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0 BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 719 (Ano VIII) (11/10/2016) ISSN - - BRASÍLIA 2016 Boletim Conteúdo Jurídico - ISSN – -

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BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 719

(Ano VIII)

(11/10/2016)

 

ISSN- -  

 

 

 

 

 

 

 

 

BRASÍLIA ‐ 2016 

Boletim

Conteú

doJu

rídico-ISSN

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Boletim Conteúdo Jurídico n. 719 de 11/10/2016 (ano VIII) ISSN

 ‐ 1984‐0454 

ConselhoEditorial 

COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade Granda/Espanha.

Coordenador do Direito Internacional (AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com mais de 10 anos de experiência. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitário

Coordenador de Dir. Administrativo: FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

Coordenador de Direito Tributário e Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em São Paulo (SP). Especialista em Direito Tributário e em Direito Financeiro pela FADUSP.

Coordenador de Direito Penal - RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. Contato: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

   

BoletimConteudoJurıdico

Publicação

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SUMÁRIO

COLUNISTA DO DIA

 

11/10/2016 Ricardo Souza Calcini 

» TST admite sistemática do Novo CPC para agilizar os processos 

trabalhistas, mas cria custos sem precedentes para as empresas

ARTIGOS  

11/10/2016 Erika Rocha Barreto » Brasil: inteligência e as implicações da inexistência de uma lei antiterror 

11/10/2016 Gabriel Meira Fialho Fonseca 

» Contrato de seguro de dano sob a égide do Código Civil de 2002 

11/10/2016 Liziane Bainy Velasco 

» Diferenciando a indivisibilidade da solidariedade 

11/10/2016 Francisco Renato Silva Collyer 

» O fundamento da soberania e a necessidade da criação do estado no 

jusnaturalismo de Thomas Hobbes 

11/10/2016 Thiago Borges Mesquita de Lima 

» Do exercício da advocacia pelos conciliadores e mediadores judiciais: um 

estudo à luz do art. 167, § 5º, do CPC/2015 c/c 28, inc. IV, da Lei n. 

8.906/1994 

11/10/2016 Tauã Lima Verdan Rangel 

» Da Desapropriação Urbanística Sancionatória: Primeiras Pinceladas à 

hipótese do artigo 182, §4º, inciso III, da Constituição Federal de 1988 

 

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TST ADMITE SISTEMÁTICA DO NOVO CPC PARA AGILIZAR OS PROCESSOS TRABALHISTAS, MAS CRIA CUSTOS SEM PRECEDENTES PARA AS EMPRESAS

RICARDO  SOUZA  CALCINI:  Bacharel  em  Direito  pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde obteve o título de Especialista em Direito Social. É  também Pós‐Graduado em  Direito  Processual  Civil  pela  Escola  Paulista  da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo. Assessor de Desembargador  no  Tribunal  Regional  de  São  Paulo  da  2ª Região, tem atuação direta na área do Direito do Trabalho, com  ênfase  em  Direito Material,  Processual,  Ambiental  e Desportivo do Trabalho. É membro do Instituto Brasiliense de Direito  Aplicado  (IDA)  e  do  Instituto  Brasileiro  de  Direito Desportivo (IBDD). 

Desde o dia 18 de março de 2016, quando passou a viger o Novo 

Código de Processo Civil de 2015, uma verdadeira revolução cultural foi 

introduzida  aos  processos  em  trâmite  perante  a  Justiça  do  Trabalho, 

passando  a  exigir,  definitivamente,  uma  criteriosa  atenção  em  sua 

condução pelas partes, em especial pelos empregadores. 

E isso se deve pelo fato de que, dentre tantas novidades e alterações promovidas a partir da previsão do artigo 15 do NCPC de 2015, interpretado e regulamentado que foi pela Instrução Normativa nº 39 de 2016 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, uma modificação em particular trouxe uma reviravolta sem precedentes ao sistema recursal trabalhista, que atinge sobremaneira as empresas. Trata-se do chamado “Julgamento Antecipado Parcial de Mérito”.

O NOVO CPC DE 2015 E A JUSTIÇA DO TRABALHO

Previsto no artigo 356 do Novo Código de Processo Civil, o “Julgamento Antecipado Parcial de Mérito” tem sua aplicabilidade referendada pela IN nº 39/2016 do C. TST, cujo artigo 5º assim dispõe:

Art. 5° Aplicam-se ao Processo do Trabalho as normas do art. 356, §§ 1º a 4º, do CPC que regem o julgamento

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antecipado parcial do mérito, cabendo recurso ordinário de imediato da sentença (destacou-se).

Com uma apressada leitura do citado dispositivo, não é possível identificar, de plano, qualquer importante conclusão. Afinal, contra a sentença do juiz trabalhista de primeiro grau sempre foi cabível recurso ordinário dirigido ao Tribunal Regional do Trabalho, com fundamento no artigo 895, I, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Sucede, porém, que o artigo 5º da IN nº 39/2016 do C. TST promoveu fundamentais mudanças que, analisadas em conjunto, permitem concluir pela mais impactante inovação incorporada ao Direito Processual do Trabalho. Em resumo, pode-se afirmar que, doravante, dificilmente haverá sentença no processo trabalhista que exija apenas um preparo recursal pelo empregador, sendo possível coexistirem diversas decisões judiciais sujeitas, simultaneamente, a inúmeros recursos, possibilitando execuções provisórias e/ou definitivas dos créditos trabalhistas.

RECURSO ORDINÁRIO X PREPARO RECURSAL

Para melhor explicar essa grandiosa novidade, necessário se faz relembrar que na vigência do CPC de 1973 não se admitiam, por imperativo legal, as nominadas “sentenças parciais”, uma vez que o legislador brasileiro, até então, não permitia a cisão da sentença. Assim, mesmo nos casos em que se viabilizava a “tutela antecipada” com fundamento em pedido incontroverso, na forma do previsto no artigo 273, § 6º, do CPC de 1973, não se estava diante de decisão final, mas sim de natureza interlocutória.

Destarte, ainda que o magistrado tivesse decidido com base em técnica de cognição exauriente, inclusive mediante respeito ao contraditório e à ampla defesa, não se poderia afirmar ter havido prolação de sentença propriamente dita. Tanto é verdade que, na feliz expressão cunhada pelo ministro Ricardo Villas Bôas Cueva do Superior Tribunal de Justiça, convencionou-se chamar esse ato judicial de “decisão interlocutória de mérito”.

Em sendo assim, a “decisão interlocutória de mérito” tinha de ser obrigatoriamente confirmada pelo magistrado em sua sentença,

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por ser essa a decisão final contra a qual sempre coube recurso ao Tribunal. Logo, sendo julgados os pedidos procedentes ou procedentes em partes, a sistemática recursal trabalhista sempre conferiu às partes – e aqui o enfoque será feito na figura do empregador – o manejo de recurso ordinário à Superior Instância, mediante recolhimento do preparo recursal.

Dito isso, é cediço que na Justiça do Trabalho o preparo recursal é representado pelas custas processuais, à razão de 2% (dois por cento), calculadas, por exemplo, sobre o valor da condenação, as quais deverão ser pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal (CLT, artigo 789, I e § 1º). Além das custas processuais, necessário se faz também o recolhimento do depósito recursal, no importe atualmente fixado em R$ 8.959,63, exigido para os recursos ordinários interpostos a partir de 1º de agosto de 2016. Nesse sentido é o Ato SEGJUD.GP 326/2016 do C. TST.

Até este momento parece que nada mudou, notadamente porque a maioria dos processos trabalhistas continua a seguir essa sistemática padrão, que está disciplinada na norma celetista, e não no novo diploma processual civil. Todavia, ao admitir a aplicabilidade do “Julgamento Antecipado Parcial de Mérito”, a Instrução Normativa nº 39 de 2016 da Corte Superior Trabalhista criou um paradigma totalmente distinto, cuja novidade passa agora a ser explicada.

NOVIDADES DA SISTEMÁTICA DO JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DE MÉRITO

De se mencionar, para tanto, o teor do artigo 356 do NCPC de 2015:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:

I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de

imediato julgamento, nos termos do art. 355.

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§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida.

§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto.

§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva.

§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.

§ 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.

De uma atenta leitura do citado preceito legal, a primeira conclusão que se extrai é pela possibilidade de coexistir mais de uma sentença em um único processo trabalhista. Ou seja, não mais haverá obrigatoriamente uma única decisão final. Ao contrário, o juiz do trabalho poderá proferir tantas decisões de mérito quanto forem os pedidos formulados nas reclamações trabalhistas, desde que preenchidos os requisitos legais.

A segunda conclusão que se aponta é no sentido de que essa decisão, que é uma verdadeira sentença, pode reconhecer uma obrigação líquida, passível de imediata execução, ou ilíquida, quando será necessária a elaboração de cálculos. Em tais hipóteses, tanto a execução quanto a liquidação serão promovidas pelo credor independentemente de caução, o que torna efetiva a

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prestação jurisdicional pela satisfação do crédito trabalhista considerado privilegiado e de natureza alimentar.

Já a terceira conclusão que se evidencia – e essa, certamente, a mais relevante no presente estudo – diz respeito à possibilidade de manejo de recurso ordinário contra a sentença que julga antecipada e parcialmente o mérito. E isso se diz pelo fato de a IN nº 39/2016 do C. TST referir ser inaplicável o § 5º do artigo 356 do NCPC/15, que prevê o cabimento de agravo de instrumento para atacar decisão proferida com base em aludida sistemática, substituindo-o, porém, pelo recurso ordinário, modalidade recursal específica do Direito Processual do Trabalho.

A par disso, nota-se ser obrigatória a imediata interposição de recurso ordinário pelo empregador para impugnar o julgamento antecipado parcial de mérito, como medida a afastar o trânsito em julgado da decisão e da própria execução definitiva (NCPC/15, artigo 356, § 3º). Ainda, mesmo que interposto o recurso ordinário, a execução será provisória, em razão do mero efeito devolutivo que vigora no sistema recursal trabalhista, sendo necessário que a parte busque obter o efeito suspensivo perante a Instância Superior para evitar a liquidação e/ou cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito (NCPC/15, artigo 356, § 4º).

CUSTOS SEM PRECEDENTES PARA AS EMPRESAS

Aqui, portanto, reside a principal problemática trazida pela IN nº 39/2016 do C. TST. Ora, se é cabível o imediato recurso ordinário pelo empregador, por consequência lógica é devido o prévio recolhimento do preparo recursal. Agora, se é possível também a existência de várias sentenças parciais de mérito, corolário lógico passa a ser a exigência do prévio pagamento, com a comprovação de custas processuais e depósito recursal para cada uma das condenações que forem impostas pelo juiz do trabalho. E isso, frise-se, dentro de um único processo trabalhista.

Para fins didáticos e de melhor explicitação do impacto financeiro sem precedentes sofrido pelas empresas, imagine-se, por hipótese, uma ação trabalhista com quatro pedidos, aqui representados, exemplificadamente, por verbas rescisórias, danos morais, adicional de periculosidade e horas extras.

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Quando da realização da primeira audiência, após a apresentação da defesa pelo empregador, se o juiz identificar a ausência de impugnação específica quanto ao pleito de verbas rescisórias, tal pretensão passará a ser incontroversa (NCPC/15, art. 356, I), o que autorizará o julgamento antecipado parcial de mérito. Neste caso, se a condenação imposta for de R$ 10.000,00, para fins de recurso ordinário, que é cabível de imediato dentro do prazo recursal de oito dias, o empregador deverá efetuar o pagamento de custas processuais à razão de 2% (R$ 200,00), além do depósito recursal de R$ 8.959,63.

Em uma nova audiência de instrução, após a colheita da prova oral, o juiz entende que o pedido de danos morais, por exemplo, está em condições de imediato julgamento (NCPC/15, artigos 355 c/c 356, II), razão pela qual profere nova decisão antecipada parcial de mérito, condenando agora a empresa no importe de R$ 20.0000,00. Nesta situação, se a empresa optar por recorrer para evitar o trânsito em julgado da decisão, novamente pagará e comprovará o recolhimento do preparo recursal, qual seja, R$ 400,00 a título de custas processuais (dois por cento), além de outro depósito recursal no limite de R$ 8.959,63.

Ainda, após a realização da perícia técnica com a constatação de labor em condições perigosas, uma vez mais se abre a possibilidade de o juiz prolatar julgamento antecipado parcial de mérito (NCPC/15, artigos 355 c/c 356, II). E por ser novamente possível, a empresa é condenada agora no importe de R$ 30.000,00. Nota-se que o preparo recursal continuará a ser exigido, sendo que a única diferença residirá no valor das custas processuais, que serão arbitradas em R$ 600,00.

O pedido de horas extras, por sua vez, é julgado ao final, porém não sob a sistemática do julgamento antecipado parcial de mérito, mas sim na sentença que agora põe fim à fase cognitiva de responsabilidade do juiz de primeiro grau. Neste momento, a empresa sofre nova condenação, que é arbitrada na quantia de R$ 50.000,00, cuja sistemática recursal é a mesma para fins de interposição do recurso ordinário, sendo necessário o pagamento e a comprovação de custas e depósito recursal.

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Diante do hipotético exemplo acima exposto, claro está que o desfecho do processo trabalhista será diametralmente distinto caso o magistrado aplique o chamado “Julgamento Antecipado Parcial de Mérito”. E veja-se que, diferentemente do modelo padrão com uma única sentença, possibilita-se ao juiz do trabalho, desde o dia 18 de março de 2016, que a decisão judicial seja fracionada em outras sentenças, cuja procedência dos pedidos autoriza o imediato cabimento de recurso ordinário, com o pagamento e a comprovação de tantos preparos recursais quanto forem essas sentenças proferidas ao longo da fase de conhecimento.

É importante destacar que não se cogita, aqui, ser admitido o denominado “complemento” do preparo recursal, representado pela prática forense concebida sob a égide de uma única sentença. Isso porque se está diante de sentenças distintas, que foram prolatadas na sistemática do julgamento parcial de mérito, as quais exigem o pagamento individual de custas processuais para cada condenação arbitrada (CLT, artigo 789, I), além do recolhimento de depósito recursal individual devido até o limite do valor de cada condenação (CLT, artigo 899, § 2º).

Logo, por força da especialidade do processo trabalhista, entende-se plenamente possível a construção desse raciocínio, em razão da redação conferida ao artigo 5º da Instrução Normativa nº 39 de 2016 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho. E isso pelo fato de se admitir uma cumulação objetiva de vários pedidos em uma única reclamatória, os quais poderiam, em tese, ensejar ações judiciais distintas.

CONCLUSÕES

Bem por isso, se a pretensão deferida na ação trabalhista for decidida sob a sistemática do julgamento antecipado parcial de mérito, dois serão os caminhos possíveis de se trilhar pelo empregador: (i) não apresentar recurso, quando então ocorrerá o trânsito em julgado da decisão, com o início da execução definitiva; ou (ii) interpor de imediato o recurso ordinário, que não impede o início da execução provisória, salvo se obtido o efetivo suspensivo do apelo, hipótese em que se exigirá o preparo recursal, por força da necessária garantia do juízo existente no processo trabalhista.

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Em arremate, até que sobrevenha uma eventual mudança de entendimento no âmbito da Corte Superior Trabalhista, recomenda-se aos empregadores que efetuem o recolhimento do depósito recursal, integralmente, em relação a cada recurso ordinário interposto, sob pena de deserção (inteligência do item I da Súmula nº 128 do C. TST).

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BRASIL: INTELIGÊNCIA E AS IMPLICAÇÕES DA INEXISTÊNCIA DE UMA LEI ANTITERROR

ERIKA ROCHA BARRETO: Analista de Sistemas, bacharel em Ciência da Computação pela PUC/MG, pós graduação em Gestão de Negócios pela FGV, pós graduação em Inteligência e Contrainteligência, pós graduação em Gestão Pública e pós graduação em Gestão de Pessoas.

RESUMO:  Este  trabalho  é  sobre  a  formação  do  Estado  brasileiro, 

Inteligência e Antiterror. Serão abordadas a história recente do Brasil e a 

sua  atual  configuração  como  Estado,  o  seu  sistema  jurídico  e  a 

problemática  da  ausência  e  uma  lei  do  terrorismo,  especialmente  em 

tempos de preparação para a copa do mundo e olimpíadas em território 

nacional.

PALAVRAS‐CHAVE: Estado Brasileiro. Inteligência. Terrorismo. 

ABSTRACT:  This  paper  is  about  the  formation  of  the  Brazilian  State, 

Intelligence and Antiterror, will be discussed at the recent history of Brazil 

and its current configuration as a state, its legal system and the problem 

of absence and a terrorist law, especially in times of preparation for the 

World Cup and Olympics in the country. 

KEYWORDS: Brasilian State. Intelligence. Terrorism 

SUMÁRIO: RESUMO. ABSTRACT. 1 Introdução. 2 Referencial Teórico. 3 Desenvolvimento. 3.1 Formação do Estado Brasileiro. 3.2 Inteligência. 3.3 Sistema jurídico no Brasil e a problemática da ausência de uma lei (tipo penal) do terrorismo. 4 Recomendações. 5 Conclusão. REFERÊNCIAS. ANEXOS.

1 Introdução

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O  objetivo  deste  artigo  é  conceituar  o  Estado Moderno Brasileiro, 

Inteligência e a importância da existência de uma lei antiterror. O Estado 

moderno Brasileiro, formado a partir da Constituição Federal de 1988, tem 

o seu pilar em três elementos constitutivos: povo, território e soberania. 

Consiste  em  um  Estado Democrático  de Direito  em  que  toda  atuação 

pública decorre de uma competência atribuída por lei. Ao poder público é 

facultado agir estritamente de acordo com a  lei, sendo possível realizar 

apenas o que esta determina.

Ao particular é facultado fazer o que a lei não proíbe. A Inteligência 

de  Estado  é  essencial  ao  correto  posicionamento  de  qualquer  nação 

soberana.  Atualmente  com  a  grande  projeção  internacional  alcançada 

pelo Brasil,  se  faz vital o desenvolvimento de uma  Inteligência  robusta 

capaz  de  dar  ao  decisor  todos  os  subsídios  à  tomada  de 

decisões.    Especialmente  em  tempos  de  eventos  de  repercussão 

internacional e, considerando‐se o cenário atual do terrorismo mundial é 

essencial à compreensão do Estado Brasileiro a atuação da sua Inteligência 

e a problemática da falta de uma lei antiterror.  

2 Referencial Teórico

O trabalho foi desenvolvido com base em pesquisa bibliográfica sobre 

o  assunto.    A  principal  referência  é  a  doutrina  da  Escola  Superior  de 

Inteligência, de março de  2011. Outras  referências  importantes  são  as 

aulas  de  Terrorismo  e  Contraterrorismo,  ministradas  na  turma  V  de 

Inteligência  e  Contrainteligência.  Nestas  aulas  foram  feitas  diversas 

conceituações essenciais ao desenvolvimento deste trabalho. O material 

foi coletado de diversas fontes abertas, sendo a internet a principal.

3 Desenvolvimento

3.1 Formação do Estado Brasileiro

Após o fim de um dos regimes de exceção a que foi submetido o Brasil, 

de 1964 a 1985 foi convocada uma Assembleia Nacional Constituinte com 

a  finalidade de criar a Constituição Federal. A Carta  foi promulgada em 

1988 e normatiza o Estado brasileiro como hoje o conhecemos.

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Boletim Conteúdo Jurídico n. 719 de 11/10/2016 (ano VIII) ISSN

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O Estado brasileiro é definido no art. 1º da magna carta da seguinte 

forma: 

“A República  Federativa do Brasil,  formada pela 

união indissolúvel dos Estados Municípios e do Distrito 

Federal,  constitui‐se  em  Estado  Democrático  de 

Direito” 

Detalhando  a  definição  acima,  entende‐se  que  Estado  é  uma 

abstração  jurídica  cuja  finalidade  é  tutelar  a  vida  social,  possuindo 

autoridade superior e fixando as regras de convivência de seus membros. 

O  termo  foi  usado  pela  primeira  vez  no  livro  “O  Príncipe”  escrito  por 

Maquiavel,  em  1513.  Possui  três  componentes  básicos:  soberania, 

território e povo. 

Soberania é o poder  absoluto e perpétuo de um  Estado, dela não 

podendo ninguém dispor ou limitar, independente do cargo ou poder. Em 

1762, Rousseau publicou o  livro denominado “Contrato Social” no qual 

enfatiza o conceito de soberania e transfere sua titularidade da pessoa do 

governante para o povo. Este conceito vem sendo bastante utilizado pelos 

Estados modernos, na teoria e na prática, inclusive para justificar posições 

antagônicas de uns em relação aos outros em que cada um afirma estar 

defendendo a sua soberania. 

Grande parte dos autores de Teoria Geral do Estado concorda que o 

território é um elemento  indispensável à existência do Estado. Muitos, 

conforme  Kelsen,  o  território  de  um  Estado  é  um  elemento material 

indispensável,  é  o  elemento  constitutivo  essencial.  Trata‐se  do  espaço 

geográfico  ao  qual  é  válida  a ordem  jurídica  estatal,  sendo  inclusive o 

elemento que possibilita a existência simultânea de várias ordens estatais. 

Para  outros,  como,  por  exemplo,  Burdeau,  trata‐se  de  uma  condição 

necessária exterior, sendo o quadro natural dentro do qual os governantes 

realizam suas  funções, existindo uma relação de domínio entre eles.   O 

conceito  surgiu  apenas  com  o  Estado Moderno,  não  que  os  Estados 

anteriores não possuíssem território, apenas o conceito não era utilizado 

na definição. 

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Povo refere‐se ao nacional, nato ou naturalizado, de um Estado.  É o 

conjunto de indivíduos que através de um ou vários atos jurídicos se unem 

para a criação do Estado, sendo juridicamente vinculado a este de forma 

permanente. O povo  integra a vontade do Estado e o exercício do  seu 

poder soberano. É povo  também o  individuo que ao nascer atende aos 

requisitos estabelecidos pelo Estado para  integrar‐se a ele. Diferente de 

população que significa as pessoas que se encontram no território de um 

Estado em um dado momento, tanto nacionais quanto não nacionais. 

O Estado brasileiro quanto à forma é Federado o que significa que há 

uma  descentralização  político‐administrativa  composta  pela  União  – 

união dos entes da  federação,  representando o poder  central, Estados 

membros, Distrito Federal e Municípios. 

O  sistema  político  brasileiro  é  o  presidencialista  no  qual  há 

independência  e  harmonia  entre  as  atribuições  do  poder:  legislativo, 

executivo e judiciário. 

A forma de governo do Brasil é a república em que se governa a “coisa 

do povo” e o regime é a democracia sendo o poder emanado do povo e 

por ele exercido através de representantes eleitos. 

3.2 Inteligência

Inteligência é antes de tudo apoio ao decisor e dar a este todos os 

elementos possíveis, dados os recursos logísticos e de prazo, para auxiliar 

o processo decisório. Para que esta assessoria seja prestada da melhor 

forma possível entra em cena os analista de inteligência, responsáveis pela 

produção do conhecimento.

A  produção  do  conhecimento  é  antes  de  tudo  um  trabalho  de 

paciência,  observação,  inter‐relação  e  uma  certa  dose  de  experiência. 

Quanto mais experiente o analista mais qualificado o seu  trabalho. Por 

isto, formar um analista de inteligência é um processo caro e demorado, 

sendo de total interesse do Brasil, nos tempos atuais, investir nesta seara 

como uma forma de fazer frente à nova ordem mundial e aos interesses 

públicos brasileiros a serem defendidos em relação a um possível e muito 

provável desejo internacional de se apossar de bens nacionais. 

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Na Pirâmide da agregação do valor à  informação  temos o dado na 

base,  seguido  do  informe  e,  após,  a  informação  e  o  conhecimento, 

finalizando com a Inteligência. A agregação de valor se dá de baixo para 

cima, a saber: quanto mais alto maior valor agregado à informação. 

Dado é a unidade básica de informação, não tem sentido sozinho, é 

uma representação isolada de um fato. O processo realizado em relação a 

ele é a organização como uma forma de ordená‐los conferindo lhes assim 

algum sentido lógico cognitivo. 

Informes são dados organizados e com sentido, porém sem garantia 

de fonte ou conteúdo, devendo ser avaliados para que seja determinado 

o grau de confiabilidade, uma das formas de se realizar a classificação é 

através da TAD – Técnica de Avaliação de Dados, método através do qual 

são atribuídos letras e números aos informes de acordo com uma tabela 

pré‐definida em que a  letra avalia a  fonte e o número o  conteúdo. As 

fontes  variam de  inteiramente  idôneas  até  a  idoneidade não pode  ser 

avaliada e os  conteúdos variam de  confirmado por outras  fontes até a 

veracidade não pode ser avaliada; 

Informação é um saber sobre o qual não cabe discussão, algo que foi 

ou é. É um dado ou conjunto destes últimos que faz sentido e tem garantia 

de  fonte  e  conteúdo.  É  também  um  informe  classificado  como  fonte 

confiável e conteúdo verdadeiro – de acordo com a TAD, classificação A1. 

À informação cabe o processo de análise, que permitirá a transformação 

desta em conhecimento. 

Conhecimento é  inseparável das pessoas, está associado à ação e é 

avaliado pelas decisões e ações que desencadeia, – segundo o professor 

Cláudio  Rêgo:  “Conhecimento  é  a  ação  humana  sobre  as  informações 

visando produzir  inteligência”. Neste ponto são realizados processos de 

julgamento  que  permitem  a  associação  das  diversas  informações 

recebidas.  

Além destes quatro conceitos, mais recentemente  foi  incluído o de 

inteligência,  sendo  esta  a  capacidade  de  relacionar  conhecimentos  no 

processo  de  decisão  e  previsão  de  acontecimentos.  Está  ainda  mais 

associada  à  ação  do  que  o  conhecimento  uma  vez  que  a  atitude  será 

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adotada pelo Decisor. Após esse ser apresentado à Inteligência produzida 

pelo Processo representado, em seu  todo, pela Pirâmide. A  inteligência 

diferencia‐se da informação por esta estar relacionada com o presente ou 

com o passado ‐ fatos consumados ‐ e aquela possibilitar uma projeção de 

cenários futuros. 

É necessário registrar que, semelhante à pirâmide da agregação do 

valor à informação, há a Pirâmide da Sabedoria – (CÔRTES, 2008, p. 34) – 

cujos elementos são praticamente os mesmos, porém sem o  informe e 

tendo o Saber como elemento do topo. O autor ressalta a importância da 

experiência na condução à sabedoria dos integrantes de uma Unidade de 

Inteligência. 

Dois  outros  conceitos  importantes  são  o  de  proteção  e  o  de 

segurança. A maior parte dos trabalhos em “Proteção do Conhecimento” 

ou “Segurança da Informação” é em inglês, assim ao traduzirmos para o 

português  podemos  sempre  cometer  o  engano  de  não  usar  a  palavra 

certa.  Um  exemplo  deste  tipo  de  engano  é  em  relação  às 

palavras  security  e  safety,  ambastraduzidas  como  “segurança”  (ISPS‐

CODE, p. 1), quando o mais adequado seria: security  ‐   proteção contra 

ameaça, e, safety – segurança relacionada com acidentes e incidentes. 

Considerando  as  definições  realizadas  a  expressão  correta  é 

“Proteção do Conhecimento” em vez de “Segurança da  Informação”. O 

conhecimento,  ação  das  pessoas  sobre  as  informações  disponíveis  nas 

organizações, deve ser protegido, salvaguardado em relação às ameaças 

externas e, infelizmente, muitas vezes, internas. 

É claro que deve haver “Segurança da  Informação”, mas no sentido 

de zelar para que as  informações armazenadas nas organizações não se 

percam por acidentes ou incidentes.  

Definida  a  questão  semântica,  é  necessário  definir  também  a 

abrangência  da  Proteção  do  conhecimento.  Na  era  da  informação, 

conforme extensa bibliografia de Peter Drucker sobre o assunto, e em um 

mundo  voltado  para  a  tecnologia,  corre‐se  o  risco  de  focar  apenas  a 

informática – um engano comum – normalmente percebido tarde demais. 

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Em relação à Proteção, são três os elos a serem considerados: pessoas, 

processos e tecnologia. 

O elo pessoas deve ser o que recebe maior atenção, não só dada a sua 

complexidade e possibilidade de ser cooptado pelo inimigo, mas também, 

porque os outros dois são dependentes desse primeiro. È necessário que 

se  fortaleça  o  capital  intelectual  da  organização,  reconhecendo  sua 

importância e relevância para o processo de Proteção do Conhecimento. 

Às vezes um simples office boy, com acesso à sala do presidente, pode 

fornecer  informações  que,  nas  mãos  erradas,  prejudicariam 

enormemente a entidade. 

