biotina final
DESCRIPTION
Biotina, Vitamina HTRANSCRIPT
-
1
Ministrio da Sade
Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos
Departamento de Gesto e Incorporao de Tecnologias em Sade
Biotina para o Tratamento da Deficincia de
Biotinidase
Outubro de 2012
Relatrio de Recomendao da Comisso Nacional de Incorporao de Tecnologias no SUS CONITEC 06
-
CONITEC
2012 Ministrio da Sade.
permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
no seja para venda ou qualquer fim comercial.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra da
CONITEC.
Informaes:
MINISTRIO DA SADE
Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos
Esplanada dos Ministrios, Bloco G, Edifcio Sede, 9 andar, sala 933
CEP: 70058-900, Braslia DF
E-mail: [email protected]
Home Page: www.saude.gov.br/sctie -> Novas Tecnologias
-
2
CONITEC
CONTEXTO
Em 28 de abril de 2011, foi publicada a lei n 12.401 que dispe sobre a
assistncia teraputica e a incorporao de tecnologias em sade no mbito do SUS.
Esta lei um marco para o SUS, pois define os critrios e prazos para a incorporao de
tecnologias no sistema pblico de sade. Define, ainda, que o Ministrio da Sade,
assessorado pela Comisso Nacional de Incorporao de Tecnologias CONITEC, tem
como atribuies a incorporao, excluso ou alterao de novos medicamentos,
produtos e procedimentos, bem como a constituio ou alterao de protocolo clnico
ou de diretriz teraputica.
Tendo em vista maior agilidade, transparncia e eficincia na anlise dos
processos de incorporao de tecnologias, a nova legislao fixa o prazo de 180 dias
(prorrogveis por mais 90 dias) para a tomada de deciso, bem como inclui a anlise
baseada em evidncias, levando em considerao aspectos como eficcia, acurcia,
efetividade e a segurana da tecnologia, alm da avaliao econmica comparativa dos
benefcios e dos custos em relao s tecnologias j existentes.
A nova lei estabelece a exigncia do registro prvio do produto na Agncia
Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) para a que este possa ser avaliado para a
incorporao no SUS.
Para regulamentar a composio, as competncias e o funcionamento da
CONITEC foi publicado o decreto n 7.646 de 21 de dezembro de 2011. A estrutura de
funcionamento da CONITEC composta por dois fruns: Plenrio e Secretaria-
Executiva.
O Plenrio o frum responsvel pela emisso de recomendaes para
assessorar o Ministrio da Sade na incorporao, excluso ou alterao das
tecnologias, no mbito do SUS, na constituio ou alterao de protocolos clnicos e
diretrizes teraputicas e na atualizao da Relao Nacional de Medicamentos
Essenciais (RENAME), instituda pelo Decreto n 7.508, de 28 de junho de 2011.
composto por treze membros, um representante de cada Secretaria do Ministrio da
Sade sendo o indicado pela Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos
(SCTIE) o presidente do Plenrio e um representante de cada uma das seguintes
instituies: ANVISA, Agncia Nacional de Sade Suplementar - ANS, Conselho
Nacional de Sade - CNS, Conselho Nacional de Secretrios de Sade - CONASS,
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade - CONASEMS e Conselho
Federal de Medicina - CFM.
Cabe Secretaria-Executiva exercida pelo Departamento de Gesto e
Incorporao de Tecnologias em Sade (DGITS) da SCTIE a gesto e a coordenao
das atividades da CONITEC, bem como a emisso deste relatrio final sobre a
-
3
CONITEC
tecnologia, que leva em considerao as evidncias cientficas, a avaliao econmica
e o impacto da incorporao da tecnologia no SUS.
Todas as recomendaes emitidas pelo Plenrio so submetidas consulta
pblica (CP) pelo prazo de 20 dias, exceto em casos de urgncia da matria, quando a
CP ter prazo de 10 dias. As contribuies e sugestes da consulta pblica so
organizadas e inseridas ao relatrio final da CONITEC, que, posteriormente,
encaminhado para o Secretrio de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos para a
tomada de deciso. O Secretrio da SCTIE pode, ainda, solicitar a realizao de
audincia pblica antes da sua deciso.
Para a garantia da disponibilizao das tecnologias incorporadas no SUS, o
decreto estipula um prazo de 180 dias para a efetivao de sua oferta populao
brasileira.
