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BH PESQUISA 26 A Nove especialistas convidados pela HIPISMO apontam, em oito itens, o que é preciso para elevar o patamar do Cavalo BH e colocar a raça entre as melhores do mundo Texto: Vick ALmeida - Infográficos: Luís Prates lguns países tornaram-se referência e até sinô- nimo de produtos de verdadeira qualidade. Quando falamos em bons vinhos, por exem- plo, costuma vir à nossa mente um nome fran- cês, um italiano ou ainda um português, que estão entre os produtores dos melhores vinhos do mundo. Quando o assunto é hipismo de alto nível, o velho continente também é a base de referência. Da Europa saíram não só os melhores cavalos do mundo, como também os melhores cavaleiros, armadores de percursos, entre outros profissionais notáveis no ramo equestre. De lá é que foram trazidos, no final da década de 80, matrizes, garanhões e sêmens das mais importantes linhagens de cavalos de salto e adestra- mento. A proposta era, através de cruzamento, desenvolver a raça Brasileira de Hipismo (BH). Um trabalho intenso bus- cando o melhoramento genético e o desenvolvimento desses animais ganhou força a partir daí. Para responder a questão do novo estágio, a revista HIPISMO reuniu um time de es- pecialistas formado por criadores, veterinários e outros pro- fissionais de destaque do mundo equestre. Eduardo Onoe, Antônio Celso Fortino, Aluísio Marins, Lúcia Faria, Sebastian Rohde, Vitor Teixeira, Guilherme Jorge, Daniel Khury e Renato Junqueira, cada um em sua área de atuação, possuem não só tarimba nacional, mas também experiência do mercado europeu, aspecto fundamental para se fazer uma análise e uma comparação entre ambos os lados. Acompanhe o que eles dizem sobre Genética, Criação, Doma, Obstáculos, Iniciação (Cavalos), Desenho de Percursos, Piso e Organi- zação de Eventos, aspectos fundamentais para se produzir cavalos de alto rendimento. 27

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BH PESQUISA

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A

Nove especialistas convidados pela HIPISMO apontam, em oito itens, o que é preciso para elevar o patamar do Cavalo BH e colocar a raça entre as melhores do mundoTexto: Vick ALmeida - Infográficos: Luís Prates

lguns países tornaram-se referência e até sinô-nimo de produtos de verdadeira qualidade. Quando falamos em bons vinhos, por exem-plo, costuma vir à nossa mente um nome fran-cês, um italiano ou ainda um português, que

estão entre os produtores dos melhores vinhos do mundo. Quando o assunto é hipismo de alto nível, o velho continente também é a base de referência. Da Europa saíram não só os melhores cavalos do mundo, como também os melhores cavaleiros, armadores de percursos, entre outros profissionais notáveis no ramo equestre. De lá é que foram trazidos, no final da década de 80, matrizes, garanhões e sêmens das mais importantes linhagens de cavalos de salto e adestra-mento. A proposta era, através de cruzamento, desenvolver a raça Brasileira de Hipismo (BH). Um trabalho intenso bus-

cando o melhoramento genético e o desenvolvimento desses animais ganhou força a partir daí. Para responder a questão do novo estágio, a revista HIPISMO reuniu um time de es-pecialistas formado por criadores, veterinários e outros pro-fissionais de destaque do mundo equestre. Eduardo Onoe, Antônio Celso Fortino, Aluísio Marins, Lúcia Faria, Sebastian Rohde, Vitor Teixeira, Guilherme Jorge, Daniel Khury e Renato Junqueira, cada um em sua área de atuação, possuem não só tarimba nacional, mas também experiência do mercado europeu, aspecto fundamental para se fazer uma análise e uma comparação entre ambos os lados. Acompanhe o que eles dizem sobre Genética, Criação, Doma, Obstáculos, Iniciação (Cavalos), Desenho de Percursos, Piso e Organi-zação de Eventos, aspectos fundamentais para se produzir cavalos de alto rendimento.

