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Publicação trimestral – Ano XXVIII – Nº 109 – Janeiro / Março 2003 – Preço 2,25 Boletim de Pastoral Litúrgica ISSN 0873-3295 109

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BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICAPropriedade do Secretariado Nacional de Liturgia

Director: Pedro Lourenço FerreiraRedacção e Administração: Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 – Fax 249 533 343 – E-mail: [email protected]

Publicação registada na SGMJ nº 118776ISSN 0873-3295

Assinatura anual: Portugal: 9 € (IVA incl.) — Outros países: 13 €

O domingo é o dia do Senhor, Pedro Lourenço Ferreira ...................................... 1Catequese sobre o Salmo 50, João Paulo II ........................................................... 3Catequese sobre o Cântico de Jeremias (14, 17-21), João Paulo II ..................... 5Catequese sobre o Salmo 99, João Paulo II ........................................................... 7Catequese sobre o Salmo 118 (145-152), João Paulo II ....................................... 9Catequese sobre o Cântico de Salomão (Sab 9, 1-6.9-11), João Paulo II ............ 11Catequese sobre o Salmo 116, João Paulo II ......................................................... 13Catequese sobre o Salmo 117, João Paulo II ......................................................... 15Catequese sobre o Cântico de Daniel (3, 52-57), João Paulo II ........................... 17Catequese sobre o Salmo 150, João Paulo II ......................................................... 19Catequese sobre o Salmo 89, João Paulo II ........................................................... 21A liturgia eucarística – Oração Eucarística II (IGMR 78-79), José Ferreira ..... 23Curso para Acólitos – 9. O acólito na I parte da Missa, José de Leão Cordeiro . 29O ministério litúrgico dos leitores – II, José de Leão Cordeiro ............................ 33Beja em Roma, José António Falcão ....................................................................... 39Tesouro da igreja matriz de S. Vicente de Cuba, Sara Fonseca ............................ 41Concertos na igrejas, Redacção ............................................................................... 43Martirológio Romano................................................................................................ 45Antologia Litúrgica – A Páscoa ............................................................................... 51A Liturgia no Caminho Neocatecumenal ................................................................ 55Curso de Música Litúrgica, Redacção ..................................................................... 58Memória de Mons. José Fernandes da Silva, Redacção ........................................ 59O Secretariado Nacional de Liturgia, Redacção ..................................................... 61XXIX Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica ..................................................... 63Livros litúrgicos oficiais – Situação em Março de 2003, Redacção ..................... 64

G.C. – GRÁFICA DE COIMBRA

Depósito Legal Nº. 88 990/95

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O domingo é o dia do Senhor

EDITORIAL

A Páscoa é o “grande domingo”, a “festa das festas”, a “solenidade das

solenidades”. Teve o seu início cristão nopróprio dia da Ressurreição de Cristo.Desde então, “a Igreja celebra o mistériopascal todos os oito dias, no dia que bemse denomina dia do Senhor ou Domingo”(SC 106). Em cada domingo, especial-mente no tempo pascal, os cristãos sãoconvidados a entrar no tempo novo que oSenhor inaugurou com a sua Ressurreição.Cada domingo do tempo pascal é igual-mente domingo da Páscoa e cada um des-tes domingos é o modelo de cada domingodo ano. A Páscoa constitui o coração dotempo e o centro da história humana: daío domingo como o primeiro e o últimodos dias, à volta do qual se situa o tempoda nova criação e a obra da redenção. APáscoa é “a obra da redenção” como rezaa Igreja numa feliz expressão: “Todas asvezes que celebramos o memorial destesacrifício realiza-se a obra da nossa re-denção” (SO, 5 f. Santa).

O dia do Senhor é o dia que o Senhorfez com a sua Ressurreição, subindo

para junto do Pai e manifestando-Se pre-sente na comunidade dos fiéis. Estes doisacontecimentos são decisivos para a vidada Igreja: Jesus ressuscitado, visível einvisível, no céu junto do Pai e na terracom os homens até ao fim dos tempos. Asprimeiras testemunhas desta realidadeficaram tão marcadas com esta experiên-cia que deram novo rumo às suas vidas. Ahistória da Igreja começa no Domingo dePáscoa e é em cada dia do Senhor que a

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Igreja se renova e cresce, a ponto de oscristãos não poderem viver sem o dia doSenhor. Os domingos dos três primeirosséculos da Igreja eram dias normais detrabalho e não tinham relação nenhumacom as dimensões festivas ou sabáticas.Os cristãos nunca precisaram dos diasoficiais do culto estabelecido, judaico oupagão, para a realização do seu culto, massempre souberam usar o tempo festivo elaboral para a celebração da sua fé emJesus Cristo. São numerosos os testemu-nhos desta época acerca do modo como oscristãos procediam nos dias festivos dosjudeus e dos pagãos e no próprio dia doSenhor. O essencial do dia do Senhor eratão sagrado para os cristãos que se man-teve desde o dia da Ressurreição. Estaessência cristã precisa de ser redescobertapara os nossos dias e deve ser objecto deevangelização porque o “império” e a cul-tura nunca se converteram ao cristianismo.É missão da Igreja no mundo proclamarque Jesus Cristo ressuscitou e é o Senhordo tempo e da história. A contagem dotempo pode não ser cristã, mas o essencialdo mistério do tempo cristão permaneceunido à fé e às celebrações cristãs própriasdo domingo está na origem o tempo novo.

Com esta nota de abertura, o Boletim dePastoral Litúrgica pretende chamar a

atenção dos seus leitores para a santifi-cação do domingo. O Encontro Nacionalde Pastoral Litúrgica vai abordar a te-mática do domingo a partir da perspectivadas celebrações. Os cristãos continuam aprecisar do dia do Senhor sem o qual não

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podem sobreviver na fé. As celebraçõescristãs geram a vida cristã e a falta de cele-brações atenta conta a vida da fé. A poucavitalidade da vida cristã fica a dever-se emparte a celebrações desnutridas dos ingre-dientes da fé. Assistimos à decadênciaduma cultura que deixa de se orientarpelos princípios do Evangelho. Os cristãossão responsáveis por esta situação sempreque não prestam à cultura os elementos dasua fé, nomeadamente as celebrações e avida. A ausência de celebrações e a falta departicipação activa, consciente e frutuosaestão a mudar a perspectiva cristã dotempo e da história.

Explicações fáceis vão confortando aacomodação lenta dos fiéis à ausência

de celebrações e a celebrações para cum-primento do preceito. A falta de ministé-rios ordenados e os horários laborais aosdomingos não justificam a falta de cele-brações dominicais. A oração é conforme afé e a fé é conforme a oração: “lex orandilex credendi”. A Igreja sempre soubesantificar o domingo nas mais diversas eadversas situações. O que verdadeira-mente constitui obstáculo à prática daoração dominical é a ausência de ascesecristã: “regalo e oração não são compatí-veis” (S. TERESA DE JESUS, Caminho, 4,2).Ser cristão consiste em seguir Jesus com aprópria cruz,1 num caminho estreito 2 poronde se caminha em pequenos grupos.3

Este seguimento não é conforme o naturale o agradável, mas só com grande violên-cia, a ascese cristã, se consegue ser cristão.

1 “Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo,tome a sua cruz e siga-Me (Mt 16, 24).

2 “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espa-çoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são osque seguem por ele. Como é estreita a porta e quão aper-tado é o caminho que consuz à vida , e como são poucosos que o encontram!”(Mt 7, 13-14).

3 “Se dois de entre vós se unirem na terra para pedir qual-quer coisa, hão obtê-la de meu Pai que está no Céu.Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meunome, Eu estou no meio deles” (Mt 18, 19-20).

A tradição da Igreja é rica em teste-munhos de fé cristã. Ser cristão é uma

forma de vida mártir. O exercício domartírio é uma constante da vida cristã.Qualquer outra actividade será imitação eaté negação de Cristo crucificado. O mo-mento alto da liturgia cristã encontra-se naCruz, fonte e meta da vida cristã. A liturgiacristã tem tudo a ver com o exercício doministério sacerdotal e redentor de Cristo.Sem conversão a Cristo o exercício do mi-nistério orante é assegurado pela presençade Cristo, mas é desvirtuado pela acçãodos ministros que assim desfiguramCristo ressuscitado. Este mistério do cultocristão é tremendo para todos os fiéis, queem virtude do seu baptismo – e algunspelo ministério ordenado – são integradosno ministério sacerdotal de Cristo. O paique fecunda, a mãe que gera, o filho quecresce, o mestre que ensina, os jovens queseguem Jesus Cristo na realização sua vo-cação e missão no mundo, todos – e cadaum a seu modo que é único – têm umministério relacionado com a liturgia. Aprimeira criação, a natural, foi confiadaaos homens: “crescei e multiplicai-vos,enchei e dominai a terra” (Gen 1, 28). Asegunda criação, a obra da redenção, foiconfiada aos cristãos: “Fazei isto em me-mória de Mim” (1 Cor 11, 24.25).

Para que o mundo conheça estas coisasé preciso que os cristãos celebrem e

vivam o conteúdo da sua fé. A pastorallitúrgica tem uma grande missão naIgreja. A liturgia da Páscoa de Cristo en-cerra os mistérios que transformam omundo antigo em mundo novo. As pro-fundas divisões da humanidade foramvencidas na liturgia da primeira Sexta-Fei-ra Santa. A morte e o pecado deram lugar àvida da graça que o domingo cristão pro-clama ao mundo. Vamos recuperar o diado Senhor para o terceiro milénio.

PEDRO LOURENÇO FERREIRA

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COMPADECEI-VOS DE MIM, Ó DEUSCatequese sobre o Salmo 50

1. Em cada semana a Liturgia das Lau-des propõe de novo o Salmo 50, o célebreMiserere. Já o meditámos outras vezesnalgumas das suas partes. Também agoranos detemos de modo particular numaparte deste grandioso pedido de perdão: osversículos 12-16.

Antes de mais, é significativo notarque, no original hebraico, ressoa três vezesa palavra “espírito”, pedido a Deus comodom e acolhido pela criatura arrependidado seu pecado: “Renovai ao meu interiorum espírito firme. Não retireis de mim ovosso espírito de santidade... sustentai-mecom espírito generoso” (vv. 12.13.14).Quase se poderia falar recorrendo a umtermo litúrgico de uma “epiclese”, ou seja,de uma tríplice invocação do Espírito que,como na criação se libertava sobre aságuas (cf. Gn 1, 2), agora penetra na almado fiel infundindo nova vida e elevando-odo reino do pecado para o céu da graça.

2. Os Padres da Igreja, no “espírito” in-vocado pelo Salmista, vêem a presençaeficaz do Espírito Santo. Assim, SantoAmbrósio está convencido de que se tratado único Espírito Santo “que fermentavacom fervor nos profetas, foi dado [porCristo] aos apóstolos e foi unido ao Pai eao Filho no sacramento do baptismo” (OEspírito Santo, I, 4, 55: SAEMO 16, pág.95). A mesma convicção é expressa poroutros Padres como Dídimo, o Cego, de

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Alexandria do Egipto, e Basílio de Cesa-reia, nos respectivos tratados sobre o Espí-rito Santo (Dídimo o Cego, O EspíritoSanto, Roma 1990, pág. 59; Basílio de Ce-sareia, O Espírito Santo, IX, 22, Roma1993, pág. 117 s.).

E ainda Santo Ambrósio, observandoque o Salmista fala da alegria da qual aalma está invadida quando recebe o Espí-rito generoso e poderoso de Deus, co-menta: “A alegria e a felicidade são frutosdo Espírito e o Espírito Soberano é aquilosobre o que nós, principalmente, nos ba-seamos. Portanto, quem é fortalecido como Espírito soberano não é submetido pelaescravidão, não sabe ser escravo do pe-cado, não hesita, não vagueia aqui e acolá,não é incerto nas escolhas mas, alicerçadona rocha, está firme em pés que não va-cilam” (Apologia do Profeta David aTeodísio Augusto, 15, 72: SAEMO 5, pág.129).

3. Com esta tríplice menção do “espí-rito”, o Salmo 50, depois de ter descritonos versículos precedentes a prisão obs-cura da culpa, abre-se sobre a razão lu-minosa da graça. É uma grande mudança,comparável a uma nova criação: comonas origens Deus tinha insuflado o seu es-pírito na matéria e dera origem à pessoahumana (cf. Gn 2, 7), assim agora o mes-mo Espírito divino regenera (cf. Sl 50, 12),renova, transfigura e transforma o pecador

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arrependido, abraça-o de novo (cf. v. 13) eo faz participante da alegria da salvação(cf. v. 14). Agora o homem, animado peloEspírito divino, encaminha-se pelas es-tradas da justiça e do amor, como se diznoutro Salmo: “Ensinai-me a cumprir avossa vontade, porque sois o meu Deus. Ovosso espírito de bondade me conduza porcaminho recto” (Sl 142, 10).

4. Tendo experimentado este renasci-mento o orante transforma-se em testemu-nha; promete a Deus que ensinará “aosímpios os seus caminhos” do bem (Sl 50,15), de maneira que eles possam, como ofilho pródigo, voltar à casa do Pai. Domesmo modo, Santo Agostinho, depois deter percorrido os caminhos tenebrosos dopecado, tinha depois sentido a necessidadenas suas Confissões de confirmar a liber-dade e a alegria da salvação.

Quem conheceu o amor misericordio-so de Deus torna-se uma sua testemunhafervorosa, sobretudo em relação a quantosainda estão aprisionados nas redes do pe-cado. Pensamos na figura de Paulo que,iluminado por Cristo no caminho de Da-masco, se torna um incansável missionárioda graça divina.

5. Pela última vez o orante olha para oseu passado obscuro e brada a Deus: “ÓDeus, meu Salvador, livrai-me do sanguederramado” (v. 16). O “sangue”, ao qualele se refere, é interpretado na Escritura devários modos. A alusão, posta nos lábiosdo rei David, refere-se à morte de Urias, omarido de Betsabé, a mulher que tinhasido objecto da paixão do soberano. Emsentido mais geral, a invocação indicao desejo de purificação do mal, da violên-cia, e do ódio, sempre presentes no cora-ção humano com força tenebrosa e maléfi-ca. Mas agora, os lábios do fiel, purifica-dos do pecado, cantam ao Senhor.

E o trecho do Salmo 50, que hoje co-mentámos, termina precisamente com oempenho de proclamar a “justiça” deDeus. A palavra “justiça” aqui, comomuitas vezes na linguagem bíblica, nãodesigna propriamente a acção punitiva deDeus em relação ao mal, mas antes indicaa reabilitação do pecador, porque Deusmanifesta a sua justiça ao fazer dos peca-dores homens justos (cf. Rm 3, 26). Deusnão sente prazer pela morte do mau, masdeseja que desista do seu modo de secomportar e de viver (cf. Ez 18, 23).

JOÃO PAULO II4 de Dezembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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1. O cântico que o profeta Jeremias, doseu horizonte histórico, eleva ao céu (cf.14, 17-21), é de amargura e de sofrimento.Ouvimo-lo ressoar agora como invocação,enquanto a Liturgia das Laudes o propõeno dia em que comemora a morte do Se-nhor, a sexta-feira. O contexto que dáorigem a esta lamentação é represen-tado por um flagelo que muitas vezesatinge a terra do Próximo Oriente: a seca.Mas a este drama natural o profeta juntaoutro não menos aterrador, a tragédia daguerra: “Se saio para o campo, eis osmortos à espada; se entro na cidade, eis asvítimas da fome” (v. 18). Infelizmente, adescrição é tragicamente actual em mui-tas regiões do nosso pleneta.

2. Jeremias entra em cena com o rostomolhado de lágrimas: o seu choro é umchoro ininterrupto pela “filha do seupovo”, isto é, por Jerusalém. De facto, se-gundo um símbolo bíblico muito conheci-do, a cidade é representada com uma ima-gem feminina, “a filha de Sião”. O profetaparticipa profundamente na “calamidade”e na “ferida mortal” do seu povo (v. 17).Muitas vezes as suas palavras estão mar-cadas pelo sofrimento e pelas lágrimas,porque Israel não se deixa envolver namensagem misteriosa que o sofrimentoencerra em si. Noutra página, Jeremias

LAMENTAÇÃO EM TEMPO DE FOMEE DE GUERRA

Catequese sobre o Cântico de Jeremias(Jer 14, 17-21)

A VOZ DO PAPA

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exclama: “Se não ouvirdes isto, a minhaalma chorará em segredo por causa dovosso orgulho, e os meus olhos chorarãoamargamente, por causa da deportação dorebanho do Senhor” (13, 17).

3. Devemos procurar o motivo da invo-cação dilacerante do profeta, como sedizia, em dois acontecimentos trágicos: aespada e a fome, isto é, a guerra e a cares-tia (cf. Jer 14, 18). Por conseguinte,encontramo-nos numa situação históricaatormentada e é significativo o retrato doprofeta e do sacerdote, os guardas da Pala-vra do Senhor, os quais “vagueiam pelaterra sem nada compreenderem” (ibid.).

A segunda parte do Cântico (cf. vv.19-21) já não é uma lamentação indivi-dual, na primeira pessoa do singular, masuma súplica colectiva dirigida a Deus:“Por que nos feristes sem esperança de re-médio?” (v. 19). Além da espada e dafome, há, de facto, uma tragédia maior, ado silêncio de Deus, que já não se revela eparece ter-se fechado no seu céu, quasedesgostoso pelo agir da humanidade. Asperguntas que lhe são dirigidas tornam-se,por isso, tensas e explícitas em sentidotipicamente religioso: “Acaso, rejeitastesinteiramente Judá? Por que Vos desgos-tastes com Sião?” (v. 19). Agora, sentimo--nos sozinhos e abandonados, privados de

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paz, de salvação e de esperança. O povo,abandonado a si mesmo, encontra-sequase perdido e invadido pelo terror.

Não é porventura esta solidão existen-cial a fonte profunda de tanta insatisfação,com que nos deparamos também nosnossos dias? Tanta insegurança e tantasreacções desconsideradas têm a sua ori-gem no facto de terem abandonado Deus,rochedo de salvação.4. Neste ponto verifica-se a mudança: o povo volta para Deus e dirige-lhe uma in-tensa oração. Reconhece antes de mais opróprio pecado com uma breve mas senti-da confissão da culpa: “Senhor! Conhece-mos a nossa malícia... Pecámos realmentecontra Vós” (v. 20). O silêncio de Deusera, por conseguinte, provocado pela re-cusa do homem. Se o povo se converte evolta para o Senhor, também Deus se mos-trará disponível para ir ao seu encontro epara o abraçar.

No final, o profeta usa duas palavrasfundamentais: a “recordação” e a “alian-ça” (v. 21). Deus é convidado pelo seupovo a “recordar-se”, ou seja, a retomar acontinuidade da sua benevolência gene-rosa, manifestada tantas vezes no passadocom intervenções decisivas para salvarIsrael. Deus é convidado a recordar-se deque Ele se uniu ao seu povo através deuma aliança de fidelidade e de amor. Pre-cisamente devido a esta aliança, o povopode esperar que o Senhor há-de intervirpara o libertar e salvar. O compromissopor Ele assumido, a honra do seu “nome”,o facto da sua presença no templo, “otrono da sua glória”, estimulam Deusdepois do juízo pelo pecado e pelo silêncioa estar de novo próximo do seu povo paralhe dar de novo vida, paz e alegria.

Por conseguinte, juntamente com osIsraelitas, também nós podemos ter acerteza de que o Senhor não nos aban-

dona para sempre mas, depois de todasas provas purificadoras, ele volta a fazer“resplandecer a sua face sobre ti e é bene-volente... e concede a paz” (cf. 6, 25-26).5. Em conclusão, podemos compararcom a súplica de Jeremias uma comovedo-ra exortação dirigida por São Cipriano aoscristãos de Cartago, Bispo daquela cidadeno terceiro século. Em tempos de perse-guição, São Cipriano exorta os seus fiéis aimplorar o Senhor. Esta imploração não éidêntica à súplica do profeta, porque nãocontém uma confissão dos pecados, nãosendo a perseguição um castigo pelos pe-cados, mas uma participação na paixão deCristo. De igual modo, trata-se de uma im-ploração também premente como a deJeremias. “Imploremos o Senhor, diz SãoCipriano, com sinceridade e em harmonia,sem nunca deixar de pedir e confiantes deobter.

Imploremo-lo gemendo e chorando,como é justo que implorem os que são co-locados entre os desventurados que cho-ram e outros que temem as desventuras,entre os numerosos prostrados pelo massa-cre e os poucos que permanecem em pé.Peçamos que nos seja restituída depressa apaz, que sejamos ajudados nos nossos es-conderijos e nos perigos, que se cumpra oque o Senhor se digna mostrar aos seusservos: a restauração da sua Igreja, a segu-rança da nossa salvação eterna, o céu azuldepois da chuva, a luz depois das trevas, atranquilidade depois das tempestades e osremoinhos, a ajuda piedosa do seu amor depai, as grandezas que conhecemos da ma-jestade divina” (Epístola 11, 8, em S.Pricoco M. Simonetti, A oração dos cris-tãos, Milão 2000, pp. 138-139).

JOÃO PAULO II11 de Dezembro de 2002Transcrito de L'Osservatore Romano

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A ALEGRIADOS QUE ENTRAM NO TEMPLO

Catequese sobre o Salmo 99

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A VOZ DO PAPA

1. No clima de alegria e de festa que seprolonga nesta última semana do tempo deNatal, desejamos retomar a nossa medita-ção sobre a Liturgia das Laudes. Detemo-nos hoje no Salmo 99, que acabamos deproclamar, o qual constitui um jubilosoconvite a louvar o Senhor, pastor do seupovo.

Toda a composição é marcada por seteimperativos que estimulam a comunidadefiel a celebrar, no culto, o Deus do amor eda aliança: aclamai, servi, apresentai-vos,reconhecei, ultrapassai as portas, lou-vai-O, bendizei. Podemos pensar numaprocissão litúrgica, que está para entrar notemplo de Sião e realizar um rito em honrado Senhor (cf. Sl 14; 23; 94).

