bertoleza

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BERTOLEZA Dos treze aos vinte e cinco anos , João Romão trabalhou numa taverna, no bairro de Botafogo. Acabou recebendo a venda, como pagamento dos salários atrasados. Por quatrocentos réis por dia, ele comprava as refeições da vizinha, uma escrava chamada Bertoleza, que era amigada com um português, dono de uma carroça de frete. Bertoleza também trabalhava forte. Precisava pagar ao seu dono, um velho cego que morava em Minas Gerais, vinte mil réis por mês, e ainda juntar para sua alforria. Um dia, seu homem (o português do frete) depois de meia hora puxando uma carga muito superior às suas forças, caiu morto na rua. João Romão, que estava possuído pelo delírio de enriquecer, logo mostrou grande interesse pela desgraça da vizinha, e acabou como guardião de suas economias. Acabaram amigados. Com o dinheiro da amiga, ele levantou uma casinha para morarem juntos. Um belo dia chegou em casa dizendo a Bertoleza que havia comprado sua carta de alforria. É claro que a carta era falsa. João Romão ficou com todo dinheiro e mandou uma carta para o dono de Bertoleza dizendo que a escrava havia fugido para a Bahia depois da morte do carroceiro. Por sorte, depois de três meses o velho cego também morreu, deixando a escrava de herança para seus filhos, que não se interessaram em procurá-la. Bertoleza agora era criada e amante. Cuidava da venda e da quitanda, cozinhava, fornecia café e almoço para os trabalhadores da pedreira dos fundos, varria, limpava, lavava a roupa, costurava... Os dois nunca passeavam, nem iam a missa. Tudo que ganhavam, João Romão economizava. Acabou comprando alguns metros de terra, e ali ergueu três casinhas para alugar.

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Narração da personagem Bertoleza

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BERTOLEZADos treze aos vinte e cinco anos , Joo Romo trabalhou numa taverna, no bairro de Botafogo. Acabou recebendo a venda, como pagamento dos salrios atrasados.Por quatrocentos ris por dia, ele comprava as refeies da vizinha, uma escrava chamada Bertoleza, que era amigada com um portugus, dono de uma carroa de frete.Bertoleza tambm trabalhava forte. Precisava pagar ao seu dono, um velho cego que morava em Minas Gerais, vinte mil ris por ms, e ainda juntar para sua alforria.Um dia, seu homem (o portugus do frete) depois de meia hora puxando uma carga muito superior s suas foras, caiu morto na rua.Joo Romo, que estava possudo pelo delrio de enriquecer, logo mostrou grande interesse pela desgraa da vizinha, e acabou como guardio de suas economias. Acabaram amigados. Com o dinheiro da amiga, ele levantou uma casinha para morarem juntos.Um belo dia chegou em casa dizendo a Bertoleza que havia comprado sua carta de alforria. claro que a carta era falsa. Joo Romo ficou com todo dinheiro e mandou uma carta para o dono de Bertoleza dizendo que a escrava havia fugido para a Bahia depois da morte do carroceiro.Por sorte, depois de trs meses o velho cego tambm morreu, deixando a escrava de herana para seus filhos, que no se interessaram em procur-la.Bertoleza agora era criada e amante. Cuidava da venda e da quitanda, cozinhava, fornecia caf e almoo para os trabalhadores da pedreira dos fundos, varria, limpava, lavava a roupa, costurava... Os dois nunca passeavam, nem iam a missa. Tudo que ganhavam, Joo Romo economizava. Acabou comprando alguns metros de terra, e ali ergueu trs casinhas para alugar.Pois , deixando de pagar todas as vezes que podia, enganando os fregueses, roubando material nas obras ao lado para a construo de novos quartos, privando-se de tudo, por fim Joo Romo comprou a prpria pedreira.E comeou a ganhar tanto dinheiro com lajotas e paraleleppedos que em um ano e meio j era dono de todo o terreno entre a rua e a pedreira.S no conseguiu comprar o sobrado ao lado. Isso porque quem comprou foi um tal de Miranda, um rico negociante portugus que mudou-se com sua mulher Dona Estela, e sua filha Zulmirinha, que precisava de mais espao e ar puro.