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BOLETIM A, INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipiinares da Comunicação \ ím Ac Píiiúiâl íÈíiMin N. 0 «BIBLIOTECA N? 19 (Abril/80) Destaques: Noticiário da INTERCOM - Pesquisa da Imagem, tema reuniio de estudos de maio / Ci- clo de estudos sobre populismo e comunicaçio tem propôs ta de temário. Ensino - Novidades do Paraná / Crise da PUC-SP / Hemeroteca dinâmica na UFMG / Dar- cy Ribeiro fala da pós-graduaçio. Teoria - 0 "diálogo tácito" de Samora Machel. Pesquisa - Telenovela e mulher / Caparei li doutorou-se pela Sorbonne. Arte - Fotografia, arte popular? Veículos - TV por cabo no Brasil / Jornal do PP / Quem vai ao cinema? Profissões - RPs debatem situaçio profissional / Mulheres jornalistas realizam con- gresso. Comunicação Popular - Novas formas de comunicaçio na greve dos metalúrgicos / Picha çio oficializada no Recife. Comunicaçio Internacional - Vietnan: fazer a revolução escutando radio / Publicida- de reaparece na China / TV clandestina preocupa italia- nos. Gente - Gilberto Freyre / Barthes / Dom Balduino. Serviço - Documentação sobre comunicaçio de esquerda / Livraria do Cortez tem novo endereço. Eventos - Propaganda em debate / Reunião da SBPC. Noticiário Geral - 0 Papa e o contrato de exclusividade / Boa-noite pornô na TV / Conteúdo fora de moda. Comentário - Que liberdade ê essa ? Editores: Carlos Eduardo Lins da Silva / José Marques de Melo / J. S. Faro / Luiz Fernando Santoro / Manolo Moran / Ricardo Holanda / Rogério Cadengue / Ro berto Queiroz. INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipiinares da Comunicação Rua Augusta. 555 CEP 01305 São Paulo Brasil - C.G.C. 51.201.093/0001-53

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BOLETIM A, INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipiinares da Comunicação

\ ím Ac Píiiúiâl íÈíiMin N.0

«BIBLIOTECA

N? 19 (Abril/80)

Destaques:

Noticiário da INTERCOM - Pesquisa da Imagem, tema reuniio de estudos de maio / Ci- clo de estudos sobre populismo e comunicaçio já tem propôs ta de temário.

Ensino - Novidades do Paraná / Crise da PUC-SP / Hemeroteca dinâmica na UFMG / Dar- cy Ribeiro fala da pós-graduaçio.

Teoria - 0 "diálogo tácito" de Samora Machel. Pesquisa - Telenovela e mulher / Caparei li doutorou-se pela Sorbonne. Arte - Fotografia, arte popular? Veículos - TV por cabo no Brasil / Jornal do PP / Quem vai ao cinema? Profissões - RPs debatem situaçio profissional / Mulheres jornalistas realizam con-

gresso. Comunicação Popular - Novas formas de comunicaçio na greve dos metalúrgicos / Picha

çio oficializada no Recife. Comunicaçio Internacional - Vietnan: fazer a revolução escutando radio / Publicida-

de reaparece na China / TV clandestina preocupa italia- nos.

Gente - Gilberto Freyre / Barthes / Dom Balduino. Serviço - Documentação sobre comunicaçio de esquerda / Livraria do Cortez tem novo

endereço. Eventos - Propaganda em debate / Reunião da SBPC. Noticiário Geral - 0 Papa e o contrato de exclusividade / Boa-noite pornô na TV /

Conteúdo fora de moda. Comentário - Que liberdade ê essa ?

Editores: Carlos Eduardo Lins da Silva / José Marques de Melo / J. S. Faro / Luiz Fernando Santoro / Manolo Moran / Ricardo Holanda / Rogério Cadengue / Ro berto Queiroz.

INTERCOM ■ Sociedade Brasileira de Estudos Interdiscipiinares da Comunicação ■ Rua Augusta. 555 ■ CEP 01305 São Paulo ■ Brasil - C.G.C. 51.201.093/0001-53

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Noticiário da INTERCOM

REUNIÃO DE ESTUDOS: EM MAIO (DIA 12) DISCUTIREMOS A "PESQUISA DA IMAGEM"

Prosseguindo os encontros mensais dedicados ao tema - Metodologia da Pesquisa em Comuni- caçio, teremos no dia 12 de maio (segunda-feira, às l^t horas), a próxima reunião de estu dos sobre "Pesquisa da Imagem - Contribuições Metodológicas da Semiologia". 0 expositor convidado é o professor Eduardo PéRuela Cafiizal, da Escola de Comunicação e Artes da USP. Anote, desde já, o evento em sua agenda. E participe do encontro.

CELSO FREDERICO DISCUTIU A PESQUISA DA COMUNICAÇÃO OPERARIA

A reuniio de estudos de abril foi dedicada â "Metodologia da Pesquisa da Comunicação 0p£ rãria", tendo como expositor o sociólogo Celso Frederico, professor da Universidade Fed£ ral de São Carlos. A palestra foi dividida em duas partes: na primeira, se fez uma dis- tinção entre as posturas metodológicas da análise empírica e da análise dialética em ciências sociais; na segunda, discutiu-se concretamente os caminhos percorridos para de- tectar a consciência de classe dos operários do ABC paulista, tendo como elemento medi£ dor a própria comunicação operária. Celso Frederico apresentou a sua experiência na ela- boração das teses de mestrado e doutorado, ambas dedicadas a essa questão, e discutiu as implicações teóricas e operacionais das pesquisas realizadas. Ele defendeu a idéia de que a consciência de classe se dá na prática das relações sociais, constituindo uma rea- lidade objetiva que modela a própria intervenção metodológica. Em outras palavras, o es- tudo da comunicação operária como relatos identificadores da consciência de classe não pode partir de dados externos (os interesses e as opiniões pessoais dos pesquisadores) , mas deve alicerçar-se no conhecimento objetivo dessa realidade. Sua pesquisa originalmeji te utilizava os tradicionais questionários, mas depois de uma primeira etapa, ele abando nou tais recursos metodológicos, e passou a utilizar a mediação dos relatos pessoais ou das produções artísticas da vanguarda operária. Outro aspecto rejeitado por Celso Frede- rico foi a tese aithusseriana de que os aparelhos ideológicos do Estado modela a cons- ciência social. Reconhecendo, embora, que tais aparelhos exerçam certa influência, ele disse que na prática concreta das relações sociais esses fatores poderão ser neutraliza- dos, uma vez que as contradições inerentes à sociedade capitalista acabam por se manife£ tar no processo produtivo, gerando conjunturas que aguçam a luta de classes. Logo, o pa- pel dos meios de comunicação de massa não pode ser encarado como algo decisivo na forma- ção da consciência social, mas como uma das instituições que atuam externamente na sua conformação.

CICLO DE ESTUDOS SOBRE POPULISMO E COMUNICAÇÃO: TEMÃRIO PROPOSTO

Já reproduzido na última página do último boletim (n9 18, março/80), o temário do III Ci- clo de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ainda está sujeito a acréscimos e alte- rações, a partir de sugestões dos sócios. Cada um dos sub-temas será objeto de um simpó- sio, a ser coordenado por um sócio e contando com a participação de outras pessoas espe- cialmente convidadas. A comissão organizadora do ciclo fez a seguinte distribuição de ta refas: Populismo e Neopopulismo (coordenador: José Marques de Melo), A comunicação popu- lista: do DIP ã SECOM (coordenador: José Salvador Faro), 0 discurso populista ontem e ho je: confrontos (coordenadora: Jeanne Marie), 0 populismo nos MCM (coordenadora: Anamaria Fadul), 0 populismo na literatura (coordenador: Luiz Roberto Alves), 0 populismo na edu- cação (coordenador: Moacir Gadotti).

PARTICIPAÇÃO DOS SÕCIOS NO III CICLO DA INTERCOM

A participação dos sócios é sem dúvida o principal fator para o êxito do III Ciclo de Es- tudos I nterdiscipl inares da Comunicação. Alguns colegas preferem ter uma participação l_i_ vre, intervindo naturalmente nos debates, sem fazer prévia inscrição de trabalhos. Ou- tros, contudo, gostariam de dar uma contribuição mais concreta, sob a forma de relatos de pesquisa ou reflexões escritas sobre alguns dos aspectos do temário. Nesse segundo ca so, os interessados deverão manter contacto prévio com a secretaria da INTERCOM, infor- mando sobre os seus interesses e sobre as possibilidades de contribuição. Além daqueles sócios convidados para participar dos simpósios, todos os demais poderão inscrever seus trabalhos, quer se enquadrem ou não nos aspectos privilegiados pelo temário. Para isso , serão organizadas sessões livres destinadas exclusivamente ã apresentação de comunica- ções. Haverá um bloco de sessões para exposição e debates de trabalhos dos sócios sobre o tema do ciclo - Estado, Populismo e Comunicação no Brasil. Da mesma maneira, será re- servado um espaço, durante o ciclo, para a apresentação de comunicações não referentes

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ao tema central. Com isso pretende a diretoria da INTERCOM assegurar a possibilidade de intercâmbio de experiências a todos os associados. Para a melhor organização das diferen tes atividades, os sócios (ou outros interessados) deverio encaminhar, até o fim de ju" lho, sínteses dos trabalhos que irão apresentar. Essas sínteses nio deverão exceder duas páginas datilografadas.

S0CIOS DA INTERCOM PARTICIPAM DA I CBE

A INTERCOM esteve presente ã I Conferência Brasileira de Educação, através de um painel formado pelos sócios Anamaria Fadul (coordenadora), José Marques de Melo, Luiz Fernando Santoro e Maria Dora Mourão. 0 painel discutiu as relações entre "Meios de Comunicação de Massa e Educação", situando a questão na atual conjuntura política e social do país.

NOVO LIVRO DA INTERCOM SERÁ LANÇADO EM JUNHO, NA SBPC

Já foi entregue ã Editora Cortez a original do livro "COMUNICAÇÃO E CLASSES SUBALTERNAS", produto do II Ciclo de Estudos da INTERCOM, realizado em setembro de 1979, em São Paulo. A editora informa que fará o lançamento do novo livro durante a reunião da SBPC - Socie- dade Brasileira para o Progresso da Ciência - prevista para o Rio de Janeiro, no período de 6 a 12 de julho.

BIBLIOGRAFIAS DE COMUNICAÇÃO

Volta a circular, junto com este boletim, a Bibliografia Corrente de Comunicação, refe- rente aos meses de março/abril. Quanto ã Bibliografia Brasileira de Comunicaçao/79 hou- ve atraso na indexação dos artigos de periódicos. Em razão disso, as referências biblio- gráficas de 1979 (livros, artigos, monografias) serão incorporadas ã próxima edição, reu^ nindo a documentação do biênio 1979/1980. Para tanto, porém, esperamos contar com a cola boração dos sócios. Solicitamos que os colegas anteriormente vinculados ao projeto e os que tiverem disponibi1 idade ou interesse entrem em contacto com o Prof. José Marques de Melo, a fim de participar da distribuição das tarefas. A Bibliografia é um projeto cole- tivo, viável apenas na medida em que predomina o voluntariado na sua confecção. Logo, a participação dos sócios ê decisiva.

Noticiário dos Sócios

JOSÉ COELHO SOBRINHO (SP) - Defendeu, na ECA-USP, a tese de mestrado - "Legibilidade dos tipos na Comunicação Impressa", tendo sido aprovado com distinção. A banca examinadora foi composta dos professores-doutores Gaudêncio Torquato (orientador), José Marques de Melo e Modesto Farina.

JEANNE MARIE (SP) - Organizou e editou o volume "Psicanálise: feminino, singular", edi- ção zero do Centro de Estudos Freudianos. Está anunciando a publicação do estudo "Mulher: a outra".

LUIZ DIAS GUIMARÃES (SP) - Nomeado assessor de imprensa do novo Prefeito da cidade de Santos.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA (RN) - Designado para coordenar o Curso de Especialização em Comunicação Social da UFRN. / Participou, em abril, do ciclo de palestras sobre Cultura Popular, promovido pelo Centro de Ciências Humanas da mesma universidade.

ALBINO RUBIM (PB) - Publicou, no n? 6 da revista COMUM, comentário sobre o livro "TelevJ_ são e Consciência de Classe" de Sarah C. Da Viá.

ROBERTO PERES DE QUEIROZ E SILVA (SP) - Assumiu função docente na Faculdade de Comunica- çao de Santos, junto a discíplina de "Telerradiodifusão". / Está matriculado, como aluno especial, nos cursos de "Televisão Comunitária" e "Criação em Rádio" na pós-graduação da ECA-USP.

ANTÔNIO CERVEIRA DE MOURA (SP) - Está lecionando "Sistemas de Comunicação no Brasil" na Universidade de Mogi das Cruzes.

