bibliografia de sousândrade

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Joaquim de Sousa Andrade nasceu no Maranhão aos 9 de julho de 1833. Apesar de ser filho de latifundiários, questionava a aristocracia rural e apoiava as idéias republicanas e abolicionistas. Viajou por vários países, como: Inglaterra, América Latina, Estados Unidos e França, cidade na qual se formou em Letras pela Universidade de Sorbonne. Morou em Nova Iorque durante algum tempo, onde conheceu a sociedade capitalista, bastante diferente da realidade brasileira. Suas poesias refletem suas experiências vividas através das suas viagens: a cultura indígena, a frenética ascensão da industrialização européia e norte-americana e a visão capitalista. Quando da proclamação da República volta ao Maranhão, ignorado por todos morre isolado e na miséria, em 21 de abril de 1902. Para os parâmetros românticos, as poesias de Sousândrade são revolucionárias, pois demonstra preocupações com as questões sociais e, por esse motivo, aproxima-se da terceira geração romântica. Seus versos são repletos de um vocabulário diferenciado com termos indígenas, neologismos e palavras inglesas. Seu longo poema narrativo “Guesa errante” é sua obra mais importante e compreende a lenda de um adolescente sacrificado para servir de oferenda a deuses, contudo, escapa e foge para Nova Iorque, onde começa a conviver com os capitalistas. Vejamos um trecho deste poema: Guesa errante Eia, imaginação divina! Os Andes Vulcânicos elevam cumes calvos, Circundados de gelos, mudos, alvos, Nuvens flutuando – que espetác’los grandes! Lá, onde o ponto do condor negreja, Cintilando no espaço como brilhos D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde lampeja Da tempestade o raio; onde deserto, O azul sertão, formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto!

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Joaquim de Sousa Andrade nasceu no Maranhão aos 9 de julho de 1833. Apesar de ser

filho de latifundiários, questionava a aristocracia rural e apoiava as idéias republicanas e

abolicionistas.

Viajou por vários países, como: Inglaterra, América Latina, Estados Unidos e França,

cidade na qual se formou em Letras pela Universidade de Sorbonne. Morou em Nova

Iorque durante algum tempo, onde conheceu a sociedade capitalista, bastante diferente da

realidade brasileira. Suas poesias refletem suas experiências vividas através das suas

viagens: a cultura indígena, a frenética ascensão da industrialização européia e norte-

americana e a visão capitalista.

Quando da proclamação da República volta ao Maranhão, ignorado por todos morre

isolado e na miséria, em 21 de abril de 1902.

Para os parâmetros românticos, as poesias de Sousândrade são revolucionárias, pois

demonstra preocupações com as questões sociais e, por esse motivo, aproxima-se da

terceira geração romântica. Seus versos são repletos de um vocabulário diferenciado com

termos indígenas, neologismos e palavras inglesas.

Seu longo poema narrativo “Guesa errante” é sua obra mais importante e compreende a

lenda de um adolescente sacrificado para servir de oferenda a deuses, contudo, escapa e

foge para Nova Iorque, onde começa a conviver com os capitalistas.

Vejamos um trecho deste poema:

Guesa errante

Eia, imaginação divina!

Os Andes

Vulcânicos elevam cumes calvos,

Circundados de gelos, mudos, alvos,

Nuvens flutuando – que espetác’los grandes!

Lá, onde o ponto do condor negreja,

Cintilando no espaço como brilhos

D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos

Do lhama descuidado; onde lampeja

Da tempestade o raio; onde deserto,

O azul sertão, formoso e deslumbrante,

Arde do sol o incêndio, delirante

Coração vivo em céu profundo aberto!

Obras: Poesia: Harpas selvagens (1857); Guesa errante (1866); Novo Éden (1893).

Por Sabrina Vilarinho

Graduada em Letras

Equipe Brasil Escola

Veja mais!

Cruz e Sousa 

Vida e obra do autor responsável pelo marco inicial do Simbolismo no Brasil.

http://www.brasilescola.com/literatura/sousandrade.htm

Sousândrade (1833 - 1902)

Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido como Sousândrade, nasceu e faleceu no Maranhão, porém, viveu grande parte da sua vida entre o Brasil, a Europa e os Estados Unidos.

 

Autor de vasta obra, seu trabalho mais importante é fruto de suas viagens, responsáveis pelo contato com realidades diferentes ao redor do mundo. O aspecto que mais o diferencia dos outros poetas brasileiros é a originalidade da sua poesia, principalmente com relação à ousadia de vocabulário com o uso de palavras em inglês e neologismos, bem como de palavras indígenas. Além disso, a sonoridade dos poemas também rompe com a métrica e com o ritmo tradicionais, o que despertou a atenção da crítica literária do século XX.

Seu trabalho, então esquecido, foi resgatado na década de 1960 pela crítica literária, principalmente pelos poetas Haroldo e Augusto de Campos, responsáveis pela análise de sua obra.

Seu poema mais famoso é o Guesa Errante, escrito entre 1858 e 1888, composto por treze cantos e inspirado em uma lenda andina na qual um adolescente, o Guesa, seria sacrificado em oferecimento aos deuses. O índio, porém, consegue fugir e passa a morar em uma das maiores ruas de Nova York, a Wall Street. Os sacerdotes que o perseguiam estão agora transformados em capitalistas da grande cidade de Nova Iork e ainda querem o sangue do Guesa, que vê o capitalismo consollidado como uma doença.

Dotada de pinceladas autobiográficas, o Guesa Errante denuncia o drama dos povos indígenas à exploração dos povos europeus.

Veja um trecho do poema:

(...)

"Nos áureos tempos, nos jardins da AméricaInfante adoração dobrando a crençaAnte o belo sinal, nuvem ibéricaEm sua noite a envolveu ruidosa e densa.

"Cândidos Incas! Quando já campeiamOs heróis vencedores do inocenteÍndio nu; quando os templos s'incendeiam,Já sem virgens, sem ouro reluzente,

"Sem as sombras dos reis filhos de Manco,Viu-se... (que tinham feito? e pouco haviaA fazer-se...) num leito puro e brancoA corrupção, que os braços estendia!

"E da existência meiga, afortunada,

O róseo fio nesse albor amenoFoi destruído. Como ensanguentadaA terra fez sorrir ao céu sereno!

(...)

http://www.soliteratura.com.br/romantismo/romantismo09.php

biografia e principais obras de Sousândrade

Sousândrade 

Nascido em 09 de julho de 1832, na vila de Guimarães, termo da então comarca de Alcântara no Estado do Maranhão, Joaquim de Souza Andrade ou Sousândrade, como o poeta gostava de ser chamado, possui uma obra poética original e inovadora para sua época, embora ainda bastante desconhecida do público. Durante anos, seus poemas ficaram esquecidos, sendo resgatados a partir de 1950. Sousândrade era filho de comerciantes de algodão, produto de grande exportação na época e que tinha o Maranhão como sua principal fonte de produção. Por isso, teve condições financeiras de estudar na Europa onde graduou-se em Letras pela Universidade de Sorbonne (Paris), além de ter cursado nessa mesma cidade o curso de Engenharia de Minas. Durante esse tempo de estudos na Europa, viajou para outros países, entre eles Portugal, Alemanha e Inglaterra. Nesses, entrou em contato com a poesia de grandes poetas como Baudelaire, Cesário Verde, Hördelin, Keatse tantos outros, o que influenciaria na formação de suas obras.

