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ASSÉDIO ABUSO SEXUAL Todo mundo concorda que estupro é um dos piores crimes que existem. Ainda assim, 99% dos agressores sexuais estão soltos - e eles não são quem você imagina. Culpa de uma tradição milenar: o nosso hábito de abafar a violência sexual a qualquer custo. Entenda aqui por que é tão difícil falar de estupro. COMPORTAMENTO Como silenciamos o estupro 349 Edição Pela Web 8 truques para aprender BLOGS ESPECIAIS NEWSGAMES TESTES FOTOS VÍDEOS ARQUIVO TABLET ASSINE COTIDIANO IDEIAS CIÊNCIA TECNOLOGIA CULTURA COMPORTAMENTO HISTÓRIA ASSINE PESQUISAR

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ASSÉDIO ABUSO SEXUAL

Todo mundoconcorda queestupro é um dospiores crimes queexistem. Aindaassim, 99% dosagressoressexuais estãosoltos - e eles nãosão quem vocêimagina. Culpa deuma tradiçãomilenar: o nossohábito de abafar aviolência sexual aqualquer custo.Entenda aqui porque é tão difícilfalar de estupro.

COMPORTAMENTO

Comosilenciamos oestupro

349Edição

 

Pela Web

 

8 truques para aprender

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POR Karin Hueck

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Luci era uma donzela de 13 anos que, noséculo X, vivia em um importante vilarejocom seus país. Certo dia de verão, ela saiupara ir à feira com uma amiga quandosentiu uma vontade enorme de ir aobanheiro. Sem ter aonde ir, entrou noprimeiro casebre do caminho e resolveufazer xixi por lá mesmo. Foi quando umhomem de 35 anos a encontrou e decidiuque a tomaria à força. O rapaz a prendeudentro da cabana e a violentou: foi tantabrutalidade que Luci ficou todaensanguentada e com as vestes rasgadas.Quando a menina chegou em casa, seupai se encheu de desgosto ­ não podiaacreditar que a filha não era mais virgem.Ainda assim, a família decidiu buscarjustiça e foi falar com o mandatário localpara mandar prender o criminoso. Ooficial logo encontrou o acusado que,depois de muito tempo, acabouconfessando o crime. Assim, de acordocom a lei da época, o oficial apresentouduas opções para a família: ou o homemia preso ou assumia a menina e se casavacom Luci para resgatar sua "honra".

Como o pai da menina não queria maissaber daquela filha impura, mandou elase casar com seu estuprador. Foi o que

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349Julho de 2015

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se casar com seu estuprador. Foi o queaconteceu. No dia seguinte, Luci semudou para a cabana onde foi violentada,onde passou 11 anos ao lado de seumonstruoso marido. Ele a engravidou porcinco vezes e bateu nela todos os diasenquanto permaneceram casados.

A história seria apenas mais um terrívelconto medieval, se eu não tivesseesquecido um "X" na data lá em cima. Ocaso de Luci não aconteceu no século X,mas no século XX ­ em 1982, para serexato. O importante vilarejo era a cidadede Guarulhos, em São Paulo, e Luci éLucineide Souza Santos, uma cabeleireirade 46 anos que, hoje, está separada de seuestuprador. (E, se você ficou na dúvida:sim, até 2002 existia na lei brasileira apossibilidade de o estuprador nãocumprir pena caso ele se casasse com suavítima.)

Leia também: #ChegaDeSilêncio0 154 relatos de leitores quesofreram abuso sexual e/ou estupro

Segundo o Anuário do Fórum Brasileirode Segurança Pública, todos os anos cercade 50 mil pessoas são estupradas noBrasil. Esses são os números oficiais,obtidos a partir da papelada formal. Maseles não correspondem à realidade.O estupro é um dos crimes maissubnotificados que existem e o Institutode Pesquisa Econômica Aplicada estimaque os dados oficiais representem apenas

10% dos casos ocorridos. Ou seja, overdadeiro número de pessoas estupradastodos os anos no Brasil é mais de meiomilhão. Nos EUA, onde existem dados

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milhão. Nos EUA, onde existem dadoslongitudinais, de acordo com o Center forDisease Control and Prevention, uma emcinco mulheres vai ser estuprada ao longoda vida.