ANAMARIA FADUL (SP) - Coordenou um painel sobre "Meios de Comunicação de Massa e Educa- çao" durante a I Conferência Brasileira de Educação, realizada em abril, em São Paulo.

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GAUDENCIO TQRQUATO (SP) - A convite da Universidade Federal do Maranhio, esteve em São Luis, em abril, orientando um seminário sobre jornalismo brasileiro hoje.

DULCILIA BUITONI (SP) - Já concluiu a elaboração da tese de douturado sobre a imprensa feminina. A defesa ocorrerá em junho, na FFLCH-USP.

ISMAR DE OLIVEIRA SOARES (SP) - Está atuando como secretário-executivo do IX Congresso_ Brasileiro de Comunicação Social, promovido pela UCBC, e previsto para outubro, em São

Bernardo do Campo - SP.

SARA CHUCID DA VIA (SP) - Está trabalhando na tese de 1ivre-docência, que defenderá jun- to ao Depto de Relações Públicas e Propaganda da ECA-USP.

ROBERTO BENJAMIM e TEREZA LÚCIA HALLIDAY (PE) - Realizaram uma experiência didática com alunos da disciplina "Comunicação Rural", ministrada tanto na Universidade_Cat5lica qua£ to na Universidade Rural de Pernambuco. A experiência consistiu na avaliaçio das feiras regionais de produtos agro-pecuários como canais de comunicação. Os resultados da pesquj_

sa serão publicados brevemente.

WILSON DA COSTA BUENO (SP) - Editou mais um número dos "Cadernos de Jornalismo e Editora

ção" (n? 12), dedicado ã produção de discos no Brasil.

Ensi no

PARANÁ: NOVIDADES NO ENSINO DA COMUNICAÇÃO

No vestibular que a Universidade Federal do Paraná realizou em 1980 verificou-se que o curso de jornalismo teve a segunda classificação entre os cursos mais procurados. Inscre^ veram-se A20 candidatos, o que significa 21 concorrentes para cada uma das 20 vagas ofe- recidas. Somente o curso de nutrição obteve maior procura (22 candidatos por vaga). 0 fa to pode ser explicado não apenas pela dinamização do mercado jornalístico naquele Estado (onde vem se ampliando consideravelmente uma editora de revistas masculinas e femminas), mas sobretudo pelo fato de que a Universidade Católica do Paraná, que também mantém um curso de comunicação (com habilitações em jornalismo, PP e RP), cancelou o vestibular pa ra as referidas habilitações neste ano. Tal decisão da reitoria da Católica foi justifi- cada com a "saturação do mercado de trabalho" (clichê ao qual recorrem sistematicamente as mantenedoras de escolas particulares quando resolvem cancelar cursos). No entanto, sa be-se que a razão não foi exatamente esta: pretendeu a Reitoria esvasiar o movimento de contestação que surge entre os estudantes da escola. Evitando a entrada de novos alunos, a direção do curso de comunicação terá maiores facilidades para isolar os "alunos contes^ tadores" e controlar o crescente descontentamento ali reinante.

PUC-SP: EM CRISE 0 CURSO DE JORNALISMO

Desde 1977, a PUC de São Paulo mantém um curso de jornalismo. Os dois primeiros anos fo- ram dedicados ao ciclo básico. A partir de 1979, instalando-se o ciclo profissionalizan- te, a direção da universidade convocou jornalistas e outros profissionais vinculados ã indústria da comunicação para colaborarem no projeto. Apesar da equipe daque]a universi- dade manter-se quase em isolamento em relação ãs demais escolas de comunicação do Estado, tinha-se notícia de que a proposta do curso da PUC-SP era bastante inovadora. Agora, no início de 1980, explode uma grave crise no curso, com a divulgação de boletins mimeogra- fados pelos alunos, dizendo que o projeto inicial foi distorcido, e pedindo o afastamen- to do coordenador do curso e de vários professores. Na última semana de março, os fatos repercutiram na imprensa, com a divulgação das acusações dos alunos que contestam as "i- novações" ali introduzidas, pois os professores teriam adotado a orientação de dizer que "jornalismo não se aprende na escola, mas na rua", e, em razão disso, não compareciam ãs aulas, etc, etc. Contudo, alguns professores teriam reprovado boa parcela dos alunos, a dotando critérios inteiramente subjetivos. Como as informações veiculadas pela imprensa são escassas, não se pode formular um quadro integral da situação. Contudo, parece que a raiz da crise está na subordinação do curso ao grupo de docentes da^área de letrasi que enfatiza o estudo da linguagem, deixando â margem o tratamento acadêmico das questões re ferentes ã prática profissional. É possível que essa tendênciatenha aguçado a valoriza- ção exclusiva dos trabalhos práticos, sem a devida fundamentação teórica, o que conduziu ao impasse refletido no conflito docentes-discentes. Reproduz-se, assim, mais uma vez o equívoco de conferir ao ensino de jornalismo uma praticidade elementar que se torna va-

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-k zia em si mesma, pois a funçio das escolas de jornalismo é não somente reforçar e re- criar a prática profissional, mas sobretudo pensã-la e redimensiona-Ia criticamente.

FORMAÇÃO DOS PUBLICITÁRIOS g INSUFICIENTE

Falta de escolas especializadas na formaçio de publicitários profissionais, este foi o principal problema levantado pelo uruguaio Carlos Ricargni que os países ibero-america- nos enfrentam no setor da publicidade. A afirmação foi feita durante a realização do Con gresso de Publicidade das Nações Ibero-Americanas durante o qual representantes de vá- rios países da América Latina debateram a situação do setor. 0 Congresso, realizado no final do ano passado, recomendou em suas conclusões uma maior integração entre os profis sionais depublicidade da região como forma de superar o individualismo e as dificulda-"" des, especialmente as de ordem material, que o setor encontra para o seu desenvolvimento. A principal conclusão, no entanto, foi a de que a publicidade, na grande maioria dos paí ses latino/americanos, ignora o contexto cultural sobre o qual atua. A tese, defendida pela publicitária Julieta de Godoy, afirma que são raras as vezes em que a propaganda não funciona como mera atividade de informação ou prestação de serviços. Na verdade, se- gundo Julieta, ela atua como forma de iludir, acomodar, conciliar de modo enganoso os in teresses governamentais com os interesses populares. Inverter essa situação só será posT

sível quando existir um plano verdadeiro de ação popular, educando, alfabetizando, divul gando verdades que de fato possam beneficiar o homem. "A cultura é uma coisa viva, a pro paganda é uma atividade artificia] que só passa a ter vida se colocada a serviço da rea~ 1 idade do povo, dentro das condições de seu meio".

JORNAL-LABORATflRIO NA COMUNIDADE

Já está circulando na comunidade popular da Cidade da Esperança, em Natal, o segundo nú- mero do JornalHaboratório Nossa Voz, elaborado pelos alunos do curso de Jornalismo da UFRN. 0 primeiro número saiu em outubro do ano passado e os estudantes, com a comunidade, desenvolveram intenso trabalho crítico sobre o seu resultado, no decorrer dos últimos me ses do ano letivo de 1979. Diversas falhas foram apontadas pelos moradores da Cidade da" Esperança aos responsáveis pelo jornal, que esperam corrigí-las no decorrer deste ano. 0 jornal pretende ter a periodicidade mensal e mantém a sua proposta inicial de ser um jornal de defesa dos interesses da comunidade em que circula.

EDUCADORES DEBATEM POLÍTICA EDUCACIONAL; I CBE

De 31 de março a 3 de abril, cerca de mil educadores brasileiros,que atuam em diferentes níveis de ensino, estiveram reunidos em São Paulo para debater a Política Educacional. 0 encontro ocorreu durante a I Conferência Brasileira de Educação, realizada na PUC-SP, e promovida por quatro entidades: ANDE (Associação Nacional de Educação), ANPED (Associa- ção Nacional de Pós-Graduação em Educação), CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contempo rânea) e CEDES (Centro de Estudos Educação e Sociedade). A promoção do evento constituiT segundo a explicação dos seus_organizadores, "a primeira de uma nova série, promessa de um passo adiante na organização dos educadores, condição para a construção de uma educa- ção democrática em nosso país'.'. Contando com inúmeros simpósios e painéis, a conferência representou na prática uma tentativa de retirar os educadores da letargia em que se en- contram no seio do aparelho escolar, quando muito quebrada pela reivindicação de melho- ria salarial. Várias propostas foram discutidas no sentido de transformar a escola em instrumento da democratização política e em veículo capaz de neutralizar os efeitos alie nantes da prática social disseminada pelas diferentes instituições que funcionam como a-" parelhos ideológicos do Estado. Os trabalhos apresentados ã I CBE serão publicados, sob a forma de anais, pelo CEDES - Av, Dr. Romeu Tórtima, (>2k - Cx. Postal 6022 - A.P. UNI- CAMP - Campinas, SP, CEP: 13.100.

NO BRASIL, EDUCAÇÃO CONTINUA SENDO PRIVILEGIO

Apesar da cortina de fumaça lançada nos últimos 16 anos pela propaganda governamental , que criou uma imagem de democratização das oportunidades educacionais no país, a real ida de apresenta-se inalterada, permanecendo mais atual a denúncia de Anísio Teixeira de que a educação no Brasil ê privilégio das elites. 0 recente relatório apresentado ao Minis- tro da Educação pela Secretária do Ensino Fundamental do MEC, professora Zilma Parente , recolocou em evidência a gravidade da questão. Eis os "dados alarmantes", conforme notí- cia da FSP (15/03/80): "Nada menos que 35% das crianças em idade pré-escolar se encon- tram fora do sistema de ensino; cerca de quatro quintos dos jovens entre quinze e deze- nove anos nio estão sendo atendidos pelo 2? grau; quase sete milhões de crianças em ida-

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de de escolarizaçio, entre sete e quatorze anos - 26% do total de 25 milhões de crianças nessa idade - nio sio atendidas pelo ensino regular ou especial".

DARCY RIBEIRO FALA SOBRE A POS-GRADUAÇÃO

da "A experiência brasileira de pós-graduaçao nos últimos anos e a coisa mais positiva história da educação superior do Brasil e é também a que tem que ser levada mais a se- rio". Quem fez esta afirmaçio foi o prof. Darcy Ribeiro numa entrevista recentemente con cedida ã "Encontros com a Civilização Brasileira" (19, janeiro de 1980). Em sua opinião, a pós-graduação significou para o ensino superior o abandono da tradição espontaneista_e ocasional na formação de professores universitários e o início de um sjstema de formação sistemática, de provas de Mestrado e Doutorado, comprometidas com a ciência ecom a pes- quisa. Isto não significa, no entanto, que a expansão desse nfvel de ensino não tenha so frido da característica desordenada que marcou a situação educacional do Brasil nos últj_ mos anos. Para Darcy Ribeiro este fato, contudo, foi provocado pelo desvio que oprojeto original da Universidade de Brasília sofreu após 1964. Daí porque os cursos depós-gradu^ ação estariam hoje ameaçados em nosso país : eles correm o risco da deterioração provoca da pelas instituições que não tem condições de ministrar tais cursos. 0 que não signifi- ca um mal original da pós-graduação e sim da forma como ele vai se implantando no BrasM. Diz Darcy Ribeiro: "Converteram o Mestrado num curseba, num decoreba terrível porque dão quantidade de matéria, os alunos têm que estudar matéria, passar de ano, ser aprovado , preencher fórmulas. Mestrado tinha que ser tratado com mais autonomia e autoridade, com menos interferência do Conselho Federal de Educação, que dá palpite em tudo e só atrapa- lha. Tratado com mais autonomia e mais vigilância, para que as Universidades realmente capazes de dar Mestrado e Doutorado dêem, para que tenham autoridade de organizar seus cursos como peneira, para ver quem fica, quem vai fazer ou não a carreira (do magistério superior)". Apesar disso, entretanto, Darcy Ribeiro reconhece que houve uma melhora _ na qualidade da produção científica brasileira nos últimos anos, graças ã expansão do pós-

graduação.

HEMEROTECA DINÂMICA NA UFMG

Uma das exigências do tão adiado currículo mínimo de comunicação social é a implantação de Hemerotecas como órgão complementar do curso de jornalismo. 0 Departamento de Comuni- cação Social da UFMG, em Belo Horizonte, realizou algo mais que a mera instalação de um espaço para reunir jornais e revistas já publicados. A Hemeroteca publica um boletim pe- riódico, que apresenta sinopses do noticiário divulgado pelas fontes que incorpora ao seu acervo, além de dar conhecimento aos seus usuários sobre as novas fontes adquiridas. Trata-se de experiência a ser reproduzida nas demais escolas de comunicação.

