boas intenÇÕese bernard nathanson

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BOAS INTENÇÕES Certamente nada nos ofende com mais rudeza do que esta doutrina [o pecado originai], e ainda assim, sem esse misterio, o mais incompreensivel de todos, somos incompreensiveis para nos mesmos. B laise Pascal O sistema de iluminacao da sala de cirurgia jogava uma luz brilhante em cima da paciente, enquanto o Dr. Bernard Nathanson inspecionava a cena com um olhar clinico experiente embaixo das sobrancelhas espessas e pretas. Lencois brancos pesados cobriam a parte superior do corpo da muiher; os joelhos dobrados, os pes no apoio. Quarenta minutos antes ela havia sido dopada com tranquilizante para acalmar a ansiedade. Nathanson posicionou o especulo para manter aberto o canal vaginal, entao administrou anestesia locai no colo do utero com uma seringa hipodermica. Ele alargou o canal cervical com uma peca metalica e inseriu a cureta {um longo instrumento metalico com a ponta de aco amolada em forma de laco) dentro da cavidade uterina. A paciente estava com cerca de nove semanas de gravidez - tao adiantada que Nathanson levou um ou dois minutos a mais para ter certeza de que todas as camadas do interior do utero tinham sido raspadas e o tecido coletado para exame. Ao fim desse procedimento de dez minutos, Nathanson cuidadosamente examinou os pedacos do tecido ensanguentado na bandeja para ter certeza de que tinha dado conta de extrair todos os pedacos do feto desmembrado. Certo de que fora bem-sucedido, Nathanson deu as costas, meneou a cabeca para a enfermeira e retirou as luvas cirurgicas. Depois de joga-las no lixo, escovou as maos com gesto distraido mas satisfeito. Ele acabara de fazer um bom trabalho. Algo completamente rotineiro, mais ainda assim era necessario manter o padrao elevado. Nathanson desceu e olhou para o rosto da mulher sob os lencois brancos. “Esta tudo bem” , disse. “Descanse um pouco na saia de recuperacao; depois virei examina-la. Voce tem alguem para lhe levar para casa. certo:

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HIstoria,aborto,cosmologia cristã,comportamento

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BOAS INTENESCertamente nada nos ofende com mais rudeza do que esta doutrina [opecado originai], e ainda assim, sem esse misterio, o mais incompreensivelde todos, somos incompreensiveis para nos mesmos.B laise Pascal

O sistema de iluminacao da sala de cirurgia jogava uma luz brilhanteem cima da paciente, enquanto o Dr. Bernard Nathanson inspecionavaa cena com um olhar clinico experiente embaixo das sobrancelhasespessas e pretas. Lencois brancos pesados cobriam a parte superior docorpo da muiher; os joelhos dobrados, os pes no apoio. Quarenta minutosantes ela havia sido dopada com tranquilizante para acalmar aansiedade.Nathanson posicionou o especulo para manter aberto o canal vaginal,entao administrou anestesia locai no colo do utero com uma seringahipodermica. Ele alargou o canal cervical com uma peca metalica e inseriua cureta {um longo instrumento metalico com a ponta de aco amoladaem forma de laco) dentro da cavidade uterina. A paciente estava comcerca de nove semanas de gravidez - tao adiantada que Nathanson levouum ou dois minutos a mais para ter certeza de que todas as camadas dointerior do utero tinham sido raspadas e o tecido coletado para exame.Ao fim desse procedimento de dez minutos, Nathanson cuidadosamenteexaminou os pedacos do tecido ensanguentado na bandeja parater certeza de que tinha dado conta de extrair todos os pedacos do fetodesmembrado. Certo de que fora bem-sucedido, Nathanson deu as costas,meneou a cabeca para a enfermeira e retirou as luvas cirurgicas.Depois de joga-las no lixo, escovou as maos com gesto distraido massatisfeito. Ele acabara de fazer um bom trabalho. Algo completamenterotineiro, mais ainda assim era necessario manter o padrao elevado.Nathanson desceu e olhou para o rosto da mulher sob os lencoisbrancos.Esta tudo bem , disse. Descanse um pouco na saia de recuperacao;depois virei examina-la. Voce tem alguem para lhe levar para casa.certo:A mulher meneou a cabeca afirmativamente, passando a lingua nosiabios secos.Nathanson dirigiu-se a porta que dava acesso a area de descansodos cirurgioes, onde teria um pequeno intervalo antes de volrar ao batentepara os pacientes da tarde. Outra fila de mulheres assustadas emuitas vezes golpeadas pela tristeza.Ninguem que assistisse a cena tia sala de cirurgia jamais adivinhariaque a mulher na mesa fosse a amante de Nathanson... ou que ele acabarade abortar o seu proprio filho.Para o D r . B ernard N athanson