bioacÚstica e bem-estar em cativeiro: … · iii universidade de sÃo paulo ... em que fases...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO: RUGIDOS DE Alouatta caraya (Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL DÉBORA SILVEIRA MARTINS Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto USP, como parte das exigências para obtenção do título de mestre em Ciências. Área de concentração: Psicobiologia. Ribeirão Preto 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO: RUGIDOS

DE Alouatta caraya (Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

DÉBORA SILVEIRA MARTINS

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão

Preto – USP, como parte das exigências para obtenção do título de mestre em Ciências.

Área de concentração: Psicobiologia.

Ribeirão Preto

2015

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II

VERSÃO CORRIGIDA

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III

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO: RUGIDOS

DE Alouatta caraya (Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

DÉBORA SILVEIRA MARTINS

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão

Preto – USP, como parte das exigências para obtenção do título de mestre em Ciências. Área de concentração: Psicobiologia.

Orientadora: Profª. Dra. Patrícia Ferreira

Monticelli

Co-orientador: Prof. Dr. Wagner Ferreira dos Santos

Ribeirão Preto

2015

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IV

FOLHA DE APROVAÇÃO

DEBORA SILVEIRA MARTINS

BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO: RUGIDOS DE Alouatta caraya

(Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE ENRIQUECIMENTO

AMBIENTAL

Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências

e Letras de Ribeirão Preto – USP, como parte das exigências para obtenção do título de mestre em Ciências. Área de

concentração: Psicobiologia.

Dissertação defendida e aprovada em __/__/__

BANCA EXAMINADORA

Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________ Instituição________________________________Assinatura_________________

Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________

Instituição________________________________Assinatura_________________ Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________

Instituição________________________________Assinatura_________________

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V

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer

meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Martins, Débora Silveira

BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO: RUGIDOS DE Alouatta caraya (Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL Ribeirão Preto, 2015.

68 p. : il. ; 30 cm

Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP. Área de concentração: Psicobiologia.

Orientador: Monticelli, Patrícia Ferreira

1. Bugio 2. Playback 3. Comportamento Animal 4. Comunicação acústica. 5. Chamado de longo-alcance

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VI

Dedico este trabalho aos Bugios, que apesar de cativos me cativaram, e me

fizeram acreditar que com um pouco de amor e comprometimento o mundo é

um lugar melhor.

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VII

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela proteção que me cerca e pela oportunidade de trabalhar com o que amo.

Agradeço aos meus pais, pelo amor incondicional e apoio aos meus sonhos: ao meu Pai por ter me incentivado a cursar biologia e este mestrado, e à minha mãe por se transformar para me

acompanhar, por se apaixonar pelos bugios, e por ser uma excelente mãe. À minha família maravilhosa, que sempre acolheu minhas loucuras, animais e experimentos. Ao

meu irmão, pela amizade e todo seu apoio emocional e gráfico.

Ao meu amor, Guilherme, por ser antes de tudo meu amigo e conselheiro, pela paciência e amor, e pelas formatações e estatísticas também, é claro.

À Profª. Dra. Patrícia Ferreira Monticelli, minha orientadora por me aceitar como aluna e como pessoa de gênio difícil que sou. Pelo carinho, orientação, conselhos, e entusiasmo, muito

obrigada! Ah, e obrigada por aceitar os bugios também! Ao Prof. Dr. Wagner Ferreira dos Santos, meu co-orientador, pelas sugestões e correções.

À Bióloga do Zoológico de Ribeirão de Preto, Marisa dos Santos, pelo carinho, por toda ajuda e

por se tornar minha segunda mãe de profissão e coração. À Administração do Bosque e Zoológico Municipal Fábio Barreto: ao diretor Alexandre C.

Gouvêa e ao administrador Luís Carlos por nos permitir e auxiliar na execução desta pesquisa. Aos funcionários do Bosque e Zoológico Municipal Fábio Barreto: “Vinim”, “Maurinho”,

Orival e Alan, por serem sempre tão pacientes comigo, por compreenderem a importância dos enriquecimentos e por cuidar dos animais cativos. Um agradecimento em especial à Isaac e

Daniel, que além tudo isso, ainda me ajudaram em tudo que precisei para este projeto, e com suas brincadeiras e conversas boas.

Ao médico veterinário César H. Branco por toda a ajuda a esta pesquisa e atendimento aos bugios.

À minha assessora, Profª. Dra. Andréia Schmidt pelos comentários e dicas a cada relatório parcial e à minha vida pessoal.

Novamente à Profª. Dra. Andréa, e ao Prof. Dr. Silvio Morato, pelas melhores aulas que já

assisti, e por além de muito me ensinarem, me inspirarem profissionalmente. Ao Prof. Dr. Dilmar A. G. Oliveira pela atenção, conselhos e comentários.

Ao Prof. Dr. Rogério G. T. Cunha pela paciência em nos ajudar, pelos valiosos comentários e

pelas amostras de rugidos utilizadas como playback. Ao Prof. Dr. Regis R. A. Faria, pela auxílio na montagem do aparato de playback.

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VIII

À Profª. Dra. Selene S. C. Nogueira pelo auxilio na definição do protocolo experimental e metodologia, e pela atenção dedicada.

Ao Prof. Dr. Vanner Boere, pela leitura do projeto desta pesquisa, comentários e considerações.

À Profª. Dra. Angélica Vasconcellos, pela orientação e auxílio relacionados à parte hormonal desta pesquisa, e por aceitar ser parte da banca de avaliação.

À Profª. Olívia M. Furtado, pela amabilidade e disponibilidade com a qual nos atendeu, e pelo auxílio com as análises hormonais.

Ao Prof. Dr José Maurício B. Duarte pela atenção e orientação que nos foi dada.

Meus agradecimentos à Mariana Ducatti, por toda sua ajuda quando eu estava completamente perdida ao ingressar na pós, e por seu ouvido amigo, que tanto me escutou.

Às meninas do EBAC, Cíntia, Paula, Aline, Juliana, Flora, Lilian, Laís e Adriana. Obrigada pelo

carinho e companheirismo de vocês, em especial à “Dri”, “Paulinha” e Aline, por toda ajuda e paciência.

Aos meninos do laboratório vizinho, Vinícius, Júlia, e Sabrina, pelos momentos de descontração e concentração durante as disciplinas.

Às minhas queridas amigas Silvana e Gabriela, obrigada por toda a ajuda. Sem vocês este trabalho não teria acontecido!

À Ms. Marcelí Joele Rossi, por toda a amizade, ajuda, conselhos, dicas e discussões, e por fazer

o trabalho admirável que você faz! À Aline de Souza, pela amizade e por compartilhar os momentos de loucuras e dos prazos

chegando ao fim, por toda a diversão e carinho. À Aline Dada, pelas discussões, conversas e companhia online.

Aos amigos que me acompanham, incentivam e divertem: Marina, Mateus, Dani, Tija, Béto, Marcelo, Renata, Vivian e Hilda, obrigada por alegrarem minha vida.

Aos meus queridos Bugios: Caco, Sol, Gil, Catharina, Flor, Lena, Cadú, Zeca, Bongô, Zé, Loira,

Filhote, Judite, Lucy, Lucila e Mila, obrigado por serem simplesmente maravilhosos. Ao Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da FFCLRP – USP. À secretária do Programa

Sra. Renata B. V. Del Moro pelos alertas e explicações.

À CAPES/PROEX pela bolsa de mestrado e apoio financeiro e também ao apoio financeiro cedido pela FAPESP.

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

Saint-Exupéry

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IX

“Não somos as únicas criaturas com mentes capazes de resolver problemas, capazes de sentir amor e ódio, alegria e tristeza, medo e desespero. Não somos certamente os únicos animais que sentem dor e sofrimento. Por outras palavras, não há uma separação nítida entre o mundo animal e o resto do reino animal. É uma linha esbatida que cada vez se torna mais esbatida.”

Jane Goodall (Preâmbulo de A Vida Emocional dos Animais, de Marc Bekoff).

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X

RESUMO

Silveira-Martins, Débora. (2015). BIOACÚSTICA E BEM-ESTAR EM CATIVEIRO:

RUGIDOS DE Alouatta caraya (Primates, Atelidae) COMO ELEMENTO DE

ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia

Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo.

A Bioacoustica oferece ferramentas úteis para diversas ciências e práticas na utilização

acadêmica, científica, aplicada e conservação da vida animal. Nossa hipótese é que as chamadas

naturais, como o rugido de longo alcance do bugios preto, atuam como elemento de

enriquecimento ambiental, se a sua execução aumenta a exibição de um comportamento natural

em cativeiro. O bugio faz um uso diário do rugido e sua emissão é conhecida por evocar

respostas de outros bandos de bugio em vida livre. Para testar a eficácia dos rugidos em

melhorar o bem-estar foi realizado um experimento no Bosque e Zoológico Fábio Barreto, no

município de Ribeirão Preto, onde treze indivíduos (6 fêmeas e 7 machos) viviam em cinco

recintos adjacentes. Eles tiveram contato visual e acústico entre eles e com outras duas espécies

de primatas e outros grupos de vida livre de bugio preto. Adotoamos o delineamento

experimental ABABA, em que fases controle A foram intercaladas com o tratamento (playback

de rugido) nas fases B, duas vezes ao dia (manhã e tarde). Na primeira fase B, o estímulo foi

sempre tocado no mesmo horário (previsível) e, na segunda fase tratamento, horários aleatórios

foram adotados (imprevisível). Nós avaliamos as alterações na duração relativa de 6

comportamentos entre as fases A e B, entre sexo e em ambos os períodos, com o teste ANOVA

de medidas repetidas. Nós notamos um aumento no comportamento natural da espécie em fases

de tratamento, como alerta, atenção dirigida, e interações sociais, juntamente com a diminuição

de comportamentos estereotipados, sugerindo melhoria do bem-estar. As emissões naturais de

rugidos também aumentaram. Concluímos que ambos os tratamentos, previsível e imprevisível,

melhoraram o bem-estar e propomos a utilização da reprodução de chamadas específicas de

especies como uma nova categoria de enriquecimento ambiental. A resposta dos outros primatas

nos levou a concluir que houve um efeito sobre animais vizinhos que pode ser benéfico ou

prejudicial de acordo com a espécie e a condição psicológica dos animais.

Palavras-chaves: Bugio; Playback; Comportamento Animal; Comunicação acústica; Chamado

de longo-alcance.

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XI

ABSTRACT

Silveira-Martins, Débora. (2015). BIOACOUSTICS AND WELFARE IN CAPTIVITY:

ROARS OF Alouatta caraya (Primates, Atelidae ) AS ENVIRONMENTAL ENRICHMENT

ELEMENT. Master Dissertation Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto,

Universidade de São Paulo, São Paulo.

The Bioacoustics offers useful tools for diverse academic, scientific and applied sciences and

practices in use and conservation of animal life. We hypothesized that natural call, as the loud

roar of the black-howler monkey, would act as environmental enrichment element if its

execution increased the display of natural behavior in captivity. The howler-monkey makes an

everyday use of the roar and its emission is known to evoke free-living howler-monkeys to call

back in response. To test the effectiveness of roars in improving welfare we conducted an

experiment in Bosque e Zoológico Fábio Barreto, in the municipality of Ribeirão Preto where

thirteen individuals (6 females and 7 males) were living in five adjacent enclosures. They had

visual and acoustic contact between them and with two other primate species and a free-living

black-howler monkey group. We adopted the ABABA experimental design, in which control

phases A were interspersed with treatment (roar playback) phases B, two times a day (morning

and afternoon). In the first B phase, the stimulus was always played at the same time

(predictable) and, in the other different random schedules were adopted (unpredictable). We

evaluate changes in relative duration of 6 behaviors from A to B phases, between sex and in both

periods with a repetitive factorial ANOVA. We reported increase in natural behavior of the

species in treatment phases, as alert, oriented attention, and social interactions, coupled with the

decrease of stereotyped behaviors, suggesting welfare improvement. Thus, natural emissions of

roars also increased. We concluded that both predictable and unpredictable routines improved

welfare and we propose the use of playback of specie-specific calls as a new category of

environmental enrichment. The answer of the other primates led us to conclude that there was a

neighborhood effect that can be beneficial or harmful according to the species and the

psychological condition of the animals.

Key words: Howler monkey; Playback; Animal behavior; Acoustic communication; Loud calls.

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XII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Alguns bugios (Alouatta caraya) utilizados nesta pesquisa, cativos no Bosque e Zoológico Fábio Barreto de Ribeirão Preto (SP) durante uma emissão matinal do rugido. À esquerda estão dois machos, que são pretos, e à direita duas fêmeas, que são sempre douradas.