Entrelaçam-se no Salmo algumaspalavras características para exaltar o vín-culo de aliança que foi estabelecido entreDeus e Israel. Antes de mais, sobressai aafirmação de uma pertença total a Deus: “Pertencemos-Lhe, somos o Seu povo” (Sl99, 3), afirmação cheia de orgulho e, aomesmo tempo, de humildade, dado queIsrael se apresenta como “as ovelhas doSeu rebanho” (ibid).

Encontramos noutros textos a expres-são da relação correspondente: “PorqueEle é o nosso Deus” (cf. Sl 94, 7). Depois,encontramos o léxico da relação de amor,a “misericórdia” e a “fidelidade”, junta-

mente com a “bondade” (cf. Sl 99, 5), queno original hebraico são formuladas preci-samente com palavras típicas do pacto queune Israel ao seu Deus.

2. É feita também a enumeração dascoordenadas do espaço e do tempo. Comefeito, por um lado, apresenta-se diante denós toda a terra com os seus habitantesenvolvida no louvor a Deus (cf. v. 2); de-pois, o horizonte limita-se à área sagradado templo de Jerusalém com os seus pátiose as suas portas (cf. v. 4), onde se encontrareunida a comunidade orante. Por outrolado, faz-se referência ao tempo nas suastrês dimensões fundamentais: o passadoda criação (“ele criou-nos”, v. 3), o pre-sente da aliança e do culto (“nós perten-cemos-Lhe, somos as ovelhas do Seu re-banho”, ibid) e, por fim, o futuro em que afidelidade misericordiosa do Senhor seexpande “por todas as gerações”, reve-lando-se “eterna” (v. 5).

3. Detenhamo-nos agora brevemente nossete imperativos que constituem o longoconvite a louvar a Deus e ocupam quasetodo o Salmo (cf. vv. 2-4) antes de encon-trar, no último versículo, a sua motivaçãona exaltação de Deus, contemplado na suaidentidade íntima e profunda.

O primeiro apelo consiste na aclama-ção jubilosa que envolve toda a terra no

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cântico de louvor ao Criador. Quandorezamos, devemos sentir-nos em sintoniacom todos aqueles que, em línguas e for-mas diversas rezam, exaltando o únicoSenhor. “Mas como diz o profeta Mala-quias do nascente ao poente o Meu nome égrande entre as nações e em todos os luga-res é oferecido ao meu nome um sacrifíciode incenso e uma oferenda pura. Porque égrande entre as Nações o meu nome, diz oSenhor dos exércitos” (1, 11).

4. Seguem-se, depois, alguns apelos detipo litúrgico e ritual: ”servir”, “apresen-tar-se” e “passar as portas” do templo. Sãoverbos que, fazendo também alusão às au-diências reais, descrevem os vários gestosque os fiéis realizam quando entram nosantuário de Sião para participar na oraçãocomunitária. Depois do cântico cósmico,celebra-se a liturgia por parte do povo deDeus, as “ovelhas do seu rebanho”, a sua“propriedade entre todos os povos” (Ex19, 5).

O convite a “passar as portas com ac-ções de graças” e “com cânticos de lou-vor” recorda-nos o trecho de Os mistériosde Santo Ambrósio, onde são descritos osbaptizados que se aproximam do altar: “Opovo purificado aproxima-se do altar deDeus dizendo: “irei ao altar de Deus, oDeus que é a minha alegria” (Sl 42, 4). Defacto, abandonando os despojos do erroarreigado, o povo renovado na sua ju-ventude como uma águia, apressa-se paraparticipar neste convite celeste. Portantoele vem e, ao ver o sacrossanto altarconvenientemente preparado, exclama:“O Senhor é o meu pastor, nada me falta.Em verdes prados me faz descansar e con-duz-me às águas refrescantes” (Sl 22, 1-2)” (Obras dogmáticas III, 17, págs. 158-159).

5. Os outros imperativos, que adornam oSalmo, propõem de novo atitudes religio-sas fundamentais do orante: reconhecer,louvar, abençoar. O verbo reconhecer, ex-prime o conteúdo da profissão de fé noúnico Deus. Com efeito, devemos procla-mar que só “o Senhor é Deus” (Sl 99, 3),combatendo qualquer forma de idolatria,de soberba e de poder humano que se Lheopõe.

O fim dos outros verbos, isto é, louvare abençoar, é de igual modo ”o nome” doSenhor” (cf. v. 4), ou seja, a sua pessoa, asua presença eficaz e salvadora.

A esta luz o Salmo alcança, no final,uma solene exaltação de Deus, que é umaespécie de profissão de fé: o Senhor é bome a sua fidelidade nunca nos abandona,porque Ele está sempre pronto a ampa-rar-nos com o seu amor misericordioso.Com esta confiança o orante abandona-seao abraço do seu Deus: “Saboreai e vedecomo é bom o Senhor diz noutra parte oSalmista feliz o homem que n’Ele se abri-ga” (Sl 33, 9; cf. 1 Pd 2, 3).

JOÃO PAULO II

8 de Janeiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

PROMESSA DE OBSERVARA LEI DE DEUS

Catequese sobre o Salmo 118 (145-152)

JANEIRO – MARÇO 2003 11

1. No nosso já longo itinerário à luz dosSalmos que a Liturgia das Laudes propõe,chegamos a uma estrofe precisamente adécima nona da maior oração do Saltério,o Salmo 118. Trata-se de uma parte dogrande cântico alfabético: através de umjogo de estilo, o Salmista distribui a suaobra em vinte e duas estrofes, que corres-pondem à sequência das vinte e duas letrasdo alfabeto hebraico. Cada estrofe temoito versículos, sendo o seu início marca-do por palavras hebraicas que começamtodas com uma mesma letra do alfabeto.

A que nós escutámos agora é uma es-trofe cadenciada pela letra hebraica qôf, erepresenta o orante que apresenta a Deus asua intensa vida de fé e de oração (cf. vv.145-152).

2. A invocação ao Senhor não conhecerepouso porque é uma resposta contínua àproposta permanente da Palavra de Deus.Com efeito, por um lado, multiplicam-seos verbos da oração: Vos invoco, por Vóseu clamo, imploro o vosso auxílio, escutaia minha voz. Por outro, é exaltada a pala-vra do Senhor que propõe os decretos, osensinamentos, a palavra, as promessas, ojuízo, a lei, os preceitos e os testemunhosde Deus. Ao mesmo tempo formam umaconstelação que é como a estrela polar dafé e da confiança do Salmista. Mas a ora-ção revela-se como um diálogo, que se

abre quando já é noite e o alvorecer aindanão despontou (cf. v. 147) e continua todoo dia, sobretudo nas dificuldades da vida.De facto, o horizonte é por vezes sombrioe atormentado: “Os meus perseguidoresestão perto, eles afastam-se da vossa lei”(v. 150). Mas o orante tem uma certezainabalável, a proximidade de Deus com asua palavra e com a sua graça: “Vós estaisbem perto, Senhor” (v. 151). Deus nãoabandona o justo nas mãos dos persegui-dores.

3. A este ponto, tendo sido delineada amensagem simples, mas incisiva, da es-trofe do Salmo 118 uma mensagem ade-quada para o ínicio de um dia remetemo--nos, para a nossa meditação, a um grandePadre da Igreja, Santo Ambrósio, que noseu Comentário ao Salmo 118 dedica 44parágrafos para explicar precisamente aestrofe que ouvimos.

Retomando o convite espiritual paracantar o louvor divino desde as primeirashoras da manhã, ele detém-se sobretudonos versículos 147-148: “Imploro o vossoauxílio antes da aurora... Meus olhos an-tecipam-se às vigílias da noite”. Nestadeclaração do Salmista, Ambrósio intuia ideia de uma oração constante, queabrange todos os tempos: “Quem implorao Senhor, comporte-se como se não co-nhecesse a existência de qualquer tempo

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particular a ser dedicado às súplicas doSenhor, mas mantenha sempre aquela ati-tude de súplica. Tanto quando comemos,como quando bebemos, anunciamosCristo, rezamos a Cristo, pensamos emCristo, falamos de Cristo! Cristo estejasempre no nosso coração e nos nossoslábios!” (Comentário ao Salmo 118/2: Saemo 10, pág. 297).

Depois, ao narrar os versículos no mo-mento específico da manhã e aludindotambém à expressão do livro da Sabedoriaque perscreve que “se antecipe o sol paradar graças” a Deus (16, 28), Ambrósiocomenta: “De facto, seria grave se os raiosdo sol nascente te surpreendessem apreguiçar na cama em vistoso desaforo ese uma luz mais forte te ferisse os olhosensonados, ainda imersos no entorpeci-mento. Para nós, é uma acusação um es-paço tão prolongado de tempo passadosem a mínima prática de piedade e sem aoferta de um sacrifício espiritual, numanoite ociosa” (Ibidem, ob. cit., pág. 303).

4. Depois, Santo Ambrósio, ao contem-plar o sol que surge como fizera noutro seucélebre hino “ao cantar do galo”, oAeterne rerum conditor, que entrou naLiturgia das Horas interpela-nos assim:“Porventura, tu, homem, não sabes que to-dos os dias tens uma dívida para comDeus, das primícias do teu coração e da tuavoz? A messe amadura todos os dias; todosos dias amadurece o seu fruto. Portanto,corre ao encontro do sol que nasce... O solda justiça quer ser antecipado e nada maisespera... Se antecipares o nascer do sol,receberás Cristo como luz. Será precisa-mente Ele a primeira luz que brilhará nosegredo do teu coração. Será precisamenteEle que... fará resplandecer para ti a luz damanhã nas horas da noite, se reflectiressobre as palavras de Deus.

Enquanto tu reflectes, alvorece...Apressa-te, de manhã cedo, vai à igreja erecebe como homenagem as primícias datua devoção. E depois, se o compromissodo mundo te chama, nada te impede dedizer: “Os meus olhos antecipam-se às vi-gílias da noite para meditar nas vossas pro-messas”, e com a consciência tranquilacumprirás os teus afazeres. Como é bomcomeçar pelos hinos e cânticos, pelasbem-aventuranças que lês no Evangelho!Como é propício que desça sobre ti paraabençoar as palavras do Senhor; que tu, aorepetires, cantando, as bênçãos do Senhor,sintas o compromisso de praticar algumasvirtudes, se desejas entrever também den-tro de ti algo que te faça sentir merecedordaquela bênção divina!” (Ibidem, ob. cit.,págs. 303.309.311.313).

Aceitemos também nós o apelo deSanto Ambrósio e todas as manhãs abra-mos o olhar sobre a vida quotidiana, sobreas suas alegrias e pesadelos, invocandoDeus para que esteja próximo de nós e nosoriente com a sua palavra, que infundeserenidade e graça.

JOÃO PAULO II

15 de Janeiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

SENHOR, DAI-ME SABEDORIA

Catequese sobre o Cântico de Salomão(Sab 9, 1-6.9-11)

JANEIRO – MARÇO 2003 13

1. O Cântico agora proposto apresenta-nos a maior parte de uma ampla oraçãocolocada nos lábios de Salomão, que natradição bíblica é considerado o rei justo eo sábio por excelência. Ela é-nos oferecidano capítulo nono do Livro da Sabedoria,um escrito do Antigo Testamento com-posto em grego, talvez em Alexandria doEgipto, no limiar da era cristã. Nele se en-trevê uma expressão do judaísmo vivaz eaberto da Diáspora hebraica no mundohelénico.

São três substancialmente os percur-sos de pensamento teológico que este livronos propõe: a imortalidade feliz comometa final da existência do justo (cf. cc. 1-5); a sabedoria como dom divino e orien-tação da vida e das escolhas do fiel (cf. cc.6-9); a história da salvação, sobretudo oacontecimento fundamental do êxodo daopressão egípcia, como sinal daquela lutaentre bem e mal, que termina numa plenasalvação e redenção (cf. cc. 10-19).

2. Salomão viveu uma dezena de séculosantes do autor inspirado pelo Livro daSabedoria, mas foi considerado como oarquétipo e o artífice ideal de toda a re-flexão sapiencial posterior. A oração emforma de hino colocada nos seus lábios éuma invocação solene dirigida ao “Deusdos nossos pais e Senhor de misericór-

dia” (9, 1), para que conceda o dom pre-ciosíssimo da sabedoria.

É evidente no nosso texto a alusão àcena narrada no Primeiro Livro dos Reis,quando Salomão, nos princípios do seureino, sobe ao lugar alto de Gabaon, ondese levantava um santuário, e, depois de tercelebrado um grandioso sacrifício, temdurante a noite um sonho-revelação. Aopróprio pedido de Deus, que o convida apedir-lhe um dom, ele responde: “Dai,pois, ao vosso servo um coração sábio, ca-paz de julgar o vosso povo e discernir en-tre o bem e o mal” (1 Rs 3, 9).

3. A inspiração oferecida por esta invo-cação de Salomão é desenvolvida no nos-so Cântico numa série de apelos dirigidosao Senhor, para que conceda o tesouroinsubstituível que é a sabedoria.

No trecho extraído da Liturgia dasLaudes encontramos estes dois pedidos:“dai-me a sabedoria... Enviai-a, pois, dosvossos santos céus, enviai-a do trono davossa glória” (Sab 9, 4.10). Sem este domtem-se a consciência de estar semorientação, quase privados de uma estrelapolar que oriente nas escolhas morais daexistência: ”Eu sou... homem fraco e depoucos anos, incapaz de compreender ovosso juízo e as vossas leis... sem a sabe-doria, que procede de vós, (o homem) nãoserá nada” (vv. 5-6).

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É fácil descobrir que esta “sabedoria”não é a simples inteligência ou habilidadeprática, mas antes a participação na pró-pria mente de Deus que “com a sua sabe-doria formou o homem” (cf. v. 2). Porconseguinte, é a capacidade de penetrar nosentido profundo do ser, da vida e da histó-ria, indo além da superfície das coisas edos acontecimentos para descobrir o seusignificado último, querido pelo Senhor.

4. A sabedoria é como uma lâmpada queilumina as nossas opções morais de cadadia e nos conduz pelo recto caminho, para“conhecer o que é agradável aos olhos doSenhor e o que é conforme com os seusdecretos” (cf. v. 9). Por isso, a Liturgia nosfaz rezar com as palavras do Livro da Sa-bedoria no início de um dia, precisamentepara que Deus, com a sua sabedoria, estejaao nosso lado e “nos assista nos nossos tra-balhos” quotidianos (cf. v. 10), revelando--nos o bem e o mal, o que é justo e o que éinjusto.

Guiados pela Sabedoria divina nósentramos confiantes no mundo. Apegamo--nos a ela, amando-a com o amor esponsala exemplo de Salomão que, sempre se-gundo o Livro da Sabedoria, confessava:“Eu a amei (a sabedoria) e busquei desde aminha juventude, procurei tomá-la comoesposa e enamorei-me dos seus encantos”(8, 2).

5. Os Padres da Igreja identificaram emCristo a Sabedoria de Deus, seguindo oexemplo de São Paulo, que definia Cristo“o poder e a sabedoria de Deus” (1 Cor1, 24).

Concluamos agora com uma oração deSanto Ambrósio, que se dirigia assim aCristo: “Ensinai-me as palavras ricas desabedoria, porque Vós sois a Sabedoria!Abri o meu coração, Vós que abriste oLivro! Abri aquela porta que está no céu,

porque Vós sois a Porta! Se entrarmosatravés de Vós, não nos enganaremos, por-que, quem entra na habitação da Verdade,não se pode enganar” (Comentário aoSalmo 118/1: SAEMO 9, pág. 377).

JOÃO PAULO II

29 de Janeiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

CONVITE A LOUVAR A DEUSPELO SEU AMOR

Catequese sobre o Salmo 116

JANEIRO – MARÇO 2003 15

1. Dando continuidade à nossa medita-ção sobre os textos da Liturgia das Lau-des, voltamos a considerar um Salmo quejá foi proposto, o mais breve de todas ascomposições do Saltério. É o Salmo 116,que acabámos de escutar, uma espécie depequeno hino, análogo a uma jaculatóriaque se alarga num louvor universal aoSenhor. O que se proclama é expressoatravés de duas palavras fundamentais:amor e fidelidade (cf. v. 2).

Com estes termos, o Salmista explicasinteticamente a aliança entre Deus e Is-rael, realçando a profunda relação, leal econfiante, que existe entre o Senhor e oseu povo. Aqui ouvimos o eco das pala-vras que o próprio Deus tinha anunciadono Sinai, apresentando-se diante deMoisés: “Javé! Javé! Deus misericordiosoe clemente, vagaroso em encolerizar-se,cheio de bondade e de fidelidade” (Êx34, 6).

2. Apesar da sua brevidade e essencia-lidade, o Salmo 116 realça o núcleo daoração, que consiste no encontro e no diá-logo vivo e pessoal com Deus. Nesteacontecimento, o mistério da Divindaderevela-se como fidelidade e amor.

O Salmista acrescenta um aspecto par-ticular da oração: a experiência orantedeve irradiar-se no mundo, transforman-do-se em testemunho junto de quem não

compartilha a nossa fé. Com efeito, no iní-cio, o horizonte alarga-se a “todos os po-vos” e a “todas as nações” (cf. Sl 116, 1)para que, diante da beleza e da alegria dafé, também eles sejam conquistados pelodesejo de conhecer, encontrar e louvar aDeus.

3. Num mundo tecnológico, debilitadopor um eclipse do sagrado, numa socie-dade a que agrada uma certa auto-suficiên-cia, o testemunho do orante é como umraio de luz na escuridão.

No início, ele pode somente despertara curiosidade, mas depois pode levar apessoa ponderada a interrogar-se sobre osentido da oração e, por fim, pode suscitarum crescente desejo de viver esta experi-ência. Por isso, a oração nunca é um acon-tecimento solitário, mas tende a dilatar-se,a ponto de envolver o mundo inteiro.

4. Agora, nós acompanhamos o Salmo116 com as palavras de um grande Padreda Igreja do Oriente, Santo Efrém, o Sírio,que viveu no século IV. No 14º dos seusHinos sobre a Fé, ele exprime o desejo denunca permitir que cesse o louvor a Deus,empenhando também “todos aqueles quecompreendem a verdade” divina. Eis o seutestemunho:

“Como poderá a minha harpa, Senhor,deixar de Vos louvar? / Como poderia euensinar a infidelidade à minha língua? / O

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16 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

vosso amor deu confiança à minha con-fusão, / mas a minha vontade ainda é in-grata” (estrofe 9).

“É justo que o homem reconheça avossa divindade, / é justo que os seres ce-lestiais louvem a vossa humanidade; / osseres celestiais surpreenderam-se ao ve-rem como Vos aniquilaste a Vós mesmo, /e os seres terrestres admiraram-se ao ve-rem como Vos exaltaste a Vós próprio”(estrofe 10: A Harpa do Espírito, Roma1999, pp. 26-28).

5. Noutro dos seus hinos (Hinos deNisibi, 50), Santo Efrém confirma este seucompromisso de louvor incessante, eexprime o seu motivo no amor e na com-paixão divina por nós, precisamente comosugere o nosso Salmo.

“Em Vós, Senhor, do silêncio possa aminha boca fazer brotar o louvor. / Que asnossas bocas não sejam pobres no louvor, /que os nossos lábios não sejam pobres aoconfessarem; / possa o vosso louvor vibrarem nós!” (estrofe 2).

“Porque é no nosso Senhor que a raizda nossa fé está implantada; / embora dis-tante, todavia Ele está próximo na fusãodo amor. / Que as raízes do nosso amor es-tejam ligadas a Ele, / que a medida com-pleta da sua compaixão seja derramada so-bre nós” (estrofe 6: ibid., pp. 77 e 80).

JOÃO PAULO II

5 de Fewvereiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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CÂNTICO DE ALEGRIA E DE VITÓRIACatequese sobre o Salmo 117

A VOZ DO PAPA

JANEIRO – MARÇO 2003 17

1. Em todas as festas mais significativase alegres do antigo judaísmo sobretudo nacelebração da Páscoa cantava-se a sequên-cia dos Salmos que vai do 112 ao 117. Estasérie de hinos de louvor e de agradecimen-to a Deus era chamada o “Hallel egípcio”,porque num deles, o Salmo 113 A, era re-cordado de forma poética e quase visível oêxodo de Israel da terra da opressão, oEgipto faraónico, e o maravilhoso dom daaliança divina. Pois bem, o último Salmoque sela este “Hallel egípcio” é precisa-mente o Salmo 117, agora proclamado epor nós meditado num comentário prece-dente.

2. Este cântico revela claramente um usolitúrgico no inteiror do templo de Jerusa-lém. De facto, no seu enredo parece desen-cadear-se uma procissão, que começa nas“tendas dos justos” (v. 15), isto é, na casados fiéis. Eles exaltam a protecção da mãodivina, capaz de proteger quem é recto econfiante também quando irrompem ini-migos cruéis. A imagem usada pelo Sal-mista é expressiva: “Cercaram-me comoum enxame de abelhas, consumiram-mecomo o fogo aos espinheiros, no nome doSenhor esmagá-las-ei” (v. 12).

Face a este perigo evitado, o povo deDeus irrompe com “vozes de alegria e devitória” (v. 15) em honra da “direita doSenhor que opera maravilhas” (cf. v. 16).Por conseguinte, há a consciência de

nunca estar sós, no poder da tempestadedesenfreada pelos malvados. Na verdade,a última palavra é sempre a de Deus que,mesmo quando permite a prova do seufiel, não o entrega à morte (cf. v. 18).

3. Nesta altura, parece que a procissãoalcança a meta recordada pelo Salmistaatravés da imagem das “portas da justiça”(v. 19), isto é, da porta santa do templo deSião. A procissão acompanha o herói aoqual Deus concedeu a vitória. Ele pedeque lhe sejam abertas as portas, para poder“dar graças ao Senhor” (v. 19). Com ele“entram os justos” (v. 20). Para exprimir adura provação que superou e a glorifica-ção que dela derivou, ele compara-se a simesmo a uma “pedra rejeitada pelosconstrutores” que depois “se tornou pedraangular” (v. 22). Cristo assumirá precisa-mente esta imagem e este versículo, no fi-nal da parábola dos vinhateiros homicidas,para anunciar a sua Paixão e a sua glorifi-cação (cf. Mt 21, 42).