-
4
CONITEC
SUMRIO
1. A DOENA .................................................................................................................................... 5
2. A TECNOLOGIA .............................................................................................................................. 6
3. ANLISE DA EVIDNCIA APRESENTADA PELO DEMANDANTE ........................................................ 7
4. EVIDNCIAS CIENTFICAS ............................................................................................................ 11
5. IMPACTO ORAMENTRIO ......................................................................................................... 12
6. RECOMENDAO DA CONITEC....................................................................................................12
7. CONSULTA PBLICA....................................................................................................................13
8. DELIBERAO FINAL....................................................................................................................13
9. DECISO ....................................................................................................................................14
10. REFERNCIAS .............................................................................................................................15
-
5
CONITEC
1. A DOENA
A deficincia de biotinidase um erro inato do metabolismo, de herana
autossmica recessiva. Na deficincia de biotinidase, a biotina no pode ser liberada a
partir de pequenos biotinilpeptdeos e da biocitina. Assim, pacientes com esta
deficincia so incapazes de reciclar a biotina endgena ou de usar a biotina ligada s
protenas da dieta, conseqentemente a biotina perdida na urina. (1)
Os pacientes com deficincia de biotinidase apresentam uma grande
variabilidade de manifestaes clnicas da doena, bem como na idade de
apresentao dos sintomas. O quadro clnico completo j foi relatado a partir de 7
semanas de vida, mas sintomas neurolgicos mais discretos podem ocorrer mais cedo,
ainda no perodo neonatal(2); no entanto, algumas crianas podem no desenvolver
sintomas at a adolescncia.(3) As manifestaes neurolgicas como hipotonia
muscular, letargia, crises convulsivas mioclnicas e ataxia so os sinais clnicos iniciais
mais freqentes. (4)
Devido variabilidade e inespecificidade das manifestaes clnicas, h um
grande risco de atraso no diagnstico, quando esse no feito por meio de triagem
neonatal.(5) Pacientes com diagnstico tardio, na maioria das vezes, tm retardo
psicomotor e outros sintomas neurolgicos, que podem ser irreversivis e at mesmo
fatais. (6, 7, 8)
O diagnstico neonatal pode ser feito por meio de triagem neonatal (teste do
pezinho ampliado) em pacientes ainda assintomticos.(11) O diagnstico definitivo da
deficincia de biotinidase exige a confirmao laboratorial(9), que deve ser realizada
por meio da medida da atividade da biotinidase, feita em plasma por mtodo
colorimtrico.(10)
Com base no nvel da atividade de biotinidase, os pacientes so classificados
em trs grupos principais:
-
6
CONITEC
1. Pacientes com deficincia de biotinidase profunda: possuem menos de 10%
da mdia atividade srica normal de biotinidase.
2. Pacientes com deficincia de biotinidase parcial: com 10-30% da mdia
atividade srica normal de biotinidase.
3. Pacientes com diminuio da afinidade da biotinidase pela biocitina: esses
pacientes tem atividade enzimtica normal aos testes, usualmente realizados; mas a
testagem com substratos mais especficos evidencia a diminuio de afinididade.
No Brasil, estima-se que possam existir aproximadamente 3.200 pacientes com
Deficincia de Biotinidase (incidncia aproximada de 1 para 60.000, em uma populao
de cerca de 190 milhes de habitantes).
2. A TECNOLOGIA
Tipo: frmula alimentar
Princpio Ativo: biotina
A biotina (ou vitamina H) um composto pertencente ao grupo de vitaminas
hidrossolveis do complexo B, necessria em diversas funes metablicas.
Indicao aprovada na Anvisa: a ANVISA liberou o uso e comercializao da biotina
(ou vitamina H) somente em associao de polivitamnicos, em doses abaixo das
recomendadas para o tratamento de biotinidase. A sua comercializao na forma
isolada (sem associaes a outras substncias) obtida somente em farmcias de
manipulao.
Indicao proposta: Indicado para o tratamento da Deficincia de Biotinidase,
comprovada por meio de dosagem enzimtica em plasma.
Posologia e Forma de Administrao: O medicamento biotina disponibilizado sob a
forma de cpsula, comprimidos ou soluo lquida, em geral na dose de 10mg ou
10mg/mL (nas solues lquidas), sendo sua administrao oral e preferencialmente
fora das refeies, uma vez ao dia.