.................................................................................................................................................. 22 Figura 2. Esquema representativo da disposição dos recintos que abrigaram os grupos 1, 2, 3,

4 e 5 de bugios, no Setor Extra do Bosque e Zoológico Fábio Barreto, durante a realização deste estudo. Haviam outros dois primatas no Setor Extra. A letra A representa a localização do recinto do babuíno sagrado macho, e B da macaca-aranha. As árvores que circundam todo

esse setor extra são utilizadas constantemente por bugios de vida livre. ................................. 29 Figura 3. Foto frontal dos recintos 4 e 5 de bugios (Alouatta caraya) no setor extra do Bosque

e Zoológico Fábio Barreto mostrando a semelhança da configuração interna e dos itens dispostos, previamente estabelecidos para esta pesquisa. ........................................................ 31 Figura 4. Representação esquemática e fotográfica do sistema de playback montado para esta

pesquisa, que compõe-se de uma fonte de alimentação (D), um amplificador B) e uma caixa de som (A), adaptados a um conector com entrada “p2” (C), que se liga à fonte de execução

do som....................................................................................................................................... 34 Figura 5. Outros primatas habitantes do BZMFB sujeitos aos efeitos do enriquecimento bioacústico oferecido aos bugios cativos que eram o alvo da pesquisa. Em A, a macaco-

aranha Maya; em B, o babuíno-sagrado Kiko; e em C, alguns membros de um grupo de bugios (Alouatta caraya) de vida-livre no BZMFB. ................................................................ 38

Figura 6. Durações relativas médias das categorias comportamentais de A. caraya cativos do BZMFB (Ribeirão Preto, S.P) e utilizados neste experimento de enriquecimento ambiental, em função do sexo e do período, durante a fase A1 (linha de base). ........................................ 42

Figura 7. Duração relativa média das seis categorias comportamentais registradas, independentemente e do sexo e do período da sessão, para os Bugios pretos cativos no BZMFB em cada fase deste estudo. ......................................................................................... 43

Figura 8. Comparação entre a duração relativa média de quatro categorias comportamentais registrada para Alouatta caraya cativos no BZMFB, entre as fases deste estudo. As barras

representam o valor médio da duração relativa sem distinção de sexo e período, e as linhas ligando as barras apontam entre que fases a diferença foi significativa segundo o ANOVA de medidas repetidas...................................................................................................................... 44

Figura 9. Duração relativa média das categorias comportamentais SO e AD em cada fase, por sexo e por período, para os bugios cativos no BZMFB alvos desta pesquisa de

enriquecimento ambiental. O ANOVA mostrou efeitos do sexo e do período em SO (acima) e do período em AD (abaixo) entre as fases. ............................................................................... 45 Figura 10. Comparação entre os valores de duração relativa média entre os períodos (acima) e

entre os sexos (abaixo) para as categorias comportamentais Alerta e Estereotipias registrados para bugios cativos no BZMFB, sujeitos do experimento realizado com playbacks como

elemento de enriquecimento ambiental. O teste de Wilcoxon apontou diferença significativa entre os sexos nas fases A1 e B1, ou seja, na linha de base e no tratamento previsível; diferença entre sexos em AL na fase A1(macho x fêmea: z=-2.310, p=0.021) e em B1 (z=-

2.824, p=0.005). Os machos ficaram mais alertas do que as fêmeas, mas os valores foram todos menores do que 1%. Os dados de ET se devem a apenas uma fêmea, enquanto está mais

bem distribuído entre os machos. ............................................................................................. 47 Figura 11. Resultado do teste não-paramétrico de Wilcoxon que comparou os valores de duração relativa dos comportamentos Alerta (AL) e Estereotipias (ET) em cada fase. As

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XIII

células amarelas indicam as diferenças significativas a p<0,01 (com a correção de Bonferoni:

p=0,05 dividido pelas 10 comparações entre fases). A célula verde indica que além da diferença entre as fases, houve um efeito do sexo em AL na fase A1 (macho x fêmea: z=-

2.310, p=0.021) e em B1 (z=-2.824, p=0.005). ........................................................................ 48 Figura 12. Variação na duração relativa de quatro categorias comportamentais registradas para os Alouatta caraya cativos, em três intervalos de tempo entre todas as fases

experimentais deste estudo, com bugios (A. caraya) no BZMFB (Ribeirão Preto, SP). .......... 49 Figura 13. Variação na duração relativa das categorias comportamentais Auto-dirigidos

(acima) e Sociais (abaixo) em três intervalos de tempo entre as fases desse estudo, com os bugios (A. caraya) pertencentes ao plantel do BZMFB (Ribeirão Preto, SP). ......................... 50 Figura 14. Gráfico da duração relativa das categorias comportamentais s mais relevantes do

indivíduo de Macaco Aranha analisado nesta pesquisa durante todas as fases do experimento no BZMFB. ............................................................................................................................... 51

Figura 15. Duração das categorias comportamentais mais relevantes do indivíduo da espécie Babuíno Sagrado analisado nesta pesquisa durante todas as fases do experimento no BZMFB. .................................................................................................................................................. 52

Figura 16. Diferenças entre número de ocorrências de rugido que ocorreram durante as fases do experimento e durante o período de habituação (H), para os bugios em vida livre e em

cativeiro no BZMFB, no período da manhã e da tarde. ............................................................ 53 Figura 17. Dispersão das vocalizações de longo alcance (rugidos) dos bugios em vida livre e em cativeiro que ocorreram em: H- habituação; A1, A2 e A3- linhas de base; B1 e B2 –

tratamentos; C- fase cancelada; P- pausa para tratamento veterinário onde não houve coleta de dados, no BZMFB, registrados em horas no período da manhã e da tarde, durante este estudo.

.................................................................................................................................................. 53 Figura 18. Itens alimentares (bolinho de banana, mel e cereal de arroz) marcados com os corantes artificiais (A) para a marcação individualizada das amostras fecais para as análises

dos metabólitos de glicocortidóides; B mostra a oferta de uma das bolas marcadas em azul turquesa diretamente a uma das fêmeas de bugio, e em C, um macho mordendo um marcador

na cor rosa. Estes registros foram feitos com ao bugios deste estudo cativos no BZMFB. ..... 58 Figura 19. Foto lateral dos recintos de bugio no BZMFB onde podemos observar uma fêmea livre (dourada), sobre a grade dos recintos de bugios em 12/02/2014 e 27/01/14

respectivamente. ....................................................................................................................... 61 Figura 20. Registro de macho cativo (preto) e fêmea livre (dourada) copulando em

12/02/2014 com a tela de proteção do recinto entre eles; a imagem em questão se encontra circulada por vermelho. ............................................................................................................ 61

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XIV

LISTA DE TABELAS

Tabela I - Repertório de vocalizações de A. caraya, segundo Holzmman (2012). O autor separa os sinais entre curto e longo alcance (1ª coluna) e os insere em situações de uso e contextos específicos de emissão, como apresentado aqui, após tradução para o português. .. 25

Tabela II- Distribuição dos bugios-pretos participantes da pesquisa, nos 5 recintos do Setor Extra do Zoológico Fábio Barreto, segundo o sexo e a classe etária. ...................................... 28

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XV

SUMÁRIO

1 Introdução .............................................................................................................................. 17

1.1 O Enriquecimento Ambiental, como técnica para aumentar o bem estar de animais cativos ................................................................................................................................... 18

1.2 Estimulação Auditiva como enriquecimento Ambiental ................................................ 20

1.3 A Bioacústica e o uso de playbacks................................................................................ 21

1.4 O bugio-preto, Alouatta caraya ...................................................................................... 21

1.5 O repertório de vocalizações de Alouatta ....................................................................... 23

1.6 Alouatta caraya na região de Ribeirão Preto - SP .......................................................... 25

2 A pesquisa: hipóteses, métodos de coleta e de análise de dados ........................................... 27

2.1 Hipóteses......................................................................................................................... 27

2.2 Objetivos Gerais ............................................................................................................. 27

2.3 Materiais e Métodos ....................................................................................................... 27

2.3.1 Áreas de Estudo ....................................................................................................... 27

2.3.2 Grupos de Estudo..................................................................................................... 28

2.3.3 Protocolo Experimental ........................................................................................... 29

2.3.4 Fase preparatória: estabelecimento dos grupos, recintos e condições de teste ........ 30

2.3.5 Fase de habituação ................................................................................................... 32

2.3.6 Fases de teste ........................................................................................................... 32

2.3.7 O playback ............................................................................................................... 33

2.3.8 O etograma............................................................................................................... 34

2.3.9 “Efeito vizinhança”.................................................................................................. 37

2.4.0 Análise de dados ...................................................................................................... 39

2.4.1 Análises estatísticas ................................................................................................. 40

3 Resultados .............................................................................................................................. 42

3.1 A linha de base: distribuição de tempo nas atividades antes do enriquecimento (Fase

A1) ........................................................................................................................................ 42

3.2 Efeitos do enriquecimento: alteração na duração relativa dos comportamentos entre os tratamentos............................................................................................................................ 43

3.3 O efeito dos tratamentos (previsível e imprevisível) e de suas retiradas ........................ 48

3.4 Efeito vizinhança ............................................................................................................ 51

3.5 Ocorrências de emissões de Rugidos.............................................................................. 52

4.1 A imprevisibilidade do tratamento serviu como enriquecimento aos bugios? ............... 56

4.2 Sustentação fisiológica da diminuição do estresse: análise dos metabólitos fecais ....... 58

4.3 Efeito vizinhança ............................................................................................................ 59

4.4 Emissões de rugidos ....................................................................................................... 60

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XVI

4.5 Efeitos inesperados ......................................................................................................... 60

4.5.1 Visita da Fêmea de vida livre .................................................................................. 60

4.5.2 Atração de um macho adulto de vida livre com o playback .................................... 62

5 Conclusão .............................................................................................................................. 63

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17

1 Introdução

Os comportamentos de uma espécie evidenciam a forma como ela se relaciona com o

meio em que vive. São, portanto, uma forma não invasiva de se acessar os processos

fisiológicos e neurais do organismo em resposta ao ambiente que habitam (Snowdon, 1999) e

sua condição física e mental em cativeiro (Broom, 2004). O bem-estar de uma espécie cativa é

representado pela sua condição geral em termos fisiológicos e em relação ao atendimento de

suas necessidades básicas, como saciamento da sede, da fome e oferta de condições para o

descanso e da manutenção da saúde. Assim definido, o bem estar pode ser avaliado

indiretamente através de expressões de comportamentos e emoções como medo, tédio,

ansiedade e através de variações nos níveis de substâncias que indicam uma condição de

estresse fisiológico (Box 2003; Broom, 2004).

A preocupação com o bem estar animal iniciou-se na década de 40 (Cruz, 2003) e,

desde então, vem ganhando força na comunidade cientifica. Vê-se hoje os princípios de

melhoria do bem estar de animais cativos sendo discutido e aplicado em ambientes diversos

como zoológicos, criadouros conservacionistas e comerciais de animais de produção e de

laboratório, e ainda em residências particulares, voltado aos animais de estimação (Cruz,

2003). A relação entre condições de cativeiro e saúde de animais foi notada inclusive pelos

administradores de zoológicos: a manutenção do bem-estar de seus animais minimiza os

riscos à saúde, facilita o manejo e transmite aos visitantes conceitos relacionados à educação

ambiental, ecologia e à biologia das espécies exibidas (Diegues, 2008; Nascimento 2010).

A promoção do bem-estar animal em zoológicos baseia-se na adoção de técnicas como

a melhoria do recinto com a inclusão de itens variados, ao que se chama enriquecimento

ambiental, e à aplicação do conceito Skineriano de condicionamento operante, com reforço

positivo, para práticas veterinárias preventivas e obtenção de dados fisiológicos, sem manejos

estressantes (Hill & Broom, 2009).

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18

1.1 O Enriquecimento Ambiental, como técnica para aumentar o bem estar de

animais cativos

Em ambiente natural os animais se encontram em meio à muitos estímulos e exercem

muitas atividades para sua sobrevivência e reprodução: cada espécie tem seu repertório de

estratégias para obtenção de alimentos (forrageamento), defesa contra predadores, escolha de

abrigos ou construção de tocas para a proteção (inclusive térmica), e executa os processos que

envolvem a atração de parceiros reprodutivos, dentre outros recursos comportamentais (Sagai,

2007). Como os cativeiros não possuem o mesmo número de estímulos que os animais

recebem em vida livre eles se tornam previsíveis e limitantes, e contribuem para que o tempo

gasto exercendo atividades naturais da espécie diminua. Isso pode gerar estresse orgânico

nesses indivíduos que muitas vezes se reflete na exibição de comportamentos anormais,

estereotipias e um padrão fisiológico discrepante (Mendonça-Furtado, 2006; Vasconcelos,

2009). Nesse cenário, a técnica de enriquecimento visa melhorar a vida no cativeiro através de

alterações estruturais no recinto e de mudanças no manejo dos animais, ambos no sentido de

aumentar a complexidade do meio e fornecer novos estímulos e opções de escolha (Boere,

2001; Young, 2003).