4. Ao aplicar o Salmo a si prórpio, Cristoabre o caminho para a interpretação cristãdeste hino de confiança e de gratidão aoSenhor pelo seu hesed, ou seja, pela suafidelidade amorosa, que ressoa em todo oSalmo (cf. Sl 117, 1.2.3.4.29).

Os símbolos adoptados pelos Padresda Igreja são dois. Antes de mais, o de“porta da justiça”, que São Clemente

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Romano na sua Carta aos Coríntioscomentava da seguinte forma: “São muitasas portas abertas, mas a da justiça está emCristo. Bem-aventurados são todos os quepor ela entram e orientam o seu caminhona santidade e na justiça, fazendo tudotranquilamente” (48, 4: Os Padres Apos-tólicos, Roma 1976, pág. 81).

5. O outro símbolo, juntamente com oprecedente, é precisamente o da pedra.Agora, deixar-nos-emos guiar, na nossameditação, por Santo Ambrósio na sua Ex-posição do Evangelho segundo Lucas. Aocomentar a profissão de fé de Pedro emCesareia de Filipe, ele recorda que “Cristoé a pedra” e que “também ao seu discípulo,Cristo não recusou este bonito nome, deforma que também ele seja Pedro, para quetenha a pedra firme da perseverança, afirmeza da fé”.

Ambrósio introduz, então, aexortação: “Esforça-te por ser, também tu,uma pedra. Mas para isso, não procures apedra fora de ti, mas dentro de ti. A tuapedra são as tuas acções, a tua pedra é oteu pensamento. Sobre esta pedra é edifi-cada a tua casa, para que não seja flageladapor tempestade alguma dos espíritos domal. Se fores uma pedra, estarás dentro daIgreja, porque a Igreja está acima da pedra.Se estiveres dentro da Igreja, as portas doinferno não prevalecerão contra ti” (VI,97-99: Obras exegéticas IX/II, Milão-Roma 1978 =Saemo 12, pág. 85).

JOÃO PAULO II

12 de Fevereiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

INTRODUÇÕESAOS SALMOS E CÂNTICOS

DE LAUDES E DE VÉSPERAS

Subsídios litúrgicospreparados pelo

P. José de Leão Cordeiro

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

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A VOZ DO PAPA

TODAS AS CRIATURASLOUVEM O SENHOR

Catequese sobre o Cântico de Daniel 3, 52-57

JANEIRO – MARÇO 2003 19

1. “Os três jovens então não tiveram se-não uma só voz para louvar, glorificar ebendizer a Deus, na fornalha” (Dn 3, 51).Esta frase introduz o Cântico solene queagora acabamos de ouvir num seu frag-mento fundamental. Ele encontra-se noLivro de Daniel, na parte que chegou aténós só em língua grega, e é entoado portestemunhas corajosas da fé, que nãoquiseram ajoelhar-se para adorar a estátuado rei e preferiram enfrentar uma mortetrágica, o martírio na fornalha ardente.

São três jovens hebreus, situados peloautor sagrado no contexto histórico do rei-no de Nabuconodosor, o terrível soberanoda Babilónia que aniquilou a cidade santade Jerusalém em 586 a.C. e deportou osIsraelitas “para as margens dos rios da Ba-bilónia” (cf. Sl 136). Mesmo no perigo ex-tremo, quando as chamas já atingem osseus corpos, eles encontram a força para“louvar, glorificar e bendizer a Deus” coma certeza de que o Senhor da criação e dahistória não os abandonará à morte e aonada.

2. O autor bíblico, que escreveu algunsséculos mais tarde, recorda este heróicoacontecimento para estimular os seus con-temporâneos a manterem alto o estandarteda fé durante as perseguições dos reis sí-rio-helénicos do segundo século a. C. Éprecisamente naquela época que se regista

a corajosa reacção dos Macabeus, comba-tentes pela liberdade da fé e da tradiçãohebraica.

O cântico, tradicionalmente chamado“dos três jovens”, assemelha-se a umachama que ilumina a obscuridade dotempo da opressão e da perseguição, umtempo que se repetiu muitas vezes nahistória de Israel e na própria história docristianismo. E nós sabemos que o perse-guidor nem sempre assume o rosto vio-lento e macabro do opressor, mas com fre-quência apraz-se em isolar o justo, com oengano e a ironia, perguntando-lhesarcasticamente: “Onde está o teu Deus?”(Sl 41, 4.11).

3. No louvor que os três jovens elevam,do crisol da sua prova, ao Senhor Omnipo-tente estão incluídas todas as criaturas.Eles tecem uma espécie de tapeçariamulticolor onde brilham os astros, passamas estações, se movem os animais, se apro-ximam os anjos e, sobretudo, onde cantamos “servos do Senhor”, os “piedosos” e os“humildes de coração” (cf. Dn 3, 85.87).

O trecho que há pouco foi proclamadoprecede esta magnífica recordação de to-das as criatuas. Constitui a primeira partedo Cântico que, por sua vez, recorda a pre-sença gloriosa do Senhor, transcendentemas próxima. Sim, porque Deus está nocéu, onde “penetra com o olhar os abis-

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mos” (cf. 3, 35), mas também se encontra“no templo santo e glorioso” de Sião (cf.3, 53). Ele está sentado no “trono do seureino” eterno e infinito (cf. 3, 54), mas étambém aquele que está “sentado sobre osquerubins” (cf. 3, 55), na arca da aliançacolocada no Santo dos Santos do templode Jerusalém.

4. Um Deus acima de nós, capaz de nossalvar com o seu poder; mas também umDeus próximo do seu povo, no meio doqual Ele quis habitar no seu “templo santoe glorioso”, manifestando assim o seuamor. Um amor que Ele revelará em pleni-tude fazendo “habitar entre nós”, o seuFilho Jesus Cristo “cheio de graça e deverdade” (cf. Jo 1, 14). Ele revelará emplenitude o seu amor enviando-nos o Filhopara partilhar em tudo, excepto o pecado, anossa condição marcada pelas provações,opressões, solidão e morte.

O louvor dos três jovens ao Deus Sal-vador continua de várias formas na Igreja.Por exemplo, São Clemente Romano, nofinal da sua Carta aos Coríntios, insereuma longa oração de louvor e confiança,completamente cheia de reminiscênciasbíblicas e na qual ressoa a antiga liturgiaromana. É uma oração de gratidão ao Se-nhor que, não obstante o aparente triunfodo mal, leva a história a bom termo.

5. Eis um trecho dessa oração: “Vós abriste os olhos do nosso cora-

ção (cf. Rf 1, 18) / para que Vos conhecês-semos a Vós, o Único (cf. Jo 17, 3) / Altís-simo no mais alto dos céus / o Santo querepousa entre os santos / que humilhais aviolência dos soberbos (cf. Is 13, 11) / quedesfazeis os desígnios dos povos (cf. Sl32, 10) / que exaltais os humildes / eabateis os soberbos (cf. Job 5, 11). / Vósque enriqueceis e empobreceis / que ma-tais e dais a vida (cf. Dt 32, 39) / o único

benfeitor dos espíritos / e Deus de todos oshomens / que perscrutais os abismos (cf.Dn 3, 55) / que observais as obras huma-nas / que socorreis quantos se encontramem perigo / e salvais os dispersos (cf. Jdt9, 11) / criador e guarda de todos os espíri-tos / que multiplicais os povos sobre a ter-ra / e que, entre todos, escolhestes os queVos amam / por meio de Jesus Cristo / ovosso Filho muito amado / mediante oqual nos instruístes, nos santificastes e noshonrastes” (Clemente Romano, Carta aosCoríntios, 59, 3: Os Padres apostólicos,Roma 1976, pp. 88-89).

JOÃO PAULO II

19 de Fevereiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

TODOS OS SERES VIVOSLOUVEM O SENHOR

Catequese sobre o Salmo 150

JANEIRO – MARÇO 2003 21

1. Ressoa pela segunda vez na Liturgiadas Laudes o Salmo 150, que acabamos deproclamar: um hino de festa, um aleluiaritmado pela música. Ele é o selo idealdentro do Saltério, o livro do louvor, docântico, da liturgia de Israel.

O texto é de uma admirável simplici-dade e transparência. Devemos apenasdeixar-nos atrair pelo insistente apelo alouvar o Senhor: “Louvai ao Senhor...louvai-O... louvai-O!”. Na abertura, Deusé apresentado sob dois aspectos funda-mentais do seu mistério. Ele é, sem dúvidatranscendente, misterioso, distinto donosso horizonte: a sua habitação real é o“santuário” celeste, o “firmamento do seupoder”, semelhante a uma fortaleza ina-cessível ao homem. Contudo, Ele estápróximo de nós: está presente no “santuá-rio” de Sião e age na história através dosseus “prodígios” que revelam e tornamexperimentável “a sua imensa grandeza”(cf. vv. 1-2).

2. Por conseguinte, entre a terra e o céuestabelece-se como que um canal de co-municação em que se encontram a acçãodo Senhor e o cântico de louvor dos fiéis.A Liturgia une os dois santuários, o temploterrestre e o céu infinito, Deus e o homem,o tempo e a eternidade.

Durante a oração nós realizamos umaespécie de subida para a luz divina e, aomesmo tempo, experimentamos uma des-

cida de Deus que se adapta ao nosso limitepara nos ouvir e nos falar, para se encon-trar connosco e nos salvar. O Salmistaestimula-nos imediatamente a um subsí-dio, a que devemos recorrer durante esteencontro de oração: o recurso aos instru-mentos musicais da orquestra do templode Jerusalém, como a trombeta, a harpa, acítara, o tambor, as flautas e os címbalos.Também o movimento do cortejo faziaparte do ritual hierosolimitano (cf. Sl 117,27). O mesmo apelo ressoa no Salmo 46,8: “Cantai hinos com toda a arte!”.

3. Portanto, é necessário descobrir e vi-ver constantemente a beleza da oração e daliturgia. É preciso pedir a Deus não só comfórmulas teologicamente exactas, mastambém de maneira bonita e digna.

A este propósito, a comunidade cristãdeve fazer um exame de consciência paraque obter cada vez mais, na liturgia, a be-leza da música e do cântico. É necessáriopurificar o culto de dispersões de estilo,de formas descuidadas de expressão, demúsicas e textos desleixados e poucoconformes com a grandeza do acto que secelebra.

A este propósito, é significativo oconvite da Carta aos Efésios, a evitarintemperanças e grosseirismos para deixarespaço à pureza do hino litúrgico: “Nãovos embriagueis com vinho, que leva àluxúria, mas enchei-vos do Espírito. Re-

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citai entre vós salmos, hinos e cânticos es-pirituais, cantando e louvando ao Senhorem vossos corações, dando sempre graças,por tudo, a Deus Pai, em nome de nossoSenhor Jesus Cristo” (5, 18-20).

4. O Salmista conclui, convidando “to-dos os seres vivos” ao louvor (cf. Sl 150,5), literalmente “cada sopro”, “cada respi-ro”, expressão que em hebraico designa“cada ser que respira”, sobretudo “cadahomem vivo” (cf. Dt 20, 16; Gs 10, 40; 11,11.14). Portanto, está envolvida no louvordivino, antes de mais, a criatura humanacom a sua voz e o seu coração. Com ela,são idealmente interpelados todos os seresvivos, todas as criaturas que respiram(cf. Gn 7, 22), para que elevem o seu hinode gratidão ao Criador pelo dom da exis-tência.

São Francisco coloca-se na continui-dade deste convite universal com o seusugestivo “Cântico do Irmão Sol”, com oqual convida a louvar e bendizer o Senhorpor todas as criaturas, reflexo da sua be-leza e da sua bondade (cf. Fontes Fran-ciscanas, 263).

5. Neste cântico devem participar demodo especial todos os fiéis, como sugerea Carta aos Colossenses: “A palavra deCristo permaneça em vós abundantementeem toda a sabedoria, ensinando-vos eadmoestando-vos uns aos outros, com sal-mos, hinos e cânticos espirituais; cantandosob a acção da graça, louvores a Deus”(3, 16).

A este propósito, nas suas Exposiçõessobre os Salmos Santo Agostinho vêsimbolizados nos instrumentos musicaisos Santos que louvam a Deus: “Vós,Santos, sois a trombeta, o saltério, a cítara,o tambor, o coro, as cordas, o órgão e oscímbalos do júbilo que produzem lindossons, isto é, que tocam harmoniosamente.

Vós sois todas estas coisas. Não pense-mos, ao ouvir o Salmo, em coisas de pou-co valor, em coisas transitórias, nem eminstrumentos teatrais”. Na realidade, é vozde louvor a Deus “qualquer espírito quelouva o Senhor” (Exposições sobre os Sal-mos, IV, Roma 1977, pp. 934-935).

Por conseguinte, a música mais nobreé a que se eleva dos nossos corações. Éprecisamente esta harmonia que Deus es-pera ouvir nas nossas liturgias.

JOÃO PAULO II

26 de Fevereiro de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A VOZ DO PAPA

DESÇA SOBRE NÓSA BONDADE DO SENHOR

Catequese sobre o Salmo 89

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1. Os versículos que agora ressoaram aosnossos ouvidos e aos nossos coraçõesconstituem uma meditação sábia que tem,contudo, também uma entoação de súpli-ca. De facto, o orante do Salmo 89 colocano centro da sua oração um dos temas maisexplorados da filosofia, mais cantadospela poesia, mais sentidos pela experiên-cia da humanidade de todos os tempos e detodas as regiões do nosso planeta: a cadu-cidade humana e a fluência do tempo.

Pensamos em certas páginas inesque-cíveis do Livro de Job nas quais é focada anossa fragilidade. De facto, nós somoscomo “os que habitam moradas de barro eque têm sua origem no pó! São esmagadoscomo um verme, entre a noite e a manhãsão aniquilados. Desaparecem para sem-pre e ninguém se recorda deles” (4, 20-21). A nossa vida na terra é “como umasombra” (cf. Job 8, 9). É ainda Job quemconfessa: “os meus dias passaram mais rá-pidos que um corcel, fugiram sem teremvisto a felicidade. Passaram como barcasde junco. Como a águia que se precipitasobre a presa” (9, 25-26).

2. No começo do seu cântico, que se pa-rece com uma elegia (cf. Sl 89, 2-6), o Sal-mista opõe com insistência a eternidade deDeus ao tempo efémero do homem. Eis adeclaração mais explícita: “Mil anos, di-ante de Vós, são como o dia de ontem quejá passou, ou como uma vigília da noite”(v. 4).

Como consequência do pecado origi-nal, de uma ordem divina, volta a cair napoeira da qual foi tirado, como já se afirmana narração do Génesis: “Recorda-te queés pó e em pó te tornarás!” (3, 19; cf. 2, 7).O Criador, que dá forma em toda a sua be-leza e complexidade à criatura humana, étambém aquele que “reduz o homem aopó” (Sl 89, 3). E “pó” na linguagem bíblicaé expressão simbólica também da morte,do inferno, do silêncio sepulcral.

3. Nesta súplica é forte o sentido da limi-tação humana. A nossa existência tem afragilidade da erva que brota ao alvorecer; imediatamente ouve o barulho da foiceque a reduz a um feixe de erva. Muito de-pressa, o viço da vida é substituído pelaaridez da morte (cf. vv. 5-6; cf. Is 40, 6-7;Job 14, 1-2; Sl 102, 14-16).

Como acontece com frequência noAntigo Testamento, a esta debilidade radi-cal o Salmista associa o pecado: existe emnós a limitação, mas também a culpa. Porisso, a cólera e o juízo do Senhor parecemameaçar também a nossa existência: “So-mos consumidos pela vossa ira, estarre-cidos pelo vosso furor. Pusestes as nossasculpas diante de Vós... Todos os nossosdias se esvanecem perante o vosso desa-grado” (Sl 89, 7-9).

4. Com o aparecimento do novo dia aLiturgia das Laudes desperta-nos, comeste Salmo, das nossas ilusões e do nosso

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orgulho. A vida humana é limitada “asoma da nossa vida é de setenta anos, osmais fortes chegam aos oitenta” afirma oorante. Além disso, o passar das horas, dosdias e dos meses é marcado pela “canseirae pelo sofrimento” (cf. v. 10) e os mesmosanos revelam-se ser semelhantes a “um so-pro” (cf. v. 9).

Eis, então, a grande lição: o Senhorensina-nos a “contar os nossos dias” por-que, “aceitando-os com realismo sadio,“alcançaremos a sabedoria do coração” (v.12). Mas o orante pede a Deus algo mais: asua graça ampare e dê alegria aos nossosdias, apesar de serem escassos e marcadospelas provações. Faça com que saboree-mos a esperança, mesmo se o passar dotempo parece arrastar-nos. Só a graça doSenhor pode dar consistência e perenidadeàs nossas acções quotidianas: “Venhamsobre nós as graças do Senhor, nossoDeus; consolidai em nós a obra das nossasmãos, fazei que prospere a obra das nossasmãos” (v. 17).

Pedimos a Deus com a oração que umreflexo da eternidade penetre a nossa vidabreve e as nossas acções. Com a presençada graça divina em nós, uma luz brilharácom o passar dos dias, a miséria tornar--se-á glória, o que parece estar privado desentido adquirirá significado.

5. Concluímos a nossa reflexão sobre oSalmo 89 deixando a palavra à antigatradição cristã, que comenta o Saltério ten-do como base a figura gloriosa de Cristo.Assim, para o escritor cristão Orígenes, noseu Tratado sobre os Salmos, que chegouaté nós com a tradução latina de São Jeró-nimo, é a ressurreição de Cristo que nos dáa possibilidade, pressentida pelo Salmista,de “exultar e rejubilar todos os dias danossa vida” (cf. v. 14). E isto porque a Pás-coa de Cristo é a fonte da nossa vida para

além da morte: “Depois de nos termosalegrado com a ressurreição de nosso Se-nhor, mediante a qual já acreditamos quefomos redimidos e que um dia também nósressuscitaremos, agora, transcorrendo naalegria os dias da nossa vida que ainda nosfalta viver, exultamos por esta confiança, ecom hinos e cânticos espirituais louvamosDeus através de Jesus Cristo nosso Se-nhor” (Orígenes Jerónimo, 74 homilias so-bre o livro dos Salmos, Milão 1993, pág.652).

JOÃO PAULO II

26 de Março de 2003Transcrito de L'Osservatore Romano

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A LITURGIA EUCARÍSTICAEstrutura da Oração Eucarística II

[IGMR 78-79 (54-55)]

MISSA

4 – DEPOIS DO SANTO

Para fazer a ligação entre a aclamaçãoda santidade de Deus no Santo e a invoca-ção do Espírito Santo em ordem à consa-gração, na epiclese, introduz-se a seguir aoSanto uma breve fórmula de transição, queos antigos designavam simplesmente De-pois do Santo (Post Sanctus) ou com aspróprias palavras do texto: Vere Sanctus(VS), como se lê nos manuscritos. Não temoutro nome.

O texto do Vere Sanctus faz a ligaçãoda aclamação do Santo com a epiclese quevem a seguir através da ideia de santidade:Vós, Senhor, sois verdadeiramemte Santo,sois a fonte de toda a santidade: santificaiestes dons… O que é uma transição cheiade verdade e de beleza.

Outras liturgias, sobretudo orientais,foram por outro caminho. Partindo da ex-pressão O céu e a terra estão cheios davossa glória, pedem, na continuação daideia de plenitude (estão cheios: plenisunt), que Deus encha agora este altar coma sua benção em ordem à consagração dosdons.

a) Embolismos

Chamam-se embolismos certas fórmu-las variáveis que se intercalam ocasional-mente dentro de outras, para as desenvol-ver ou precisar em determinadas circuns-

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tâncias. São assim os textos breves que seintroduzem na Oração Eucarística, antesde passar à epiclese, aos Domingos e emdeterminadas solenidades para evocar omistério celebrado nesses dias, por ex.:Reunidos na vossa presença,… ao cele-brarmos o Dia santíssimo da Ressurreiçãode Nosso Senhor segundo a carne… Háoutros embolismos na celebração dos sa-cramentos, como no Baptismo das crian-ças: Lembrai-vos também dos nossos ir-mãos N. e N., que hoje libertastes do peca-do e fizestes renascer da água e do Espíri-to Santo para serem membros de Cristovosso Filho; fazei, Senhor, que os seus no-mes sejam inscritos no livro da vida.

b) Epiclese

A palavra epiclese significa literal-mente invocação; é uma súplica ao Espíri-to Santo para que desça e realize a obra desantificação para a qual a Igreja faz aquelainvocação.

Neste momento, a epiclese pede a gra-ça da consagração dos dons colocados so-bre o altar, o pão e o vinho; é por isso cha-mada epiclese da consagração: Santificaiestes dons derramando sobre eles o Espí-rito Santo de modo que se convertam paranós no Corpo e Sangue de Nosso SenhorJesus Cristo. De facto, é a graça do Espíri-to Santo que realiza a acção dos sacramen-tos, de que o ministro é instrumento, no

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prolongamento da humanidade do SenhorJesus (SC 5). Este momento é dos mais so-lenes da celebração.

As palavras da epiclese são acompa-nhadas de um gesto que melhor explicita osentido dessa oração, a imposição dasmãos sobre os dons e o sinal da cruz sobreos mesmos dons. É actualmente o únicosinal da cruz em toda a Oração Eucarísti-ca, em lugar dos vinte e cinco que anterior-mente existiam no cânone romano, a únicaOração Eucarística desse tempo.

Depois da consagração, há uma segun-da epiclese ou, melhor, uma segunda parteda epiclese, agora a pedir que a hóstiaimaculada, que vai ser recebida na comu-nhão, opere a salvação daqueles que delavão participar [IGMR 79 (55c).] É a epi-clese da comunhão.

Foi Paulo VI que, para evitar possíveismal-entendidos em quem estivesse habitu-ado a outras maneiras de pensar mais “es-colares”, assim dividiu em duas partes aepiclese, que noutras lirturgias vem todadepois da consagração.

