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Organizadores: José Maria Cardoso da Silva Marcelo Tabarelli Mônica Tavares da Fonseca Lívia Vanucci Lins Biodiversidade da CAATINGA: áreas e ações prioritárias para a conservação Ministério do Meio Ambiente Universidade Federal de Pernambuco, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE, Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas, EMBRAPA Semi-Árido Brasília, DF 2003 Sem título-3 9/12/2003, 14:32 3

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Organizadores:

José Maria Cardoso da Silva

Marcelo Tabarelli

Mônica Tavares da Fonseca

Lívia Vanucci Lins

Biodiversidade daCAATINGA:áreas e ações prioritárias para a conservação

Ministério do Meio Ambiente

Universidade Federal de Pernambuco, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE,

Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas, EMBRAPA Semi-Árido

Brasília, DF2003

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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidente: Luiz Inácio Lula da SilvaVice-Presidente: José Alencar Gomes da Silva

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Ministro: Maria Osmarina Marina da SilvaSecretário-Executivo: Cláudio Roberto Bertoldo Langone

SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS

Secretário: João Paulo CapobiancoDiretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade: Paulo Kageyama

PROBIO – Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica BrasileiraGerente: Daniela Oliveira

CONSÓRCIO COORDENADOR:Universidade Federal de Pernambuco, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE,

Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas, EMBRAPA Semi-Árido

Fotos gentilmente cedidas por:Adriano Gambarini, André Pessoa, Fábio Olmos, Fundação Biodiversitas,

Gisela Herrmann, Miguel Rodrigues e Zig Koch

Produção Gráfica:Código Comunicação

Projeto Gráfico e Editoração:Rafael Vicente Ferreira

APOIO:Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO;

Global Environment Facility – GEF;Banco Mundial – BIRD;

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq;Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD – Projeto BRA 00-021.

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Cristina de Vasconcellos – CRB / 6 - 505

Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para aB615 conservação/organizadores: José Maria Cardoso da

Silva, Marcelo Tabarelli, Mônica Tavares da Fonseca, LíviaVanucci Lins – Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente:Universidade Federal de Pernambuco, 2003.382 p.: il., fots., maps., grafs., tabs.

Este trabalho foi realizado pelo Ministério do Meio Ambienteem colaboração com a Univ. Fed. de Pernambuco, Fundaçãode Apoio ao Desenvolvimento da UFPE, Conservation Interna-tional do Brasil, Fundação Biodiversitas, Embrapa Semi-Árido.

ISBN: 85-87166-47-6

1. Caatinga. 2. Diversidade biológica. 3. Conservação danatureza. 4. Meio ambiente. I. Silva, José Maria Cardoso da.II. Tabarelli, Marcelo. III. Fonseca, Mônica Tavares da. IV. Lins,Lívia Vanucci.

CDU : 502.74

Ministério do Meio Ambiente - MMACentro de Informação e Documentação Luiz Eduardo Magalhães / CID Ambiental

Esplanada dos Ministérios - Bloco B - térreo70068-900 Brasília-DF

Tel: 55 61 317-1235 - Fax: 55 61 224-5222e-mail: [email protected] - homepage: http://www.mma.gov.br/

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SUMÁRIO

Apresentação .............................................................................................................................................................. 7Introdução ................................................................................................................................................................... 9O processo de seleção de áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ............................... 11

Parte I - Fatores Abióticos .................................................................................................................................. 15As paisagens e o processo de degradação do semi-árido nordestino ........................................................... 17Fatores abióticos: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ................................................. 37

Parte II - Vegetação ............................................................................................................................................... 45Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga ........................................................................................... 47Quanto ainda resta da Caatinga? Uma estimativa preliminar ................................................................................ 91Conhecimento Sobre Plantas Lenhosas da Caatinga: lacunas geográficas e ecológicas ................................ 101Vegetação: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ............................................................ 113

Parte III - Fauna ....................................................................................................................................................... 133Invertebrados da Caatinga ........................................................................................................................................ 135Invertebrados: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ...................................................... 141Diversidade e conservação dos peixes da Caatinga ............................................................................................ 149Biota Aquática: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ..................................................... 163Fauna de répteis e anfíbios das Caatingas .............................................................................................................. 173Anfíbios e Répteis: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ............................................... 181As aves da Caatinga .................................................................................................................................................... 189Aves: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ...................................................................... 251Diversidade de mamíferos e o estabelecimento de áreas prioritárias para a conservaçãodo bioma Caatinga ..................................................................................................................................................... 263Mamíferos: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ............................................................. 283

Parte IV - Sócio-Economia e Políticas Públicas para o Desenvolvimento Sustentável ............... 293As unidades de conservação do bioma Caatinga ................................................................................................ 295Unidades de conservação: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga ................................ 301Desenvolvimento regional e pressões antrópicas no bioma Caatinga ............................................................... 311Pressões antrópicas atuais e futuras no bioma Caatinga ....................................................................................... 325Estratégias para o uso sustentável da biodiversidade no bioma Caatinga ........................................................ 329Recomendações para o uso sustentável da biodiversidade no bioma Caatinga ............................................ 341

Parte V - Síntese e recomendações .................................................................................................................. 347Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade na Caatinga ............................................... 349Recomendações gerais para políticas públicas ..................................................................................................... 375

Lista geral dos participantes do seminário .............................................................................................................. 381

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Entre 21 e 26 de maio de 2000, o Ministério do Meio Ambiente apoiou a realização

em Petrolina, Pernambuco, do workshop “Avaliação e Ações Prioritárias para Conservação

da Biodiversidade na Caatinga”, inserido no esforço de ampliação do conhecimento dos

diferentes biomas brasileiros e na indicação de ações e áreas prioritárias para sua

conservação. Esse workshop contou com a participação de 140 pesquisadores que

geraram uma formidável gama de informações sobre o estado de conhecimento e as

lacunas de informação desse bioma, até então possivelmente o mais desconhecido do

país. As conclusões do trabalho foram sintetizadas e publicadas por este Ministério sob a

forma de um sumário executivo e compondo o livro Biodiversidade Brasileira – Avaliação

e Identificação de Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e

Repartição dos Benefícios da Biodiversidade Brasileira.

Agora o Ministério do Meio Ambiente torna disponível, em sua íntegra, para os

diferentes órgãos governamentais, para as universidades, organizações não governamentais

e o público em geral, os textos específicos que embasaram as indicações de áreas

prioritárias, de ações e de políticas públicas para a conservação da biodiversidade da

Caatinga, geradas previamente e durante o workshop. Estes textos agregam informações

bióticas (flora, invertebrados, biota aquática, répteis e anfíbios, aves e mamíferos) às não

bióticas (estratégias de conservação, fatores abióticos, pressão antrópica e desenvolvimento

regional, e uso sustentável da biodiversidade). A estes foram agregados também os

resultados gerados pela integração e reestruturação dos dados obtidos, os quais foram

trabalhados por grupos interdisciplinares, agrupados por regiões pré-definidas: Maranhão/

Piauí; Ceará; Rio Grande do Norte/Paraíba; Pernambuco/Alagoas; e Sergipe/Bahia/

Minas Gerais. Além dos grupos regionais, foi formado um grupo integrador para combinar

todas as recomendações propostas pelos grupos temáticos em um conjunto único de

propostas de políticas públicas para a conservação da biodiversidade da Caatinga e no

mapa geral de prioridades.

É importante destacar o esforço que resultou na presente publicação, porque,

sobretudo, ela nos revela a riqueza da Caatinga, desmistificando o conceito até então

usual de que este bioma (o único exclusivamente brasileiro e que abrange uma área de

734.478km2), é estéril e pobre em biodiversidade. Na verdade, somente de caatingas são

reconhecidas 12 tipologias diferentes, as quais despertam atenção especial pelos exemplos

fascinantes de adaptação aos hábitats semi-áridos. Estima-se que pelo menos 932 espécies

vegetais foram registradas na região, sendo 318 delas endêmicas. O mesmo acontece

com outros grupos, como o de aves, com 348 espécies registradas, das quais 15 espécies

e 45 subespécies foram identificadas como endêmicas. E, ainda, dos répteis, sendo de

considerável destaque duas áreas de dunas do Médio São Francisco (Campos de dunas

de Xique-Xique e Santo Inácio, e Campos de dunas de Casanova), onde concentram-se

APRESENTAÇÃO

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conjuntos únicos de espécies endêmicas. Por exemplo, das 41 espécies de lagartos e

anfisbenídeos registradas para o conjunto de áreas de dunas, praticamente 40% são

endêmicas. Além disso, quatro gêneros são também exclusivos da área.

Finalmente, gostaria de registrar que todo este trabalho resultou de uma parceria

entre o Ministério do Meio Ambiente, no âmbito do Projeto de Conservação e de Utilização

Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO, e o consórcio formado pela

Universidade Federal de Pernambuco, Fundação Biodiversitas, Conservation International

do Brasil e Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de

Pernambuco, com o apoio da Embrapa Semi-Árido, além da inestimável cooperação

de tantos e tantos pesquisadores que contribuíram com seu saber para que este livro

pudesse ser gerado.

Marina SilvaMinistra do Meio Ambiente

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INTRODUÇÃO:

A Caatinga ocupa uma área de 734.478km2, e é o único bioma exclusivamente

brasileiro. Isso significa que grande parte do patrimônio biológico dessa região não é

encontrada em nenhum outro lugar do mundo além do Nordeste do Brasil. Essa posição

única entre os biomas brasileiros não foi suficiente para garantir à Caatinga o destaque

que merece. Ao contrário, a Caatinga tem sido sempre colocada em segundo plano quando

se discutem políticas para o estudo e a conservação da biodiversidade do país.

Alguns mitos foram criados em torno da biodiversidade da Caatinga e três deles são

comumente mencionados: 1. é homogênea; 2. sua biota é pobre em espécies e em

endemismos; e, 3. contudo, está ainda pouco alterada. Esses três mitos podem agora ser

considerados superados, pois a Caatinga não é homogênea; é sim extremamente

heterogênea e inclui pelo menos uma centena de diferentes tipos de paisagens únicas.

A biota da Caatinga não é pobre em espécies e em endemismos, pois, apesar de ser

ainda muito mal conhecida, é mais diversa que qualquer outro bioma no mundo, o qual

esteja exposto às mesmas condições de clima e de solo. Enfim: a Caatinga não é pouco

alterada; está entre os biomas brasileiros mais degradados pelo homem.

Promover a conservação da biodiversidade da Caatinga não é uma ação simples,

uma vez que grandes obstáculos precisam ser superados. O primeiro deles é a falta de

um sistema regional eficiente de áreas protegidas, visto nenhum outro bioma brasileiro

ter tão poucas unidades de conservação de proteção integral quanto a Caatinga. O segundo

é a falta de inclusão do componente ambiental nos planos regionais de desenvolvimento.

Assim, as sucessivas ações governamentais para melhorar a qualidade de vida da população

sertaneja contribuíram cada vez mais com a destruição de recursos biológicos. E isso,

por conseguinte, não trouxe nenhum benefício concreto para a população que vive na

Caatinga, haja visto ela continuar apresentando os piores indicadores de qualidade de

vida do Brasil. A combinação de falta de proteção e de perda contínua de recursos

biológicos faz que a extinção seja a norma entre as espécies exclusivas da Caatinga.

A extinção, na natureza, da carismática ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), no final do ano

2000, por exemplo, é apenas um entre os milhares de eventos de extinção que devem ter

ocorrido na região nos últimos séculos.

A identificação de áreas e de ações prioritárias tem-se mostrado um valioso instrumento

para conservação e proteção da biodiversidade no Brasil e no mundo. Para construir essa

estratégia foi criado o subprojeto Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da

Biodiversidade da Caatinga, parte do projeto Conservação e Utilização Sustentável da

Diversidade Biológica Brasileira – PROBIO-MMA. Todos os biomas brasileiros estão sendo

contemplados por esses estudos, em cumprimento às obrigações do país em relação à

Convenção sobre Diversidade Biológica, firmada durante a Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD (Rio de Janeiro, 1992).