Robert Young (2003) define os enriquecimentos ambientais em categorias:

Social, no qual se provê ao animal a oportunidade de visualizar ou de ter contato

direto com outros de sua espécie ou de espécies diferentes, de forma permanente;

Cognitivo, no qual se cria atividades que envolvam raciocínios ou a repetição de

exercícios para executar tarefas;

Físico, que corresponde a características estruturais e às dimensões dos recintos

visando criar complexidade pelo aumento do número de aparatos (poleiros, balanços

e brinquedos) oferecidos;

Alimentar, que implica na variação e no aumento da quantidade de alimento servido

aos animais, na forma como são dispostos e nos horários de disposições diárias;

Sensorial, que agucem os sentidos e instintos da espécie. Podem subdividir-se de

acordo com a categoria sensorial em olfatórios, no qual se apresentam diferentes

odores, de fonte animal ou vegetal; visuais, no qual se apresentam imagens como

fonte de diversificação ambiental, e ainda o enriquecimento auditivo que será

discutido no tópico 1.2 Estimulação auditiva como enriquecimento ambiental.

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Evidências de que os empregos de técnicas de enriquecimento funcionam estão na

observação de que plasticidade cerebral é aumentada quando há presença de algum item de

enriquecimento ambiental (Diamond, 2001), e de que é possível reverter quadros de estresse e

prevenir e sanar patologias com a introdução dessa prática (Alho, 2012; Pizutto et al.,

2009).Os programas de enriquecimento ambiental são considerados obrigatórios para os

zoológicos de acordo com a instrução normativa nº169 do IBAMA – Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, que é órgão responsável pela

regulamentação e fiscalização dos zoológicos brasileiros.

Os primatas respondem frequentemente a estímulos propostos como enriquecimento

ambiental independentemente do tipo de estímulo (alimentar, social, físico ou sensorial) e da

espécie de primata em questão. Orangotangos e gorilas têm seus padrões de atividades

modificados à presença de enriquecimentos, aumentando comportamentos sociais afiliativos e

diminuindo tempo gasto com comportamentos estereotipados (Wilson, 1982) babuínos

interagem a presença de brinquedos, gastando mais tempo com a manipulação de objetos

(Brent & Belik, 1997) e com alimentos escondidos, dispendendo tempo em forrageamento

(Jones,& Pillay, 2004) ao invés de estereotipias, assim como chimpanzés se mostram mais

ativos e com maior qualidade de bem estar quando programas de enriquecimento ambiental

são aplicados a eles (Bloomsmith et al., 1988; Bloomstrand et al.,1986). Em primatas do novo

mundo também observamos variados tipos de interação (entre forrageamento e manipulação

de objetos, uso de ferramentas e enriquecimento social), que indicam melhorias no bem estar

de animais cativos com o uso de enriquecimento para espécies nativas como saguis (Borges &

Del-Claro, 2011; Sgai, 2007) e macacos prego (Boere, 2001; Ulyan et al.,2006). Em bugios,

existem referências literárias que mostram interações positivas com o uso de espelhos

(Chiquitelli Neto, et al.,2011), itens alimentares (Hohendorff, 2003), e dispersão de itens

físicos no espaço (Muhle, & Bicca-Marques, 2008).

Para a avaliação dos efeitos do enriquecimento ambiental sobre os animais de uma

amostra pequena de sujeitos têm-se proposto o uso de uma fase prévia (linha de base), na qual

não há exposição a fatores enriquecedores (Saudargas & Drummer, 1996; Heffner, 2004;

Gilbert-Norton et al., 2009). Posteriormente, aplica-se o enriquecimento (tratamento) e tem-se

a oportunidade de se comparar os resultados da fase experimental à linha de base. Diferenças

entre o comportamento dos indivíduos entre as fases representam efeitos de enriquecimento.

O protocolo de Heffner (2004) foi usado para se testar efeitos de um enriquecimento

alimentar provido de forma imprevisível sobre a ingestão de alimento, a frequência dos

comportamentos executados e o ganho de peso em dois grupos de catetos cativos (Nogueira et

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al., 2011). Os autores encontraram diferenças entre as fases experimentais e as linhas de base

e concluíram, a partir disso, que o tratamento aplicado melhorou o bem-estar daqueles

animais. O mesmo protocolo foi adotado por Vasconcellos (2009) para avaliar efeitos de um

enriquecimento alimentar sobre o comportamento exploratório de lobos-guarás cativos. A

autora propõe a utilização do protocolo ABAB de Saudargas e Drummer (1996), no qual as

fases experimentais (tratamentos) são repetidas intercaladas com fases controle (linhas de

base), minimizando efeitos indesejáveis de variáveis não controladas que poderiam alterar o

comportamento e levar a uma conclusão incorreta.

A repetição inalterada e excessiva de manejos alimentares ou de outros tratamentos

pode, contudo, gerar um efeito adverso resultado da previsibilidade. Para algumas espécies, a

rotina criada pela previsibilidade é maléfica por gerar tédio. Para outras espécies, contudo, a

previsibilidade traz tranquilidade e tem efeito benéfico. Indica-se, então, que cada espécie seja

testada individualmente quanto à reação à previsibilidade de uma pratica de enriquecimento

ambiental (Bassett & Buchanan-Smith, 2007; Gilbert-Norton et al., 2009).

1.2 Estimulação Auditiva como enriquecimento Ambiental

A estimulação auditiva como técnica de enriquecimento ambiental implica na

reprodução de sons no ambiente cativo. Ela pode ser usada como (1) estimulação acústica

consistente através da reprodução de sons artificiais, como uma música. Nesse caso, a

literatura se baseia nas respostas humanas (expressão de emoções variadas de acordo com o

gênero musical; Videan, 2007) à música. A música clássica, por exemplo, tem sido usada com

a finalidade de estimular emoções e sensações positivas em animais, como relaxamento e

afiliação em primatas (Videan, 2007). (2) Estimulação bioacústica através do playback de

vocalizações da espécie ou de outra. São raros os estudos que adotaram o uso de vocalizações

coespecíficas como item de enriquecimento. Em um deles, conseguiu-se aumentar as taxas

reprodutivas e estimular comportamentos de comunicação em bugios que são normalmente

exibidos em vida livre, e abandonados em cativeiro (Farmer, 2010; Clarck et al., 2012).

Existe, aqui, a expectativa de que os bons resultados no uso dessa técnica, aliados a seus

baixos custos, promovam cada vez mais seu emprego para a melhoria do bem estar de animais

em cativeiros.

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1.3 A Bioacústica e o uso de playbacks

A comunicação animal pode se dar, dentre outras formas, através do uso sinais

químicos (odores, feromônios, por exemplo), ou através de sinais visuais, como movimentos e

expressões de emoções ou intencionalidade, ou por meio da emissão de sons produzidos a

partir de um aparelho fonador (vocalizações) ou mecanicamente através de outra parte do

corpo (Searcy, 2005).

As vocalizações animais são formas de comunicação extremamente eficientes, uma

vez que o som tem a capacidade de transpor barreiras e alcançar longas distâncias (Snowdon,

2007). São usadas por muitas espécies sociais para fornecer informações sobre localização,

presença de perigo potencial (alerta), na promoção de cuidados parentais, em exibições de

corte, em demarcações territoriais e em conjunto com exibições visuais (displays) de defesa

(Pereira, 2011).

A ciência que estuda os sons emitidos pelos animais de forma contextualizada e de

acordo com a biologia e comportamento da espécie é a bioacústica. Desde seu

desenvolvimento tecnológico, a bioacústica tem servido como ferramenta para práticas de

conservação da biodiversidade, e como fonte de informações para outras áreas de pesquisa

como filogenia, zoologia, evolução e etologia (Vielliard, 2008). Uma das ferramentas da

bioacústica é a reprodução de vocalizações (playbacks) de determinada espécie através de

gravações feitas com equipamentos profissionais e rigor experimental, e exibidas aos animais

experimentais por meio de caixas de som, capazes de reproduzir com fidelidade aqueles

sinais. Sessões de playback são geralmente efetuadas em campo a fim de atrair os animais, ou

para se avaliar o tipo de resposta gerada (Vielliard, 2008) e poder inferir ou confirmar seu uso

como sinal de comunicação (i.e., tendo sido selecionado por atender a uma função adaptativa;

Pereira, 2011).

1.4 O bugio-preto, Alouatta caraya

O Alouatta caraya (HUMBOLDT, 1812) é um primata da família Atelidae da qual

fazem parte os maiores macacos da América Latina. É popularmente conhecido como guariba

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ou macaco uivador, por causa da sua característica vocalização de longo alcance emitida com

frequência em suas áreas naturais.

A espécie, habitante de cerrados, apresenta dimorfismo sexual em cor (os machos são

pretos e a fêmeas douradas com o dorso e o alto da cabeça escurecidos) (Figura 1). Os filhotes

nascem dourados. Até um ano de vida, são classificados como infantes, depois são juvenis

(entre 2 e 3 anos) e não há diferenciação entre machos e fêmeas, tornam-se sub-adultos no

início do amadurecimento sexual, que é marcado pela alteração de cor nos machos. Esses

começam a enegrecer e por fim tornam-se adultos, quando a coloração fica completamente

preta, marcando o final do amadurecimento. Já as fêmeas sub-adultas, diferenciam-se das

adultas em tamanho corpóreo e tamanho dos mamilos, sendo maiores nos dois aspectos as

fêmeas mais velhas (Gregorin, 1996).

São características do gênero Alouatta a visível alteração morfológica do osso hióide

(na região da garganta) e o uso do chamado de longo alcance – aquela vocalização intensa e

de baixa frequência acústica. A alteração no osso o transformou em uma potente caixa de

ressonância, que propaga o som por até 5 km em uma mata fechada (Steinmetz, 2005), um

alcance recorde entre os primatas do Novo Mundo (Neville et al., 1988). As vocalizações

normalmente são emitidas no início da manhã e no final da tarde e aparentemente não estão

sujeitas a alterações sazonais (Steinmetz, 2005).

Figura 1. Alguns bugios (Alouatta caraya) utilizados nesta pesquisa, cativos no Bosque e Zoológico Fábio

Barreto de Ribeirão Preto (SP) durante uma emissão matinal do rugido. À esquerda estão dois machos, que são

pretos, e à direita duas fêmeas, que são sempre douradas.

Foto: Débora S. Martins

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1.5 O repertório de vocalizações de Alouatta

Para animais que vivem em ambientes com baixa visibilidade os sons são excelentes

formas de comunicação: tem alto potencial de transmissão e não dependem da visualização do

emissor para a interpretação de seu contexto (Altman, 1974). Muitas vocalizações de Alouatta

já foram descritas e de forma contextualizada (Oliveira, 2002; Cunha & Byrne, 2006; Farmer

et al., 2011; Holzmman, 2012), mas esses estudos são quase que restritos aos sinais de longo

alcance. Oliveira (2002) descreveu dois chamados de longo alcance, o latido e o rugir das

espécies A. fusca clamitans e A. belzebul belzebul. O autor concluiu que os latidos têm

funções de alerta grupal, e é usado por animais de grupos distintos que, vocalizando de dentro

dos limites de seus territórios, acusam e defendem suas posições; e os rugidos servem à defesa

de recursos e podem ser emitidos em lutas ou em conflitos a longas distâncias.

Cunha e Byrne (2006) pesquisaram os rugidos em A. caraya e o contextualizaram

como um sinal honesto, na definição de Zahavi e Zahavi (1997), uma vez que envolve um

aparato vocal especializado e grande gasto de tempo e energia. A emissão normalmente

acontece ao amanhecer, mas também é desencadeado pelo encontro com outros grupos, ou

por eventos climáticos extraordinários. A emissão de rugidos foi ainda registrado pelos

autores sempre que os animais ocuparam novos espaços, e nas fronteiras dos seus territórios.

Após experiências simulando a intrusão em algumas áreas, os autores sugeriram que a função

dos rugidos em A. caraya era de regular o uso do espaço evidenciando a presença de um

grupo naquele local, o que seria uma estratégia para evitar conflitos entre bandos vizinhos.