No cânone romano não se fazia refe-rência especial ao Espírito Santo. Tudo seexplicava pelo poder do sacerdote. Nós, osocidentais, somos mais levados pelo “po-der”, esquecendo que todo o poder naIgreja é graça do Espírito Santo. Já o acre-ditávamos, mas não o dizíamos!

c) Narração da instituiçãoe consagração

As últimas palavras da epiclese intro-duzem a narração da instituição.

O texto desta narração não se identifi-ca com nenhuma das narrações da SagradaEscritura, que são quatro: Mt 26,26-30;Mc 14,17.22-26; Lc 22,14-20; 1Cor11,23-26; nem com o das outras OraçõesEucarísticas, – e são muitas nas várias

liturgias –, nem estas são idênticas entre si.Esta variedade e diferenciação vem dofacto de a comunidade cristã já celebrar aEucaristia antes de S. Paulo e os Evange-listas terem lançado mão da pena para re-digir os seus escritos (cf. JUNGMANN,o.c., p. 211). De todos os textos bíblicos, omais antigo é o de São Paulo, escrito peloano cinquenta e cinco. Nos cerca de vintee cinco anos após a Ressurreição já a co-munidade cristã dava cumprimento aomandato do Senhor com que termina anarração da Ceia: Fazei isto em memóriade Mim. Quer dizer que a celebração daEucaristia antecedeu a narração biblícada mesma, o que é normal. A palavra doSenhor foi ouvida pelos discípulos direc-tamente da sua própria boca e logo a puse-ram em prática.

Na Oração Eucarística a narração dainstituição é extremamente sóbria, limi-tando-se a narrar o que o Senhor fez e dis-se na última ceia e que Ele mandou quefosse feito em sua memória.

Como estamos comentando a OraçãoEucarística II, a mais antiga, não vamosconfrontá-la com as outras Orações Euca-rísticas, quer do Missal quer de outras li-turgias. Em muitas destas, a narração dainstituição da Eucaristia enriqueceu-secom outros elementos, de palavras e ges-tos, alguns muito expressivos; mas, comofrequentemente acontece, querer fazermais rico, nem sempre é conseguir fazermais belo, como já o afirmava um sábio daantiguidade.

O texto da Oração Eucarística estabe-lece, logo desde o princípio, a ligação daEucaristia com a Paixão do Senhor: Nahora em que Ele Se entregava para volun-tariamente sofrer a morte…. A celebraçãoda Eucaristia é a celebração do mistériopascal, da passagem do Senhor deste mun-do para o Pai, como explica São João logo

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ao começar a narração da ceia: SabendoJesus que chegara a hora de passar destemundo para o Pai… (Jo 13,1).

A narração da instituição continuadentro da Oração Eucarística, em ambien-te de oração, dirigida, como toda ela, sem-pre ao Pai: Dando graças… Não é portan-to uma simples narração como se fosseuma leitura bíblica.

A Eucaristia foi instituída durante aceia, muito provavelmente a ceia pascaljudaica; e, na ceia, o primeiro gesto é opartir do pão acompanhado de uma pala-vra de benção, isto é, de bendizer e dargraças. Primeiro agradece-se o pão que oSenhor nos põe na mesa para o dar a co-mer. Jesus tomou o pão, isto é, pegou nopão, deu graças e partiu-o. Daí que o nomeprimitivo da Eucaristia fosse fracção dopão (o partir do pão). Era o primeiro gestoque se podia observar (cf. Lc 24,35).

Mas o Senhor logo explica que aquelepão é agora o seu Corpo. Vale a pena ouvira catequese mistagógica que a este respei-to faz Santo Ambrósio, o catequista deSanto Agostinho:

“É a palavra de Cristo que realiza estesacramento. Qual palavra de Cristo?Aquela pela qual tudo foi feito. O Senhorordenou; a terra foi feita. O Senhor orde-nou; os mares foram feitos. O Senhor or-denou; todas as criaturas foram criadas.Vê como a palavra de Cristo é eficaz! Sena palavra de Jesus há tão grande força,que o que não era começava a existir,quanto mas ela é eficaz para fazer com queo que era exista e seja mudado noutra coi-sa. Não havia céu, não havia mar, não ha-via terra, mas escuta David que diz: Eledisse e foi feito, Ele ordenou e foi criado(Sl 32,9). Para te responder, antes da con-sagração não era o Corpo de Cristo, masdepois da consagração digo-te que já é oCorpo de Cristo. Ele disse e foi feito; Ele

ordenou e foi criado. Tu próprio existias,mas eras uma velha criatura; depois de te-res sido consagrado, começaste a ser umanova criatura. Queres saber quanto é novaesta criatura? Quem está em Cristo, é umanova criatura (2Cor 5, 17). Escuta como apalavra de Cristo costuma mudar todas ascriaturas e muda quando quer as leis danatureza. Perguntas como? Escuta, e to-memos o exemplo do seu nascimento. Deordinário, um homem é gerado por um ho-mem e uma mulher e respectivas relaçõesconjugais; mas, porque o Senhor assim oquis, foi do Espírito Santo e da Virgem queCristo nasceu. Vês, portanto, que contrari-amente às leis e à ordem da natureza, umhomem nasceu de uma Virgem” (De Sacr.,IV).

Na ceia judaica, o partir do pão junta-mente com outros ritos secundários, abriaa refeição. Depois vinha o prato forte daceia, a manducação do cordeiro pascal,comido sem outros ritos especiaias; masna celebração eucarística o Cordeiro vaiser agora o pão e o vinho consagrados;passou o tempo das figuras, chegou a horada realidade, embora ainda em sacra-mento.

A Oração Eucarística passa em claro oque na ceia pascal se referia à manducaçãodo cordeiro e vai logo à procura da grandebenção que acompanha a última taça devinho, por isso chamada o cálice dabenção.

A ligação entre o que se referia ao pãoe o que vai agora referir-se ao vinho é fei-ta, na Oração Eucarística, por uma simplesexpresssão adverbial: De igual modo… Eé assim que logo se diz: …no fim da Ceia,… e repetem-se os gestos semelhantes aosque se fizeram sobre o pão, acompanhadosdas palavras agora referentes ao cálice: to-mou o cálice e, dando graças, deu-o aosseus discípulos.

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A narração da instituição e dentro delaas chamadas palavras da consagração nãopodem ser separadas do seu contexto. Es-tamos dentro de uma oração toda eladirigida ao Pai, da qual fazem parte as pró-prias palavras de Jesus com a mesma efi-cácia com que Ele as pronunciou na últimaceia, embora ditas agora pelo seu ministro,que para tal foi tornado capaz por meio dosacramento da Ordem.

O texto português repete a referênciaao Sangue: O cálice do meu Sangue, oSangue da nova e eterna aliança. Estarepetição não vem no texto latino; foicertamente encontrada para obter umritmo literário mais natural. Aliás, repeti-ção semelhante encontra-se também emoutras traduções.

A expressão Sangue da nova aliançaestabelece o contraste com a aliança anti-ga, celebrada por Moisés junto do monteSinai no regresso do Egipto: Moisés tomouo sangue, aspergiu-o sobre o povo e disse:“Este é o sangue da aliança que Deusconcluiu convosco” (Ex 24,8). Aquela eraa aliança antiga; o Sangue de Jesus, ofere-cido na ceia e derramado na cruz, sela anova aliança no meu Sangue, diz o Senhor(Lc 22,20; cf. Mt 26,28; 1Cor 11,25; Jer31-32). De facto, dizendo nova aliança,torna velha a primeira (He 8,8.13). O qua-lificativo nova e eterna encontra apoio bí-blico, por ex., em He 7,20ss e outros.

A seguir, o texto apresenta como queum certo desenvolvimento teológico sobreo sentido e o fruto do sacrifício do Senhor,que sacramentalmente se actualiza: San-gue derramado por vós e por todos pararemissão dos pecados, pois todas as vezesque celebramos o memorial deste sacri-fício realiza-se a obra da redenção (Or.Sobre as Oblatas na 5ª Feira Santa e noDom. II do T.C.).

E segue-se o mandato do Senhor paraa reiteração da celebração eucarística:

Fazei isto em memória de Mim. O Senhornão quis simplesmente que meditássemosno que Ele estava a fazer, mas que fizés-semos isto, aquilo mesmo que Ele agorafazia. De facto, a liturgia é acção, a “acçãosagrada por excelência a cujo título e graude eficácia nenhuma outra acção da Igrejase equipara” (SC 7).

A narração da instituição terminacom o mandato do Senhor: Fazei isto emmemória de Mim, isto é, como meu memo-rial, que mais claramente apresentaremosna anamnese que virá a seguir. Tentaremosentão analisar o sentido de memória e me-morial.

As diversas liturgias e cada uma delasatravés das várias épocas procuraramsublinhar este momento da Oração Euca-rística, mas muitas o fizeram deixando delado o seu sentido mais profundo e valori-zando aspectos, sem dúvida importantes,mas não principais.

Os que estão agora em vigor são os se-guintes:a) a ostenção à assembleia do pão e do

vinho consagrados, imediatamente aseguir à formulação da consagração decada um dos elementos;

b) a genuflexão do presidente depois decada uma das elevações, em sinal deadoração

c) a aclamação por parte dos nãoconcelebrante, introduzida pelo presi-dente: Mistério da fé ou outra;

d) a atitude de joelhos da assembleiadurante a consagração, “excepto se afalta de saúde ou a estreiteza do lugarou o grande número dos presentes ououtros motivos razoáveis a isso obs-tarem”. Os que não genuflectem àconsagração façam uma inclinaçãoprofunda enquanto o sacerdote genu-flecte [43 (21)];

e) o Cerimonial dos Bispos prevê que, naMissa estacional, “um dos diáconos

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deite incenso no turíbulo e incense aHóstia e o Cálice a cada elevação” (CB155).

A liturgia romana, durante o primeiromilénio, não tentou tirar do momento daconsagração consequências rituais. Foi noséculo XI que apareceram, a par de umcuidado mais atento ao que respeita aoSantíssimo Sacramento, os primeiros in-dícios de uma nova atitude (cf.JUNGMANN, ib., p.122).

d) Mistério da fé

A expressão Mistério da fé, que temestado desde longa data dentro das pala-vras da consagração do vinho, encontra-sejá nos sacramentários desde o século VII.O sentido original de tal exclamação, por-que se trata de uma exclamação, aindahoje é objecto de desacordo entre os enten-didos. O Missal anterior ao actual costu-mava apresentá-la entre dois pontos antese outros dois depois, ou mesmo entre pa-rênteses, o que era o mesmo. Na recentereforma litúrgica parecia normal que a ex-

pressão fosse retirada daquele lugar oumesmo que desparecesse. Mas foi de novoPaulo VI que, desejando que ela nãodesparecesse de todo, fez dela uma excla-mação do presidente seguida de uma acla-mação do povo. Esta aclamação dirige-seclaramente ao Senhor, a Cristo: Anuncia-mos a vossa morte, proclamamos a vossaressurreição.

O Vinde, Senhor Jesus pretende tradu-zir a expresssão latina donec venias: até àvossa vinda, isto é: celebramos a Eucaris-tia e assim anunciamos a vossa morte, pro-clamamos a vossa ressurreição, enquantonão chega a vossa vinda gloriosa. São Pau-lo dirá: todas as vezes que comerdes destepão e beberdes deste cálice, anunciareis amorte do Senhor até que Ele venha (1 Cor11,26). A Eucaristia é o sacramento queacompanha a Igreja ao longo da sua pere-grinação sobre a terra. A versão portugue-sa pretendeu dar esta mesma ideia na invo-cação Vinde, Senhor Jesus; não é portantouma invocação para que o Senhor (Jesus)desça sobre o altar; a fórmula da consagra-ção já foi dita.

Os concelebrantes não intervêem nes-ta aclamação do povo que se dirige a Cris-to. Escutam-na em silêncio para logo con-tinuarem a oração dirigida ao Pai: Cele-brando agora, Senhor (o Pai).

A assembleia vai escutando em silên-cio toda a grande Oração Eucarística, a elase unindo em profunda atitude de fé, espe-rança e caridade.

JOSÉ FERREIRA

MISSAL POPULAR DOMINICAL

Nova ediçãocom introduções do

Cónego José Ferreira

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CANTAR NA LITURGIAMúsicaspara a celebraçãoda Liturgia das Horase da Missa.Esta colecçãovai no terceiro livroe tem projectospara todasas celebraçõese tempos litúrgicos,sempre a partirdas propostasdos livros litúrgicos.

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CURSO PARA ACÓLITOS

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O acólito na primeira parte da Missa

1. Tempo de oração• Acolhimento• Sinal da cruz• Pequena oração

2. O acólito prepara-separa a Missa

Nas lições anteriores já dissemos algu-mas coisas sobre os preparativos da Missa.Vamos recordá-las e completá-las. O acó-lito será tanto mais perfeito no seu serviçolitúrgico, quanto melhor aprender e maisperfeitamente realizar cada pormenor dasua função.

Começamos por recordar que nenhumacólito deve chegar atrasado à igreja, por-que, antes da Missa começar, cada um temvárias coisas a fazer.

A primeira de todas é a preparação es-piritual para participar na celebração. Esteponto deve ser levado muito a sério portodos os acólitos, sem excepção, desde osmaiores aos mais pequenos. O que é pre-parar-se espiritualmente para a celebraçãoda Missa? É chegar a horas à igreja, ajoe-lhar-se, fazer o sinal da cruz e falar, duran-te breves momentos, com o Senhor, pre-sente no pão consagrado do sacrário e tam-bém na comunidade ali reunida.

ACÓLITOSACÓLITOS

JANEIRO – MARÇO 2003 31

Só depois, e sem pressas, é que o acó-lito faz a sua segunda preparação, não jáinterior, mas exterior. Em que consisteela? Em vestir a túnica e em ajudar os maisnovos a fazer o mesmo.

Questões práticas:

— Quando é que um acólito é perfeito noseu serviço litúrgico?

— O que entendes por «chegar a horas»à igreja?

— Em que consiste a preparação espi-ritual do acólito para participar naMissa?

3. Preparar as coisasno presbitérioEm cada celebração deve haver um

acólito responsável pelos outros e pela co-ordenação de tudo o que a todos diz res-peito. Vamos chamar-lhe primeiro dosacólitos. Há também os acólitos designa-dos para cada um dos serviços: acólito doturíbulo ou turiferário, acólito da cruz,acólitos dos círios ou ceroferários, e ou-tros acólitos designados para outros servi-ços (por exemplo, o acólito do livro, osacólitos que colocam sobre o altar o corpo-ral, o sanguinho, o cálice e o Missal ou queos apresentam ao presidente, os que aju-

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dam o presidente a receber os dons dopovo, os que lhe entregam a patena ou ovaso com o pão, o vinho e a água, os quelhe apresentam as lavandas, e aqueles quehão-de acompanhar os ministros durante adistribuição da comunhão, segurando abandeja).

Entre todos estes tem função especialo acólito do livro, ou seja, o acólito queapresenta, ao presidente da celebração, oMissal e a Oração dos fiéis. Este acólitodeve ter o cuidado de pôr o Missal no seulugar, devidamente marcado, e de ver qualé a fita que indica as orações do dia, paranão as confundir ao apresentar o livro aopresidente. Se o sacristão já tiver posto oMissal no seu lugar, nem por isso o acólitodeve deixar de ir verificar onde o deveabrir.

Embora a preparação dos outros livroslitúrgicos da Missa pertença aos leitores eao salmista, o primeiro dos acólitos deveverificar se todos eles (Leccionário, Ora-ção dos fiéis e Livro dos Salmos) estão nosrespectivos lugares e devidamente marca-dos.

O primeiro dos acólitos deve verificartambém se, na credência (ou no fundo daigreja, sobre uma mesa, quando houverprocissão com os dons) estão: o cálice, ocorporal, o sanguinho e, se for preciso, apala; a patena e a píxide, se esta for ne-cessária; o pão para a Comunhão do sacer-dote, dos ministros e do povo; as galhetascom vinho e água; a caldeirinha com águae o hissope ou um ramo, quando se fizer aaspersão; a bandeja ou bandejas para aComunhão dos fiéis; e o que é preciso parao sacerdote lavar as mãos (jarra com água,bacia e toalha ou manustérgio). O cálicepode estar coberto com o véu da cor do diaou branco.

Para que os acólitos aprendam a fazerbem os diversos serviços litúrgicos que

lhes dizem respeito, devem-nos realizarrotativamente. Para isso é bom que, naigreja, haja um quadro com os nomes e asfunções de cada um em cada domingo e, sefor caso disso, também durante a semana.

Questões práticas:

— Quais são as funções do primeiro dosacólitos?

— Que cuidados deve ter o acólito dolivro relativamente ao Missal?

— Como proceder para que todos osacólitos aprendam a fazer bem tudo oque lhes compete?

4. Preparar as coisasna sacristiaou no fundo da IgrejaNa sacristia (ou no fundo da igreja,

sobre uma mesa, quando a procissão deentrada partir daí) preparam-se as vestes:para o presidente: a alva, a estola e acasula; para o diácono (quando ele estiverpresente): a alva, a estola e a dalmática;para os outros ministros: as alvas ou astúnicas.

Também aí se devem preparar outrascoisas: o Evangeliário, que será levado naprocissão por um leitor; o turíbulo e anaveta com incenso (quando este se usar);a cruz processional; e os castiçais com cí-rios ou velas.

Questões práticas:

— Que coisas se preparam no presbitérioe na credência?

— Como se chamam as vestes litúrgicas eos ministros que as usam?

— Que outras coisas se preparam na sa-cristia?

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5. A procissão de entradae os ritos iniciaisTudo o que dissemos até este mo-

mento na lição de hoje foi a propósito dapreparação das pessoas e das coisas para aMissa. Chegou o momento de falar dacelebração em si mesma.

A Missa começa pela procissão deentrada. Esta procissão, pelo menos nosdias mais festivos, parte da sacristia (ou dofundo da igreja), e daí, passando pelacoxia central, dirige-se para o presbitério,enquanto o coro canta o cântico de en-trada.

A procissão organiza-se assim: acólitodo turíbulo, com o turíbulo fumegante;acólito da cruz, com a cruz processional;pelo menos dois acólitos dos círios, quecaminham ao lado do acólito da cruz, comcírios acesos, nos castiçais; outrosacólitos, de entre os que designámos aci-ma, e que sejam necessários para uma ce-lebração bela e harmoniosa; leitor, com oEvangeliário um pouco elevado; diáconoou diáconos (quando estiverem presentes);presbíteros concelebrantes (quando esti-verem presentes); presidente da celebra-ção (bispo ou presbítero).

Ao chegarem junto do altar, todosfazem inclinação profunda; se no presbité-rio houver sacrário com o Santíssimo Sa-cramento, todos genuflectem, excepto oacólito da cruz e os acólitos dos círios.

Os acólitos colocam a cruz e os casti-çais junto do altar e o leitor depõe o Evan-geliário no centro do altar; se não houverincensação, todos ocupam imediatamenteos seus lugares e participam activamentena celebração, cantando e respondendo àssaudações do presidente.

Os ritos iniciais da Missa terminampela oração Colecta. Quando o presidentediz ou canta: Oremos, o acólito do livro

vai buscar o Missal e apresenta-o, aberto,ao presidente, segurando-o com ambas asmãos. Depois de o povo dizer: Amen, oacólito depõe o Missal no seu lugar.

O acólito do livro deve aprender aabrir o Missal e a segurá-lo, à altura devi-da, mas sem amarrotar ou sujar as folhas.Para isso não se esqueça de lavar muitobem as mãos antes de a Missa começar.

Questões práticas:

— O que é a procissão de entrada e comose organiza?

— Como se chamam os diversos acólitosque podem tomar parte na procissãode entrada e qual é a função de cadaum?

— Que coisas deve aprender o acólito dolivro?

6. A Liturgia da Palavra

Terminados os ritos iniciais da Missa,começa imediatamente a Liturgia da Pala-vra. Escusado será dizer que os acólitos adevem escutar com toda a atenção e fé.É Deus que lhes fala pela voz dos leitores.Já dissemos, noutra lição, qual deve sera atitude dos acólitos. Eles vão ser vistospor toda a assembleia. Principalmente ascrianças e os jovens vão ter os olhospostos neles. Nada lhes vai escapar.

Cada vez que um leitor ou o salmistavai para o ambão, pode ser acompanhadopor um acólito; mas não é obrigatório. Nãose deve fazer isso habitualmente, masapenas nos dias mais solenes. Quando sefizer, o acólito vai até junto do leitor ou dosalmista, e acompanha-o até ao ambão;depois vai sentar-se e, quando a leitura ouo canto termina, levanta-se e acompanhade novo o leitor ou o salmista ao seu lugar.

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Quando tiver sido lida a segunda leitu-ra, um acólito vai tirar o Leccionário doambão, para que aí seja colocado o Evan-geliário. E se houver procissão solene como Evangeliário, tomam parte na procissãoo acólito do turíbulo e os acólitos comcírios acesos, que se colocam junto doambão, um de cada lado daquele queproclama o Evangelho, ou onde der maisjeito, de modo a não impedir a visibilidadeaos fiéis. Terminada a proclamação doEvangelho, colocam os castiçais no lugaronde foram buscá-los.

Durante a homilia devem escutar comatenção; e se o presidente chamar algum,este deve fazer o que lhe for pedido comdesembaraço e simplicidade, mas sem darnas vistas.

Ao terminar a recitação do Símbolo dafé ou Credo, um dos acólitos, se o presi-dente for para a sua cadeira, leva-lhe olivro da Oração dos fiéis, e apresenta-lhoaberto. Caso contrário leva o livro para oambão, e entrega-o ao presidente que aíse encontra ou coloca-o ele próprio naestante do ambão.

Questões práticas:

— Durante a Liturgia da Palavra qualdeve ser a principal atitude dosacólitos?

— Como se organiza a procissão com oEvangeliário?

— Que outras coisas podem fazer osacólitos em celebrações mais solenes?

