,4 milhão a mais de trabalhadores.

O rendimento médio real foi estimado em

R$1.966,00, mantendo-se estável ante o registrado

no trimestre anterior e apresentando uma queda de

3,2% em comparação com o mesmo período do

ano anterior. A massa de rendimento real foi

estimada em R$173,5 bilhões, tendo uma redução

de 4,1% em relação ao mesmo trimestre de 2015.

De acordo com os dados do CAGED de

março de 2016, os postos de trabalho formais

tiveram uma redução de 118,8 mil em todo o país.

No mês anterior, o saldo foi negativo em 104,6

mil postos. No acumulado do ano, houve um saldo

negativo de 319,2 mil empregos e, no acumulado

dos últimos 12 meses, foi registrado o fechamento

de 1.853 mil postos de trabalho. Por setor de

atividade econômica, destaca-se que, no mês de

março de 2016, o setor mais atingido foi o do

comércio (-42 mil), seguido pela indústria de

transformação (-25 mil), pela construção civil (-24

mil) e serviços (-19 mil). A Administração Pública

foi novamente o único setor que apresentou saldo

positivo, com 4 mil novos postos. Após 2010,

quando houve um saldo positivo de

2,6 milhões de postos de trabalho

formais, houve uma constante queda

na capacidade de geração de vagas

de empregos formais. Já em 2015, o

saldo foi negativo em 1,5 milhão de

postos e para 2016 o fechamento de

postos de trabalho deve ser superior

ao do ano anterior. (Gráfico 1)

2. Inflação

A inflação brasileira possui

uma tendência de queda durante o

ano de 2016, mostrando que caminha para um

patamar mais reduzido neste ano comparado ao

ano de 2015. O IPCA mensal em janeiro foi de

1,27%, reduzindo-se em fevereiro para 0,9% e

chegando a 0,43% em março. Em todos os meses

de 2016, o grupo de maior impacto na formação

inflacionária foi o de Alimentação e bebidas,

com 2,28% em janeiro, 1,06% em fevereiro e

1,24% em março. O grupo de habitação teve

uma desaceleração inflacionária registrando

queda de 0,15% em fevereiro e de 0,64% em

março. No acumulado ano de 2016, o índice geral

foi de 2,62% e, no acumulado em 12 meses,

registrou 9,39%. Pode-se explicar o menor nível

de inflacionário deste ano em relação ao ano

anterior através de fatores como: menor impacto

do câmbio e das correções dos preços

administrados e de uma queda adicional na

demanda devido ao agravamento da crise.

3. Juros e crédito

O Comitê de Política Monetária (Copom)

realizou reunião no último dia 26 e decidiu

novamente manter a taxa de juros em 14,25% em

votação unanime. Em breve nota divulgada, a

decisão é justificada pelo nível de inflação do

último período de 12 meses, mais alto do que os

objetivos do regime de metas. Assim, perante a

autoridade monetária, ainda não há espaço para

baixar o nível da taxa de juros. Segundo última

divulgação do boletim Focus, a expectativa é de

que o ano se encerre com uma taxa de juros Selic

Gráfico 2 Brasil: Juros nominais, inflação e juros reais

Fonte: BCB; IBGE / Elaboração: DEPE *Considera a expectativa do boletim Focus de abril/16.

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de 13,25% a.a. e de que o IPCA de 2016 seja de

6,98% a.a., projetando uma relevante queda da

inflação. Mesmo com as fortes evidências de uma

continuidade da queda da inflação ao longo do ano

e da piora da crise econômica, o Copom mantém

uma política monetária extremamente restritiva,

tentando utilizar como justificativa a inflação.

Considerando-se que a decisão de alteração da

taxa básica de juros só apresentará impacto nas

atividades econômicas após alguns meses, não é

possível adiar mais o início dos cortes da taxa

Selic. Com base nas expectativas do boletim

Focus para 2016, os juros reais serão de 5,9% a.a.

no final do ano, mantendo o maior nível do

mundo. Historicamente nossos juros reais são

muito elevados, impactando nas decisões de

consumo, de investimento, de produção e de

crédito. (Gráfico 2)