-
7
CONITEC
Tempo de tratamento: uso crnico
Eventos adversos e contraindicao: No existem relatos de complicaes ou efeitos
adversos maiores associados ao uso de biotina em pacientes com Deficincia de
Biotinidase. Evidentemente, pacientes que apresentam hipersensibilidade a esse
componente devem evitar o consumo do mesmo. At o momento, no foram
relatados casos de interaes medicamentosas com o uso do produto.
3. ANLISE DA EVIDNCIA APRESENTADA PELO DEMANDANTE
Demandante: Departamento de Ateno Especializada (DAE/SAS).
Tipos de estudos: foram apresentados apenas sries e relatos de casos.
Resumo das concluses dos estudos:
Lslo et al, 2003(12) descreveram a evoluo clnica de 20 pacientes de um
grupo de 58 indivduos diagnosticados com Deficincia de Biotinidase, por meio do
programa de triagem neonatal da Hungria, no perodo de 1989 a 2001. Desses 20
pacientes, 11 deles (55%) possuam deficincia profunda, 7 (35%) deficincia parcial e
2 (10%) eram heterozigotos. Os autores relatam que todos os pacientes em
tratamento com biotina permaneceram assintomticos, sendo que em 3 deles houve
perodos de piora e remisso, relacionados no-aderncia ao tratamento.
Mslinger et al, 2001(13) publicaram um trabalho descrevendo desfechos
clnicos e neuropsicolgicos em 33 pacientes diagnosticados com Deficincia de
Biotinidase por meio do programa de triagem neonatal na ustria. Do total de 30
pacientes provenientes desse programa, 18 possuam deficincia profunda e 12
deficincia parcial. Entre os desfechos clnicos, 12 pacientes com deficincia profunda
que iniciaram o uso de biotina antes de 8 semanas de vida permaneceram
assintomticos at a ltima reviso clnica e tiveram o escore de QI dentro do normal.
Em nove pacientes que descontinuaram ou atrasaram o incio do tratamento, foi
-
8
CONITEC
descrito QI abaixo do normal em trs deles e atraso na aquisio da fala em um
paciente. Cinco desses nove pacientes realizaram exames de potencial evocado
auditivo e visual, que foram normais.
Mslinger et al, 2003(14) publicaram novamente um trabalho descrevendo
desfechos neuropsicolgicos de 21 pacientes, dos quais 18 foram diagnosticados por
meio de triagem neonatal e 3 por testagem de familiares. Os pacientes submetidos e
diagnosticados por triagem neonatal (n=18) tiveram seu diagnstico estabelecido
entre 4 a 8 semanas de vida. Doze pacientes que iniciaram tratamento com biotina at
a 8 semana de vida permaneceram clnica e neurologicamente assintomticos at a
ltima reviso dos autores, tendo escores de QI dentro da mdia. Nove pacientes
tiveram atraso, descontinuamento ou no-aderncia ao tratamento com biotina, mas
permaneceram assintomticos clnica e neurologicamente. No entanto, em 3 deles
(33,3%) houve documentao de reduo do escore de QI abaixo do valor normal.
Assim, os autores frisam que todos os pacientes, mesmo com deficincia profunda de
biotinidase, quando iniciam o tratamento dentro das primeiras semanas de vida,
mantm-se assintomticos e com escores de QI dentro da normalidade.
Weber et al, 2004(15) publicou um trabalho sobre crianas com Deficincia de
Biotinidase detectadas pela triagem neonatal na Sua e que foram tratadas ainda
assintomticas (n=26) e crianas diagnosticadas e tratadas j sintomticas (n=11). No
seguimento desses pacientes, foram avaliadas questes de desenvolvimento
neurolgico, adaptao social e comportamental e seqelas residuais pelos mdicos e
pais dos pacientes. Algumas (n=6/11) das crianas sintomticas tiveram seqelas
residuais aps o tratamento: deficincia auditiva (n=2), atrofia ptica (n=2), deficincia
auditiva e visual (n=2). Nenhuma criana com deficincia profunda de biotinidase
detectada por triagem neonatal (n=25) e com tratamento iniciado no perodo pr-
sintomtico teve perda auditiva ou visual. Crianas que iniciaram o tratamento j
sintomticas mostram maior ocorrncia de problemas visuais e auditivos. Alm disso,
esses pacientes tiveram maior atraso na aquisio da marcha aps os 18 meses de vida
e na aquisio da fala aps 17 meses de vida, quando comparadas s que foram
tratadas assintomticas. No houve diferena significativa na adaptao social ou
problemas de comportamento entre crianas sintomticas e assintomticas.
