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BIONANOCOMPÓSITOS DE AMIDO DE MANDIOCA Marcia Maria Rippel 1* e Fernando Galembeck 1 1 Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP– [email protected] O amido de mandioca é um produto de baixo custo, proveniente de uma fonte renovável e barata, o que justifica sua utilização na produção de filmes biodegradáveis. Por outro lado, os filmes produzidos atualmente têm sérias desvantagens frente aos plásticos derivados de petróleo quanto à solubilidade, às propriedades mecânicas e de barreira. Este trabalho apresenta os resultados obtidos na preparação de filmes bionanocompósitos de amido de mandioca carboxilado com partículas de argila por casting, na presença de plastificante. Os filmes obtidos são flexíveis, transparentes, brilhantes com elevada resistência mecânica e com reduzida permeabilidade a vapor d’água quando a concentração é de 5% de argila. Por outro lado, os filmes exibiram diferentes capacidades de absorção de água, o que pode ser interessante em aplicações que necessitem de materiais absorvedores ou membranas assimétricas para separação química. Palavras-chave: amido de mandioca, bionanocompósitos, argila, filmes, membranas Cassava Starch Bionanocomposites Cassava starch is a commodity produced from renewable sources that has been used in the production of biodegradable films. However, current products have serious disadvantages compared to thermoplastics derived from oil due to poor mechanical and barrier properties. This paper presents the preparation of bionanocomposite films of carboxylated cassava starch with clay particles by casting in the presence of plasticizer. The films obtained are flexible, transparent and bright, with attractive mechanical strength and reduced permeability to water vapor when the concentration of clay is 5% weight. Moreover, the films have different abilities to absorb water which can be useful in application requiring absorbing materials or asymmetric membranes. Keywords: cassava starch, bionanocomposites, clay, films, membranes. Introdução O uso de biopolímeros na indústria de plásticos, especialmente em aplicações industriais e médicas, tem atraído forte atenção do meio acadêmico e industrial, devido às características de biodegradabilidade, biocompatibilidade e baixa toxicidade. Entre os aspectos que contribuem para a utilização de biopolímeros estão a diminuição na disponibilidade de aterros sanitários e por outro lado, são materiais provenientes de fontes renováveis e sustentáveis em relação aos polímeros sintéticos provenientes de derivados de petróleo. 1,2 Uma das formas de se obter filmes biodegradáveis é a utilização de polímeros sintéticos biodegradáveis como ácido láctico, poliésteres ou policaprolactona. Porém, o custo destes polímeros ainda é alto o que ainda limita a sua utilização. Outra forma de se obter os filmes é através da utilização de polímeros naturais, que ao contrário dos polímeros sintéticos, são provenientes de fontes renováveis. No grupo dos biopolímeros de origem natural estão, por exemplo, os polissacarídeos como amido, celulose e um grupo formado por polímeros diversos incluindo a borracha natural. 3 O amido

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  • BIONANOCOMPÓSITOS DE AMIDO DE MANDIOCA

    Marcia Maria Rippel 1* e Fernando Galembeck1

    1Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP– [email protected]

    O amido de mandioca é um produto de baixo custo, proveniente de uma fonte renovável e barata, o que justifica sua utilização na produção de filmes biodegradáveis. Por outro lado, os filmes produzidos atualmente têm sérias desvantagens frente aos plásticos derivados de petróleo quanto à solubilidade, às propriedades mecânicas e de barreira. Este trabalho apresenta os resultados obtidos na preparação de filmes bionanocompósitos de amido de mandioca carboxilado com partículas de argila por casting, na presença de plastificante. Os filmes obtidos são flexíveis, transparentes, brilhantes com elevada resistência mecânica e com reduzida permeabilidade a vapor d’água quando a concentração é de 5% de argila. Por outro lado, os filmes exibiram diferentes capacidades de absorção de água, o que pode ser interessante em aplicações que necessitem de materiais absorvedores ou membranas assimétricas para separação química. Palavras-chave: amido de mandioca, bionanocompósitos, argila, filmes, membranas