3.3 Sistema jurídico no Brasil e a problemática da ausência

de uma lei (tipo penal) do terrorismo.   “A  Justiça  sustenta numa das mãos a balança 

com que pesa o direito, enquanto na outra segura a 

espada por meio da qual o defende. A espada sem a 

balança é a  força bruta, a balança sem a espada, a 

impotência  do  direito. Uma  completa  a  outra,  e  o 

verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando 

a  justiça  sabe  brandir  a  espada  com  a  mesma 

habilidade com que manipula a balança.”Rudolf von 

Ihering

As  políticas  em  relação  ao  terrorismo  podem  ser  anti  ou 

contraterrorismo, sendo a primeira preventiva, relacionada com obtenção 

de  informações  que  sirvam  de  subsídio  para medidas  de  combate  ao 

inimigo,  e  a  segunda  a  utilização  de meios  ofensivos  capazes  de  dar 

resposta a um ataque terrorista propriamente dito ou a uma tentativa de 

ataque. 

Mesmo inserido numa ordem mundial em que conflitos de interesses, 

ideológicos,  políticos    e  econômicos  geram  ações  terroristas,  e  com  a 

realização da copa de 2014 em território nacional, o Brasil não possui uma 

legislação específica que  trate do assunto. Não existe no ordenamento 

jurídico brasileiro atual lei de prevenção e/ou repressão ao terrorismo. 

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Temos a Lei 8072/90 que trata de crimes hediondos, a Lei 9455/97 

sobre tortura, a Lei 11343/2006 do tráfico e a Lei 9034/95 de combate às 

organizações  criminosas.  Hoje  se  houver  um  atentado  terrorista  em 

jurisdição nacional alguma das citadas  leis ou a combinação de mais de 

uma deverá ser usada na tentativa de enquadrar e penalizar o criminoso. 

Mundialmente há duas doutrinas de combate ao terrorismo: 3D dos 

EUA,  que  consiste  em Detectar, Deter  e Defender,  e  a  Europeia  cujas 

palavras chave são: Prever, Proteger,  Investigar e responder. A segunda 

doutrina é menos agressiva e certamente mais adequada ao Brasil. 

A  inexistência do tipo penal terrorismo dificulta em muito as ações 

tanto  preventivas  como  repressivas  deste  tipo  de  ato.  Considerando  a 

ocorrência de um evento com visibilidade mundial como a Copa do mundo 

de 2014, que ocorrerá aqui no Brasil, é urgente a criação da  tipificação 

penal do terrorismo, caso contrário à segurança pública terá uma tarefa 

ainda mais heroica para manter a ordem pública no Brasil.     

4 Recomendações

A  ausência  da  uma  lei  antiterror  no  Brasil  pode  significar  o  não 

comparecimento  de  países  como  Israel,  EUA,  Inglaterra,  Alemanha  e 

Japão, entre outros, na copa do mundo de 2014 e nas olimpíadas de 2016, 

uma  vez  que  estes  vivem  a  realidade  de  serem  alvos  de  atentados 

terroristas. Desta  forma é urgente a  criação de uma  lei antiterror para 

compor  o  ordenamento  jurídico  brasileiro.  Chega  de  dar  “jeitinhos”  e 

acabar enquadrando como outro tipo de crime algo que é claramente um 

ato  terrorista. A  lei, no entanto, deve  considerar a natureza do Estado 

brasileiro sendo semelhante à lei Europeia e não à Americana.

5 Conclusão

O moderno Estado Brasileiro, oriundo da Constituição de 1988,  foi 

criado  à  luz  de  um  governo  altamente  repressivo,  o  que  levou  o  seu 

legislador original a tender ao liberalismo dificultando a criação de normas 

restritivas da  liberdade humana. Se por um  lado a  ideologia por trás do 

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Estado Brasileiro proporciona uma maior sensação de  liberdade ao seu 

povo e população, por outro lado gera distorções como a inexistência, até 

agora,  da  tipificação  penal  do  terrorismo  que  é  bastante  comum  aos 

tempos modernos e portanto deveria ser previsto em nosso ordenamento 

jurídico. O mapa  ideológico mundial possui uma quantidade  infinita de 

interseções territoriais e em cada interseção existente há a possibilidade 

de conflito de interesses não apenas ideológicos, mas também políticos e 

econômicos que potencialmente, esgotadas as negociações diplomáticas, 

podem dar origem a organizações terroristas. É importante olhar para o 

passado não apenas para fazer tudo diferente, mas para aprender com os 

próprios erros e ter a coragem de trilhar um novo caminho ainda que com 

recursos antigos. Não queremos outra vez viver um regime de exceção, 

mas queremos sim ser capazes de dar segurança ao nosso povo ainda que 

para  isto  seja  necessário  o  uso  de  algumas  das  ferramentas  utilizadas 

nesse  regime.  É  urgente  que  o  Brasil  amadureça  e  assuma  a  sua 

responsabilidade perante o seu povo e o mundo.

REFERÊNCIAS

APOSTILA  DE  DIREITO  CONSTITUCIONAL.  Belo  Horizonte: Meritus 

Preparatório para Concursos, 2008

BENEDETTI,  Fabiana.  Gestão  do  Conhecimento:  um  importante 

recurso para a  

     inteligência estratégica 

BRASIL. Constituição(1988). Constituição da República Federativa do 

Brasil,  . Brasília: Senado, 1988 

BRASIL. Lei n. 8072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes 

hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e 

determina outras providências. Diário Oficial da União, 25 jul. 1990. 

BRASIL. Lei n. 9034, de 03 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização 

de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas 

por organizações criminosas.  Diário Oficial da União, 03 mai. 1995. 

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BRASIL. Lei n. 9455, de 07 de abril de 1997. Define os crimes de tortura 

e dá outras providências. Diário Oficial da União, 07 abr. 1997. 

BRASIL.  Lei  n.  11343,  de  23  de  agosto  de  2006.  Institui  o  Sistema 

Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas  ‐ Sisnad; prescreve medidas 

para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários 

e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção 

não autorizada e ao  tráfico  ilícito de drogas; define crimes e dá outras 

providências. Diário Oficial da União, 23 ago. 2006. 

BURDEAU, Georges. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques. 

Paris: Libr. Générale de Droit et de Jurisprudence, 1966. 

CÔRTES,  Pedro  Luiz.  Sistemas  de  Informação.  São  Paulo:  Saraiva, 

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TERRORISMO,  In:  Wikipédia.  Disponível  em: 

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Terrorismo>. Acesso em: 15 fev. 2011. 

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 ‐ 1984‐0454 

TERRORISMO.  Disponível  em: 

<http://www.fortunecity.com/victorian/russell/401/terroris.htm>. 

Acesso em: 15 fev. 2011. 

VIEIRA,  Amanda  Vitória  Cerqueira.  Terrorismo:  uma  praga  atual  e 

mundial.  F   da  História.  Disponível  em: 

<http://f5dahistoria.wordpress.com/2010/12/01/terrorismo‐uma‐praga‐

atual‐e‐mundial/>. Acesso em: 15 fev. 2011. 

ANEXOS ANEXO A - Proposta de Lei Brasileira Antiterrorismo –

apresentada pela Escola Superior de Inteligência ao Congresso Nacional. De autoria do Membro do seu Corpo Permanente, Cap PMMG GILMAR Luciano Santos

Art. 1º - É considerado Terrorismo toda ação ou ameaça de cunho ideológico, político, filosófico, religioso, psicossocial ou de natureza financeira que emprega violência física ou psicológica capaz de romper com a Ordem Pública, paz social, Ordem Jurídica ou, ainda, que atente contra a soberania nacional, instituições e os órgãos legalmente constituídos, com o fim de causar medo, pânico, terror, desespero, intimidar ou impedir a aplicação da lei no território nacional, planejada ou executada individualmente, em grupo ou por organizações criminosas.

Art. 2º - Considera-se ato terrorista toda ação ou ameaça capaz de colocar vidas em perigo, causar pânico, terror, medo, desespero, intimidação ou coação contra o Estado e/ou à própria sociedade.

Art. 3º São considerados atos terroristas, puníveis com a pena imposta por esta Lei, as seguintes condutas:

I – Arremessar, lançar ou projetar qualquer tipo de objeto ou artefato capaz de causar explosão ou incêndio em vias públicas, escolas, hospitais, creches, órgãos públicos, locais de eventos desportivos, dentre outros, onde houver ou possa haver grande concentração de pessoas;

II – Ameaçar ou coagir, por qualquer meio, a sociedade ou qualquer órgão do Estado rompendo com a Ordem Pública e a paz social;

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III – Incendiar, com o objetivo de causar pânico, terror, medo, desespero, intimidação ou impedir a aplicação da lei, em qualquer veículo automotor de transporte público ou particular coletivo;

IV – Introduzir, ministrar, colocar ou arremessar substância química ou biológica em nascentes ou reservatórios de água destinados ao consumo humano ou animal que, por suas características, possa provocar o risco ou causar alguma doença ou à morte;

V – Sabotar, neutralizar, atrapalhar o funcionamento ou retardar a operação dos meios de comunicação com o fim de causar medo, pânico, terror, desespero, intimidação ou impedir a aplicação da lei;

VI - Sabotar, neutralizar, atrapalhar o funcionamento ou retardar a operação dos meios de produção ou fornecimento de energia elétrica com o fim de causar medo, pânico, terror, desespero, intimidação ou impedir a aplicação da lei;

VII – Destruir, interromper, neutralizar ou obstruir as vias urbanas ou rurais com o fim de causar medo, pânico, terror, desespero, intimidação ou impedir a aplicação da lei;

VIII- Destruir, neutralizar, inutilizar lavoura ou rebanho com o objetivo de causar medo, pânico, terror, desespero, intimidação ou impedir a aplicação da lei;

IX - Causar ou provocar epidemia, que exponha um grupo de pessoas a risco ou resultado morte (Art. 267, §1º do Decreto Lei 2848 de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal);

X – Envenenar, introduzir substância química ou biológica em alimentos que possam causar a morte, pânico, medo, terror ou Coagir o Estado e/ou a sociedade;

XI – Utilizar agente radioativo ou biológico contra qualquer pessoa ou agente do Estado;

Parágrafo Primeiro: A pena para os crimes previstos nesta Lei são de reclusão de vinte a trinta anos.

Parágrafo Segundo: A pena é aumentada de um sexto quando o ato terrorista é praticado por Organização Criminosa ou Grupo Terrorista.

Parágrafo terceiro: Os atos terroristas são insusceptíveis de anistia, graça, indulto. A progressão de regime ocorrerá após cumprimento de 3/5 da pena.

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Parágrafo Quarto: Não são considerados atos terroristas as ações das forças públicas regulares destinadas a conter ou dispersar distúrbios civis ou para restaurar e restabelecer a Ordem Pública e a paz social.

   

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CONTRATO DE SEGURO DE DANO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL DE 2002

GABRIEL MEIRA FIALHO FONSECA:Advogado, pós-graduado em Direito Tributário.

RESUMO: Os contratos de seguro são cada vez mais frequentes em nossa 

sociedade, principalmente, em razão do aumento dos riscos no Brasil. A 

fim de dar maior segurança aos citados contratos, o Código Civil de 2002 

trouxe  extensa  regulamentação,  dando  maior  segurança  aos 

contratantes. No mesmo sentido caminha a  jurisprudência dos tribunais 

superiores, que vem pacificando entendimentos sobre o tema. 

Palavras‐chave: Contratos. Seguro. De Dano.   

1. Introdução.

O presente trabalho tem por finalidade estudar o contrato de seguro, 

com foco na  jurisprudência dos tribunais brasileiros, entretanto, sem se 

abster de citar entendimentos doutrinários sobre o tema, principalmente, 

os enunciados das Jornadas de Direito Civil.

Assim, diante do inegável crescimento dos riscos de se viver no Brasil, 

esse tipo de contrato se torna cada dia mais comum, e do mesmo modo, 

cada  vez  mais  demandado  nos  tribunais  brasileiros,  em  face  das 

discordâncias das seguradoras e dos segurados. 

2. Disposições Gerais.

Inicialmente,  importa  frisar  a  conceituação  do  que  vem  a  ser  um 

contrato de seguro, realizado pelo próprio Código Civil, em seu artigo 757, 

segundo  o  qual  neste  contrato  “o  segurador  se  obriga,  mediante  o 

pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo 

a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”.

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Brilhantemente  conceitua  o  contrato  de  seguro  a  professora Maria 

Helena Diniz (2002, p. 316): 

“[...]  é  aquele  pelo  qual  uma  das  partes 

(segurador) se obriga para com a outra  (segurado), 

mediante o pagamento de um prêmio, a garantir‐lhe 

interesse legítimo 

relativo a pessoa ou a  coisa e a  indenizá‐la de 

prejuízo  decorrente  de  riscos  futuros,  previstos  no 

contrato”. 

Como se pode notar, o contrato de seguro possui peculiaridades, pois 

se visa garantir certa pessoa ou coisa, de modo que em caso de  lesão, 

nasce para o segurador o dever de reparar o segurado. Caracterizando‐se 

pela existência de três elementos: as partes, o prêmio e os riscos. 

Sendo assim, no  contrato de  seguro, há verdadeira  socialização dos 

riscos entre a seguradora, e o segurado, como bem  leciona o professor 

Fábio Ulhoa Coelho (2012), conforme exposto a seguir: 

“A função do seguro é socializar entre as pessoas 

expostas  a  determinado  risco  as  repercussões 

econômicas  da  verificação  do  sinistro.  A  atividade 

desenvolvida pelas seguradoras consiste em estimar, 

através  de  cálculos  atuariais,  a  probabilidade  de 

ocorrência de certo fato, normalmente um evento de 

consequências danosas para os envolvidos. De posse 

desses  cálculos,  a  seguradora  procura  receber  dos 

sujeitos ao  risco em questão o pagamento de uma 

quantia (prêmio) em troca da garantia consistente no 

pagamento  de  prestação  pecuniária,  em  geral  de 

caráter  indenizatório, na hipótese de verificação do 

evento”. 

Entretanto, não é qualquer pessoa  jurídica que pode ser parte no 

contrato, como seguradora, de acordo com o artigo 758, do Código Civil, 

esta deverá obter autorização especifica. 

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Além da autorização específica, as seguradoras, em  razão de sua 

importância  para  a  sociedade  são  reguladas  pelo  Estado,  tendo  sido 

instituído pelo Decreto‐Lei 73/66, o Sistema Nacional de Seguros privados, 

o qual de acordo com seu artigo 8º, será composto pelo Conselho Nacional 

de  Seguros  Privados,  pela  Superintendência  de  Seguros  Privados,  dos 

resseguros, das Sociedades autorizadas a operar em seguros privados e 

dos corretores habilitados. 

Quanto  à  natureza  jurídica  do  contrato  de  seguro,  entende  a 

doutrina majoritária que  se  trata de um  contrato bilateral, de  adesão, 

oneroso, aleatório e consensual. Neste sentido aduz Flávio Tartuce (2016, 

p. 856): 

“Quanto à  sua natureza  jurídica, o contrato de 

seguro  é  um  contrato  bilateral,  pois  apresenta 

direitos  e  deveres  proporcionais,  de modo  a  estar 

presente o sinalagma. Constitui um contrato oneroso 

pela presença de remuneração, denominada prêmio, 

a ser pago pelo segurado ao segurador. O contrato é 

consensual,  pois  tem  aperfeiçoamento  com  a 

manifestação  de  vontade  das  partes.  Constitui  um 

típico  contrato  aleatório,  pois  o  risco  é  fator 

determinante  do  negócio  em  decorrência  da 

possibilidade de ocorrência do sinistro, evento futuro 

e incerto com o qual o contrato mantém relação”. 

1. Da celebração do contrato de seguro

O  artigo  758,  do  Código  Civil,  expõe  que  “o  contrato  de  seguro 

prova‐se pela exibição da apólice ou bilhete de seguro, e, na falta deles, 

por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio”. Já 

o art. 759, que “a emissão da apólice deverá ser precedida de proposta 

escrita  com  a  declaração  dos  elementos  essenciais  do  interesse  a  ser 

garantido e do risco”.

Em regra, a apólice constitui o instrumento do contrato de seguro, 

podendo ser nominativo, à ordem, ou ao portador, como leciona o artigo 

760, do Código Civil,  entretanto,  em  alguns  casos, poderá  servir  como 

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instrumento do contrato a simples emissão de bilhete de seguro, em razão 

da previsão do artigo 10, do Decreto‐lei 73/66. 

O bilhete ou a apólice “mencionarão os riscos assumidos, o início e 

o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando 

for  o  caso,  o  nome  do  segurado  e  o  do  beneficiário”  (Art.  760,  CC). 

Entretanto, importante frisar que havendo dúvida sobre o contrato, deve‐

se interpretá‐lo em benefício do aderente, por ser um contrato de adesão 

(Art. 424, CC) 

O modo em que se prova o contrato de seguro o momento a partir 

do  qual  se  inicia  a  proteção  securitária  é  fruto  de  diversos 

questionamentos,  os  quais  são  julgados  frequentemente  nos  tribunais 

brasileiros.  Colaciono  a  seguir,  decisão  do  Superior  Tribunal  de  Justiça 

(STJ),  acerca  da  demora  excessiva  da  seguradora  para  responder  a 

proposta de seguro. 

A  seguradora  de  veículos  não  pode,  sob  a 

justificativa  de  não  ter  sido  emitida  a  apólice  de 

seguro, negar‐se a indenizar sinistro ocorrido após a 

contratação do seguro  junto à corretora de seguros 

se não houve recusa da proposta pela seguradora em 

um prazo razoável, mas apenas muito tempo depois 

e exclusivamente em razão do sinistro. Isso porque o 

seguro  é  contrato  consensual  e  aperfeiçoa‐se  tão 

logo  haja  manifestação  de  vontade, 

independentemente da emissão da apólice, que é ato 

unilateral da seguradora, de sorte que a existência da 

relação  contratual  não  poderia  ficar  a  mercê 

exclusivamente da vontade de um dos contratantes, 

sob  pena  de  se  ter  uma  conduta  puramente 

potestativa,  o  que  é  vedado  pelo  art.  122  do  CC. 

Ademais, o art. 758 do CC não confere à emissão da 

apólice  a  condição  de  requisito  de  existência  do 

contrato de seguro, tampouco eleva esse documento 

ao degrau de prova tarifada ou única capaz de atestar 

a  celebração da avença. Além disso, é  fato notório 

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que  o  contrato  de  seguro  é  celebrado,  na  prática, 

entre  corretora  e  segurado,  de  modo  que  a 

seguradora  não  manifesta  expressamente  sua 

aceitação  quanto  à  proposta,  apenas  a  recusa  ou 

emite a apólice do seguro, enviando‐a ao contratante 

juntamente  com  as  chamadas  condições  gerais  do 

seguro.  A  propósito  dessa  praxe,  a  própria  SUSEP 

disciplinou que a ausência de manifestação por parte 

da  seguradora,  no  prazo  de  quinze  dias,  configura 

aceitação  tácita  da  cobertura  do  risco,  conforme 

dispõe  o  art.  2º,  caput  e  §  6º,  da  Circular  SUSEP 

251/2004.  Com  efeito,  havendo  essa  prática  no 

mercado  de  seguro,  a  qual,  inclusive,  recebeu 

disciplina normativa pelo órgão  regulador do setor, 

há de ser aplicado o art. 432 do CC, segundo o qual, 

"se o negócio for daqueles em que não seja costume 

a  aceitação  expressa,  ou  o  proponente  a  tiver 

dispensado,  reputar‐se‐á  concluído o  contrato, não 

chegando a tempo a recusa". Na mesma linha, o art. 

111  do  CC  preceitua  que  "o  silêncio  importa 

anuência,  quando  as  circunstâncias  ou  os  usos  o 

autorizarem,  e  não  for  necessária  a  declaração  de 

vontade expressa". Assim, na hipótese ora analisada, 

tendo  o  sinistro  ocorrido  efetivamente  após  a 

contratação junto à corretora de seguros, se em um 

prazo razoável não houver recusa da seguradora, há 

de  se  considerar  aceita  a  proposta  e  plenamente 

aperfeiçoado o contrato. De fato, é ofensivo à boa‐fé 

contratual  a  inércia  da  seguradora  em  aceitar 

expressamente  a  contratação,  vindo  a  recusá‐la 

somente depois da notícia de ocorrência do sinistro. 

REsp  1.306.367‐SP,  Rel. Min.  Luis  Felipe  Salomão, 

julgado em 20/3/2014. 

Importante frisar também, julgado do próprio STJ, no mesmo ano, 

sobre a inexistência de contrato de seguro antes da entrega da proposta 

de seguro à seguradora. 

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O  proprietário  de  automóvel  furtado  não  terá 

direito  a  indenização  securitária  se  a  proposta  de 

seguro do seu veículo somente houver sido enviada 

à seguradora após a ocorrência do furto. O contrato 

de  seguro,  para  ser  concluído,  necessita  passar, 

comumente, por duas fases: i) a da proposta, em que 

o segurado fornece as informações necessárias para 

o exame e a mensuração do risco, indispensável para 

a garantia do interesse segurável; e ii) a da recusa ou 

aceitação  do  negócio  pela  seguradora,  ocasião  em 

que  a  seguradora  emitirá,  no  caso  de  aceitação,  a 

apólice. A proposta é a manifestação da vontade de 

apenas uma das partes e, no caso do seguro, deverá 

ser  escrita  e  conter  a  declaração  dos  elementos 

essenciais  do  interesse  a  ser  garantido  e  do  risco. 

Todavia, a proposta não gera, por si só, o contrato, 

que depende de consentimento recíproco de ambos 

os  contratantes.  Assim,  para  que  o  contrato  de 

seguro se aperfeiçoe, são imprescindíveis o envio da 

proposta  pelo  interessado  ou  pelo  corretor  e  o 

consentimento,  expresso  ou  tácito,  da  seguradora, 

mesmo sendo dispensáveis a apólice ou o pagamento 

de  prêmio. Desse modo,  nota‐se  que,  no  caso  em 

apreço, não há a manifestação de vontade no sentido 

de firmar a avença em tempo hábil, tampouco existe 

a  concordância,  ainda  que  tácita,  da  seguradora. 

Além  disso,  nessa  hipótese,  quando  o  proponente 

decidiu ultimar a avença, já não havia mais o objeto 

do  contrato  (interesse  segurável  ou  risco  futuro). 

REsp  1.273.204‐SP,  Rel.  Min.  Ricardo  Villas  Bôas 

Cueva, julgado em 7/10/2014. 

Dos julgados acima transcritos, pode‐se notar que o STJ para definir 

o momento a partir do qual o contrato de seguro passa a gerar efeitos, 

utiliza‐se do princípio da boa‐fé. 

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Quando  o  contrato  de  seguro  for  garantido  por  mais  de  uma 

seguradora, haverá o chamado cosseguro, o qual deverá ser administrado 

por uma seguradora  líder, é o que prever o artigo 761. A seguir, segue, 

brilhante explanação sobre o tema e sua distinção com o resseguro feita 

pelo professor Flávio Tartuce (2016, p. 859): 

O art. 761 do CC trata do cosseguro, quando os 

riscos de um seguro direto são assumidos por várias 

seguradoras.  Em  casos  tais,  a  apólice  indicará  a 

seguradora  que  administrará  o  contrato  e 

representará os demais, para  todos os  seus efeitos 

(seguradora líder). O cosseguro não se confunde com 

o  resseguro,  hipótese  em  que  uma  seguradora 

contrata outra seguradora (resseguradora), temendo 

os  riscos  do  contrato  anterior,  aplicando‐se  as 

mesmas regras previstas para o contrato regular. 

Do  mesmo  modo  que  o  cosseguro,  não  se  confunde  com  o 

resseguro, estes não se confundem com o chamado seguro cumulativo. 

Neste sentido, no escólio de Fábio Ulhoa Coelho (2012) sobre o tema: 

“Seguro  cumulativo.  O  seguro  cumulativo 

consiste  na  contratação  de  dois  ou  mais  seguros 

sobre o mesmo interesse, quando esse fica garantido 

por valor superior ao que tem. Imagine a hipótese de 

o dono do veículo segurá‐lo contra roubo, pelo valor 

total,  junto  a  duas  seguradoras.  É  claro  que  a 

liquidação dos dois seguros, na hipótese de o sinistro 

se verificar, importaria enriquecimento do segurado 

— ele passaria a ter, por assim dizer, dois carros ao 

invés de um. Isso contraria a natureza  indenizatória 

da  prestação  devida,  nos  seguros  de  danos,  pela 

seguradora. Por isso, a cumulatividade no seguro de 

danos é coibida pela lei”. 

Importante  frisar que o próprio Código Civil,  em  seu  artigo 765, 

determina  expressamente  a  aplicação  do  princípio  acima  citado  ao 

preconizar que  “O  segurado e o  segurador  são obrigados a guardar na 

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conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa‐fé e veracidade, 

tanto a  respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele 

concernentes”. 

Diante da  importância do citado princípio, o desrespeito a boa‐fé 

gera  o  descumprimento  do  contrato  e  a  responsabilização  objetiva 

daquele que o violou. “Em virtude do princípio da boa‐fé, positivado no 

art.  422  do  novo  Código  Civil,  a  violação  dos  deveres  anexos  constitui 

espécie de inadimplemento, independentemente de culpa” (Enunciado 24 

do CJF). 

1. Seguro de Dano.

O seguro de dano visa garantir o ressarcimento ao segurado, em 

caso de prejuízo sob a coisa assegurada. Nos seguros de dano, a garantia 

prometida  não  pode  ultrapassar  o  valor  do  interesse  segurado  no 

momento da conclusão do contrato (Art. 778, do Código Civil).

O  seguro de dano não  tem por  finalidade o  lucro, mas apenas a 

proteção  do  interesse  assegurado,  de  modo  a  se  evitar  prejuízo  ao 

segurado. Neste sentido ensina, Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 500): 

“O contrato de seguro não se destina à obtenção 

de um lucro. Ao celebrá‐lo o segurado procura cobrir‐

se de eventuais prejuízos decorrentes de um sinistro, 

não podendo visar nenhum proveito. Por essa razão, 

já dizia o art. 1.437 do Código de 1916 que “não se 

pode segurar uma coisa por mais do que valha, nem 

pelo seu todo mais de uma vez”. O novo diploma, no 

dispositivo  supratranscrito,  considera 

locupletamento  ilícito  o  segurado  receber  pelo 

sinistro valor  indenizatório superior ao do  interesse 

segurado  ou  da  coisa  sinistrada.  A  infração  à 

proibição  acarreta  como  consequência  a  perda  do 

direito de garantia e a obrigação ao pagamento do 

prêmio vencido, além de responder o segurado pela 

ação  penal  que  no  caso  couber  por  ter  feito 

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declaração  falsa  com  o  fim  de  obter  vantagem 

patrimonial”. 

Essa natureza não lucrativa do contrato de seguro de dano também 

se pode encontrar no art. 781, do Código Civil, o qual dispõe que a “A 

indenização  não  pode  ultrapassar  o  valor  do  interesse  segurado  no 

momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia 

fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador”. 

Da leitura do citado artigo 781, pode‐se notar que o legislador fixou 

que o valor a ser ressarcido pela seguradora ao segurado, é o do valor do 

interesse, no momento do sinistro, ou seja, a partir do momento em que 

se caracterizou o prejuízo. Esteentendimento foi ratificado pelo STJ: 

É  abusiva  a  cláusula de  contrato de  seguro de 

automóvel  que,  na  ocorrência  de  perda  total  do 

veículo,  estabelece  a  data  do  efetivo  pagamento 

(liquidação do  sinistro)  como parâmetro do  cálculo 

da  indenização  securitária  a  ser  paga  conforme 

o valor médio de mercado do bem, em vez da data 

do sinistro. De início, cabe ressaltar que o Código Civil 

de 2002 adotou, para os seguros de dano, o princípio 

indenitário, de modo que a  indenização  securitária 

deve corresponder ao valor real dos bens perdidos, 

destruídos  ou  danificados  que  o  segurado  possuía 

logo  antes  da  ocorrência  do  sinistro.  Isso  porque 

o  seguro  não  é  um  contrato  lucrativo,  mas  de 

indenização, devendo  ser afastado, por um  lado, o 

enriquecimento  injusto do segurado e, por outro, o 

estado de prejuízo. Dessa forma, nos termos do art. 

781  do  CC,  a  indenização  no  contrato 

de  seguro  possui  alguns  parâmetros  e  limites,  não 

podendo  ultrapassar  o  valor  do  bem  (ou  interesse 

segurado)  no  momento  do  sinistro  nem  podendo 

exceder  o  limite  máximo  da  garantia  fixado  na 

apólice, salvo mora do segurador. Nesse contexto, a 

Quarta  Turma do  STJ  já decidiu pela  legalidade da 

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"cláusula dos contratos de seguro que preveja que a 

seguradora de veículos, nos casos de perda total ou 

de furto do bem,  indenize o segurado pelo valor de 

mercado  na  data  do  sinistro"  (REsp  1.189.213‐GO, 

DJe  27/6/2011).  Nesse  sentido,  a  Terceira  Turma 

deste  Tribunal  (REsp  1.473.828‐RJ,  Terceira  Turma, 

DJe 5/11/2015) também firmou o entendimento de 

que  o  princípio  indenizatório  deve  ser  aplicado  no 

contrato  de  seguro  de  dano,  asseverando  que  a 

indenização deve  corresponder ao  valor do efetivo 

prejuízo experimentado pelo segurado no momento 

do sinistro, mesmo em caso de perda total dos bens 

garantidos.  Assim,  é  abusiva  a  cláusula  contratual 

do  seguro  de  automóvel  que  impõe  o  cálculo  da 

indenização securitária com base no valor médio de 

mercado do bem vigente na data de  liquidação do 

sinistro,  pois  onera  desproporcionalmente  o 

segurado, colocando‐o em situação de desvantagem 

exagerada, indo de encontro ao princípio indenitário, 

visto  que,  como  cediço,  os  veículos  automotores 

sofrem,  com  o  passar  do  tempo,  depreciação 

econômica, e quanto maior o lapso entre o sinistro e 

o  dia  do  efetivo  pagamento,  menor  será  a 

recomposição  do  patrimônio  garantido.  Trata‐se, 

pois, de disposição unilateral e benéfica somente à 

seguradora, a qual poderá também atrasar o dia do 

pagamento, ante os trâmites internos e burocráticos 

de  apuração  do  sinistro.  De  fato,  a  regulação  do 

sinistro  e  seus  prazos  (arts.  1º,  §  2º,  da  Lei  n. 