As vocalizações de curto alcance de A. caraya também exercem um importante papel

na rotina destes animais e servem como indicadores de suas condições mentais e físicas.

Holzmman, (2012) oferece uma descrição contextualizada das principais vocalizações de

curto alcance da espécie e evidencia a falta de informação sobre esta parte do repertório vocal,

e a importância de seu conhecimento para agregar características cognitivas à espécie (Tabela

I).

O estudo de meta-análise de Farmer e colaboradores (2011) apontou uma relação

positiva entre possibilidade de ouvir outro grupo de bugios rugindo e taxa reprodutiva de A.

caraya mantidos em zoológicos da EAZA (European Associationof Zoos and Aquaria, de

1994 a 2009). Em zoológicos que continham mais de um grupo de bugio, e nos quais havia

interação acústica entre eles (rugiam e ouviam o outro grupo rugir com frequência) o

nascimento de filhotes era maior.

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Com base nisso, e a partir da revisão feita da literatura, levantamos a hipótese de que a

exposição regular a rugidos de coespecíficos através de playbacks aproximaria a espécie de

seu ambiente acústico natural e, ao promover a exibição de rugidos em resposta, um

comportamento natural da espécie, traria benefícios em termos de qualidade de vida em

cativeiro, i.e, bem-estar. Essa proposta de enriquecimento ambiental, não foi relatada em

literatura, o que torna nossa pesquisa inédita. Ela difere do enriquecimento sensorial sonoro

de Young (2003): não trata simplesmente de usar a musicoterapia para acalmar, nem

estimular por som, mas sim de criar e estimular a emissão de comportamentos típicos da

espécie pela inserção, no ambiente, de um sinal que estimula esse fim. A essa modalidade

especial de estimulação sensorial, chamamos enriquecimento bioacústico. O contexto natural

de emissão dos rugidos não exige contato visual, e por isso o playback é suficiente como item

de enriquecimento, segundo nossa proposta.

O desenvolvimento de novas técnicas de enriquecimento favorecem a versatilidade e

praticidade de suas aplicações e por isso devem ser encorajadas. O sucesso desta pesquisa

poderá subsidiar e estimular o uso de enriquecimento bioacústico, barato e fácil de aplicar

(não precisa ser preparado a cada uso e independente da entrada no recinto), à outras espécies

de primatas e à animais vocais de outros táxons em cativeiro.

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Tabela I - Repertório de vocalizações de A. caraya, segundo Holzmman (2012). O autor separa os sinais entre

curto e longo alcance (1ª coluna) e os insere em situações de uso e contextos específicos de emissão, co mo

apresentado aqui, após tradução para o português.

Alcance Situação de uso Vocalização Contexto

Longo Alcance Defesa de

território*

Rugido Som forte, emitido ao encontro com outros

bandos, e como rotina matinal: por vezes,

pode acontecer aos finais de tarde. A voz

mais forte pertence ao macho alfa do grupo.

Alarme Latido Pode ocorrer pausadamente (“uh”), ou em

sequências (“uh uh uh”), quando uma

mudança ambiental elicia um comportamento

em alerta.

Curto alcance Contato Mugido Com a função de manutenção do grupo

ocorre quando um membro se afasta

(“muuu”). Pode ser emitido por juvenis e

infantes em momentos de ansiedade ou

estresse.

Alimentação Relincho Dá-se quando é feita a ingestão de um

alimento, e se parece com um leve relinchar

de um cavalo.

Contato “Uhu” Emitido quando animais se distanciam do

bando ou em episódios de brincadeiras.

Contato “Aarrr” Pode ser emitido em brincadeiras que

simulam lutas, ou em conflitos reais.

Contato “M” Som curto é associado à alimentação e a

brincadeiras. Em cativeiro é emitido durante

interações com um observador humano.

Interação social

agonística.

Gritos

escalonados

sem escala

Iniciam-se em tom mais baixo que

gradualmente aumenta até finalizar em tom

alto e agudo. São comuns em situações de

conflito, compondo comportamentos

agonísticos ou em brincadeiras que simulem

lutas.

Cuidado parental Choro Composto por um som semelhante a

“Iiiiaaaa” é emitido pelo filhote, e provoca

atenção da mãe a ele.

*Cunha& Byrne (2006) sugerem uso dos rugidos na regulação do uso do espaço, evidenciando a presença de um

grupo em determinado local, uma estratégia para evitar conflitos entre bandos vizinhos.

1.6 Alouatta caraya na região de Ribeirão Preto - SP

A elaboração de um protocolo de técnicas de enriquecimento para primatas em geral é

exigida pela necessidade de se oferecer bem-estar a animais que chegam com frequência aos

cativeiros (zoológicos e outros centros de recepção de fauna recuperada pela policia ambiental

ou IBAMA), por pressão de caça, perda de habitat e ação humana. A região de Ribeirão Preto

tem sofrido constante desmatamento devido à grande produção agrária e pecuária. Os

resquícios de mata mesófila decidual (Henriques, 2003) já mal suportam os primatas da

região, dependentes de grandes áreas florestadas para defesa e forrageio: menos de 5% da

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cobertura original está preservada e ainda assim os remanescentes correspondem a ilhas

isoladas que expõe os animais a um território limitado e com escassez de alimento (Formoseli,

2006). De acordo com dados da instituição Bosque e Zoológico Municipal Fábio Barreto,

80% dos bugios que eles receberam ao longo dos anos haviam sido resgatados após alguma

forma de interferência humana em seu ambiente. A instituição julga preocupante a baixa

adaptabilidade da espécie ao cativeiro o que se reflete na alta taxa de mortalidade dos animais.

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2 A pesquisa: hipóteses, métodos de coleta e de análise de dados

2.1 Hipóteses

Levando-se em consideração os dados levantados da literatura e escolhendo o

delineamento experimental ABABA de Heffner (2004) para trabalho, as questões desta

pesquisa se colocam como hipótese da seguinte forma: A. caraya interagirá com o playback

de rugidos (fases B), executando comportamentos diferentes aos da fase controle (A, sem

modificação do ambiente), ou aumentando a frequência dos comportamentos antes exibidos,

incluindo as respostas vocais. Com base nessa hipótese de que este tipo de playback é uma

forma de enriquecer o ambiente cativo da espécie esperamos encontrar diminuição na

frequência de ocorrência dos comportamentos de descanso, agonísticos e das estereotipias e,

em contrapartida, aumento nos comportamentos exploratórios naturais da espécie.

2.2 Objetivos Gerais

Verificar se o efeito do playback como estímulo de enriquecimento ambiental para os

bugios preto, comparando-se a frequência da emissão de comportamentos nas fases

tratamento e controle através da análise do comportamento antes, durante e após sessões de

playbacks; Comparar os efeitos dos tratamentos previsíveis versus imprevisíveis, e determinar

qual deles é benéfico para a espécie em termos de bem-estar em cativeiro.

2.3 Materiais e Métodos

2.3.1 Áreas de Estudo

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O Parque Municipal do Morro de São Bento (PMMSB) é uma área de conservação

ambiental, localizada no centro da cidade de Ribeirão Preto – SP. É uma ilha de mata cercada

por todos os lados pela área urbana. Compreende uma área de aproximadamente 28 ha de

transição entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado, com vegetação sem decidual, pontuada

por espécies exóticas (Henriques, 2003). Encontram-se alguns animais de vida livre como

saguis, bugio-pretos, cutias, teiús, e dezenas de espécies de aves (dados da instituição). O

Bosque e Zoológico Municipal Fábio Barreto (BZMFB) está inserido dentro da área do

Parque, e possui atualmente cerca de 120 recintos, mais de 500 animais (dados da instituição

BZMFB, colhidos oralmente).

2.3.2 Grupos de Estudo

Os 13 bugios que participaram deste estudo foram alojados em cinco recintos do

BZMFB na área do setor extra, não sujeita à visitação conforme descrito na Figura 2. Três dos

recintos estão dispostos lado a lado, e o quarto e quinto dispõem-se de frente para aqueles

conforme ilustrado na Figura 2. Devido à proximidade dos recintos, a aplicação do

enriquecimento bioacústico foi simultânea a todos os grupos. A classificação sexo-etária

baseou-se em Gregorin (1996) com base em características morfológicas (Tabela II).

Tabela II- Distribuição dos bugios-pretos participantes da pesquisa, nos 5 recintos do Setor Extra do Zoológico

Fábio Barreto, segundo o sexo e a classe etária.

Sexo/ faixa etária Recinto 1 Recinto 2 Recinto 3 Recinto 4 Recinto 5

Fêmea Adulta 1 - - 2 1

Fêmea Sub-adulta - - - - 2

Macho adulto 1 2 2 1 -

Macho Sub-adulto - - - - -

Juvenil 1 - - - -

Infante - - - - -

A composição dos grupos foi feita de acordo com a aceitação e afinidade entre os

próprios animais e estava bem estabelecida, há um tempo mínimo de 20 dias antes do início

desta pesquisa.

Outros dois primatas estavam presentes no setor extra – um babuíno macho e uma

macaca-aranha fêmea, e também neste estudo testamos se o playback de bugios poderia ter

algum efeito adverso àqueles animais, em recintos tão próximos a fonte de som, assim como

para coespecíficos de nosso estudo alvo que vivem em liberdade no BZMFB. Esse assunto

será abordado com maiores detalhes no item 2.3.3.

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Figura 2. Esquema representativo da disposição dos recintos que abrigaram os grupos 1, 2, 3, 4 e 5 de bugios, no

Setor Extra do Bosque e Zoológico Fábio Barreto , durante a realização deste estudo. Haviam outros dois

primatas no Setor Extra. A letra A representa a localização do recinto do babuíno sagrado macho, e B da

macaca-aranha. As árvores que circundam todo esse setor extra são utilizadas constantemente por bugios de vida

livre.

Os recintos tinham dimensões aproximadas de 3x3x3m. À frente e metade da

cobertura eram fechadas por malha de metal (alambrado). Todo o resto era feito de concreto

impossibilitando a interação visual dos grupos pelas laterais do recinto. Cada grupo podia ver

apenas o grupo que estivesse a sua frente, incluindo, no caso dos grupos 1, 2 e 3, macaca-

aranha, e 4 e 5, o babuíno sagrado. Estavam disponíveis em todos os recintos, em

configuração muito parecida, alguns poleiros feitos com galhos de árvore, cordas e um pneu

amarrado para facilitar a locomoção dos animais.

Os animais eram alimentados em cochos coletivos uma vez por dia, por um tratador

específico responsável por servir-lhes uma dieta balanceada composta de frutas (mamão,

banana, maçã, melancia), legumes (cenoura, batata doce e abóbora), ovos cozidos, verduras

(acelga, almeirão e repolho) e, ração para roedores com alto teor de fibras. Além disso, duas

vezes por semana foram oferecidas folhas de árvores típicas da região. A água foi servida ad

libitum, também em cocho.

2.3.3 Protocolo Experimental

Baseamo-nos no protocolo experimental de Heffner, 2004 com o delineamento ABAB

de reversão de manipulação, com a adição de uma última fase A (ABABA). Adotamos A1

como um período controle, de linha de base da distribuição das atividades diárias daqueles

animais, sem alterações específicas no manejo de enriquecimentos ambientais, para medir e

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estabelecer uma base para comparação. Em seguida efetuamos a primeira sessão

experimental, na qual o tratamento era apresentado (playback), sempre no mesmo horário,

duas vezes por dia (manhã e tarde), portanto de forma previsível (B1).

A retirada do tratamento, para a averiguação de possíveis alterações comportamentais

se dava em A2. Um novo tratamento era introduzido, o mesmo playback, mas dessa vez de

forma imprevisível (B2), com sorteio do horário entre as07h00min e as 12h00min horas da

manhã no qual seria apresentado o playback, e entre às 13h30min e 16h30min para a sessão

da tarde. Após a medição de seus efeitos o tratamento era novamente suspenso e este efeito

era medido (A3).

O intuito da aplicação desse protocolo experimental foi averiguar se ocorreriam

alterações comportamentais (em termos de frequência de ocorrência, duração e latência), entre

as fases experimentais e as linhas de base. Detalhes das fases deste experimento estão

descritas a seguir.