Zig

Koch

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Os objetivos específicos desse subprojeto são: 1. consolidar as informações sobre

a diversidade biológica da Caatinga e detectar lacunas de conhecimento; 2. Identificar

áreas e ações prioritárias de conservação, com base em critérios de importância biológica,

de integridade dos ecossistemas e de oportunidades para ações de conservação da

biodiversidade; 3. evidenciar e avaliar alternativas de utilização dos recursos naturais que

possam ser compatíveis com a conservação da biodiversidade; 4. promover movimento

de conscientização e de participação efetiva da sociedade relativo à conservação da

biodiversidade desse bioma.

Tal iniciativa é pioneira, no gênero, para a Caatinga, e fornece, portanto, um primeiro

diagnóstico desse bioma. Ainda que não seja completo, pois alguns dos temas não foram

discutidos de forma aprofundada, esse diagnóstico é certamente suficiente para direcionar

as políticas ambientais da região, bem como para agilizar a execução de medidas essenciais

à garantia de conservação, a longo prazo, da biodiversidade da Caatinga.

O citado subprojeto foi conduzido por meio do consórcio entre a Universidade

Federal de Pernambuco - UFPE (Coordenação-Geral); a Fundação Biodiversitas; a

Conservation International do Brasil; e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE.

A esses órgãos se juntou, durante a fase de reunião de trabalho, a EMBRAPA Semi-Árido.

Essa integração de instituições é responsável por todas as etapas de planejamento e de

execução do subprojeto, assim como pelo posterior acompanhamento da implementação

dos resultados. A iniciativa recebeu também o apoio da Secretaria de Meio Ambiente,

Ciência e Tecnologia de Pernambuco; da ADENE (Agência de Desenvolvimento do

Nordeste); da Prefeitura Municipal de Petrolina e da Universidade Federal Rural de

Pernambuco.

Além do mapa síntese contendo as áreas prioritárias indicadas para a conservação

da biodiversidade da Caatinga e das recomendações sugeridas para o uso sustentável

desse bioma, a presente publicação inclui, também, os documentos gerados pelos

coordenadores dos grupos temáticos para subsidiar o trabalho dos mesmos durante o

seminário de consulta (workshop da Caatinga).

O livro está estruturado em cinco partes, de acordo com os grandes temas

abordados: fatores abióticos, vegetação, fauna, desenvolvimento regional e pressões

antrópicas, e síntese e recomendações.

Para cada área temática existem dois capítulos: o primeiro contém o documento

elaborado pelo coordenador e o segundo inclui o mapa com as áreas prioritárias indicadas;

uma breve descrição dessas áreas, contendo, além do seu nível de importância biológica

e da ação recomendada para sua conservação, a sua localização, os hábitats abrangidos,

os elementos utilizados para seu diagnóstico, os fatores de vulnerabilidade e a justificativa

para sua indicação.

José Maria Cardoso da SilvaUniversidade Federal de PernambucoConservation International do Brasil

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José Maria Cardoso da SilvaUniversidade Federal de Pernambuco

Conservation International do Brasil

Marcelo TabarelliUniversidade Federal de Pernambuco

Mônica Tavares da FonsecaConservation International do Brasil

O processo deseleção de áreas

e ações prioritárias para aconservação da Caatinga

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A metodologia utilizada nosubprojeto se baseia no programa deworkshops regionais da ConservationInternational. Consiste basicamente nareunião de um conjunto de informaçõesbiológicas, sociais e econômicas da região,que irão subsidiar a definição – fornecidapor um grupo de especialistas de diversasdisciplinas que trabalham de formaparticipativa – de áreas e de açõesprioritárias de conservação.

Para esse subprojeto tomou-secomo parâmetro de delimitação daCaatinga toda a região do Nordestebrasileiro dominada pela vegetação do tipo‘savana estépica’, conforme constante nomapa Vegetação do Brasil (escala1:5.000.000) elaborado pelo IBGE. Osenclaves de florestas na Caatinga,

conhecidos regionalmente como brejos,não foram tratados por já terem sidodiscutidos detalhadamente no subprojetoMata Atlântica e Campos Sulinos. Asbordas da Caatinga, com os biomasadjacentes, não são algo simples de sertraçado, pois caracterizam-se pelapresença de mosaicos complexos devegetações distintas. Assim, áreas detransição foram também incorporadas aosestudos de forma que complementassemos resultados dos subprojetos similaresfeitos para a Mata Atlântica e CamposSulinos, para a Amazônia e para o Cerradoe o Pantanal.

O subprojeto foi estruturado emquatro fases:

• preparatória;

• decisória;

• processamento e síntese dos resultados;

• divulgação e acompanhamento daimplementação dos resultados.

Fase preparatóriaConsistiu no levantamento, na

sistematização e no diagnóstico dasinformações biológicas e socioeco-nômicas, assim como no levantamento deunidades de conservação, de áreasalteradas, de estratégias de conservação(políticas públicas e legislação), depráticas de uso sustentável e de fatoresfísicos. Essas informações, em forma dedocumentos, de base de dados e demapas, foram obtidas a partir de extensapesquisa bibliográfica e de consulta aespecialistas. Para cada um dos grupostaxonômicos analisados (flora, inver-tebrados, biota aquática, anfíbios erépteis, aves e mamíferos) foramelaborados mapas de conhecimento e dedistribuição de elementos especiais dabiodiversidade, ou seja, de espéciesendêmicas, raras e ameaçadas deextinção, na Caatinga. Além dasinformações biológicas, também foram

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mapeados vários fatores ambientais(clima, solo, vegetação, áreas alteradas,altitude); as unidades de conservação; oíndice de pressão antrópica; e osprincipais eixos de desenvolvimento.

As informações compiladas nessafase, organizadas em relatórios técnicos eem mapas, serviram de base para a faseseguinte do subprojeto: a decisória.

Fase decisóriaA reunião de trabalho, etapa

decisória do processo, realizou-se nasdependências do campus de Pesquisa daEMBRAPA Semi-Árido, em Petrolina,Pernambuco, no período de 21 a 26 demaio de 2000. O evento contou com aparticipação de 140 especialistasrepresentantes de organizações gover-namentais e não governamentais, deinstituições de ensino e pesquisa e deempresas.

A dinâmica de trabalho envolveu,a princípio, a formação de seis grupostemáticos biológicos: flora, invertebrados,biota aquática, répteis e anfíbios, aves emamíferos, os quais discutiram o estadode conhecimento e as lacunas deinformação por área temática. Oscritérios adotados para a identificaçãodas áreas prioritárias de cada grupoforam: a distr ibuição e r iqueza deelementos especiais da biodiversidade, ea presença de fenômenos biológicosúnicos, tais como zonas de contato entrebiotas, áreas de repouso ou invernada demigrantes e de comunidades biológicasespeciais.

As áreas definidas pelos gruposforam então classificadas, de acordo comsua importância biológica, em quatrocategorias. Extrema importância, muitoalta importância e alta importância sãocategorias representativas de níveisdecrescentes de relevância biológica. Aquarta categoria, áreas de potencial

importância, mas ainda pouco co-nhecidas, engloba aquelas áreasaparentemente bem conservadas, as quaistêm, porém, enormes lacunas no que serefere ao estudo de suas biotas.

Outros quatro grupos não biológicos– estratégias de conservação; fatoresabióticos; pressão antrópica e desen-volvimento regional; e uso sustentável dabiodiversidade – reuniram-se ao mesmotempo em que os biológicos para discutiro assunto e propor alternativas bemespecíficas.

O grupo estratégias de conser-vação sugeriu novas áreas para a criaçãode unidades de conservação, com baseem análises de representatividade, deoportunidades e de ações específicas, paravárias unidades de conservação existentes.

O grupo fatores abióticos iden-tificou áreas de importância para a proteçãoe a manutenção de mananciais e deaqüíferos; áreas sob forte risco dedesertificação; e áreas sujeitas à exploraçãomineral.

O grupo pressão antrópica edesenvolvimento regional evidenciouáreas atualmente submetidas a fortepressão (áreas com alta pressão antrópica)e também futuros eixos de pressão.

Finalmente, o grupo uso susten-tável da biodiversidade advertiu sobrefatores que contribuem e fatores queprejudicam o uso sustentável dabiodiversidade da Caatinga, indicando, aomesmo tempo, os usos mais apropriadosdos recursos naturais da região.

Com o objetivo de facilitar aintegração dos resultados obtidos, em ummomento posterior os grupos temáticosreestruturam-se, por regiões predefinidas,em grupos multidisciplinares: Maranhão/Piauí; Ceará; Rio Grande do Norte/Paraíba;Pernambuco/Alagoas; e Sergipe/ Bahia/Minas Gerais. Cada grupo regional analisouos mapas propostos pelos grupos

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temáticos e organizou as informações emconformidade com o esquema a seguirdescrito.

• As áreas foram identificadas eclassificadas, segundo a relevânciabiológica, a partir da análise dos mapasproduzidos pelos grupos temáticosbiológicos.

• A ação prioritária para cada área foiproposta mediante a análise dos mapasde fatores bióticos e de estratégias deconservação.

• A urgência da implementação dasações sugeridas foi identificada pormeio do mapa traçado pelo grupopressão antrópica e desenvolvimentoregional.

Além dos grupos regionais, compôs-se também um grupo que integrasse todasas recomendações dos grupos temáticosem um conjunto de propostas de políticaspúblicas para a conservação dabiodiversidade da Caatinga.

Finalmente, na reunião plenária –última fase da reunião de trabalho – foramapresentados os resultados dos gruposintegradores regionais e discutidas asestratégias de conservação, asrecomendações de políticas públicas e omapa geral de prioridades.

Processamento e síntesedos resultados

Essa etapa do processo com-preendeu a revisão de todos os mapas edocumentos produzidos antes e depois dafase decisória. Foram conferidos eaperfeiçoados os mapas resultantes do

trabalho dos grupos temáticos eintegradores, bem como os bancostemáticos de informações de cada uma dasáreas prioritárias. Foram consolidadostambém todos os documentos e relatóriosproduzidos durante o subprojeto. Sãoprodutos do subprojeto o mapa, na formade pôster, com o mapa-síntese e os mapastemáticos; um relatório técnico em que sãoregistrados todos os documentosproduzidos e os resultados alcançadosdurante a execução do subprojeto; umapublicação dos mapas de prioridades e dasprincipais ações e recomendações para aconservação da Caatinga; e a presentepublicação.

Divulgação e acompanhamentoda implementação dos resultados

Os resultados vêm sendo ampla-mente veiculados nos diversos setores dogoverno, no setor privado, no meioacadêmico e na sociedade em geral.A divulgação do andamento e dos resultadosdo subprojeto, na íntegra, tal como outrasinformações, estão também disponíveis naInternet: (www.biodiversitas.org/caatinga).Para maior eficiência da difusão dosresultados, tanto quanto para amanutenção da interlocução técnica entreo governo e os diferentes setoresinteressados da sociedade, foi formadauma comissão de acompanhamento.Pretende-se, dessa maneira, garantir aampliação da divulgação de informaçõese a aplicação das recomendaçõesresultantes do subprojeto no sentido debuscar um envolvimento maior de pessoas,de comunidades e de entidades atuantesna Caatinga.

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Fatores Abióticos

Parte I

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As paisagens e oprocesso de

degradação dosemi-árido nordestino

Iêdo Bezerra Sá

Pesquisador EMBRAPA Semi-árido

Gilles Robert RichéPesquisador convênio EMBRAPA/ORSTOM

Georges André FotiusPesquisador convênio EMBRAPA/ORSTOM

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O presente capítulo apresenta umadescrição da diversidade de macro-paisagens do nordeste brasileiro, comênfase na região semi-árida, demonstrandoque, ao invés de ser uma paisagemmonótona e pouco diversificada, o semi-árido nordestino é extremamente diverso,tanto do ponto de vista de seus recursosnaturais como da sua dinâmica social.