5.488/1968  e  21,  §  1º,  da  Circular/SUSEP  n. 

145/2000) não devem interferir no dia inicial para o 

cálculo  do  valor  indenizatório,  pois  apenas  se 

referem à análise do processo de sinistro quanto à 

sua cobertura pela apólice contratada bem como à 

adequação  da  documentação  necessária.  Desse 

modo,  a  cláusula  do  contrato  de  seguro  de 

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automóvel  a  qual  adota,  na  ocorrência  de  perda 

total,  o  valormédio  de  mercado  do  veículo  como 

parâmetro  para  a  apuração  da  indenização 

securitária deve observar a tabela vigente na data do 

sinistro,  e  não  a  data  do  efetivo  pagamento 

(liquidação do sinistro). REsp 1.546.163‐GO, Rel. Min. 

Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em  / / , DJe 

/ / . 

O contrato de seguro de danos tem natureza  indenizatória, visa a 

reparar o prejuízo sofrido pelo segurado, sendo vedado o lucro. Por isso, 

o artigo  , prevê que havendo novo contrato de seguro sobre o mesmo 

risco,  deve  haver  comunicação  ao  segurador,  a  fim  de  comprovar  a 

obediência ao artigo  , ou seja, de que não ultrapassou o valor da coisa. 

A fim de esclarecer a natureza indenizatória do contrato de seguro 

da dano, colaciono explanação do professor Flávio Tartuce ( , p.  ) 

sobre o tema: 

“Relativamente  à  indenização  a  ser  recebida 

pelo segurado, enuncia o art.781 do CC que essa não 

pode ultrapassar o  valor do  interesse  segurado no 

momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite 

máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso 

de mora  do  segurador.  Para  exemplificar,  alguém 

celebra  um  contrato  de  seguro  para  proteger  um 

veículo  contra  roubo,  furto  e  avaria.  Quando  da 

celebração do contrato, o veículo, novo, valia R$ 50 

.000,00. Dois  anos  após  a  celebração  do  contrato, 

quando  o  veículo  vale  R$  30.000,00,  é  roubado 

(sinistro).  Esse  último  será  o  valor  devido  pela 

seguradora,  devendo  ser  observado  o  valor  de 

mercado. Para tanto, é aplicada, na prática, a Tabela 

Fipe,  adotada  pelas  seguradoras.  Ressalte‐se, 

contudo, a previsão final do art. 7 8 1 do CC, pela qual 

a única hipótese em que se admite o pagamento de 

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indenização superior ao valor que consta da apólice 

é no caso de mora da seguradora”. 

Quando à coisa segurada for danificada e a seguradora indenizar o 

segurado pelos prejuízos, aquela terá direito à sub‐rogação, nos limites do 

valor  respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado em 

face do autor do dano (Art.  ). 

Como a seguradora, após o pagamento da indenização, se sub‐roga 

nos  direitos  do  segurado,  ela  poderá  ajuizar  ação  regressiva  contra  o 

causador do dano. O  tema possui  tanta  importância pratica que  foram 

editas diversas súmulas, frisando aqui as de número  ,   e  , todas 

do Supremo Tribunal Federal: 

Súmula  , STF: “Prescreve em um ano a ação do segurador sub‐

rogado  para  haver  a  indenização  por  extravio  ou  perda  de  carga 

transportada por navio”. 

Súmula  ,  STF:  “O  segurador  tem  ação  regressiva  contra  o 

causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até o limite previsto no 

contrato de seguro”. 

Súmula  ,  STF:  “são  cabíveis  honorários  advocatícios  na  ação 

regressiva do segurador contra o causador do dano”. 

Segundo  o  Código  Civil,  ao  segurado  cabe  comunicar 

imediatamente  ao  segurador  a  ocorrência  do  dano,  sendo‐lhe  vedado 

reconhecer  sua  responsabilidade  ou  confessar  sua  culpa,  bem  como 

transacionar com o terceiro prejudicado, ou indeniza‐lo diretamente, sem 

autorização expressa do segurador (art. 787). 

Acontece que o Superior Tribunal de Justiça ao se deparar com o 

tema, entendeu  relativizar a  interpretação do dispositivo acima  citado, 

utilizando‐se  do  princípio  da  boa‐fé,  a  fim  de  garantir  a  cobertura 

securitária  do  segurado  que  reconheceu  a  culpa  no  sinistro,  desde 

evidente que o  fato,  realmente, aconteceu e o acordo  foi  realizado em 

termos favoráveis, tanto para o segurado, quanto para o segurador. 

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DIREITO  CIVIL.  MANUTENÇÃO  DA  GARANTIA 

SECURITÁRIA  APESAR  DE  TRANSAÇÃO  JUDICIAL 

REALIZADA  ENTRE  SEGURADO  E  TERCEIRO 

PREJUDICADO. No  seguro  de  responsabilidade  civil 

de  veículo,  não  perde  o  direito  à  indenização  o 

segurado que, de boa‐fé e  com probidade,  realize, 

sem anuência da seguradora, transação judicial com 

a  vítima  do  acidente  de  trânsito  (terceiro 

prejudicado), desde que não haja prejuízo efetivo à 

seguradora.  De  fato,  o  §  2º  do  art.  787  do  CC 

disciplina  que  o  segurado,  no  seguro  de 

responsabilidade  civil,  não  pode,  em  princípio, 

reconhecer  sua  responsabilidade,  transigir  ou 

confessar,  judicial ou  extrajudicialmente,  sua  culpa 

em  favor  do  lesado,  a  menos  que  haja  prévio  e 

expresso  consentimento  do  ente  segurador,  pois, 

caso  contrário,  perderá  o  direito  à  garantia 

securitária,  ficando pessoalmente obrigado perante 

o  terceiro,  sem  direito  do  reembolso  do  que 

despender. Entretanto, como as normas jurídicas não 

são estanques e sofrem influências mútuas, embora 

sejam  defesos,  o  reconhecimento  da 

responsabilidade, a confissão da ação ou a transação 

não  retiram  do  segurado,  que  estiver  de  boa‐fé  e 

tiver agido com probidade, o direito à indenização e 

ao  reembolso,  sendo  os  atos  apenas  ineficazes 

perante  a  seguradora  (enunciados  373  e  546  das 

Jornadas  de  Direito  Civil).  A  vedação  do 

reconhecimento da responsabilidade pelo segurado 

perante  terceiro  deve  ser  interpretada  segundo  a 

cláusula geral da boa‐fé objetiva prevista no art. 422 

do CC, de modo que a proibição que lhe foi imposta 

seja para posturas de má‐fé, ou seja, que  lesionem 

interesse  da  seguradora.  Assim,  se  não  há 

demonstração  de  que  a  transação  feita  pelo 

segurado  e  pela  vítima  do  acidente  de  trânsito  foi 

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abusiva,  infundada  ou  desnecessária,  mas,  ao 

contrário,  for  evidente  que  o  sinistro  de  fato 

aconteceu  e  o  acordo  realizado  foi  em  termos 

favoráveis  tanto ao segurado quanto à seguradora, 

não há razão para erigir a regra do art. 787, § 2º, do 

CC em direito absoluto a afastar o ressarcimento do 

segurado. REsp 1.133.459‐RS, Rel. Min. Ricardo Villas 

Bôas Cueva, julgado em 21/8/2014. 

Ressalto  que  a  redação  do  artigo  787  sofre  duras  críticas  da 

doutrina, pois proíbe o segurado de reconhecer a existência de culpa e de 

transigir, direitos personalíssimos, inafastáveis e intransmissíveis, os quais 

não podem ser vedados em um contrato de consumo. Nesse contexto, cito 

passagem do livro de Flávio Tartuce (2016, p. 872): 

Primeiro,  porque  afasta  a  possibilidade  de  o 

segurado reconhecer a existência de culpa, o que é 

um  direito  personalíssimo,  inafastável  e 

intransmissível, nos termos do art. 1 1 do CC e do art. 

1.º,III, da CF/1988. Parece que foi mais um descuido 

do  legislador,  ao  dispor  que  esse  reconhecimento 

depende  da  seguradora. Outro  problema  refere‐se 

ao poder de transigir, o que é um direito inerente ao 

segurado.  Sendo  o  contrato  de  adesão  ou  de 

consumo, há  como afastar essa  regra, pois a parte 

contratual está renunciando a um direito que  lhe é 

inerente, havendo infringência ao princípio da função 

social dos contratos em casos tais (art. 42 1 do CC). A 

mesma tese vale para a indenização direta, paga pelo 

segurado ao ofendido. Trata‐se, do mesmo modo, de 

um direito pessoal do segurado e que não pode ser 

afastado. Aliás,  como  fica o direito da outra parte, 

prejudicada pelo evento danoso e que tem o direito 

à  indenização,  diante  do  princípio  da  reparação 

integral  de  danos?  A  seguradora  pode  obstar  o 

pagamento da vítima? Para este autor, as respostas 

são negativas. Em  suma, o § 2.0 do art. 787 do CC 

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entra em conflito com outros preceitos do próprio CC 

e do CDC, a afastar a sua aplicação.   

Em  relação  ao  aspecto  processual,  importante  frisar  julgado 

recente do Superior Tribunal de Justiça, publicado no informativo 553, o 

contrato  de  seguro  de  danos  deve  ser  cobrado  por meio  de  ação  de 

conhecimento,  e  não  por meio  de  uma  ação  de  execução,  pois  este 

contrato não se enquadra como título executivo extrajudicial, diferente do 

que ocorre nos contratos de seguro de vida. 

DIREITO  PROCESSUAL  CIVIL.  VIA  ADEQUADA 

PARA  COBRANÇA  DE  INDENIZAÇÃO  FUNDADA  EM 

CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL. É a ação de 

conhecimento  sob  o  rito  sumário  ‐  e  não  a  ação 

executiva  ‐  a  via  adequada  para  cobrar,  em 

decorrência  de  dano  causado  por  acidente  de 

trânsito,  indenização  securitária  fundada  em 

contrato  de  seguro  de  automóvel.  Isso  porque  o 

contrato de  seguro de automóvel não  se enquadra 

como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). 

Como  cediço,  o  título  executivo  extrajudicial 

prescinde  de  prévia  ação  condenatória,  ou  seja,  a 

função de conhecimento do processo é postergada 

até  eventual  oposição  de  embargos  do  devedor. 

Ademais, somente a lei pode prescrever quais são os 

títulos  executivos,  fixando‐lhes  as  características 

formais  peculiares.  Desse  modo,  apenas  os 

documentos  descritos  pelo  legislador,  seja  em 

códigos ou em  leis especiais, é que são dotados de 

força  executiva,  não  podendo  as  partes 

convencionarem  a  respeito.  Além  disso,  pela 

interpretação conjunta dos arts. 275, II, "e", 585, III, 

e  586  do  CPC,  depreende‐se  que  somente  os 

contratos  de  seguro  de  vida,  dotados  de  liquidez, 

certeza  e  exigibilidade,  são  títulos  executivos 

extrajudiciais, podendo ser utilizada, nesses casos, a 

via  da  ação  executiva.  Logo,  para  o  seguro  de 

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automóveis,  na  ocorrência  de  danos  causados  em 

acidente  de  veículo,  a  ação  a  ser  proposta  é, 

necessariamente,  a  cognitiva,  sob  o  rito  sumário, 

uma vez que este contrato de seguro é destituído de 

executividade  e  as  situações  nele  envolvidas 

comumente  não  se  enquadram  no  conceito  de 

obrigação  líquida,  certa  e  exigível,  sendo 

imprescindível,  portanto,  nessa  hipótese,  a  prévia 

condenação  do  devedor  e  a  constituição  de  título 

judicial.  A  par  disso,  percebe‐se  que  o  legislador 

optou por elencar somente o contrato de seguro de 

vida como título executivo extrajudicial, justificando 

a sua escolha na ausência de caráter indenizatório do 

referido  seguro,  ou  seja,  o  seu  valor  carece  de 

limitação, sendo de responsabilidade do segurador o 

valor do seguro por ele coberto, uma vez que existe 

dívida  líquida  e  certa.  Verifica‐se,  ainda,  que  o 

tratamento dispensado ao seguro de dano, como ao 

de  automóveis,  é  diverso,  uma  vez  que  esses 

ostentam  índole  indenizatória,  de  modo  que  a 

indenização  securitária  não  poderá  redundar  em 

enriquecimento  do  segurado,  devendo,  pois,  o 

pagamento  ser  feito em  função do que  se perdeu, 

quando ocorrer o sinistro, nos  limites do montante 

segurado. REsp 1.416.786‐PR, Rel. Min. Ricardo Villas 

Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014, DJe 9/12/2014. 

Do  mesmo  modo,  importa  salientar  o  teor  da  súmula  529  do 

Superior Tribunal de Justiça, a qual ensina que sendo denunciada à lide a 

seguradora, e havendo contestação do pedido do autor ou sendo aceita a 

denunciação,  será  possível  a  sua  condenação  direta  e  solidariamente 

junto ao segurado. 

O citado enunciado visa dar maior celeridade ao processo,  já que 

não será necessário novo processo por parte do segurado a fim de receber 

a  indenização devida. Além de gerar maior segurança ao autor da ação 

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que terá possibilidade de executar diretamente a seguradora, a qual, em 

regra, possui maior capacidade econômica que o segurado. 

Entretanto,  não  será  possível  ao  terceiro  ajuizar  diretamente  e 

exclusivamente  a  ação  em  face  da  seguradora,  pois  esta  não  possui 

legitimidade exclusiva para tanto, só podendo ser condenado quando for 

denunciada à lide. Este é, inclusive, o entendimento pacífico do STJ, o qual 

está presente na súmula 529. 

5. Conclusão

Em  que  pese  a  grande  importância  prática  nos  dias  atuais  do 

contrato de seguro,  tendo em vista que são  formalizados, diariamente, 

inúmeros contratos dessa natureza, ainda há muitas divergências entre as 

seguradoras e os segurados que são levadas ao Poder Judiciário.

Pode‐se  notar  ainda,  que  apesar  da  maioria  desses  debates  já 

estarem com entendimento pacificados nos tribunais, muitas seguradoras 

ainda  se  negam  a  aplica‐los,  levando  os  segurados  a  buscar  o  Poder 

Judiciário, a fim de garantir seus direitos. 

Concluímos, portanto, que se faz necessário rediscutir a aplicação 

do  princípio  da  boa‐fé,  previsto  no  Código  Civil,  não  só  quanto  à 

formalização do contrato de seguro, mas também quanto à sua execução 

e respeito aos entendimentos consagrados. 

REFERÊNCIA 

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Editora: Saraiva. 2012. 

DECRETO‐LEI  73/66.  Disponível 

em  ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto‐lei/Del0073.htm. 

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro.Editora: Saraiva. 

2002. 

GONÇALVES,  Carlos  Roberto. Direito  Civil  Brasileiro  –  Contratos  e 

Atos Unilaterais. Editora: Saraiva. 2012. 

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        41 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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STJ,  Informativo  553.  Disponível  em 

https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/ 

STJ,  Informativo  564.  Disponível  em 

https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/ 

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Editora: Método. 2016. 

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DIFERENCIANDO A INDIVISIBILIDADE DA SOLIDARIEDADE

LIZIANE BAINY VELASCO: Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG.

Resumo: O seguinte texto tem como objetivo explicitar a diferença entre 

os  institutos da  indivisibilidade e da solidariedade, de modo a colaborar 

com a elucidação de dúvidas  frequentes  referentes à  temática.  Isso  se 

dará mediante  esplanada  breve  dos  institutos  referidos  e  uma  análise 

mais profunda sobre as semelhanças e diferentes desses, apresentando 

casos concretos oriundos de jurisprudência. 

Palavras‐chaves: Indivisibilidade. Solidariedade. Jurisprudência. 

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1. A INDIVISIBILIDADE. 2. A SOLIDARIEDADE. 3. A DIFERENÇA ENTRE A INDIVISIBILIDADE E A SOLIDARIEDADE. 4. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA SOBRE SOLIDARIEDADE. 5. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA SOBRE INDIVISIBILIDADE. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

INTRODUÇÃO As obrigações complexas têm como característica a pluralidade de 

credores ou devedores, ou ainda pela pluralidade de objetos na prestação. 

Dentre essas estão as obrigações divisíveis e  indivisíveis, bem  como as 

obrigações solidárias, em que há predominância de mais de um sujeito nos 

polos passivos ou ativos, quando não em ambos.

As obrigações divisíveis e  indivisíveis não tem em mira o objeto, 

pois  seu  interesse  reside e  se manifesta quando ocorre pluralidade de 

sujeitos,  decorrendo  da  vontade  das  partes  (VENOSA,  2013,  p.  99). 

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Enquanto que na solidariedade a sua razão de ser consiste na confiança 

dos interessados, de modo que o vínculo que os mantém unidos facilite o 

cumprimento ou a solução da dívida. 

Sabe‐se que são muitas as semelhanças entre a indivisibilidade e 

a  solidariedade,  porém  necessário  é  tratar  sobre  os  pontos  que  as 

diferenciam.  Uma  das  principais  consiste  na  sua  origem:  a  razão  da 

solidariedade  está  no  próprio  vínculo  jurídico,  enquanto  que  a 

indivisibilidade, em regra, da natureza jurídica da prestação. 

Portanto, o presente  artigo  tem por objetivo  elucidar possíveis 

dúvidas sobre a  temática, além de discorrer de maneira clara e sucinta 

sobre a solidariedade e a indivisibilidade, traçando uma relação entre os 

institutos e trazendo duas jurisprudências comentadas. 

1. A INDIVISIBILIDADE

Ao falar-se em obrigações divisíveis e indivisíveis, cabe ressaltar que está em análise a prestação estabelecida. As obrigações indivisíveis têm como característica a pluralidade de sujeitos, devendo ser obrigatoriamente cumpridas em sua totalidade. Conforme Venosa (2013, p. 99), “a indivisibilidade pode decorrer da própria natureza do objeto da prestação: se várias pessoas se comprometem a entregar um cavalo, a obrigação é indivisível”, pois se trata de uma indivisibilidade material.

No entanto, há também a indivisibilidade jurídica, que pode resultar da força de lei ou de um acordo entre as partes, que tenha como intuito o cumprimento da obrigação por inteiro, mesmo que seja uma prestação que poderia ser divisível.

Conceitua-se a indivisibilidade como a impossibilidade de fracionamento do objeto da prestação, seja ele coisa ou fato, conforme elucida o art. 258 do Código Civil de 2002:

A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por natureza, por motivo

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de ordem econômica ou dada a razão determinante do negócio.

Assim, as obrigações indivisíveis são as que não podem sofrer alteração em sua substância ou as que, embora naturalmente divisíveis, são consideradas indivisíveis, por lei ou vontade das partes. Em regra, as obrigações de restituir e de não fazer são indivisíveis, podendo às vezes também estar presente nas obrigações de dar e fazer.

Com relação à pluralidade de credores e devedores na prestação indivisível, dispõem os arts. 259 e 260:

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira. Mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I- a todos conjuntamente; II- a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Depredem-se daí que todos os devedores estão obrigados pela dívida toda, podendo o credor acionar para o cumprimento da prestação, mesmo que coativamente, um único devedor, sub-rogando-se perante os outros devedores. Nesse viés, a indivisibilidade aproxima-se bastante da solidariedade, uma vez que os vários credores da prestação indivisível são considerados credores solidários. Cabe ressaltar que o devedor responsável por adimplir o total da dívida deve pagá-lo diante de todos ou na presença de um só credor, com recebimento de caução dos demais credores.

Quando houver remissão da quota parte de um dos credores, não poderão os demais se prejudicar devido esse perdão. Assim, a prestação continua a ser indivisível e deverá ser cumprida integralmente diante dos demais credores.

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É importante lembrar que quando houver perdas e danos nas obrigações indivisíveis, essa se desconstituirá, tornando divisível, de modo que se a culpa que resultou em indenização originou-se de todos os devedores, igualmente todos responderão, enquanto que se a culpa for de um só, apenas esse responderá por perdas e danos, e todos pelo valor da prestação.

Para concluir, em casos de prescrição todos os devedores serão beneficiados, enquanto que na suspensão ou interrupção poderá aproveitar ou prejudicar a todos. Em caso de insolvência de um dos devedores não prejudicará o credor, que poderá exigir integralmente o adimplemento dos demais devedores (VENOSA, 2013, p. 104).

2. A SOLIDARIEDADE

De acordo com Gonçalves (2011, p. 129), “caracteriza-se a obrigação solidária pela multiplicidade de credores e/ou de devedores, tendo cada credor direito à totalidade da prestação, como se fosse credor único, ou estando cada devedor obrigado pela dívida toda, como se fosse o único devedor”. Assim, há obrigação solidária quando a totalidade de seu objeto puder ser exigida por qualquer dos credores ou dos devedores. Cabe ressaltar que a solidariedade não se presume, originando-se da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC/02).

A solidariedade de credores e/ou de devedores fundamenta-se na finalidade da prestação, que os une ao ponto de que cada um se responsabilize pela satisfação total dessa, sendo que quando um dos devedores ou dos credores efetua o pagamento, extinta estará a obrigação (VENOSA, 2013, p. 106).

Venosa (2013, p. 108) compreende as obrigações solidárias a partir de duas características: a unidade da prestação e a pluralidade e independência do vínculo. Isto é, há um único débito e o vínculo que une credores e devedores é distinto e independente. Percebe-se essa autonomia

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quando há uma condição estabelecida para apenas um dos devedores, de modo a não atingir diretamente os demais.

Por haver uma corresponsabilidade entre os interessados, aquele que resolve a dívida pode exigir a quota parte dos demais. Na solidariedade ativa, a obrigação está adimplida quando o credor receber a prestação na integralidade por parte de um dos devedores (relação externa). Nas relações internas, cada devedor ou credor estará apenas obrigado a sua quota parte.

É fundamental explicitar que a solidariedade nunca será presumida, sendo resultado da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC/02), assim, não se admite responsabilidade solidária fora da lei ou do contrato. Portanto, há necessidade de que a solidariedade seja expressa.

Na solidariedade ativa, há mais de um credor, podendo esses cobrar a dívida por inteiro, devendo decorrer da manifestação de vontade das partes, mediante contrato. Nessa modalidade, para Venosa (2013, p. 112), “qualquer credor pode exigir a totalidade de dívida, sem depender da aquiescência dos demais credores (art. 267) e cada credor poderá libertar-se da obrigação pagando a prestação a qualquer um dos credores (art. 269)”. Gonçalves (2011, p. 139) alerta:

Estabelecida a solidariedade, não podem os credores voltar atrás; nenhum deles poderá unilateralmente, a pretexto de que se arrependeu, ou de que o correus se tornou suspeito e perdeu sua confiança, revogar ou suprimir a solidariedade. Só a conjugação de todas as vontades, sem exclusão de uma sequer, proporcionará semelhante resultado.

Já na solidariedade passiva, existe pluralidade de devedores, de modo a obrigar todos os devedores ao pagamento total da dívida, podendo o credor exigir que cada um cumpra separadamente a sua parte do débito. Para Gonçalves (2011, p. 152),

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A obrigação solidária passiva pode ser conceituada como a relação obrigacional, oriunda da lei ou de vontade das partes, com multiplicidade de deveres, sendo que cada um responde in totum et totaliter pelo cumprimento da prestação, como se fosse o único devedor. Cada devedor está obrigado à prestação na sua integralidade, como se tivesse contraído sozinho o débito.

Com relação à extinção das obrigações solidárias, tanto na ativa quanto na passiva, são extintas mediante adimplemento, mas também por novação, compensação, remissão, pagamento por consignação, confusão e transação nas obrigações solidárias ativas, enquanto que nas passivas, mediante renúncia e morte de um dos devedores.

3. A DIFERENÇA ENTRE A INDIVISIBILIDADE E A SOLIDARIEDADE

Após  a  análise  feita  sob  os  aspectos  gerais  dos  institutos  da 

indivisibilidade e da solidariedade, neste capítulo iremos dissertar acerca 

das diferenças entre ambos. Primeiramente, vale destacar que, ambos os 

institutos se assemelham no fato de o credor poder exigir de qualquer dos 

devedores o pagamento da totalidade do objeto, esta mostra a principal 

similaridade  entre  tais  institutos.  E,  é  a  partir  desta  semelhança  que 

surgem as dúvidas e  confusões acerca deste assunto o qual  temos por 

objetivo elucidar.

A  solidariedade baseia‐se na  relação  jurídica  subjetiva, ou  seja, 

resulta  da  lei  ou  da  vontade  das  partes, mas  recai  sobre  as  próprias 

pessoas.  Para  Silvio  de  Salvo  Venosa  (2013,  p.  104),  “a  causa  da 

solidariedade,  reside  no  próprio  título,  no  vínculo  jurídico”.  Já  a 

indivisibilidade baseia‐se na relação  jurídica objetiva, ou seja, resulta da 

natureza indivisível do objeto da prestação. 

Com  relação  ao  cumprimento  da  prestação,  na  obrigação 

solidária  cada  devedor  solidário  pode  ser  obrigado  a  pagar, 

individualmente, a dívida inteira, uma vez que qualquer dos devedores é 

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devedor de toda a dívida, ou seja, o credor pode exigir de qualquer dos 

devedores  a  integralidade  da  prestação.  Já  nas  obrigações  indivisíveis, 

quando há pluralidade de credor e/ou devedores, cada um é responsável 

pela dívida  toda, e o devedor que paga a dívida  inteira  sub‐roga‐se no 

direito  do  credor,  havendo  ação  de  regresso  em  relação  aos  demais 

coobrigados. Na verdade, o codevedor deve somente a sua quota parte 

(relação  interna),  podendo  o  credor  exigir  o  cumprimento  integral  de 

qualquer dos devedores, em razão ou do acordo entre as partes, ou da 

natureza  jurídica  do  objeto  ou  da  natureza material  da  prestação  não 

permitir o cumprimento fracionado. 

Coelho (2012, p. 104) afirma que ambas diferem por razões que 

se afasta da aplicação do princípio da divisibilidade;  sendo a obrigação 

indivisível, a natureza da prestação que  impede a  repartição em  tantas 

quantas sejam os sujeitos; e a obrigação solidaria, é a vontade das partes 

ou a disposição da lei que o impede. 

Todavia, vale ressaltar que, nada impede que se reúnam em uma 

mesma obrigação as qualidades da indivisibilidade e da solidariedade. 

Além disso, ocorrendo a perda da coisa, na obrigação indivisível, 

há  conversão  da  prestação  em  dinheiro  e,  consequentemente,  a 

indivisibilidade deixa de existir, ficando cada devedor responsável apenas 

por sua quota parte. Por outro lado, na solidariedade, a responsabilidade 

continua para todos os devedores, mesmo que a prestação se converta 

em perdas e danos, ou seja, segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 

133), “mesmo que a obrigação [solidária] venha a se converter em perdas 

e danos, continuará indivisível seu objeto no sentido de que não se dividirá 

entre  todos  os  devedores,  ou  todos  os  credores,  uma  vez  que  a 

solidariedade decorre da  lei ou da  vontade das partes e  independe da 

divisibilidade ou indivisibilidade do objeto”. 

Outra analogia significativa consiste no fato de que a solidariedade 

cessa com a morte, não se transmitindo aos sucessores, ao passo que a 

indivisibilidade se transmite aos sucessores como tal. 

De  acordo  com  Silvio  de  Salvo  Venosa  (2013,  p.  105),  “a 

solidariedade é artifício jurídico criado para reforçar o vínculo e facilitar a 

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solução  da  dívida”.  Complementando  tal  opinião,  Trabucchi  (apud 

Gonçalves, 2012, p. 133) afirma que a 

Solidariedade consiste em reforçar o direito do 

credor,  em  parte  como  garantia,  em  parte  como 

favorecimento  da  satisfação  do  crédito.  A 

indivisibilidade,  ao  contrário,  destina‐se  a  tornar 

possível  a  realização  unitária  da  obrigação.  A 

indivisibilidade  produz  efeitos  mais  gerais,  tanto 

quando  se  estabelece  em  favor de  vários  credores 

como em favor de vários devedores. 