Os casos registrados são baixos porqueexiste um comportamento persistente quecerca o estupro: o silêncio. Vítimas nãodenunciam seus agressores, policiais nãoinvestigam as acusações, famíliasignoram os pedidos de ajuda, instituiçõesnão entregam seus criminosos ­ essesmecanismos invisíveis fazem com que90% da violência sexual jamais sejaconhecida por ninguém. E isso, sim, é umcrime ainda maior do que a soma de cadacaso.

Apesar de entendermos o estupro comoum dos piores crimes que podemacontecer a alguém ­ segundo pesquisassobre percepção de crueldade, ele sóperde para o assassinato ­, somosestranhamente incrédulos para acreditarque ele realmente acontece. O estupro é oúnico crime no qual a vítima é julgadajunto com o criminoso. Imagine queroubaram o seu celular e você decidefazer um B.O. Agora imagine que odelegado que pegou o seu caso resolveperguntar onde você foi assaltado, quehoras eram e se você era conhecido portrocar de aparelho o tempo todo. Depoisele pergunta se você tem certeza de que oassalto realmente aconteceu ou se você

não deu o celular ao bandido por vontadeprópria. Se você então explica que oroubo foi de madrugada e depois de vocêter tomado umas cervejas, o delegadodecide ­ por conta própria ­ que nãohouve crime algum: você estava na rua e

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houve crime algum: você estava na rua ebêbado, quem pode garantir que você estáfalando a verdade? Ou então, pior, quemdisse que você não queria ter sidoassaltado?

Isso acontece com quem foi estuprado otempo todo. Mulheres relatam como sãorecebidas com desconfiança quandoresolvem contar suas histórias paraalguém. Pessoas perguntam que roupa elavestia, onde ela estava, que horas eram, seestava bêbada, se já não havia ficado como estuprador alguma vez, se deu aentender que queria fazer sexo e até se játeve muitos namorados antes. E essasperguntas podem vir de qualquer um. Foio que aconteceu com a menina Maria*,por exemplo, estuprada pelo avô aos 14anos. Quando ela resolveu pedir ajuda àavó, ouviu que a culpa havia sido dela."Você saiu do banho de toalha na frentedo seu avô, que não sabe controlar osinstintos." O avô seguiu normalmente avida, e Maria viveu com a culpa de quaseter desestruturado toda a sua família,como insinuou a avó. Comentários assimsurgem de amigos, familiares, policiais,médicos, advogados ­ e até de juízes.Todas as instâncias trabalham paraabafar o crime e jogar o assunto parabaixo do tapete. Todas mesmo.

 

O estupro do poderO menino de 9 anos começou a chorarquando contou o que havia acontecidocom ele. Alguns dias antes, enquantoprocurava por comida junto com umamiguinho, encontrou dois adultos quefalaram que tinham alguns alimentos

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falaram que tinham alguns alimentossobrando e que poderiam dividir umpouco com eles ­ em troca de um pequenofavor. O favor? Que os meninos fizessemsexo oral nos adultos. Sem comer há dias,as crianças acabaram cedendo. Depois deganhar a comida, traumatizados, ospequenos não conseguiram voltar paracasa e acabaram abandonando seus lares.A história acima aconteceu em 2014, osmeninos de 9 anos eram moradores deum campo de refugiados na RepúblicaCentro­Africana e os adultos que osextorquiram por comida eram soldadosfranceses de uma força de paz da ONU. Ea história não para por aí: segundo umrelatório interno da própria Organização,outras 11 crianças no país africano foramestupradas analmente ou forçadas a fazersexo oral em membros da força de paz,tudo em troca de comida.

Quase que pior que as históriasde estupro foi o que a ONU fez com orelatório que continha essas denúncias. Odocumento foi encaminhado defuncionário a funcionário a funcionário ­sem que ninguém tomasse nenhumaprovidência. Repetidamente, o caso foisendo abafado. Foi apenas quando a

papelada caiu nas mãos de AndersKompass, um oficial de direitos humanosda ONU na Suíça, que alguém agiu.Kompass vazou as informações para ogoverno francês, que finalmente abriuuma investigação na República Centro­Africana. Aí, sim, a ONU se viu obrigada atomar uma atitude: afastou Kompass do

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tomar uma atitude: afastou Kompass docargo.