Em 1870, fixou residência nos Estados Unidos, pois sua filha foi estudar no Sacred Heart em Nova Iorque. No período de 1871 a 1879 foi secretário e colaborador do periódico O Novo Mundo, dirigido por José Carlos Rodrigues em Nova Iork (EUA). Voltou para São Luís no final do reinado de Dom Pedro II para lecionar no Liceu maranhense, comemora com entusiasmo a Proclamação de República. Participou ativamente da política naquele estado, sendo ativista da causa republicana.

Republicano convicto, em 1890 foi presidente da Intendência Municipal de São Luís – MA. Realizou a reforma do ensino, fundou escolas mistas e idealizou a bandeira do Estado. Foi candidato a senador, em 1890, mas desistiu antes da

eleição. No mesmo ano foi presidente da Comissão de preparação do projeto da Constituição Maranhense.

Sua poesia contém algumas características da geração romântica, como a presença do nacionalismo e da nostalgia da terra querida, aliadas a uma forte preocupação social. Embora, alguns críticos classifiquem sua obra como pertencente à geração condoreira, ela possui elementos da poesia modernista, entres eles reflexões sobre a modernidade e a vida nas grandes cidades, valorização da cultura popular.

Sobre sua poesia, o poeta Augusto de Campos afirmou: "no quadro do Romantismo brasileiro, mais ou menos à altura da denominada 2ª geração romântica (conceito cronológico), passou clandestino um terremoto. Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, como o poeta preferia que o chamassem, agitando assim, já na bizarria do nome, aglutinado e acentuado na esdrúxula, uma bandeira de guerra." Foi um poeta extremamente inovador para seu tempo, cuja obra apenas recentemente passou a ser estudada.

Publicou “Harpas selvagens”, em 1857, e "Harpa de Ouro" (1888/1889), porém sua obra mais importante é o longo poema “Guesa”, publicado enquanto Sousândrade ainda estava nos Estados Unidos. Obra que foi sucessivamente ampliada e corrigida, "Guesa" utiliza recursos expressivos, como a criação de neologimos e de metafóras vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte. Faleceu em 21 de abril de 1902, no Hospital Português, em São Luís. Os originais de suas últimas produções tornaram-se papel de embrulho nos comércios da cidade.

“Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50 anos depois; entristeci – decepção de quem escreve 50 anos antes.” (Sousândrade, 1877).

Principais obras de Sousândrade

O GuesaCanto PrimeiroEia, imaginação divina!Os AndesVulcânicos elevam cumes calvos,Circundados de gelos, mudos, alvos,Nuvens flutuando — que espetac'los grandes!

Lá, onde o ponto do condor negreja,Cintilando no espaço como brilhosD'olhos, e cai a prumo sobre os filhosDo lhama descuidado; onde lampeja

Da tempestade o raio; onde deserto,

50(Comissários em Filadélfia expondo a CARIOCAde PEDRO AMÉRICO, QUAKERS admirados:)

— Antedilúvio 'plesiosaurus,'Indústria nossa na Exposição...— Oh Ponza! que coxas!Que trouxas!De azul vidro é o sol patagão!(...)

73(Fletcher historiando com chaves de São Pedro e pedras de São Paulo:)

O azul sertão, formoso e deslumbrante,Arde do sol o incêndio, deliranteCoração vivo em céu profundo aberto!

.............................................

"Nos áureos tempos, nos jardins da AméricaInfante adoração dobrando a crençaAnte o belo sinal, nuvem ibéricaEm sua noite a envolveu ruidosa e densa.

"Cândidos Incas! Quando já campeiamOs heróis vencedores do inocenteÍndio nu; quando os templos s'incendeiam,Já sem virgens, sem ouro reluzente,

"Sem as sombras dos reis filhos de Manco,Viu-se... (que tinham feito? e pouco haviaA fazer-se...) num leito puro e brancoA corrupção, que os braços estendia!

"E da existência meiga, afortunada,O róseo fio nesse albor amenoFoi destruído. Como ensanguentadaA terra fez sorrir ao céu sereno!

"Foi tal a maldição dos que caídosMorderam dessa mãe querida o seio,A contrair-se aos beijos, denegridos,O desespero se imprimi-los veio, —

"Que ressentiu-se, verdejante e válido,O floripôndio em flor; e quando o ventoMugindo estorce-o doloroso, pálido,Gemidos se ouvem no amplo firmamento!

"E o Sol, que resplandece na montanhaAs noivas não encontra, não se abraçamNo puro amor; e os fanfarrões d'Espanha,Em sangue edêneo os pés lavando, passam.

"Caiu a noite da nação formosa;Cervais romperam por nevado armento,Quando com a ave a corte deliciosaFestejava o purpúreo nascimento."

Assim volvia o olhar o Guesa ErranteÀs meneadas cimas qual altaresDo gênio pátrio, que a ficar distanteS`eleva a alma beijando-o além dos ares.

E enfraquecido coração, perdoaPungentes males que lhe estão dos seus —Talvez feridas setas abençoa

-Brasil é braseiro de rosas;A União, estados de amor:Floral... sub espinhosDaninhos;Espinhal... sub flor e mais flor.(...)

106(Procissão internacional, povo de Israel, Orangianos, Fenianos,Budas, Mórmons, Comunistas, Niilistas, Farricocos,Rail-road-Strikers, All-brokers, All-jobbers, All-saints,All-devils, lanternas, música, sensação; Reporters:Passa em London o ‘assassino’ da Rainha eEm Paris ‘Lot’ o fugitivo de Sodoma:)-No Espírito-Santo d’escravosHá somente um Imperador;No dos livres, versoReverso,É tudo coroado Senhor!(...)

176(Magnético handle-organ; ring d’ursos sentenciando à pena-últimao arquiteto da farsália; Odisseu fantasma nas chamasdos incêndios d’Albion:)-Bear,,, Bear é ber’beri, Bear... Bear...=Mammumma, mammumma, Mammão!-Bear... Bear... ber’... Pegásus...Parnasus=Mammumma, mammumma, Mammão.

Harpa XXIV- O Inverno(...)

Salve! felicidade melancólica,Doce estação da sombra e dos amores-Eu amo o inverno do equador brilhante!A terra me parece mais sensível.Aqui as virgens não se despem negrasÀ voz do outono desdenhoso e déspota,Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens!Aqui dos montes não nos foge o tronoDessas aves perdidas, nem do pradoDesaparece a flor. A cobra mansa,Cor d'azougue, tardia, umbrosa e dúctil,No marfim do caminho endurecidoSerpenteia, como onda de cabelos

Da formosura no ombro. À noite a lua,Qual minha amante d'inocente riso,

Na hora saudosa, murmurando adeus.