PLAGIO EM LIVROS DIDÁTICOS

Pessoas incapacitadas estão escrevendo os livros didáticos brasileiros, apelando para plágios e cópias de autores credenciados. Esta é a denúncia que o professor e autor de diversos livros de Matemática, Osvaldo Sangiorgi faz ã "Folha de São Paulo" (6/'4/80 pag. 21), quando reclama da grande quantidade de 1 ivrosjançados no mercado, onde, segun do o denunciante, não existe a menor qualidade e condições de se fazer uso nas escolas brasileiras. Osvaldo Sangiorgi diz ainda que muitos de seus livros são plagiados e que não existem meios de conter os plagiadores, já que estes, muitas vezes, fazem modifica- ções quanto às palavras, exemplos, etc, mas, aproveitam o espírito do trabalho. Sangior- gi também critica o MEC que não tem especialistas para analisar os livros didáticos e se lecionar os que realmente tenham condições de ensino para a juventude brasileira. As cr_i_ ticas de Osvaldo Sangiorgi e as suas acusações, são reforçadas pelas professoras Manhu- cia Liberman e Lucília Sanchez, que, inclusive, dão os nomes de autores quereriam pla- giado seus trabalhos didáticos. As acusações quanto ao^plágio de livros didáticos_ nao são novas, repetindo-se sempre, sem que nenhuma providência seja tomada pelos órgãos com petentes. Além dos plágios, freqüentes segundo as denúncias, seria bom se rever mais uma vez o problema ideológico dos mesmos, tema bem analisado por Maria de Lourdes Nosella em seu trabalho "As Belas Mentiras" editado pela Cortez e Morais.

Teoria

MOÇAMBIQUE: 0 "DIALOGO TÁCITO" DE SAMORA MACHEL

0 sociólogo paulista J. Chasin retornou ao país, depois de um período de três anos de co laboração técnica com o governo de Moçambique. Chasin não apenas prestou sua contribui-

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çio ã reconstrução nacional^da jovem nação africana, mas também realizou um interessante trabalho de observação e análise da transformação social, política e econômica que ocor- re naquele país. 0 seu primeiro relato sobre a experiência moçambicana está publicado na revista TEMAS DE CIÊNCIAS HUMANAS, n° 7, publicada pela Editora CH (Rua 7 de abril, 26^4, salaS, CEP^ OlCm, Sao Paulo - SP) . 0 artigo chama-se "Sobre Moçambique" e entre tan- tas impressões, Chasin anota a questão da comunicação popular através dos comícios. Ele descreve particularmente o comício realizado a 3 de fevereiro de 1979, quando foi anun- ciado ao povo a decisão do III Congresso da FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique- de transformar o movimento em Partido Político de Vanguarda. Sendo o comício uma forma de comunicação política que geralmente implica numa relação vertical entre emissor e des tinatários, comportando evidentemente a comunicação de retorno, mas reduzindo-se quase _

sempre a uma mobilização popular para ouvir lideranças, Chasin mostra como Samora Machel consegue superar a "mobilização passiva" (Enzensberger) do povo, instituindo um "diálogo tácito", que representa uma forma efetiva de participação popular. Vamos transcrever o relato de Chasin: "Não basta ler os discursos de Samora Machel. Para apreendê-los em to- da sua dimensão é preciso vê-los e ouví-los ao vivo. Por mais fidedigna que for a trans- crição, por mais completo que for o registro, faltarão o tom e as modulações, o gesto e a movimentação de todo o corpo, os improvisos que nunca deixa de intercalar ao que por escrito traz algumas folhas de papel. 0 discurso samoriano é uma clara manifestação de boa e vigorosa oratória popular. Talhe elevado que nada concede ao popularesco, ou às ri dicularias de técnicas artificiosas. E uma peça criada, em sua forma final, no próprio ã^ to de sua anunciação. Face aos que o ouvem, Samora Machel, discursando, tem a virtude de dar origem a um verdadeiro diálogo táci to. Diálogo efetivo e palpável do qual os presen- tes participam de várias maneiras: com risos e sorrisos de aprovação, com o rebrilhar de olhos atentos em verdadeiro êxtase de identificação, com murmúrios de densa satisfação , no mínimo com o característico balançar de cabeças, e também e numerosamente com respos- tas, dadas aos brados, às solicitações diretas do orador. Participam cantando e dando vi vas í e abaixos 1. Participam sobretudo como fundamento e alvo, como sujeito e objeto histórico da criação do Partido FRELIMO, cujo objetivo prioritário, vale repetir, é li- quidar a fome. (...) Quando Samora Machel mexe com os brios da massa, frisando que todo mundo quer seu pão com manteiga - 'é claro1 - que todo mundo gosta disso - 'ah! sim' - . mas que estas coisas não caem do céu, e que só o suor de muitos os bota sobre as mesas ; quando Samora conduz sua argumentação desse modo não está a fazer concessões de lingua- gem, não está condescendendo ãs balelas da 'comunicação', mas está, isto sim, - educan- do o educador - coisas de que fala Marx, em suas Teses sobre Fuerbach, pois, como Lukacs indicou certa vez, a essência da linguagem não é informar, mas meio de entendimento en- tre os homens, proposta de ação conjunta".

REVOLUÇÃO DE 64: DO PARAÍSO PERDIDO A TORRE DE BABEL

Alberto Dines, que já foi qualificado por Tristão de Athayde como o "príncipe dos jorna- listas brasileiros" publicou excelente análise sobre a trajetória política e econômica do movimento militar de 1964 na edição de 30/3/1980 da "Folha de São Paulo". Sua tese é de que, passados dezesseis anos, "a chamada Revolução de 1964 ainda não resolveu as difi cuidadas de seus primeiros instantes" e hoje encontra-se nos seus estertores debatendo--

se com "um terrível e enorme obstáculo: credibilidade". E interessante que Alberto Dines destaca - no artigo intitulado 1964 é o mito do paraíso perdido - como o governo militar fez uso da comunicação nesses dezesseis anos de desencontros, originalmente para desenca dear o "mito do desenvolvimento", mas agora para "manter o sonho do progresso" num com--

portamento semelhante àquele do episódio bíblico da Torre de Babel. Convém registrar os tópicos finais do artigo de Dines que colocam em destaque a questão da comunicação. "Ro- berto Campos, quando ministro do Planejamento, leu Wilbur Schramm com suas idéias sobre comunicação x de massa servindo ao desenvolvimento econômico (rádio educacional, TV didá tica, cartilhas em jornais, canais de telecomunicações, sistemas postais, fábricas de pã pel e maquinário impressor, etc). No entanto, alguém entendeu que o progresso deveria ser alcançado através das técnicas de motivação publicitária. 0 desencontro não é apenas técnico, mas de doutrina. De Schramm ficou o título - tudo o que pudesse servir para man ter o sonho de progresso deveria ser usado, mesmo que o prejudicasse. Um país sem recur- sos gasta somas fabulosas para proclamar que não está na penúria. 0 que se desperdiçou neste primeiro aniversário do governo Figueiredo (do Ministério dos Transportes aos inú- meros governos estaduais) daria para resolver alguns dos problemas nacionais. Mas o so- nho precisa ser aquecido permanentemente, ainda que com isso se torne mais esgarçado. To dos os delírios são autofãgicos - a energia consumida para mantê-los acesos solapa suas vítimas. 0 senso de moralidade e de decência sucumbiram há muito nesta voragem para man ter a miragem paradisíaca. Os escândalos já não sensibilizam, porque, para justificá-loT,

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sio acionadas as 'razões de Estado', imponderáveis e absolutas. A revolução não revolu^ cionou, nio escapou do ferrete das várias anestesias legais. No entanto, no fértil'ssimo arsenal onírico, continuam sendo preparadas outras poções soníferas - o voto distrital,a reforma constitucional e até o judiado parlamentarismo - para manterem a ilusão do Shan- grilã distensório e da missão cumprida. 0 Velho Testamento, depois de tratar da queda do homem, registra o episódio da Torre de Babel. Convinha examinar o engenhoso edifício e sua espetacular falência - para entender o que nos aguarda".

Pesqui sa

A TELENOVELA E A MULHER

Ana Maria Brasileiro e Maria Thereza Lobo estão terminando um trabalho sobre "Assimetria Sexual e Telenovela". A hipótese básica é que a telenovela funciona como instrumento de perpetuação de papéis tradicionais da mulher, em termos de trabalho, família, sexo, auto ridade, participação política, religião e educação nas escolas. É possível, entretanto , que tais papéis apareçam na telenovela com um certo grau de modernização, mais sofistica do, mas sempre limitados pelo sistema ideológico reinante. Nesse sentido, o que poderia parecer inovador, sempre cai no velho e em nada contribui para a transformação da socie- dade. É preciso também assinalar as limitações impostas pela censura que, estupidamente, impõe moralismos superficiais (proibição de blusas transparentes, etc) mas permite que conteúdos alienantes, de qualquer forma sempre graves, passem a fazer parte do cotidiano da telenovela. Outra limitação que existe é a estimulação do consumo, como foi o caso de "Dancing Days", aproveitando a onda das discotecas. Na telenovela, tudo é muito adocica- do, maquado. Será assim na vida cotidiana?

CAPARELLI; TESE DEFENDIDA NA SORBONNE

Sérgio Caparei li é um jovem professor e pesquisador radicado em Porto Alegre, que vem se destacando como um'estudioso sério dos problemas de comunicação. Docente da PUC-RS e par_ ticipante do Coojornal, tem publicado alguns ensaios nas revistas especializadas, demons trando uma visão critica da comunicação na sociedade capitalista. CapareHi fez estudos pós-graduados no Instituto Francês de Imprensa, tendo também tido experiências de pesquj_ sa na Alemanha, Itália e outros países europeus. Recentemente, ele voltou ã França para defender sua tese de doutoramento, sob a orientação de Jean Cazeneuve. A tese analisa a trajetória política da televisão brasileira, identificada como aparelho ideológico den- tro da ótica da segurança nacional. A defesa ocorreu no dia 26 de março, tendo sido apro vada pelos membros do comitê. De volta a Porto Alegre, Sérgio Caparei li retoma suas ati- vidades docentes e de pesquisa e lança seu primeiro livro sobre comunicação (ele tem vá- rios outros livros, na área da ficção). Trata-se de Comunicação de Massa sem Massa, pu- blicado pela Cortez Editora, em São Paulo.

Arte

FOTOGRAFIA, ARTE POPULAR ?

Seria a fotografia uma arte popular? Poderiam as chamadas classes populares, aquelas que vivem com uma renda impossível, se dedicarem a esse hobbie? Muito embora fique difícil de provar, é o que pretende Mauro Rubens de Barros, em artigo publicado na "Folhade São Paulo" (6Á/80, pag. 38), utilizando-se de dados estatísticos quanto ã venda de câmaras e de filmes no Brasil. Ele mostra que as câmaras amadoras ede preço mais baixo, tipo Instamatic, Tira-Telma e Xereta, são as mais procuradas, até mesmo a partir de uma polí- tica de marketing adotada por empresas, que estão atingindo um público fora do eixo Rio- São Paulo, através de mala direta e anúncios em revistas populares (fotonovelas e faroes^ te) aproveitando-se de imagens como a do comediante Renato Aragão. Apesar de reconhecer o avanço desse mercado, o autor advoga uma política de promoções e marketing diferencia- da, de modo a aumentar a participação de camadas mais populares na fotografia, até aomen_ tando o consuno de filmes no Brasil, que ainda é muito baixo em relação a -outros países, com apenas 15 milhões de filmes revelados por ano, deixando uma média de três filmes por máquina fotográfica existente. Como justificativa para taxar a fotografia de arte popu- lar, Mauro Rubens de Barros, que é especialista na área de mercadologia, alega a desne- cessidade de cursos especializados e muito menos de nível universitário, para se ticar fotografias, principalmente utilizando-se estas câmaras mais "populares", como foco fixo e poucas preocupações técnicas. Questiona-se apenas se as chamadas camadas populares tem condições para utilizarem-se de câmaras e filmes, todos importados, tirando estas despe-

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sas de seus minguados salários. Será que na realidade brasileira a fotografia poderia ser considerada uma arte popular? Ou será que mais uma vez o termo "popular" está sendo usado de forma incorreta?