É difícil achar no mundo uma grandeinstituição que não tenha varrido paradebaixo do tapete algum caso de estupro.Exércitos, empresas, famílias,universidades e igrejas acobertamestupros rotineiramente. A Igreja Católicafoi apenas a mais famosa organizaçãoreligiosa a fazer isso quando bispos epadres foram acusados de abusarsexualmente de crianças no começo dosanos 2000. Durante muito tempo oVaticano fingiu que não sabia de nada ­ eaté o papa Bento 16 foi acusado de olharpara o outro lado nos anos em que liderouum departamento que analisava abusosdentro da Igreja. O mesmo aconteceucom os Testemunhas de Jeová naInglaterra, onde o pastor Mark Sewell foicondenado por abusar de mulheres ecrianças ao longo de anos. E acontecetambém com igrejas evangélicas aqui noBrasil, onde pastores de diversos Estadosjá foram acusados de abusar de meninasdurante supostos "tratamentosespirituais".

Não são só as igrejas que adotam essapostura obscurantista. Nos últimosmeses, o foco dos escândalos sexuais tem

sido as universidades, brasileiras egringas, que mal sabem onde enfiar acabeça diante de tantas alunas contandoque foram violentadas dentro dasfaculdades ­ mas já vamos chegar lá.

Outra categoria muito eficiente em abafarcasos de estupro é a figura do "homembem­sucedido". Basta ser umapersonalidade respeitada que dificilmente

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personalidade respeitada que dificilmentea denúncia de violência sexual vai colar.Peguemos o caso de Dominique Strauss­Kahn, o diretor do FMI, que foi acusadopor uma camareira de hotel de ter enfiadoo pênis em sua boca, arrancado sua roupae tentado penetrá­la. Apesar deevidências de sêmen no uniforme damulher, Strauss­Kahn negou a violência.Logo, o caso contra ele enfraqueceu e aqueixa foi retirada por "falta decredibilidade da acusadora": decidiramque ela havia mudado demais a suahistória e que, graças a um passadoobscuro em seu país natal, a Guiné, elanão era de confiança. Strauss­Kahnacabou renunciando ao cargo no FMI,mas não foi condenado.

Diversas outras figuras famosas tambémse viram envolvidas em acusações deviolência sexual, como os atores BillCosby e Arnold Schwarzenegger, osatletas Mike Tyson e Kobe Bryant, e odiretor Woody Allen. O argumento contrapessoas que denunciam celebridades ésempre o mesmo: são indivíduosinteresseiros, loucos por fama e dinheiro,que merecem ser demonizados. (A moçaque acusou Kobe Bryant, por exemplo,

recebeu 70 ameaças de morte.) Pode atéser que todas as mulheres que acusamfigurões realmente estejam mentindo(embora pesquisas indiquem que asdenúncias falsas de estupro mal cheguema 8%). Mas também pode ser que não. Nadúvida, as punidas ­ por terem suacredibilidade questionada e pela falta dejustiça ­ acabam sendo as vítimas mesmo.

Quem acoberta grandes instituições usa

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Quem acoberta grandes instituições usasempre o mesmo raciocínio: "nãopodemos manchar a imagem de .... [insiraaqui a sua entidade favorita] peladenúncia de uma mísera... [insira aquiseu xingamento favorito]". Quandofinalmente algumas acusações depedofilia na Igreja Católica foramconfirmadas, não restou ao papa Bento 16outra opção a não ser admitir que aprioridade do Vaticano havia sido "umapreocupação equivocada com a reputaçãoda Igreja e a contenção de escândalos". Alógica é perversa: comparam­se anos eanos de fama e respeitabilidade de umaabstrata entidade com a dignidade deuma pessoa particular. Não é de seestranhar que a pessoinha acabe levandoa pior.