* * *Canto SegundoOpalescem os céus — clarões de prata —Beatífica luz pelo ar mimosoDos nimbos d'alva exala-se, tão grataAcariciando o coração gostoso!

Oh! doce enlevo! oh! bem-aventurança!Paradíseas manhãs! riso dos céus!Inocência do amor e da esperançaDa natureza estremecida em Deus!

Visão celeste! angélica encarnadaCo'a nitente umidez d'ombros de leite,Onde encontra amor brando, almo deleite,E da infância do tempo a hora foi nada!

A claridade aumenta, a onda desliza,Cintila co'o mais puro luzimento;De púrpura, de ouro, a c'roa se matizaDo tropical formoso firmamento!

Qual um vaso de fina porcelanaQue de através o sol alumiasse,Qual os relevos da pintura indianaÉ o oriente do dia quando nasce.

Uma por uma todas se apagaramAs estrelas, tamanhas e tão vivas,Qual os olhos que lânguidas cativas,Mal nutridas de amores, abaixaram.

Aclaram-se as encostas viridantes,A espreguiçar-se a palma soberana;Remonta a Deus a vida, à origem d'antes,Amiga e matinal, donde dimana.

Acorda a terra; as flores da alegriaAbrem, fazem do leito de seus ramosSua glória infantil; alcion em clamosPassa cantando sobre o cedro ao dia

Lindas loas boiantes; o selvagemCala-se, evoca doutro tempo um sonho,E curva a fronte... Deus, como é tristonhoSeu vulto sem porvir em pé na margem!

Talvez a amante, a filha haja descido,Qual esse tronco, para sempre o rio —Ele abana a cabeça co'o sombrioRiso do íris da noite entristecido.

Co'a face branca assenta-se nas palmasDa montanha estendendo os seus candores,Mãe da poesia, solitária, errante:O sol nem queima o céu como os desertos,Simpáticas manhãs é sempre o dia.

Geme às canções d'aldeia apaixonadasMui saudoso violão: as vozes cantamCom náutico e celeste modulado.Chama às tácitas asas o silêncioAo repouso, aos amores: as torrentesProlongam uma saudade que medita:Vaga contemplação descora um poucoO adolescente e o velho: doce e tristeEu vejo o meu sentir a naturezaRespirar do equador, selvagem belaDe olhos alados de viver, à sombraAdormecendo d'árvore espaçosa.

(...)Harpa XXVI- Fragmentos do Mar(...)

Meneia a larga cauda e as barbatanasLimoso leviatã cheio de conchasCom dorso de rochedo que ondas cercam;Cristalinos pendões planta nas ventas,De brilhantes vapores, que em bandeirasÍris enrolam de formosa sombra.Negra fragata lá circula as asasSobre a nuvem dos peixes voadores.Agora rompe a nau lençóis infindosQue o mar tépido choca, e vindo a auroraJá salta a criação d'escamas belas.

(...)Harpa XXXIIDos rubros flancos do redondo oceanoCom suas asas de luz prendendo a terraO sol eu vi nascer, jovem formosoDesordenando pelos ombros de ouroA perfumada luminosa coma,Nas faces de um calor que amor acendeSorriso de coral deixava errante.Em torno a mim não tragas os teus raios,Suspende, sol de fogo! tu, que outroraEm cândidas canções eu te saudavaNesta hora d'esperança, ergue-te e passaSem ouvir minha lira. Quando infanteNos pés do laranjal adormecido,Orvalhado das flores que choviamCheirosas dentre o ramo e a bela fruta,Na terra de meus pais eu despertava,

(...)Canto Segundo-O Tatuturema(MUXURANA, histórica:)

— Os primeiros fizeramAs escravas de nós;Nossas filhas roubavam,LogravamE vendiam após.

(...)

(Coro dos Índios:)

— Mas os tempos mudaram,Já não se anda mais nu:Hoje o padre que folga,Que empolga,Vem conosco ao tatu.

(TAGUAIBANUÇU conciliador; coro em desordem:)

— Eram dias do estanco,Das conquista da FéPor salvar tanto impioGentio...— Maranduba, abaré!...

(...)(Alvissareiras no areial:)

— Aos céus sobem estrelas,Tupã-Caramuru!É Lindóia, MoemaCoema,É a Paraguaçu;

— Sobem céus as estrelas,Do festim rosicler!Idalinas, VerbenasDe Atenas,Corações de mulher;

— Moreninhas, Consuelos,Olho-azul Marabás,Palidez Juvenílias,MaríliasSem Gonzaga Tomás!

(...)

(Netuno:)

Minhas irmãs sorrindo, e o canto e aromas,E o sussurrar de rúbida mangueira —Eram teus raios que primeiro vinhamRoçar-me as cordas do alaúde brandoNos meus joelhos tímidos vagindo.Ouviste, sol minha'alma tênue d'anosToda inocente e tua, como o arroioEm pedras estendido, em seus soluçosAndando, como o fez a natureza:De uma luz piedosa me cercavasAquecendo-me o peito e a fronte bela.Inda apareces como antigamente,Mas o mesmo eu não sou: hoje me encontrasÀ beira do meu túmulo assentadoCom a maldição nos lábios branquecidos,Azedo o peito, resfriada cinzaOnde resvalas como em rocha lôbrega:Escurece essa esfera, os raios quebra,Apaga-te p'ra mim, que tu me cansas!A flor que lá nos vales levantasteSubindo o monte, já na terra inclina.

Eu vi caindo o sol: como relevosDos etéreos salões, nuvens bordaramAs cintas do horizonte, e nas paredesEstátuas negras para mim voltadas,Tristes sombras daquelas que morreram;Logo depois de funerais cobriu-seToda amplidão do céu, que recolheu-me.(...)Harpa XXXIV- Visões(...) Eu despertava em meu delírioAnte a realidade! a virgem morta,Pálida e fria a reconheço, eu rujo!E de homem ver-me, comecei chorar.— Quis seu corpo aquecer sobre o meu corpo;Uni sua boca à minha, a voz lhe dando,Que o túmulo não guarda. Em verdes folhasNua deitei-a, as mãos postas, e as trançasEscorreram-lhe em torno. Dias, diasPreso a seus pés levei a contemplá-la!Grandes e abertos sobre mim ficaramSeus olhos fixos e vidrados, longosComo a meditação de uma sentença!

(...)Eu vi! — seu corpo transparente inchando;Perderem-se os seus olhos nas suas faces;Humor fétido escoa-se da carne,Tão pura e fresca, tão cheirosa inda ontem,Que ela amou apertar em mim, d'insonteFrenética de amor, nervosa e trêmula!Formosa ondulação das castas ancas,

— Os poetas plagiam,Desde rei Salomão:Se Deus cria — procriam,Transcriam —Mafamed e Sultão

(...)

(Cunhãmas e Cunhãtans:)

— Lamartine é sagrado?— Se não tem maracás,Ô, ô, ô! — vibram arcosMacacos,Tatus-Tupinambás.