    Cassava Starch Bionanocomposites Cassava starch is a commodity produced from renewable sources that has been used in the production of biodegradable films. However, current products have serious disadvantages compared to thermoplastics derived from oil due to poor mechanical and barrier properties. This paper presents the preparation of bionanocomposite films of carboxylated cassava starch with clay particles by casting in the presence of plasticizer. The films obtained are flexible, transparent and bright, with attractive mechanical strength and reduced permeability to water vapor when the concentration of clay is 5% weight. Moreover, the films have different abilities to absorb water which can be useful in application requiring absorbing materials or asymmetric membranes. Keywords: cassava starch, bionanocomposites, clay, films, membranes. Introdução

    O uso de biopolímeros na indústria de plásticos, especialmente em aplicações industriais e

    médicas, tem atraído forte atenção do meio acadêmico e industrial, devido às características de

    biodegradabilidade, biocompatibilidade e baixa toxicidade. Entre os aspectos que contribuem para a

    utilização de biopolímeros estão a diminuição na disponibilidade de aterros sanitários e por outro

    lado, são materiais provenientes de fontes renováveis e sustentáveis em relação aos polímeros

    sintéticos provenientes de derivados de petróleo.1,2

    Uma das formas de se obter filmes biodegradáveis é a utilização de polímeros sintéticos

    biodegradáveis como ácido láctico, poliésteres ou policaprolactona. Porém, o custo destes

    polímeros ainda é alto o que ainda limita a sua utilização. Outra forma de se obter os filmes é

    através da utilização de polímeros naturais, que ao contrário dos polímeros sintéticos, são

    provenientes de fontes renováveis.

    No grupo dos biopolímeros de origem natural estão, por exemplo, os polissacarídeos como

    amido, celulose e um grupo formado por polímeros diversos incluindo a borracha natural.3 O amido

  • Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009

    é atualmente um dos biopolímeros mais utilizados na produção de materiais biodegradáveis,

    principalmente em embalagens para os setores alimentício e agrícola, devido ao seu baixo custo e

    sua alta produtividade.

    Sob o ponto de vista ambiental e também econômico as embalagens biodegradáveis são

    muito bem vistas, pois se necessita menos material para a sua produção. Porém, o que impede a

    total substituição das tradicionais embalagens a base de polímeros derivados de petróleo pelos

    biodegradáveis são as suas propriedades mecânicas e de barreira inferiores.4 Por isso, mesmo

    havendo muitíssimos esforços no desenvolvimento de filmes a partir de amido, seu uso é

    extremamente limitado devido ao baixo módulo de elasticidade dos filmes (resistência),

    envelhecimento (retrogradação) e a alta capacidade de absorção de água.5

    O amido é um polímero de D-glicose que forma as macromoléculas dos dois principais

    constituintes, a amilose e a amilopectina, e também componentes menores como lipídios e

    proteínas. A amilose contem regiões amorfas e cristalinas e sua estrutura linear é formada por

    unidades de 1,4α-glicose. Já a amilopectina está ligada à cadeia de amilose formando ramificações.6

    Os grupos hidroxilas presentes nas moléculas de glicose conferem um caráter aniônico fraco ao

    amido.7

    O amido de mandioca apresenta propriedades superiores aos demais amidos, principalmente

    no que se refere ao baixo conteúdo de amilose (19%) quando comparado com outros amidos como

    de milho e inhame. O baixo conteúdo de amilose no amido de mandioca promove um aumento na

    sua transparência e flexibilidade.8

    Uma alternativa para aumentar a impermeabilidade dos produtos de amido é a incorporação

    de outros polímeros, naturais ou sintéticos, agentes de reticulação, de fibras de celulose ou a adição

    de lignina.3,4

    Por outro lado, a nanotecnologia representa a possibilidade de obtenção de centenas de

    novos materiais com melhores propriedades do que os polímeros e compósitos convencionais.

    Vários trabalhos descrevem metodologias para a preparação de nanocompósitos de amido com

    partículas de argila sódicas e organicamente modificadas e ainda a preparação de blendas

    compósitas de amido com outros biopolímeros como policaprolactona e poliéster, por casting ou

    extrusão, o que neste caso em particular aumenta o amarelamento e oxidação dos filmes. O que se

    observou nestes trabalhos é que a obtenção de nanocompósitos esfoliados e/ou intercalados não foi

    de fato alcançada, pois na maioria dos casos foram obtidos compósitos, cujas propriedades são

    pouco superiores ao polímero puro. Em termos de transparência os resultados são inferiores, pois a

    formação de agregados e a retrogradação aumentam a opacidade dos filmes em relação ao polímero

  • Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009

    puro. Os tipos de amido mais utilizados nestes trabalhos foram de milho, milho modificado, batata,

    trigo e cará e ainda derivados destes amidos nas formas oxidadas.9-15

    Entende-se que a utilização do amido de mandioca na preparação de filmes finos para

    embalagens e coatings é extremamente atraente devido a sua alta transparência, devido ao menor

    teor de amilose, além do seu baixo custo.