 

Perguntar ofendeNão é fácil denunciar um estupro. Épreciso ir à delegacia e prestardepoimento para funcionários que nemsempre sabem lidar com vítimas deviolência sexual (não há nenhum tipo detreinamento especial para isso aqui no

Brasil) e que podem, sim, fazer asperguntas e insinuações que nossodelegado fictício lá atrás fez. Se quiser queo caso tenha continuidade no processojurídico, a vítima terá de ir ao IML fazer oexame médico (consultas feitas em postosde saúde ou médicos particulares não têmvalidade legal). O exame é constrangedor:o médico legista examina o corpo inteiroda mulher em busca de fibras ou pelosque possam incriminar alguém, além devasculhar vagina, ânus e períneo por

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vasculhar vagina, ânus e períneo porsinais de laceração, feridas ou esperma. Amulher é apalpada, penetrada porinstrumentos e interrogada sobredetalhes do crime, apenas horas depoisdo ocorrido.

Em seguida, a agredida terá de torcerpara que seu caso seja encaminhado paraos tribunais: quem decide isso sãopromotores e juízes, e a maioria delesprefere dar continuidade apenas aoscasos que têm maior chance de seremprovados nas cortes. Isso quer dizer que,se não houver sinais de esperma, ou se avítima não tiver sido ameaçada por armade fogo ou se ela não apresentarmachucados porque preferiu ficar imóvele não apanhar do estuprador, as provasficam mais frágeis. Quem poderá garantirque a relação foi diante de ameaça, afinal?Se a mulher conhecer o criminoso, então,as chances de seu caso ser levado à frentecaem drasticamente. Primeiro, pelo medode retaliação: muitas preferem nem fazera queixa para não serem perseguidaspelos seus agressores. E, segundo, porqueé quase impossível provar se houve ou

não consentimento. Se a vítima chegar àdelegacia dizendo que foi estuprada porum namorado, marido, ficante ou amigo,é quase certeiro que seu caso não vá parafrente.

Mesmo se for parar no tribunal, aacusação corre o risco de se voltar contraa mulher, como já vimos. "Os advogadospodem usar qualquer tipo de argumentopara invalidar a vítima. Geralmente são

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para invalidar a vítima. Geralmente sãoargumentos moralistas ­ e quefuncionam", diz Ana Paula MeirellesLewin, coordenadora do Núcleo de Defesados Direitos da Mulher da DefensoriaPública do Estado de São Paulo. Não é àtoa, então, que 90% das mulheresdesistam de denunciar o crime: sabe­se láo que advogados e procuradores vãoinventar sobre ela. O estuproacabasilenciado pela vergonha, uma armaeficientíssima. E vergonha é a palavra­chave nesses casos. "O estupro é umcrime extremamente íntimo, umaviolação profunda, como pouquíssimasoutras coisas são. Se as pessoas que lidamcom esses casos ­ médicos, advogados,policiais ­ não tiverem respeito por essaviolação, elas não vão conseguir ajudar asmulheres", diz o médico JeffersonDrezett, que atende vítimas de violênciasexual no hospital Pérola Byington, emSão Paulo.

 

Meu malvado favoritoFazia uma tarde ensolarada de maioquando quatro adolescentes resolveramsair de casa para tirar umas fotospanorâmicas de sua cidadezinha natal.Mas elas deram azar: quando chegaramao alto do morro, encontraram cinco dospiores criminosos da cidade,completamente drogados. Rendidas comuma arma, elas foram amarradas a umaárvore com suas próprias roupas íntimas.O que seguiu foram horas deespancamento, esfaqueamentoe estuprocoletivo: uma delas ficoudesfigurada de tanto apanhar, a outrateve os mamilos arrancados. Quando se

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teve os mamilos arrancados. Quando secansaram dos horrores, os rapazesjogaram as meninas de um barranco de 8metros e, quando viram que elas nãohaviam morrido ainda, resolveramapedrejá­las. Uma das vítimas, DaniellyFeitosa, acabou morrendo 11 dias depois.As outras seguem feridas. Dificilmentevoltarão a ter uma vida normal.

