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N ão podemos obter um lugar num teatro, a menos que te- nhamos tomado a precaução de ga- rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- nos que reservemos um lugar à fren- te, corremos o risco de ficarmos oprimidos na mul- tidão que se aglo- mera na entrada, aguardando a abertura da bilhe- teria; há ainda a possibilidade de nem mesmo con- seguirmos um lu- gar afinal. Esta sim- bologia, embora temporal e terres- tre, nos ilustra que estamos aqui com o propósito de adquirir um título de admissão para os festivais divinos. Se negligenciarmos as precauções pa- ra garantir este título, seguramente não entraremos nesta reunião de encanto e alegria. Não devemos des- prezar, até o último momento, a ne- cessária prudência, tendo atenção para as inconveniências que tal en- canto possa nos expor; tais precau- ções são muito simples, pois bilhete- rias são encontradas em qualquer lugar. Por isso, somos indesculpáveis se não nos provirmos adequadamen- te. Este título de admissão tal como aquele do teatro é intransferível, pois nosso nome está escrito nele; e quanto a isso, não pode haver dúvi- da, já que os nomes serão chamados. Devemos portanto, estar vigilantes contra os impos- tores, que ofere- cem bilhetes falsi- ficados, portado- res de nenhum título, por mais que a frequência de sua venda aten- da à sua procura. Nosso Venerável Mestre Louis- Claude de Saint- Martin nasceu em Amboise, provín- cia de Lourraine, na França; em 18 de Janeiro de 1743. Foi uma frá- gil e sensível crian- ça que desde cedo manifestou agudo intelecto, elevado idealismo e devoto sentimento, que na maturidade en- controu completa expressão, como um grande místico Cristão e Ilumina- do. Filho de nobres e devotos pais, perdeu sua mãe poucos dias após seu nascimento; contudo, esta perda foi substituída completamente por Louis-Claude de Saint-Martin - Extratos de Seus Manuscritos Março de 2011 Volume 1I, edição XI Nesta edição: Louis-Claude de Saint-Martin - Extratos de Seus Manuscritos 1 O Martinismo Russo do Século XVIII até Nos- sos Dias 7 O Defeito da Acídia na Análi- se de São To- más de Aquino 16 O Mito de Per- seu e Medusa 23 Boletim da Sociedade das Ciências Antigas Publicação da Sociedade das Ciências Antigas — Todos os Direitos Reservados

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N atildeo podemos obter um lugar num teatro a menos que te-

nhamos tomado a precauccedilatildeo de ga-rantir um bilhete de entrada que soacute eacute emitido com a autorizaccedilatildeo de um administrador Aleacutem do mais a me-nos que reservemos um lugar agrave fren-te corremos o risco de ficarmos oprimidos na mul-tidatildeo que se aglo-mera na entrada aguardando a abertura da bilhe-teria haacute ainda a possibilidade de nem mesmo con-seguirmos um lu-gar afinal Esta sim-bologia embora temporal e terres-tre nos ilustra que estamos aqui com o propoacutesito de adquirir um tiacutetulo de admissatildeo para os festivais divinos Se negligenciarmos as precauccedilotildees pa-ra garantir este tiacutetulo seguramente natildeo entraremos nesta reuniatildeo de encanto e alegria Natildeo devemos des-prezar ateacute o uacuteltimo momento a ne-cessaacuteria prudecircncia tendo atenccedilatildeo para as inconveniecircncias que tal en-canto possa nos expor tais precau-ccedilotildees satildeo muito simples pois bilhete-rias satildeo encontradas em qualquer

lugar Por isso somos indesculpaacuteveis se natildeo nos provirmos adequadamen-te Este tiacutetulo de admissatildeo tal como aquele do teatro eacute intransferiacutevel pois nosso nome estaacute escrito nele e quanto a isso natildeo pode haver duacutevi-da jaacute que os nomes seratildeo chamados Devemos portanto estar vigilantes

contra os impos-tores que ofere-cem bilhetes falsi-ficados portado-res de nenhum tiacutetulo por mais que a frequecircncia de sua venda aten-da agrave sua procura Nosso Veneraacutevel Mestre Louis-Claude de Saint-Martin nasceu em Amboise proviacuten-cia de Lourraine na Franccedila em 18 de Janeiro de 1743 Foi uma fraacute-gil e sensiacutevel crian-

ccedila que desde cedo manifestou agudo intelecto elevado idealismo e devoto sentimento que na maturidade en-controu completa expressatildeo como um grande miacutestico Cristatildeo e Ilumina-do Filho de nobres e devotos pais perdeu sua matildee poucos dias apoacutes seu nascimento contudo esta perda foi substituiacuteda completamente por

Louis-Claude de Saint-Martin - Extratos de Seus Manuscritos

Marccedilo de 2011 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Nesta ediccedilatildeo

Louis-Claude de Saint-Martin - Extratos de Seus Manuscritos

1

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nos-sos Dias

7

O Defeito da Aciacutedia na Anaacuteli-se de Satildeo To-maacutes de Aquino

16

O Mito de Per-seu e Medusa 23

Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas mdash Todos os Direitos Reservados

Paacutegina 2 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

uma madrasta que nutriu as nobres ambiccedilotildees e a alta sensibilidade que ele possuiacutea mesmo com tatildeo tenra idade Mais tarde ele mesmo se expressaria eternamente grato pela sua amorosa orientaccedilatildeo e sensata educaccedilatildeo a qual segundo ele o levou a amar a Deus e ao homem Destinado por seus pais agrave magistratura Saint-Martin foi para a escola de direito apoacutes dei-xar o coleacutegio de Pontlevoi onde havia sido enviado ainda com pouca idade Na verdade foi neste coleacutegio que teve seu primeiro vis-lumbre dos princiacutepios miacutesticos laacute encontrou um livro de autoria de Abbadie titulado A Arte de Conhecer a Si mesmo o qual leu com deleite e pareceu tecirc-lo compreendido mesmo sendo tatildeo jovem Posteriormente atribuiu seus interesses miacutesticos e esoteacutericos agrave leitura deste livro Dirigindo-se ao estudo da lei teve preferecircn-cia especialmente pelos escritos de Burla-maqui harmoniosos como seu proacuteprio gosto pelos fundamentos naturais da justiccedila e razatildeo humana Todavia encontrou o sistema de Regras Administrativas e termos teacutecnicos da lei repugnantes Completado seu curso re-cebeu sua toga de Rei dos Advogados da Alta Corte de Tours e comeccedilou a praticar a lei Seus interesses filosoacuteficos e esoteacutericos assim como suas aspiraccedilotildees interiores contudo elevaram-se acima de qualquer coisa natildeo permitindo-lhe uma completa dedicaccedilatildeo ao trabalho inadequado aos seus talentos singu-lares Eventualmente sentia que seu dever seria o de se dedicar integralmente ao traba-lho de magistrado e portanto implorou a permissatildeo de seus pais para retirar-se Fez parte de uma comisso nas forccedilas arma-das como oficial ligado ao Regimento de Faix aquartelado em Bourdeaux Tinha entatildeo 22 anos Evidentemente naqueles dias de paz uma carreira militar proporcionava muitas horas livres a principal finalidade de seu in-gresso nesta atividade foi realmente a de ob-ter tempo adicional para os estudos esoteacuteri-

cos e praacuteticas miacutesticas Foi atraveacutes de um de seus companheiros ofi-ciais que Saint-Martin encontrou Martinez de Pasqually na eacutepoca em que se localizava em Bordeaux Pasqually era Gratildeo-Mestre dos Elus-Cohen Depois de aprender sobre o tra-balho e propoacutesitos desta Ordem e de uma devida preparaccedilatildeo seguida de comprovado meacuterito Saint-Martin foi iniciado na Ordem dos Elus-Cohen em 1768 quando tinha 25 anos Nesta ordem conseguiu alcanccedilar o mais alto grau Rosa-Cruz De 1768 a 1771 Saint-Martin foi reconheci-do como sendo secretaacuterio pessoal de Pas-qually e nestes anos uma ligaccedilatildeo muito es-treita se estabeleceu entre eles O caraacuteter e os ensinamentos de Martinez de Pasqually criaram uma profunda impressatildeo em Saint-Martin impressatildeo esta que permaneceu com ele por toda sua vida a qual ele proacuteprio admi-tiu mesmo nos uacuteltimos anos quando ingres-sou no seu proacuteprio caminho criativo e indivi-dual O Gratildeo-Mestre dos Elus-Cohen reco-nheceu Saint-Martin como um brilhante No-vo Homem valoroso disciacutepulo qualificado para levar adiante a Obra Em 1772 assuntos pessoais chamaram Pas-qually agrave Port-au-Prince no Haiti onde passou seus dois uacuteltimos anos As ideacuteias principais de seu trabalho permaneceram entatildeo com seus dois disciacutepulos mais capazes Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz Saint-Martin e ou-tros Martinistas proacuteximos do uacuteltimo Gratildeo Mestre compreenderam que este natildeo havia transmitido a maior parte de seu conheci-mento a nenhum deles talvez natildeo tivesse encontrado entre eles algueacutem tatildeo valioso para tal honra e responsabilidade Por outro lado como orientador Saint-Martin sentiu-se obrigado a continuar em uma crescente via independe-te envolvendo uma filosofia ca-racterizada pela sua proacutepria compreensatildeo oculta maturidade e visatildeo espiritual Publicou sua primeira obra filosoacutefica Dos

Paacutegina 3 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Erros e da Verdade aos 32 anos Esta obra tem sido considerada como seu maior traba-lho de pesquisa e a mais fecunda contribuiccedilatildeo para a literatura esoteacuterica Foi publicada co-mo sendo os escritos do Filoacutesofo Desco-nhecido pseudocircnimo usado por ele jaacute que o nome de Saint-Martin nunca apareceu du-rante sua vida iniciaacutetica em nenhuma de suas obras Durante vaacuterios anos de atividade lite-raacuteria escreveu numerosas obras entre elas Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo Dos Nuacutemeros O Espiacuterito das Coisas O Homem de De-sejo O Novo Homem O Homem Espiacuteri-to Homem sua verdadeira natureza e mis-teacuterio Estes livros tornaram-se bastante po-pulares e muito lidos Natildeo demorou muito para que vaacuterios grupos se denominassem Sociedade do Filoacutesofo Desconhecido que surgiram para estudar suas obras Saint-Martin deixou tambeacutem para a posteridade paacuteginas de esclarecedoras correspondecircncias pessoais Depois da publicaccedilatildeo de sua segunda obra Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo em 1778 haacute uma lacuna em sua vida difiacutecil de se preencher Este periacuteodo foi dividido talvez entre Paris Lyon e uma misteriosa jornada a Ruacutessia Em 1787 suas atividades iniciaacuteticas o levaram tambeacutem a Londres onde foi introduzido nos mais altos ciacuterculos atraveacutes de sua amiga a Marquesa de Coislin e do Embaixador Barte-lemy laacute encontrou tambeacutem William Law que foi uma espeacutecie de Saint-Martin na Inglaterra tambeacutem encontrou o astrocircnomo Herschel e Lord Beauchamp que estava de pleno acordo com suas ideacuteias transcendentais Em Estrasburgo atraveacutes de outra amiga Ma-dame Beacklin Saint-Martin foi apresentado agraves obras e escritos do teoacutesofo alematildeo Jacob Boheme Ficou tatildeo impressionado com os trabalhos de Boheme que se submeteu a aprender alematildeo a fim de os ler na liacutengua ori-ginal Posteriormente traduziu para o Francecircs muitos escritos de Boheme Saint-Martin des-cobriu completamente aquilo que havia visto

rapidamente nos documentos de seu primei-ro mestre desde entatildeo respeitou Boheme como a maior luz humana que se havia mani-festado na terra desde aquele que era a proacute-pria luz Como Pitaacutegoras Saint-Martin viajou para es-tudar o homem e a natureza e comparar o testemunho de outros com o seu proacuteprio Completamente devotado para a pesquisa da verdade que foi o constante objetivo de to-dos seus estudos e trabalhos Saint-Martin finalmente desistiu do serviccedilo militar poden-do assim se dedicar inteiramente aos seus estudos na qualidade de Ministro Espiritual Viajou para a Itaacutelia onde mais uma vez co-nheceu as mais distintas pessoas Cardeais Papas Bispos Priacutencipes e altos Oficiais o re-ceberam muitos dos quais tornaram-se seus amigos Sobre tudo o Priacutencipe Galitzin da Ruacutessia que declarara Sou realmente um ho-mem desde que conheci Saint-Martin O que fazia Saint-Martin nestas vaacuterias viagens Esta-belecia Grupos Martinistas Trataremos desta questatildeo mais adiante Retornando de suas viagens agrave Itaacutelia Alemanha e Inglaterra foi condecorado com a cruz da Ordem de Satildeo Luiz conferida agrave ele pela nobreza de seus sentimentos uma honra da qual natildeo se con-siderava merecedor Saint-Martin respeitava e amava as mulheres De fato elas eram muito atraiacutedas por ele que contudo nunca se casou As mulheres naqueles dias natildeo eram usualmente admiti-das em Ordens Esoteacutericas organizadas com bases maccedilocircnicas Saint-Martin estava preocu-pado com isto foi favoraacutevel agrave admissatildeo de mulheres aos ensinamentos da Ordem (Elus-Cohen) Escrevendo a Willermoz em 1773 pergunta se a mulher natildeo tem o mesmo tra-balho a realizar o mesmo inimigo a comba-ter as mesmas recompensas a esperar tal como o homem argumenta entatildeo que ela deve consequentemente ser provida com as mesmas armas de guerra Saint-Martin tinha um semblante expressivo e

Paacutegina 4 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

polidas maneiras marcado por grande distin-ccedilatildeo e consideraacutevel reserva De aparecircncia be-la com uma graciosa e gentil personalidade se movia nos altos ciacuterculos da nobreza e da cultura Francesa fazendo o possiacutevel para dis-seminar ensinamentos miacutesticos entre aqueles que estavam preparados e fossem merecedo-res Tornou-se largamente conhecido e sua com-panhia era muito requisitada Mas enquanto era requisitado na sociedade e reconhecido pelo seu sucesso tinha em vista sua missatildeo espiritual Seu caraacuteter estaacutevel era o de um miacutestico de exaltada espiritualidade e fervoro-sa religiosidade Seu profundo conhecimento sua extraordinaacuteria iluminaccedilatildeo e suas elevadas virtudes nunca estiveram sob suspeitas devi-do ao seu ar humilde e sua simplicidade exte-rior Suas palavras eram sinceras e tranquumlilas a atmosfera de benevolecircncia que se espalhava ao seu redor eacute que manifestava o saacutebio o Novo Homem formado por uma soacutelida filo-sofia e uma profunda religiosidade Amava a humanidade como sendo melhor do que parecia ser e o encanto da boa socieda-de o fazia pensar em que esta poderia se transformar para um niacutevel mais elevado Atu-ava de acordo com este sentimento Instrumentos musicais caminhar no campo e conversas amigaacuteveis eram os entretenimen-tos de seu espiacuterito e atos de bondade de sua alma Ele nada possuiacutea enquanto tivesse algo para dar E foi recompensado em felicidade por tudo o que deu Viveu com muito pouco natildeo aceitou nenhum lucro proveniente de seus livros e dizia que se considerava rico quando tinha uma Louis-dor no bolso Tinha prazer em ir ao teatro mas muitas vezes agrave caminho de laacute voltaria para ajudar algueacutem em necessi-dade Com a eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa Saint-Martin padeceu consideravelmente As uacutelti-

mas deacutecadas do seacuteculo XVIII na Franccedila fo-ram excessivamente turbulentas sustentando com seu curso uma das maiores revoluccedilotildees social e poliacutetica da histoacuteria Durante todo este periacuteodo Saint-Martin continuou escre-vendo e ensinando Apesar da condenada nobreza natildeo foi excessivamente molestado durante o reino do terror ou por qualquer outro motim violento daquela eacutepoca Mas seu pai morreu durante este periacuteodo o que quase coincidiu com a execuccedilatildeo de Luiz XVI Este episoacutedio foi seguido pela execuccedilatildeo de Philippe Egaliteacute irmatildeo de sua amiga a duque-sa de Bourbon dona do palaacutecio em Paris onde Saint-Martin estava no terriacutevel dia 10 de Agosto de 1792 Ele escreveu tenho nu-merosas provas da Divina proteccedilatildeo sobre mim especialmente durante nossa revoluccedilatildeo as quais nunca havia tido anteriormente mas em todas estas ocasiotildees tudo me tem sido dado como a uma crianccedila As ruas perto da casa onde me encontrava eram um campo de batalha a proacutepria casa era um hospital para onde os feridos eram trazidos e aleacutem disso era a todo momento ameaccedilada de invasotildees e saques No meio de tudo isto tive que partir sob risco de vida para cuidar de minha irmatilde a meia leacutegua de onde me encontrava No fa-moso dia 10 de Agosto quando me encon-trava em Paris sem poder sair cruzando ru-as o dia todo no meio do grande tumulto tive tais provas marcantes das quais lhe digo que fui humilhado mais porque natildeo tinha ab-solutamente parte alguma no que estava acontecendo e por natildeo ser constituiacutedo do que chamam de coragem fiacutesica Este eacute um dos milagres daqueles dias terriacute-veis em que as frequumlentes visitas de Saint-Martin ao palaacutecio da duquesa e ao seu caste-lo em Petit-Bourg natildeo lhe custou a proacutepria cabeccedila Sua correspondecircncia caiu sob suspeita sendo chamado a responder por suas frases misteri-osas Em 1794 foi baixado um decreto exilan-do a nobreza de Paris e isto o forccedilou a se retirar da cidade para Amboise onde lhe foi

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permitido ficar sem maiores inconvenientes contudo numa carta ao seu amigo o baratildeo de Liebistorf datada de 23 de Maio de 1794 haacute duas pequenas afirmaccedilotildees que demons-tram a sua condiccedilatildeo Ele diz a fraqueza de meus olhos cresce dia a dia e estou me congelando aqui por falta de lenha enquanto que em minha pequena terra natal natildeo me faltava nada mas natildeo devemos pensar nestas coisas Talvez uma observaccedilatildeo interessante possa ser notada aqui extraiacuteda desta mesma carta Saint-Martin diz que descobriu aciden-talmente que os tra-balhos de Jacob Boheme foram o estudo favorito de Isaac Newton que fez notaacuteveis extratos deles Saint-Martin acrescentou estas palavras natildeo creio que Newton deduziu daiacute seu sistema de atraccedilatildeo porque este eacute totalmente fiacutesico e natildeo vai aleacutem da superfiacutecie enquanto que aquele de Boheme vai ao nuacutecleo Comentando sobre a diferenccedila entre Boheme e Swedenborg Saint-Martin escreve em seu Portrait Histo-rique Revendo alguns extratos de Sweden-borg tive a impressatildeo de que ele tinha mais daquilo que se denomina a ciecircncia das al-mas do que da ciecircncia dos espiacuteritos e nes-ta rela-ccedilatildeo embora indigno de ser compara-do a Boheme no que diz respeito ao verda-deiro conhecimento eacute possiacutevel que possa servir a um grande nuacutemero de pessoas en-quanto Boheme estaacute destinado somente a homens totalmente regenerados ou pelo menos que tenham um grande desejo neste sentido Por volta de fim de 1794 contudo apesar de sua nobreza que lhe causou a interdiccedilatildeo de Paris foi escolhido pelo distrito de Amboise como um daqueles que estavam sendo seleci-onados para o treinamento de professores que seriam instrutores em escolas puacuteblicas Retornou en-tatildeo a Paris em paz e com digni-dade em 1795 e participou das primeiras as-sembleias eleitorais Durante o tempo em que foi banido de Paris manteve correspondecircncias sobre toacutepicos de caraacuteter abstrato e elevado enquanto que a maioria dos homens se ocupavam com inte-

resses poliacuteticos os quais agitavam a Europa sem desmerecer eacute claro a importacircncia da influecircncia destes no destino do homem e da natureza Vivendo em solidatildeo separado de seu conhe-cimento no meio da tormenta do mar das paixotildees nomeou a si mesmo o Robinson Crusoe da espiritualidade Foi nesta eacutepoca que se correspondeu vastamente com o no-bre Suiacuteccedilo baratildeo Kirchberger de Lubrstorf um membro do Grande Conselho de Berna Como foi mencionado anteriormente a tota-lidade das correspondecircncias foi traduzida pa-ro o Inglecircs e se encontra sob o tiacutetulo de Louis Claude de Saint-Martin correspon-decircncia teosoacutefica Em 1795 Saint-Martin escreveu que suas condiccedilotildees fiacutesicas tinham melhorado relativa-mente Estava entatildeo se aproximando quase sem querer de uma vida caracterizada pelo sacrifiacutecio e abnegaccedilatildeo Chegou a conhecer tanto a alegria e o sucesso quanto a melanco-lia e o desapontamento A condenaccedilatildeo de sua primeira obra pela inquisiccedilatildeo espanhola e as dificuldades em relaccedilatildeo agrave paz entre vaacuterias naccedilotildees muito o afetou Aleacutem disso um paga-mento que havia recebido do estado de seu pai foi confiscado pelas autoridades e por falta de recursos natildeo pode recorrer sendo destituiacutedo Estava plenamente consciente de seu fim e isto parecia inspirar-lhe novas ativi-dades Foi admirado pelo seu bom senso e sua simples e amaacutevel modeacutestia Seu caraacuteter afetuoso e espiacuterito comunicativo teriam sem duacutevida lhe assegurado muitos disciacutepulos mas natildeo seguiu a fazer neoacutefitos queria somente amigos para seguidores amigos natildeo de seus livros mas um dos outros Assim em 1800 publicou dois volumes de ensaios sob o tiacutetulo de O Espiacuterito das Coi-sas Estes foram seguidos em 1802 pela sua primeira e uacutenica tentativa formal de reconci-liar o sistema derivado de Martinez de Pas-qually com as iluminaccedilotildees de Jacob Boheme Homem sua verdadeira natureza e misteacute-rio o mais elaborado e ao mesmo tempo o