    Nanocompósitos de borracha natural com lâminas de argila altamente dispersas foram

    obtidas a partir de dispersões aquosas de látex de borracha natural e argila, graças a adesão

    eletrostática e a capacidade coesiva da água que facilita a obtenção de materiais complexos por

    mistura em meio aquoso.16-17 O aumento nas propriedades mecânicas destes materiais são resultado

    da forte adesão entre as lâminas da argila e os grupos aniônicos presentes nas cadeias da borracha,

    mediadas por cátions.18

    Neste sentido, este trabalho visa a obtenção de filmes bionanocompósitos de amido de

    mandioca carboxilado com partículas de argila sódica via casting de soluções contendo

    plastificante, misturadas sob alto cisalhamento e aquecimento. O que se pretende é promover a

    dispersão das lâminas de argila na matriz de amido negativamente carregada, a exemplo dos

    nanocompósitos produzidos com látex de borracha natural19-20 e, portanto, obter filmes flexíveis,

    transparentes, resistentes mecanicamente e a água.

    Experimental

    Materiais

    Montmorilonita sódica (MMT, Cloisite® Na+, Southern Clay, USA). Amido de mandioca

    aniônico para revestimento de papel (Inpal, Brasil). Látex de borracha natural HA (high amonia)

    com 60% de sólidos (Talismã, Brasil). Glicerol (Gli) P.A. 99,5% (Vetec) e água destilada.

    Preparação dos filmes bionanocompósitos

    Uma dispersão contendo 5% (em massa) de amido em água destilada foi preparada e em

    seguida foram adicionados 0, 1, 2 e 5% de argila juntamente com 30 e 40% de glicerol, em relação

    à massa seca de amido. A dispersão foi aquecida em um banho de água termostatizado, sob agitação

    mecânica a velocidade 500-600 rpm, até 70ºC, temperatura na qual os grãos de amido gelatinizam e

    observa-se um aumento na transparência e a diminuição na viscosidade da mistura. Nesta

    temperatura a mistura foi mantida por 30 minutos e então resfriada a 55ºC. A mistura foi então

    filtrada para remover bolhas de ar sobre moldes de polipropileno e deixadas secar na estufa a 50 ±

    2°C por 24 horas. Filmes lisos, transparentes e uniformes foram retirados dos moldes e

    armazenados em sacos plásticos fechados. A espessura final dos filmes ficou entre 250 e 300 µm.

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    Caracterização dos bionanocompósitos

    Propriedades mecânicas: os filmes foram ensaiados mecanicamente de acordo com a norma ASTM

    D882-02, utilizando corpos de prova na forma de fitas com dimensões de 100 mm x 10 mm. Os

    corpos de prova foram condicionados a 23 ± 2°C e a 50 ± 5% de umidade relativa por 48 horas

    antes dos ensaios. Medidas de modulo de elasticidades, tensão na força máxima, tensão na ruptura e

    elongação foram adquiridas usando uma máquina universal de ensaios EMIC DL2000 a velocidade

    de 100 mm/min.

    Absorção de água: Este ensaio foi realizado de acordo com a norma ASTM D570-98. Corpos de

    provas dos filmes foram cortados nas seguintes dimensões 76 mm x 25 mm. Os corpos de prova

    foram condicionados em estufa a 50 ± 2°C por 24h, resfriados em dessecador a temperatura

    ambiente e pesados antes e depois da imersão em água destilada. Após a imersão, os corpos de

    prova foram suavemente secos com papel toalha para remover o excesso de água antes da pesagem.

    Para verificar se há efeito anisotrópico devido a absorção de água, os corpos de prova foram

    medidos nas três dimensões: comprimento, largura e espessura.

    Solubilidade: A solubilidade dos filmes foi determinada de acordo com a norma ASTM D570-98.