(...)Canto terceiro

As balseiras na luz resplandeciam —oh! que formoso dia de verão!Dragão dos mares, — na asa lhe rugiamVagas, no bojo indômito vulcão!Sombrio, no convés, o Guesa erranteDe um para outro lado passeavaMudo, inquieto, rápido, inconstante,E em desalinho o manto que trajava.A fronte mais que nunca aflita, brancaE pálida, os cabelos em desordem,Qual o que sonhos alta noite espanca,"Acordem, olhos meus, dizia, acordem!"E de través, espavorido olhandoCom olhos chamejantes da loucura,Propendia p'ra as bordas, se alegrandoAnte a espuma que rindo-se murmura:Sorrindo, qual quem da onda cristalinaPressentia surgirem louras filhas;Fitando olhos no sol, que já s'inclina,E rindo, rindo ao perpassar das ilhas.— Está ele assombrado?... Porém, certoDentro lhe idéia vária tumultua:Fala de aparições que há no deserto,Sobre as lagoas ao clarão da lua.

Imagens do ar, suaves, flutuantes,Ou deliradas, do alcantil sonoro,Cria nossa alma; imagens arrogantes,Ou qual aquela, que há de riso e choro:Uma imagem fatal (para o ocidente,Para os campos formosos d'áureas gemas,O sol, cingida a fronte de diademas,índio e belo atravessa lentamente):

Dos seios virginais, da alva cinturaBela voluptuosa... disformou-seEm repugnante, (quem a vira e amara!)Em nojenta, esverdeada, monstruosaOnda de podridão! Zumbiam moscas,Famintos corvos sobre mim se atiram,Recurvas unhas regaçando e abrindoNegras asas e o bico, triunfantesSoltando agouros! Eu a defendiaDa ave e do inseto, que irritados vêem-me.

(...)

(...) Eu quis limpá-laDesses monstros horríveis, que a comiamDiante mim! porém, tudo era imundícia,Oh! quantas vezes me lancei sobre ela,Julgando tudo amores, tudo encantosDela emanando em límpidos arroios!Fujo de nojo... de piedade eu volto...Depois, como as enchentes pluviaisEscoando, que os troncos já se amostram,Seus ossos vão ficando descobertos.Oh! mirrado eu fiquei do sofrimento,De tanta dor curtir! E tu, ó Deus,Que tudo acabas, sofrerás também?Porque tão miseráveis nos fizeste,Deus d'escárnio? teus filhos nós não somos...Que sorte de alimento ou de deleiteEncontras na desgraça desumana?

Belo horror da existência — formosura,Filha da natureza engrandecidaNo seu pecado e morte, meteoroEnganoso da noite, flor vermelhaEm veneno banhada, mulher bela!— Tudo ali 'stá! — ó mundo! mundo... mundo...

(...)Embalde interroguei mudo cadáver,E os ossos amarelos nem respondem!Mas, aqui a mulher não é perjura:Só lembrança de amor santo evapora —A beleza se forma ao pensamento,À saudade suas véstias se derramam.

(...)

Harpa XXXV- Visões..........................................Mas, o rio que passa azul, vermelho,Conforme a cor do céu, quem foi que o fez?Quem é que do despenho alcantilado

Estrela de carvão, astro apagadoPrende-se mal seguro, vivo e cego,Na abóbada dos céus, — negro morcegoEstende as asas no ar equilibrado. Canto QuintoNoite. Está reclinado o Guesa Errante,Olhando, — as grandes selvas se aclararamÀ fogueira que acesa foi distante...— Gritam das ruínas! as soidões gritaram!

E luzente na noite, para as chamasVoa longo sibilo, serpentinos,No ar desatando laços repentinos,Fósfor nas bruno-lúcidas escamas,

E à fogueira lançou-se, do ar alado,Surucucu-de-fogo! — árido ouvidosEram crebos funestos estalidosDos seus dúcteis anéis, o incêndio ateado!

Oh! quanto a chama e a cobra, tormentosas,Uma à outra envolviam-se raivandoPor mútua antipatia! e mais lutando,Mais, deslocando-se achas resinosas,

Em labareda as chamas se laceram,Que ao meio delas, rúbida, convulsa,S'esmalta a cobra e relampeia e pulsa,Desdobrada espiral! — Emudeceram

Do Guesa os servos, que dispersos foramE brandando e bradando amedrontados;Grupam-se ao longo; enquanto os apagadosIncêndios vêem braseiros que descoram.

Mas, desondeando pela terra o açoite,A cobra, em todo o orgulho de serpente,Alça o colo; e ciciando, e lentamente,O Guesa a vê passar través da noite;

E luminosa e qual se então se houvesse,Vencidas chamas, acendido nelas,Traço de luz, lhe nota as malhas belasDo vermelhão, que às iras resplandece.

Ora apagou-se; e dum brunido umbrio,Penetrou das ruínas na caverna:Lá, viva tocha o crânio, vela eterna;Os viandantes a vêem — quem nunca a viu?

Umbrosa e tarda, à do silêncio guarda,Oh! paz e amor ao gênio bom dos lares,Que a luz ofende, que importuna acende

Leva-o saudar os campos e esses vales?E este vento que me açoita as facesDe condenado e arranca-me os cabelos?E este coro florestal da terra,Solene e cheio, como dos altares,Vozes, órgãos, incenso todo o templo?Este meu pensamento pressurosoRolando dentro em mim? este meu corpoNinho dessa ave de tão vastas asas?...Quanto é sublime todo este universo!Quem te negara o ser? — quando houve tempoQuando nada existiu, que tudo fez-se!Mas, o infinito compreender não posso.Donde saíste, Deus, onde vivias,Rodeado do espaço? ele gerou-tePor dominá-lo sol onipotente?Mais ele fora. Não. Acaso o caos,Revolvido incessante às tempestades,Estalado em lascões, lavas brilhantesOutras térreas, librando-se embaladasNas asas da atração fraterna entre elas,Qual presas pelas mãos por não perderem-se,Ordenou-se por si? ou fora acasoA criação fatal, tudo se erguendoSegundo as circunstâncias? Oh, infernoDa obscura razão — mofa, ludíbrioCom que Deus pisa o homem! Um Deus fez tudo!Um Deus... palavra abstrata, incompreensível...Mas a sinto tão ampla, que me perde!— E então, quem aos mares suspendidosA verdura defende, e que se atiremUns astros sobre os outros? Deus...um DeusAo sol dá cetro e luz, asas ao vento,Leito às águas dormir, delírio ao homemQuando queira abraçá-lo. Dorme o infanteSob os pés de sua mãe, que ama e não sabe:A natureza ao Criador se humilhe.Não tenho alma infinita, porque é cegaÀ verdade imortal: visse ela o eterno —Quanto eu amara! quanto — Eu sou bastardo,Não sei quem são meus pais... se amar não posso,A existência me enfada: enjeito-a, e morro!

(...)

Elogio do Alexandrino

Asclepiádeo verso: à evolução do poemaDas sestas, cadenciar d'altas antigüidades,já porque bipartido em fúlgidas metadesReata em conjunção opostos de um dilema,E já por ser de gala a forma do matizHeleno na escultura e lácio na linguagemReacesda, de Alexandre, em fogos de Paris:

Pródigo filho, a dor destes lugares!