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

Paacutegina 13 Volume 1I ediccedilatildeo XI

de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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Page 2: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 2 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

uma madrasta que nutriu as nobres ambiccedilotildees e a alta sensibilidade que ele possuiacutea mesmo com tatildeo tenra idade Mais tarde ele mesmo se expressaria eternamente grato pela sua amorosa orientaccedilatildeo e sensata educaccedilatildeo a qual segundo ele o levou a amar a Deus e ao homem Destinado por seus pais agrave magistratura Saint-Martin foi para a escola de direito apoacutes dei-xar o coleacutegio de Pontlevoi onde havia sido enviado ainda com pouca idade Na verdade foi neste coleacutegio que teve seu primeiro vis-lumbre dos princiacutepios miacutesticos laacute encontrou um livro de autoria de Abbadie titulado A Arte de Conhecer a Si mesmo o qual leu com deleite e pareceu tecirc-lo compreendido mesmo sendo tatildeo jovem Posteriormente atribuiu seus interesses miacutesticos e esoteacutericos agrave leitura deste livro Dirigindo-se ao estudo da lei teve preferecircn-cia especialmente pelos escritos de Burla-maqui harmoniosos como seu proacuteprio gosto pelos fundamentos naturais da justiccedila e razatildeo humana Todavia encontrou o sistema de Regras Administrativas e termos teacutecnicos da lei repugnantes Completado seu curso re-cebeu sua toga de Rei dos Advogados da Alta Corte de Tours e comeccedilou a praticar a lei Seus interesses filosoacuteficos e esoteacutericos assim como suas aspiraccedilotildees interiores contudo elevaram-se acima de qualquer coisa natildeo permitindo-lhe uma completa dedicaccedilatildeo ao trabalho inadequado aos seus talentos singu-lares Eventualmente sentia que seu dever seria o de se dedicar integralmente ao traba-lho de magistrado e portanto implorou a permissatildeo de seus pais para retirar-se Fez parte de uma comisso nas forccedilas arma-das como oficial ligado ao Regimento de Faix aquartelado em Bourdeaux Tinha entatildeo 22 anos Evidentemente naqueles dias de paz uma carreira militar proporcionava muitas horas livres a principal finalidade de seu in-gresso nesta atividade foi realmente a de ob-ter tempo adicional para os estudos esoteacuteri-

cos e praacuteticas miacutesticas Foi atraveacutes de um de seus companheiros ofi-ciais que Saint-Martin encontrou Martinez de Pasqually na eacutepoca em que se localizava em Bordeaux Pasqually era Gratildeo-Mestre dos Elus-Cohen Depois de aprender sobre o tra-balho e propoacutesitos desta Ordem e de uma devida preparaccedilatildeo seguida de comprovado meacuterito Saint-Martin foi iniciado na Ordem dos Elus-Cohen em 1768 quando tinha 25 anos Nesta ordem conseguiu alcanccedilar o mais alto grau Rosa-Cruz De 1768 a 1771 Saint-Martin foi reconheci-do como sendo secretaacuterio pessoal de Pas-qually e nestes anos uma ligaccedilatildeo muito es-treita se estabeleceu entre eles O caraacuteter e os ensinamentos de Martinez de Pasqually criaram uma profunda impressatildeo em Saint-Martin impressatildeo esta que permaneceu com ele por toda sua vida a qual ele proacuteprio admi-tiu mesmo nos uacuteltimos anos quando ingres-sou no seu proacuteprio caminho criativo e indivi-dual O Gratildeo-Mestre dos Elus-Cohen reco-nheceu Saint-Martin como um brilhante No-vo Homem valoroso disciacutepulo qualificado para levar adiante a Obra Em 1772 assuntos pessoais chamaram Pas-qually agrave Port-au-Prince no Haiti onde passou seus dois uacuteltimos anos As ideacuteias principais de seu trabalho permaneceram entatildeo com seus dois disciacutepulos mais capazes Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz Saint-Martin e ou-tros Martinistas proacuteximos do uacuteltimo Gratildeo Mestre compreenderam que este natildeo havia transmitido a maior parte de seu conheci-mento a nenhum deles talvez natildeo tivesse encontrado entre eles algueacutem tatildeo valioso para tal honra e responsabilidade Por outro lado como orientador Saint-Martin sentiu-se obrigado a continuar em uma crescente via independe-te envolvendo uma filosofia ca-racterizada pela sua proacutepria compreensatildeo oculta maturidade e visatildeo espiritual Publicou sua primeira obra filosoacutefica Dos

Paacutegina 3 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Erros e da Verdade aos 32 anos Esta obra tem sido considerada como seu maior traba-lho de pesquisa e a mais fecunda contribuiccedilatildeo para a literatura esoteacuterica Foi publicada co-mo sendo os escritos do Filoacutesofo Desco-nhecido pseudocircnimo usado por ele jaacute que o nome de Saint-Martin nunca apareceu du-rante sua vida iniciaacutetica em nenhuma de suas obras Durante vaacuterios anos de atividade lite-raacuteria escreveu numerosas obras entre elas Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo Dos Nuacutemeros O Espiacuterito das Coisas O Homem de De-sejo O Novo Homem O Homem Espiacuteri-to Homem sua verdadeira natureza e mis-teacuterio Estes livros tornaram-se bastante po-pulares e muito lidos Natildeo demorou muito para que vaacuterios grupos se denominassem Sociedade do Filoacutesofo Desconhecido que surgiram para estudar suas obras Saint-Martin deixou tambeacutem para a posteridade paacuteginas de esclarecedoras correspondecircncias pessoais Depois da publicaccedilatildeo de sua segunda obra Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo em 1778 haacute uma lacuna em sua vida difiacutecil de se preencher Este periacuteodo foi dividido talvez entre Paris Lyon e uma misteriosa jornada a Ruacutessia Em 1787 suas atividades iniciaacuteticas o levaram tambeacutem a Londres onde foi introduzido nos mais altos ciacuterculos atraveacutes de sua amiga a Marquesa de Coislin e do Embaixador Barte-lemy laacute encontrou tambeacutem William Law que foi uma espeacutecie de Saint-Martin na Inglaterra tambeacutem encontrou o astrocircnomo Herschel e Lord Beauchamp que estava de pleno acordo com suas ideacuteias transcendentais Em Estrasburgo atraveacutes de outra amiga Ma-dame Beacklin Saint-Martin foi apresentado agraves obras e escritos do teoacutesofo alematildeo Jacob Boheme Ficou tatildeo impressionado com os trabalhos de Boheme que se submeteu a aprender alematildeo a fim de os ler na liacutengua ori-ginal Posteriormente traduziu para o Francecircs muitos escritos de Boheme Saint-Martin des-cobriu completamente aquilo que havia visto

rapidamente nos documentos de seu primei-ro mestre desde entatildeo respeitou Boheme como a maior luz humana que se havia mani-festado na terra desde aquele que era a proacute-pria luz Como Pitaacutegoras Saint-Martin viajou para es-tudar o homem e a natureza e comparar o testemunho de outros com o seu proacuteprio Completamente devotado para a pesquisa da verdade que foi o constante objetivo de to-dos seus estudos e trabalhos Saint-Martin finalmente desistiu do serviccedilo militar poden-do assim se dedicar inteiramente aos seus estudos na qualidade de Ministro Espiritual Viajou para a Itaacutelia onde mais uma vez co-nheceu as mais distintas pessoas Cardeais Papas Bispos Priacutencipes e altos Oficiais o re-ceberam muitos dos quais tornaram-se seus amigos Sobre tudo o Priacutencipe Galitzin da Ruacutessia que declarara Sou realmente um ho-mem desde que conheci Saint-Martin O que fazia Saint-Martin nestas vaacuterias viagens Esta-belecia Grupos Martinistas Trataremos desta questatildeo mais adiante Retornando de suas viagens agrave Itaacutelia Alemanha e Inglaterra foi condecorado com a cruz da Ordem de Satildeo Luiz conferida agrave ele pela nobreza de seus sentimentos uma honra da qual natildeo se con-siderava merecedor Saint-Martin respeitava e amava as mulheres De fato elas eram muito atraiacutedas por ele que contudo nunca se casou As mulheres naqueles dias natildeo eram usualmente admiti-das em Ordens Esoteacutericas organizadas com bases maccedilocircnicas Saint-Martin estava preocu-pado com isto foi favoraacutevel agrave admissatildeo de mulheres aos ensinamentos da Ordem (Elus-Cohen) Escrevendo a Willermoz em 1773 pergunta se a mulher natildeo tem o mesmo tra-balho a realizar o mesmo inimigo a comba-ter as mesmas recompensas a esperar tal como o homem argumenta entatildeo que ela deve consequentemente ser provida com as mesmas armas de guerra Saint-Martin tinha um semblante expressivo e

Paacutegina 4 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

polidas maneiras marcado por grande distin-ccedilatildeo e consideraacutevel reserva De aparecircncia be-la com uma graciosa e gentil personalidade se movia nos altos ciacuterculos da nobreza e da cultura Francesa fazendo o possiacutevel para dis-seminar ensinamentos miacutesticos entre aqueles que estavam preparados e fossem merecedo-res Tornou-se largamente conhecido e sua com-panhia era muito requisitada Mas enquanto era requisitado na sociedade e reconhecido pelo seu sucesso tinha em vista sua missatildeo espiritual Seu caraacuteter estaacutevel era o de um miacutestico de exaltada espiritualidade e fervoro-sa religiosidade Seu profundo conhecimento sua extraordinaacuteria iluminaccedilatildeo e suas elevadas virtudes nunca estiveram sob suspeitas devi-do ao seu ar humilde e sua simplicidade exte-rior Suas palavras eram sinceras e tranquumlilas a atmosfera de benevolecircncia que se espalhava ao seu redor eacute que manifestava o saacutebio o Novo Homem formado por uma soacutelida filo-sofia e uma profunda religiosidade Amava a humanidade como sendo melhor do que parecia ser e o encanto da boa socieda-de o fazia pensar em que esta poderia se transformar para um niacutevel mais elevado Atu-ava de acordo com este sentimento Instrumentos musicais caminhar no campo e conversas amigaacuteveis eram os entretenimen-tos de seu espiacuterito e atos de bondade de sua alma Ele nada possuiacutea enquanto tivesse algo para dar E foi recompensado em felicidade por tudo o que deu Viveu com muito pouco natildeo aceitou nenhum lucro proveniente de seus livros e dizia que se considerava rico quando tinha uma Louis-dor no bolso Tinha prazer em ir ao teatro mas muitas vezes agrave caminho de laacute voltaria para ajudar algueacutem em necessi-dade Com a eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa Saint-Martin padeceu consideravelmente As uacutelti-

mas deacutecadas do seacuteculo XVIII na Franccedila fo-ram excessivamente turbulentas sustentando com seu curso uma das maiores revoluccedilotildees social e poliacutetica da histoacuteria Durante todo este periacuteodo Saint-Martin continuou escre-vendo e ensinando Apesar da condenada nobreza natildeo foi excessivamente molestado durante o reino do terror ou por qualquer outro motim violento daquela eacutepoca Mas seu pai morreu durante este periacuteodo o que quase coincidiu com a execuccedilatildeo de Luiz XVI Este episoacutedio foi seguido pela execuccedilatildeo de Philippe Egaliteacute irmatildeo de sua amiga a duque-sa de Bourbon dona do palaacutecio em Paris onde Saint-Martin estava no terriacutevel dia 10 de Agosto de 1792 Ele escreveu tenho nu-merosas provas da Divina proteccedilatildeo sobre mim especialmente durante nossa revoluccedilatildeo as quais nunca havia tido anteriormente mas em todas estas ocasiotildees tudo me tem sido dado como a uma crianccedila As ruas perto da casa onde me encontrava eram um campo de batalha a proacutepria casa era um hospital para onde os feridos eram trazidos e aleacutem disso era a todo momento ameaccedilada de invasotildees e saques No meio de tudo isto tive que partir sob risco de vida para cuidar de minha irmatilde a meia leacutegua de onde me encontrava No fa-moso dia 10 de Agosto quando me encon-trava em Paris sem poder sair cruzando ru-as o dia todo no meio do grande tumulto tive tais provas marcantes das quais lhe digo que fui humilhado mais porque natildeo tinha ab-solutamente parte alguma no que estava acontecendo e por natildeo ser constituiacutedo do que chamam de coragem fiacutesica Este eacute um dos milagres daqueles dias terriacute-veis em que as frequumlentes visitas de Saint-Martin ao palaacutecio da duquesa e ao seu caste-lo em Petit-Bourg natildeo lhe custou a proacutepria cabeccedila Sua correspondecircncia caiu sob suspeita sendo chamado a responder por suas frases misteri-osas Em 1794 foi baixado um decreto exilan-do a nobreza de Paris e isto o forccedilou a se retirar da cidade para Amboise onde lhe foi

Paacutegina 5 Volume 1I ediccedilatildeo XI

permitido ficar sem maiores inconvenientes contudo numa carta ao seu amigo o baratildeo de Liebistorf datada de 23 de Maio de 1794 haacute duas pequenas afirmaccedilotildees que demons-tram a sua condiccedilatildeo Ele diz a fraqueza de meus olhos cresce dia a dia e estou me congelando aqui por falta de lenha enquanto que em minha pequena terra natal natildeo me faltava nada mas natildeo devemos pensar nestas coisas Talvez uma observaccedilatildeo interessante possa ser notada aqui extraiacuteda desta mesma carta Saint-Martin diz que descobriu aciden-talmente que os tra-balhos de Jacob Boheme foram o estudo favorito de Isaac Newton que fez notaacuteveis extratos deles Saint-Martin acrescentou estas palavras natildeo creio que Newton deduziu daiacute seu sistema de atraccedilatildeo porque este eacute totalmente fiacutesico e natildeo vai aleacutem da superfiacutecie enquanto que aquele de Boheme vai ao nuacutecleo Comentando sobre a diferenccedila entre Boheme e Swedenborg Saint-Martin escreve em seu Portrait Histo-rique Revendo alguns extratos de Sweden-borg tive a impressatildeo de que ele tinha mais daquilo que se denomina a ciecircncia das al-mas do que da ciecircncia dos espiacuteritos e nes-ta rela-ccedilatildeo embora indigno de ser compara-do a Boheme no que diz respeito ao verda-deiro conhecimento eacute possiacutevel que possa servir a um grande nuacutemero de pessoas en-quanto Boheme estaacute destinado somente a homens totalmente regenerados ou pelo menos que tenham um grande desejo neste sentido Por volta de fim de 1794 contudo apesar de sua nobreza que lhe causou a interdiccedilatildeo de Paris foi escolhido pelo distrito de Amboise como um daqueles que estavam sendo seleci-onados para o treinamento de professores que seriam instrutores em escolas puacuteblicas Retornou en-tatildeo a Paris em paz e com digni-dade em 1795 e participou das primeiras as-sembleias eleitorais Durante o tempo em que foi banido de Paris manteve correspondecircncias sobre toacutepicos de caraacuteter abstrato e elevado enquanto que a maioria dos homens se ocupavam com inte-

resses poliacuteticos os quais agitavam a Europa sem desmerecer eacute claro a importacircncia da influecircncia destes no destino do homem e da natureza Vivendo em solidatildeo separado de seu conhe-cimento no meio da tormenta do mar das paixotildees nomeou a si mesmo o Robinson Crusoe da espiritualidade Foi nesta eacutepoca que se correspondeu vastamente com o no-bre Suiacuteccedilo baratildeo Kirchberger de Lubrstorf um membro do Grande Conselho de Berna Como foi mencionado anteriormente a tota-lidade das correspondecircncias foi traduzida pa-ro o Inglecircs e se encontra sob o tiacutetulo de Louis Claude de Saint-Martin correspon-decircncia teosoacutefica Em 1795 Saint-Martin escreveu que suas condiccedilotildees fiacutesicas tinham melhorado relativa-mente Estava entatildeo se aproximando quase sem querer de uma vida caracterizada pelo sacrifiacutecio e abnegaccedilatildeo Chegou a conhecer tanto a alegria e o sucesso quanto a melanco-lia e o desapontamento A condenaccedilatildeo de sua primeira obra pela inquisiccedilatildeo espanhola e as dificuldades em relaccedilatildeo agrave paz entre vaacuterias naccedilotildees muito o afetou Aleacutem disso um paga-mento que havia recebido do estado de seu pai foi confiscado pelas autoridades e por falta de recursos natildeo pode recorrer sendo destituiacutedo Estava plenamente consciente de seu fim e isto parecia inspirar-lhe novas ativi-dades Foi admirado pelo seu bom senso e sua simples e amaacutevel modeacutestia Seu caraacuteter afetuoso e espiacuterito comunicativo teriam sem duacutevida lhe assegurado muitos disciacutepulos mas natildeo seguiu a fazer neoacutefitos queria somente amigos para seguidores amigos natildeo de seus livros mas um dos outros Assim em 1800 publicou dois volumes de ensaios sob o tiacutetulo de O Espiacuterito das Coi-sas Estes foram seguidos em 1802 pela sua primeira e uacutenica tentativa formal de reconci-liar o sistema derivado de Martinez de Pas-qually com as iluminaccedilotildees de Jacob Boheme Homem sua verdadeira natureza e misteacute-rio o mais elaborado e ao mesmo tempo o

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

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mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 3: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 3 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Erros e da Verdade aos 32 anos Esta obra tem sido considerada como seu maior traba-lho de pesquisa e a mais fecunda contribuiccedilatildeo para a literatura esoteacuterica Foi publicada co-mo sendo os escritos do Filoacutesofo Desco-nhecido pseudocircnimo usado por ele jaacute que o nome de Saint-Martin nunca apareceu du-rante sua vida iniciaacutetica em nenhuma de suas obras Durante vaacuterios anos de atividade lite-raacuteria escreveu numerosas obras entre elas Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo Dos Nuacutemeros O Espiacuterito das Coisas O Homem de De-sejo O Novo Homem O Homem Espiacuteri-to Homem sua verdadeira natureza e mis-teacuterio Estes livros tornaram-se bastante po-pulares e muito lidos Natildeo demorou muito para que vaacuterios grupos se denominassem Sociedade do Filoacutesofo Desconhecido que surgiram para estudar suas obras Saint-Martin deixou tambeacutem para a posteridade paacuteginas de esclarecedoras correspondecircncias pessoais Depois da publicaccedilatildeo de sua segunda obra Correspondecircncias que existem entre Deus o Homem e o Universo em 1778 haacute uma lacuna em sua vida difiacutecil de se preencher Este periacuteodo foi dividido talvez entre Paris Lyon e uma misteriosa jornada a Ruacutessia Em 1787 suas atividades iniciaacuteticas o levaram tambeacutem a Londres onde foi introduzido nos mais altos ciacuterculos atraveacutes de sua amiga a Marquesa de Coislin e do Embaixador Barte-lemy laacute encontrou tambeacutem William Law que foi uma espeacutecie de Saint-Martin na Inglaterra tambeacutem encontrou o astrocircnomo Herschel e Lord Beauchamp que estava de pleno acordo com suas ideacuteias transcendentais Em Estrasburgo atraveacutes de outra amiga Ma-dame Beacklin Saint-Martin foi apresentado agraves obras e escritos do teoacutesofo alematildeo Jacob Boheme Ficou tatildeo impressionado com os trabalhos de Boheme que se submeteu a aprender alematildeo a fim de os ler na liacutengua ori-ginal Posteriormente traduziu para o Francecircs muitos escritos de Boheme Saint-Martin des-cobriu completamente aquilo que havia visto

rapidamente nos documentos de seu primei-ro mestre desde entatildeo respeitou Boheme como a maior luz humana que se havia mani-festado na terra desde aquele que era a proacute-pria luz Como Pitaacutegoras Saint-Martin viajou para es-tudar o homem e a natureza e comparar o testemunho de outros com o seu proacuteprio Completamente devotado para a pesquisa da verdade que foi o constante objetivo de to-dos seus estudos e trabalhos Saint-Martin finalmente desistiu do serviccedilo militar poden-do assim se dedicar inteiramente aos seus estudos na qualidade de Ministro Espiritual Viajou para a Itaacutelia onde mais uma vez co-nheceu as mais distintas pessoas Cardeais Papas Bispos Priacutencipes e altos Oficiais o re-ceberam muitos dos quais tornaram-se seus amigos Sobre tudo o Priacutencipe Galitzin da Ruacutessia que declarara Sou realmente um ho-mem desde que conheci Saint-Martin O que fazia Saint-Martin nestas vaacuterias viagens Esta-belecia Grupos Martinistas Trataremos desta questatildeo mais adiante Retornando de suas viagens agrave Itaacutelia Alemanha e Inglaterra foi condecorado com a cruz da Ordem de Satildeo Luiz conferida agrave ele pela nobreza de seus sentimentos uma honra da qual natildeo se con-siderava merecedor Saint-Martin respeitava e amava as mulheres De fato elas eram muito atraiacutedas por ele que contudo nunca se casou As mulheres naqueles dias natildeo eram usualmente admiti-das em Ordens Esoteacutericas organizadas com bases maccedilocircnicas Saint-Martin estava preocu-pado com isto foi favoraacutevel agrave admissatildeo de mulheres aos ensinamentos da Ordem (Elus-Cohen) Escrevendo a Willermoz em 1773 pergunta se a mulher natildeo tem o mesmo tra-balho a realizar o mesmo inimigo a comba-ter as mesmas recompensas a esperar tal como o homem argumenta entatildeo que ela deve consequentemente ser provida com as mesmas armas de guerra Saint-Martin tinha um semblante expressivo e