    Ao final do ensaio de absorção de água os corpos de prova bem como a água utilizada em cada

    ensaio foram filtrados em papel de filtro previamente tarado, pesados e colocados em estufa a 50 ±

    2°C por 24h, resfriados em dessecador a temperatura ambiente e pesados. A solubilidade foi

    expressa como percentual de material solúvel pela diferença entre o a amostra úmida e seca.

    Taxa de permeabilidade a vapor d’água (TPV): A TPV foi determinada de acordo com a norma

    ASTM E96-05, sendo que amostras dos filmes preparados com 40% de glicerol e 0, 2 e 5% de

    montmorilonita foram selados em recipientes de polipropileno contendo água destilada cujo nível

    ficou 2 cm abaixo da superfície do filme. Os filmes foram fixados ao recipiente utilizando anéis de

    acrílico e então selados com anéis de espuma de polietileno. Os dispositivos foram mantidos sob 23

    ± 2°C e 50 ± 5% de umidade relativa por 240 h, sendo que foram realizadas pesagem após 24, 48 e

    240 h, de forma a se determinar a TPV em função do tempo.

    Transparência: A transmitância dos filmes foi medida entre 300 e 700 nm em um

    espectrofotômetro UV/visível Ultrospec 1000 UV/Visible spectrophotometer da Amersham

    Pharmacia Biotech de acordo com a norma ASTM D 1746. Amostras de filmes com espessura

    similar foram cortados na forma de retângulos com dimensões de 2 x 0,8 cm, condicionados a 23 ±

    2°C e 50 ± 5% de umidade relativa por 24h. As análises foram realizadas em triplicata e os

    resultados apresentados são a média aritmética.

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    Difração de raios-X: para avaliar o grau de esfoliamento e intercalação das lâminas da argila,

    amostras dos filmes foram analisadas em um difratômetro Shimadzu XRD-7000 com radiação

    CuKα, a 40 kV e corrente de 40 mA, na faixa de 1,4 a 30° 2θ.

    Resultados e Discussão

    Os filmes bionanocompósitos obtidos por casting apresentaram alto brilho e transparência,

    conforme se observa nas fotografias apresentadas na Figura 1.

    Figura 1. Fotografias dos filmes bionanocompósitos preparados com 0, 1, 2 e 5% de argila montmorilonita sódica (MM) e com teores de glicerol de

    30 e 40% em massa.

    A transparência dos filmes foi determinada por medidas de transmitância dos filmes na

    região do visível e que estão apresentadas nos gráficos de transmitância versus comprimento de

    onda na Figura 2.

    Figura 2. Efeito do teor de argila e de glicerol na transparência de filmes de amidos de amido com teores de montmorilonita entre 0 e 5%.

    A argila teve um efeito positivo sobre a transparência dos filmes aumentando a

    transmitância em até 30% para o filme com 1% de MM e 40% de glicerol. Em relação ao efeito da

    0% MM 1% MM 2% MM 5% MM

    0% MM 1% MM 2% MM 5% MM

    30% de glicerol

    40% de glicerol

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    quantidade de plastificante observou-se que para os filmes com 30% de glicerol houve um discreto

    aumento na transparência quanto maior o teor de argila, determinada pela medida da transmitância a

    560 nm de acordo com a norma ASTM 1746. O aumento na transparência foi mais acentuado para

    os filmes com 40% de glicerol, embora para os filmes com 2 e 5% de montmorilonita os valores de

    transmitância sejam muito similares, independentemente da concentração de plastificante.

    O que chama bastante a atenção nestes resultados é o fato de que a incorporação de

    partículas de argila, que têm uma razão de aspecto entre 100 e 200, apresentaram uma excelente

    dispersibilidade a ponto de permitir a passagem a luz aumentando desta forma a transparência dos

    filmes. Por outro lado observou-se um discreto aumento no amarelamento dos filmes em

    concentrações de argila superiores a 2%, independentemente do teor de glicerol.

    Na literatura frequentemente observa-se o contrário, a incorporação de partículas de argila

    em filmes de amido diminui a transparência dos filmes, aumentando sua opacidade em relação aos

    filmes puros, sem argila.11-12

    Para verificar se as lâminas da argila estão bem esfoliadas na matriz de amido foram obtidos

    difratogramas de raios-X dos filmes e que estão apresentados na Figura 3.