Para tal, são apresentadas as etapasmetodológicas principais do ZoneamentoAgroecológico do Nordeste Brasileiro �ZANE (Silva et al. 1994), um sistemaproduzido pela EMBRAPA, que visacaracterizar e espacializar os diversosambientes em função da diversidade dosrecursos naturais e agrossocioeconômicos.Dentre outras aplicações, esse novoenfoque pretende fornecer melhororientação às ações de planejamentogovernamental, resultando, dessa forma,na racionalização da aplicação dosinvestimentos para conservação erecuperação do meio ambiente.

Além disso, este capítulo apresenta,a partir dos dados obtidos e organizadosno ZANE, uma estimativa, por sub-regiãoe por Estado, do processo de degradaçãoambiental do semi-árido nordestino.

INTRODUÇÃOA

dria

no G

amba

rini

Cactáceas da Caatinga

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Considerando que as ações depesquisa e de desenvolvimento ruralnecessitam da integração das investigaçõesinterdisciplinares de natureza agroeco-lógica e agrossocioeconômica, foidesenvolvida e aprimorada umametodologia de diagnóstico do meionatural e agrossocioeconômico, tendocomo base a Unidade Geoambiental � UG.

O conceito de UG compreenderealidades diversas, de acordo com asdisciplinas contempladas (geografia,ecologia, pedologia, etc.), porém aqueleque melhor se adapta às metas dodesenvolvimento rural, define a UG comouma entidade espacializada, na qual osubstrato (material de origem do solo), avegetação natural, o modelado (relevo) e anatureza e distribuição dos solos napaisagem constituem um conjunto cujavariabilidade é mínima, de acordo com aescala cartográfica. A ausência dereferência quanto às condições climáticas,deve-se ao fato de que a vegetação naturalfoi utilizada como indicador climático, umavez que reflete as condições dedisponibilidade hídrica do ambienteestudado.

As classes de solos e a disposiçãodestas na paisagem constituem a espinhadorsal da UG. Com efeito, as característicasdo solo e sua distribuição, principalmenteno contexto do clima semi-árido, sãofundamentais no que diz respeito àdinâmica da água (drenagem, retenção,resposta ao tipo de chuva, volume de soloexplorado pelo sistema radicular, etc.) e,condicionam, em grande parte, aintrodução de inovações tecnológicas oualterações nos sistemas de produção.

A caracterização das UGs foirealizada por meio de critérios deidentificação e de agregação. Os critériosde identificação, por ordem hierárquica,foram determinados segundo a vegetaçãonatural, o relevo e a seqüência dos solosna paisagem. Esses critérios foramconsiderados suficientes para caracterizaro potencial de ocupação do meioambiente. Os critérios de agregação �clima, recursos hídricos e quadroagrossocioeconômico � foram utilizadospara fortalecer a caracterização das UGs.

Considerando a extensão territorialda região e visando a melhor com-preensão do documento, as UGs foramagrupadas em unidades maiores. Paraisso, a região foi dividida em GrandesUnidades de Paisagem, baseando-se nascaracterísticas morfoestruturais e/ougeomorfológicas e geográficas tra-dicionalmente utilizadas.

Na denominação dessas unidades,procurou-se usar nomes já consagrados,que expressam o ambiente de maneirasimples e objetiva, como, por exemplo,Depressão Sertaneja, Chapadas Altas,Chapada Diamantina, Tabuleiros Lito-râneos, dentre outros.

A hierarquização das unidadesgeoambientais foi realizada a partir dasGrandes Unidades de Paisagem,ordenadas, preferencialmente, por níveldecrescente de altitude e de expressãogeográfica. Por sua vez, as UGs foramsequenciadas de acordo com a vegetaçãonatural, indo das regiões mais úmidas paraas mais secas, e das mais elevadas para asmais baixas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Diagnóstico do meio natural e agrossocioeconômico

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Roteiro de Trabalho

Com a finalidade de caracterizar asUGs e as Grandes Unidades de Paisagem,adotou-se um roteiro de trabalho quepermitiu fazer inter-relações entre as váriasinformações disponíveis a cerca dosrecursos naturais e agrossocioeco-nômicos.

Solo e Vegetação

O documento base utilizado pararealização deste trabalho foi o Mapa desolos do Nordeste, na escala 1:2.000.000,elaborado pela Coordenadoria RegionalNordeste da Embrapa - SNLCS (1973,1975a, 1975b,1976a, 1976b, 1977/79,1979, 1986a,1986b), e que apresenta umaescala compatível com a precisão desejadapara um zoneamento generalizado.

Para descrição das UGs foramconsultados, basicamente, os relatórios emapas da Embrapa - SNLCS referentes aoslevantamentos de solos em nívelexploratório-reconhecimento dos estadosdo Nordeste e do norte de Minas Gerais.Esses levantamentos contêm muitasinformações sobre os solos e sobre outrosparâmetros do meio natural. Documentosde sensoriamento remoto, como imagensde radar e de satélite, foram tambémutilizados em algumas áreas consideradasproblemáticas.

O relevo e os solos associados foramrepresentados em forma de perfismorfopedológicos (topossequências), demodo a oferecer um quadro o maisrepresentativo possível da UG. A vegetaçãonatural, utilizada no primeiro nível parasubdivisão das UGs, corresponde aosgrandes ambientes edafoclimáticos doNordeste, de acordo com os levantamentosrealizados pela Embrapa - SNLCS,Coordenadoria Nordeste: florestaperenifólia, floresta subperenifólia, florestacaducifólia, floresta subcaducifólia,cerrado, caatinga hipoxerófila e caatingahiperxerófila.

Clima

As informações sobre as condiçõespluviais representativas de cada UG foramobtidas do acervo informatizado de dadospluviais mensais do Nordeste (SUDENE1990a, 1990b, 1990c, 1990d, 1990e,1990f, 1990g). Cada uma das unidades foicaracterizada por um posto pluviométricorepresentativo, aqui considerado comosendo aquele que não apresentou valoresextremos nas médias pluviais mensais eanuais.

A visualização da distribuição dachuva foi feita na forma de histograma,indicando-se, ainda, o tipo climático e oinício e o fim do período chuvoso.

Recursos Hídricos

A estimativa do potencial emrecursos hídricos de cada UG foi realizadapor meio do levantamento de informaçõesrelativas aos recursos hídricos superficiaise sub-superficiais, tendo por base ostrabalhos da SUDENE (1969, 1977, 1978a,1978b, 1978c, 1978d, 1988).

Para a estimativa dos recursoshídricos superficiais foram considerados osdados disponíveis das vazões médias dosprincipais rios. Foram também acres-centados outros rios e/ou riachos quecortam as UGs, mas cujos dados dasvazões médias não estão disponíveis.A capacidade máxima de armazenamentodos açudes públicos foi indicada. Não foipossível incluir a potencialidade dos açudes

Serra Branca, Jeremoabo - BA

Zig

Koch

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particulares, que, apesar de teremcapacidade de armazenamento menorquando comparados com os açudespúblicos, ocorrem em maior número(superior a 70.000), e estão espalhados portoda a região semi-árida.

A qualidade da água foi classificadade acordo Holanda et al. (2001),considerando-se a concentração em sais(C) e a taxa relativa de sódio (S), segundoos níveis abaixo:

(a) Risco de salinização: C1 � baixo; C2 �médio; C3 � alto; C4 � muito alto.

(b) Risco de alcalinização: S1 � baixo;S2 � médio; S3 � alto; S4 � muito alto.

Para a estimativa dos recursoshídricos sub-superficiais avaliou-se, paracada UG, o potencial hidrogeológico e foirealizado um inventário sobre os poçosexistentes (quantidade, profundidade,vazão e qualidade da água).

Recursos agrossocioeconômicos

O zoneamento é um instrumentoutilizado para elaborar um prognósticocapaz de gerir melhor o aproveitamentodos recursos naturais. Esse aproveitamentovai depender das potencialidades elimitações dos recursos naturais, dasituação de ocupação do espaço e dosobjetivos e estratégias de agentes sociais.O segmento de recursos agrossocio-econômicos caracteriza estes dois últimosaspectos.

O sistema agrário visa caracterizar asgrandes coerências e características deuma UG. Discorre-se sobre a zonacacaueira, a zona da cana, etc. O sistemade produção, próximo do conceito deunidade de produção, tenta identificar asdiferentes estruturas de produção de base:produção, empresas rurais, plantaçõestradicionais e agroindústria.

A integração no mercado, que setraduz em nível de intensificação demodernização, foi o critério principal.

A apreciação foi qualitativa e procurou-seagregar a esse aspecto dados quantitativosreferentes às principais produções eatividades, à densidade demográfica e àestrutura fundiária. Esses dados foramlevantados para os municípios localizadosdentro de cada UG. Como produçãoprincipal foram considerados aquelesprodutos com maior abrangência emtermos de área, dentro dos municípios.

No cálculo da densidade demo-gráfica, dividiu-se o número de habitantesdos municípios localizados dentro de cadaUG pela área total, classificando-se,posteriormente, o número de habitantes/km2 em: < 10 � muito fraca; 10-20 � fraca;20-50 � média; 50-100 � forte; > 100 �muito forte. Na estrutura fundiária, osestabelecimentos foram estratificados emtrês categorias: < 50 hectares; 50-500hectares; > 500 hectares. Foramcalculados o percentual das propriedadese a área ocupada dentro de cada estrato.A distribuição dos estabelecimentos e aárea explorada em relação à condição doprodutor (proprietário, arrendatário,parceiro e ocupante) também foramlevantadas.

Organização do mapa

O mapa foi elaborado na escala1:2.000.000, onde os padrões de coresrepresentam as 20 Grandes Unidades dePaisagem, que, por sua vez, são divididasem 172 UGs. Estas são delimitadas portraços simples e identificadas por notaçãoalfanumérica, onde a letra maiúscularepresenta a Grande Unidade de Paisageme o número subscrito, o seqüencial da UG.

Zoneamento das áreas emprocesso de degradação ambientalno trópico semi-árido do Brasil

Com base no diagnóstico ambientale agrossocioeconômico da região foipossível desenvolver um estudo sobre as

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áreas que se encontram em processo dedegradação ambiental no Nordeste semi-árido, evidenciando uma escala dedegradação que vai desde as áreas combaixo nível de degradação até aquelas comnível severo, com ênfase na porção maisseca, que é o ambiente mais frágil (Sá etal. 1994, Riché et al. 1994a). Esse estudovisa contribuir com os setores deplanejamento nos níveis regional, estaduale municipal, como uma nova forma deplanejamento estratégico para a região.

Os critérios utilizados levam emconta as características dos solos e oimpacto do manejo sobre os mesmos.

Critérios edáficos

O componente solo constitui-se emum dos parâmetros essenciais para odiagnóstico da degradação ambiental notrópico semi-árido - TSA. Dentre os fatoresassociados às alterações ambientais, osmais importantes são a susceptibilidade àerosão e o tipo e a intensidade deexploração. Esse conjunto determina ograu de resistência às ações agropastorispredatórias.

O Zoneamento Agroecológico doNordeste (Silva et al. 1994) tem enfatizado

a grande diversidade de solos queocorrem no TSA, mostrando, con-sequentemente, um comportamentobastante diferenciado em relação àsusceptibilidade à erosão. A aplicação daEquação Universal de Perda de Solo(USLE) de Wischmeier (Wischmeier &Smith 1978) permite avaliar a quantidadede terra arrastada por ano em função dotipo de solo (Tabela 1).

Estes dados, associados a resultadosobtidos por métodos diretos e indiretos daavaliação da sensibilidade do solo à erosão,como grau de floculação, permeabilidade,evolução micromorfológica e topografia,permitem uma classificação da ero-dibilidade dos solos.

A escala de erodibilidade, segundo(Wischmeier & Smith 1978), é a seguinte:

(a) Erodibilidade baixa - latossolosamarelos e vermelho-amarelos,podzólicos distróficos, solos litólicos,solos aluviais e areias quartzosas;

(b) Erodibilidade moderada - latossolosvermelhos escuros, rendzinas eregossolos;

(c) Erodibilidade alta - podzólicoseutróficos, terras roxas estruturadas,planossolos e solonetz solodizados.