Paacutegina 4 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

polidas maneiras marcado por grande distin-ccedilatildeo e consideraacutevel reserva De aparecircncia be-la com uma graciosa e gentil personalidade se movia nos altos ciacuterculos da nobreza e da cultura Francesa fazendo o possiacutevel para dis-seminar ensinamentos miacutesticos entre aqueles que estavam preparados e fossem merecedo-res Tornou-se largamente conhecido e sua com-panhia era muito requisitada Mas enquanto era requisitado na sociedade e reconhecido pelo seu sucesso tinha em vista sua missatildeo espiritual Seu caraacuteter estaacutevel era o de um miacutestico de exaltada espiritualidade e fervoro-sa religiosidade Seu profundo conhecimento sua extraordinaacuteria iluminaccedilatildeo e suas elevadas virtudes nunca estiveram sob suspeitas devi-do ao seu ar humilde e sua simplicidade exte-rior Suas palavras eram sinceras e tranquumlilas a atmosfera de benevolecircncia que se espalhava ao seu redor eacute que manifestava o saacutebio o Novo Homem formado por uma soacutelida filo-sofia e uma profunda religiosidade Amava a humanidade como sendo melhor do que parecia ser e o encanto da boa socieda-de o fazia pensar em que esta poderia se transformar para um niacutevel mais elevado Atu-ava de acordo com este sentimento Instrumentos musicais caminhar no campo e conversas amigaacuteveis eram os entretenimen-tos de seu espiacuterito e atos de bondade de sua alma Ele nada possuiacutea enquanto tivesse algo para dar E foi recompensado em felicidade por tudo o que deu Viveu com muito pouco natildeo aceitou nenhum lucro proveniente de seus livros e dizia que se considerava rico quando tinha uma Louis-dor no bolso Tinha prazer em ir ao teatro mas muitas vezes agrave caminho de laacute voltaria para ajudar algueacutem em necessi-dade Com a eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa Saint-Martin padeceu consideravelmente As uacutelti-

mas deacutecadas do seacuteculo XVIII na Franccedila fo-ram excessivamente turbulentas sustentando com seu curso uma das maiores revoluccedilotildees social e poliacutetica da histoacuteria Durante todo este periacuteodo Saint-Martin continuou escre-vendo e ensinando Apesar da condenada nobreza natildeo foi excessivamente molestado durante o reino do terror ou por qualquer outro motim violento daquela eacutepoca Mas seu pai morreu durante este periacuteodo o que quase coincidiu com a execuccedilatildeo de Luiz XVI Este episoacutedio foi seguido pela execuccedilatildeo de Philippe Egaliteacute irmatildeo de sua amiga a duque-sa de Bourbon dona do palaacutecio em Paris onde Saint-Martin estava no terriacutevel dia 10 de Agosto de 1792 Ele escreveu tenho nu-merosas provas da Divina proteccedilatildeo sobre mim especialmente durante nossa revoluccedilatildeo as quais nunca havia tido anteriormente mas em todas estas ocasiotildees tudo me tem sido dado como a uma crianccedila As ruas perto da casa onde me encontrava eram um campo de batalha a proacutepria casa era um hospital para onde os feridos eram trazidos e aleacutem disso era a todo momento ameaccedilada de invasotildees e saques No meio de tudo isto tive que partir sob risco de vida para cuidar de minha irmatilde a meia leacutegua de onde me encontrava No fa-moso dia 10 de Agosto quando me encon-trava em Paris sem poder sair cruzando ru-as o dia todo no meio do grande tumulto tive tais provas marcantes das quais lhe digo que fui humilhado mais porque natildeo tinha ab-solutamente parte alguma no que estava acontecendo e por natildeo ser constituiacutedo do que chamam de coragem fiacutesica Este eacute um dos milagres daqueles dias terriacute-veis em que as frequumlentes visitas de Saint-Martin ao palaacutecio da duquesa e ao seu caste-lo em Petit-Bourg natildeo lhe custou a proacutepria cabeccedila Sua correspondecircncia caiu sob suspeita sendo chamado a responder por suas frases misteri-osas Em 1794 foi baixado um decreto exilan-do a nobreza de Paris e isto o forccedilou a se retirar da cidade para Amboise onde lhe foi

Paacutegina 5 Volume 1I ediccedilatildeo XI

permitido ficar sem maiores inconvenientes contudo numa carta ao seu amigo o baratildeo de Liebistorf datada de 23 de Maio de 1794 haacute duas pequenas afirmaccedilotildees que demons-tram a sua condiccedilatildeo Ele diz a fraqueza de meus olhos cresce dia a dia e estou me congelando aqui por falta de lenha enquanto que em minha pequena terra natal natildeo me faltava nada mas natildeo devemos pensar nestas coisas Talvez uma observaccedilatildeo interessante possa ser notada aqui extraiacuteda desta mesma carta Saint-Martin diz que descobriu aciden-talmente que os tra-balhos de Jacob Boheme foram o estudo favorito de Isaac Newton que fez notaacuteveis extratos deles Saint-Martin acrescentou estas palavras natildeo creio que Newton deduziu daiacute seu sistema de atraccedilatildeo porque este eacute totalmente fiacutesico e natildeo vai aleacutem da superfiacutecie enquanto que aquele de Boheme vai ao nuacutecleo Comentando sobre a diferenccedila entre Boheme e Swedenborg Saint-Martin escreve em seu Portrait Histo-rique Revendo alguns extratos de Sweden-borg tive a impressatildeo de que ele tinha mais daquilo que se denomina a ciecircncia das al-mas do que da ciecircncia dos espiacuteritos e nes-ta rela-ccedilatildeo embora indigno de ser compara-do a Boheme no que diz respeito ao verda-deiro conhecimento eacute possiacutevel que possa servir a um grande nuacutemero de pessoas en-quanto Boheme estaacute destinado somente a homens totalmente regenerados ou pelo menos que tenham um grande desejo neste sentido Por volta de fim de 1794 contudo apesar de sua nobreza que lhe causou a interdiccedilatildeo de Paris foi escolhido pelo distrito de Amboise como um daqueles que estavam sendo seleci-onados para o treinamento de professores que seriam instrutores em escolas puacuteblicas Retornou en-tatildeo a Paris em paz e com digni-dade em 1795 e participou das primeiras as-sembleias eleitorais Durante o tempo em que foi banido de Paris manteve correspondecircncias sobre toacutepicos de caraacuteter abstrato e elevado enquanto que a maioria dos homens se ocupavam com inte-

resses poliacuteticos os quais agitavam a Europa sem desmerecer eacute claro a importacircncia da influecircncia destes no destino do homem e da natureza Vivendo em solidatildeo separado de seu conhe-cimento no meio da tormenta do mar das paixotildees nomeou a si mesmo o Robinson Crusoe da espiritualidade Foi nesta eacutepoca que se correspondeu vastamente com o no-bre Suiacuteccedilo baratildeo Kirchberger de Lubrstorf um membro do Grande Conselho de Berna Como foi mencionado anteriormente a tota-lidade das correspondecircncias foi traduzida pa-ro o Inglecircs e se encontra sob o tiacutetulo de Louis Claude de Saint-Martin correspon-decircncia teosoacutefica Em 1795 Saint-Martin escreveu que suas condiccedilotildees fiacutesicas tinham melhorado relativa-mente Estava entatildeo se aproximando quase sem querer de uma vida caracterizada pelo sacrifiacutecio e abnegaccedilatildeo Chegou a conhecer tanto a alegria e o sucesso quanto a melanco-lia e o desapontamento A condenaccedilatildeo de sua primeira obra pela inquisiccedilatildeo espanhola e as dificuldades em relaccedilatildeo agrave paz entre vaacuterias naccedilotildees muito o afetou Aleacutem disso um paga-mento que havia recebido do estado de seu pai foi confiscado pelas autoridades e por falta de recursos natildeo pode recorrer sendo destituiacutedo Estava plenamente consciente de seu fim e isto parecia inspirar-lhe novas ativi-dades Foi admirado pelo seu bom senso e sua simples e amaacutevel modeacutestia Seu caraacuteter afetuoso e espiacuterito comunicativo teriam sem duacutevida lhe assegurado muitos disciacutepulos mas natildeo seguiu a fazer neoacutefitos queria somente amigos para seguidores amigos natildeo de seus livros mas um dos outros Assim em 1800 publicou dois volumes de ensaios sob o tiacutetulo de O Espiacuterito das Coi-sas Estes foram seguidos em 1802 pela sua primeira e uacutenica tentativa formal de reconci-liar o sistema derivado de Martinez de Pas-qually com as iluminaccedilotildees de Jacob Boheme Homem sua verdadeira natureza e misteacute-rio o mais elaborado e ao mesmo tempo o

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

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te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

Paacutegina 13 Volume 1I ediccedilatildeo XI

de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

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mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

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dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 4: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 4 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

polidas maneiras marcado por grande distin-ccedilatildeo e consideraacutevel reserva De aparecircncia be-la com uma graciosa e gentil personalidade se movia nos altos ciacuterculos da nobreza e da cultura Francesa fazendo o possiacutevel para dis-seminar ensinamentos miacutesticos entre aqueles que estavam preparados e fossem merecedo-res Tornou-se largamente conhecido e sua com-panhia era muito requisitada Mas enquanto era requisitado na sociedade e reconhecido pelo seu sucesso tinha em vista sua missatildeo espiritual Seu caraacuteter estaacutevel era o de um miacutestico de exaltada espiritualidade e fervoro-sa religiosidade Seu profundo conhecimento sua extraordinaacuteria iluminaccedilatildeo e suas elevadas virtudes nunca estiveram sob suspeitas devi-do ao seu ar humilde e sua simplicidade exte-rior Suas palavras eram sinceras e tranquumlilas a atmosfera de benevolecircncia que se espalhava ao seu redor eacute que manifestava o saacutebio o Novo Homem formado por uma soacutelida filo-sofia e uma profunda religiosidade Amava a humanidade como sendo melhor do que parecia ser e o encanto da boa socieda-de o fazia pensar em que esta poderia se transformar para um niacutevel mais elevado Atu-ava de acordo com este sentimento Instrumentos musicais caminhar no campo e conversas amigaacuteveis eram os entretenimen-tos de seu espiacuterito e atos de bondade de sua alma Ele nada possuiacutea enquanto tivesse algo para dar E foi recompensado em felicidade por tudo o que deu Viveu com muito pouco natildeo aceitou nenhum lucro proveniente de seus livros e dizia que se considerava rico quando tinha uma Louis-dor no bolso Tinha prazer em ir ao teatro mas muitas vezes agrave caminho de laacute voltaria para ajudar algueacutem em necessi-dade Com a eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa Saint-Martin padeceu consideravelmente As uacutelti-

mas deacutecadas do seacuteculo XVIII na Franccedila fo-ram excessivamente turbulentas sustentando com seu curso uma das maiores revoluccedilotildees social e poliacutetica da histoacuteria Durante todo este periacuteodo Saint-Martin continuou escre-vendo e ensinando Apesar da condenada nobreza natildeo foi excessivamente molestado durante o reino do terror ou por qualquer outro motim violento daquela eacutepoca Mas seu pai morreu durante este periacuteodo o que quase coincidiu com a execuccedilatildeo de Luiz XVI Este episoacutedio foi seguido pela execuccedilatildeo de Philippe Egaliteacute irmatildeo de sua amiga a duque-sa de Bourbon dona do palaacutecio em Paris onde Saint-Martin estava no terriacutevel dia 10 de Agosto de 1792 Ele escreveu tenho nu-merosas provas da Divina proteccedilatildeo sobre mim especialmente durante nossa revoluccedilatildeo as quais nunca havia tido anteriormente mas em todas estas ocasiotildees tudo me tem sido dado como a uma crianccedila As ruas perto da casa onde me encontrava eram um campo de batalha a proacutepria casa era um hospital para onde os feridos eram trazidos e aleacutem disso era a todo momento ameaccedilada de invasotildees e saques No meio de tudo isto tive que partir sob risco de vida para cuidar de minha irmatilde a meia leacutegua de onde me encontrava No fa-moso dia 10 de Agosto quando me encon-trava em Paris sem poder sair cruzando ru-as o dia todo no meio do grande tumulto tive tais provas marcantes das quais lhe digo que fui humilhado mais porque natildeo tinha ab-solutamente parte alguma no que estava acontecendo e por natildeo ser constituiacutedo do que chamam de coragem fiacutesica Este eacute um dos milagres daqueles dias terriacute-veis em que as frequumlentes visitas de Saint-Martin ao palaacutecio da duquesa e ao seu caste-lo em Petit-Bourg natildeo lhe custou a proacutepria cabeccedila Sua correspondecircncia caiu sob suspeita sendo chamado a responder por suas frases misteri-osas Em 1794 foi baixado um decreto exilan-do a nobreza de Paris e isto o forccedilou a se retirar da cidade para Amboise onde lhe foi

Paacutegina 5 Volume 1I ediccedilatildeo XI

permitido ficar sem maiores inconvenientes contudo numa carta ao seu amigo o baratildeo de Liebistorf datada de 23 de Maio de 1794 haacute duas pequenas afirmaccedilotildees que demons-tram a sua condiccedilatildeo Ele diz a fraqueza de meus olhos cresce dia a dia e estou me congelando aqui por falta de lenha enquanto que em minha pequena terra natal natildeo me faltava nada mas natildeo devemos pensar nestas coisas Talvez uma observaccedilatildeo interessante possa ser notada aqui extraiacuteda desta mesma carta Saint-Martin diz que descobriu aciden-talmente que os tra-balhos de Jacob Boheme foram o estudo favorito de Isaac Newton que fez notaacuteveis extratos deles Saint-Martin acrescentou estas palavras natildeo creio que Newton deduziu daiacute seu sistema de atraccedilatildeo porque este eacute totalmente fiacutesico e natildeo vai aleacutem da superfiacutecie enquanto que aquele de Boheme vai ao nuacutecleo Comentando sobre a diferenccedila entre Boheme e Swedenborg Saint-Martin escreve em seu Portrait Histo-rique Revendo alguns extratos de Sweden-borg tive a impressatildeo de que ele tinha mais daquilo que se denomina a ciecircncia das al-mas do que da ciecircncia dos espiacuteritos e nes-ta rela-ccedilatildeo embora indigno de ser compara-do a Boheme no que diz respeito ao verda-deiro conhecimento eacute possiacutevel que possa servir a um grande nuacutemero de pessoas en-quanto Boheme estaacute destinado somente a homens totalmente regenerados ou pelo menos que tenham um grande desejo neste sentido Por volta de fim de 1794 contudo apesar de sua nobreza que lhe causou a interdiccedilatildeo de Paris foi escolhido pelo distrito de Amboise como um daqueles que estavam sendo seleci-onados para o treinamento de professores que seriam instrutores em escolas puacuteblicas Retornou en-tatildeo a Paris em paz e com digni-dade em 1795 e participou das primeiras as-sembleias eleitorais Durante o tempo em que foi banido de Paris manteve correspondecircncias sobre toacutepicos de caraacuteter abstrato e elevado enquanto que a maioria dos homens se ocupavam com inte-

resses poliacuteticos os quais agitavam a Europa sem desmerecer eacute claro a importacircncia da influecircncia destes no destino do homem e da natureza Vivendo em solidatildeo separado de seu conhe-cimento no meio da tormenta do mar das paixotildees nomeou a si mesmo o Robinson Crusoe da espiritualidade Foi nesta eacutepoca que se correspondeu vastamente com o no-bre Suiacuteccedilo baratildeo Kirchberger de Lubrstorf um membro do Grande Conselho de Berna Como foi mencionado anteriormente a tota-lidade das correspondecircncias foi traduzida pa-ro o Inglecircs e se encontra sob o tiacutetulo de Louis Claude de Saint-Martin correspon-decircncia teosoacutefica Em 1795 Saint-Martin escreveu que suas condiccedilotildees fiacutesicas tinham melhorado relativa-mente Estava entatildeo se aproximando quase sem querer de uma vida caracterizada pelo sacrifiacutecio e abnegaccedilatildeo Chegou a conhecer tanto a alegria e o sucesso quanto a melanco-lia e o desapontamento A condenaccedilatildeo de sua primeira obra pela inquisiccedilatildeo espanhola e as dificuldades em relaccedilatildeo agrave paz entre vaacuterias naccedilotildees muito o afetou Aleacutem disso um paga-mento que havia recebido do estado de seu pai foi confiscado pelas autoridades e por falta de recursos natildeo pode recorrer sendo destituiacutedo Estava plenamente consciente de seu fim e isto parecia inspirar-lhe novas ativi-dades Foi admirado pelo seu bom senso e sua simples e amaacutevel modeacutestia Seu caraacuteter afetuoso e espiacuterito comunicativo teriam sem duacutevida lhe assegurado muitos disciacutepulos mas natildeo seguiu a fazer neoacutefitos queria somente amigos para seguidores amigos natildeo de seus livros mas um dos outros Assim em 1800 publicou dois volumes de ensaios sob o tiacutetulo de O Espiacuterito das Coi-sas Estes foram seguidos em 1802 pela sua primeira e uacutenica tentativa formal de reconci-liar o sistema derivado de Martinez de Pas-qually com as iluminaccedilotildees de Jacob Boheme Homem sua verdadeira natureza e misteacute-rio o mais elaborado e ao mesmo tempo o

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

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mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 5: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 5 Volume 1I ediccedilatildeo XI

permitido ficar sem maiores inconvenientes contudo numa carta ao seu amigo o baratildeo de Liebistorf datada de 23 de Maio de 1794 haacute duas pequenas afirmaccedilotildees que demons-tram a sua condiccedilatildeo Ele diz a fraqueza de meus olhos cresce dia a dia e estou me congelando aqui por falta de lenha enquanto que em minha pequena terra natal natildeo me faltava nada mas natildeo devemos pensar nestas coisas Talvez uma observaccedilatildeo interessante possa ser notada aqui extraiacuteda desta mesma carta Saint-Martin diz que descobriu aciden-talmente que os tra-balhos de Jacob Boheme foram o estudo favorito de Isaac Newton que fez notaacuteveis extratos deles Saint-Martin acrescentou estas palavras natildeo creio que Newton deduziu daiacute seu sistema de atraccedilatildeo porque este eacute totalmente fiacutesico e natildeo vai aleacutem da superfiacutecie enquanto que aquele de Boheme vai ao nuacutecleo Comentando sobre a diferenccedila entre Boheme e Swedenborg Saint-Martin escreve em seu Portrait Histo-rique Revendo alguns extratos de Sweden-borg tive a impressatildeo de que ele tinha mais daquilo que se denomina a ciecircncia das al-mas do que da ciecircncia dos espiacuteritos e nes-ta rela-ccedilatildeo embora indigno de ser compara-do a Boheme no que diz respeito ao verda-deiro conhecimento eacute possiacutevel que possa servir a um grande nuacutemero de pessoas en-quanto Boheme estaacute destinado somente a homens totalmente regenerados ou pelo menos que tenham um grande desejo neste sentido Por volta de fim de 1794 contudo apesar de sua nobreza que lhe causou a interdiccedilatildeo de Paris foi escolhido pelo distrito de Amboise como um daqueles que estavam sendo seleci-onados para o treinamento de professores que seriam instrutores em escolas puacuteblicas Retornou en-tatildeo a Paris em paz e com digni-dade em 1795 e participou das primeiras as-sembleias eleitorais Durante o tempo em que foi banido de Paris manteve correspondecircncias sobre toacutepicos de caraacuteter abstrato e elevado enquanto que a maioria dos homens se ocupavam com inte-

resses poliacuteticos os quais agitavam a Europa sem desmerecer eacute claro a importacircncia da influecircncia destes no destino do homem e da natureza Vivendo em solidatildeo separado de seu conhe-cimento no meio da tormenta do mar das paixotildees nomeou a si mesmo o Robinson Crusoe da espiritualidade Foi nesta eacutepoca que se correspondeu vastamente com o no-bre Suiacuteccedilo baratildeo Kirchberger de Lubrstorf um membro do Grande Conselho de Berna Como foi mencionado anteriormente a tota-lidade das correspondecircncias foi traduzida pa-ro o Inglecircs e se encontra sob o tiacutetulo de Louis Claude de Saint-Martin correspon-decircncia teosoacutefica Em 1795 Saint-Martin escreveu que suas condiccedilotildees fiacutesicas tinham melhorado relativa-mente Estava entatildeo se aproximando quase sem querer de uma vida caracterizada pelo sacrifiacutecio e abnegaccedilatildeo Chegou a conhecer tanto a alegria e o sucesso quanto a melanco-lia e o desapontamento A condenaccedilatildeo de sua primeira obra pela inquisiccedilatildeo espanhola e as dificuldades em relaccedilatildeo agrave paz entre vaacuterias naccedilotildees muito o afetou Aleacutem disso um paga-mento que havia recebido do estado de seu pai foi confiscado pelas autoridades e por falta de recursos natildeo pode recorrer sendo destituiacutedo Estava plenamente consciente de seu fim e isto parecia inspirar-lhe novas ativi-dades Foi admirado pelo seu bom senso e sua simples e amaacutevel modeacutestia Seu caraacuteter afetuoso e espiacuterito comunicativo teriam sem duacutevida lhe assegurado muitos disciacutepulos mas natildeo seguiu a fazer neoacutefitos queria somente amigos para seguidores amigos natildeo de seus livros mas um dos outros Assim em 1800 publicou dois volumes de ensaios sob o tiacutetulo de O Espiacuterito das Coi-sas Estes foram seguidos em 1802 pela sua primeira e uacutenica tentativa formal de reconci-liar o sistema derivado de Martinez de Pas-qually com as iluminaccedilotildees de Jacob Boheme Homem sua verdadeira natureza e misteacute-rio o mais elaborado e ao mesmo tempo o

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

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ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

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te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 6: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 6 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais difuso de seus trabalhos Coincidente-mente com cada uma dessas obras foi publi-cado sua traduccedilatildeo de Aurora Nascente e Trecircs Princiacutepios de Jacob Boheme Em consequecircncia disse ele ao estar com-pletando 60 anos avanccedilando em direccedilatildeo a grandes satisfaccedilotildees que haacute muito me haviam sido prognosticadas O campo ao redor de Aunay perto de Sceaux onde possuiacutea um amigo sempre lhe oferecia belezas naturais que elevavam sua alma Desejou ter uma conversa com Monsenhor Rossel um grande matemaacutetico profundo conhecedor da ciecircncia dos nuacutemeros a ciecircncia secreta que constan-temente ocupou sua mente tal encontro foi arranjado e realizado pelo seu amigo Monse-nhor Gence Depois da conversa disse Sinto que estou indo a Providecircncia me cha-ma estou pronto Os germes que tenho me empenhado em semear frutificaratildeo Parto amanha para a casa de campo de um amigo Agradeccedilo agrave Divina Providecircncia por me ter concedido este uacuteltimo favor que tive que pe-dir Despediu-se do Monsenhor Rossel e Gence apertando-lhes as duas matildeos No dia seguinte como havia dito foi para a residecircncia de campo do conde Lenoir La Ro-che em Aunay que tanto amava Apoacutes uma leve refeiccedilatildeo retirou-se para o seu quarto quando teve um ataque de apoplexia Embora sua liacutengua natildeo estivesse livre foi capaz de se fazer entender pelos amigos que se reuniam ao seu redor Sentindo que todo socorro humano era inuacutetil orientou todos aqueles que estavam agrave sua volta que tivessem confi-anccedila na Providecircncia e que vivessem juntos como irmatildeos no verdadeiro amor Orou em silecircncio e partiu sem luta e sem dor em 13 de Outubro de 1803 Seus amigos afirmaram que seus uacuteltimos mo-mentos foram de ecircxtase Uma luz o circun-dou e o transfigurou Jaacute vivia em outro plano provando que a morte de um miacutestico e inici-ado eacute livre do temor do desconhecido

Saint-Martin deixou muitos disciacutepulos em vaacute-rios paiacuteses Apoacutes sua morte estes iniciados prosseguiram com a transmissatildeo da Iniciaccedilatildeo e difusatildeo da doutrina do Filoacutesofo Desconhe-cido Em 1821 tiveram lugar as iniciaccedilotildees de pessoa agrave pessoa A partir do ano de 1880 grupos de iniciados levaram a transmissatildeo deste tipo de iniciaccedilatildeo por vaacuterios lugares particularmente Itaacutelia e Alemanha Esta ativi-dade teve seu auge por volta de 1890 quando Papus fundou a Ordem Martinista a fim de perpetuar a Obra de maneira mais ordenada

