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“Continuo encarcerado”: criminalização e cotidiano do sistema prisional na obra de Bezerra da Silva. EDER APARECIDO FERREIRA SEDANO * Atualmente classificada como “cult 1 ” , a obra do sambista Bezerra da Silva passou a ser reconhecida e consumida por membros de todas classes sociais. Mas nem sempre foi assim, sobretudo quando mudou seu estilo musical, (do coco para o partido alto 2 ), a partir da segunda metade da década de 1980. Neste momento, Bezerra incorporou a persona de “embaixador dos morros, favelas e subúrbios”, passando a defender os moradores que sofriam nessas localidades e atuar como uma espécie de cronista, narrando o cotidiano e os problemas enfrentados por essa população. Nestas crónicas estão presentes personagens reais e fictícios (também inspirados em pessoas reais), membros das classes populares, moradores dos mesmos morros, favelas e subúrbios, que serviam como cenário para suas canções. Como os personagens, os compositores de seu repertório eram oriundos dessas localidades, em sua maioria pessoas simples, que vivenciaram ou assistiram de perto muitos dos casos narrados nas canções. Entre os compositores havia operários, bicheiros, camelôs, desempregados, pais e mães de santo, boêmios, egressos e detentos do sistema prisional, entre outros. O último grupo citado teve uma forte ligação com sua vida e obra, porque além de serem representados nas canções, o conheciam e eram seus ouvintes. Devido a popularidade com este publico, * Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi bolsista dos programas CAPES e CNPQ. 1 Com o avanço das ideias multiculturais e a descentralização dos padrões culturais elitistas, as classes populares e as minorias obtiveram maior protagonismo midiático. Neste sentido, passaram a ser reconhecidos “mesmo que tardiamenteartistas como Bezerra da Silva, que tiveram o status de suas obras transformados de marginal para “cult” (o termo refere-se a manifestações culturais de elevado requinte, consumidos preferencialmente por pessoas de maior nível intelectual). O interesse do público fez com que os meios de comunicação e a indústria cultural se apropriassem das representações ligadas aos morros e favelas cariocas, em suas diversas linguagens culturais, com destaque para o cinema e a música, tanto de produção nacional como internacional. (SEDANO, 2018: 137-138). 2 Depois de ter gravado seus primeiros álbuns de coco pelas gravadoras Copacabana Discos e Tapecar , intitulados “Essa viola é testemunha e Mana cadê meu boi” ( compacto-1969), “Bezerra da Silva o rei do coco, volume I” (1º LP- gravado em 1970, mas lançado apenas em 1975, devido a crise do petróleo, matéria prima dos discos de vinil) e “Bezerra da Silva o rei do coco, volume 2” (lançado em 1976), Bezerra mudou seu estilo musical do coco para o partido-alto, sendo que em 1978 gravou seu primeiro LP de samba, nomeado “Genaro e Bezerra da Silva: partido alto nota 10”, pela gravadora CID. (Ibidem: 35)

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“Continuo encarcerado”: criminalização e cotidiano do sistema prisional na obra de

Bezerra da Silva.

EDER APARECIDO FERREIRA SEDANO*

Atualmente classificada como “cult1” , a obra do sambista Bezerra da Silva passou a

ser reconhecida e consumida por membros de todas classes sociais. Mas nem sempre foi

assim, sobretudo quando mudou seu estilo musical, (do coco para o partido alto2), a partir da

segunda metade da década de 1980. Neste momento, Bezerra incorporou a persona de

“embaixador dos morros, favelas e subúrbios”, passando a defender os moradores que sofriam

nessas localidades e atuar como uma espécie de cronista, narrando o cotidiano e os problemas

enfrentados por essa população.

Nestas crónicas estão presentes personagens reais e fictícios (também inspirados em

pessoas reais), membros das classes populares, moradores dos mesmos morros, favelas e

subúrbios, que serviam como cenário para suas canções. Como os personagens, os

compositores de seu repertório eram oriundos dessas localidades, em sua maioria pessoas

simples, que vivenciaram ou assistiram de perto muitos dos casos narrados nas canções.