E esta Equidade eterna, que aos céus deraO raio serpentino, deu à terraA serpente radiante — açoite e açoite,Ou relâmpago, ou ação fugaz da noite.

A dor foi longa, viu-se a pausa que houve —E continua a Guesa, tristementeA fronte a alevantar, que tão pendenteTaciturna caía —...........................................

Canto Décimo-O Inferno de Wall Street(O GUESA, tendo atravessado as ANTILHAS, crê-se livre dosXEQUES e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dosdesertos:)

1— Orfeu, Dante, Enéias, ao infernoDesceram, o Inca há de subir...— Ogni sp'ranza lasciate,Che entrate...— Swedenborg, há mundo porvir?2(Xeques surgindo risonhos e disfarçados em Railroad-managers, Stockjobbers, Pimpbrokers, etc., etc.,apregoando:)

— Harlem! Erie! Central! Pennsylvania!— Milhão! cem milhões!! mil milhões!!!— Young é Grant! Jackson.Atkinson!Vanderbilts, Jay Goulds, anões! 3(A Voz mal ouvida dentre a trovoada:)

— Fulton's Folly, Codezo's Forgery...Fraude é o clamor da nação!Não entendem odesRailroads;Paralela Wall-Street à Chattám... 4(Corretores continuando:)

— Pigmeus, Brown Brothers! Bennett! Stewart!Rotschild e o ruivalho d'Astor!!— Gigantes, escravos

Paris o tom da moda, o bom gosto, a roupagem;Que desperta aos tocsins, galo às estrelas d'alva,Que faz revoluções de Filadélfia às salvasE o verso-luz, fardeur das formas, de grandeza,o verso-formosura, adornos, lauta mesaOnd' tokay, champanh', flor, copos cristal-diamantesSobrelevam roast-beef e os queijos e o pudding.Porém, mens divinior, poesia é o férreo guante:Ao das delícias tempo, o fácil verso ovante,o verso cor de rosa, o de oiro, o de carmim,Dos raios que o astro veste em dia azul-celeste;E para os que têm fome e sede de justiça,O verso condor, chama, alárum, de carniça,D'harpas d'Ésquilus, de Hugo, a dor, a tempestade:Que, embora contra um deus "Figaro" impiedadeVesgo olhinho a piscar diga tambour-major,Restruge alto acordando os cândidos espíritosÀs glórias do oceano e percutindo os gritosRéus. Ao belo trovoar do magno TrovadorOuve-se afinação no mundo brasileiro,Acorde tão formoso, hodierno, hospitaleiro,Flamívomo social, encantador. FulguraLuz de dia primeiro, a nota formosura,Que ao jeová-grande-abrir faz novo Éden luzir.

Harpa de Ouro1889-1899República é Menina BonitaDiamante Incorruptível1Entre os astros, sagrados montesFeliz asilo da paixão:Puros jardins, sonoras fontes,E virginal um coraçãoVibrando aos claros horizontesE encantado à etérea soidão.2Quis ser em chegar, primeirinha:Oh! A gentileza do lar!A tudo dispor; pra onde vinhaSem dizer e onde a s’encontrarFé, por sugestão que adivinha,Alma que espera.“Hei de, he de a(...)3“Doces miragens, adeus! VejoNa profundez do coração,O interno oceano do desejo,D’Heleura a ideal solidão:Vos deixo a Deus. Deixai-me o beijoPreço da livre sem senão:4“Doutra dona... oh, a inteligência

Se os cravosJorram luz, se finda-se a dor!... 5(Norris, Attorney; Codezo, inventor; Young; Esq.,manager; Atkinson, agent; Armstrong, agent; Rodhes,agent; P. Offman & Voldo, agents; algazarra, miragem; aomeio, o GUESA:)

— Dois! três! cinco mil! se jogardes,Senhor, tereis cinco milhões!— Ganhou! ha! haa! haaa!— Hurrah! ah!...— Sumiram... seriam ladrões?...(...)

22(Hino de Sankey chegando pelo telefono a Steinway Hall:)

-O Lord! God! Almighty Policeman!O mundo é ladrão, beberrão,Burglar e o vil vândalo

EscândaloFreevole... e ‘í vem tudo ao sermão!(...)

Dona... mas, cetim branco e flor!‘Menina e moça’, áurea existênciaMusa cívica a Musa-Amor!Já fotografara-te o pensamentoQue um pensamento houve a transpor”.5Das cinzas fênix renascida,Arte divina a retratarAnos treze - quão parecida!Ela era; hei de noutra a encontrarHelê que dos céus é descida,Céus! A borboleta solar!6“A metamorfose sagradaDe jovem pátria e o cidadãoOiro de lei, Virgínia honradaPor todo o nobre coração:Ditando diga: eu sou a amada,A amante Luz, o Amore o Pão.”

http://biografias100.blogspot.com.br/2013/05/biografia-e-principais-obras-de.html

Sousândrade e os tropos do romantismo

 

A intenção deste trabalho é situar Sousândrade no panorama do Romantismo brasileiro. Sousândrade é, ao lado de Castro Alves e Tobias Barreto, um dos representantes da terceira geração romântica (segundo Massaud Moisés, ou quarta geração romântica, de acordo com a classificação proposta por Afrânio Coutinho), também conhecida por Condoreira [1] . Essa geração é caracterizada por uma intensa impregnação político–social, nacionalista, pelo culto ao progresso, além de estar ligada aos ideais abolicionistas.

Os poetas desse grupo apresentam grande preocupação formal, que leva o grupo a experiências que, aliadas ao clima de realismo literário e filosófico, conduzem a poesia num rumo de transição, algo como um “romantismo realista”.

Sousândrade deixa-se influenciar fortemente pela cultura

clássica, na busca de versos obedientes e compassados, mesmo com a sua rebeldia crescente ao longo do tempo, preserva-a de forma latente, especialmente na sonoridade.

O que mais identifica Sousândrade com o Romantismo é a sua fidelidade aos tropos do período, como veremos alguns mais detalhadamente à frente. Porém, mostra-se um tanto heterodoxo, rompendo com convenções ao produzir suas obras. Adota em seus versos os temas em moda, porém muitas das vezes de forma bastante diferenciada. Embora estabeleça críticas ao Romantismo da época, Sousândrade não escapa a alguns tropos desse movimento, que acabariam por se transformar em lugares comuns.

Dos preceitos românticos, o que mais prezava era a liberdade, tendência dominante que introduzia inovações, quer na estrutura dos gêneros, na inspiração, na temática, na língua, no estilo e na técnica da versificação. Tal liberdade estética permitiu a Sousândrade criar seu estilo particular, como define em suas Memorabilia que introduzem os cantos V a VII d’O Guesa: 

“Amo a calma platônica; admiro a grandiosidade do Homero ou do Dante; seduz-me a verdade terrível shakespeareo-byrônica; e a celeste lamartiniana saudade me encanta.. Ora, todas estas generosas naturezas não me ensinaram nunca a fazer verso, a traçar os contornos da forma, a imitar vox faucibus o seu canto, porém a uma coisa somente: ser individualidade própria, ao próprio modo acabada – enamorada e crente em si própria.