Maacuteximas e Pensamentos de

Louis-Claude de Saint-Martin

Tenho notado que em quase todos os lugares do mundo aqueles que natildeo conhecem as verdades satildeo os mesmos que mais do que depressa as proclamam A uacutenica diferenccedila entre os homens eacute que alguns estatildeo em outro mundo e estatildeo conscientes disso enquanto outros estatildeo laacute sem nem mesmo imaginar Regozije-se quando Deus te testar este eacute um sinal oacutebvio de que Ele natildeo te esquece Um de meus pesares eacute ver certas pessoas que por serem caridosas pensam ser privilegiadas por uma mente avanccedilada como se as virtudes fossem incompatiacuteveis com moderaccedilatildeo e justo senso Esperar que os homens aliviem as dificuldades de sua senda espiritual eacute como se tivesse caiacutedo no meio do mar e de repente passasse pela sua cabeccedila pedir agraves ondas que o sustentem impedindo-o de naufragar sem emitir nenhuma resposta elas poderiam se manifestar e ele cairia nas profundezas do abismo

Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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ltFEFF005900fc006b00730065006b0020006b0061006c006900740065006c0069002000f6006e002000790061007a006401310072006d00610020006200610073006b013100730131006e006100200065006e0020006900790069002000750079006100620069006c006500630065006b002000410064006f006200650020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020006f006c0075015f007400750072006d0061006b0020006900e70069006e00200062007500200061007900610072006c0061007201310020006b0075006c006c0061006e0131006e002e00200020004f006c0075015f0074007500720075006c0061006e0020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020004100630072006f006200610074002000760065002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200076006500200073006f006e0072006100730131006e00640061006b00690020007300fc007200fc006d006c00650072006c00650020006100e70131006c006100620069006c00690072002egt13 UKR 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Paacutegina 7 Volume 1I ediccedilatildeo XI

I - Introduccedilatildeo

O s Irmatildeos que praticam o Rito Escocecircs Retificado perguntam-se frequumlente-

mente quais satildeo as fontes de seu Rito e quais foram seus inspiradores Jean-Baptiste Wil-lermoz homem de siacutentese das diferentes correntes iniciaacuteticas que compotildee nosso Rito jaacute nos eacute conhecido Por outro lado Martinez de Pasqually e Louis Claude de Saint-Martin o satildeo um pouco menos e essa eacute a razatildeo que motiva o presente trabalho Tive a sorte (a palavra Providecircncia e o que ela expressa seria mais apropriada) de conhe-cer no final de 1979 um irmatildeo que dizia ser um dos uacuteltimos descendentes do Martinismo Russo Nos encontramos em diversas ocasi-otildees e travamos uma boa relaccedilatildeo suficiente para que me relatasse primeiramente a his-toacuteria do movimento Martinista (conhecido como Rito de Novikoff) e logo depois me escrevesse uma curta nota sobre o que ca-racteriza a espiritualidade e a originalidade de sua Ordem A proximidade de Saint-Martin e tudo o que ele representa para nosso Rito Retificado fez com que me apaixonasse rapi-damente pelas nossas conversas e que final-mente lhe pedisse autorizaccedilatildeo para publicar se natildeo a totalidade do tratado nelas pelo menos um bom extrato das mesmas Mas antes de tudo falemos de filiaccedilatildeo e so-bretudo de transmissatildeo I ndash Em primeiro lugar o que eacute a transmissatildeo e o que eacute que se transmite Uma influecircncia espiritual sem duacutevida que deve permitir transformar sempre e quando estaacute natildeo se encontre em estado de virtualidade o Ser Interior e essa transmissatildeo obedece a leis bem determinadas II ndash Encontrando-se o homem num estado terrestre a influecircncia deveraacute utilizar meios

dessa mesma ordem Podemos encontrar esses meios desde as origens da humanidade e eles satildeo os ritos e os sacramentos (a pala-vra rito vem do sacircnscrito Rita que significa Ordem) III ndash A transmissatildeo deve fazer-se por uma Ordem qualificada e acreditada com sua cer-tificaccedilatildeo IV ndash Essa transmissatildeo deve ser ininterrup-ta na sua falta assistiriacuteamos a uma paroacutedia risiacutevel a uma espeacutecie de simulacro ou re-presentaccedilatildeo V ndash A manipulaccedilatildeo das influecircncias espirituais deve ser reservada agravequeles que estatildeo quali-ficados para essa funccedilatildeo o contraacuterio seria um desvio um desordenamento o que poderia produzir o efeito inverso ao espera-do e inclusive entrar no quadro da contra-iniciaccedilatildeo e do satanismo Por todas essas razotildees as Ordens iniciaacuteticas natildeo conferem o poder de iniciar a todos os seus membros mas somente agravequeles Seres qualificados para transmitir essa iniciaccedilatildeo Todos noacutes conhecemos homens que tendo encontrado um ritual sabe-se laacute onde potildee-no em praacutetica auto intitulando-se grande mestre de qualquer coisa Eacute necessaacuterio denunciar essas praacuteticas perigosas que Saint-Martin de-nominava ldquoa iniciaccedilatildeo pelas formas pelas ce-rimocircnias externasrdquo que natildeo procuram em consequumlecircncia nenhuma influecircncia espiri-tual Mais adiante voltaremos a este assunto

A Filiaccedilatildeo

Segundo Franz von Baader (em seus ldquoEnsinamentos secretos de Martinez de Pas-quallyrdquo) Saint-Martin jamais teve a intenccedilatildeo de criar uma Ordem Martinista Pessoalmen-te creio que isso eacute exato e portanto quan-

O Martinismo Russo do Seacuteculo XVIII ateacute Nossos Dias - Daniel Fontaine

Paacutegina 8 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

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te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

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mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

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III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 50 i kasnijim verzijama)13 HUN 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do se lecirc seu relato com atenccedilatildeo percebe-se o significado do que eacute dito na paacutegina 155 Louis Claude de Saint-Martin depois da mor-te de Martinez de Pasqually viveu na casa de Willermoz em Lyon e a deixou bruscamente jaacute que estava em desacordo com a maccedilonaria e dizia ldquoNecessitam fazer um montatildeo de coi-sas simplesmente para crer em Deusrdquo Desde entatildeo sua principal preocupaccedilatildeo foi a de encontrar os miacutesticos alematildees e russos Nesse mesmo relato F von Baader acres-centa que por essa mesma eacutepoca ele esteve visitando seus amigos para explicar-lhes o que era a Verdadeira Iniciaccedilatildeo e para trans-miti-la a eles Com efeito para Saint-Martin a Iniciaccedilatildeo estava simbolizada pelo triacircngulo Deus ndash o Iniciador ndash e o Iniciado com um Ritual muito simples de uma total nudez di-riacuteamos agora central singelo tendo necessi-dade de um miacutenimo de formas Saint-Martin tinha obtido sua Iniciaccedilatildeo de Martinez Muitas coisas foram escritas sobre este uacuteltimo e boa parte dos historiadores continua entre perplexa e sarcaacutestica com re-laccedilatildeo a ele Certamente pode-se rir de seu sistema que natildeo terminou nunca mas sua vontade origi-nal natildeo era a de abrigar uma iniciaccedilatildeo uma doutrina ou ritos sob a cobertura insignifi-cante de um sistema paacutera-maccedilocircnico o dos Elus-Cohens do Universo Entretanto ainda que catoacutelico romano tanto sua origem como a de sua famiacutelia remontava segundo certos historiadores agrave Itaacutelia ou a uma famiacutelia espa-nhola de Santo Domingo muito provavel-mente a uma linha judia originaacuteria da Espanha da qual sua famiacutelia guardava ldquoalguma coisardquo que era transmitida de pais a filhos Seraacute por acaso essa ldquocoisardquo o ele que quis transmitir-nos em sua Ordem Natildeo percamos de vista o fato de que a cor-rente miacutestica foi muito importante na Espa-nha ao ser crisol de trecircs religiotildees monoteiacutes-tas Recordemos Abulafia de Girona tanto

para a cabala e a miacutestica judaicas de Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo e de Santa Teresa de Aacutevila para os cristatildeos e de Ibn Arabi para os muccedilulma-nos Podemos rir de Martinez e inclusive es-pecular sobre se o que ele nos deixou pare-cem soacute vestiacutegios eacute incoerente estaacute pela me-tade ou mal explicado mas isto natildeo impedi-raacute que ele seja o herdeiro de uma fabulosa linha de Iniciados Por outro lado nem Willermoz nem Saint-Martin jamais riram dele Ainda mais o proacute-prio Saint-Martin primeiro tradutor para o francecircs de Jacob Boumlheme afirmaraacute (em sua carta a Kirchberger de 11 de julho de 1796) ldquoNossa primeira escola tem coisas preciosas Atreveria-me inclusive a crer que M Pasquallis (sic) de quem me fala e posto que haacute que dizecirc-lo era nosso Mestre tinha a chave ativa de tudo o que nosso querido Boumlheme expotildee em suas teorias mas natildeo acreditou que estiveacutesse-mos no estado necessaacuterio para ter essas altas verdades Sustentava tambeacutem pontos que nosso amigo Boumlheme ou natildeo conheceu ou natildeo quis mostrar-nos etcrdquo [Essa chave ativa tinha o poder de pocircr em movimento certas energias espirituais que permitiam ao novo iniciado melhor compreender as coisas do alto e pro-gredir na Via Se natildeo para que serviriam os rituais as liturgias etc] O que fazia LC de Saint-Martin dizer que Martinez sabia infinita-mente mais que Boumlheme Natildeo haacute pois que tomar superficialmente o que Saint-Martin podia transmitir e ensinar E que transmissotildees possuiacutea Saint-Martin As da Maccedilonaria e as de Martinez as mesmas que Willermoz Mas quais eram as transmis-sotildees de Martinez A benccedilatildeo patriarcal Uma doutrina que recordava a cabala praacutetica uma Teurgia vinda de um passado remoto atraveacutes dos judeus da Espanha Por que natildeo Talvez se possa dizer tambeacutem que Martinez repre-sentava a uacuteltima corrente da Cabala de Safed pelas correntes Sabateiacutestas dos Askenazi do leste da Europa Willermoz fez de tudo isso um sistema muito

Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

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ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

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te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

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mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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ltFEFF005900fc006b00730065006b0020006b0061006c006900740065006c0069002000f6006e002000790061007a006401310072006d00610020006200610073006b013100730131006e006100200065006e0020006900790069002000750079006100620069006c006500630065006b002000410064006f006200650020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020006f006c0075015f007400750072006d0061006b0020006900e70069006e00200062007500200061007900610072006c0061007201310020006b0075006c006c0061006e0131006e002e00200020004f006c0075015f0074007500720075006c0061006e0020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020004100630072006f006200610074002000760065002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200076006500200073006f006e0072006100730131006e00640061006b00690020007300fc007200fc006d006c00650072006c00650020006100e70131006c006100620069006c00690072002egt13 UKR 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Paacutegina 9 Volume 1I ediccedilatildeo XI

coerente partindo do sistema Templaacuterio da Estrita Observacircncia desprovido de doutrina e talvez tambeacutem de verdadeira transmissatildeo iniciaacutetica com uma iniciaccedilatildeo artesanal e as premissas da doutrina Martinezista incluiacutedas nos trecircs primeiros graus ndash uma iniciaccedilatildeo ca-valheiresca e real com a Ordem interior dos CBCS e finalmente uma iniciaccedilatildeo sacerdo-tal com os Professos e Grandes Professos graus criados por Willermoz certamente mas com a doutrina e a transmissatildeo de Mar-tinez Quanto a Saint-Martin seguia uma via mais direta e a Iniciaccedilatildeo que conferia em um soacute grau (e em 7 graus nos Martinistas Rus-sos) era quando menos equivalente agrave dos Grandes Professos Mas em contrapartida natildeo se podia ascender a ela senatildeo apoacutes uma longa formaccedilatildeo e Saint-Martin no final de sua vida terminou por aproximar-se da Maccedilona-ria e a consideraacute-la como ldquoum bom caminhordquo para chegar a esse termo Poucos homens satildeo com efeito capazes imersos como estatildeo no mundo profano de receber uma tal inicia-ccedilatildeo sem a preparaccedilatildeo requerida daiacute que o caminho maccedilocircnico ou as escolas como a do proacuteprio Saint-Martin (ver sua correspondecircn-cia com o Baratildeo de Liebestorff citada por Van Rijnberk na qual se faz menccedilatildeo em di-versas ocasiotildees agrave escola do ldquoFiloacutesofo Desco-nhecidordquo) que lhe permitia ensinar sua dou-trina e sobretudo ver se os postulantes eram verdadeiros ldquohomens de desejordquo

Haacute uma diferenccedila fundamental entre os Ro-sa+Cruzes (grau que Willermoz nunca rece-beu completamente) pertencentes agrave Ordem dos Elus-Cohens do Universo de Martinez de Pasqually que recebiam uma Iniciaccedilatildeo sacer-dotal a qual culminava em uma teurgia e os Grandes Professos que recebiam igualmente uma iniciaccedilatildeo sacerdotal seguida da explica-ccedilatildeo da Doutrina contida no Tratado da rein-tegraccedilatildeo de Martinez mas que natildeo dispunha de nenhum meio teuacutergico Poderiacuteamos dizer que os Martinistas Russos se situam entre estas duas concepccedilotildees Parece pois ser admitido atualmente que

Saint-Martin procedeu a iniciaccedilotildees individuais e que fundou essa escola na qual entre ou-tros o conde de Gleichen sendo jaacute Elu-Cohen tornou-se seu disciacutepulo Um artigo de Varnhagen Von Ense menciona ainda essa escola composta de poucos membros cujo objetivo era a pura espiritualidade Em Es-trasburgo Paris e Lyon sabemos por notas dirigidas ao professor de teologia Koster de Goumlthingue (20 ndash XII ndash 1795) que amigos de Saint-Martin formaram grupos muito restri-tos mas unidos entre si pela Iniciaccedilatildeo Definitivamente quando relemos a corres-pondecircncia dos miacutesticos da eacutepoca percebe-mos rapidamente que Saint-Martin formava seus adeptos para logo iniciaacute-los e transmitir-lhes esse depoacutesito sagrado Mas o que acontecia na Franccedila depois do seacuteculo XVIII A extinccedilatildeo quase completa da Iniciaccedilatildeo Martinista e completa do Rito Esco-cecircs Retificado ateacute que num passado relativa-mente recente voltamos a encontrar Papus renovador ldquode uma ordem Martinistardquo e da qual falaremos mais adiante De outro lado temos igualmente uma segunda transmissatildeo russa nesse caso apoiando-se sobre os seacutecu-los de trabalho ininterrupto e com princiacutepios bem estabelecidos escola ensino doutrina rito ascese etc Mas voltemos ao assunto e em primeiro lugar agrave parte histoacuterica tomada ao Filoacutesofo Desconhecido que nos autoriza a publicar o que segue (No Martinismo Russo o Filoacutesofo Desconhecido eacute aquele que recebe o ldquopoderrdquo de iniciar Converte-se no responsaacute-vel de um capiacutetulo e prepara principalmente os futuros ldquoassociadosrdquo em reuniotildees livres)

II - Alguns Traccedilos de Histoacuteria Examinando os arquivos desse Filoacutesofo Des-conhecido natildeo pude evitar de pensar que o Martinismo e o espiacuterito de Louis-Claude de Saint-Martin estavam muito proacuteximos da al-

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

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te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

Paacutegina 13 Volume 1I ediccedilatildeo XI

de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

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mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

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dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 10: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 10 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

ma russa inclinada agrave contemplaccedilatildeo agrave vida espiritual e religiosa Da segunda metade do seacuteculo XVIII ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 o Mar-tinismo constituiu um dos ramos favoritos do movimento iniciaacutetico russo composto por membros da famiacutelia real da aristocracia de saacutebios de escritores de intelectuais e de membros do alto clero tais como o metro-polita Platatildeo o Filaleta que ateacute metade do seacuteculo XIX se congratulavam de pertencer a ele Em suas origens os Martinistas tentaram para pocircr em praacutetica suas ideacuteias educar as massas aliviar a miseacuteria e suavizar os costu-mes Falaremos em seguida do grupo de Ni-colas Novikoff escritor muito conhecido considerado um ldquoiluminadordquo e homem de accedilatildeo ao mesmo tempo que viveu sob o rei-nado de Catarina II Os membros mais co-nhecidos de seu grupo foram Lopoukhine o Priacutencipe Nicolas Troubetzkoi o conde Pedro Tatistchef Ivan Tourgueniev o professor Schwartz Gamalei o poeta Kherastow etc A accedilatildeo de todos esses homens no plano pro-fano foi muito importante jaacute que tentaram formar as massas propagar a verdade e se tiveram tanta audiecircncia parece ser porque enquanto Iniciados mostraram o caminho a seus adeptos tanto com o exemplo como por sua experiecircncia espiritual Novikoff se relaciona por filiaccedilatildeo direta com o priacutencipe Kourakine diplomata russo que devido agrave sua estadia na Franccedila tinha conheci-do pessoalmente Saint-Martin estabelecendo relaccedilotildees de amizade e sendo iniciado por ele recebendo a missatildeo de implantar o Martinis-mo ou melhor ainda sua Iniciaccedilatildeo na Ruacutessia (outros russos estiveram em relaccedilatildeo direta com Saint-Martin como o priacutencipe Golitzine o priacutencipe Simeoacuten Worontzor embaixador russo em Londres os condes Morkow e Zi-noniev que frequumlentaram Saint-Martin em Lyon pelos anos de 1783 - 1784) Ateacute 1780 o grupo Novikoff desenvolveu uma

grande atividade nos meios intelectuais rus-sos Mesclados com o movimento maccedilocircnico muito em voga naqueles tempos os Martinis-tas propagavam o esoterismo as ideacuteias de Saint-Martin de Boumlehme de Swedenborg de Kunrath de Paracelso de Corneacutelio Agrippa etc A seccedilatildeo de manuscritos dos seacuteculos XVIII e XIX do antigo museu Alexandre III de Mos-cou compreendia duas salas inteiramente reservadas para as reliacutequias do ldquoMartinismo de Moscourdquo Manuscritos quadros e dese-nhos miacutesticos medalhas obras publicadas pelas ediccedilotildees de Novikoff selos cordotildees e insiacutegnias Depois da Revoluccedilatildeo essa seccedilatildeo foi comple-tada por um abundante acreacutescimo provenien-te de arquivos e bibliotecas privadas ofereci-das pelos seus proprietaacuterios descendentes de Martinistas ou coletados nas proprieda-des ou imoacuteveis particulares pelos membros das comissotildees encarregadas de preservar os monumentos antigos Novikoff publicou uma revista espiritualista e abriu em Moscou uma editora e livrarias A editora se encarregou de traduzir para o rus-so e publicar as obras mais significativas do esoterismo Os martinistas de Novikoff natildeo se limitaram ao lado puramente miacutestico do ensino esoteacute-rico Fieacuteis aos princiacutepios cristatildeos se dedica-vam agrave caridade e como nossos Irmatildeos fran-ceses do Rito Escocecircs Retificado do seacuteculo XVIII colocavam em praacutetica a beneficecircncia Logo tomaram a frente do movimento liberal que reclamava reformas especialmente a ex-tensatildeo do ensino a toda a massa do povo buscando em geral suavizar os costumes A proacutepria Catarina II conhecia pessoalmente Novikoff que em sua juventude tinha servi-do na guarda imperial e participado do golpe de Estado pelo qual ela tinha chegado ao po-der Via sua atividade de maneira benevolen-

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

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III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

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tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 11: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 11 Volume 1I ediccedilatildeo XI

te polemizando com ele nos jornais e pare-cia favorecer o Martinismo Seu renome se estendeu por toda Ruacutessia e natildeo deixou de crescer ateacute a Revoluccedilatildeo Logo veio a revoluccedilatildeo francesa de 1789 e nas cortes de todos os reinos da Europa as forccedilas reacionaacuterias acusaram as sociedades secretas de fomentar a tormenta revolucio-naacuteria e propagar ideacuteias subversivas Instigada por seus conselheiros Catarina II mudou sua atitude benevolente Chegou a suspeitar in-clusive que o grupo de Novikoff tinha no estrangeiro contatos com sociedades secre-tas de tendecircncia revolucionaacuteria e acusou os Martinistas de fazer propaganda e levar a ca-bo um trabalho de destruiccedilatildeo das bases do poder imperial Os Martinistas caiacuteram em desgraccedila seu decliacute-nio comeccedilou em 1791 Em abril de 1792 em Moscou a revista e as livrarias foram fecha-das e os livros encontrados em lojas foram confiscados O proacuteprio Novikoff foi preso na fortaleza de Schlisselburgh Outros membros eminentes do grupo como Lopoukhine foram confinados em suas terras e inclusive alguns foram deportados Depois de sua ascensatildeo ao trono o Impera-dor Paulo I sucessor de Catarina II anistiou mediante decreto de 5 de dezembro de 1796 a todos aqueles que haviam sido con-denados quando do processo de Novikoff incluindo o proacuteprio Novikoff No princiacutepio do reinado de Alexandre I ou seja na sua fase liberal as sociedades secre-tas foram novamente autorizadas Entretan-to os Martinistas natildeo tinham esquecido o ldquocaso Novikoffrdquo Em 1803 por ocasiatildeo de um congresso de dirigentes da Franco-Maccedilonaria F Labzine Martinista e franco-maccedilom propocircs o seguinte programa ldquoEnquanto a atmosfera da Ruacutessia natildeo for purificada do absolutismo as sociedades se-cretas esoteacutericas natildeo deveratildeo manifestar-se agrave

plena luz mas deveratildeo continuar trabalhando sob o veacuteu do segredo a fim de que os ir-matildeos natildeo tenham que temer diante da possi-bilidade de novas perseguiccedilotildeesrdquo Fiel ao programa de F Labzine o grupo Mar-tinista denominado ldquoTradiccedilatildeo de Novikoffrdquo natildeo entrou em relaccedilatildeo com a confederaccedilatildeo oficial dos Franco-Maccedilons russos Os Irmatildeos continuaram reunindo-se secretamente em pequenos grupos nos castelos em zonas ru-rais e em apartamentos particulares Quan-do no fim do reinado de Alexandre I as so-ciedades secretas foram de novo perseguidas os Martinistas natildeo foram afetados Daiacute ateacute a revoluccedilatildeo de 1917 as relaccedilotildees entre as auto-ridades e os Martinistas foram as seguintes ignorando a existecircncia dos Capiacutetulos as au-toridades oficialmente se faziam de desenten-didas e natildeo faziam nada para impedir seus trabalhos Os Martinistas por seu lado se dedicavam agrave ciecircncia esoteacuterica e natildeo se imis-cuiacuteam em absoluto no mundo da poliacutetica No iniacutecio da segunda metade do seacuteculo XIX os Martinistas mais notoacuterios foram F Labzi-ne (que tinha traduzido para o russo a obra de Saint-Martin) F Posdeev Speransky mi-nistro e autor do ldquocoacutedigo das leis do impeacuterio russordquo os pintores Brulof e Ivanof os poetas Joukovsky e Boratynsky o conde Alexis Tolstoi e finalmente o ceacutelebre eslavoacutefilo (partidaacuterio da propagaccedilatildeo da cultura ou tra-diccedilotildees eslavas) Arsenief Moscou foi no seacuteculo XIX e a princiacutepios do seacuteculo XX o centro da Iniciaccedilatildeo Martinista de filiaccedilatildeo Novikoff A Loja Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou tinha transmitido a espada ritu-al de Novikoff a Gamalei de Gamalei a Pos-deev deste a Arsenief que por sua vez a transmitiu a Pedro Kasnatcheef que se tor-nou ateacute 1911 delegado geral para a Ruacutessia do Supremo Conselho da Ordem Martinista de Paris (Devo assinalar que o Martinismo Russo se manteve sempre agrave distacircncia do Martinismo Francecircs do qual alguns de seus chefes entre 1917 e 1939 se encontravam