Entre os compositores havia operários, bicheiros, camelôs, desempregados, pais e

mães de santo, boêmios, egressos e detentos do sistema prisional, entre outros. O último

grupo citado teve uma forte ligação com sua vida e obra, porque além de serem representados

nas canções, o conheciam e eram seus ouvintes. Devido a popularidade com este publico,

* Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), foi bolsista dos

programas CAPES e CNPQ. 1 Com o avanço das ideias multiculturais e a descentralização dos padrões culturais elitistas, as classes populares

e as minorias obtiveram maior protagonismo midiático. Neste sentido, passaram a ser reconhecidos “mesmo que

tardiamente” artistas como Bezerra da Silva, que tiveram o status de suas obras transformados de marginal para

“cult” (o termo refere-se a manifestações culturais de elevado requinte, consumidos preferencialmente por

pessoas de maior nível intelectual). O interesse do público fez com que os meios de comunicação e a indústria

cultural se apropriassem das representações ligadas aos morros e favelas cariocas, em suas diversas linguagens

culturais, com destaque para o cinema e a música, tanto de produção nacional como internacional. (SEDANO,

2018: 137-138). 2 Depois de ter gravado seus primeiros álbuns de coco pelas gravadoras Copacabana Discos e Tapecar ,

intitulados “Essa viola é testemunha e Mana cadê meu boi” ( compacto-1969), “Bezerra da Silva o rei do coco,

volume I” (1º LP- gravado em 1970, mas lançado apenas em 1975, devido a crise do petróleo, matéria prima dos

discos de vinil) e “Bezerra da Silva o rei do coco, volume 2” (lançado em 1976), Bezerra mudou seu estilo

musical do coco para o partido-alto, sendo que em 1978 gravou seu primeiro LP de samba, nomeado “Genaro e

Bezerra da Silva: partido alto nota 10”, pela gravadora CID. (Ibidem: 35)

2

Bezerra passou a se destacar como “campeão na realização de shows em presídios”, em

entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, de 15 de julho de 1996, ele falou sobre as

apresentações:

Bezerra: Porque aqui no Rio só canto em favela ou então em presídio.

Estado: Em presídio?

Bezerra: É, já cantei em todos os presídios do Rio, menos em Bangu I (presídio de

segurança máxima) e Água Santa, que são considerados castigo para os presos e

não podem receber artistas. Mas nos outros cantei, até no feminino. Sou campeão

nisso.

Estado: E eles pagam?

Bezerra: Não pagam porque é o diretor que convida, manda ofício... Eu faço de

graça. Sempre em Dia das Mães, Natal, essas coisas.. (MIGLIACCIO,1996:1-3).

A proximidade com pessoas ligadas ao sistema prisional não se deu apenas no campo

profissional, Bezerra também possuía detentos e ex-detentos no seu circulo de amizades,

como era o caso de José Carlos dos Reis Encina (o Escadinha), um dos fundadores e líderes

do “comando vermelho”, que junto da enorme ficha corrida ficou famoso por ter realizado

uma fuga espetacular do Instituto Penal Cândido Mendes (conhecido como Ilha Grande),

utilizando um helicóptero, em trinta e um de dezembro de 1985 (ERNESTO, 1986: 8).

Além do vasto currículo criminal, Escadinha possuía um lado caridoso, ele apoiava

financeiramente os moradores do Morro do Cantagalo (localidade em que residia). Neste

sentido, ele e sua facção ocuparam o lugar vago do Estado no apoio social aos moradores dos

morros e favelas do Rio3.

A vacância de serviços sociais estatais se acentuou entre as décadas de 1980 e 1990,

neste momento, foi iniciado no Brasil o projeto de implantação do modelo econômico

neoliberal, quando progressivamente os serviços estatais foram privatizados e deteriorados,

retirando serviços básicos gratuitos de muitas pessoas que não podiam pagar por eles,

contribuindo para o aumento das desigualdades sociais e econômicas (HARNECKER,

2000:193). As organizações criminosas aproveitaram a ausência do Estado, ganharam a

3 Em consequência à ausência do Estado, nos locais onde o crime organizado se instalava, ele acabava o

substituindo. Além do financiamento de fugas, parte do que se arrecadava nos crimes era usado para melhorar as

condições carcerárias e dar suporte às famílias dos presos. O assistencialismo foi uma marca do Comando

Vermelho em sua origem, através dele seus membros garantiam respeito e autoridade em presídios e

comunidades (OLIVEIRA FILHO, 2012: 15-16).

3

simpatia e o apoio da população das favelas e subúrbios, que passaram a atuar como seus

parceiros, seja não delatando os membros das facções, seja os protegendo ou escondendo.

Por suas atitudes assistencialistas, muitas pessoas consideravam Escadinha um herói, o

próprio Bezerra narra em duas canções “Meu bom juiz4” e “O juramento jurou5”, a tristeza

dos moradores do Morro do Juramento no momento em que Escadinha foi capturado pela

policia:

Alô, alô, todas as favelas do meu Brasil

Esse pagode é o lamento da comunidade do morro do Juramento

Ah, meu bom juiz, meu bom juiz

Não bata este martelo e nem dê a sentença

Antes de ouvir o que o meu samba diz

Pois este homem não é tão ruim quanto o senhor pensa

Vou provar que lá no morro

Ele é rei

Coroado pela gente

É que eu mergulhei na fantasia e sonhei

Doutor, com um reinado diferente

É, mas não se pode na vida eu sei

Sim, ser um líder permanente

O homem é gente [...]