    Figura 3. Difratogramas de raios-X da montmorilonita e dos filmes de amido de mandioca com 0, 1, 2 e 5% de MM e 40% de glicerol (`a esquerda) e 30% de glicerol (`a direita).

    Verifica-se que o filme de amido puro apresenta algum grau de cristalinidade, na região de

    15 a 25 graus, independente da concentração de glicerol. À medida que se incorpora argila essa

    cristalinidade se mantém e um novo pico é observado na região de 5 graus, que é tão mais intenso

    quanto maior a concentração de argila. Aliás, nos difratogramas dos filmes com 5% MM se observa

    ainda um outro pico, menos intenso, em cerca de 10 graus.

    Park et al.21 também observaram a presença de dois picos em 4,96 e 9,8° graus em materiais

    híbridos preparados com amido de batata termoplástico obtido por extrusão na presença de glicerol

    e atribui a presença destes picos à intercalação somente de cadeias do amido.

    MM MM

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    Para verificar a hipótese de que o glicerol estaria intercalando entre as lâminas da argila

    foram preparados filmes de amido de mandioca com 5% MM sem adição de plastificante e um

    filme de MM com 40% de plastificante. Os difratogramas de raios-X obtidos destes filmes estão

    apresentados na Figura 4.

    Figura 4. Difratogramas de raios-X da montmorilonita pura (MM), de um filme de amido com 40% de glicerol, de um filme de amido com 5% MM sem adição de glicerol e de um filme de MM com 40% de glicerol.

    No difratograma do filme de amido com 5% MM, sem adição de glicerol, é possível

    observar um pico largo com máximo em 5 graus. No difratograma do filme de MM com 40% de

    glicerol também se observa um pico bastante intenso em 4,9 graus, além de outros picos menos

    intensos e que demonstram a característica lamelar do filme da argila intercalado com moléculas do

    plastificante de tal forma que a seqüência de suas posições em 2θ, a partir do primeiro plano de

    difração (001) é 1:2:3:4:5.

    O que se conclui destes resultados é que tanto as cadeias do amido quanto as moléculas do

    glicerol podem intercalar entre as lâminas da argila. Porém, parece que as moléculas do glicerol

    penetram primeiramente entre as lâminas, de tal forma que nos filmes com 5% de argila é possível

    observar a estrutura lamelar da argila a grande distância. Estes resultados também demonstram que

    há o grau de intercalação/esfoliação depende da concentração da argila na matriz polimérica.

    A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de tração dos filmes de acordo com a

    norma ASTM D882.

    A incorporação de argila a matriz de amido, mesma em pequenas concentrações, levou ao

    aumento das propriedades mecânicas dos filmes, seja com 30 ou 40% de glicerol. Com 30% de

    glicerol e 2% MM obteve-se um aumento de 27% nos valores do módulo de Young e da tensão na

    ruptura, de 12% na tensão na força máxima e a diminuição de 42% no alongamento.

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    Tabela 1.Módulo de Young, tensão na força máxima, tensão na ruptura e alongamento máximo dos filmes obtidos com 0, 1, 2 e 5% MM, 30 e 40%

    de glicerol.

    Amostra Módulo de Young (MPa) Tensão na força máxima (MPa) Tensão na ruptura (MPa) Alongamento máximo (%)

    30% Gli, 0% MM 337.8 ± 45.9 8.6 ± 0.6 6.1 ± 2.8 48.3 ± 15.3

    30% Gli, 1% MM 391.0 ± 72.2 9.6 ± 0.6 8.2 ± 1.2 56.0 ± 17.0

    30% Gli, 2% MM 428.0 ± 96.0 9.6 ± 1.6 7.8 ± 2.3 27.8 ± 8.7

    30% Gli, 5% MM 397.0 ± 249 11.2 ± 0.7 8.4 ± 2.6 29.7 ± 8.7

    40% Gli, 0% MM 106.6 ± 12.7 4.0 ± 0.3 3.0 ± 0.6 64.3 ± 9.4

    40% Gli, 1% MM 142.7 ± 9.1 4.4 ± 0.3 3.1 ± 0.7 49.7 ± 10.5

    40% Gli, 2% MM 135.3 ± 22.0 4.1 ± 0.5 2.8 ± 0.6 57.6 ± 9.0

    40% Gli, 5% MM 193.0 ± 27.0 4.9 ± 0.3 3.0 ± 1.0 60.6 ± 13.0

    No caso do filme com 30% Gli e 5% MM houve um aumento de mais de 30% nos valores

    de tensão na força máxima e na ruptura, porém o aumento no valor do módulo de Young foi