na metade dos anos de 1960 essacena tipificava o novo mundo da liberdade de reproducao. Ele realizoucampanhas vigorosas em favor da legalizacao do aborto, e, aos seus olhos,as intencoes eram boas e razoaveis. Ate corretas. Alem do mais, quandocomecara a residencia na clinica obstetrica e ginecologica do Hospitalde Mulheres em Nova York dez anos antes, vira centenas de casos deemergencia devido a abortos ilegais. E os resultados em muito se diferenciavam,dependendo da situacao social e economica da mulher.As mulheres pobres chegavam com terriveis hemorragias, febre alta,em choque. Elas tentaram abortar sozinhas, usando instrumentos grosseiros,ou foram cortadas por charlataes. As consequentes infeccoes comfrequencia resultavam em esterilidade, e muitas vezes levavam a necessidadede histerectomia. Algumas ate mesmo morriam.Em contraposicao, pacientes particulares influentes tinham tudomais facil. Ao lado de medicos simpatizantes, tramavam formas de disfarcaro aborto, o que significava que Nathanson e outros residentesadotavam um procedimento conhecido como D&C, que consiste deraspagem das paredes do utero pelo processo de dilatacao e curetagem.Ou etas simplesmente voavam ate Porto Rico, Inglaterra, ou Japao, onderealizavam a intervencao.Foi essa desigualdade social que primeiro motivou BernardNathanson a fazer campanhas em favor da legalizacao do aborto. Em1969, juntou-se a Lawrence Lader para fundar a Liga Nacional dosDireitos do Aborto (entao conhecida como Associacao Nacional paraRevogacao das Leis do Aborto). A organizacao ajudou a recrutar feministas,inclusive Betty Friedan, mas foram esses dois homens que montarama estrategia do movimento contra seus oponentes mais terriveis efizeram o maximo para definir o aborto como uma questao da mulher,onde somente as feministas tivessem permissao para expressarsuas opinioes, Foram tambem Nathanson e Lader que determinaramque a hierarquia religiosa deveria ser rebaixada a um clube de elite dehomens brancos insensiveis aos problemas das mulheres.Em 1970, quando Nova York liberou suas leis de aborto, Nathansoncomecou a administrar a maior clinica de aborto do pais, o CenterforReproductive and Sexual Health (conhecida dos funcionarios por seuacronimo, CRASH, ou DESASTRE Em portugues, o nome da clinicaseria algo como Centro Para a Reprodutividade e Saude Sexual).Localizada em Manhattan, o local prosperou mediante as referencias doServico de Consultoria do Clero Sobre o Aborto, do Reverendo HowardMoody, uma rede de ministros protestantes e rabinos. Nathanson tinhaorgulho dos elevados padroes profissionais da clinica e do sucesso domodelo cirurgico ambulatorial.Em 1973, contudo, quando o caso Roe contra Wade fez do abortosolicitado algo legal em todo o pais, Nathanson decidiu fazer uma mudancana carreira. Ele aceitou a posicao de chefe do servico de obstetriciano St. Lukes Hospital Center e passou a cuidar das maes e dos bebes(embora continuasse a fazer abortos).Sua tarefa era organizar uma unidadesofisticada de perinatologia, com maquinas que monitoram fetoseletronicamente e outros equipamentos caros para tratar de recem-nascidosdoentes.Naquele tempo, um dos mais interessante equipamentos era o ultrasom,que literalmente abriu a janela para acompanhar o desenvolvimentodo feto. A primeira vez que Nathanson viu o ultra-som em acao,estava com um grupo de residentes reunidos ao redor de uma pacientegravida numa sala de exames escura, assistindo a demonstracao feitapelo tecnico.O tecnico aplicou um gel condutor sobre o abdome da mulher ecomecou a trabalhar com um sensor proximo ao estomago. Assim que afilmagem ficou nitida, Nathanson mostrou-se impressionado. Ele podiaver um coracao bater! Quando o tecnico focalizou de perto a imagem, Nathanson podia ver todos os quatro ventriculos pulsando. Pareciacom um vivido desabrochar, tao nitido e tao definido que fhe tirouo folego. Podia ver tambem os principais vasos que entram e saem domusculo cardiaco.O tecnico depois focalizou a testa do bebe, os olhos e a boca. Entaoatraves do zoom mostrou que o bebe tinha as maos dobradas em cimado rosto. Mao direita, mao esquerda. Em cada uma Nathanson contoucinco dedos.A imagem da parte superior da cabeca mostrava o desenvolvimentodo cerebro, onde as primeiras etapas podiam ser vistas. A seguir o tecnicopassou pela arquitetura elegante da espinha.Era menino ou menina? Exatamente como os futuros pais, o gruponao poderia deixar de imaginar. Era uma menina. Finalmente, o tecnicomostrou a estrutura ossea das pernas, e cada pe com cinco dedosperfeitos.Durante o exame, Nathanson percebeu que sua menre abandonouo termo