Ser absolutamente eu livre, foi o conselho único dos mestres; e longe de insurrecionar-me contra eles, abracei de todo o coração os seus preceitos.” (grifo nosso) 

Sousândrade aplicou genialmente na prática a independência literária das formas européias, tão almejada pelos românticos. É pela liberdade, como demonstrado acima, que ele volta-se para cantar nossas próprias belezas naturais, que livre de adornos, e de maneira mais verossímil, deveriam, a seu ver, configurar a verdadeira poesia nacional: 

“Até a nossa ortografia portuguesa não se entende entre si; a nossa escola não é nossa e nada ensina aos outros; estudando os outros, tratamos então de elegantizá-los em nós,

e pelas formas alheias destruímos a escultura da nossa natureza, que é a própria forma de todos. (...) Sons e perfumes, flores e fulgores, roupagens e adornos, graças e tesouros, são sem dúvida grandes dotes de muitas princesas; porém de poucas será o corpo belo, sadio, forte, e a alma com a dor da humanidade e com a existência do que é eterno.

Deixemos os mestres da forma – se até os deuses passam! É em nós mesmos que está nossa divindade. Não é pelo velho mundo atrás que chegaremos à idade de ouro, que está adiante além. (...) Nesta natureza (americana) estão as próprias fontes, grandes e formosas como os seus rios e as suas montanhas; ela à sua imagem modelou a língua dos seus Naturais – e é aí que beberemos a forma do original caráter literário qualquer que seja a língua diferente que falarmos.”

 

Atesta tais ensinamentos sob forma de poesia, como vemos no seu Elogio do Alexandrino:

E o verso-luz, fardeur das formas, de grandeza, o verso-formosura, adornos, lauta mesa Ond' tokay, champanh', flor, copos cristal-diamantesSobrelevam roast-beef e os queijos e o pudding. Porém, mens divinior, poesia é o férreo guante: Ao das delícias tempo, o fácil verso ovante, o verso cor de rosa, o de oiro, o de carmim, Dos raios que o astro veste em dia azul-celeste; E para os que têm fome e sede de justiça, O verso condor, chama, alárum, de carniça, D'harpas d'Ésquilus, de Hugo, a dor, a tempestade:(...) Ao belo trovoar do magno Trovador Ouve-se afinação no mundo brasileiro,Acorde tão formoso, hodierno, hospitaleiro,Flamívomo social, encantador. FulguraLuz de dia primeiro, a nota formosura,Que ao jeová-grande-abrir faz novo Éden luzir.

Veremos a seguir, algumas temáticas românticas e a forma como foram adaptadas por Sousândrade às suas produções poéticas:

 

a) ESCRAVIDÃO 

Diferentemente da retórica demagógica dos poetas

sociais do tempo (Castro Alves, por exemplo), que utilizavam o drama do escravo para a projeção do “eu”, em que ao falarem do negro, falavam mais de si e de seus próprios preconceitos, em Sousândrade a temática do escravo revela-se com tonalidades cromáticas reais, patenteando uma nítida veia dramatúrgica e a empatia épica, que lhe caracterizava a visão de mundo.

Em algumas passagens d’O Guesa, Sousândrade, abolicionista que era, mostra-se sensível ao sofrimento da raça negra. Em outras, como a transcrita abaixo, do Inferno de Wall Street, critica o resultado da dualidade entre escravagistas e abolicionistas, em prejuízo dos negros. Faz referência a John Wilkes Booth (1839-1865), norte-americano, escravista fanático, que não suportando ver o Presidente Abraham Lincoln, que era abolicionista, reeleito, veio a assassiná-lo. Com esse episódio, Sousândrade expressa a grande perda que a morte de Lincoln significou para a luta negra nos Estados Unidos: 

126 (Consciências perante a história substituindo aos destruídos NATURAIS)       - Chumbando Booths aos reis – ‘gorilas’,       A raça melhoram de cor:       E o negro Africano,       Amer’cano       Já é peau-rouge! será brancor!

 

b) NATUREZA

Sousândrade evoca a natureza tanto ao gosto europeu (associada à evasão, melancolia, solidão) como ao gosto nacionalista dos brasileiros.

Na visão romântica tradicional européia, a natureza era muitas vezes condicionada por um subjetivismo exacerbado, servindo como mecanismo de fuga e evasão melancólica. Toda realidade, a natureza, os elementos (o fogo, a água, o ar), os astros, era impregnada emocionalmente em favor do eu. Nessa mesma tentativa de evasão e melancolia, na qual os românticos viviam mergulhados, Sousândrade faz uso da natureza para ambientar seus momentos de desilusão e devaneio, privilegiando muitas vezes a ambientação noturna,

tão propícia aos românticos na busca de momentos de sonho e inspiração:

 /é melancólicoSilencioso o bosque, a voz do vento;Melancólico o mar, nos seus desertosEmbalando a canção dos marinheiros;A montanha palmosa, o rio mudo,Os campos melancólicos, gemendo(...)Horas da tarde, quem vos fez tão friasPara me adormecer? ... Mau pesadelo,Foge, noite, de mim; tuas sombras caiam,Quero ver inda o sol!(...)Um só dia é tua vida, o mesmo solT’o repete contínuo, o mesmo sempreCo’a mesma noite e aurora, e os sonhos mesmosSó promete a esperança; ela só mente.(HARPA XXXVI – VISÕES)

Noite, -- noite. – Das trevas o fantasmaLevantou-se no espaço. Brisa vária

Chora em torno das grotas, e s’espasmaDos bosques no ar a rama solitária.Piam na serra as aves da tormenta,Toda estrondeia a lôbrega floresta;

O vento assopra, acalma; aflita e mestaA terra ao largo, ao longe se lamenta.(O GUESA – DO CANTO QUARTO)

 

A exaltação da natureza era também pintada por Sousândrade, assim como por todos românticos brasileiros, como fator de afirmação de uma identidade nacional, de caráter menos individualista. Assim, temo-lo descrevendo a natureza maranhense nesse trecho da Harpa XXIV – O Inverno:

Estrala a ave no bosque, aves ignotasRompem alegre matinada: o rioEnlaça o pé da lânguida juçara,Onde o tucano embala-se engasgadoCantando sobre os cachos: zumbe a abelha,A silvestre urucu se envermelheceNos úmidos matizes, se revolveNa dourada resina que destilaO bacuri-panan de amenos bálsamosE amorenada fruta. O sol fechou-se.