[...] Meu bom doutor

O morro é pobre e a pobreza

Não é vista com franqueza

Nos olhos desse pessoal intelectual

Mas quando alguém se inclina com vontade

Em prol da comunidade

Jamais será marginal

Buscando um jeito de ajudar o pobre

Quem quiser cobrar que cobre

Pra mim isto é muito legal

Eu vi o morro do Juramento

Triste e chorando de dor

Se o senhor presenciasse

Chorava também doutor6 [...]

4 Beto sem Braço e Serginho do Meriti (Comp.). Meu bom juiz. LP “Alô malandragem, maloca o flagrante”,

Bezerra da Silva. Lado 2, Faixa 1. São Paulo: RCA Vik, 1986. 5 Gil de Carvalho, Marinho Gogó e Regina do Bezerra (Comp.). O Juramento jurou. LP “Violência gera

violência”, Bezerra da Silva. Lado 1, Faixa 4. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1988.

6 Beto sem Braço e Serginho do Meriti (Comp.). Meu bom juiz. LP “Alô malandragem, maloca o flagrante”,

Bezerra da Silva. Lado 2, Faixa 1. São Paulo: RCA Vik, 1986.

4

Nesta canção, Bezerra expõe um pedido dos moradores do Morro do Juramento, para

que o juiz não condenasse Escadinha. Alegavam que ele não era uma pessoa ruim, e que era

considerado um “rei” pelos moradores. Para a comunidade, a assistência prestada aos

necessitados deveria compensar todos os seus delitos. O Jornal dos Sports de 07 de janeiro de

1986 traz uma matéria comprovando a defesa de Escadinha pela comunidade:

“[...] A popularidade de Escadinha no Morro do Juramento é incontestável. Tido e

havido como protetor dos carentes, ele é endeusado por todos os moradores que

não gostam que o chamem de bandido. Para as crianças, ele é o tio Zequinha e para

a rapaziada ‘gente muito fina’. Escadinha ou Zequinha, na verdade montou uma

infraestrutura de atendimento social no Juramento. / Revolta: Na praça de Vicente

Carvalho, onde conversam aposentados e velhos moradores do morro, os jornais do

dia são consumidos e trocados de mão em mão. Os leitores reagem revoltados às

matérias em que as autoridades dão entrevistas, acusando Escadinha de crimes que

ele não cometeu. Ontem, por exemplo, eles comentavam as declarações do

delegado Arnaldo Campana e do delegado Hélio Vírgio. Vírgio era o mais

criticado, por ter dito que o velho Chileno deveria ser processado por apologia ao

crime, ao ter admitido que seu filho era traficante. Mas os moradores não admitem

essa hipótese e são unanimes em dizer que tanto Escadinha como seu pai são

pessoas ótimas, e que se concorressem a uma eleição ganhariam disparado7.”

Apesar de desenvolvida para contextos históricos diversos, ao se analisar as duas

fontes, (a canção de Bezerra da Silva e a matéria do Jornal dos Sports) pode-se perceber uma

proximidade entre a representação social de Escadinha e a categoria do “banditismo social”8

trabalhada por Eric Hobsbawm. Considerado o “Robin Hood do morro”, Escadinha

conquistou a simpatia dos moradores, que dependiam de sua cooperação para sobreviver e ter

segurança.

7 JORNAL DOS SPORTS. Pai do traficante afirma: Escadinha já saiu do Rio. Jornal dos Sports. Rio de Janeiro,

07 jan. 1986, p.10. 8 Hobsbawm utilizou a categoria do “banditismo social” para contextos rurais, mas percebe-se adequação ao

contexto urbano de Escadinha, isso pela proximidade entre o bandoleirismo social vivenciado em sociedades

pré-capitalistas e o que foi vivenciado nos morros, favelas e subúrbios cariocas no contexto mencionado.