-
9
CONITEC
Kaye et al, 2006(16) refora que uma vez introduzido o tratamento com biotina,
os sintomas cutneos, assim como as crises convulsivas e quadro atxico, tendem a se
resolver rapidamente, diferentemente do sintomas oftalmolgicos e audiolgico que
so menos reversveis.
Genc et al, 2007(17) descreveu os achados audiolgicos em 20 pacientes com
Deficincia de Biotinidase em tratamento com biotina (10mg/dia), em 17 deles o
diagnstico foi estabelecido no perodo sintomtico. Os trs pacientes diagnosticados
ainda assintomticos (por meio de histria familiar de irmos afetados) apresentaram
avaliao auditiva normal, sem perda da acuidade. Os tempos de latncia e limiares de
resposta dos potenciais evocados auditivos foram siginificativamente maiores nas
crianas com diagnstico tardio, do que nas com diagnstico no perodo pr-
sintomtico, indicando a importncia do tratamento precoce como forma de evitar
complicaes, muitas vezes irreversveis como a perda auditiva nesses pacientes.
Wallace, 1985(18) publicou o caso de um paciente diagnosticado com 2 semanas
de vida, que iniciou o tratamento com 10 mg/dia de biotina, evoluindo sem alteraes
visuais e auditivas aos 2 meses de vida. Foi reavaliado com 7 e 14 meses de vida,
permanecendo sem complicaes visuais, auditivas, cutneas ou neurolgicas.
Ramaekers et al, 1993(19) publicaram o relato de um paciente de 15 anos de
idade, com neuropatia ptica bilateral progressiva de incio agudo aos 10 anos, que
evoluiu para tetraparaparesia espstica e neuropatia motora axonal nos quatro
membros. Aps a suplementao diria por via oral de 10 mg de biotina, houve
melhora metablica imediata, seguida de recuperao siginificativa dos sintomas
neuro oftalmolgicos, motores e dficits cognitivos.
Casado de Fras et al, 1997(20) descreveram um menino com graves sintomas de
Deficincia de Biotinidase diagnosticada aos 12 anos que mostrou uma grande
melhora de seu quadro neurolgico e normalizao das anormalidades cerebrais logo
aps a instituio de biotina por via oral.
-
10
CONITEC
Tsao et al, 2002(21) descreveu uma menina que aos 17 meses apresentou ataxia
episdica, que evoluiu para ataxia progressiva grave em dois meses. Esse quadro
clnico, segundo os autores, foi completamente resolvido aps o tratamento com
biotina. Alm disso, a surdez neurossensorial moderada que a paciente apresentava
tambm voltou normalidade.
Bay et al, 2010(22) descreve um paciente com 58 dias de vida que apresenta
quadro de acidose ltica, alterao do sensrio, atraso neuropsicomotor, alopcia e
rash cutneo e que aps o diagnstico e o tratamento com biotina, evolui com
melhora rpida da crise metablica, seguida posteriormente de melhora do sinais
neurolgico e desaparecimento das leses cutneas.
Haagerup et al, 1997(23) descreveu duas crianas com apresentaes precoces
da Deficincia de Biotinidase (2 e 3 semanas de vida), ambas com sintomas
neurolgicos graves, alteraes na ressonncia magntica cerebral, que aps o
tratamento com biotina desaparecem dentro de algumas semanas.
Grnewald et al, 2004(24) revisaram a histria clnica e achados
neurorradiolgicos de 5 pacientes com Deficincia de Biotinidase, diagnosticados no
Reino Unido, j sintomticos neurologicamente. No seguimento dos pacientes aps o
tratamento com biotina houve melhora na mielinizao, mas em um dos casos o
paciente apresentou atrofia progressiva e degenerao cstica. A maioria dos pacientes
tiveram seqelas neurolgicas, apesar da melhora e no-progresso da doena.
