biografia da cristina pimenta migueis

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Capa criada por Miguel Westerberg – artista plástico

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biografia pimenta - migueis e westerberg

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Page 1: Biografia da Cristina Pimenta Migueis

Capa criada por Miguel Westerberg – artista plástico

Page 2: Biografia da Cristina Pimenta Migueis

PORTOFÓLIO REFLEXIVO DE APRENDIZAGENS

CRISTINA MARIA PIMENTA MIGUEIS GOMES

O meu nome é Cristina Maria Pimenta Migueis Gomes. Eu nasci a quatro de Maio de 1963 no hospital de Matosinhos o que há 44 anos atrás já era um luxo, pois a maioria das pessoas nascia em casa porque não havia condições para as grávidas se deslocarem aos hospitais ou até mesmo por medo, pois para os hospitais só ia quem estivesse a morrer. Na hora das mulheres darem luz chamavam as parteiras que em geral eram vizinhas próximas e que no fundo, não passavam de habilidosas muito habituadas a estas andanças. Com a sua sabedoria, experiências e com métodos artesanais lá iam trazendo ao mundo os herdeiros desta nação. Sou filha de pai incógnito, o que naquela altura, era possível caso a mãe não soubesse quem era o pai de seu filho ou quando se queria esconder a identidade do verdadeiro pai. Um amigo meu é filho de pai incógnito porque sua mãe, na altura, era empregada doméstica numa determinada família e teve um filho do patrão. Por esse motivo ele é filho de pai incógnito. É certo que minha mãe acabou por me arranjar um pai que me perfilhou, segundo diz na minha certidão de nascimento: filha de pai incógnito e perfilhada por Jorge da Piedade Gomes.

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Maria Antonieta Pimenta Migueis

A minha mãe, Maria Antonieta Pimenta Migueis nasceu em Lisboa na maternidade de Alfredo da Costa e não sei porque razão, mas já ouvi mais do que uma versão: que foi trabalhar para o cais do Sodré como profissional do prazer, uma das mais velhas profissões do Mundo, ou seja, para ser mais clara, ela era uma prostituta. Desse modo não era de se estranhar que não soubesse quem eram os pais dos seus filhos, embora esse não fosse bem o caso dela, hoje em dia já não é assim. Uma das minhas irmãs foi obrigada pelo tribunal a fazer um teste de ADN, pois não queria revelar a identidade do pai de sua filha. “DNA é uma molécula orgânica que contém a "informação" que coordena o desenvolvimento e funcionamento de todos os organismos vivos. O seu principal papel é armazenar as informações”. Pode-se recolher ADN através do sangue, cabelos, saliva e até através de restos mortais. Com tudo isto, se diz que hoje não existem filhos de pais incógnitos. Será que estamos tão avançados que as profissionais do sexo fazem ficha de inscrição aos seus clientes para depois, caso engravidem os mandam a todos fazer o teste de paternidade?

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Quando me comecei a conhecer como gente, aos quatro anos de idade, recordo que morava numa casa na rua da Barroca nº19, no lugar do Freixieiro que pertence a Matosinhos. Era uma casa baixinha virada para a rua. Na frente tinha uma porta ao meio e uma janela de cada lado. Tinha dois quartos, sala de jantar, cozinha e na traseira, fora da casa, tinha um quarto de banho só com sanita feita em cimento. Lembro-me da minha mãe aquecer água numa panela grande e depois numa bacia também de grande tamanho para me dar banho a mim e ao meu irmão Henrique Pimenta Migueis, que era, cerca de um ano, mais novo do que eu. Eram poucos os que tinham quarto de banho completo e o banho era normalmente uma vez por semana. Diariamente um após outro lavava o rosto, as mãos e os pés para poupar o gás, visto que a água era do poço e não se pagava. A minha casa tinha luz, mas não tinha água canalizada. Só tinha um poço e uma bomba manual para se poder tirar água para todo o nosso consumo.

Outra lembrança que tenho era a de conviver, mesmo que por pouco tempo, com meu verdadeiro pai que era Alemão. Sim, eu tive um pai que embora não me tenha dado o seu nome, viveu com a minha mãe durante 5 anos, porque foi o grande amor da vida dela e desse amor nasci eu e o Henrique. Pela manhã ele sentava-se á mesa da sala de jantar, que já estava posta pela minha mãe com pão torrado, ovos cozidos ou mexidos e um respectivo café com leite. Uma das imagens que tenho na cabeça é a dele sentado a tomar o pequeno almoço, sempre lendo um livro que eu achava demasiado grosso e a da minha mãe sempre muita calada com um olhar parado que, por vezes, me dava arrepios. Lembra-me que ela era muito elegante e vestia muito bem, mais tarde passou para um estilo mais hippie. Os hippies eram um movimento contra cultura que existiram principalmente nos anos 60 e tinham o seu próprio estilo de vida gostavam da vida nômade e contestavam sobretudo os valores tradicionais , vestiam roupas largas e coloridas e usavam cabelos compridos gostavam de ser livres fisicamente , sexualmente e intelectualmente fumavam drogas e ouviam muita musica .

Também recordo quando meu pai teve que viajar e naquele preciso momento eu soube que ele não voltaria mais, porque minha mãe estava implorava-lhe para que ele

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não fosse. Eu morava a poucos metros do aeroporto e um vizinho que tinha ficado a tomar conta de mim disse: Vês? É naquele avião que o teu pai vai! Realmente foi a ultima vez que o vi a partir. A partir dai começo a recordar-me mais da minha infância por força das circunstancias. Minha mãe voltou ao trabalho e eu e meu irmão ficávamos, muitas noites e até dias, completamente sozinhos em casa. A nossa sorte é que, como minha mãe trabalhava nos bares, junto ao porto de Leixões e em geral os seus clientes eram embarcadiços, ela ia trazendo para casa vários enlatados e nós varríamos tudo ou então os vizinhos sempre nos davam qualquer coisa. Entretanto fiz 7 anos e lá fui para a escola primária do Freixieiro.

Minha antiga escola

Há uns meses atrás fui visitar Associação Recreativa do Freixieiro que já existe desde 1935 e que nos últimos vinte anos se tem destacado no futesal e, atualmente, tem as suas instalações na minha antiga escola. Percebi que poucas coisas foram modificadas. Há agora um bar, salas de troféus e reuniões, mas de resto estava tudo igualzinho, mas como estava a relatar anteriormente, lá fui eu para a escola que era composta por quatro salas. Duas para rapazes e duas para raparigas. Entravamos na sala de aula em fila indiana e parávamos junto às nossas carteiras e só quando a professora, uma solteirona elegante de olhar frio e mãos cumpridas, nos mandava é que nos sentávamos. Também tinha-mos aulas aos sábados de manhã que era quando ensaiávamos o hino nacional e fazíamos alguns jogos tradicionais. Jogávamos á cabra cega, ás escondidas , ao caracol e á fita azul. Em geral os rapazes jogavam mais era a bola e ao pião.

Hoje os meus filhos nem conhecem esse tipo de jogos.Os seus jogos já vem prontos. Ligam o PC e já esta um joguinho pronto a sair. É só carregar no botão. Para que exercício físico? Enquanto eu e os da minha infância tínhamos convivência com os vizinhos, brincávamos, corríamos e lutávamos, tudo era uma forma saudável de praticar desporto, conviver e sermos mais sociáveis. Agora para que as minhas filhas pratiquem exercício lá tenho eu que gastar mais uns euros para elas estarem em forma. O estudo nessa altura era um pouco duro, principalmente Geografia, pois Portugal era um País muito grande. Tínhamos Portugal Continental e as ilhas Madeira e Açores, também as chamadas províncias Ultramarinas que eram Angola, Moçambique, Cabo verde, Guiné Bissau, S.Tomé e Principie. Não posso me esquecer de Macau, que deixou de ser administrado por nós apenas a 20 de Dezembro de 1999 para passar a ser Chinês e tudo isto tínhamos que saber na ponta da língua, senão tínhamos era a ponta da palmatória

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nas nossas mãos. Diariamente quando a professora chegava á sala corrigia os trabalhos de casa e quem não tivesse feito os deveres ou os que não estivessem bem feitos iam um a um á beira da professora para que lhe fosse aplicado o respectivo castigo. O número de reguadas variava conforme o numero de erros, tive a sorte de ser sempre uma aluna razoável na primeira classe tive 19 valores não tive 20 porque tinha a caligrafia feia e nessa altura isso era importante .