AQ = Areias quar tzosasLA = Latossolos amarelosPV = Podzólicos vermelho-amareloPE = Podzólicos eutróficosTRE =Ter ras roxas estruturadas

Tabela 1 - Erosão em solos do trópico semi-árido.(Parcelas padrão de 22,1m de comprimento, declive de 9%, mantidas aradas no sentido do declive)

Erosão Tipos e associações de solos(t/ha/ano) AQ LA PV PE TRE CE V BNC RE LI PL SS

Mínimo 0,01 2,5 12,5 2,5 37,5 25,0 12,5 5,0 12,5 25,0 50,0 87,5

Máximo 0,50 25,0 50,0 62,5 87,5 75,0 50,0 62,5 37,5 75,0 100,0 125,0

Média 0,25 13,7 31,2 32,5 62,5 50,0 31,5 33,5 25,0 37,5 75,0 105,0

CE = CambissolosV = Ver tissolosBNC =Bruno não cálcicosRE = Regossolos

LI = Litól icosPL = PlanossolosSS = Solonetz solodizados

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Critérios sobre o grau de manejo e deintensidade de exploração

A degradação ambiental não só semanifesta pela sensibilidade do solo à erosãomas, sobretudo, pelo uso a ele imposto.As observações de campo e a análise visualde documentos satelitários demonstram,nitidamente, que as áreas mais devastadascomportam solos de alta fertilidade que forame/ou estão sendo intensivamente explorados.Neste contexto, estão incluídos os solosbruno não cálcicos, sobretudo pelo cultivodo algodão, os solos podzólicos eutróficos esimilares, pelos cultivos de subsistência ecomerciais, principalmente a mamona, e osplanossolos, que embora sejam solos demédia a baixa fertilidade natural, por teremtextura leve e ocuparem relevos predo-minantemente planos e suavementeondulados, são bastante cultivados, inclusivecom uso de tração animal.

Qualificação da degradação ambientalO cruzamento dos dados associados

aos critérios acima expostos, estabelecemuma escala de quatro níveis de degradaçãoambiental para o TSA em sua porção maisseca: baixo, moderado, acentuado e severo(Sá et al. 1994, Riché et al. 1994b).

Espacialização das áreas atingidas pordegradação ambiental

Utilizando as informações temáticase a base cartográfica do ZoneamentoAgroecológico do Nordeste, foi elaboradoum documento gráfico, na escala de1:2.000.000, das áreas atingidas peladegradação ambiental. Também foramquantificadas estas áreas para cada estadodo Nordeste e para o Nordeste como umtodo, assim como a repartição nas micro-regiões homogêneas do IBGE (1981a,1981b, 1981c, 1981d, 1981e, 1981f, 1981g,1981h, 1981i, 1981j, 1982a, 1982b, 1982c,1982d, 1982e, 1982f), com seus respectivosmunicípios, unidades geoambientais e graude degradação ambiental.

Cultivo de palmas na Caatinga

Ad

riano

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barin

i

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A diversidade de paisagensno bioma Caatinga

A geografia convencional divide oNordeste brasileiro nas zonas litorânea,agreste e sertão. Estas duas últimasformam, essencialmente, a região semi-árida, abrangendo 70% da área doNordeste e 13% do Brasil, e comportando63% da população nordestina e 18% dapopulação brasileira. Apesar da idéia daexistência de uma região Nordestecastigada por repetidas secas, os estudos

mais detalhados têm demonstrado que aregião apresenta uma grande diversidadede quadros naturais e socioeconômicos.

A região semi-árida (ou domínio daCaatinga) compreende 925.043km2, ouseja, 55,6% do Nordeste brasileiro. Combase na interação entre vegetação e solo, aregião pode ser dividida nas seguintes zonas:domínio da vegetação hiperxerófila (34,3%);domínio da vegetação hipoxerófila (43,2%);ilhas úmidas (9,0%); e, agreste e área detransição (13,4%) (Figura 1) e (Tabela 2).

Figura 1Região semi-áridado NordesteBrasileiro

Ilhas úmidas

Escala Gráfica0 100 200 300 400 km

48º 44º 40º 36º

10º

14º

18º

ConvençõesCapitalLimite interestadual

LegendaDomínio davegetação hiperxerófila

Domínio davegetação hipoxerófila

Agreste e áreasde trânsição

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As ecorregiões do bioma Caatinga ouas Grandes Unidades de Paisagem,conforme estabelece o ZANE (Silva et al.1994), são as seguintes: Chapadas Altas;Chapada Diamantina; Planalto daBorborema; Superfícies Retrabalhadas;Depressão Sertaneja; Superfícies Dis-secadas dos Vales do Gurguéia, Parnaíba,Itapecuru e Tocantins; Bacias Sedimentares;Superfícies Cársticas; Áreas de DunasContinentais; e Maciços e Serras Baixas.

A Tabela 3 apresenta as GrandesUnidades de Paisagem com suasrespectivas áreas e o quanto representamno contexto do Nordeste.

Tabela 2 - Compartimentação ambiental do trópico semi-árido � TSA.

AgresteVegetação Vegetação Ilhas úmidas e área de Totalhiperxerófila hipoxerófila transição

Área (km2) 317.608 399.777 83.234 124.424 925.043

% Nordeste 19,09 24,04 5,00 7,48 55,61

% TSA 34,33 43,21 9,00 13,45 -

Segue uma breve descrição destasGrandes Unidades de Paisagem, com suascaracterísticas mais marcantes.

CHAPADAS ALTAS

Com altitude superior a 800 metros,as Chapadas Altas são formadas por platôsaltos e extensos, apresentando encostasíngremes e vales abertos. Têm grandeextensão no extremo oeste do estado daBahia (Gerais) e na região de Pirapora(MG), com solos profundos e pobrescobertos por vegetação de cerrado, ecortadas por veredas de rios perenes coma presença de burit izais nos soloshidromórficos.

De menor expressão, as chapadas doAraripe (PE/CE) e da Ibiapaba (CE)possuem solos profundos de baixafertilidade nos topos, com vegetaçãoflorestal de porte e caducidade variáveis,em transição para a caatinga. Nas encostaspredominam solos mais férteis sobvegetação natural de caatinga.

Nessa unidade ocorrem trêsregimes climáticos relativamente se-melhantes: o primeiro, com maiorpredominância, ocorre no oeste da Bahiae norte de Minas Gerais, com precipitaçãomédia anual superior a 1.000mm eperíodo chuvoso de outubro a abril; osegundo, na Serra da Ibiapaba (CE),também com precipitação média anualsuperior a 1.000mm e período chuvosode dezembro a junho; e o terceiro, noPlanalto da Borborema e na Chapada doAraripe (CE/PE), com precipitação médiaanual de 600 a 900mm e período chuvosode dezembro a maio.

A rede fluvial é formada por rios degrande potencial hídrico. Importantesafluentes do rio São Francisco cortamessa unidade de oeste para leste,sobretudo aqueles localizados nos Gerais,como os rios Branco, Grande, Corrente,Formoso e Carinhanha.

Tabela 3 - Grandes Unidades de Paisagem do semi-árido.

Grandes Unidades de Paisagem Área (km²) % do Nordeste

Depressão Ser taneja 368.216 22,16

Chapadas Altas 147.059 8,84

Superfícies Dissecadas dos Vales doGurguéia,Parnaíba, Itapecuru e Tocantins 110.782 6,66Superfícies Retrabalhadas 110.120 6,63

Chapada Diamantina 91.199 5,48

Superfícies Cársticas 76.917 4,62

Planalto da Borborema 43.460 2,61

Bacias Sedimentares 40.262 2,42

Maciços e Serras Baixas 35.439 2,13

Áreas de Dunas Continentais 9.846 0,59

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CHAPADA DIAMANTINA

Essa unidade forma um conjuntocontínuo de extensos platôs, com altitudesvariando de 600 a 1.300 metros. Ocupauma faixa de orientação norte-sul, indo docentro da Bahia até o norte de MinasGerais. O relevo é geralmente acidentado,porém com grandes superfícies planas dealtitude. Os solos são profundos e muitopobres nos topos dos platôs, e bastanterasos e pedregosos nas áreas de relevoacidentado. A vegetação varia bastante,sendo a maior parte recoberta pelacaatinga hipoxerófila, embora em MinasGerais predomine o cerrado. Na Bahia, afloresta ocupa trechos importantes naregião de Wagner e nos planaltos de Vitóriada Conquista, Poções e Planaltina.

Apresenta dois regimes climáticosdistintos: o primeiro ocorre no norte deMinas e na região de Seabra (BA), comperíodo chuvoso de altitude (outubro aabril) e precipitações médias anuais de 700a 1.100mm; o segundo ocorre na regiãode Apiramutá (BA), também com períodochuvoso de altitude, mas comprecipitações médias mensais superioresa 60mm � com médias anuais em tornode 1.100mm � não havendo período secocaracterístico. Esta Grande Unidade dePaisagem não apresenta rede fluvialorganizada, destacando-se apenas o rioPardo, cuja nascente está localizada naparte sul da mesma.

PLANALTO DABORBOREMA

Essa unidade é formada por maciçose outeiros altos, com altitudes variando de650 a 1.000 metros. Ocupa uma área emforma de arco, que se estende do sul deAlagoas até o Rio Grande do Norte.O relevo é geralmente movimentado, comvales profundos e estreitos. Os solos sãopouco profundos e de fertilidade bastantevariada, predominando, no entanto, ossolos de fertilidade média e alta.

A maior parte do planalto apresentavegetação de caatinga hipoxerófila, porémcom grandes áreas de caatinga bastanteseca nos Cariris e no Curimataú (PB).Trechos de florestas perenifólia, subca-ducifólia e caducifólia são observados nosbrejos de altitude dos contrafortes da parteleste do Planalto da Borborema.

A região é agreste no seu conjunto,sendo caracterizada por clima seco, muitoquente e semi-árido. A estação chuvosaadianta-se para o outono (fevereiro/março)e o período seco inicia-se em junho/julho.A precipitação média anual varia de 400 a650mm. Existem áreas com diferentesmicroclimas, como no município de Areia(PB), onde a precipitação média anual ésuperior a 1.300mm e o período chuvosoestende-se de janeiro a setembro.

A área é recortada por rios perenes,porém de pequena vazão, como os riosParaíba e Capibaribe, além de outros demenor expressão como o Ipojuca e oTracunhaém. Os açudes são numerosos,tendo sido levantados um total de 83, esão, na sua maioria, de tamanho médio epequeno, totalizando uma capacidade dearmazenamento de cerca de 962,4 milhõesde metros cúbicos. O potencial de águassubterrâneas é baixo, com predominânciade águas salinas.

SUPERFÍCIESRETRABALHADAS

Essa unidade é formada por áreasque têm sofrido retrabalhamento intenso,com relevo bastante dissecado e valesprofundos. Tem grande expressão naBahia, acompanhando a encosta orientalda Chapada Diamantina, com altitudevariando de 300 metros, próximo ao litoral,até 1.000 metros, na região de Brumado.Os solos são geralmente férteis nasencostas e pobres nos topos.

A vegetação é de floresta subpe-renifólia perto do litoral e na encosta doplanalto de Vitória da Conquista, e de

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caatinga hipoxerófila na região do rio deContas, com grandes trechos de florestacaducifólia no restante da área. Do ladoocidental da Chapada Diamantina, essaunidade ocupa uma faixa de menorextensão na divisa Bahia/Minas Gerais, comsolos férteis e vegetação de caatingahipoxerófila.

Ocorre também na região litorâneade Alagoas e Pernambuco, com altitudevariando entre 100 e 600 metros. EmPernambuco e no norte de Alagoas, éformada pelo �mar de morros� queantecede a chapada da Borborema, comsolos pobres e vegetação de florestasubperenifólia. Na calha do rio SãoFrancisco e na parte central de Sergipe,predominam solos mais férteis e vegetaçãode florestas subcaducifólia e caducifólia.