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

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III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

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tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 12: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 12 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

mais proacuteximos do ocultismo que do mais pu-ro espiacuterito miacutestico e esoteacuterico desses gru-pos) Antes da revoluccedilatildeo de 1917 existiam na Ruacutessia trecircs principais centros Martinistas 1 ndash O Soberano Capiacutetulo de Satildeo Joatildeo o Apoacutestolo de Moscou com o Filoacutesofo Desco-nhecido Pedro Kasnatcheef Este uacuteltimo era um importante representante da antiga tradi-ccedilatildeo esoteacuterica russa e aleacutem de seus conheci-mentos esoteacutericos alquiacutemicos e hermeacuteticos fazia de sua vida um exemplo Tinha herdado de seu Iniciador Arsenief toda a Tradiccedilatildeo de Novikoff quer dizer o ensino do Martinismo assim como o grau de Teoacuterico dos Rosacru-zes de ouro do seacuteculo XVIII Entre os Marti-nistas de Moscou constavam os poetas An-drey Bely (logo convertido num entusiasma-do antropoacutesofo e amigo do Doutor Steiner) Maximilien Voloschine Valegraverie Brioussov o criacutetico Serge Kretchetov e sua mulher Lydia Ryndina uma atriz muito conhecida em seu tempo Ouspensky (autor de diferentes obras sobre esoterismo) e Dimitri o filho de Pierre Kasnatcheev que herdaria de seu pai a espada de Novikoff e Arsenief 2 ndash O Soberano Capiacutetulo Appolonius de Satildeo Petersburgo com o Filoacutesofo Desconhecido G O Von Mebes Grigory Ottonovich Von Mebes era professor de matemaacutetica e um saacutebio erudito apaixonado pelo esoterismo Tinha publicado desde 1911 diferentes obras sobre esoterismo cabala e arcanologia (numerologia) Em sua qualidade de grau so-berano que tambeacutem ostentava no Capiacutetulo de Moscou tinha um grau superior que lhe permitia estudar mais a fundo a Cabala e a numerologia sob o nome de ldquoEmesch penta-grammatonrdquo Os Irmatildeos e Irmatildes mais avanccedila-dos tinham acesso a esse tipo de estudos Von Mebes tinha escrito para esse grau duas obras o ldquoCurso Cabaliacutesticordquo (explicaccedilatildeo dos dez primeiros capiacutetulos do Gecircnesis) e uma traduccedilatildeo do Cacircnticos dos Cacircnticos Os Ir-matildeos e Irmatildes mais avanccedilados de seu Capiacutetulo

eram os professores da Universidade de Satildeo Petersburgo Boris Touraef eminente egiptoacute-logo autor do livro ldquoo Deus Totrdquo (Deus Ini-ciador) e Zelinsky que publicou uma seacuterie de obras e artigos sobre a Iniciaccedilatildeo da Greacute-cia antiga Etimov linguumlista e brilhante conhe-cedor das Tradiccedilotildees esoteacutericas do Oriente e Ocidente o poeta e historiador Viatcheslav Ivanov o senador Zakharov que foi durante um certo tempo representante do czar Ni-colau II junto ao Dalai Lama em Lhasa Leon Von Goer e Madame Voiekov (que publicou diferentes obras sob o pseudocircnimo de ldquoPerseacutefonerdquo) Depois da revoluccedilatildeo o grupo Von Mebes continuou seu trabalho desafian-do as circunstacircncias ateacute que em 1927 ou 1928 Von Mebes foi preso e mais tarde de-portado a Solovsky no extremo norte de-pois do que seu grupo foi disperso 3 ndash O Soberano Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 1 do qual o Filoacutesofo Desconhe-cido era Serge Marcotoune egiptoacutelogo e ad-vogado internacional Recebeu o grau de as-sociado na Ruacutessia e o de Iniciado na Itaacutelia em 3 e novembro de 1912 e o grau de S I em sua volta agrave Ruacutessia Jean Bricaud lhe dirigiu uma Carta nomeando-o delegado do Supre-mo Conselho para a Ucracircnia Carta assinada por Bricaud Magnet Victor Blanchard e Te-der Em 25 de dezembro de 1912 recebeu do Capiacutetulo Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou uma carta autorizando-o a fundar o Capiacutetulo Santo Andreacute ndeg 1 e uma carta do Supremo Conselho Russo nomeando-o delegado es-pecial perante os governos de Kiev ndash Tcher-nigov ndash Poltava Em 5 de janeiro de 1915 eacute feito membro de honra de Satildeo Joatildeo Apoacutesto-lo de Moscou Membro do governo Ucrania-no em 1917 tentou por todos os meios manter a Ucracircnia fora da revoluccedilatildeo e conti-nuou fazendo trabalhar seu grupo ateacute 1920 Depois da sua chegada agrave Franccedila reagrupou Ucranianos e Russos para fundar um novo Capiacutetulo primeiramente sob o nome de Re-nascimento e com autorizaccedilatildeo do Grande Mestre francecircs Jean Bricaud (carta patente

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de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

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III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

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mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 13: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 13 Volume 1I ediccedilatildeo XI

de 22 de dezembro de 1920) mais tarde sob o nome de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 Pu-demos encontrar em seus arquivos os se-guintes nomes o priacutencipe Repnine o Doutor Camille Savoire Keranz Artemio Galip Go-lenitchek Koutouzov (feito mais adiante ofici-al geral da Uniatildeo Sovieacutetica) Kadin Roma-chkof o Grande Comendador do Supremo Conselho da Franccedila Raymond Djemil Martin Ivanof Dorojinsky Ivraemof Desquier Malkowski Toussaint (Filoacutesofo Desconheci-do de Bruxelas) o conde Cheremeteff de Tombay Pierre de Ribaucourt Charles Rian-dey Grande Comendador do Supremo Con-selho da Franccedila etc Serge Marcotoune chegou a publicar na Fran-ccedila um resumo surpreendente da doutrina Martinista ensinada na Ruacutessia sob os tiacutetulos ldquoA Ciecircncia Secreta dos Iniciadosrdquo (Paris 1928) e ldquoA Via Iniciaacuteticardquo (Paris 1956) Durante toda a ocupaccedilatildeo alematilde de 1939 a 1944 o Capiacutetulo de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 reuniu-se regularmente rogando incan-savelmente por todos os Irmatildeos e todos ho-mens no infortuacutenio De 1945 a 1953 o Capiacutetulo funcionou nor-malmente mas nessa eacutepoca o Filoacutesofo Des-conhecido retirou-se para a Espanha sem dei-xar sucessor Soacute alguns anos depois em 1969 autorizou um Irmatildeo do Capiacutetulo a constituir um novo grupo Martinista em Pa-ris herdeiro em linha direta de Santo Andreacute Apoacutestolo ndeg 2 e de Satildeo Joatildeo Apoacutestolo de Moscou (carta patente de julho de 1969) Devo esclarecer a nossos leitores que tive-mos acesso aos arquivos desse grupo arqui-vos forccedilosamente reduzidos por causa da tormenta revolucionaacuteria que transtornou a Ruacutessia em 1917 Natildeo obstante pudemos ver os diplomas e patentes do Filoacutesofo Desco-nhecido Serge Marcoutoune datados do iniacute-cio do seacuteculo e provenientes de Moscou ndash Satildeo Petersburgo ndash Kiev tambeacutem pudemos ver e verificar muitas outras coisas pois se

encontra ali tambeacutem tudo o que pertence agrave ldquohistoacuteria sutilrdquo e para parafrasear nosso Mui Rev Cavaleiro Henry Corbin natildeo esqueccedila-mos nunca que a ausecircncia de documentos soacute prova a ausecircncia de documentos Uma uacutelti-ma observaccedilatildeo os historiadores atuais tecircm a tendecircncia de pretender que os Martinistas russos natildeo eram mais do que simples franco-maccedilons (gostariacuteamos de saber em quais do-cumentos se sustentam para isso) De resto os Martinistas russos tiveram sempre um pa-pel de educadores sobre a Maccedilonaria eles foram seus inspiradores espirituais daiacute essa denominaccedilatildeo espalhada por toda a Ruacutessia Em qualquer caso o que eacute certo eacute que por sua condiccedilatildeo de disciacutepulos de Saint-Martin viveram rodeados de respeito tanto por sua conduta na vida profana como por sua alta espiritualidade Nota Adicional O Doutor Philippe Encau-se filho do Doutor Papus em seu livro ldquoO Mestre Philippe de Lyonrdquo conta a histoacuteria das relaccedilotildees entre os Martinistas Franceses par-ticularmente as do Doutor Papus e as do Mestre Philippe com a Famiacutelia Imperial Russa Cita uma enormidade de documentos e tes-temunhos de diversas pessoas Pelo que pudemos saber atraveacutes de nossos Irmatildeos que estiveram em contato com o ciacuter-culo de Kiev e Moscou o relato do Doutor Encause corresponde agrave verdade Uma Loja especial foi fundada na corte ldquoA Cruz e a Estrelardquo da qual tomava parte Saint Vladimir e da qual o Filoacutesofo Desconhecido tinha sido o Gratildeo Duque Nicolas Nicolaevitch Conta-se nos meios Martinistas Russos que um dia o Filoacutesofo Desconhecido anunciou agrave assem-bleacuteia que ldquoa partir daquele momento a Irmatilde e o Irmatildeo Romanoff natildeo assistiriam mais agraves reuniotildeesrdquo Todo mundo soube que isso era devido agrave exigecircncia de Gregory Rasputin Nunca pudemos saber se essa Loja continu-ou com seus trabalhos depois da saiacuteda dos Romanoff jaacute que ela natildeo era considerada pe-los Martinistas Russos como ldquoregularrdquo

Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 14 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

III - O Espiacuterito e a Doutrina Se era grande meu interesse em conhecer o aspecto histoacuterico e a filiaccedilatildeo direta desse grupo com LC de Saint-Martin natildeo era me-nor por conhecer sua maneira de trabalhar Devem ser destacadas em primeiro lugar suas duas filiaccedilotildees de um lado a de Saint-Martin e de outro a da Rosacruz de ouro alematilde fundada em 1777 Situam-se de iniacutecio numa tradiccedilatildeo miacutestica e tecircm rejeitado sempre o aspecto ldquoocultistardquo que encontraremos ao contraacuterio nos grupos franceses Parece que teria havido uma trans-missatildeo de Saint-Martin a Papus (ver ldquoUm Taumaturgo no seacuteculo XVIIIrdquo tomo II paacutegs 30-31 onde Van Rijnberk exibe toda a filia-ccedilatildeo) Em contrapartida no que concerne agrave doutrina o proacuteprio Papus escreve (Martinezismo Willermozismo Martinismo e Franco-Maccedilonaria 1899 paacutegs 44-45) ldquoSoacute recebi de Delaage um pobre depoacutesito consti-tuiacutedo por duas letras e alguns pontosrdquo e acrescenta ldquoas primeiras iniciaccedilotildees pessoais sem outro ritual aleacutem dessa transmissatildeo oral das duas letras e os pontos tiveram lugar de 1884 a 1885rdquo Podemos pois perguntar-nos com razatildeo juntamente como Van Rijnberk ldquoSe Papus natildeo recebeu mais que as duas le-tras e os dois grupos de 6 pontos de onde saiacuteram os cadernos de Iniciaccedilatildeo da Ordem Martinista Francesardquo Paul Vuillaud por seu lado nega inclusive toda transmissatildeo direta em sua obra ldquoOs Rosacruzes Lioneses do seacuteculo XVIIIrdquo Em contraposiccedilatildeo esse grupo Russo possui toda uma doutrina explicada por uma antiga tradiccedilatildeo oral de mais de dois seacuteculos O que caracteriza essa Ordem Em primeiro lugar eacute composta por homens de Desejo Assim como Martinez de Pasqually eles tecircm a sabedoria de rejeitar a Iniciaccedilatildeo daqueles que julgam ldquonatildeo iniciaacuteveisrdquo Tecircm pois uma ardente feacute na realidade da via iniciaacutetica cristatilde

Eacute o que eles chamam seu ponto de amarra isto eacute seu ponto de uniatildeo com o plano espi-ritual Tentam manter os membros de seu grupo em estado de contiacutenua vigiacutelia procu-rando sem cessar alcanccedilar sempre planos mais elevados Entre eles natildeo haacute ocultistas mas homens em busca do VERDADEIRO que desconfiam da falsificaccedilatildeo interessada e procuram ser autecircnticos Tudo o que aprendem quanto agraves leis essenci-ais da Tradiccedilatildeo leis dos nuacutemeros simbolis-mo etc deve repercutir em sua conduta e esforccedilos cotidianos (ldquopor suas obras os reco-nhecereisrdquo ldquoque ningueacutem pretenda ser disciacutepulo do Cristo se natildeo tiver o modo de viver do Se-nhorrdquo) Com efeito aleacutem dos ensinamentos abstratos e metafiacutesicos haacute consideraccedilotildees praacuteticas e uma linha de conduta a seguir Eacute indispensaacutevel que a personalidade profana ceda o passo ao Ser interior que eacute o uacutenico que guarda a marca da mocircnada divina O ver-dadeiro Iniciado natildeo age por sua proacutepria vontade mas se submete agrave vontade divina para participar da Grande Obra Universal Acaso natildeo eacute esse o sentido do sacrifiacutecio do Filho do Homem e do Messianismo Vejamos o que fazem em seu grupo para avanccedilar em direccedilatildeo agrave Luz Primeiramente cada aspirante deve consagrar todos os dias um certo tempo agrave oraccedilatildeo e a duas formas de meditaccedilatildeo a concentraccedilatildeo passiva que leva a um estado contemplativo e um abandono de todo seu ser agraves vibraccedilotildees espirituais e a con-centraccedilatildeo ativa com um programa sobre as ideacuteias e siacutembolos dados pelo Mestre em fun-ccedilatildeo do estado de realizaccedilatildeo de cada disciacutepu-lo Agreguemos a isso uma certa teacutecnica para conseguir o controle da respiraccedilatildeo e uma oraccedilatildeo interior para terminar Muitos ma-ccedilons ou profanos se afastam do cristianismo em busca de uma via de realizaccedilatildeo de carac-teriacutesticas similares agraves descritas em outras tradiccedilotildees Isso acontece continuamente po-demos ver a cada dia mas deveria ser extre-

Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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ltFEFF005900fc006b00730065006b0020006b0061006c006900740065006c0069002000f6006e002000790061007a006401310072006d00610020006200610073006b013100730131006e006100200065006e0020006900790069002000750079006100620069006c006500630065006b002000410064006f006200650020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020006f006c0075015f007400750072006d0061006b0020006900e70069006e00200062007500200061007900610072006c0061007201310020006b0075006c006c0061006e0131006e002e00200020004f006c0075015f0074007500720075006c0061006e0020005000440046002000620065006c00670065006c0065007200690020004100630072006f006200610074002000760065002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200076006500200073006f006e0072006100730131006e00640061006b00690020007300fc007200fc006d006c00650072006c00650020006100e70131006c006100620069006c00690072002egt13 UKR 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Paacutegina 15 Volume 1I ediccedilatildeo XI

mamente raro excepcional Se nascemos nu-ma Tradiccedilatildeo o loacutegico eacute permanecer nela e vivecirc-la plenamente eacute entatildeo que encontrare-mos Ordens para acolher-nos e teacutecnicas de realizaccedilatildeo espiritual equivalentes agraves de outras Tradiccedilotildees poreacutem mais adaptadas ao nosso temperamento ocidental Finalmente a base de dita Ordem eacute a de transmitir um ensinamento equilibrado em funccedilatildeo do avanccedilo espiritual dos Irmatildeos a fim de propiciar a destruiccedilatildeo das maacutes estruturas e sua posterior reconstruccedilatildeo ateacute adquirir a bela forma que lhes permita tornarem-se co-lunas no Templo de Deus Demoliccedilatildeo ndash Re-construccedilatildeo - Solve ndash Coagula logo teacutecnicas de meditaccedilatildeo ativa e passiva ndash ascese domiacute-nio da respiraccedilatildeo e oraccedilatildeo interior Isso eacute o que pode oferecer a Ordem Martinista Rus-sa Rito de Novikoff de nossos dias talvez uma esperanccedila para aqueles que buscam fora o que tecircm em sua proacutepria Tradiccedilatildeo Digamos tambeacutem que essa Ordem tenta fazer descer sobre eles um influxo espiritual que os faccedila livres em relaccedilatildeo ao mundo e os impulsione e ancore no Mundo Espiritual Para parafra-sear Nietzshe ndash me dizia meu interlocutor ndash natildeo queremos fazer ldquobibliotecaacuterios miacuteopes que natildeo saibam fazer outra coisa aleacutem de co-mentar as accedilotildees daqueles que satildeo livres e inspiradosrdquo Depois o Filoacutesofo Desconhecido pocircs fim a esta entrevista com o conselho de Saint-Martin ldquoRoguemos adoremos mostremos com o exemplo e calemo-nosrdquo

IV - Conclusotildees Natildeo nos confundamos pois Pasqually Wil-lermoz e Saint-Martin estavam estreitamente ligados Na Ordem dos Elus-Cohens primei-ramente O que eles nos transmitiram atraveacutes do Rito Escocecircs Retificado e o Martinismo eacute a alta iniciaccedilatildeo da qual Pasqually foi depositaacuterio E com toda seguranccedila essa transmissatildeo teve

graus diferentes Ainda que o Rito Escocecircs Retificado pareccedila natildeo possuir uma verdadeira Teurgia nem teacutecnica espiritual precisa (ainda que tudo es-teja indicado para aquele que realmente sabe ver e entender) compreende sem duacutevida todas as premissas da Doutrina infelizmente por vezes demais esquecida por nossos con-temporacircneos que somente enxergam na praacutetica maccedilocircnica uma reuniatildeo fraternal e natildeo buscam compreender o miacutenimo do esoteris-mo judaico-cristatildeo rebuscando inclusive em outras Tradiccedilotildees agrave margem daquela que por natureza eacute a sua e que eles tecircm ao alcance do Espiacuterito A Unidade apenas pode encon-trar-se nas associaccedilotildees ela se encontra em nossa junccedilatildeo individual com Deus (LCde Saint-Martin) A riqueza do verdadeiro Martinismo como a da nossa Maccedilonaria Retificada eacute imensa mas eacute preciso abrir-se ao Espiacuterito jaacute que da mes-ma maneira que conhecer a fundo a histoacuteria da Igreja e a liturgia de Satildeo Pio V natildeo eacute sufici-ente para fazer-se cristatildeo igualmente conhe-cer a fundo a histoacuteria da maccedilonaria conten-tando-se em fazer uma ritualiacutestica gestual precisa sobre o tapete natildeo basta para fazer um bom maccedilom nem para fazer fluir essas influecircncias espirituais que viemos buscar no dia que batemos agrave porta de nossas Lojas Terminarei com esta citaccedilatildeo de Franz Von Baader paacuteg 16 ldquoO desprezo grosseiro e re-volucionaacuterio que um povo ou um homem experimenta sobre uma instituiccedilatildeo poliacutetica qualquer que jaacute natildeo entende (com mais razatildeo quando se trate de uma instituiccedilatildeo iniciaacutetica) eacute algo muito faacutecil jaacute que toma forccedilas de sua vacuidade interna de ideacuteias e dessa absoluta impotecircncia por elevar-se de novo ateacute ela (vivacidade da queda ndash Falstaff) para a liberta-ccedilatildeo que o elevaria mais aleacutem delardquo Que aqueles que negam toda espiritualidade e todo esoterismo agrave Maccedilonaria meditem estas palavras Eques ab Orientis Luce

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

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tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 16: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 16 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Preguiccedila ou aciacutedia

S e compararmos a doutrina dos sete de-feitos capitais agrave dos dez mandamentos

verificaremos que aquela ao contraacuterio desta natildeo tem ao longo da histoacuteria a fixidez em seu nuacutemero e conteuacutedo os defeitos capitais em sua origem eram oito e de acordo com cada autor a lista pode variar ligeiramente em um ou outro elemento O atual Catecismo da Igreja Catoacutelica apresenta como defeitos ou viacutecios capitais soberba avareza inveja ira impureza gula e preguiccedila ou aciacutedia Eacute bastante sugestiva e mesmo in-trigante esta ambiguumlidade em relaccedilatildeo ao seacutetimo de-feito familiar a todos pre-guiccedila ou a ilustre desco-nhecida aciacutedia Por que o Catecismo hesita entre preguiccedila ou aciacutedia Ou seraacute que as toma como palavras sinocircnimas ou equivalentes Na verdade parece que o Catecismo natildeo quer por um lado propor como defeito capital um defeito - a aciacutedia - do qual nunca ningueacutem ouviu falar e por outro talvez tenha vergo-nha de alccedilar sem mais a relativamente ino-fensiva preguiccedila ao elevado posto de defeito capital A aciacutedia eacute coisa seacuteria como se vecirc se anteciparmos desde jaacute uma primeira aproxi-maccedilatildeo da definiccedilatildeo de aciacutedia a tristeza pelo bem espiritual acidez queimadura interior do homem que recusa os bens do espiacuterito Desde sempre e durante muitos seacuteculos essa tristeza foi considerada defeito capital Modernamente poreacutem e natildeo por acaso houve um esquecimento da aciacutedia e sua subs-

tituiccedilatildeo pela preguiccedila Um autor tatildeo autoriza-do como Pieper faz notar que natildeo haacute concei-to eacutetico mais desvirtuado mais notoriamente aburguesado na consciecircncia cristatilde do que o de aciacutedia E numa formulaccedilatildeo forte acrescen-ta ldquoO fato de que a preguiccedila esteja entre os defeitos capitais parece que eacute por assim di-zer uma confirmaccedilatildeo e sanccedilatildeo religiosa da ordem capitalista de trabalho Ora esta ideacuteia eacute natildeo soacute uma banalizaccedilatildeo e esvaziamento do conceito primaacuterio teoloacutegico-moral da aciacutedia mas ateacute mesmo sua verdadeira inversatildeordquo