Na segunda classe tive 16 valores na terceira classe tive um bom pequeno e na quarta um suficiente. Fui piorando devido à falta de estrutura familiar, também não podíamos esquecer de vestir as batas brancas que em geral já estavam muito gastas porque tinham que passar de uns para outros, assim como as nossas pastas que não se comparam com as de hoje que são lindas, coloridas e de marca e que em cada ano letivo se tem uma nova. Eu não tive essa sorte. Deram-me uma pasta preta e já usada com a asa arrebentada. Eu fiz-lhe uma alça de corda e lá andei eu quatro anos assim. Lembro-me também que dentro de todas as salas, por cima do quadro existia um crucifixo e as fotografias do Américo Tomás e Marcelo Caetano. Um dia a professora disse que íamos ver o Marcelo Caetano passar na estrada nacional nº. 107. Ele ia desembarcar no aeroporto de Pedras Rubras e passaria ali.

Deram-nos a cada aluno, uma pequena bandeira de papel e lá fomos nós muito alinhadinhos com as nossas brancas batas e de bandeirinha na mão e para quê? Quando o carro do primeiro ministro passou mais parecia um foguete e eu lá continuei a conhecer o senhor apenas pela foto que estava na sala de aula, mas nem tudo era tão desinteressante. Um determinado dia apareceu lá alguém que nos deu umas cadernetas com alguns mini rebuçados, que naquela altura pareciam muito gostosos. Cada rebuçado tinha uma figura de um animal e chamavam-se vitórias. Era giro porque fazíamos trocas das figuras e também jogávamos para conseguirmos o maior numero de figuras possíveis.

Também porque nessa altura Portugal era um Pais muito pobre e muita gente se alimentava mal. Por esse motivo existia a tuberculose e havia um peditório anual que era feito pelos alunos para que se pudesse dar uma pequena ajuda a essas pessoas. A saúde era muita precária, mas mesmo assim existiam planos de vacinação. Recordo-me de irmos ao salão paroquial e todos os estávamos com o rabito de fora para sermos vacinados. Também por essa altura surgiu em Portugal uma epidemia de cólera devido, principalmente, á falta de condições de higiene e, por esse motivo, começaram a distribuir um liquido desinfetante para lavar os alimentos e faziam recomendações do tipo: lavar as mãos sempre que forem a casa de banho e antes de comer, lavar bem as frutas e os legumes.

Hoje é mais difícil de existir cólera em Portugal, pois adquirimos outros hábitos de higiene e até as casa de banho escolares de hoje são diferentes. Na minha escola existia a famosa casa de banho á caçador, que não tinha higiene nenhuma. Andava eu na segunda classe quando minha mãe tornou a engravidar. Um dia, já á noite, ela começou com as dores de parto e disse-me" Cris, vai chamar a Senhora Maria que era a parteira habilidosa lá da zona"Lá fui eu a correr, cheia de medo por ver a minha mãe a berrar. Nessa mesma noite nasceu a minha irmã Mariana Pimenta Migueis bem rechonchuda e muito morena, mas também, como eu ela era filha de pai incógnito, mas restou-lhe o nome de mãe. Por essa altura minha mãe arranjou uma ama para mim e o Henrique e uma outra para a Mariana. Desde então passou cada vez mais a se ausentar e

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começamos a ficar dias ou até semanas sem vermos a nossa mãe. A minha ama, que era uma mulher terrível, fazia-nos a vida negra a mim e ao meu irmão. Nós dormíamos sozinhos em casa, tínhamos medo de nos colocarmos de pé à noite e por isso urinávamos na cama. Por diversas vezes ela punha-nos pacotes de pimenta na boca e obrigava-nos a ficar de pé com a cabeça para cima sem lavar a boca, ou então colhia molhos de urtigas e tínhamos que ficar sentados em cima delas. Chorávamos amargamente, mas só as lágrimas nos corriam no rosto, pois estávamos proibidos de fazer barulho para que ninguém soubesse o que se passava. A minha vida virou um inferno, mas já o meu irmão teve alguma sorte, pois se mudou para a casa da irmã da nossa ama, que era muito boa pessoa.

A ama da Mariana tinha o apelido de Cadilha e morava frente ao mercado de Matosinhos, mas para a bébé sossegar, dava-lhe biberões de vinho. Um dia a minha ama lembrou-se de levar-me a mim e ao Henrique á igreja matriz de Matosinhos para nos baptizarmos e para que pudessemos ser considerados gente e podermos ir á catequese. Até ai ela dizia que éramos seres sem alma. Chega a ser incrível como a humanidade é hipócrita! Primeiro maltratava-nos, depois diziam que não tínhamos alma. Comecei assim a tomar mais consciência do que se passava á minha volta e passei a sentir-me descriminada por ser filha de uma prostituta. Primeiro porque a minha ama não se fartava de me lembrar que filho de cavalo sai burro, que eu ia ser igual á minha mãe e que eu era tão boa quanto ela. Eu tinha cerca de oito anos, mas já tinha todos os defeitos do mundo e é claro, comecei a andar na rua de olhos postos no chão, sentindo sobre mim os olhares acusadores daqueles que me rodeavam. Enquanto minha mãe esteve com meu pai ela era a esposa do Sr. Engenheiro, embora todos soubessem quem ela era de verdade. De repente passou a ser vista diferente na rua e para não ser rude vou minimizar a expressão" passou de bestial a besta e eu levei com tudo em cima.

Um dia ela vestiu uma mini-saia e uma vizinha de frente maltratou-a ao ponto de andarem à pancada mais uma vez. Fiquei desesperada! Eu amava-a muito e tinha receio que lhe fizessem mal e para piorar ainda mais, a minha mãe deixou de pagar a renda de casa e eu fui viver definitivamente com a ama. Quase que deixei de ver minha mãe, mas a minha irmã Mariana, nunca mais a vi. O Henrique via-o na escola e passado um tempo soube que nasceu mais um irmão, Miguel Ângelo Westerberg, filho do Fred Westerberg, um marinheiro sueco que eu tinha visto algumas vezes lá por casa. Dificilmente me esqueceria dele, pois tinha uns dois metros de altura, cabelo e barba ruiva. Depois de ter ficado na casa da ama por mais um tempo, eu devia ter uns nove anos, levantava-me cedo para lavar a roupa antes de ir para a escola. Muitas vezes a roupa ficava de molho de um dia para o outro e quando eu metia as mãos no tanque à água tinha uma camada de gelo por cima, mais parecia um vidro cortante.

Quando isso acontece fica-se com as mãos enregeladas e quando as tira da água aqueciam de tal maneira que se ficava cheia de dores. Logo em seguida tomava o pequeno almoço, muitas vezes o pão que ela me dava já tinha bolor. Tudo que ela tivesse de pior era para mim. Quando os sobrinhos dela lá iam a casa para eles era tudo do bom e do melhor. Em seguida eu ia para a escola e quando chegava a casa ela tinha sempre trabalho para mim. Ou ir a erva para os coelhos, cozer meias, ou outros serviços. Eu é que não podia estar parada. Quando saia de casa fechava a porta e deixava-me no

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pátio com algum serviço marcado. Ela nem sequer cuidava de mim e um dia apanhei uma infestação de piolhos, mas quem me valeu foi uma vizinha. Limpou a cabeça e pôs-me pó das formigas. Hoje em dia existem outros tipos de tratamento como por exemplo o Quitoso que é em liquido ou o versil. Por vezes eu ia para casa dessa vizinha ver televisão. Nessa altura eram muito poucas as pessoas que tinham TV e as que tinham eram a preto e branco e não dava todos os dias. Aos Domingo a programação começava mais cedo.