feto em favor do termo bebe.De repente, tudo o que aprenderasobre o bebe no ventre desde a sua matricula no curso de perinatologiaentrou em cena. Por exemplo, ele soube que o ovuio humano fertilizadotorna-se uma entidade autodirecionada muito cedo, apos ter-se divididoem apenas quatro celulas; que a batida do coracao comeca desde odecimo oitavo dia apos a concepcao; que com seis semanas os sistemasdos orgaos principais ja estao formados. De fato, depois de apenas dozesemanas nenhum novo desenvolvimento anatomico ocorre; a criancasimplesmente fica maior e mais capaz de sustentar a vida fora do utero.Tudo isso nao passava de fatos medicos, mas agora fundia-se com aimagem na tela e impactava a consciencia de Nathanson. Ele sentiu umfrio na espinha, e o ar na sala pareceu ficar mais denso, dificultando arespiracao. Seu humor passou da exultacao do novo conhecimento paraum panico de lhe fazer suar a fronte, enquanto a questao o atingia:quantos bebes exatamente como essa garotinha ele mesmo cortara aospedacos? Quantas vidas humanas tirara?B ernard N athanson L o g o convenceu-se de que a vida humana existiano ventre desde o comeco da gravidez. Num artigo escrito para o jornalde medicina New EnglandJournal o f Medicine, confessou que na clinicaCRASH presidira mais de 60 mil mortes . Com o aborto estamostirando a vida e tira-la deliberadamente, mesmo com ordem especial sob circunstancias especiais, e uma questao seria. Enquanto acreditavano aborto como algo legitimo, ele realmente afirmava que os medicosdevem trabalhar juntos para criar um clima moral rico o suficientepara providenciar o aborto, mas sensivel o bastante para a vida a fim deacomodar o profundo senso de perda.O artigo de Nathanson causou acaloradas controversias, e a atencaodo publico forcou-o a pensar mais de perto sobre a moralidade doaborto.O artigo gerou tambem uma nova circunstancia que pegouNathanson de surpresa. Ele comecou a receber convites para falar emreunioes pro-vida grupos que consistiam em sua maioria de pessoasdevotas e religiosas, entre catolicos, protestantes conservadores e judeusortodoxos. Apesar de Nathanson ter aceito os convites, sempre deixouclaro que suas objecoes contra o aborto nao eram baseadas em nenhumareligiao, mas que vinham de fatos cientificos e conclusoes puramentehumanitarias. Quando seu primeiro livro, AbortingAmerica (AmericaFazendo Aborto), foi publicado em 1979, ele ate criticou o que viucomo argumentos capciosos e retorica falsa usados por alguns ativistasdo pro-vida.Mesmo assim, ate aquele momento, Nathanson decidira que o abortose justificaria somente quando a vida da mae estivesse ameacada. Nomesmo ano que Aborting America foi publicado, Nathanson deixou derealizar abortos. Ele sempre acreditara que a moral de uma sociedade deveser julgada atraves de como ela trata o fraco e o indefeso, e seus primeirostrabalhos sobre a reforma do aborto foram inspirados por uma preocupacaopelo pobre. Mas a tecnologia do ultra-som revelou a ele uma classeainda mais vulneravel: o nao-nascido.Um dia, N athanson teve uma brilhante ideia. Desde que o ultra-sompoderia revelar o bebe no utero, poderia tambem ser usado para testemunharum aborto. Ele pediu a um colega que costumava fazer variosabortios por dia para colocar o equipamento em algumas de suas pacientese, com as devidas autorizacoes, gravar o procedimento.Nathansofi sabia bastante o que acontecia em um aborto. Mesmo assim,quando viu conceitos abstratos transformados em imagens vivas -quando de fato testemunhou os pequenos corpos sendo rasgados aos pedacos,membro a membro ficou sobressaltado e revoltado. Ainda mais repugnante,o ultra-som mostrou os bebes desesperadamente tentando escapar do aparelho de succao. Um feto de doze semanas continuou a lutarate mesmo depois de ter sido severamente mutilado, abrindo a boca no quepareceu como um grito de medo e dor.Nathanson tomou a fita do feto de doze semanas e transformou-anum filme intitulado de O Grito Silencioso. Quando foi lancado, em1985, transformou no mesmo instante a natureza do aborto em debate.As forcas pro-aborto ficaram iradas, acusando Nathanson e os produtoresde terem fraudado a filmagem. Quando a autenticidade da fita toiconfirmada, os opositores mudaram de tatica e desviaram a discussaopara a questao de se o feto e capaz de sentir dor durante o aborto capar do aparelho de succao. Um feto de doze semanas continuou a lutarate mesmo depois de ter sido severamente mutilado, abrindo a boca no quepareceu como um grito de medo e dor.Nathanson tomou a fita do feto de doze semanas e transformou-anum filme intitulado de O Grito Silencioso. Quando