Os Defeitos Capitais

Na enumeraccedilatildeo primitiva de Satildeo Gregoacuterio Magno os defeitos capitais satildeo inanis gloria inuidia ira tris-titia avaritia uentris ingluies luxuria Enquanto os dez manda-mentos estatildeo enunciados na Biacuteblia a doutrina dos defeitos capitais eacute uma elaboraccedilatildeo de pensamen-to que eacute fruto como diz o novo Catecismo da Igreja Catoacutelica da experiecircncia cristatilde Esta experiecircncia eacute originariamente a dos pa-dres do deserto que na

radicalidade de sua proposta foram realizan-do uma tomografia da alma humana e desco-brindo em suas profundezas as possibilida-des para o bem e para o mal Como num rally ou num enduro em que as condiccedilotildees da maacutequina satildeo exigidas em condi-ccedilotildees extremas o monaquismo originaacuterio buscava testar os limites antropoloacutegicos no corpo e no espiacuterito (os limites do jejum da viacutegilia da oraccedilatildeo etc) Nesse quadro surgiu a doutrina dos defeitos capitais que - como

O Defeito da Aciacutedia na Anaacutelise de Satildeo Tomaacutes de Aquino

Paacutegina 17 Volume 1I ediccedilatildeo XI

tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

Paacutegina 18 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

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A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

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tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

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Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

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essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 50 i kasnijim verzijama)13 HUN 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tantas outras descobertas dos antigos hoje esquecidas ou esvaziadas - bem poderia aju-dar ao homem contemporacircneo a orientar-se moral e existencialmente As primeiras tentativas de organizar essa ex-periecircncia remontam a autores antigos como Evaacutegrio Pocircntico Joatildeo Cassiano e Gregoacuterio Magno mas somente seacuteculos depois encon-tramos uma brilhante consolidaccedilatildeo em Sto Tomaacutes de Aquino (seacutec XIII) que repensa - de modo amplo e sistemaacutetico - a antropolo-gia subjacente aos viacutecios capitais Se o filosofar do Aquinate eacute sempre voltado para a experiecircncia e para o fenocircmeno mais do que em qualquer outro campo eacute quando ele trata dos viacutecios que seu pensamento mer-gulha no concreto pois citando o saacutebio Dio-niacutesio malum autem contingit ex singularibus defectis - para conhecer o mal eacute necessaacuterio voltar-se para o fenocircmeno para os modos concretos em que ele ocorre Assim eacute fre-quumlente encontrarmos nas discussotildees de Satildeo Tomaacutes sobre os viacutecios - para aleacutem da aparen-te estruturaccedilatildeo escolaacutestica - expressotildees de um forte empirismo como Contingit autem ut in pluribus que remete ao que realmente acontece na maioria dos casos Tambeacutem para essa experiecircncia e para essa concretude eacute que se voltam os trabalhos pio-neiros de Joatildeo Cassiano e de Gregoacuterio Cas-siano - eacute o homem que em torno do ano 400 percorreu por longos anos os desertos do Oriente para recolher - em reportagens e entrevistas - as experiecircncias radicais vividas pelos primeiros monges tambeacutem o papa Gregoacuterio (acertadamente cognominado Mag-no) cuja morte em 604 marca o fim do periacute-odo patriacutestico e natildeo por acaso eacute um dos maiores gecircnios da pastoral de todos os tem-pos E quem diz pastoral diz experiecircncia Eacute interessante notar que precisamente com relaccedilatildeo ao tema que nos interessa - a aciacutedia - eacute que Cassiano em entrevista com o abade Serapiatildeo ressalta a forccedila da experiecircncia A tristeza e a aciacutedia - ao contraacuterio dos outros

viacutecios de que falamos anteriormente - natildeo costumam originar-se por uma motivaccedilatildeo exterior Eacute sabido que com frequumlecircncia afli-gem amarissimamente os solitaacuterios que vivem no ermo longe do conviacutevio dos homens Isto eacute verdadeiriacutessimo e quem quer que tenha vivido nesta solidatildeo e tem experiecircncia dos combates do homem interior facilmente o comprova nessas mesmas experiecircncias Os viacutecios capitais na enumeraccedilatildeo de Satildeo To-maacutes satildeo vaidade avareza inveja ira luxuacuteria gula e aciacutedia Um outro aspecto interessante estaacute ligado ao proacuteprio significado de viacutecio capital S Tomaacutes ensina que recebem este nome por derivar-se de caput cabeccedila liacuteder chefe (em italiano ainda hoje haacute a derivaccedilatildeo capo capo-Maacutefia) sete poderosos chefotildees que comandam que produzem outros viacutecios subordinados Neste sentido os viacutecios capi-tais satildeo sete viacutecios especiais que gozam de uma especial lideranccedila O viacutecio eacute uma res-triccedilatildeo agrave autecircntica liberdade e um condiciona-mento para agir mal

A Palavra Aciacutedia na Obra

de Satildeo Tomaacutes

Satildeo Tomaacutes de Aquino emprega 233 vezes a palavra aciacutedia em 134 passagens de sua vasta obra Em 6 passagens encontramos tambeacutem a forma verbal acedieris neste caso sempre citando Eclesiaacutestico 6 25 Curva teu ombro e carrega-a (a Sabedoria) e natildeo acidies em relaccedilatildeo a suas cadeias Dessas 134 passagens a grande maioria - 88 - reside nos dois momentos em que a aciacutedia eacute tematicamente enfocada por Sto Tomaacutes II-II q 35 e De malo q 11 De resto encontramos 9 passagens nos Comentaacuterios agraves Sentenccedilas 24 em outras questotildees da Suma Teoloacutegica 3 no De Veritate 5 em outras questotildees do De Ma-lo 1 no In Job 2 na Catena Aurea in Lucam 1 no Super I ad Cor I 1 no In Ps e 1 no Ad Ti-tum

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A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

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A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

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tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

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Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 50 i kasnijim verzijama)13 HUN 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A Aciacutedia como Tristeza

Aciacutedia ou Preguiccedila

A gravidade da aciacutedia jaacute se nota na primeira aproximaccedilatildeo do complexo conceito de aciacute-dia a aciacutedia eacute uma tristeza E a tristeza natildeo soacute eacute jaacute em si mesma um mal mas fonte de outros males Daiacute que para explicar que a aciacutedia pode ser viacutecio capital Satildeo Tomaacutes argu-menta ldquoComo jaacute dissemos viacutecio capital eacute aquele do qual naturalmente procedem - a tiacutetulo de finalidade - outros viacutecios E assim como os homens fazem muitas coisas por causa do prazer - para obtecirc-lo ou movidos pelo impulso do prazer - assim tambeacutem fa-zem muitas coisas por causa da tristeza para evitaacute-la ou arrastados pelo peso da tristeza E esse tipo de tristeza a aciacutedia eacute conveniente-mente situado como viacutecio capital (II-II q 35 a4)rdquo A aciacutedia como defeito capital eacute a mesma e uacutenica base de duas atitudes contraacuterias uma que leva agrave accedilatildeo ou melhor a um ativismo (como veremos ao examinar as filhas da aciacute-dia) e por outro lado a uma inaccedilatildeo - e este eacute o momento - secundaacuterio derivado - em que aciacutedia e preguiccedila se ligam embora sejam muitos mais importantes - sobretudo para a anaacutelise do homem contemporacircneo - as filhas da aciacutedia ligadas ao ativismo Se a tristeza da aciacutedia pode levar agrave inaccedilatildeo leva tambeacutem a uma inquietude a uma accedilatildeo desenfreada

Aciacutedia Depressatildeo amp Cia

Alma e Corpo

Ao caracterizar a aciacutedia como uma tristeza (e para Gregoacuterio a proacutepria tristeza era o defeito capital) abrem-se inuacutemeras dimen-sotildees antropoloacutegicas com interfaces nem sempre claras e a questatildeo adquire uma imen-sa complexidade a tristeza pode (ou natildeo) ser

defeito doenccedila estado de acircnimo atitude existencial ou combinaccedilotildees desses fatores Soacute com enunciar essas dimensotildees jaacute se mos-tra imediatamente a extrema atualidade des-te tema Por exemplo Andrew Solomon au-tor de um dos mais importantes livros sobre a doenccedila de nosso tempo a depressatildeo in-cluiu a velha aciacutedia no proacuteprio tiacutetulo de sua obra O democircnio do meio-dia - uma anatomia da depressatildeo O democircnio do meio-dia eacute o da aciacutedia Nesse sentido comparemos as afirmaccedilotildees de Solomon com o que realmente diz Satildeo To-maacutes precisamente em relaccedilatildeo ao nosso te-ma a tristeza os remeacutedios para a tristeza que reside na alma Sto Tomaacutes enfrenta esta questatildeo na Suma Teoloacutegica I-II 38 e no artigo 5 chega a recomendar banho e sono como remeacutedios contra a tristeza Pois diz o Aqui-nate tudo aquilo que reconduz a natureza corporal a seu devido estado tudo aquilo que causa prazer eacute remeacutedio contra a tristeza Sto Tomaacutes destroacutei assim a objeccedilatildeo espiritualista De resto para os remeacutedios contra a tristeza Satildeo Tomaacutes natildeo fala de Deus nem de Satatilde mas sim recomenda qualquer tipo de prazer as laacutegrimas a solidariedade dos amigos a contemplaccedilatildeo da verdade banho e sono E ainda sobre a interaccedilatildeo alma-corpo Sto To-maacutes afirma em I-II 37 4 A tristeza eacute entre todas as paixotildees da alma a que mais causa dano ao corpo [] E como a alma move na-turalmente o corpo uma mudanccedila espiritual na alma eacute naturalmente causa de mudanccedilas no corpo Quanto agrave melancolia Satildeo Tomaacutes estaacute longe de consideraacute-la uma exclusividade da alma Os melancoacutelicos desejam com veemecircncia os prazeres para expulsar a tristeza porque o corpo deles se sente como que corroiacutedo pelo humor mau como diz o Filoacutesofo Os melan-coacutelicos tecircm os corpos sempre incomodados pela maacute compleiccedilatildeo

Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 19 Volume 1I ediccedilatildeo XI

A Aciacutedia Tristeza em Relaccedilatildeo

aos Bens Interiores

Vamos examinar agora a caracterizaccedilatildeo que Satildeo Tomaacutes faz da aciacutedia tristeza que eacute viacutecio capital Nada impede poreacutem que alguns dos sintomas da aciacutedia possam tambeacutem surgir em casos de mera doenccedila sem alcance mo-ral E reciprocamente o diaacutelogo com Sto Tomaacutes pode ser interessante para o estudio-so de hoje precisamente porque aponta para esse aspecto moral tatildeo esquecido Comecemos pela caracterizaccedilatildeo geral da aciacute-dia que Sto Tomaacutes faz no De Malo a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens inte-riores ao bem espiritual divino em noacutes A aciacutedia - como Joatildeo Da-masceno deixou claro (De fide II 14) - eacute uma certa tristeza daiacute que Gregoacuterio (Mor 31 45) por vezes empregue a palavra tristeza em lugar de aciacutedia Ora o objeto da tristeza eacute o mal presente como diz Joatildeo Damasceno (De fide II 12) Assim como haacute um duplo bem - um que eacute verdadeiramente bem e outro que eacute um bem apa-rente pelo fato de que eacute bom soacute segundo um determinado aspecto (pois soacute eacute verdadeiramente bem o que eacute bom independentemente deste ou daquele determinado aspecto particular) - haacute tam-beacutem um duplo mal o que eacute verdadeira e sim-plesmente mal e o mal relativo a um certo aspecto mas que - para aleacutem desse particular aspecto - eacute pura e simplesmente bom Portanto como satildeo louvaacuteveis o amor o de-sejo e o prazer referentes a um bem verda-deiro e reprovaacuteveis se referentes a um bem aparente que natildeo eacute verdadeiramente bem

assim tambeacutem o oacutedio o fastidio e a tristeza em relaccedilatildeo ao mal verdadeiro satildeo louvaacuteveis mas em relaccedilatildeo ao mal aparente (mas que em si mesmo eacute bom) satildeo reprovaacuteveis e cons-tituem defeito Ora a aciacutedia eacute o teacutedio ou tristeza em relaccedilatildeo aos bens interiores e aos bens do espiacuterito como diz Agostinho a pro-poacutesito do Salmo (104 18) Para a sua alma todo alimento eacute repugnante E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e soacute aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam os de-sejos carnais) eacute evidente que a aciacutedia tem por si caraacuteter de defeito (De Malo questatildeo 11 - A aciacutedia Artigo 1 - Se a aciacutedia eacute defeito)

Passagens Complementares

Alguns aspectos comple-mentares mais ou menos importantes - extraiacutedos de observaccedilotildees esparsas na obra de Satildeo Tomaacutes podem nos ajudar na compreensatildeo deste defeito capital A aciacutedia eacute uma possibilidade exclusiva do homem o de-feito dos anjos natildeo pode ter sido o de aciacutedia porque o anjo natildeo pode ter teacutedio em relaccedilatildeo aos bens espirituais

Em sua dimensatildeo que produz inaccedilatildeo a aciacutedia caracteriza-se pela veemecircncia da tristeza que imobiliza o homem retardando a accedilatildeo daiacute que S Joatildeo Damasceno afirme ser uma tris-teza agravante pesada isto eacute paralisadora Haacute dois viacutecios capitais que satildeo tristezas aciacute-dia e inveja A aciacutedia eacute a tristeza pelo proacuteprio bem espiritual a inveja pelo bem alheio A aciacutedia - tal como os outros defeitos capi-tais - gera outros defeitos mas isto natildeo quer dizer que os defeitos natildeo possam ter por vezes outras causas Pode-se dizer no en-

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 20: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 20 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

tanto que todos os defeitos que provecircm da ignoracircncia podem recair na aciacutedia agrave qual pertence a negligecircncia pela qual se recusa a aquisiccedilatildeo dos bens espirituais Satildeo Tomaacutes ao comentar que alguns autores estabelecem uma correspondecircncia entre os sete dons do Espiacuterito Santo e os sete defei-tos capitais indica que o oposto da aciacutedia seria o dom da fortaleza (In III Sent d 34 q 1 a2 c) o esforccedilo por natildeo se deixar domi-nar por essa acidez da alma Na ligaccedilatildeo entre aciacutedia e desespero Satildeo To-maacutes faz uma observaccedilatildeo psicoloacutegica chega-se agrave situaccedilatildeo de considerar que o bem aacuterduo seja impossiacutevel de alcanccedilar por si ou por ou-tro por meio de um profundo abatimento que quando chega a dominar o afeto do ho-mem parece-lhe que nunca mais poderaacute em-preender algo de bom E como a aciacutedia eacute uma tristeza que abate o espiacuterito a aciacutedia gera o desespero Ora a esperanccedila tem por objeto proacuteprio aquilo que eacute possiacutevel pois o bem e o aacuterduo dizem respeito tambeacutem a outras paixotildees Daiacute que o desespero nasccedila especialmente da aciacutedia E agrave objeccedilatildeo de que o desespero proveacutem da negligecircncia Sto Tomaacutes responde que a proacutepria negligecircncia decorre da aciacutedia E observa que o homem triste natildeo pensa em coisas grandes e belas mas soacute em coisas tristes a menos que por um grande esforccedilo - lembremos que a aciacutedia se opotildee agrave fortaleza - afaste-se das coisas tristes A Aciacutedia Tematicamente Tratada em

II-II 35 (e em De Malo 11)

Tanto a Suma Teoloacutegica (II-II 35) como o De Malo (q 11) haacute uma questatildeo sobre a aciacutedia nos dois casos a argumentaccedilatildeo eacute muito se-melhante e inclusive essas questotildees estatildeo divididas nos mesmos quatro artigos a aciacutedia como defeito a aciacutedia como viacutecio especial como defeito mortal e como viacutecio capital Neste toacutepico tomaremos como base a Sum-ma complementando com o De Malo quan-

do for o caso

Artigo 1 se a aciacutedia eacute defeito

A dificuldade de ter iniciativas

A primeira objeccedilatildeo eacute a de que sendo a triste-za uma paixatildeo natildeo eacute boa nem maacute Em sua resposta Sto Tomaacutes reafirma que a tristeza pelo bem a aciacutedia e a tristeza demasiada pe-lo mal eacute que satildeo maacutes A segunda objeccedilatildeo eacute a de que natildeo pode ha-ver defeito que se deva agrave fraqueza corporal defeito com hora marcada (a tentaccedilatildeo do meio-dia) Sto Tomaacutes responde dizendo que a culpa do asseacutedio da aciacutedia ao meio-dia eacute do jejum dos monges pois toda fraqueza corporal predispotildee agrave tristeza mais aguda nessa hora pela fome e pelo calor Sto To-maacutes eacute tatildeo materialista que nas questotildees de Quodlibet tratando do jejum diraacute que o jejum eacute sem duacutevida defeito (absque dubio peccat) quando debilita a natureza a ponto de impe-dir as accedilotildees devidas que o pregador pregue que o professor ensine que o cantor cante que o marido tenha potecircncia sexual para atender sua esposa Quem assim se absteacutem de comer ou de dormir oferece a Deus um holocausto fruto de um roubo Uma outra observaccedilatildeo interessante no corpo do artigo 1 da Suma eacute a de que o peso da tristeza da aciacutedia de tal modo deprime o acircni-mo do homem que nada do que ele faz o agrada tal como as coisas aacutecidas que satildeo frias Daiacute o teacutedio e a enorme dificuldade de comeccedilar qualquer accedilatildeo e a caracterizaccedilatildeo da aciacutedia como torpor da mente em comeccedilar um ato bom Tanto para a aciacutedia como para a depressatildeo essa dificuldade para empreen-der para comeccedilar essa falta de iniciativa (natildeo por acaso iniciativa vem de iniciar pois manifesta-se - bem o sabem os que passaram por depressatildeo - ateacute no ato de iniciar o dia o banho Ou vejamos entatildeo o depoimento do livro de Solomon

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 21: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 21 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Lembro de estar deitado na cama imobiliza-do chorando por estar assustado demais pa-ra tomar banho e ao mesmo tempo sabendo que chuveiros natildeo satildeo assustadores Eu con-tinuava dando os passos um por um na mi-nha mente vocecirc gira e potildee os peacutes no chatildeo fica em peacute anda ateacute o banheiro abre a porta do banheiro vai ateacute a borda da banheira abre a aacutegua entra embaixo dela passa sabo-nete enxaacutegua-se sai da banheira enxuga-se volta para a cama Doze passos que me pa-receram tatildeo onerosos coma as estaccedilotildees da via-crucis Mas eu sabia logicamente que os banhos eram muito faacuteceis de tomar que du-rante anos eu havia tomado uma ducha todos os dias e que o fizera tatildeo rapidamente e tatildeo prosaicamente que isso sequer era digno de um comentaacuterio Etc etc No artigo 2 Satildeo Tomaacutes discute se a

aciacutedia eacute viacutecio especial

Trata-se de trazer agrave tona a especificidade da aciacutedia pois todo qualquer viacutecio se opotildee ao bem espiritual Distinguindo-a tambeacutem da fuga do bem espiritual por consideraacute-lo tra-balhoso molesto ao corpo ou impeditivo dos prazeres corporais A aciacutedia se entristece do bem divino que se alegra na caridade O artigo 3 discute se a aciacutedia eacute de-

feito mortal e a atitude oposta

A primeira objeccedilatildeo eacute interessantiacutessima se a aciacutedia fosse defeito mortal chocaria de fren-te com algum mandamento da lei de Deus mas percorrendo um por um os dez manda-mentos vecirc-se que a aciacutedia natildeo se opotildee a ne-nhum deles e portanto natildeo eacute defeito mortal A resposta de Sto Tomaacutes - sugestivamente sem maiores explicaccedilotildees - eacute que a aciacutedia se opotildee ao mandamento de guardar o saacutebado que prescreve o repouso da mente em Deus Como eacute possiacutevel identificar preguiccedila e aciacutedia se esta opotildee-se ao mandamento do repou-

so Observemos mais de perto a formulaccedilatildeo de Sto Tomaacutes praecipitur quies mentis in Deo cui contrariatur tristitia mentis de bono divino Neste sentido eacute interessante observar que para Sto Tomaacutes essa quies mentis eacute a atitude de festa da alma instalada na skholeacute (no senti-do aristoteacutelico) e fruindo da contemplaccedilatildeo Ao falar da vida contemplativa e de sua supe-rioridade a superioridade de Maria em rela-ccedilatildeo a Marta diz 4 In vita contemplativa est homo magis sibi sufficiens quia paucioribus ad eam indiget unde dicitur Luc X Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima () 6 Vita contemplativa consistit in quadam va-catione et quiete secundum illud Psalmi Vacate et videte quoniam ego sum Deus (II-II 182 1) E explicando o sentido da fala de Cristo vinde e vede (Jo 1 39) de como se chega ao conhecimento de Deus Sto Tomaacutes diz Per mentis quietem seu vacationem Ps XLV 11 Vacate et videte (Super Ev Io cp 1 lc 15) Esse salmo vacate et videte quoniam ego sum Deus (skholasate na versatildeo dos Setenta) eacute citado dezenas de vezes por Sto Tomaacutes co-mo atitude tiacutepica do terceiro mandamento (In III Sent d 37 q 1 a 2bco I-II 100 3 ad 2 etc) o avesso da aciacutedia Natildeo se trata somen-te de ausecircncia de perturbaccedilotildees exteriores mas tambeacutem das interiores (II-II 181 4 ad 1) Ainda nesse artigo a terceira objeccedilatildeo eacute tam-beacutem sugestiva se a aciacutedia - como diz Cassia-no - eacute experimentada principalmente pelos varotildees perfeitos pelos ascetas entatildeo como pode ser defeito Sto Tomaacutes responde di-zendo que os santos estatildeo sujeitos aos sintomas da aciacutedia natildeo que consintam com