JOSÉ DE LEÃO CORDEIRO

PEREGRINAÇÃO NACIONALDOS ACÓLITOS A FÁTIMA

1 de Maio de 2003

09h00 – Paramentação no Centro Paulo VI.10h00 – Caminhada da Cruz Alta à Capelinha.10h15 – Terço preparado pela Diocese de Portalegre e Castelo Branco.

– Preside o Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia:Dom António Maria Bessa Taipa.

11h00 – Missa e Consagração dos Acólitos a Nossa Senhora.– Almoço e convívio– Recomenda-se, na medida do possível, a participação na

17h30 – Procissão Eucarística

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LEITORES

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O MINISTÉRIO LITÚRGICODOS LEITORES

A Missa consta, por assim dizer,de duas partes

Queria ajudar-vos a compreender aarticulação da primeira parte da missa(Liturgia da Palavra) com a segunda parte(Liturgia da Eucaristia) ou seja, das lei-turas que se fazem na primeira parte dacelebração, com os gestos e orações quepreenchem toda a segunda parte da missa.

À primeira vista parece que não há ne-nhuma relação nem articulação entre elas,e que se trata de duas partes distintas e in-dependentes, o que parece ser confirmadopor algumas observações simples: o nomee o conteúdo de cada uma dessas duas par-tes são diversos (Liturgia da Palavra: lei-turas e salmo – Liturgia da Eucaristia:Corpo e Sangue do Senhor); os lugaresonde as duas partes se realizam pouco têmde comum entre si (o ambão – o altar); osintervenientes em cada uma dessa partessão diferentes (leitores e salmista na pri-meira – diácono-acólitos-ministros da co-munhão e presidente na segunda).

Se levarmos mais longe a observação,essa primeira impressão ganha contornosmais nítidos. Assim, a primeira parte éconstituída quase só por palavras, lidas oucantadas: primeira leitura, salmo respon-sorial, segunda leitura, canto de aclamaçãoantes do Evangelho, terceira leitura, ho-milia, Símbolo da fé, Oração dos fiéis.Na segunda, pelo contrário, há uma exube-rância de gestos: recolha e procissão dosdons, preparação do altar com o missal, o

cálice e o corporal, entrega do pão e dovinho com água ao presidente que os apre-senta, elevando-os um pouco para depoisos colocar no altar, incensação dos dons,purificação das mãos, braços abertos eelevados durante a maior parte da Oraçãoeucarística, imposição das mãos na epi-clese, pão e cálice tomados nas mãos pelopresidente durante a consagração, sua ele-vação consecutiva e deposição no altar,elevação conjunta do pão e do cálice nofinal da Oração eucarística, elevação dasmãos durante a recitação do Pai-Nosso eembolismo, abraço da paz, fracção do pão,distribuição da comunhão a cada comun-gante que o recebe na mão ou na boca,reposição do pão consagrado no taber-náculo, purificação dos vasos e seu trans-porte para a credência, bênção da assem-bleia e saudação do altar com um beijo ouuma inclinação.

Primeira conclusão: há muitas dife-renças entre a primeira e a segunda parteda missa. Naquela predominam as pala-vras, nesta a primazia pertence aos gestos.

«Estas duas partes estão,porém, estreitamente

ligadas entre si»

Ao chamarmos a atenção para estasdiferenças, não estamos a afirmar que na

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primeira parte da missa não há gestos.Eles são, aliás, muito fáceis de enumerar:procissão de entrada, deposição do Evan-geliário no altar e veneração deste pelosconcelebrantes, ocupação dos respectivoslugares por cada um dos ministros, sinalda cruz e saudação do presidente abrindo efechando os braços, apresentação doMissal ao presidente pelo acólito para aprimeira oração, assembleia que se sentapara escutar a palavra, deslocações dos lei-tores e do salmista, assembleia que se põede pé para escutar a leitura do Evangelho,procissão com o Evangeliário do altar parao ambão, levado pelo diácono e acompa-nhado pelos acólitos com círios acesos eturíbulo fumegante, incensação do livrono ambão, assembleia que se senta durantea homilia e que depois se levanta para oCredo e a Oração dos fiéis.

Mas, se repararmos bem, notamos quehá uma diferença entre estes gestos e osque enumerámos na segunda parte damissa. Cada um dos da Liturgia da Euca-ristia têm valor em si mesmos, pois se des-tinam a levar a cabo determinada acçãoque, sem esse gesto, não seria realizada.São todos indispensáveis. Bem diferentessão quase todos os da primeira parte damissa, que só existem por causa da pala-vra, mas alguns dos quais não são abso-lutamente necessários: o Evangeliáriotraz-se na procissão de entrada e depõe-seno altar porque a proclamação do Evan-gelho pode ser feita por ele (mas se nãohouver Evangeliário, a proclamaçãofaz-se a partir do Leccionário), a assem-bleia senta-se para melhor escutar a pala-vra, os leitores e o salmista deslocam-se aoambão para daí lerem ou cantarem a pa-lavra, a assembleia põe-se de pé ao mes-mo tempo que se canta o aleluia e que teminício a procissão do Evangeliário paraque, no ambão, se proclame a palavra de

Jesus (mas pode não haver procissão doEvangeliário, nem círios, nem incenso), aassembleia volta a sentar-se para ouvir ocomentário à palavra feito pelo presidentee levanta-se para proclamar a fé e res-ponder à palavra que escutou através dasintenções da Oração dos fiéis.

Também é por demais evidente que nasegunda parte da missa há palavras, emuitas. Mas na sua maioria trata-se defórmulas que acompanham os gestos afim de lhes exprimir o sentido, como, porexemplo, as fórmulas de apresentação dopão e do vinho, toda a oração eucarísticaque, desde o diálogo do prefácio até aoAmen da doxologia final é a grande acçãoda missa explicada por palavras, o Pai--Nosso e todas as fórmulas ditas em vozalta e até em voz baixa pelo presidentecomo preparação para a Comunhão, e oscânticos que acompanham e seguem aComunhão.

Segunda conclusão: na primeira parteda missa, em que tem lugar a Liturgia daPalavra, os gestos têm como finalidade oserviço dessa mesma Palavra, enquantoque na segunda parte, a maioria das pa-lavras se destina a esclarecer o sentido dosgestos.

A síntese de tudo quanto fica dito vemexpresso de modo claro no texto que já ci-támos ontem: «A Missa consta, por assimdizer, de duas partes: a liturgia da palavrae a liturgia eucarística. Estas duas partes,porém, estão entre si tão estreitamente li-gadas que constituem um único acto deculto. De facto, na Missa é posta a mesa,tanto da palavra de Deus como do Corpode Cristo, mesa em que os fiéis recebeminstrução e alimento. Há ainda determina-dos ritos, a abrir e a concluir a celebra-ção» (IGMR 28).

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A «enorme importância»da Palavra

Uma pergunta: Por que razão é que aprimeira parte da missa dá tanto relevo àPalavra? A resposta encontramo-la naConstituição sobre a Liturgia do ConcílioVaticano II (=SC), onde se diz: «É enormea importância da Sagrada Escritura nacelebração da Liturgia. Porque é a ela quese vão buscar as leituras que se explicamna homilia e os salmos para cantar; com oseu espírito e da sua inspiração nasceramas preces, as orações e os hinos litúrgicos;dela tiram a sua capacidade de significa-ção as acções e os sinais» (SC 24).

São então três as razões da importân-cia da Sagrada Escritura na missa: a ela sevão buscar as leituras, da sua inspiraçãonasceram as orações, dela tiram a suasignificação os sinais.

Primeira razão: a «enorme importân-cia» da Palavra na missa vem-lhe do factode todas as leituras que nela se fazem se-rem bíblicas. Desde o primeiro balbuciarda liturgia cristã, a Igreja sempre pensou, econtinua a pensar do mesmo modo aindahoje, que só a Palavra de Deus é digna deentrar na liturgia eucarística. E fê-la pro-clamar aí com abundância nuns casos ecom superabundância noutros. Abun-dantes são as três leituras dominicais emais o salmo responsorial da liturgia ro-mana actual nos domingos e solenidades;superabundantes são as seis leituras daliturgia de Antioquia: três do Antigo Testa-mento e mais o salmo responsorial e outrastrês do Novo Testamento. Se contarmos osalmo responsorial como sendo mais umaleitura em verso, temos quatro leituraspara a liturgia romana e sete para aantioquena.

Mas atenção: nem tudo está resolvidocom a abundância de textos na missa.

Primeiro porque há quem julgue que sãodemais e que um ou no máximo doiseram suficientes, e daí a eliminá-los dacelebração vai um pequeno passo; se-gundo porque é preciso que os textos pro-postos sejam bem proclamados para serementendidos; terceiro porque é igualmentenecessário que sejam interpretados à luzduma visão renovada de Deus, da históriada salvação e da Igreja, pelo menos comalguma referência a cada um; quarto por-que mesmo depois de tudo isso ser muitobem feito, a reforma dos corações e dosespíritos, a começar pelos dos leitores edemais ministros, é uma obra muito lenta,que depende de muito mais coisas do quede uma boa leitura e da sua explicação.Ora, enquanto a «enorme importância» deque fala o Concílio não se exprimir noquotidiano das celebrações litúrgicas eprincipalmente no quotidiano da vida, nãopassa de mera expressão de um voto.

A segunda razão da «enorme impor-tância» da Sagrada Escritura reside nofacto de as orações da missa terem nascidodo seu espírito e inspiração. Preces eorações são o conteúdo principal da se-gunda parte da missa. A maior dessaspreces é a Oração eucarística. Está por issona lógica das coisas que os leitores, que naprimeira parte da missa proclamaram aPalavra sejam, de entre os fiéis, os quemelhor se predisponham para a escutaatenta da proclamação desta Oração e dasoutras. Ao fazerem-no, dão-se conta deque muitas expressões por eles lidas naPalavra, as escutam agora na boca dopresidente da celebração. Além disso, aOração eucarística é não apenas de inspi-ração bíblica, mas está inserida na históriada salvação, cujas etapas nos são descritasna Bíblia. Se há algum momento em que ofiel se sinta protagonista dessa história éjustamente na liturgia e mais concreta-

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mente durante a proclamação da Oraçãoeucarística, que tem no seu centro a narra-ção da última Ceia de Jesus com os seusApóstolos, verdadeiro núcleo do Mistériopascal que nos salvou.

O Pai-Nosso, ensinado por Jesus aosseus discípulos, e que se reza na segundaparte da missa, não é apenas de inspiraçãobíblica, mas tirado directamente doEvangelho de São Mateus. Directamenteda Bíblia provêm também a saudação «OSenhor esteja convosco» e a resposta «Ecom o teu espírito», as palavras da consa-gração do pão e do vinho, o «Cordeiro deDeus que tirais o pecado do mundo», e abelíssima palavra do centurião que nósrepetimos antes da Comunhão. «Senhor,eu não sou digno de que entreis na minhamorada, mas dizei uma palavra e sereisalvo».

Terceira razão da «enorme importân-cia» da Sagrada Escritura: «Dela tiram asua capacidade de significação as acçõese os sinais» utilizados na celebração. Ossinais utilizados nas celebrações litúrgicasnasceram todos no terreno da Palavra, talcomo as flores se desenvolvem principal-mente nos jardins. O terreno da Palavra épropício ao nascimento dos gestos.Qualquer de nós tem experiência disso.Haverá coisa mais simples do que pôr umgrupo de crianças ou de jovens a «repre-sentar» por gestos o Evangelho do filhopródigo, da ovelha perdida, da pesca mi-lagrosa, do chamamento dos Apóstolos,do perdão da mulher pecadora, ou dequalquer outro? Por alguma razão o nossoprimeiro teatro foi litúrgico. E não só ossinais, mas muitas acções, como porexemplo os ritos que acompanham aproclamação do Evangelho na Missa, eque sublinham a dignidade da Palavrade Deus. Todas as liturgias do Oriente edo Ocidente fazem preceder esta procla-

mação solene duma procissão com velas eincenso. Todos estes ritos e sinais expri-mem a veneração interior com que a Igrejarodeia a Palavra.

Por tudo isto e muito mais que fica pordizer, não admira que o Concílio tenhapedido «uma leitura mais abundante, va-riada e bem adaptada da Sagrada Escrituranas celebrações litúrgicas».1 O novo lec-cionário do rito romano respondeu a estepedido e representa em quinze séculos dehistória da Igreja o esforço mais corajosoque foi empreendido para abrir ao povocristão um acesso mais amplo aos tesourosda Escritura.

Palavra e Eucaristia

Embora não haja celebração litúrgicanenhuma, sacramental ou não sacramen-tal, sem a leitura e a escuta da Sagrada Es-critura, os cristãos celebram a Palavraprincipalmente na missa. Não há dúvidade que uma leitura individual, ou mesmofamiliar, é altamente desejável. Mas nadasubstitui a celebração eclesial da Palavrade Deus no quadro da Eucaristia. Pratica-mente, pode dizer-se que a imensa maioriados fiéis conhece da Palavra o que aliturgia eucarística lhes ensina. A celebra-ção eclesial não prejudica, aliás, a leituraprivada da Bíblia, antes a encoraja.

No quadro da missa, «a extrema im-portância» da Palavra pode caracterizar-senuma só afirmação: é igual à da Eucaristia.Vaticano II afirma: «A Igreja venerou sem-pre as divinas Escrituras, como venera opróprio Corpo do Senhor, não deixandojamais, sobretudo na sagrada Liturgia, detomar e distribuir aos fiéis o pão da vida,quer da mesa da palavra de Deus quer dado Corpo de Cristo» (DV 21)

1 SC 35, 1.

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A Palavra de Deus é pois tão «vene-rável» como o Corpo do Senhor. A mesadas Escrituras, como a da Eucaristia,oferece aos fiéis um mesmo e único Se-nhor. Aquele que comunga na Palavratal como o que comunga no pão da vida,participa em Cristo Jesus.

A comparação entre Palavra e Euca-ristia vem já da idade patrística. Nas suasHomilias sobre o Êxodo, que são do ano232, Orígenes explicava já então estacomparação, desta forma:

«Vede se fixais as palavras divinas,não aconteça que as deixeis escapar dasmãos e elas se percam. Quero exortar-vospor meio de exemplos tomados dos vossoshábitos religiosos. Vós que participais ha-bitualmente nos divinos mistérios, sabeiscom que precaução respeitosa recebeis oCorpo do Senhor quando vos é entregue,não seja que uma parcela do mesmo caiaao chão e se perca uma parte desse te-souro consagrado. Com razão vosjulgaríeis culpados, e tendes razão paraisso, se, por vossa negligência, se per-desse um pouco (desse pão). Se tendestanto cuidado em guardar o seu Corpo e,

com razão, porque havíeis de pensar que émenor sacrilégio negligenciar a palavrade Deus do que o seu Corpo»? (Homilia13, 3).

Também S. Cesário, três séculos maistarde, que foi bispo de Arles, na Gália,continuava a ensinar a mesma doutrinaquando pregava ao povo:

«Faço-vos uma pergunta, irmãos e ir-mãs, dizei-me: O que é tem maior valor,segundo vós, a palavra de Deus ou oCorpo de Cristo? Se quiserdes respondercom verdade, deveis certamente dizer quea palavra de Deus não é menos valiosaque o Corpo de Cristo. Desse modo, quecuidado nós pomos, quando nos dão oCorpo de Cristo, em não deixar que dasnossas mãos caia por terra nenhuma dassuas parcelas! De modo semelhante de-vemos ter idêntico cuidado a fim de nãodeixarmos escapar do nosso coração apalavra de Deus que nos é dirigida,pensando ou falando doutra coisa; comefeito, aquele que escuta com negligênciaa palavra de Deus não é menos culpadodo que aquele que, por sua negligência,permite que o Corpo de Cristo caia porterra» (Sermão 78, 2).

Palavra e Eucaristia têm a mesmaimportância, são igualmente dignos de«veneração». E a veneração que lhes édevida é essa mesma que adora o Senhorpresente na Palavra e presente na Euca-ristia. Aqui, Ele está presente sob o véu dopão e do vinho, ali está presente sob o véudas palavras humanas. Poder-se-á por issofalar duma «presença real» de Cristo naEscritura, tão real como a sua presença naEucaristia, embora esta última seja sacra-mental. Diz a instrução EucharisticumMysterium:(Cristo) está presente também na sua pa-lavra, pois é Ele mesmo que fala quando

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se lêem na Igreja as Sagradas Escritu-ras... Esta presença de Cristo sob as espé-cies «diz-se real, não por exclusão, comose as outras o não fossem, mas por exce-lência» (Eucharisticum Mysterium, n. 9).

A escuta da Palavra será sempre umexcelente catecumenado que nos ensinade novo e sem cessar a viver segundo oEvangelho. É também uma preparaçãoeficaz, pelo menos é a melhor, para a cele-bração da liturgia eucarística propria-mente dita. Mas ela é muito mais que umaescola de vida cristã. Ela é essencialmentecelebração de Cristo que está «presentena sua Palavra, porque é Ele que fala

quando na Igreja se lêem as sagradas Es-crituras» (SC 7).

Um leitor ou uma leitora profunda-mente convencidos disto, nunca mais vãoestar totalmente satisfeitos com a leituraque fazem. Vão, isso sim, embora sem an-gústias nem receios exagerados, procurarfazer sempre melhor com a ajuda do Espí-rito Santo, que inspira cada uma das nos-sas acções feitas com os olhos em Deus eno melhor bem do seu povo, a quem a Pa-lavra proclamada se dirige.

P. José de Leão Cordeiro

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ARTE SACRA

Roma é um dos centros do mundo.Outrora capital de um povo inquieto quese valeu do engenho comercial e da supre-macia militar para forjar um império à es-cala universal, tornou-se depois, medianteuma transferência de valores bem percep-tível, a sede espiritual de uma das princi-pais religiões. Só muito mais tarde veio aconstituir o âmago de uma nação românti-ca, feita de países distintos, que encontrouna língua um factor de unificação. MasRoma é também, de certo modo, a capitalda arte e da arquitectura, tendo servido, aolongo de séculos e séculos, como veículoprivilegiado de transmissão da vanguardade ideias e manifestações plásticas. Aindahoje, sob o manto de miríades de turistas,de clergymen, de deputados e funcionáriosengravatados a rigor, de prestadores deserviços algo descuidados, no meio de umtráfego assaz caótico que permite enrique-cer rapidamente o vocabulário dos foras-teiros com expressões eufónicas comomezza puttana, lateja um coração estéticoprofundo. E essa voz que brota das profun-dezas lança poderosos desafios.

Quando, no rescaldo do Grande Jubi-leu do Ano 2000, a Santa Sé decidiu pro-longar, ao longo do triénio seguinte o ex-traordinário conjunto de iniciativas cultu-rais que assinalaram essa data magna, in-sistiu junto das diversas igrejas nacionaisexistentes em Roma para que dessem a co-nhecer, através de acções qualificadas,com efectivo impacto na opinião pública,os tesouros da história e da arte dos res-

BEJA EM ROMA

pectivos países. A igreja de Santo Antóniodos Portugueses, uma referência funda-mental no centro da cidade, integrada juri-dicamente, desde o século XIX, no IstitutoPortoghese di Sant’Antonio (organismocultural da República Portuguesa, coloca-do sob a protecção da Embaixada junto daSanta Sé, mas dotado de notável autono-mia de recursos), escolheu a Diocese deBeja como parceira neste projecto. Foi as-sim que coube ao Baixo Alentejo a respon-sabilidade de representar o país numa oca-sião tão significativa, destinada a assinalara inauguração da Galeria de ExposiçõesTemporárias do Istituto di Sant’Antonio.

Cartaz da Exposição “As Formas do Espírito – ArteSacra do Sul de Portugal” (Roma, IstitutoPortoghese di Sant’Antonio).

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1 Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja.

São João da Cruz. Busto-relicário em barro cozido.Escola portuguesa. Séc. XVII (finais). Provenientedo antigo convento de Nossa Senhora do Carmo,em Moura, esta é uma das obras de arte recuperadaspela Diocese de Beja para a sua exposição emRoma.

Responsabilidade honrosa, há quedizê-lo, mas também assustadora. Revelarao público cosmopolita de uma capitalcomo Roma – com os seus milhões de tu-ristas, os seus milhares de igrejas, as suascentenas de museus, as suas exposições derepercussão mundial – o acervo de umaregião quase ignorada, parecia, à partida,uma loucura. A isto acresceu a necessidadede gerir um orçamento austero, sujeito aprazos rígidos, que dependiam dos traba-lhos de conservação que o próprio Istitutoefectuava nos seus espaços, recuperandometiculosamente os subterrâneos (espéciede catacumbas com preciosos vestígiosdas épocas romana e medieval) que ladei-am a Via dei Portoghesi. Foi possível, to-davia, criar uma pequena equipa que, emtrês anos de trabalho paciente, conseguiuerguer uma exposição com cerca de cente-na e meia de obras de arte, oriundas de

igrejas e museus, que oferecem uma pers-pectiva generosa da geografia, da históriae da espiritualidade do Alentejo. A publi-cação de um livro, em italiano, que servede apoio aos visitantes, com textos especi-alizados e abundante informação gráfica,constituiu também um passo decisivo nadivulgação do nosso território, funcionan-do como “memória” que se prolongará notempo.

Embora ciosa dos seus pergaminhos,Roma é uma cidade aberta, empenhada nadescoberta de outras culturas. Para es-panto dos organizadores, é forçosoconfessá-lo, a Urbe acolheu a exposiçãocom evidentes sinais de interesse. Na tardede 10 de Dezembro de 2002, uma vez con-sumada a inauguração da Galeria doIstituto Portoghese, passaram aí mais demeio milhar de visitantes, muitos delessimples transeuntes que passeavam notípico bairro da Scrofa e corresponderamao apelo irrecusável da imagem de SantoAntónio da igreja do Salvador de Beja que,logo à entrada do circuito expositivo, in-terpela com cordialidade, na sua glóriabarroca, quem circula na rua. Gerou-seassim uma empatia caracteristicamentemeridional que tem vindo, dia após dia, aser aprofundada. O Alto Patrocínio daPontifícia Comissão para os Bens Cultu-rais da Igreja (circunspecto dicastério queexerce, no âmbito vaticano, funçõesanálogas às de uma Secretaria de Estadoda Cultura), tornou ainda mais apreciado ofacto de o Cristianismo surgir aqui, nãocomo realidade isolada, mas em diálogocom as outras religiões do Livro, o Ju-daísmo e o Cristianismo, que marcaramPortugal. Porém, o que verdadeiramenteprende a atenção do exigente público ro-mano é, sem dúvida, a identidade da nossaarte, em cuja formação convergem influ-ências do Atlântico e do Mediterrâneo.