foi lancado, em1985, transformou no mesmo instante a natureza do aborto em debate.As forcas pro-aborto ficaram iradas, acusando Nathanson e os produtoresde terem fraudado a filmagem. Quando a autenticidade da fita toiconfirmada, os opositores mudaram de tatica e desviaram a discussaopara a questao de se o feto e capaz de sentir dor durante o aborto como foi demonstrado claramente no filme. Sem propor nenhuma posicaoteologica, Nathanson forcou os apoiadores do aborto a reconhecerque aborto e tirar a vida humana.como foi demonstrado claramente no filme. Sem propor nenhuma posicaoteologica, Nathanson forcou os apoiadores do aborto a reconhecerque aborto e tirar a vida humana.AO MESMO TEMPO, um grito silencioso interno comeou a dominar a propria vida de Bernard Nathanson. Questoes inquietantes passavam e repassavam em sua mente: como pude ser tao cego sobre a verdadeira natureza do aborto? Como pude presidir assassinato em massa? E com tal atitude utilitaria grosseira, como se fosse nada mais do que uma questao de competencia profissional?Nathanson comecou um exame de consciencia profundo, cavandoem seu passado para descobrir a fonte de suas ideias tortuosas. Seu pai,Joseph Nathanson, um medico rico, mandou-o para uma escola hebraica,mas ao mesmo tempo ridicularizava as licoes espirituais que o rapazaprendia ali. Apesar de o velho Nathanson alegar que as afirmacoesreligiosas do judaismo fossem supersticao, ele queria que o filho abracasseo judaismo como uma identidade etnica. Joseph Nathanson, depoisque escapou da pobreza em que cresceu, passou a conduzir-se pelomaterialismo. Agora, olhando para tras, Bernard Nathanson percebeuque aprendera uma licao extraordinaria de seu pai: nao deixe que ninguemfique em seu caminho.Nathanson aprendera bem a licao. Ele ate entregou nao apenas um.mas dois de seus filhos para a morte. Na primeira ocasiao uma gravidezindesejada ameacou ficar no caminho, quando ainda estava na faculdadede medicina, e deu a sua amante gravida o dinheiro para o abortoilegal. A segunda foi na metade dos anos de 1960, quando encontravasecom o seu casamento em crise. Um caso extraconjugal resultou emgravidez inconveniente. Esse foi o aborto que ele mesmo realizou.Como o pai, Bernard Nathanson crescera materialista e ambiciososem piedade. Seu primeiro casamento foi moderno e sem substancia. Osegundo deu-lhe o filho, Joey, mas Nathanson negligenciou o garotopelo espiral frenetico das atividades profissionais e dos compromissos.Sua nocao de pai era mandar o filho para colegios caros e particulares.Depois que esse casamento acabou, brincou de solteiro instavel. Consequentemente,destruiu tambem o terceiro casamento.Nathanson vivera uma vida inexplicavelmente rasa, como maistarde ele proprio escreveu, adquirindo casas maravilhosas, carros damoda, esposas como se fossem trofeus, adegas de vinho e cavalos. Entao,com a idade, buscou desesperadamente recuperar a juventude atravesde cirurgias plasticas, musculacao e roupas criadas para garotos defaculdade. Eu estava morando com a suserania dos demonios do pecado,escreveu, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculadoao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina(como os demonios fazem acreditar).Como o pai, Bernard Nathanson crescera materialista e ambiciososem piedade. Seu primeiro casamento foi moderno e sem substancia. Osegundo deu-lhe o filho, Joey, mas Nathanson negligenciou o garotopelo espiral frenetico das atividades profissionais e dos compromissos.Sua nocao de pai era mandar o filho para colegios caros e particulares.Depois que esse casamento acabou, brincou de solteiro instavel. Consequentemente,destruiu tambem o terceiro casamento.Nathanson vivera uma vida inexplicavelmente rasa, como maistarde ele proprio escreveu, adquirindo casas maravilhosas, carros damoda, esposas como se fossem trofeus, adegas de vinho e cavalos. Entao,com a idade, buscou desesperadamente recuperar a juventude atravesde cirurgias plasticas, musculacao e roupas criadas para garotos defaculdade. Eu estava morando com a suserania dos demonios do pecado,escreveu, obviamente dedicando-me a tudo que estivesse vinculadoao aparente carnaval sem fim dos prazeres, a festa que nunca termina(como os demonios fazem acreditar).Porem, a bagagem de maior peso que Nathanson carregava era oaborto. Aborto, aborto, aborto. A ironia foi que a sua causa humanitarianumero um resultou em nada menos do que assassinatos em massa.Nathanson achou-se cara a cara com a culpa. Culpa real. Nao um sentimentopassageiro de vergonha ou embaraco confuso, mas um conhecimentobrutal, esmagador e obstinado de