Nas operações de crédito, a taxa média de

juros foi de 32% em março, sendo decomposta em

taxas médias de 22,2% para pessoas jurídicas e de

40,6% para pessoas físicas. O saldo da carteira de

crédito para pessoas jurídicas sofreu redução de

fevereiro para março de 1,6%, seguindo um

comportamento de retração iniciado em dezembro

de 2015. Já o saldo referente a pessoas físicas teve

elevação de 0,3%, seguindo sua tendência de

aumento, conforme dados do BCB. Assim, houve

uma redução do saldo total da carteira de crédito

de 0,7%, que se encontra no patamar de 3,16

trilhões de reais. Já nos últimos doze meses

ocorreu uma elevação de 3,3%. O crédito

destinado a recursos livres teve redução de 0,6%

em março, apesar de não ter apresentado retração

nos últimos doze meses. Dentro desse resultado,

houve recuo tanto no saldo de pessoas jurídicas

como físicas, porém, este último em menor

proporção e influenciado por declínio do crédito

referente à aquisição de veículos em detrimento de

aumento do crédito consignado. O crédito

direcionado teve retração mensal de 0,7% no mês

de março apesar de aumento de 5,8% nos últimos

doze meses. Pode-se notar que a expansão do

crédito está limitada e oferece com condições

piores aos tomadores.

4. Contas públicas

No mês de março, o déficit primário do setor

público consolidado foi de R$10,6 bilhões, o pior

para meses de março desde o início da série em

2001. No ano, o déficit primário acumulado foi de

R$5,8 bilhões. Já no acumulado em 12 meses,

esse indicador atingiu um déficit de R$136 bilhões

(2,3% do PIB). Para os próximos meses, a

tendência é de manutenção dos resultados

deficitários. Esses resultados seguem frustrando

ainda mais qualquer tentativa de ajuste fiscal.

Os juros nominais registraram receita líquida

de R$ 0,6 bilhões em março, devido, sobretudo, ao

resultado positivo de R$ 42,7 bilhões nas

operações de swap cambial no mês. Porém, no

acumulado do ano, a conta de juros já atingiu

R$85,4 bilhões e, em 12 meses acumulados,

R$443,3 bilhões (7,4% do PIB). No ano de 2015,

82% do déficit nominal (R$613 bi) resultou de

pagamentos de juros sobre a dívida

pública (R$501 bi) e, de acordo

com o cenário apresentado para as

contas públicas deste ano, a

situação tende a continuar se

agravando. Em março de 2016, o

déficit nominal acumulado em 12

meses foi de R$ 579,3 bi (9,7% do

PIB).

A persistente queda da

atividade econômica, somada à

alta da taxa de desemprego

provocou nas receitas uma

Gráfico 3 Brasil: Dívida pública bruta (em % do PIB)

Fonte: BCB / Elaboração: DEPE

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retração na arrecadação da ordem

de 8,19% em termos reais no

primeiro trimestre de 2016, em

relação ao mesmo período do ano

passado. Em março, a queda real

foi de 6,96% em comparação a

março de 2015, o que reforça a

deterioração das condições de

retomada da economia.

A dívida bruta do governo

geral (governo federal, INSS,

governos estaduais e municipais)

atingiu R$4,0 trilhões em março de

2016, equivalente a 67,3% do PIB.

Em janeiro de 2015, esse indicador era de

58,1% do PIB. Assim, a dívida bruta segue

apresentando uma rápida e contínua piora,

tendo, como principal fator de impacto

negativo, a elevada taxa básica de juros.

(Gráfico 3)

5. Câmbio e contas externas

Câmbio

A taxa de câmbio (R$/US$) fechou em 3,45

em abril de 2016, apresentando uma valorização

em relação ao mês anterior, cuja a taxa foi de

3,56. Considerando a taxa do fechamento do

mês, foi registrada em abril a menor taxa dos

últimos 9 meses. Após uma forte e rápida

desvalorização do câmbio ao longo de 2015,

chegando a atingir 4,04 no final de janeiro de

2016, iniciou-se novamente uma revalorização

mantendo uma grande volatilidade, o que

dificulta os diversos processos de tomada de

decisão dos agentes econômicos. Destacam-se

os desdobramentos da crise política, com a

aprovação do prosseguimento do processo de

impeachment da presidente Dilma pela Câmara,

como um dos principais fatores que influenciou

o mercado cambial em abril. (Gráfico 4).

No início de maio, o Ministério da Fazenda

anunciou um aumento de 0,38% para 1,1% da

alíquota do Imposto sobre Operações

Financeiras (IOF) sobre a compra de moeda

estrangeira em espécie. Essa medida visa a

atender não só a questões regulatórias, mas

também a aumentar a arrecadação fiscal.