Yang et al., 2007(25) descreveu o comprometimento da medula espinhal, uma
complicao rara da doena. No relato de trs pacientes chineses com desmielinizao
progressiva da medula espinhal associada Deficincia de Biotinidase, a
suplementao de biotina conduziu a uma melhora dramtica dos sintomas clnicos
nos 3 pacientes, bem como desaparecimento dos sinais radiolgicos na medula
espinhal, reforando a importncia do diagnstico precoce e do tratamento com
biotina.
-
11
CONITEC
4. EVIDNCIAS CIENTFICAS
Alm da anlise dos estudos apresentados pelo demandante, a Secretaria-
Executiva da CONITEC realizou busca na literatura por artigos publicados at o dia
01/05/2012.
Busca na base de dados Medline/Pubmed(26): utilizando-se os termos
"Biotinidase deficiency" [Mesh] e "Therapeutics" [Mesh], restringindo-se para estudos
em humanos, identificou-se 9 estudos. Quando se utilizou os termos "Biotinidase
deficiency" [Mesh] e "Treatment" [Mesh], restringindo-se para estudos em humanos,
identificou-se 138 estudos.
Busca na base de dados Embase(27): utilizando-se os termos Biotinidase
deficiency e "Treatment", restringindo-se para estudos em humanos, identificou-se
155 estudos.
Busca na base de dados Cochrane(28): utilizando-se o termo Biotinidase
deficiency, foram identificados 3 trabalhos: uma reviso sistemtica sobre triagem
neonatal de erros inatos do metabolismo, um estudo de custo-utilidade sobre
estratgias de triagem neonatal, uma avaliao econmica sobre programas de
triagem neonatal sistemtica. Nenhuma metnalise sobre tratamento de Deficincia
de Biotinidase foi identificada.
Foram encontrados apenas relatos e srie de casos, portanto nenhuma reviso
sistemtica ou ensaio clnico randomizado (ECR), que seriam as melhores evidncias
para avaliar a eficcia de uma tecnologia usada para tratamento. Foram revisados
todos os artigos clnicos em lngua inglesa, espanhola e portuguesa, sem restrio de
data, que se referissem abordagem teraputica da Deficincia de Biotinidase em
humanos (independente do sexo e idade).
Observou-se uma concordncia com que foi descrito no Parecer Tcnico-
Cientfico e no foram encontrados artigos mais recentes aos descritos
-
12
CONITEC
5. IMPACTO ORAMENTRIO
Considerando a posologia de uma cpsula de 10mg de biotina por dia, o
consumo seria de 30 cpsulas ao ms. O preo mdio do tratamento mensal (30
cpsulas) de R$ 23,84 e o custo anual do tratamento por paciente, R$ 286,10.
Estimando que haja em torno de 3.200 pacientes com Deficincia de Biotinidase no
Brasil, o impacto financeiro da incorporao do medicamento no CEAF em torno de
R$ 915.520,00 por ano
6. RECOMENDAO DA CONITEC
Os membros da CONITEC presentes na reunio do plenrio do dia 10/05/2012
apreciaram a proposta de incorporao da biotina para a deficincia de biotinidase. Os
estudos disponveis sobre a biotina apresentam semelhantes resultados, todos
afirmam que a maioria dos pacientes sintomticos com Deficincia de Biotinidase
melhoraram aps o tratamento com biotina. Em crianas diagnosticadas
precocemente, o uso de biotina preveniu as anormalidades clnicas e bioqumicas.
Todos os estudos demonstram que quanto mais precocemente o tratamento
institudo, melhor a resposta clnica. Com relao segurana, todos os estudos
publicados com a descrio de uso da biotina demonstraram no haver, at hoje,
relato de efeito adverso grave relacionado ao seu uso.
Apesar das limitaes metodolgicas dos estudos, os resultados do tratamento
da deficincia de biotinidase com biotina foram favorveis, demonstrando que o
tratamento capaz de modificar de forma favorvel a histria natural da doena,
revertendo os sinais e sintomas clnicos nos pacientes sintomticos e evitando a
ocorrncia dos mesmos nos ainda assintomticos. Com relao segurana, no h
qualquer descrio de efeitos adversos ou intolerncia ao uso desse medicamento e
no foram encontrados trabalhos que descrevessem complicaes agudas ou tardias
com o uso prolongado do medicamento.
No Brasil, a ANVISA liberou a comercializao da biotina somente em
associao de polivitamnicos, sendo assim, no h disponvel comercialmente a
apresentao de biotina isolada, a qual dever ser manipulada.