2.3.4 Fase preparatória: estabelecimento dos grupos, recintos e condições de teste

Antes do início desta pesquisa os bugios já pertenciam ao plantel do BZMFB, vivendo

nos mesmos recintos utilizados nesta pesquisa, e eram submetidos a sessões esporádicas de

enriquecimento ambiental pela equipe da instituição. Essa prática foi interrompida de forma a

se garantir que 30 dias antes da fase de habituação deste estudo, e durante todo o experimento,

não houvesse mais influência de outros eventos de enriquecimento além do bioacústico que

viríamos a implantar. Fizemos algumas observações e adequações do que seriam nossos

recintos para definirmos o número de animais que poderiam ser usados e como seriam

agrupados. Agrupamos os 13 indivíduos em duplas ou trios, levando em conta sexo,

familiaridade e faixa etária, de forma a reduzir a probabilidade de confrontos entre animais de

um mesmo grupo o que se acontecesse, além de machuca-los, nos faria ter que mexer na

estrutura dos grupos depois de iniciada a pesquisa. Padronizamos o número de poleiros,

balanços e comedouros entre os recintos (Figura 3).

Um levantamento prévio dos horários em que se iniciam os rugidos foi realizado com

a presença do observador no ambiente em 15 dias alternados, em dois períodos - das

07h00min às 09h00min e das 15h00min às 17h00min. Esses horários foram escolhidos com

base na indicação da literatura de quando eram mais frequentes os episódios de vocalizações

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de longo alcance. Durante esse tempo de observação dos animais, foram registradas as

seguintes informações: identidade dos indivíduos que vocalizavam, a duração dos episódios

de vocalização e dos fatores que a influenciavam (i.e., que eliciavam seu início ou

interrompiam sua execução). Ficou definido, então, que o período de maior atividade era entre

07h00min – 17h00min, que os surtos matutinos de rugido se iniciavam por volta das

07h45min, e os vespertinos por volta das 16h00min, durando de 5 a 15 minutos. Iniciamos

então a planejada fase de habituação, com 4 recintos e 13 animais. Ao 3º dia da habituação,

contudo, os animais apresentaram sintomas compatíveis a patologias geradas por parasitas

gastrointestinais (emagrecimento, diarreia e apatia). Foram tratados com vermífugos em duas

doses com 15 dias de intervalo entre si. O macho adulto do recinto quatro veio a óbito por

infecção parasitaria e uma briga entre as fêmeas daquele recinto fez necessária a intervenção

veterinária. Neste período mais uma fêmea adulta chegou ao zoológico e foi feita sua inserção

no recinto 5. Após 15 dias dessa última alteração, iniciamos uma nova e completa fase de

habituação.

Figura 3. Foto frontal dos recintos 4 e 5 de bugios (Alouatta caraya) no setor extra do Bosque e Zoológico Fábio

Barreto mostrando a semelhança da configuração interna e dos itens dispostos, previamente estabelecidos para

esta pesquisa.

Foto: Débora S. Martins

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2.3.5 Fase de habituação

A habituação à condição experimental durou 10 dias consecutivos (iniciada em

23/09/2013), imediatamente antes do dia previsto para início da coleta de dados, em horários

aleatórios entre 06h00min e 17h00min. Durante este período e por duas vezes ao dia os

animais eram expostos por 30 minutos à presença do observador e dos materiais utilizados

para a pesquisa (câmeras filmadoras, microfones e gravador de som) instalados no corredor de

segurança entre os recintos (Figura 2Figura 1), simulando o que aconteceria nas fases

experimentais.

2.3.6 Fases de teste

Seguindo-se o protocolo, as fases foram consecutivas, cada qual com duração de 10

dias corridos, em dois horários fixos às 07h00min e às 16h30min (exceto para a fase B2, na

qual esses horários foram aleatorizados, como será descrito a seguir), com filmagem e

gravação por 30 minutos, como na habituação, e da seguinte forma:

Fase A¹: a experimentadora entrava no corredor central e instalava os materiais de

filmagem e gravação, e simulava a instalação do material de playback como se fosse ocorrer

ali uma sessão da fase B, mas nenhum som era tocado. Os comportamentos foram

quantificados para se ter uma linha de comparação com as fases de tratamento.

Fase B¹: a experimentadora entrava no corredor central e instalava os equipamentos de

filmagem e playback, e tocava uma amostra de chamado de longo alcance de A. caraya

editado para durar 1 minuto.

Fase A²: repetia-se toda a fase A¹.

Fase B²: repetia-se a fase B1, mas o horário das sessões era sorteado entre as

07h00min e as 12h00min (manhã) e entre as 13h00min e as 17h00min (tarde), a cada um dos

10 dias de duração da fase.

Fase A³: repetia-se toda a fase A¹.

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2.3.7 O playback

A reprodução dos rugidos (playbacks) executada nas fases “Bs” foi realizada sempre

da mesma forma, de um mesmo ponto de emissão, à distância, altura e direção fixas, e com o

mesmo nível de decibéis. A amostra de rugido reproduzida nos playbacks foi sempre a

mesma, tocada por 1 minuto. O som reproduzido era um recorte de um surto natural de rugido

que nos foi cedido pelo Prof. Dr. Rogério Grassetto T. da Cunha, em arquivo wav. O rugido

foi gravado por ele de uma população de A. caraya de vida livre, no Pantanal (18 59S e

56 39O) em 1997 (gravador profissional Marantz CP-430, 40-15kHz, e microfone direcional

Sennheiser ME 88 com modulo K3-U).

Para garantir que o playback seria o mais fiel possível ao som gravado, tivemos que

criar um sistema próprio e adequado às características dos rugidos dos bugios-pretos. Fizemos

isso com o auxílio do Prof. Dr. Régis R. A. Faria, do departamento de Música da FFCLRP,

USP. A Figura 4 oferece uma representação esquemática do sistema desenvolvido.

Realizamos um teste piloto a fim de estabelecermos, no local do experimento, outros detalhes

importantes como: os pontos de observação (onde houvesse boa visualização de todos os

recintos), de filmagem (para a análise posterior de cada indivíduo focal), a distância e a altura

da caixa de som em relação aos recintos, o direcionamento e o volume do som (para que

chegasse sem interferência em todos os recintos), o tempo de playback a ser executado.

Também durante os testes-piloto foi avaliada a funcionalidade e eficiência dos materiais

adquiridos e as formas de amostragem dos comportamentos exibidos pelos animais.

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Figura 4. Representação esquemática e fotográfica do sistema de playback montado para esta pesquisa, que

compõe-se de uma fonte de alimentação (D), um amplificador B) e uma caixa de som (A), adaptados a um

conector com entrada “p2” (C), que se liga à fonte de execução do som.

Foto: Débora S. Martins

2.3.8 O etograma

Visando uma amostragem representativa e relevante do repertório comportamental de

A. caraya em cativeiro, adicionamos ao etograma de Albuquerque & Conedotti (2006) outros

comportamentos descritos por Dada e Souza-Junior (2011). O etograma adotado aqui nas

análises dos vídeos foi então:

1 - Manutenção:

Descansar - O animal se acomoda em uma posição e permanece nela, entretanto sem

dormir. As posições variam entre sentado, deitado, pendurado pela cauda, ou

posturas neutras;

Bocejar: normalmente antecede o espreguiçar-se, ocorre a abertura da boca, a

inclinação da cabeça para trás e muitas vezes exposição da língua;

Espreguiçar-se: ao esticar um ou alguns membros do corpo, juntamente com a

cabeça que é inclinada para trás;

Espirrar: Semelhante ao espirro humano, ocorre uma contração muscular,

simultânea a uma forte expulsão do ar interno aos pulmões, o que acarreta barulhos.

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2 - Manutenção corporal: com as mãos o animal alisa seu pelo, e retira partículas (auto-

catação), ou com os dedos das mãos ou pés o animal executa movimentos repetidos sobre a

pele. As costas muitas vezes são friccionadas em superfícies (coçar-se).

3 – Brincar: dependurado preso por seus membros inferiores, ou apenas pela cauda o animal

balança o corpo ativamente.

4 – Vocalizar: emissões sonoras feitas com o aparelho vocal do animal, descritas na Tabela I.

5 - Atenção dirigida:

Observar: Sentado ou deitado o animal direciona seu olhar para algum evento

ambiental, como o deslocamento de outro indivíduo, e fica atento ao evento;

Ouvir: Na presença de um estimulo sonoro o animal desloca sua atenção para o

ponto de emissão do som, mesmo que não haja visualização.

6 - Catação: um indivíduo alisa o pelo, retira partículas e examina regiões de outro indivíduo,

podendo levar partículas a sua própria boca.

7 - Esfregação: ocorre atrito entre o corpo do animal e uma superfície, de forma longa e mais

lenta que o coçar-se.

8- Alerta: após um estimulo do ambiente o animal fica estático, e direciona sua atenção em

direção ao estímulo.

9 - Locomoção:

Andar: Utilização dos quatro membros em sincronia para o deslocamento em solo

ou em galhos;

Correr: O mesmo princípio utilizado para andar, mas executado mais rapidamente,

podendo envolver pequenos saltos;

Ganhar impulso: Após a flexão dos membros, principalmente os inferiores uma

força para saltar ou correr é gerada;

Saltar: Um salto é executado com os membros livres, ou com o auxílio da cauda que

fica enrolada no primeiro galho, sendo solta apenas quando a chegada a um segundo

galho é concluída;

Deslizar: o deslocamento é feito apoiando o abdômen e impulsionando o corpo para

frente.

10 - Alimentação:

Comer sentado: em galhos ou no solo, o animal senta-se e utiliza os membros

anteriores para manuseio e alimentação;

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Comer deitado: o animal deita em galhos ou no solo, e procede com sua ingestão de

alimentos;

Comer pendurado: Adota a postura de pendurar-se apena pela cauda, mas continua a

ingestão de alimentos;

Beber: ocorre a ingestão de água.

11 - Excreção:

Defecar: Inicia-se com o animal sentado no galho, utilizando a cauda como apoio,

entretanto esta fica enrolada, ou levantada lateralmente, para que as fezes saiam

livremente. O animal pode andar após o início da defecação;

Urinar: pode ocorrer antes, simultaneamente ou após a defecação, e o animal pratica

a mesma postura da defecação para urinar.

12 - Comportamentos Agonísticos:

Mostrar os dentes: lembra o ato de bocejar, entretanto os dentes aparecem mais

devido a uma maior abertura da boca, enquanto olha para o oponente e eriça o pelo;

Lutar: Com os pelos eriçados e muitas vezes emitindo vocalizações o animal adota

uma postura quadrúpede, e ameaça várias investidas balançando-se, agitando os

galhos. Ocorrem golpes, quando um animal bate um de seus membros no outro, e

podem segurar-se e morderem-se;

Morder: com aboca aberta, um animal investe sobre outro e lhe morde rapidamente.

13 - Comportamentos Reprodutivos:

Inspecionar genitália: O macho toca ou lambe a genitália da fêmea que adota uma

postura quadrúpede;

Cheirar genitália: O macho cheira a genitália da fêmea;

Copular: O macho assume a postura de monta sobre a fêmea em postura

quadrúpede, e realiza movimentos pélvicos.

14 - Cuidado parental:

Amamentar: Sentada a mãe permite que o infante se acomode em seu ventre para

alcançar as mamas e alimentar-se;

Carregar: Normalmente realizado pelas mães, mas também pode ser feito por outros

indivíduos do grupo, acomodando o filhote no dorso ou ventre;

Afastar: a mãe empurra o filhote para que este a solte. Comumente o filhote

vocaliza.

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Brincar com os pais: envolve interações sociais como empurrões, mordiscadas e

pendurar-se nos pais.

15 - Comportamentos Estereotipados:

Locomoção em círculos: o animal pode andar ou correr circularmente e repetida

vezes;

Locomoção em vai e vem: em uma reta o animal se desloca andando ou correndo

até determinado ponto, se vira e refaz o percurso repetidas vezes;

Vai e vem: em galhos, agarrado à tela ou no chão o animal se balança para frente e

para trás repetidas vezes;

Morder-se: O animal leva algum membro a boca e se morde, normalmente

vocalizando antes e olhando para outro indivíduo;

Agitar a cabeça: movimenta a cabeça lateralmente e repetidamente;

Morder o substrato: o animal morde os galhos, a grade ou algum outro item no

recinto.

16 - Interação Social Afiliativa:

Brincar: Envolve pequenas lutas, corridas e saltos, juntamente a leves resmungos e

mordiscadas;

Descansar junto: Sentados ou deitados, encostados uns aos outros;

Embolar-se: Comum em temperaturas mais baixas, ocorre uma aglomeração do

grupo, em um mesmo galho ou em caso de recintos, na mesma caixa de dormir;

Suplantar: o animal se dirige a outro que está sentado ou deitado e faz com que este

se levante, e ocupa seu lugar.