Abaixo vemos um exemplo de exaltação da natureza nacional, impregnada de um sentimento saudosista de suas raízes, por estar longe de sua terra natal, semelhante ao que

vemos em Gonçalves Dias (em sua Canção do Exílio):

Eu careço de amar, viver careçoNos montes do Brasil, no Maranhão,Dormir aos berros da arenosa praiaDa ruinosa Alcântara, evocandoAmor ... Pericuman! ... morrer... meu Deus!Quero fugir d’Europa, nem meus ossosDescansar em Paris, não quero, não!Oh! Por que a vida desprezei dos lares,Onde minh’alma sempre forças tinhaPara elevar-se à natureza e os astros?Aqui tenho somente uma janela E uma jeira de céu, que uma só nuvemA seu grado me tira; e o sol me passaAve rápida, ou como o cavaleiro:E lá! A terra toda, este sol todo –E num céu anilado eu m’envolvia, Como a água se perde dentro dele.                           (DA HARPA XLV) 

c) NACIONALISMO 

Se o indianismo em nossa poesia romântica resumia-se a uma apologia artificiosa e decorativa do “bom selvagem”, nobre e heróico na tentativa de construção de um passado próprio e de afirmação da nacionalidade brasileira, em Sousândrade a temática indígena tomou nova configuração em O Guesa.

Singulariza-se, primeiramente, pela forma adotada, fruto de uma inovadora mistura de gêneros, sob a tônica de “narrativa de viagem”. Em segundo lugar, o poema não é exclusivamente brasileiro, mas “transamericano”, em que a beleza das Américas, oculta ou destroçada pelo invasor prepotente é o cerne do poema. Essa singularidade já se define na escolha do protagonista, personagem mítico procedente dos índios muíscas da Colômbia, em cujo idioma,guesa equivale a “sem casa” (condição de desterro e orfandade com a qual o próprio poeta maranhense se identificava biograficamente).

Em sintonia com o caráter nacionalista dos nossos românticos, Sousândrade obtém uma extensão da sua significação. Por meio de O Guesa, Sousândrade não cria uma apenas uma identidade brasileira ou colombiana, mas sim uma

identidade americana.

Renovando esteticamente a épica, o poema estrutura-se pela justaposição de fragmentos metafóricos, como agrupamento de imagens reverberantes que espelham o tempo novo, tão novo quanto as Américas, em que floresce a beleza primitiva ainda não contaminada, como na Europa. Seu canto é o reflexo da grandeza exuberante do solo americano. 

Eia, imaginação divina!                        Os AndesVulcânicos elevam cumes calvos,Circundado de gelos, mudos, alvos,Nuvens flutuando – que espetac’los grandes!(...)“Nos áureos tempos, nos jardins da AméricaInfante adoração dobrando a crençaAnte o belo sinal, nuvem ibéricaEm sua noite a envolveu ruidosa e densa.“Cândidos Incas! Quando já campeiamOs heróis vencedores do inocente Índio nu; quando os templos s’incendeiam,Já sem virgens, sem ouro reluzente,(...)“E da existência meiga, afortunada,O róseo fio nesse albor amenoFoi destruído. Como ensangüentadaA terra fez sorrir ao céu sereno!(...)Assim volvia o olhar o Guesa ErranteÀs meneadas cimas qual altaresDo gênio pátrio, que a ficar distanteS’eleva a alma beijando-o além dos ares.E enfraquecido o coração, perdoaPungentes males que lhe estão dos seus –Talvez feridas setas abençoaNa hora saudosa, murmurando adeus.(O GUESA - DO CANTO PRIMEIRO – Fragmento inicial) 

Escolhe o Estado Incaico como um regime de estrutura modelar, caracterizado por uma organização social perfeita e racional, propiciadora da realização de obras maravilhosas. Associava essa forma idealizada às comunidades cristãs

primitivas e à jovem república americana. Idealizando a dignidade incaica, Sousândrade manifestava sua crítica ao menosprezo do espanhol pelos indígenas, tachados de incultos e bárbaros, vistos como gente inferior. Confrontadas, a nova ordem (introduzida pelos conquistadores) com a velha ordem (Inca), acabou transparecendo a superioridade da segunda, mais justa e humana. A tragédia do Guesa vem, pois, representar a queda do áureo império Inca ante a conquista espanhola. A morte a qual está fadado o guesa, encerra em si uma simbologia, a simbologia da morte, que designa o fim absoluto de qualquer coisa de positivo: um ser humano, uma amizade, uma aliança, a paz, uma época. A morte é também introdutora dos mundos desconhecidos (dos Infernos ou dos Paraísos), servindo como um rito de passagem. Ela é a revelação e introdução de uma vida nova. Desmaterializa e libera as forças de ascensão do espírito. Por meio dessa simbologia, se alcança uma dupla exaltação, a primeira ao mostrar a superioridade da cultura Inca frente à ganância espanhola, e a segunda ao conferir ao guesa (representando todo seu povo, sua cultura, e o próprio poeta) uma elevação espiritual pelo sacrifício.

 

d) INDIANISMO 

Apesar do seu aparente impulso idealizador, Sousândrade retrata os selvagens brasileiros de forma diferente da dos nossos indianistas canônicos, que seguiam as regras da cavalaria européia, e aos quais criticava pelo indianismo de caráter heróico-idealista.

Com um caráter crítico-satírico, o poeta maranhense pratica um indianismo às avessas, retratando a decadência do índio da região amazônica, como resultado do processo de aculturação. Retratou os índios numa dança-pandemônio, em promiscuidade orgiástica com corruptos exploradores brancos e missionários pervertidos, tudo sob o signo de Jurupari, visto pela ótica cristã-missionária como demônio, espírito do mal (Taturema, CantoII). Ao contrário dos indianistas românticos, que no caminho alencarino, tratavam de uma situação mítico-primogênita a serviço de constituição de uma fantasista identidade nacional, Sousândrade tratava do índio “embranquecido”, dissolvido e dissoluto.

O Taturema, carregado de tom satírico, debochava e denunciava os maus costumes e valores pecaminosos. Assim como o fez Gregório de Mattos em sua época, Sousândrade utilizou-se e adaptou n’O Taturema o gênero satírico, utilizando-se dos elementos tão característicos do gênero.

Sousândrade situou O Taturema na Amazônia brasileira da época, região que visitou entre 1858-1856. Dessa viagem extraiu elementos para o episódio do Taturema (Canto II). A 1ª versão d’O Taturema data de 1867. Utilizou-se largamente de um hibridismo idiomático, com influência do português, do latim, aliado ao uso de termos léxicos provindos de línguas indígenas.

Para retratar a decadência do indígena, resultado da aculturação, Sousândrade caricaturiza n’O Taturema a corrupção de costumes, da qual não escapavam nem mesmo os religiosos. Nooremus-tatu, O Taturema, as estrofes são carregadas de sentido, contam do clima de dissolução, roubo, fraude, orgia e embriaguez:

1 (MUXURANA histórica)   - Os primeiros fizeram   As escravas de nós;   Nossas filhas roubavam,              Logravam   E vendiam após.

2 (TECUNA a s’embalar na rede e querendo sua independência)   - Carimbavam as faces   Bocetadas em flor,   Altos seios carnudos,             Pontudos,   Onde há sestas de amor.

5 (Coro dos índios)   - Mas os tempos mudaram,   Já não se anda mais nu:   Hoje o padre que folga,       Que empolga,   Vem conosco ao tatu.

9 Olha o vigário! a face de Tecuna         Com que mãos carinhosas afagando!

         Guai! como a vestia santa abre-se e enfuna         Lasciva evolução, se desfraldando!