JOSÉ ANTÓNIO FALCÃO 1

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Vitalino Dantas, e do Ministro da Cultura,Dr. Pedro Roseta, e que reflecte a cola-boração existente nos domínios do pa-trimónio arquitectónico, da conservação erestauro e dos museus. Estão previstasoutras unidades museológicas para Beja,Castro Verde e Moura.

Cuba é uma das terras do BaixoAlentejo onde a presença monástica setornou mais intensa desde a época daReconquista. O culto começou por seraqui celebrado numa pequena capela cu-rada, anexa à igreja de Santa Maria deBeja, de que há notícia desde os inícios doséculo XIII. Quando a vizinha igreja deSão Cucufate foi doada, em 1255, ao

Os graves problemas de abandono efurto que pairam sobre a herança culturaldo Baixo Alentejo têm levado a uma con-jugação de esforços por parte das institui-ções com responsabilidades neste âmbito,visando um sector particularmente amea-çado pela conjuntura de rarefacçãodemográfica: o património religioso. Bejaestá a avançar com uma rede diocesana denúcleos museológicos que visam dar aconhecer um vasto conjunto de alfaias re-tiradas do culto por motivos de segurança.Depois da Colegiada de Santiago do Ca-cém, o Tesouro de Cuba abriu as portas aopúblico no dia 22 de Janeiro de 2003, coma presença do Bispo de Beja, D. António

TESOURO DA IGREJA MATRIZDE SÃO VICENTE DE CUBA

Inauguração do Tesouro da Igreja de São Vicente de Cuba, na presença do Ministro da Cultura, Dr. PedroRoseta, e do Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas (fotografia de Sara Fonseca).

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mosteiro de São Vicente de Fora, de Lis-boa – pertencente à Ordem dos CónegosRegrantes de Santo Agostinho –, Cubapassou para a sua dependência. O cresci-mento desta povoação, porém, levou àfundação, em 1600, de uma paróquia pró-pria, cujo responsável era apresentadopelo prior de São Vicente de Fora.

A capela primitiva foi substituída poruma igreja nos meados do século XV, jálocalizada neste sítio. O actual edifício re-sulta, em larga medida, dos trabalhos deampliação realizados em 1572-74 pelo“mestre de obras de pedraria” ManuelGonçalves Beirão e constitui notável tes-temunho da arquitectura maneiristaalentejana, definindo um modelo comgrande aceitação no plano regional. Em1617, face ao risco de colapso da abóbada,

tornou-se necessário erguer os gigantescoscontrafortes que o individualizam. Merecetambém destaque o conjunto de azulejariabarroca, datado de 1650-1670, que revestequase integralmente o interior do imóvel.Nos séculos XVIII, XIX e XX ocorreramoutras intervenções de vulto.

O mecenato artístico dos mosteiro deSão Vicente de Fora, complementado pelaactividade das confrarias locais e pelasofertas dos fiéis, tornou a igreja de SãoVicente uma das mais ricas do Alentejo. Oacervo assim reunido inclui pinturas,esculturas, ourivesaria, joalharia, docu-mentos gráficos, paramentos e outras ma-nifestações das artes decorativas europeiase orientais. Com o decorrer dos tempos,deu origem a um Tesouro que ganhoufama na região e veio ainda a incorporardiversas peças oriundas de templos da vilae do concelho. O interesse patrimonial doedifício e do seu espólio foi reconhecidopelo Estado, em 1982, com a classificaçãocomo Monumento Nacional.

As igrejas de Cuba estão actualmentea ser alvo de um trabalho sistemático derecuperação, no âmbito do Projecto“Terras sem Sombra”, iniciativa resultanteda colaboração entre o Departamento doPatrimónio Histórico e Artístico da Dio-cese de Beja e o Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico, contandocom o financiamento do ProgramaOperacional da Cultura e o apoio da Câ-mara Municipal. O concelho de Cuba é,assim, o primeiro do país a contar comuma medida de valorização de todo o seupatrimónio religioso, projecto pioneiroque está a permitir combater o declíniode uma zona marcadamente rural. Nodecurso da inauguração do Tesouro foiassinado o protocolo que formaliza esteconjunto de obras.

SARA FONSECA

Preparar um núcleo museológico exige trabalhoaturado, requerendo uma preparação cuidada de to-dos os pormenores (fotografia de Sara Fonseca).

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CONCERTOS NAS IGREJAS

O ESPAÇO SAGRADO

Os concertos nas igrejas levantamquestões sérias ao sentido sagrado dos es-paços litúrgicos. Estes foram concebidos econsagrados a um fim concreto: a glória deDeus e a celebração da fé. A desacraliza-ção do espaço sagrado atenta contra a fédos crentes, prejudica os actos cultuais eem nada favorece a causa da cultura. Com-preende-se a preocupação dos responsávelpela promoção da cultura e a falta de espa-ços adequados ao seu desenvolvimento,mas também se deve compreender e res-peitar a sensibilidade religiosa dos crentese não provocar o aparecimento de mani-festações fundamentalistas. A distinçãoentre espaço cultual e espaço cultural deveconsolidar-se a bem dos seus utentes.Qualquer apropriação indevida constituium atentado à cultura e ao culto.

Nota-se um crescente interesse deapropriação do culto por parte da cultura,um pouco à maneira da manipulação dacultura por parte do culto em tempos idos.Ambas tendências atentam contra o carác-ter genuíno de cada uma destas expressõeshumanas de fé e de cultura. As implica-ções são de carácter religioso, psicológico,social e político.

A Igreja tem orientações pastorais,mas a sua aplicação prática tem sido oraadiada ora viciada pelo conceito de quetoda a cultura é digna do culto. A execuçãoduma obra musical composta para o cultoou de carácter religioso tem o seu lugarmais apropriado num local de culto e atécom encenação adequada, mas há grandesobras da cultura que se desvirtuam num

cenário cultual. As orientações da Igrejaapontam neste sentido e reclamam a nossaatenção de crentes e de promotores da cul-tura ao serviço da humanidade.

As decisões nesta matéria são da res-ponsabilidade dos bispos diocesanos queem Portugal – por falta de uma decisãocomum – não se obrigam colegialmente, oque enfraquece a posição oficial da Igrejabem manifesta na Carta da Congregaçãodo Culto Divino. O nosso Ministério daCultura – primeiro promotor da cultura –encontra-se com orientações pastoraissempre negociáveis do ponto de vista dapolítica e dos interesses sociais. Estasquestões tocam muito as sensibilidades,até porque alguns espaços sagrados são dapropriedade do Estado. A ideia de que ostemplos mas antigos e nobres da Igreja sãomais vocacionados para museus é dia-bólica, já que são eles os melhores teste-munhos da fé. Constituem referênciasimportantes que os historiadores da artesacra e da liturgia bem sabem descrever. Amemória histórica dum povo permanecenas grandes construções e as igrejas afir-mam a cultura da fé dos antepassados.Cada geração deve erguer os edifícios queprecisa para afirmar o seu génio cultural.

Há anos, foi preparado um texto depropostas recolhidas da Carta da Congre-gação do Culto Divino para ser presente àConferência Episcopal Portuguesa. Des-conhece-se o que possa ter acontecido nopercurso deste documento que agoratornamos público na esperança de que oassunto seja retomado.

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Proposta sobre osConcertos nas igrejas

(Segundo Carta da Sagrada Congregaçãodo Culto Divino de 5-XI-1987)

Princípios a observar:

1. As igrejas não são meros lugares pú-blicos à disposição e para realizar o quequer que seja. “São lugares sagrados, istoé, separados, destinados de modo perma-nente ao culto de Deus, desde o momentoda dedicação ou da bênção” (cf. nº 5).

2. De acordo com o cânone 1213, é à au-toridade eclesiástica (na diocese, ao bispo)que compete exercer livremente o seu po-der nos lugares sagrados e, por conseguin-te, regulamentar o seu carácter sagrado(cf. nº 10).

3. O apreço que a Igreja tem pela músicae pelos artistas é indiscutível. A história odemonstra com facilidade. Todos reconhe-cem quanto o cristianismo inspirou a mú-sica ocidental e quanto a Igreja preza amúsica, destinando-lhe um lugar de nobre-za, no culto divino. E por isso falsa e mal-dosa a afirmação de que a Igreja não quer amúsica nas igrejas (cf. nº 6).

4. O critério para a aceitação ou negaçãode um concerto na igreja é o princípio deque o uso das igrejas não deve ser contrá-rio à santidade do lugar”. Não é legítimoprogramar numa igreja a execução de umamúsica que não é de inspiração religiosa, eque foi composta para ser interpretada emcontextos profanos determinados, quer setrate de música clássica, quer de músicacontemporânea, de alto nível ou de carác-ter popular” (cf. nº 8).

Pelo contrário, a música sacra e a músi-ca religiosa que, “por motivos contingen-tes não pode ser executada durante a cele-bração litúrgica”, pode ter o seu lugar naigreja sob a forma de concerto (cf. nº 9).

5. A Igreja não só permite os concertos demúsica sacra como os promove. Concertosnas igrejas, sim ou não? Sim de música daIgreja, música sacra ou religiosa histórica.Caso contrário, não. Nos casos duvidosos,os peritos competentes, darão o seu pare-cer (cf. nº 9).

6. Para ser possível realizar um concertonuma igreja é necessário que, em tempoútil e por escrito, se faça o requerimento aobispo diocesano, indicando o lugar, a data,a hora e o programa do concerto com onome das obras musicais a apresentar e osseus autores (cf. nº 10).

7. Após a autorização do bispo, o párocoou reitor da igreja poderá permitir o uso daigreja, velando por que todos, intérpretes eassistentes, respeitem, pelo seu comporta-mento, o lugar sagrado. Não deverá havervenda de bilhetes de entrada. Além disso,os organizadores do concerto deverão res-ponsabilizar-se, por escrito, pelos gastos eeventuais danos. Dever-se-á respeitar ossinais sagrados, nomeadamente o altar, oambão e a cadeira, e convirá retirar o San-tíssimo Sacramento para um lugar seguroe digno (cf. nº 10).

(Conferir a tradução portuguesa daCarta publicada na edição semanal, emlíngua portuguesa, do L’OSSERVATORE RO-MANO de 24 de Janeiro de 1988).

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I

A SANTIDADE NAECONOMIA DA SALVAÇÃO

A vocação universal dos homensà salvação

1. Deus Pai quer que todos os homens,criados à imagem divina (cf. Gen 1, 26-27),sejam salvos e cheguem ao conhecimentoda verdade (cf. 1 Tim 2, 4), que é Cristo (cf.Jo 144, 6), caminho dos homens para o Pai(cf. Jo 14, 6). Todos, portanto, especial-mente os fiéis de qualquer estado ou classe,são chamados à plenitude da vida cristã e àperfeição da caridade; e por meio destasantidade é promovida também na socieda-de terrena o modo de viver mais humano.

2. Para isso, Deus Pai manifestou a suavontade – a santificação dos homens (cf. 1Tim 4, 3) – que, por Cristo, com Cristo e emCristo, aumenta dia a dia cada vez mais,para maior glória da una e indivisível Trin-dade e mais perfeita santidade da Igreja navida dos cristãos.

3. Porque Ele é santo (cf. 1 Pedro 1, 16),para fazer com que todos sejam um emCristo Jesus (cf. Jo 11, 51-52), congrega-os

na sua santidade e no poder do EspíritoSanto, para louvor e glória da sua graça (cf.Ef 1, 6.12).

A santidade no mistério de Cristo

4. O mestre e exemplo, Nosso SenhorJesus Cristo, Filho de Deus, que com o Paie o Espírito é celebrado como o «únicosanto» e é a fonte de toda a santidade e aorigem das virtudes, pregou a todos e cadaum dos discípulos a santidade de vida, daqual Ele é o autor e plenitude: «Sede perfei-tos como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt5, 48). No próprio mistério do Pai, que éCristo, o Espírito Santo confirma os cris-tãos na comunhão de todos os Santos e osconduz com a sua força para o combate quelhes é proposto, a fim de que alcancem acoroa eterna de glória (cf. 2 Tim 4, 7-8; 1 Cor9, 25; Ap 2, 10). Os discípulos de CristoJesus, seguindo a sua advertência – «Sealguém quiser seguir-Me, renuncie a simesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mt 16,24; cf. Mc 8, 34; Jo 12, 26) – esforçam-sepor imitar o seu Salvador, de modo que,animados pela fé, esperança e caridade, nosirmãos que já vivem em Cristo encontremexortações vivas para celebrarem os misté-rios da salvação, sejam estimulados a imitaros seus insignes exemplos e se encomen-dem à sua piedosa intercessão.

MARTIROLÓGIO ROMANO

* O novo MARTIROLÓGIO ROMANO é um livro litúrgico e como tal proposto às assembleiaslitúrgicas. Enquanto se procede à tradução deste grande livro, apresentamos uma versão provisó-ria dos Preliminares Gerais que encerram um tratado sobre a santidade e a sua celebração.

PRELIMINARES GERAIS *

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A santidade na vida da Igreja

5. Mas Deus Pai, pela confissão admirá-vel dos Santos, fecunda sempre com novaenergia a sua Igreja e dá aos fiéis os maisclaros sinais do seu amor.

Também Cristo ama a sua Igreja comosua esposa, pela qual Se entregou, para asantificar (cf. Ef 5, 25-26), associou-a a Sicomo seu Corpo e enriqueceu-a com o domda santidade para glória de Deus.

Por sua vez, o Espírito Santo anima oCorpo de Cristo, para receber d’Ele a san-tidade e com Ele glorificar o reino da verda-de e da vida, isto é, o reino da santidade e dagraça; n’Ele todos os fiéis são transferidosdo cativeiro da corrupção para a gloriosaliberdade dos filhos de Deus (cf. Rom 8,21).

6. A Igreja é santa, mas ao mesmo tempoprecisa sempre de maior purificação; a elasão chamados em Cristo todos os homens e,pela graça de Deus, nela gozam do convíviodos Santos, até que seja consumada a suagloriosa comunhão em Cristo no fim dostempos. A Igreja, Mãe dos Santos, procurasempre com diligência que os cristãos fo-mentem e alcancem a santidade.

II

A MEMÓRIA OUVENERAÇÃO DOS SANTOS

A memória da vida de Cristona vida dos Santos

7. O Pai clementíssimo, que pelo seuFilho amado é não só o criador do génerohumano mas também o seu benigníssimoredentor, dá a cada um dos fiéis em Cristo,com a graça do Espírito Santo, na vida dosSantos um exemplo, na comunhão com eles

uma família e na sua intercessão um pode-roso auxílio.

8. A Igreja professa a Trindade admi-rável nos seus Santos, que manifestam atodos os homens a presença viva do Salva-dor no mundo e a verdadeira natureza daprópria Igreja, como imagens da santidadedivina, da qual procedem as obras dosSantos, que são também, ao mesmo tempo,a manifestação das obras admiráveis deCristo.

9. De facto, toda a celebração litúrgicada vida dos Santos proclamada na Igrejatende por sua natureza para Cristo e cul-mina em Cristo, que é a «coroa de todos osSantos», e por Ele, com a acção do EspíritoSanto, se dirige ao Pai, que é «admirávelnos seus Santos» e neles é glorificado (cf. 2Tes 1, 10).

10. A vida dos Santos no decurso dostempos é proposta aos fiéis cristãos como acontinuação e a memória da vida de Cristoe resplandece neste mundo e na glória ce-leste com fulgor diferente de estrela paraestrela (cf. 1 Cor 15, 40-41.

11. Contudo, a celebração litúrgica dosque já estão no Céu tem como intençãofundamental não só propor o exemplo dosSantos a imitar, mas, mais ainda, fortalecera união de toda a Igreja no Espírito (cf. Ef4, 1-6). Porque assim como a comunhãocristã entre os homens peregrinos nestemundo nos aproxima de Cristo, também oconvívio com os Santos nos une a Cristo, doqual dimana, como sua fonte e cabeça, todaa graça e a vida do Povo de Deus.

12. Por isso, o dia da passagem dos Santosdesta vida para a assembleia eterna é umreflexo da vida de Cristo, isto é, do seuMistério Pascal, e com razão se denomina eé de facto o seu «dies natalis», como énormalmente comemorado na sagradaliturgia.

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O culto dos Santos

13. Reconhecendo de modo especial aunião de todo o Corpo Místico de JesusCristo, a Igreja dos peregrinos celebroudesde os primeiros tempos da sua vida osApóstolos e os mártires de Cristo, que peloderramamento do seu sangue deram osupremo testemunho da fé e da caridade(cf. Ap 22, 14).

14. Segundo a sua tradição genuína, a Igrejacelebra a memória dos Santos: ela recomendaà peculiar e filial veneração dos fiéis a Bem--aventurada sempre Virgem Maria, Mãe deDeus, que Cristo constituiu Mãe de todos oshomens, e promove o culto verdadeiro eautêntico de outros Santos.

15. Só é lícito venerar com culto públicoos Servos de Deus que a autoridade daIgreja inscreveu no rol dos Santos ouBeatos. As suas relíquias autênticas e ima-gens são objecto de veneração, na medidaem que o culto dos Santos na Igreja pro-clama as obras admiráveis de Cristo nosseus servos e proporciona aos fiéis exem-plos oportunos a imitar.

16. Quanto aos santos Arcanjos Miguel,Gabriel e Rafael, os Anjos da Guarda e osinumeráveis coros dos Anjos, que estãodiante de Deus omnipotente, servindo-Odia e noite e contemplando continuamentea glória do rosto de Deus, cujos nomes sóalguns são conhecidos, só deve prestar-se oculto admitido nos livros litúrgicos ou nagenuína tradição da Igreja.

A comunhão dos Santos na Liturgia

17. Na sagrada Liturgia, toda a Igreja ce-lebra, em unânime alegria, o louvor damajestade divina. Efectivamente, todos osque estão em Cristo, animados pelo seuEspírito, formam uma só Igreja e n’Ele seunem num só coração e uma só alma (cf. Ef4, 16).

18. Dado que os eleitos no Céu estão maisintimamente unidos a Cristo, eles conso-lidam mais firmemente toda a Igreja nasantidade, nobilitam o culto que a Igrejapresta a Deus cá na terra e contribuem paraa sua mais eficaz edificação. Imitando o seuexemplo, os fiéis, seguindo os passos deCristo a caminho do Pai, esforçam-se por seajudarem mutuamente.

19. Pela intercessão dos Santos, em Cris-to, eterno e sumo sacerdote (cf. Heb 3, 1; 4,14; 5, 10; 7, 26; 9, 11), mediador entre Deuse os homens (cf. 1 Tim 2, 5), aumenta cadavez mais a comunhão da Igreja quando serealiza a celebração litúrgica. Isto verifi-ca-se principalmente na celebração da Eu-caristia, na qual toda a Igreja se une para dargraças com os eleitos do Céu, em comu-nhão e comemoração de todos os Santos, ena celebração da Liturgia das Horas, naqual não cessa nunca o louvor da Santíssi-ma Trindade com os Santos do Céu.

III

O MARTIROLÓGIO ROMANO

A índole e natureza litúrgicado Martirológio

20. No decurso dos séculos, entre os li-vros utilizados nas celebrações litúrgicaspara prestar o culto digno da SantíssimaTrindade, encontra-se o Martirológio, cujanatureza litúrgica foi transparecendo cadavez mais.

21. As relações entre os mais antigos Ca-lendários litúrgicos e o Martirológio, com oacrescentamento das indicações práticasdos nexos entre eles e das celebraçõesdos divinos mistérios, foram aumentandogradualmente até chegarem ao à forma ac-tual, em que se manifesta a sua finalidade eutilização sobretudo litúrgica.

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A restauração do Martirológio

22. Nos séculos precedentes, o Martiroló-gio foi renovado diversas vezes, e recente-mente, por decreto do Sacrossanto ConcílioEcuménico Vaticano II, juntamente com apromulgação dos outros livros litúrgicosreformados, foi requerida a revisão doMartirológio, de modo que, depois de umaséria investigação histórica, de novo estejade acordo com os outros livros do RitoRomano.

23. O elenco dos Santos e Beatos no Mar-tirológio, aos quais se refere acima o n. 15,por antiquíssima tradição corresponde aociclo do ano civil, desde Janeiro a Dezem-bro, como no Calendário Romano, sem quede modo algum se deixe de ter em conta ociclo do ano litúrgico.

A relação do Martirológiocom os outros livros litúrgicos

24. A celebração litúrgica, como mani-festação e actualização do amor da Igrejapara com seu Esposo, Jesus Cristo, cujomistério é totalmente proclamado e come-morado no decorrer do ano, inclui tambémo culto dos Santos. Na verdade, os Santos,que pela multiforme graça de Deus, chega-ram à perfeição e alcançaram a salvaçãoeterna, cantam a Deus o louvor perfeito noCéu e intercedem pelos fiéis especialmente,mas também por todos os homens. Contudo,o mistério de Cristo e o culto dos Santoscompletam-se mutuamente, de modo quena liturgia da Igreja se estabelecem rela-ções entre o Martirológio e os outros livroslitúrgicos destinados à celebração do mis-tério de Cristo, na qual também se encon-tram os Santos.

25. Por isso, para que as festas dos Santosnão prevaleçam sobre as celebrações quecomemoram os mistérios da salvação, aIgreja apresenta no elenco dos Santos eBeatos normas litúrgicas, que impedem a

celebração das suas memórias em determi-nados dias.

26. Pareceu contudo oportuno que, foradas solenidades e festas dos Santos e me-mórias obrigatórias, nos dias feriais queadmitem a celebração de memórias faculta-tivas se possam celebrar com justa causa,com o mesmo grau, o ofício e a Missa dealgum Santo inscrito no mesmo dia nesteMartirológio Romano ou no Próprio doMartirológio, isto é, no Apêndice própriodo Martirológio Romano devidamente apro-vado.