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Genética Investir em éguas de qualidade é o caminho para se chegar à excelência genética “A égua é hoje o grande diferencial dos criató-rios no mundo todo”, sentencia o veterinário e diretor do Centro de Reprodução Equina TOK Eduardo Onoe. Segundo ele, o sêmen utilizado na cria-ção brasileira é o mesmo utilizado nos princi-pais studbooks mundiais. Porém, o mesmo não acontece em relação às éguas. Onoe explica que embora existam no plantel nacional fême-as de boa performance, inclusive algumas que já produziram cavalos de destaque no esporte, a quantidade ainda é muito reduzida se com-parada à criação europeia. Essa realidade, no entanto, tem tudo para melhorar muito nos próximos anos, segundo ele. “Temos evoluído muito nesse sentido, uma vez que existe hoje uma conscientização dos criadores brasileiros sobre esta importância. Mas sabemos que não

é fácil comprar uma égua “top”. Para isso, temos que estar no lugar certo e na hora certa. É uma oportunidade que quando aparece não pode ser perdi-da”, comenta Onoe.

Em sua opinião, está haven-do um amadurecimento do mercado nacional. Isso indica que o país come-ça a trilhar o caminho certo em termos de genética e, em breve, teremos tudo para atingir um padrão compatível com os melhores do mundo. “Estamos cada vez mais preocupados em criar menos e com mais qualidade. O Brasil tem hoje muitos profissionais de gabarito traba-lhando com biotecnologia da reprodu-ção. Isso, por exemplo, contribui muito

para a melhoria genética, uma vez que a transferência de embriões é hoje, a meu ver, a maior arma que possuímos no sentido de diminuir a defasagem que existe em termos de quantidade de éguas de qualidade”, finaliza.

Criação Criação brasileira tem tudo para se equiparar à superioridade europeia Convidado para debater a qualidade da criação brasileira em re-lação à europeia, Antô-nio Celso Fortino também faz previsões positivas para o Brasil nos próxi-mos anos. Na opinião do criador, ex-presidente e atual conselheiro da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos de Hipismo (ABCCH), falta muito pouco para o plantel nacional che-gar ao mesmo patamar de qualidade europeia. “Hoje em dia no Brasil o panorama mudou muito, com o esforço de muitos criadores que conseguiram identificar as éguas que realmente contribuem para a melhoria do cavalo de sal-to; e quem não dispunha foi buscar no exterior. A tendência é que, em qualidade, vamos nos aproximar muito do padrão europeu nos próxi-mos anos”, analisa. A questão cultural entre os dois continen-tes, para ele, é a responsável pelas diferenças

entre a criação de cavalos de hipismo aqui e lá. Enquanto a raça vem sendo desenvolvida por aqui há pouco mais de três décadas, nos países europeus isso é uma realidade há séculos. “A maioria dos países europeus criam e sele-cionam cavalos direcionados para a prática do hipismo há mais de 100 anos. Já a criação brasileira tem pouco mais de 30 e, por cerca de 15 anos ficou praticamente estagnada, devido a planos econômicos e a uma econo-mia fechada, na qual não se podia ter acesso a genéticas comprovadas”, lembra Fortino. Outro fator apontado por ele para que o Brasil ain-da não tenha alcançado os padrões europeus está relaciona-do ao fator nutricional. “Sem dúvida a alimentação ratifica o que a genética transmite. Quero dizer que se a combinação genética do pai e da mãe contempla um indivíduo alto, for-te e musculoso, se esse não receber a nutrição adequada, certamente será um pônei sem músculo. No Brasil temos uma diversidade de solo muito grande e muitas vezes ele é fraco, produzindo capim, soja e milho também fracos. Já os euro-peus cuidam mais da terra. Talvez por serem áreas menores, eles conseguem alimentar a terra também. Tudo vira maté-

ria orgânica e o nível de proteína é alto. Isso é fundamental para o crescimento dos potros. Nossas rações também não têm a mesma qua-lidade e a diversidade das deles. Já melhora-mos muito, mas nossas rações não conseguem

Eduardo Onoe

Média obtida entre os entrevistados Média obtida entre os entrevistados

Antônio Celso Fortino

“Estamos cada vez mais preocupados em criar menos e com mais quali-dade.” (Eduardo Onoe)

“A maioria dos países europeus criam e selecionam cavalos direcionados para a prática do hipismo há mais de 100 anos. Já a criação brasileira tem pouco mais de 30.” (Antônio Celso Fortino)

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manter um padrão de quali-dade: alteram na medida em que o custo dos insumos sobe ou desce. É enorme a varieda-de de rações e complementos vitamínicos que os europeus têm. Isso, sem dúvida, reflete na qualidade final do cavalo.” Na visão de Fortino, o que precisa ser fei-to em termos de criação para se elevar o padrão brasileiro é aumentar a base dos criadores e dar continuidade à seleção de éguas utilizadas na re-produção. “O Brasil tem uma grande vantagem em relação aos europeus, que é a facilidade de fazer transferência de embrião. Nossos veterinários são tão bons ou melhores que eles nessa função. No-vos criadores podem adquirir embriões de éguas já comprovadas, a um custo bem menor do que tentar adquirir no mercado uma matriz de alto rendimento, e desta forma, eles terão mais opções de linhagens e diversificação genética, caminhando, assim, para uma criação top no mercado”, comenta Fortino.