Segundo Hobsbawm, o bandoleirismo é um fenômeno pré-político, ocorrido em contextos em que a população

pobre não havia adquirido consciência e representatividade política, o que também ocorria nos morros e

subúrbios cariocas, onde a população recém-saída de um governo militar repressivo e que vivenciava uma

situação de exclusão e esquecimento por parte do Estado e dos serviços estatais, apenas começava a se organizar

politicamente para reivindicar melhorias. “Tal idealização dos criminosos, tendo-se tornado parte da tradição

popular, apoderou-se de figuras urbanas [...] Além disso, mesmo nas sociedades retrogradas e tradicionais, o

bandoleiro social só aparece antes de o pobre adquirir consciência politica ou chegar a métodos eficientes de

agitação social. O bandoleiro é um fenômeno pré-político e a força dele se manifesta em proporção inversa à do

revolucionismo agrário organizado e à do socialismo ou do comunismo.” (HOBSBAWM, 1970:37)

5

Amizades como a de Escadinha contribuíram para a categorização de Bezerra como

“cantor de bandidos”, ele sabia, mas não sucumbia à pressão midiática, por isso jamais negou

essa amizade. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, assumiu que foi visitá-lo no

presídio:

O Estado de S. Paulo: No seu novo disco tem uma música chamada Bangu 1. Você

já esteve lá?

Bezerra: Já, fui visitar o Escadinha (José Carlos dos Reis Encina, condenado por

tráfico de drogas e preso há dez anos), que é meu amigo. Aquilo é uma coisa para

deixar qualquer um maluco. Não dá para fugir. Gastaram um dinheirão, mas

fizeram um negócio perfeito, de onde ninguém pode “dar o pinote”. Para construir

hospital é que eles nunca tem dinheiro.

A proximidade com Escadinha, com outros bandidos, ex-bandidos e acusados (como o

compositor Beto sem Braço, compadre de Escadinha e acusado de envolvimento com o crime

organizado) (SEDANO, 2018:178), somadas às canções vinculadas ao cotidiano de

criminosos presentes no seu repertório, além do alto consumo dos seus discos e canções por

essa parcela da população, fizeram com que seu estilo musical fosse categorizado pelos

críticos musicais e pela mídia como “sambandido”. Bezerra rejeitava esse termo, achava

pejorativo e preconceituoso, para ele as opiniões negativas sobre sua obra eram feitas por

invejosos, incomodados com sua prática de falar “a verdade que ninguém falou” e por expor

“a realidade do povo faminto e marginalizado”.

Bezerra e sua obra eram incompreendidas, seu objetivo não era glamorizar o crime ou

criminosos, mas narrar o cotidiano das populações excluídas, incluindo bandidos e

presidiários. A categorização negativa, ao contrário de lhe prejudicar, ajudou a divulgar seu

trabalho, sua persona artística e criar um nicho consumidor para seus discos entre a população

marginalizada, incluindo as pessoas que de alguma forma tinham relação com o sistema

prisional (detentos, egressos, seus familiares e amigos), como explica Bezerra:

[...] Porque eu gravo para pessoas pobres, me chamam de cantor de bandido. E

também porque faço show em presídio - sempre a convite do diretor, como o Luisão,

da Casa de Detenção, que já me chamou duas vezes. As autoridades do sistema

penitenciário dizem que eu ajudo quando vou à cadeia, a reintegrar o preso à

sociedade.

O Estado de S. Paulo: Você não gosta de ser chamado de cantor de bandido?

Bezerra: Eu até adoro. Depois que eles disseram isso, eu comecei a ganhar disco de

ouro, os bandidos ficaram contentes... Porque bandido não tem direito a nada e, de

repente, passaram a ter direito a cantor.

O Estado de S. Paulo: Mas você não tem medo deles?

6

Bezerra: O contrário. Comigo não acontece nada. Todos os bandidos me conhecem.

O Estado de S. Paulo: Te protegem?

Bezerra: Não, eu não preciso de segurança, de nada. Eu sou sujeito homem. Eu me

garanto. Além do que, não devo nada a ninguém. E tem mais: homem que anda com

segurança é frouxo. (STYCER, 1987:6)

Muitos detentos e ex-detentos passaram a consumir seu trabalho, atraídos pelas

representações do cotidiano que vivenciavam (nos morros, favelas, subúrbios e sistema

prisional). São exemplos desta temática as canções “Filho de Mãe Solteira”9, “Malandro não

cagueta”10, “SOS Baixada”11 e “Bicho Feroz”12. Nesta última, Bezerra narra as peripécias de

um “valentão delator”, que apavorava a comunidade onde morava com sua agressividade. Em

seu enredo o narrador o desmascara, afirmando que “ele era valentão só quando estava com o

revolver na mão”, e quando não o tinha, era um covarde.

Em seguida o narrador ameaça revelar à rapaziada (os malandros e detentos) fatos

ligados ao passado do personagem no sistema carcerário, onde sem o revolver, era vitima de

humilhações e violências de outros presos que lideravam as celas. Incluíam-se entre os tipos

de violência “o abuso sexual13” praticado pelos presos. Para agravar sua situação, o narrador

afirma que no retorno do valentão ao sistema prisional serão descobertas suas caguetagens

(delações), o que resultará em mais agressões:

Aí rapaziada

Esse pagode não é pra malandro rife

É pra fim de comédia que pede seguro quando tá no sufoco.