O que aconteceu no último mês emCastelo do Piauí, a 180 km de Teresina, ­um dos mais assustadores casosde estupro do noticiário recente ­ é o tipode crime que aterroriza o imaginário daspessoas. É o tipo de crime também quecostuma receber mais atenção: meninasmuito novas atacadas por desconhecidosarmados obviamente muito cruéis. Sãocasos horríveis, que todo mundo condenacom veemência: os ataques ganhamdestaque nos jornais, delegados e juízesficam indignados e especialmenteempenhados em punir os criminosos,que, quando chegam à cadeia, precisam

até mesmo ser afastados dos outrospresos para não serem mortos. A puniçãoé exemplar. Mas, ao contrário do queparece, esse tipo de estupro é também aminoria dos casos.

Primeiro, pelo desenrolar no sistema dejustiça. No Brasil não há estimativasexatas, mas nos EUA apenas 0,2% a 2,8%dos casos de estupro terminam comcondenações. Graças aos mecanismos quejá vimos ­ a vergonha das vítimas, osprocedimentos burocráticos lentos epunitivos para a mulher, o medo de serjulgada e a humilhação nas cortes ­, issoquer dizer que 99% dos homens que

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quer dizer que 99% dos homens queestupram seguem tranquilamente comsuas vidas, sem nenhuma consequência.Dá para imaginar que as estatísticassejam mais desanimadoras aqui no Brasil.

O crime de Castelo também foge à regraporque na maior parte os casos não sãotão extremos: os criminosos não são tãomaldosos, as vítimas não são tãoindefesas, a violência é mais sutil. De fato,existe um mito de que estupros apenasacontecem de noite, em vielas escuras,por parte de malfeitores armados eencapuzados que atacam donzelasvirginais. A verdade não é bem assim.Provavelmente o dado mais triste sobreestupros no Brasil diz respeito ao perfildas vítimas: segundo o Ministério daSaúde, 70% das estupradas são crianças eadolescentes de até 17 anos (dá umas 350mil pessoas ao ano, uma Zurique inteira)e a maior parte delas foi violentadadentro de casa por pessoas de confiança,

como padrastos ou amigos da família.

Mas, mesmo entre adultos, o mito doestuprador maligno desconhecido nãopassa disso: mito. Na vida real, boa partedos casos de violência sexual acontecedentro de casas e casamentos, depois defestas ou encontros, no meio de relaçõessexuais que começaram consensuais,entre pessoas que já se conheciam e comagressores que nem de longe têm o perfilde "estupradores". No Brasil, porexemplo, entre 10% a 14% de todas asmulheres vão sofrer violência sexual porparte de seus parceiros. É o caso deLucineide, do começo da reportagem. Ede Emma, Allison e Kelsey, dos EUA.

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de Emma, Allison e Kelsey, dos EUA.

Emma Sulkowicz estava no primeiro diade seu segundo ano de faculdade naUniversidade de Columbia, EUA, quandoencontrou Paul, um ex­ficante, em umafesta. Os dois conversaram e começarama se beijar, e o encontro acabou indoparar no quarto dela. O sexo estavaconsensual até que, a certa altura darelação, Paul resolveu segurar suaspernas com força, apertar seu pescoço epenetrá­la analmente ­ tudo enquantoEmma dizia "não, para!". Já AllisonHuguet conhecia seu estuprador, Beau,desde criancinha ­ na verdade, eram tãoamigos que ela o chamava de irmão. Em2010, ambos resolveram ir a uma festa nacasa de um conhecido e encheram a cara.Tanto que Allison achou melhor dormirpor lá mesmo em vez de voltar de carro.Ela capotou sozinha no sofá, apenas paraacordar duas horas depois com as calças e

a calcinha na altura dos pés e seu melhoramigo gemendo por cima dela ­ ele estavafazendo sexo com ela desacordada.Aterrorizada, ela fingiu que estavadormindo. O que aconteceu com KelseyBelnap foi ainda pior. Ela estudava naUniversidade de Montana quandoresolveu sair com uma amiga. As duasforam até o apartamento do namorado daamiga, onde estavam quatro rapazes dotime de futebol da faculdade. Todoscomeçaram a beber e os rapazesdesafiaram as meninas a ver quemtomava mais doses de destilados. Kelseydeve ter virado uns oito copos antes decapotar em um dos quartos. Quando elavoltou a si, percebeu que um dos meninosestava enfiando o pênis ereto em sua

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boca. A menina tentou se desvencilhar,mas não conseguiu. Nas próximas horas,enquanto acordava e voltava a ficarinconsciente, todos os quatro rapazes serevezaram para penetrá­la. Ela só ficousabendo o que aconteceu já no hospital,quando uma enfermeira a examinou.