sua propria maldade, Ele erauma ruina carbonizada.Bem antes e tambem durante o final da decada de 1980, Nathansontencionou suicidar-se. Ele acordava com pesadelos espasmodicos asquatro ou cinco horas da manha, sentindo como se estivesse sendo estranguladopor um inominavel horror. O avo e a irma cometeram suicidio,e ele se achou perguntando: "Sera que as pessoas mais proximas amim achariam a minha morte um alivio?Nathanson voltou-se para o que chamava de "literatura do pecado.Ele lia repetidamente Confissoes, de Agostinho, e absorvia livros deKierkegaard, Tillich, Niebuhr e Dosroyevsky - obras que descreviam aatormentada busca da alma pelas respostas para a culpa.Tua beleza atraiumea ti, Agostinho escreveu. Nao tenho nenhuma duvida de que tu esaquele a quem eu me agarraria, somente... meu eu interior era uma casadividida contra si mesma. Agostinho queria voltar-se para Deus, masele nao conseguia levar a si proprio a faze-lo. O proprio clamor deNathanson refletiu as meditacoes agonizantes do autor de Confissoes.Porem, a solucao final de Agostinho estava disponivel para o medico?Nathanson poderia aceitar o Cristianismo? Desde sua infancia, associara o nome de Jesus Cristo a ionga historia da perseguicao doscristaos contra o povo judeu. Entao, ao inves de voltar-se para o Cristianismo,buscava alivio em terapia, livros de auto-ajuda, drogas antidepressivas,aconselhamento e na miscelanea de abordagens espirituais,desde a teosofia ate ao borgianismo sueco. Tudo para nada.Eu senria o peso do pecado crescendo mais forte e mais insistente,Nathanson escreveu. Eu [tinha] tanta bagagem moral para transportarpara o proximo mundo... Eu [estava] amedrontado.E n to , em 1989, Nathanson foi a uma assembleia pro-vida em NovaYork para juntar informacoes para um artigo que estava escrevendo sobrea etica dos protestos do aborto clinico. Proibido de participar por causade uma ordem do tribunal resultante de antigos protestos (ele fora condenadopor violar os direitos de propriedade), ficou a parte como um observadorobjetivo. E o que viu finalmente derrubou suas defesas.Os ativistas pro-vida pareciam ter paz nao originada neste mundo.Com os pro-aborto atirando-lhes os epitetos mais ofensivos, a policiacercando-os, a midia abertamente contra a sua causa, o judiciario federalmultando-os e prendendo-os, e os oficiais municipais ameacando-os- durante tudo isso permaneciam sentados sorrindo, silenciosamenteorando, cantando, confiantes, Nathanson escreveu. Eles mostravamuma intensidade de amor e oracao que me impressionou.Foi somente ai, com essa imagem vivida de amor pressionando dentrode si, que Nathanson comecou pela primeira vez em toda minhavida adulta... a considerar seriamente a nocao de Deus.Quase que imediatamente foi da literatura do pecado para a literaturada conversao, especialmente para Piuar o f Fire (Pilar de Fogo),uma autobiografia detalhando a conversao de Karl Stern, um dos antigosprofessores de Nathanson. Como aluno de medicina, Nathansonfora fascinado por Stern, iider do departamento de psiquiatria da Universidadede McGill. Em seu livro, Stern descreve a longa viagemintelectual do judaismo nominal para um Cristianismo altamente intelectuale devoto. Em retrospectiva, Nathanson percebeu que as conviccoesreligiosas de Stern que transformaram uma mera tecnica medicaem cuidado medico. Nathanson havia sido atraido pelos metodos deStern sem entender a inspiracao.Esse e o tipo de transformacao que eu quero para a minha propria vidae trabalho, pensou.Em 1993, Nathanson deixou seu trabalho para ir atras de estudosmais avancados sobre a bioetica, primeiro na Universidade deGeorgetown, depois em Vanderbilt, onde era permitido aos alunos debioetica incorporar estudos religiosos em seus programas. Ele tambembuscou conselho dos rabinos, pois chegara a um ponto onde acreditavaque encontraria o Criador algum dia. Como poderia entrar na presencade um Deus justo? Os rabinos ensinaram que e possivel reconciliar-seatraves de boas acoes, ou de ouvir a declaracao do perdao de Deus deIsrael no Yom Kippur (Dia do Perdao), Porem, Nathanson imaginava:como pode alguem conhecer o perdao pessoal e individualmente? Comopoderia ele mesmo ser libertado da morte - a morte de todas as vidasque ri rara e a morte de sua propria alma?Nas horas escuras do amanhecer do dia, Nathanson as vezes sentiaque ja havia entrado no inferno com a marca Sem Saida, e que suasboas intencoes o haviam levadoa tornar-se, conforme suas propriaspalavras, o prefeito do inferno. O proprio senso de justica o atormentava.Ele estava condenado ante seus proprios olhos. Haveria algumaesperanca para ele?