Lembro-me de ver o carrossel mágico era sinal de os miúdos irem para a cama. Também via o Bonança, o Santo, o Sandoka e muitos filmes Portugueses, bem como a TV Rural. As televisões não tinham a qualidade de imagem de hoje em dia, pois temos até TV a cores e vamos a caminho das digitais, mas naquele tempo, talvez porque a oferta era pouca, era uma animação e estava-mos sempre á espera que nos deixassem ver um pouquinho. Costumávamos ficar estáticos e nem fazíamos barulho com medo que nos mandassem embora. Quando eu estava doente essa vizinha tratava de mim. Arranjava um remédio caseiro, fazia xarope de cenoura para a tosse, chá de sabugueiro para a gripe e dava-me banhos de eucalipto que fazia bem ao corpo. Era uma pessoa muito cuidadosa. Não era enfermeira, mas aplicava ejeções e até ganhava dinheiro com isso. Via-a ferver as seringas, que eram de vidro, assim como a respectiva caixinha que era de metal. Hoje seria impensável uma pessoa sem habilitações dar ejeções. Quanto aos remédios caseiros, caíram em desuso. Hoje, cada vez mais pessoas preferem a medicina tradicional. Eu pessoalmente acho a medicina tradicional boa, mas Deus deu inteligência ao homem e por isso devemos aproveitar a ciência. Que tal unir as duas? Essa vizinha, por vezes levava-me para a cozinha dela, sentava-me junto ao seu fogão de lenha onde ela tinha sempre cevada quente, me dava uma grande malga e um pouco de broa.

Eu ficava ali contente e confortável de estômago e corpo quente, pois os fogões a lenha serviam para cozinhar, aquecer e tinham um depósito onde sempre havia água quente. Hoje em dia os tachos não ficam pretos porque os novos fogões são a gás ou elétricos. São menores e mais práticos, dão menos trabalho e não é preciso ir à lenha. Basta comprar gás ou ligar á corrente elétrica, pois é bem mais econômico e poupa-se mais tempo. Para mim a comida feita a lenha é muito mais gostosa. Também era gostoso sentir o crepitar da lenha a arder e aquele calorzinho do fogão. Recordo que tinha um vizinho que via em frente da casa da ama que tinha uma pequena banda e tocavam em bailes principalmente no baile do choradinho, era um baile de Freixieiro onde os casais de namorados ou então os que queriam arranjar namoro. Lembro-me de lá entrar uma vez porque as crianças podiam entrar nos bailes vi os mais jovens a dançar e as mães das raparigas sentadas em volta para guardar as suas filhas e não deixar os rapazes tomarem certas liberdades como, por exemplo, dançar mais agarrados. Esse vizinho para além da banda também ensinava música, incluindo vários instrumentos, bateria, viola guitarra e outros, mas eu apaixonei-me foi pelo violino. Claro que não fui aprender, pois não tinha quem me pagasse as aulas, mesmo assim fiz uma promessa a mim mesma. {Um dia vou aprender violino}.

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Os capitães de Abril

No dia 25 de Abril de 1974 cheguei á escola e a professora sem nada nos explicar disse-nos para irmos direitinhas para casa. Ninguém fica pelo caminho. Disse aquilo com um ar tão sério que eu fiquei assustadíssima e logo cumpri a ordem. Quando cheguei à casa a minha vizinha tinha a televisão ligada e eu perguntei-lhe o que se passava, pois não era normal TV àquela hora. Ela disse-me: acabou a ditadura. “Ditadura”? Era uma palavra que eu nunca tinha ouvido e conforme o dia foi passando, tive que fazer várias perguntas, pois foram aparecendo outras palavras estranhas para mim como por exemplo fascismo, democracia, socialismo e comunismo . Eram palavras proibidas e por isso apenas ditas na clandestinidade até era proibido usar isqueiro Nesse dia tudo era novo. Todo o dia se ouviu a Grândola Vila Morena, A Gaivota e marchas militares. As cadeias abriram-se e os presos políticos foram libertados. O povo saiu á rua e foi uma festa, mas também as fronteiras foram fechadas. Ninguém saia nem entrava no país. Colaboradores do antigo regime assustaram-se e suicidaram-se. Muitos nem eram Pides, mas eram os chamados bufos que andavam sempre em busca de informações para contar aos Pides que eram a policia política e a sua principal função era a repressão a toda a forma de oposição ao Estado. Os bufos eram pessoas de todas as classes sociais incluindo padres que ouviam as confissões e logo se apressavam a denunciar. Muita gente foi presa mesmo sem se meter em politica, mas bastava alguém não gostar de outra pessoa para logo fazer denuncia.

Os capitães de Abril fizeram a revolução e formaram a Junta de Salvação Nacional que era formado principalmente por militares , mas nem tudo foram cravos. É certo que foram legalizados os partidos e os sindicatos, mas as nacionalizações prejudicaram muita gente, principalmente por causa da reforma agrária. Tudo foi melhorando a pouco e pouco. Os militares começaram a regressar do Ultramar. Mais tarde, já era eu adulta e Fred, pai do irmão Miguel Westerberg, que era marinheiro mercante, contava-me que viu muitas vezes a chegada dos navios vindo do Ultramar. As famílias vinham esperar os militares e primeiro saiam os que vinham com saúde, depois os feridos e no fim, quando já esses tinham ido embora, saiam os mortos para além dos militares. Também regressaram os retornados, que eram cerca de meio milhão de refugiados das ex-colônias. A maior parte deles só com a roupa do corpo. Pessoas que tinham tudo e de repente ficaram sem nada. Muitos nem conheciam Portugal, mas eram chamados os retornados de segunda geração e ainda hoje se ressentem pela maneira

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como tudo se passou. Já os seus pais atiraram-se ao trabalho. Alguns receberam ajuda do estado e os bancos emprestavam-lhes dinheiro com baixos juros e eles montaram os seus próprios negócios.

Coisas inovadoras para este País, que estava parado no tempo. As churrasqueiras apareceram nessa altura assim como os supermercados. para mim o 25 de Abril foi o melhor acontecimento político que podia acontecer a este Pais pois foi o momento da mudança passou a ter-se liberdade para votar e o nosso Pais melhorou muito temos uma melhor saúde , melhor ensino melhor nível de vida as mulheres começaram a ter mais direitos , como poderem votar e ter direito ao planejamento familiar assim como o direito trabalho igual salário igual , também a maternidade passou a ser valorizada a única coisa que eu acho que piorou foi a falta de respeito das pessoas pois confundem liberdade com falta de respeito , de educação ou até falta de classe , mas no geral mais vale ter uma má democracia do que perdermos a nossa liberdade . Mas foi também em 1974 que eu fiz a 4ª classe, que era o ensino obrigatório. Eu já estava com 11 anos e a minha ama me disse: “agora vais ter que ir trabalhar porque senão não comes” e logo me arranjou um trabalho numa fábrica de plásticos. Fabricavam copos descartáveis para gelados e bebidas e como não podia deixar de ser, mais uma vez, tive azar, pois o patrão era um homem mau.

Fábrica de plásticos - MATOSINHOS

Os bons dias que dava quando entrava na fábrica era: “suas filhas da P…”. Éramos quatro funcionárias e iniciávamos ás oito da manhã e íamos até ás oito da noite de Segunda a Sábado. Não era fácil quando se tinha que fazer cargas e descargas com sacos do plástico granulado de cinqüenta kg. As máquinas eram perigosas, pois estavam sempre a altas temperaturas.

Havia uma particularmente perigosa chamada moinho, onde se moia os restos do plástico. Várias pessoas ficaram sem as cabeças dos dedos. Era uma vida muito dura para quem tinha apenas 11 anos, trabalhava sem direitos porque não tinha idade para fazer descontos , quando o patrão nos mandava de férias era sol de pouca dura passados três ou quatro dias já nos estava a chamar para voltarmos ao trabalho , não havia higiene e segurança no trabalho não se usava calçado de segurança nem luvas de proteção e tinha-se que respirar toda a porcaria , hoje em dia as coisas são diferentes faz-se cursos de higiene e segurança onde se aprende a ter normas de segurança e a usar o material adequado para cada serviço . Quando apareciam os fiscais eu tinha que me esconder ficava cheia de medo, pois na altura não percebia que quem tinha que ter medo eram os

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patrões e não eu, nessa altura fui ganhar quarenta escudos por dia ou seja vinte centimos na moeda de hoje . Para mim pouco importava o valor ou a quantidade, pois eu tinha que entregar tudo á minha ama. Até aos meus dozes anos de idade, pode não parecer, mas aprendi que a vida pode ser muito dura; aprendi, forçosamente, a viver sem pai, sem mãe e sem família. Nasci numa uma época difícil de ditadura, mas já vivo numa democracia; aprendi bem cedo o que é ser descriminado, por ser filha de uma prostituta; aprendi como é duro não termos quem se interesse por nós ou não termos quem nos defenda, mas quem sabe não possa ser um antídoto para o meu futuro?