Os regimes climáticos são diferentesem função da posição geográfica. Noestado da Bahia, em áreas próximas aolitoral, o clima é quente e chuvoso, tendoo mês mais seco precipitação médiamensal superior a 60mm e média anual emtorno de 1.500mm. Na região da Zona da

Mata, o período chuvoso ocorre de janeiroa setembro com média anual em torno de1.200mm. Na região da bacia do rio deContas, a precipitação média anual é daordem de 650mm, com período chuvosode novembro a abril. No norte de MinasGerais, o clima é mais ameno, comprecipitação média anual em torno de850mm e período chuvoso de outubro aabril.

O potencial hídrico dessa unidade éconsiderado bom, sendo que a área écortada por alguns rios perenes, como osrios Cachoeira e Jequitinhonha, que sãoos de maior vazão, além de outros demenor porte, como os rios Paraguaçu ePardo.

O potencial de águas subterrâneasé alto em grande parte da área da unidade,com águas de qualidade regular.

DEPRESSÃO SERTANEJA

Trata-se de paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por umasuperfície de pediplanação bastante

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Dunas do São Francisco, BA

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monótona, com relevo predominante-mente suave ondulado, e cortada por valesestreitos com vertentes dissecadas.Elevações redisuais, cristas e/ou outeirospontuam a linha do horizonte. Esses relevosisolados testemunham os ciclos intensosde erosão que atingiram grande parte dosertão nordestino.

Em função da baixa pluviosidade, avegetação predominante é a caatingahipoxerófila nas área menos secas, e acaatinga hiperxerófila nas áreas de secamais acentuada.

Essa Grande Unidade de Paisagemocupa grande parte do estado do Ceará egrandes trechos nos estados do Rio Grandedo Norte, Paraíba e Pernambuco. Na Bahia,chega até Feira de Santana e, a leste, ocupatoda calha do rio São Francisco, até aregião de Pirapora (MG).

Na Depressão São-franciscana, aosul do lago de Sobradinho, predominamos solos arenosos, profundos e de baixafertilidade natural, com vegetação decaatinga hipoxerófila e trechos de florestacaducifólia em Santa Maria da Vitória eBom Jesus da Lapa (BA).

Na região do médio e baixo SãoFrancisco, o relevo é pouco dissecado, compequenas elevações residuais disse-minadas na paisagem. Os solos são de altafertilidade natural, mas geralmente sãocascalhentos e muito susceptíveis à erosão,e a vegetação é de caatinga muito seca(hiperxerófila).

Na região de Petrolina (PE), margemesquerda do rio São Francisco, predo-minam solos mais profundos de fertilidadenatural baixa e também com vegetação decaatinga hiperxerófila.

No sertão central da Bahia e nos sertõesde Alagoas e Sergipe o modelado é poucodissecado, com ocorrência de solos rasos, queapresentam problemas de salinidade.A vegetação é de caatinga hipoxerófila, comtrechos de floresta caducifólia.

Em parte do sertão central e leste doCeará e nos sertões de Piranhas (PB) e Itaú(RN), observam-se, em relevo poucomovimentado, solos rasos e pedregosos,porém de alta fertilidade natural e comvegetação de caatinga hiperxerófila.

No piemonte do norte do Araripe enos sertões das encostas das serras daIbiapaba e do alto Jaguaribe, predominarelevo bastante movimentado, com solosmedianamente profundos e de altafertilidade natural. A vegetação é decaatinga hipoxerófila com grandeocorrência de caatinga hiperxerófila nasdivisas do Rio Grande do Norte, Paraíba eCeará.

Nas regiões de Quixadá, GeneralSampaio, sudeste de Santa Quitéria eCrateús (CE), sertão centro-norte do RioGrande do Norte e parte do litoral norte doCeará, são observados, em relevo poucomovimentado, solos bastante erodidos,rasos e sujeitos a salinização. A vegetaçãoé de caatinga hiperxerófila e rala, passandoa predominar os carnaubais próximos aolitoral do Ceará. No agreste de Riachuelo(RN) a vegetação é de caatinga hipoxerófila.

Por toda essa Grande Unidade dePaisagem estão disseminados grandesafloramentos de granitos, em cujos sopésocorrem solos arenosos. A maiorconcentração desses afloramentoslocaliza-se nos sertões de Pernambuco eda Bahia.

O clima dessa unidade é quente,semi-árido e apresenta dois períodoschuvosos distintos: o primeiro, em maiorproporção, ocorre na região mais seca(sertão), com período chuvoso de outubroa abril; e o segundo ocorre na região declima mais ameno (agreste), com períodochuvoso de janeiro a junho. De modo geral,a precipitação média anual de toda a áreaé da ordem de 500 a 800mm.

O rio São Francisco e seus afluentes,além de outros rios de menor importância,cortam praticamente toda a unidade. Assim

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o potencial hídrico da área é elevado nasáreas marginais do rio São Francisco e seusafluentes perenes, e dos rios que formamoutras bacias menores (Jaguaribe, Pinhão,Açu, Paraguaçu, etc.).

O potencial hidrogeológico é baixona maior parte da área da unidade.Informações indicam que alguns poçostêm profundidade média de 60 metros evazão de 1,3 litros por segundo, sendo aságuas carregadas de sais, na maioria doscasos.

SUPERFÍCIES DISSECADASDOS VALES DO GURGUÉIA,PARNAÍBA, ITAPECURU ETOCANTINS

Essa unidade incorpora áreasdissecadas acompanhando os vales doGurguéia, do médio e baixo Parnaíba, doalto e médio Itapecuru e do médioTocantins, com altitudes variando entre300 e 560 metros. É formada por relevoondulado associado a áreas rebaixadase, em grande parte, com solos de baixafertilidade natural, concrecionários ounão. A vegetação é de mata sub-úmida(floresta subperenifólia) com e sembabaçuais.

Em trechos relativamente pequenos,são observados solos de fertilidade alta, emárea de relevo plano, suave ondulado eondulado, próximos aos rios Parnaíba eGurguéia (aluviões), nos municípios deElesbão Veloso, Esperantina, Miguel Leão,Joaquim Pires, Eliseu Martins e Redençãodo Gurguéia (PI), bem como no médioTocantins, nos municípios de Porto Francoe Imperatriz (MA).

O clima da área da unidade é do tipochuvoso, com período seco de cincomeses. As precipitações médias anuaisvariam de 900 a 1.500mm, ocorrendo, noestado do Piauí, as mais baixasprecipitações médias anuais. Em ambosestados, o período chuvoso concentra-sede outubro a maio.

O potencial hídrico dessa unidade éalto. Os rios Parnaíba, Itapecuru eTocantins, que constituem a espinha dorsaldessa unidade, são rios perenes e de vazãoelevada, e a estes juntam-se rios de menorexpressão, também perenes, como oGurguéia e outros importantes afluentesdos rios Itapecuru, Tocantins e Parnaíba.

O potencial das águas subterrâneasé geralmente alto, com água de boaqualidade. Entretanto, em alguns casos, opotencial mostrou-se baixo, com águascarregadas de sais.

BACIAS SEDIMENTARES

Essa unidade ocupa uma faixa deorientação sul-norte, de Salvador até acalha do rio São Francisco, tomando orumo nordeste já em Pernambuco, alémde pequenas áreas nos estados do Ceará,Pernambuco e Sergipe.

A bacia do Recôncavo Baiano, comrelevo ondulado, tem altitude entre 150 e300 metros, e solos de baixa fertilidadenatural, exceto pequenas áreas no extremosul, que são ocupadas por solos férteis(massapês). A vegetação é de florestaúmida (perenefólia).

A bacia do Tucano é formada porgrandes superfícies aplainadas, emaltitudes que variam de 400 a 600 metros,cujo trecho mais conhecido é o Raso daCatarina. Essas superfícies apresentamsolos profundos, bastantes arenosos e defertilidade natural muito baixa, sobvegetação de caatinga hiperxerófila ouhipoxerófila. O relevo tabular apresenta-serecortado por entalhes profundos em cujasbaixas encostas encontram-se solos maisférteis.

A bacia do Jatobá, em Pernambuco,tem relevo suave ondulado com altitudesentre 350 e 700 metros. Observa-segrande espalhamento de material arenosodando origem a solos profundos e muitopobres. Nas vertentes dos vales pre-

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dominam os solos cascalhentos, porém,mais férteis. A vegetação é de caatingahiperxerófila.

As �areias� de Mauriti, no Ceará,têm relevo pouco movimentado, comsolos bastante arenosos e pobres.A vegetação é de caatinga hipoxerófila,com trechos de mata seca (florestacaducifólia).

Os regimes climáticos são seg-mentados e bastantes distintos emfunção da localização dessas áreas.Na região do Recôncavo, o clima équente e chuvoso, com precipitaçãomédia mensal superior a 60mm e médiaanual de 1.450 a 1.800mm. Nas áreassemi-áridas da Bahia (Raso da Catarina),o clima é bastante quente e seco, commédia anual das precipitações em tornode 650mm e período chuvoso dedezembro a julho. Em Pernambuco (baciado Jatobá), o clima é mais seco ainda,com precipitação média anual em tornode 450mm e período chuvoso de janeiroa abril.

Esta unidade é cortada por riosimportantes como o Pojuca, o Itapecuru eo Vaza-Barris, na Bahia, e o Moxotó, emPernambuco.

O potencial de água subterrânea émuito variável em toda a unidade. Foramanalisados 249 poços, que apresentamprofundidade média de 45 metros e vazãomédia de 1,6 litros por segundo.A qualidade da água é, quase sempre, deboa a regular.

SUPERFÍCIES CÁRSTICAS

Essa unidade é formada por umagrande faixa descontínua, relacionada aocorrência de calcários, que recorta oNordeste desde Natal (RN) até Pirapora(MG), constituindo-se, ora em áreas dechapadas e chapadões, ora em relevo maisacidentado. Os solos nessas áreas são dealta fertilidade natural.

A chapada do Apodi (RN) apresentarelevo suave ondulado, com solos profundosou não, de alta fertilidade natural, sendo avegetação de caatinga hiperxerófila.

O chapadão de Irecê (BA) éconstituído por um vasto platô, comaltitudes que variam de 500 a 800 metros.Os solos nessa área são de alta fertilidadenatural, sob vegetação de caatingahiperxerófila. Esse platô prolonga-se paraoeste, em área plana de menor altitude(baixio de Irecê), onde aparecem solosprofundos, porém menos férteis, sobvegetação de caatinga hiperxerófila.

Com altitudes entre 400 e 900metros, as áreas dissecadas das encostasorientais dos Gerais (BA) e da bordaocidental do planalto do São Francisco(MG) apresentam solos de fertilidade alta,apesar de serem pouco espessos esuscetíveis à erosão, e vegetação de mataseca (floresta caducifólia).

Além dessas três áreas cársticas,existem outras pequenas áreas deafloramentos de calcário, todas com solosde alta fertilidade natural. As mais notáveisestão localizadas nas regiões de Juazeiro(BA), com vegetação de caatinga hiper-xerófila, e de Euclides da Cunha,Paripiranga, Rio Salitre e Malhada (BA), ePedra Mole (SE), com vegetação decaatinga hipoxerófila, além de Itaeté,Wagner e Utinga (BA), com vegetação defloresta caducifólia.

Em função de sua localizaçãogeográfica, essa unidade apresentapequena distinção climática. Assim, naregião norte de Minas Gerais, o períodochuvoso ocorre de outubro a abril, comprecipitação anual em torno de 1.000mm.Em Irecê, na Bahia, as chuvas têm inícioem novembro, com término em abril, emédia anual em torno de 650mm. Nachapada do Apodi (RN), o clima é maisseco, com período chuvoso de janeiro ajunho (550mm/ano). Nas áreas do sertãoda Bahia (Curaçá, Juazeiro, etc.) o clima

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é muito árido, com cerca de 450mm dechuva por ano ocorrendo entre os mesesde dezembro a abril.