No mês de abril, o Banco Central manteve

intervenções no mercado cambial com

operações que ultrapassaram os US$ 30 bilhões

em swap reverso (compra futura de derivativos

de dólares), tentando conter a valorização do

real. Os estoques de swap do BCB estão

próximos de US$ 70 bilhões no fechamento do

mês, registrando uma grande queda, observando

o mês de março quando os estoques estavam em

US$ 105 bilhões. Isso demonstra o alto grau

especulativo do mercado financeiro sobre a

moeda brasileira.

Balanço de Pagamentos

A balança comercial brasileira, divulgada

pelo MDIC, registrou saldo superavitário de US$

4,9 bilhões em abril de 2016. Em abril de 2015 o

saldo havia sido positivo em US$ 0,5 bilhão. No

acumulado do ano, o saldo é superavitário em

US$ 13,2 bilhões.

A conta de transações correntes segue

registrando uma melhora, tendendo ao equilíbrio

nos seus saldos. Em março de 2016, houve um

déficit de US$ 0,9 bilhão, saldo superior ao

resultado negativo de US$ 5,8 bilhões para o

mesmo período de 2015. O déficit acumulado

durante o ano de 2016 é de US$ 7,6 bilhões,

superior ao resultado negativo de US$ 25,1

bilhões acumulado para o mesmo período em

Gráfico 4 Evolução mensal da taxa de câmbio (R$/US$)

Fonte: BCB / Elaboração: DEPE

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2015. No acumulado em 12 meses, o déficit é de

US$ 41,4 bilhões (2,4% do PIB).

Quanto à conta financeira, as captações

líquidas em março de 2016 superaram as

concessões líquidas em US$ 0,4 bilhão. No mês

equivalente do ano anterior, o saldo foi de US$

4,2 bilhões. Nota-se o Investimento Direto no País

(antigo IDE), que registrou a entrada líquida de

US$ 5,6 bilhões em março e de US$ 78,9 bilhões

(4,6% do PIB) em doze meses.

As reservas internacionais somaram US$

376,2 bilhões no final do mês de abril de 2016,

mantendo um nível muito confortável. Em

comparação ao mês anterior, houve um aumento

de US$ 1 bilhão. Em relação ao mês equivalente

do ano anterior, o nível das reservas teve elevação

de US$ 3,2 bilhões.

6. Bolsa de valores

No atual cenário de crise econômica, de

grande influência dos desdobramentos políticos e

com elevada incerteza futura, os aplicadores no

mercado financeiro buscam na alta volatilidade

dos mercados, cambial, acionário e de títulos,

obter retornos principalmente em movimentos

especulativos. Houve uma relevante entrada de

capital estrangeiro para o mercado acionário

brasileiro. O Ibovespa fechou o mês de abril em

53.910 pontos, com ganho de 7,7% no mês e de

24,4% no acumulado do ano.

7. Economia internacional

Nos últimos meses, o FED tem adotado um

discurso mais cauteloso em relação à alta de juros

esperada. Entretanto, desde março essa sinalização

tem sido mais enfática, não apenas pela opção de

manter os juros estáveis, mas também com tom

mais ameno sobre o ajuste na política monetária,

indicando através das projeções do próprio FED,

que ocorrerá de forma mais gradual ao longo de

2016 e 2017. Essa revisão de expectativas causou

uma euforia nos mercados financeiros globais,

sinalizada através de uma redução expressiva da

aversão a risco, impulsionando as negociações nas

bolsas internacionais.

Esse fato é identificado no recente rali com

valorização de preços de commodities como, por

exemplo, o petróleo, o cobre, o minério de ferro e

a prata, apesar dos fundamentos em direção oposta

nos seus mercados físicos, sobretudo devido à

desaceleração da China, grande consumidora

desses produtos para fins industriais. Já os

mercados de ouro e outros metais preciosos

também foram impulsionados por um dólar mais

fraco. No entanto, vale pontuar que as

commodities mantêm um nível de preços

desvalorizado em comparação com o passado

recente.

Por outro lado, as valorizações das

commodities no curto prazo podem estar atreladas

à elevação da especulação chinesa sobre o

mercado financeiro em geral. Volumes

expressivos de capital migraram dos mercados de

bonds (títulos de dívida) e ações para o de

commodities, trazendo preocupações sobre esse

fenômeno, dado o recente frenesi que impulsionou

o mercado de ações da China em 2015 e que, em

sua correção, eliminou US$ 5 trilhões, assim

como bolhas anteriores em distintos setores.