Veículos

TV POR CABO NO BRASIL

Em 19^8 teve origem nos Estados Unidos a cabodifusio como meio de melhorar a recepção de imagem em áreas distantes. 0 sistema recebe os sinais das emissoras convencionais pelo ar, retransmitindo-os por cabo para as residências. 0 sistema local, por sua vez, também tem capacidade para inserir programações e serviços próprios, significando uma mini-esta ção alternativa ou complementar. A transmissão da TVCa (TV por cabo) se processa de três diferentes modos: cativa, de assinatura e interativa. Na "cativa" o usuário paga uma ta- xa fixa para receber normalmente 12 canais, número que poderá ser ampliado para 60. Na de "assinatura", mediante o pagamento de uma taxa específica por programa, o usuário so- licita aqueles que deseja assistir. Na "interativa", a comunicação é feita nos dois sen- tidos, podendo o assinante comunicar-se com a emissora pelo mesmo cabo. 0 custo de im- plantação de um sistema de TVCa, segundo a revista Propaganda de dezembro de 1979, é ele vado. A instalação para dois mil assinantes é calculada em 120 milhões de cruzeiros ou 60' mil cruzeiros por assinante. Este pagará, além da assinatura inicial, uma taxa mensal em torno de 600 cruzei ros( tomando por base os sistemas americanos). Depois de muitas rriar- chas e contramarchas, um novo pedido de aprovação foi feito recentemente ao ministro das Comunicações, Haroldo de Mattos. Este recomendou ao presidente Figueiredo que o projeto seja incluído na mensagem de revisão da Lei de Radiodifusão a ser encaminhada ao Congres so neste ano, já que o índice de nacionalização da matéria prima usada na cabodifusão ja^ ultrapassou_os noventa por cento. Várias entidades universitárias pedem a participação na elaboração do projeto governamental. Deputados pedem que a matéria não seja regulamen tada por decreto e sim por delegação ao Poder Legislativo para a apreciação e debate de-

seu conteúdo. De acordo com recente boletim da Lintas Brasil, o último projeto de decre- to apresentado contém definições como as seguintes: - existência de canais comerciais, e ducativos (sem publicidade), canais para programação de entretenimento sem publicidade ¥ canais destinados a transmitir, exclusivamente, publicidade comercial; - diversas entida des, a critério do Ministério das Comunicações, poderão explorar o serviço da cabodifu--

são numa mesma localidade; - permissão será de 15 anos; - as concessionárias deverão transmitir gratuitamente, além dos seus serviços, as programações dos canais de TV de circuito aberto e deverão destinar um canal para a transmissão de programas educativos a cargo do governo. Várias entidades exigem maior participação na definição do sistema de TV por cabo. A UCBC, entre outras considerações, reivindica "o uso gratuito de dois ca- nais reservados a grupos representativos da comunidade local", quando da licença para a instalação de sistema de até 20 canais em qualquer localidade. No caso de sistemas com mais de 20 canais, a UCBC sugere três ou mais canais destinados ao acesso público. Tais canais ficariam franqueados principalmente aos grupos que não têm condições de competir com os grupos econômicos, mas que possuem conteúdos culturais interessantes. A TVCa de- senvolve um caminho próprio de opções, posicionando-se diretamente para segmentos especí ficos da população (colônias, grupos profissionais, etc), podendo fornecer, também, se acoplada a um sistema de computação, uma série enorme de serviços públicos como: situa- ção de trânsito, previsão de tempo, reservas de passagens ou de ingressos e informações gerais. Outra função será junto ao ensino audiovisual como, por exemplo, "laboratório"de universidades ligadas ã comunicação, psicologia, medicina, arquitetura, etc. São incalcu laveis todas as possibilidades técnicas de utilização de uma rede integrada de telecomu-" nicações. Nos Estados Unidos o desenvolvimento desse setor vem experimentando um rápido crescimento nos últimos três anos devido a dois fatores: o governo vem facilitando sua expansão nos maiores mercados (até recentemente o sistema era vedado nas grandes cidades; o segundo devido aos desenvolvimentos tecnológicos, sobretudo transmissões por satélite -as chamadas superestações) estão propiciando programação de alta qualidade e de agrado público a centrais locais de cabo. Em 77, apenas 80 sistemas de cabo estavam aptos para receber a programação de satélite. Em um ano passou para ^00. Hoje são 1.200 e as estima tivas para 80 prevêem 2.400 sistemas de TVCa recebendo programação de satélite. (José Ma~ noel Morân)

A TV RECORD-SP: UM PROJETOR CONTRA A MAQUINA DA GLOBO

Surpreendentemente a TV Record está conseguindo, no Estado de São Paulo, um tranqüilo se gundo lugar, em audiência, atrás da TV Globo. "Nosso segundo lugar é tranqüilo do meio--

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dia até o final da programaçio" - diz Hélio Ansaldo, diretor de programação. "Tirando-se, é_claro, a Globo, a soma dos índices de audiência de todas as outras emissoras paulistas nio consegue chegar i metade do nosso". E com que armas luta a TV Record para manter es- se segundo lugar e ainda vencer a Globo em vários horários?: - todos os dias, às 18 ho- ras, exibe os desenhos animados do marinheiro Popeye, média de audiência: 30^; - todos os dias, ãs 20 horas, exibe velhos mas ainda simpáticos seriados de aventuras como Guns- moke, média de audiência: 18%; -todos os dias, ãs 21 horas, exibe filmes de longa-metra gem, faroestes, policiais, terror e mistério, no final do ano passado, a história do Ho- mem Cobra chegou a mais de 70% de audiência, a média do horário está, hoje, em torno dos 30%; - todos os dias, ãs 23 horas, exibe seriados abandonados pela Bandeirantes e pela Tupi. Como Cannon, Barnaby Jones, Mod Squad e Columbo, média de audiência: 18%. A única exceção é o programa "0 homem do sapato branco" e seu mundo-cão da miséria e da marginã- lia de São Paulo. Cerca de 800 mil pessoas vêem o Homem, e ex-deputado estadual Jacinto Figueira Júnior, apresentar casos escabrosos de gente que come ratos, meninas afetadas pela Talidomida, mulheres que trocam seus maridos pelo sogro e assim por diante. Isso dá perto de 23% dos aparelhos ligados no horário. 0 grande trunfo da Record, de qualquer forma, ê o seriado Chips, cujo enredo fala de dois policiais motoqueiros e seu dia-a-dia nas vias expressas e nas autoestradas de Los Angeles. Cerca de 2 milhões de paulistas vêem Chips, exatamente em cima da primeira hora do Fantástico. A opção pela Record mos- tra um público ávido por uma televisão de completa evasão, que trabalha ao nível da fan- tasia (desenhos animados, seriados e filmes de faroeste). £ uma emissora sem um telejor- nal ã noite. A Record revela mais claramente a real função da TV: evadir para alienar. U ma alienação mais assumida do que a pseudo-realidade de outras emissoras que se vanglo- riam de "retratar" o dia a dia nas suas novelas e nos seus informativos.

JORNAL DO PP

0 secretário-geral do Partido Popular, deputado Thales Ramalho, anunciou em Brasília o projeto de edição de um jornal nacional destinado a veicular as idéias e propostas polí- ticas daquela nova agremiação. 0 jornal será diário, sendo editado em Brasília e reim- presso em seis outras capitais. Pretende o Partido convocar profissionais qualificados para o trabalho redacional, de reportagem e gráfico. Trata-se de uma inovação no quadro político brasileiro, pois nem sempre os partidos políticos confessam suas vinculaçoes com determinados jornais ou revistas, mantendo quase sempre relações camufladas.

SEXO PARA AS MASSAS

"Peteca é a Playboy dos pobres", "nosso público é o povo brasileiro"; "problemas mesmo não surgiram com a censura, mas com as lideranças de algumas cidadezinhas do interior" : essas frases, curtas e cruas, definem os limites e as dificuldades da Grafipar, a única editora até agora bem sucedida na luta contra o verdadeiro monopólio exercido pelas edi- toras Abril, Bloch, Vecchi, Rio Gráfica e Três, no mercado das revistas eróticas. E fo- ram ditas por Faruk El-Khatib, o diretor da empresa, que orgulhosamente afirma ter popu- larizado o erotismo gráfico no país. Para Faruk, a população brasileira não é sofistica- da, não tem poder aquisitivo, nem hábito de leitura aguçado. "Então por que não fazer u_ ma revista de qualidade, mas que realmente atinja esse público? Evidentemente não pode- ria faltar o champignon, isto é, a mulher, que hoje em dia vende mais que qualquer coi- sa". A Grafipar começou há mais de 20 anos como distribuidora de livros e passou a edi- tar aos poucos: primeiro foi "Passarola", revista de passatempo, que até hoje é entregue aos passageiros da Varig; depois "Colorindo", uma publicação infantil, também de passa- tempo, que garantiu ã empresa a penetração na rede distribuidora. 0 passo seguinte foi "Peteca", "para se ler na cama" como diz seu slogan, e dividida entre fotos provocantes, palavras cruzadas eróticas, correspondência. Para Faruk , trata-se de um "serviço de edu^ cação sexual" prestado em 65 mi 1 exemplares, renovados quínzenalmente, além de abrir es- paço para o homossexualismo (a secção tem o nome de "Cabo a Rabo"). Faruk é realista, no entanto: "Eu não posso competir com uma Abril ou Editora Três"; "Eles tem linhas sofistj_ cadas porque apoíam-se na publicidade, que têm na mão. Se não consigo vender espaço co- mercial tenho que me apoiar no leitor, nas vendas em bancas. Por isso faço um produto que conversa muito com o leitor, dá conselhos, estabelece intimidade com ele. Peteca é aberta, sem nenhuma frescura em volta dela, abrindo o jogo sem mi longas". Depois de "Pe- teca" veio "Personal - malícia nua e crua", muito mais arrojada. Em seguida surgiu "Con- fissões Intimas", "Contos Eróticos", "Peteca Som"; e ainda "Próton", "Neuros" e "Perí- cia", todas na base do erotismo, ficção ou não, mas com um forte apelo sensual que gara£ te a penetração entre o público leitor de menor poder aquisitivo. Recentemente, a edito- ra foi mais ã frente: "Afinal queremos crescer no mercado, e não podemos nos restringir

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a um único segmento", daT o lançamento de "Atenção" - revista mensal de informação geral sem nenhuma matéria erótica, que chegou a dar uma aura de seriedade a Faruk. "Estamos es parando que as agências de publicidade descubram nossos veículos", diz o editor.

"VOZ DA UNIDADE" PRETENDE SER JORNAL DE VANGUARDA

Lançado em São Paulo, no dia 30 de março (comemorando os 58 anos de fundação do Partido Comunista em nosso paTs), o semanário VOZ DA UNIDADE deverá dirigir-se a um público de vanguarda. Nas palavras do seu redator-chefe, GiIdo Brandão, em entrevista ã revista Isto í (2/V80), o público do jornal será constituído de "formadores de opinião pública, mi 1 i tantas, ativistas sindicais". Apesar de auto-proclamar-se "um jornal dos comunistas". "Ã Voz não será um jornal fechado, publicando "artigos de várias origens". Com uma tiragem-

de 50 mil exemplares, distrlburdos em todo o território nacional, o novo vefculo da im- prensa nanica foi lançado numa festa popular, realizada num circo da zona norte da ca- pital paulista, contando com a presença de Gregório Bezerra e outros militantes da es- querda recém chegados do exPlio. Afirmando que o jornal não conta com "o célebre ouro de Moscou", o editor-chefe diz que a publicação se manterá com a venda em bancas, anúncios, a2ém de recorrer a um corpo de acionistas que comprarão bônus especiais. A primeira edi- ção da VOZ DA UNIDADE contêm matérias polTticas, artigos sobre cultura e reportagens a respeito de diferentes categorias do mundo do trabalho.

BRASIL: 4? MERCADO MUNDIAL DE CINEMA

Com a inauguração da televisão a cores no Brasil, o cinema perdeu muitos espectadores na primeira metade da década de setenta. Segundo a Embrafilme e a Marplan, o total de salas brasileiras vendeu,em 1971, 230 milhões de ingressos de cinema; 191,5 em 1972; 193,^ em 1973 e 201,3 milhões de ingressos em 1971t. A partir de 1975, passado o primeiro furor da televisão a cores e com a maior força do cinema nacional, o público jovem voltou signifi cativamente ao cinema e a vendagem de ingressos cresceu de maneira acelerada. No 1? se~ mestre de 78 foram vendidos 80 milhões de ingressos, considerando apenas filmes nacionais enquanto que em todo o ano de 77 o número de ingressos não ultrapassou os 30 milhões. So mando os filmes nacionais e estrangeiros, nos 6 primeiros meses de 78, os ingressos ven~ didos chegaram a 305 milhões. 0 cálculo para 79 foi de ^50 milhões de ingressos, o que coloca o Brasil entre os quatro primeiros países que mais assiduamente vêem cinema no mun do. —

QUEM VAI MAIS AO CINEMA ?

De acordo com Estudos Marplan sobre hábitos de audiência ao cinema entre 15 e 65 anos , nas sete principais cidades do Brasil, foram estes os resultados: ^0^ da população adul- ta declarou que costuma ir ao cinema. 2S% vai regularmente (uma ou duas vezes por mês) e os outros 12 vão esporadicamente (menos de uma vez por mês). Dividindo-se essas pessoas por sexo, temos que entre os homens o hábito de ir ao cinema é mais freqüente.