Diante do exposto, após explanação doutrinária da diferenciação entre indivisibilidade e solidariedade, contemplar-se-á a seguir, através da análise de julgados, como tais institutos de diferenciam na prática.

4. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA SOBRE SOLIDARIEDADE

Ementa: APELAÇÕES. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO, EXAME, TRATAMENTO OU CIRURGIA. DEVER CONSTITUCIONAL. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO. Não há falar em carência de ação por falta de interesse de agir da parte autora, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro não exige o esgotamento da via administrativa para o ajuizamento de ação judicial. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. O juiz é livre para apreciar a prova, bestando indicar, na sentença, os motivos que lhe levaram ao convencimento (art. 131, CPC). LEGITIMIDADEPASSIVA. SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERATIVOS. A responsabilidade pelas políticas sociais e econômicas visando a garantia e o cuidado com a saúde incumbe ao Estado, em suas três esferas (municipal, estadual e federal). Há solidariedade entre os entes federativos, podendo a parte autora demandar em face de qualquer um deles. A distribuição interna de competência no Sistema Único de Saúde não afasta a responsabilidade solidária dos entes públicos. Precedentes do STJ e do TJRS. ACESSO À

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SAÚDE. DIREITO FUNDAMENTAL. Não provendo o Estado integralmente as condições necessárias ao acesso à saúde, direito fundamental do cidadão, possível a revisão dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, de modo a assegurar o cumprimento das políticas sociais de saúde, garantindo o acesso universal e igualitário. NECESSIDADE. COMPROVAÇÃO. Demonstrada a necessidade dos medicamentos postulados pela parte autora. PROTOCOLO CLÍNICO. REQUISITOS. INEXIGIBILIDADE. COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE. Caso concreto em que restou comprovada necessidade do tratamento pleiteado, o que afasta a exigência dos requisitos previstos no Protocolo Clínico do Ministério da Saúde. HONORÁRIOS DEVIDOS À DEFENSORIA PÚBLICA. CONDENAÇÃO DO MUNICÍPIO. É devida a condenação do Município ao pagamento de honorários advocatícios à Defensoria Pública, destinados ao FADEP. RECURSOS A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. FORTE ART. 557, CAPUT, DO CPC. (Apelação Cível Nº 70043534379, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em 06/11/2013).

 Trata‐se de um caso em que o autor pleiteou no  judiciário com 

uma ação ordinária pedindo  tutela antecipada, postulando necessidade 

de medicamentos. Comprovando a sua necessidade para o  tratamento, 

ingressou contra o município de Alvorada e o Estado do Rio Grande do Sul, 

o  autor  exige  o  fornecimento  de  forma  gratuita  dos  medicamentos 

receitados.  Todavia,  o  magistrado  deixou  de  condenar  o  Estado  ao 

pagamento,  devendo  o  município  arcar  com  as  despesas.  Esse, 

inconformado, alegou não poder figurar como polo passivo da demanda. 

A sentença  final determinou que há solidariedade entre as  três esferas 

governamentais (Municipal, Estadual e Federal), podendo a parte autora 

demandar em face de qualquer um deles. Vale salientar que se trata de 

um caso de solidariedade passiva resultante da lei, ou seja, a parte autora 

poderia  ter  entrado  contra  as  três  esferas  Estaduais  junta  ou 

separadamente,  uma  vez  que  cada  uma  delas  possui  responde  pela 

integralidade do compromisso.

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5. JURISPRUDÊNCIA COMENTADA SOBRE INDIVISIBILIDADE

Ementa:  AÇÃO  DE  PREFERÊNCIA  JULGADA  PROCEDENTE. 

APLICABILIDADE  DO  ART.  504  DO  CC/02.  PROCEDÊNCIA  DO  PEDIDO. 

SENTENÇA CONFIRMADA. Sendo o  imóvel fisicamente  indivisível, há de 

ser  observado  o  direito  de  preferência,  não  podendo  o  condômino 

alienar  livremente  seu  quinhão  sem  dar  conhecimento  aos  demais 

condôminos.  Sentença  mantida.  APELO  DESPROVIDO.  UNÂNIME. 

(Apelação  Cível Nº  70056249568,  Vigésima  Câmara  Cível,  Tribunal  de 

Justiça do RS, Relator: Rubem Duarte, Julgado em 23/10/2013).

  Trata‐se  de  uma  apelação  interposta  em  face  de  sentença  de 

procedência  de  uma  ação  ordinária  de  preferencia  de  condômino  na 

aquisição de imóvel ajuizada pelos apelados. Esse é um caso concreto de 

indivisibilidade  legal, uma vez que o acordão decidiu que não pode um 

condômino, em coisa indivisível, vender a sua parte a estranhos, se outro 

consorte  a  quiser.  Lembrando  que  há  cinco  requisitos  exigidos  para  o 

exercício  do  direito  de  preferência:  existência  de  um  condômino, 

indivisibilidade  do  imóvel,  não  conhecimento  da  venda,  reclamação 

dentro  do  prazo  e  o  depósito  do  preço.  Trata‐se  de  um  caso  de 

indivisibilidade,  em  que  esta  ocorre  em  razão  da  natureza  jurídica  do 

objeto  que,  neste  caso,  é  em  função  da  dimensão  do  objeto  não  se 

enquadrar na possibilidade de divisibilidade do mesmo.

CONCLUSÃO

Diante da análise de doutrinadores tradicionais do Direito Civil Brasileiro, pretendeu-se, seguindo a doutrina majoritária, esclarecer quais são as semelhanças e as diferenças entre os institutos da indivisibilidade e da solidariedade.

Entende-se por obrigação indivisível, conforme Duque (2009), aquela que

“Ocorre quando indivisível o seu objeto. O objeto é indivisível quando o seu fracionamento altera sua substância ou representara sensível diminuição do seu valor, exemplo disso seria a

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compra e venda de um diamante, na qual se ajusta a impossibilidade de fracionamento do objeto para que não haja a perda do seu valor”.

Percebe-se a existência de solidariedade, segundo o art. 264 do CC/02, quando há mais de um credor e/ou devedor, cada um com direito, ou obrigado à dívida toda.

Através do estudo, conclui-se que há mais diferenças que semelhanças entre os institutos, uma vez que a principal consiste na sua origem. Na solidariedade, trata-se do vínculo jurídico, enquanto que na indivisibilidade resulta-se da natureza da prestação.

Na indivisibilidade, segundo Venosa (2013, p. 104), “o credor pode exigir o cumprimento integral de qualquer dos devedores, não porque o demandado seja devedor do total, e sim porque a natureza da prestação não permite o cumprimento fracionado”. Enquanto a indivisibilidade é objetiva, a solidariedade é subjetiva.

Assim, conclui-se que são nítidas as diferenças e que nada impede que reúnam-se na mesma obrigações características das obrigações indivisíveis junto das solidárias, ao mesmo tempo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2012.

DUQUE, Bruna Lyra. Teoria geral da obrigação solidária. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 63, abril de 2009. Disponível em: < http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5908>. Acesso em: 05 de novembro de 2013.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 2: teoria geral das obrigações. 8. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2011.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 13 ed. – São Paulo: Atlas, 2013.

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O FUNDAMENTO DA SOBERANIA E A NECESSIDADE DA CRIAÇÃO DO ESTADO NO JUSNATURALISMO DE THOMAS HOBBES

FRANCISCO RENATO SILVA COLLYER: Mestrando em Democracia e Constitucionalismo. Especialista em Política, Direito Público, Direito Ambiental e Educação Ambiental. Graduado em Direito, Ciências Sociais e História.

RESUMO: O presente artigo objetiva explicitar o fundamento da soberania 

na teoria hobbesiana, ao mesmo passo em que analisa a necessidade da 

criação  do  Estado  dentro  da  concepção  jusnaturalista.  Para  tal,  foi 

utilizado o método dedutivo analítico, bem como a pesquisa bibliográfica 

e revisão teórico com exploração de autores que compartilham da mesma 

base teórica que Thomas Hobbes. Como fundamentação teórica, busca‐se 

abrigo na tese hobbesiana de que o Estado e a concentração de um poder 

absoluto e indivisível nas mãos de um soberano se justificam na condição 

de guerra de todos contra todos, o que Hobbes denominou de “estado de 

natureza”,  uma  condição  hipotética  em  que  os  homens  agem 

egoisticamente em busca de sobrevivência. 

Palavras‐Chave: Teoria do Estado, Soberania, Thomas Hobbes, Filosofia 

Política 

ABSTRACT: This paper aims to explain the foundation of sovereignty in the 

Hobbesian theory, the same step in analyzing the need for state creation 

within  the  natural  law  conception.  For  this,  we  used  the  analytical 

deductive  method,  as  well  as  literature  and  theoretical  review  with 

exploitation of authors who share the same theoretical basis that Thomas 

Hobbes. As a theoretical framework, seek shelter in the Hobbesian thesis 

that the state and the concentration of absolute and undivided power in 

the hands of a sovereign justified in the condition of war of all against all, 

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what Hobbes called the "state of nature " a hypothetical condition where 

men act selfishly looking for survival. 

Key‐Words:  State  theory  ,  sovereignty  ,  Thomas  Hobbes  ,  Political 

Philosophy. 

 Considerações iniciais

A  relevância  de  se  resgatar  as  leituras  de  Thomas  Hobbes  no 

contexto  contemporâneo  se  justifica  na  forma  com  que  ele  tratou  a 

necessidade de um Estado soberano como  forma de manter a paz civil. 

Aos olhos imaturos, esse resgate de Hobbes não é de grande valor. Porém, 

basta uma  segunda  leitura, ou uma  leitura mais atenta, em  suas obras 

para  perceber  a  relevância  deste  autor,  vez  que  Hobbes  desatrelou  o 

poder do rei a uma fundamentação divina, muito presente no contexto da 

época. 

Comumente associado ao absolutismo, Hobbes conceber a ideia de 

que um indivíduo nunca renuncia seu direito à vida. Atacado por liberais e 

totalitários, o filósofo se tornou um defensor da liberdade de cada um. 

Com  o  intuito  de  proceder  da melhor maneira  possível  com  a 

exposição do tema, o método utilizado para a realização da pesquisa foi o 

analítico, fazendo uso da pesquisa bibliográfica como técnica de pesquisa 

e revisão teórica com explanação de autores que compartilham da mesma 

base teórica que Thomas Hobbes e de outros que divergem. 

Nascido  em  1588,  no  condado  de Wiltshire,  Inglaterra,  Thomas 

Hobbes é um  filósofo  conhecido no mundo  jurídico por  inaugurar uma 

tradição  contratualista  constituída  na  construção  filosófica  Estado  de 

Natureza,  Contrato  Social  e  Estado  Político.  É  referência  obrigatória 

quando se aborda a noção de soberania do Estado Moderno[1], vez que 

trata de uma espécie especial de poder, um poder político, originário e 

fundador da  concepção de uma  sociedade organizada por uma pessoa 

jurídica abstrata na  figura do Leviatã[ ], materializada por um governo 

que pode ser constituído tanto por apenas um soberano (aqui estaremos 

diante  de  uma  monarquia),  ou  por  uma  assembleia  de  homens 

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(aristocracia ou mesmo uma democracia). É de Hobbes a ideia de que o 

direito à vida é um direito natural  inalienável e que deve ser protegido 

acima  de  qualquer  outro  direito.  Este,  por  sinal,  é  o  fundamento  da 

existência de um contrato, artificial, estabelecido entre soberano e súditos 

ou Estado e sociedade. 

Cabe aqui uma análise, mesmo que singela, da vida deste brilhante 

pensador, antes de adentrarmos em suas teorias e no cerne do presente 

estudo. 

Thomas  Hobbes  é  considerado  um  dos  maiores  pensadores 

políticos da Inglaterra. Conhecido por ser um sujeito alto, rosto corado e 

barba rala, quando criança foi muito doente. Na fase adulta, entretanto, 

foi um esportista, e jogou tênis até ficar velho. Levava uma vida saudável, 

com uma alimentação à base de peixe e vinho. Costumava andar com uma 

bengala especial, que tinha um tinteiro na ponta, caso tivesse alguma ideia 

enquanto  realizava  suas  matinais  caminhadas.  Como  a  maioria  dos 

filósofos, Hobbes tinha uma mente dinâmica, vivendo até os 91 anos de 

idade, um grande feito para o século XVII, em que a expectativa de vida 

era de 35 anos[3]. 

Dono de uma mente genial, Hobbes possuía uma visão negativa dos 

seres humanos, acreditando que todos são egoístas e movidos pelo medo 

da morte, pela insegurança e pela busca de interesses próprios. É dele a 

ideia de que vivemos num constante estado de guerra, numa guerra de 

todos contra  todos. E num mundo onde  todos são egoístas, somente o 

Estado de Direito, através da ameaça de punição, seria capaz de manter o 

controle social. A  frase “o homem é o  lobo do homem”, que se  tornou 

famosa pelo filósofo inglês, foi usada para explicar que o maior inimigo do 

homem  é  o  próprio  homem.  Explico.  Hobbes  usou  essa metáfora  do 

homem  como  animal  selvagem para  indicar que o  homem  é  capaz de 

praticar  atos  de  barbárie  contra  os membros  de  sua  própria  espécie 

quando se encontra num estado de medo e insegurança[4]. 

A  frase  é,  originalmente,  de  autoria  de  Tito  Mácio  Plauto, 

dramaturgo  romano que  viveu durante o  período  republicado. A  frase 

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ganhou  notoriedade  por  estar  presente  na  obra O  Leviatã,  escrita  por 

Hobbes, publicada em 1651. 

O  Estado  de  Natureza  hobbesiano  parte  da  ideia  de  que  o  ser 

humano é um  indivíduo  isolado, e que preexiste à própria sociedade[5]. 

Hobbes nega a concepção aristotélica do zoon politikon, não aceitando 

que o homem seja um animal político, como é demonstrado na passagem 

de Do Cidadão: 

  

A maior parte daqueles que escreveram alguma 

coisa  a  propósito  das  repúblicas  ou  supõe,  ou  nos 

pede  ou  requer  que  acreditemos  que  o  homem  é 

uma  criatura que nasce  apta para  a  sociedade. Os 

gregos  chamam‐no  zoon  politikon;  e  sobre  este 

alicerce  eles  erigem  a  doutrina  da  sociedade  civil 

como  se,  para  se  preservar  a  paz  e  o  governo  da 

humanidade, nada mais fosse necessário do que os 

homens concordarem em firmar certas convenções e 

condições em comum, que eles próprios chamariam, 

então,  leis. Axioma este que, embora acolhido pela 

maior parte, é contudo sem dúvida falso – um erro 

que procede de considerarmos a natureza humana 

muito superficialmente[6]. 

Segundo o filósofo, os homens não possuem prazer algum em estar 

na companhia dos seus semelhantes, vez que esta gera desconfiança e 

disputa,  em  que  cada  indivíduo  visa  a  apenas  a  satisfação  de  suas 

vontades.  A  natureza  humana  os  revela  solitários  e  egoístas.  Hobbes 

apresenta  os  seres  humanos  como  agentes  racionais  preocupados  tão 

somente em maximizar seu poder a agir mediantes seus  interesses, vez 

que agir de forma contrária colocaria em risco sua autopreservação. 

Os  homens  não  tiram  prazer  algum  da 

companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um 

enorme  desprazer),  quando  não  existe  um  poder 

capaz de manter a todos em respeito. Porque cada 

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um  pretende  que  seu  companheiro  lhe  atribua  o 

mesmo  valor  que  ele  se  atribui  a  si  próprio  e,  na 

presença  de  todos  os  sinais  de  desprezo  ou  de 

subestimação, naturalmente  se esforça, na medida 

em que a tal se atreva (o que, entre os que não têm 

um poder comum capaz de os submeter a todos, vai 

suficientemente longe para levá‐los a destruir‐se uns 

aos  outros),  por  arrancar  de  seus  contendores  a 

atribuição de maior valor, causando‐lhes dano, e dos 

outros também, através do exemplo[7].  

Cabe  destacar  que,  para  Hobbes,  os  homens  são  naturalmente 

livres, vez que suas ações não estão sob o constrangimento de ninguém. 

Para o filósofo inglês, “liberdade significa, em sentido próprio, a ausência 

de  oposição  (entendendo  oposição  os  impedimentos  externos  do 

movimento)”[8]. A natureza torna os homens independentes em relação 

aos outros  indivíduos. Assim, a ação humana toma por base somente o 

interesse próprio de cada um, desprezando os direitos alheios. 

No  Estado de Natureza de Hobbes  a noção de bem ou mal não 

existe, vez que  inexiste a possibilidade de se pensar a conduta humana 

dentro do âmbito social, já que os homens não precisam uns dos outros, 

é  dizer,  sua  existência  não  necessita  de  qualquer  interação.  Não 

encontramos noções de Direitos, costumes ou mesmo sociabilidades em 

geral, já que tais institutos podem existir somente a partir da instituição 

da  própria  sociedade.  No  estado  de  natureza,  portanto,  a  liberdade 

humana não sofre qualquer constrangimento ou limitação, a não ser por 

uma força maior. Neste sentido: 

Desta guerra de todos contra todos também isto 

é  consequência:  que  nada  pode  ser  injusto.  As 

noções de bem e de mal, de  justiça e  injustiça, não 

podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não 

há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a 

força  e  a  fraude  são  as  duas  virtudes  cardeais.  A 

justiça e a  injustiça não fazem parte das faculdades 

do  corpo ou do  espírito.  Se  assim  fosse, poderiam 

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existir num homem que estivesse sozinho no mundo, 

do mesmo modo que  seus  sentidos e paixões.  São 

qualidades  que  pertencem  aos  homens  em 

sociedade, não na solidão[9]. 

Assim,  o  Estado  de  Natureza  hobbesiano  proporciona  total 

igualdade e  liberdade  (ilimitadas) entre os  indivíduos. Como não há  leis 

pré‐estabelecidas, não há que se  falar em  regramento social, e a única 

forma de se regrar as condutas dos homens é por meio da força. Quando 

dois  homens  desejam  a  mesma  coisa  que  se  encontra  disponível  na 

natureza a ocorre uma disputa, vez que ambos possuem o direito a todas 

as coisas em função de suas irrestritas liberdades e igualdades[10]. 

Para Hobbes, o  fato do  indivíduo  ter direito a  tudo no Estado de 

Natureza  é  uma  desvantagem,  pois  isso  gera  um  constante  estado  de 

disputa entre os homens, o que ele próprio chamou de “guerra de todos 

contra  todos”,  situação  que  será  analisada  de  modo  específico  mais 

adiante. 

 Sobre o Contratualismo 

Grosso modo, são chamados de contratualistas os pensadores que 

basearam suas teorias na ideia de que a origem da sociedade e do poder 

político está num contrato, espécie de acordo tácito ou explícito entre um 

governante e aqueles que aceitam fazer parte dessa sociedade e submeter 

a esse poder. Mesmo não sendo uma posição somente dos pensadores 

modernos, o contratualismo adquiriu o status de um movimento teórico 

graças às contribuições dos filósofos modernos Hobbes, Locke e Rousseau. 

Ainda  que  esses  autores  não  partilhem  de  ideias  políticas 

semelhantes  e  tradições  iguais, os  três partilham uma  sintaxe  comum, 

qual  seja, a  “necessidade de basear as  relações  sociais e políticas num 

instrumento de racionalização, o direito, ou de ver no pacto a condição 

formal  da  existência  jurídica  do  Estado”[11].  A  tese  da  origem  da 

sociedade política em um contrato  implica dizer que a  sociedade é um 

artifício, é dizer, uma associação em que os homens não são naturalmente 

conduzidos por suas paixões e vontade, pelo contrário, estão inseridos de 

modo não espontâneo dentro da coletividade. 

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Um ponto chave dentro do contratualismo é a diferença entre o 

estado de natureza e o estado civil, pois  indica  justamente o momento 

anterior e posterior à  implementação do corpo político, permitindo que 

se retire de uma descrição do estado de natureza os motivos que explicam 

essa  implementação. Com a tese contratualista, temos que a política se 

funda sobre uma relação jurídica, vez que o contrato dá início à associação 

política, é dizer, representa um ato jurídico em que as partes contratantes 

estabelecem direitos e deveres  recíprocos. Para a  teoria contratualista, 

essa sociedade política se funda não apenas sobre uma relação  jurídica, 

como também se diferencia das demais formas de comunidade. 

Como  base  jurídica  para  sua  fundamentação,  o  contratualismo 

aproveita  a  tradição  do  direito  natural  aristotélico,  iniciada,  entre  os 

modernos,  por Grotius  e  Pufendorf,  que  influenciaram  diretamente  os 

pensadores contratualistas  já descritos aqui. Nesse sentido, a noção de 

um direito natural pressupõe a existência de determinados padrões de 

legitimação  das  relações  políticas  preexistentes  a  essas  relações  ou 

mesmo que independem delas para se fazer valer. 

Ainda para os contratualistas, o poder político ou as  relações de 

poder de natureza política se vinculam à noção de contrato, devendo ser 

por ele  legitimados. O pressuposto comum é que o poder político, para 

ser  legítimo,  deve  ser  pensado  como  se  tivesse  instituído  por  um  ato 

contratual, mesmo que, de fato, não tenha sido, tendo o poder político 

natureza  legitimável,  prolongando,  assim,  a  tradição  jusnaturalista 

clássica. 

Em  todos  os  contratualistas,  encontramos  o  ponto  de  vista 

normativo como um ponto comum, mesmo que alguns adotem diferentes 

graus de idealização da política. Para Hobbes, é possível legitimar, através 

de sua teoria, qualquer poder de  fato  instituído, enquanto Locke pensa 

que alguns são legitimáveis e outros não. Já Rousseau, defende a tese de 

que poder de  fato algum corresponde à  ideia de como o poder político 

deve  realmente  ser.  Para  este,  o  contrato  opera  pelo  modo  como 

medimos  o  grau  de  legitimidade  das  instituições  históricas  em 

contraposição ao modo como elas são de verdade[12]. 

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Para Hobbes, desta guerra de  todos  contra  todos nada pode  ser 

injusto. O contrato, entretanto, não é imutável ou mesmo eterno. Para o 

filósofo, a obrigação dos súditos para com o soberano tem razão de existir 

somente enquanto este é capaz de protegê‐los. 

Como  já  visto,  Hobbes  apresenta  a  justificação  do  contrato  na 

necessidade  de  existir  um  poder  centralizador  que  esteja  acima  dos 

interesses  próprios  de  cada  indivíduo,  com  o  objetivo  de  controlar  o 

instinto destrutivo dos seres humanos. Nesse cenário, o Estado surge para 

inibir esse instinto de sobrevivência existente nos homens e garantir a paz 

social e a preservação da vida dos indivíduos. Mas para que esse cenário 

seja  completo,  os  súditos  devem  aderir  ao  contrato  e  transferir  ao 

soberano amplos, ilimitados e indivisíveis poderes, abrindo mão até de sua 

liberdade em troca de segurança. 

Para o filósofo John Locke (1632‐1704), a existência do Estado se 

deve mais à necessidade de existir uma instância que se encontre acima 

do  julgamento parcial e egoísta de cada cidadão do que a condição de 

selvageria dos homens. Para o filósofo,  o Estado deve preservar o direito 

individual à liberdade e à propriedade privada. Nesse sentido, as leis não 

devem ser fruto da vontade unilateral e pessoal do governante, mas de 

uma Assembleia. Locke é opositor do absolutismo, da tiraria e da tese de 

que as pessoas já nascem com uma aptidão inata de governar. 

Já o filósofo suíço Jacques Rousseau (1712‐1778) defende que o ser 

humano é bom em sua essência e que a soberania pertence ao povo, e 

dele  emana  o  poder.  Esse  poder  deve  ser  exercido  pelo  soberano  em 

nome  do  povo,  vez  que  o  governante  é  um  representante  do  povo, 

recebendo  o  poder  por  delegação  para  exercê‐lo  em  nome  da 

coletividade.  Para  Rousseau,  o  Estado  tem  origem  no  contrato  social 

formado  entre os  cidadãos  livres que  renunciaram  suas  vontades para 

garantir o que ele denominou devontade geral[13]. A  ideia de vontade 

geral  propõe  que  os  indivíduos  devem  abrir mãos  de  suas  liberdades 

individuais em prol da comunidade. Nesse sentido, deve haver  leis que 

restrinjam o comportamento dos indivíduos. 

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A ideia de vontade geral propõe que os indivíduos devem abrir mão 

de muitas liberdades individuais em prol da comunidade. Nesse sentido, 

deve  haver  leis  que  restrinjam  o  comportamento  das  pessoas.  Para  o 

filósofo, as concepções de liberdade e obediência às leis do Estado não se 

anulam, pelo contrário, complementam‐se, pois quando os indivíduos se 

agrupam em sociedade, acabam por formar um novo tipo de pessoa, em 

que cada cidadão faz parte de um todo maior em relação à individualidade 

de cada um. 

 Do cruel estado de natureza (e a segurança de cada um) ao Estado 

Político 

Para Hobbes, a guerra é justificada em duas principais razões, quais 

sejam, a cobiça de alguns de quererem tudo para si próprios e a vigilância 

daqueles que possuem os objetos que são cobiçados pelos outros. Nesse 

sentido, o estado de natureza é um estado de permanente guerra que 

gera  insegurança nos  indivíduos. Em virtude disso, os homens, num ato 

racional e de  liberdade, decidem sair do estado natural de segurança e 

firmar um contrato para ingressar no Estado Político. 

Na  lógica  hobbesiana,  os  desejos  humanos  são  experimentados 

como verdadeiros medos e desconfortos a serem sanados, e é por esse 

motivo que os homens agem, para aliviar este desconforto e promover 

seu bem estar. Então, toda ação humana, toda sua escolha e vontade, na 

verdade, são naturalmente  inclinadas a aliviar as pressões físicas do seu 

corpo.  Este  princípio  da  física  de  Hobbes  reflete  diretamente  em  seu 

pensamento político, pois o estado de natureza é o ápice dos desejos e 

dos apetites humanos. Junto com os desejos, entretanto, vem o medo de 

cada indivíduo acerca de como conservar sua própria existência. 

Tanto pelo prisma da física, quanto pelo da filosofia política, Hobbes 

parte da  ideia de que os corpos são  independentes entre si, em que os 

homens  têm  uma  existência  naturalmente  à  parte  dos  outros  corpos. 

Hobbes  usa  isso  para  refutar  a  tese  aristotélica  doanimal  político[ ]. 

Contudo,  essa  individualidade  e  egocentrismo  fazem  com  que  os 

indivíduos, de maneira racional, passem a viver em sociedade para manter 

a  própria  vida. Os  indivíduos  escolhem  então  viver  num  agrupamento 

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social não pelo bem  comum ou pela  sua natureza, mas  em  função do 

desenho de continuarem vivos. 

O contrato social, então, não representa um resultado natural da 

convivência  entre  os  homens, mas  é  artificial.  O  desejo  de  viver  em 

sociedade é fruto do medo que os homens possuem uns dos outros, do 

seu próprio lobo (para usar uma expressão hobbesiana). Para Hobbes: 

Os  homens  não  podem  esperar  uma 

conservação duradoura se continuarem no estado de 

natureza,  ou  seja,  de  guerra,  e  isso  devido  à 

igualdade de poder que  entre  eles há,  e  as outras 

faculdades com que estão dotados. Por conseguinte 

o ditado da reza razão – isto é, a lei de natureza – é 

que  procuraremos  a  paz,  quando  houver  qualquer 

esperança de obtê‐la, e, se não houver nenhuma, que 

nos preparemos para a guerra[15].  

Quando os pactuantes ingressam no Estado político, abrem mão de 

suas irrestritas liberdades em troca da defesa de suas vidas. Para Hobbes, 

“aquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e dele diz que 

possui  poder  soberano.  Todos  os  restantes  são  súditos”[16]. O  Estado 

passa  a  ser  o  centralizador  das  decisões  públicas,  e  responsável  pela 

promoção da segurança dos cidadãos. 

 O fundamento do poder soberano em Hobbes 

Conforme  já  ponderado,  os  seres  humanos,  ao  ingressarem  no 

Estado político, instituem o poder absoluto, que é soberano e indivisível, 

exercido por um único homem ou por uma assembleia de homens. Os 

súditos  entregam  ao  Leviatã  suas  liberdades  em  troca  da  segurança, 

proporcionada por  intermédio do Contrato estabelecido  racionalmente 

por causa do medo da morte certa no estado de natureza. Nesse sentido, 

“a origem de todas as grandes e duradouras sociedades não provém da 

boa vontade recíproca que os homens tivessem uns para com os outros, 

mas do medo recíproco que uns tinham dos outros”[17]. 

Para Hobbes: 

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Aqueles que já instituíram um Estado, dado que 

são obrigados pelo pacto a reconhecer como seus os 

atos  e  decisões  de  alguém,  não  podem 

legitimamente  celebrar  entre  si um novo pacto no 

sentido de obedecer a outrem, seja no que for, sem 

sua licença. Portanto, aqueles que estão submetidos 

a  um  monarca  não  podem  sem  licença  deste 

renunciar à monarquia, voltando à confusão de uma 

multidão  desunida,  nem  transferir  sua  pessoa 

daquele que dela é portador para outro homem, ou 

outra assembleia de homens.  