2.3.9 “Efeito vizinhança”

Nós consideramos o enriquecimento acústico e bioacústico como um paradigma que

não pode ser visto como dirigido apenas aos animais alvo. A falta de barreiras ao som pode

acarretar efeitos sobre outros animais que estejam próximos ao ponto de reprodução do som.

Assim, avaliamos o efeito vizinhança sobrea fêmea de Macaco Aranha (Ateles paniscus) e o

macho de Babuíno Sagrado (Papio hamadryas) que coabitavam o setor extra (Figura 5).

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Ambos viviam sozinhos em seus recintos e também passaram por uma fase de habituação aos

equipamentos e a experimentadora.

Além de considerarmos o efeito vizinhança para os animais cativos do BZMFB,

consideramos o efeito também para os exemplares de A. caraya que residem em liberdade

dentro do PMMSB. Esta consideração foi tomada com base na literatura, em trabalhos que

afirmam a potente dispersão do chamado mesmo em matas fechadas, e ao fato de grupos de

bugios livres já terem respondido a experimentos com playback de vocalizações de longo

alcance (Whitehead, 1989; Cunha & Byrne, 2006).

Um censo realizado dois meses antes do início de nossa coleta de dados, feito pela

pesquisadora, indicou a presença de três bandos de bugios no PMMSB. Na impossibilidade de

se monitorar também os bugios de vida livre, nos restringimos à coleta de dados de emissões

vocais, em conjunto com o protocolo adotado para o experimento.

Figura 5. Outros primatas habitantes do BZMFB sujeitos aos efeitos do enriquecimento bioacústico oferecido

aos bugios cativos que eram o alvo da pesquisa. Em A, a macaco-aranha Maya; em B, o babuíno-sagrado Kiko; e

em C, alguns membros de um grupo de bugios (Alouatta caraya) de vida-livre no BZMFB.

Foto: Débora S. Martins

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2.4.0 Análise de dados

A análise comportamental foi feita a partir das filmagens de cada sessão controle e

experimental (5 fases, 10 dias, duas vezes por dia, totalizando 100 sessões), com o uso de

duas câmeras de vídeo digitais, uma focando os recintos 1 a 3 e a outra o 4 e o 5. Para tornar

possível a amostragem focal individual dos comportamentos, analisamos as filmagens de cada

sessão diversas vezes, cada vez nos focando em um indivíduo.

Foram usados para a análise cinco minutos de filmagem de cada sessão (portanto, 500

minutos de filmagem assistidos 12 vezes, uma vez para cada indivíduo) começando no minuto

precedente ao do playback, incluindo o minuto seguinte durante o qual acontecia o playback,

até os 3 minutos pós-playback. Nas sessões controle os 5 minutos foram tomados da mesma

forma, mas nenhum som foi efetivamente tocado.

Usamos um etograma adaptado de Albuquerque e Conedotti (2006) e de Dada e

Souza-Junior (2011) (descrito no item 2.3.1) para identificar os comportamentos e registrar

sua ocorrência e duração no programa Ethoplayer 1.3 (Leo Software Inc., Toulouse, França).

Os dados de duração média e totais dos comportamentos a cada sessão e por indivíduo foram

exportados para o Excel (Microsoft Office 2010), através do qual calculamos os valores

médios individuais de duração relativa (porcentagem da duração total de cada comportamento

em uma sessão de 5 minutos) dos comportamentos para cada fase. Ou seja, para cada fase

tínhamos um valor de duração relativa de cada categoria comportamental para cada indivíduo

que correspondia à média dos valores diários da manhã e dos da tarde.

Os resultados da análise comportamental são apresentados em duas partes, uma de

exploração inicial do conjunto geral de dados, e uma seguinte na qual os 16 comportamentos

são agrupados em 6 categorias. Isso foi feito por causa da baixa frequência de exibição de

muitos comportamentos. A literatura da área de enriquecimento ambiental mostra que efeitos

da inclusão de itens de enriquecimento são observados sobre comportamentos de descanso,

interação social, exploratórios e estereotipados (Bryant et al., 1988; Boere, 2001;). Nisso nos

baseamos para definir os agrupamentos, mantendo isolados mesmo aqueles que ocorreram

pouco, como os comportamentos estereotipados e o alerta. O agrupamento dos

comportamentos resultou nas seguintes categorias comportamentais:

Comportamentos Autodirigidos (AD): locomoção, alimentação, excreção e

manutenção corporal.

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Comportamentos Sociais (SO): brincadeira, vocalização, esfregação, catação,

interações sociais agonísticas, afiliativas e parentais.

Descanso (DS).

Atenção dirigida (AT).

Alerta (AL).

Estereotipias (ET).

2.4.1 Análises estatísticas

Para testar se as diferenças nas durações relativas dos comportamentos entre as fases

eram significativas, testamos as seis categorias comportamentais em cada uma das cinco fases

(A1, B1, A2, B2, A3) quanto à normalidade (pelo teste de Shapiro-Wilks), e avaliamos a

homogeneidade de variâncias (Teste de erro de Levene) para verificar a possibilidade de

adotar um teste paramétrico. Como AL e ET não atenderam às premissas dos testes

paramétricos, submetemos a uma análise de variância fatorial de medidas repetidas (cada

sujeito passou por todas as fases) apenas AD, SO, MN e AT. As análises de variância foram

feitas separadamente para cada comportamento. Usamos a Fase como um fator intra-sujeito

de cinco níveis (A1, B1, A2, B2, A3; within-subjects factor) e o Período (manhã, tarde) e o

Sexo (macho, fêmea) como fatores independentes (between subjects). Por ter a Fase mais de

dois níveis, foi necessário testar a cada ANOVA o atendimento à premissa de esfericidade

através do Teste de Mauchly. Quando houve violação da premissa, adotamos o fator de

correção Greenhouse-Geisser precedido pelo cálculo do episilon (uma descrição estatística do

grau de violação da esfericidade: quanto mais episilon se afasta de 1, mais alto é o grau de

violação, ao que se indica o uso de um fator de correção, Norusis, 2007). Mudanças na

duração relativa de ET e AL ao longo das fases foram analisados pelo teste não paramétrico

de Friedman. As diferenças encontradas entre as cinco fases no teste foram avaliadas com o

teste de Wilcoxon, que determinou entre quais pares de comparação estavam as diferenças, e

foi adotada a correção de Bonferoni. Todas as análises estatísticas foram feitas no programa

SPSS 22 (Microsoft IBM).

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NOTA ÉTICA

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade de São

Paulo, Campus Ribeirão Preto, sob o protocolo 13.1.951.53.0 aprovado em 07 de outubro de

2013, e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) sob o

número 41145-1.

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3 Resultados

3.1 A linha de base: distribuição de tempo nas atividades antes do

enriquecimento (Fase A1)

A Figura 6 apresenta o orçamento de tempo, isto é, a distribuição do tempo ao longo

da sessão, com cada um dos comportamentos exibidos na fase A1, antes da introdução do

tratamento (playback). Ao considerarmos o sexo e o período dos animais temos quatro

variáveis: Machos manhã (MM), Machos tarde (MT), Fêmeas manhã (FM) e Fêmeas tarde

(FT).

Figura 6. Durações relativas médias das categorias comportamentais de A. caraya cativos do BZMFB (Ribeirão

Preto, S.P) e utilizados neste experimento de enriquecimento ambiental, em função do sexo e do período, durante

a fase A1 (linha de base).

O comportamento Descanso ocupava em geral a maior parte do tempo dos animais

(46% para MM e MT; 42% para FT), seguido pelos Comportamentos Sociais (36% FM; 27%

MM) e Atenção dirigida (19%). As Estereotipias ocupavam entre 3 e 6% do tempo dos

animais nessa fase. Os comportamentos Auto-dirigidos duravam mais tempo no período da

tarde para os dois sexos (15% MT; 19%FT) e Alerta só tomava o tempo das fêmeas à tarde.

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3.2 Efeitos do enriquecimento: alteração na duração relativa dos

comportamentos entre os tratamentos

A Atenção dirigida e o Alerta aumentaram nas fases de teste (B1 e B2) e voltaram ao

valor da linha de base (A1) após as fases de playback, ou seja, sofreram efeito do tratamento.

No caso de Atenção dirigida, houve um pico em B2 (grande aumento em sua duração

relativa), e o recuo observado em A3 ficou no nível de B2 e não de A1. Um efeito inverso se

vê em Estereotipias que diminuem em frequência nas fases de playback, B1 e B2. Os

comportamentos autodirigidos variam muito pouco: têm uma pequena queda em frequência

em B1, um leve pico em B2 e terminam em A3 com uma frequência de ocorrência menor do

que a linha de base, A1.

Inesperadamente os Comportamentos Sociais aumentaram muito em termos de

duração, o que é representado pelo pico na fase intermediária de controle (A2) na Figura 7.

Ao final do estudo (A3), o comportamento volta a tomar quase a mesma proporção de tempo

que tomava em A1. Já o comportamento Descanso diminui de B1 a B2 (fases tratamento).

Figura 7. Duração relativa média das seis categorias comportamentais registradas, independentemente e do sexo

e do período da sessão, para os Bugios pretos cativos no BZMFB em cada fase deste estudo.

Os resultados dos testes de Anova apresentam-se na Figura 8. Adotamos o fator

Greenhouse-Geisser para DS e AD (Teste de Mauchly: Comportamentos Sociais: X29=17,136,

p=0,05; Atenção dirigida: X29=24,310, p=0,00; Descanso X2

9= 21,652, p=0,01;

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

A1 B1 A2 B2 A3

Du

raçã

o r

ela

tiva

dia

das

se

is c

ate

gori

as

com

po

rtam

en

tais

(%

)

Fases do Experimento

Manutenção

Autodirigidos

Social

Atenção dirigida

Alerta

Estereotipias

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AutodirigidosX29=16,632, p=0,06). Os quatro comportamentos variaram significativamente

entre as fases: Comportamentos Sociais F4,80=15,542, p=0,00, n2=0,437; Atenção dirigida

F4,80=8,989, p=0,00, n2= 0,310, Descanso F4,80=9,005, p=0,00, n2=0,310; Auto-dirigidos

F4,80=4,200, p= 0,004, n2= 0,174. A Figura 8 aponta entre quais fases cada comportamento

diferiu no nível p<0,05. A duração relativa média de Descanso e dos comportamentos Auto-

dirigidos e Sociais mudou após o tratamento (A1xB1).

Figura 8. Comparação entre a duração relativa média de quatro categorias comportamentais registradas para

Alouatta caraya cativos no BZMFB, entre as fases deste estudo. As barras representam o valor médio da duração

relativa sem distinção de sexo e período, e as linhas ligando as barras apontam entre que fases a diferença foi

significativa segundo o ANOVA de medidas repetidas .

Houve efeito do período sobre a fase nos comportamentos Sociais e Auto-dirigidos

(F4,80=6,6625, p=0,000, n2=0,249; F4,80=6,816, p=0,00, n2=0,254) e em Social encontrou-se

ainda efeito de Sexo em Fase F(4,80)=5,917, p=0,00, n2=0,181. A Figura 9 mostra os efeitos

em SO e AD.

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Figura 9. Duração relativa média das categorias comportamentais SO e AD em cada fase, por sexo e por período,

para os bugios cativos no BZMFB alvos desta pesquisa de enriquecimento ambiental. O ANOVA mostrou

efeitos do sexo e do período em SO (acima) e do período em AD (abaixo) entre as fases.

Para Comportamentos sociais, vemos em MM um pico discrepante em B1, mas em B2

o comportamento apresenta sua duração mais baixa para o experimento. Já em MT ocorrem

dois picos próximos em B1 e A2, e embora a duração continue diminuindo em B2 e A3, os

valores não são menores do que os encontrados na linha de base. O pico discrepante em FM

também ocorre em A2, e novamente o menor valor de duração para esta categoria ocorre em

B2.

Já os comportamentos Auto-dirigidos apresentaram picos discrepantes para machos e

fêmeas, no período da manhã em relação à fase B2, sendo que de manhã em machos, o

comportamento tem um declínio em sua duração desde a linha de base, e em fêmeas ocorre a

diminuição da duração nas duas fases tratamento (B1 e B2). Em relação aos comportamentos

Alertae Estereotipias comparados de forma não-paramétrica pelo teste de Friedman, a

duração relativa de AL variou significativamente entre as fases (independente do sexo e do

período, X24=52,245, p=0,00; machos X2

4=38,213, p=0,00; fêmeas X24=35,779, p=0,00).