VIRAR DE PÁGINA

Colégio do Bom Pastor – Ermesinde

À medida que a minha idade ia passando cada vez mais me sentia insatisfeita com a minha situação. Trabalhava de sol a sol era, era mal tratada psicologicamente, não tinha um carinho e nem mesmo uma palavra amiga. Quando a nossa mente começa a ficar doente apoderam-se de nós pensamentos estranhos que vão tomando conta do nosso ser. Tinha vontade de pegar numa metralhadora para acabar com certas pessoas e até comecei a numerá-las pela ordem que pensava matá-las. Cada vez mais me identifico com aqueles jovens que a cada passo surgem na América com suas armas e matam tudo que lhes aparece na frente. Os estudiosos tentam perceber o porquê de tanta violência e por muito que os psicólogos tentem, nunca vão chegar a lado nenhum porque só os que viveram isso têm a resposta. Tantas vezes isso passou na minha cabeça, matar e depois acabar comigo. Estava sempre a imaginar uma maneira de me matar sem sofrer. Tive a sorte de nunca nenhuma arma me vir para as mãos.

Um dia mostraram-me um jornal, sim porque embora naquela altura poucas pessoas tivessem aceso ao jornal esforçavam-se imenso para me dar as más noticias, que consistia em que a minha mãe tinha sido presa por espancar meu irmão Henrique com 11 anos de idade, que naquela altura já tinha fugido da ama para voltar a morar com ela. Também tinha espancada a Tânia com apenas 11 meses e foi também através dessa noticia, que logo fiquei, a saber, que tinha mais uma irmã. Devido às más condições financeiras, minha mãe é obrigada a viver na zona da Ribeira no Porto, ocupando um prédio demasiado úmido e velho, onde viviam aproximadamente 20 famílias, que dividiam uma casa de banho coletiva e sem chuveiro que levava os quatro irmãos a utilizarem-se da janela existente no quarto para despejar suas necessidades fisiológicas,

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já que a mesma era de frente para o rio Douro. O Henrique praticamente é que tomava contas dos mais pequeninos. Também foi por essa altura que ele sofreu um atropelamento e esteve dois meses em estado de coma. Os médicos mandaram a minha mãe preparar o caixão, mas ele ainda não tinha chegado ao fim da linha e sobreviveu.

PORTO - RIBEIRA

Minha mãe que nunca gostou do norte resolveu voltar a Lisboa, sua terra natal, levando consigo os meus quatro irmãos: Henrique, Mariana, Miguel Ângelo Westerberg e Tânia. Acabei por saber que mais uma vez a minha mãe foi detida por prostituição e meus irmãos foram levados para a Mitra que era o local onde eram postos todos os que eram apanhados nas ruas, bem com homens, mulheres e crianças. Não importava se era tanto gente saudável como deficientes. O lugar era um depósito guardado por alguns policias. Voltando á minha existência, eu estava tão farta de tudo que decidi eu tinha que fazer alguma coisa e resolvi fugir de casa da minha ama. Fui-me entregar ao tribunal de menores, a tutoria que na altura consistia no tribunal e cadeia de menores masculinos e femininos.

Hoje já não existem cadeias de menores, aliás, podem-se cometer crimes à vontade, contanto que não se tenha dezoito anos, pois não se vai preso. Pessoalmente não sou a favor das cadeias de menores, mas deveriam haver instituições apropriadas para esse tipo de jovens com acompanhamento psicológico, onde eles estudassem e trabalhassem para que no futuro pudessem ser pessoas melhores. Uma guarda prisional levou-me para a beira das outras raparigas reclusas, mas não sem primeiro me revistar. Aqueles muros altíssimos eram deprimentes, mas ainda assim quando à tarde fui ao juiz e ele disse-me que eu não podia ficar ali pois não tinha cometido crime algum, eu entrei em pânico, pois eu não queria voltar para a ama e contei-lhes tudo o que se tinha passado e embora nessa altura ainda não se desse muita importância aos maus tratos das crianças, um juiz mais novo que tinha ouvido a minha história teve pena de mim e resolveu telefonar para uma freira que eles conheciam e levaram-me para o Bom Pastor, que ficava na rua Antero de Quental.

Permaneci apenas uma semana, pois essa casa era para mães solteiras e meninos abandonados até seis anos de idade, mas o Bom Pastor tinha e tem várias casas espalhas pelo Pais e resolveram mandar-me para Ermesinde. Quando cheguei ao colégio a primeira coisa que fizeram foi explicarem-me as regras. Às 6:45 da manhã a freira educadora saia do quarto dela e batia as palmas três vezes e ao passar por cada camarata dizia: "levantem-se meninas". Quando chegava ao final do corredor e voltava novamente a passar pelas camaratas já tínhamos que estar fora das camas. Tínhamos 15 minutos para fazermos a nossa higiene pessoal. Tinha-mos quartos de banho com duche

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e água quente e me senti muito contente, pois até ai os meus banhos tinham sido sempre de bacia. Comecei a lavar os dentes diariamente. Eu nunca tinha lavado os dentes, pois não existia esse hábito e por esse motivo muitas pessoas tinham problemas dentários. Também fazia-mos a cama de seguida. Quem estivesse de serviço à limpeza ia fazer limpeza, algumas iam estudar e as outras iam preparar o pequeno almoço. As restantes tinham que coser botões em cartões. Trabalho que uma empresa dava ao colégio, mas que não era bem pago, embora era uma maneira de termos dinheiro para comprar os nossos xampus, pastas dos dentes e outras coisitas básicas. Às 8:30 mais uma vez, a freira batia as palmas e tínhamos logo que estar no refeitório para tomarmos o pequeno almoço que consistia em uma chávena almoçadeira de cevada com leite em pó e dois pães com margarina. Às 9 horas umas iam para as aulas e outras para as oficinas, onde havia costuras, rendas, bordadas e malhas, coisas que para mim não tinham muito interesse, então resolvi ir para o curso de artes aplicadas onde aprendi a pintar em vidro.

Punha-se um desenho a gosto debaixo do vidro e com tinta própria pintava-se. Aprendi a fazer flores em massa e em papel, pintar em pano e vários outros tipos de trabalhos. No final do curso tirei uma classificação de 5 valores. Também tirei um mini curso de culinária onde aprendi a cozinhar com mais classe e a não descurar as sopas e sobremesas. Também neste curso tirei um Muito Bom e era incentivada pelas freiras. Devido a gostar muito de estudar, voltei a escola para fazer o 5º e o 6º ano. Fiquei contente, pois eu queria mesmo estudar o que assim fiz também sem grandes problemas. Tinha-mos aulas no próprio colégio. Por volta do meio dia voltávamos para as secções onde almoçávamos e quem chegasse atrasada à mesa comia de pé. Nunca nos sentava-mos sem fazer a oração de agradecimento pelo alimento que íamos tomar. Quem cozinhava eram as raparigas. Tínhamos uma folha de serviço onde estava determinado quem é que em cada dia cozinhava, fazia as limpezas ou lavava as roupas de cama, sempre de acordo com a disponibilidade de cada uma.

As nossas próprias roupa era cada uma que lavava a sua, pois não tínhamos máquinas de lavar e era uma boa maneira de aprendermos a cuidar das nossas coisas, assim como passa-las a ferro, mas tudo isto tinha dias certos para cada coisa, pois numa secção com 22 raparigas tem que haver regras. Horas para dormir, levantar, comer, rezar, estudar e horas para ver televisão. Havia sempre muitas regras, disciplina e ordem. Quem não cumpri-se todas era penalizada. Podia ficar de serviço à louça, ficar sem televisão ou sem fim de semana, que era o pior castigo para aquelas que podiam ir a casa. Também fazia-mos atividades como teatro e dança, mas eu nunca entrei nessas atividades, quando se aproximavam as férias de Natal ou as férias grandes o colégio ficava mais vazio, pois muitas raparigas iam para casa. Dependia sempre muito do problema de cada uma, porque umas estavam ali por não se acertarem com os pais, outras por serem órfãs, outras por tentativas de violação pelos pais ou padrasto, mas também tínhamos por norma não falarmos dos nossos problemas. Para isso tinha-mos um dia marcado para falarmos com a nossa Educadora, mas voltando ás férias, em geral havia sempre umas três ou quatro que não saiam do colégio e por esse motivo, para que não ficássemos tristes, as freiras levavam-nos à praia ou a passear, o que já não era mau. Alias, para mim era muito bom, pois nunca tinha tido férias. Claro que nunca era como ter uma família. Quantas vezes eu perguntava a mim mesma o porquê disso tudo. Até questionava com Deus a razão de não ter uma casa ou uma família. Estas coisas amarguravam-me bastante. Deus esteve sempre muito presente na minha vida e o meu temor evitou que eu cometesse grandes loucuras. Um dia ao falar com Deus senti a sua

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presença, embora não o tenha visto tal como não vejo o vento, mas senti-O. Foi uma boa sensação de conforto, paz e de grande tranqüilidade.