12 (Padre EXCELSIOR, respondendo:)    -- Indorum libertate      Salva, ferva cauim      Que nas veias titila      Cintila      No prazer do festim!

97 (Cunhãmucus, respondendo às virtuosas)     - Vibram bífidas línguas,     Caninana e goaimêm     Fazem coro pistilos             Sibilos,     As comadres de bem. 

e) LEALDADE 

A concepção romântica vê na lealdade uma das qualidades fundamentais do herói romântico, caracterizando-se como um símbolo do bem, em contraste com os que fogem a essa regra, representantes do mal. Ao estabelecer esse contraste, os românticos efetuam uma crítica à moral social feita de convenções, ganância, falsidade, mentiras.

Sousândrade recorre a esse paradigma, enquadrando-se dentro desse tipo ideal, esboço do cavalheiro medieval, e apontando a corrupção e a decadência moral de seus contemporâneos:

Amigos mendiguei, meu peito aos homens,Meus braços, minha fronte, abri minha alma;Como os homens vi rindo-me um momento!Me odiavam depois, logo amanhã:Outros buscava; mas, as mesmas ondasDo mesmo oceano mentiroso e amargo;Corri – terras em fora e passei mares,Vi novos climas – sempre os mesmos homens!Nem um só! ... nem um só achei que o nomeSanto de amigo merecesse ao menos!(...)Desde então, na descrença ressequidoMurchou, caiu meu coração, e os homens,

Que minh’alma tão rude calcinaram,Nunca mais pude amar... vou solitárioPelas praias sombrias da existência.(HARPA III – AO SOL) 

f) AMOR 

Sousândrade era apegado ao tema amoroso, mas colocava-se à margem do lirismo amoroso nativo. Enquanto os românticos descobrem no amor, quando mito, uma qualidade sensual ou meramente lírica, no Sousândrade o amor é a presença de Eros, totalidade de encontro.

Tão branda, quase dolorosa, olhando,“Oh! Consome e devora o teu amor!”Perdida ela dizia, desmaiandoQual as douradas noites do equador.(...)Oh quem pudera ser indiferenteÀ beleza dos anjos decaídos!Quanta miséria cândida, inocenteNos membros alvos empalidecidos!Ao silencio da noite abre-se à terraO seio maternal, onde repousaQuem ao raio solar levanta-se e erraDa existência ao labor – procria e goza.            (O GUESA – DO CANTO QUARTO) 

g) RELIGIOSIDADE 

A revolução romântica consistia um novo estado de espírito, a atitude solitária do homem que deseja uma nova fé, que aspira vaga e indefinidamente a um ideal que ele próprio é incapaz de precisar, mas que ele sente não estar nas formas de vida contra as quais protesta. Como conseqüência disso, a religião vinha para cumprir um papel importante no comportamento do homem romântico. Sousândrade está sempre fazendo referências e recorrendo a simbologias do universo cristão em seus versos, chamando para si a presença e a inspiração divinas, quer seja nas Harpas Selvagens:

Meu coração, duma alma entorpecida,E de um pesado pensamento as sombrasAbatem-me: Senhor, dá vida e força

Que eu possa compreender-te para amar-te.(...)/Um Deus fez tudo!Um Deus... palavra abstrata, incompreensível ...Mas a sinto tão ampla, que me perde!                       (DA HARPA XXXV – VISÕES)

quer seja em O Guesa, onde a referência à divindade já aparece na sua invocação, ao invés de invocar as musas, como faziam os clássicos, ele vem com a sua “Eia, imaginação divina!” repetidas vezes ao longo do poema. Recorre a imagem e conceitos ligados ao cristianismo citando Maria, o Espírito Santo, Jesus, etc.:

/Puro aroma“Exalam os seios naturais! se criaUm filho neles. A maior auroraQue precedeu ao sol, foi nesta horaQue s’encarnou nos braços de Maria!                      (O GUESA – CANTO PRIMEIRO 

h) CRÍTICA À CORRUPÇÃO DA SOCIEDADE E DOS   COSTUMES  

É de fundamental importância registrar-se a influência exercida por Byron em Sousândrade. Sua obra revela verdadeiras afinidades entre os dois, como a rebeldia, o individualismo, a ruptura com as conveniências, a luta contra a tirania, colocando as razões da humanidade acima do próprio patriotismo. Como o autor de Child Harold, Sousândrade denuncia a espoliação dos operários, a corrupção moral e política no seu Inferno de Wall Street.

De certa forma, Sousândrade procede na tentativa romântica de resgate do sagrado diante do desencantamento com o mundo moderno. Por meio de seus textos, os românticos apontavam a degradação da sociedade moderna, e revelavam a consciência da ausência, da morte do sagrado (valores humanos superiores) nas relações humanas. Tentavam então, preencher esse vazio reinventando o sagrado através da escrita, pelos textos. Nessa escrita utilizam-se da ironia, inserindo na representação do mundo moderno a face da negação dos valores sagrados para fazê-los perceber. Sousândrade nos mostra como a sátira pode ser poderosa nesse processo.

É pelo Inferno do Canto X (O Inferno de Wall Street), que representa o vórtice desregrado do capitalismo em ascensão, que Sousândrade efetua a sua crítica mordaz e surpreendentemente premonitória – a corrupção corroendo as instituições republicanas (Oh! Como é triste da moral primeira, / Da República ao seio a corrupção!). Sob sua perspectiva, enxerga-se o mundo devorado pela usura, pela mercantilização, pela ganância. A Bolsa de valores (Stock Exchange) de Wall Street passa a ser o símbolo de uma sociedade que desmorona pela avidez do dinheiro. A Bolsa passa a ser a filosofia, a moral, a pátria, a igreja de uma sociedade.

A Bíblia da família à noite é lida;   Aos sons do piano os hinos entoados,   E a paz e o chefe da nação querida   São na prosperidade abençoados.   -- Mas no outro dia cedo a praça, o stock,   Sempre acesas crateras do negócio.   O assassínio, o audaz roubo, o divórcio,   Ao smart Yankee astuto, abre New York.                      (O GUESA – DO CANTO DÉCIMO) 

Notas:

[1] O termo condoreiro vem de condor, ave que habita a Cordilheira dos

Andes. O Condor, por conseguir alcançar grandes altitudes, representa o

alto vôo que a palavra pode alcançar em defesa da liberdade.

 

Bibliografia:

CAMPOS, A. e CAMPOS, H. Re-Visão de Sousândrade. São Paulo: Editora

Perspectiva, 2002.

CHEVALIER, Jean. Dicionário de Símbolos. 15ª ed. Tradução: Vera da Costa e

Silva (et al.). Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio;

Universidade Federal Fluminense, 1986. Vol III.

LOBO, Luiza. Tradição e Ruptura: O Guesa de Sousândrade. São Luís:

Edições Sioge, 1979.

MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira: Das Origens ao

Romantismo. São Paulo: Editora Cultrix., 2001.

 

Leia obra poética de Sousândrade

http://www.jornaldepoesia.jor.br/laeticiajensen6.html