Como é típico de áreas calcárias,essa unidade não apresenta rede fluvial or-ganizada, com exceção de alguns rioslocalizados em vales encaixados na regiãode Irecê (rios Verde e Jacaré) e no norte deMinas.

ÁREAS DE DUNASCONTINENTAIS

Essa unidade forma os �campos dedunas� de Casa Nova e Pilão Arcado, naBahia. São extensas formações dedepósitos eólicos, cuja altura podeultrapassar os 100 metros. Os solos,bastante arenosos, têm fertilidade naturalmuito baixa. Nas depressões interdunaresobservam-se, frequentemente, solos de

características hídricas mais favoráveis(veredas). A vegetação é de caatingahipoxerófila, com trechos de caatingamuito seca (hiperxerófila) na região deCasa Nova.

O clima é muito quente e semi-árido,com estação chuvosa de outubro a abril eprecipitação média anual em torno de800mm.

Pequenos e efêmeros riachosnascem e cortam as áreas dessa unidade,em direção ao rio São Francisco. Narealidade, as águas provenientes dasescassas chuvas e dos riachos constituemos únicos recursos hídricos da área.

O potencial hidrogeológico éconsiderado baixo e médio, e éinexpressivo o número de poçosatualmente existentes.

And

ré P

esso

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Parque Nacional Serra das Confusões - PI

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MACIÇOS E SERRAS BAIXAS

Com altitude entre 300 e 800 metros,essa unidade ocupa área expressiva nosestados do Ceará, Pernambuco, Paraíba eRio Grande do Norte. É formada pormaciços imponentes que se caracterizampor relevo pouco acidentado, com solosde alta fertilidade, os quais são bastanteaproveitados. A vegetação primitiva, hojemuito degradada, é variada, podendo serde florestas ou de caatingas.

Na Bahia, observam-se serrasbastante estreitas e compridas, deorientação geral norte-sul, que rompem amonotonia da vasta planície da DepressãoSertaneja. É o caso das serras do Estreitoe de Itiúba. Esses relevos são tambémnotados em outras regiões do Nordeste,como no alto do Jaguaribe, no Ceará, enos sertões paraibano e norte-rio-grandense. Os solos são geralmentepobres e com vegetação predominante decaatinga.

A área dessa unidade apresentadistinção climática em função da altitude,ou seja, áreas de clima mais ameno nascotas mais altas e de clima mais quente

nos sopés e encostas das serras emaciços. Essas áreas, no entanto,apresentam período chuvoso de janeiro amaio e precipitação média anual de 700a 900mm.

O relevo favorece bastante aimplantação de pequenas barragens.Foram levantados 62 açudes comcapacidade de armazenamento em tornode 736,2 milhões de metros cúbicos deágua de qualidade regular. O potencial deágua subterrânea é baixo, exceto empequenas áreas da Bahia, e as águas sãogeralmente bastante salinas e sódicas.

Características das áreas degradadase considerações sobre a dinâmicadas comunidades vegetais

Segundo os critérios utilizados, a áreado trópico semi-árido (TSA) afetada pordegradação ambiental é de mais de 20milhões de hectares, ou seja, cerca de 22%da área e 12% da região Nordeste (Tabela 4).Porém, o mais preocupante é que esta áreacrítica abrange quase 66% da região maisseca do TSA.

Tabela 4 - Escala de degradação ambiental e áreas atingidas na região Nordeste.

BNC = Bruno não cálcicosLI = Litólicos

Níveis de Tipos eSensibilidade Tempo de

Área mais NEdegradação associações Relevo à erosão ocupação seca do TSA (%) (%)ambiental de solos TSA (%)

Severo BNC Suave ondulado, ondulado For te Longo (algodão) 38,42 12,80 7,15

Acentuado LI Ondulado, for te Muito For te Recente cultura 10,23 3,40 1,90ondulado, montanha de subsistência

Moderado PE, Ondulado e for te Moderado Longo 10,21 3,40 1,89TRE, CE ondulado Cultivo comercial

MédioBaixo PL Plano e suave ondulado Moderado Pastagem e cultivo 7,07 2,35 1,89

de subsistência

TOTAL (20.364.900 hectares) 65,93 21,95 12,25

PE = Podzólicos eutróficosTRE = Terras roxas estruturadas

CE = CambissolosPL = Planossolos

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Para efeito de simplificação esseestudo baseou-se nos tipos de solospredominantes, que são os bruno nãocálcicos, litólicos, podzólicos eutróficos,terras roxas estruturadas, cambissolos eplanossolos.

Áreas de solos bruno não cálcicosAs áreas de solos bruno não cálcicos

com relevos ondulado e suave ondulado ecom grau de degradação severorepresentam mais de 38% da área maisseca do TSA. Embora nos dias atuais, hajadificuldade de se encontrar remanescentesda vegetação nativa em estágio clímax,vários são os indícios de que no passadoexistia uma mata seca de alto porte,dominada por baraúnas, aroeiras, pereirose catingueiras-verdadeiras. Num estado dedegradação acentuado, esta mata secareduziu-se a uma vegetação rala de juremassobre uma relva de capim-panasco.Quando em solos vérticos, observa-se,principalmente, uma ocupação maciça decatingueiras-verdadeiras e pereiros. Emcondições mais favoráveis, a vegetação ésemi-aberta com dominância dacatingueira-verdadeira, pinhão, favela-de-cachorro e pereiro.

Áreas de solos litólicosAs áreas de solos litólicos, em relevo

ondulado e forte ondulado, ocupam cercade 10% da zona mais seca do TSA eapresentam acentuado grau dedegradação. Dentre as formações vegetaisda caatinga hiperxerófila, a vegetação dosrelevos é, de modo geral, a menosdegradada. Porém, nos solos litólicos dosrelevos residuais que apresentamcondições climáticas mais amenas, avegetação sofre mais intensamente a açãodos cultivos.

Nos relevos de rochas cristalinas,desenvolve-se uma mata seca dominadapelo angico-brabo. As outras espécies

ocorrentes são, às vezes, esparsas, emfunção dos desmatamentos seletivos. Soba mata residual fechada, o estrato arbustivoé inexpressivo, contudo, qualquer tipo dedegradação acarreta o aparecimento domarmeleiro-preto, que se torna invasorquando a cobertura do estrato lenhoso altodiminui, e ao mesmo tempo, multiplicam-se os angicos, as favelas e, principalmente,a catingueira-verdadeira.

Devido à dificuldade de acesso àsáreas de solos litólicos em relevos residuais,os cultivos tradicionais nessas áreasprovocam riscos muito baixos dedegradação ambiental, salvo nas regiõesmuito povoadas, onde o abandono dasterras esgotadas das áreas baixas exige aexploração de novas áreas, trazendoconseqüências desastrosas, em função dosprocessos erosivos.

Áreas de solos podzólicos eutróficos,cambissolos e terras roxas estruturadas

Essas áreas ocupam cerca de 10%da região mais seca do TSA e apresentamum grau de degradação moderado. Ossolos possuem características físicas equímicas mais favoráveis que os demais,traduzindo-se pela dominância dacatingueira-rasteira no estrato arbustivo(boa drenagem), embora com ocorrência,às vezes significativa, da catingueira-verdadeira. Via de regra, a cobertura vegetalé densa e bastante diversificada, mesmoonde a degradação ambiental é acentuadae há predominância do estrato herbáceo.Em caso extremo de degradação, adiversidade florística é dramaticamentereduzida, chegando-se a ter apenas duasespécies.

Áreas de planossolosAs áreas de planossolos, em relevo

plano e suave ondulado, com grau dedegradação baixo, perfazem cerca de 7%da área mais seca do TSA. Por serem solos

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particularmente desfavoráveis aocrescimento das plantas, a caatinga nelesinstalada apresenta-se bastante rarefeita,embora condicionada pela espessura dohorizonte arenoso superficial. No caso dehorizonte espesso, cultivam-se plantasalimentícias pouco exigentes, em funçãoda sua fácil trabalhabilidade em sistemasde cultivo tradicionais. Sobre osplanossolos, a vegetação de caatinga nãoapresenta plantas lenhosas características,mas uma forte diminuição do número deespécies, cujos indivíduos encontram-sebastante espaçados e/ou agrupados empequenos bosques, com três ou quatroespécies básicas. No estrato herbáceo, aocontrário do que acontece nos outros tiposde caatinga, observa-se uma composiçãoflorística muito diversificada, emborafisionomicamente apareçam ciperáceasanuais e perenes e, principalmente, umrelva contínua de capim-panasco.

Distribuição das áreas comdegradação ambiental nos estadosdo Nordeste (TSA mais seco)

Os estados da Paraíba e do Cearátêm mais da metade das suas áreas comproblemas graves de degradaçãoambiental. Rio Grande do Norte ePernambuco vêm a seguir, com mais de25% das suas áreas atingidas, enquanto osestados de Sergipe, Bahia, Piauí e Alagoasapresentam valores inferiores (Tabela 5).

É importante destacar que as áreasde solos bruno não cálcicos, comdegradação ambiental severa, predominamem todos os estados. As áreas comdegradação ambiental moderada alcançamvalores baixos no Ceará, Rio Grande doNorte e Paraíba. As áreas de solos litólicos,com degradação ambiental acentuada,estão bem representadas no estado daParaíba (Tabela 5).

Tabela 5 - Áreas com degradação ambiental nos estados do Nordeste (hectares).

BNC = Bruno não cálcicosLI = Litólicos

Níveis de Tiposdegradação associações Alagoas Bahia Ceará Paraíba Pernambuco Piauí Rio Grande Sergipeambiental de solos do Norte

Severo BNC 90.400 2.031.300 4.253.000 2.106.100 2.629.800 588.700 896.200 271.2003,26% 3,63% 28,98% 37,36% 16,58% 2,34% 16,92% 12,29%

Acentuado LI � 667.300 885.600 692.500 721.100 54.000 141.100 �1,19% 6,03% 12,28% 7,34% 0,21% 2,66%

Moderado PE, TRE, � 163.200 509.900 298.500 154.400 792.300 265.800 �CE 0,29% 3,47% 5,29% 1,57% 3,17% 5,01%

Baixo PL � � 2.060.000 429.300 � 61.100 602.100 �14,03% 8,62% 0,24% 11,35%

Total 90.400 2.861.800 7.708.500 3.526.400 2.505.300 1.496.100 1.905.200 271.2003,26% 5,11% 52,51% 63,55% 25,49% 5,96% 35,94% 12,29%

PE = Podzólicos eutróficosTRE = Ter ras roxas estruturadas

CE = CambissolosPL = Planossolos

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SUDENE (Brasil). 1978b. Inventário hidrogeológicobásico do Nordeste: Folha 16 - Paraíba- SO.Recife, PE. 167p. il. 1 mapa. (SUDENE, SérieHidrogeologia, 53).

SUDENE (Brasil). 1978c. Inventário hidrogeológicobásico do Nordeste: Folha 21 - Recife- NO. Recife,PE. 183p. il. 1 mapa. (SUDENE, SérieHidrogeologia, 54).

SUDENE (Brasil). 1978d. Inventário hidrogeológicobásico do Nordeste: Folha 28 - Bahia- NO. Recife,PE. 199p. il. 1 mapa. (SUDENE, SérieHidrogeologia, 56).

SUDENE (Brasil). 1988. Inventário hidrogeológicobásico do Nordeste: Folha 33 - Belo Horizonte -NE. Recife, PE. 320p. (SUDENE, SérieHidrogeologia, 54).

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SUDENE (Brasil). 1990b. Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado da Bahia. Recife,PE. 3v. (SUDENE, Série Pluviometria, 9).

SUDENE (Brasil). 1990c. Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado do Ceará. Recife,PE. SUDENE (Brasil). Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado do Maranhão.Recife, 1990. SUDENE (Brasil). Dadospluviométricos mensais do Nordeste: Estado deMinas Gerais. Recife, 1990. 91p. (SUDENE, SériePluviometria, 10).