EM BUSCA DA REDENOEle nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino doFilho do seu amor, em quem temos a redencao pelo seu sangue, a saber, aremissao dos pecados.COLOSSENSES 1 . 1 3 , l 4U. dia, no final do outono de 1996, minha secretaria informou-mesobre um telefonema surpreendente. O Dr. Bernard Nathanson estavaconvidando minha esposa e eu para irmos ao seu batizado.Fiquei aturdido. Voce tem certeza que pegou o nome certo? Perguntei,Bernard Nathanson?E isso mesmo , ela disse com um sorriso.Eu sabia que Nathanson estava interessado no Cristianismo; na verdade,ja haviamos tentado encontrar-nos por algum tempo, mas nao conseguimospor causa de nossas agendas, e eu nao tinha ideia de que elehavia ido tao longe. Confesso que experimentei uma fisgada de desapontamentopor nao te-lo introduzido ao batismo, mesmo assim eu estavamuito alegre por saber que o homem que uma vez fora o lider nacionaldos abortos era agora um cristao. Esse convite eu nao podia recusar.Algumas semanas depois, numa fria manha de dezembro, Patty eeu seguimos ansiosamente atraves dos poucos quarteiroes entre o nossohotel em Manhattan e a igreja para a reuniao das 7:30. Fomosavisados para usar a entrada dos fundos, onde fomos recepcionadospor um jovem sorridente, vestindo casaco preto. Ele se apresentoucomo Rev. John McCloskey e nos levou por alguns degraus ate a entradado porao.Sabia algo a respeito de MacCloskey, um jovem ministro carismaticocom um poderoso ministerio junto aos estudantes da Universidade dePrinceton. Ele tambem dera a Nathanson as boas novas do perdao quetao desesperadamente buscou e o levou a fe crista.O Rev. McCloskey nos guiou para uma pequena capela no porao,fria e umida, onde havia umas cinquenta pessoas sentadas nas cadeirasdobraveis. Nem pompa nem cerimonia, somente um grupo de crentesao redor de um pequeno altar, Poderiamos ser a igreja do primeiro seculo,reunida nas catacumbas, para testemunhar o batismo de um novocrente em nome do Cristo ressurreto.Em pe diante do altar, o ministro oficiante deu as boas-vindas deforma simples e resumida. Entao Nathanson foi escoltado para frente poruma jovem que imediatamente reconheci como Joan Andrews (hoje JoanAndrews Bell). Como Deus se delicia com as ironias, eu pensei. Andrewsfoi uma crista que passou cinco anos na prisao na Florida por resistencianao-violenta diante das clinicas de aborto. Na prisao, enquanto ladroes eassassinos entravam e saiam, Joan permanecia sentada, orando no silenciode sua cela.Eventualmente muitas pessoas esqueceram quem JoanAndrews era e, talvez, ela tivesse pensado se seu ato de protesto teria validoa pena. Porem, Deus usa todo ato de obediencia ieal, e aqui estava ela,guiando o outrora lider mundial pro-aborto para ser batizado.Esse era um momento extraordinario de vitoria espiritual. Na maiorparte do tempo, nos, cristaos, lutamos em trincheiras, vendo apenasa guerra sangrenta que nos cerca. Mas de vez em quando Deus nospermite dar uma olhada na vitoria real. Agora estavamos diante de umdesses raros momentos, iluminados, enquanto viamos BernardNathanson - judeu por nascimento, um homem que fora ateu por conviccaoe medico brilhante, mas amoral por profissao ajoelhando-seperante a cruz de Cristo.Minha mente voltou para um dia, tres meses atras, quando mejuntei a um grupo de lideres religiosos para andar nos corredores doCongresso e apelar aos senadores que anulassem o veto do presidenteClinton a lei que bania um procedimento de aborto chamado partoparcial. Durante toda a chamada dos votos, sentei-me na galeria, observandoe orando. A atmosfera estava estranhamente solene; os senadorespareciam se mover em camara lenta. O unico som era o do secretariochamando os votos, seguido de respostas "sim e nao.Eis que de repente um choro estridente de um bebe penetrou nosilencio iugubre... provavelmente o filho de algum turista que visitava oCapitolio. Seria isso fruto da minha imaginacao, ou alguns dos senado res ficaram cinza? O choro de um bebe no plenario era um lembretevivo do que estava em risco nessa votacao crucial.Mesmo assim isso nao fez nenhuma diferenca.Abatido, envergonhado pelo meu pais, sai abrindo caminho entre amultidao para um andar abaixo onde se localizava a recepcao de marmorelogo a direita da camara dos senadores. La eu vi Kate Michelman,lider do movimento pro-aborto, e um grupo de colegas celebrando abrancando, torcendo e trocando efusivos apertos de maos.A cena chocou-me como algo macabro. Ali estavam mulheres profissionais,bem vestidas, celebrando o direito de continuar uma praticatotalmente selvagem: um procedimento em que o bebe e removidodo canal de nascimento em sentido contrario, tudo menos sua cabeca,cuja base do cranio e furada e o cerebro sugado.Naquele dia, os membros do grupo pro-aborto venceram uma importantebatalha politica. Mesmo assim foi uma palida vitoria em comparacaoao que Patty e eu estivamos testemunhando, exatamente tresmeses depois, no culto de batismo de Bernard Nathanson. Ali, peranteos nossos olhos, a vitoria verdadeira: o triunfo final de Deus sobre opecado atraves do sacrificio