O elenco dos Santos e Beatosno Martirológio

27. A intenção do Martirológio Romano,que deve ser considerado um livro litúrgico,não é apresentar um elenco exaustivo detodos os Santos e Beatos, nem os seuselogios muito extensos, dos quais se pos-sam extrair e compor ou um tratado deedificação ascética ou a história da Igreja,que é a família dos Santos e o povo santoadquirido por Deus (cf. 1 Pedro 2, 9; 1 Tes 5,9-10; 2 Tes 2, 13).

28. O Martirológio apresenta o elenco dasmemórias da Virgem Santa Maria, Mãe deDeus, em primeiro lugar; depois as dosAnjos e finalmente dos fiéis que estão actu-almente incluídos no culto da Igreja univer-sal ou particular ou de alguma família reli-giosa, e não um catálogo inteiro de todos osque gozam da felicíssima e perpétua visãode Deus.

29. Por este motivo, o Martirológio Ro-mano refere os Santos inscritos no Calen-dário Romano, em virtude da importânciauniversal têm para toda a Igreja do RitoRomano, bem como muitos outros, masnão todos, de entre aqueles que se recomen-dam em numa Igreja particular ou famíliareligiosa e são comemorados com algumgrau de culto.

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IV

A UTILIZAÇÃO DOMARTIROLÓGIO

A celebração dos Santos e Beatos

30. Como foi referido acima no n. 26, aMissa ou também o Ofício de algum Santoinscrito no Martirológio Romano ou noPróprio do Martirológio devidamente apro-vado pode celebrar-se, com justa causa, nodia em que está inserido, nos dias feriais emque se pode celebrar uma memória facul-tativa.

31. A celebração de algum Beato inscritono Martirológio ou no Próprio do Martiro-lógio devidamente aprovado é reservadopara a diocese, nação ou região mais ampla,ou família religiosa para quem foi concedidapela Sé Apostólica.

32. Convém que cada diocese ou famíliareligiosa tenha o seu Calendário Próprio ecada Conferência Episcopal componha oCalendário Próprio da respectiva nação ou,juntamente com outras Conferências, oCalendário duma região mais ampla; todosestes Calendários devem estar em confor-midade com o Martirológio Romano e apro-vados ou confirmados pela Sé Apostólica.

33. No entanto, se o dia da morte (“diesnatalis”) de algum Santo ou Beato indicadono Martirológio está impedido todos osanos por uma celebração de grau superior,esse Santo ou Beato pode ser comemoradonos Calendários Próprios no dia livre maispróximo ou, se for o caso, num dia apropri-ado por outra razão, como, por exemplo, odia do encontro, exumação ou trasladaçãodo corpo, ou ainda o dia da canonização ouda beatificação, solução esta que normal-mente se considera a menos conveniente.Se for esta a opção, na leitura do Martiroló-gio utilize-se no seu lugar uma das fórmulasadiante propostas no n. 44.

34. Qualquer Santo inscrito no Martiroló-gio Romano pode ser escolhido como titu-lar de uma igreja. Se, porém, se trata de umBeato, convém pedir um indulto à Sé Apos-tólica, a não ser que o Beato esteja já devi-damente inscrito no Calendário da dioceseou da nação.

A leitura do Martirológio

35. Os elogios dos Santos de cada diadevem ser lidos sempre no dia precedente.

36. É louvável que a leitura do Martiroló-gio se faça no coro, mas pode também serfeita fora do coro.

37. Na leitura do Martirológio observe-seo rito que adiante se encontra.

V

OS PRÓPRIOS DOMARTIROLÓGIO

38. A cada diocese, nação ou família reli-giosa é permitido compor o Próprio doMartirológio ou Apêndice do Martiroló-gio, no qual sejam enunciados os Santos eBeatos inscritos no Calendário Próprio quenão figurem no Martirológio Romanoou sejam celebrados com grau diferente ouincluam um elogio que tenha sido oportu-namente amplificado. Esse Próprio deveser transmitido à Congregação para o CultoDivino e Disciplina dos Sacramentos paraser reconhecido e aprovado ou confirmado.

39. Estes elogios amplificados não de-vem ser compostos apenas no género literá-rio de «Vidas» ou «Lendas», mas, quantopossível, manifestem a vitória pascal deCristo nos seus servos e apresentem aosfiéis a graça específica atribuída a cada um.Observe-se sempre estritamente a fidelida-de histórica, e não se admitam elementos

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homiléticos ou de «edificação». Além dis-so, os elogios não ultrapassem cerca dequarenta palavras.

VI

ADAPTAÇÕESQUE COMPETEM ÀS

CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS

40. Compete às Conferências Episcopaispreparar as versões do Martirológio Ro-mano em línguas vernáculas, observandoexactamente a sua integridade e fidelidadee atendendo às características peculiares doseu género literário.

41. Convém que na edição do Martiroló-gio os elogios de cada dia, que por conces-

são da Santa Sé são considerados própriosde toda a nação ou região mais amplaestejam colocados imediatamente a seguiraos elogios que pertencem às celebraçõesinscritas no Calendário Geral e sejam im-pressos com o mesmo tipo gráfico. Oselogios, porém, que são próprios de umaregião ou diocese têm sempre lugar emApêndice particular. O texto de cada ediçãoda Conferência Episcopal deve ser apro-vado segundo o direito e reconhecido pelaSé Apostólica. Isto aplica-se, com as de-vidas adaptações, a cada família religiosa.

42. Na preparação das edições deve dis-tinguir-se claramente entre as versões doMartirológio Romano, que têm de ser ínte-gras, e as colecções parciais que, extraídasdeste Martirológio Romano para uso pasto-ral, não se destinam ao uso litúrgico.

52 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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Eusébio de Cesareia 1

HISTÓRIA ECLESIÁSTICA

23. O papa Vítor e a data da Páscoa2.1 Por aquele tempo surgiu uma controvér-

sia bastante grave. As Igrejas de toda a Ásia,apoiando-se numa tradição muito antiga,pensavam que era preciso guardar o décimoquarto dia da Lua para a festa da Páscoa doSalvador, dia em que estava prescrito aos Ju-deus que imolassem o cordeiro, e em que,segundo eles, era preciso a todo o custo, qual-quer que fosse o dia da semana em que caísse,pôr fim aos jejuns. Mas as Igrejas de todo oresto do mundo não tinham por costume pro-ceder deste modo e, apoiando-se numa tra-dição apostólica, mantinham a norma aindaagora vigente, que impõe a obrigação de nãoterminar os jejuns noutro dia que não seja o daRessurreição do nosso Salvador.

2 Para tratar deste ponto realizaram-se sí-nodos e reuniões de bispos, e todos, unanime-mente, por meio de cartas, indicaram aos fiéisde cada parte do mundo a regra eclesiástica,segundo a qual o mistério da ressurreição doSenhor de entre os mortos não se devia cele-brar num dia diferente do domingo, e que sónesse dia se devia pôr fim ao jejum pascal.

3 Conserva-se ainda hoje a carta de umsínodo reunido naquele tempo na Palestina epresidido por Teófilo, bispo de Cesareia, e porNarciso de Jerusalém. Também, sobre o mes-mo assunto, se conserva outra carta dos que sereuniram em Roma, que traz o nome de Vítorcomo bispo, e ainda outra dos bispos do Ponto,aos quais presidia Palmas, que era o mais anti-go, e outra das Igrejas da Gália, das quais erabispo Ireneu.

4 Há também a dos bispos de Osrõe e dascidades limítrofes, e em particular a de Baquilo,bispo da Igreja de Corinto, e de muitíssimosoutros. Todos eles exprimem a mesma opiniãoe um parecer e juízo idêntico e estabelecem omesmo decreto. A sua única regra de condutaera aquela que foi indicada.24. 1 Mas os bispos da Ásia, ao contrário, comPolícrates à cabeça, afirmavam com força queera necessário guardar o costume primitivo quelhes tinha sido transmitido desde a antiguida-de. O próprio Polícrates, numa carta que dirigea Vítor e à Igreja de Roma, expõe a tradiçãochegada até ele, com estas palavras:

2 «Nós celebramos de modo irrepreensí-vel esse dia, sem acrescentar nem tirar nada.De resto, também na Ásia há grandes lumina-res, que ressuscitarão no dia da vinda do Se-nhor, quando vier com glória dos Céus buscartodos os seus santos: Filipe, um dos doze Após-tolos, que repousa em Hierápolis com duas fi-lhas suas, que chegaram virgens à velhice, euma terceira filha que, depois de viver no Es-pírito Santo, repousa em Éfeso.

3 Além disso, está João, aquele que se re-clinou sobre o peito do Senhor e que foi sacer-dote portador da lâmina de ouro, mártir e mes-tre, e que repousa em Éfeso.

4 E em Esmirna, Policarpo, bispo e már-tir. E Traseas de Eumenia, também bispo emártir, que repousa em Esmirna.

5 E não vale a pena falar de Sagáris, bis-po e mártir, que descansa em Laodiceia, bemcomo do bem-aventurado Papiro e Melitão, oeunuco, que em tudo viveu no Espírito Santo erepousa em Sardes, esperando a visita quevirá dos Céus, e na qual ele ressuscitará dosmortos.

6 Todos celebraram como dia de Páscoao da Lua décima quarta, de acordo com o Evan-gelho, sem se desviarem em nada, mas seguin-do a regra da fé. E eu mesmo, Polícrates, o

1 EUSÉBIO DE CESAREIA, História Eclesiástica (=SCh 31, 41,55 e 73; BAC 349, 350). Eusébio nasceu em 265 e morreuem 339.

2 Este problema agitou a Igreja entre 189-198.

ANTOLOGIA LITÚRGICA

HISTÓRIA DA PÁSCOA

JANEIRO – MARÇO 2003 53

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menor de todos vós, vivo segundo a tradiçãodos meus parentes, a alguns dos quais segui deperto. Sete dos meus parentes foram bispos eeu sou o oitavo, e sempre os meus parentescelebraram o dia quando o povo se abstinha dopão fermentado.

7 Portanto, irmãos, tenho sessenta e cin-co anos no Senhor. Mantive relações com osirmãos do mundo inteiro e percorri toda a Sa-grada Escritura. Não me assusto com os queprocuram impressionar-me, pois os que forammaiores do que eu disseram: Deve obedecer-seantes a Deus do que aos homens3...».

9 Perante isto, Vítor, que presidia à Igrejade Roma, ameaçou afastar em bloco da comu-nhão todas as comunidades da Ásia e as Igre-jas limítrofes, alegando que eram heterodoxase escreveu cartas para notificar e anunciar queos irmãos daquela região, sem excepção, fica-vam excomungados.

10 Mas esta medida não agradou a todosos bispos. Houve alguns que o exortaram apensar no bem da paz, da comunhão com o pró-ximo e da caridade. Conservam-se inclusiva-mente as palavras destes, que responderam aVítor com grande energia.

11 Entre eles está Ireneu, na carta escritaem nome dos irmãos da Gália, aos quais presi-dia. Ireneu está de acordo que é preciso cele-brar unicamente no domingo o mistério da res-surreição do Senhor; mas a seguir exorta Ví-tor, com palavras convenientes, a não excomun-gar em bloco Igrejas de Deus, que observam atradição de um antigo costume. E a estas pala-vras acrescentava textualmente o que segue:

12 «A controvérsia não diz respeito ape-nas ao dia, mas também à forma de jejuar, por-que uns pensam que devem jejuar durante umdia, outros dois dias e outros mais; e outros ain-da dão ao seu dia uma medida de quarenta eoito horas do dia e da noite.

13 Esta variedade de observâncias não seproduziu agora, nos nossos tempos, mas muitoantes, nos tempos dos nossos predecessores,cujo forte, segundo parece, não era a exacti-dão, e que forjaram para a posteridade este cos-tume, na sua simplicidade e particularismo. E

nem por isso todos eles deixaram de viver empaz uns com os outros, tal como nós; o desa-cordo no jejum confirma o acordo na fé».

14 A todos estes motivos, Ireneu acrescen-ta um relato que considero oportuno referir eque diz assim: «Entre eles, os presbíteros ante-cessores de Sotero, que presidiram à Igreja quetu agora governas, quer dizer Aniceto, Pio eHigino, assim como Telésforo e Sisto, tambémnão observaram o dia (décimo quarto) nem im-puseram (a sua observância) aos que estavamcom eles, e nem por isso eles próprios, que nãoobservavam o dia (décimo quarto), viviammenos em paz com os que procediam das Igre-jas nas quais se observava esse dia, apesar daobservância criar um contraste ainda maior noconfronto com aqueles que não o observavam.

15 Nunca se rejeitou a ninguém por estemotivo, mas antes, os mesmos presbíteros, teusantecessores, que não observavam o dia (déci-mo quarto), enviavam a Eucaristia aos das ou-tras Igrejas que o observavam.

16 Quando o bem-aventurado Policarpoveio a Roma no tempo de Aniceto, havendosobre outras coisas pequenas divergências en-tre eles, rapidamente se puseram em paz, semdiscutirem mutuamente sobre este assunto, por-que nem Aniceto podia convencer Policarpo anão observar o dia, tendo-o ele sempre obser-vado com João, o discípulo de nosso Senhor, ecom os demais Apóstolos com os quais convi-veu, nem tão pouco Policarpo convenceu Ani-ceto a observá-lo, pois este dizia que deviamanter o costume dos presbíteros seus anteces-sores.

17 Apesar das coisas estarem assim, per-maneceram em comunhão um com o outro, ena igreja Aniceto cedeu a Policarpo a celebra-ção da Eucaristia, evidentemente por deferên-cia, e separaram-se um do outro em paz; e paztinha a Igreja toda, tanto os que observavam odia como os que o não observavam».

18 E Ireneu honrava o seu nome, porqueera pacificador pelo nome que usava e pelo seumodo de proceder. Era assim que exortava etrabalhava pela paz das Igrejas. Estava emcontacto, através de cartas, não apenas comVítor, mas também com muitos outros chefesde diferentes Igrejas, acerca do problema emquestão.3 Act 5, 29.

54 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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25. Unanimidade acerca da Páscoa. Contudo,os bispos da Palestina que mencionámos hápouco, Narciso e Teófilo, e com eles Cássio,bispo da Igreja de Tiro, e Claro, bispo da dePtolomaida, assim como os que se tinham reu-nido com estes, deram explicações muito por-menorizadas sobre a tradição que chegara atéeles, por sucessão dos Apóstolos, a respeito dafesta da Páscoa, e no fim da carta acrescentamtextualmente:

«Procurai que seja enviada cópia da nossacarta a cada Igreja, para que não sejamos res-ponsáveis dos que, com grande facilidade, de-sencaminham as suas próprias almas. Fazemo-vos saber que os de Alexandria celebram (a Pás-coa) no mesmo dia que nós, pois entre eles enós vem-se trocando correspondência epistolar,de modo que nos é possível celebrar o dia san-to em pleno acordo e todos juntos».

SOBRE A PÁSCOA 70

põe o selo sobre o dia solene da Ascensão deCristo. É pois com toda a razão que nos diassantos do Pentecostes, em recordação do re-pouso futuro, alegramos as nossas almas edescansamos os nossos corpos, como se nosencontrássemos reunidos doravante ao esposoe não pudéssemos jejuar.

4. Pondo-nos a caminho em direcção a Deus,cingimos os rins com a cintura da pureza, asse-guramos a caminhada da nossa alma como quecalçando-a e preparamo-nos, desta forma, pararesponder ao apelo celeste. Utilizamos o caja-do do Verbo de Deus na força das orações, paravencer os inimigos, e dispomo-nos, com toda aprontidão, para a passagem que leva ao Céu,passando rapidamente das coisas inferiores paraas superiores, e da vida mortal para a imortali-dade. Se realizarmos esta passagem de formaconveniente, uma outra festa, muito maior, nosespera. Os Hebreus chamam-lhe o Pentecos-tes.

70 EUSÉBIO DE CESAREIA, De Sollemnitate Paschali (=PG 24; BAC 88, 205-209). Eusébio escreveu esta obra antes de 335, ededicou-a a Constantino. Hoje não existe já a obra completa. Até nós chegaram apenas alguns fragmentos.

ANTOLOGIA LITÚRGICA

Textos litúrgicos,patrísticos e canónicos

do primeiro milénio

Secretariado Nacional de Liturgia2003

1. Foi nesta época (da Primavera) que o Sal-vador de todo o mundo realizou o mistério dasua própria festa (como outrora, nesta época,fora celebrada a sua imagem). Tudo isso temlugar na festa da salvação...

2. Ele próprio era o cordeiro, pelo corpo quetinha tomado. Era igualmente o sol de justiça,dado que uma Primavera divina e uma mudan-ça salvadora faziam passar a vida humana domal para o bem. Uma colheita de frutos novosadorna a Igreja de Deus com variados dons doEspírito Santo...

3. Quanto a nós, celebramos de novo, em cadaano, o início do jejum segundo o seu regressocíclico, e empenhamo-nos, em ordem à pre-paração, num exercício de quarenta dias queprecedem a festa... Recomeçamos a celebraçãoda própria festa, cada vez que o tempo serenova... No entanto, o número do Pentecostesnão se detém nessas sete semanas, mas ultra-passando-as pela última unidade que as segue,

JANEIRO – MARÇO 2003 55

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71 Os cristãos.72 A Eucaristia celebrada no domingo é uma festa pascal heb-

domadária.

5. Foi da tradição que nós aprendemos a ce-lebrar a festa com grande alegria, como pesso-as que ressuscitaram com Cristo e se alegramdo seu Reino. Por isso não temos o direito denos mortificar durante essa festa, porque fo-mos ensinados a levar em nós a imagem do re-pouso que esperamos no Céu. Também nãodobramos os joelhos para rezar, nem nos mor-tificamos pelo jejum, pois aqueles que mere-ceram a graça de ressuscitar segundo Deus nãopodem continuar a lançar-se por terra, e os queforam libertados das paixões já não podem sub-meter-se àquilo a que se submetem os que lhesestão sujeitos.6. Por isso, depois da Páscoa, celebramos oPentecostes em sete semanas completas, depoisde termos atravessado, com coragem, o perío-do dos quarenta dias de exercícios em comum,que precede a Páscoa, ou seja seis semanas. Onúmero seis corresponde à vida activa em quetrabalhamos, e foi assim que Deus criou o mun-do em seis dias. Mas a este esforço sucede, comtoda a razão, a segunda festa de sete semanas,em que o repouso, cujo símbolo é o númerosete, se multiplica para nós. No entanto, o nú-mero do Pentecostes não se atinge desse modo;ele ultrapassa as sete semanas e termina na úl-tima unidade que se lhe acrescenta, a solenida-de da Ascensão de Cristo. Deste modo, é comtoda a razão que, nos santos dias do Pentecos-tes, como imagem do tempo futuro, alegramosas nossas almas e aliviamos os corpos, comose, doravante, nos encontrássemos reunidos aoEsposo e não pudéssemos jejuar...7. É por isso que, desde esse tempo, a verda-deira festa dos mistérios prevaleceu entre osgentios71, ao passo que entre os Judeus nemsequer se conservou a memória dos símbolos.Enquanto (os Judeus), segundo a lei moisaica,sacrificavam o cordeiro pascal só uma vez emcada ano, no décimo quarto dia do primeiromês, ao cair da tarde, nós, os fiéis da novaaliança, celebrando a nossa Páscoa em cada diado Senhor, saciamo-nos sempre com o Corpodo Salvador, tomamos sempre parte no San-gue do Cordeiro...72, sempre em viagem paraDeus, celebrando sempre a festa da Passagem.A palavra evangélica manda-nos, de facto,

fazer essas coisas não só uma vez ao ano, mastodos os dias. Por isso, todas as semanas, nodia salvador do domingo, celebramos a festada nossa Páscoa, cumprindo os mistérios doverdadeiro Cordeiro, pelo qual fomos redi-midos.9. Mas o Salvador também não celebrou aPáscoa com os Judeus no tempo da sua Paixão,pois celebrou a sua própria Páscoa com os seusdiscípulos em tempo diferente daquele em queos Judeus sacrificavam o cordeiro. Os Judeuscelebravam-na no dia da preparação, dia emque o Salvador sofreu a sua Paixão; por issonão entraram no pretório, mas foi Pilatos queveio cá fora ter com eles. Mas Jesus, antes determinar o quinto dia da semana, sentou-Se àmesa com os seus discípulos e, comendo comeles, disse-lhes: Desejei ardentemente comeresta Páscoa convosco. Vês como o Salvadornão comeu a Páscoa com os Judeus?...10. Ele, antes da sua Paixão, comeu a Páscoae celebrou a festa com os seus discípulos, nãocom os Judeus. Depois de ter celebrado a festapela tarde, os sumos sacerdotes, de acordo como traidor, lançaram-Lhe as mãos, prova de quenão comiam a páscoa naquela tarde, pois se acomessem, ter-se-iam abstido de O perseguir...11. Vês como desde então Jesus por um ladoSe afastava dos Judeus... e por outro lado Seunia mais aos seus discípulos, celebrando jun-tamente com eles a festa desejada? Por isso,também nós devemos comer a Páscoa de Cris-to purificando as nossas almas de todo o fer-mento de malícia e perversidade, saciando-noscom os ázimos da verdade e da sinceridade...,ungindo os dintéis das nossas almas com o san-gue do Cordeiro imolado por nós, para pormosem fuga o nosso inimigo mortal. E isto nãoapenas num período de cada ano, mas cada se-mana. Seja a nossa preparação o jejum, símbo-lo da dor, pelos pecados cometidos e pela me-mória da paixão do Salvador.12. Nós celebramos estes mesmos mistériosdurante todo o ano, ao comemorarmos a pai-xão do Salvador todas as sextas-feiras com ojejum, que os Apóstolos observaram então pelaprimeira vez quando lhes foi tirado o Esposo.Todos os domingos somos vivificados peloCorpo santo da mesma Páscoa salvadora, emarcamos as nossas almas com o seu Sangueprecioso.