SEXO COSTUMA IR REGULARMENTE ESPORADICAMENTE

Masculino k7% 351 . m Feminino 33% 23% 10%

Socioeconomicamente, a população vai mais ao cinema, quanto mais elevado seu nível so- cial.

CLASSES COSTUMA IR REGULARMENTE ESPORADICAMENTE

A 66% k8% 18% BI 53% 37% 16% B2 43% 29% 14* CD 30% 20% 10%

Quanto ã divisão etária, o cinema é muito mais freqüentado pelos jovens, principalmente da classe AB.

IDADE COSTUMA IR REGULARMENTE ESPORADICAMENTE TOTAL AB TOTAL AB TOTAL AB

15 a 29 61% 73% 33% 55% 28% ]8% 30 a 65 22% 31% 13% 18% 9% 13%

0 índice do hábito de ir regularmente ao cinema (uma ou mais vezes por mês) entre os jo- vens da classe AB é muito elevado: 55%.

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Profissões

RPs. DEBATEM SITUAÇÃO PROFISSIONAL

A criação da SECOM foi boa para o Relações Públicas? Os profissionais desconfiam que não. Eles dizem que o título de "comunicador social" pode descaracterizar uma carreira que jã se começa a firmar não só nas empresas estatais como junto ã iniciativa privada. A ques- tão foi o centro dos debates da XIV Conferência Interamericana de Relações Públicas rea- lizada em São Paulo a partir da denúncia de que a definição genérica do "comunicador so- cial" está permitindo que várias pessoas que nada tem a ver com o setor substituam, a tf tulo de influência política, profissionais tecnicamente mais capacitados, especialmente os Relações Públicas. "A entrada de pessoas leigas no mercado pode colocar por terra to- do o trabalho feito para melhorar a imagem do RP, visto por muitos como um organizador de coquetéis ou vendedor", disse um dos participantes da Conferência, acrescentando: "P£ ra impedir um desgaste maior, queremos que ela seja exercida por profissionais registra- dos". Para outro participante, "o profissional de Relações Públicas terá que encontrar o seu próprio espaço na Comunicação. Os mecanismos legais existentes asseguram proteção to tal ãs relações públicas, setor cujas distorções conjunturais não serão resolvidas por dispositivos legais. Para Cindido Teobaldo de Souza Andrade, um dos participantes da Con ferência, o futuro do profissional de RP é difícil: "Estamos ficando marginalizados; o futuro poderá acarretar o desaparecimento de Relações Públicas e nos transformaremos em meros instrumentistas de divulgação ou exímios mercadores de imagens".

SINDICATO DENUNCIA JORNAL EM MINAS

"É inaceitável para todos nós que o Diário de Minas ainda seja, após 30 anos de existên- cia, uma empresa que despreza seus empregados, sequer pagando-lhes os seus salários, o- brigando a maioria deles a procurar a Justiça Trabalhista para, pelo menos, garantir um mínimo para suas famílias. E, também, infelizmente, de nada têm valido nossos apelos, de núncias, representações e até acordos com essa empresa, que põe todos os dias seu jornaT nas ruas, enquanto seus empregados continuam aguardando o dia do pagamento sem saber quando ele chegará". A denúncia é do jornalista Washington Tadeu de Mello, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, na solenidade de entrega da Co- menda do Mérito Jornalístico "Geraldo Teixeira da Costa", conferida em 1979 ao jornalis- ta Alcindo Ribeiro de Souza, do "Diário de Minas", uma das vítimas da incúria administra tiva da empresa. Para o presidente do Sindicato mineiro, não basta lutar pela liberdade de informar, pela defesa da notícia, pelo fim da censura no rádio e na televisão, contra o nivelamento por baixo da atividade jornalística; é preciso lutar pelo respeito ã cate- goria profissional em todos os sentidos.

COM JOAQUIM PEDRO; ALGUM OTIMISMO PARA 0 CINEMA

Joaquim Pedro de Andrade, diretor do discutido episódio "Vereda Tropical", do filme "Cojn tos Eróticos", demonstra certo otimismo em relação aos novos ares 1iberalizantes da cen- sura nacional, antevendo uma fase renovadora e criativa para o cinema.."... Hoje, vejo que as idéias começam a circular mais livremente e isto pode acarretar uma subida no ní- vel de criação cinematográfica". 0 cineasta acha que os trabalhos mais significativos co meçarão a surgir após passar esta fase mais imediata do pós-obscurantismo, referindo-se também aos muitos filmes que acabaram envelhecendo depois de muitos anos de prateleira. Joaquim Pedro procura ser realista e, embora sinta uma situação econômica desfavorável , principalmente em relação ao cinema, aponta o vídeo-disco como futura opção de mercado, mesmo considerando todos os problemas de produção inerentes a cinema, televisão e estes novos canais de comunicação.

MULHERES JORNALISTAS REALIZAM CONGRESSO

0 início da mobilização e da conscientização das jornalistas em torno da discriminação dissimulada que sofrem em sua profissão parece ter ocorrido no I Congresso da Mulher Jo_r na lista realizado em Sio Paulo no final do ano passado. Em relação a este tema e a ou- tros é que se realizou uma pesquisa, restrita ã capital de São Paulo, onde a psicóloga Raquel Moreno e a publicitária Fátima Jordão, buscaram identificar o perfil da mulher jornalista, seus direitos e sua participação sindical. 0 resultado foi o seguinte: ape- nas 32 por cento das mulheres entrevistadas acharam importante discutir a discriminação em geral, suas dificuldades em exercer cargos de chefia, a discriminação salarial; 26 por cento preferiam discutir sua situação doméstica; 22 por cento preferiam analisar a jornada de trabalho, a CLT, o mercado profissional; enquanto oito por cento deram priori_

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dade à discussio sobre a imagem da mulher na imprensa. A realidade demonstrada pelo con- gresso, no entanto, foi mais dura: as mulheres nio apenas são discriminadas como traba- lham em empresas que possuem péssimas instalações. 0 mercado profissional, para ambos os sexos, é extremamente restrito e a maioria das participantes do Congresso sequer conhe- cia seus direitos trabalhistas.

Comunicaçio Popular

TÁTICAS DE GREVE NO ABC PAULISTA: AS NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO

Comentando o estilo das greves que eclodiram no parque industrial localizado no ABC pau- lista (Santo André, São Bernardo e São Caetano), o jornalista Itaboraí Martins (ESP, 6/4 80) chama a atenção para as novas táticas buscadas pelos operários no sentido de defen- der as suas reivindicações. Além de mudança, de táticas na condução da greve (não realiza ção de piquetes nas portas das fábricas / expulsão de elementos não-operários das assem" bléias da classe etc), houve também mudanças nas formas de comunicação utilizadas. "0 a pelo dos dirigentes grevistas, em termos de comunicação social, tem sido bem mais efici" ente do que o de empresários e governo. Haja vista o apelo inicial aos militares, depois os seguidos chamamentos ã população, inclusive em feiras livres ou por meio do púlpito, duanto aos empresários, nada mudou de 79 para cá: frios comunicados sob a forma de matéria paga nos jornais e nas emissoras de rádio ( por que não na televisão também?),, u ma entrevista ou outra de um executivo isolado, sem haver quem centralize, sensibilize 7 dirija, fale, comunique". 0 apelo aos militares foi assim descrito pelo referido Jorna- lista: "Outro ponto a se observar dentro das táticas operárias é que os grevistas (...) procuraram sensibilizar os militares, não se sabe com que êxito. Da mesma maneira que os militares cantam o Hino Nacional em seus quartéis, os trabalhadores também o têm feito , em suas assembléias. No caso dos metalúrgicos de São Bernardo, há uma constante: Hino Na cional no começo da reunião. Hino da independência no fim, num coro de milhares de vozes". Cada trabalhador segura uma pequena bandeira nacional".

PICHAÇÃO OFICIALIZADA NO RECIFE

0 Prefeito Gustavo Krause (PDS) oficializou a pichação no Recife. Ele mandou instalar,em pontos estratégicos da cidade, cerca de duas dezenas dos "Murais da Crítica Recifense" , onde a população pode, livremente, inscrever quaisquer frases. Técnicas urbanísticos da Prefeitura dizem que a iniciativa constitui uma tentativa de recuparar as reivindicações populares, uma espécie de "comunicação de retorno" no plano administrativo. Tanto assim que, semanalmente, a Prefeitura manda fotografar as frases registradas e submete as crí- ticas e sugestões à apreciação dos órgãos técnicos, providenciando o atendimento do que é possível. Todavia, diz o jornalista Geneton Moraes Neto, correspondente do "Estadão"na cidade, que as reivindicações principais fogem da competência da Prefeitura: "Embora a Prefeitura diga que o principal objetivo dos murais é estampar as reivindicações da popu lação, é certo que os governantes municipais não poderão atender a pedidos como fora os gringos, precisamos de um mão branca, o povo quer comer, e quero ver como é que vou pa- gar o meu credito ou responder a perguntas como quem chamou o Exército?". No entanto , o próprio Prefeito, que inaugurou um dos murais escrevendo a frase Pela democracia social, diz o objetivo é principalmente estético: "o que hoje é poluição nos muros pode se tor- nar algo estético, artístico, agradável aos olhos, inclusive descobrindo a criatividade de quem nunca teve oportunidade de apresentá-la". A verdade é que iniciativa dessa natu- reza tende a esvaziar a clandestinidade e o protesto veemente da população ou dos gru- pos políticos que atuam no underground. Tanto assim que um pichador propôs num mural of_i_ ciai: Abaixo os murais. Vamos pichar os muros. De qualquer maneira, não se pode deixar de reconhecer que os "Murais da Crítica Recifense" constituirão expressivo canal de comu nicação, em termos quantitativos. Calcula o já mencionado correspondente do "Estadão"que "o numero de pessoas que transitam diariamente nos locais onde foram afixados os painéis é bem maior, por exemplo, do que o número de leitores de jornais no Recife".

CULTURA POPULAR, EM NATAL

Um ciclo de palestras e filmes sobre Cultura Popu4ar foi iniciado no dia 11 de abril, em Natal, numa promoção da Oficina de Pesquisas do Centro de Ciências Humanas, Letras e Ar- tes. 0 objetivo principal do ciclo é promover o encontro semanal de pesquisadores e in- teressados em temas nesta área de estudos para que troquem experiências e problemas e en trem em contacto com o que está sendo feito por estudiosos jovens do assunto. 0 ranço do folclorísmo ainda impregna muitos dos trabalhos que são feitos sobre Cultura Popular e a idéia dos promotores deste ciclo é exatamente a de livrar a temática deste estigma. Es-

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tio programadas nove conferências, que serão realizadas por: José Willington Germano, da UFRN, sobre Educação Popular; Madeleine Michton, da UFRN, sobre Alimentação Popular; Ma- ria Helena Beozzo de Lima, do IBGE-RJ, sobre Habitação Popular; Carlos Eduardo Lins da Silva, da UFRN, sobre Meios de Comunicação e Cultura Popular; Álvaro Dias Telhado, da UFRN, sobre Religião Popular; Carlos Rodrigues Brandão, da UNICAMP, sobre Festas Popula- res e Sérgio Ferreti, da UFRN, sobre Folclore. Antes de cada conferência, serio exibidos filmes de curta-metragem sobre assuntos correlates ao tema de cada sessão. Ao final, ha- verá debates entre os participantes. As atividades vão se desenvolver nas tardes de sex- tas-feiras e o ciclo deverá ser encerrado no dia 27 de junho.

Comunicação Internacional

A CRIAÇÃO DA AGENCIA PANAFRICANA DE NOlTCIAS

Foi aprovada em 1979, numa reunião de Ministros Africanos de informação em Addis Abeba.e seus objetivos podem ser resumidos em: promover as metas da Organização da Unidade Afri- cana (OUA) para a consolidação da independência, unidade e solidariedade africana, além de subministrar uma maior quantidade de informação e apoio aos povos em luta por sua li- bertação do colonialismo, do imperialismo, apartheid, racismo, sionismo e toda forma de exploração e opressão. Em suma, uma resposta africana ao fluxo unilateral de informações das agências internacionais que monopolizam essas informações. Nas palavras de Issac Se- petu. Ministro de Informações da Tanzânia, o estabelecimento da Agência Panafricana de Notícias "é um passo correto para a independência dos meios de comunicação de massa na África. Terá como tarefa prioritária facilitar a projeção de uma imagem correta da Áfri- ca no mundo e contribuir efetivamente ao ideal de uma Nova Ordem Informativa internacio- nal".