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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Page 22: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 22 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

essa tentaccedilatildeo de repugnacircncia pelos bens do espiacuterito

Artigo 4 as filhas da aciacutedia

O artigo 4 eacute muito importante Nele encon-tramos os desdobramentos da aciacutedia particu-larmente importantes para o homem de hoje Gregoacuterio (Mor XXXI 45) acertadamente indica as filhas da aciacutedia De fato como diz o Filoacutesofo (Eth 7 5-6 1158 a 23) ningueacutem pode permanecer por muito tempo em tris-teza sem prazer e daiacute se seguem dois fatos o homem eacute levado a afastar-se daquilo que o entristece e a buscar o que lhe agrada e aqueles que natildeo conseguem encontrar as ale-grias do espiacuterito instalam-se nas do corpo (Eth 10 9 1176 b 19) Assim quando um homem foge da tristeza opera-se o seguinte processo primeiro foge do que o entristece e depois chega a empreender uma luta con-tra o que gera a tristeza Ora no caso da aciacute-dia em que se trata de bens espirituais esses bens satildeo fins e meios A fuga do fim se daacute pelo desespero Jaacute a fuga dos bens que con-duzem ao fim daacute-se pela pusilanimidade que diz respeito aos bens aacuterduos e que re-querem deliberaccedilatildeo e pelo torpor em rela-ccedilatildeo aos preceitos no que se refere agrave lei co-mum Por sua vez a luta contra os bens do espiacuterito que pela aciacutedia entristecem eacute ran-cor no sentido de indignaccedilatildeo quando se re-fere aos homens que nos encaminham a eles eacute maliacutecia quando se estende aos proacuteprios bens espirituais que a aciacutedia leva a detestar E quando movido pela tristeza um homem abandona o espiacuterito e se instala nos prazeres exteriores temos a divagaccedilatildeo da mente pelo iliacutecito () Jaacute a classificaccedilatildeo de Isidoro dos efeitos da aciacutedia e da tristeza recai na de Gregoacuterio As-sim a amargura que Isidoro situa como pro-veniente da tristeza eacute um certo efeito do rancor a ociosidade e a sonolecircncia reduzem-se ao torpor em relaccedilatildeo aos preceitos o ocioso os abandona e o sonolento os cumpre de

modo negligente Os outros cinco casos re-caem na divagaccedilatildeo da mente eacute importunitas mentis quando se refere ao abandono da tor-re do espiacuterito para derramar-se no variado no que diz respeito ao conhecimento eacute curio-sitas ao falar verbositas ao corpo que natildeo permanece num mesmo lugar inquietudo cor-poris (eacute o caso em que os movimentos desor-denados dos membros indicam a dispersatildeo do espiacuterito) ao perambular por diversos lu-gares instabilitas que tambeacutem pode ser en-tendida como instabilidade de propoacutesitos A primeira das filhas da aciacutedia eacute o desespero Este ponto foi especialmente analisado por Pieper (a quem sigo de perto neste paraacutegra-fo) que liga diretamente o desespero agrave outra filha da aciacutedia a pusilanimidade paralisado pela vertigem pelo medo das alturas espiritu-ais e existenciais a que Deus o chama a aciacute-dia natildeo encontra acircnimo nem vontade de ser tatildeo grande como realmente estaacute chamado a ser abdica do torna-te o que eacutes a famosa sentenccedila com que Piacutendaro resume toda eacutetica que como a de Sto Tomaacutes estaacute centrada no ser Quando passamos ao plano da graccedila a aciacutedia eacute uma tristitia de bono spirituali inquan-tum est bonum divinum (II-II 35 3) um abor-recer-se de que Deus o tenha elevado ao plano da filiaccedilatildeo divina agrave participaccedilatildeo em sua proacutepria vida iacutentima Queimado por essa tristeza - existencialmen-te suicida - e movido pela queimadura de sua acidez surge a evagatio mentis a dispersatildeo de quem renunciou a seu centro interior e por-tanto entrega-se agrave importunitas abandonar a torre do espiacuterito para derramar-se no varia-do buscando afogar a sede na aacutegua salgada das compensaccedilotildees e prazeres de uma ativida-de desenfreada num falatoacuterio inoacutecuo o agi-tar-se o mover-se a incapacidade de con-centrar-se em um propoacutesito e a um afatilde de-sordenado de sensaccedilotildees e de conhecimento Desta maneira mesmo uma descriccedilatildeo breve das filhas da aciacutedia torna evidente seus peri-gos o desenraizamento a abdicaccedilatildeo do pro-

Paacutegina 23 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 50 i kasnijim verzijama)13 HUN 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Medusa

Medusa era uma beliacutessima ninfa e por causa de seus belos cabelos ela tinha muitos pre-tendentes Ateacute Zeus se apaixonou por ela Disfarccedilado de paacutessaro ele a levou ao Templo de Atena (Minerva) Medusa arrogante e so-berba ousou dizer que a sua beleza era mai-or do que a da proacutepria Atena Esta ofendida transformou seus belos cabelos em serpen-tes e seu olhar em energia petrificante A Medusa eacute um monstro ou ldquotornaram-na um monstrordquo por desafiar a deusa da Sabedoria Eacute digno de nota que Atena nasceu da cabeccedila de Zeus eacute uma deusa de muitos atributos a ela foi conferido o bom senso a justiccedila a filosofia eacute uma deusa justa e tambeacutem prote-tora ldquoGoacutergonardquo traduzindo significa ldquoterriacutevel apa-voranterdquo Medusa quer dizer sabedoria soberana feminina Em sacircnscrito eacute Medha em grego Metis em egiacutepcio Met ou Maat Medusa era originalmente um aspecto da deusa Atenas da Liacutebia onde ela era a Deusa-Serpente das amazonas Liacutebias Em suas ima-gens seus cabelos agraves vezes parecem cachos indicando sua origem africana Laacute ela tinha uma face encoberta perigosa Estaacute inscrito que ningueacutem seria capaz de levantar seu veacuteu e que quem olhasse para sua face enxergaria sua proacutepria morte enquanto ela via seu futu-ro Diz-se que a Deusa Medusa representa a sabedoria soberana feminina todas as forccedilas

da Grande Deusa primordial Os Ciclos do Tempo como passado presente e futuro Os Ciclos da Natureza como vida morte e re-nascimento Ela eacute a Criatividade e Destruiccedilatildeo universais em eterna Transformaccedilatildeo Ela eacute a Guardiatilde dos Limiares e a Mediadora entre os reinos do ceacuteu da terra e do mundo subter-racircneo Ela eacute a Senhora das Bestas Energias Latente e Ativa Ela destroacutei para recriar o equiliacutebrio Ela purifica e eacute a verdade uacuteltima da realidade a complitude aleacutem da dualidade Ela rasga as ilusotildees mortais Sabedoria proibida mas libertadora As forccedilas indomaacuteveis da na-tureza Como uma mulher jovem e bonita ela eacute a fertilidade e a vida Como uma velha encar-quilhada ela consome tudo devorando o que haacute sobre o plano terrestre Atraveacutes da morte devemos retornar agrave fonte ao abismo da transformaccedilatildeo o reino do eterno Devemos ceder frente a ela e seus termos de mortali-dade A Medusa encarnaria o principal impul-so humano espiritual e evolutivo que per-vertido em estagnaccedilatildeo impede a justa har-monia dos desejos Quem olha a Medusa se petrifica por ser ela o reflexo da imagem da culpa do espectador o reconhecimento iacutenti-mo da falta

Perseu

De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro Perseu o lendaacuterio fundador de

O Mito de Perseu e Medusa

cesso de auto-realizaccedilatildeo profunda do eu que passa a espalhar-se no variado etc Se jaacute Pascal em um dos Pensamentos (136139) afirma que toda a infelicidade do homem procede de uma uacutenica coisa ele natildeo poder estar a soacutes consigo mesmo em um quarto hoje mais do que nunca essas possibi-lidades de dispersatildeo estatildeo disponiacuteveis e en-contram-se - potenciadas ao maacuteximo - por

toda parte Doenccedila defeito ou um misto de falta moral e enfermidade o fato eacute que a tris-teza eacute uma poderosa forccedila destruidora convi-dando a (ou impondo) diversas compulsotildees das drogas ao jogo do consumismo ao wor-kaholism etc Por traacutes de tudo isto natildeo have-raacute um componente daquela desperatio daque-la curiositas daquela evagatio mentis daquela instabilitas

Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

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dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

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eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

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conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 24 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Micenas nunca teria nascido se seu avocirc tives-se conseguido seu intento Acriacutesio rei de Argos era pai de uma linda filha Dacircnae mas estava desapontado por natildeo ter um filho Quando consultou o oraacuteculo sobre a ausecircn-cia de um herdeiro homem recebeu a infor-maccedilatildeo que natildeo geraria um filho mas com o passar do tempo teria um neto cujo destino era matar o avocirc Acriacutesio tomou medidas ex-tremas para fugir deste destino Trancou Dacircnae no topo de uma torre de bronze que laacute permaneceu numa total reclusatildeo ateacute o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro assim deu agrave luz a Perseu Acriacutesio ficou furioso mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado Fez seu car-pinteiro construir uma grande arca dentro da qual Dacircnae foi forccedilada a entrar com seu bebecirc sendo levados para o mar Conseguiram so-breviver agraves ondas e apoacutes uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Seacuterifo uma das ilhas das Ciclades Dacircnae e Perseu foram encontra-dos e cuidados por um honesto pescador Dic-tis irmatildeo do rei de Seacuterifo Polidectes Com o passar do tempo Polidectes apaixo-nou-se por Dacircnae mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua matildee dos indesejados avanccedilos do rei Um dia durante um banquete Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava pre-parado a oferecer-lhe Todos os outros pro-meteram cavalos mas Perseu ofereceu-se para trazer-lhe a cabeccedila da goacutergona Medusa Quando Polidectes aceitou Perseu foi forccedila-do a honrar sua oferta As goacutergonas eram em nuacutemero de trecircs monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes duas eram imortais mas a terceira Medusa era mortal e assim potencialmente

vulneraacutevel a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra Fe-lizmente Hermes veio em sua ajuda e indi-cou a Perseu o caminho das Greacuteias trecircs ve-lhas irmatildes que compartilhavam um olho e um dente entre si Instruiacutedo por Hermes Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente recusando-se a devolvecirc-los ateacute que as Greacuteias mostrassem o caminho ateacute as Ninfas que lhe forneceriam os equipamentos que necessita-va para lidar com Medusa As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridatildeo que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa botas aladas pa-ra facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeccedila imediatamente apoacutes tecirc-la

decapitado Hermes lhe deu uma faca em forma de foice e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa Com a ajuda de Atena que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da goacutergona refletida ao inveacutes de olhar diretamen-te para sua terriacutevel face conseguiu finalmente de-cepar-lhe a terriacutevel cabe-

ccedila Acomodando a cabeccedila de modo seguro na sua bolsa retornou rapidamente a Seacuterifo auxiliado por suas botas aladas Ao sobrevoar a costa da Etioacutepia Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha Era Androcircmeda cuja fuacutetil matildee Cassiopeacuteia tinha incorrido na ira de Poseidon ao espa-lhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Para puni-la Poseidon enviou um monstro marinho para devastar o reino que soacute poderia ser detido se recebesse como oferenda a filha da rainha Androcircmeda que foi assim colocada na orla mariacutetima para es-perar o terriacutevel destino Perseu apaixonou-se imediatamente matou o monstro marinho e libertou a princesa

Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 25 Volume 1I ediccedilatildeo XI

Os pais dela em juacutebilo ofereceram Androcirc-meda como esposa a Perseu e os dois segui-ram na jornada para Seacuterifo Perseu deu entatildeo a cabeccedila a Atena que a fixou como um em-blema no centro de seu protetor peitoral Perseu Dacircnae e Androcircmeda seguiram entatildeo juntos para Argos onde esperavam se recon-ciliar com o velho rei Acriacutesio Mas quando Acriacutesio soube desta vinda fugiu da presenccedila ameaccediladora de seu neto indo para a Tessaacute-lia onde natildeo conhecendo um ao outro Acriacutesio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fuacutenebres do rei de Larissa Aqui a previsatildeo do oraacuteculo que Acriacutesio temia se re-alizou pois Perseu atirou um disco o qual se desviou do curso e atingiu Acriacutesio enquanto estava entre os espectadores matando-o ins-tantaneamente Finalmente Perseu chegou agrave ilha de Seriphus apoacutes tantas aventuras Quando entrou na casa onde morava encontrou-a vazia e cor-reu agrave praia para procurar o pescador Dictis Este lhe informou que o seu irmatildeo natildeo ten-do obtido sucesso em convencer Dacircnae a desposaacute-lo obrigou-a a ser sua camareira Perseu ficou furioso Deixou Androcircmeda e Dictis na praia e ru-mou para o castelo do rei Entrou no palaacutecio por uma das janelas e posou bem em frente ao trono de Polydectes Muito bem Polydectes disse o heroacutei trago comigo o que prometi a vocecirc mesmo havendo arrisca-do minha vida Acho poreacutem que vocecirc natildeo me acredita e deseja ver para ter a prova Enfi-ou a matildeo em sua sacola e segurou a cabeccedila da Medusa Os que satildeo meus amigos que fechem os olhos gritou Polydectes natildeo deu ouvidos ao seu aviso e olhou diretamen-te para a cabeccedila da Medusa quando esta foi tirada da sacola Ele e todos os seus corte-satildeos foram transformados em estaacutetuas Per-seu decidiu que natildeo seria muito popular vol-tar a Argos e reivindicar o trono de Acriacutesio logo apoacutes tecirc-lo morto assim ao inveacutes fez uma troca de reinos com seu primo Mega-pentes Megapentes se dirigiu a Argos en-quanto Perseu governou Tirinto onde eacute con-

siderado como responsaacutevel pelas fortifica-ccedilotildees de Mideacuteia e Micenas Ele e Androcircmeda tiveram uma descendecircncia muito gloriosa Perseu era o avoacute de Heraacutecles que se tornou um dos maiores heroacuteis da antiguumlidade Tanto ele quanto sua amada Androcircmeda foram le-vados ao ceacuteu por Zeus e transformados em constelaccedilotildees

O Mito Interpretado

A Medusa terriacutevel ser mitoloacutegico eacute conside-rada pelos gregos uma das divindades pri-mordiais pertencente agrave geraccedilatildeo preacute-oliacutempica Soacute depois eacute tida como viacutetima da vinganccedila de uma deusa Uma das trecircs goacutergonas eacute a uacutenica mortal Trecircs irmatildes monstruosas que possuiacute-am cabeccedila com cabelos em forma de serpen-tes venenosas presas de javali e asas de ou-ro Seu olhar transformava em pedra aqueles que as fitavam Como suas outras irmatildes Me-dusa representava as perversotildees Euriacuteale sim-bolizava o instinto sexual pervertido Eacutestano a perversatildeo social e finalmente a Medusa que espiritualmente falando representa o impulso evolutivo - a vontade de crescer e evoluir - estagnado Medusa tambeacutem eacute o siacutembolo da mulher rejei-tada e por sua rejeiccedilatildeo tornou-se incapaz de amar e ser amada odiando os homens pelo fato de ter deixado de ser mulher bela para se transformar em monstro por culpa de um deus e de uma deusa Seus filhos natildeo satildeo humanos nem deuses Goacutergona apavorante e terriacutevel O mito de Medusa tem vaacuterias ver-sotildees mas os pontos principais refletem estas caracteriacutesticas acima Assim como Midas ela natildeo pode facilitar a proximidade um transformava tudo em ouro em apenas um toque ela eacute ainda mais solitaacute-ria e traacutegica natildeo podendo sequer olhar pois tudo o que olha vira pedra Medusa tira a vida e todo o movimento com um simples olhar Tambeacutem natildeo pode ser vista de frente natildeo se pode ter ideacuteia de como ela eacute sem ficar paralisado

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 26: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 26 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Diz o mito que Medusa fora outrora uma beliacutessima donzela orgulhosa de sua beleza principalmente de seus cabelos e por isto resolveu disputar o amor de Zeus com Mi-nerva Esta enraivecida transformou-a em um monstro com cabelos de serpente Ou-tra versatildeo diz que Zeus a teria sequumlestrado e violado no interior do templo de Minerva e esta mesmo sabendo que Zeus a abandona-ra natildeo perdoou tal ofensa Medusa eacute morta por Perseu que tambeacutem foi rejeitado trancado numa arca juntamente com sua matildee Danae e atirado ao mar de onde foi resgatado por um pescador que os levou ao Rei Polidectes que o criou Quando Perseu tornou-se homem Polidectes enviou-o para a traacutegica missatildeo de destruir Medusa Para isto receberia ajuda dos deuses Usan-do sandaacutelias aladas pocircde pairar sobre as ter-riacuteveis goacutergonas que dormiam Usando um escudo maacutegico de metal polido refletiu a imagem de Medusa como num espelho deca-pitando-a com a espada de Hermes Do pes-coccedilo ensanguumlentado da Medusa saiacuteram dois seres que foram gerados da uniatildeo com Posei-don deus dos mares o gigante Crisaor e o cavalo Peacutegaso O sangue que escorreu da Medusa foi recolhido por Perseu Da veia esquerda saiacutea um poderoso veneno da veia direita um remeacutedio suficientemente podero-so para ressuscitar os mortos Paradoxal-mente trazia dentro de si o remeacutedio da vida mas preferiu utilizar sempre o veneno da morte Trecircs irmatildes trecircs monstros a cabeccedila aureola-da de serpentes venenosas presas de javalis matildeos de bronze e asas de ouro Medusa Eacutes-teno e Euriacuteale Satildeo siacutembolos do inimigo que todo homem precisa combater As deforma-ccedilotildees da Psiqueacute se devem agraves forccedilas perverti-das dos trecircs impulsos baacutesicos sociabilidade sexualidade espiritualidade Quando nos confrontamos com a Medusa em nosso inte-rior num primeiro momento haacute um sofri-mento imenso devido agrave dificuldade em perce-ber a proacutepria imagem Quem sou eu A gran-

de pergunta para a qual toda a humanidade busca respostas Da morte da Medusa resultaraacute a vida de Peacute-gaso que unido ao homem eacute o Centauro monstro identificado com os instintos anima-lescos Mas tambeacutem eacute fonte como o seu no-me simboliza alado da imaginaccedilatildeo criadora sublimada e sua elevaccedilatildeo Temos em Peacutegaso dois sentidos a fonte e as asas Um dos siacutem-bolos da inspiraccedilatildeo poeacutetica representa a fe-cundidade e a criatividade espiritual Peacutegaso talvez represente o lado belo da Medusa o lado que ficou escondido e que natildeo podia ser visto pois como vimos ela representa o im-pulso espiritual estagnado Peacutegaso seria por-tanto a espiritualidade em movimento Monstro que eacute percebido mas que se nega a ser visto como realmente eacute Medusa natildeo olha natildeo acaricia natildeo orienta Apenas parali-sa Natildeo eacute por acaso que o sentimento de depressatildeo caracteriza-se pela ineacutercia a perda e a ausecircncia da vitalidade natural Como se tivessem sido transformados em pedra pelo seu olhar os ldquofilhosrdquo de Medusa erram pela vida sem espelhos que possam traduzir sua proacutepria imagem Satildeo monstros cuja criativi-dade afogada na pedra de suas almas precisa urgentemente ser libertada Precisam encon-trar um espelho que lhes diga quem satildeo ou pelo menos quem natildeo devem ser Ver Medusa entrar em contato direto com o seu olhar eacute petrificar-se Sua pior inimiga Minerva deusa da inteligecircncia por sua vez deixa-lhe como legado o oacutedio agraves mulheres Medusa como ela eacute incapaz de amar cruel e terriacutevel gorgoacutena apavorante Da morte dela resultaraacute a vida de Peacutegaso que ganharaacute os ceacuteus liberto simbolizando a vitoacuteria da inteli-gecircncia e sua uniatildeo com a espiritualidade re-cuperando a sensibilidade que sempre exis-tiu naquele que se julgava um verdadeiro monstro E Perseu eacute o uacutenico heroacutei capaz de salvar a humanidade de virar pedra que seria o seu destino inexoraacutevel ao encarar o olhar da Me-

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 27: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 27 Volume 1I ediccedilatildeo XI

dusa (o Medo) A dureza e o peso da pedra se contrapotildeem agrave leveza e a graccedila do heroacutei que para alcanccedilar a cabeccedila do monstro e po-der cortaacute-la se vale de sandaacutelias aladas que assim lhe subtraem o peso Essa era a ameaccedila que o monstro Medusa representava trans-formar em pedra aquele que a encarava co-mo se endurecesse e perdesse a vida de aquele que encarasse o que de mais feio ha-via naquela sociedade Para aleacutem da leveza tambeacutem haacute a inteligecircncia de Perseu que leva consigo um espelho onde o monstro vai se mirar e assim perder a vida se tornando pe-dra tambeacutem Perseu filho de Danae matildee amorosa que segue seu filho no destino que lhes foi dado pelo pai terriacutevel que por sua vez ouviu de um mago que seria assassinado pelo neto Tranca-dos em uma arca e atirados ao mar satildeo salvos por Poseidon que os encaminha a uma praia tranquumlila onde satildeo recolhidos por um pescador e levados ao rei Poli-dectis que o educa amorosamente assim como a um filho Per-seu eacute filho de matildee amorosa que tudo perde para seguir o seu filho mulher que mesmo abandonada por um homem natildeo transforma tal abandono em oacutedio generalizado agrave masculi-nidade Perseu tambeacutem seu abandono pelo avocirc receoso e por um pai incapaz de salvaacute-lo eacute no entanto criado por um pai adotivo amoroso Perseu e Danae satildeo o oposto de Medusa Natildeo permitiram que seu sofrimento se transformasse em oacutedio agrave humanidade Fo-ram alcanccedilados e salvos pelo amor humano Ao contraacuterio de Medusa da qual ningueacutem pode se aproximar Somente Perseu poderia portanto destruir Medusa Ele pode ser visto exatamente como o seu contraacuterio no espelho ela mulher ele ho-

mem ela permanentemente ressentida ele sempre disposto a perdoar ela sem possibili-dade de resgate ele salvo pelo amor da matildee que o acompanha pelo cuidado de um deus e pelo amor de um pai-rei Em suma Perseu possui tudo o que faltou a Medusa que pre-cisa ser vista atraveacutes de um espelho para ser destruiacuteda e libertar Peacutegaso Medusa precisa ser compreendida aleacutem de seu aspecto monstruoso Depois de morta serve agrave Minerva mesmo que seja como esfin-ge no seu escudo Guiado pela inteligecircncia e sabedoria de Minerva que corrige o seu erro de ter criado um monstro o olhar de Medu-sa agora eacute uacutetil tem aplicabilidade destroacutei o inimigo Jaacute natildeo mata mais