Doma Qualificação profissional de treinadores é a cha-ve para elevar desempenho nacional “Na Europa a doma é considerada a fase mais importante e o investimento em profissionais domadores é muito alto. No Brasil ainda temos a ideia de “aman-sar”, no sentido de se deixar montar, colocar a sela. Domar é muito mais do que somente isso.” Essa é a grande diferença apontada por Aluísio Marins, da Uni-versidade do Cavalo, entre a doma feita no Brasil e a realizada na Europa. Segundo ele, na Europa a fase de doma é mais bem definida e extremamente cuidadosa, sem pressão de resultados e principalmente sem pressão por parte de proprietários. “No Brasil ainda vemos uma mistura de doma com treinamento de cavalos novos, onde rédeas auxiliares, mãos fortes, muitos exercícios acima da capacidade dos potros são executados.” Para ele, os motivos dessas diferenças estão for-temente ligados à herança cultural equestre dos dois continentes. “Mesmo assim não podemos justificar os grandes erros que são cometidos, especialmente por-que o volume e a qualidade da informação e da dis-seminação do conhecimento são grandes nos dias de

hoje, sem fronteiras.” Aluísio afirma ainda que também existem preocu-pações distintas entre os brasi-leiros e os europeus ao se do-mar um animal. Segundo ele, a pressa para fazer com que o cavalo chegue ao ponto em

que se deseja pode acabar comprometen-do seu futuro nas competições. “Um potro em doma não pode ser feito em 30 ou 60 dias. A doma leva o tempo de aprendizado de um potro, que normalmente oscila entre 4 e 8 meses, às vezes, um ano. No final desse período o potro tem bases suficien-tes para começar a praticar os exercícios da modalidade fim, e aí sim entrar para o mundo dos cavalos novos. Os europeus sabem disso e fazem isso acontecer na prá-tica. Nem todos os profissionais brasileiros sabem diferenciar uma doma bem feita, até porque muitos não sabem o que é uma doma bem feita pelo ponto de vista do ca-valo”, explica. Para Aluísio, o primeiro passo para se atingir um padrão que seja compa-

tível com os melhores do mundo é investir na formação de domadores profissionais, depois conscientizar pro-prietários e criadores sobre a necessidade de uma doma desenvolvida de maneira correta. “Domar leva tempo, por maior que seja o investimento, por melhor que seja o cavalo, por maior que seja a vontade. É obvio que o domador pode, com dis-cernimento, criar uma linha de trabalho direciona-da à modalidade fim, mas sem passar do ponto, sem se esquecer de que antes de ser um cavalo de alguma modalidade, aquele potro é um potro, que tem que gostar, confiar e ter prazer em fazer o que faz. Aqui no Brasil, muitas pessoas ignoram e dão risada quando falamos isso, mas esta é a ultima palavra em cavalos de esporte na Europa.”

Obstáculos Qualidade dos obstáculos pode ajudar Brasil a subir alguns degraus Renomada desenhadora de percursos, Lúcia Faria afirma que a qualidade desses itens no hipismo é questão relevante e pode ajudar o Brasil a subir alguns degraus em direção ao seu objetivo: nivelar-se aos europeus. Na sua visão, não são em todos os locais brasileiros que se vê um atraso tão grande, no entanto, para ela, os clubes poderiam ser mais exigentes e atentos a algumas questões. “Aqui no Brasil, o Rio, por exemplo, a maioria dos locais de provas não está nos padrões exigidos. Outra coisa: as va-ras aqui são mais pesadas. Lá (na Europa), os componentes são mais variados, modernos, criativos”, aponta.