Convém destacar que o pacto para a instituição do Estado politico 

é  um  ato  propriamente  humano,  não  havendo  que  se  falar  em  pacto 

divino.  A  monarquia  hobbesiana  não  tem  por  fundamento  preceitos 

religiosos ou místicos. A vida em sociedade é resultado da vontade estrita 

dos  indivíduos,  que  temem  as  atitudes  de  seus  semelhantes.  É  nesse 

ponto  que  Hobbes  deixa  claro  sua  reprovação  no  que  tange  a  outras 

formulações  filosóficas da época, que defendiam o poder absoluto dos 

monarcas  tendo por base o  fundamento divino de poder[18]. Para ele, 

“esta pretensão de um pacto com Deus é uma mentira tão evidente (...) 

que não constitui apenas um ato injusto, mas também um ato próprio de 

um caráter vil e inumano”[19]. 

O  poder  absoluto  do  soberano  se  fundamenta,  assim,  na 

representação que este exerce perante os membros da sociedade. Para 

Hobbes, essa representação é fiduciária, vez que está atrelada à garantia 

do soberano de manter a paz e a segurança dos contratantes, os súditos. 

As ações do governante são justificadas na busca pela autopreservação. 

Aqui merecem destaque dois importantes aspectos. O primeiro se 

refere  ao  fato de que o  soberano não pode  ser  acusado por qualquer 

súdito de cometer  injustiça. Uma vez que o governante exerce o poder 

político em nome de todos os indivíduos, todos os atos do soberano são 

atos de seus próprios súditos, em nome de seus interesses, pelo princípio 

da  representação. Hobbes então declara que o  soberano não pode  ser 

injusto com qualquer súdito pois não é possível que alguém seja  injusto 

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consigo mesmo. Assim, a vontade do soberano é a vontade de todos os 

indivíduos e todos os súditos tem suas vontades expressas pelas  leis do 

governante, daí a impossibilidade de haver injustiça. 

Dado  que  todo  súdito  é  por  intuição  autor  de 

todos  os  atos  e  decisões  do  soberano  instituído, 

segue‐se  que  nada  do  que  este  faça  pode  ser 

considerado  injúria  para  com  qualquer  de  seus 

súditos,  e  que  nenhum  deles  pode  acusa‐lo  de 

injustiça. Pois quem faz alguma coisa em virtude da 

autoridade  de  um  outro  não  pode  nunca  causar 

injúria  àquele  em  virtude  de  cuja  autoridade  está 

agindo.  Por  esta  instituição  de  um  Estado,  cada 

indivíduo é autor de  tudo quanto o soberano  fizer, 

por  consequência  aquele  que  se  queixar  de  uma 

injúria  feita por  seu  soberano estar‐se‐á queixando 

daquilo  de  que  ele  próprio  é  autor,  portanto  não 

deve acusar ninguém a não  ser a  si próprio; e não 

pode acusar‐se a si próprio de injúria, pois causar a si 

próprio é impossível[20]. 

O segundo ponto relevante se refere ao fato de que o soberano não 

tem  obrigação  de  cumprir  a  lei.  Nesse  sentido,  ele  se  encontra 

constantemente  em  estado de natureza perante  seus  súditos, ou  seja, 

desobrigado ao cumprimento de qualquer mandamento imposto por ele 

próprio. A  justificativa está no fato do contrato ter sido celebrado pelos 

indivíduos entre si e entre os homens e o soberano,  já que este é uma 

criação pós‐contrato. Assim, o soberano não pode obedecer aquilo que 

não pactuou. Pelo princípio da representação, as leis obrigam os súditos, 

mas nunca quem as criou, que goza de ilimitada liberdade. 

O  soberano  de  um  Estado,  quer  seja  uma 

assembleia ou um homem, não se encontra sujeito às 

leis civis. Dado que tem o poder de fazer e revogar as 

leis,  pode  quando  lhe  aprouver  libertar‐se  dessa 

sujeição, revogando as leis que o estorvam e fazendo 

outras  novas;  por  consequência  já  antes  era  livre. 

Porque é livre quem pode ser livre quando quiser. E 

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a  ninguém  é  possível  estar  obrigado  perante  a  si 

mesmo,  pois  quem  pode  obrigar  pode  libertar, 

portanto  quem  está  obrigado  apenas  perante  si 

mesmo não está obrigado[21].  

Pelo  princípio  da  representação,  o  soberano  é  responsável  pela 

promoção da justiça e da paz. O Direito exerce um papel ímpar na teoria 

de Hobbes, vez que é a partir do conjunto de leis criadas pelo Estado que 

será possível a promoção da  justiça. Nesse  sentido, Hobbes entende o 

Direito como uma condição essencial para se chegar aos objetivos sociais 

e não apenas como um caminho em direção à  justiça ou à moralidade. 

Como os objetivos de paz e  segurança  são  construtos de  comunidades 

politicamente organizadas e não imanentes do espírito humano, o direito 

hobbesiano se encontra totalmente concentrado nas mãos do soberano, 

seja na sua elaboração, seja na administração da justiça, através da ação 

do judiciário. 

As  leis mencionadas na obra O Leviatã devem ser vistas de forma 

ampla, envolvendo, ao mesmo  tempo,  leis de  viés  tanto público  como 

privado. Hobbes declara que “o conhecimento da lei civil é de caráter geral 

e compete a todos os homens. A antiga lei de Roma era chamada sua lei 

civil, da palavra civitas, que significa Estado”[22]. Hobbes define a lei civil 

da  seguinte  maneira:  “a  lei  civil  é,  para  todo  súdito,  constituída  por 

aquelas regras que o Estado lhe impõe, oralmente ou por escrito, ou por 

outro sinal suficiente de sua vontade, para usar como critério de distinção 

entre  o  bem  e  o mal;  isto  é,  do  que  contrário  ou  não  é  contrário  à 

regra”[23]. 

É  importante notar nessa passagem que Hobbes declara que, em 

última análise, é o Estado quem dá a  justiça e distingue o bem do mal, 

entre o que é ou não contrário à regra. Hobbes define que “em todos os 

Estados o legislador é unicamente o soberano, seja este um homem, como 

numa monarquia, ou uma assembleia, como numa democracia ou numa 

aristocracia”.[24] 

Hobbes coloca as leis civis e naturais numa mesma hierarquia, ver 

que o Estado é o próprio responsável por dar leis civis e naturais, a partir 

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da  interpretação  dos  ditamos  naturais.  O  soberano  não  está  preso  a 

qualquer lei, desde que seus atos objetivem a defesa da vida dos súditos 

a busca pela paz e ordem do Estado. Em última análise, a lei natural pode 

ser limitada pela civil: 

A  lei  civil  e  a  lei  natural  não  são  diferentes 

espécies, mas diferentes partes da lei, uma das quais 

é escrita e se chama civil, e a outra não é escrita e se 

chama natural. Mas o direito de natureza,  isto é, a 

liberdade  natural  do  homem,  pode  ser  limitado  e 

restringido pela lei civil; mais, a finalidade das leis não 

é  outra  senão  essa  restrição,  sem  a  qual  não  será 

possível haver paz. E a  lei não foi trazida ao mundo 

para nada mais senão para limitar a liberdade natural 

dos  indivíduos,  de  maneira  tal  que  eles  sejam 

impedidos de causar dano uns aos outros, e em vez 

disso se ajudem e unam contra o inimigo comum[25]. 

A possibilidade de restrição da lei natural pela civil se fundamenta 

no momento do Contrato, vez que no estado de natureza a vida (fundada 

na  absoluta  liberdade,  ausência  de  oposição  dos  demais  homens  e  na 

igualdade) tem como reflexo natural a guerra constante dos homens entre 

si e isso deve ser reprimido para que a paz e a segurança sejam alcançadas. 

Sob esse prisma, o direito de natureza pode e deve sofrer limitação, vez 

que a instituição do Estado é o marco limítrofe para o uso deste direito. 

Apenas o que é pactuado, o que é artificial pode garantir a paz, pois a 

natureza egoísta dos indivíduos não é capaz de alcançá‐la. 

 Conclusões 

Seria muita pretensão querer, nestas poucas linhas, concluir todo o 

espírito  inovador  de  Thomas  Hobbes,  assim  como  depreender  o 

significado  de  suas  obras  no  respectivo  período  em  que  viveu. 

Certamente, o estudo e  reflexão de  suas obras ainda  tem muito a nos 

ensinar. O objetivo dessa abordagem foi trazer à lume a teoria de um dos 

autores modernos mais  relevantes  para  a  Teoria  do  Estado  e  para  a 

Filosofia Política. 

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Hobbes  foi  um  dos  primeiros  a  abordar  a  questão  do  poder  do 

governante e do Estado desatrelado ao poder divino. Como foi abordado, 

para Hobbes, a paixão é mais forte que a vontade. Na política e na moral, 

essa premissa  resulta que os  súditos do Estado  são  individualistas e  se 

reúnem em comunidade por ser o único meio de sobreviver no que ele 

chamou de estado de natureza. Nesse estado, os homens  tem a única 

preocupação de suprir seus desejos e vontades, nem que para isso tenham 

que saquear ou matar seus semelhantes. Esse constante estado de guerra 

é abordado na obra O Leviatã, uma alegoria ao monstro bíblico explicitado 

no  livro bíblico de  Jó. Para Hobbes, o Estado é o próprio monstro, que 

governa  o  caos,  situação  em  que  os  indivíduos  abrem mãos  de  suas 

liberdade individuais em troca de segurança e paz social. No contexto do 

figura marinha, ainda que este coma alguns peixes enquanto os protege, 

o sacrifício parece valer a pena. 

Hobbes  cunhou o  termo Contrato  Social para designar o  acordo 

entre  o  governante  e  os  súditos,  que  reconhecem  a  autoridade  do 

soberano, fazedor das  leis e único capaz de fazer respeitar o contrato e 

garantir a segurança e a paz entre os  indivíduos. Com  isso, o poder do 

soberano  se  fundamenta na  representação que este exerce perante os 

súditos.  Para  Hobbes,  essa  representação  é  fiduciária,  vez  que  está 

vinculada  a  garantia do  soberano de  garantir  a paz  e  a  segurança dos 

contratantes.  As  ações  do  governante  são  justificadas  na  busca  pela 

autopreservação. 

Assim,  para  Hobbes,  para  que  a  sociedade  seja  construída  é 

necessário  que  os  membros  da  coletividade  abram  mãos  de  suas 

liberdades  (é  dizer,  a  vontade  de  satisfazer  seus  próprios  desejos  no 

estado natural) e estabeleçam um acordo mútuo entre si. Outro ponto 

relevante  da  filosofia  hobbesiana  é  que  o  soberano  não  é  obrigado  a 

cumprir a lei. Nesse sentido, ele se encontra constantemente em estado 

de natureza perante seus súditos, ou seja, desobrigado ao cumprimento 

de qualquer mandamento imposto por ele próprio. A justificativa está no 

fato do  contrato  ter  sido  celerado pelos  indivíduos entre  si e entre os 

homens e o soberano, já que este é uma criação feita depois do contrato. 

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Assim,  em  Hobbes,  podemos  entender  a  soberania  como  a 

capacidade do  Estado  à  auto  vinculação e  auto determinação  jurídicas 

exclusivas. É dizer, a soberania é expressa, internamente, na supremacia 

do Estado em sobrepor seu poder aos demais poderes sociais. Os demais 

poderes  ficam  subordinados  ao  poder  estatal. O  que  está  em  foco  na 

teoria hobbesiana não  é poder do  governante, mas  sim o  conceito da 

soberania do Estado. 

Referências 

BOBBIO,  N.;  MATTEUCCI,  N.;  PASQUINO,  G.  (ed.).  Dicionário  de 

Política. Brasília: UnB, 2010. 

BOBBIO,  Norberto.  Liberalismo  e  democracia.  3.  ed.  São  Paulo, 

Brasiliense, 1990. 

COLLYER, Francisco Renato Silva. Liberdade em Rousseau: Nascemos 

livres, mas vivemos presos na sociedade? Boletim Conteúdo  Jurídico, n. 

421, ano VII, p. 56. 

Disponível  em:  < 

http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj054238.pdf  >  ISSN:  1984‐

0454 

Acesso em 12 de março de 2016. 

FINLEY, Moses I. Democracia Antiga e Moderna. Rio de Janeiro: Braal, 

1988. 

HOBBES, Thomas. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 

HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado 

eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. 

KELLY, Paul. O Livro da Política. 1. ed. São Paulo: Globo, 2014. 

MACPHERSON, C. B. A Teoria Política do Individualismo Possessivo, de 

Hobbes até Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 

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ROSAS,  João  Cardoso  (org).  Manual  de  Filosofia  Política.  2ª  ed. 

Coimbra: Almedina, 2013. 

ROUSSEAU,  Jean  Jacques.  Do  Contrato  Social.  São  Paulo:  Nova 

Cultural, 1997. 

SKINNER, Quentin. As Funções do Pensamento Político Moderno. São 

Paulo: Companhia das Letras, 2003. 

WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Porto Alegre: 

L&PM, 2014. 

WEFFORT, Francisco Correa (org). Os Clássicos da Política. São Paulo: 

Ática, 1995. 

NOTAS:

[1] Hobbes foi o primeiro filósofo político a justificar o poder dos reis com uma base racional. Até então, o direito dos reis tinha origem divina. As teorias presentes na obra O Leviatã eliminam a hipótese do poder divino e promovem a separação entre poder divino e secular. Para que o contato social funcione é preciso que exista um governo absoluto, daí porque Hobbes vai em defesa da monarquia.

[2] A figura do Leviatã proposta por Thomas Hobbes é uma referência ao monstro bíblico do livro de Jó, descrito como o mais terrível dos monstros marinhos: “Quando se levanta, tremem as ondas, as vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha; o bronze, pau podre. A flecha não o faz fugir, as pedras da funda são palhinhas para ele. O martelo lhe parece um fiapo de palha; ri-se do assobio da azagaia. Seu ventre é coberto de cacos de vidro pontudos, é uma grade de ferro que se estende sobre a lama. Faz ferver o abismo como uma panela, faz do mar um queimador de perfumes. Deixa atrás de si um sulco brilhante, como se o abismo tivesse cabelos brancos. Não há nada igual a ele na terra, pois foi feito para não ter medo de nada; afronta tudo o que é elevado, é o rei dos mais orgulhosos animais” (In: Livro Bíblico de Jó, capítulo 41, versos 25 a 34). No contexto do monstro marinhoLeviatã, ainda que este coma alguns peixes enquanto os protege, o sacrifício vale a pena.

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[3] WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 64.

[4] Diversos pensadores acreditavam que, analisando os instintos e comportamentos humanos, seriam capazes de desenvolver um sistema de governo que satisfizesse as necessidades dos cidadãos e promovesse bons comportamentos para, assim, combater os maus comportamentos humanos. Deste modo, se os indivíduos fossem capazes de conceber além de seus próprios interesses e trabalhassem para o bem público, eles poderiam gozar dos benefícios dos direitos democráticos. Em contrapartida, se ainda se preocupassem apenas com seus interesses, seria preciso uma autoridade forte e controladora para prevenir o caos. Thomas Hobbes foi um dos primeiros pensadores iluministas que basearam seu argumento em uma visão articulada do estado natural humano. Para Hobbes, os indivíduos precisavam ser governados, vez que esse estado natural era terrível, um mundo onde imperava o individualismo (In: KELLY, Paul. O Livro da Política. 1. ed. São Paulo: Globo, 2014, p, 98.)

[5] Para Hobbes, o estado de natureza era algo ficcional, uma hipotética etapa da condição humana fora do convívio em sociedade. Nesse estado hipotético longe da coletividade, a condição do homem é sempre a condição de guerra, pois, sem governo, os homens aterrorizam uns aos outros e sem limites em sua incansável busca por autopreservação. Mas para que os indivíduos evitassem que o estado de natureza pudesse acontecer, era preciso aderir ao contrato social e se submetessem à autoridade de um soberano. Se este soberano, contudo, falhasse em garantir a proteção aos súditos, o contrato social seria rompido e os indivíduos poderiam agir, levanto-os de volta ao estado natural.

[6] HOBBES, Thomas. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 25.

[7] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 75.

[8] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 129.

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[9] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 77.

[10] Para Hobbes, "desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro" (In: HOBBES, Thomas.Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 74.)

[11] BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. (ed.).Dicionário de Política. Brasília: UnB, 2010. v. 1, p. 279.)

[12] Sobre o tema, para Rousseau, “as ideias de liberdade e obediência às leis estatais se complementavam. Quando os indivíduos agrupam-se em sociedade, acabam por formar um tipo de pessoa, em que cada cidadão faz parte de um todo bem maior em relação à individualidade de cada um. Para o filósofo, as pessoas seriam livres na sociedade quando estivessem sob o julgo de leis que, verdadeiramente, refletissem a vontade geral, a vontade deste corpo formado pelos cidadãos, e não a leis que beneficiassem somente a uma parcela da coletividade. Nesse contexto, o legislador teria a função de criar um sistema que permitisse que os indivíduos se mantivessem livres de acordo com a vontade geral, ao invés de buscarem suas próprias realizações às custas da perda da liberdade de outros. A verdadeira liberdade, para Rousseau, seria viver em um grupo de cidadãos que procuram agir de acordo com o interesse da coletividade, em que os desejos pessoais convergissem para o que fosse melhor para todos e que as leis evitassem que pessoas agissem de forma egoísta”. (In: COLLYER, Francisco Renato Silva. Liberdade em Rousseau: Nascemos livres, mas vivemos presos na sociedade?Boletim Conteúdo Jurídico, n. 421, ano VII, p. 56.

Disponível em: < http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj054238.pdf > ISSN: 1984-0454)

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[13] Nesse sentido, para o que não desejassem seguir o contrato, estes seriam forçados a isso, “seriam forçados a serem livres! Parece contraditório, mas para Rousseau não era. O indivíduo é forçado a ser livre quando é livre de sua própria vontade mesquinha e egoísta, quando é levado a pensar no que é melhor para todos, pois, já que vivemos em sociedade, se cada um pensar somente em si o resultado será o extermínio das relações e instituições sociais tal como as conhecemos. Assim, semelhante à ideia de heteronomia, a ideia de vontade geral pressupõe a assimilação de que os homens, para viverem em sociedade, devem aceitar as regras que lhe são impostas. Em contrapartida, essas leis devem refletir o anseio do Estado em praticar o que é melhor para todos. Quando as leis representam ou favorecem a um grupo restrito de pessoas, é aceitável que a própria sociedade, como um único corpo, admita movimentos revolucionários que objetivam resgatar o ideal de bem comum e segurança jurídica para todos, tal qual anticorpos combatem um corpo estranho presente no organismo que deseja alterar o estado normal de funcionamento do corpo humano” (In: COLLYER, Francisco Renato Silva. Liberdade em Rousseau: Nascemos livres, mas vivemos presos na sociedade? Boletim Conteúdo Jurídico, n. 421, ano VII, p. 57-58.

Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/cj054238.pdf > ISSN: 1984-0454)

[14] Ensina o filósofo: “Assim é evidente que a cidade faz parte das coisas da natureza e que o homem é naturalmente um animal político destinado a viver em sociedade. Aquele que por instinto – e não porque qualquer circunstância o inibe – deixa de fazer parte de uma cidade, é um ser desprezível ou superior ao homem” (Aristóteles. A Política. São Paulo. Ícone Editora: 2007, p. 16)

[15] HOBBES, Thomas. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 35-16.

[16] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 106.

[17] HOBBES, Thomas. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 28.

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[18] Hobbes chegou a afirmar que Deus seria um objeto físico gigantesco, embora alguns tenham interpretado isso como uma tentativa disfarçada de declarar que era, na verdade, ateu (In: WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 68)

[19] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 108.

[20] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 109.

[21] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 162.

[22] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 161.

[23] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 161.

[24] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 162.

[25] HOBBES, Thomas. Leviatã ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p, 163.

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DO EXERCÍCIO DA ADVOCACIA PELOS CONCILIADORES E MEDIADORES JUDICIAIS: UM ESTUDO À LUZ DO ART. 167, § 5º, DO CPC/2015 C/C 28, INC. IV, DA LEI N. 8.906/1994

THIAGO BORGES MESQUITA DE LIMA: Bacharel em Direito pelo Instituto Cuiabá de Ensino e Cultura. Conciliador e Advogado;

Resumo:  O  artigo  167,  parágrafo  5º,  do  Novo  CPC,  dispõe  que  os 

conciliadores e mediadores judiciais inscritos em Cadastros nacional e/ou 

do TJ/TRF estarão impedidos de exercer a advocacia perante o Juízo em 

que  desempenhe  suas  funções.  Diante  disso,  pergunta‐se:  esta  regra 

deverá  ser  aplicada  também  aos  detentores  de  cargo  público  de 

conciliador ou mediador  judicial  (Art. 167, § 6º) e aos profissionais que 

atuarem  de  forma  voluntária  (Art.  169,  §  1º)?  E  quais  os  limites  ao 

exercício  da  advocacia  dos  conciliadores  e  mediadores  judiciais  que 

atuarem apenas nos CEJUSCS´s? 

1. Introdução

A  atividade de  advocacia e os  limites éticos do  seu exercício pelos 

advogados  são  regidos  pela  Lei  nº  8.906/1994,  que  dispõe  sobre  o 

Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (EAOAB).

Os artigos 27 a 30 do EAOAB, visando evitar que a advocacia  fosse 

usada  em  desprestígio  do  interesse  da  coletividade mediante  práticas 

como tráfico de  influência e captação  indevida de clientela, criaram um 

sistema  de  vedação  ao  exercício  da  advocacia  em  dois  graus 

distintos: impedimentos e incompatibilidades. [1] 

De acordo com o artigo 27 do EAOAB, a incompatibilidadedetermina 

a proibição  total, e o  impedimento,  a proibição parcial do  exercício da 

advocacia. 

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As hipóteses de incompatibilidade estão elencadas no artigo 28, e as 

de impedimento no artigo 30, ambos do EAOAB. 

Das hipóteses de incompatibilidade, interessa‐nos a primeira parte do 

inciso IV do artigo 28, que proíbe o exercício da advocacia aos “ocupantes 

de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a qualquer órgão 

do Poder Judiciário”. 

Analisaremos, neste estudo, a possibilidade do exercício da advocacia 

pelos conciliadores e mediadores judiciais à luz do inciso IV do artigo 28 

do EAOAB e do artigo 167, parágrafo 5º, do Código de Processo Civil. 

2. Da possibilidade do exercício da advocacia pelos conciliadores judiciais antes do CPC/2015

Antes da entrada em vigor do Novo CPC (Lei nº 13.105/2015), inexistia 

norma  versando  a  respeito  da  possibilidade  do  exercício  da  advocacia 

pelos  conciliadores  e  mediadores  judiciais.  Porém,  a  Ordem  dos 

Advogados do Brasil, o Conselho Nacional de Justiça e o Poder Judiciário 

manifestaram‐se a respeito do tema, haja vista que as Leis reguladoras dos 

Juizados  Especiais permitiam o exercício da  advocacia  aos  juízes  leigos 

(Art. 7º, § Ú, da Lei nº 9.099/1995 e Art. 15, § 2º, da Lei nº 12.153/2009), 

mas nada diziam acerca da possibilidade ou não do exercício da advocacia 

pelos conciliadores judiciais. [2]

A  omissão  das  Leis  nº  9.099/1995  e  12.153/2009  a  respeito  da 

possibilidade  ou  não  do  exercício  da  advocacia  pelos  conciliadores 

judiciais dos Juizados Especiais fez surgir dúvida acerca da  incidência do 

inciso  IV do  artigo 28 do  EAOAB. Ao mesmo  tempo, não parecia  justo 

permitir  o  exercício  da  advocacia  aos  juízes  leigos  e  vedá‐lo  aos 

conciliadores,  que  desempenhavam  (e  desempenham)  atividade  mais 

simples  do  que  aqueles  profissionais.  Nesse  sentido,  é  elucidativa  a 

ementa do julgado abaixo: 

CONSTITUCIONAL.  MANDADO  DE 

SEGURANÇA.  CONCILIADOR  DE  JUIZADOS 

ESPECIAIS.  EXERCÍCIO  DA  ADVOCACIA. 

INEXISTÊNCIA DE  IMPEDIMENTO. 1. ATRAVÉS 

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DE UM COMANDO DIRIGIDO AO CASO MAIS 

COMPLEXO, DO  JUIZ LEIGO,  IMPEDINDO SUA 

MILITÂNCIA  ADVOCATÍCIA  APENAS  NO 

ÂMBITO  DOS  JUIZADOS,  PROCUROU,  A  LEI, 

ABRANGER  TAMBÉM  A  HIPÓTESE  MAIS 

SIMPLES,  DO  CONCILIADOR.  2.A 

INTERPRETAÇÃO  DA  LEI  OBEDECE  A 

PRINCÍPIOS  DE  CONSTRUÇÃO  LÓGICA, 

ALIADOS AO PRECEITO CONSTITUCIONAL DA 

ISONOMIA, NÃO SENDO RAZOÁVEL ADMITIR 

QUE, O CONCILIADOR, DESENVOLVENDO UM 

TRABALHO  MENOS  COMPLEXO,  SOFRA 

MAIORES  RESTRIÇÕES  QUE  O  JUIZ  LEIGO, 

COMPETENTE  ESTE,  ATÉ  MESMO,  PARA 

INSTRUIR  PROCESSOS  NO  ÂMBITO  DOS 

JUIZADOS. 3. APELO NÃO PROVIDO.  (TRF‐5  ‐ 

AMS: 75024 RN 2000.84.00.005627‐5, Relator: 

Desembargador  Federal Carlos Rebêlo  Júnior 

(Substituto), Data de Julgamento: 20/08/2002, 

Quarta  Turma,  Data  de  Publicação:  Fonte: 

Diário da Justiça ‐ Data: 26/12/2002 ‐ Página: 

235). – Grifo próprio [3]. 

O  tema chegou,  inclusive, a ser analisado pelo Superior Tribunal de 

Justiça. Vejamos: 

RECURSO  ESPECIAL  ‐  ALÍNEA  "A"  ‐ 

MANDADO  DE  SEGURANÇA  ‐  BACHAREL  EM 

DIREITO  ‐  NOMEAÇÃO  PARA  A  FUNÇÃO  DE 

CONCILIADOR NO  JUIZADO  ESPECIAL  CÍVEL  ‐ 

INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO 

BRASIL  ‐  POSSIBILIDADE  ‐  IMPEDIMENTO 

RELATIVO  (ART.  28  DO  ESTATUTO  DA 

ADVOCACIA E DA OAB ‐ LEI N. 8.906/94). Não 

se conforma a Ordem dos Advogados do Brasil 

‐  Seccional  do  Rio  Grande  do  Sul  com 

o decisum da Corte de origem que autorizou a 

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inscrição da  impetrante, bacharel em Direito, 

no mencionado órgão de classe, nada obstante 

exerça  a  função  de  conciliadora  do  Juizado 

Especial Cível. O bacharel em Direito que atua 

como  conciliador e não ocupa  cargo efetivo 

ou  em  comissão  no  Judiciário,  não  se 

subsume  às  hipóteses  de  incompatibilidade 

previstas  no  art.    do  Estatuto  dos 

advogados  e  da  OAB  (Lei  n.  . / ).  A 

vedação,  como  não  poderia  deixar  de  ser, 

existe tão‐somente para o patrocínio de ações 

propostas  no  próprio  juizado  especial.  Esse 

impedimento,  de  caráter  relativo,  prevalece 

para  diversos  cargos  em  que  é  autorizado  o 

exercício  da  advocacia,  a  exemplo  dos 

procuradores do Distrito Federal, para os quais 

é  defeso  atuar  nas  causas  em  que  for  ré  a 

pessoa  jurídica  que  os  remunera. 

Hodiernamente, a questão não enseja maiores 

digressões, visto que a controvérsia  já restou 

superada até mesmo no âmbito do Conselho 

Federal  da Ordem  dos  Advogados  do  Brasil. 

Recurso especial não conhecido. (STJ, Recurso 

Especial  nº  380.176‐RS  2001/0155442‐0, 

Relator: Ministro FRANCIULLI NETTO, Data de 

Julgamento:  13/05/2003,  T2  ‐  SEGUNDA 

TURMA, Data de Publicação: DJ 23/06/2003). 

– Grifo próprio. [4] 

Como  se  vê,  embora  não  existisse  lei  ordinária  permitindo 

expressamente  o  exercício  da  advocacia  pelos  conciliadores  judiciais, 

prevalecia o entendimento de que aos referidos profissionais não incidia 

a vedação do inciso IV do artigo 28 do EAOAB. Registre‐se, ainda, que este 

entendimento, resultado da análise da incidência do inciso IV do artigo 28 

do  EAOAB  aos  conciliadores  dos  Juizados  Especiais,  era  perfeitamente 

aplicável aos conciliadores judiciais que atuavam nas Varas Cíveis em geral 

(varas de família, bancária, etc.). 