Destaca-se ainda a atuação do Banco Central

Europeu (BCE), que tem anunciado novas

medidas monetárias para estimular a demanda e,

em consequência, os preços e a economia na

região. Em 21 de abril, o BCE manteve suas taxas

historicamente baixas, demonstrando que está

determinado a usar todos os instrumentos

disponíveis para estimular a atividade econômica

na zona do euro. Por conta disso, o BCE sinalizou

que a partir de junho iniciará um programa de

compra de títulos de dívida de empresas

europeias, complementar à estratégia já existente

em relação à dívida pública, com objetivo de

estimular a circulação de dinheiro no bloco,

através de crédito, investimentos e consumo.

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Espaço Opinião*

Cavalo de Troia derruba o Governo

Prof. Dr. Rubens Sawaya

Professor do Depto. de Economia e da Pós-graduação em Economia Política da PUCSP

Desde o início de seu primeiro mandado em 2011, o Governo Dilma tenta contentar gregos e

troianos. E não foi por falta de aviso dos economistas heterodoxos, dado os inúmeros artigos escritos. Ao

aceitar a pauta dos inimigos provocou uma enorme desaceleração da economia. Serve de apoio ao golpe.

É interessante como em nenhum momento o Governo percebeu que, ao aceitar a agenda da FIESP

de corte de juros em 2012 e a ‘doação’ de incentivos fiscais aos empresários – segundo matéria do Valor

Econômico, eles aplaudiram em pé as medidas – estava iniciando sua queda. O aprofundamento do

processo veio com a aceitação da agenda dos bancos, ao promover corte nos gastos públicos desde 2011 e

reverter a política de juros em 2013. O Governo estava jogando gasolina no fogo que agora o queima. A

estratégia política da presidente de contentar os inimigos para ser aceita a destruiu. Entrou na falsa onda

de uma “expectativa de inflação” explosiva já em 2011; caiu no ‘conto dos bancos’ que a convenceram

disso. Assim, provocou sucessivas quedas do PIB que culminaram em 2015 com 3,8% negativos.

Portanto, brutal recessão de 2015 não pode ser considerada exceção, mas o recrudescimento contínuo de

uma trajetória que, ao aceitar a pauta do inimigo, provocou a completa derrota do Governo.

Hoje, o governo está totalmente acuado e não tem poder para governar enquanto durar o impasse

do impeachment, golpe que, ao que tudo indica, parece estar se consolidado politicamente. Na verdade, a

força para o impeachment nada tem a ver com questões jurídicas como os debates na própria imprensa,

Congresso e Senado tem deixado claro. As acusações de ‘pedaladas fiscais’ têm se mostrado

inconsistentes. A força para o golpe está na enorme crise econômica acima resumida, provocada pelo

próprio governo, que abriu espaço político para que os inimigos, de assalto e de forma oportunista,

desfechassem o de fato golpe final sobre o governo.

O problema ainda para a conjuntura econômica de 2016 é o tempo que o processo levará –

durante o qual não haverá possibilidades de realizar políticas de qualquer natureza. A taxa de crescimento

deste ano ainda será negativa. Após o desfecho do processo, a questão que se coloca é qual será o poder

de governabilidade de um novo governo com pouca ou nenhuma legitimidade, ainda mais, diante de um

Congresso independente, controlado por outro político que anda com suas próprias pernas e que, portanto,

não cabe no novo acordo político. Talvez o resultado final seja caótico, o que será ruim para a conjuntura

econômica.

De qualquer forma, o golpe abre a oportunidade para que a pauta dos inimigos seja totalmente

levada à cabo. Vale lembrar que o Governo já vinha implantando partes dessa mesma pauta recessiva para

tentar se segurar no cargo e por isso já havia acelerado ainda mais essas reformas em 2015 com uma

brutal austeridade fiscal.

O problema é que a pauta que não é nova continuará sendo recessiva. Deve acelerar a política de

cortes em gastos sociais e perdas de direitos, provocando ainda maior diminuição da renda média. A

política cortes de gastos públicos com investimentos e de juros altos deve continuar a elevar o

desemprego bem como aprofundar a recessão. Toda a culpa do corte nos gastos sociais será posta sobre o

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governo anterior. Os processos de privatização também continuarão e se ampliarão principalmente

aqueles ligados às atividades da Petrobrás. A diminuição do tamanho dos bancos públicos será uma

consequência da própria crise de crédito que já está aparecendo pelo crescimento da inadimplência das

famílias (casa própria) e empresas (BNDES). Toda essa pauta será imputada como algo necessário devido

à má administração do Governo anterior. Assim, não haverá perspectivas sólidas de reversão das taxas de

crescimento do PIB até pelo menos fins de 2017 quando então o novo Governo deverá pensar nas eleições

de 2018.