A TELEVISÃO NAS ESCOLAS FRANCESAS

0 Ministro da Educação francês, M. Christían Beullac, definiu recentemente uma efetiva política para a introdução dos Audiovisuais, e principalmente da televisão, nas escolas. As múltiplas experiências feitas até então isoladamente serão substituídas por um proje- to global chamado "Jeune Téléspectateur Actif", cujo objetivo é o de trabalhar com as crianças, inicialmente de primeiro ciclo, permitindo-lhes determinar suas próprias neces_ sidades através de trabalhos práticos e análises de programas em sala de aula. Os estabe lecimentos escolhidos para a primeira etapa do projeto contarão com uma equipe pedagógi- ca especializada em audiovisuais, além do devido equipamento (cameras e Video-tapes por- táteis)', que possibilitará às crianças o aprendizado da leitura das imagens. Segundo uma pesquisa feita pelo semanário "Têlérama", 58^ dos professores franceses são francamente favoráveis a que os audiovisuais ocupem um maior espaço no ensino. A maioria desses pro- fessores possui menos de 30 anos, voltados aos partidos de esquerda e trabalham em esco- las particulares.

VIETNAN: FAZER A REVOLUÇÃO ESCUTANDO 0 RADIO

0 diretor da televisão central de Hanói, Ly Van Sau, em entrevista aos "Cadernos do Ter- ceiro Mundo", falou sobre o papel dos meios de comunicação na luta do povo vietnamita contra o colonizador. A partir de 191t6, emissoras de rádio revolucionárias emitiam clan- destinamente poucas horas por dia denunciando as manobras do inimigo e orientando o povo. A recepção era organizada em grupos de escuta e espalhadas oralmente àqueles que não ti- nham acesso aos receptores de rádio. Tais emissoras foram montadas inicialmente sobre barcos, que moviam-se em zonas pantanosas de difícil acesso. Em seguida, instalou-se uma rádio no centro do país, sobre um elefante, que movimentava-se eficazmente na selva,além de prescindir da raríssima gasolina. Também feita nas selvas, a imprensa complementou e£ se trabalho de "informação de resistência". Os jornais eram impressos em litografia e e£ critos a mio; o papel era trazido dentro das largas calças das mulheres, que encarrega- vam-se também de distribuí-lo já impresso. Em certas aldeias chegava apenas um exemplar, que passava de mio em mio ou era lido em voz alta por pessoas encarregadas da informação. Esses exemplares são Importantes para testemunhar não apenas o valor da luta vietnamita, mas também a engenhosa solução encontrada para a utilização dos meios de comunicação co-

mo instrumentos dessa luta,

A PUBLICIDADE REAPARECE NA CHINA

Depois de vinte anos de proibição, a publicidade comercial volta a ser utilizada na China. Em Shangai, começaram a aparecer cartazes luminosos ou out-door, bem como anúncios nos

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cinemas. Até mesmo a televisão começa a difundir mensagens publicitárias sobre produtos farmacêuticos. Segundo informa o "Boletim de Notícias" da Comunidade Iberoamericana de Publicidade (n? 12) até mesmo o jornal Jiefang Ribao está publicando anúncios de urr com petidor da Coca-Cola, a Lucky-Colas, cujo "aroma fortalece o espírito e cujo sabor agra-" da o paladar". No mesmo jornal, aparece o comercial do filme "Comboio", que está sendo exibido em Pequim, atraindo um vasto público.

PALESTINA - A BATALHA DA INFORMAÇÃO

Na resistência quotidiana do povo palestino, os meios de comunicação têm importância vi- tal, ao lado da luta armada, como unificadoras de um povo disseminado pelo mundo. Segun- do Ahmed Abdull Rahman, diretor do diário "Palestina: A Revolução" - órgão oficial da OLP, "a imprensa, o rádio e os comunicados de guerra, utilizados como instrumento cons- cientizador, estimularam a rebeldia e combateram o derrotismo, contribuindo junto com ou trás manifestações culturais, como a poesia comprometida, a revitalizar o sentimento na" cional palestino". Entendendo os meios de comunicação como instrumentos essenciais de sua luta, a OLP tem o maior parque gráfico de todo o Líbano. Exemplos da eficácia dos meios de comunicação palestinos não faltam: nos desmentidos de informações tendenciosas, no alento ã resistência, num verdadeiro trabalho de contra informação frente aos mass-me dia no Oriente Médio. A OLP possui emissoras de rádio de pequeno alcance e periódicos desde 1959, quando surgiu a revista "Nossa Palestina", que circulou até 1965, ano do in£ cio da luta armada. A partir daí, comunicados militares passaram a ser utilizados como meios de informação, com tiragens de até 100 mil exemplares. Em 1970, saiu o primeiro nú mero do jornal diário "Al Fatah", seguido em 1972 pela revista "Palestina : A Revolução1? que era editada semanalmente, mas transformada em diário em 1976, Em 1972 iniciou também suas atividades a agência palestina de notícias, a WAFA, e atualmente a OLP dispõe de u- ma emissora de rádio no Líbano, além de pequenas emissoras locais que transmitem desde a Argélia ao Yemen Democrático.

USA: CONKRITE REVELA QUE A TELEVISÃO AMERICANA MENTE NOS NOTICIÁRIOS

Walter Conkrite, responsável pelo telejornal diário da rede CBS há mais de vinte anos, £ posentou-se. Personagem importantíssimo na vida norte-americana, pois as notícias que transmite exercem grande poder sobre a população nacional, Conkrite fez revelações esta_r recedoras na sua despedida. Confessando-se preocupado com o fato de que 65^ dos norte-a- mericanos recebem informações apenas pela TV, Conkrite declarou textualmente: "As notí- cias que transrtiitia não eram exatas e não merecem confiança do público...Na realidade mj^ nha boca esteve fechada nestes últimos 20 anos...Os noticiários de TV são uma espécie de primeira página dos jornais sem que haja tempo para uma análise mais profunda de algumas notícias sinuosas e compl içadas.. .A tecnologia i-nundou o país com muitos dados sobre qual quer coisa, mas é difícil afirmar que está chegando à verdade das coisas..." Comentando as revelações de Conkrite diz Alberto Dines (FSP, 28/3/80): Não esqueçamos, no entanto , que as revelações de Conkrite referem-se a um país onde existem três poderosas redes na- cionais de TV e onde os meios de comunicação realmente competem exercendo múltipla vigi- lância.

TV CLANDESTINA PREOCUPA ITALIANOS

A presença de quase 800 estações emissoras de sinais de TV na Itália, começa a preocupar seriamente as autoridades ligadas ao setor, principalmente as redes oficiais de televi- são, que vêm os seus índices de audiência caírem sistematicamente, perdendo pontos para programas realizados por amadores, ou para filmes pornográficos exibidos nas chamadas"re des piratas" tão populares na Europa, principalmente na França e na citada Itália. Somer^ te na região de Roma mais de 80 estações estão em funcionamento, muito embora os recept£ res só tenham condição de captar até ^9 canais, isso utilizando-se dos sete botões exis- tentes. Outras regiões da Itália também sentem o grande número de canais, todos com pro- gramações alternativas, que vão desde a difusão das idéias do mais recente grupo políti- co de extrema esquerda ou direita, até a sessões de sexo ao vivo, que despertam a aten- ção de todos, até mesmo dos trabalhadores de Milão, cidade conhecida por sua fraca vida noturna, mas que consegue picos de audiência extraordinários por volta das duas horas da madrugada, quando tais filmes são exibidos. Aparecendo primeiramente em emissões de rá- dio, as estações piratas foram crescendo por volta dos anos 70, atingindo seu climax em 1978, a ponto de começarem a preocupar as redes oficiais (RAI- já funcionando em dois ca nais), quase sempre voltadas para transmissões de caráter político. Só mais tarde é que a crescente aceitação e a desorganização das empresas estatais italianas, a exemplo do seu sistema de governo, iriam beneficiar o desenvolvimento dessas redes clandestinas e

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até das não clandestinas, parecidas apôs o decreto que tirava do governo o monopólio das transmissões de TV. 0 assunto está preocupando, principalmente por conta da repetição de filmes e programas ligados a exploração do sexo, que tem levado a RAI a optar por algu- mas programações mais livres, para aproveitamento da situação e para não perder os seus índices de audiência. Álvaro Moya faz uma análise do assunto para o "Jornal da Tarde"(5/ V80 - pg. 10), mostrando a preocupação com a situação e vendo as possibilidades de pro- gramas mais eróticos e até pornográficos para a televisão brasileira, aproveitando os ventos da "abertura". Enquanto isto, o Ministro Abi Ackel também demonstra sua preocupa- ção e chama diretores de estações de televisão para debater e discutir o assunto, não pensando em dar liberdade aos "donos" da comunicação, mas, antes, conter o que o mesmo chama de derrocada dos costumes, que estaria acontecendo na comportada e asséptica TV brasilei ra.

Gente

OCTAVIO BRANDÃO; MORREU NO RIO 0 FUNDADOR DE "A CLASSE OPERARIA"

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de março, o jornalista e escritor Octávio Brandão , personagem histórica do movimento comunista brasileiro. Nascido em Alagoas, e pertencen- te a tradicional família da cidade de Viçosa (primo do Cardeal Avelar Brandão e do Sena- dor Teotonio Vilela), aderiu desde jovem ãs idéias socialistas e portanto foi obrigado a "exilar-se" da região de origem. Rejeitado pela família e perseguido pela política, fi- xou-se no Rio de Janeiro, no início da década de 20, incorporando-se âs fileiras do re- cém fundado PCB (Partido Comunista do Brasil). Desde então, tornou-se "intelectual orgâ- nico" do proletariado, dirigindo jornais, escrevendo artigos e livros que buscavarr dÍ5S£ minar as ideais marxistas entre os trabalhadores brasileiros. Durante o Estado Novo exi- lou-se na União Soviética, onde viveu muitos anos. Já idoso, retornou ao Brasil, mas, du rante uma das crises internas do PCB, Octávio Brandão foi expulso do Partido (é interes- sante registrar que, apesar de ter casado com uma das irmãs de Prestes, opunha-se tenaz- mente ã orientação que o "Cavaleiro da Esperança" dava ao movimento comunista no país). Figura controvertida, mas homem puro, que viveu intensamente as idéias que defendia, Oc- távio Brandão morreu pobre, amparado apenas pela família. Da sua biografia constam fei- tos de grande pioneirismo que certamente serão recuperados quando se escrever uma Histó- ria da Comunicação das Classes Subalternas no Brasil. Ele foi o primeiro tradutor do "Ma nifesto Comunista" (de Marx e Engels) no Brasil e dirigiu o primeiro jornal mantido pelo PCB - "A Classe Operária". A vida desse grande patriota está relatada em suas memórias , documento riquíssimo em depoimentos e fatos históricos, cujo primeiro volume foi editado em 1978 pela Editora Alfa-Omega.

DOM OSCAR R0MER0: EM EL SALVADOR A IMPRENSA ESCONDE A VERDADE

Uma das últimas entrevistas que o arcebispo Dom Oscar Ranulfo Romero concedeu antes do seu assassinato foi divulgada pela agencia cubana Prensa Latina e reproduzida no país por Isto é (2/V80). Nesse documento o arcebispo salvadorenho traça um quadro dramático da imprensa do seu país: "A corrupção da imprensa faz parte da nossa triste realidade. 0 pa pel da informação tem que ser o de canal de informação da verdade. Lamentavelmente aqui ocorre o contrario: a notícia é manipulada, faz-se silêncio sobre fatos graves que com- prometem a oligarquia, distorcem-se as notícias sobre a repressão e a vítima é apresenta da como culpada, falsificam-se fotografias e montam-se textos para enganar os leitores. Para que dizer mais : a verdade é escondida, não se diz nada em El Salvador". Por isso, Dom Romero dizia que a missão fundamental da Igreja é a de enfrentar a mentira. "Qual de ve ser o papel da Igreja na atual luta em El Salvador? Antes de tudo, que seja Igreja,p£ ra enfrentar um ambiente de mentira onde a verdade está escravizada sobros interesses da riqueza e do poder, é necessário chamar a injustiça pelo nome, e também a discrimina- ção, a violência infligida ao povo, contra seu espírito, consciência e convicções. Promo ver a libertação Integral do homerçi, acompanhar o povo é um dever de uma Igreja autênti- ca. Ela deve solidarizar-se com os pobres até em seus riscos e em seu destino de perse- guição, disposta a dar o testemunho máximo de amor por defender e promover aqueles que

Jesus amou preferencialmente".

SAINT-CLAIR LOPES; FALECEU PIONEIRO DA RADIONOVELA

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 7 de março, o radialista Saint-Clair Lopes. Além^ de ter sido pioneiro da radionovela (ele escreveu a primeira novela radiofônica do país "Em busca da felicidade") e ter sido um dos locutores mais populares da Rádio Nacional na década de 50, Saint-Clair foi um dos primeiros estudiosos a sistematizar a comunica-

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ção radiofônica nacional. Seu último livro - Comunicaçio, Radiodifusio, hoje, lançado na década de 70 pela Editora Temãrio foi o prosseguimento de uma série de estudos que ele iniciou com o ensaio sobre os Fundamentos da Radiodifusão (uma análise principalmente ju rídica) e continuou com outros trabalhos apresentados a congressos e seminários profis--

sionais. A comissão de radiodifusão do I Congresso Brasileiro de Comunicação, promovido no início da década de 70, no Rio de Janeiro, pela ABI, contou com sua participação e co ordenação.