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3. Conciliadores e mediadores judiciais no CPC/2015

As  formas  de  autocomposição  de  conflitos  ganham  especial 

tratamento no Novo CPC, tanto que, logo nos seus artigos iniciais (art. 3º, 

§§ 2º e 3º), dispõe o CPC/2015 que o Estado deve promover, sempre que 

possível,  a  solução  consensual  dos  conflitos,  e  que  a  conciliação  e  a 

mediação devem  ser estimuladas pelos  juízes, advogados, membros da 

Defensoria Pública e do Ministério Público.  Além disso, foi dedicado um 

capítulo  (Capítulo V, Título  I, do  Livro  I da Parte  Especial)  apenas para 

tratar da “audiência de conciliação e mediação”.

A solução consensual dos conflitos deve ser promovida pelos  juízes 

(Art.  139,  Inc.  V),  devendo  eles  inclusive,  ao  instalar  a  audiência  de 

instrução e julgamento, tentar conciliar as partes, independentemente do 

emprego anterior de outras  formas de autocomposição de  litígios  (Art. 

359, caput). [5] 

Sem embargo do dever de os juízes promoverem a autocomposição, a 

conciliação e a mediação devem ser conduzidas, preferencialmente, pelos 

conciliadores e mediadores  judiciais,  isso porque o  juiz nem sempre é a 

pessoa mais indicada para exercer tais atividades, visto que ele pode não 

ter a técnica necessária e também, na hipótese de uma participação mais 

ativa  na  tentativa  de  obter  a  conciliação  ou  a mediação,  poderá  ser 

acusado de prejulgamento. [6] 

Os conciliadores atuam preferencialmente nos casos em que não há 

vínculo anterior entre as partes, podendo sugerir soluções para o  litígio 

(Art.  165,  §  2º).  A  conciliação  é mais  adequada  para  os  conflitos  de 

interesses  que  não  envolvam  relação  continuada  entre  as  partes 

envolvidas, a exemplo de uma colisão entre veículos, em que o vínculo 

surge  justamente em  razão da  lide  instaurada, ou nos casos em que as 

partes têm um vínculo anterior pontual, como ocorre num contrato para 

prestação de um serviço. [7] 

Os mediadores, por sua vez, atuam preferencialmente nos casos em 

que  há  vínculo  anterior  entre  as  partes,  auxiliando  aos  interessados  a 

compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles 

possam,  pelo  restabelecimento  da  comunicação,  identificar,  por  si 

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próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos (Art. 165, § 

3º)  [8]. A mediação é mais  indicada para os casos em que as partes  já 

mantinham alguma espécie de vínculo continuado antes do surgimento da 

lide, o que caracteriza uma relação continuada e não apenas instantânea 

entre elas, a exemplo do que ocorre no direito de família, no direito de 

vizinhança e no direito societário. [9] 

4. O vínculo jurídico que os conciliadores e mediadores judiciais mantêm com o Poder Judiciário

Os  conciliadores  e mediadores  judiciais  foram  incluídos  no  rol  dos 

auxiliares da justiça (Art. 149).

De  acordo  com  o  CPC/2015,  o  vínculo  que  os  conciliadores  e 

mediadores  judiciais  manterão  com  o  Poder  Judiciário  (TJ  e/ou  TRF) 

poderá  ser  de  três  tipos:  )  conciliadores  e mediadores  inscritos  em 

Cadastro  Nacional  e  em  Cadastro  de  TJ  ou  TRF,  que  perceberão 

remuneração  pela  prestação  dos  seus  serviços  conforme  tabela  fixada 

pelo  Tribunal  –  art.  167,  caput  c/c  art.  169,caput;  )  conciliadores  e 

mediadores  detentores  de  cargo  público  efetivo  –  art.  167,  § 

6º;  ) conciliadores e mediadores voluntários – art. 169, § 1º. 

Discorreremos,  a  seguir,  acerca  dos  três  tipos  de  vínculos  que  os 

conciliadores e mediadores poderão manter com os Tribunais. 

.  Conciliadores e mediadores  remunerados  conforme  tabela 

fixada  pelo  Tribunal  e  parâmetro  estabelecido  pelo  Conselho 

Nacional de Justiça 

De acordo com o artigo 167, caput, do Novo CPC, os conciliadores e os 

mediadores judiciais serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro 

de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro 

de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional. 

O conciliador ou mediador judicial poderá requerer sua inscrição nos 

cadastros nacional e/ou do TJ/TRF, desde que preencha o  requisito de 

capacitação  mínima,  por  meio  de  curso  realizado  por  entidade 

credenciada,  conforme  parâmetro  curricular  definido  pelo  Conselho 

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Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça (Art. 167, § 

1º). 

O parágrafo 2º do artigo 167 do Novo CPC dispõe que a efetivação 

do registro dos conciliadores e mediadores judiciais poderá ser precedida 

de concurso público. A expressão “concurso público”, usada para designar 

a  seleção  composta  de  provas  ou  provas  e  títulos  para  o  ingresso  de 

candidatos em cargos públicos efetivos ou empregos públicos, não pode 

ser  interpretada em  seu  sentido usual no § 2º do artigo 167, pois  fora 

reservado um dispositivo legal específico (Art. 167, § 6º) para tratar dos 

conciliadores e mediadores judiciais detentores de cargo público. A nosso 

ver, o objetivo do  legislador é  facultar aos Tribunais que o  registro nos 

Cadastros seja precedido de processo seletivo, a exemplo do que ocorre 

nas contratações de estagiários do Poder Judiciário, o que é salutar para 

privilegiar o princípio da impessoalidade na Administração Pública. 

Após o registro dos profissionais nos Cadastros, o Tribunal remeterá 

ao diretor do foro da comarca, seção ou subseção judiciária onde atuará 

o  conciliador ou o mediador os dados necessários para que  seu nome 

passe a constar da respectiva lista de distribuição dos processos e casos 

que serão submetidos à conciliação e mediação, que deverá ser alternada 

e aleatória, respeitado o princípio da igualdade dentro da mesma área de 

atuação profissional (Art. 167, § 2º). 

Os  profissionais  inscritos  nos  Cadastros  a  que  se  refere  o  artigo 

167, caput, receberão pelo seu trabalho remuneração prevista em tabela 

fixada  pelo  TJ/TRF,  conforme  parâmetros  estabelecidos  pelo  Conselho 

Nacional de Justiça  (Art. 169, caput), vedada tal  forma de remuneração 

aos  conciliadores  e mediadores  judiciais  do  art.  167,  §  6º,  do  CPC. O 

Tribunal  de  Justiça  de Mato  Grosso,  por  exemplo,  regulamentando  o 

disposto no caput do artigo 169 do CPC, editou o Provimento n. 9/2016‐

CM. De  acordo  com  o  art.  1º,  §  2º  do  referido  Provimento,  as  partes 

arcarão com as despesas relativas aos honorários do mediador, exceto nos 

casos  acobertados  pela  assistência  judiciária  gratuita.  O  anexo  do 

mencionado  Provimento  estabelece  a  tabela  de  honorários  dos 

conciliadores e mediadores, fixando o pagamento dos serviços por preços 

mínimo e máximo por hora de trabalho. 

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.   Conciliadores  e mediadores  judiciais  detentores  de  cargo 

público efetivo 

Dispõe o parágrafo 6º do artigo 167 do Novo CPC: 

“O  tribunal poderá optar pela criação de 

quadro próprio de conciliadores e mediadores, 

a  ser  preenchido  por  concurso  público  de 

provas  e  títulos,  observadas  as  disposições 

deste Capítulo.” 

Conforme se nota, o TJ ou TRF poderá optar por criar cargos públicos 

efetivos de conciliadores e mediadores judiciais. 

Cargo público, segundo  José dos Santos Carvalho Filho  (2014, pág. 

615) “é o lugar dentro da organização funcional da Administração Direta 

e  de  suas  autarquias  e  fundações  públicas  que,  ocupado  por  servidor 

público, tem funções específicas e remuneração fixadas em lei ou diploma 

a ela equivalente.” 

O cargo público divide‐se em cargo efetivo e cargo em comissão. 

Cargo efetivo é aquele cujo provimento decorre de prévia aprovação 

em  concurso  público  de  provas  ou  provas  e  títulos.  Os  servidores 

nomeados para cargo de provimento efetivo adquirem estabilidade após 

três anos de efetivo exercício. 

Cargo em comissão é aquele de livre provimento e exoneração. 

Por conta da expressa menção a “concurso público de provas ou de 

provas e títulos”, contida no parágrafo 6º do artigo 167, não poderá ser 

criado cargo comissionado de conciliador ou mediador judicial, até mesmo 

porque  as  atividades  de  conciliação  e  mediação  não  podem  ser 

consideradas como de direção, chefia e assessoramento. [10] 

De  acordo  com  o  parágrafo  4º  do  artigo  7º  da  Resolução  nº 

125/2010,  a  criação  de  cargos  públicos  de  conciliadores  e mediadores 

judiciais  deve  ser  encarada  como  uma medida  excepcional  e  pode  ser 

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adotada apenas se a quantidade de profissionais cadastrados nos termos 

do artigo 167, caput e parágrafo 1º, do Novo CPC, for insuficiente. [11] 

4.3 Conciliadores e mediadores judiciais voluntários

Dispõe  o  artigo  169,  parágrafo  1º:  “A  mediação  e  a  conciliação 

podem  ser  realizadas  como  trabalho voluntário, observada a  legislação 

pertinente e a regulamentação do tribunal.”

A  nosso  ver,  os  conciliadores  e mediadores  voluntários  também 

devem  passar  por  capacitação  que  observe  o  parâmetro  curricular 

delineado pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Ministério da Justiça, 

devendo, ainda, inscreverem‐se nos cadastros nacional e/ou do TJ ou TRF. 

Registro  ainda  que  o  interesse  em  atuar  de  forma  voluntária  nas 

atividades de conciliação e mediação poderá vir de bacharéis em Direito 

que estiverem  interessados em  cumprir os  três anos atividade  jurídica, 

requisito exigido pela Constituição Federal (Arts. 93, inc. I e 129, § 3º) para 

realização de concursos públicos de ingresso nas carreiras da Magistratura 

ou do Ministério  Público.  Exemplo neste  sentido pode  ser  extraído do 

artigo  44,  inciso  II,  da Resolução  nº  5/2016,  do  Tribunal  de  Justiça  do 

Tocantins,  que  permite  que  seus  servidores  da  ativa  atuem  como 

conciliadores  voluntários,  desde  que  não  prejudique  suas  atribuições 

normais.  Assim,  se  um  servidor  efetivo  do  TJTO  que  exerça  um  cargo 

público que não seja enquadrado como de ‘atividade jurídica’, a exemplo 

dos técnicos administrativos, e que queira prestar concurso público para 

ingresso na carreira da Magistratura ou MP, poderá cumprir tal requisito 

mediante  a  realização  das  audiências  de  autocomposição,  desde  que 

desenvolva as atividades de conciliação e mediação em expediente não 

inferior a 16 (dezesseis) horas mensais [12].  

5. Local físico das audiências de conciliação e mediação conduzidas pelos conciliadores e mediadores judiciais

Desde a entrada em vigor da Lei nº 7.244/1984 (Juizados Especiais de 

Pequenas Causas), revogada e substituída pela Lei nº 9.099/1995 (Juizados 

Especiais  Cíveis),  as  audiências  de  conciliação  a  cargo  de  conciliadores 

judiciais eram realizadas em salas da própria sede do Juízo onde tramitava 

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o processo. O mesmo acontecia em relação às Varas Cíveis em geral (Varas 

de  família, de direito bancário,  etc.), quando passaram  a utilizar‐se de 

conciliadores  judiciais  para  conduzir  as  respectivas  audiências  de 

conciliação.

Em 29.11.2010, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 

125,  que  dispõe  sobre  a  Política  Judiciária  Nacional  de  tratamento 

adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá 

outras  providências.  A  referida  Resolução  passou  a  prever  que  os 

Tribunais  deveriam  criar  Centros  Judiciários  de  Solução  de  Conflitos  e 

Cidadania, ou simplesmente chamados de Centros, para a realização das 

sessões/audiências de conciliação e mediação que estivessem a cargo dos 

conciliadores e mediadores judiciais. Em outras palavras, o CNJ objetivava 

que  as  audiências  de  autocomposição  conduzidas  por  conciliadores 

e mediadores judiciais fossem realizadas em um local diferente da própria 

sede  das  Varas  ou  Juizados  Especiais.  Dispunha  a  redação  original 

do caput do artigo 8º da Resolução nº 125/2010: 

“Para  atender  aos  Juízos,  Juizados  ou 

Varas  com  competência  nas  áreas  cível, 

fazendária,  previdenciária,  de  família  ou  dos 

Juizados  Especiais  Cíveis  e  Fazendários,  os 

Tribunais deverão criar os Centros  Judiciários 

de  Solução  de  Conflitos  e  Cidadania 

(“Centros”),  unidades  do  Poder  Judiciário, 

preferencialmente,  responsáveis  pela 

realização  das  sessões  e  audiências  de 

conciliação e mediação que estejam a cargo de 

conciliadores  e mediadores,  bem  como  pelo 

atendimento e orientação ao cidadão.” [13] 

A  existência  de  espaço  físico  exclusivo  para  a  realização  das 

atividades  de  conciliação  e mediação  aumenta  as  chances  de  êxito  da 

solução  dos  conflitos,  visto  que  diminui  o  aspecto  de  litigiosidade  e 

formalidade  típicas das audiências  realizadas na  sede do próprio  Juízo, 

desarmando  psicologicamente  as  partes  e  facilitando  a  resolução 

consensual do litígio. [14] 

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O Novo CPC, seguindo a diretriz da Resolução nº 125/2010, prevê, 

em seu artigo 165, caput, que os Tribunais devem criar Centros Judiciários 

de  Solução  Consensual  de  Conflitos  (CEJUSC´s),  responsáveis  pela 

realização  das  sessões/audiências  de  conciliação  e  mediação.  A 

composição e a organização dos CEJUSC´s serão definidas pelo respectivo 

Tribunal  (TJ  ou  TRF),  observadas  as  normas  do  Conselho  Nacional  de 

Justiça (Art. 165, § 1º). 

Em 08 de março de 2016, o Conselho Nacional de  Justiça editou a 

Emenda nº 02, visando adequar a Resolução nº 125/2010 ao Novo Código 

de Processo Civil. 

O  caput  do  artigo  8º  da  Resolução  nº  125/2010,  com  redação 

determinada pela Emenda nº 02/2010, passou a dispor que: “Os tribunais 

deverão criar os Centros  Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania 

(Centros  ou  Cejuscs),  unidades  do  Poder  Judiciário,  preferencialmente, 

responsáveis  pela  realização  ou  gestão  das  sessões  e  audiências  de 

conciliação  e  mediação  que  estejam  a  cargo  de  conciliadores  e 

mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão.” 

A  despeito  de  as  audiências  de  autocomposição  conduzidas  pelos 

conciliadores e mediadores judiciais deverem ser realizadas nos CEJUSC´s, 

não custa lembrar que a realidade prática de muitas Comarcas, Seções ou 

Subseções  Judiciárias distribuídas neste País de dimensão continental é 

bastante  precária,  situação  agravada  ainda mais  pela  crise  econômica 

pela  qual  passamos.  Nesse  sentido,  ao  tecer  comentários  ao  artigo 

165, caput, do Novo CPC, Daniel Amorim Assumpção Neves  (2016, pág. 

277) assinala: 

Acredito que a curto ou médio prazo essa 

possa  vir  a  ser  a  realidade  nas  comarcas  e 

seções judiciárias que são sede de Tribunal, e 

até mesmo em foros mais movimentados que 

não  sejam  sede  do  Tribunal.  Contudo, 

acreditar que essa será a realidade, e aí mesmo 

em  longo  prazo,  para  todas  as  comarcas, 

seções  e  subseções  judiciárias  do  Brasil  é 

irrazoável e discrepante de nossa realidade. Se 

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muitas vezes até mesmo a sede do Juízo é de 

uma precariedade  indesejável, custa crer que 

sejam criados espaços físicos com o propósito 

exclusivo de abrigar os centros  judiciários de 

solução consensual de conflitos. 

Atento a essa realidade, o Conselho Nacional de Justiça, ao elaborar a 

nova  redação do parágrafo 1º do artigo 8º da Resolução nº 125/2010, 

continuou  permitindo  [15],  de  forma  excepcional,  a  realização  de 

audiências de conciliação e mediação judiciais na própria sede do Juízo: 

“As sessões de conciliação e mediação pré‐

processuais  deverão  ser  realizadas  nos 

Centros, podendo, as sessões de conciliação e 

mediação judiciais, excepcionalmente, serem 

realizadas  nos  próprios  Juízos,  Juizados  ou 

Varas  designadas,  desde  que  o  sejam  por 

conciliadores  e mediadores  cadastrados  pelo 

tribunal (inciso VII do art. 7º) e supervisionados 

pelo  Juiz  Coordenador  do  Centro  (art.  9°).” 

(Redação  dada  pela  Emenda  nº  2,  de 

08.03.16). – Grifo nosso. [16] 

Ainda  com  relação  aos  CEJUSC´s,  é  importante  transcrever  alguns 

dispositivos da Resolução nº 125/2010: 

Art. 8º (...)  

§ 2º Nos  tribunais de  Justiça, os Centros 

deverão ser instalados nos locais onde existam 

2  (dois)  Juízos,  Juizados  ou  Varas  com 

competência  para  realizar  audiência,  nos 

termos  do  art.  334  do  Novo  Código  de 

Processo Civil. (Redação dada pela Emenda nº 

2, de 08.03.16). 

 § 3º Os tribunais poderão, enquanto não 

instalados os Centros nas Comarcas, Regiões, 

Subseções  Judiciárias e nos  Juízos do  interior 

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dos  estados,  implantar  o  procedimento  de 

Conciliação e Mediação itinerante, utilizando‐

se de Conciliadores e Mediadores cadastrados. 

(Redação  dada  pela  Emenda  nº  2,  de 

08.03.16). 

 § 4º Nos Tribunais Regionais Federais e 

Tribunais  de  Justiça,  é  facultativa  a 

implantação de Centros onde exista um Juízo, 

Juizado,  Vara  ou  Subseção  desde  que 

atendidos  por  centro  regional  ou  itinerante, 

nos  termos  do  parágrafo  anterior.  (Redação 

dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16).  

Em  conclusão,  as  audiências  de  conciliação  e  mediação  pré‐

processuais a cargo de conciliadores e mediadores  judiciais deverão ser 

realizadas  nos  CEJUSC´s,  e  em  regra  as  audiências  de  conciliação  e 

mediação  judiciais/processuais  também  serãofeitas  nestes  locais, 

podendo, excepcionalmente, serem realizadas em salas do próprio Juízo 

onde  tramita  o  processo  –  essa  exceção  engloba  os  casos  em  que  a 

Comarca, Seção ou Subseção Judiciária não possuir CEJUSC´s instalado ou 

quando estes forem insuficientes para atender a demanda. 

6. O funcionamento dos Centros Judiciários de Solução Consensual de Conflitos – CEJUSC´s

Os Centros Judiciários de Solução Consensual de Conflitos [17] são 

responsáveis pela realização de audiências de conciliação e mediação pré‐

processuais [18] e judiciais [19]; nas primeiras pressupõe‐se que o conflito 

ainda não esteja judicializado, e nas segundas o caso já está judicializado, 

tanto que tramita em um Juízo do foro local.

Os CEJUSC´s contarão com um  Juiz Coordenador, e, se necessário, 

um adjunto, aos quais  caberão a  sua administração e homologação de 

acordos,  bem  como  a  supervisão  do  serviço  de  conciliadores  e 

mediadores. Caso o Centro atenda a grande número de Juízos, Juizados, 

Varas ou Região, o  respectivo  juiz  coordenador poderá  ficar designado 

exclusivamente para sua administração. [20] 

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Dispõe o parágrafo 8º do artigo 8º da Resolução nº 125/2010:“Para 

efeito  de  estatística  de  produtividade,  as  sentenças  homologatórias 

prolatadas  em  processos  encaminhados de  ofício  ou  por  solicitação  ao 

Centro Judiciário de Conflitos e Cidadania reverterão ao juízo de origem, e 

as sentenças decorrentes da atuação pré‐processual ao coordenador do 

Centro.” Os acordos decorrentes de audiências de autocomposição pré‐

processuais deverão ser homologados pelo Juiz Coordenador do CEJUSC, 

e  os  que  forem  decorrentes  de  audiências  de  conciliação  e mediação 

judiciais deverão ser devolvidos ao Juiz do Juízo onde tramita o processo 

para este proceda à homologação. 

A nosso ver, o  Juiz Coordenador do Centro não poderáhomologar 

acordos feitos em processos oriundos dos Juízos, pois sua atuação nesses 

casos é meramente administrativa –organização da pauta das audiências, 

supervisão dos  trabalhos dos conciliadores e mediadores, etc. – e, além 

disso, ele não é o  juiz natural do feito. Um  juiz, antes de homologar um 

acordo,  deve  analisar  se  as  cláusulas  pactuadas  não  contrariam  o 

ordenamento  jurídico,  e  somente  o  juiz  natural  do  processo  tem 

competência para dizer se o acordo está ou não em consonância com o 

Direito Pátrio. 

A redação do Enunciado nº 30 do FONAMEC dava a entender que os 

acordos  feitos  nos  processos  oriundos  dos  Juízos  poderiam  ser 

homologados pelo  juiz  coordenador do CEJUSC  [21], porém, o  referido 

enunciado foi revogado na reunião extraordinária do FONAMEC ocorrida 

em 28.04.2016,  [22]  fato que  corrobora o nosso entendimento de que 

cabe ao juiz do Juízo onde tramita o feito homologar o acordo celebrado 

pelas partes no CEJUSC. 

7. Análise do artigo 28, inciso IV, do EOAB c/c o artigo 167, parágrafo 5º, do CPC/2015

O  artigo  28,  inciso  IV,  da  Lei  nº  8.906/1996,  veda  o  exercício  da 

advocacia  aos  ocupantes  de  cargos  ou  funções  vinculados  direta  ou 

indiretamente a qualquer órgão do Poder Judiciário.

Antes  do  CPC/2015  inexistia  norma  permitindo  o  exercício  da 

advocacia aos conciliadores judiciais, razão pela qual surgiu dúvida acerca 

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da  incidência  do  inciso  IV  do  artigo  28  do  EAOAB  aos  mencionados 

profissionais.  Porém,  conforme  já  vimos,  a  Ordem  dos  Advogados  do 

Brasil,  o  Conselho  Nacional  de  Justiça  e  o  Poder  Judiciário,  quando 

analisaram  o  tema,  entenderam  que  a  advocacia  não  era  vedada  aos 

conciliadores. Tal entendimento é resultado de interpretação que levava 

em consideração a permissibilidade expressa do exercício da advocacia 

aos Juízes Leigos dos Juizados Especiais (Art. 7º, § Ú, da Lei nº 9.099/1995 

e Art. 15, § 2º, da Lei nº 12.153/2009), e a omissão legislativa deste tema 

em relação aos conciliadores. Entendia‐se que não seria razoável permitir 

o  exercício  da  advocacia  aos  Juízes  Leigos  e  vedá‐lo  aos  conciliadores 

judiciais, que desempenhavam (e desempenham) atividades mais simples 

do que aqueles profissionais. 

O  artigo  167,  parágrafo  5º,  do  CPC/2015,  disciplinou  o  tema  nos 

seguintes termos: “Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na 

forma do caput, se advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia 

nos Juízos em que desempenhem suas funções”. 

Como se vê, a norma veda parcialmente o exercício da advocacia aos 

conciliadores e mediadores judiciais, impedindo‐os de advogar apenas na 

unidade  judiciária  onde  desempenhe  suas  funções.  Tal  regra  tem  por 

objetivo  evitar  que  a  convivência  diária  do  conciliador  ou  mediador 

judicial  com  o  juiz  togado  e  sua  respectiva  assessoria  proporcione‐lhe 

algum  tipo  de  privilégio  quando  estiver  exercendo  a  advocacia,  o  que 

geraria,  se  isso  fosse admitido, desequilíbrio entre a parte patrocinada 

pelo advogado que atua como auxiliar da justiça no Juízo, e a outra parte. 

Além disso, visa obstar a captação indevida de clientela e a concorrência 

desleal na advocacia. 

É importante conhecer o local em que as audiências de conciliação e 

mediação conduzidas pelos conciliadores e mediadores  judiciais devem 

ser  realizadas, o  funcionamento destas unidades  judiciárias e o  tipo de 

vínculo que o conciliador e/ou mediador  judicial mantêm com o Poder 

Judiciário, para se  interpretar adequadamente a  regra  inserta no artigo 

167, parágrafo 5º, do CPC/2015. 

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Analisaremos,  em  primeiro  lugar,  o  local  e  o  funcionamento  das 

unidades  judiciárias onde as audiências de autocomposição  judicial  são 

realizadas. 

As referidas audiências devem ser realizadas, em regra, nos Centros 

Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC´s), local destinado 

exclusivamente  para  a  realização  das  atividades  de  conciliação  e 

mediação. 

Os  CEJUSC´s  são  responsáveis  pela  realização  de  audiências  de 

conciliação e mediação pré‐processuais – aquelas em que o conflito entre 

as partes ainda não está judicializado – eprocessuais ‐ aquelas em que o 

conflito está judicializado, e os autos do processo devem ser remetidos do 

Juízo onde tramitam ao CEJUSC´s para se tentar uma solução consensual 

entre as partes. 

De  acordo  com  o  parágrafo  1º  do  artigo  8º,  da  Resolução  nº 

125/2010,  com  redação  determinada  pela  Emenda  nº  2/2016,  as 

audiências  de  conciliação  de  mediação  pré‐processuais  devem  ser 

realizadas  nos  CEJUSC´s,  podendo,  excepcionalmente,  as  sessões  de 

conciliação  e mediação  judiciais  serem  realizadas  nos  próprios  Juízos, 

desde que sejam conduzidas por conciliadores ou mediadores cadastrados 

pelo Tribunal e supervisionados pelo Juiz Coordenador do CEJUSC. 

Levando em  consideração que os CEJUSC´s  recebem processos de 

várias  unidades  judiciárias,  deve‐se  concluir  que  os 

conciliadores/mediadores  estão  impedidos  de  exercer  a  advocacia  em 

todos os Juízos de onde recebeu os processos em que conduziu sessões 

de  conciliação/mediação?  Para  exemplificar,  se  o mediador  que  atua 

apenas no CEJUSC conduzir sessões de mediação de processos que vieram 

das cinco Varas de Família existentes na Comarca, ele estará impedido de 

advogar nestes cinco Juízos? 

Esse questionamento já foi objeto de debates no Fórum Nacional da 

Conciliação  e Mediação  (FONAMEC)  [23]  e  resultou  na  elaboração  do 

Enunciado nº 47. Vejamos: 

ENUNCIADO Nº 47 (FONAMEC) 

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“Não se aplica aos advogados que atuam 

como conciliadores ou mediadores, vinculados 

aos CEJUSCs, o impedimento do artigo 167, § 

5º, do CPC.” [24] 

É esta a justificativa apresentada pelo FONAMEC para fundamentar 

o entendimento do referido Enunciado: 

“A  atividade  jurisdicional  strictu 

sensu volta‐se à solução dos litígios dentro do 

processo,  pela  manifestação  da  vontade 

estatal,  apreciando  o  mérito  da  ação.  Os 

CEJUSCs são órgãos de natureza diversa, tendo 

por função precípua fomentar e homologar os 

acordos a que as partes chegaram, atividade 

puramente  formal  sem  caráter  de 

jurisdição strictu sensu. Nos termos do artigo 

7º,  inciso  IV,  da  Resolução  125  do  Conselho 

Nacional de Justiça, a atividade da conciliação 

e da mediação é concentrada nos CEJUSCs. Por 

isso,  estando  o  conciliador  ou  mediador 

subordinado  ao  Juiz  dos  CEJUSCs,  não  há 

qualquer  vinculação  do  conciliador  ou 

mediador  operante  nos  CEJUSCs  ao  juízo  do 

processo,  razão  porque  não  se  aplica  aos 

advogados atuantes nas comarcas em que há 

CEJUSCs  instalados o  impedimento do  artigo 

167, § 5º, do Código de Processo Civil (Lei nº 

13.105, de 16 de março de 2015).” 

Entendo que está correto o entendimento do FONAMEC, até mesmo 

porque o conciliador/mediador não está atuando no mesmo local físico do 

Juízo onde tramitam os autos do processo encaminhado ao CEJUSC. Em 

assim  sendo, não pode  ser  impedido de advogar neste  Juízo, porque o 

artigo 167, parágrafo 5º, do CPC veda o exercício da advocacia apenas no 

local  onde  o  auxiliar  da  justiça  “desempenha  suas  funções”.  Ademais, 

justamente pelo fato de conduzir as sessões de conciliação/mediação em 

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local diferente do Juízo do processo, não tendo contato diário com o Juiz 

titular  da  Vara/Juizado  Especial  e  respectiva  assessoria,  o 

conciliador/mediador judicial, quando no exercício do ofício de Advogado 

neste Juízo, nenhuma  influencia  indevida terá que possa desequilibrar a 

parte contrária e colocar em xeque a imparcialidade do órgão julgador.   