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Também em Estereotipias houve variação significativa na duração relativa entre as fases,

quando se considerou todo o conjunto de dados (X24=52,245, p=0,00), mas a diferença deixa

de ser significativa quando se separam os sexos (machos X24=2,756, p=0,60; fêmeas

X24=13,092, p=0,01). A Figura 9 compara períodos e sexos entre fases para esses dois

comportamentos. Há diferença entre os sexos nas fases A1 e B1 no comportamento de Alerta

(fase A1, macho x fêmea: z=-2.310, p=0.021; fase B1 z=-2.824, p=0.005). O período (manhã

x tarde) não contribui para as diferenças encontradas entre as fases nesses comportamentos

quando os sexos são considerados juntos (veja a

Figura 10 e a Figura 11).

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Figura 10. Comparação entre os valores de duração relativa média entre os períodos (acima) e entre os sexos

(abaixo) para as categorias comportamentais Alerta e Estereotipias registrados para bugios cativos no BZMFB,

sujeitos do experimento realizado com playbacks como elemento de enriquecimento ambiental. O teste de

Wilcoxon apontou diferença significativa entre os sexos nas fases A1 e B1, ou seja, na linha de base e no

tratamento previsível; diferença entre sexos em AL na fase A1(macho x fêmea: z=-2.310, p=0.021) e em B1

(z=-2.824, p=0.005). Os machos ficaram mais alertas do que as fêmeas, mas os valores foram todos menores do

que 1%. Os dados de ET se devem a apenas uma fêmea, enquanto está mais bem distribuído entre os machos.

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Figura 11. Resultado do teste não-paramétrico de Wilcoxon que comparou os valores de duração relativa dos

comportamentos Alerta (AL) e Estereotipias (ET) em cada fase. As células amarelas indicam as diferenças

significativas a p<0,01 (com a correção de Bonferoni: p=0,05 dividido pelas 10 comparações entre fases). A

célula verde indica que além da diferença entre as fases, houve um efeito do sexo em AL na fase A1 (macho x

fêmea: z=-2.310, p=0.021) e em B1 (z=-2.824, p=0.005).

3.3 O efeito dos tratamentos (previsível e imprevisível) e de suas retiradas

Para os comportamentos AL, ET DS e AT, que não apresentaram diferenças

estatísticas para sexo e período tiveram estas categorias agrupadas em uma única linha.

Sociais e Auto-dirigidos foram ilustrados separadamente (Figura 12).

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Figura 12. Variação na duração relativa de quatro categorias comportamentais registradas para os Alouatta

caraya cativos, em três intervalos de tempo entre todas as fases experimentais deste estudo, com bugios (A.

caraya) no BZMFB (Ribeirão Preto, SP).

Ao olharmos para o comportamento Descanso, observamos a diminuição da duração

relativa de A1 para B1; Durante B1 temos um aumento no meio da fase, e depois a duração

volta a cair, se mantendo com poucas variações até a metade da fase B2, onde começa a

diminuir até o final desta fase. Em A3 a duração deste comportamento volta a aumentar de

forma contínua até o término do experimento. Atenção dirigida tem um aumento inicial (A1 –

B1), mas durante a fase B1 podemos observar o decréscimo dos valores de sua duração, que

volta a aumentar após o término desta fase, até o início de B2; entretanto o comportamento

apresenta uma nova oscilação com a diminuição seus valores na metade de B2, um novo

aumento até o início de A3, e novamente uma redução em seus valores até o término de A3.

Para Alerta também observamos um aumento de A1 para B1, e logo após a diminuição

contínua do comportamento até o final de B1, e sua duração só volta a acontecer no início de

B2, mas após seu pico um efeito parecido ao visto em B1 ocorre novamente, acarretando na

diminuição constante da duração relativa. O comportamento Estereotipias apresenta

incialmente uma diminuição de sua duração relativa de A1 para B1: no primeiro dia da fase o

comportamento não se apresenta, mas aumenta até o final da fase A2. No início de B2

voltamos a observar a ausência deste comportamento, mas novamente sua duração relativa

aumenta gradualmente até o final do experimento.

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Figura 13. Variação na duração relativa das categorias comportamentais Auto-dirigidos (acima) e Sociais

(abaixo) em três intervalos de tempo entre as fases desse estudo, com os bugios (A. caraya) pertencentes ao

plantel do BZMFB (Ribeirão Preto, SP).

Os comportamentos Auto-dirigidos que apresentaram diferenças significativas entre

períodos, o fazem no final da fase B2, onde no período da manhã se apresenta o maior pico da

duração relativa para ambos os sexos. Já comportamentos Sociais apresentou uma

discrepância para as fêmeas no período da manhã em A2: no meio da fase se encontra o pico

do comportamento (Figura 13).

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3.4 Efeito vizinhança

Figura 14. Gráfico da duração relativa das categorias comportamentais s mais relevantes do indivíduo de Macaco

Aranha analisado nesta pesquisa durante todas as fases do experimento no BZMFB.

O que encontramos durante a observação dos tratamentos para este indivíduo (Macaco

Aranha), que nos evidencia um efeito enriquecedor foi uma diminuição dos comportamentos

Estereotipias entre B1 e B2, picos do comportamento Alerta em B1 e B2, e um aumento do

comportamento Atenção dirigida entre A1 e B1, e sua diminuição entre B2 e A3, mas não

constatamos indicações de diferenças influenciadas pela previsibilidade (Figura 14).

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Figura 15. Duração das categorias comportamentais mais relevantes do indivíduo da espécie Babuíno Sagrado

analisado nesta pesquisa durante todas as fases do experimento no BZMFB.

O babuíno-sagrado mostrou alterações comportamentais entre as fases, mas não

conseguimos estabelecer um efeito enriquecedor (Figura 15). Para esta espécie tivemos um

aumento do comportamento Estereotipias em B1 e aumento do comportamento Descanso

durante os tratamentos.

3.5 Ocorrências de emissões de Rugidos

Observamos um aumento (Figura 16 e Figura 17) das emissões de rugidos matinais

dos indivíduos cativos em todas as fases após o primeiro dia de experimentação, e os picos

dessa emissão são vistos nas fases de tratamento (B1 e B2). Já no período da tarde, esse tipo

de emissão vocal cessa totalmente após o início do experimento. Voltamos a citar o trabalho

de Cunha & Byrne, 2006 que coloca a função do chamado como de delineamento de áreas de

ocupação e reforço desta ocupação, principalmente quando emitido no meio da considerada

área de uso, os autores encontraram frequentes respostas de vocalização de rugidos. Para os

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indivíduos de vida livre, no período da manhã o feito foi inverso e suas taxas de emissão de

rugidos em B1 e B2 são menores que nas fases controle. Para o período da tarde a vocalização

não ocorre em A2 e B2.

Figura 16. Diferenças entre número de ocorrências de rugido que ocorreram durante as fases do experimento e

durante o período de habituação (H), para os bugios em vida livre e em cativeiro no BZMFB, no período da

manhã e da tarde.

Figura 17. Dispersão das vocalizações de longo alcance (rugidos) dos bugios em vida livre e em cativeiro que

ocorreram em: H- habituação; A1, A2 e A3- linhas de base; B1 e B2 – tratamentos; C- fase cancelada; P- pausa

para tratamento veterinário onde não houve coleta de dados , no BZMFB, registrados em horas no período da

manhã e da tarde, durante este estudo.

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4 Discussão

Mostramos neste estudo que a bioacústica também serve de ferramenta para a

melhoria do bem-estar de animais em cativeiro. Como previmos em nossa hipótese, o

playback de rugidos de coespecíficos a Alouatta caraya, independente de ser de forma

previsível ou não, serviu como um item de enriquecimento ambiental: diminui o tempo de

exibição de estereotipias e aumentou a duração dos comportamentos naturais da espécie,

como interações sociais, alerta e atenção dirigida. (Bryant et al., 1988; Boere, 2001; Hill &

Broom, 2009). Com isso, sugerimos a inclusão de “enriquecimento bioacústico” à

categorização de Young (2003).

Os resultados encontrados na fase A1 (linha de base) não diferem muito do que

encontramos em literatura para Alouatta. O Descanso (machos e fêmeas apresentaram

respectivamente, 46% e 34% em média para os dois períodos em nosso estudo), foi também

para Rossi (2011), em seu estudo de suplementação de população, comportamento como

maior compositor percentual de seu etograma com 47,2% para machos e 41,6% fêmeas. A

autora cita ainda outras pesquisas (Bicca-Marques, 1991 com 63% e Bravo & Sallenave, 2003

com 57%) nas quais os valores para esta categoria são altos. Também em cativeiro Descanso

foi o comportamento exibido com maior frequência (61,6%) em Alouatta clamitans (Dada,

2009). Alguns autores já questionaram em seus trabalhos a alta inatividade em Alouatta;

Strier (1992) os considera ecologicamente como minimizadores de gasto energético, já que

sua alimentação a base de folhas é de difícil digestão.

Os comportamentos Sociais, que em nosso estudo apresentou 20% para machos e 28%

para fêmeas na fase A1, tem em sua composição mais de 90% (91 para fêmeas e 93 para

machos) o comportamento Descansar junto, que é considerado no etograma de Albuquerque e

Conedotti (2006), como uma categoria social do comportamento dos animais.

Podemos considerar as variações na duração relativa dos comportamentos entre as

fases tratamento e controle como fatores que demonstram a eficácia do tratamento como

enriquecimento ambiental. O aumento da incidência do comportamento Alerta e Atenção

dirigida em ambas as fases tratamento (B1 e B2) nos permite dizer, como base em Boere

(2001) que houve um efeito enriquecedor (alterações em incidência e frequência de

comportamentos após inserção de novos estímulos são considerados efeitos do

enriquecimento) uma vez que estímulos que despertam a atenção dos animais são potenciais

elementos de enriquecimento ambiental (Bryant et al., 1988).

O aumento da incidência de comportamentos naturais da espécie pode ser considerado

uma evidência do efeito benéfico da inserção de itens de enriquecimento ambiental. Dawkins

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(1990) propõe que o sofrimento (como estados emocionais desagradáveis como medo, tédio,

dor e fome) tenha acompanhado a seleção dos comportamentos de cada espécie durante o

processo evolutivo, e assim, que os animais precisam executar comportamentos para sanar

seus sofrimentos. Os ambientes de cativeiro são pobres em estímulos que gerem sofrimentos,

para que os animais tenham motivação em exercer comportamentos naturais de sua espécie, o

que incrementaria seu índice de bem estar (Dawknins, 1990).

A falta de oportunidade em cativeiro, para que os animais executem comportamentos

com finalidades para as quais estes foram selecionados também é colocada por Broom, (1988)

e este diz que os animais em cativeiro devem ser livres de sofrimentos como sede, fome , dor,

mas que estes devem ter oportunidades de escolha, onde possam ter a alternativa de executar

ou não comportamentos. As restrições de oportunidade comportamental aliados a outros

fatores estressantes correlacionados ao cativeiro (como iluminação artificial, a exposição ao

som alto e constante, odores excitantes, temperaturas desconfortáveis, substratos.

inadequados, movimento restrito pelo espaço falta de pontos de fuga para o animal, a

proximidade forçada para os seres humanos, redução das oportunidades de alimentação,

manutenção em grupos sociais anormais), podem causar diversos comportamentos anormais,

ou ainda em contexto anormal – as estereotipias (Morgan, & Tromborg, 2007).

As estereotipias são consideradas um forte indicador do bem estar animal, fatores

como frustração e medo são associados ao aumento de suas emissões, e estímulos que

diminuam a frequência destes comportamentos no repertório do animal são considerados

enriquecedores (Mason, 1991). Sendo assim, associamos a emissão dos comportamentos

naturais (como alerta e atenção dirigida) à diminuição de comportamentos estereotipados

durante as fases deste estudo como um efeito benéfico do experimento.

Ao analisarmos a frequência da ocorrência de comportamentos estereotipados vemos

que estes tomaram menos tempo dos animais nas fases tratamentos e, ressaltando que esses

comportamentos são vistos pela literatura da área como indicativo de baixo nível de bem-estar

(Swaisgood & Shepherdson, 2005), temos aqui uma evidência do potencial enriquecedor do

tratamento. A diminuição de comportamentos estereotipados é uma evidência da eficiência do

enriquecimento ambiental aplicado em vários estudos (Bryant et al., 1988; Boere, 2001; Hill

& Broom, 2009).