de Jesus na cruz.Depois do batismo, nosso pequeno grupo reumu-se em um restauranteirlandes na Segunda Avenida. Bernard Nathanson. Rev. McCIoskey,Joan Andrews, varios ministros (muitos dos quais cambem haviam sidoaprisionados por demonstracoes nao violentas contra o aborto) e outrosativistas do Direito a Vida completavam as seis mesas, pedindo cafe damanha tardio com baguetes e ovos mexidos. Falando suavemente e commuita emocao, Nathanson agradeceu a todos por terem vindo.Tudo o que pude pensar enquanto me submetia ao batismo era nacerimonia do meu bar mitzvah , ele disse. Naquele dia eu estava commuito medo. Nathanson hesitou, depois olhou para cima. "Hoje sintoque todo aquele medo acabou. Eu experimentei graca pura. "B ern a rd N a th a n so n H avia sido redimido. Ele era um novo homem,dando os primeiros passos num novo mundo de fe e esperanca;ele teve alivio para os medos, sua atormentada alma foi transformadae as questoes mais vexatorias sobre a vida foram respondidas.Enquanto o ouvia falar, tremi maravilhado com a transformacao quepode acontecer na alma do ser humano. Dorothy Sayers, escritorade misterio e amiga de C. S. Lewis, cunhou a frase O dogma e o drama', significando que o ensinamento cristao sobre salvacao temtodo os elementos artisticos de uma grande narrativa. Realmente, ea melhor historia ja contada. Nenhum romancista, nenhumteatrologo, nenhum roterista jamais conseguiu escrever um enredotao atraente. Esse enredo e encenado novamente toda vez que umapessoa para de fugir da Caca do Ceu e cede a implacavel perseguicaodo amor.Nem todos nos, naturalmente, somos levados para as profundezasdo desespero em que Nathanson se encontrava. Mesmo assim todosos seres humanos anseiam, dentro de seus coracoes, por libertacao dopecado e da culpa. Muitos tentam suprimir a ansia, procuramracionaliza-la de qualquer maneira, emudece-la com respostas secundarias.Porem, ao final, e impossivel evadir-se. Essa e a grande certezado ser humano: mais cedo ou mais tarde, ate mesmo o mais decenteentre nos sabe que ha algo de podre em nossa essencia. Todos ansiamospor encontrar a libertacao de nossas culpas e falhas, por encontaralgum maior significado e proposito de vida e saber que ha esperanca.Essa necessidade de salvacao foi gravada na alma humana desdeque o primeiro casal desviou-se no Eden. O desejo e universal, e todareligiao e cosmovisao tenta oferecer alguma forma de redencao. Para obudista, e o nirvana; para o judeu, e a expiacao com as boas obras; parao muculmano, pode ser o ceu depois da perigosa caminhada atraves dojulgamento da espada.Entretanto, as religioes e filosofias nao sao as unicas a oferecer redencao.Qualquer credo no mercado de ideias, qualquer movimento queatraia seguidores, qualquer coisa que tenha o poder de agarrar o coracaodas pessoas e ganhar sua devocao faz assim porque toca nos seus maisprofundos anseios. E esses anseios sao, em ultima analise, religiosos.Exatamente como cada cosmovisao oferece uma resposta a questaode como chegamos aqui (Criacao) e uma analise do dilema basico doser humano (a Queda), assim tambem cada cosmovisao oferece umamaneira de resolver esse dilema (redencao). Porem, qual oferece a redencaoverdadeira? Qual da a resposta genuina para o dilema do serhumano? E quais sao grosseiras imitacoes?O TEATRO DA MORALIDADE DE HOJEA sirene que chama muitas pessoas hoje em dia e a que reivindicouo coracao e a alma de Bernard Nathanson por tanto tempo: a crencade que o objetivo da vida e o ganho material, que a realizacao, o progresso e o prazer sexual sao tudo o que ha . A America e outrospaises do ocidente tem uma industria altamente desenvolvida etecnologicamente avancada a industria da propaganda - criadapara nos atrair com a promessa de redencao atraves do materialismoe do comercialismo.Toda vez que ligamos a televisao ou abrimos uma revista ou jornal,somos bombardeados com as boas novas do comercialismo: para cadanecessidade, cada inseguranca, cada preocupacao existe um produto avenda que pode satisfazer as nossas necessidades, levantar a nossa autoestimae acalmar a nossa preocupacao. Os publicitarios investem muitodinheiro na contratacao de psicologos para sondarem a psique do serhumano e apontar nossas ansias e necessidades mais profundas. Entaoelaboram imagens sedutoras e frases apropriadas para nos prender, levando-nos a pensar que adquirindo os produtos anunciados satisfaremosaquelas necessidades fundamentais.E como aquelas necessidades mais profundas sao religiosas, o queos anuncios realmente comercializam e a ansia universal por redencao.Esse procedimento nao e nenhuma casualidade. De acordo com osociologo James Twitchell, em seu livro Adcult U.S.A. (em portugues,algo como Religiao da Publicidade Americana), muitos dos primeirospublicitarios da America foram cristaos, frequentemente filhos de ministros.Enquanto desenvolviam a arte da propaganda moderna, simplesmentetransportaram sua compreensao sobre necessidades espirituaispara a arena comercial. A sequencia espiritual de pecado-culparedencaotornou-se a sequencia psicologica de