Questão  um  pouco mais  complicada  diz  respeito  ao  exercício  da 

advocacia pelo conciliador ou mediador judicial no próprio CEJUSC onde 

desempenha suas funções. 

Conforme  já demonstramos, o CPC  veda o exercício da  advocacia 

apenas  no  juízo  onde  o  conciliador  ou mediador  exerça  suas  funções. 

Usualmente entende‐se que o termo Juízo é expressão sinônima de Vara 

ou Juizado Especial, ou seja, unidade judiciária composta pelo juiz togado 

e  sua  respectiva assessoria  [25]. Esta  regra  indica que o  legislador não 

usou a melhor técnica  legislativa, pois se o artigo 165, caput, diz que os 

CEJUSC´s são responsáveis pela realização das audiências de conciliação e 

mediação, por qual razão fora empregada a expressão Juízo no artigo 167, 

parágrafo 5º, do CPC/2015? 

Entendo que tal expressão deve ser interpretada no sentido de “no 

local  –  ou  na  unidade  judiciária”  onde  o  conciliador  ou  mediador 

desempenha suas funções. O objetivo claro da regra estampada no § 5º 

do art. 167 do CPC é evitar que a convivência diária do auxiliar da justiça 

com o Juiz e sua equipe traga‐lhe algum tipo de privilégio quando estiver 

exercendo a advocacia. Em outras palavras, a norma visa obstar o tráfico 

de influência e a captação indevida de clientela no local onde o advogado 

atue como conciliador ou mediador judicial, pouco importando que seja 

na Vara Cível, no Juizado Especial ou no CEJUSC. 

Vale  registrar  ainda  que  as  sessões  de  conciliação  e  mediação 

judiciais podem ser realizadas, excepcionalmente, na própria sede da Vara 

ou  Juizado  Especial  (§  1º  do  art.  8º  da  Resolução  nº  125/2010,  com 

redação dada pela Emenda nº 2/2016). Neste caso não haverá nenhuma 

dúvida  quanto  aos  limites  do  exercício  da  advocacia  pelo 

conciliador/mediador judicial, visto que a redação do § 5º do art. 167 do 

CPC é muito clara neste sentido. 

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Feita a análise do  local onde as sessões de conciliação e mediação 

devem ocorrer, passaremos a estudar o  vínculo que os  conciliadores e 

mediadores manterão com o Poder Judiciário, e a interpretação adequada 

que se deve dar ao art. 167, § 5º, do CPC. 

De  acordo  com  o  Novo  CPC,  poderá  haver  conciliadores  e 

mediadores detentores de cargo público, voluntários e os remunerados 

conforme tabela fixada pelo Tribunal. 

O artigo 167, parágrafo 5º, do CPC, dispõe que os conciliadores e 

mediadores  inscritos em cadastros de  tribunal de  justiça ou de  tribunal 

regional  federal  (cadastrados na  forma do caput do artigo 167) estarão 

impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas 

funções. 

Da análise desta norma é possível concluir que não serão todos os 

conciliadores e mediadores judiciais que poderão exercer a advocacia. Se 

o  legislador  quisesse  permitir  o  exercício  da  advocacia  a  todos  os 

profissionais  da  conciliação  e  mediação,  teria  dito  apenas  que  “os 

conciliadores e mediadores judiciais, se advogados, estarão impedidos de 

exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções.” 

A nosso ver, o objetivo do legislador foi vedar totalmente o exercício 

da advocacia aos  conciliadores e mediadores  judiciais  referidos no art. 

167, § 6º, do NCPC, pois aqueles do artigo 167,caput, a que o parágrafo 5º 

do próprio artigo 167 faz menção, não exercem cargo público. 

Para  atuar  como  conciliador  ou mediador  judicial  nos  termos  do 

artigo  167,  caput,  do  CPC/2015,  o  conciliador  ou  mediador  deverá 

requerer  sua  inscrição  em  Cadastro  do  TJ  ou  TRF,  apresentando  seu 

certificado de conclusão de curso de capacitação mínima em conciliação 

ou mediação, por meio de entidade credenciada. A  inscrição poderá ser 

precedida  de  processo  seletivo  [26].  Após  o  registro  no  Cadastro,  o 

Tribunal  remeterá  ao  diretor  do  foro  da  comarca,  seção  ou  subseção 

judiciária onde atuará o conciliador ou o mediador os dados necessários 

para que seu nome passe a constar da respectiva lista de distribuição dos 

processos e casos que serão submetidos à conciliação e mediação, que 

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        93 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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deverá  ser  alternada  e  aleatória,  respeitado  o  princípio  da  igualdade 

dentro da mesma área de atuação profissional (Art. 167, § 2º). 

De outro lado, para atuar como conciliador ou mediador judicial nos 

termos do artigo 167, parágrafo 6º, do Novo CPC, o candidato deve se 

submeter a concurso público de provas e títulos. 

Conforme  se  nota,  há  diferença  entre  os  vínculos  que  os 

conciliadores e mediadores judiciais manterão com o Poder Judiciário. Os 

profissionais a que o artigo 167, caput, do CPC faz menção podem conduzir 

as audiências após a inscrição no Cadastro do Tribunal, provando apenas 

que  cumpriu o  requisito de  capacitação mínima.    Já os  conciliadores e 

mediadores judiciais do artigo 167, parágrafo 6º, do Novo CPC, ainda que 

tenham certificado de capacitação mínima em conciliação e mediação, só 

serão  detentores  de  cargo  público  se  forem  aprovados  em  concurso 

público de provas e títulos. A forma de remuneração de ambos também é 

diferente,  pois  enquanto  os  primeiros  percebem  seus  rendimentos 

conforme tabela fixada pelo Tribunal, tal forma de pagamento é vedada 

aos detentores de cargo público (Art. 169,caput). 

Assim,  parece‐nos  que  o  legislador,  ao  dispor  que  é  permitido  o 

exercício  da  advocacia,  exceto  no  próprio  Juízo  onde  atuam, 

aos“conciliadores e mediadores cadastrados na forma do caput do artigo 

167”,  tem  por  objetivo  vedar  totalmente  o  exercício  da  advocacia  aos 

conciliadores  e mediadores  judiciais  detentores  de  cargo  público.  Tal 

conclusão  é  confirmada  pela  localização  topográfica  dos 

conciliadores/mediadores judiciais no CPC:  ) os remunerados conforme 

tabela  do  Tribunal  estão  disciplinados  no  artigo  167,  caput;  )  os 

detentores  de  cargo  público  no  artigo  167,  parágrafo  6º;  e  )  os 

voluntários no artigo 169, parágrafo 1º. 

Com  relação  aos  conciliadores  e mediadores  voluntários,  embora 

estejam previstos no  artigo 169, parágrafo 1º, do CPC, desde que não 

exerçam outro cargo público no Judiciário, poderão exercer a advocacia, 

observando os limites do art. 167, § 5º, do CPC/2015, pois eles também 

devem  comprovar  capacitação  mínima  em  conciliação  e  mediação  e 

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inscrevem‐se no Cadastro do Tribunal, com a única diferença de que não 

receberão remuneração pela prestação dos seus serviços. 

Assim,  aos  conciliadores  e  mediadores  voluntários  e  aos  que 

percebem  remuneração  conforme  tabela  do  Tribunal,  haverávedação 

parcial  ao  exercício  da  advocacia,  estando  o  profissional  impedido  de 

exercê‐la  apenas  no  local  onde  esteja  exercendo  as  atividades  de 

conciliação e mediação. Aos detentores de cargo público de conciliador ou 

mediador judicial não se aplicará a regra do art. 167, § 5º, do CPC, sendo‐

lhes, portanto, totalmente vedado o exercício da advocacia, em razão da 

incidência do inciso IV do art. 28 do EOAB. 

Por fim, é preciso salientar que o estudo das vedações ao exercício 

da  advocacia  é  importante,  pois  é  nulo  o  ato  praticado  poradvogado 

impedido ou que passe a exercer atividade incompatível com a advocacia. 

[27]. 

8. Conclusão

A adequada interpretação do artigo 167, parágrafo 5º, do CPC/2015, 

exige  que  o  intérprete  conheça  o  local  em  que  as  audiências  de 

autocomposição  são  realizadas  e  o  vínculo  que  os  conciliadores  e 

mediadores  judiciais mantêm  com  o  Poder  Judiciário  (TJ  ou  TRF).  De 

acordo com o Novo CPC e a Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional 

de Justiça, atualizada pela Emenda nº 2/2016, as audiências de conciliação 

e mediação tanto pré‐processuais quanto  judiciais devem ser realizadas 

nos CEJUSC´s. A mencionada Resolução permite que, excepcionalmente, 

as sessões de conciliação e mediação judiciais sejam realizadas nos Juízos, 

desde que conduzidas por conciliadores e mediadores judiciais. O art. 167, 

§ 5º, do CPC, diz que os conciliadores e mediadores judiciais inscritos em 

cadastros do TJ ou TRF estão impedidos de exercer a advocacia nos Juízos 

em que desempenhe suas funções. Tendo em vista que as audiências de 

conciliação e mediação devem ocorrer no CEJUSC, e excepcionalmente 

podem ser realizadas na sede dos próprios Juízos, o referido dispositivo 

do  CPC  deve  ser  interpretado  no  sentido  de  que  o  profissional  da 

conciliação e da mediação não pode advogar apenas no local onde realiza 

as  audiências,  pouco  importando  que  seja  na  Vara  Cível,  no  Juizado 

Especial ou no CEJUSC. Assim, a regra proibitiva do § 5º do art. 167 do CPC 

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        95 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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não  alcança  os  Juízos  que  encaminham  os  processos  ao  CEJUSC,  se  o 

conciliador ou mediador  judicial estiver atuando apenas no Centro. Os 

conciliadores e mediadores judiciais podem manter três tipos de vínculos 

com  o  TJ/TRF:  1)  credenciamento  em  Cadastro  do  Tribunal,  sendo 

remunerados conforme tabela fixada pela própria Corte local; 2) exercício 

voluntário  da  atividade  de  conciliação  e mediação  judicial;  e  3)  cargo 

público efetivo de conciliador e mediador judicial, opção outorgada pelo 

Novo CPC, e que, segundo a Resolução 125/2010‐CNJ, deve ser adotada 

apenas  se  os  conciliadores  inscritos  no  Cadastro  do  Tribunal  forem 

insuficientes para atender a demanda. Conforme  já  ressaltamos, o art. 

167,  §  5º,  do  NCPC,  veda  o  exercício  da  advocacia  aos 

conciliadores/mediadores  credenciados nos Cadastros do  Tribunal  (nos 

termos  do  art.  167,  caput)  apenas  no  local  onde  desempenhe  suas 

funções.  Tal  regra  pode  ser  aplicada  também  aos  conciliadores  e 

mediadores voluntários, se não exercerem outro cargo ou função que seja 

incompatível  com  a  advocacia.  Pela  localização  topográfica  dos 

conciliadores e mediadores detentores de cargo público no Novo CPC (Art. 

167, § 6º), tais profissionais não são alcançados pela regra do artigo 167, 

parágrafo 5º, do CPC, razão pela qual terá incidência a vedação do artigo 

28, inciso IV, do EOAB.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

BALTAR  NETO,  Fernando  Ferreira;  TORRES,  Ronny  Charles  Lopes 

de.  Direito  Administrativo  (Coleção  sinopses  para  concursos).  4ª  ed. 

Salvador: Ed. JusPodivm, 2014. 

CARVALHO  FILHO,  José  dos  Santos.  Manual  de  Direito 

Administrativo. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2014. 

GONÇALVES,  Marcus  Vinicius  Rios.  Direito  processual  civil 

esquematizado. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil 

Comentado. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. 

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(Organizadores). Estatuto da Advocacia e da OAB Comentado. Curitiba: 

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em:http://www.oabpr.org.br/downloads/ESTATUTO_OAB_COMENTADO

.pdfacesso em 10.09.2016. 

BRASIL. Constituição ( ). Constituição da República Federativa do 

Brasil.  Disponível 

em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocomp

ilado.htmAcesso em 11.09.2016. 

_____Lei nº  . , de   de novembro de  . Dispõe sobre a criação 

e o  funcionamento do  Juizado Especial de Pequenas Causas. Disponível 

em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980‐

1988/L7244.htmAcesso em 26.09.2016.  

_____Lei nº  . , de   de julho de  . Dispõe sobre o Estatuto da 

Advocacia  e  a  Ordem  dos  Advogados  do  Brasil  (OAB).Disponível 

em:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8906.htmAcesso  em 

26.09.2016. 

_____Lei  nº  . ,  de    de  setembro  de  . Dispõe  sobre  os 

Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Disponível 

em:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htmAcesso  em 

26.09.2016. 

_____Lei nº  . , de   de dezembro de  . Dispõe sobre os 

Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito 

Federal,  dos  Territórios  e  dos  Municípios.  Disponível 

em:  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007‐

2010/2009/Lei/L12153.htm Acesso em 26.09.2016. 

_____Lei nº  . , de   de março de  . Código de Processo 

Civil.  Disponível:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015‐

2018/2015/lei/l13105.htm Acesso em 26.09.2016. 

_____Lei  nº  . ,  de    de  junho  de  .  Dispõe  sobre  a 

mediação entre particulares  como meio de  solução de  controvérsias  e 

sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; 

altera a Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto no 70.235, de 6 

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        97 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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de março de 1972; e revoga o § 2o do art. 6o da Lei no 9.469, de 10 de julho 

de 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015‐

2018/2015/Lei/L13140.htm Acesso em 11.09.2016. 

_____Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº  , de   de maio 

de  . Dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da 

magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário nacional. Disponível 

em: http://www.cnj.jus.br/busca‐atos‐adm?documento=2763 Acesso em 

12.09.2016. 

_____Conselho  Nacional  de  Justiça.  Resolução  nº  ,  de    de 

Novembro  de  .  Dispõe  sobre  a  Política  Judiciária  Nacional  de 

tratamento  adequado  dos  conflitos  de  interesses  no  âmbito  do  Poder 

Judiciário  e  dá  outras  providências.  Disponível 

em:http://www.cnj.jus.br/busca‐atos‐adm?documento=2579 Acesso em 

12.09.2016. 

_____Conselho Nacional de Justiça. Emenda nº  , de   de Março de 

. Altera e acrescenta artigos e os anexos I e III da Resolução 125, de 

29  de  novembro  de  2010.  Disponível 

em:http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/03/d1f1dc59093

024aba0e71c04c1fc4dbe.pdfAcesso em 12.09.2016. 

FONAMEC. Fórum Nacional de Mediação e Conciliação. Enunciados 

de  nº  1  a  40.  Disponível 

em:http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/destaques/arquivo/2015/05/f5

faf9126900ab4f10d9702bcdbc77de.PDFAcesso em 18.09.2016. 

III  FONAMEC.  Fórum  Nacional  de  Mediação  e  Conciliação. 

Enunciados  de  10.04.2015,  revisados  na  Reunião  Extraordinária  de 

28.04.16  (Enunciados  de  nº  1  a  56).  Disponível 

em:http://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/124/1084/E

NUNCIADOS%20APROVADOS_R%20EXT%2028‐4‐

2016_rem%20CNJ.pdf Acesso em 18.09.2016. 

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO.Provimento nº 

/ ‐CM.  Dispõe  sobre  os  procedimentos  para  designação  de 

audiências  de  conciliação  e mediação  nos  termos  do  novo  Código  de 

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Processo Civil (Lei n. 13.105/2015), estabelece a tabela de honorários do 

mediador  judicial  e  dá  outras  providências.  Disponível 

em:http://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/downloads/Conselho%20da%20

Magistratura/Provimentos/Provimento_9‐2016‐CM_‐

_Disp%C3%B5e_sobre_os_procedimentos_para_designa%C3%A7%C3%A

3o_de_audi%C3%AAncias_de_concilia%C3%A7%C3%A3o_e_media%C3%

A7%C3%A3o_nos_termos_do_novo_CPC_(Lei_n_13105‐

2015)_estabelece_tabela_de_honor%C3%A1rios.pdf  Acesso  em 

18.09.2016. 

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE TOCANTIS.Resolução nº  , de 

 de abril de  . Disciplina as atividades dos Centros  Judiciários de 

Solução  de  Conflitos  e  Cidadania  (CEJUSC),  cria  o  Cadastro  de 

Conciliadores do Poder Judiciário do Estado do Tocantins e adota outras 

providências.  Disponível 

em:http://wwa.tjto.jus.br/elegis/Home/Imprimir/1090  Acesso  em 

18.09.2016. 

NOTAS DE RODAPÉ: 

  [1]  PIOVEZAN,  Giovani  Cássio;  FREITAS,  Gustavo  Tuller  Oliveira 

(Organizadores). Estatuto da Advocacia e da OAB Comentado. Curitiba: 

OABPR, 2015, pág. 214. 

[2] No nosso artigo “Juiz leigo e conciliador podem exercer a advocacia?”, publicado no portal Conteúdo Jurídico, em 04.11.2015, http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.54648 fizemos a transcrição dos entendimentos do Conselho Nacional de Justiça, do Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE), do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e de alguns Tribunais Regionais Federais a respeito deste tema.

[3] Disponível em: http://trf-5.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/155789/apelacao-em-mandado-de-seguranca-ams-75024-rn-20008400005627-5 acesso em 10.09.2016.

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        99 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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[4] Disponível em:https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=765880&num_registro=200101554420&data=20030623&tipo=5&formato=PDFacesso em 10.09.2016.

[5] Quando citarmos algum artigo sem mencionar o número da lei, estaremos tratando especificamente do CPC/2015.

[6] Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código 

de Processo Civil Comentado. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, pág. 276.

[7] NEVES, Daniel Amorim Assumpção. op. cit. pág. 278. 

[8] A Lei nº 13.140/2015, também conhecida como Lei da Mediação, 

dispõe  em  seu  artigo  1º,  parágrafo  único:  “Considera‐se  mediação  a 

atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, 

escolhido  ou  aceito  pelas  partes,  as  auxilia  e  estimula  a  identificar  ou 

desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”. 

[9] NEVES, Daniel Amorim Assumpção. op. cit. pág. 278. 

[10] De acordo com o inciso V do caput do artigo 37 da Constituição 

Federal,  os  cargos  em  comissão  destinam‐se  apenas  às  atribuições  de 

direção, chefia e assessoramento. 

[11]  É  esta  a  redação  do  §  4º  do  artigo  7º  da  Resolução  nº 

125/2010: “Os tribunais poderão, nos termos do art. 167, § 6º, do Novo 

Código de Processo Civil, excepcionalmente e desde que inexistente quadro 

suficiente de conciliadores e mediadores judiciais atuando como auxiliares 

da  justiça,  optar  por  formar  quadro  de  conciliadores  e  mediadores 

admitidos mediante concurso público de provas e títulos.” 

[12]  Dispõe  a  Resolução  nº  75/2009‐CNJ:  “Art.  59:  Considera‐se 

atividade  jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º, alínea  "i":  (...)IV  ‐ o 

exercício  da  função  de  conciliador  junto  a  tribunais  judiciais,  juizados 

especiais,  varas  especiais,  anexos  de  juizados  especiais  ou  de  varas 

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judiciais, no mínimo por 16  (dezesseis) horas mensais e durante 1  (um) 

ano;(...).” 

[13]  Clique  aqui  para  acessar  a  redação  original  da  Resolução  nº 

125/2010http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/resolucao/Reso

lucao_n_125‐GP.pdf Acesso em 15.09.2016. 

[14] NEVES, Daniel Amorim Assumpção. op. cit. pág. 277. 

[15] A redação original do parágrafo 1º do artigo 8º da Resolução nº 

125/2010  já  permitia  que,  excepcionalmente,  as  audiências  de 

autocomposição  judicial  fossem  realizadas na  sede do  Juízo. Era esta a 

redação  do  mencionado  dispositivo  normativo:“Todas  as  sessões  de 

conciliação  e  mediação  pré‐processuais  deverão  ser  realizadas  nos 

Centros,  podendo,  excepcionalmente,  as  sessões  de  conciliação  e 

mediação processuais ser realizadas nos próprios Juízos, Juizados ou Varas 

designadas,  desde  que  o  sejam  por  conciliadores  e  mediadores 

cadastrados junto ao Tribunal (inciso VI do ar. 7º) e supervisionados pelo 

Juiz Coordenador do Centro (Art. 9º).” 

[16] Em pesquisa na Rede Mundial de Computadores, constatei que 

alguns Tribunais editaram atos normativos permitindo que as audiências 

de conciliação e mediação fossem realizadas em salas dos próprios Juízos. 

No  Tribunal  de  Justiça  do  Estado  de  Mato  Grosso,  por  exemplo,  as 

audiências de conciliação processuais são realizadas, em regra, nas Varas 

e nos Juizados Especiais, e as audiências de mediação processuais e as de 

conciliação  e  mediação  pré‐processuais  são  realizadas  nos  CEJUSC´s. 

Vejamos o que dispõe o caput do artigo 4º do Provimento nº 09/2016‐

CM: “Até que sejam devidamente aparelhados com a estrutura física e de 

pessoal necessária, a Central de Conciliação e Mediação da Capital e os 

Centros  Judiciários  de  Solução  de  Conflitos  e  Cidadania  das  demais 

comarcas  do  Estado  de  Mato  Grosso  realizarão  apenas  as 

audiências processuais de mediação de que  trata o artigo 334 do novo 

CPC,  conforme  sua  disponibilidade  de  pauta.”  O  parágrafo  único  do 

referido Provimento, por sua vez, dispõe: “As audiências de conciliação e 

mediação pré‐processuais serão realizadas exclusivamente pela Central de 

Conciliação e Mediação da Capital e pelos Centros Judiciários de Solução 

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de  Conflitos  e  Cidadania  (artigo  8º,  §1º,  da  Resolução  nº  125/2010‐

CNJ).” Vale transcrever ainda o artigo 1º, parágrafo 3º, do Provimento nº 

09/2016‐CM, do TJMT: “Mesmo quando realizadas por conciliadores, as 

audiências  poderão  ocorrer  nas  salas  de  audiência  das  próprias  varas 

judiciais, salvo se houver outro espaço adequado e disponível no fórum, na 

Central de Conciliação e Mediação ou no CEJUSC.” O Tribunal de Justiça do 

Estado  de  Tocantins,  do  mesmo  modo,  editou  norma  permitindo  a 

realização de audiências de conciliação processuais no próprio Juízo onde 

tramita o processo. Dispõe o artigo 15, parágrafo 2º, da Resolução nº 5, 

de 28 de  abril de 2016‐TJTO:  “As  sessões ou audiências de  conciliação 

processuais poderão ser realizadas nos CEJUSC´s ou nos próprios juizados 

ou varas de origem, desde que conduzidas por conciliadores e mediadores 

cadastrados  pelo  NUPEMEC.”  Vale  mencionar  ainda  o  artigo  54  da 

Resolução  nº  5/2015/TJTO:  “Os  CEJUSC’s  serão  instalados  de  forma 

gradual,  obedecendo  à  disponibilidade  financeira  e  orçamentária  do 

Tribunal  de  Justiça”.  Tanto  a  Resolução  nº  5/2015/TJTO  quanto  o 

Provimento  nº  09/2016‐CM/TJMT  demonstram  que  os  Tribunais  não 

estão preparados para criar espaços adequados para instalar os CEJUSC´s 

–provavelmente  porque  não  possuem  recursos  financeiros  para  tal, 

situação agravada pela crise financeira pela qual o País atravessa – razão 

pela qual muitos conciliadores e mediadores  judiciais ainda continuarão 

conduzindo as audiências de autocomposição no espaço físico do próprio 

Juízo. 

[17] Este é o nome usado pelo artigo 165, caput, do CPC/2015. Porém, 

a Resolução nº 125/2010 denomina tais  locais de Centros Judiciários de 

Solução  de  Conflitos  e  Cidadania,  também  chamados  de  Centros  ou 

CEJUSC´s (Art. 8º, caput, com redação dada pela Emenda nº 2/2016). No 

âmbito do Poder  Judiciário do Estado de Mato Grosso, os Centros  são 

denominados  de  CEJUSC´s  nos municípios  do  interior,  e  em  Cuiabá  é 

denominado de Central de Conciliação e Mediação da Capital (Provimento 

nº 09/2016‐CM). 

[18] Dispõe o Enunciado n. 06 do FONAMEC: “Sempre que possível, 

deverá ser buscado o tratamento pré‐processual do conflito, evitando‐se 

a  judicialização.”  (Enunciado  aprovado  na 

reunião  ordinária  de  10/04/2015,  com  redação  atualizada  na  reunião 

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extraordinária  de 

28/04/2016). 

[19] Estas são denominadas também de audiências de conciliação e 

mediação processuais.  

[20] Art. 9º, caput e § 1º, da Resolução nº 125/2010. 

[21] Era esta a redação do Enunciado nº 30 do FONAMEC:“Os acordos 

homologados  nos  CEJUSC  no  Setor  Processual  valerão  como  títulos 

executivos  judiciais e deverão ser executados nos  juízos do feito em que 

foram constituídos, se for o caso.” 

[22] Os presentes na mencionada reunião apresentaram a seguinte 

justificativa para revogar o Enunciado nº 30: “Enunciado revogado, porque 

os  acordos  realizados  nos  casos  processuais  não  são  homologados  no 

CEJUSC, mas diretamente no  juízo de origem, conforme art. 8º, § 8º, da 

Resolução nº 125/2010, com  redação dada pela Emenda nº 2. E, nesse 

caso, a execução seguirá a regra geral dos títulos executivos judiciais (art. 

516 do CPC)”. 

[23] O Fórum Nacional da Mediação e da Conciliação (FONAMEC) foi 

criado em 12 de dezembro de 2014 no Encontro Nacional de Núcleos de 

Conciliação promovido pelo CNJ, e tem como finalidade a implementação 

da Mediação e da Conciliação nos estados e Distrito  Federal buscando 

fomentar a cultura da paz, com a  apresentação e discussão de propostas 

para  (1) criação e alteração de  leis,  regulamentos e procedimentos;  (2) 

desenvolvimento  de  sistemas  de  informação,  portais  e  canais  de 

comunicação;  (3)  congregação de magistrados  e  servidores que  atuem 

com mediação e conciliação aperfeiçoando e uniformizando os métodos 

consensuais  de  resolução  de  conflitos  por  meio  de  intercâmbio  de 

experiências; e  (4) melhorar a articulação e  integração com o Conselho 

Nacional de  Justiça, órgãos de Governo e demais entidades de apoio e 

representação que atuem diretamente no  segmento. Com a edição da 

Emenda  nº  2,  de  08/03/2016,  à  Resolução  nº  125/CNJ,  o  FONAMEC 

ganhou  força  e  representatividade,  especialmente  considerando  que, 

após  aprovação  pela  Comissão  Permanente  de  Acesso  à  Justiça  e 

Cidadania ad referendum do Plenário do CNJ, seus enunciados passarão a 

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integrar a Resolução nº 125/CNJ, para fins de vinculatividade, no que diz 

respeito  à  Justiça  Estadual  (art.  12‐A,  §  3º).  Informação  extraída  do 

link http://fonamec.tjmt.jus.br/ Acesso em 26.09.2016. 

[24] Enunciado aprovado na reunião ordinária de 22/04/2015, com 

redação  atualizada  na 

reunião extraordinária de 28/04/2016. 

[25] Segundo Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2016, pág. 114): “(...) o 

foro  indica a base  territorial  sobre a qual determinado órgão  judiciário 

exerce a sua competência.  (...) Em primeira  instância, perante a  Justiça 

Estadual, foro é a designação utilizada como sinônimo de comarca. Com 

foro não se confundem os juízos, unidades judiciárias, integradas pelo juiz 

e seus auxiliares. Na justiça comum estadual, o conceito de juízo coincide 

com o das varas. Uma comarca pode ter numerosas varas, isto é, diversos 

juízos.” – Grifo nosso. 

[26] Embora o parágrafo 2º do artigo 167 do CPC diga que a inscrição 

no  Cadastro  do  Tribunal  pode  ser  precedida  de  concurso  público,  tal 

expressão  deve  ser  entendida  como  processo  seletivo,  a  exemplo  das 

seleções para contratação de estagiários em geral do Poder Judiciário. No 

item 4.1 deste artigo comentamos sobre o tema. 

[27] Dispõe o artigo 4º da Lei nº 8.906/1994  ‐ Caput: “São nulos os 

atos privativos de advogado praticados por pessoa não  inscrita na OAB, 

sem  prejuízo  das  sanções  civis,  penais  e  administrativas.”  Parágrafo 

único: “São também nulos os atos praticados por advogado impedido ‐ no 

âmbito do  impedimento  ‐  suspenso,  licenciado ou que passar a exercer 

atividade incompatível com a advocacia”. 

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DA DESAPROPRIAÇÃO URBANÍSTICA SANCIONATÓRIA: PRIMEIRAS PINCELADAS À HIPÓTESE DO ARTIGO 182, §4º, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL: Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Especializando em Práticas Processuais - Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental.