Os comportamentos dirigidos aos outros membros do grupo (Interação social),

relacionados à organização hierárquica e à manutenção das relações afiliativas do bando

(Jones, 1983), aumentaram progressivamente a partir da primeira fase de tratamento (B1) até

o final da fase A2. O aumento das interações sociais pode ser uma evidência do seu papel no

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espaçamento entre grupos vizinhos, como mecanismo de reforço de ocupação territorial e

propaganda regular de ocupação como sugerem Cunha e Byrne (2006) para os rugidos de

Alouatta caraya. Assim como os rugidos serviriam para evitar conflitos físicos nessas

disputas por território promovendo a coesão, os comportamentos sócio-positivos também

promovem a coesão. Ao se sentirem ameaçados, os animais reforçam os laços entre si e

unem-se contra intrusos. Jones (1983) considera os comportamentos sociais em Alouatta

caraya também como possíveis antecipadores de conflitos e associa a emissão destes a teoria

de que bugios tem um custo metabólico muito alto, devida a seu tipo de alimentação (Milton

1979), então a energia poupada em conflitos ao se executar comportamentos sociais é a opção

mais recorrente destes animais.

Anteriormente já havíamos citado que Cunha e Byrne (2006) consideram alto o gasto

energético dispendido para a emissão do rugido, já que envolve fatores como tempo, força e

aparato vocal, e que Strier (1992) considera os bugios minimizadores de energia. Com base

nessas premissas, e nas apontadas por Milton (1979) e Jones (1983) de que os Alouatta tentam

minimizar seus gastos energéticos inclusive com a promoção de comportamentos sociais o

aumento destas interações social durante este estudo pode indicar que o rugido emitido por

playback foi associado como um requisito de manutenção e defesa do território e eliciou uma

resposta de coesão grupal, já que a principal atividade vista dentro da categoria social foi o

descansar junto, um potencial de resposta econômica de energia.

4.1 A imprevisibilidade do tratamento serviu como enriquecimento aos bugios?

Ao compararmos os efeitos das fases de tratamento entre as linhas de base,

constatamos um efeito enriquecedor refletido nos comportamentos Estereotipias, Alerta,

Atenção dirigida e Sociais, como dito anteriormente. Contudo, ao olharmos separadamente

para os tratamentos constatamos pequenas diferenças. A fase B1 com horários previsíveis se

mostrou muito efetiva como enriquecimento no início de sua fase, mas, com o passar dos dias

de tratamento, sofreu nova alteração: as Estereotipias aumentaram e Alerta e Atenção dirigida

diminuíram. Esses efeitos reversos ao encontrado durante os primeiros dias do tratamento

poderiam indicar um efeito da previsibilidade, a habituação, uma tendência ao retorno à linha

de base, e perda do efeito enriquecedor (Saudargas & Drummer, 1996). A diminuição dos

comportamentos apresentados à presença do enriquecimento após uma excessiva repetição

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demonstra a habituação do animal e a perda do efeito benéfico do enriquecimento (Bryant et

al., 1988).

Para a fase B2 associamos algumas ocorrências à imprevisibilidade: não existe um

padrão específico de variação do comportamento Atenção dirigida e Estereotipias como

encontrado em B1; o comportamento de Alerta é bem correlacionado entre os gêneros no

período da tarde, mas não de manhã e Interação social tem um leve aumento no período

manhã e diminui a tarde para os gêneros. Essa relação entre os períodos e a imprevisibilidade

pode ter acontecido, pois normalmente a emissão dos rugidos ocorre bem cedo, no período da

manhã e a alteração dos horários de emissão do playback para este período pode ser mais

confusa e evidenciar respostas diferentes e individuais. Se compararmos em média, as fases

B1 e B2, encontramos poucas diferenças entre elas. O tempo gasto em Descanso, Alerta,

Estereotipias e Comportamentos sociais é maior em B1, e em Atenção dirigida em B2.

Em propostas futuras podemos sugerir que outros tipos de sons e vocalizações sejam

testados como elementos de enriquecimento ambiental acústico e bioacústico para espécies

cativas.

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4.2 Sustentação fisiológica da diminuição do estresse: análise dos metabólitos

fecais

Embora as mudanças comportamentais sejam um indicio claro de resposta ao

tratamento no protocolo ABAB (Saudargas & Drummer, 1996), tem-se usado a comprovação

fisiológica da diminuição do estresse em experimentos que avaliam melhoria em bem-estar

após alguma modificação (Vasconcellos et al. 2011). Assim, era nosso plano desde o início da

pesquisa avaliar alterações hormonais previsíveis em resposta aos experimentos. De fato, a

coleta dos dados para a análise foi feita com um método não invasivo de amostragem de

metabólitos de glicocorticóides em fezes. Foram recolhidas amostras fecais diariamente de

todos os indivíduos analisados, durante as cinco fases do experimento e a de habituação.

Para identificação individual das fezes usamos corantes alimentícios que, após a

ingestão possibilitam a diferenciação das fezes por suas diferentes colorações (Stravinsky et

al, 2001). Três diferentes cores de corante alimentício líquido da marca Arcolor® (Arco-íris

Brasil LTDA) foram adicionados à uma massa de banana, mel e cereal de aveia em pó,

amassadas formando bolinhas (Figura 18). Cada animal recebeu diariamente de duas a três

bolinhas à tarde para que as primeiras fezes do dia seguinte já saíssem coloridas. As cores não

se repetiram em um mesmo recinto, facilitando a identificação das amostras fecais. Como a

mistura já havia sido elaborada e adotada pela pesquisadora em trabalhos anteriores de

enriquecimento ambiental sabíamos que a marcação permanecia nas fezes por até 3 dias.

Figura 18. Itens alimentares (bolinho de banana, mel e cereal de arroz) marcados com os corantes artificiais (A)

para a marcação individualizada das amostras fecais para as análises dos metabólitos de glicocortidóides; B

mostra a oferta de uma das bolas marcadas em azul turquesa diretamente a uma das fêmeas de bugio, e em C, um

macho mordendo um marcador na cor rosa. Estes registros foram feitos com ao bugios deste estudo cativos no

BZMFB.

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Foto: Débora S. Martins

Essas amostras foram pesadas, liofilizadas (secadas) e submetidas a um processo de

extração com base na metodologia sugerida por Rangel-Negrín et al., (2014). A partir daí, era

necessário um protocolo de validação das amostras para os valores de metabólitos de

glicocorticoides, o que seria incialmente feito pelo "desafio de ACTH”, mais comumente

usado na literatura quando se tem um valor de dosagem definido de ACTH para injeção na

espécie de estudo (Dias et al., 2008; Heistermann, et al. 2006). Esse não foi o caso para

Alouatta. Não há na literatura dosagem de ACTH para nenhuma espécie do gênero. Assim,

buscamos um protocolo alternativo de validação das concentrações de metabólitos de

glicocorticoides que nos servisse. Tomamos por base os trabalhos que utilizam apenas o que

se chama de “pico estressor” (cria-se um estresse agudo e máximo, por ex., através de

contenção física) e isso serve de base para a validação de alteração nas concentrações de

metabólitos de glicocorticoides nas fezes (Martínez-Motaet al., 2008; Behie et al., 2010).

Adotamos como picos estressores o uso de anestesia química e de contenções físicas. Em

Fevereiro de 2015 o zoológico precisou conter e anestesiar um macho e uma fêmea e

aproveitamos para coletar as fezes dos dois por três dias consecutivos após a intervenção.

Estas amostras também foram liofilizadas e extraídas e somadas ao quadro de amostras que

serão analisadas assim que tivermos acertado o envio do material para um laboratório que

possa fazê-lo.

4.3 Efeito vizinhança

Aqui faremos uma discussão com base em apenas um indivíduo de cada espécie, com

características individuais que podem ter influência sobre os comportamentos registrados, mas

consideramos que a familiaridade entre Atelidae, na qual se encontram os Bugios e Macacos

Aranha pode ter facilitado a dispersão do efeito enriquecedor deste experimento para o

exemplar de Macaco Aranha do BZMFB. O mesmo não ocorreu para o exemplar de Babuíno

Sagrado já que notamos um aumento dos comportamentos estereotipados na fase B1.

Ressaltamos com essa parte do experimento o cuidado que devemos ter ao utilizar técnicas de

enriquecimento que não podem ser direcionados apenas aos sujeitos alvo, como o

enriquecimento bioacústico, uma vez que o efeito deste enriquecimento pode ser estressor e

causar malefícios sobre o comportamento de outras espécies.

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4.4 Emissões de rugidos

A emissão de playbacks no estudo de Cunha e Byrne, (2006) em áreas de borda de

fronteiras territoriais eliciava um efeito menor de emissões vocais de rugidos do que no meio

da área. Como o playback não era direcionado aos indivíduos de vida livre e não foi feito um

estudo de suas áreas de uso, pouco podemos concluir sobre o padrão de emissão de rugidos

apresentado por estes grupos livres, mas para os animais cativos, o playback foi um potencial

eliciador destas vocalizações, mesmo que não em resposta contígua a emissão do som, e sim

nos horários naturais de emissão para a espécie.

4.5 Efeitos inesperados

4.5.1 Visita da Fêmea de vida livre

Durante nossa pesquisa notamos um acontecimento nunca antes registrado dentro do

Zoo Fábio Barreto. Como descrito na metodologia é de conhecimento a existência de bugios

de vida livre na área verde onde o zoológico está inserido.

No dia 27/01/2014 uma fêmea adulta que já havia sido avistada vagando sozinha em

algumas ocasiões começou a passar bastante tempo nas árvores que circundam o local do

cativeiro dos bugios (Figura 19). Na ocasião um tratador relatou que no dia anterior, uma

fêmea de vida livre estava sobre os recintos de bugios caminhando na tela de contenção.

Novamente uma fêmea foi avistada em 12/02/2014. No período da manhã ela apenas

estava próxima aos recintos, entretanto no período da tarde, ela voltou para tela de cima de

um recinto no qual residem dois machos, sendo um deles, visualmente o macho de maior

porte dentre os cativos. Nesta ocorrência conseguimos fotografar e filmar a cópula desta

fêmea com o macho cativo de maior porte (Figura 20). A fêmea permaneceu sobre a tela por

cerca de 20 minutos. Este fato nunca havia sido registrado pelos funcionários do BZMFB

antes desta pesquisa.

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Figura 19. Foto lateral dos recintos de bugio no BZMFB onde podemos observar uma fêmea livre (dourada),

sobre a grade dos recintos de bugios em 12/02/2014 e 27/01/14 respectivamente.

Foto: Débora S. Martins

Figura 20. Registro de macho cativo (preto) e fêmea livre (dourada) copulando em 12/02/2014 com a tela de

proteção do recinto entre eles; a imagem em questão se encontra circulada por vermelho.

Foto: Débora S. Martins

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4.5.2 Atração de um macho adulto de vida livre com o playback

Em 09/11/13 no período da manhã, o playback foi tocado durante a fase B1 do

experimento em seu terceiro dia. Nesta ocasião, deu-se a aproximação de um macho de bugio

adulto, à caixa de som que emitia o playback, cerca de 2 minutos após o término do som, o

macho surgiu por um bambuzal e desceu o máximo que uma haste envergada de um bambu

permitiu (estimamos entre 1m e 1,5m de distância do aparelho), e observou a caixa de som

por cerca de mais 2 minutos. Após esta observação o macho executou uma série de

comportamentos agonísticos como balançar o galho, arrepiar-se e expor os dentes. Este

display durou cerca de 1 minuto e meio. Após esta exibição ele retirou-se um pouco mais para

cima, em uma haste mais grossa e estável do bambu e continuou sua observação do material

por cerca de mais 5 minutos. Na ocasião todas as câmeras estavam fazendo a filmagem para

registro dos comportamentos dos bugios em cativeiro, o que impossibilitou o registro

eletrônico desta ocorrência.

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5 Conclusão

Com esta pesquisa concluímos:

(1) O uso de playbacks de rugidos de coespecíficos de Alouatta caraya serve

como técnica de enriquecimento ambiental bioacústico para a espécie, já que

diminui a ocorrência de comportamentos estereotipados.

(2) A alteração dos horários do playback como elemento de imprevisibilidade não

teve efeito enriquecedor sobressalente ao teste previsível, provavelmente porque no

ambiente natural os chamados não são imprevisíveis.

(3) Este tipo de enriquecimento pode afetar positiva ou negativamente outras

espécies de primatas habitantes de recintos vizinhos.

(4) O uso do enriquecimento bioacústico aumentou a emissão da vocalização

utilizada como playback (o rugido), mas tendencialmente no horário em que ela

normalmente ocorre, não sofrendo alterações com o teste de imprevisibilidade.

(5) O uso de playbacks elicia respostas (não necessariamente vocais) também em

indivíduos de vida livre, mesmo quando o mesmo não é direcionado diretamente a

estes animais.

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