Aí, malandragem, se liga....

Você com revólver na mão é um bicho feroz, feroz.

Sem ele anda rebolando e até muda de voz, isso aqui, cá pra nós.

Você com revólver na mão é um bicho feroz, feroz.

9 Sassarico e Bicalho (Comp.). Filho de mãe solteira. LP “Violência gera violência”, Bezerra da Silva. Lado 2,

Faixa 6. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1988. 10 Julinho Belmiro e Jorge Garcia (Comp.). Malandro não caguéta. LP “Se não fosse o samba”, Bezerra da

Silva. Lado 1, Faixa 4. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1989. 11 Nilson Reza Forte e Bimba do Tavares Bastos (Comp.). S.O.S Baixada. LP “Presidente Caô Caô”, Bezerra da

Silva. Lado 1, Faixa 3. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1992. 12 Tonho e Cláudio Inspiração (Comp.). Bicho feroz. LP “Malandro Rife”, Bezerra da Silva. Lado 1, Faixa 1.

São Paulo: RCA VIk, 1985. 13 Ocorrências de práticas homossexuais no interior dos presídios estão presentes na bibliografia acadêmica, mas

geralmente não aparecem nos depoimentos orais dos presos, comprometendo as pesquisas. Informações

concretas destas práticas são relevantes para se compreender o porquê do número de infectados por DST,s e HIV

ser maior do que o número de usuários de drogas injetáveis. Soroprevalência da infecção pelo vírus da Hepatite

B em uma prisão brasileira (COELHO; DE OLIVEIRA; MIGUEL; OLIVEIRA; FIGUEIREDO; PERDONÁ;

PASSOS, 2009).

7

Sem ele anda rebolando e até muda de voz

É que a rapaziada não sabe,

Quando você entrou em cana

Lavava a roupa da malandragem

E dormia no canto da cama

Hoje está em liberdade

E anda trepado com marra de cão

Eu conheço seu passado na cadeia

Seu negócio é somente pagar sugestão

Eu conheço seu passado na cadeia

Seu negócio é somente pagar sugestão , olha aí vacilão [...]

[...] Simplesmente to dando esse alô

Porque sei que você não é de nada

Quando leva um arroxo dos homens

De bandeja entrega toda rapaziada

Acha bonito ser bicho solto

Mas não tem disposição

Quando entrar em cana novamente

Vai passar lua de mel outra vez na prisão

Quando entrar em cana novamente

Vai passar lua de mel outra vez na prisão, olha aí safadão14 [...]

Já na canção “SOS Baixada” há uma representação sobre o destino dos estupradores

no sistema prisional. Esses criminosos são julgados por seus pares prisioneiros antes de serem

julgados pelas leis civis, e entre as principais condenações pelo “tribunal carcerário” estão o

abuso sexual, violências de todo tipo e o assassinato antecedido de torturas. O enredo desta

canção narra o caso de um estuprador que abusava de crianças na região da Baixada

Fluminense, após escapar da tentativa de linchamento dos moradores, acabou sendo

assassinado no sistema carcerário.

Nota-se que a letra cita a ação de lideranças entre os prisioneiros, chamado de “xerife

da área”, além de investigar o passado do ingressante, o líder exige que ele informe seus

antecedentes criminais (com o artigo que infringiu, para ser definido seu status na prisão e

permitir que fosse aplicada a pena adequada, se necessário), em seguida, pede que indique a

facção15 a que pertencia ou era simpatizante:

14 Tonho e Cláudio Inspiração (Comp.). Bicho feroz. LP “Malandro Rife”, Bezerra da Silva. Lado 1, Faixa 1.

São Paulo: RCA VIk, 1985. 15 Nas últimas décadas assiste-se ao crescimento das facções criminosas na sociedade brasileira, como reflexo

social esse crescimento também ocorre no sistema prisional. Ele é tão grande que passou a ser necessário dividir

8

S.O.S. Baixada S.O.S. Baixada

Atenção viatura 35, 37 e 39

Elemento suspeito visto na área...