O que parece claro nesse processo é que desde o início as políticas de austeridade nada tinham a

ver com ‘inflação explosiva’, mas com a pauta política. Não será fácil controlar a inflação provocada,

antes (2013-14) por pura propaganda repetitiva na mídia, mas que depois se materializou na elevação de

abrupta das tarifas de forma desnecessária – poderia ter sido feito gradualmente. De outro lado, a recessão

brutal está cuidando para arrefecê-la. Mas, chegar aos níveis anteriores históricos de 6,5% será difícil e

talvez nem seja desejável. A queda nas taxas de inflação pode ‘obrigar’ o Banco Central a baixar as taxas

de juros. Mas não se deve esperar muito. É quase que um consenso entre os analistas de banco que a taxa

de juros deve ser superior a 10% para manter a rentabilidade e estabilidade das operações bancárias,

patamar que esteve por anos antes do novo governo. Esse nível pressiona a necessidade de superávits

fiscais para fazer frente ao déficit nominal, garantindo a transferência de renda do Estado aos rentistas,

bem como a necessidade de cortes nas políticas sociais. Talvez seja esse o desejo final: o retorno ao

‘normal’ antes dos governos PT.

Alguns poderiam perguntar como os industriais se comportariam diante deste cenário. Ao

contrário do que se poderia imaginar eles também o desejam. Há anos as indústrias brasileiras ou

instaladas no Brasil tornaram-se importadores de partes peças e componentes e diminuíram sua base

produtiva nacional. Ao tornarem-se montadores ou quase ‘comerciantes’ passaram a aplicar seus recursos

nos mercados financeiros. Assim, desejam o retorno à política de taxas de juros elevadas em conjunto

com os bancos privados. Por outro lado, também vale lembrar que se desejam investir, têm o BNDES

como fonte de recursos baratos, isso se não acabarem também com ele, coisa muito difícil de acontecer.

A indústria também tem uma reação contraditória diante da necessidade de desvalorização da

moeda nacional. Teriam que passar de importadoras para a reconstrução de uma base produtiva interna.

Se de um lado isso provocaria uma reindustrialização, de outro as obrigaria a uma mudança estrutural.

Assim, há setores que podem apoiar a desvalorização cambial, e outros que não a desejam. De qualquer

forma, como a desvalorização nos últimos meses deixou claro, diversas empresas foram obrigadas a

reagir, substituindo importações por produção nacional. Esse é o fato mais positivo que impediu uma

queda ainda maior do PIB recentemente.

A crítica à “nova matriz econômica” que na verdade durou poucos meses (queda nos juros e

incentivos fiscais), bem como a crítica ao Governo nos últimos anos, está muito mais relacionada ao

desejo de volta da ‘normalidade’ dos anos 90 e mesmo primeiro mandado do Governo Lula. Na teoria

econômica isso aparece como retorno à ortodoxia. Dar espaço para uma estratégia nacional, distribuição

de renda e desenvolvimento, nem pensar, quanto mais a tornar o país um pouco mais ‘civilizado’. A

disputa pela renda nacional por grupos que detém o poder é mais forte.

*os artigos desta seção visam estimular o debate e não representam, necessariamente, a visão

da equipe de redação.

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Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia Política

Departamento de Economia

Grupo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Econômico e Política Econômica

Expediente

Boletim DEPE, Ano I, n.3

Editor responsável: Antonio Corrêa de Lacerda, Prof. Dr. da PUCSP

Equipe de redação:

Ana Paula Negreli Persici Vassallo, advogada e mestre em Economia Política pela PUC-SP; André Luis Campedelli, professor substituto de Economia da UNIFAL-MG e mestre em Economia Política pela PUC-SP; André Schneider Dietzold, economista, cientista político e mestrando em Economia Política pela PUC-SP;

André Paiva Ramos, economista e mestre em Economia Política pela PUC-SP (Coordenador); Eline Emanoeli, economista pela UFSCar e mestre em Economia Política pela PUC-SP;

Fabrício Silva de Sousa Machado, economista e mestrando em Economia Política pela PUC-SP;

Luiz Ricardo Alves, economista e mestrando em Economia Política pela PUC-SP;

Marcos Henrique do Espírito Santo, economista e mestrando em Economia Política pela PUC-SP

Grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Econômico e Política Econômica (DEPE)

Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da PUC-SP (PEPGEP)

Rua Ministro Godoi, 969, Perdizes, São Paulo/SP

Tel. 11-3670-8516 Site www.pucsp.br/ecopol E mail [email protected]

Edição elaborada com informações disponíveis até 03/05/2016.