Lúcia Faria

Aluísio Marins

Média obtida entre os entrevistados Média obtida entre os entrevistados

“Um potro em doma não pode ser feito em 30 ou 60 dias. A doma leva tempo.” (Aluísio Marins)

“É preciso entender a real importân-cia da qualidade dos obstáculos, e realmente investir em mantê-los sem-pre em um nível de ótima conserva-ção e renovação.” (Lúcia Faria)

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Ela ressalta que um dos motivos dessa diferença é o fato de que, no Brasil, grande parte dos concursos é realizada em clubes. Nesses locais, são realizadas provas quase que semanalmente; isso acaba elevando o custo da manutenção dos obstáculos, que além de tudo é excessivamente trabalhosa. Para mudar esse panorama, ela diz que é preciso que todos os envolvidos comecem a entender a real importância da qualidade dos obs-táculos nas provas, e passem realmente a investir em

mantê-los sempre em um nível de ótima conservação e renovação. “É necessário que cada local que rea-liza concursos tenha um responsável atualizado, que entenda essa necessidade, e que, naturalmente, haja uma verba para investir na compra, aluguel ou con-fecção desses obstáculos. Os organizadores de con-

curso precisam incluir como item – tão importante quan-to outros – a apresentação de obstáculos tecnicamente compatíveis com a importância de seu evento. Talvez os brasileiros não acreditem que essa questão seja tão relevante e que isso tecnicamente nos ajudaria a subir alguns degraus dentro desta busca para nos nivelarmos aos europeus,” enfatiza Lúcia.

A Iniciação dos Cavalos Unir esforços fará o Brasil fomentar a indústria do cavalo O cavaleiro olímpico, Vitor Alves Teixeira, reco-nhece a distância que existe entre o treinamento de cavalos novos no Brasil e na Europa. “A diferença básica está no trabalho de plano e sobre a exigência do controle absoluto, exigência necessária para se conseguir saltar, durante cinco meses, em picadeiros fechados. Os motivos dessas diferen-ças são climáticos, culturais e estão relacionados ainda com o número de pessoas envolvidas no esporte. O hipismo, em alguns países, é conside-rado o segundo esporte nacional”, explica. Teixeira diz que, assim como os euro-peus, os brasileiros também entendem a importân-cia de uma iniciação bem feita. Para ele, porém, a questão não se resume a isso. “A pergunta é se os proprietários brasileiros entendem e se estão dispostos a investir em uma mão de obra qualifica-da e, consequentemente, mais cara”, questiona. Na análise de Teixeira, para se alcançar o nível europeu no quesito iniciação de cavalos, primeiro é preciso investir em pisos adequados, de-

pois em uma seleção mais rígida de animais. “A maioria dos criadores gosta de cavalos, mas não entende o suficien-te para decidir os rumos a serem tomados. Muitas vezes, a

criação é feita baseada na emoção, e não na razão, sem o acompanhamento técnico do cavaleiro, que é quem vai utilizar e dar aula para aquele cavalo”, salienta Teixeira. Já para o alemão Sebastian Rohde, especialista que atua na formação de cavalos novos, o ponto determinante no que diz respeito à iniciação de cavalos é fazer com que que todos os setores envolvidos com o produto apren-dam a trabalhar juntos. “Se todos cooperarem, vai ser mui-to melhor para o negócio equestre”, salienta. Para ele, a diferança básica entre o que acontece na Europa e o que vemos no Brasil é a visão sobre gestão do negócio. Rohde explica que, no exterior, o cavalo é um

produto de grande interesse econômico, gerando renda para diversos setores da sociedade. Já no Brasil muitos encaram esse negócio como um hobby. Rohde acredita que a organização de todos os envolvidos nesse ramo vai trazer mudanças positi-vas e será possível reverter este quadro. “Precisamos ver, por exemplo, mais profissionais, inclusive os que iniciam os cavalos, trabalhando em conjunto com as associações de criadores.” Desenhadores de Percursos

Vitor Alves Teixeira

Os obstáculos no Brasil não têm recebido a devida atenção

Sebastian Rohde

Média obtida entre os entrevistados

“Precisamos ver mais profissionais, in-clusive os que iniciam os cavalos, tra-balhando em conjunto com as associa-ções de criadores.” (Sebastian Rohde)

“Muitas vezes, a criação é feita baseada na emoção e, não, na razão.” (Vitor Alves Teixeira)