S.O.S. Baixada

O rádio da patama anunciava

Existia um canalha que lá estuprava

Maltratava criança sem nenhum pudor

E a DP Baixada foi acionada para averiguar

Deu um flagrante no safado dentro do mato

Com a criança querendo estuprar

O verme foi enquadrado, pra não ser linchado o covarde chorou

Se ajoelhou pros homens pedindo clemência

Dizendo que sempre foi trabalhador

E também quis saber dos direitos humanos

Que a constituinte lhe proporcionou

Quando pisou na cadeia o xerife da área não anistiou

Quis saber do safado qual era o artigo

E a facção que ele sempre gostou

Ao pipinar nas conversas sofreu o castigo de um estuprador

Pois foi feita justiça na cadeia

No sorteio da morte o canalha dançou Ih16! [...]

Outra importante questão sobre o universo do sistema prisional representada na obra

de Bezerra é o cotidiano dos presídios de segurança máxima, ele pode ser observado através

da canção “Ilha Grande”:

E a massa

A massa reclama de quem sente

E de quem não sente também

Em um mundo tão distante

Onde ninguém é de ninguém

E a massa

A massa reclama de quem sente

Certíssimo!

E de quem não sente também

Tudo bem!

Em um mundo tão distante

Onde ninguém é de ninguém

Ilha grande

Osso duro de roer

Onde sofrendo

Filho chora e mãe não vê

os presos em alas e selas separadas por facções, para que os presos não se digladiem e se matem na disputa do

território prisional. (SALLA, DIAS, SILVESTRE, 2012). 16 Nilson Reza Forte e Bimba do Tavares Bastos (Comp.). S.O.S Baixada. LP “Presidente Caô Caô”, Bezerra

da Silva. Lado 1, Faixa 3. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1992.

9

Ilha grande

Osso duro de roer

Onde sofrendo

Filho chora e mãe não vê

Chora reclamando a saudade

Do lugar onde nasceu e se criou

Ai meu Deus do céu

Sabe lá o que é viver sem liberdade

Pagando o que nunca lá comprou

Nunca lá comprou

E num abrir fechar de olho

Você pode um dia não amanhecer

Vou dizer por quê

Num lugar que a cruel sociedade

Construiu pra suas vítimas esconder17 [...]

Nesta canção, além do narrador relatar o sofrimento dos presos, ele define a prisão

como “um local onde a sociedade esconde suas vitimas” sendo elas, os setores

marginalizados. Essa afirmação vai de encontro ao que Gizlene Neder classifica como

“criminalização”, segundo a autora ela ocorre com maior intensidade sobre as populações das

favelas, os afrodescendentes e as camadas mais pobres da sociedade brasileira, é um exercício

de controle autoritário, que atua como uma forma velada de discriminação.

Entende-se que o cotidiano de exclusão e repressão nas favelas é decorrente do

processo histórico brasileiro, os quase quatro séculos de escravidão, as teorias médicas

racistas e higienistas (em voga no mundo científico de fins do século XIX e início do século

XX) e as políticas de branqueamento da população, que culminaram nos fluxos de imigração

europeia financiados pelo Estado, deixaram marcas profundas na sociedade (NEDER,

1995:17).

A criminalização sobre os pobres (em sua maioria afrodescendentes), não é recente,

tendo raízes no passado escravista do país, com o fim da escravidão essa criminalização não

cessou, e em alguns momentos se ampliou, particularmente nos mais repressivos, tendo sido

institucionalizada por um aparato burocrático-jurídico, e gestado em uma ordem que

organizou mecanismos de controle diferenciados para cada classe social (Ibidem: 36-37).

Diversos dispositivos (merecendo menção o discurso e o aparato jurídico, bem como

as estruturas administrativas e policiais) atuaram como formas de controle sobre as classes

17 J. Laureano (Comp.). Ilha Grande. LP “Justiça Social”. Lado 2, Faixa 2. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1987.

10

populares, consideradas “classes perigosas”, como nas primeiras greves operárias do início do

século XX (CHALHOUB, 1996). Essas ações não se restringiram à esfera judiciária, elas se

expandiram socialmente e foram difundidas até mesmo pela imprensa (NEDER, 1995: 37-38).

Em sua obra, Bezerra traz representações sobre a criminalização institucionalizada, que

pautada na desigualdade social (tendo como maiores vitimas os setores mais pobres da

população), produziu uma desigualdade jurídica e uma seletividade por parte dos órgãos

policiais, que passaram a abordar e penalizar mais severamente esse nicho populacional,

como representado na canção “Povo da colina”:

Que mal lhe fez

O meu povo humilde da colina

Que mora lá em cima

Vivendo uma vida de cão

Abandonado, covardemente injustiçado

E você ainda diz

Que lá só mora ladrão

É que você mora no asfalto com mordomia

Marajás e com toda regalia

Que aquele dinheiro pode dar

Até a lei, que foi feita para todos

Quando chega lá no morro

Aí a coisa fica feia

Dá um pau no favelado

E depois o mete na cadeia [...]