-
13
CONITEC
A posologia recomendada de 10mg ao dia (independente do peso corporal) e
o tratamento dever ser mantido por toda a vida, j que a interrupo das medidas
teraputicas produz o retorno ao quadro bioqumico inicial e suas conseqentes
manifestaes clnicas. O custo do tratamento acessvel e no h outras alternativas
de tratamento para a doena em questo.
Considerando o exposto, a CONITEC recomenda a incorporao da Biotina para
o tratamento da Deficincia da Biotinidase.
7. CONSULTA PBLICA
A consulta pblica foi realizada do dia 22/05/2012 ao dia 31/05/2012. Durante o
perodo de realizao da consulta pblica, no foram recebidas contribuies sobre o
tema.
8. DELIBERAO FINAL
Os membros da CONITEC presentes na 1 reunio extraordinria do dia
04/07/2012, por unanimidade, ratificaram a deliberao de recomendar a
incorporao da Biotina para o Tratamento da Deficincia de Biotinidase, conforme
Protocolo Clnico e Diretrizes Teraputicas do Ministrio da Sade.
O Conselho Nacional de Sade se absteve de votar conforme posio acordada
pelo seu plenrio.
Foi assinado o Registro de Deliberao n 06/2012.
-
14
CONITEC
9. DECISO
PORTARIA SCTIE/MS N 34, DE 27 DE SETEMBRO DE 2012
Torna pblica a deciso de incorporar o medicamento Biotina para o Tratamento da Deficincia de Biotinidase no Sistema nico de Sade (SUS).
O SECRETRIO DE CINCIA, TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATGICOS DO MINISTRIO DA SADE, no uso de suas atribuies legais e com base nos termos dos art. 20 e art. 23 do Decreto 7.646, de 21 de dezembro de 2011, resolve:
Art. 1 Fica incorporado no SUS o medicamento Biotina para o Tratamento da Deficincia de Biotinidase, conforme Protocolo Clnico e Diretrizes Teraputicas (PCDT) do Ministrio da Sade.
Art. 2 Conforme determina o art. 25 do Decreto 7.646, as reas tcnicas do
Ministrio da Sade tero prazo mximo de cento e oitenta dias para efetivar a oferta ao SUS. A documentao objeto desta deciso est disposio dos interessados no endereo eletrnico: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area. cfm? id_ area= 1611.
Art. 3 Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicao.
CARLOS AUGUSTO GRABOIS GADELHA
Publicao no Dirio Oficial da Unio: D.O.U. N 193, de 04 de outubro de 2012, pg.
53.
-
15
CONITEC
10. REFERNCIAS
1- Baumgartner ER, Suormala T . Multiple carboxylase deficiency: inherited and
acquired disorders of biotin metabolism. Int J Vit Nutr Res 1997, 67:377-384.
2- Baumgartner ER, Suormala TM, Wick H, Bausch J, Bonjour JP. Biotinidase deficiency
associated with renal loss of biocytin and biotin. Ann NY Acad Sci 1985, 447:272-286.
3- Wolf B, Pompionio RJ, Norrgard KJ et al. Delayed onset profound biotinidase
deficiency. J Pediatr 1998, 132:362-365.
4- Baumgartner ER, Suormala TM, Wick H et al. Biotinidase deficiency: a cause of
subacute necrotizing encephalomyelopathy (Leigh syndrome). Report of a case with
lethal outcome. Pediatr Res 1989, 26:260-266.
5- Grnewald S, Champion MP, Leonard JV, Schaper J, Morris AA. Biotinidase
deficiency: a treatable leukoencephalopathy. Neuropediatrics 2004, 35:211-216.
6- Ramaekers VTH, Suormala TM, Brab M. A biotinidase Km variant causing late onset
bilateral optic neuropathy. Arch Dis Child 1992, 67:115-119.
7- Weber P, Scholl S, Baumgartner ER. Outcome in patients with profound biotinidase
deficiency: relevance of newborn screening. Dev Med Child Neurol 2004, 46:481-484.
8- Wolf B, Spencer R, Gleason T. Hearing loss is a common feature of symptomatic
children with profound biotinidase deficiency. J Pediatr 2002, 140:242-246.
9- Kaye CI, Committee on Genetics, Accurso F, La Franchi S, Lane PA, Hope N, Sonya P,
Bradley S, Michele ALP. Newborn screening fact sheets. Pediatrics 2006, 118:e934-63.