    acompanhado de um alto desvio padrão das medidas. Estes resultados corroboram a observação

    feita nos difratogramas de raios-X, onde a intercalação de moléculas do glicerol entre as lâminas de

    argila acaba por tornar o nanocompósito menos rígido que os filmes preparados com até 2% de

    argila. Entretanto, isso não é necessariamente um resultado desfavorável, pois os valores da tensão

    na força máxima e na ruptura foram superiores aos demais filmes, demonstrando que são filmes

    mais resistentes à tração.

    Nos filmes preparados com 40% de glicerol os maiores aumentos nos valores de módulo e

    tensão foram observados para o filme preparado com 5% MM, mantendo o alongamento

    apresentado pelo filme puro.

    A Figura 5 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de absorção em água e solubilidade.

    5.

    Figura 5. À esquerda, variações dimensionais e de massa após ensaio de absorção de água dos filmes preparados com 30 e 40% Gli e 0, 1, 2 e 5%

    MM. À direita, solubilidade em água destes filmes.

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    Os filmes apresentam diferentes capacidades de absorção de água, porém todos absorvem

    tanto ou mais água do que os filmes sem adição de argila. Aliás, não existe um padrão de absorção,

    mas os filmes produzidos com 5% MM apresentaram resultados muito semelhantes, independente

    da concentração de plastificante. Este resultado corrobora os resultados de DRX, pois indica que

    nesta concentração de argila as lâminas estão altamente organizadas e intercaladas

    predominantemente por moléculas do plastificante. Outra característica interessante é a natureza

    altamente anisotrópica da absorção, no sentindo da espessura.

    A solubilidade dos filmes ficou entre 27 e 37%, o sugere a dessorção do glicerol dos filmes

    para a água. Porém, observa-se uma tendência de diminuição da solubilidade quanto em teores de

    argila superiores a 5%, o que novamente indica a ligação das moléculas de glicerol com as lâminas

    da argila.

    A taxa de permeabilidade a vapor d’água foi determinada nos filmes preparados com 40%

    de glicerol e 0, 2 e 5% MM e os resultados estão apresentados na Figura 6.

    Figura 6. Taxa de permeabilidade dos bionanocompósitos obtidos com 40% Gli e 0, 2 e 5% MM, de acordo com a norma ASTM E96.

    A taxa de permeabilidade do filme de amido com 5% MM diminuiu em cerca de 5% em

    relação ao filme puro. Por outro lado, a amostra preparada com 2% MM apresentou aumento na

    permeabilidade, o que pode estar associado a maior disponibilidade de grupos hidroxila das cadeias

    do amido e do plastificante.

    Conclusões

    Os filmes bionanocompósitos obtidos através de soluções aquosas de amido com

    diferentes teores de argila e de plastificante são uniformes, transparentes, com propriedades

    mecânicas superiores ao amido puro. A permeabilidade a vapor d’água dos filmes diminui

    com o aumento no teor de argila nos filmes.

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    O elevado grau de dispersão das lâminas da argila na matriz de amido confere maior

    transparência aos filmes, característica ainda não observada em materiais semelhantes já

    descritos na literatura. As partículas da argila estão intercaladas como observado nos

    difratogramas de raios-X, e à medida que se aumenta o teor de argila observa-se a formação

    de uma estrutura lamelar que sugere a intercalação de moléculas do glicerol e das cadeias de

    amido. Portanto, o amido tem uma grande compatibilidade com as lâminas da argila, a qual

    é baseada em adesão eletrostática entre os sítios negativos do amido carboxilado com

    contribuição importante de pontes de hidrogênio. Esta compatibilidade se traduz em

    materiais com propriedades mecânicas e de barreira diferenciadas, e poderá possibilitar sua

    utilização em embalagens, em materiais absorventes e membranas assimétricas.

    Agradecimentos

    A CAPES/Prêmio CAPES_Área Química 2005/2006 pela bolsa de pós-doutorado.

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