56 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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ESTATUTOS

Capítulo III

Palavra, Liturgia e Comunidade

Secção 1Palavra de Deus

Art. 11[Celebração semanal da Palavra]

§ 1. Cada comunidade neocatecumenaltem semanalmente uma celebração da Pa-lavra de Deus, normalmente com quatroleituras, com os temas indicados pelo Di-rectório catequético do Caminho Neoca-tecumenal para cada etapa.

§ 2. Na celebração da Palavra de Deus,antes da homilia, o presbítero convida ospresentes que o desejarem a expressarbrevemente aquilo que a Palavra procla-mada disse à sua vida. Na homilia, que temum lugar privilegiado na instrução doNeocatecumenado, o presbítero prolongaa proclamação da Palavra, interpretando-asegundo o Magistério e actualizando-ano hoje do caminho de fé dos neocatecú-menos.

§ 3. Cada celebração da Palavra é pre-parada cuidadosamente, por turnos, porum grupo da comunidade, com a ajuda,quando possível, do presbítero. O grupo

escolhe as leituras e os cânticos, prepara asadmonições e dispõe a sala e os sinaislitúrgicos para a celebração, cuidando comzelo da sua dignidade e beleza.

§ 4. Para aprofundar a Escritura «com ainteligência e o coração da Igreja», osneocatecúmenos servem-se sobretudo daleitura dos escritos dos Padres, dos docu-mentos do Magistério, especialmente doCatecismo da Igreja Católica, e de obrasde autores espirituais.

Secção 2Liturgia

Art. 12[Vigília pascal]

§ 1. O centro e a fonte da vida cristã é omistério pascal, vivido e celebrado demodo eminente no Santo Tríduo, cujofulgor enche todo o ano litúrgico com asua claridade. Ele constitui portanto ofulcro do neocatecumenado, enquantoredescoberta da iniciação cristã.

§ 2. «A vigília pascal, centro da liturgiacristã, e a sua espiritualidade baptismal,são inspiração para toda a catequese» Poreste motivo, durante o itinerário, os neoca-tecúmenos são iniciados gradualmente auma mais perfeita participação em tudoaquilo que a santa noite significa, celebra erealiza.

CAMINHO NEOCATECUMENAL

A LITURGIA NO CAMINHO NEOCATECUMENAL

Para informação dos nossos leitores, transcrevemos o texto dos Estatutos do Cami-nho Neocatecumenal referente à Liturgia.

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§ 3. Deste modo o neocatecumenadocontribui para formar aos poucos uma as-sembleia paroquial que prepara e celebra avigília pascal na noite santa, com toda ariqueza dos elementos e dos sinaislitúrgicos e sacramentais queridos pelaIgreja.

Art. 13

[Eucaristia]

§ 1. A Eucaristia é essencial ao neoca-tecumenado, enquanto catecumenadopós-baptismal, vivido em pequena comu-nidade. A Eucaristia, com efeito, completaa iniciação cristã.

§ 2. Os neocatecúmenos celebram aEucaristia na pequena comunidade paraserem iniciados gradualmente à plena,consciente e activa participação nos di-vinos mistérios, também segundo o exem-plo de Cristo, que na multiplicação dospães fez sentar os homens «em grupos decinquenta» (Lc 9, 14). Tal costume, conso-lidado na práxis de mais de trinta anos doCaminho, é fecundo em frutos.

§ 3. «Tendo em consideração específi-cas exigências formativas e pastorais, epensando no bem dos indivíduos e dosgrupos e especialmente nos frutos que daípossam derivar para toda a comunidadecristã», a pequena comunidade neocate-cumenal, com a autorização do Bispodiocesano, celebra a Eucaristia dominical,aberta também a outros fiéis, após asprimeiras Vésperas.

§ 4. Cada celebração da Eucaristia épreparada, quando for possível sob a con-dução do Presbítero, por um grupo da co-munidade neocatecumenal, por turnos,que prepara breves admonições às leituras,escolhe os cânticos, providencia o pão, o

vinho, as flores, e cuida do decoro e dadignidade dos sinais litúrgicos.

Art. 14

[Penitência, oração, ano litúrgico,exercício de piedade]

§ 1. «O sacramento da Penitência con-tribui enormemente para sustentar a vidacristã». No seu itinerário de conversão, osneocatecúmenos celebram-no periodica-mente, segundo o rito para a reconciliaçãode vários penitentes, com confissão eabsolvição individual. São educadostambém a aproximar-se com assiduidadedo sacramento da Penitência, segundo orito para a reconciliação de um só peni-tente.

§ 2. Os neocatecúmenos são gradual-mente iniciados à oração litúrgica e à ora-ção contemplativa. Os pais são instruídospara transmitir a fé aos filhos numa cele-bração doméstica, feita durante as Laudesdo Domingo. Os filhos são preparadospara a Primeira Comunhão e para oCrisma na paróquia e, após os 13 anos, sãoconvidados a iniciar o Caminho Neocate-cumenal.

§ 3. A Igreja inicia progressivamente osneocatecúmenos na riquezas espirituais ecatequéticas do ano litúrgico, em que«celebra todo o mistério de Cristo». Paraisso, antes do Advento, da Quaresma e daPáscoa, os Catequistas fazem um anúnciopreparatório.

§ 4. Os neocatecúmenos são tambémgradualmente instruídos no culto eucarís-tico fora da Missa, na adoração nocturna,na recitação do santo Rosário e nos outrosexercício de piedade da tradição católica.

58 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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ORGANISTAS E DIRECTORES DE COROS

FÁTIMA, 22 - 31 de Agosto de 2003

CURSO DE MÚSICA LITÚRGICA

Condições para o nível A

Curso de Orgão:* Interpretação das Invenções de Bach

a duas vozes.* Sexto ano de Educação Musical

ou equivalente.* Terceiro ano de Harmonia.* Execução de uma obra de órgão.

Curso de Direcção de Coros:* Leitura de Motetes, à primeira vista,

nas claves de sol e de fá.* Sexto ano de Educação Musical

ou equivalente.* Experiência de direcção a quatro

vozes.* Iniciação ao piano ou ao órgão.

Condições para o nível BCurso de orgão:* Leitura das obras do livro de

Ana Madalena Bach.* Quarto ano de Educação Musical

ou equivalente.* Experiência de acompanhamento.

Curso de Direcção de Coros:

* Canto de melodias litúrgicas

* Quarto ano de Educação Musicalou equivalente.

* Experiência de direcção da assem-bleia.

ORGANIZAÇÃOServiço Nacional de Música SacraSecretariado Nacional de Liturgia

PATROCÍNIOSantuário de Fátima

DESTINATÁRIOS* Responsáveis vicariais, arciprestais

ou paroquiais de Música Sacra eLitúrgica.

* Organistas e Directores de Coro quetrabalham nas comunidades.

CONDIÇÕES DE ADMISSÃO* Idade entre os 17 e os 40 anos.* Conhecimentos musicais.* Formação geral (11º ano de

escolaridade).* Integração na Pastoral da Música

Sacra ou Litúrgica.* Ter a confiança da Hierarquia.

DURAÇÃOTrês anos completos

INFORMAÇÕESSecretariado Nacional de Liturgia

Santuário de Fátima2496 – 908 FÁTIMA

Tel. 249 533 327 Fax 249 533 343

[email protected]

JANEIRO – MARÇO 2003 59

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LIVROS

DO

SALMISTA

E DO

ORGANISTA

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MÚSICA LITÚRGICA

No dia 27 de Fevereiro de 2003 faleceuo nosso grande amigo, compositor e

mestre, Monsenhor José Fernandes daSilva. Partiu com a alma cheia de música,decidido a cantar para sempre as miseri-córdias do Senhor. Vítima de doença pro-longada, nunca deixou de compor e atéescreveu músicas para as suas exéquias.As suas músicas brotavam duma alma depastor zeloso. A música era uma expressãode paixão pastoral. Compunha por neces-sidade interior, ensaiava por imperativopastoral e não se recusava a esforços, porvezes heróicos, para servir a Igreja com osseus serviços.

Asua rica folha de serviço foi seladano tempo, mas agora que o livro da

vida se abriu de vez, acreditamos que sólhe restava a eternidade para consumar aobra iniciada no tempo. Estes santos, tãoprecisos no tempo, tem o seu justo assentona assembleia celeste onde sustentam ocanto dos peregrinos, sempre que a liturgiaos une no mesmo louvor.

José Fernandes da Silva nasceu em Pe-reira – Barcelos no dia 4 de Setembro

de 1936. Foi ordenado sacerdote no dia 4de Julho de 1960. A sua actividade pas-toral começou em Arcozelo como Coad-jutor. De 1963 a 1969 foi pároco deGrimancelos – Barcelos. Mas foi emViatodos onde mais tempo (1969-1995)serviu a Igreja como pároco. Em 1985recebeu o título de Monsenhor. Em 1995foi nomeado pároco de Vila Nova de Fa-malicão, onde consumou no tempo o seueterno sacerdócio.

I niciou a sua formação musical no Se-minário de Braga com o P. Manuel

Faria Borda, P. Bompastor e Maestro Ma-nuel Ferreira de Faria. Frequentou as Se-manas Gregorianas de Fátima em Fátima.No Conservatório de Música do Portofez o 6º ano de Piano e frequentou o 2° anodo Curso de Composição Superior. Fre-quentou os Cursos de Direcção Coral pro-movidos pela Fundação Gulbenkian, emLisboa.

O seu Curriculum vitae merece ficarregistado para louvor do Autor de

todos os dons e serviços:– Professor de Canto Coral e de Educação

Musical em várias escolas.

GRATA MEMÓRIA

Monsenhor José Fernandes da Silva

JANEIRO – MARÇO 2003 61

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– Professor de Piano, História da Músicae Canto Gregoriano no Seminário deBraga.

– Monitor de Cursos de Música para Pro-fessores Primários em Bragança, VilaReal e Viana do Castelo.

– Fundador e Director artístico do Coralde Barcelos, durante 10 anos.

– Fundador e Director do Coro Paroquialde Viatodos.

– Concertos em Santiago de Compostela,Lisboa, Coimbra, Braga, Viana do Cas-telo e várias participações na Eucaristiada RTP.

– Vice-presidente do Serviço Nacional deMúsica Sacra, até Setembro de 1995.

– Director interino da Nova Revista deMúsica Sacra, durante 7 anos e actual-mente membro do Corpo redactorial.

– Compositor de Música Coral Sacra eprofana, com obras publicadas na NovaRevista de Música Sacra de Braga e noBoletim de Música Litúrgica do Porto eoutras obras inéditas.

– Fundador de uma Pequena Escola deÓrgão, no Arciprestado de Barcelos,que funcionou durante cerca de 10 anos.

– Colaborador assíduo nos Encontros Na-cionais de Pastoral Litúrgica, durante15 anos.

– Colaborador na organização dos CursosNacionais de Organistas e Directores deCoros.

– Assistente da Equipa Diocesana doCPM de 1987 a 1992 e Assistente daEquipa Nacional de 1992 a 1996.

– Director Espiritual no Seminário Con-ciliar de Braga, de 1982 a 1989.

– Moderador das Actividades Pastoraisno Seminário Conciliar de 1993 a 1995.

– Presidente da Assembleia Geral daPAFAC, desde 1999 (Cooperativa Cul-tural e Editorial das Paróquias de Fama-licão)

– Articulista semanal do Jornal Notíciasde Famalicão, desde 1997.

– Capelão dos Bombeiros Voluntários deViatodos e Barcelos.

– Medalha de Mérito Cultural atribuídapelo Subsecretário de Estado da Culturaem 1 de Outubro de 1995.

Monsenhor Fernandes da Silva des-cansa de todos estes e outros muitos

trabalhos, nomeadamente como ministrodo bom conselho e da presença oportunajunto dos amigos em dificuldades. A nu-merosa presença de Padres e Bispos no seufuneral deram testemunho desta intensa efecunda actividade pastoral.

Este Boletim de Pastoral Litúrgica querser expressão do apreço e da estima

que Monsenhor merece. E o melhor apre-ço consistirá em continuar a obra que lheera tão querida de atender à boa qualidadedo canto litúrgico. A renovação litúrgicafica mais pobre sem o seu habitual contri-buto, mas ficará mais consolidada com umnovo inspirador e intercessor celeste.

62 BOLETIM DE PASTORAL LITÚRGICA

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NOTÍCIAS

O SECRETARIADO NACIONALDE LITURGIA

O Secretariado Nacional de Liturgiatem reunido habitualmente nas pri-

meiras segundas feiras de cada mês paratratar dos assuntos da sua agenda de traba-lhos. Neste espaço tornamos público esteserviço.

Apresentamos hoje o elenco das pes-soas que integram este Secretariado:

P. Pedro Lourenço Ferreira (Director)Cón. José Ferreira (Lisboa)P. José de Leão Cordeiro (Évora)P. Pedro Romano Rocha (Jesuítas)Cón. António Ferreira dos Santos (Porto)P. Luís Ribeiro de Oliveira (Coimbra)P. António Júlio da S. Cartageno (Beja)P. Luís Manuel Pereira da Silva (Lisboa)Cón. João da Silva Peixoto (Porto)..

Aeste grupo devemos associar a Co-missão Episcopal de Liturgia, já que

dela depende o Secretariado, que é o seuórgão executivo. O Secretário da Comis-são Episcopal de Liturgia é o Directordo Secretariado e faz a união destes doisorganismos da Conferência EpiscopalPortuguesa. Integram esta Comissão:

D. António M. Bessa Taipa (Presidente)D. Júlio Tavares Rebimbas (Vogal)D. Albino Mamede Cleto (Vogal)P. Pedro Lourenço Ferreira (Secretário).

Os assuntos da agenda têm sido mui-tos, mas merecem destaque:

– Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica.– Peregrinação Nacional dos Acólitos.

– Encontro Nacional de Artistas.– Curso de Música Litúrgica para Organis-

tas e Directores de Coro.– Serviço Nacional de Música Sacra.– Boletim de Pastoral Litúrgica.– Ordo das celebrações dominicais na au-

sência de presbítero.– Dossier sobre a celebração do matrimó-

nio nas capelas.– Dossier sobre os concertos nas igrejas.– Dossier sobre os registos fotográficos e

vídeos nas igrejas.– Dossier sobre as celebrações transmiti-

das pela TV e rádio.– Nova edição do Ritual das Bênçãos

com novos formulários.– Antologia Litúrgica – texto litúrgicos,

patrísticos e canónicos do primeiro mi-lénio.

– Liturgia das Horas com canto – II (Ad-vento, Natal, Quaresma e Páscoa)

– Cânticos para missas com crianças.– Instrução Geral do Missal Romano.– Nova edição do Missal Romano.– Publicação com ofícios de defuntos.– Novo Ritual das Exéquias.– Tradução do Martirológio .– Nova edição de O Ministério do Leitor.

De tudo isto se tem tratado e os frutosvão aparecendo a seu devido tempo.

Estão programadas várias destas activida-des e algumas publicações são aguardadaspara breve. O trabalho é muito e os traba-lhadores são poucos. Pedimos compreen-são para as demoras nestes serviços.

JANEIRO – MARÇO 2003 63

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WWW.LITURGIA.PT

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XXIX ENCONTRO NACIONALDE PASTORAL LITÚRGICA

ESCOLA DE MINISTÉRIOS

O MINISTÉRIO DA PRESIDÊNCIA

NA EUCARISTIA DOMINICAL

P. Dr. Luís Ribeiro de OliveiraDiocese de Coimbra

OS ACÓLITOS NA ASSEMBLEIA

DOMINICAL

P. Dr. Manuel José Dias AmorimDiocese do Porto

DIÁCONOS, LEITORES

E MINISTROS DA PALAVRA

NA ASSEMBLEIA DO DOMINGO

P. Dr. José de Leão CordeiroArquidiocese de Évora

OS MINISTROS EXTRAORDINÁRIOS DA

COMUNHÃO NA EUCARISTIA DOMINICAL

E NO SERVIÇO AOS DOENTES

P. Dr. João da Silva PeixotoDiocese do Porto

O MINISTÉRIO DO CANTO

NA MISSA, NA LITURGIA DAS HORAS

E NAS OUTRAS CELEBRAÇÕES

P. Dr. António Ferreira dos SantosDiocese do Porto

O domingo e a sua celebraçãoFátima — 21 - 25 Julho — 2003

CONFERÊNCIAS

O DOMINGO E A EUCARISTIA:LIÇÕES DO PASSADO PARA O PRESENTE

P. Dr. João da Silva PeixotoDiocese do Porto

A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA

DOMINICAL

P. Dr. Luís Manuel Pereira da SilvaPatriarcado de Lisboa

A CELEBRAÇÃO DOMINICAL

DA LITURGIA DAS HORAS

P. Dr. Manuel Joaquim F. da CostaArquidiocese de Braga

OUTRAS FORMAS DE

SANTIFICAÇÃO DO DOMINGO

P. Dr. Carlos Manuel P. de AquinoDiocese do Algarve

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INFORMAÇÃO

LIVROS LITÚRGICOS OFICIAIS

Situação em Março de 2003

Missal– Formato maior – (1ª ed.) ................................................................................... Disponível– Formato menor – (1ª ed.) .................................................................................. Esgotado– (A 2ª ed. aguarda a publicação da edição típica latina)

Leccionário:– I. Ano A (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– II. Ano B (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– III. Ano C (2ª ed.) – Edição revista ................................................................ Disponível– IV. Ferial I: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa ............................................ Disponível– V. Ano II: Anos ímpares ............................................................................... Disponível– VI. Ano III: Anos pares .................................................................................. Disponível– VII. Santoral e Comuns .................................................................................... Disponível– VIII.Missas Rituais, Diversas e Votivas .......................................................... Disponível

Evangeliário ............................................................................................................... DisponívelOração dos Fiéis (2ª ed. revista e com formulários para o santoral) ......................... DisponívelLiturgia das Horas [revista e actualizada]

– Vol I. Advento e Natal (4ª ed.) ..................................................................... Disponível– Vol II. Quaresma e Páscoa (4ª ed.) ................................................................. Disponível– Vol III. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Vol IV. Tempo Comum (4ª ed.) ....................................................................... Disponível– Abrev. Edição abreviada [Laudes-H. Int.-Vésp. e Completas] (3ª ed.) .......... Disponível– Abrev. Laudes e Vésperas [Laudes-Vésp. e Completas] (1ª ed.) ................... Disponível

Celebração do Baptismo ............................................................................................ DisponívelIniciação Cristã dos Adultos ...................................................................................... DisponívelCelebração da Confirmação (2ª ed.) .......................................................................... DisponívelSagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico Fora da Missa ........................ DisponívelRitual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) ......................................... DisponívelCelebração da Penitência (2ª ed.) .............................................................................. DisponívelUnção e Pastoral dos Doentes ................................................................................... DisponívelCelebração das Exéquias ........................................................................................... EsgotadoOrdenação do Bispo, dos Presbíteros e Diáconos (2ª ed.) ........................................ DisponívelCelebração do Matrimónio (nova edição) ................................................................. DisponívelDedicação da Igreja e do Altar .................................................................................. DisponívelBênção de um Abade e de uma Abadessa ................................................................. DisponívelRitual da Profissão Religiosa .................................................................................... DisponívelRitual dos Exorcismos ............................................................................................... DisponívelConsagração das Virgens .......................................................................................... DisponívelCelebração das Bênçãos ............................................................................................ DisponívelInstituição dos Leitores e dos Acólitos ..................................................................... DisponívelBênção dos Óleos dos Catecúmenos

e dos Enfermos e Consagração do Crisma (2ª ed.) .............................................. Disponível

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PUBLICAÇÕES DO SNL

A celebração do Tempo do Natal (2ª ed.) .................................................... € 3,50A Religiosidade Popular e a Celebração da Fé ........................................... € 2,00Adaptação das Igrejas segundo a Reforma Litúrgica ................................ € 3,50Akathistos ...................................................................................................... € 2,00As bênçãos ..................................................................................................... € 3,50Bênçãos da Família ....................................................................................... € 3,50Cânticos de Entrada e de Comunhão I

(Advento, Natal, Quaresma e Páscoa) ............................................... € 6,00Cânticos de Entrada e de Comunhão II (Tempo Comum) ......................... € 6,00Cânticos instrumentados para Banda ............................................................. € 10,00Directório para as celebrações dominicais na ausência do presbítero ...... € 0,50Directório Litúrgico 2003 ............................................................................. € 5,00Agenda – Directório Litúrgico 2003............................................................ € 7,00Enquirídio dos Documentos da Reforma Litúrgica .................................... € 25,00Guião do XXVI Encontro Nacional Pastoral Litúrgica .............................. € 5,00Guião do XXVII Encontro Nacional Pastoral Litúrgica ............................ € 5,00Introduções aos Salmos e Cânticos de Laudes e Vésperas ........................ € 4,00Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas (2ª ed.) ................................... € 2,00Liturgia das Horas – Edição para canto (Tempo Comum) ......................... € 10,00O Ministério do Leitor .................................................................................. € 5,00O Tríduo Pascal ............................................................................................. € 2,50O Tempo Pascal (2ª ed.) ................................................................................ € 3,50Orar cantando – Carlos da Silva .................................................................. € 12,50Ordenamento das Leituras da Missa ............................................................ € 2,50Ritual do Ministro Extraordinário da Comunhão (4ª ed.) .......................... € 4,00Salmos Responsoriais – Organista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís ................. € 17,50Salmos Responsoriais – Salmista – (2ª ed.) – P. Manuel Luís .................. € 14,00

EM PREPARAÇÃO:Antologia Litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio.Liturgia das Horas – Ed. para canto II (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa)Cânticos para Missas com crianças.

Secretariado Nacional de LiturgiaSantuário de Fátima – Apartado 31 — 2496-908 FÁTIMATel. 249 533 327 Fax 249 533 343Sítio: www.liturgia.ptE-mail: [email protected]

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SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA

A Liturgia é simultaneamentea meta

para a qual se encaminha a acção da Igrejae a fonte

de onde promana toda a sua força.(SC 10)