10- Wolf B, Grier RE, Allen RJ, Goodman SI, Kien CL. Biotinidase deficiency: the
enzymatic defect in late-onset multiple carboxylase deficiency. Clin Chim Acta 1983,
131:273-281
11- Bay LB, de Pinho S, Eiroa HD, Otegui I, Rodrguez R . The importance of a law on
time: presentation of a girl with biotinidase deficiency who was not picked up through
the neonatal screening. Arch Argent Pediatr 2010, 108:e13-6.
12- Lszl A, Schuler EA, Sallay E, Endreffy E, Somogyi C, Vrkonyi A, Havass Z, Jansen
KP, Wolf B. Neonatal screening for biotinidase deficiency in Hungary: clinical,
biochemical and molecular studies. J Inherit Metab Dis 2003, 26:693-698
13- Mslinger D, Stckler-Ipsiroglu S, Scheibenreiter S, Tiefenthaler M, Mhl A, Seidl R,
Strobl W, Plecko B, Suormala T, Baumgartner ER. Clinical and neuropsychological
-
16
CONITEC
outcome in 33 patients with biotinidase deficiency ascertained by nationwide newborn
screening and family studies in Austria. Eur J Pediatr 2001, 160:277-282.
14- Mslinger D, Mhl A, Suormala T, Baumgartner R, Stckler-Ipsiroglu S. Molecular
characterisation and neuropsychological outcome of 21 patients with profound
biotinidase deficiency detected by newborn screening and family studies. Eur J Pediatr
2003, 162 Suppl 1:S46-9.
15- Weber P, Scholl S, Baumgartner ER. Outcome in patients with profound biotinidase
deficiency: relevance of newborn screening. Dev Med Child Neurol 2004, 46:481-484.
16- Kaye CI, Committee on Genetics, Accurso F, La Franchi S, Lane PA, Hope N, Sonya P,
Bradley S, Michele ALP. Newborn screening fact sheets. Pediatrics 2006, 118:e934-63.
17- Genc GA, Sivri-Kalkanolu HS, Dursun A, Aydin HI, Tokatli A, Sennaroglu L, Belgin E,
Wolf B, Cokun T. Audiologic findings in children with biotinidase deficiency in Turkey.
Int J Pediatr Otorhinolaryngol 2007, 71:333-339.
18- Wallace SJ. Biotinidase deficiency: presymptomatic treatment. Arch Dis Child 1985,
60:574-575.
19- Ramaekers VT, Brab M, Rau G, Heimann G. Recovery from neurological deficits
following biotin treatment in a biotinidase Km variant. Neuropediatrics 1993, 24:98-
102.
20- Casado de Fras E, Campos-Castell J, Careaga Maldonado J, Prez Cerd C.
Biotinidase deficiency: result of treatment with biotin from age 12 years. Eur J Paediatr
Neurol 1997, 1:173-176
21- Tsao CY, Kien CL. Complete biotinidase deficiency presenting as reversible
progressive ataxia and sensorineural deafness. J Child Neurol 2002, 17:146.
22- Bay LB, de Pinho S, Eiroa HD, Otegui I, Rodrguez R . The importance of a law on
time: presentation of a girl with biotinidase deficiency who was not picked up through
the neonatal screening. Arch Argent Pediatr 2010, 108:e13-6.
23- Haagerup A, Andersen JB, Blichfeldt S, Christensen MF. Biotinidase deficiency: two
cases of very early presentation. Dev Med Child Neurol 1997, 39:832-835.
24- Grnewald S, Champion MP, Leonard JV, Schaper J, Morris AA. Biotinidase
deficiency: a treatable leukoencephalopathy. Neuropediatrics 2004, 35:211-216.
25- Yang Y, Li C, Qi Z, Xiao J, Zhang Y, Yamaguchi S, Hasegawa Y, Tagami Y, Jiang Y,
Xiong H, Zhang Y, Qin J, Wu XR. Spinal cord demyelination associated with biotinidase
deficiency in 3 Chinese patients. J Child Neurol 2007, 22:156-160.
-
17
CONITEC
26-Medline, via Pubmed. Disponvel em:
Acessado em 01/05/2012. 27-Embase. Disponnel em:
Acessado em 01/05/2012
28- The Cochrane Library. Disponvel em:
Acessado em
01/05/2012.