problema-ansiedade-resolucao.E por isso que o comercial tipico da televisao e, nas palavras deTwitchell, um teatro da moralidade para o nosso tempo. Vemos umhomem ou uma mulher em aflicao. Ele tem dor de cabeca; ela umagripe. Uma segunda figura aparece na tela prometendo alivio, testificandoo poder do produto anunciado. O investigador testa o produto, e, aleluia,o problema esta resolvido. A vida e alegre. Do alto, a voz desincorporadado anunciante impoe em casa as vantagens do produto.O fascinio poderoso da religiao e da propaganda e o mesmo ,Twitchell conclui. Ambas nos asseguram que seremos salvos .Essa mensagem tem varias formas. As vezes trabalha com a fe pessoal,com slogans tais como: Eu encontrei! - E a coisa certa - Algoem que acreditar. Outras vezes oferece um substituto dissimulado parao relacionamento com o divino: Voce esta em boas maos. Ainda emoutros casos sugere as promessas da Terra Prometida: Trazemos boascoisas para a vida - Seja tudo o que voce puder. Finalmente, explora a retorica religiosa da gratidao: Obrigado, biscoito delicioso - Obrigado,Delco - Eu adoro o que voce faz por mim .Nos anos recentes temos visto ate a propria imagem da religiaoaparecer nos anuncios. Alem do mais, o que e mais profundo do que anecessidade de Deus? Pegue um apelo por status ou prazer, combineisso com o apelo da religiao e o fascinio e quase irresistivel.Imagine isso: uma familia briga desesperadamente, enquanto asaguas ameacam inundar a casa. Com a residencia a beira do desabamento,o pai grita por socorro. E, veja, os ceus se abrem e uma maogigante desce para salvar a familia do desastre.Libertacao atraves de Deus? Nao. Libertacao atraves da Companhiade Seguros Allstate. O anuncio exerce atracao em virtude da ansiauniversal por seguranca, que e, 11a essencia, uma ansia religiosa. Alguemquase poderia esperar ver a familia fazer uma oracao: Nos te agradecemos,Allstate, por tua protecao em tempos de dificuldade .Ha tambem outro anuncio nos EUA que mostra uma jovem naigreja confessando seus caminhos miseraveis. Nao e pecado ser frugal, o sacerdote lhe assegura. E a jovem e liberada de sua culpa paracurtir o novo carro esportivo e economico da marca Chevy Cavalier,Um anuncio da IBM mostra uma freira andando para o trabalhoeclesiastico vespertino, enquanto sussurra sobre navegar na internet. Outroanuncio da mesma empresa mostra monges meditando telepaticamentesobre o programa Lotus. Gatorade mostra Michael Jordan correndono Tibete e encontrando um santo homem oriental, que entona:A vida e um esporte. Beba-a . A Snickers mostra um time de futebolconvidando um padre para abencoar o time, seguido de um rabino, umnativo americano, um budista e uma fila infindavel de lideres religiosos.Nao esta indo a lugar nenhum por algum tempo? , diz a tarja. Pegueum Snickers. Um anuncio da Volvo mostra um homem tomando banhoem agua corrente e clara como cristal. Enquanto olha para o ceu,uma voz macia e eterea diz: Volvo, isso pode ajudara salvar a sua alma.Claramente, os anunciantes estao ligados na ansia do ser humanopela salvacao - e ansiosos para explora-la. O romancista John Updikecompara o esforco colocado nos comerciais com o cuidado medievaldos monges devotados a decorar os sagrados manuscritos. O objetivode toda a arte dos anuncios e nos persuadir que certo bombom, oucompanhia de seguro, ou aglomerado a base de oleo e, como o Cristocrucificado... a porta para a boa vida . A publicidade moderna faz de"cada sala de estar uma catedral, e coloca nela, a cada seis minutos oumais, os icones da cultura moderna.Calvin Coolidge, o 30 presidente norte-americano, uma vez dissena Associacao de Agencias de Publicidade da America que o anuncioministra o lado espiritual do negocio. E parte do trabalho maior daregeneracao e redencao da humanidade . Regeneracao? Redencao? Atravesdo anuncio, a religiao do apetite e da gratificacao do ego e oferecidaa nos como uma solucao para o dilema humano, um conforto emnossas insegurancas, um caminho para a salvacao. As ferramentas maisavancadas da comunicacao e persuasao estao sendo usadas para nos pressionarpara o servico da deidade mais popular da America, o idolo doconsumismo.Porem, como Bernard Nathanson diria, bens materiais e itens deconsumo nao oferecem nenhum conforto quando alguem entra na noiteescura da alma. Como algumas pessoas afirmaram, os pobres estaoem melhor posicao do que os ricos, porque aqueles ainda pensam que odinheiro compra felicidade; o rico sabe mais sobre isso.Praticar a religiao do consumismo e como beber agua salgada: quantomais se bebe, mais sede se tem. Nao existe riqueza e poder suficientespara satisfazer, nunca ha bastante possessao material para dissimular aculpa. E nao importa quao prazerosa ou atraente tais coisas possamfazer a nossa rapida existencia aqui na terra, elas nao podem levar-nosalem. Pois o velho adagio ainda e adequado: voce nao pode levar issoconsigo.Apesar de o consumismo ser o substituto favorito da America e devarios paises ocidentais para a religiao, nao e o unico. Outros tem provadoser igualmente sedutores... e ate mais destrutivos.