MITRA - LISBOA

Por volta dos meus dezesseis anos a minha educadora resolveu levar-me a Lisboa para ver os meus irmãos que estavam no Albergue da Mitra. Ficou tão chocada com o que viu que telefonou para a superiora a pedir ordem para levar para Ermesinde a Mariana e a Tânia, o que foi concedido. Eu fiquei muito contente, pois ia ter as minhas irmãs junto a mim. O meu irmão Henrique tinha fugido novamente para o Porto e encontrava-se nas Oficinas de S. José e veio ver-nos em Ermesinde. Logo de seguida foi ele próprio sem ordem de ninguém buscar o Miguel que tinha ficado na Mitra. Apenas ficou lá mais uma bebe que era mais uma irmã que tinha nascido em Lisboa, a Karina Pimenta Migueis. Quando o Henrique chegou às oficinas de S. José com o Miguel foi um problema enfrentar a resistência do padre Alberto Assunção Tavares, diretor da instituição em ficar com ele por não ter sido devidamente informado da sua transferência com antecedência. O caso é levado ao tribunal de menores do Porto e por fim o padre responsabilizou-se pela sua tutela até que viesse a completar seus 18 anos.

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HERIQUE E MIGUEL WESTERBERG MEUS IRMÃOS

O Miguel Westerberg era um artista desde muito pequeno, desenhava e pintava muito bem, apesar disso teve uma professora de desenho que lhe deu negativa. Era um menino bonito, de cabelos ruivos. Era parecido com o Fred, seu pai. O Miguel e a Tânia eram filhos do mesmo pai e da mesma mãe assim como eu e o Henrique. Não sei muito bem quando, mas o meu irmão Henrique deu-me a noticia que nossa mãe tinha tido mais um casal de gêmeos de cor. Comecei a ficar preocupada, mas porque é que ela põe tantos filhos no Mundo se nem sequer toma conta deles. Foi pena que nesse tempo não se fizesse a laqueação, pois só assim evitaria que mais crianças sofressem por ter que viverem sem família. Nem sei que fim levaram estes gêmeos.

As minhas irmãs começaram a freqüentar o Externato Maria Droste, que era uma escola que pertencia ao Bom Pastor, mas por pouco tempo, pois a Tânia era muito pequena e as freiras diziam que ela não podia ficar naquele colégio e resolveram transferi-la para o Porto, para outra instituição. Para que não fosse sozinha a Mariana foi com ela. Fiquei chateada e revoltada, mas não me adiantou nada elas foram e eu fiquei. Quando fui visitá-las, só encontrei a Mariana. Disseram-me que a Tânia tinha ido passar o fim de semana com uma família, mas depois foi o Henrique e até o Fred Westerberg que todas as vezes que vinha a Portugal ia visitar os filhos e a menina nunca estava. Tinham a dado para adopção.

Fiquei tão revoltada que fiz um escândalo fizeram tudo á socapa eu não queria separar-me de nenhum dos meus irmãos, apesar de vivermos separados, mas que podia eu fazer. Continuei no colégio e é certo que nem tudo foi bom, mas também nem tudo foi mau. Fiz amizades com as outras raparigas e não me dei mal com elas, mas cada uma tinha os seus próprios problemas. Umas iam entrando outras saindo e não havia grandes amizades, mas apesar de tudo tínhamos algumas colegas preferidas. A Glória

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que era uma filha de imigrantes e que vivia com a madrinha, veio de França onde tinha praticamente vivido sempre e quando teve que ir viver com os pais não se adaptou e veio parar ao colégio. Logo no primeiro dia quando estávamos a rezar o terço ela ficou a fazer tranças no cabelo o tempo todo. A freira pô-la de castigo a lavar a louça e ela começou a andar á volta de uma grande mesa que havia na cozinha e só dizia o tempo todo que não ia lavar a louça. Ela tirava a educadora do sério e ficava muitas vezes de castigo. Eu gostava dela porque apesar de tudo era divertida e com ela tive o meu primeiro castigo, pois não sei como, mas ela arranjou cigarros e fomos para a torre fumar. Fomos denunciadas por uma colega que era uma das preferidas da freira. Eu fiquei tão chateada com a colega, pois apanhei um mês de castigo a lavar a louça e resolvi vingar-me dela. Fiz queixa à freira de que a que me acusou tinha revistas pornográficas debaixo do colchão, mas ela só apanhou quinze dias. Eu achei injusto, mas lá cumpri o meu castigo. Nessa altura estava eu a arrumar as compras na despensa e tinha que subir um escadote porque tinha várias prateleiras. Quando desci pensei que já tinha descido todos os degraus, mas faltava um e cai em cima da mão direita, partindo-a.

MARIANA , MIGUEL E TANIA - IRMÃOS

Quando a colega que me estava a ajudar me viu caída no chão cheia de dores foi a correr chamar a freira. Ela pegou em álcool e esfregou e assim fui tomar o pequeno almoço. As dores aumentaram e a mão começou a inchar e a minha educadora mandou uma colega ir comigo ao hospital de S. João do Porto. Apanha-mos o autocarro e lá fomos, chegada ás urgências fiz ficha e aguardei a minha vez, quando me chamaram radiografaram-me e quando chegou o resultado viram que eu tinha a mão partida. Engessaram-me e voltei para o colégio. Não me deram sequer um medicamento para as

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dores e no primeiro dia tive muitas. Andei cerca de um mês com gesso e quando tirei a minha mão parecia mais magrinha e branca e a pele começou a esfolar.

Quando fiz dezoito anos comecei a trabalhar na Areosa numa empresa estrangeira de montagem de material elétrico. Chamava-se BBC STOTZ . Trabalhavam lá cerca de 100 pessoas entre homens e mulheres. Fiz um contrato de trabalho renovável de seis em seis meses até ao máximo de três anos . Tinha caixa, seguro, subsidio de alimentação, subsidio de férias e décimo terceiro mês, assim como um ordenado acima da média. Fui trabalhar para uma linha de montagem e o meu trabalho era a montagem final de disjuntores de vários ampares, ou seja, aquelas peças de proteção de descargas elétricas que temos. Como já tinha dezoito anos e emprego tive que sair do colégio. Fui morar com uma colega minha do colégio que era de Braga, a irmã sua tinha um apartamento vago em Rio Tinto. Claro, que não era de graça e tive que pagar uma renda.

Meu irmão Henrique

O meu irmão Henrique também saiu das oficinas e contou-me o que eu já há algum tempo vinha a desconfiar. Disse-me que era homossexual - travesti e que queria modificar o seu corpo. Quando me contou tudo já estava a fazer espetáculos em casas noturnos e já estava a tomar hormonas para que o seu corpo tomasse formas femininas, o que realmente estava a acontecer. Se bem que não era preciso muito, pois desde criança sempre o achei bastante feminino. Em 1981 ainda havia muita descriminação mas, ele era suficientemente louco para passar por cima de tudo. Nessa altura eu ia entrar de férias e ele convidou-me para fazer umas férias em Lisboa no parque de campismo de Monsanto, pois o Fred tinha lá uma roulote.

Ele foi ao colégio buscar o Miguel e lá fomos. Chegados a Lisboa, o Henrique levou-me a visitar o meu avo, pai de minha mãe, que eu não conhecia. Já não via a minha mãe desde pequena, quando um dia ao passar pelo Cais do Sodré com meu irmão, encontramos nossa mãe. Para mim foi um choque. Ela estava tão diferente, tanto de forma física quanto mentalmente. Tinha um falar apressado, levou-nos no quarto onde vivia e fazia-me montes de perguntas sobre o Miguel Westerberg e as meninas. Eu só lhe dizia que elas estavam bem, mas como não lhe dizia onde estavam, começou a acusar-me de lhe roubar os filhos. Este encontro terminou para mim em uma grande tristeza, por ver a minha mãe num estado lastimável.