Resumo: Em consonância com as ponderações aventadas até o momento, 

quadra sublinhar que o direito de propriedade encontra salvaguarda no 

inciso XXII do artigo 5º do Texto Constitucional, sendo exigido, porém, que 

a  propriedade  atinja  sua  função  social,  nos  termos  do  inciso  XXIII  do 

mesmo dispositivo ora mencionado. Desta feita, é possível assinalar que 

será lícito ao Estado intervir na propriedade toda vez em que se verificar 

o não cumprimento de seu papel no seio social, logo, com a intervenção, 

o  Estado  passa  a  desempenhar  sua  função  primordial,  a  saber:  atuar 

conforme  as  reivindicações  de  interesse  público.  A  intervenção  em 

comento pode ser agrupada em duas categorias distintas: de um lado, a 

intervenção restritiva, por meio da qual o Poder Público retira algumas das 

faculdades  concernentes  ao  domínio,  conquanto  seja  mantida  a 

propriedade em favor do dono; doutro ângulo, a intervenção supressiva, 

que  desencadeia  a  transferência  da  propriedade  de  seu  dono  para  o 

Estado,  acarretando,  conseguintemente,  a  perda  da  propriedade.  Com 

efeito, cuida  reconhecer que o  instituto da desapropriação encontra‐se 

alcançado pela  intervenção mais drástica por parte do Estado, ou  seja, 

aquela capaz de provocar a perda da propriedade. Cuidar enunciar que a 

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desapropriação configura procedimento de direito público por meio do 

qual o  Poder  Público  transfere para  si  a propriedade de  terceiros, por 

razão de utilidade pública ou de  interesse social, comumente mediante 

pagamento de verba indenizatória. 

Palavras‐chaves:  Intervenção  do  Estado.  Desapropriação  Urbanística 

Sancionatória. Hipótese Constitucional. 

Sumário:  1  Ponderações  Introdutórias: O  Aspecto  de Mutabilidade  da 

Ciência Jurídica; 2 Intervenção do Estado na Propriedade: Breve Escorço 

Histórico;  3  Comentários  Gerais  ao  Instituto  da  Desapropriação  no 

Ordenamento Brasileiro; 4 Da Desapropriação Urbanística Sancionatória: 

Primeiras  Pinceladas  à  hipótese  do  artigo  182,  §4º,  inciso  III,  da 

Constituição Federal de 1988. 

1 Ponderações Introdutórias: O Aspecto de Mutabilidade da Ciência Jurídica

Inicialmente,  ao  se  dispensar  um  exame  acerca  do  tema 

colocado em tela, patente se faz arrazoar que a Ciência Jurídica, enquanto 

um  conjunto multifacetado  de  arcabouço  doutrinário  e  técnico,  assim 

como  as  robustas  ramificações  que  a  integram,  reclama  uma 

interpretação  alicerçada  nos  plurais  aspectos  modificadores  que 

passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré, lançando à tona os 

aspectos  característicos  de  mutabilidade  que  passaram  a  orientar  o 

Direito, tornou‐se imperioso salientar, com a ênfase reclamada, que não 

mais subsiste uma visão arrimada em preceitos estagnados e estanques, 

alheios  às  necessidades  e  às  diversidades  sociais  que  passaram  a 

contornar  os  Ordenamentos  Jurídicos.  Ora,  infere‐se  que  não  mais 

prospera o arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação das 

leis,  sendo, em decorrência dos anseios da população,  suplantados em 

uma nova sistemática.

Cuida  hastear,  com  bastante  pertinência,  como  flâmula  de 

interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico 'Ubi societas, ibi 

jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está o Direito', tornando explícita e 

cristalina  a  relação  de  interdependência  que  esse  binômio mantém”[1]. 

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Destarte, com clareza solar, denota‐se que há uma interação consolidada 

na mútua dependência,  já que o primeiro  tem  suas balizas  fincadas no 

constante processo de evolução da  sociedade,  com o  fito de que  seus 

Diplomas Legislativos e  institutos não fiquem  inquinados de  inaptidão e 

arcaísmo, em total descompasso com a realidade vigente. A segunda, por 

sua vez, apresenta estrutural dependência das regras consolidadas pelo 

Ordenamento Pátrio, cujo escopo primevo é assegurar que não haja uma 

vingança privada, afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore 

priscas eras em que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho, 

dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça um cenário 

caótico no seio da coletividade. 

Ademais,  com  a  promulgação  da  Constituição  da  República 

Federativa do Brasil de 1988, imprescindível se fez adotá‐la como maciço 

axioma  de  sustentação  do  Ordenamento  Brasileiro,  precipuamente 

quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico e abstrato, aos 

complexos anseios e múltiplas necessidades que influenciam a realidade 

contemporânea.  Ao  lado  disso,  há  que  se  citar  o  voto magistral  voto 

proferido pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descumprimento 

de  Preceito  Fundamental  Nº.  46/DF,  “o  direito  é  um  organismo  vivo, 

peculiar  porém  porque  não  envelhece,  nem  permanece  jovem,  pois  é 

contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua força, 

o seu fascínio, a sua beleza”[2]. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência 

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível mutabilidade que 

apresenta,  decorrente  do  dinamismo  que  reverbera  na  sociedade  e 

orienta  a  aplicação  dos Diplomas  Legais  e  os  institutos  jurídicos  neles 

consagrados. 

Ainda neste substrato de exposição, pode‐se evidenciar que a 

concepção pós‐positivista que passou a permear o Direito, ofertou, por via 

de  consequência,  uma  rotunda  independência  dos  estudiosos  e 

profissionais da Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de 

Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma progressiva evolução 

acerca do valor atribuído aos princípios em face da legislação”[3]. Destarte, 

a partir de uma análise profunda dos mencionados sustentáculos, infere‐

se que o ponto central da corrente pós‐positivista cinge‐se à valoração da 

robusta tábua principiológica que Direito e, por conseguinte, o arcabouço 

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normativo  passando  a  figurar,  nesta  tela,  como  normas  de  cunho 

vinculante,  flâmulas  hasteadas  a  serem  adotadas  na  aplicação  e 

interpretação do conteúdo das leis, diante das situações concretas. 

 Intervenção do Estado na Propriedade: Breve Escorço Histórico 

Em uma primeira plana, o tema concernente à intervenção do 

Estado na propriedade decore da evolução do perfil do Estado no cenário 

contemporâneo. Tal fato deriva da premissa que o Ente Estatal não tem 

suas ações limitadas tão somente à manutenção da segurança externa e 

da paz interna, suprindo, via de consequência, as ações individuais. “Muito 

mais  do  que  isso,  o  Estado  deve  perceber  e  concretizar  as  aspirações 

coletivas,  exercendo  papel  de  funda  conotação  social”[4],  como 

obtempera José dos Santos Carvalho Filho. Nesta esteira, durante o curso 

evolutivo  da  sociedade,  o  Estado  do  século  XIX  não  apresentava  essa 

preocupação;  ao  reverso,  a  doutrina  do  laissez  feireassegurava  ampla 

liberdade aos  indivíduos e considerava  intocáveis os seus direitos, mas, 

concomitantemente, permitia que os abismos sociais se tornassem, cada 

vez mais,  profundos,  colocando  em  exposição  os  inevitáveis  conflitos 

oriundos da desigualdade, provenientes das distintas camadas sociais. 

Quadra  pontuar  que  essa  forma  de  Estado  deu  origem  ao 

Estado de Bem‐estar, o qual utiliza de seu poder supremo e coercitivo para 

suavizar,  por  meio  de  uma  intervenção  decidida,  algumas  das 

consequências  consideradas mais penosas da desigualdade econômica. 

“O bem‐estar social é o bem comum, o bem do povo em geral, expresso 

sob  todas  as  formas  de  satisfação  das  necessidades  comunitárias”[5], 

compreendo,  aliás,  as  exigências materiais  e  espirituais  dos  indivíduos 

coletivamente  considerados.  Com  realce,  são  as  necessidades 

consideradas  vitais  da  comunidade,  dos  grupos,  das  classes  que 

constituem  a  sociedade.  Abandonando,  paulatinamente,  a  posição  de 

indiferente distância, o Estado contemporâneo passa a assumir a tarefar 

de  garantir  a  prestação  dos  serviços  fundamentais  e  ampliando  seu 

espectro social, objetivando a materialização da proteção da sociedade 

vista como um todo, e não mais como uma resultante do somatório de 

individualidades. 

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Neste  sentido,  inclusive,  o Ministro  Luiz  Fux,  ao  apreciar  o 

Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo N° 672.579/RJ, 

firmou  entendimento  que  “ainda  que  seja  de  aplicação  imediata  e 

incondicional  a  norma  constitucional  que  estabeleça  direitos 

fundamentais, não pode o Ente Estatal beneficiar‐se de sua inércia em não 

regulamentar,  em  sua  esfera  de  competência,  a  aplicação  de  direito 

constitucionalmente  garantido”[6].  Desta  feita,  para  consubstanciar  a 

novel feição adotada pelo Estado, restou necessário que esse passasse a 

se imiscuir nas relações dotadas de aspecto privado. “Para propiciar esse 

bem‐estar social o Poder Público pode  intervir na propriedade privada e 

nas  atividades  econômicas  das  empresas,  nos  limites  da  competência 

constitucional atribuída”[7], por meio de normas legais e atos de essência 

administrativa adequados aos objetivos contidos na intervenção dos entes 

estatais. 

Com  efeito,  nem  sempre  o  Estado  intervencionista  ostenta 

aspectos  positivos,  todavia,  é  considerado melhor  tolerar  a  hipertrofia 

com vistas à defesa social do que assistir à sua  ineficácia e desinteresse 

diante dos conflitos produzidos pelos distintos grupamentos sociais. Neste 

jaez,  justamente, é que se situa o dilema moderno na relação existente 

entre  o  Estado  e  o  indivíduo,  porquanto  para  que  possa  atender  os 

reclamos  globais  da  sociedade  e  captar  as  exigências  inerentes  ao 

interesse  público,  é  carecido  que  o  Estado  atinja  alguns  interesses 

individuais.  Ao lado disso, o norte que tem orientado essa relação é a da 

supremacia  do  interesse  público  sobre  o  particular,  constituindo 

verdadeiro postulado político da  intervenção do Estado na propriedade. 

“O  princípio  constitucional  da  supremacia  do  interesse  público,  como 

modernamente compreendido, impõe ao administrador ponderar, diante 

do caso concreto, o conflito de interesses entre o público e o privado, a fim 

de definir, à luz da proporcionalidade, qual direito deve prevalecer sobre 

os demais”[8]. 

  Comentários  Gerais  ao  Instituto  da  Desapropriação  no 

Ordenamento Brasileiro 

Em  consonância  com  as  ponderações  aventadas  até  o 

momento,  quadra  sublinhar  que  o  direito  de  propriedade  encontra 

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salvaguarda no inciso XXII do artigo 5º do Texto Constitucional[9], sendo 

exigido, porém, que a propriedade atinja sua função social, nos termos do 

inciso  XXIII[10]  do mesmo  dispositivo  ora mencionado.  Desta  feita,  é 

possível assinalar que será  lícito ao Estado  intervir na propriedade toda 

vez em que se verificar o não cumprimento de seu papel no seio social, 

logo,  com  a  intervenção,  o  Estado  passa  a  desempenhar  sua  função 

primordial, a saber: atuar conforme as reivindicações de interesse público. 

Consoante o magistério de Carvalho Filho[11], a intervenção em comento 

pode ser agrupada em duas categorias distintas: de um lado, a intervenção 

restritiva, por meio da qual o Poder Público retira algumas das faculdades 

concernentes  ao  domínio,  conquanto  seja mantida  a  propriedade  em 

favor do dono; doutro ângulo, a intervenção supressiva, que desencadeia 

a transferência da propriedade de seu dono para o Estado, acarretando, 

conseguintemente, a perda da propriedade. Com efeito, cuida reconhecer 

que o instituto da desapropriação encontra‐se alcançado pela intervenção 

mais drástica por parte do Estado, ou seja, aquela capaz de provocar a 

perda da propriedade. 

Tecidos tais comentários, cuidar enunciar que a desapropriação 

configura  procedimento  de  direito  público  por meio  do  qual  o  Poder 

Público transfere para si a propriedade de terceiros, por razão de utilidade 

pública ou de interesse social, comumente mediante pagamento de verba 

indenizatória. Ademais, em se  tratando de um procedimento de direito 

público  retrata  a  existência de uma  sequência de  atos  e  atividades do 

Estado  e  do  proprietário,  desenvolvidas  nas  órbitas  administrativa  e 

judicial. Com efeito, sobre o procedimento em comento incidem normas 

de  direito  público,  maiormente  nos  aspectos  que  demonstram  a 

supremacia  do  Estado  sobre  o  proprietário.  Ao  lado  disso,  cumpre 

evidenciar que o  escopo da desapropriação  reside na  transferência do 

bem  desapropriado  para  o  acervo  do  expropriante,  sendo  que  esse 

objetivo  só pode  ser materializado  se houver os  requisitos ensejadores 

substancializados, ou seja, a utilidade pública ou o interesse social. Como 

regra geral, a indenização é paga pela transferência das desapropriações, 

só por exceção admitindo a ausência desse pagamento indenizatório. 

Neste  diapasão,  a  natureza  jurídica  do  instituto  da 

desapropriação  é  de  procedimento  administrativo  e,  quase  sempre, 

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também  judicial. Ora, considera‐se procedimento como um conjunto de 

atos  e  de  atividades,  devidamente  formalizados  e  produzidos  com 

sequencia, com o escopo de se alcançar determinado objetivo. Em aludido 

procedimento de desapropriação, tais atos se originam não somente do 

Poder Público, mas também do particular proprietário.   Convém, ainda, 

mencionar que o procedimento tem seu curso, quase sempre, em duas 

fases. A primeira é a administrativa, na qual o Poder Público declara seu 

interesse na desapropriação e começa a adotar as providências visando à 

transferência  do  bem.  Por  vezes,  a  desapropriação  encontra  seu 

esgotamento nessa fase, havendo acordo com o proprietário. Tal situação, 

porém, destaque‐se, é  considerada  rara. O normal é prolongar‐se pela 

outra fase, a judicial, substancializada por meio da ação a ser movida pelo 

Estado em face do proprietário. 

No  que  concernem  aos  pressupostos,  considera‐se  que  a 

desapropriação  só  pode  ser  considera  legítima  se  reunir  a  utilidade 

pública, compreendendo‐se em  tal  requisito a necessidade pública, e o 

interesse social. Carvalho Filho[12] vai aduzir que a utilidade pública resta 

materializada quando a transferência do bem se apresenta conveniente 

para  Administração,  ao  passo  que  a  necessidade  pública  decorre  de 

situações de emergência, cuja solução reclame a desapropriação do bem. 

Conquanto  o  Texto  Constitucional  se  refira  a  ambas  as  expressões,  o 

correto é a noção de necessidade pública  já está  inserta na de utilidade 

pública, porquanto esta é mais abrangente que aquela, de maneira que se 

pode dizer que tudo que for necessário será útil. O  interesse social, por 

sua vez, consiste naquelas hipóteses em que mais se sublinha a função da 

propriedade.  O  Poder  Público,  em  tais  episódicas  situações,  tem 

preponderantemente  o  objetivo  de  neutralizar  de  alguma  forma  as 

desigualdades coletivas, encontrando nos assentamentos de colonos e na 

reforma agrária os exemplos mais robustos. É  importante assinalar que 

ambos  os  requisitos  autorizadores  materializam  conceitos  jurídicos 

indeterminados,  porquanto  são  despojados  de  precisa  que  permita  a 

identificação. Logo, importa frisar que ambos os conceitos serão aludidos 

na legislação pertinente. 

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  Da  Desapropriação  Urbanística  Sancionatória:  Primeiras 

Pinceladas  à  hipótese  do  artigo  ,  § º,  inciso  III,  da  Constituição 

Federal de   

Em  alinho  aos  comentários  tecidos  até  o  momento,  cuida 

mencionar  que  o  inciso  III  do  §4º  do  artigo  182  da  Constituição  da 

República  Federativa  do  Brasil  de  1988  foi  responsável  por  instituir  a 

desapropriação  de  área  urbana  não  edificada,  subutilizada  ou  não 

utilizada,  incluída  no  plano  diretor,  consoante  vier  a  ser  prevista  em 

legislação  federal,  cujo  proprietário  não  promoveu  o  seu  adequado 

aproveitamento,  nos  termos  preconizados  em  legislação municipal  ou 

distrital, caso não tenham sido eficazes as sanções contidas nos incisos I e 

II  do  parágrafo  supra[13].  Tal  instituto  recebeu,  pela  doutrina,  a 

denominação de  “desapropriação urbanística  sancionatória”. Conforme 

elucida Diógenes Gasparini[14], o dispositivo constitucional em comento 

recebeu  regulamentação por meio da Lei nº 10.257, de 10 de  julho de 

2001,  que  regulamenta  os  arts.  182  e  183  da  Constituição  Federal, 

estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências, 

notadamente  a  partir  de  seu  artigo  8º[15].  “Essa  espécie  de 

desapropriação é utilizável após o decurso de cinco anos de cobrança do 

IPTU progressivo, sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de 

parcelamento,  edificação  ou  utilização  compulsórios”[16],  consoante 

aduz Gasparini. 

Convém  explicitar  que  o  Município  não  é  o  único  ente 

federativo que poderá utilizar de tal espécie de desapropriação, como se 

depreende, inclusive, de uma interpretação conjugada do artigo 182, §§1º 

e 2º, combinado com o artigo 32, §1º, ambos do Texto Constitucional[17], 

porquanto o último dispositivo atribui, com clareza ofuscante, ao Distrito 

Federal as  competências que  são próprias dos Estados‐membros e dos 

Municípios.  Assim,  cuida  realçar,  conforme  entendimento 

doutrinário[18]  abalizado,  que  a  modalidade  de  desapropriação 

urbanística sancionatória não estará restrita apenas aos Municípios, mas 

também, em decorrência de expressa alusão do Texto Constitucional de 

1988, ao Distrito Federal. Em complemento ao expendido, cuida pontuar 

que  o  artigo  51  da  Lei  nº  10.257,  de  10  de  julho  de  2001[19],  que 

regulamenta  os  arts.  182  e  183  da  Constituição  Federal,  estabelece 

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diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências, assegura a 

expressa  incidência  da  legislação  em  comento  ao  Distrito  Federal, 

ampliando,  via  de  consequência,  a  possibilidade  da  utilização  de  seu 

sucedâneo de institutos por tal ente federativo. 

Carvalho Filho[20], em magistério acurado, vai apontar que a 

natureza jurídica da desapropriação em comento não pode afastar‐se dos 

parâmetros com os quais encontra conexão, a saber: a política urbana. 

Desta feita, é possível assinalar que a natureza jurídica da desapropriação 

urbanística sancionatória configura, pois, instrumento de política urbana, 

revestida  de  aspecto  punitivo,  executado  por  meio  da  transferência 

coercitiva do imóvel para o patrimônio municipal. Ademais, o pressuposto 

da modalidade expropriatória em análise  repousa no descumprimento, 

pelo proprietário, da obrigação urbanística de aproveitamento do imóvel 

em  harmonia  com  o  que  foi  entalhado  no  plano  diretor.  Ora,  a 

determinação  urbanística  consiste  na  adequação  do  solo  urbano  às 

diretrizes estabelecidas no plano diretor. Assim, não sendo cumprida, o 

Município deverá adotar as providências punitivas em caráter sucessivo, 

sendo que, repise‐se, só é possível a aplicação da sanção subsequente se 

a  anterior  for  ineficaz.  Nesta  linha  de  dicção,  as  sanções  possuem  a 

seguinte  ordem  de  aplicabilidade:  1º)  ordem  de  edificação  ou 

parcelamento compulsórios; 2º) imposição de IPTU progressivo no tempo; 

3º) desapropriação urbanística sancionatória. Há que se reconhecer que 

essa sanção é revestida de maior gravidade, vez que implica na perda da 

propriedade do imóvel. 

Em  complemento,  a  finalidade,  no  que  toca  à  espécie  de 

desapropriação, tem por fito o regime de adequação entre os imóveis e as 

diretrizes  afixadas  no  plano  diretor.  Sendo  o  instrumento  básico  da 

política urbana, o plano diretor reclama que o solo urbano seja com ele 

compatível, porquanto, apenas assim, estará atendendo a  função social 

aludida  nos  §§1º  e  2º  do  artigo  182  da  Constituição  da  República 

Federativa do Brasil de 1988[21]. Carvalho Filho[22], ainda, vai aduzir que 

o efeito originário produzido pela desapropriação em comento consiste 

na  transferência  da  propriedade  para  o  Município.  Entretanto, 

substancializa efeito derivado (ou sucessivo) a obrigação de o Município 

proceder ao aproveitamento do imóvel no lapso temporal de cinco anos a 

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partir do  ingresso do bem no acervo municipal, em consonância com o 

aludido no §4º do artigo 8º da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001[23], 

que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece 

diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Desta feita, o 

descumprimento de semelhante obrigação tem o condão de caracterizar 

omissão  do  Prefeito  e  dos  agentes  como  conduta  de  improbidade 

administrativa, estando, pois, os autores sujeitos às penalidades. 

No que alude ao aproveitamento do  imóvel,  insta mencionar 

que  este  pode  se  dá  diretamente  pelo  governo  municipal,  conforme 

preconiza a primeira parte do §5º do artigo 8º da Lei nº 10.257, de 10 de 

julho de 2001[24] (Estatuto das Cidades). A segunda parte do dispositivo 

supramencionado estabelece que o Município poderá alienar ou conceder 

a  terceiros  o  imóvel  expropriados,  desde  que,  em  tal  situação,  sejam 

observadas as regras do procedimento  licitatório. Na hipótese de haver 

alienação,  restam mantidas  para  o  adquirente  as mesmas  obrigações 

urbanísticas  de  parcelamento  ou  de  edificação  compulsórios 

anteriormente  estabelecidas  ao  ex‐proprietário,  nos  termos  em  que 

dicciona  o  §6º  do  artigo  8º  da  Lei  nº  10.257,  de  10  de  julho  de 

2001[25] (Estatuto das Cidades). 

No  que  se  relaciona  ao  procedimento  para  efetivar  a 

transferência  do  imóvel,  incidirá,  in  casu,  as  disposições  oriundas  do 

Decreto‐Lei  nº  3.365,  de  21  de  Junho  de  1941,  que  dispõe  sobre 

desapropriações  por  utilidade  pública,  porém  incide,  no  que  couber  e 

houver  compatibilização,  visto  ser  imprescindível  às  peculiaridades  da 

desapropriação  sancionatória.  Conseguintemente,  ao  Município  e  ao 

Distrito Federal, em decorrência da  intelecção da disposição específica, 

cabe  propor  a  devida  ação  de  desapropriação.  Carvalho  Filho[26]  vai 

enunciar que é dispensável o decreto expropriatório, pois o objetivo de tal 

ato  é  o  de  indicar  o  escopo  da  Administração  e  comunica‐lo  ao 

proprietário. Há que se reconhecer, neste sentido, que, na desapropriação 

urbanística sancionatória, o proprietário há muito tomou ciência de que o 

descumprimento  poderia  culminar  na  desapropriação.  Doutro  viés,  a 

finalidade do Poder Público permanece a mesma, a saber: a necessidade 

de adequação do imóvel ao plano diretor para observância às disposições 

da política urbana. 

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No que  toca  à  indenização  a  ser paga,  cuida observar que o 

adimplemento se dará por meio de títulos da dívida pública, previamente 

aprovados pelo Senado Federal, com resgate no prazo de até dez anos, em 

prestações  anuais,  iguais  e  sucessivas,  assegurando‐se  o  valor  real  da 

indenização e os juros legais de seis por cento ao ano, conforme previsão 

do §1º do artigo 8º da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001[27] (Estatuto 

das  Cidades).  A  legislação,  contudo,  indicou  o  sentido  de  valor  real, 

estabelecendo: 1º) que esse valor refletirá o que serve de base de cálculo 

do IPTU, descontando‐se, com efeito, o montante incorporado em função 

de obras executadas pelo Poder Público; 2º) que no quantumindenizatório 

não poderão ser computados expectativas de ganho,  lucros cessantes e 

juros  compensatórios,  atendendo‐se,  assim,  os  ditames  burilados  nos 

incisos  I  e  II  do  §2º  do  artigo  8º  da  Lei  nº  10.257,  de  10  de  julho  de 

2001[28] (Estatuto das Cidades). Carvalho Filho[29], porém, vai apresentar 

entendimento que se afasta de tal percepção, ponderando que o conceito 

de  indenização  justa não  se  apresenta  com determinação  tal que dela 

possa se extrair valor pré‐fixado. Afora isso, a referência, preconizada no 

inciso XXIV do artigo 5º do Texto Constitucional, substancializa regra para 

as  desapropriações,  sendo,  contudo,  plenamente  admissível  que  haja 

exceções  na  própria  Constituição.  Em  complemento,  ainda  como 

argumento  contrário,  é  preciso  realçar  que  a  modalidade  de 

desapropriação  em  comento  apresenta  natureza  punitiva  e  só  foi 

acionada  em  virtude  da  resistência  do  proprietário  em  atender  às 

obrigações urbanísticas de adequação ao plano diretor. Logo, tal situação 

não  pode  merecer  o  mesmo  tratamento  que  o  dispensado  para  a 

desapropriação ordinária.  

REFERÊNCIAS 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: < www.planalto.org.br >. Acesso em 11 jul. 2016.

___________. Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de Junho de 1941.Dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

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        115 Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56904 

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___________. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

___________. Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

___________.  Supremo  Tribunal  Federal.  Disponível  em: 

<www.stf.jus.br>. Acesso em   jul.  .

CARVALHO  FILHO,  José  dos  Santos.  Manual  de  Direito 

Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Lumen 

Juris, 2011. 

GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro.38 ed. São 

Paulo: Editora Malheiros, 2012.

VERDAN,  Tauã  Lima.  Princípio  da  Legalidade:  Corolário  do  Direito 

Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: 

<http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 11 jul. 2016 

NOTAS:

[1] VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

[2] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de Correspondências. Serviço Postal. Controvérsia referente à Lei Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978. Ato Normativo que regula direitos e obrigações concernentes ao Serviço Postal. Previsão de Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal. Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170,

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caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil. Violação dos Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não Caracterização. Arguição Julgada Improcedente. Interpretação conforme à Constituição conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da União. Aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º, da lei. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio. Julgado em 05 ago. 2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

[3] VERDAN, 2009, s.p.

[4] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011, p. 711.

[5] MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 661.

[6] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo N° 672.579/RJ. Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito administrativo. Servidor público. Adicional noturno. Regime de plantão semanal. Necessário reexame da legislação infraconstitucional. Análise do contexto fático-probatório. Impossibilidade. Incidência da súmula 279 do STF. Agravo regimental desprovido. Órgão Julgador: Primeira Turma. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 29 mai. 2012. Publicado em 19 jun. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

[7] MEIRELLES, 2012, p. 662.

[8] BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão proferido em Recurso em Mandado de Segurança N° 27.428/GO. Administrativo. Servidor público. Determinação de abertura de conta corrente em instituição financeira pré-determinada. Recebimento de proventos. Possibilidade. Recurso ordinário improvido. Órgão Julgador: Quinta Turma. Relator: Ministro Jorge Mussi. Julgado em 03 mar. 2011. Publicado em 14 mar. 2011. Disponível em: <www.stj.jus.br>. Acesso em 11 jul. 2016.

[9] Idem. Constituição da República Federativa do Brasil.Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <

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www.planalto.org.br >. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [omissis] XXII - é garantido o direito de propriedade.

[10] Ibid. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [omissis] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.

[11] CARVALHO FILHO, 2011.

[12] CARVALHO FILHO, 2011.

[13] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. [omissis] § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

[14] GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

[15] BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública.

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[16] GASPARINI, 2012, p. 938-939.

[17] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.

[18] GASPARINI, 2012.

[19] BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 51. Para os efeitos desta Lei, aplicam-se ao Distrito Federal e ao Governador do Distrito Federal as disposições relativas, respectivamente, a Município e a Prefeito.

[20] CARVALHO FILHO, 2011.

[21] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

[22] CARVALHO FILHO, 2011.

[23] BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. Art. 8o Decorridos

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cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. [omissis] § 4o O Município procederá ao adequado aproveitamento do imóvel no prazo máximo de cinco anos, contado a partir da sua incorporação ao patrimônio público.

[24] Ibid. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. [omissis] § 5o O aproveitamento do imóvel poderá ser efetivado diretamente pelo Poder Público [omissis}

[25] Ibid. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. [omissis] § 6o Ficam mantidas para o adquirente de imóvel nos termos do § 5o as mesmas obrigações de parcelamento, edificação ou utilização previstas no art. 5o desta Lei.

[26] CARVALHO FILHO, 2011.

[27] BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. § 1o Os títulos da dívida pública terão prévia aprovação pelo Senado Federal e serão resgatados no prazo de até dez anos, em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de seis por cento ao ano.

[28] BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.org.br>. Acesso em 11 jul. 2016. 8o Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha

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cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. [omissis] § 2o O valor real da indenização: I – refletirá o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado em função de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o mesmo se localiza após a notificação de que trata o § 2o do art. 5o desta Lei; II – não computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.

[29] CARVALHO FILHO, 2011.