E é safado e ladrão que usa colarinho branco

Rouba o dinheiro do povo e assalta banco

Isso não tens coragem de dizer

Mas na comunidade das favelas

Você mede o mar e solta ira

Dessa elite famigerada

Que também tem espírito de traíra18 [...]

Pode-se observar uma proximidade entre a constituição do mercado de trabalho e os

processos de criminalização, ao passo que os discursos políticos, entre eles o jurídico,

voltavam-se para a apologia ao trabalho, à disciplina e à repressão. Autoridades buscaram

renovar formas de dominação com a reformulação policial e judiciária, no sentido de exercer

poder através da violência (física e simbólica) e da repressão social. A repressão, exercida

18 Walmir da Purificação, Tião Miranda e Roxinho (Comp.). Povo da colina. LP “Violência gera violência”,

Bezerra da Silva. Lado 2, Faixa 4. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1988.

11

pelo aparato policial utilizou como referenciais as concepções da criminologia lombrosiana19

(voltada para teorias racistas, nas quais a determinação biológica era usada para explicar a

criminalidade) e o pensamento criminológico liberal (no qual o crime era vinculado a aspectos

psicológicos). Dessa forma, a pobreza e a miséria passaram a ser fatores vinculados à

criminalidade (Ibidem:155-157).

Tal ideário excludente foi assimilado ideologicamente por parte da população

brasileira, sobretudo pelas elites e consequentemente, pelo aparato policial (instrumento

utilizado pelo Estado para manter a dominação das elites), servindo para impor o domínio

sobre a população pobre e negra do nosso país” (Ibidem:17). A canção “Filho de mãe

solteira” segue a linha de reflexão trabalhada pela autora:

Deus, oh meu Deus.

Não consigo entender

Por que é que na vida

Só tenho causas perdidas, sem o direito de vencer.

Oh meu deus

Deus, oh meu Deus.

Não consigo entender, por quê

Por que é que na vida

Só tenho causas perdidas, sem o direito de vencer.

Filho de mãe solteira

Pobre cozinheira

Não podia me manter

Para a Funabem, eu fui levado como menor abandonado.

Começou o meu sofrer

Oh meu deus

Deus, oh meu Deus.

Não consigo entender

Por que é que na vida

Só tenho causas perdidas, sem o direito de vencer.

Com 5 anos não tive mais carinho

O muro fechou meu caminho

A razão eu não sei o porque.

Hoje, depois de homem formado.

Continuo encarcerado, isto assim não é viver20....

19 Cesare Lombroso era partidário do chamado positivismo penal, fazia parte da Escola Italiana de criminologia,

que influenciou as teorias jurídicas brasileiras no momento da passagem do século XIX ao XX. Defendia um

modelo de ciência penal fundada na periculosidade, em que o criminoso era visto como uma espécie diferente de

homo sapiens, um sujeito perigoso, anormal e biologicamente defeituoso. Essa anormalidade impulsionava o

sujeito ao crime. O fundamento punitivo era a defesa social, a proteção da sociedade contra indivíduos perigosos

(SANTOS,2010:7-8). 20 Sassarico e Bicalho (Comp.). Filho de mãe solteira. LP “Violência gera violência”, Bezerra da Silva. Lado 2,

Faixa 6. Rio de Janeiro: BMG-Ariola, 1988.

12

Nesta canção, o personagem-narrador interroga a divindade, questionando o porquê

dele só ter causas perdidas, sem o direito de vencer na vida? Em seguida passa a narrar sua

infância difícil, quando a partir dos cinco anos de idade foi abandonado por sua mãe, uma

pobre cozinheira que sem condições de cria-lo, o entregou aos cuidados da FUNABEM21. O

personagem cita sua carência sentimental nas instituições, afirmando que “desde os cinco

anos não teve mais carinho”, também relata que a partir deste momento “o muro fechou seu

caminho”, dando a entender que desde a entrada na FUNABEM não teve oportunidades,

passando a viver prisioneiro em instituições. Para finalizar a canção, o personagem informa

que seu sofrimento se perpetuou até a idade adulta: “hoje, depois de homem formado,

continuo encarcerado”, “isso assim não é viver”.

Através dos versos da canção pode-se perceber que a situação vivenciada pelo

personagem-narrador se enquadra na categoria de criminalização, problematizada

anteriormente. As características do personagem descrevem um sujeito de origem humilde

que teve sua liberdade cerceada desde o momento em que foi abandonado pela mãe (que não

tinha condições de cria-lo) e levado a Funabem. Lá, ao contrário de se recuperar, foi iniciado

no crime, passando a acumular passagens por outras instituições22, até a sua vida adulta

quando é inserido ao sistema prisional. O caso narrado é ficcional, mas representa a trajetória

de muitas pessoas das classes populares, que sucessivamente passaram de uma instituição

penal para a outra, reforçando a ideia de que o sistema prisional moderno falha no objetivo de

recuperação dos condenados23.