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Desenhadores de Percursos brasileiros estão entre os me-lhores do mundo. Guilherme Jorge, um dos mais requisitados De-senhadores de Percursos no Brasil e no exterior, acredita que o país não está atrasado em relação aos desenha-dores internacionais. De acordo com ele, diferente da criação de cavalos de hipismo, que tem na Europa seu berço - com associações que contam com mais de 300 anos de criação, controle e seleção de animais -, a ar-mação de percursos tem profissionais de primeiro nível em todo o mundo, inclusive no Brasil. “Leopoldo Palácios (Venezuela) e Con-rad Homfeld (EUA) são apenas dois nomes que eu posso citar de profissionais excelentes fora da Europa. No Brasil, Helio Pessoa e Joberto Fonseca há muito tempo já apresentavam um nível interna-cional de desenho. Atualmente temos aqui profis-sionais como a Lúcia Faria, com toda sua expe-riência como amazona e treinadora, e a Marina Azevedo, que tem armado concursos importantes na América do Norte. Eu mesmo já estive como desenhador em vários dos eventos de primeira linha do mundo, como duas finais de Copa do Mundo, Jogos Pan-americanos, Calgary, Welling-ton e Olympia, para citar alguns. Temos nomes

como o Anderson Lima (que mora atualmente no México), o Gabriel Malfati, o Carlos Al-berto Lopes, a Erica Sportiello, o Vailton Cordeiro, o Marcos Castro, o Leandro Ba-len, entre tantos outros. Todos estão procuran-do estar dentro dos mais altos padrões internacionais de de-senho de percurso”, ressalta Jorge. De acordo com ele, os conceitos de desenho e arma-ção de percursos co-meçaram a se atuali-zar no país e ficarem

mais semelhantes aos praticados no velho continente a

partir da década de 90, com a iniciativa da Confedera-ção Brasileira de Hipismo (CBH) de enviar os profissionais Hélio Pessoa, Joberto Fonseca e Antônio Alegria para cur-sos na Europa. Na visão de Guilherme, o impor-tante agora é dar es-tímulo à formação de novos talentos, apoiar os que já se dedicam a essa atividade e pos-sibilitar o intercâmbio com desenhadores es-trangeiros, marcando presença nos grandes eventos internacionais. “A maior diferença não está no talento e na qualidade do trabalho, e sim na maior oportuni-dade de participação em grandes eventos; na Europa a oferta é muito maior; lá você tem pelo menos dois CSI no mesmo final de semana, a uma distância não maior que 3 horas de voo. Por aqui, é preciso mais cursos, mais apoio aos desenhadores para que estes possam trabalhar como assistente dentro e fora do Brasil. Tudo isso ajuda na formação de novos talentos e na atualização dos existentes”, explica.

Pisos Aumento de investimentos diminui distância entre Brasil e Europa Na opinião de Daniel Khury, cavaleiro e especialis-

ta em pisos, o Brasil já avançou muito em relação à qualidade dos pisos. Segundo ele, grandes clubes vêm investindo em reformas e possuem não apenas a mes-ma técnologia,

Pisos perfeitos ainda não são realidade na maioria dos eventos do Brasil

Bob Ellis e Guilherme Jorge nas Olimpíadas de Londres

Média obtida entre os entrevistadosMédia obtida entre os entrevistados

“A maior diferença não está no talento e na qualidade do trabalho, e sim na maior oportunidade de participação em grandes eventos.” (Guilherme Jorge)

“Não se admite mais saltar um cavalo de grande prêmio em piso que não ofereça con-dições perfeitas e seguras para o animal.” (Daniel Khury)

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como também empregam os mesmos materiais utilizados nas pistas internacionais. Segundo ele, o que vem impulsionando esses investimentos são eventos esportivos importantes, como as Olimpíadas de 2016. Graças a isso, está diminuindo a distância entre Brasil e Europa. “Em breve, os grandes con-cursos serão todos realizados em pisos de alta performance”, prevê. Embora seja incontestável o crescimento do hipis-mo no Brasil e que a proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016 trouxe investimentos mais pesados para o esporte, o país ainda esbarra no preconceito de alguns, que defendem que as pistas comuns são melhores para o dia a dia, e que as de alto rendimento seriam melhor somente para os con-cursos. “Isso não é verdade; não teríamos quase todos os maneges dos grandes cavaleiros com esse tipo de piso se fosse prejudicial para o dia a dia do animal. Com a melhora de tudo isso cresce a preocupação com a seguran-ça e melhor rendimento dos cavalos. Não se admite mais saltar um cavalo de grande prêmio em piso que não ofereça condições perfeitas e seguras para ele. Com esse in-vestimento, cavaleiros e proprietários estão