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Também foi nestas férias que eu experimentei, pela primeira e única vez. Dei apenas duas passas e senti-lhe o gosto horrível. Nessa altura não havia campanhas contra as drogas, nem sequer informação, mas sabia-se que não era nada de bom. A partir daí apanhei o vicio do tabaco e a fumar bastante. Foram umas férias para a minha própria desgraça. Voltei ao norte e na passagem de ano havia baile em Ermesinde, precisamente no Café São Paulo e convidaram-me a lá ir. Foi exatamente nesse lugar, que conheci o Carlos, o meu primeiro namorado com quem me vim a casar poucos meses depois, pois estava farta de estar só.

As grandes paixões da minha vida

O casamento pode ser visto de muitas maneiras, pelo passado era uma maneira das raparigas se verem livres da casa dos pais onde muitas das vezes tinham de cuidarem dos irmãos mais novos e até dos mais velhos bastava elas serem moças e eles rapazes, tinham também de cozinhar, lavar alem de outros afazeres e até quando começavam a namorar eram os seus irmãos machos os guardadores da honra e da virtude da família e por isso o matrimonia era uma fuga a este tipo de situação haviam também os casamentos por interesse monetário ou então quando uma rapariga engravidava tinha logo que casar quer gosta-se ou não, caso o casamento não acontece-se a rapariga dificilmente teria quem a quisesse hoje em dia continuam a existirem os casamentos por interesse principalmente por razões monetárias pois cada vês mais as pessoas dão mais valor ao dinheiro e aos bens materiais e ás grandes paixões e poucas dão valor ao amor é certo que hoje existem mais cumplicidade entre os casais mais ajuda e partilha de tarefas domesticas e até a partilha na educação dos filhos mas ainda vivemos num país de machistas onde verdadeiramente as mulheres continuam a ser descriminadas porque na maioria das vezes continuam a ter que ser mães , donas de casa, educadoras e fazem uma coisa que pelo passado não faziam trabalham fora de casa e contribuem monetariamente para o orçamento familiar.

CARLOS CUNHA - ESPOSO

O meu casamento foi por paixão e com o tempo veio o amor e a cumplicidade casei bastante pobre não tinha uma cama sequer dormia num colchão no chão, um tacho, uma panela, dois pratos dois copos e pouco mais foi um inicio de vida difícil, vivia numa casa sem condições e essa altura era muito difícil pedir dinheiro para comprar casa pois os juros eram altíssimos e tinha-se que ter uma entrada para dar ,

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também fiquei desempregada eu trabalhava numa multinacional onde eram feitos contratos de três anos e eu fiquei desempregada ai eu tinha todos os meus direitos e eram cumpridas as normas de segurança deram-me os papeis para o fundo de desemprego.

Não foi fácil arranjar trabalho pois em 1983 houve uma grande crise em que o País esteve quase a entrar na banca rota não havia mesmo trabalho , resolvi tirar a carta de condução para ver se era mais fácil arranjar trabalho, nessa altura demorei dois meses a fazer código e condução na escola estudava em fichas e para casa comprei o livro de código, rapidamente fui a exame e passei com facilidade, só que não comprei logo carro pois não tinha dinheiro. Também foi por esta altura que eu me filiei num partido político, pagava as minhas cotas colava cartazes ia ás reuniões, congressos, participava nos comícios, manifestações e festas do partido para alem de participar nos atos eleitorais estando de serviço nas mesas de voto, nessa altura ao contrário de agora não era um trabalho renumerado, atualmente não sou filiada em qualquer partido e embora seja simpatizante desse partido e ache que temos que passar por tudo para podermos saber o que é bom e é mau , já não acredito em radicalismos, a política é uma coisa terrível mas o que é certo é que ou temos política ou temos anarquia . Também tive o meu primeiro filho e pus-lhe o nome de José Carlos, onde apesar das dificuldades foi criado com tudo do bom e do melhor, pois foi primeiro filho, primeiro neto e primeiro sobrinho. Sempre teve as consultas de rotina num bom pediatra numa clínica particular.

Com o tempo a vida foi melhorando, a Câmara de Valongo abriu vagas para serventes de limpeza concorri e fiquei em primeiro lugar para mim foi bom entrar para FP pois era um emprego seguro mas ao contrário do que muita gente pensa ganhava-se menos do que no privado só tínhamos eram outras regalias como por exemplo ir a médicos particulares ,maiores descontos nos óculos nos dentes quando estava-mos de baixa recebíamos quase a totalidade do ordenado ia-se para a reforma mais cedo , hoje em dia não funciona assim perdemos as nossas regalias e embora muita gente apóie eu sempre apoiei o contrário todos os trabalhadores deveriam ter esses direitos afina l nós perdemos os nossos direitos mas o privado não ganhou nada com isso aliás os funcionários púbicos são o barômetro do privado se nos tirarem direitos os patrões aproveitam logo para fazer o mesmo , fui varrer ruas , era um ser viço que não me agradava de todo pois não era nada criativo . Não era uma arte mas mesmo assim os três anos que estive na limpeza fui considerada uma boa funcionária , logo que entrei para a câmara a delegada de saúde mandou-me tomar as vacinas em atraso principalmente a anti tetânica , também me deram roupa com refletores e luvas , eram cumpridas as normas de higiene e segurança no trabalho .

Passados três anos abriu concurso para o quadro para a limpeza e para ajudantes de jardineiros e jardineiros de terceira, eu logo concorri a servente de limpeza e a jardineira de terceira e passei nos dois concursos e claro que escolhi ser jardineira, pois era uma profissão mais criativa onde eu poderia mostrar o meu valor, desde que sou jardineira muita coisa mudou, hoje se usa melhor os produtos, como por exemplo, os adubos, os herbicidas e outros produtos que pelo passado eram usados á sorte e o que desse deu, também se usa mais a expressão de rega o que facilita mais o trabalho podendo regar-se nas horas mais adequadas assim como ter um maior aproveitamento de água, pois a água é um bem cada vês mais escasso havendo regularmente campanhas

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para o seu aproveitamento em minha casa faço o que posso para poupar , tomo banhos rápidos , enquanto escovo os dentes tenho a torneira fechada e não lavo louça de torneira pelo contrario comprei maquina de lavar louça porque para alem de ser mais higiênico pois a louça é lavada a alta temperatura poupa-se água. Também hoje em dia existe uma maior preocupação com a higiene e segurança no trabalho sendo regularmente dados cursos aos funcionários, ser jardineiro hoje em dia é uma profissão de grande relevo, pois cada vês mais as pessoas se preocupam com a natureza pois infelizmente existem cada vês mais interesses milionários e que se lixe a camada do ozônio e que importa o amazonas o que interessa são os Dólares.

‘Ecologia são as relações do ser humano com o planeta terra, e Cidadania são os direitos e deveres que o cidadão deve cumprir. Exemplo disso: Se você só destrói uma árvore, desperdiça água, você não estará cumprindo os seus deveres, então, igualmente você não tem direito a isso. Se você não cumpre com seus deveres de cidadão, desrespeita leis, prejudicando assim outros então também não demonstra ou não tem relação com o povo. Cumpra os seus deveres de cidadão, como dizia um ditado popular: Se derrubar uma árvore, plante duas’.

Giovanna e Marcelo Thiago - Pesquisa feita no Google

Com 33 anos fui convidada a chefiar uma equipa de jardineiros claro que de principio foi muito complicado, pois era uma mulher jovem a chefiar uma equipa majoritariamente de homens e alguns com mais tempo de casa e de mais idade, pelo passado as mulheres não eram valorizadas e ainda hoje para que isso aconteça tem que demonstrar muito mais valor que os homens, tive que ser inteligente e astuciosa para conseguir derrubar as barreiras do preconceito e da incompreensão, mas com muita luta e trabalho consegui o respeito dos meus colegas e chefias.

Em geral desde que chefio chego por volta 07h30min no meu local de trabalho para abrir as portas aos funcionários e vou logo fazendo os relatórios com a distribuição de serviço para cada trabalhador quando chega as 8 horas digo a cada um para onde vai e o que cada um tem que fazer vejo se as máquinas estão em ordem caso existam deficiências comunico com o encarregado geral e entrego-lhe o relatório diário com as avarias,o pessoal que falta e onde se encontra o pessoal assim como aquilo que estão fazendo, também faço relatórios das adubações, sistemas de rega e sobre aquilo que aparece estragado nos jardins.