GILBERTO FREYRE; COMEMORAÇÃO AOS 80 ANOS

0 primeiro trimestre de 1980 foi marcado, no plano cultural, pela comemoração dos 80 a- nos de vida de Gilberto Freyre sociólogo/antropólogo Pernambucano. As festividades fo- ram promovidas, inicialmente, pelo Governo do seu Estado natal, mas depois encampadas pe Io próprio Ministério da Educação e Cultura, cujo titular, Eduardo Portella, contou COFP

o beneplácito do homenageado no início da sua carreira Intelectual . Muito se falou so- bre a contribuição de Gilberto Freyre para os estudos históricos e sociais do país, quer na imprensa, quer na televisão. Todavia, um fato significativo da sua biografia ficou es quecido. Trata-se do pioneirismo daquele pesquisador na utilização da imprensa como fon~ te das ciências humanas. Tal fato já havia sido destacado no livro de José Marques de Me Io - Estudos de Jornalismo Comparado (São Paulo, Pioneira, 1972), mas ele pode ser ava- llado com maior nitidez no prefácio que Gilberto Freyre escreveu para a 2a. edição do seu estudo 0 escravo nos anúncios de jornais do século XIX (São Paulo, Nacional, 1979) , onde sugere a configuração_de um novo campo de estudos - A Anunciologia - no âmbito das ciências sociais.

ROLAND BARTHES : 1915-1980

A morte de Roland Barthes, aos 64 anos, deixa imensa lacuna nos estudos semiológicos fran ceses. Fundador da Associação Internacional de Semiologia, atuou na Escola de Altos Es- tudos de Comunicação de Massa, na Sorbonne, onde coordenou seminários, no período de 1960 a 1975. Co-editor da revista Communications, exerceu grande influência, não apenas sobre os jovens intelectuais franceses, mas também sobre os bolsistas estrangeiros, en- tre os quais inúmeros brasileiros. Suas obras contaram com grande penetração e repercus- são no Brasil, desdeOGradu zero da escritura. Mi toloqias e Elementos de Semiologia até as mais recentemente traduzidas 0 Sistema daModa e 0 prazer do texto. Jã esta anuncia- da a circulação no país, do polêmico discurso que proferiu como aula Inaugural do Colé- gio de France, onde foi admitido em 1975, e quando defendeu a tese de que a linguagem ê intrinsecamente fascista. Seu último trabalho tinha como objetivo a fotografia, mais es- pecificamente, a fotografia de família nos álbuns de Proust.

DOM BALDUINO; OS LATIFUNDIÁRIOS ROUBARAM A VOZ DO TRABALHADOR

Na sua 18a. Assembléia Geral, a CNBB, órgão que reúne os bispos católicos brasileiros, a provou o documento "Igreja e Problemas da Terra", através do qual adota uma posição fir- rae diante da reforma agrária, condenando claramente o capitalismo como modelo econômico capaz de propiciar mudanças no campo. Os bispos acusam a penetração do capitalismo no meio rural, gerando as "terras de produção", que expulsam os camponeses das suas "terras de produção". Afirmam os bispos que a terra não deve ser um bem destinado ã especulação e à exploração do trabalho humano, mas deve ser possuída pelos que nela trabalham. Tal posicionamento, que materializa a opção preferencial pelos pobres, feita pela Igreja Ca- tólica na Conferência Latlno-Amerlcana de Puebla, Irritou profundamente a Confederação Nacional da Agricultura. Essa entidade é formada pelos grandes proprietários de terra , que imediatamente acusou a Igreja de pretender comunlzar o Brasil, chavão que hoje não mais assusta ninguém. Diante dessa acusação gratuita, o responsável pela Pastoral da Te_r_ ra da CNBB, o bispo Dom Tomás Balduíno (Goiás) respondeu com veemência, dizendo que a I- greja na verdade se faz um canal de comunicação dos pobres camponeses, porque os latifu£ diários não apenas lhes roubam as propriedades, mas sobretudo cassam sua palavra, torna_n do-os mudos, Incomuniçados. Eis o que disse Dom Balduíno: "Os latifundiários de toda es"- pécie praticaram um roubo nio só das terras, mas roubaram do povo a condição de falar,de decidir, de ter lugar, vez e voz. (...) 0 roubo praticado ultimamente vem sendo denunci£ do pela Igreja, que procura sanar pela raiz, fazendo ouvir a voz desse povo, veiculando da maneira mais pura possível os seus apelos, seus clamores juntamente com suas propos- tas de solução para seus problemas, que são dramáticos e que se avolumam dia a dia no país". (FSP, 30/3/80).

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Serviço

IMMRC - DOCUMENTAÇÃO SOBRE A COMUNICAÇÃO DE ESQUERDA

Seth Siegelaub ê um jovem pesquisador norte-americano que se radicou na França, mantendo grande relacionamento com os intelectuais esquerdistas que estudam os meios de comunica- çio de massa. Ele criou uma instituiçio de pesquisa bibliográfica - International Massa Media Reserch Center (IMMRC) - que mantêm vasta coleção de fontes de informaçic acadêrri- ca sobre os estudos marxistas de comunicaçio em todo o mundo. 0 IMMRC nio se limita a or denar documentos, mas também os publica sob a forma de coletâneas. Recentemente, aquela" entidade publicou uma coletânea - Communication and Class Struggle, organizada por Sieg£ laub e Mattelart. í interessante registrar que o iHMkC poe seus serviços de levantamento bibliográfico ã disposição de qualquer pesquisador, enviando listas de trabalhos publica dos ou propiciando cópias xerográficas dos mesmos. Basta indicar o tema em que o pesqui- sador está interessado e o centro dirigido por Siegelaub, mediante pequena taxa, provi- dencia o levantamento bibliográfico pertinente. Trata-se, porém de entidade que trabalha exclusivamente com as fontes de informação politicamente classificadas como de esquerda. Fica aqui o endereço para os que desejarem manter contactos: IMMRC - 173 av. de Ia Ohuys, 93170 Bagnolet - France. (fone - 1-3605690).

BOLSAS DE PESQUISA: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS

A Fundação Carlos Chagas vem mantendo, nos últimos anos, programa de financiamento de bolsas destinadas a jovens pesquisadores que tenham projetes de interesse social. Os in- teressados poderão dirigir-se a: Av. Prof. Francisco Morato, 1565 " São Paulo - SP, CEP; 05503.

LIVRARIA DO CORTEZ; NOVO ENDEREÇO

Cortez foi um editor e livreiro que despontou no mercado editorial de São Paulo como um amigo dos estudantes, professores e intelectuais. Seu trabalho sempre se caracterizou pe Ia prestação de um serviço útil ã comunidade acadêmica. Em razão disso, é que o empreen- dimento com o qual se associou a Editora Cortez & Moraes - obteve enorme sucesso, surgi£ do com uma casa publicadora eficiente, vinculada ao movimento pela divulgação das novas idéias universitárias. Recentemente, porém, Cortez decidiu partir para um empreendimento próprio e desvinculou-se da Editora Cortez & Moraes. Ele fundou a Cortez Editora e Livra ria, estabalecida ã rua Ministro Godoy, 1113, a um quarteirão da PUC-SP, onde continua"" atendendo com a mesma simpatia e dedicação. A maior parte dos autores e instituições que editavam na antiga editora preferiu associar-se a Cortez. Assim é que as revistas Educa- ção e Sociedade, Comunicaçio e Sociedade, Serviço Social e Sociedade passarão a ser pu- blicadas e comercializadas pela Cortez Editora. Recomendamos aos sócios da INTERCOM uma visita â nova livraria do Cortez, onde poderão encontrar sempre as novidades editoriais ou dispor de obras que muitas vezes não se encontram facilmente nas livrarias. Cortez a- tende também pelo telefone, de 2a. a sábado, das 7 da manhã às 23 horas da noite. 0 nume ro é: 86A-6783. Avisa também o Cortez que, se necessário, poderá atender nos feriados "ê fins de semana, pois instalou a nova livraria na parte térrea da sua residência.

FILME CULTURA: NOVA FASE

A revista FILME CULTURA, editada pela Embrafilmes, entra em nova fase, a partir do n? 3^, referente ao trimestre janeiro/março de 1980. A apresentação gráfica retorna ao formato original (30x21). 0 conteúdo ainda permanece inalterado, trazendo contudo uma inovaçio:a publicação de um debate sobre a crise da produção cinematográfica brasileira. A distri- buição passa a ser feita em bancas. 0 editorial do novo número faz uma convocação ã comu nidade cinematográfica para participar da revista. Os interessados em obter assinaturas poderão solicitar à EMBRAFILME - Rua Mayrink Veiga, 28 - 2? and - Rio de Janeiro, CEP: 20090, fazendo o pagamento de Cr$ 120,00, a ser creditado na conta 2237 do Banco do Bra- si1>- Centro, Rio.

Eventos

32? Reunião Anual da SBPC, no Rio de Janeiro, de 6 a 12 de julho de 1980^ Tema Central: Ciência e Educação para uma sociedade democrática. Informações e inscrições: SBPC - rua Cardeal Arcoverde, 1629 - Pinheiros, fone: 212-171»0 - São Paulo - SP.

2? Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, em Brasflia, 25 a 30 de janeiro de

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1981. Promovido pelo MEC e Fundaçio Universidade de Brasília. Tema Central: Avallaçio do desempenho da biblioteca universitária no Brasil. Inscrições e informações: Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal - CRN 702/703 Bloco G - sobreloja - 70.710, Brasf lia - DF.

111 Ciclo de Estudos Interdiscipl inares da Comunicação, em São Paulo, de ^ a 6 de setem- bro de 1980. Promovido pela INTERCOM. Tema Central: Estado, populismo e Comunicação no Brasil. Inscrições e informações: INTERCOM - Rua Augusta, 555 - sobreloja - 01305 Sio Paulo - SP.

PROPAGANDA EM DEBATE

Iniciando no último dia 8 de abril e com programação marcada até o dia 25 deste mês, o MASP e o Clube de Criação de São Paulo realiza uma série de atividades, incluídas em e- vento denominado "Propaganda em Debate". Iniciada com a exibição de filmes premiados da pubHcidade brasHeira e internacional e com uma exposição de peças classificadas no k° Anuário de Criação de São Paulo, prossegue nos dia 22, 23, 2k e 25, com palestras e deba tes sobre temas ligados ao setor, No dia Z2/k, às 20 h no MASP, debate sobre "A Propagan" da e a Abertura" - participação de Mino Carta, Roberto Duailibi, Carlito Maia de Souza 7 José Fontoura da Costa e José Monsserrat Filho, que será o coordenador; dia 23A - mesmo horário e local - "A propaganda e o Consumidor" - participação de Boris Casoi, Luiz Al- berto Stockler, Percival de Souza, Clarice Herzog e a coordenação de Caio A. Domingues ; dta2k/k - "A Propaganda na Comunicação Social" - o horário é o mesmo e o coordenador será Luiz Fernando Furquim, contando para os debates com Alex Periscinoto, Henfil e Mau- rício Tractemberg; finalmente no dia 25/^ o MASP patrocina o tema "0 Estudante de Comuni cação Publicitária e o Mercado de Trabalho", com Tom Pacheco funcionando como coordena--

dor e participação nos debates de Petroneo Corrêa, João Carlos Di Geneo, Eloy Simões e Newton Pacheco.

Noticiário Geral

JORNAIS FUNDAM ASSOCIAÇÃO

Para lutar pela defesa de seus interesses, pela liberdade de imprensa e pela unidade de ação os proprietários dos principais órgãos da imprensa brasileira fundaram recentemente a Associação Nacional de Jornais. Segundo o presidente da diretoria provisória da nova entidade, Cláudio Noronha Chagas ("0 Dia"), além daqueles objetivos mais amplos, há ne- cessidade de uma troca de idéias relativas à assistência técnica entre os jornais. "A in dústria gráfica ligados aos jornais evoluiu consideravelmente. Hoje, alguns são feitos-

por sistemas de computadores. A mudança ocorreu de cinco anos para cá e como a indústria de jornais depende quase exclusivamente da técnica norte-americana, na fase de transição sofremos muito, porque não pudemos absorver o processo de modernização com a rapidez ne- cessária". Afastando a idéia de formação de uma agência dé notícias, Noronha Chagas no entanto admitiu que um dos objetivos da entidade é conquistar maior margem de liberdade financeira para as empresas jornalísticas, além de desenvolver projetos de treinamento , introduzir sistemas novos de composição e promover a realização de congressos nacionais e internacionais para discutir a situação da imprensa contemporânea, especialmente do ponto de vista empresarial.