SUDENE (Brasil). 1990d. Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado da Paraíba. Recife,PE. 239p. (SUDENE, Série Pluviometria, 5).

SUDENE (Brasil). 1990e. Dados pluviométricos mensaisdo Nordeste: Estado de Pernambuco. Recife, PE.363p. (SUDENE, Série Pluviometria, 6).

SUDENE (Brasil). 1990f. Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado do Piauí. Recife,PE. SUDENE (Brasil). Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado do Rio Grande doNorte. Recife, PE. 240p. (SUDENE, SériePluviometria, 4).

SUDENE (Brasil). 1990g. Dados pluviométricosmensais do Nordeste: Estado de Sergipe.Recife, PE. 106p. (SUDENE, Série Pluvio-metria, 8).

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Fatores abióticos:áreas e ações

prioritárias paraa conservação

da Caatinga

PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO

GRUPO TEMÁTICO `FATORES ABIÓTICOS`

Iêdo Bezerra de SáCoordenação

Aguinaldo Araújo Silva Filho

Carlos Amiro Moreira Pinto

George André Fotius

Gilles Robert Riché

Hernande Pereira da Silva

Rebert Coelho Correia

Renival Alves de Souza

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Quatro sub-regiões bastantepreocupantes foram identificadas (Figura 1).

A primeira corresponde às margensdo rio São Francisco. Essa área foiexplorada intensamente quando daextração de madeira para as caldeiras dosbarcos a vapor que faziam o transportefluvial da região, o que levou a umempobrecimento da vegetação ribeirinha.Isso tem causado desbarrancamento etodo o processo erosivo e de assoreamentoa ele associado.

A segunda corresponde às áreas deaqüíferos subterrâneos em áreas sedi-mentares, os quais são utilizados para supriro consumo humano ou para irrigação.O uso não sustentável, associado aosdesmatamentos e às queimadas, prejudicaos setores de recarga, e com isso causarebaixamento nos níveis piezométricos; o

A fragilidade do ambiente e o nívelde pressão antrópica foram os principaiscritérios em que se fundamentou aidentificação das áreas prioritárias para aconservação concernente aos fatoresfísicos. A identificação baseou-se na formade utilização agroecológica das áreas, emvirtude de suas características marcantesquanto a recursos naturais esocioeconômicos. Como fontes para atomada de decisão foram utilizados mapasde altitude, de geomorfologia, de solos, declima (principalmente de distribuição daschuvas), de vegetação natural, e derecursos hídricos (tanto superficiais quantosubsuperficiais). No tocante às fontesagrossocioeconômicas, as principaisvariáveis enfocadas foram: a densidadedemográfica, a estrutura fundiária e ossistemas de produção/exploração usadospelas comunidades.

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ré P

esso

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Parque Nacional Serra das Confusões - PI

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que poderá comprometer seriamente aacumulação de água num futuro próximo.

A terceira sub-região correspondeaos locais de atividade de mineração.Como principal exemplo pode-se citar opólo gesseiro da chapada do Araripe quevem, ao longo dos anos, utilizando-se dosrecursos vegetais da caatinga comoelemento principal na calcinação dagipsita, e provocando a total devastaçãoda biota nativa e sua conseqüenteexaustão.

Finalmente, a quarta sub-região,merecedora de destaque, corresponde àsexpressivas zonas sujeitas a processos dedesertificação, em níveis que vão desde omoderado até o severo. Nesses locais avegetação nativa é alvo permanente deexploração, daí a expressiva degradaçãoambiental. Desses processos decorremfragilidades econômicas e sociaissignificativas, as quais são potencializadaspela ocorrência dos repetidos eventos dassecas.

Figura 1Áreas

prioritáriaspara

conservaçãoda Caatinga

com base nosfatores

abióticos

Áreas e ações críticas

Desmatamento e queimadas da vegetação nativaGestaçaõ e exploração dos recursos naturaisPreservação da vegetação, fauna e floraPreservação da vegetação, fauna e flora - Recursos hídricos subterrâneos /Superexploração / Desmatamento e queimadas em zonas de recarga

Proteção aos recursos hídricos / Elevada biodiversidade /Susceptibilidade a desertificaçãoRecursos hídricos subterrâneos / Superexploração /Desmatamento e queimadas em zonas de recarga

Recursos hídricos superficiais / Desmatamento da vegetaçãociliar e assoreamentoVegetação / Atividades industriais predatórias

Hidrografia

Limite estadualLimite do bioma caatinga

Recursos hídricos superficiais / Desmatamento da vegetação ciliar

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1 - MARGENS DO RIO SÃOFRANCISCO

Localização: BA: Curaçá, Glória, PauloAfonso, Rodelas, Abaré, Chorrochó,Juazeiro, Casa Nova, Remanso, PilãoArcado, Itaguaçu da Bahia, Xique-Xique,Barra, Morpará, Sobradinho, Sento Sé,Ibotirama, Paratinga; PE: Petrolina,Floresta, Petrolândia, Itacuruba, Cabrobó,Belém de São Francisco, Orocó, SantaMaria da Boa Vista; AL: Delmiro Gouveia.

Justificativa para inclusão: As margens dorio São Francisco foram, por muitos anos,exploradas intensamente para extração demadeira para as caldeiras dos barcos avapor que faziam o transporte fluvial daregião. A vegetação ribeirinha sofreu e sofreum forte empobrecimento de materiallenhoso, sobretudo nas áreas maisadjacentes ao leito do rio. Deste modo,estas áreas estão contribuindo fortementepara o desbarrancamento e todo oprocesso erosivo e de assoreamento a eleassociado.

Aspectos físicos/geográficos: A área objetode intervenção compreende as margensdireita e esquerda partindo do municípiode Paratinga (BA) até Delmiro Gouveia (AL)(margem direita) e Paulo Afonso (BA)(margem esquerda).

Pressões antrópicas: No passado recenteestas áreas foram objeto de exploraçãoindiscriminda das margens para atender anecessidade de material combustível dosbarcos a vapor. No presente a pressãoantrópica tem sua maior expressão naampliação dos campos de cultivo, sobretudopara a prática da agricultura irrigada.

Ações recomendadas: Restauração; usosustentável.

2 - AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOSEM BACIAS SEDIMENTARES ÁREA 1(TUCANO/JATOBÁ)

Localização: AL: Delmiro Gouveia,Pariconha; BA: Tucano, Euclides da Cunha,Quijingue, Canudos, Jeremoabo, PauloAfonso, Glória, Santa Brígida, Rodelas,Canindé do São Francisco; PE: Tacaratu,Petrolândia, Inajá.

Justificativa para inclusão: A explotaçãoindiscriminada dos aqüíferos subterrâneosem áreas sedimentares, quer paraabastecimento humano ou irrigação, aliadaaos desmatamentos e queimadas, vemprejudicando os setores de recarga assimcomo causando rebaixamento nos níveispiezométricos que podem comprometer,seriamente, a acumulação de água nofuturo próximo.

Aspectos físicos/geográficos: As baciassedimentares interiores do Nordesteconstituem expressões topográficas bemdefinidas com extensão regional a sub-regional. Localizam-se nos estados dePernambuco e Bahia. Em Pernambucositua-se na porção centro sul do sertão,enquanto na Bahia imediatamente anordeste.

Pressões antrópicas: Super exploração dosaqüíferos; desmatamento e queimadas noentorno das zonas de recarga; intrusão deagentes patogênicos e contaminação porprodutos químicos nos lençóis freáticos.

Ações recomendadas: Uso sustentável;investigação científica.

3 - AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOSEM BACIAS SEDIMENTARES ÁREA 2(BELMONTE)

Localização: PE: São José do Belmonte.

Justificativa para inclusão: A explotaçãoindiscriminada dos aqüíferos subterrâneosem áreas sedimentares, quer paraabastecimento humano ou irrigaçãoaliados aos desmatamentos e queimadas,vem prejudicando os setores de recargaassim como causando rebaixamento nosníveis piezométricos que podem compro-meter, seriamente, a acumulação de águano futuro próximo.

Aspectos físicos/geográficos: As baciassedimentares interiores do Nordesteconstituem expressões topográficas bemdefinidas com extensão regional a sub-regional. Localizam-se no estado dePernambuco, zona do sertão, nas seguintescoordenadas: 7.86139 de Latitude S e38.7597 Longitude W.

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Pressões antrópicas: Super exploração dosaqüíferos; desmatamento e queimadas noentorno das zonas de recarga; intrusão deagentes patogênicos e contaminação porprodutos químicos nos lençóis freáticos.

Ações recomendadas: Uso sustentável;investigação científica.

4 - AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOSEM BACIAS SEDIMENTARES ÁREA 3(APODI)

Localização: RN: Açu, Mossoró

Justificativa para inclusão: A exploraçãoindiscriminada dos aqüíferos subterrâneosem áreas sedimentares, quer para abaste-cimento humano ou irrigação, aliada aosdesmatamentos e queimadas, vem prejudi-cando os setores de recarga assim comocausando rebaixamento nos níveis piezo-métricos que podem comprometer, seria-mente, a acumulação de água no futuropróximo.

Aspectos físicos/geográficos: As baciassedimentares interiores do Nordesteconstituem expressões topográficas bemdefinidas com extensão regional a sub-regional. Localizam-se no oeste do estadodo Rio Grande do Norte, zona do sertão,nas seguintes coordenadas: Açú: 5.57667Lat S e 36.9086 Long W.

Pressões antrópicas: Super exploração dosaqüíferos; desmatamento e queimadas noentorno das zonas de recarga; intrusão deagentes patogênicos e contaminação porprodutos químicos nos lençóis freáticos.

Ações recomendadas: Uso sustentável;investigação científica.

5 - AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOSEM BACIAS SEDIMENTARES ÁREA 4(ARARIPE)

Localização: CE: Barbalha, Missão Velha,Crato, Juazeiro do Norte.

Justificativa para inclusão: A explotaçãoindiscriminada dos aqüíferos subterrâneosem áreas sedimentares, quer paraabastecimento humano ou irrigação, aliadaaos desmatamentos e queimadas, vemprejudicando os setores de recarga assimcomo causando rebaixamento nos níveis

piezométricos que podem comprometer,seriamente, a acumulação de água nofuturo próximo.

Aspectos físicos/geográficos: As baciassedimentares interiores do Nordesteconstituem expressões topográficas bemdefinidas com extensão regional a sub-regional. Localizam-se no estado do Ceará,região do Cariri, nas seguintes coordena-das: Crato: 7.23417 latitude S e 39.4094longitude W; Juazeiro do Norte: 7.21306latitude S e 39.3153 longitude W.

Pressões antrópicas: Super exploração dosaqüíferos; desmatamento e queimadas noentorno das zonas de recarga; intrusão deagentes patogênicos e contaminaçãoprodutos químicos nos lençóis freáticos.

Ações recomendadas: Uso sustentável;investigação científica.

6 - AQÜÍFEROS SUBTERRÂNEOSEM BACIAS SEDIMENTARES ÁREA 5(PARNAÍBA)

Localização: PI: Jaicós, Picos

Justificativa para inclusão: A explotaçãoindiscriminada dos aqüíferos subterrâneosem áreas sedimentares, quer paraabastecimento humano ou irrigação, aliadaaos desmatamentos e queimadas, vemprejudicando os setores de recarga assimcomo causando rebaixamento nos níveispiezométricos que podem comprometer,seriamente, a acumulação de água nofuturo próximo.

Aspectos físicos/geográficos: As baciassedimentares interiores do Nordesteconstituem expressões topográficas bemdefinidas com extensão regional a sub-regional. Localizam-se no Estado do Piauíborda oriental da província do Parnaíba, nasseguintes coordenadas: Picos: 7.07694latitude S e 41.4669 longitude Wr; Jaicós:7.35917 latitude S e 41.1378 longitude W.