Medusa natildeo se inte-ressa muito por seus filhos deuses ou seja aqueles com qualidades ex-cepcionais pois pre-fere mais os que podem ser seme-lhantes a ela Medu-sa conhece Peacutegaso ele estaacute dentro dela mesmo antes mes-mo de nascer Pre-

cisa apenas libertar-se para ganhar os ceacuteus com suas asas maravilhosas Ele eacute a poesia em sua sensibilidade eacute liberdade em sua ou-sadia de voar e o pior eacute que ele de alguma forma representa a inteligecircncia a mente bri-lhante que lhe faz lembrar Minerva sua maior opositora Medusa tenta seduzi-lo para colocaacute-lo a seu serviccedilo Mesmo carente necessitando do espelho do olhar da matildee Peacutegaso resiste pois sabe que se submeter eacute a escravidatildeo e a monstruosidade eacute perder a liberdade e a sensibilidade eacute natildeo poder mais voar e abdi-car de uma vez por todas de sua inteligecircn-cia Eacute tornar-se um deus a serviccedilo de um monstro ou seja monstro tambeacutem

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 28: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 28 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

Medusa mais uma vez sente-se rejeitada natildeo podendo compreender que esse ser divi-no por ela gerado natildeo aceite ser completa-mente seu Deseja suas qualidades pois co-mo monstro haacute muito esqueceu a sua condi-ccedilatildeo de deusa Deseja-o a qualquer custo Por sua vez Peacutegaso procura fugir desse corpo monstruoso que o aprisiona precisa nascer realizar plenamente suas potencialidades Mas como fugir daquela que tanto insiste em guardaacute-lo a sete chaves dentro de si mesma Ora fundir-se com Medusa eacute ser monstro e escravo de sua vontade vontade que nunca eacute satisfeita pois parece ser o destino da Medu-sa a eterna insatisfaccedilatildeo e a morte Fundir-se a ela eacute perder a individualidade e errar pela vida a fim de cumprir um destino cruel Peacutega-so reconhece isto e naturalmente foge Dois caminhos portanto podem ser traccedilados Primeiro Peacutegaso aceita a seduccedilatildeo e transfor-ma-se no Centauro (monstro semelhante agrave matildee) passa a ser o filho seduzido entregue agrave loucura de sua ldquomatildee-monstrordquo tentando sempre satisfazecirc-la pois se torna incapaz de aperceber-se de que sua ldquomatildeerdquo entregou-lhe uma tarefa impossiacutevel natildeo por incapacidade dele para realizaacute-la mas pela insaciabilidade dela que o impede de cumpri-la No outro caminho Peacutegaso descobre rapida-mente que a matildee natildeo lhe serve de espelho que ela natildeo pode oferecer-lhe de volta uma imagem para que ele possa construir-se A percepccedilatildeo de si mesmo toma o lugar da per-cepccedilatildeo a percepccedilatildeo toma o lugar do que poderia ter sido o comeccedilo de uma troca sig-nificativa com o mundo o comeccedilo de um processo em duas direccedilotildees em que o auto-enriquecimento se alterna com a descoberta de significado do mundo das coisas vistas Enlouquecido sem poder de escolha depen-dente da matildee monstruosa resta a Peacutegaso a culpa de aceitar a seduccedilatildeo e o destino de passar a vida orbitando ao redor de Medusa rebelando-se contra a sua tirania de vez em

quando e na medida em que se rebela de-prime-se Reconhecer a Medusa eacute a maior obra que se pode propor a algueacutem Desempenhar o papel de Perseu que reconhece e mata a Medusa eacute tarefa para se realizar apenas com a ajuda de deuses assim como no mito Eacute preciso encontrar as sandaacutelias aladas a espada de Hermes e o escudo de Minerva Simbolica-mente encontrar um Poseidon que os salve uma Danae que os ame incondicionalmente e algueacutem que lhes arme como Minerva Em nossa cultura natildeo eacute faacutecil pois reconhe-cer Medusa em um meio que lhe parece tatildeo favoraacutevel eacute uma tarefa que implica em culpa e depressatildeo Os ldquofilhos seduzidosrdquo de Medu-sa podem ser comparados agraves massas amor-fas sem pensamentos proacuteprios sem senti-mentos particulares sem senso de privacida-de sem autonomia Natildeo fossem a sua infelici-dade e atonia poderiam ser comparados a um feto preso ao cordatildeo umbilical que o alimenta participa com a matildee da sua mons-truosidade compartilhando excessivamente de suas ideacuteias Peacuterfidos maldosos incapazes de elaboraccedilotildees proacuteprias sobre a realidade que os cercam associam-se a Medusa Eacutesteno e Euriacuteale simbolicamente as perversotildees soci-ais sexuais e espirituais em outras palavras as sociopatias e toda espeacutecie de psicopatias Todos estes fatores levam naturalmente ao uso de drogas alcoolismo e suiciacutedio Eis Me-dusa e suas irmatildes entregar-se a uma eacute abrir guarda para todas Escolher seguir Medusa eacute escolher a loucura e a autodestruiccedilatildeo Outros seduzidos caso natildeo enlouqueccedilam devido agrave distorccedilatildeo de sua imagem desenvolvem o que chamam de ldquofalsa imagem de si proacutepriordquo Incapazes de amar incondicionalmente adquirem o que se pode chamar de ldquodestino da luardquo ou seja mesmo que a todos encante natildeo pode ser de ningueacutem O Mito de Perseu estaacute relacionado ao arqueacute-tipo do heroacutei por diversos autores O heroacutei

Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 29 Volume 1I ediccedilatildeo XI

eacute aquele que nasceu para servir sendo sem-pre filho de um(a) deus(a) com um(a) mortal tendo caracteriacutesticas especiacuteficas desde sua vinda ao mundo O significado de Perseu su-gere vaacuterias interpretaccedilotildees como o sol nas-cente ou persona que significa a maacutescara ou papel social Em ambos casos a proximi-dade com a obscuridade eacute niacutetida em Perseu ou seja existe uma intima relaccedilatildeo do nosso heroacutei com o inconsciente Todo heroacutei tem um nascimento complicado No do Perseu natildeo se sabe exatamente como sua matildee engravidou por isso sua vinda ao mundo eacute cercada de magia e misteacuterio Danae foi expulsa de Argos com Perseu receacutem nas-cido Os dois satildeo lanccedilados ao mar com isto ocorre a exposiccedilatildeo da crianccedila que eacute outra caracteriacutestica de todos os heroacuteis A exposi-ccedilatildeo estaacute ligada agrave rejeiccedilatildeo pelo grupo social Com esta atitude acontece a purificaccedilatildeo das faltas da comunidade eacute como se a crianccedila exposta representasse tudo de mal que exis-te na comunidade por isso ela eacute expulsa Eacute o bode expiatoacuterio que eacute expulso como re-presentaccedilatildeo de que tudo de ruim que acon-tece na famiacutelia ou na sociedade estaacute sendo expulso com ele A exposiccedilatildeo da crianccedila eacute vista como um arqueacutetipo da crianccedila divina um siacutembolo do arqueacutetipo do si mesmo que eacute o organizador do processo de desenvolvi-mento da personalidade Esta ideacuteia faz parte do inconsciente coletivo Jesus tambeacutem foi exposto no seu nascimento Ele que por op-ccedilatildeo carregou todos os pecados do mundo e que eacute o maior heroacutei que a humanidade Cristatilde conheceu Com a expulsatildeo Perseu e sua matildee satildeo joga-dos ao mar que representa o principio ma-terno Eles escapam das aacuteguas chegando agrave ilha de Seacuterifos Com isso o heroacutei inicia a sua trajetoacuteria com uma descida ao reino dos mortos para uma posterior restauraccedilatildeo da consciecircncia Quando Perseu oferece a cabeccedila da Medusa ao rei de Seacuterifos haacute uma separa-ccedilatildeo da sua matildee e seu grupo de origem Esta separaccedilatildeo eacute o primeiro passo da trajetoacuteria do heroacutei

Para que o heroacutei execute sua tarefa eacute neces-saacuterio que este tenha auxilio de forccedilas sobre-naturais Espiacuteritos Tutelares Soacute assim com seus poderes maacutegicos o heroacutei estaacute apto a cumprir sua tarefa Separado de sua matildee Per-seu contaraacute com a ajuda dos deuses Hermes e Atena Assim Perseu abandona a consciecircn-cia entrando nas profundezas de seu incons-ciente O confronto de Perseu e Medusa eacute o ponto principal do mito sendo importante comen-tar seu sentido arquetiacutepico Medusa Aacutertemis e Dioniso satildeo poderes ritualisticamente con-figurados como mascarados Neste sentido a maacutescara separa a identidade da ldquoalteridaderdquo Este conceito da alteridade eacute representado na Medusa natildeo como um outro homem mas o outro do homem isto eacute a morte em vida simbolizando um estado psicoacutetico Com isto Medusa representa um estado caoacutetico do inconsciente com inversatildeo e deformidade que desafiam qualquer loacutegica racional Isto acontece porque ao decapitar a cabeccedila maacutescara da Medusa surge dela o gigante Crisaor e o cavalo alado Peacutegaso Quando Perseu decapita Medusa ele destroacutei a ima-gem de sua matildee negativa Medusa simboliza a matildee que paralisa o filho natildeo possibilitando que ele se desenvolva Enquanto que Danae simboliza a matildee positiva Depois de decapitar a Medusa o heroacutei volta para Seacuterifos e no caminho encontra Androcirc-meda se apaixona e liberta-a do monstro Nesta parte do mito Perseu resgata a sua anima indiferenciada do arqueacutetipo da grande matildee Outro ponto a ser observado eacute que durante a sua trajetoacuteria o heroacutei natildeo teve a presenccedila do pai jaacute que sua matildee foi fecundada por Zeus Com isto o heroacutei natildeo teve contato com o arqueacutetipo do pai No mito Perseu traz a cabeccedila de Medusa para Polidectes Esta parte do mito representa a conscientizaccedilatildeo de conteuacutedos que estatildeo no inconsciente Desta forma Perseu consegue integraccedilatildeo de

Paacutegina 30 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

Publicaccedilatildeo da Sociedade das Ciecircncias Antigas Todos os Direitos Reservados wwwscaorgbr

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HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 50 i kasnijim verzijama)13 HUN 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conteuacutedos inconscientes A grande faccedilanha do heroacutei supremo eacute alcanccedilar o conhecimen-to dessa unidade na multiplicidade e em se-guida tornaacute-la conhecida Esta faccedilanha ele conseguiu ao decapitar a Medusa que vivia no seu inconsciente e trazecirc-la para a consci-ecircncia

O Medo

Uma das sensaccedilotildees mais tiacutepicas profundas e misteriosas do ser humano eacute o medo Seja ele real ou imaginaacuterio pode tomar conta da vida e fazer dela um pesadelo ou uma exis-tecircncia infrutiacutefera O medo paralisa a vida co-mo o olhar da Medusa O que tememos Em geral podemos afirmar que o ser humano tem medo de tudo de si mesmo dos outros de perder o que conquistou de natildeo conquis-tar o que ainda natildeo possui Tem medo da escuridatildeo do desconhecido das enfermida-des da velhice da morte etc Satildeo inumeraacute-veis as coisas e situaccedilotildees que amedrontam o ser humano nesse ou naquele grau alguns mais outros menos sem contar as fobias especiacuteficas de cada um e que muitas vezes estatildeo escondidas Mas o difiacutecil eacute encontrar a resposta para esta pergunta por que temos medo Segundo a definiccedilatildeo claacutessica medo eacute um sentimento imaginaacuterio de ameaccedila pavor temor ou re-ceio Segundo a espiritualidade medo eacute au-secircncia de amor Quando natildeo amamos senti-mos medo Quando natildeo amamos a vida sen-timos medo Quando natildeo amamos o proacutexi-mo sentimos medo Quando natildeo amamos a Deus sentimos medo etc Infelizmente ou felizmente os medos que a maioria tem natildeo satildeo os reais mas principal-mente os imaginaacuterios Vive-se sofre-se e adoece-se sempre diante dos medos imaginaacute-rios Muitos destes medos senatildeo a maioria deles estatildeo baseados em crenccedilas supersti-ccedilotildees ou modismos sociais das eacutepocas em que se reencarna Todo ser humano tem em si um grande poder auto-destrutivo que aparece em seus comportamentos como

atitudes de sadismo e masoquismo pois ao nascer se comeccedila uma grande batalha entre a vida e a morte e sabe-se intuitivamente que a morte sempre iraacute vencer Todos os medos se originariam aiacute desta constataccedilatildeo terriacutevel para o ser humano onde a morte sempre vence a vida Se examinarmos os fa-tos sem qualquer preconceito veremos que filosoficamente esta premissa tem verdades absolutas ao olharmos a vida humana como uma uacutenica oportunidade para cada ser Mas ao se estabelecer a diversidade de planos e de oportunidades muacuteltiplas de vida esta afir-maccedilatildeo perde muito de sua forccedila e legitimida-de Partindo entatildeo deste pensamento con-cluiacutemos inicialmente que o medo estaacute intima-mente relacionado com a morte O que simboliza para cada um a morte Eacute bem provaacutevel que para a maioria a morte signifique sofrimento Para entender um pou-co mais vamos pensar naquela explicaccedilatildeo sobre inconsciente coletivo que diz que noacutes herdamos dos antepassados certos traccedilos de personalidade que satildeo passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo em nossa psiquecirc ou como compo-nente geneacutetico e formam de certa maneira em qualquer lugar do planeta um pensamen-to quase que comum onde atitudes e senti-mentos se tornam semelhantes Mas precisamos analisar o medo pelo aspec-to social atual Quase toda a estrutura da sociedade tem tirado o ser humano do seu eixo do seu equiliacutebrio Pensamentos filosofi-as tendecircncias poliacuteticas ordens sociais e tan-tas outras coisas tecircm colaborado de maneira intensa para que estejamos sempre submeti-dos a valores de controle e submissatildeo e principalmente porque ainda natildeo aprende-mos a praticar em noacutes e por noacutes duas coisas de real importacircncia o perdatildeo por noacutes mes-mos e a feacute no Ser Divino que tudo provecirc e em noacutes mesmos que somos um pedaccedilo da mesma divindade Assim cheios de culpas duacutevidas e dores com muito pouca feacute seguimos nossos cami-nhos deixando o medo tomar conta de nos-

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Page 31: Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · rantir um bilhete de entrada, que só é emitido com a autorização de um administrador. Além do mais, a me- ... as mesmas

Paacutegina 31 Volume 1I ediccedilatildeo XI

sas vidas e tambeacutem deixando de experenciar coisas de vital importacircncia ao nosso progres-so apenas justificando que eacute perigoso ou natildeo conseguimos Se alguma vez tivermos coragem de entrar no significado profundo destas palavras ldquonatildeo consigordquo e ver em sua amplitude o que elas querem dizer teremos uma surpresa pois o uacutenico significado para o sentimento que estaacute por traacutes do ldquonatildeo consi-gordquo eacute ldquonatildeo quero ver natildeo quero me envol-ver natildeo quero pensar sobre este assuntordquo ou seja omissatildeo O monstro estaacute solto e do-mina a vida Devemos descobrir o que senti-mos quando dizemos ldquonatildeo consigordquo e enten-der tudo o que estas palavras estatildeo escon-dendo O medo eacute a negaccedilatildeo da divindade em noacutes e da proacutepria Divindade Universal Portanto medo eacute ausecircncia de amor Quando o medo toma conta de noacutes desestruturamos todos os nossos corpos inclusive nosso corpo de Luz passamos a atuar num estado de vibra-ccedilatildeo de baixiacutessima frequumlecircncia e criamos uma seacuterie de doenccedilas psicoloacutegicas que podem em seguida se tornar doenccedilas espirituais e fiacutesi-cas O medo natildeo pode estar presente em nenhum sentimento de felicidade Se existe um real interesse na evoluccedilatildeo espiritual eacute fundamental que paremos e olhemos cuida-dosamente todos nossos medos Checaacute-los enfrentaacute-los e perceber qual ou quais os mo-tivos que nos prendem a eles ou seja por qual motivo escolhemos nos segurar no me-do para vivermos a vida De quecirc fugimos quando elegemos o medo como nosso iacutedolo Eacute a confianccedila em Deus que faz brotar a paz e a coragem Busquem a Deus e vocecircs teratildeo coragem (ver Salmos 563 6932 344) O uacutenico temor que cabe no coraccedilatildeo do cristatildeo eacute o temor de Deus que natildeo eacute feito de medo mas de respeito admiraccedilatildeo e confianccedila Co-mo cristatildeos somos desafiados constante-mente em nosso cotidiano a enfrentar e su-perar nossos medos E noacutes os venceremos quando deixarmos de concentrar nossa aten-ccedilatildeo em noacutes mesmos e nos abrirmos a uma confianccedila que vai aleacutem de noacutes e nos conteacutem

A uma energia maior que eacute a base do nosso ser em quem vivemos nos movemos e existimos como diria Satildeo Paulo Deus eacute essa realidade esse algueacutem e essa energia a base do nosso ser Na medida em que sairmos de noacutes mesmos e confiarmos em Deus Daremos o salto da feacute nas palavras de Soumlren Kierkegaard (filoacutesofo cristatildeo dinamar-quecircs do seacuteculo XIX) Em lugar do medo se-remos invadidos pela paz imensa de quem sabe em quem confia e acredita De acordo com a Mitologia de uma forma geral o Medo se alimenta de medo Em algu-mas culturas era representado como um monstro ou criatura terriacutevel que cresce ao se nutrir com o medo de suas viacutetimas parali-sadas petrificadas Exeacutercitos inteiros e heroacuteis ousados foram devastados ou derrotados por essa terriacutevel criatura Com isso aprende-mos que uma abordagem ou uma exposiccedilatildeo direta aos nossos medos natildeo eacute saacutebia e nos petrifica Eacute comum encontrarmos imagens esculpidas ou pinturas onde um grupo de soldados se aproxima do democircnio do medo de costas utilizando as imagens do referido monstro refletidas em seus escudos com fins de orientaccedilatildeo e localizaccedilatildeo para entatildeo se aproximarem cuidadosamente e realizarem seus movimentos finais cortando a cabeccedila do monstro Poreacutem se o confronto direto com nossos medos natildeo eacute uma boa taacutetica a paralisia e a estagnaccedilatildeo tampouco o satildeo Os mitos nos mostram como enfrentar nossos medos De-vemos ser humildes e aceitarmos auxiacutelio Tal-vez sejamos lanccedilados em situaccedilotildees difiacuteceis na vida como quando nos sentimos sem pers-pectivas justamente para olharmos para noacutes e lanccedilarmos matildeo de nossos recurso internos que muitas vezes natildeo enxergamos em noacutes mesmos A imagem refletida no espelho tambeacutem eacute uma outra boa e segura taacutetica A imagem do monstro refletida no espelho opotildee-se a uma experiecircncia do olharmos direta e frontalmen-te para nossos medos A imagem refletida no

Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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Paacutegina 32 Boletim da Sociedade das Ciecircncias Antigas

espelho eacute inofensiva e tambeacutem uma forma de ldquocapturar o monstrordquo Um suposto aumenta-tivo da palavra reflexo eacute Reflexatildeo Ou seja refletir eacute como curvarmo-nos sobre noacutes mesmos Essa forma de abordagem e aproxi-maccedilatildeo eacute a liccedilatildeo que nos ensina o mito da Goacutergona Medusa derrotada por Perseu Ele venceu o horrendo monstro sem olhar para ela poreacutem polindo seu escudo como um es-pelho ao ver-se refletida a Medusa ficou pe-trificada de horror e o heroacutei cortou-lhe a cabeccedila O escudo eacute o siacutembolo da arma passi-va defensiva e protetora Eacute considerado co-mo uma arma psicoloacutegica

O Mito na Astrologia

Algol (estrela fixa) a Cabeccedila da Medusa da constelaccedilatildeo de Perseu eacute considerada por to-dos os astroacutelogos como extremamente peri-gosa e cuja posiccedilatildeo projetada na ecliacuteptica corresponde a 26deg de Touro De natureza semelhante a Saturno e Juacutepiter Algol ocasio-na desgraccedila violecircncia decapitaccedilatildeo enforca-mento eletrocussatildeo e violecircncia da multidatildeo Daacute ao nativo uma natureza violenta e encar-niccedilada que provoca a sua morte ou a de ou-tros Eacute a estrela mais maleacutefica do firmamento Desde sempre esta estrela foi considerada como a mais funesta de todas Os astroacutelo-gos aacuterabes da Antiguumlidade chamavam-lhe ras-al-Ghul (a cabeccedila do Democircnio) Os gregos viam nela a terriacutevel cabeccedila decapitada da Me-dusa capaz de transformar em pedra quem a olhasse Quando se encontra no Meio do Ceacuteu traz a puacuteblico os temas da brutalidade sediccedilatildeo accedilatildeo extremista revolta e violecircncia das multidotildees Uma antiga tradiccedilatildeo diz que os chefes militares aacuterabes esperavam que Al-gol estivesse bem visiacutevel no ceacuteu para avanccedila-rem com accedilotildees beacutelicas Nenhuma batalha

importante era iniciada se a luz de Algol esti-vesse fraca Os antigos hebreus identificavam-na em re-ferecircncia agrave Isaiacuteas 3414 como ROSH HA SA-TAN ou como LILITH a legendaacuteria primeira mulher de Adatildeo que num grito agudo de revolta deixou o paraiacuteso com seu filho e foi viver em mundos inferiores (em se referindo agrave Babilocircnia) Os gregos se referiam e esta estrela como o OLHO DA MEDUSA que foi violada por Zeus dentro do templo de Ate-nas e amaldiccediloada pela Deusa Os antigos chineses deram o nome de TSEIH SHE signi-ficando choque em cadeia No caminho iniciaacutetico o mito desta estrela eacute simbolizado pela espada que secciona o mal Algol representa a iniciaccedilatildeo mais difiacutecil olhar para traacutes para o nosso passado desta e de outras encarnaccedilotildees sobretudo para dentro de noacutes e enfrentar o mal que nos aprisiona encontrando nele a redenccedilatildeo Somente de-pois desta iniciaccedilatildeo o espiacuterito torna-se real-mente puro Esta estrela provoca aquelas conhecidas mortes violentas como forma de iniciaccedilatildeo final de liberaccedilatildeo do espiacuterito sendo considerado pelos ocultistas como a prova final destino de toda alma para a Regenera-ccedilatildeo Neste momento o planeta Saturno o ceifa-dor o cobrador caacutermico estaacute posicionado sobre Algol Al-ghul a cabeccedila do democircnio trazendo agrave tona forccedilas de violecircncia reprimi-das do interior da proacutepria Terra e do interi-or de noacutes Atualmente devido agrave variaccedilatildeo do espectro de Algol os astrocircnomos suspeitam da presenccedila de uma terceira estrela nas ime-diaccedilotildees passando a compor um sistema tri-naacuterio de radiaccedilatildeo coacutesmica o que tem impli-caccedilotildees caacutermicas importantiacutessimas

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