MUSICA BRASILEIRA SERÁ PROTEGIDA

Segundo a revista "Meio 6 Mensagem", "o protecionismo está chegando à radiodifusão brasi leira". A revista fez a afirmação com base no ante-projeto que o Ministério das Comunica" ções pretende enviar ao Congresso determinando a execução de um mínimo de 70% de música brasileira nas rádios e tevês de todo o país e elevando o percentual de programas nacio nais que deverão ser obrigatoriamente exibidos nas programações. Já como um reflexo des-

sa nova política, segundo a revista, a rádio Excelsior, "0 principal baluarte da música enlatada em São Paulo'.',já está modificando sua programação, de olho na futura lei.

0 PAPA E 0 CONTRATO DE EXCLUSIVIDADE

Parece mesmo que o contrato firmado entre a Fundação Nossa Senhora Aparecida e a Rede Ca pitai de Comunicações dando exclusividade ã esta última para a cobertura jornalística da visita do Papa João Paulo II a Aparecida do Norte, em julho, vai ser anulado. A notícia da existência deste contrato, que foi assinado em março entre as duas partes, preocupou a várias entidades ligadas ou não ao Papa. Desde o próprio comitê de Imprensa do Vatica-

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no até os jornais e emissoras de rádio e televisio do Brasil.

BREVE NA TV. UM BOA-NOITE PORNÔ

Estimulada pelo sucesso alcançado junto ao público italiano pela programação pornô, uma emissora de televisio de São Paulo vai verificar na prática até que ponto se abre a aber tura brasileira. Trata-se da produçio de uma chamada a ser exibida diariamente no encer- ramento da programação, onde a modelo Sinira Maia é vista de forma até agora inusitada em nossa TV. A chamada se inicia com Sinira sob volumosa ducha, mostra a moça falando cor o namorado ao telefone, caminhando sobre um carpete de cor clara e termina quando ela deita sob um lençol de cetim, que lhe realça as formas de maneira mais que sugestiva. Ao final, o boa-noite da emissora, com o anúncio da programação do dia seguinte.0 sucesso da chamada não parece ser problema, resta saber como se manifestarão as relações conser- vadoras. ..

OLIVA, MALUF & ENSINO PAGO; OS SINAIS DA CRISE

Na USP, vem causando preocupação a falta de sintonia entre o re[tor Moniz Oliva e o go- vernador Salim Maluf. Acatando pressões da comunidade universitária, o reitor se declara publicamente contra o ensino pago, pelo menos no atual momento político. Enquanto isso , Maluf, para desespero das lideranças estudantis, reafirma em entrevista seu propósito de instituir o ensino pago, baseando-se, inclusive, em suposto parecer favorável do reitor Oliva. Quem está falando a verdade? Preocupados com a realidade caótica das condições de ensino e pesquisa na universidade, os estudantes multiplicam suas manifestações de repú- dio ã política de Maluf que, para aumentar ainda mais o mal-estar reinante, afirma terem as universidades de São Paulo toda a verba de que necessitam. Mas o dinheiro, que é bom, não aparece, e teme-se que o governo estadual intensifique artificialmente a crise oara forçar a proposta de ensino pago como única solução do problema.

CONTEODO FORA DE MODA

A mulher não escolhe suas roupas, mas é levada a escolhê-las. A relação entre moda e cuj_ tura de massa é o assunto de "Sistemas da Moda", de Roland Barthes, recentemente lançada" em conjunto pela Companhia Editora Nacional e Editora da USP. A obra, embora lançada com quase 13 anos de atraso e apesar do reconhecimento, pelo próprio autor, de que toda a pesquisa já estava desatualizada por ocasião do lançamento do original francês, pode ser configurada como uma abordagem semi lógica sob conceitos rígidos de um objeto ao qual se adapta perfeitamente, valendo princrpalmente como referencial para estudiosos. Algumas pesquisas desenvolvidas nos últimos anos por Claude Lévi-Strauss e Jacques Lacan remode- laram consideravelmente os conceitos de signo, significante e significado utilizados por Bacthes neste 'Sistema1, sendo este o principal fator do envelhecimento da obra, como ad- mite o autor. Um livro apenas interessante, devido ao assunto, mas que poderia ter sido obrigatório, se lançado nos anos sessenta...

ENSINO PAGO: FUVEST TAMBÉM E CONTRA

Através de uma pesquisa realizada nos últimos exames vestibulares, a Fuvest - Fundação U_ niversitária para o Vestibular, chegou a conclusões que somente reforçam a inviabilidade da instituição do ensino pago nas universidades oficiais do estado^ Contra o argumento do governador Maluf de que 70^ dos estudantes da USP teriam condições de sustentar^seus estudos , a pesquisa revelou que 50% dos vestibulandos classificados provém de famílias com renda abaixo de Cr$ 25 mil, dado que se agrava no fato de 71,3% dos aprovados per- tencerem a núcleos familiares de quatro a seis pessoas. Além disso, em hQ% dos casos,es- sa renda provém de apenas uma pessoa. MoVses Szajnbok, coordenador da Fuvest, reafirma £

ma gra ra, 0 rico deve pagar imposto, nao escola".

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. UMA EDITORA EM OFENSIVA

Após quase vinte anos de sua fundação, a Editora da Universidade de Brasília procura co£ solidar uma posição original no mercado editorial, transformando-se em matriz reproduto- ra de recursos humanos e técnicos para todas as universidades federais. Depois de dois £ nos de concentração em textos clássicos, com destaque para Maquiavel e Alexis de Tocque- vílle, a UNB inicia a publicação de textos de aula, como o já popular "A Era da Incerte-

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za", reunindo conferências de John Kenneth Galbraith. Embora os critérios de seleção te- nham beneficiado, até agora, apenas as áreas de sociologia, ciência política e redações internacionais, a editora da UNB pretende ativar outros setores conforme indicações e pedidos de outras instituições universitárias nacionais. Isso pode significar uma abertu ra também para pesquisadores em comunicaçio.

CRISE NA UNIVERSIDADE; DESTA VEZ^ E NA CATÓLICA DE SALVADOR

Em situaçio que confirma o pouco caso com que o ensino universitário vem sendo tratado no Brasil, professores e funcionários da Universidade Católica de Salvador, unem-se em greve contra um atraso de mais de dois meses em seus salários, agravado pelas diferenças relativas aos reajustes salariais decretados em fevereiro e novembro de 1979, ainda nio repassados nos pagamentos atuais. A greve, iniciada no princípio do ano pelos seiscentos professores da escola, atinge agora seu auge com a adesão de quase cem funcionários cujo ganho médio oscila por volta de Cr$ A.000,00. Eles são quase todos pertendentes ao depar tamento de limpeza, porteiros, telefonistas, pedreiros e funções equivalentes. Eduardo' Veiga, superintendente administrativo da escola, diz que nenhum dos funcionários grevis- tas será punido, mas é omisso quanto aos professores, que acusam a administrarão da uni- versidade de corrupta. Além de receber os atrasados, para o que não há previsão, cs pro- fessores querem a demissão da direção atual e participação da comunidade universitária , professores, alunos e funcionários, na escolha de um novo reitor.

SIP: LIBERDADE E CADA VEZ MENOR NO CONTINENTE

A Sociedade Interamericana de Imprensa - SIP, em sua reunião semestral que foi realizada em San Juan de Porto Rico, divulgou relatório onde afirma estar a liberdade de Imprensa cada vez mais ameaçada pelos governos, inclusive em países tradicionalmente respeitosos do direito de expressão, como Estados Unidos, Méxicoe República Dominicana. Sobre o Bra- sil, a SIP manifestou-se da seguinte forma: "Na prática existe liberdade, apesar de con- tinuarem vigentes leis que restringem essa mesma liberdade". Além disso, será solicitado ao General Figueiredo que revogue todos os dispositivos jurídicos "lesivos ã liberdade de imprensa".

0 LIVRE ACESSO AS INFORMAÇÕES

Com o título acima, o jornalista Alberto Dines faz uma análise de dois fatos muito impor tantes na imprensa mundial: a escolha por eleição do redator-chefe do jornal francês "Le Monde" e a divulgação sobre o relatório da comissão Mac Bride da UNESCO. A matéria foi publicada no jornal "Folha de São Paulo" (2/3/80 - pag. 12) e Dines faz um bom histórico sobre o jornal francês, sua rimportância e o nível de preocupação que a eleição está cau- sando, dando origens a matérias de capa nos grandes periódicos europeus, como "L'Ex- press". Concorrem ao cargo, muito importante, pois dita a linha a ser adotada pelo Jor- nal, os jornalistas Claude Julian (democrata e socialista) e Jacques Amalric (libe- ral centrista). A propósito, é bom lembrar que o "Le Monde" é um jornal onde os redato- res participam com k0% das ações e do comando, existindo a liberdade do acesso ã informa ção por parte do corpo de jornalistas, fazendo com que uma disputa como essa ganhe dimen soes extraordinárias, chegando a ser debatida no Brasil, local onde o acesso de redato- res aos quadros diretivos ou, muito mais simples, ã linha redacional dos jornais, é pra- ticamente proibida. Quanto ao relatório Mac Bride, (homenagem ao seu coordenador e rela- tor, o irlandês Sean Mac Bride) a Unesco resolve mudar as suas preocupações sobre um va- go conceito de liberdade de expressão, para se ligar no da nova ordem internacional da informação, dando mais importância para o acesso à informação. As posições em jogo nos dois anos de discussões referiam-se quase sempre ãs posições políticas, tanto assim que eram dirigidas por representantes dos países hegemônicos (EUA, Inglaterra e França) e suas redes de informação, enfrentando a oposição dos chamados países de Terceiro Mundo , com o apoio de países de bloco socialista. De acordo com Dines, o relatório Mac Bride, a_ pesar de tocar em todos os problemas do acesso e livre circulação de informações - influ ência das multinacionais, censura oficial e treinamento de editoras de modo a aumentar-"" lhes a sensibilidade e a responsabilidade - não menciona algo crucial: a posse dos meios de comunicação". A versão até agora divulgada do relatório mostra apenas duas divisões de finitivas: a empresa capitalista e o empreendimento estatal. Mostra ainda que as fissu--

ras sãò tão acentuadas que nem mesmo as posições alternativas encontraram espaço para maiores discussões. No entanto, afirma Alberto Dines que a preocupação de mudar a ordem internacional da informação, mudando a linha de debates da UNESCO, já é um grande passo para definir o acesso a informação, deixando ao homem contemporâneo o seu direito bási- co de ser e de pensar.

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Comentário

QUE LIBERDADE £ ESSA?

Nos últimos meses alguns jornais na grande Imprensa brasileira mostraram editoriais .vi- brantes e relatórios definitivos onde apostavam que já havia liberdade de imprensa no país. Esses relatórios foram até levados para a Sociedade Interamericana de Imprensa que os aceitou como verdadeiros. Porém, após um rápido levantamento da realidade só nos res- ta perguntar: que liberdade é essa? Para se ter uma idéia desta 1iberdade, é bastante lembrar os processo do Governo contra o G00J0RNAL, a Tribuna da Imprensa, a apreensio do PASQUIM, a bomba no jornal HORA DO POVO, a prisão de 0 REPÓRTER, a negativa do Exército em credenciar jornalistas no Quartel General em Brasília e a continuaçio das demissões de jornalistas dos meios de comunicação ligados ao Governo, como a aconteceu recentemen- te na TV 2 Cultura, de Sio Paulo. Tudo Isso acontecendo sob o silêncio da grande impren- sa, que quando era a atingida foi a primeira a reagir contra. Então só há censura â im- prensa na grande Imprensa? E tudo isso acontecendo dentro da "política da mão estendida" (Ricardo Rosado de Holanda).

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III CICLO DE ESTUDOS INTERDISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO

Período: 4 a 7 de setembro de 1980

Local: São Paulo

Promoção: INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares

da Comunicação

Tema central - ESTADO, POPULISMO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL

Sub-temas: 1. Populismo e Neopopulismo

2. A Comunicação Populista: do DIP a SECOM

3. O Discurso Populista Ontem e Hoje: Confrontos 4. O Populismo nos MCM 5. O Populismo na Arte 6. 0 Populismo na Literatura 7. O Populismo na Educação

O certame constará das seguintes atividades:

Simpósios - coordenados e desenvolvidos por estudiosos especialôente

convidados pela comissão organizadora.

Painéis - propostos pelos sócios ou sugeridos por entidades e associa

ções culturais ou científicas.

Sessões de comunicações livres - abertas as inscrições de trabalhos a

serem apresentadas pelos sócios ou

por demais pessoas interessadas.

Inscrições e informações: INTERCOM - Rua Augusta, 555 - sobreloja -

01305 - São Paulo - SP - Brasil

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