Dos três crimes, só o de Allison terminoucom o estuprador na cadeia ­ e issoapenas porque ela conseguiu gravar umtelefonema no qual ele confessava ocrime. Nos outros dois, a credibilidadedas moças foi atacada sem parar depoisque elas fizeram a denúncia e o sexo foiconsiderado consensual ­ inclusive o deKelsey: os policiais acreditaram que umamenina inconsciente teria condições dedar consentimento para quatro homensdiferentes fazerem sexo com ela.

Os casos acima são americanos porque,por lá, o debate sobre violência sexual noscampi universitários anda aquecido emeninas do país inteiro estão vindo apúblico para contar suas histórias.Governos e instituições estão batendocabeça para tentar conter o que échamado de uma "nova onda de estupro":pesquisas indicam que 20% dasuniversitárias foram estupradas em suasvidas, e 84% delas por alguém que elasconheciam. "As universidades escondemos crimes porque não há consequências seelas fazem algo errado", opina ShelbyCuomo, pesquisadora de violência sexualuniversitária da Universidade GeorgeWashington. "Uma investigação concluiuque até mesmo a escola de direito deHarvard não cumpriu todas as exigênciasda lei na hora de investigar um caso

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da lei na hora de investigar um casode estupro. Mesmo assim, a escola não foipunida."

Por aqui, as denúncias também estãocomeçando. As mais famosas envolvemcasos de violência sexual na USP, como oda estudante de veterinária que dormiuem uma festa de república e acordou comum colega estuprando­a por trás e o dacaloura de medicina que foi violentadapor um funcionário da faculdade duranteuma festa em 2011. Quando as meninasprocuraram ajuda dentro do campus,ouviram de alunos, assistentes sociais ecentros acadêmicos que seria melhor nãofazer as denúncias: era melhor nãomanchar a faculdade. Felizmente, oconselho não prevaleceu. As ocorrênciasforam tantas que, a certa altura a USP

não conseguiu mais ignorar as denúncias.O caso acabou virando até uma CPI ecausou a renúncia de Paulo Saldiva, oprofessor que estava coordenando asinvestigações. "A faculdade se comportoumal e ficou na defensiva sobre asdenúncias. Há uma crise de conduta e devalores", disse ele na saída. O relatóriofinal da CPI incluiu 112 estupros dentroda universidade. Ainda assim, o númeroestá longe da verdade: a aluna degeografia Aline*, por exemplo, que contouà SUPER como foi estuprada em umafesta da Faculdade de Arquitetura, nãorelatou seu caso. Ela tinha certeza de quenão seria ouvida. É exatamente essa faltade confiança nas instituições que reforçao silêncio.

 

O dilema do pegador

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O dilema do pegadorA "nova onda de estupro", porém, não énovidade. Casos como os acima sempreaconteceram, especialmente emambientes que valorizam a pegaçãoregada a muito álcool ­ basta conversarcom alguma conhecida sua que ela vaisaber contar alguma história parecida.Meninas muito bêbadas para consentir ourapazes que insistem em sexo mesmodepois de a moça dizer que não está a fimexistem desde que o mundo é mundo.Antigamente, atos assim eramdescartados como "sexo ruim" ou "umanoite para esquecer" ou "ressaca moral".A diferença é que agora as meninas estãosabendo dar nome à violência queviveram: estupro. "Antes, muitos dos

casos apareciam como 'ele forçou a barra','eu não queria, mas acabou acontecendo',ou algo que começa consensual e depoisfica violento, e a menina não consegueparar o rapaz. Agora, as meninas estãopercebendo esses casos como umaviolência, o que é uma grande mudançade perspectiva", diz Heloisa Buarque deAlmeida, professora de antropologia daUSP, que montou um grupo de apoio paravítimas de violência sexual no campus.