Pressões antrópicas: Super exploração dosaqüíferos; desmatamento e queimadas noentorno das zonas de recarga; intrusão deagentes patogênicos e contaminação porprodutos químicos nos lençóis freáticos.

Ações recomendadas: Uso sustentável;investigação científica.

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7 - CAATINGA SETENTRIONAL

Localização: PE: Buíque, São Joaquim doMonte, Agrestina, Águas Belas, Alagoinha,Venturosa, Tacaimbó, São Caetano, SãoBento do Una, Sanharó, Sairé, Pesqueira,Pedra, Paranatama, Caruaru, Capoeiras,Camocim de São Félix, Caetés, Cachoei-rinha, Brejo da Madre de Deus, Bezerros,Belo Jardim, Altinho.

Justificativa para inclusão: A referida áreaapresenta alto grau de susceptibilidade àdesertificação, elevada biodiversidadeflorística, e tensão ecológica. Devido à fortepressão antrópica, é necessária a proteçãoaos recursos hídricos da área.

Aspectos físicos/geográficos: A área situa-se no agreste de Pernambuco, entre os riosIpanema e Ipojuca. Área de altimetriavariando entre 500 a 800 metros dealtitude.

Pressões antrópicas: Desmatamento;efluentes industriais e domésticos nosprincipais recursos hídricos da região;gestão inadequada; crescente densidadedemográfica.

Ações recomendadas: Restauração; usosustentável.

8 - RIO PARNAÍBA

Localização: MA: Brejo, Santa Quitéria doMaranhão, Aroiases, Magalhães deAlmeida, São Bernardo; CE: Ibiapina, SãoBenedito, Ubajara, Tinguá, Viçosa doCeará; PI: Brasileira, Domingos Mourão,Carnaubal, Cocal, Piracuruca, São José doDivino, Batalha, Capitão de Campos,Campo Maior, Alto Longá, Coivaras,Cabeceiras do Piauí, Barras, Esperantina,Joaquim Pires, Buriti dos Lopes, Parnaíba.

Justificativa para inclusão: O desmata-mento das matas ciliares, provocado pelaação do homem no rio Parnaíba, vemcausando assoreamento da sua calhaafetando a navegabilidade, além deprejudicar a economia que depende dapesca. O delta do Parnaíba, importanteecossistema, também deve ser preservadoda ação do homem, quer através doturismo ou da pesca predatória. A proteçãodos recursos hídricos e o elevado grau de

susceptibilidade à desertificação são fatoresessenciais para a recuperação destemanancial.

Aspectos físicos/geográficos: A área objetodesta ação compreende o médio e baixotrecho do rio Parnaíba, localizado na regiãolimítrofe dos estados do Piauí e Maranhão.

Pressões antrópicas: Desmatamento equeimadas das matas ciliares; lançamentode agentes poluidores; assoreamento;gestão inadequada.

Ações recomendadas: Uso sustentável;restauração.

9 - AÇUDE ARARAS

Localização: CE: Santana do Acaraú, Coreaú,Moraújo, Uruoca, Granja, Massapê,Monsenhor Tabosa, Tamboril, Catunda, SantaQuitéria, Hidrolândia, Nova Russas, Ipueiras,Ipu, Pires Ferreira, Varjota, Reriutaba, Cariré,Groaíras, Forquilha, Sobral.

Justificativa para inclusão: Principalreservatório de perenização do rio Acaraú, oAçude Araras se constitui no único manancialde abastecimento humano, animal e práticasde irrigação do setor oeste do Ceará. Osconflitos de uso da água, além do lançamentode efluentes e práticas inadequadas deirrigação, induzem à sua proteção, e o elevadograu de susceptibilidade à desertificaçãoconstituem-se em fatores essenciais para arecuperação deste manancial.

Aspectos físicos/geográficos: O Açude Ararasé o principal reservatório do oeste do Cearáe perenizador do rio Acaraú, que corre nosentido sul-norte.

Pressões antrópicas: Assoreamento; gestãoinadequada.

Ações recomendadas: Uso sustentável;restauração.

10 - AÇUDE ORÓS E RIO JAGUARIBE

Localização: CE: Saboeiro, Aiuaba, Russas,Jaguaruana, Quixerê, Tabuleiro do Norte,Limoeiro do Norte, Morada Nova, São Joãodo Jaguaribe, Alto Santo, Jaguaretama,Jaguaribara, Icó, Jaguaribe, Quixelô, Orós,Cariús, Iguatu, Jucás, Acopiara, Mombaça,Tauá, Catarina, Antonina do Norte.

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Justificativa para inclusão: O desmatamentodas matas ciliares, provocado pela ação dohomem no rio Jaguaribe, aliado aos projetosde irrigação mal dimensionados, vemcausando assoreamento da sua calha, alémde prejudicar a economia que depende dapesca. O açude Orós, principal manacial deperenização deste rio, também deve serpreservado da ação do homem, quer atravésdo turismo ou da pesca predatória.A proteção dos recursos hídricos e o elevadograu de susceptibilidade à desertificação sãofatores essenciais para a recuperação destemanancial.

Aspectos físicos/geográficos: O rioJaguaribe é o principal manancial do estadodo Ceará, correndo na direção sul-norte, e,na área selecionada, próximo do limite comos estados da Paraíba e Rio Grande doNorte. O Açude Orós, principal agenteperenizador do Jaguaribe, corresponde oprimeiro açude do Estado em volume deágua, e está situado no municípiohomônimo.

Pressões antrópicas: Desmatamento equeimadas das matas ciliares; lançamentode agentes poluidores; assoreamento;gestão inadequada.

Ações recomendadas: Uso sustentável;restauração.

11 - RIO PIRANHAS E AÇU

Localização: PE: Brejo Santo, Barro, Mauriti;PB: Santana de Mangueira, Coremas, Brejoda Cruz, Belém do Brejo da Cruz, São Joãodo Rio do Peixe, Ibiara, Monte Horebe,Conceição, Bonito de Santa Fé, Aguiar,Carrapateira, Serra Grande, São José deCaiana, São José de Piranhas, Diamante, BoaVentura, Pedra Branca, Itaporanga, Igaracy,Santana dos Garrotes, Piancó, São José daLagoa Tapada, Nazarezinho, Cajazeiras,Souza, Emas, Pombal, Paulista, Riacho dosCavalos, São Bento; RN: Serra Negra doNorte, Jardim das Piranhas, São Fernando,Santana dos Matos, São Rafael, AugustoSevero, Jucurutu, Paraú, Alto do Rodrigues,Afonso Bezerra, Ipanguaçu, Macau,Pendência, Serra do Mel, Areia Branca,Carnaubais.

Justificativa para inclusão: O desmatamentodas matas ciliares, provocado pela ação dohomem no rio Piranhas/Açu, principalmanancial do semi-árido dos estados daParaíba e Rio Grande do Norte, temprovocado o assoreamento e a consequenteinundação das margens nos períodos deinverno. Principal manancial de recarga daBarragem de Açu, maior reservatório doestado do Rio Grande do Norte, será oprincipal meio de transporte das águas doSão Francisco. A proteção dos recursoshídricos e o elevado grau de susceptibilidadeà desertificação são fatores essenciais para arecuperação deste manancial.Aspectos físicos/geográficos: O Rio Piranhas/Açu, que corta os estados da Paraíba e RioGrande do Norte, está localizado no sertãodesses estados, portanto inserido comple-tamente no semi-árido.Pressões antrópicas: Desmatamento equeimadas das matas ciliares; lançamentode agentes poluidores; assoreamento; gestãoinadequada.Ações recomendadas: Uso sustentável;restauração.

12 - ÁREA DE CARVOEJAMENTOLocalização: PE: Arcoverde, Buíque,Tupanatinga, Calumbi, Flores, Betânia,Serra Talhada, Ibimirim, Floresta, Sertânia,Custódia.Justificativa para inclusão: Existência degrande exploração da vegetação nativa paraa produção de carvão vegetal, necessitandode manejo visando impedir a retiradapredatória.Aspectos físicos/geográficos: A área situa-se no semi-árido pernambucano, limi-tando-se pelos municípios de Cruzeiro doNordeste, Custódia, Sertânia, Floresta,Ibimirim e Serra Talhada.Pressões antrópicas: Exploração irracionalda vegetação nativa.Ação recomendada: Uso sustentável.

13 - RASO DA CATARINALocalização: BA: Santa Brígida, Glória,Rodelas, Macururé, Jeremoabo, Canudos,Paulo Afonso.

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Justificativa para inclusão: Esta área temcomo características gerais uma baixa amédia potencialidade do ponto de vista daagropecuária. A agricultura restringe-sepraticamente a culturas para subsistênciae o excedente para comercialização emfeiras locais. A inclusão desta áreadepreende-se dela apresentar umavegetação nativa de caatinga arbóreaarbustiva, que serve de refúgio para a faunasilvestre e também como uma reserva demuitas espécies vegetais específicas destestipos de ambientes.

Aspectos físicos/geográficos: Esta zonacaracteriza-se por clima muito quente comchuvas de outono, com uma precipitaçãomédia de 600mm. Apresenta superfíciesplanas cortadas pelos entalhes profundosdos rios Macururé e Vaza Barris. Os solospredominantes são: areias, bruno nãocálcicos, litólicos e solos aluviais.

Pressões antrópicas: Zona de ocupaçãomuito fraca, aproximadamente umhabitante por quilômetro quadrado epredominância de médias propriedades(100-200ha). Predomínio absoluto dapecuária extensiva de caprinos e ovinos emsistema de subsistência.

Ação recomendada: Proteção integral.

14 - NÚCLEO DE DESERTIFICAÇÃO

Localização: PE: Belém de São Francisco,Cabrobó, Orocó.

Justificativa para inclusão: Já são expressivasas áreas sujeitas a processos de desertificaçãono interior do semi-árido, quer a exploraçãode suas terras estejam sendo feitas em grandeou pequena escala. Em decorrência, resultamfragilidades econômicas e sociais con-sideráveis, potencializadas pela ocorrênciados repetidos eventos das secas, ne-cessitando providências no campo da gestãoeconômica do meio ambiente.

Aspectos físicos/geográficos: Esta zona estácaracterizada por superfícies aplainadas derelevo suave ondulado com elevaçõesresiduais. Apresenta um clima quente e semi-árido com estação chuvosa no outono. Estáinserida no sertão do Moxotó, no estado dePernambuco.

Pressões antrópicas: Zona com poten-cialidade baixa a média, com uma densidadedemográfica em torno de 28 hab/km2.A pecuária praticada é extensiva comatividades agrícolas limitadas. Aproximada-mente 90% das propriedade tem menos de50 hectares.

A vegetação nativa é alvo permanente deexploração, daí a expressiva degradaçãoambiental.

Ações recomendadas: Restauração; usosustentável.

15 - POLO GESSEIRO

Local ização: PE: Araripina, Ipubi,Trindade, Exu, Ouricuri, Bodocó; PI:Simões.

Justificativa para inclusão: As atividadesde mineração constituem-se ematividades transformadoras do meioambiente. O polo gesseiro do Araripe vem,ao longo dos anos, utilizando-se dosrecursos vegetais da Caatinga comoelemento principal na calcinação dagipsita, provocando uma total devastaçãoda biota nativa e a sua consequenteexaustão. A necessidade de um programaadequado de manejo e a restauração davegetação são elementos fundamentaispara a recuperação da área objeto deintervenção.

Aspectos físicos/geográficos: Esta zona estácaracterizada por superfícies altas, poucodissecadas, predominantemente planas notopo das chapadas, com vertentesíngremes nas bordas. Apresenta climaquente e semi-árido com estação chuvosade verão, com precipitação média de930mm. A zona em questão é conhecidacomo Chapada do Araripe.

Pressões antrópicas: Desmatamentointensivo com remoção quase quecompleta da vegetação nativa. Atividadesindustriais desordenadas e gestãoinadequada dos recursos florestais.Apresenta uma densidade demográficamédia em torno de 30 hab/km2.

Ações recomendadas: Restauração; usosustentável.