cada vez mais interessados em proteger e tirar o melhor de seus animais, e o piso, sem dúvida, é uma parte im-portantíssima neste processo. Alguns ainda têm restrições, mas inevitavelmente quem quiser realizar grandes eventos ou praticar o esporte em alto nível precisará aceitar essas mudanças”, analisa o especialista.P ara Khury, embora não existam grandes diferen-ças na construção das pistas, ainda há muito o que fazer e melhorar nos próximos anos. A boa notícia é que o Brasil está no caminho certo e conhece as al-ternativas para resolver essa questão. “O que temos que adaptar são as condições para as diferenças cli-máticas do nosso país, estudar cada lugar para re-alizar a melhor pista para aquele local, levando em consideração o clima e a topografia. Passamos muito

tempo construindo pistas de areia comuns, sem dar muita importância para o rendimento e a segurança dos cava-los. Agora temos que correr atrás do tempo perdido, e já estamos fazendo isso. Prova disso são as pistas da SHPR, SHP, SHBR e alguns maneges que já se anteciparam para adequar-se à nova realidade, como por exemplo o Haras MD e o Haras Polana. Estão sendo feitos investimentos pesados nesses pontos para que possamos, em um curto espaço de tempo, nos aproximar do nível europeu.”

Organização de Eventos Apesar da competência para organizar eventos, Brasil precisa ampliar divulgação e atrair novos patrocinadores

Marcelo Caruso e Renato Junqueira Arantes

Eventos bem organizados na Europa e EUA são corriqueiros como a Copa do Mundo em Las Vegas 2007

“Para a realização de um bom evento é preciso planejamen-to, tempo e muito trabalho.” (Renato Junqueira Arantes)

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A organização de eventos equestres no Brasil precisa se elevar em 50% para ficar em pé de igualdade com a Europa, como explica Renato Junqueira, organiza-dor de um dos mais concorridos Concursos de Salto do Brasil. Mas isso, segundo ele, não é motivo para preocu-pações, pois os brasileiros já provaram ter competência de sobra para realizar projetos de sucesso tanto dentro quanto fora do país. “O povo europeu, de uma forma geral, tem o esporte equestre inserido em sua cultura e em seu DNA. Isso é uma grande vantagem, mas não é tudo. Capacidade de realização temos de sobra; já pro-vamos isso organizando eventos internacionais como Athina Onassis e Jogos Pan-americanos, e eventos nacionais como Classic Horse Show e Hermès, entre outros”, ressalta. De uma forma geral, Junqueira acredi-ta que dois fatores tem afastado o Brasil dos eu-ropeus na questão de organização de eventos: planejamento e captação de patrocinadores. “Os brasileiros se orgulham muito do tal jeitinho bra-sileiro e, enquanto não cair a ficha de que esse jeitinho mais atrapalha do que ajuda, não conse-guiremos subir nenhum degrau. Para a realização de um bom evento é preciso planejamento, tempo e muito trabalho, e mesmo com tudo isso, não há

garantia de sucesso; mas sem isso é impossível.” Em sua opinião, para se organizar um evento perfeito, é essencial que haja respeito pelos horários das competições, pelos cavaleiros, cavalos, público, patrocinadores e trabalhadores. “É preciso transformar o hipismo em um produto de excelência, interessante para os patrocinadores, e fazer o possível e o impossí-vel para lhes proporcionar o retorno esperado, entregar exatamente o que foi vendido; investir em divulgação e atrair novos expectadores, aumentar o leque de público e atrair mais patrocinadores”, afirma Junqueira.

Eduardo OnoeVeterinário e diretor do Centro de Reprodução Equina TOK

Antônio Celso Fortino Criador, ex-presidente e atual Conselheiro da ABCCH

Aluísio MarinsReitor da Universidade do Cavalo

Vitor TeixeiraCavaleiro e especialista em iniciação de cavalos

Sebastian RohdeCavaleiro internacional e especialistas em formação de Cavalos Novos

Daniel KhuryCavaleiro e especialista em pisos

Lúcia FariasDesenhadora internacional de percursos

Guilherme JorgeUm dos mais requisitados Desenhista de Percursos do Bra-sil e de concursos no exterior

Renato Junqueira ArantesOrganizador de vários e concorridos Concursos de Sal-tos do Brasil.

Conheça melhor os especialistas ouvidos pela HIPISMO

Os percentuais apresentados nos gráficos refletem a média dos entrevistados. Porém, a ABCCH quer ir mais longe nesta discussão. Ajude a Associação no aprofundamento deste assunto. Para tanto, entre hoje mesmo no site da entidade (www.brasileirodehipismo.com.br) e vote você também, dando sua opinião sobre os itens levantados. Na próxima edição vamos falar sobre os resultados, bem como o posicionamento oficial da ABCCH.

Média obtida entre os entrevistados