É muito importante não descreditar essetipo de estupro entre conhecidos comomenos grave do que outros ­ como jáfizeram figuras famosas, como o biólogoRichard Dawkins. Ser obrigada a fazersexo à força, mesmo que seja com umconhecido, é traumático e trazconsequências para o resto da vida afetivae sexual da vítima.

Pesquisas também mostram que há um

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Pesquisas também mostram que há umcomportamento predatório entre osuniversitários acusados de violênciasexual. De acordo com David Lisak,psicólogo da Universidade de Duke e umdos maiores especialistas em violênciasexual entre conhecidos, apenas umapequena minoria de rapazes éresponsável pela vasta maioria deocorrências de estupro entreuniversitários ­ entre 90% e 95% doscasos são cometidos por alguém que jáestuprou antes. E esses rapazes cometemos atos repetida e conscientemente. Lisakentrevistou dezenas de rapazes emuniversidades e pediu para que elesdescrevessem como costumam seduzir as

meninas, sempre tomando o cuidado denão chamá­los de estupradores. O relatode um deles, que ele apelidou de Frank, éassustador: "A gente sempre fica de olhonas meninas mais gatas. As mais fáceissão as calouras porque elas não sabembeber ainda, aí a gente convida elas para afesta e serve qualquer bebida muito docee cheia de álcool. Tem que ter talento praisso, escolher as gatinhas já durante esemana e jogar o papo. Aí quando elasestiverem muito bêbadas, eu dou o bote.Levo prum quarto e tento tirar a roupa.Elas reagem, dizem que não querem, maseu insisto e uma hora elas acabamcapotando mesmo. Aí eu como elas."Qualquer semelhança com conversas devestiário não é coincidência.

O problema aí está, claro, no que seespera de um rapaz jovem. Muitos deles,ao forçar a barra ou fazer sexo com umamoça bêbada demais para saber o queestá fazendo, não têm noção de que estão

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está fazendo, não têm noção de que estãocometendo um crime grave e impondoum grande trauma às meninas. Instigadospela cultura (universitária e generalizada)de pegar o maior número de mulherespossível e não perder nenhuma chance defazer sexo, acabam ignorandoconsentimentos não dados ouresistências. A solução está, é claro, emmudar essa cultura. Não cobrar demeninos que sejam pegadores. Nuncaculpar uma menina pelo que aconteceucom ela. Entender que sexo só vale a penaquando os dois estão a fim. E que 'não'sempre ­ sempre, sempre ­ quer dizer"não". 

 

Tudo igualA maneira como leis e culturas lidamcom o estupro mudou pouquíssimo nosúltimos 4 mil anos  

O Código de Hamurabi

Um dos primeiros códigos de leisconhecidos, de 4 mil anos, já falavaemestupro. A peculiaridade é que, nocaso de uma virgem, o ato eraconsiderado um crime contra apropriedade ­ do pai dela. Já asmulheres casadas eram executadasjunto com seus estupradores, poistinham cometido adultério.

Estupro bíblico - e o do Brasil

O Velho Testamento deixa claro:estuprar uma virgem só era crime se ohomem não se casava com ela depois.Assim como no Brasil até 2002 ­ atéessa data, estupradores podiam escapar

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essa data, estupradores podiam escaparda prisão caso se casassem com suasvítimas.

Roma antiga e Game of Thrones

Em Roma, ao final de um casamento, ocasal passava por um pequeno ritual: amulher fingia ter muito medo e seagarrava à mãe, enquanto os amigos donoivo a arrastavam à força até osaposentos do marido. É um ritual quelembra a época em que mulheres eramsequestradas por invasores ­ e queGeorge R. R. Martin reproduz em Gameof Thrones.

 

Por que o silêncio vence:78% dos brasileiros acham que o queacontece entre um casal em casa nãointeressa aos outros.

63% pensam que casos de violênciadentro de casa devem ser discutidossomente entre os membros da família.

E como a culpa cai no colo delas:

59% dos brasileiros concordam que existe"mulher para casar" e "mulher para acama".