A Câmara também me ofereceu um curso intensivo de chefias operarias que para mim foi o melhor curso que eu fiz até hoje e que me ajudou muito na minha vida profissional, ajudou-me, a saber, tomar decisões, a saber, organizar trabalho, a compreender os trabalhadores, mas sem perder a autoridade e o poder de decisão.

Em 1989 nasceu a minha segunda filha Tânia Cristina tal como o meu filho José nasceu no hospital de S. João onde tive um bom atendimento e fui muito bem cuidada tanto pelas parteiras como pelo resto do pessoal, alem disso tive partos normais. A minha vida também foi melhorando monetariamente sem nunca chegar a ser rica a casa onde eu morava não era minha nem sequer era nova, mas tinha água encanada casa de banho completa e lareira, tinha água de poço tinha um quintal onde tinha as minhas próprias hortaliças biológicas , também tinha galinhas, coelhos, perus, gatos, cães, rolas, canários e periquitos , na traseira da casa tinha um pinhal e na frente a linha férrea do

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Douro e Minho e os meus vizinhos mais próximos ficavam a 50 metros, era bom vivia quase isolada mas com tudo perto de mim.

O meu filho mais velho começou a freqüentar a escola, mas tinha muitas dificuldades em aprender e como nessa altura não havia aulas de apoio meti-o numa explicadora mas mesmo assim não adiantou muito foi sempre um aluno com imensas dificuldades consegui-o fazer o 6º ano mas com muita dificuldade .Finalmente em 1995 nasceu a minha terceira filha a Diana Catarina uma linda ruivinha também nasceu de parto natural

Neste ano entrou a Tânia para a escola, como eu tive os meus de seis em seis anos estava um a nascer e outro a entrar na escola, a Tânia foi uma aluna mais razoável, também nessa altura já se dava mais importância ás reuniões de pais e ao acompanhamento escolar, eu nunca quis participar nas associações de pais são reuniões demasiado cansativas e com poucos resultados. Neste ano também aconteceu algo que eu procurava á muito que era o meu encontro com Deus, a partir daqui sim eu realmente mudei para muito melhor, fiquei mais calma, mais ponderada, mais tolerante, deixei de ligar para as coisas supérfluas e comecei a valorizar mais os amigos, a família, a minha paz interior, deixei de fumar coisa que até ai nunca tinha conseguido porque Deus faz milagres na nossa vida e eu tornei-me uma pessoa melhor foi muito bom para mim, pois nesta altura eu estava a entrar em depressão e Deus foi o meu porto seguro, claro que quem está de fora não compreende e faz chacota, mas o nosso bem estar faz-nos ultrapassar todas as coisas e eu não tenho vergonha nem qualquer tipo de problema em dizer que pertenço á Congregação Cristã em Portugal.

Na igreja católica eu nunca senti a parte espiritual, nunca senti a Presença de Deus, é certo que perguntam se não posso cortar o cabelo, claro que sim, mas está escrito que é agradável que a mulher use o seu cabelo crescido não fala em não cortar assim como também fala na Bíblia que não comerás o sangue dos animais, pois estes não têm alma, e diz a palavra que no final Deus reclamará todo o sangue, na doutrina católica baptiza-se bebés então porque fala a Bíblia crê e sê baptizado por esse motivo é que a congregação cristã só baptiza a partir dos doze anos , estes são alguns dos pontos de diferença e de fé.

Não tenho falado muito do meu irmão Henrique ele viajou para todo o lado, Espanha, Itália, Paris á noite punha os seus sapatos de tacão vestia um casaco de peles e completamente nu por baixo fazia a noite, ganhava aos cinqüenta contos por noite e tudo gastava e como ele dizia foi embora de Portugal por causa do grande preconceito dos Portugueses nesta altura ele voltou a Portugal tinha ganho o vicio do álcool e apanhava grandes borracheiras que me faziam perder a cabeça pois eu nunca lidei muito bem com este tipo de situações aparecia-me vestido de mulher e eu confesso que não estava preparada para enfrentar a sociedade em relação a este caso , mas eu amava muito meu irmão e eu via ele enfraquecer a cada dia que passava até que ele me disse que tinha HIV e em 30 de Maio de 1996 morreu no mesmo hospital onde nasceu o hospital de S. António no Porto foi um dia muito triste para mim pela primeira vês perdi alguém tão próximo alguém que eu amava ainda agora passados doze anos é doloroso para mim falar sobre este tema sinto uma tristeza , uma angustia um vazio muito grande.

A minha vida tem sido uma aprendizagem constante e nunca me canso de aprender, gosto de aprender com os outros, faço cursos aprendi a trabalhar com as novas

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tecnologias, uso telemóvel mando mensagens , tiro fotos e passo-as diretamente para o PC, muitas vezes com essas fotos faço relatórios para o meu trabalho, visto eu ser chefe e por vezes preciso de tomar conta de ocorrências de estragos e vandalismo também uso o PC para falar com os meus amigos e o meu irmão Miguel Westerberg que está no Brasil, também faço pesquisa quando preciso ou tenho curiosidade de aprender alguma coisa , guardo fotos, documentos e sei imprimir, uso PEND DRIV para transporte de documentos.

Eu acho que se os tempos mudaram temos que usar todo o tipo de máquinas que nos possam facilitar a vida e por esse motivo eu tenho máquina de lavar louça, lavar roupa, microondas, torradeira, forno elétrico, PC, máquinas de furar, rebarbadoras e sei usar todas elas. Também no ano 2000 resolvi comprar a minha primeira casa um andar t2 muito perto da casa antiga fiz um empréstimo ao banco e a imobiliária em conjunto com o banco trataram de tudo eu e o meu esposo só tivemos que aparecer no dia das escrituras, claro que todos os anos tento renegociar o Spred, uma das coisas que eu tive em atenção ao comprar a casa foi a sua localização em relação aos transportes, escolas, supermercado e cheguei á conclusão que era um bom local, é uma casa com bastante luz pois tem janelas em todas as divisões também neste momento estou aos poucos a colocar lâmpadas economizadoras que são na realidade lâmpadas florescentes compactas e tem um maior tempo de duração e são mais aconselháveis em sítios onde se tem mais tempo as luzes ligadas, calafetei as janelas por causa do frio e coloquei redutores de água nas torneiras para ale de economizar no orçamento economizo no ambiente.

Pessoalmente acho que as autoridades deveriam fazer mais pelo meio ambiente e já que os cidadãos em certas cidades não respeitam a limpeza deveria ser passadas multas aos prevaricadores deveria ser proibido deitar lixo para o chão assim como deveriam ser decretados horários para a colocação de lixo á porta e outras das coisas que deveria ser mesmo proibido pois embora as pessoas ainda não se tenham apercebido mas é uma questão de saúde publica , proibir determinantemente de os cães fazerem os dejetos nos jardins e arranjarem locais próprios para o efeito hoje em dia a porcaria de cão é tanta pois ainda por cima há pessoas que tem cães enormes que são autênticos fabricadores de dejetos que nós o simples ser humano não podemos usufruir dos espaços que á partida são construídos para passearmos com os nossos filhos e tomarmos um pouco de ar puro e sentarmo-nos a descansar na relva fresca e relaxar um pouco. Bom o que acontece neste momento quando vamos ao jardim é o seguinte respiramos cheiro a cão junto com cheiro a trampa, sentar na relva está fora de questão temos é que olhar constantemente para o chão para não borrarmos os sapatos e ainda por cima nos arriscamos a trazer umas pulguitas para casa, bem ainda existe outro problema embora eu seja suspeita para falar nós os jardineiros levamos com toda a porcaria.

Não me levem a mal os defensores dos animais eu gosto muito de animais e já tive bastantes, mas há que ter condições para que não sejamos desumanos com os animais decretando-lhes horas para fazer as suas necessidades e para que o ser humano não perca os seus espaços de lazer. Foi também em 2000 que eu fui ao Brasil foi a primeira vês que andei de avião foi uma viagem longa ainda por cima fiz escala em Londres, permaneci no Brasil por vinte e seis dias essa altura fiquei em casa de amigos onde fui muito bem tratada , fiquei muito impressionada com a grandeza do País , grandes avenidas com grandes prédios quando entrei em S. Paulo mais parecia estar a entrar num filme Americano tudo parecia grande , o povo Brasileiro é muito afetuoso e

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a sua gastronomia é muito rica devido á grande diversidade de culturas mas são principalmente especialistas em churrascos .