21 A sigla FUNABEM refere-se a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor, criada em 1964, essa instituição

social normativa centralizava as políticas públicas da infância e juventude em âmbito nacional, delegando

algumas atividades às Fundações Estaduais do Bem –Estar do Menor (FEBEM’s) (BECHER, 2011: 12-13). 22 Entre outras atribuições suas atividades se dividiam em dois eixos principais: a correção e a reeducação de

menores infratores e o abrigo à menores abandonados, funcionando como espécies de orfanatos. O grande

problema é que não se separava os menores abrigados dos infratores, culminando em diversos tipos de violências

e más influências dos primeiros sobre os segundos, por isso, grande parte dos abrigados com o tempo se tornava

infratores (IBIDEM). 23 Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (BRASIL, 2008, p. 3- BRASIL-2008), e o Ministério da

Justiça, (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI). Distrito Federal: MJ.), de cada

dez apenados soltos, sete retornam para o sistema penitenciário. (JULIÂO, 2016: 268). E segundo dados (IPS,

EJLA, ESD, 1994), no que se refere à passagem de adolescentes pelo circuito judicial, percebe-se que cerca de

67% dos internos revelaram-se primários, observando-se, portanto, que em cada três internos, um era

reincidente. (OLIVEIRA; ASSIS, 1999: 831-844).

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Muitos especialistas afirmam que o insucesso do sistema prisional vigente é a

estagnação do seu modelo, tido como retrogrado. Suas bases são ainda oriundas das reformas

penais europeias do século XIX, quando novas legislações passaram a adotar a detenção como

principal pena, colaborando para a consolidação de um processo de dominação das classes

hegemônicas (burguesias) sobre as classes populares (trabalhadores). Segundo Foucalt: “Uma

justiça que se diz “igual”, um aparelho judiciário que se pretende “autônomo”, mas que

investido pelas assimetrias das sujeições disciplinares, tal é a conjunção do nascimento da

prisão, “pena das sociedades civilizadas”“ (FOUCAULT, 2014: 223-224).

Para consolidar a dominação, os órgãos repressores e o sistema judiciário (a serviço

das classes hegemônicas) passaram a introduzir dispositivos legais para classificação dos

integrantes das classes populares (sobretudo os elementos que não se enquadram no modelo

de produção reinante, pautado no capitalismo industrial e no seu desdobramento comercial),

como “delinquentes”. Nesta classificação além dos delitos, os elementos transgressores

passaram a ser identificados por características comuns (pulsões, instintos, tendências e

temperamentos), sendo muitas vezes considerados subespécies sociais, ou outra espécie

humana (Ibidem: 246-247).

Partindo-se da análise foucaultiana, entende-se que as prisões e todo o sistema penal

são locais onde as classes dominantes podem vigiar e punir as classes subalternas. São

entidades onde os membros das “classes perigosas” (trabalhadores) que não se enquadram aos

ditames dos mercados (produtor e consumidor) capitalistas são introduzidos e controlados.

São instituições governamentais a serviço da hegemonia de classe, da mesma forma que as

escolas e os hospitais.

A obra de Bezerra da Silva se relaciona com esta temática, por narra em suas canções

o cotidiano das classes trabalhadoras e dos setores marginalizados (entre eles o sistema

prisional), seja em forma de crônicas ou denúncias. Ela também denuncia as explorações e

injustiças praticadas pelas instituições policiais, concluindo que as classes populares só

podem resistir à suas mazelas através do uso de táticas cotidianas (CERTEAU, 1994: 45),

14

(como a malandragem24), que permitem resistir às carências, desigualdades e repressões,

evitando sua criminalização e condenação ao sistema penal, que além de punir não recupera

para o convívio em sociedade.

Bibliografia

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24 Lembrando que a representação da malandragem de Bezerra destoa da concepção do malandro clássico das

décadas de 1920, 30 e 40, este, avesso à disciplina e ao trabalho, vivia de pequenos golpes e era associado à

boemia e ao ócio. Na obra de Bezerra a figura do malandro se associa ao sujeito cumpridor dos códigos de

conduta dos morros, favelas e periferias, não importando se são trabalhadores, políticos ou fazem parte do crime

organizado, na realidade o que os define é o respeito às regras e sua integração nas comunidades. (SEDANO,

2018:210).

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