58% acreditam que, se as mulheressoubessem como se comportar, haveriamenos estupros.

Fonte: IPEA

 

Dicas medievais - e da músicapop

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popNa Idade Média, consentimento não erapremissa para o sexo. O bispo de Óstia,Itália, escreveu: "As mulheres sempreestão prontas para o sexo e não precisamde preparação". Outro documento doséculo 13 recomendava: "Levante ovestido dela com uma mão e coloque aoutra sobre seu sexo. Deixe que ela grite efaça o que quiser com ela". Parecido coma música Blurred Lines, de Robin Thicke,na qual o cantor também não pergunta oque a moça quer: "Eu sei que você quer,eu sei que você quer, do jeito que me

agarra, deve querer fazer sacanagem".

Não brinque com famosos. Hojee há sete séculos.No século 14, os livros de históriaregistram uma história de estupro acrianças: é a da pequena Joan Seller, filhade 11 anos de um limpador de celeiros deLondres. Violentada por um mercadorrico, o caso dela foi a julgamento, mas otribunal acabou decidindo que, por seustatus, ela não tinha direito de consentirou não: estava basicamente à disposiçãodos homens de maior hierarquia. Assim,seu estuprador ficou livre e seguiufazendo negócios. Apesar de hoje em diatribunais não serem tão francos nosveridictos, o desfecho para pessoas quedenunciam ricos e influentes porestupro é quase sempre igual.Celebridades acusadas de violência sexualraramente são condenadas e acredibilidade das vítimas sempre acabaem frangalhos.

Só é violência se tiver marcas?Em meados do século 20, pensadores

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acreditavam que "a maioria das mulherestêm a fantasia de ser estupradas" e que,afinal, era difícil saber se uma mulher quedizia "não" realmente não queria sexo.Por isso, "uma mulher precisa transmitirsua resistência com mais que um meroprotesto verbal ou uma atitude infantilcomo o choro". Na prática, até hojeindícios de resistência e marcas deviolência são essenciais para provar se osexo foi consensual ou não nas cortes.Mesmo com estudos provando que uma

das reações mais comuns à violênciasexual é a vítima ficar congelada,esperando que tudo acabe logo.

 

Nos EUA:

20% das universitárias foramestupradas*.

84% por alguém que elas conheciam.

57% por ficantes ou namorados.

Mas... 73% não achavam queera estupro, apesar de sentir que tinhamsofrido um crime.

*Desde os 14 anos. Mulheres queresponderam "sim" à pergunta se jáforam forçadas a fazer sexo. Pesquisa doNationai Institute of Mental Health.

Entre universitários:

4% dos rapazes admitem que jáobrigaram alguém a fazer sexo com eles.

Desses, 63% já fizeram isso com mais deuma mulher (a média é seis vítimas).

83% deles têm o hábito de embebedaras meninas antes do sexo.

92% conheciam as moças que

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estupraram.

Fonte: Dados americanos. David Lisak ePaul Miller, "Repeat Rape and MultipleOffending Among Undetected Rapist

No Brasil:

15% dos estupros são cometidos porduas ou mais pessoas.

50% dos estupros no Brasil são decrianças de até 13 anos e, desses, 68%são cometidos por pessoas próximas,

como familiares ou amigos.

Fonte: Sinan/Ministério da Saúde

 

Você sabe reconhecerum estupro?A personagem Joan, do seriado Mad Men,foi estuprada na segunda temporada porseu noivo ­ causando um debate nas redessobre estupromarital, onde havia quemdefendesse que se tratava de sexoconsensual. A atriz, Christina Hendricks,ficou assustada: "O chocante é quandodizem coisas como: "Sabe aquela cena emque a Joan meio que é estuprada". Oudizem estupro e fazem sinal de aspas comos dedos. Eu fico tipo: "O que vocês estãofalando?! Aquilo foi estupro." O problemanão está só com os espectadores. Muitagente acha que não existe estupro nacama de casal ­ durante muito tempo,inclusive, vigorou o "dever marital", noqual sexo no casamento era consideradoobrigação. Mas 14% das brasileiras sãoestupradas por seus parceiros.