As praias são lindas adornadas com palmeiras e coqueiros com grandes areais e água quente, também existem muitos vendedores ambulantes em todo o lugar principalmente nas beiras de estradas vendem de tudo, grandes cachos de bananas de varias qualidades, cocos, churrascos em forma de espetadas feitos na rua, doces de amendoim e coco feitos em casa, toda a gente tenta vender qualquer coisa, á noite parece que não se dorme, as ruas ficam apinhadas de gente, encontrei-me com muitos descendentes de Portugueses e em Santos os donos das Padarias eram os Portugueses assim como de muitas outros comércios , uma das únicas coisas que eu não gostei foi de ver todas as paredes pintadas com grafites muito rascas ainda se fossem bonitos mas não passavam de gatafunhos que apenas servem para tirar o brilho a um grande País.

Espero um dia voltar e visitar todos os meus amigos e familiares. Por esta altura comprei também o meu primeiro carro em segunda mão um Ford Fiesta vermelho 1200 de cilindrada fiz logo o seguro e pratiquei bastante a condução e passeei bastante. Logo que o primeiro ministro José Sócrates entrou para o governo e criou as novas oportunidades eu resolvi inscrever-me mais vale ter a mente ocupada a aprender do que pensar no passado fiz o nono ano no RVCC de Valongo onde ao mostrar as minhas competências tive que me esforçar e fazer pesquisa e com isso aprendi a ser mais empenhada e ater mais atenção ao que faço no meu dia a dia , terminei o nono ano com aproveitamento . E já agora chegou a hora de eu realizar o meu sonho de criança. Aprender violino, na igreja temos a possibilidade de aprender vários instrumentos gratuitamente, não é fácil mas eu já toco qualquer coisa e com empenho breve estarei naquela que é a maior orquestra do Mundo, Com cerca de 250.000 músicos em todo Mundo, temos 400 hinos de adultos e 50 de jovens e menores . Igreja evangélica é berço de músicos eruditos.

Foi nos bancos da igreja evangélica Congregação Cristã no Brasil que o violinista Davi Graton, teve as primeiras lições de música. "Comecei a tocar para servir a Deus, não pensava em seguir carreira", diz Graton, que hoje é concertino da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), considerada a melhor do país. Como Graton, muitos integrantes de orquestras paulistas começaram a aprender música na Congregação, igrejas que mais formam instrumentistas, segundo maestros e professores ouvidos pela Folha. Louvar o Senhor é justificativa comum nas fichas de inscrição da Escola Municipal de Música. "Tem aluno que entrou sem ter ouvido Mozart, só conhecia música de igreja", afirma o diretor Henrique Autran Dourado. Selecionado para a Academia de Música da Osesp, o violinista Djavan dos Santos, 22, atribui seu talento à inspiração divina. "Orei e aprendi em um estalo o que não consegui em meses." Santos e os outros dois violinistas da Academia são da Congregação, apesar de a doutrina vetar a profissionalização. Segundo um documento da igreja, o fiel trabalha como músico não pode tocar nos cultos. “Aos que já estão nessa profissão, aconselhamos orar para que Deus”.

Também neste ano em que nos encontramos resolvi fazer o décimo segundo ano pelo RVCC fiz uma pré avaliação que não correu muito mal tirando claro a parte da língua estrangeira, depois fui chamada a uma entrevista e comecei o programa de inicio correu tudo bem mas na ultima parte comecei a ficar deprimida por ter que estar sempre a recordar o passado cada vês que ia escrever , escrevia duas linhas e logo parava e quando eu menos esperava tive que ser hospitalizada nada me faria prever que não

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passava de uma simples dor de barriga fui ao Hospital Valongo onde eu disse que comi umas ameixas que me fizeram , medicaram-me e mandaram-me embora á noite tive que recorrer novamente ao hospital de Valongo tornaram a medicar-me e tornaram a mandar-me embora nessa mesma seita feira á noite dei entrada de urgência no hospital de S. João onde a médica me fez um exame de apalpação na barriga e me disse logo que o que eu tinha era mais que uma simples dor de barriga , fiz uma radiografia exames ao sangue e logo de seguida uma eco grafia no final dos exames disseram-me que eu tinha que ficar internada para ser operada a uma apendicite aguda puseram-me logo a soro e no sábado de manhã fui para o bloco operatório onde fui muito bem tratada , quando acordei estava no recobro onde me comunicaram que para alem da apendicite me tinham também tirado uma trompa devido á grande infecção em que se encontravam estes dois órgãos, estive 9 dias no hospital pois não conseguia comer e quando comecei a comer vomitava tudo por isso estive sempre a soro para alem dos restantes medicamento , o meu intestino também demorou 10 dias para funcionar nesse tempo emagreci 5 kg mas vinha com uma barriga que parecia que estava grávida ao voltar a casa continuei a fazer os curativos e a tomar medicação para as dores para alem de um antibiótico que ao fim de dez dias me provocou uma crise hepática mas lá vou recuperando a pouco e pouco.

O problema tem sido mesmo acabar este trabalho, pois tenho tido outro problema grave em mãos algo que eu ainda não falei aqui o grave problema de saúde do meu filho porque existem coisas que nos custam mesmo falar por volta dos dezoito anos devido a certas coisas que o meu filho tomou manifestou-se nele a esquizofrenia que é uma doença do foro mental e é hereditária infelizmente foi passada do meu sogro para o meu filho e a verdade é que é muito complicado lidar com este problema, já se passou tanta coisa na minha vida, mas eu não sei como lidar com este problema neste momento é ate impensável eu poder fazer alguma coisa, pois ele está bastante violento e tem vindo a ameaçar-me de morte.

Gostaria sobre algo incompreensível por casos como o do meu filho existem muitos neste Paìs, estão a pagar-lhe um quarto, estão a pagar lhe a comida e ainda lhe entrega um cheque mensal que ele gasta de uma vez e depois anda alterado porque não se sabe governar e anda o resto do mês teso e ainda por cima me dizem que ele não pode andar sem ser medicado mas não o podem obrigar a tomar a medicação , porque é que não se constrói lares próprios para esta gente onde se lhes daria uma verba diária para as suas despesas mas em troca eles teriam que tomar a medicação pois toda a gente sabe que um esquizofrênico medicado é uma pessoa normal . Não consigo perceber as leis deste Pais onde se deixa que pessoas doentes façam o que querem e só quando eles cometem um crime são internados algum tempo e depois são novamente postos em liberdade.

O que é esquizofrenia? ‘A esquizofrenia é uma desordem cerebral crônica, grave e incapacitante, que afeta em torno de 1% da população. Pessoas com esquizofrenia podem escutar vozes e acreditar que outros estão lendo e controlando seus pensamentos ou conspirando para prejudicá-las. Essas experiências são aterrorizantes e podem causar medo, recolhimento ou agitação extrema. Pessoas com esquizofrenia podem ter falas que não fazem sentido, ficarem sentadas por horas sem se mover ou falando muito pouco, ou podem parecer perfeitamente bem até falarem o que realmente estão pensando. Uma vez que muitas pessoas com esquizofrenia podem ter

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dificuldade de manter um emprego ou cuidar de sim mesmas, a carga em sua família pode ser significativa’.

No final deste Port-fólio pergunto-me para que me serve todo este trabalho talvez para subir na carreira, para ter mais um diploma na gaveta, para concluir um sonho pois eu sempre quis estudar, não sei, sãos muitos, mas uma coisa eu conclui foi um exame psicológico á minha consciência, uma volta ao passado um tempo de aprendizagem com as coisas boas e más, muitas coisas ficaram por dizer eu preferia ter escrito de outra forma mas tive que seguir um fio condutor indicado pela Dr. Anabela gostei de ter entrado neste programa, gostei das explicações dos técnicos, foi mais uma experiência na minha vida.

CRISTINA PIMENTA MIGUEIS GOMES

Ano de 2008 - 08 - 16 - Ermesinde - Portugal

Fim

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MINHAS IRMÃS E IRMÃO

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